8 minute read

Pulverização

Aplicação moderna

A agricultura de precisão é uma grande aliada na pulverização de produtos fitossanitários, gerando, além de economia de produtos, aplicações mais inteligentes e certeiras

OBrasil é um dos países que mais se destacam na produção agrícola mundial, dispondo de diversas tecnologias, técnicas inovadoras de manejo e gestão das áreas de cultivo. Atualmente, adentramos na chamada Agricultura 4.0, na qual o intenso uso de tecnologias e integração de dados de produção georreferenciados tem tornado o processo produtivo cada vez mais eficiente. A Agricultura de Precisão (AP) é caracterizada como uma forma de gestão que considera a variabilidade espacial e temporal existente nas lavouras. O uso de manejo localizado, isto é, considerando as necessidades de cada pequena porção da lavoura, pode gerar inúmeros benefícios, como redução do impacto ambiental, incrementos na produtividade e redução de custos de produção. Apesar da gestão localizada da adubação ser a técnica de AP mais utilizada na prática, o tratamento fitossanitário é outra área que recebe bastante atenção devido aos diversos ganhos que pode trazer.

Estima-se que entre 20% e 40% da produção agrícola mundial seja perdida em decorrência do ataque de pragas ou doenças. Para o controle de infestações nas áreas de cultivo, a pulverização é o método mais utilizado, já que é altamente eficiente.

Pulverizar consiste em aplicar produtos líquidos em forma de gotículas ao máximo uniformes e homogêneas, permitindo sua melhor distribuição. A pulverização é largamente utilizada na aplicação de inseticidas, fungicidas, herbicidas ou mesmo de fertilizantes líquidos.

A aplicação localizada de insumos pode ser viabilizada de duas formas: (a) por meio de um mapeamento prévio do atributo de interesse (solos, pragas, doenças) através de diversas técnicas de levantamento de dados, sendo que, posteriormente, essas informações de variabilidade são utilizadas para geração dos mapas de prescrições, os quais são transferidos para os controladores de taxa variável da máquina agrícola para realização do manejo; (b) através da identificação do atributo em tempo real com uso de sensores embarcados na própria máquina aplicadora, os quais identificam, por exemplo, a presença de planta daninha e imediatamente realizam a aplicação do herbicida no local.

Embora seja comum a realização da aplicação de produtos fitossanitários de forma uniforme em toda a lavoura, sabe-se que as infestações não ocorrem com

a mesma intensidade ao longo de toda a área. Nesse sentido, a aplicação localizada ou em taxas variáveis de produtos fitossanitários pode trazer enorme ganho ambiental e econômico ao realizar a aplicação na dose e no local que são realmente necessários. No entanto, a qualidade da aplicação localizada depende da utilização de equipamentos que possuam algum grau de automação e o ideal é que dependa o mínimo possível da interferência do operador em campo. O mercado brasileiro voltado para a pulverização é variado, atendendo a diferentes tipos de necessidades. Nesse contexto, três das principais formas de variar taxas de aplicações em pulverização são: função “liga/desliga”, variação no volume da calda e variação da dose de princípio ativo.

FUNÇÃO “LIGA/DESLIGA”

A função “liga/desliga” permite aplicar o produto somente quando necessário. Basicamente, ao ativar a função “liga” é realizada a aplicação e ao desativá-la, a aplicação é interrompida. Essa tecnologia não permite, em suma, variar a taxa de aplicação, tampouco a concentração do produto aplicado. O mecanismo liga-desliga pode ser utilizado de duas formas básicas, por meio de sensor em tempo real ou aplicação baseada em mapa. Quanto à aplicação em tempo real, uma forma do uso é a partir de sensores de reflectância do dossel, os quais identificam a presença de plantas daninhas por meio de índices de vegetação como o NDVI, acionando o mecanismo de aplicação onde há plantas e fechando onde só há palhada ou solo no campo de visão do sensor.

Outra opção comercial é por meio dos sensores de fluorescência onde, grosso modo, o sistema trabalha excitando as moléculas de clorofila, o que permite o discernimento entre o que é vegetação e o que não é. Já a abordagem baseada em mapa demanda o mapeamento prévio da praga que se quer controlar (isto é, inseto, doença ou planta daninha), ficando dependente de levantamentos de campo ou estimativas via sensoriamento remoto.

VARIAÇÃO NO VOLUME DA CALDA

Nesse caso, ocorre a variação no volume de calda que está sendo aplicado ao longo da lavoura, conforme a demanda identificada para cada situação. Essa variação pode ser obtida através do sistema de controle por pulsos, onde uma válvula solenoide regida por um mecanismo PWM atua em altíssima frequência, reduzindo ou aumentando a duração do ciclo em que a aplicação está ativa, permitindo a variação de dose. Na prática, este mecanismo é uma melhoria do mecanismo liga-desliga, de forma que quanto maior a frequência de abertura das válvulas, maior o volume aplicado pontualmente, e vice-versa. Esse tipo de tecnologia já está saindo de fábrica nos pulverizadores mais tecnológicos, uma vez que tal variação de dose por pulsos (seja bico a bico, seja por seção de barra) garante a qualidade da aplicação de uma dose fixa ao longo de toda a lavoura, ao mesmo tempo em que permite a compensação da pulverização em curvas, evitando aplicação excessiva no extremo da barra do lado de dentro da curva e aumentando a vazão no extremo da barra do lado de fora da curva, garantindo a manutenção da dose recomendada.

Charles Echer

Uma das possibilidades com o uso de agricultura de precisão é a aplicação de diferentes produtos na mesma passada

VARIAÇÃO DA DOSE DE PRINCÍPIO ATIVO

A variação de dose trata-se de um mecanismo de injeção direta do produto fitossanitário no sistema de pulverização do equipamento. Assim, o reservatório principal do pulverizador armazena apenas água. O produto fica em reservatório separado, se misturando à água durante seu trajeto até os bicos pulverizadores, conforme a concentração requerida para atingir determinada dose a ser aplicada. Inclusive, nesse sistema, é possível possuir mais de um tanque secundário com produtos distintos, variando o produto aplicado em cada local. Isso diminui o desperdício de produto químico, já que não há sobra de calda no reservatório do pulverizador, além de permitir um controle fitossanitário muito mais eficiente, uma vez que pode-se variar tanto o produto quanto sua dose. Porém, apesar de tal sistema com reservatórios separados já estar disponível no mercado nacional, ainda apresenta tempo de resposta limitado para uma variação eficiente e homogênea das doses aplicadas.

Para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas pode ser utilizada qualquer uma das formas de variação de aplicação. Isso dependerá da recomendação de uso do fabricante do produto fitossanitário, de acordo com o seu modo de ação, a cultura e o alvo de controle.

Para muitas culturas, muitos produtos possuem apenas uma dose de princípio ativo recomendada, sendo a decisão basicamente “aplica” ou “não aplica”. Nesse caso, o mecanismo liga/ desliga pode ser suficiente, aplicando uma única dose, mas somente onde houver realmente a presença da praga.

A variação de dose, independentemente se por pulsos ou por injeção direta, pode ser utilizada para produtos fitossanitários que possuem recomendação de um intervalo de dose conforme situações específicas. Exemplo disso é quando é recomen-

dada a utilização da menor dose para aplicações preventivas e para casos de baixas infestações, enquanto doses maiores para infestações mais agudas ou problemáticas, como pode ocorrer no caso de infestações por plantas daninhas, pragas e mesmo doenças. Tal funcionalidade também tem atraído para a aplicação de fitorreguladores e maturadores, sendo as doses ajustadas conforme a necessidade do produto.

No caso do sistema de injeção direta, uma funcionalidade específica é que ele permite a mudança do produto que está sendo aplicado. Uma aplicação em potencial para isso é o manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato. Esse herbicida dessecante poderia ser aplicado em área total ou associado à aplicação localizada com o mecanismo liga/desliga, mas, uma vez identificadas reboleiras de plantas resistentes, o produto poderia ser trocado automaticamente (se mapeado previamente) ou então acionado pelo próprio operador, garantindo o controle de tais reboleiras e evitando a aplicação de um produto mais caro em área total.

DRONES

É preciso destacar também outra tecnologia que está ganhando força: a aplicação de produtos fitossanitários via drones. Essa tecnologia se mostra interessante principalmente em pequenas e médias áreas, já que os drones ainda apresentam restrições quanto ao tempo de voo e à quantidade de calda transportada. Comercialmente, é possível obter drones com tanques variando de 10L a 16L de capacidade, e que possuem em média quatro bicos que distribuem a quantidade necessária de insumos, evitando desperdícios e contaminação de áreas que não necessitem de pesticidas ou herbicidas. Alguns drones possuem a autonomia de cobrir dez hectares por hora e podem ser utilizados com diversos outros drones simultaneamente. As vantagens na utilização de drones para pulverização estão em terrenos irregulares e de difícil acesso para os pulverizadores de arrasto ou autopropelidos, assim como em culturas onde a entre linha é muito estreita e a máquina pode causar danos à cultura. Ainda, em alguns casos a turbulência gerada pelas hélices do drone faz com que as gotículas de produto químico liberado pelo drone atinjam as plantas por completo, inclusive abaixo a região baixeira do dossel, o que pode ser interessante para o combate de alguns tipos de pragas e doenças. Em contrapartida, a aplicação de produto que demande recobrimento total da parte superior do dossel pode ser prejudicada. Essa forma de aplicação está começando a aparecer fortemente no País, mas carece urgentemente de regulamentação de uso, principalmente por já ser proibida em alguns países.

Apesar de toda a tecnologia disponível para a variação da dose pulverizada, os resultados do manejo dependem da correta utilização das tecnologias de aplicação: adequado volume pulverizado, escolha correta do tamanho de gotas, pontas de pulverização adequadas e em bom estado de manutenção, condições climáticas favoráveis à aplicação dos produtos, dentre outros, sendo, portanto, fundamental o conhecimento técnico e o treinamento e valorização dos operadores. .M

Artur F. de Vito Junior, Agda L. G. Oliveira, Cenneya L. Martins e Lucas Rios do Amaral, Feagri

O uso da agricultura de precisão na aplicação de defensivos contribuiu significativamente para o aumento da eficiência e diminuição das dosagens aplicadas

Jacto

This article is from: