Do editor Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 12º andar 96015-300 – Pelotas – RS www.grupocultivar.com Diretor-Presidente Newton Peter Diretora Administrativa Cely Maria Krolow Peter Diretor Financeiro e de Redação Schubert K. Peter Secretária Geral Simone Lopes
Cultivar Máquinas Edição Nº 22 Ano III - Julho / Agosto 2003 ISSN - 1676-0158 www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (06 edições): R$ 48,00
Esta edição da Cultivar Máquinas dá um pontapé inicial em uma nova seção dentro da revista. É o que chamamos de Test Drive, um espaço dedicado exclusivamente para apresentarmos aos leitores as nossas impressões e conclusões sobre máquinas agrícolas que serão testadas por nossa equipe. No primeiro teste apresentamos o mais novo integrante da família AGCO, o Challenger MT 765, um verdadeiro gigante de esteiras com potência de 306 cv, que chama a atenção de todos que vêem a máquina pela primeira vez e também de quem tem a oportunidade de operá-la. Chamamos a atenção para o espaço destinado a pneus, onde abordamos lastragem correta e uma avaliação de compactação e elasticidade com pneus diagonais, radiais e de alta flutuação, com informações que são úteis principalmente para quem se preocupa com o problema da compactação de solo. Neste número, publicamos também a primeira de uma série de três matérias, onde falaremos sobre todos os passos necessários para implantar um pivô central, desde o mapeamento da área, passando pelo levantamento de custos, projeto, implantação e apresentando dados concretos da viabilidade de utilização desse recurso. Uma boa leitura a todos!
Assinatura Internacional: US$ 52,00 • 48,00 • Editor
Charles Ricardo Echer
Índice
Nossa Capa
• Consultor Técnico
Dr. Arno Dallmeyer • Redação
Rocheli Wachholz • Revisão
Carolina Fassbender • Projeto Gráfico
Fabiane Rittmann • Editoração e Diagramação
Cristiano Ceia _____________
• Gerente Comercial
Foto Charles Echer
Rodando por aí
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Avaliação de pneus e compactação
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Lastragem
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Manutenção de correias agrícolas
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Funcionamento da barra de luz
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Consumo de energia em semeadura
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Novo equipamento para pulverização
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Teste drive - Challenger MT 765
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Projeto e instalação de pivô central
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Opinião
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Neri Ferreira
• Assistente de Vendas
Pedro Batistin _____________
• Gerente de Circulação
Cibele Costa
• Assinaturas
Luceni Hellebrandt Jociane Bitencourt
Destaques
• Assistente de Vendas
Rosiméri Lisbôa Alves Fabiana Maciel
Avaliação de pneus e compactação
• Expedição
Ensaio compara compactação de pneus diagonais, radiais e de baixa pressão e alta flutuação .................................................... 06
Edson Krause • Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Consumo de energia em semeadura
NOSSOS TELEFONES: (53) • ASSINATURAS:
3028.4010 • GERAL
3028.4013
Caderno especial
• REDAÇÃO:
3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING:
3028.4004 • FAX:
3028.4001 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Rastreabilidade e certificação
Avaliação de consumo em operações de semeadura em diversos tipos de solo e profundidade de plantio ................................................... 18
Teste drive - Challenger MT 765 Testamos o gigante de esteiras, mais novo integrante da família AGCO. Veja quais são as nossas impressões ................................................... 26
Projeto e instalação de pivô central Conheça todos os passos necessários para instalar um pivô central em sua lavoura e quais seus benefícios ................................................... 31
Rodando por aí
Colhedoras de cana-de-açúcar A Case IH concentrará na fábrica de Piracicaba (SP) a produção mundial de máquinas de colheita de cana-de-açúcar. A unidade receberá investimentos de R$ 20 milhões até o final de 2004, podendo triplicar o número de unidades produzidas, das quais cerca de 70% serão exportadas. Os principais mercados externos que serão atendidos são Estados Unidos e países da América Latina, Ásia, Oceania e Oriente Médio.
Visita às fábricas da John Deere Chezem e Flavio Crosa
Agrale recebe prêmio de melhor montadora A Agrale recebeu o prêmio Allison 2003 de melhor montadora da América Latina. A empresa gaúcha foi escolhida pelo fabricante norte-americano por ser a pioneira na introdução da transmissão automática no Brasil como item de série em sua linha de chassis para microônibus. O prêmio tem por objetivo incentivar cada vez mais as ações de cada parceiro em suas respectivas áreas de atuação. Para o diretor de vendas e marketing da Agrale, Flávio Crosa, a conquista do Prêmio é o reconhecimento à “vocação” da empresa brasileira em sempre buscar novas tecnologias e oferecer soluções inéditas e pioneiras no mercado.
Erramos Evandro Mantovani recebeu o prêmio “2003 Distinguished Agricultural Alumni Awards”, concedido a ex-alunos pela Escola de Agricultura da Universidade de Purdue (USA), e não Everardo Mantovani, como publicamos na edição passada.
Evandro Mantovani
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Máquinas
O Presidente da Divisão Agrícola – Tratores, HJ Markley; o Vice-presidente Sênior de Manufatura, Adel Zakaria; o Diretor Financeiro, Steve Kruse e o Gerente de Operações de Tratores, John Kane, da John Deere Mundial, estiveram recentemente no Brasil visitando clientes, concessionários e fábricas da empresa. Eles passaram uma semana no Brasil, visitando diversos Estados como São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. Para encerrar as atividades, eles estivaram nas instalações da John Deere em Horizontina, onde se reuniram com Diretores e funcionários daquela unidade. Ao final do programa, o grupo deixou claro sua satisfação com os resultados alcançados e a confiança nos crescimento dos negócios da operação América do Sul.
Aprimoramento técnico A Jacto vem realizando, em todo o Brasil, um curso de especialização em parceria com o Senai e fornecedores de equipamentos para a máquina Uniport 2000. O objetivo é multiplicar o número de mecânicos que estejam habilitados a trabalhar na máquina, para deixá-las sempre funcionando no campo e agilizar a assistência técnica aos seus clientes, informa Shiro Nishimura, Diretor Presidente da Jacto. A ação conta com o apoio da Santiago e Cintra, International Engines, Eaton e Dana. Os assistentes técnicos da Jacto, que fizeram parte da primeira turma, e concluíram o curso em maio, passaram por um treinamento de três semanas, totalizando 120 horas. O curso possibilitou a atualização dos técnicos nos conceitos de manutenção preventiva e corretiva do equipamento.
Shiro Nishimura
Trator 500 mil
Encontro sucroalcooleiro
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Mais exportações A Valtra do Brasil comemora o crescimento de 276% nas exportações dos quatro primeiros meses deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. As vendas no primeiro quadrimestre já superam as vendas de todo o ano de 2002. “Este crescimento no mercado externo é atribuído ao trabalho realizado há 2 anos na busca de novos mercados, o que expandiu os negócios para a América Latina, América do Norte, Ásia e recentemente para a Austrália e Turquia”, destaca Claudio Costa, diretor de marketing.
Novo livro
A AGCO comemorou em julho a fabricação de 500 mil tratores Massey Ferguson, o que siginifica quase a metade do que já foi produzido por toda a indústria nacional desde 1961. O trator de número 500 mil foi arrematado pela Unimassey, por R$ 200 mil. O valor do veículo foi doado ao Programa Fome Zero. As boas perspectivas de produção se mantêm também para este ano, quando a AGCO pretende fabricar 22 mil tratores. De acordo com o superintendente da empresa para América Latina e Caribe, Normélio Ravanello, a metade da frota deve ser exportada, principalmente para os Estados Unidos e Argentina.
A Goodyear do Brasil realizou no mês de junho em Maragogi (AL), o primeiro Encontro Sucroalcooleiro do Nordeste com mais de 100 participantes, entre diretores e gerentes das principais usinas e empresas da região. O evento teve o foco no lançamento dos pneus Goodyear Superflot, o primeiro pneu de alta flutuação fabricado no Brasil. Os pneus de alta flutuação têm como principal vantagem a menor compactação do solo e o custo de investimento, já que a fabricação é nacional. Segundo Ronaldo Rios, foram apresentados ainda, pneus para caminhões e ônibus, abordando a segmentação de sua linha de produtos, destacando os pneus mais adequados para aplicação nos veículos voltados à agricultura.
Claudio Costa
Ronaldo Rios
Já está no mercado o livro Máquinas para Silagem, dos professores Mauro Ferreira, Airton dos Santos Alonço e Antônio Lilles Machado. É o primeiro de uma trilogia que abordará Máquinas para Fenação e Máquinas Auxiliares, com lançamentos previstos para o próximo ano.
Top of Mind O Grupo Fockink, de Pananbi (RS), ganha pela segunda vez consecutiva o Prêmio Top of Mind. A premiação foi dada para a divisão de irrigação, também pela segunda vez. O prêmio verifica entre os produtores rurais, quais as marcas que estão com maior projeção no segmento que atuam. “Ganhar este prêmio é muito bom porque mostra que o nosso produto e a nossa marca estão conquistando os produtores rurais, através da excelência dos equipamentos, do pós-venda e do atendimento ao cliente”, afirma o gerente de marketing do Grupo, Epitácio Barzotto.
Julho / Agosto 2003
Pneus Pneus Fotos FCA / Unesp - Botucatu
avaliação
Quem compacta menos? Ensaio compara o grau de compactação e de deformação elástica dos pneus agrícolas diagonais, radiais e de baixa pressão e alta flutuação
N
a recente década, vários estudos e experimentos foram realizados com o intuito de se conhecer melhor as características dos pneus de tratores agrícolas, principalmente no estudo da interação pneu/solo, expressa em termos de área de contato entre dois meios, tendo influência direta no desempenho dos tratores agrícolas. O trator agrícola, considerado uma central móvel de potência, é responsável por grande parte da energia consumida no sistema produtivo agrícola. A busca de um desempenho otimizado se justifica, tendo em vista que numa propriedade agrícola a utilização do trator é variada, devendo-se considerar que tipos de pneus e pressões de inflação inadequadas representam elementos negativos para a maior parte das operações culturais, aumentando com isso a compactação do solo, emissão de gases poluentes ao ambiente e consumo de energia, durante a execução do trabalho. As características de desempenho de pneus agrícolas em diferentes condições de solo com várias cargas dinâmicas e pressões
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Máquinas
de inflação são de grande interesse na adequação dos mesmos dentro da unidade de força motriz, objetivando a execução dos trabalhos de campo de forma mais eficiente e proporcionando maior conforto ao operador. O nível de compactação superficial depende da pressão de contato, enquanto que a compactação profunda depende da área de contato, largura do pneu e da carga suportada pelo mesmo. Diante dessas considerações, o Núcleo de Ensaio de Máquinas e Pneus Agrícolas (Nempa), nas dependências do Departamento de Engenharia Rural da Faculdade de Ciências Agronômicas – Unesp, Campus de Botucatu, SP, desenvolveu um trabalho de pesquisa com o objetivo de avaliar e comparar as áreas de contato, deformações elásticas dos pneus, compactação do solo e os perfis do recalque no solo de diferentes modelos de rodados – radial, diagonal e “BPAF” (baixa pressão e alta flutuação) – com pressões de inflação ideais e combinando quatro condições de lastragem nos pneus (5000, 10000, 15000 e 20000 N).
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As áreas de contato foram determinadas utilizando-se uma prensa hidráulica, na qual o pneu agrícola foi fixado para ser prensado sobre o solo, proporcionando a estampagem da superfície do rodado sobre o mesmo, previamente manipulado no interior de um tanque. O tanque foi preenchido com uma amostra de Latossolo Vermelho de textura média, apresentando teor de água de 0,0804 kg/kg (8,04%) e densidade de 1,32 kg/dm. Três diferentes modelos de pneus foram ensaiados com as pressões de inflação adequadas para as cargas radiais máximas aplicadas sobre os mesmos, um deles com carcaça diagonal (14.9-26) e pressão de inflação de 206,85 kPa (30 psi), outro com carcaça radial (14.9R26) e pressão de inflação de 186,17 kPa (27 psi) e o terceiro de configuração mista (500/60-26.5) e pressão de inflação de 103,43 kPa (15 psi), denominado pneu de baixa pressão e alta flutuação (BPAF). O pneu radial difere do pneu diagonal em relação ao tipo de construção e disposição de suas lonas. Segundo a AsJulho / Agosto 2003
“O nível de compactação superficial depende da pressão de contato, enquanto que a compactação profunda depende da área de contato, largura do pneu e da carga suportada pelo mesmo”
Tabela 01: Síntese das médias para as variáveis: área de contato, deformação elástica dos pneus, perfil do recalque dos pneus no solo e resistência à penetração para os tipos de rodados pneumáticos e cargas radiais. Fatores
Área de contato (m2)
PNEU Baixa Pressão Radial Diagonal CARGA RADIAL 5000 N 10000 N 15000 N 20000 N C.V. %
Deformação elástica do pneu (m)
Recalque do pneu (m)
Resistência à penetração (kPa)
0,257 0,223 0,186
0,0340 0,0275 0,0261
0,0515 0,0624 0,0607
1274,17 1434,83 1743,81
0,169 0,212 0,240 0,267 11,48
0,0199 0,0241 0,0316 0,0413 17
0,0443 0,0557 0,0630 0,0698 7,067
996,4 1506,6 1631,9 1802,2 16,773
C.V.: coeficiente de variação
EQUAÇÃO DA ELIPSE A = b.L.0,78 onde: b – eixo menor da elipse L – eixo maior da elipse Sob uma prensa, avaliação do grau de deformação elástica
sociação Brasileira de Pneus e Aros (1994), o pneu radial é aquele cuja carcaça é constituída de uma ou mais lonas, cujos fios dispostos de talão a talão são colocados a 900 em relação à linha de centro da banda de rodagem. O pneu diagonal é aquele cuja carcaça é constituída de lonas, onde os fios dispostos de talão a talão são colocados em ângulos cruzados, uma lona em relação à outra, menores que 900. O pneu Baixa Pressão e Alta Flutuação (BPAF) apresenta características mistas do pneu radial e diagonal, isto é, a carcaça é constituída de uma ou mais lonas, cujos fios dispostos de talão a talão são colocados a 90º e em ângulos cruzados menores que 90º, uma lona em relação à outra, permitindo maior reforço e resistência nos flancos e na banda de rodagem do pneu. Os níveis de carregamento foram atribuídos aos pneus de forma crescente e gradativa, sendo que a mínima carga foi de 5000 N (500 Kg) e os carregamentos subseqüentes foram de 10000 N (1000 Kg), 15000 N (1500 Kg) e 20000 N (2000 Kg), simulando as condições operacionais de campo. As áreas de contato foram avaliadas pelo método gráfico, baseado na leitura gráfica (digitalização por programas computacionais) das impressões dos rodados no solo e pela equação da elipse que considera o levantamento das dimensões de seus eixos maior e menor. Julho / Agosto 2003
L b
O recalque (perfil) do pneu agrícola no solo foi obtido por um perfilômetro e as deformações elásticas dos rodados por uma escala graduada acoplada na estrutura da prensa hidráulica. A predição da compactação exercida pela interação rodado pneumático/solo foi avaliada pela resistência à penetração obtida por um penetrógrafo manual. Os resultados do presente estudo mostraram que os métodos gráficos e da elipse
apresentaram coeficiente de determinação de 0,73, para um nível de probabilidade inferior a 1% de significância, permitindo a conclusão de que a equação da elipse representa fielmente as áreas de contato pneu/ solo, além de ser uma metodologia facilmente empregada no campo. Analisando-se a tabela 1, observa-se que a variável área de contato apresentou diferença significativa para todos os pneus ensaiados, sendo que o valor da variável foi maior para o pneu baixa pressão, sofrendo um decréscimo para o pneu radial e diagonal. A combinação entre tipo de pneu e cargas radiais evidenciou a superioridade do pneu baixa pressão para a variável área de contato, principalmente para as cargas radiais maiores, possibilitando maior desem-
Estampagem da área de contato do pneu, em tanque preenchido com areia
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Máquinas
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“Os pneus baixa pressão proporcionaram compactações menos significativas no solo, reforçando a importância da utilização desses pneus para culturas que apresentam alto tráfego agrícola”
Gráfico 01: Modelo de regressão da área de contato (m 2) referentes aos pneus diagonal, radial e BPAF em função da carga radial (N).
Penetrógrafo manual utilizado para avaliar a compactação de cada modelo de pneu
penho de tração, maior rendimento operacional, consumo racional de combustível e menores níveis de compactação do solo. Os modelos de regressão linear das áreas de contato (m2) em função das cargas radiais (N) para os pneus baixa pressão, diagonal e radial estão ilustrados no gráfico 1. Segundo a tabela 1, o pneu baixa pressão apresentou maiores valores de deformação elástica e menores perfis de recalque no solo quando comparado com os outros pneus ensaiados, podendo executar trabalhos de campo de forma mais eficiente, reduzindo os danos ao solo. Menores pressões de inflação dos pneus proporcionam maiores áreas de contato e menores recalques dos mesmos no solo, fazendo com que minimize a resistência ao rolamento e compactação do solo, porém as pressões de inflação devem ser adequadas às cargas radiais máximas aplicadas aos rodados, conforme recomendação dos fabricantes, haja vista que pressões de inflação muito baixas podem provocar deformações elásticas superiores a 20% dos flancos dos pneus, diminuindo, assim, a vida útil dos mesmos. Para que isso não aconteça, devese verificar semanalmente a pressão de inflação dos pneus agrícolas. Tem-se na tabela 1, que o pneu de baixa pressão apresentou menor valor de resistência à penetração do solo quando comparado com os pneus radial e diagonal. Os pneus baixa pressão proporcionaram compactações menos significativas no solo, reforçando a importância da utilização des-
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Máquinas
ses pneus para culturas que apresentam alto tráfego agrícola. A elevação gradativa das cargas radiais evidenciou um aumento das áreas de contato, das deformações elásticas, dos perfis de recalque dos pneus no solo e da compactação, independente do tipo de rodado pneumático. Diante dos resultados apresentados
pela referida pesquisa, o desempenho operacional de rodados pneumáticos das máquinas agrícolas depende do tipo e condições físicas do solo, tipo e geometria do pneu, cargas aplicadas aos rodados e sua pressão de inflação. A interação correta entre estas variáveis pode minimizar, significativamente, os efeitos negativos do tráfego agrícola, proporcionar um aumento potencial de tração, melhorar o rendimento operacional das máquinas agrícolas, elevar a sua vida útil e de seus rodados pneumáticos e consumir combustível de forma racional, proporcionando maior rentabilidade econômica das culturas. M Flávio R. Mazetto e Kléber Pereira Lanças, FCA-Unesp/Botucatu
Perfilômetro usado para verificar as deformações elásticas dos rodados
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Julho / Agosto 2003
Trator
lastragem
Com peso certo Lastragem adequada depende de vários fatores, entre eles respeitar a capacidade de carga do pneu e a distribuição de peso da máquina Foto Cultivar
O
peso do trator, o tipo de rodado e as condições da superficie do solo são os fatores que mais afetam a patinagem das rodas motrizes, a velocidade de deslocamento, a potência desenvolvida e o consumo de combustível, parâmetros que expressam o desempenho do trator. A otimização ou compatibilização desses parâmetros é especialmente influenciada pela lastragem do trator, a qual se reflete imediatamente em força de tração. A capacidade dos pneus em liberar potência na barra de tração ou no engate de três pontos é determinada pela carga sobre as rodas de tração, podendo-se dizer, dentro de certos limites, que máquinas mais pesadas tracionam mais. A maioria dos usuários gostaria que seu trator tivesse versatibilidade de uso nas diversas operações agrícolas e em diferentes condições de solo, isto é, um mesmo trator faria a aração, a gradagem, o plantio, o cultivo, ajudaria na colheita, no transporte de produtos e em outras tarefas, preferencialmente com a mesma lastragem. Esse procedimento, porém, não é o que deve prevalecer no uso do trator. A lastragem é mais necessária nas primeiras operações agrícolas (onde o esforço tratório é maior), do que nas seguintes, entretanto, por ser uma tarefa que exige tempo e maior esforço físico do operador, este normalmente não costuma remover ou adicionar lastros metálicos para atender a necessidade da operação agrícola. Às vezes, opta-se por uma condição média, onde é preciso administrar o excesso ou falta, a cada situação, com prejuízo no serviço realizado e no custo da manutenção, devido ao maior desgaste mecânico da transmissão.
TIPOS DE LASTROS Os tratores agrícolas continuam a ser lastrados com água nos pneus (enchimento a ¾ de seu volume) e com peças metálicas colocadas nas rodas de tração e no pára-choque do trator. Em alguns tratores os lastros metálicos são usados na parte externa da roda e, em outros, os lastros metálicos são colocados interna e externamente à roda o que dificulta ainda mais a operação de lastragem, mudança de bitola e a troca de pneus quando necessários. As peças metálicas traseiras pesam cerca de 60 kg cada. Os lastros utilizados na parte dianteira do trator embora pesem em torno de 40 kg
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Máquinas
cada, oferecem menos dificuldade de manuseio. O lastro líquido, em termos de tração é equivalente ao lastro metálico, com a vantagem de ser mais barato e facilitar a mudança de bitola.
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EFEITOS DA LASTRAGEM INCORRETA A forma mais imediata de verificar a adequação da lastragem é a patinagem das rodas matrizes. A lastragem limita o torque transmitido através do eixo de tração. A potência Julho / Agosto 2003
“Às vezes, opta-se por uma condição média, onde é preciso administrar o excesso ou falta, a cada situação, com prejuízo no serviço realizado e no custo da manutenção, devido ao maior desgaste mecânico da transmissão”
do eixo é função do torque e da rotação. Os tratores são projetados para se deslocar em todas as velocidades possíveis dentro da caixa de transmissão, mas não são projetados para operar em todos os torques teoricamente possíveis. Uma lastragem insuficiente faz com que os pneus patinem excessivamente, diminuindo a potência disponível para tracionar um implemento. O uso prolongado nessa situação provoca o desgaste prematuro da banda de rodagem do pneu e, com as rodas necessitando girar para percorrer a mesma distância, o trator acaba gastando mais combustível. A lastragem excessiva reduz a patinagem mas aumenta a compactação do solo e a resistência do mesmo ao movimento do pneu. Além disso, muito peso pode causar sobrecarga no eixo de tração (excesso de torque) e desgaste da parede lateral do pneu.
Figura 01
A LASTRAGEM ADEQUADA Para uma lastragem adequada é importante respeitar a capacidade de carga do pneu e a distribuição de peso do trator na condição estática, de acordo com sua configuração de tração (ver quadro 1) e buscar a compatibilização do esforço necessário com a velocidade de trabalho e a patinagem. A distribuição de peso entre as rodas dianteiras e traseiras afeta a estabilidade do trator. Num trator 4 x 2 as rodas dianteiras devem conduzir peso suficiente para possibilitar adequado controle do esterçamento e evitar o empinamento para trás quando tracionando um implemento. No caso de implementos montados e semi-montados a necessidade de carregar o eixo traseiro é menor porque eles transferem considerável quantidade de peso para a traseira do trator, que contribui para a tração. Os tratores 4 x 4 (rodas iguais), que são mais pesados, têm mais capacidade de tração do que os tratores 4 x 2 e, normalmente, estão prontos para o trabalho de campo sem necessidade de lastro adicional. A figura 1 exemplifíca que a eficiência de tração (conversão de potência fornecida em potência útil) é afetada pela quantidade de lastro, e depende também da condição de superfície do solo. (ver figura 2). Em solo arenoso ou solto a faixa ótima de patinagem é de 13 a 16%, em solo firme e macio (já cultivado) varia de 10 a 13% e em solo duro varia de 8 a 10%, para tratores 4 x 2. Na prática, é comum observar-se dois exemplos indesejáveis: patinagem zero ou acima de 20%. Se a primeira representa o perigo de compactação (o trator está carregando peso desnecessário), a outra representa perdas de velocidade e de potência, enfim, perda de produtividade e maior gasto de combustível, pois o motor está liberando combustível para um M trabalho que não está sendo feito. Ila Maria Corrêa, IAC Julho / Agosto 2003
Figura 02
Quadro 1 - Distribuição de peso para várias configurações de trator Configuração de tração
Distribuição de peso (%) Dianteiro Traseiro
4 x 2, com implemento de tração 4 x 2, com implemento semi-montado 4 x 2, com implemento montado 4 x 2, auxiliar 4x4
25 30 35 40 60
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75 70 35 60 40
Máquinas
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Correias manutenção
Eficiência contínua Para assegurar longa vida útil das correias agrícolas, é importante observar alguns cuidados fundamentais na instalação e manutenção do equipamento Foto Charles Echer
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Máquinas
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A
melhor relação do homem com o seu trabalho está presente no momento da preparação e manutenção das colheitadeiras para que, durante a safra, as máquinas tenham um aproveitamento total. Esta preparação começa com a reposição das peças que foram danificadas ou retiradas. Para isso, temos que ter alguns cuidados especiais com as correias, pois são consideradas “fusíveis”, evitando assim danos maiores com altos custos, como rolamentos, mancais, eixos, conjunto de polias, embreagem e motor. Portanto, devemos estar atentos a algumas recomendações para resolução de problemas que afetam o desempenho das mesmas. O ajuste da máquina, a tensão da correia, regulagem das polias e o alinhamento são pontos importantes para o perfeito funcionamento, mas também podemos enfatizar alguns itens que necessitam de muita atenção. A folga entre polias acionadas e a profundidade da correia na polia devem estar sempre dentro do especificado pelo fabricante, pois cada modelo tem sistemas e ajustes diferentes. Quando as polias acionadas estiverem com muita folga, a correia ficará com baixa tensão (frouxa), ocasionando um patinamento da correia. Quando ocorrer o contrário, a correia ficará super tensionada, o que provocará sua quebra. Para assegurar a longa vida útil das correias, é importante também que o variador de tração esteja corretamente alinhado em relação à polia do motor e à embreagem. A regulagem da polia da tração é realizada através do pistão hidráulico do variador de velocidade e da alavanca de tensão, chamada também de esticador da polia variadora. Porém, todas as vezes que trocamos as correias, temos que ajustar os dois reguladores simultaneamente, pois a não regulagem do pistão hidráulico afetará diretamente a correia, que irá tocar no fundo da polia e sofrerá arrancamento de dentes e a quebra total. No regulador do pistão hidráulico, existe uma arruela em cada uma das mangueiras hidráulicas do pistão, que o abastecem com óleo hidráulico. Essas arruelas são muito pequenas, Julho / Agosto 2003
Foto Charles Echer
Foto Fabiano Dallmeyer
“Para assegurar a longa vida útil das correias é importante também que o variador de tração esteja corretamente alinhado em relação à polia do motor e à embreagem”
Folga entre polias acionadas e a profundidade da correia na polia devem estar sempre dentro do especificado pelo fabricante
sendo fácil de perdê-las e, na maioria das vezes, na troca do reparo do pistão a montagem é realizada sem as mesmas, ocasionando um maior fluxo, tendo como conseqüência a modificação no acionamento, tornando-o violento e fazendo com que a polia abra e feche com maior rapidez. Ocorrem, assim, trancos nas correias, vindo a arrebenta-las em pedaços. Outro ponto que afeta diretamente o bom funcionamento das correias variadoras de velocidade são as modificações realizadas para aumentar a produção durante a colheita, isso é, as máquinas saem de fábrica com uma rotação especificada e esse giro é alterado (elevado) posteriormente nas colheitadeiras, quando efetuam troca por polias menores ou realizam alterações na parte elétrica/eletrônica para elevar a velocidade. Como a correia é projetada para a rotação especificada inicialmente, a sua resistência a essa modificação torna-se prejudicada, provocando então a ruptura da mesma em trabalho.
Quando as polias acionadas estiverem com muita folga, a correia ficará com baixa tensão o que ocasionara o seu patinamento
Na máquina, quando no seu projeto, são levados em consideração vários acionamentos, porém ao se retirar qualquer peça ou realizar modificações iremos provocar avarias ao sistema ou a outros componentes, como ao retirarmos a chapa de proteção que sustenta a correia plana, ficando a máquina em um processo diferente do especificado, isso é, ligando e desligando continuamente e provocando a queima da correia até a sua quebra. O braço que provoca o acionamento da correia deverá estar sempre justo, para o acionamento perfeito. Caso esteja com folga, estará gerando um desalinhamento e provocando a quebra dos componentes da correia, até a sua ruptura total. Como as polias possuem flanges e o braço é protegido, a verificação do sistema terá que ser constante, para evitarmos problemas na transmissão. Quando o cilindro embucha, é importante limpar com as mãos para não forçar o sistema, pois ao tentar elevar a rotação (giro)
do motor e acionar a alavanca rapidamente para limpar, a correia não resiste e arrebenta, devido ao aumento do torque gerar um excesso de tensão aplicado durante todo o processo de limpeza forçado. O ideal seria conseguirmos detalhar todas as necessidades e falhas que possam ocorrer com as correias em uma única vez, mas como não é possível, lembre-se: para que sua colheita seja um sucesso, com bons rendimentos e serviços sem interrupções, é importante que se tenha consciência da necessidade de revisar a colheitadeira e observar atentamente os procedimentos dos fabricantes no manuseio correto do equipamento durante sua operação, evitando assim paradas indesejáveis. Com esses cuidados, sua colheita ganha desempenho e você M os melhores resultados. Suzan Petter, Div. Correias Agrícolas Goodyear
Aplicação Fotos Charles Echer
barra de luz
Direção certa Com o objetivo de auxiliar os operadores na aplicação de insumos, a barra de luz aparece como ferramenta necessária na agricultura moderna
A
orientação de máquinas agrícolas para a aplicação em faixas adjacentes de defensivos, adubos e corretivos é freqüentemente realizada por métodos convencionais que incluem marcadores de espuma, orientação pelas fileiras de plantio, riscadores de solo, dentre outros. Entretanto, a utilização dessas técnicas pressupõe a existência de sobreposições e/ou falhas na aplicação. Sobreposições implicam em custos adicionais na aplicação, além de danos à cultura e ao ambiente, enquanto falhas na aplicação devem ser evitadas ao
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máximo para garantir a eficiência da distribuição correta do insumo ou do controle fitossanitário. Com o surgimento da Agricultura de Precisão novos conceitos, técnicas e ferramentas se tornaram conhecidos. É verdade que muitos destes conceitos e técnicas estão em fase de desenvolvimento, entretanto, algumas ferramentas são plenamente utilizadas por alguns produtores mais tecnificados. Dentre estas, podemos citar uma que ficou popularizada como barra de luz, do inglês LightBar.
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A barra de luz é um equipamento alternativo aos métodos convencionais para a orientação do operador na aplicação em faixas adjacentes. Ela também tem por finalidade diminuir a sobreposição entre as faixas consecutivas e otimizar a eficiência da operação agrícola.
FUNCIONAMENTO DA BARRA DE LUZ Para o funcionamento da barra de luz são necessários três componentes básicos: o painel luminoso (display), o controle com botões de acionamento e o receptor GPS Julho / Agosto 2003
“É verdade que muitos destes conceitos e técnicas estão em fase de desenvolvimento, entretanto, algumas ferramentas são plenamente utilizadas por alguns produtores mais tecnificados”
(Sistema de Posicionamento Global). O painel luminoso é um conjunto de luzes (LEDs) que se acendem na medida em que o veículo se afasta do alinhamento predeterminado, indicando ao operador a correção necessária no percurso. É comum também a existência de um visor que pode informar ao operador qual o erro em metros em relação ao alinhamento predeterminado, qual o tiro da aplicação, dentre outras informações. No início, esses equipamentos eram capazes somente de operar nos alinhamentos em reta. Com o desenvolvimento da tecnologia, alguns modelos foram lançados no mercado com a possibilidade de operar em curva. A operação desses equipamentos em campo é bastante simples. Na maioria dos modelos existentes é necessário apenas localizar os pontos inicial e final do alinhamento de referência. Quase todos os modelos já detectam automaticamente a manobra no final do alinhamento, indicando ao operador o posicionamento do alinhamento seguinte.
Antena recebe o sinal do satélite e envia para o monitor localizado na cabine da máquina
SUA UTILIZAÇÃO tretanto, esse uso está ligado à utilização de um GPS muito preciso (GPS geodésicos, que possuem erros na casa dos milímetros), conseqüentemente, mais caro.
AS VANTAGENS A utilização da barra de luz como referência nos alinhamentos durante as aplicações possui algumas vantagens sobre as técnicas convencionais, das quais pode-se citar: • Maior utilização do GPS na propriedade, diluindo seu custo; • Maior acurácia no alinhamento;
Modelos de barra de luz disponíveis no mercado brasileiro
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• Possibilidade de retorno ao ponto de parada da aplicação; • Pode ser utilizada durante a noite; • Pode ser utilizada em qualquer estágio de desenvolvimento da cultura; • A barra de luz não possui problemas com tiros longos; • Pode-se aumentar a velocidade da aplicação; • Sua utilização melhora a ergonomia para o operador; • A barra de luz não tem problema com a velocidade do vento.
O MERCADO Nos últimos dois anos foram comercializados no Brasil cerca de 450 receptores GPS, somente por uma das empresas representantes. Segundo a Santiago & Cintra, o número de unidades GPS comercializadas cresceu 100% entre 2001 e 2002, sendo que a empresa espera vender entre 700 e 1000 receptores somente neste ano de 2003, 90% deles com barra de luz. Segundo a empresa Máquinas Agrícolas Jacto S.A., há uma procura cada vez maior pelo sistema de direcionamento por barra de luz, principalmente para a cultura de soja. Em soja, os benefícios do uso da barra de luz são cada vez mais consistentes e difundidos e a procura vem crescendo a cada ano. Em 2001, 6% dos pulverizadores autopropelidos da Jacto (Uniport 2000) saíram de fábrica com o sistema instalado. Este número saltou para 15% em
Foto Baio
É comum a utilização da barra de luz na pulverização aérea no Brasil. Porém, na pulverização terrestre, essa tecnologia está sendo empregada principalmente nos autopropelidos. Praticamente todas as empresas fabricantes de pulverizadores autopropelidos disponibilizam a barra de luz como um opcional. Alguns produtores também estão utilizando-a para o alinhamento nas aplicações de adubos e corretivos a lanço. É possível a utilização desta tecnologia em outras operações agrícolas que exigem um elevado grau de precisão (“acurácia”), como no alinhamento de semeadoras. En-
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“O erro médio de alinhamento obtido para a barra de luz foi de 0,14 m, enquanto o sistema com marcador de espuma registrou um erro médio de 0,67 m”
2002 e, segundo a empresa, passará dos 30% em 2003. Para a Jacto, a tendência é de que em dois ou três anos o sistema de direcionamento por barra de luz seja padrão nos pulverizadores autopropelidos fabricados. Melhorias do equipamento como a possibilidade de trabalhar com eficiência em curvas, melhoria na precisão do sistema, não obrigatoriedade do pagamento do sinal de correção via satélite (devido à substituição deste sinal por algoritmos de correção) e informações nas telas dos equipamentos em português contribuíram para a difusão da barra de luz no mercado brasileiro.
to que a precisão obtida com o marcador de linha foi de 1,0 m (Figura 1).
O FUTURO DA TECNOLOGIA... Há uma tendência de crescimento desta tecnologia no mercado de autopropelidos pulverizadores, porém, outras áreas agrícolas possuem potencial de sua utilização, principalmente com o barateamento dos GPS e utilização de sinais de correção mais baratos ou de graça, como ocorre nos EUA. Há uma ten-
dência também da utilização da barra de luz ligada diretamente ao sistema de direcionamento do veículo (trator ou autopropelido) por meio hidráulico, onde a própria barra de luz corrige a rota do veículo quando há necessidade, diminuindo o trabalho do operador e M aumentando a precisão do sistema. Fábio Henrique Rojo Baio e Ulisses Rocha Antuniassi, UNESP - Botucatu
FIGURA 01: MAPAS DO TRAJETO PERCORRIDO POR UM AUTOPROPELIDO OPERANDO EM RETA E EM CURVA UTILIZANDO BARRA DE LUZ (TRIMBLE AG 110) E MARCADOR DE LINHA POR ESPUMA.
E QUANTO À PRECISÃO? É notório que a precisão no alinhamento é extremamente dependente da habilidade do operador, pois a barra de luz somente indica a mudança, cabe ao operador corrigir a rota da aplicação. Essa dependência também acontece com outras técnicas de alinhamento. A precisão da barra de luz em guiar o operador nos alinhamentos também é dependente da precisão do GPS, pois é ele quem vai fornecer a informação de posicionamento para a barra de luz. Assim, quanto maior a precisão do GPS, menor é o erro da barra de luz. Já é comprovado por pesquisas que a precisão do GPS com correção diferencial via satélite é semelhante à precisão do GPS utilizando algoritmo (equações matemáticas) para a realização da correção do erro do GPS (Balastreire & Baio, 2001). Alguns trabalhos foram realizados no Brasil e no exterior avaliando-se a precisão em alinhamentos com barra de luz. Baio et al. (2001) compararam a utilização de barra de luz com marcador de espuma em um pulverizador autopropelido. O erro médio de alinhamento obtido para a barra de luz foi de 0,14 m, enquanto o sistema com marcador de espuma registrou um erro médio de 0,67 m. Segundo uma avaliação realizada por Vetter (1995), o erro foi menor que 0,38 m em 50 % das observações e em 90% das observações o erro foi menor que 0,89 m. Mostrando que o erro é dependente da prática do operador, Molin et al. (2002) publicou um trabalho em que, com um operador o erro foi de 0,45 m e, com um segundo operador, o erro foi de 0,40 m. Em uma pesquisa realizada por Baio & Antuniassi (2003) (trabalho em fase de publicação) foi comparada a precisão média obtida com o marcador de linha por espuma e uma barra de luz instalada com um GPS Trimble Ag110 em um pulverizador autopropelido operando em reta e em curva. Nesse trabalho, foi observado que a precisão da barra de luz operando em reta foi de 0,40 m e operando em curva foi de 0,60 m, enquan-
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Plantadoras John Deer
rendimento
Consumo Consumo no no plantio plantio Estudo mostra alternativas para diminuir o consumo de energia na operação de plantio com semeadores-adubadores
A
adoção da prática de semeadura em sistema de plantio direto tem sido intensificada e largamente difundida na agricultura nacional. As semeadoras-adubadoras utilizadas neste sistema têm constantemente sofrido modificações visando melhorar a qualidade de distribuição de sementes e fertilizantes, corte da vegetação de cobertura, reduzir a mobilização do solo e a demanda de potência das máquinas. Na operação de semeadura, qualquer que seja a cultura a ser implantada, a otimização do desempenho operacional das máquinas envolvidas e ao mesmo tempo, a racionalização do uso das mesmas e a conseqüente redução de custos operacionais, são um desafio constante, uma vez que as despesas com a semeadura constituem-se em uma porção significativa dos custos de produção. Ao mesmo tempo em que as indústrias inovam as máquinas para a semeadura, é preciso que os agricultores as utilizem de forma adequada para se obter melhor rendimento operacional e econômico. O uso adequado dessas máquinas, no entanto, pas-
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sa por uma série de observações e estudos envolvendo variáveis do solo e das máquinas. Além das regulagens e configurações, incluindo-se a dos elementos sulcadores, fatores como a velocidade de deslocamento, o tipo, a vegetação e a estrutura do solo podem interferir no desempenho das máquinas de forma a contribuir significativamente na tomada de decisões do planejamento de todo um sistema agrícola. A operação de escarificação tem sido utilizada por agricultores como alternativa para romper camadas compactadas do solo em áreas de plantio direto. A alteração de algumas propriedades do solo (entre elas a densidade e a porosidade) pode exercer, no entanto, efeito sobre diversos fatores relacionados ao desenvolvimento das plantas e ao desempenho das máquinas de semeadura por um período de tempo variável, até a estabilização do sistema. Na busca de alternativas que otimizem o desempenho das máquinas semeadoras-adubadoras para plantio direto existentes, uma série de estudos tem sido desenvolvida pelo Grupo de Plantio Direto da FCA/Unesp-Botucatu, os quais revelam in-
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formações importantes à tomada de decisões no processo de implantação de uma cultura. Nesse sentido, com o intuito de contribuir com a obtenção de informações, foi avaliado o desempenho operacional e energético de duas semeadoras-adubadoras de precisão para plantio direto, submetidas à variação de velocidade e em duas condições de solo. Os ensaios foram desenvolvidos em solo de textura muito argilosa (77% de argila). Utilizaram-se duas semeadoras-adubadoras de mesma marca comercial, as quais diferiram apenas no mecanismo de distribuição de sementes, sendo uma de discos horizontais perfurados e a outra pneumática (discos verticais), ambas equipadas com sulcadores do tipo disco duplo defasado para sementes e fertilizantes, quatro linhas de semeadura espaçadas de 0,8 m para semeadura do milho. As semeadoras-adubadoras foram tracionadas em três diferentes escalas de velocidade de deslocamento, sendo uma tradicionalmente recomendada para semeadura (4,4 km/h) e duas relativamente mais altas (8,0 e 9,8 km/h). Utilizou-se um único trator na
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operação de semeadura, mantendo-se constante a rotação do motor. As condições de solo que definiram os tratamentos foram parcelas conduzidas sob sistema de plantio direto por quatro anos e parcelas sob plantio direto há quatro anos com efeito residual de escarificação realizada há quatro meses. Essa escarificação foi realizada à profundidade de 30 cm e no intervalo até a realização das avaliações, implantou-se e manejou-se a cultura da aveia preta. O efeito residual da operação de escarificação na estrutura do solo também foi detectado através da determinação da resistência do solo à penetração, a qual revelou que após o período de quatro meses, houve redução nos valores de resistência à penetração até a profundidade de atuação do equipamento (30 cm). As Figuras 1 e 2 ilustram algumas informações obtidas nos ensaios, as quais serviram de referência às discussões que seguem. Devido à menor resistência do solo ao rolamento nas parcelas com efeito residual de escarificação e à maior profundidade do sulco da semeadora de discos horizontais (1,1 cm mais profundo que a pneumática) e em solo sob escarificação (1,2 cm mais profundo que em plantio direto) e, o conseqüente aumento da patinagem dos rodados do trator, houve pequenas variações na velocidade de deslocamento entre as semeadoras-adubadoras utilizadas e entre as condições de solo, as quais provocaram diferen-
AGCO
“A operação de escarificação tem sido utilizada por agricultores como alternativa para romper camadas compactadas do solo em áreas de plantio direto”
A profundidade de semeadura interfere diretamente no consumo do trator
ças na capacidade de campo efetiva (área trabalhada por hora). Em média, em solo sob plantio direto a capacidade de campo foi 3,4% maior e a patinagem 24% menor que em solo sob escarificação. Embora tenham sido feitas as mesmas regulagens nas duas semeadoras-adubadoras avaliadas, ocorreu uma diferença
Figura 1
Figura 2
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de 14% na profundidade do sulco de semeadura e 25% na profundidade de deposição das sementes. Salienta-se que estas diferenças são inevitáveis em trabalhos de campo, mas devem ser quantificadas e consideradas no contexto das avaliações. Ressalta-se que a diferença de profundidade de deposição das sementes não interferiu no desenvolvimento e produtividade da cultura do milho, a qual produziu em média 6,4 ton/ha, quantidade considerada satisfatória, considerando que utilizou-se a variedade AL-30 da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, cujo potencial máximo de produtividade é de 8,0 ton/ha. A profundidade adequada de abertura do sulco é um fator importante a se considerar na semeadura, pois maiores profundidades provocam além de maior esforço tratório e mobilização do solo, maiores índices de patinagem dos rodados do trator, afetando conseqüentemente o desempenho operacional do conjunto trator-semeadora-adubadora. Os índices de patinagem dos rodados do trator, embora estando na faixa ideal de acordo com a recomendação da bibliografia (8 a 10% para solos não mobilizados), foram as principais responsáveis pelo aumento da demanda de força de tração e potência na barra e pela redução da capacidade de campo efetiva (ha/h). A semeadora pneumática apresentou
Máquinas
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Fotos UNESP - Botucatu
“Esta diferença, provavelmente, seria ainda maior se as condições de patinagem e profundidade do sulco fossem semelhantes”
Radar (acima) e fluxômetro (abaixo) utilizados no ensaio para medir o combustível gasto durante a operação de plantio e adubação
valores de força de tração e potência inferiores aos obtidos para a semeadora de discos horizontais. Isto se deveu à maior profundidade do sulco e patinagem obtida na semeadora de discos horizontais. A semeadora pneumática exigiu, em média, 1,9 kN (194 kgf) por linha de seme-
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adura, enquanto que a de disco horizontal exigiu 2,6 kN (265 kgf) por linha, resultando em uma diferença relativa de 27%. Com relação à demanda de potência, a semeadora pneumática exigiu em média 24% a menos de potência por linha de semeadura em relação à de disco
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horizontal, sendo respectivamente de 5,5 e 7,2 CV/linha. Quando comparada à semeadora de discos horizontais, a pneumática apresentou menores valores de patinagem dos rodados do trator, demanda de força de tração e potência por linha de semeadura medida na barra de tração, maior capacidade de campo efetiva (ha/h) e, no entanto, consumiu maior volume de combustível por hectare (em média 12%). Tal fato ocorreu possivelmente devido ao combustível consumido no sistema de acionamento da turbina geradora de vácuo. Esta diferença, provavelmente, seria ainda maior se as condições de patinagem e profundidade do sulco fossem semelhantes. Com relação ao desempenho operacional e energético das semeadoras-adubadoras, verificou-se que o período de quatro meses, período que incluiu o ciclo da aveia-preta, não foi suficiente para neutralizar os efeitos do revolvimento do solo pela operação de escarificação. Em relação ao plantio direto, nas parcelas cuja escarificação foi realizada houve aumento de 24% na demanda de força de tração por linha, 19% na demanda de potência por linha na barra e 16% no consumo de combustível por hectare e, redução de 3,3% na capacidade de campo efetiva. Em solo sob plantio direto obteve-se maior capacidade de campo efetiva (ha/ h) e menores valores de consumo de combustível por área trabalhada, força de tração e potência na barra por linha de semeadura. Tal resultado está associado às alterações na estrutura do solo provocadas pelo seu revolvimento através da escarificação, as quais propiciaram maior profundidade do sulco e maior patinagem dos rodados em solo sob escarificação. Uma avaliação da resistência do solo à penetração, 18 meses após a escarificação, mostrou que em relação ao plantio direto, os valores de resistência à penetração em parcelas sob escarificação foram inferiores até a profundidade de 10 cm. O aumento da velocidade provocou aumento gradativo na capacidade de campo efetiva e na demanda de potência por linha de semeadura. Por outro lado, o consumo de combustível por hectare diminuiu com o aumento da velocidade. Desta forma, na maior velocidade, obteve-se o menor consumo de combustível por hectare na operação de semeadura. O aumento da velocidade de 4,4 para 9,8 km.h aumentou em 125% a capacidade de campo efetiva e reduziu em 42% o vo-
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Conjunto de trator e semeadora utilizado no ensaio desenvolvida pelo Grupo de Plantio Direto da FCA/Unesp-Botucatu
lume de combustível por hectare de semeadura. Ressalta-se que os resultados referemse a um trabalho específico, devendo-se sempre considerar os objetivos e as parti-
cularidades de cada caso, especialmente às que se referem ao solo e aos parâmetros de qualidade de semeadura que envolvem, entre outros, a correta distribuição de sementes e fertilizantes. Todavia, deve-se
tomar cuidado com o aumento excessivo da velocidade de semeadura, pois eventuais ondulações do terreno dificultam a aderência dos rodados ao solo, provocando o aumento da patinagem (arrastamento) dos rodados da semeadora-adubadora podendo comprometer a qualidade da semeadura, visto que a grande maioria das máquinas utiliza os rodados para o acionamento dos mecanismos dosadores de sementes e fertilizantes. Quanto maior os índices de patinagem dos rodados das semeadorasadubadoras, maior a probabilidade de ocorrência de falhas na distribuição de sementes e fertilizantes, ocorrendo normalmente redução da dosagem de fertilizantes e da população de plantas. A redução da população de plantas poderia ser contornada com o aumento da quantidade de sementes, no entanto, torna-se caro, não garante a regularidade de distribuição (espaçamentos) das sementes e propicia a ocorrência de plantas dominantes que poM dem comprometer a produtividade. Denise Mahl e Carlos Antonio Gamero, FCA/Unesp
Novidade pulverização
Tecnologia inova Novo equipamento permite pulverizar em faixas de até 120 metros de largura sem perda de pressão e com vazão perfeita
D
urante o trabalho de avaliação de equipamentos agrícolas, a equipe do Núcleo de Ensaios de Máquinas Agrícolas (Nema) da UFSM se defronta com todo o tipo de máquinas, algumas com mais qualidade que as outras, algumas muito interessantes em soluções técnicas e, não muito raramente, aparecem soluções inovadoras. Entre tantos produtos, destacamos neste artigo o sistema de pulverizador denominado Spar, fabricado por Stahar (Stapelbroek & Cia Ltda). Os bicos de pulverização, ao invés de estarem em uma barra rígida, estão distribuídos sobre uma mangueira ligada a uma linha de cabos flexíveis com um trator em cada extremidade, sendo que somente um deles leva um pulverizador convencional adaptado. As provas de campo foram desenvolvidas na propriedade do Sr. Carlos Boherz, em Jarí, região central do Estado do Rio Grande do Sul. As avaliações realizadas foram feitas em distintas etapas como a caracterização do espécime, as avaliações dimensionais e os testes estáticos de funcionamento. Na fase final, foram feitas avaliações de campo nas culturas de aveia preta, soja, milho, sorgo e campo nativo. A avaliação do sistema Spar foi realizada com base nas normas de avaliação existentes de diferentes instituições como ASAE e ISO. Pelas características bastante particulares do equipamento, muitas metodologias foram adaptadas e desenvolvidas para ser possível a realização das provas.
CARACTERÍSTICAS DA MÁQUINA O Spar (Sistema de pulverização de arrasto e alto rendimento), como é denominado comercialmente, é uma mangueira utilizada como acessório para pulverizadores tratorizados, no lugar da barra do pulverizador. Apresenta um sistema de acoplamento rápido para facilitar operações alternadas entre o mesmo e a barra normal dos pulverizadores. O sistema foi desenvolvido
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para acoplamento em qualquer pulverizador, desde que apresente uma bomba com vazão suficiente para a largura de operação do equipamento. Além dessas especificações, a empresa comercializa equipamentos múltiplos dessas dimensões, ou seja, produz-se equipamentos de até 120 m de comprimento total. Nos equipamentos maiores são utilizados dois pulverizadores, um em cada extremidade.
FUNCIONAMENTO O equipamento é acoplado em dois tratores que trabalham em paralelo (lado a
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lado), deslocando-se a velocidades iguais. No caso de sistemas menores, o mesmo é acoplado a apenas um pulverizador, que terá a função de fornecer uma vazão de calda suficiente ao sistema. Em equipamentos maiores (acima de 80m), é necessária a utilização de dois pulverizadores, um de cada lado. Nesse caso, cada pulverizador alimentará a metade do sistema. Esse sistema difere das aplicações de um pulverizador de barras normal em dois grandes pontos: o equipamento desloca-se por arrasto sobre a cultura na qual se fará a aplicação e, ao invés de aplicar a calda de cima para baixo, Julho / Agosto 2003
“No caso de sistemas menores, o mesmo é acoplado a apenas um pulverizador que terá a função de fornecer uma vazão de calda suficiente ao sistema”
dora
uma largura de aplicação de 49 x 5 = 245cm. Esse perfil não mudou muito com a variação da pressão de trabalho, tendendo a aumentar a largura de alcance com o aumento da pressão. Verificando-se a posição de trabalho das pontas no sistema Spar, foi notado um aumento na largura efetiva de trabalho de cada ponta, o que fará com que haja maior sobreposição entre pontas durante a aplicação, se comparado com a posição normal das pontas em uma barra de aplicação normal.
UNIFORMIDADE DE VAZÃO E PRESSÃO Fotos Nema / CCR / UFSM
Nos ensaios realizados, verificou-se o comportamento da pressão de trabalho em todas as pontas ao longo do sistema Spar. As medidas foram realizadas trabalhandose com pressão de 3,3 kgf.cm-2 no manômetro do pulverizador, e rotação de 540 rpm na TDP do trator. A medição foi realizada utilizando-se um manômetro de pontas. Utilizou-se um conjunto de pontas de marca Magno BD 110 015 novas. Os valores medidos, a essa rotação, variaram de 3,2 a 3,4 kgf.cm-2, ficando com médias de 3,27 kgf.cm-2 na primeira metade da mangueira e 3,31kgf.cm-2 na segunda metade da mangueira. A pressão média geral ficou em 3,29 kgf.cm-2, desvio padrão de 0,077 e coeficiente de variação (CV) de 2,33. Isso indica que o equipamento apresenta um índice muito bom de distribuição de produto ao longo da mangueira.
DANOS À CULTURA APÓS A PASSAGEM DO EQUIPAMENTO O sistema de pulverização Spar avaliado usa as plantas da cultura como apoio na sua passagem sobre o dossel. As avaliações
foram realizadas no sentido de mensurar se essa passagem da mangueira causa danos aos diferentes tipos de cultivos. Para tanto, se desenvolveu uma metodologia específica. No local de aplicação, amostrou-se em uma área conhecida e determinada a condição das plantas antes da passagem do sistema, caracterizando a situação dessas plantas conforme suas particularidades. Logo após a passagem do sistema, em amostra análoga à testemunha, fez-se nova caracterização das plantas, buscando quantificar os danos que possam ter ocorrido pelo contato da mangueira com a cultura em estudo. Os possíveis danos foram identificados conforme a característica da planta principal em análise e seu estádio de desenvolvimento. Considerando-se os dados obtidos nos diferentes ensaios dinâmicos realizados com o equipamento Spar, pode-se fazer algumas conclusões referentes a danos mecânicos: • Em aplicações nos estágios reprodutivos de gramíneas de inverno, como o caso de fungicidas, o equipamento Spar pode ser utilizado sem restrições quanto a danos mecânicos; • Na cultura da soja, nos estágios vegetativo (V5) e reprodutivo (R3 e R5.1), o equipamento provoca um baixo nível de danos, desde que essas lavouras apresentem um bom estande de plantas quando da realização das aplicações. Em estandes “abertos”, como pode ser visto na Foto abaixo, podem ocorrer danos por quebra de planta, geralmente nas últimas plantas da linha de semeadura; • Na cultura da soja em aplicações no estágio reprodutivo (R5.1), ocorre a queda de flores e vagens, o que, todavia, não exer-
aplica de baixo para cima com o jato dirigido para trás.
PERFIL DE DISTRIBUIÇÃO DO BICO LEQUE NO SISTEMA Quanto ao perfil de distribuição dos bicos (pontas), realizou-se um ensaio sobre uma mesa de distribuição. Os resultados mostram-se semelhantes aos obtidos com as pontas funcionando na posição de trabalho normal (aplicação de cima para baixo). Na Figura 01, podemos verificar o perfil de distribuição de uma ponta (110 05 BD) trabalhando a 3 bares de pressão, atingindo Julho / Agosto 2003
Os bicos de pulverização ficam presos em um cabo de aço puxado por dois tratores
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“A metodologia utilizada foi a colocação de cartões hidro-sensíveis no meio do dossel a 30 e 60cm de altura a partir do solo”
ceu influência na produtividade final da cultura; • O equipamento não deve ser recomendado para aplicações nas culturas de sorgo e milho. Caso haja o interesse para essa opção de utilização, as aplicações devem ocorrer em estádios iniciais, quando as plantas ainda não tiverem internódios expostos. No ensaio realizado ocorreu grande quebra de plantas nos estágios posteriores.
Quadro 01: Especificações Técnicas Modelos Comprimento total (m) Peso aproximado(kg)
SPAR 20 20 39
SPAR 25 25 48
SPAR 30 30 55
SPAR 40 40 74
SPAR 50 50 95
Quadro 02: Diâmetro médio volumétrico, Coeficiente de variação do diâmetro de gotas e densidade de gotas nos cartões hidro sensíveis DMV Avião
20 L/ha 30 L/ha 100 L/ha
Spar
150 L/ha Pulverizador de barras 150L/ha
60 cm 30 cm 30 cm 60 cm 30 cm 60 cm 30 cm 60 cm
67,96 58,82 58,82 67,96 81,32 102,80 85,71 85,71
CV do Diâmetro 31,25 33,20 37,06 35,80 44,91 43,56 45,24 42,53
Densidadede gotas (gotas/cm2) 76,29 17,17 151,07 469,68 310,37 507,45 121,20 494,74
Quadro 03: Produtividade da soja para os diferentes sistemas de mecanização utilizados na aplicação de fungicida na soja Tratamento Pulv. barras 150 L SPAR 150 L SPAR 100 L AVIAO 30 L AVIAO 20 L Testemunha
Média 3068.538 3055.857 3042.587 2996.492 2936.755 2699.562
Produtividade da soja Diferença % Teste deTukey 5%* 13.67 b 13.20 b 12.71 b 11.00 ab 8.79 ab 0.00 a
* Os tratamentos seguidos de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro
Fig. 01: Vista do perfil de distribuição de uma ponta do sistema Spar
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PENETRAÇÃO DO PRODUTO EM PLANTAS COM GRANDE MASSA FOLIAR Realizou-se um ensaio comparando-se os equipamentos na aplicação de fungicida na cultura da soja, visando obter informações quanto à penetração do produto na cultura. Foram comparados o pulverizador de barras, o equipamento Spar – Stahar e o avião agrícola Ipanema. Esse ensaio foi realizado com a cultivar RS-10. A metodologia utilizada foi a colocação de cartões hidro-sensíveis no meio do dossel a 30 e 60cm de altura a partir do solo. Isso permite a verificação da penetração de produto no meio do dossel vegetativo da cultura. Observando-se o Quadro 02, podemos verificar que a densidade de deposição de gotas do sistema Spar e do pulverizador de barras foi bem superior à do avião, o que pode ser explicado em parte pela grande diferença nos volumes de calda aplicados. Quando compararmos as densidades de aplicação somente entre o pulverizador e o sistema Spar, pode-se verificar que nos volumes de 150 L.ha os dois equipamentos se assemelham bastante, principalmente na parte superior do dossel de plantas (60cm). Porém, na parte mais inferior do dossel, pode-se verificar um melhor alcance do sistema Spar, que atingiu valores bem superiores (310,37 L.ha para o Spar contra 121,20 L.ha para o pulverizador de barras). Isso nos indica claramente uma melhor eficiência de aplicação dos produtos na parte inferior do dossel pelo sistema Spar. No Quadro 03, pode-se visualizar os resultados quanto à produtividade, utilizando-se três diferentes sistemas de aplicação de fungicidas na cultura da soja. O melhor tratamento foi a aplicação do fungicida utilizando-se o pulverizador de barras que não diferenciou significativamente do sistema Spar nos dois volumes de aplicação utilizados (100 e 150 L.ha) e do avião nos dois volumes de aplicação (20 e 30 L.ha). O pior tratamento foi a testemunha, que também não diferenciou do avião nos dois volumes de aplicação (20 e 30 L.ha). Isso permite-nos concluir que os equipamentos utilizados na aplicação dos fungicidas foram eficientes, tendo atingido au-
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mentos na produtividade de 8,79% a 13,67%.
CAPACIDADE OPERACIONAL DO SISTEMA A capacidade operacional de um conjunto agrícola relaciona a quantidade de área trabalhada com um determinado período de tempo, sendo que estes valores são dependentes de vários fatores. Para as avaliações de campo, buscou-se trabalhar em distintas situações e realidades, as quais devem ser consideradas no momento de se realizarem comparações. Todos os testes basearam-se na quantificação dos tempos operativos dos conjuntos, que eram tomados e registrados manualmente com cronômetro e planilhas de campo, necessitando-se para isso de dois operadores no trator ou junto ao conjunto mecanizado. Dessa forma, formou-se uma planilha de tempos classificada em três tipos distintos: • Tempo efetivo – quando o sistema estava acionado, aplicando a calda sobre a lavoura; • Tempo de manobras – quando o conjunto operacional não estava realizando aplicação da calda, manobrando nas cabeceiras ou desviando obstáculos diversos; • Tempo de reabastecimento – quando o conjunto estava repondo, no depósito, a água e o produto. Esse tempo foi to-
Detalhe do conjunto de mangueira e bico de pulverização
Facilidade para recolher e transportar o equipamento
mado desde o final da aplicação, quando se desligava o sistema, até o reinício da mesma, quando novamente a calda era pulverizada. Durante a aplicação, mais dois operadores registravam a largura efetiva de trabalho e a velocidade real de deslocamento dos conjuntos. Dessa forma, ao final das avaliações estavam registrados os dados necessários para o cálculo das capacidades operacionais, as eficiências para cada operação e os rendimentos operacionais. Dessa forma, ao final dos ensaios em diferentes áreas, culturas, produtos aplicados e com diferentes tamanhos de pulverizador, analisando-se os dados coletados obteve-se algumas conclusões, tais como: • O equipamento Spar-Stahar, nas condições de ensaio, apresentou Capaci-
dade de Campo Operacional em torno de 15 ha/h; • A Capacidade de Campo Operacional do conjunto Spar foi em média 100% superior à Capacidade de Campo Operacional da aplicação com um pulverizador equipado com barras normais; • O Rendimento de Campo Efetivo do equipamento Spar-Stahar aumenta bastante nas aplicações em áreas maiores; • É importante que o agricultor disponha de um sistema de reabastecimento do pulverizador na lavoura para atingir maior M rendimento de campo efetivo. José Fernando Schlosser, Valmir Werner e Marcelo Prado Lima da Silva, Nema/CCR/UFSM Eduardo Guimarães de S. Filho, AGCO
Trator Fotos Charles Echer
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Testamos o novo integrante da família AGCO, o Challenger MT 765. Veja quais são as nossas impressões sobre o gigante de esteiras
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mpressionante! Essa talvez seja a palavra que melhor define as impressões de quem se atém a observar com um pouco mais de atenção essa máquina amarela. Fomos conhecer um gigante da família Challenger. No Brasil, a AGCO está oferecendo os quatro modelos do grupo 700, que variam de 235 a 306 HP (175 a 228 kW). Avaliamos o MT 765. E podemos dizer que foi uma missão muito agradável. A empresa enfatiza que o projeto revolucionário é baseado em tecnologia, velocidade e conforto com tração superior, flutuação e confiabilidade. E isso é facilmente comprovável, conforme se verá a seguir.
o amarelo, os detalhes do grafismo, o sublinhado, em vermelho. No aspecto “design”, não se pode considerar apenas o visual, embora importante, mas principalmente o funcional e a ergonomia. Novamente somos surpreendidos por acessos fáceis, como na escada da cabi-
SISTEMA DE ROLAMENTO
DESIGN Ao aproximar-se do trator, não se pode deixar de notar o desenho externo, extremamente moderno, de formas “aerodinâmicas”, muito embora a aerodinâmica não seja relevante nas faixas de velocidade em que esse tipo de máquina opera. As linhas da carenagem são harmoniosas e as cores muito bem ajustadas: o preto contrastando com
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ne, com guardas de proteção na região superior. A manutenção é facilitada pelo fácil e amplo acesso aos componentes, especialmente os de inspeção diária. A lubrificação (engraxar) não é diária, os prazos são estendidos, o que favorece o tempo do trator em operação, aumentando a eficiência operacional. Aliás, máquinas desse porte não são concebidas para estar paradas. Há que se prover área para trabalhar...
Escada de acesso à cabine com guardas de proteção
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O ponto forte do sistema de rolamento, ou da rodagem, desse trator são as esteiras de borracha, que dão uma mobilidade incrível, e um conforto inimaginável quando comparado com tratores de esteiras metálicas. O conjunto principal é acoplado ao trator através de molas helicoidais e braços com amortecimento de borracha. Uma barra estabilizadora interliga os dois conjuntos, permitindo uma inclinação de 8 graus. Os roletes de apoio também estão montados em suspensão. O conjunto apóia as esteiras em cinco eixos, o que dá uma boa distribuição de cargas e esforços. Com seis opções de Julho / Agosto 2003
“Embora não seja habitual no Brasil o uso de tratores de grande potência para operações de cultivo, essa máquina traz essa função em seu projeto”
de 52%. Esse nível de reserva permite operação em uma faixa flexível de rotação, evitando muitas trocas de marcha. A alimentação com sobrealimentador (turbo) agregado a um pós-resfriador ar-ar melhora o desempenho do motor com diminuição de consumo. A curva de potência bastante plana na gama de utilização (1400 a 2100 rpm) possui uma elevação da altura de 1600 rpm, permitindo um “ganho” de potência de até 13%, facilitando a superação de condições difíceis momentâneas. A transmissão servo-assistida tipo Powershift de 16 marchas à frente e 4 à ré é eletronicamente programável e permite velocidades de 0 a 39,7 km/h. A programação da transmissão permite trocas contínuas, seqüenciais, pré-programadas ou faixas de velocidade fixas. Nove marchas encontram-se na faixa de velocidade operacional, o que permite seleção adequada, menor consumo de combustível e maximização de eficiência operacional. Existe a opção de uma super-redução (Creeper), com redução 4:1 para usos que exigem velocidades baixas de operação. O diferencial agrega o sistema de direcionamento (por frenagem). Seu controle eletrônico permite resposta de direção proporcional à velocidade de deslocamento.
Rodado com seis opções de esteiras e bitolas ajustáveis com variações de 1524 mm até 4064 mm
largura de esteira, variando de 356 a 762 mm e comprimento de 2438 mm permite grande área de contato com o solo, trazendo por conseqüência baixa pressão específica, minimizando o adensamento e reduzindo a resistência ao rolamento. São três os tipos de esteiras disponíveis: uso agrícola padrão, garras de perfil baixo e para aplicações severas. Com o peso do trator variando de 12270 kg em ordem de marcha a 16330 kg com o máximo de lastro, são de se esperar pressões específicas teóricas sobre o solo na ordem de 0,66 (0,88) kgf/cm2 a 1,24 (1,65) kgf/cm2. Evidentemente que sob o efeito dos roletes podem ocorrer picos um pouco mais elevados, mas de qualquer forma, são valores excelentes para uso agrícola, causando baixo impacto sobre a estrutura e a compactação do solo. O blocos-guia internos das esteiras estão mais altos (+26%) que no modelo anterior, o que permite maior aderência à roda motriz e mais durabilidade à esteira. A roda motriz (disponível em três larguras, conforme o tipo de esteira escolhida) é estriada em ângulo lateral duplo, o que lhe confere aderência também à região lisa da face interna da esteira. Ademais, o conjunto é suportado por três conjuntos duplos de roletes, melhorando a distribuição da carga sobre o solo. O desenho e o arranjo das garras da esteira permitem boa capacidade de auto-limpeza. Embora não seja habitual no Brasil o uso de tratores de grande potência para operações de cultivo, essa máquina traz essa função em seu projeto. Para tanto, as bitolas são ajustáveis (variação contínua) em três gamas: básica, de
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1524 a 2235 mm; larga, de 2032 a 3048 mm; e extralarga, de 3048 a 4064 mm. O ajuste é simples e não exige desmontagem de componentes, nem sequer o alívio de tensão das esteiras. Basta soltar a fixação ao eixo motriz e deslocar o conjunto lateralmente.
ACOPLAMENTOS O sistema hidráulico de levantamento em
UNIDADE MOTRIZ O motor é um Caterpillar C9 de 8,8 litros de cilindrada, com camisas úmidas, gerando 228 kW (306 HP) com uma reserva de torque
Motor Caterpillar C9 com 306 CV e reserva de torque de 52%
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três pontos é, provavelmente, o engate mais utilizado atualmente em tratores agrícolas. O do Challenger tem capacidade de levante de 7256 kgf, operando à vazão de até 166 litros por minuto. A elevada pressão do sistema permite que várias funções sejam atendidas simultaneamente, como levantamento e atendimento de válvulas de controle remoto (quatro, com extensão de até seis). Um dispositivo inovador é o engate em 3 pontos dirigível. Consiste em um comando do acoplamento ligado ao sistema de direção. Extremamente útil em operações de precisão em trajetórias não lineares, como cultivo, aplicação de agroquímicos ou preparo do solo. O controle está interligado à rede eletrônica específica, denominada IntellitronicsTM. A barra de tração, de construção reforçada, pode mover-se lateralmente em 9 graus a partir da linha de centro do trator. Opcionalmente pode vir equipado com uma barra de tração oscilante, roletada, e que oscila em 32 graus. Essa opção é oferecida para operações extrapesadas.
CABINA ( = CONFORTO) Definitivamente “O” ponto alto do Challenger é a cabine. O trator é projetado para suas funções básicas, mas principalmente pensando no operador. Certamente o operador não é um sujeito qualquer. Em
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Engate com 3 pontos dirigível, ligado ao sistema de direção
função do nível de exigência dos comandos e controles deve ter uma boa formação não só em mecânica e operações agrícolas, mas em eletrônica e automação. Ao entrar na cabine, o que chama a atenção é o espaço e a ampla área envidraçada (6,2 m2) com vidros escurecidos, dando um campo de visão muito grande e com poucos obstáculos. O limpador de pára-brisas dianteiro é pantográfico com lavador, o traseiro é convencional. Ao lado esquerdo do assento do operador existe um assento menor, destinado ao instrutor (que, conforme vimos, se faz necessário) do operador. Ao lado direito está posicionado o console de comando, denominado pela empresa de TMC (Tractor Management Center). Todos os comandos e controles estão fixados nele, e estão ao alcance da mão direita. O console é solidário ao assento, de modo que, quando este for movimentado, ele o acompanha. Existe um ajuste prévio de altura separado, mas o giro e todas as movimentações (avanço, altura) são acompanhados pelo console. Na parte mais frontal, está um mostrador (“display”) de quartzo líquido, onde são visualizadas as funções (em número de 16 possibilidades) selecionadas em uma chave à direita do mostrador. As funções visualizáveis são: o índice geral, o monitor de desempenho, o consumo de combustível, a eficiência, informações do produto, tela de manutenção, eventos, ajustes, direção, comando por um toque, comando de força, tomada de potência, engate em 3 pontos dirigível, engate em 3 pontos e válvulas hidráulicas de controle remoto (1–3 e 4-6). O sistema de comando por um toque registra uma série de eventos (posições) e a repete ao toque de um botão. Na segunda parte do console es-
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Cabine ampla, com área envidraçada de 6,2 m2
TMC, com todos os controles e comandos da máquina
tão as alavancas e os botões do comando. O controle da transmissão, por exemplo, é feito em uma única alavanca, à semelhança de um “joystick”, chamada de comando da potência. O acelerador é uma pequena alavanca que pode ser acionada pelo polegar direito. Falando em conforto, ainda, existem vários espaços para acondicionar objetos, e compartimentos de temperatura controlada para guardar bebidas. Um cabide para o casaco, local para o telefone celular, compartimento para literatura (manuais). Até uma barra lateral para fixação de monitores de equipamentos é fornecida, posicionada à direita da cabine. Na parte frontal superior está o controle do condicionador de ar e do som. Som? Sim, um tocador de CDs para 6 discos, tocando em 4 alto-falantes, inclusive com efeito subwoofer. Opcionalmente, o controle do som pode estar no volante de direção. Vamos andar? A climatização do ambiente tem várias saídas de ar, e um fluxo envolvente ao operador, evitando as regiões excessivamente frias ou quentes que ocorrem quando a cliMáquinas
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“Opcionalmente, para completar, o Challenger pode vir equipado com o Auto-GuideTM, sistema de direcionamento por satélite que repete trajetórias em linha reta, sem a interferência do operador”
matização tem apenas saída frontal. Ligado o motor, tem-se a impressão de estar em um automóvel de luxo, pelo baixo nível de ruído interno. O volante de direção de um raio só é regulável em várias posições, inclusive distância. Atrás do volante está o painel convencional, analógico, com as informações básicas de rotação, combustível, pressão e temperatura do óleo e as luzes indicadoras. Não esqueça de ajustar os espelhos interno e externo, que opcionalmente podem ser elétricos. As pequenas imperfeições do solo são absorvidas com facilidade pelo sistema de rolamento, e os desníveis maiores galgados com valentia pelas esteiras. A cabina montada sobre amortecedores de borracha e com forração acolchoada absorve bem as vibrações.
A ELETRÔNICA Se você já se impressionou com a cabine, aguarde um pouco para a eletrônica. A máquina possui um sistema de gerenciamento de dados de alta velocidade denominado IntellitronicsTM que integra todos os sensores, comandos eletrônicos e processadores para otimizar seu desempenho. Mostra os dados de desempenho, manutenção, diagnóstico e produtividade no TMC (Centro de Gerenciamento do Trator). A conexão aos implementos é feita através do protocolo ISO11783. Opcionalmente, para completar, o Challenger pode vir equipado com o Auto-GuideTM, sistema de direcionamento por satélite que repete trajetórias em linha reta, sem a interferência do operador.
MANUTENÇÃO Conforme já mencionado, o acesso aos pontos de manutenção e inspeção diária é facilitado. Os tempos das rotinas são estendidos, com o objetivo de minimizar o tempo parado e maximizar os tempos operacionais. O filtro de ar, por exemplo, é trocado anualmente.
IMPRESSÕES GERAIS Depois do tempo que passamos interagindo com essa máquina, e de examinar cada um dos detalhes relatados, não mudamos de opinião com relação à palavra de abertura deste material: impressionante! Um trator moderno, com todos os recursos tecnológicos possíveis, confortável em vários sentidos, capaz de realizar as tarefas mais pesadas e as mais rápidas com a mesma performance. O preço? Consulte seu concessionário. Pode ser mais um impacto, mas certamente, e em pouco tempo, você se convencerá que a M relação custo-benefício vale à pena. Arno Dallmeyer, Cultivar Máquinas
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Pivô central Fotos Rocheli Wachholz
projeto
PPensando ensando irrigação irrigação Entenda os principais passos para implantar a tecnologia de irrigação sob pivô central, que até bem pouco tempo era tida como um investimento de alto custo
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ouve tempo em que pensar em irrigar o solo em busca de mai ores produtividades das culturas era mesmo um sonho. O desconhecimento da tecnologia por parte dos produtores, o pequeno número de pivôs vendidos no país e a falta de linhas de crédito para financiamento tornavam inviável a compra do equipamento. Entretanto, a instalação de um pivô, mesmo diante de todas as dificuldades, já era vislumbrada na região sul por produtores como Azir Costa Beber, plantador em São Luiz Gonzaga desde 1968. De Julho / Agosto 2003
acordo com Azir, desde os anos 80 sua propriedade já estava em busca de novas tecnologias. O plantio direto, disse Costa Beber, iniciou com vistas a melhorar não só as condições físicas do solo, mas principalmente pelo fato de a palhada manter mais tempo a umidade do solo. Com isso, ele percebeu que até mesmo as raízes desenvolviamse mais, encontrando umidade em pontos mais profundos do solo. Passados mais de vinte anos, o sonho tornou-se realidade, a fazenda Umbu instalou seu primeiro pivô central. Costa Beber conta que para chegar
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até esse momento foi necessário assistir muitas palestras sobre irrigação, visitar outros irrigantes, mas cita principalmente a importância da análise de viabilidade técnica e financeira do projeto feita por um consultor especializado em irrigação. Depois do sonho, comenta o produtor, vem a realidade. “Nosso primeiro passo, foi procurar as pessoas entendidas no assunto. No início é tudo complicado, nossa única certeza era a de que queríamos começar a irrigar. Descobrimos, por exemplo, que para a construção do reservatório de água é necessário dar entrada numa documentação junto ao Conselho de Recursos Hídricos, entidade ligada à Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental)”, diz Azir. Segundo o produtor, mais uma vez a orientação de um técnico especializado foi necessário. “Nós não temos conhecimento de como preencher a papelada”, afirma Azir. Mais do que preencher a papelada, este responsável técnico tem conhecimentos de toda questão institucional para aprovação do projeto. Desde o levantamento planialtimétrico (medição da área e demonstrativo do relevo) do local de construção do reservatório, até a determinação da capacidade de armazenagem de água do reservatório. O que em última análise, comforme Arno Schollmeier especialista em irrigação da Pivotsul - Panambi/RS, determinará a área a ser irrigada. Durante a construção do reservatório o produtor terá outras questões de ordem de engenharia, como a inclinação do talude da taipa(barragem), e o material que forrará a face interna do talude contra a ação da água, quando cheio o reservatório. Outra preocupação é a forma como será captada a água de dentro do reservatório. Na fazenda Umbu, a captação é do tipo sifão, o que permite o aproveitamento total da reserva hídrica. Paralelamente à construção do reservatório, a casa de bombas deve ser muito bem projetada, já que comportará o “coração” do sistema de irrigação. A capacidade de bombeamento, ou vazão das bombas, está intimamente ligada aos seguintes fatores: pluviosidade da região, necessidade hídrica da cultura, tamanho da área, capacidade de retenção de água do solo, tipo de solo, evapotranspiração, altura de recalque da água, entre outros. Nos casos em que a necessidade de vazão exige bombas e motores muito potentes, acima de 250 cv, torna-se imprescindível a instalação de bombas seqüenciais, ou seja, uma bomba em seguida da outra na mesma linha de adução, conforme Arno Schollmeier. A condução da água desde a bomba até o centro do pivô central se dá por tubos. Neste aspecto, em função dos acidentes do terreno, é importante que o produtor construa uma vala em linha reta e com o fundo sem muitas imperfeições, o que nem sempre é possível, garante Schollmeier. Neste momento, ao pensar na instalação, o produtor Máquinas
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“Aqui em nossa propriedade tivemos que retirar, inclusive, casas do caminho dos pivôs, para que o círculo descrito pelo equipamento fosse o mais otimizado possível”
Projeto Planialtimétrico; início de tudo
deve buscar no mercado tubos com sistemas de engate que possam adaptar-se às imperfeições do terreno. “O sistema de bolsa e ponta se adapta melhor a essa situação, bem como às possíveis curvas da vala, evitando assim os transtornos futuros de vazamentos ou achatamento da tubulação”, completa o assistente técnico. Um outro aspecto relevante na hora da escolha do equipamento de irrigação, segundo o especialista em engenharia de irrigação Schollmeier, são os moto-redutores. Esse componente é responsável pelo deslocamento do pivô em seu trajeto pelas lavouras. Quan-
Casa de bombas; o coração do sistema
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do com marca de boa qualidade, não acarreta problemas ao agricultor, garante o especialista.
DIFÍCIL TAREFA Em 1993, recém chegado da Faculdade de Agronomia, Valdinei Donato lembra de como foi difícil convencer seu pai a investir em um pivô. Passados cinco anos, ele lembra que quando ainda era estudante já via com bons olhos essa tecnologia. Mais do que isso, queria permanecer na sua terra, embora soubesse que São Luiz Gonzaga é um lugar onde
Montagem da tubulação adutora
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os índices pluviométricos são baixos e com tendências aos veranicos, principalmente na época de pendoamento do milho. A produção da lavoura em anos bons, comenta Donato, atingia 90 sacas por hectare, enquanto que em anos de seca, não passava de 20. Segundo ele, isso não era a vida que sonhara. Nos anos bons não se investia em tecnologia pela incerteza de produzir o bastante que pagasse o investimento. “E o que dizer dos anos ruins?”, complementa. Depois de acompanhar amigos que já haviam adquirido sistemas de irrigação, conseguiu convencer seu pai, Valdir Donato, da validade de investir nessa tecnologia. “O investimento que fizemos se pagou rapidamente, pois onde colhíamos 90 sacas, passamos a colher 142 sacas por hectare e, de lambuja, fizemos uma safrinha com soja em que colhemos 47 sacas por hectare”, afirma Valdinei. Daí para diante foram muitas as mudanças na propriedade. Assistido desde 1999 pelo especialista em irrigação, Arno Schollmeier, o produtor viu cair alguns preconceitos da região, um deles o fato de em altitudes baixas não produzir milho de boa qualidade, outro de que pivô é caro. Auxiliado pela esposa na contabilidade, Valdinei garante que seu lugar é mesmo na fazenda onde cria suas filhas e tem qualidade de vida. Depois do primeiro pivô adquirido há cinco anos ele já possui cinco pivôs.
EXPERIÊNCIAS DE SUCESSO Sérgio Strobel assumiu a fazenda em Palmeira das Missões,ainda jovem, mas desde a formatura já pensava em irrigar. Sua primeira experiência foi negativa, pois na visita que fez recebeu a informação de que “pivô é um hoby do doutor”, explica Sérgio. Entretanto,
Pivô recém instalado na Fazenda de Sergio Strobel
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Moto redutor, a garantia de deslocamento
ele possui, atualmente, sete pivôs. “A tecnologia permitiu que nossa média de produção de milho chegasse aos 157 sacos por hectare”, complementa Strobel. “É importante lembrar da sistematização da área. Aqui em nossa propriedade tivemos que retirar, inclusive, casas do caminho dos pivôs, para que o círculo descrito pelo equipamento fosse o mais otimizado possível”, diz Sergio. Já que, segundo o produtor, quanto maior a área, mais se dilui o custo do investimento inicial do pivô. “Começamos comprando uma marca de pivô, depois compramos outra para que fosse possível a comparação de desempenho dos equipamentos, descobrimos que ambos funcionam bem”, afirma Sérgio. A diferença entre os produtos, tem sido a atenção e o desempenho da assistência técnica. “É muito ruim ficar esperando um tempão para consertar um pequeno problema no equipamento”, diz Sérgio. Ele relata, ainda, que prefere ser atendido pelo mesmo técnico de manutenção, o que nem sempre ocorre. Por outro lado, continuou Sérgio, os cursos de aprimoramento no uso e manutenção dos pivôs oferecidos pelo fabricante têm sido de grande valia para o bom funcionamento da propriedade. Sérgio também é proprietário de terras em Chapadinha, interior do Maranhão, onde pretende em breve investir em mais pivôs.
Sistematização das áreas exige até remoção de casas
tos de mão-de-obra, bem como na introdução de novas culturas. O feijão já é uma realidade. “O milho doce e o milho pipoca já se constituem em opções viáveis de produção na região”, afirma Macagnan. “O girassol, derrubando por completo épocas tradicionais de plantio será plantado na primeira quinzena de julho. Nossas propriedades se tornaram empresas rurais”, afirma Cláudio. “E o que é melhor, tem trabalho o ano todo”, confirma. Tudo isso só se tornou possível depois que implantamos a tecnologia de irrigação, atualmente nossa propriedade possui sete pivôs instalados e estamos adquirindo mais três da mesma marca, afirma. Nosso processo de qualidade já existia, mas ganhou força com a en-
trada do pivô, completa. “Podemos agora programar nossa produção como se fôssemos uma indústria, graças à certeza permitada pela irrigação”. Outro aspecto lembrado por Cláudio é o cuidado com o meio ambiente tomado pelo produtor, ao armazenar a água que será utilizada na agricultura. Uma outra facilidade que atualmente se apresenta ao produtor na questão de irrigação, segundo Cláudio, é a nova política de financiamento dos equipamentos para irrigação. São liberados por produtor até quatrocentos mil reais, a um juro fixo de oito vírgula setenta e cinco por cento, com até três anos de carência para pagar e parceláM vel em até cinco anos. NF
MUDANÇA DE CULTURA Cláudio Macagnan, produtor de sementes em Cruz Alta, considera que a irrigação, mais do que produtividade, trouxe para a região o pensamento e a necessidade da mudança cultural dos lavoureiros. Houve o investimento em recursos humanos, treinamenJulho / Agosto 2003
Torre central em fase de instalação www.cultivar.inf.br
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Opinião
De Reforma Agrária...
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TECNOLOGIA O que quero dizer é que além da base de produção (a terra, no caso, ou um pavilhão, se pensarmos em agroindústria) se necessita dos meios para tal. E dois dos meios muito importantes são o capital e a tecnologia, supondo que o trabalho já esteja presente. E de nada adiantará o capital, financiamento, pequeno ou grande, sem a tecnologia. Para sair do marasmo, da imobilidade social, essa gen-
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enho acompanhando o tema há muito tempo. Para falar a verdade, desde os tempos da Frente Agrária Gaúcha, com Brizola governador do Rio Grande do Sul. Depois veio a Esquina Natalino, a Fazenda Annoni, o embrião do MST... Mas eu fiquei realmente impactado na semana passada (escrevo isto no início de julho de 2003), quando um grupo de ditos agricultores sem terra acampou na entrada da universidade na qual trabalho. Quem nunca presenciou não pode imaginar o que é um desses acampamentos. É subumano! Não se pode conceber que seres humanos se submetam a viver naquelas condições, em busca de seu sonho de possuir um tanto de terra. Pior, no entanto, é que esses grupos são conduzidos ou inspirados por pessoas supostamente cultas, talvez até com cursos (cursos, não treinamentos) na Europa ou em outro local do mundo. Entendo que se possa dar melhores condições de vida a essa gente, com o dinheiro que o governo e as instituições privadas disponibilizam para essa causa. Não quero discutir a organização interna, os métodos dessas pessoas. O que gostaria é de lembrar que direta ou indiretamente estamos todos no mesmo barco, envolvidos com esta situação. Assim, não acredito que simplesmente dando um pedaço de terra a alguém que “quer” possuíla, e acabar freneticamente com os “latifúndios” vá nos levar a algum lugar. Como já mencionei em outra ocasião, não podemos nos esquecer que vivemos em um mundo capitalista, onde as coisas são adquiridas com dinheiro, e que este só pode vir de duas formas: com a produção, ou pelo roubo. Descartando a segunda possibilidade, qualquer pessoa que necessite viver neste País, e neste mundo, precisa ganhar dinheiro para tal. Não se vive só com agricultura de subsistência, nem só com escambo. Então, como essa gente vai produzir para viver?
Arno Dallmeyer é Consultor Técnico da Cultivar Máquinas e Professor Titular de Máquinas Agrícolas no CT/UFSM
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te necessita da tecnologia, do conhecimento, do saber. E dos elementos tecnológicos. Sei que é difícil absorver tecnologia quando não se tem sequer as necessidades básicas atendidas, como alimentação, moradia ou segurança, mas há que se fazer algo para quebrar essa situação e inserir essas pessoas no segmento produtivo. De outra forma, para que o governo e as demais instituições investiriam na Reforma Agrária? Ah, você está pensando na tal tecnologia? Pois bem, temos vários órgãos no País que têm a incumbência de transferi-la a quem dela necessite, como a Embrapa, a Emater, o Senar. O Senar certamente é quem está mais próximo em propósito e finalidade. E seus convênios e aproximações lhe dão condições de atender a essa demanda que é real, urgente e de toda a sociedade, não apenas dos interessados diretos. Vamos mostrar aos aspirantes a agricultores as diferenças entre cultivares, o valor da boa semente, da fertilização correta, da irrigação, da necessidade e da oportunidade da aplicação de agroquímicos, da colheita no momento adequado e do armazenamento sem perdas. O uso correto das máquinas de tecnologia intermediária, a forma de agregar valor à produção e o trabalho cooperativado complementam o rol, e diferenciarão esses produtores. Então sim, estaremos prontos a virar manchete na imprensa internacional, mais um caso de sucesso na agricultura do terceiro mundo, sem necessidade de destruir patrimônio ou de agredir pessoas para conquistar atenção. Que tal incluir aquele requisito (o treinamento compulsório aos tomadores das glebas) no processo de distribuição (eu preferiria poder dizer “venda”) da terra? Teremos, assim, uma verdadeira inclusão social e uma oportunidade real aos nossos compatriotas que hoje se espremem sob lonas pretas e armações de taquara. M
Julho Julho//Agosto Agosto2003 2003