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Semeadoras
Dentro do padrão
Avaliação em campo mostra que é possível manter um estande ideal, mesmo trabalhando em diferentes velocidades e com diferentes profundidades na semeadura de soja
Aoperação de semeadura constitui uma das principais etapas do processo produtivo da soja, uma vez que se refere à implantação da cultura no campo. Para se obter uma excelente produtividade, é mais que necessário que a distribuição das sementes seja uniforme, ou melhor, tenha maior porcentagem de espaçamentos aceitáveis e também um estande de plantas adequado.
A falta de uniformidade nas lavouras de soja ocasionada por falhas na distribuição das sementes nas linhas propicia maior porcentagem de espaçamentos duplos, gerando disputa por água, luz e nutrientes, fazendo com que algumas plantas sobressaiam em relação às outras, ocasionando plantas mais altas, com menor ramificação e tendência ao acamamento, e consequentemente, reduzindo a produção individual. Ainda é importante ressaltar que espaços vazios ocasionados pela desuniformidade favorecem o aparecimento de plantas daninhas, que competem por nutrientes com a soja e dificultam a colheita mecanizada.
Dentre todos os fatores que influenciam a qualidade da semeadura, é de suma importância destacar a velocidade de deslocamento do conjunto trator-semeadora, pois ela determina a distribuição espacial das sementes na linha e a população final de plantas. Na semeadura mecanizada, o aumento da velocidade influencia significativamente no estabelecimento de plantas no campo, fazendo com que haja um decréscimo na quantidade de espaçamentos aceitáveis e um acréscimo no número de falhas durante a semeadura.
Outro fator que influencia de maneira significativa na qualidade da semeadura é a profundidade do adubo. A aplicação do adubo em maiores profundidades no solo estimula o sistema radicular das plantas a explorar um maior volume de solo, o que garante maior absorção de nutrientes e tolerância a estresses hídricos. Por outro lado, se o adubo for aplicado próximo ou juntamente com a semente, constitui umas das principais causas da baixa eficiência do adubo, além de causar danos às sementes e às plântulas, provocando redução na população de plantas.
TESTE EM CAMPO
Com o objetivo de avaliar o desempenho agronômico da cultura da soja sob diferentes métodos de semeadura, pesquisadores do Instituto Federal Goiano – Campus Ceres realizaram um experimento em campo, no qual avaliaram a melhor velocidade do conjunto
trator-semeadora-adubadora e a profundidade ideal de deposição do adubo.
O experimento ocorreu na Fazenda “Fazendinha”, localizada no município de Itapaci (GO), no período de outubro de 2018 a fevereiro de 2019. O solo da área experimental é do tipo Argissolo Vermelho com textura argilosa, sendo cultivado em sistema de plantio direto há oito anos.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com 12 tratamentos em esquema fatorial 4x3, sendo os mesmos compostos por quatro velocidades de deslocamento do conjunto trator-semeadora-adubadora (5km/h, 6km/h, 7km/h e 8km/h) e três profundidades de deposição do adubo (9cm, 15cm e 18cm), com quatro repetições. As parcelas foram de 20m de comprimento por 4,05m de largura, totalizando área de 81m2 cada.
Foi utilizada uma semeadora-adubadora marca John Deere modelo 1109, de arrasto, equipada para plantio direto, com sistema dosador de sementes tipo pneumático (turbina movida pelo sistema Hi Flow), pantográfica, com nove linhas de semeadura espaçadas a 0,45m, disco de corte de 18 polegadas de diâmetro, haste sulcadora modelo CQ 71.540 para os tratamentos de 15cm e 18cm de profundidade do adubo, e disco duplo para o tratamento de 9cm de profundidade, sendo tracionada por trator da marca Valtra, modelo BM 125i, com 125cv de potência no motor, e tração 4x2 TDA (tração dianteira auxiliar).
Foram utilizadas sementes de soja da variedade W 791 RR (Bayer), já utilizada pela propriedade, com densidade de semeadura de 14 sementes por metro, conforme recomendação. A dose de adubo distribuída foi de 450kg/ ha de 4-30-10 (NPK) e 30kg/ha de Br 12 (Mo 0,01% + Cu 0,8% + Mn 2% + Zn 0,7%), de acordo com as exigências e necessidade do solo e da cultura, assim como os tratos culturais (adubação de cobertura e aplicação de defensivos) realizados durante o ciclo da cultura.
No momento da semeadura, foi mensurado o teor de água do solo, nas profundidades de 0,00-0,10 m e 0,100,20 m, com quatro repetições, para caracterização da área experimental, no qual obtiveram-se valores médios de 20,9% para a profundidade de 0,00-0,10 m e 20,0% para 0,10-0,20 m. Também se mediu a Resistência Mecânica do Solo à Penetração (RMSP) com penetrômetro eletrônico, em 20 pontos, obtendo-se valores médios de 1,33MPa para 0,00-0,10 m, 1,87MPa para 0,10-0,20 m, 1,74MPa para 0,20-0,30 m e 1,56MPa para 0,30-0,40 m.
Foram analisadas diferentes variáveis como profundidade de semeadura, distribuição longitudinal de plan-
Conjunto trator-semeadora-adubadora utilizado na implantação do experimento
Tabela 1 - Análise de variância e teste de médias para Profundidade de semeadura, Espaçamento aceitável, Espaçamento duplo, Espaçamento falho e Produtividade
Fatores Prof. (cm) Espaç. aceitável (%) Espaç. duplo (%) Espaç. falho (%) Produtividade (kg ha-1) Velocidade (V) 5 km h-1 4,56 b 54,88 a 22,47 a 22,64 b 4921,45 a 6 km h-1 5,00 a 55,81 a 21,94 a 22,24 b 4784,28 a 7 km h-1 4,61 b 53,17 a 22,94 a 23,88 b 4837,52 a 8 km h-1 4,50 b 50,62 a 22,17 a 27,19 a 4780,20 a Profundidade (P) 9 cm 4,23 b 56,37 a 21,34 a 22,28 b 4781,93 a 15 cm 4,51 b 53,80 a 22,40 a 23,79 b 4903,60 a 18 cm 5,00 a 50,68 b 23,39 a 25,91 a 4807,06 a
Teste de F V 2,732* 2,358ns 0,213ns 5,008* 1,396ns P 18,000* 4,904* 1,625ns 4,393* 1,774ns V x P 0,511ns 0,567ns 1,644ns 1,160ns 2,081ns
CV (%) 11,16 9,59 14,41 14,50 3,99
*: Significativo, pelo teste F, a 5% de probabilidade. ns: Não significativo. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste F, a 5% de probabilidade. CV (%): coeficiente de variação.
tas e produtividade de grão se soja.
A profundidade de semeadura foi avaliada com auxílio de um canivete, no qual se cavou o solo até encontrar a semente e em seguida, com o uso de paquímetro, mediu-se do nível do solo até a semente encontrada no sulco, em cinco sementes de duas linhas centrais de 3m cada;
A distribuição longitudinal de plantas foi determinada após a estabilização da emergência, medindo-se com trena a distância entre as plântulas de soja existentes numa faixa de 3m, nas duas linhas centrais de cada parcela, classificando em espaçamentos aceitáveis, falhos e duplos de acordo com Kurachi et al. (1989);
A produtividade de grãos de soja foi colhida em três metros das duas linhas centrais de cada parcela, que foram colhidas e trilhadas manualmente, sendo corrigida para umidade de 13% em base úmida.
Os dados foram tabulados e submetidos à análise de variância (Anova), pelo teste F, a 5% de probabilidade, e quando este foi significativo, as médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de significância. As análises foram realizadas com o auxílio do programa computacional Sisvar 4.3.
DESEMPENHO AGRONÔMICO DA CULTURA
Na Tabela 1 observa-se que as diferentes velocidades de semeadura influenciaram na profundidade das sementes, sendo que as velocidades de 5km/h, 7km/h e 8km/h foram iguais, diferenciando-se de 6km/h, que proporcionou maior profundidade de semeadura (5cm). Para a haste sulcadora, quando esta trabalhou a 18cm, proporcionou maior profundidade nas sementes (5cm), fato este que ocorre em função dos discos sulcadores de sementes atuarem sobre o sulco mais profundo realizado pela haste, com maior volume de solo mobilizado e menor resistência ao corte. A profundidade ideal de semeadura é entre 3cm e 5cm, o que mostra que os resultados encontrados estão dentro dos padrões ideais, independentemente das velocidades e profundidades testadas.
Para espaçamento aceitável, não houve diferença estatística sobre as velocidades. Por outro lado, as profundidades do adubo influenciaram significativamente, na qual 18cm proporcionou uma menor porcentagem (50,68%). Esse fato pode ter relação com o ricocheteamento das sementes durante a distribuição no sulco, uma vez que a área mobilizada pela haste sulcadora foi maior. De maneira geral, os espaçamentos aceitáveis estão abaixo de 56% para todos os tratamentos. Para uma boa plantabilidade, é recomendável que se trabalhe com valores acima de 75%.
Para espaçamento duplo, as velocidades de semeadura e profundidade de deposição do adubo não influenciaram significativamente, não havendo diferença entre os tratamentos, obtendo média geral de 22,37%. Na
Estande de plantas da área experimental
Fotos Felipe José Barbosa Franco
Teste de resistência mecânica do solo à penetração com penetrômetro e medição da profundidade da haste sulcadora
variável espaçamento falho, a velocidade de 8km/h proporcionou maior porcentagem quando comparada com as demais velocidades (27,19%), evidenciando que com o aumento da velocidade de semeadura a quantidade de falhas na linha de plantio é maior, provavelmente relacionado à maior velocidade periférica do disco dosador. É possível observar que as profundidades de 9cm e 12cm proporcionaram menor porcentagem de espaçamentos falhos, enquanto a profundidade de 18cm apresentou maior porcentagem (25,91%).
A variável produtividade, a qual é considerada a de maior importância, não sofreu influência das velocidades de semeadura e profundidades de deposição do adubo, obtendo média de 4.830kg/ha, ou 80,5 sc/ha, sendo considerada alta para a região da área em estudo. A soja mostrou respostas adaptativas às condições do ambiente e manejo, e mesmo com a deficiência na distribuição longitudinal (espaçamentos falhos), conseguiu compensar o que seria produzido com uma melhor plantabilidade.
Autores avaliaram a influência da velocidade e deposição do fertilizante na produção de soja
QUAL VELOCIDADE E PROFUNDIDADE IDEAL?
Para as condições do estudo, qualquer uma da das velocidades trabalhadas é ideal. O aumento da velocidade promove maior rendimento operacional (maior área trabalhada por tempo).
Para a profundidade do adubo, como a área em estudo apresentou baixos valores de Resistência Mecânica do Solo à Penetração (solo não compactado), pode-se trabalhar com o disco duplo para deposição do adubo (9cm), por demandar menor força de tração e potência que a haste sulcadora. .M
Felipe José Barbosa Franco, Ariel Muncio Compagnon, Rayan Fernandes Naves, Walter José Pereira Filho e Mateus Vieira de Jesus, Instituto Federal Goiano Campus Ceres