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Colhedoras
Prontas para o
Otrigo é o segundo cereal mais cultivado no mundo e, no Brasil, também tem destaque dentre as culturas de inverno. Os produtores aumentaram as áreas de cultivo na atual safra em virtude do incremento no preço pago pelo grão. Outro fator que levou ao incremento de áreas cultivadas, com esse cereal de inverno, é a busca de compensação da baixa renda obtida com a soja, em função da estiagem que ocorreu recentemente na região Sul do Brasil.
O tempo disponível para a operação de colheita da cultura do trigo é curto, principalmente quando é realizada a semeadura da soja em sucessão. Por isso, existem algumas soluções como a utilização de cultivares precoces, herbicidas dessecantes após as plantas atingirem o estádio de maturação fisiológica dos grãos e a operação de colheita no menor tempo possível. O produtor deve realizar a manutenção preventiva nas colhedoras para evitar paradas e o aumento no tempo destinado para a operação. Além disso, é fundamental fazer os ajustes nas máquinas colhedoras, específicos à cultura do trigo, visto que podem proporcionar maior capacidade operacional, menor consumo de combustível e menores perdas de grãos.
CORTE E ALIMENTAÇÃO
As colhedoras podem ser equipadas com plataformas rígidas ou flexíveis para a operação de colheita do trigo. Ao optar por corte em maior altura é interessante que as plataformas flexíveis operem no modo rígido para minimizar os efeitos prejudiciais das vibrações. Na operação realizando o corte alto é necessária a instalação de sensores auxiliares de altura, que possibilitam a operação, no modo rígido da plataforma, até 330mm em relação ao solo, de forma automática.
A discussão ainda é grande em relação à altura ideal de corte das culturas de inverno, uma vez que os caules não fragmenta-
Marco Antônio Fochi
trigo
dos, pelo processo de colheita, podem interferir negativamente, principalmente quando implantada a soja em sucessão. Por outro lado, à medida que a altura de corte é reduzida diminui-se, também, a capacidade operacional da colhedora, resultando no maior consumo de combustível por hectare em decorrência do maior fluxo de palha. Embora muitos produtores têm optado pelo corte mais próximo ao solo, não existem evidências científicas que comprovem o melhor desenvolvimento da cultura posterior.
Outro fator importante, relacionado ao corte e alimentação, é o estado de conservação da barra de corte, que deve, preferencialmente, estar equipada com navalhas de corte com serrilhado fino e contranavalhas sem desgaste excessivo. Navalhas com acentuado desgaste das contranavalhas podem dificultar o corte, principalmente na operação com a cultura do trigo.
Após o corte da cultura, o molinete é responsável por apoiar e direcionar as plantas ao sem-fim alimentador (caracol) ou a um sistema de esteiras (Drapper), dependendo da característica construtiva da plataforma. O posicionamento, a velocidade de rotação e a inclinação dos dedos do molinete devem ser ajustados de acordo com a condição de colheita. De maneira geral, para culturas caídas (acamadas), recomenda-se adiantar o molinete, aumentar a inclinação dos dedos, bem como a velocidade de rotação para deslocar as plantas em direção a plataforma. Nestes casos, a perda de grãos na plataforma será maior, por isso o cuidado para evitar o acamamento da cultura é fundamental.
Nas plataformas equipadas com sem-fim alimentador recomenda-se altura uniforme em relação ao fundo, manutenção de todos os dedos retráteis e ajuste dos raspadores. O objetivo dessas regulagens é proporcionar o fluxo de palha mais uniforme possível, visto que a alimentação em fei-
Marco Antônio Fochi
Localizados abaixo da plataforma, sensores adicionais proporcionam altura de corte de até 330mm
Contranavalhas em condição de operação (esq.) e contranavalhas com desgaste excessivo (dir.)
xes sobrecarrega os sistemas posteriores.
Para plataformas equipadas com sistemas de esteiras transportadoras, a alimentação é mais uniforme, resultando numa condição de operação mais favorável para os sistemas de trilha, separação e limpeza. No entanto, as plataformas equipadas com esteiras demandam maior atenção em relação à manutenção, como o ajuste na tensão das esteiras (laterais e central) e o alinhamento dos trilhos das esteiras. Também, é importante a limpeza, visto que é comum acumular material embaixo das esteiras, principalmente a central, ao ponto de travar o sistema.
Tanto o sem-fim alimentador como as esteiras encaminham o fluxo de palha para o centro da plataforma, onde localiza-se o elevador de palhas (canal alimentador). Em algumas colhedoras, equipadas com rotor axial, existe a regulagem de velocidade da esteira e do cilindro alimentador, que, para a colheita do trigo, devem permanecer na velocidade alta devido ao maior fluxo de material.
TRILHA
Em sistemas de trilha convencionais (rotor radial), a rotação do cilindro ajusta-se acima de 700 rotações por minuto (rpm). Observa-se que, de acordo com a condição da lavoura e o projeto da máquina colhedora, a rotação do cilindro pode ser diferenciada, alcançando mais de 1.000rpm. Em relação às barras do cilindro utilizam-se as mesmas, tanto para colheita de verão (soja, milho) como para culturas de inverno, mas é fundamental que estejam retas
e com as ranhuras conservadas.
Na trilha, além da rotação do cilindro, existe outro importante ajuste denominado de abertura do côncavo. Para a cultura do trigo recomenda-se abertura próxima a 20mm, lembrando que o côncavo deve estar em paralelismo com o cilindro. Além disso, em alguns modelos de máquinas é fundamental a adição dos arames, proporcionando o distanciamento entre eles de 14mm (centro a centro) distribuídos no côncavo. Embora trabalhosa, a adição dos arames é importante, uma vez que diminuirá o fluxo de palha sobre as peneiras, favorecendo o processo de limpeza dos grãos.
As colhedoras com sistema de trilha transversal, normalmente, são equipadas com um ou dois cilindros batedores. Para a colheita do trigo, recomendam-se velocidades superiores das utilizadas para culturas de verão, próximas a 760rpm, e abertura do côncavo, também, de 20mm. Observa-se que as regulagens são distintas entre modelos de colhedoras e devem ser sempre verificadas no manual de operação.
Para as colhedoras com sistema de trilha axial, deve-se trabalhar com rotações entre 850rpm e 1.100rpm e recomenda-se a utilização dos côncavos com arame fino, o qual deve estar alinhado e em paralelismo com o rotor. O kit de côncavos, com arames finos, geralmente opcionais das colhedoras com sistema de trilha axial, é fundamental para melhorar o desempenho, diminuindo a sobrecarga no sistema de limpeza, uma vez que proporcionará menor fluxo de material sobre as peneiras.
SEPARAÇÃO
Os grãos são separados, parcialmente, do fluxo de palha no processo de trilha, ou seja, grande parte dos grãos já é destacada das espigas e percola entre os arames do côncavo até o sistema de limpeza, porém existe uma menor parcela que avança ao sistema de separação, com o fluxo de palha. No processo de separação, é fundamental que a realização da trilha tenha sido efetuada de forma satisfatória, uma vez que os grãos aderidos à espiga não são separados e acabam fragmentados pelo picador. Isso pode comprometer as avaliações das perdas em virtude da dificuldade de visualização dos grãos fragmentados e espalhados na área colhida. O saca-palhas é o equipamento responsável pela separação nos sistemas convencionais de trilha. Em função do seu movimento rotativo alternado, separa os grãos remanescentes no fluxo de palhas. Na etapa da separação destaca-se que as cristas do saca-palhas (levantadores) devem operar todas no mesmo sentido para a colheita do trigo, condição diferente da configuração utilizada para a colheita da soja em muitos modelos de colhedo-
Detalhes da operação do picador de palhas ras. Ainda, em situações de palhas longas oriundas de cultivares de porte alto, aliado ao corte baixo pela plataforma, as cristas originais podem ser substituídas por cristas baixas por apresentarem maior eficiência na movimentação da palha. Também, é frequente a obstrução das calhas do saca-palhas pelas aristas das espigas do trigo, por isso a verificação deve ser frequente.
Nas colhedoras, equipadas com rotores axiais, a separação dos grãos é realizada pelo próprio rotor, que, após fazer a debulha, direciona a palha e os grãos remanescentes no sentido das grelhas de separação, que têm por objetivo finalizar o processo, eliminando os grãos do fluxo de palha.
LIMPEZA
A limpeza dos grãos, no processo de colheita, é realizada por peneiras oscilatórias e fluxo de ar. Em relação à operação na colheita do trigo, de uma forma geral, deve-se ajustar a rotação do ventilador entre 700rpm e 850rpm. As peneiras devem ter abertura entre 10mm e 13mm para superior e entre 8mm e 10mm para inferior. Caso o sistema conte com extensão de peneira deverá apresentar abertura entre 13mm e 15mm.
Ao reduzir a abertura da peneira superior, além da recomendação, ressalta-se que as perdas de grãos serão maiores. No entanto, a situação contrária, abertura maior do que a recomendada, ocorrerá a sobrecarga da peneira inferior e, também, do sistema de retrilha. Em relação à peneira inferior, à medida que se incrementa a abertura promove-se o aumento da porcentagem de impurezas nos grãos colhidos. Por outro lado, à medida que a abertura da peneira inferior for reduzida ocorre maior direcionamento ao sistema de retrilha.
Outro fator fundamental é a inclinação da colhedora, principalmente para máquinas sem regulagens automáticas, seja de nivelamento e abertura de peneira ou de rotação do ventilador. Na colheita em aclive, existe a tendência de aumento das perdas e da quantidade de material encaminhado à retrilha, em função da inclinação longitudinal das peneiras. Somando-se essa condição com a inclinação lateral, as perdas serão ainda maiores. Para minimizar as per-
das, o operador deve reduzir a velocidade de deslocamento.
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
O picador de palhas deve operar na condição de máxima rotação, uma vez que é responsável pelo fracionamento e lançamento dos resíduos oriundos do saca-palhas. Devido à dificuldade do corte da palha do trigo, as navalhas devem estar amoladas ou utilizar as serrilhadas. Também, é fundamental que as contrafacas permaneçam com a maior exposição para garantir o particionamento e a distribuição da palha, cobrindo toda a largura do corte. Assim, os nutrientes contidos na palhada serão distribuídos de maneira uniforme transversalmente à passagem da máquina, proporcionando ciclagem de nutrientes de maneira uniforme. As regulagens específicas para a colheita do trigo equilibram a capacidade operacional da máquina com a qualidade da operação.
PREVENÇÃO
DE INCÊNDIOS
A prevenção de incêndios inicia-se na armazenagem da colhedora, mantendo-a sempre com a chave geral desligada. Nos modelos mais antigos, que não são equipados com a chave geral, recomenda-se desconectar o cabo negativo da bateria. A limpeza da máquina é outro cuidado importante, uma vez que é comum o acúmulo de fragmentos de palha e de poeira, principalmente em locais com resquícios de óleo e de graxa.
Para realizar a limpeza da poeira e fragmentos de palha que se depositam na colhedora durante a operação, recomenda-se uma limpeza diária, utilizando ar sob pressão.
Outro fator primordial para diminuir o risco de incêndios é a manutenção da máquina, realizando a troca de óleos, de filtros e lubrificação de todas as graxeiras. Além disso, devem ser realizadas revisões para avaliar os rolamentos e substituí-los quando necessário. Os rolamentos desgastados ou com inadequada lubrificação, quando submetidos a altas rotações e cargas provocam o aquecimento a ponto de fundir o metal, criando uma fonte de calor suficiente para desencadear um incêndio generalizado.
Além dos cuidados citados, o produtor ainda deve equipar a colhedora com mais recursos para controlar incêndios. Quando houver disponibilidade pode ser utilizado um tanque de água tratorizado, denominado carreta tanque, ou qualquer sistema de armazenamento de água móvel equipado com bombeamento e deixá-lo próximo das colhedoras em operação para possíveis emergências.
As regulagens da colhedora, específicas para a cultura do trigo, são essenciais para atingir maior capacidade operacional com o mínimo de perdas de grãos. Além disso, o produtor não deve abrir mão dos cuidados relativos à prevenção de incêndios.
Fotos Marcos Antonio Zambillo Palma
Saca-palhas presentes nas colhedoras com sistema de trilha convencional (esq.) e rotor axial com detalhe do côncavo (dir.)
Marcos Antonio Zambillo Palma e Décio Adair Rebellatto da Silva, Universidade Federal da Fronteira Sul Marco Antônio Fochi, Engenheiro Agrícola
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Incêndio em lavoura de trigo provocado pela colhedora, provavelmente por acúmulo de poeira e aquecimento