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Tráfego de máquinas

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Pulverização

Pulverização

Compactação x produtividade

O uso adequado de máquinas agrícolas contribui para a obtenção de melhores produtividades, evita problemas de compactação e reduz o impacto em atributos físicos e químicos do solo

Asoja é uma cultura de destaque no Brasil, com uma área semeada superior a 36 milhões de hectares. O seu potencial produtivo depende do manejo correto das lavouras, em especial, dos fatores que interferem na saúde do sistema solo-planta, como o uso adequado do maquinário agrícola. O uso intensivo de máquinas em atividades de preparo do solo, semeadura, pulverização e colheita pode afetar as lavouras ao originar problemas de compactação. No campo, a compactação é reconhecida pela reduzida infiltração de água no perfil do solo, por deficiências nutricionais e por uma menor altura de plantas. Isso acontece ao se perder a proporção ideal dos poros do solo, afetando as necessidades hídricas e gasosas no ambiente radicular, o que compromete a oxigenação e o crescimento das raízes.

Ao reduzir a infiltração e a disponibilidade hídrica no solo, a compactação afeta o transporte do nutriente fósforo (P) desde a solução do solo até as raízes. O fósforo é um nutriente principal às plantas e sua deficiência pode afetar a fotossíntese, a respiração, o crescimento radicular e até a qualidade dos grãos, além de apresentar reduzida disponibilidade natural devido a sua fixação por partículas coloidais do solo.

O uso inadequado do maquinário e consequente redução no potencial produtivo das lavouras pode ser analisado de forma espacial. Nesse sentido, o Grupo de Estudos em Agricultura de Pre-

Fendt

Figura 1 - Mapas elaborados a partir da interpolação por krigagem e uso do software Qgis

cisão, da Universidade Federal de Uberlândia (GeAP-UFU), buscou avaliar o impacto da compactação sobre os atributos do solo e na produtividade da soja.

Para a realização do ensaio foi selecionada uma área de 25 hectares, com produção de grãos em plantio direto, sob sequeiro. Nela foi criada uma malha de 50 pontos georreferenciados (2 pontos/ha), e realizadas coletas de amostras de solo e produtividade. Com a finalidade de verificar os teores de fósforo (extrator Mehlich), a porosidade total (PT) e a textura do solo (areia, silte e argila), foram retiradas amostras compostas nos primeiros 20 cm do solo. A compactação foi avaliada com uso do penetrômetro de impacto Stolf para cálculo da resistência do solo à penetração (RP). A colheita de soja foi manual (parcelas de 4m²), seguidos de trilha mecânica, determinação do peso e umidade de grãos e cálculo da produtividade final.

Na prática, a produtividade é sempre o melhor sensor para detectar as condições reais da lavoura. Na área avaliada, as boas condições de fertilidade e física do solo são refletidas na produtividade média de 75 sc/ ha, que representa 20 sacas acima da média nacional de soja. A produtividade mínima de 48 sc/ha pode ser um indicativo de locais ou regiões com limitação produtiva, enquanto que, o valor máximo de 95 sc/ha, mostra o elevado potencial produtivo da lavoura (Tabela 1).

Essa variação nos dados é observada no CV%, em especial para o fósforo e a resistência à penetração (RP). Valores de RP superiores à 2 MPa são um indicativo da limitação física do solo ao crescimento radicular para a maioria das culturas. Na área foram observados valores limitantes para a RP e porosidade total (mínimo de 2,4 MPa e 30%, respectivamente), dando fortes indícios da existência de compactação. A reduzida porosidade total (PT) estaria afetando a difusão do fósforo (P) no solo e reafirmando os efeitos da compactação.

A porosidade total é um indicador da saúde do solo. Valores inferiores prejudicam o espaço destinado ao intercambio gasoso e a solução do solo, explicando queda nas produtividades. Em áreas compactadas o espaço ideal de poros é reduzido e se relaciona de forma oposta com a resistência à penetração (RP), como observado no talhão avaliado. Já, o fósforo no solo seguiu uma tendência semelhante a observada para a RP, com os maiores teores de P associados a locais com maior RP e menor PT. Isto retrata a dificuldade do nutriente em ser absorvido pelas plantas e seu acúmulo no solo como visto nas análises (Tabela 1).

A elaboração dos mapas de variabilidade espacial tem como vantagem a possibilidade de entender melhor essas relações (Figura 1). A partir dos mapas é possível visualizar as menores produtividades de soja distribuídas na metade inferior do talhão. Essas produtividades foram relacionadas de forma direta aos dados de porosidade total, e ambas, de maneira oposta a distribuição espacial do fósforo no solo. No talhão avaliado pode-se concluir que, a compactação teve consequências na redução da porosidade total e na absorção do P pelas plantas. O impacto final disso foi a menor produtividade de soja em mais de 30% da área.

Consideração o custo operacional e o crescente potencial produtivo das lavouras de soja, a realização de práticas corretivas, como a subsolagem, são bem-vindas e tornam viável o aumento de lucros com as produtividades. .M

Gabriel Camargo de Jezus, IFTM Gustavo Costa da Silva, Leôncio Campos Gouveia, Luan Martins de Souza, Natasha Cristina dos Reis e Sandro M. Carmelino Hurtado, UFU

Tabela 1 - Análise estatística para os dados de produtividade e atributos de solo (0-0,2m)

Atributo1 Mínimo Máximo Amplitude Média Soja (sacas.ha-1) 48 95 47 75

Areia (g.kg-1) 374 710 336 532

Argila (g.kg-1) 209 413 204 312 Fósforo (mg.dm-3) 19 112 92 44

RP (MPa) 2,4 5,0 2,6 3,5

PT (%) 29,6 58,9 29,3 40,3 CV2 (%) 10 17 15 37 20 14

1RP: Resistência à penetração; PT: Porosidade total; 2CV%: coeficiente de variação.

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