Do editor Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 12º andar 96015-300 – Pelotas – RS www.grupocultivar.com Diretor de Redação Schubert K. Peter Consultor Newton Peter OAB/RS 14.056
Cultivar Máquinas Edição Nº 30 Ano III - Maio 2004 ISSN - 1676-0158 www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Prezado leitor A busca por teconologias mais avançadas é constante em todas as empresas. E no caso das fabricantes de máquinas agrícolas, este desafio parece ser superado a cada ano. Após a realização das principais feiras do setor em 2004, onde são apresentadas os lançamentos, pode-se dizer com certeza de que a agricultura brasileira está caminhando a passos largos para ser, além de líder mundial na produção de grãos, também um referencial tecnológico para o setor. São máquinas cada vez mais inteligentes e que, muitas vezes, “dizem” para o operador o que ele deve fazer para maximizar o seu rendimento. Boa parte destas novidades, você poderá conferir nesta edição da Cultivar Máquinas, que apresenta as principais novidades dos Agrishows Cerrado e de Ribeirão Preto. Além dos lançamentos, a edição traz ainda os principais tipos de transmissão; como saber exatamente qual a potência do motor; como e quando trocar os filtros de ar e óleo entre outros artigos importantes. Uma boa leitura para todos!
Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 • 70,00 • Editor
Índice
Nossa Capa
Charles Ricardo Echer • Consultor Técnico
Dr. Arno Dallmeyer • Redação
Rocheli Wachholz • Revisão
Vandelci Martins Ferreira • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia _____________
• Gerente Comercial
Neri Ferreira
• Assistente de Vendas
Pedro Batistin _____________
• Gerente de Circulação
Cibele Costa
Rodando por aí Qual a potência real do motor? Deriva em aplicações aéreas Agricultura de precisão na cana Manutenção de correias Tipos de transmissões Potencial energético do palhiço de cana Sistema de irrigação por gotejamento Monitoramento de plantio Troca de filtros Lançamentos Agrishow 2004 Teste Drive - Valtra BL 77 Uniport com autopilot Coluna Esporte Trator Coluna jurídica
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Montagem Cristiano Ceia
• Assinaturas
Rosiméri Lisbôa Alves Jociane Bitencourt Simone Lopes • Expedição
Destaques
Edson Krause Dianferson Alves
Transmissão de força
• Impressão:
Entenda como a força no trator é transmitida para os diferentes componentes que integram o trator ....................................................
Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES: (53) • ATENDIMENTO AO ASSINANTE:
3028.4013 / 3028.4015
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Caderno especial
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3028.4004 / 3028.4005 • FAX:
3028.4001 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
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Pulverização
Saiba quando e como trocar os filtros de ar, óleo e combustíveis para evitar desgaste com as partículas contaminantes ................................................... 32
Pura tecnologia Conheça alguns dos principais lançamentos de máquinas agrícolas, nas edições deste ano, do Agrishow Cerrado e Ribeirão Preto ................................................... 34
Valtra BL 77 Veja como o trator BL 77, com tração 4x4 lançado no ano passado, se saiu no test drive realizado pela equipe da Cultivar Máquinas ................................................... 40
Rodando por aí
Presença feminina
Osvaldir da Silva
Plantadora Osvaldir Cândido da Silva, da Marchesan Implementos e Máquinas Agrícolas Tatu S/A, apresentou a PDCM (Plantadora Direta de Cereais Múltipla). A máquina possui os modelos PDCM Plantadora e PDCM Semeadora, foi especialmente desenvolvida para semeadura direta de trigo, arroz, milho, sorgo, soja, culturas semelhantes e pastagens.
Cautela
A liderança feminina no campo está crescendo. Suzan Cristina Petter, engenheira da Goodyear do Brasil, é um exemplo deste público. Dona de um perfil de liderança, esbanja graça, beleza e elegância em um mundo que há pouco era essencialmente masculino. Sua história profissional é marcada por desafios e vitórias. Começou na Goodyear como estagiária nas linhas de produção de pneus. Agora na linha de correias e mangueiras agrícolas, além de cuidar do marketing e realizar eventos, viaja pelo Brasil proferindo palestras e ministrando treinamento aos produtores rurais. Abnegação e carinho pelo que faz se verifica quando conta histórias vividas em suas viagens durante esses treinamentos. Experiência que, lhe dão energia e tranquilidade para levar ao homem do campo a tecnologia e a confiança nas operaSuzan Petter ções da empresa.
Negociações
Galante, Oliveira e Alvarez
Em tempos de agricultura de precisão, a Santiago e Cintra, empresa que desenvolve e comercializa produtos exclusivos da Trimble para o Brasil, está em franco crescimento. Haja vista as recentes negociações com a Jacto e a Valtra do Brasil, afirma o diretor presidente da empresa Eduardo Martins de Oliveira. Em recente visita ao país, Chiqui Alvarez, representante da Trimble, fez questão de enfatizar a importância do mercado brasileiro frente ao mercado mundial, e que este tende a se tornar líder, também na agricultura de precisão.
Melhores da terra O Grupo Gerdau lançou durante o Agrishow Ribeirão a 22 edição do Prêmio Gerdau Melhores da Terra. Segundo o coordenador da comissáo julgadora, Luiz Fernando Coelho de Souza, esta é a maior premiação da América do Sul para o setor de inovação tecnológica, qualidade e produção científica na área de mecanização agrícola. As inscrições para as três categorias do prêmio – Destaque, novidade e pesquisa e desenvolvimento – podem ser feitas no site www.melhoresdaterra.com.br.
Francesco Pallaro Luiz de Souza e José Falcão Filho
Plataforma de milho Assis Strasser
Cada vez maior Assis Strasser, diretor comercial da GTS do Brasil, está cada vez mais entusiasmado com o sucesso da plataforma de milho produzida pela empresa. E não é para menos. A procura pelo produto não pára de crescer desde que foi lançado.
Jones Escobar e Alberto Klaessener, da Vence Tudo, apresentaram a plataforma de colheita de milho, com a possibilidade de ser customizada ao interesse do cliente. Já que a barra de corte varia sua distância entre linhas de 0,45 m até 0,90 m, permite ao agricultor o superadensamento da cultuEscobar e Klaessener ra sem a dificuldade de colheita.
Secadores e máquinas de limpeza Arnaldo Pocay, gerente comercial da Tecnal, apresentou no Agrishow Ribeirão Preto os mais recentes lançamentos. Secadores contínuos de 250 t/h, bem como máquina de limpeza de grãos de 300 t/h, próprios para grandes plantas de recebimento de grãos. A linha de prepaparação de soja, também marcou presença, o Expander impressionou o público visitante. Segundo Arnaldo, a feira para ele já estava 300% superior ao ano anterior, em se tratando de negócios realizados. Portanto, um sucesso.
Congresso Acontece, de 24 a 27 de junho, o Contaero 2004 (Congresso Nacional de Tecnologia Aeroagrícola), em Botucatu (SP). Maiores informações sobre o evento ou inscrições no site www.contaero.com
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Máquinas
Francesco Pallaro, Diretor Comercial da CNH para a América Latina, vislumbra um bom cenário para a safra 2004/ 05. Porém, alerta que o aumento da produção deveria ser vertical, evitando desta forma investimentos no aumento horizontal das áreas. Este aumento de demanda por terra, segundo ele, gera um processo inflacionário no mercado imobiliário rural, fator gerador de dificuldades se pensarmos em qualquer mudança no cenário das comodities em nível mundial.
Satisfação Docelino dos Santos, gerente de marketing da Agrale, estava muito satisfeito com o Agrishow. A empresa aumentou seu market share com o lançamento de novos produtos como o BX 6110, o qual vem para competir com a linha de tratores médios brasileiros. Com um portifólio cada vez mais competitivo, a empresa leva ao pé da letra seu slogan “Onde o Brasil prospera tem Agrale”.
Arnaldo Pocay
Gente nova
Luis Gustavo Pracchia
A Vipal, empresa líder do mercado de recondicionamento de pneus, tem um novo integrante no marketing. Luis Gustavo Pracchia chega à empresa com uma bagagem de experiências, realmente grande. Ele já teve passagem por empresas como a BR Distribuidora e Agip, ambas do setor petrolífero. Estreou já em um grande evento, trazendo para a feira duas máquinas que encantaram o público, o trator de arrancadão e o cavalo mecânico da fórmula supertruck.
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Docelino dos Santos Maio 2004
Agrishow Nordeste
Memória preservada A John Deere cedeu ao Museu Agromen de Máquinas Agrícolas, em Horlândia (SP), um trator Waterloo Boy que chegou ao Brasil em 1918 e uma colhedora de algodão, fabricada em 1950. O contrato de comodato foi assinado pelo presidente da John Deere para América do Sul e Caribe, Jim Martinez e pelo diretor da Agromen, Sergino Ribeiro de Mendonça.
Duílio De La Corte
Nova unidade
Exportações O diretor comercial do grupo Kepler Weber, Duílio De La Corte, destacou o trabalho de internacionalização da empresa que acaba de vender ao México 460 torres metálicas para distribuição de energia, em uma transação de U$$ 4,8 milhões. “O cenário interno e externo é bastante favorável”, frisou.
Diretoria O diretor-superintendente da Agrale, Hugo Zattera, integra a nova diretoria da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), para o período de 2004 a 2007, onde exercerá o cargo de vice-presidente pelo terceiro mandato consecutivo.
Ampliação Paulo Harry Schmalz é o novo presidente do grupo Amanco Brasil S.A. A empresa é fabricante dos produtos Akros Fortilit e apresentou na Agrishow 2004 sua nova linha de produtos e soluções para área de irigação, com a incorporação da Carborundum Irrigação, especializada no fornecimento de produtos para irrigação localizada (gotejamento e microaspersão).
Jim Martinez
Othon D´Eça de Abreu
O diretor presidente da Kepler Weber, Othon D‘Eça Cals de Abreu, anunciou para novembro a inauguracão da unidade de Campo Grande (MT). A nova fábrica vai gerar 500 empregos diretos e abrir cinco mil postos de trabalho indiretos. A expectativa da empresa é de dobrar a capacidade de produção de aço, atualmente estimada em 50 mil toneladas por ano. Ele também se manifestou preocupado com o déficit de armazenagem de grãos no Brasil, que hoje chega a 30% da produção. A falta de estrutura portuária e a precariedade das estradas também mereceram críticas do empresário.
Treinamento O diretor de Marketing da John Deere, Paulo Hermann, destacou a preocupação da empresa em ajudar o agricultor a se apropriar das novas tecnologias disponíveis no mercado de máquinas agrícolas. “Estamos investindo em cinco centros de treinamento no Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Pernambuco”.
Oziel Oliveira Paulo Hermann
Bons negócios
Luiz Fabiano Zaccarelli, gerente comercial da Indústria Aeronáutica Neiva, ainda comemorando os mais de 50 aviões vendidos em Rondonópolis, acredita que o mercado continuará aquecido. Nesta safra foi batido o recorde de vendas de aviões agrícolas, mais do que em 1970, quando do lançamento do Ipanema no país.
O presidente da Cummins, Ricardo Chuahy, comemora os bons resultados alcançados no mercado de motores. “No ano passado crescemos 110% e neste ano mais 20%”. Os números reforçam a expectativa da empresa de faturar R$ 500 milhões em três anos na América Latina.
Aviões
Luiz Zaccarelli
Spira Wing Emilio Priore Neto já faz parte do seleto grupo que compõe a Goodyear. Multinacional que tem por perfil a valorização de seus recursos humanos. Ele e mais dois colegas Luiz Sanches e Antonio Rodrigues, desenvolveram o mais novo lancamento em mangueiras da empresa, a Spira Wing. Esta mangueira pode transportar água e ar, com pressão de trabalho de 300 lb/pol 2.
Emilio Priore Neto
Reboques basculante
Raul Randon
Tradicional empresa do setor rodoviário, a Randon agora está lançando sua linha de semi-reboques basculante graneleiro, e o semi-reboque polivalente para a canade-açúcar. Soluções com a grandiosidade da agricultura brasileira. Raul Randon, proprietário da empresa, se disse satisfeito com os resultados da feira. A Randon exporta para mais de 11 países no mundo.
Pernambuco
Paulo Schmalz
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Oziel Oliveira, prefeito da cidade de Luiz Eduardo Magalhães (BA), esteve em Ribeirão Preto, para lançar o Agrishow Nordeste. E evento ficou agendado para os dias 15 a 19de junho de 2004. A cidade que é polo de desenvolvimento agrícola, com foco na irrigação, realizará sua primeira feira.
O Governo do estado de Pernambuco, como forma de atrair investimentos para aquela unidade da federação, se fez presente com estande no Agrishow Ribeirão Preto, onde expôs seus produtos mais tradicionais. Maria Luiza Santana, fazia na hora, tapioca para distribuir ao público, os quais fizeram fila para serem agraciados por tal iguaria.
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Maria Santana
Ricardo Chuahy
Energia A Cummins, empresa líder no segmento de fabricação de motores, especializou-se também em produção de energia. Cecília Oliveira da Power Rent faz a locação de energia ou de grupos geradores. A empresa possui uma capacidade geradora de energia de até 32 Mega Watts e entrega em qualquer lugar do país em até 48 horas.
Máquinas
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Motores potência
Potência real Ao comprar um trator, o produtor deve estar atento para a força real do motor, e avaliar se a potência indicada pelo vendedor é bruta ou líquida, já que muitas vezes as informações repassadas são baseadas em normas com diferentes critérios Charles Echer
A
palavra potência está associada àquilo que é potente, poderoso, forte, que tem poder. Um raciocínio mais apurado nos leva a perceber que a potência pode ser valorada. Entretanto, quão mais potente é uma coisa comparada à outra? Quais são as grandezas envolvidas em se tratando de motores? A potência de um motor é definida como a capacidade que ele tem de realizar uma determinada quantidade de trabalho na unidade de tempo. Mas como é medida? A potência não pode ser medida diretamente como a distância (em metros) ou o volume de líquido numa garrafa (em litros), ela é uma grandeza resultante da multiplicação do torque pela rotação do motor. O torque é definido como sendo o produto entre a força (F) e a distância entre o ponto de aplicação desta força e o centro da seção transversal da peça (por exemplo, o parafuso). Para as transmissões de movimento, o torque é definido por meio do produto entre a força tangencial (FT) e o raio (r) da peça. No Sistema Internacional de Unidades (SI) homologado pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia e Qualidade Industrial), a unidade de medida da força é o Newton (onde 1kgf = 9,80665N) e o comprimento é medido em metros. O resultado será expresso em N.m. Diferentemente de medir o torque de um parafuso, cuja medida é realizada utilizando-se um instrumento chamado de torquímetro, o torque de um motor deve ser medido em movimento, o que impossibilita o uso desse instrumento. Para este fim, são utilizados equipamentos especiais chamados dinamômetros, capazes de medir o torque e a rotação simultaneamente. Da multiplicação entre o torque (N.m) e a velocidade angular, que vem do produto da rotação (rpm) pelo fator da circunferência (2pi), obtém-se a potência, que pelo SI deve ser expressa em quilowatt (kW). Assim a potência é calculada com a seguinte fórmula:
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“Preferencialmente, para avaliação deve-se escolher a potência líquida, pois ela fornece o valor disponível com todos os acessórios incluídos”
Cultivar
Tabela 1 – Normas e tipos de potência medida Norma ISO 1585 NBR ISO 1585 NBR 5484 SAE J1995 ISO 2534
Para interpretar corretamente e comparar os motores é importante, primeiro, identificar qual é a norma utilizada e saber se a potência informada pelo fabricante é a líquida ou a bruta
Note-se que a unidade de medida oficial de potência no Brasil é o kW, entretanto estamos habituados a referir a potência dos motores de máquinas agrícolas em unidades de medida estrangeiras, como o HP (Horse Power) do sistema inglês ou o cv (cavalo-vapor) do antigo sistema de unidades local, inspirado no europeu PS (Pferdestärke). 1 kW ~= 1,34 HP e 1 kW ~= 1,36 cv.
Cesar A. Mantovani, Faculdade de Horizontina Hugo S. Scheid, Engenheiro Mecânico
Andréa Figueiredo
Para facilitar o processo de medida e permitir que valores de potência de motores de diferentes fabricantes possam ser comparados, foram elaborados procedimentos de medida, as chamadas normas. As normas traduzem o consenso em determinada área de conhecimento de entidades de classe ou associações. No Brasil, temos a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e, internacionalmente, temos a Society of Automotive Engineers – SAE, a International Organization for Standardization - ISO, entre outras, todas elas responsáveis pela elaboração e publi-
cação de diversas normas, inclusive para medir a potência de motores. As normas especificam os parâmetros (limites mínimos e máximos para propriedades do diesel, pressão atmosférica, temperatura do ar de admissão, entre outros) em que os motores devem ser testados e quais coeficientes de correção devem ser aplicados. Todas as normas (Tabela 1) determinam fórmulas para o cálculo dos coeficientes de correção, havendo pequenas diferenças entre elas devido, basicamente, às tolerâncias dos valores de correção e à precisão dos equipamentos utilizados. A diferença preponderante reside em quais componentes auxiliares são utilizados, durante o ensaio do motor. Os auxiliares mais significativos em consumo de potência do motor são: hélice do ventilador, bombas hidráulicas acopladas e alternador.
Desta diferença temos dois tipos de potência: a “net brake power” – a potência líquida do motor e a “gross brake power” – a potência bruta do motor. A primeira é a potência medida com todos os auxiliares acoplados ao motor, ou seja, é a potência efetivamente disponível no volante do motor para executar trabalho. A segunda é a potência total do motor sem considerar os auxiliares, pode-se dizer que é a máxima potência do motor que pode ser medida, porém para utilização terá as perdas correspondentes aos acessórios. Na comparação de motores, o ideal é que eles tenham sido testados pela mesma norma, entretanto, isso muitas vezes não ocorre. Para interpretar de maneira correta e estabelecer uma comparação entre esses motores, deve-se em primeiro lugar, tomar cuidado em identificar qual norma está sendo utilizada, e também se a potência que está sendo informada pelos fabricantes é a potência líquida ou a potência bruta. Preferencialmente, para avaliação deve-se escolher a potência líquida, pois ela fornece o valor disponível com todos os acessórios inM cluídos.
Charles Echer
Potência (kW) = Torque (N.m) x Rotação (rpm) x 2• 60.000
Potência Medida Potência Líquida Potência Líquida Potência Líquida Potência Bruta Potência Bruta
Mantovani e Scheid: “Na comparação de motores, estes devem ter sido testados pela mesma norma”
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Para facilitar o processo de medida e permitir que a potência dos motores de diferentes fabricantes sejam comparados, foram elaboradas as normas, que traduzem o consenso em determinado conhecimento
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Pulverização aviação agrícola
Nitz Aviação Agrícola
Gotas sob controle A diferença entre o sucesso e o fracasso nas aplicações aéreas está na administração de fatores como tamanho das gotas, vento, temperatura, umidade relativa do ar, turbulência do ar e altura do vôo
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eriva é o deslocamento horizontal que sofrem as gotas desde o seu ponto de lançamento até atingirem o seu destino (o solo ou as plantas). Quando a distância percorrida pelas gotas não é grande o suficiente para que elas saiam fora da área em tratamento, dizemos que a deriva é tolerável. Quando a deriva conduz as gotas para fora da área em tratamento, dizemos que ela é intolerável, principalmente se o produto aplicado puder causar danos às culturas, pessoas ou animais fora da área que se deseja tratar. Os principais fatores que influenciam este fenômeno são o tamanho (diâmetro) e peso das gotas, o vento, a temperatura, a umidade relativa do ar, a turbulência do ar e a altura do vôo (altura a partir da qual as gotas são lançadas).
Como uma população de gotas não é uniforme, testes de deposição devem ser cuidadosamente efetuados para determinar a percentagem do volume aplicado, formado por gotas de diâmetro igual ou inferior a 150 micra. Quanto menor a percentagem de volume formado por gotas inferiores a 150 micra, mais segura será a aplicação, sob o ponto de vista do controle da deriva. Em situações críticas de risco de deriva, deve-se trabalhar com diâmetro médio de gotas nunca inferior a 300 micra VMD, e monitorando a percentagem de volume formado por gotas finas (abaixo de 150 micra), que deve ser mantido abaixo de 1%.
O VENTO E A DERIVA A direção e a velocidade do vento são fatores decisivos no controle da deriva. Quanto à direção, basta dizer que “nenhuma gota, por menor que seja, desloca-se contra o vento”. Assim, o planejamento da aplicação, levando em conta a direção para onde o vento sopra, é vital para o controle da deriva. Podemos ter áreas sensíveis situadas a poucos metros da área em aplicação, se o vento soprar na direção daquela para esta, mesmo – e principalmente – se os ventos forem fortes. No entanto, áreas sensíveis, situadas na direção para onde o vento sopra podem ser atingidas. A di-
DIÂMETRO DAS GOTAS O diâmetro das gotas, bem como o seu peso, são os fatores que mais afetam a deriva, em uma determinada condição climática. Todo controle de deriva deve passar, obrigatoriamente, pelo controle do diâmetro das gotas. Em condições críticas (necessidade de evitar ao máximo a ocorrência de deriva), deve-se evitar trabalhar com gotas muito pequenas. De um modo geral, considera-se que gotas abaixo de 150 micra (150 milésimos de milímetro) são bastante suscetíveis à deriva. Quando é necessário trabalhar com gotas próximas àquele diâmetro, precauções extras devem ser tomadas, incluindo-se aí a utilização de aditivos ou produtos especialmente formulados para aumentar a densidade (peso) das gotas e reduzir a evaporação, como acontece nas aplicações em ultrabaixos volumes.
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Fonte: Manual de aplicação aérea/Ciba
A deriva depende do diâmetro de gota, da velocidade do vento e da altura do vôo
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“Uma outra maneira pela qual a temperatura afeta a deriva é através do aquecimento do solo, o que produz correntes de ar ascendentes, que dificultam a deposição imediata e expõem as gotas finas à deriva”
reção do vento em relação a áreas sensíveis é, portanto, o fator de maior importância, o que garante 100% de segurança, quando se trabalha com vento na direção favorável. Quanto à velocidade, pode-se dizer que a deriva é, via de regra, proporcional à velocidade do vento. Entretanto, deve-se ter em consideração que, na ocorrência de fatores que dificultem a deposição do produto (como gotas pequenas, altas temperaturas, inversão térmica, estabilidade do ar), gotas muito finas podem sofrer derivas a grandes distâncias mesmo sob a ação de ventos relativamente fracos (abaixo de 10 km/h, ou mesmo quase nulos).
GRÁFICO DE DERIVA EM APLICAÇÃO AÉREA
Coletores = 1,5 m altura Espaçamento = 20 m Vento = 15 km/h VMD = 155 micra
TEMPERATURA DO AR A temperatura do ar afeta a deriva de forma secundária. Elevadas temperaturas do ar, especialmente quando aliadas à baixa umidade relativa, aumentam a evaporação, fazendo com que as gotas pequenas se tornem menores ainda, desde que são lançadas e antes de atingir o alvo, tornando-as mais suscetíveis à deriva. Uma outra maneira pela qual a temperatura afeta a deriva é através do aquecimento do solo, o que produz correntes de ar ascendentes, que dificultam a deposição imediata e expõem as gotas finas à deriva. Finalmente, a temperatura, através do fenômeno conhecido como “inversão térmica”(temperaturas mais altas em alturas maiores), pode fazer com que as gotas finas não se dissipem na atmosfera e possam deslocar-se a grandes distâncias. D= HxU Vs
D= Distância de deposição máxima (m) H = altura de lançamento (m) U = velocidade do vento (m/s) Vs = velocidade de sedimentação das gotas (m/s). Ver tabela
ARRASTO POR DERIVA Altura de vôo = 3,0 m Diâmetro das gotas (um) 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 250 300 400 500 1000
Velocidade do Vento = 3,6 Km/h
Velocidade de Sedimentação (m/s) 0,073 0,105 0,141 0,175 0,228 0,278 0,355 0,445 0,536 0,625 0,705 0,940 1,150 1,630 2,080 4,000
Deriva (m) 41,10 28,57 21,28 17,14 13,16 10,79 8,45 6,59 5,60 4,80 4,26 3,19 2,61 1,84 1,44 0,75
Fonte: Manual de aplicação aérea/Ciba
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Fonte Agrotec
UMIDADE RELATIVA Pela mesma razão analisada no item sobre a temperatura, umidades relativas muito baixas (50% ou menos) podem causar grande evaporação, reduzindo o diâmetro das gotas antes que elas atinjam o alvo, expondo-as à ação da deriva pelo vento. Por outro lado, se a aplicação estiver sendo conduzida com gotas muito finas, a deriva pode não ser grande, pois as gotas podem evaporar antes de atingir as áreas fora da lavoura. Nesta situação, pode-se ter grande deficiência do funcionamento do produto, pois ele não atinge o alvo desejado.
TURBULÊNCIA A turbulência do ar é ocasionada por movimentos verticais da massa de ar. Se as gotas forem apanhadas por correntes de ar ascendentes, elas poderão ser levadas a alturas maiores do que as desejadas e, assim, serão arrastadas a distâncias maiores. A turbulência do ar pode ser ocasionada por fenômenos climáticos, como o aquecimento das camadas de ar mais próximas do solo, ou por ação do próprio deslocamento do avião em vôo. Assim, os chamados “vórtices de ponta de asa”, que são turbilhonamentos do ar na região das pontas das asas são fatores que podem induzir ao aumento da deriva e, portanto, devem ser minimizados pelo planejamento do posicionamento dos bicos/atomizadores. Outro fator relacionado é a altura do vôo: vôos excessivamente baixos causam maiores turbulências e, portanto, podem ocasionar maior deriva.
ALTURA DO VÔO A altura do vôo afeta, substancialmente, a deriva. Quanto maior a altura, mais tempo as gotas ficam expostas à deriva e evaporação (levam mais tempo para atingir o alvo e, neste
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Coletor 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Gota/cm2 16,7 5,0 3,7 0,3 1,0 1,0 1,33 0,3 0,0
VMD 156 180 166 104 76 87 101 124 0
l/ha 2,7 0,7 0,6 0,02 0,03 0,04 0,09 0,03 Fonte Agrotec 0,0
tempo, podem ser arrastadas pelo vento). Por outro lado, é bom ressaltar que o vôo baixo demais também pode ocasionar deriva, pelo efeito da turbulência gerada e efeito “rebote”. Existe uma altura ótima de vôo para cada aeronave, que não deve ser superada, nem rebaixada.
EQUIPAMENTO DO AVIÃO O equipamento do avião influencia a deriva na medida em que influencia o diâmetro médio das gotas e sua uniformidade. Quando a deriva é o fator prioritário a enfrentar, a escolha e ajuste do equipamento devem priorizar a formação de gotas mais grossas (acima de 300 micra VMD). Na aplicação com bicos de jato cônico, por exemplo, o diâmetro dos orifícios (pontas), o tipo e dimensão do disco (“core”), a pressão de trabalho, a posição do bico em relação à linha de vôo, a distribuição dos bicos ao longo da barra e a velocidade do vôo são fatores que influenciam decisivamente no ajuste do tamanho de gota. Como regra geral, pode-se dizer: 1) Quanto maior o diâmetro da ponta do bico, maior o diâmetro das gotas, à mesma pressão. Assim, uma ponta D2 produzirá gotas mais finas do que uma ponta D10, à mesma pres-
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“Ao trabalhar-se com aviões de maior velocidade, o equipamento deve ser escolhido e ajustado de acordo, de forma a evitar-se a formação de gotas finas, que podem sofrer maior deriva”
Fotos Agrotec
Coleta da deriva: papéis hidro sensíveis a 1,5 metros de altura
são. 2) Quanto maior o número do “core”, maior o diâmetro da gota, à mesma pressão. O “core” é a parte do bico que mais influencia o diâmetro da gota. Assim, “cores” de número 25 tendem a formar gotas finas; os de número 45 tendem a formar gotas finas a médias, e os “cores” de número 46 ou 56 tendem a formar gotas médias a grossas, sendo estes os preferidos para
aplicações mais críticas em relação à deriva 3) Quanto maior a pressão de trabalho, menores serão as gotas. Assim, quando se deseja produzir gotas mais grossas, mais resistentes à deriva, baixas pressões de trabalho (abaixo de 30 psi) são recomendadas. 4) O ângulo do bico em relação à linha de vôo é outro fator importantíssimo na formação das gotas. Na posição zero graus (bicos apontando diretamente para trás) temos a formação das gotas maiores, sendo esta a posição mais indicada para redução de deriva. Na posição 90 graus (bicos apontando para baixo) temos gotas consideravelmente mais finas. Na posição 135 graus (bicos apontando 45 graus para frente), temos a formação das menores gotas, sendo esta posição contra-indicada quando se tem limitações quanto à deriva. 5) Deve ser evitado posicionar bicos muito próximos às pontas de asa, pois as gotas ali produzidas podem ser apanhadas pelos turbilhonamentos (“vórtices”) de ponta de asa, e elevadas à grande altura, sofrendo deriva considerável. Como regra geral, 1/3 do comprimento da barra, a partir da ponta da asa, deve ficar sem bicos em atividade (ou a barra já deverá ser projetada de forma a não ocupar mais do que 2/3 do comprimento da asa). 6) A velocidade do ar (velocidade do vôo)
afeta o diâmetro das gotas produzidas pelos bicos. Quanto maior a velocidade de vôo, menores serão as gotas, mantidas as demais condições. Assim, ao trabalhar-se com aviões de maior velocidade, o equipamento deve ser escolhido e ajustado de acordo, de forma a evitar-se a formação de gotas finas, que podem sofrer maior deriva. Os pontos acima descritos são válidos, também para os bicos de jato leque, com exceção, naturalmente, do que se refere ao “core” , inexistente neste tipo de bico. Já os bicos “CP” também têm comportamento semelhante, porém com uma exceção importante. Neste tipo de bico também não existe o “core”, e o ajuste das gotas, além de sofrer as demais influências descritas para o bico de jato cônico, é fundamentalmente afetado pela posição (ajuste) do “defletor”, uma peça rotativa que existe na extremidade do bico e que pode ser colocada em três posições (ângulos) : 90o, 55oe 30o. A posição que produz maior diâmetro de gota é a de 30o,, sendo a preferida para redução da deriva. Deve ser evitada a posição 90o quando o risco de deriva for grande. Quando utilizando atomizadores rotativos (como, por exemplo, os atomizadores “Micronair”), o diâmetro das gotas depende apenas da velocidade de rotação do tambor de tela. Esta
Rocheli Wachholz
Os papéis coletores devem ser colocados com a face sensível voltada para o vento
velocidade de rotação, por sua vez, depende do ajuste do ângulo das pás e da velocidade de vôo. Desejando-se reduzir ao mínimo o risco de deriva, as pás devem ser ajustadas no seu maior ângulo (85o nos atomizadores Micronair AU5000), desde que esta posição seja compatível com as necessidades do produto no que se refere à cobertura do alvo (número de gotas / cm2).
VOLUME DE APLICAÇÃO Conforme já visto nos itens anteriores, o que influencia primordialmente a deriva é o
Araújo alerta para os cuidados que devem ser tomados nas aplicações e evitar prejuízos
diâmetro das gotas. O volume de aplicação, em si, não tem influência sobre a deriva. O que acontece é que, ao aumentar o diâmetro das gotas para reduzir a deriva, ocorre, em conseqüência, uma redução do número de gotas depositadas por unidade de área (gotas/cm2). Se este número for muito baixo, será necessário, então, aumentar o volume de aplicação (l/ha), para aumentar, na mesma proporção, o número de gotas / cm2. O volume de aplicação (l/ha) é, portanto, um fator secundário, dependente do número de gotas/cm2 e do diâmetro de gota.
USO DE ADITIVOS Existe pouca informação completa sobre este aspecto. Em nível de tendência, pode-se considerar o seguinte: 1) Produtos químicos que aumentem a densidade da calda podem ser benéficos à redução da deriva, por aumentarem o peso das gotas; 2) Produtos químicos que aumentem a tensão superficial do líquido podem ser benéficos à redução da deriva, por aumentarem o diâmetro das gotas; 3) Produtos químicos que diminuam a tensão superficial das gotas e/ou a viscosidade ou ainda a densidade da calda, podem ser prejudiciais ao controle da deriva, por proporcionarem a formação de gotas pequenas ou leves; 4) Produtos que reduzam a evaporação, mas que não aumentem o diâmetro das gotas (como o óleo mineral ou vegetal), são bons para reduzir as perdas por evaporação, mas não para o controle da deriva. Tais produtos podem ainda proteger as gotas muito pequenas da evaporação, permitindo que as mesmas possam derivar a grandes disM tâncias. Eduardo Cordeiro de Araújo, Agrotec Tecnologia Agrícola e Ind.
Mapeamento cana-de-açúcar
Nilson Konrad
O mapa da cana Sensores para coletas de dados de colheita em cana-de-açúcar, são uma ferramenta interessante para o controle e correção da produção por talhões, com o objetivo de equilibrar a média produzida por hectare
I
nformações sobre o local onde será implantada determinada cultura, o tipo e fertilidade do solo e o histórico de produtividade, não podem mais ser baseadas em médias da área total, e sim devem representar pequenas células (algo em torno de 25 a 100 m2) dentro de uma gleba, sendo necessário geo-referenciar a coleta das mesmas. Para isto utilizamos um sistema chamado de Sistema de Posicionamento Global (GPS - do inglês global positioning system), que, baseado em sinais recebidos de satélites em órbita da terra, permite que a cada ponto onde é coletada uma informação sobre a área, sejam conhecidas suas coordenadas (latitude e longitude), sua altitude e a hora em que foi feito o registro. Uma importante etapa, neste processo de levantamento de informações para a aplicação da Agricultura de Precisão (AP), é a obtenção dos mapas de produtividade e variabilidade das condições do solo. O primeiro estágio para a Agricultura de Precisão é a coleta precisa de dados a respeito da cultura para a geração dos mapas. Esta tecnologia já está sendo aplicada com sucesso em culturas como o milho, a soja, o trigo etc, culturas estas com grandes extensões plantadas e cultivadas em vários cantos do mundo, principalmente em países desenvolvidos. Todavia, para as demais
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Máquinas
culturas, que tradicionalmente não são plantadas nestes países, os recursos técnicos para se aplicar a AP ainda não foram totalmente desenvolvidos, como é o caso da cana-de-açúcar, que tem uma grande expressão econômica para o Brasil, com aproximadamente 5,4 milhões de ha plantados. Esta cultura movimenta cerca de 12,7 bilhões de reais por ano,
com faturamentos diretos e indiretos, o que corresponde a 2,3% do PIB brasileiro. Para a implantação da AP com êxito nestas culturas, que possuem características próprias e bem distintas das dos grãos, é necessário o desenvolvimento de um sistema de monitoramento de produção específico, que aliado à informação do GPS, irá permitir gerar os mapas
Fig.1 – Localização do sistema para pesagem dos rebolos (SPR) na colhedora de cana-de-açúcar
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“Uma importante etapa, neste processo de levantamento de informações para a aplicação da Agricultura de Precisão (AP), é a obtenção dos mapas de produtividade e variabilidade das condições do solo”
Fotos Paulo Graziano Magalhães
de produtividade. No Brasil, assim como na Austrália, algumas experiências conduzidas por institutos de pesquisas e universidades já estão sendo realizadas desde 1998, com bons resultados, como por exemplo, o levantamento feito na usina Guairá em São Paulo, no ano de 2002, sob a coordenação do professor José Paulo Molin da Esalq – USP, que utilizando um monitor de produtividade de cana-de-açúcar desenvolvido pela CASE, observaram diferenças de até 40 t/ ha em áreas com produção média de 220 t/ha. A Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) vem também há vários anos trabalhando para o desenvolvimento da AP, para o setor sucro alcoleiro em duas frentes. Uma, coordenada pelo professor Jansle Vieira Rocha, aplica técnicas de SIG (Sistema de Informação Geográfica) e imagens de satélite para gerar os mapas de produtividade e o outro grupo, trabalha com o desenvolvimento de um monitor de produtividade para ser instalado nas colhedoras de cana-de-açúcar, de modo a permitir a obtenção do mapa de produtividade da cultura.
INSTRUMENTAÇÃO DA COLHEDORA O sistema desenvolvido utiliza células de
carga como instrumento de determinação do peso da matéria-prima colhida e é capaz de mensurar o fluxo de rebolos que passa pela esteira, antes de serem lançados ao veículo de transbordo. Estes dados, juntamente com as informações obtidas por um GPS instalado na colhedora, permitem a elaboração de um mapa digital que representa a superfície de produção para a área colhida. Além destes equipamentos, sensores instalados na colhedora fornecem informações necessárias para que um software dedicado, instalado em um computador de bordo, localizado na cabine da colhedora, gerencie as informações e gere ao final o mapa de produtividade. Este equipamento chamado de “sistema de pesagem de rebolos” (SPR) foi instalado na colhedora como mostra a Figura 1.
SISTEMA DE PESAGEM A esteira elevadora da colhedora é composta por um conjunto de taliscas presas a correntes laterais que acionadas por motores hidráulicos se movimentam a uma velocidade de aproximadamente 2,7 m/s, sobre um fundo de chapa fixo, conduzindo os rebolos ao veículo de transbordo. Assim, um pequeno segmento da chapa fixa foi substituído pelo sensor de peso, composto de duas células de carga independentes (Figura 2) e um sensor magnético foi instalado na parede do elevador, para determinar a freqüência de passagem das taliscas e assim calcular a velocidade de deslocamento da esteira.
ADAPTAÇÃO DE SENSORES Fig.2 – Vista inferior do dispositivo para determinar o peso da cana colhida, instalada no elevador da colhedora
Fig.3 – Localização do sistema de pesagem dos rebolos na colhedora
Sensores, como radar, transdutores indutivos e pick-up magnético, estão instalados na colhedora para fornecer a velocida-
Fig.4 – Colhedora adaptada com o SPR, em operação na usina Santa Adélia
de de deslocamento da máquina, condição do corte de base e esteira, além do sinal de controle de início e fim da aquisição de dados, reduzindo-se assim erros provenientes de paradas indesejadas, troca de transbordo e de manobra de cabeceira. A Figura 4 mostra a colhedora na Usina Santa Adélia, durante a safra de 2000, utilizando o sistema.
SOFTWARE Um programa computacional baseado em linguagem C++ foi escrito para controlar o sistema de aquisição de dados e as
“Espera-se, até o final deste ano, ter disponível um equipamento pré-comercial, cuja tecnologia possa ser repassada a uma empresa, interessada em produzir comercialmente os monitores de produtividade para cana-de-açúcar”
Paulo Graziano Magalhães e Domingos Guilherme Cerri
formar alguns dados como, por exemplo, o número da gleba, talhão e zona em que a colhedora está trabalhando, assim como permite que o mesmo insira, a um simples toque na tela, “flags” de identificação de zonas com infestação de plantas daninhas, falhas na produção ou ainda canas tombadas (Figura 5). Fig.8 – Equipamento para retirada de amostras indeformadas de solos
MAPAS
Fig.5 - Exemplos de telas do computador
Os dados coletados por conjunto de linhas de colheita (Figura 6), somados às informações do GPS permitem, com o auxílio de um programa de SIG, produzir um mapa digital que representa uma superfície de produção da área colhida (Figura 7). Estes dados, em conjunto com os dados das características do solo (textura, macro e micro nutrientes, ph, resistência à penetração etc), irão permitir um melhor gerenciamento da área e talvez uma maior lucratividade por ha, sem agressão ao meio ambiente. Para obtenção dos dados de solo, a equipe da Unicamp optou por um equipamento de coleta de amostras indeformadas, que foi desenvolvido na própria faculdade (Figura 8), que depois de tratadas em laboratório, permitem elaborar os mapas de solo da gleba em estudo (Figura 9).
PRÓXIMOS PASSOS O grupo de pesquisa da Feagri-Unicamp dará continuidade ao projeto, neste ano, conduzindo testes durante a safra de 2004, na Usina São João de Araras, que tem apoiado
Fig.6 - Faixas com linhas de cana e pontos de coleta de dados onde foi completada a carga dos veículos de transbordo
Fig.7 – Talhão de cana-de-açúcar mostrando a variabilidade espacial da cultura na área
informações do GPS. Todos os dados são adquiridos, armazenados e processados em um computador dedicado com um monitor de 12” sensível ao toque. Este programa solicita ao operador da colhedora in-
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Máquinas
Fig.9 – Mapa elaborado com dados obtidos no campo utilizando o amostrador de solos
o projeto. Espera-se, até o final deste ano, ter disponível um equipamento pré-comercial, cuja tecnologia possa ser repassada a uma empresa, interessada em produzir comercialmente os monitores de produtividaM de para cana-de-açúcar. Paulo Graziano Magalhães, Unicamp Domingos Guilherme P. Cerri e Natasha Biagi Pagnano, Fapesp
Agricultura de precisão
O
manejo tradicional de uma cultura dentro de uma propriedade agrícola, assume que a área é homogênea e tratada de forma uniforme. As taxas de aplicação de fertilizantes são calculadas com base em valores médios de fertilidade e a aplicação feita uniformemente, em toda a extensão do campo, o mesmo ocorrendo para as demais práticas agrícolas como a seleção de melhores cultivares, regiões para subsolagem etc. Este tratamento uniforme pode gerar perdas econômicas para o agricultor, principalmente em grandes áreas, e pode causar danos ambientais importantes. O fator econômico, assim como a pressão pela melhor conservação dos recursos naturais e menor poluição do solo são aspectos importantes que estimulam o de-
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senvolvimento de novas técnicas na operacionalização do processo produtivo da agricultura. Para melhorar esta situação surgiu uma nova tecnologia, a “Agricultura de Precisão” (AP), que pode ser descrita como um desenvolvimento tecnológico que incorpora novas técnicas e modifica as já existentes, para produzir um conjunto de ferramentas com o objetivo de aumentar a eficiência no gerenciamento da agricultura, permitindo a aplicação de insumos agrícolas de acordo com as necessidades e o potencial de cada ponto da área. Isto ocorre porque a AP considera a existência da variabilidade espacial dos fatores produtivos tais como, o local onde será implantada a cultura, o tipo e fertilidade do solo e o histórico de produtividade da cultura.
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Correias manutenção
Máximo rendimento Para que a colhedora funcione adequadamente, as correias devem receber manutenção permanente e alguns cuidados especiais devem ser observados na operação Fotos Charles Echer
A correia do cilindro com baixa tensão (frouxa), pode provocar seu embuchamento
perfeita que seja e esteja a máquina, se o operador não for orientado e treinado a operá-la adequadamente, com certeza o resultado ficará abaixo do esperado, podendo ocorrer inclusive a quebra do equipamento. Assim, para que se evitem esses problemas, é necessário capacitar um bom operador através de treinamentos contínuos, atualizações constantes e orientações de campo. Deste modo, a fim de facilitar a identificação dos problemas mais freqüentes, seguem algumas causas e soluções de problemas, durante as operações das colhedoras.
PROBLEMAS E SOLUÇÕES
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entre as despesas de manutenção que devem ser computadas para o cálculo do custo de operação de máquinas agrícolas, encontramse aquelas realizadas para a manutenção preventiva e corretiva. Na manutenção preventiva, devem ser considerados os gastos com componentes
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Máquinas
trocados a intervalos regulares. Para que se alcance o êxito esperado numa colheita mecanizada, alguns fatores devem ser considerados no momento da operação. Entre eles, os que podem ser destacados como principais são o fator humano, a uniformidade das plantas e a umidade dos grãos. O fator humano é decisivo pois, por mais
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Cilindro embucha - ocasionado pela alimentação irregular, velocidade de cilindro muito baixa e correia do cilindro com baixa tensão (frouxa). Para solucionar é preciso ajustar o mecanismo de alimentação, aumentar a velocidade do cilindro, diminuir a velocidade de desligamento da máquina e principalmente tensionar a correia. Peneiras sobrecarregadas - são provocadas por corrente de ar insuficiente, peneira inferior muito fechada ou obstruída por palha excessivamente picada e pela correia do ventilador patinando. Para solucionar, devemos aumentar a velocidade do ventilador, limpar a peneira, ajustar o defletor de ar, tensionar a correia, ajustar a velocidade do
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“Durante a safra, cada dia de trabalho deve ser aproveitado ao máximo. Por isso, é importante que a máquina esteja revisada e bem regulada, permitindo o total aproveitamento do potencial de trabalho”
cilindro e a abertura do mesmo em relação ao côncavo. Correias vibrando - pode ter como causa, os tensores desajustados e como solução temos que, primeiramente, verificar o ali-
nhamento das correias e suas proteções. Perda de grãos pelas peneiras - dentre as possíveis causas estão, corrente de ar muito forte, peneiras sobrecarregadas, peneira superior muito fechada ou obstruída e correia do acionamento do eixo excêntrico patinando. Para solucionarmos, não podemos retirar as proteções das correias e temos que mantê-las sempre tensionadas adequadamente. Bateria não carrega - esta anomalia pode ser ocasionada por terminais soltos ou desgastados, correia com baixa tensão (frouxa) e pelo alternador/tensionador com defeito. Para sanarmos estes problemas devemos ajustar os terminais, testar o alternador/tensionador e principalmente trocar a correia, pois por ela ter trabalhado com a tensão abaixo do especificado (frouxa), sofreu um desgaste anormal, o que reduz muito sua vida útil. Durante a safra, cada dia de trabalho deve ser aproveitado ao máximo. Por isso, é importante que a máquina esteja revisada e bem regulada, permitindo o total aproveitamento do potencial de trabalho. Após períodos de colheitas ou antes de iniciar a safra, sempre é bom observar o estado das correias e substituí-las quando comprometerem o rendimento da máquina. Al-
Neri Ferreira
Suzan: “Após a safra e antes da próxima colheita é necessário observar o estado das correias”
guns cuidados básicos e simples com as correias e com a operação da máquina podem resultar numa economia considerável, aumento do tempo de vida útil das correias e M maior rendimento da máquina. Suzan Petter, Goodyear do Brasil
Transmissão utilização Valtra
A potência gerada pelo trator é utilizada para várias finalidades, como força e velocidade, onde os diversos componentes de transmissão desempenham uma função diferente de acordo com a sua posição
Força direcionada A
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Máquinas
deslocamento deve ser baixa, função primordial do sistema de transmissão, ou seja, ampliar torque às custas de redução de velocidade de eixos. É tão importante o sistema, senão vejamos o exemplo a seguir: um trator agrícola que desenvolve potência máxima do motor a 2200 rotações por minuto, se não tivesse o sistema de transmissão e acionasse as rodas diretamente pelo eixo ligado ao disco de embreagem (se isto fosse possível), com um rodado de pneu com 0,84 m de raio (5,28 m de perímetro), se deslocaria a aproximamente 697 km/h. Como temos que reduzir esta velocidade para uma faixa de 4 km/h a 30 km/h, aumentando na mesma medida o torque nos eixos, o fazemos por meio das marchas da transmissão. Por isto, se explicam as brutais relações de transmissão de 30:1 a 500:1, colocadas nos tratores agrícolas, dependendo da marcha escolhida. A veloRevista Agrotécnica
potência, gerada pelo motor do trator, necessita ser utilizada nos diversos pontos e nas diferentes funções que se exige deste importante veículo agrícola. O nome “trator” indica que uma destas importantes funções é o desenvolvimento de uma força horizontal na barra de tração ou nos braços inferiores do sistema hidráulico, que se convenciona chamar de “tração”. Outras formas de utilização da potência gerada podem estar disponíveis no trator, como a tomada de potência (TDP), que serve para o acionamento de eixos e o sistema hidráulico, que retira potência hidráulica, para acionamento de pistões, bombas e motores hidráulicos. Assim, o sistema de transmissão de potência dos tratores é formado por: embreagem, caixa de velocidades, diferencial, redução final, tomada de potência (TDP) e sistema hidráulico. Este conjunto de componentes, no trator agrícola, forma uma cadeia cinemática, por meio de engrenagens que se acionam e aumentam o torque às custas de redução de velocidade. A potência é o produto da força pela velocidade. Em automóveis, a potência do motor pode ser quase toda canalizada para fornecer velocidade, visto que a força que o automóvel exerce é pequena o suficiente para vencer a inércia, a resistência do ar, a resistência ao rolamento e deslocar o peso do veículo e seus passageiros. Nos tratores, ao contrário, a potência do motor deve ser gasta com prioridade para desenvolver força, necessária para mover o veículo, seu grande peso, sua maior resistência ao rolamento e a enorme demanda de tração do implemento que está sendo tracionado. Por isto, a velocidade de
Figura 1: Embreagem hidrostática ou “pacote de discos” utilizado em câmbios em carga
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cidade deverá atender às necessidades de torque e velocidade da operação que se está realizando. Cada par de engrenagens, envolvido nesta cadeia cinemática, possui a sua particular relação de transmissão (it) que multiplicadas entre si formam ao final a relação de transmissão da caixa em uma determinada marcha. Cada caixa possui várias opções de relações de transmissão (marchas) que compõem com o diferencial e a redução final, esta cadeia cinemática. A função de cada componente do sistema de transmissão de potência dos tratores está relacionada com a sua posição, a embreagem serve como um interruptor, possibilitando que o motor continue em funcionamento sem transmitir potência às rodas, a caixa de velocidade permite a diminuição drástica da velocidade, com o conseqüente aumento de torque e a inversão do sentido de deslocamento (marcha à ré), o diferencial permite a individualização do movimento de giro das rodas, auxiliando a execução de manobras e curvas e promove uma sensível redução de rotação, a redução final promove uma última e importante redução da velocidade do semi-eixo que aciona as rodas e a tomada de potência permite que o trator acione implementos que exijam movimento rotativo. Este sistema teve pouca evolução nos últimos anos, com uma quase estagnação no desenvolvimento tecnológico em componentes como o diferencial e a redução final.
CAIXAS DE VELOCIDADE Especificamente, as caixas de velocidades evoluíram nos últimos tempos pela chegada dos sistemas de transmissões com auxílio hidrostático, aplicados a alguns modelos de tratores. Atualmente são dois os tipos de transmissões utilizadas em tratores agrícolas. As primeiras são as mecânicas, que permanecem sendo utilizadas há bastante tempo nos tratores e que sofreram pouca evolução desde o lançamento dos primeiros modelos comerciais. São caixas de velocidade bastante robustas, de baixo custo e com a vantagem de ter alto rendimento mecânico, em função das reduzidas perdas. Podem dividir-se em: Secas, sincronizadas (Engrenamento constante). São chamadas de “secas” as caixas de velocidades que utilizam pares de engrenagens de dentes retos que deslizam longitudinalmente nos eixos para encaixarem-se entre si. Geralmente agrupam as engrenagens em três eixos, denominados: primário, que vem diretamente da embreagem, intermediário, também chamado “grupo” e secundário, conhecido como “entalhado” no qual as engrenagens deslizantes estão agrupadas, proporcionando a combinação aos pares para a saída do movimento. É
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“Quando o acionamento não utiliza uma engrenagem, esta é desbloqueada do seu eixo, girando livremente sobre ele”
tes (“seca”) porém com pouca utilidade para a agricultura em tarefas que demandem força de tração, pois é necessário o acionamento da embreagem para a troca de marchas e isto provoca que o tratorista ao pisar na embreagem para a troca de marchas, vê o veículo parar, o que neutraliza a vantagem apregoada. Não é por isto um sistema que proporcione troca de marchas em trabalho, como veremos adiante no que chamaremos “câmbio em carga”. As transmissões hidrostáticas são aquelas que utilizam princípios hidráulicos para o acionamento de grupos e pares de engrenagens. São conhecidas como “câmbios em carga” ou “powershift”. A grande vantagem destes sisteJohn Deere
cada vez menor a utilização deste tipo de construção em tratores agrícolas, embora, como citamos antes, seu rendimento mecânico é bastante alto. As transmissões mecânicas sincronizadas são aquelas que têm as engrenagens em engrenamento constante, porém somente nas ocasiões em que seja necessário o uso para a transmissão do movimento, estas são bloqueadas no eixo correspondente. Quando o acionamento não utiliza uma engrenagem, esta é desbloqueada do seu eixo, girando livremente sobre ele. Existem estruturas que auxiliam o bloqueamento no eixo, denominados sincronizadores, que adaptam a velocidade das engrenagens, facilitando o engrenamento. As transmissões de engrenamento constante com luvas, também chamadas de “Constant mesh” assemelham-se às sincronizadas clássicas e a união da engrenagem ao eixo por meio de luvas deslocáveis é que faz que o movimento passe por meio deste par de engrenagem. As condições básicas para o engrenamento ou encaixe de duas engrenagens são: que as duas estejam paradas ou que as duas, em movimento, estejam girando a mesma velocidade, ou seja, velocidade zero entre si. Os dois últimos tipos de transmissões acima descritos, caixa sincronizada e “Constant mesh” são muito similares e começaram a ser montadas em tratores como uma evolução da transmissão mecânica de engrenagens deslizan-
Figura 2: Funcionamento de caixa de velocidades do tipo “câmbio em carga”
mas é que as marchas podem ser trocadas mesmo com o conjunto em operação, sem o acionamento da embreagem. As transmissões hidrostáticas podem ser de dois tipos: Parcial: quando apenas algumas marchas podem ser trocadas “em carga”, necessitando de que a embreagem seja acionada para troca de grupos. Geralmente podem ser trocadas as velocidades hidrostaticamente dentro de um mesmo grupo, porém para passar de um grupo para outro há a necessidade de utilizar a embreagem. Em alguns modelos de trator, apenas a troca de duas marchas consecutivas utiliza este sistema, nos demais, o câmbio é sincroni-
Case
“O óleo da transmissão então passa a ter as funções de lubrificar os sistemas de embreagens, engrenagens e mecanismos mecânicos de acionamento e também de acionar as embreagens e os eventuais freios hidráulicos que o sistema possa utilizar”
Figura 3: Caixa de marchas “powershift” utilizada nos tratores CASE da linha Magnum
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Máquinas
de reduzida, ilustrado pela figura, à esquerda, a embreagem A é que está acionada e a embreagem B está livre. Como o movimento que entra por um encontra a embreagem B livre, o movimento se vê obrigado a passar pelos pares de engrenagens, sofrendo a redução proporcional à relação de transmissão (it) dada pelo número de dentes das engrenagens envolvidas. O movimento passa então pelo par G-1, faz girar a menor velocidade o eixo três e passa pelo par de engrenagens G-4, fazendo o eixo dois girar a uma velocidade menor que o eixo um, provocando por isto diminuição de velocidade e conseqüente aumento de torque, resultando em uma marcha mais reduzida, isto é de menor velocidade. O acionamento das embreagens é feito por um sistema de válvulas que atua em quatro, Escuela Superior de Ingenieros Agrónomos
zado. Total: quando todas as trocas de marchas dispensam o uso da embreagem e utilizam sempre o sistema hidrostático. A embreagem serve somente para colocar o trator em marcha e para imobilizá-lo com o motor em funcionamento Nestes casos, as engrenagens estão sempre em engrenamento constante e a passagem ou não pelos pares de engrenagens se faz com o uso de embreagens hidráulicas, como explicaremos a seguir. Há vários modos de utilizar estes princípios em tratores agrícolas e dependem da criatividade dos projetistas para o seu projeto. A troca de marchas neste sistema pode ser por meio de botões colocados na própria alavanca de troca de marchas ou pela própria alavanca, onde válvulas eletro-hidráulicas são acionadas, direcionando o óleo da transmissão para as diferentes embreagens que o sistema utiliza. As embreagens são os chamados “pacotes de discos” que como o nome diz são conjuntos de discos e pratos de pressão colocados de forma alternada embebidos em óleo que os lubrifica e movimenta. Mostramos (figura 2) um típico sistema de transmissão hidrostática do qual propomos uma sucinta explicação. São montados dois “pacotes de discos” ou embreagens entre dois pares de engrenagens colocadas em eixos paralelos. No primeiro caso, ilustrado pela figura à esquerda em que a velocidade é alta ou direta, o movimento entra pelo eixo um, encontrando a embreagem B acionada e a embreagem A livre. Desta forma o movimento é feito pelo aprisionamento direto do eixo um ao eixo dois pela embreagem B, fazendo com que o movimento saia diretamente ao eixo dois sem alteração de rotação, isto é a mesma rotação de entrada (um) é a de saída (dois), sem inversão de sentido. No caso do acionamento de uma velocida-
por sua vez acionado eletro-hidraulicamente pela alavanca ou pelos botões colocados na extremidade da alavanca. Genericamente estes sistemas são conhecidos como “powershift”, embora cada fabricante opte por nomes comerciais como “Dual power” HI-LO ou “multitorque”, casos dos tratores Ford, Fiat e Valmet, respectivamente. Outra forma de utilizar o sistema hidrostático é colocar um sistema de engrenagens epicicloidais na entrada ou na saída da caixa de velocidades, determinando a forma de saída por meio de um pacote de discos. No caso da saída ocorrer diretamente pelo pinhão ou sol, a velocidade será direta e saindo por meio dos porta-planetários, será reduzida. Com estas opções, torna-se muito fácil montar um “câmbio em carga” em tratores agrícolas, combinando-se em uma mesma alavanca um sistema de acionamento de válvulas que em algum caso possa atuar sobre as embreagens epicicloidais, sobre os conjuntos “powershift” e em ambos. A transmissão denominada comercialmente como “powershift” da John Deere é o exemplo mais adequado para este tipo de transmissão. O exemplo das transmissões dos tratores Case da série Magnum é um dos mais característicos de uma transmissão de acionamento auxiliado por princípios hidráulicos em que todas as marchas podem ser trocadas em carga. Este tipo de transmissão possibilita a utilização de freios hidráulicos que, em posição acionada, impedem a movimentação da máquina, atuando sobre as válvulas o que é uma vantagem, pois o freio de estacionamento pode ser hidráulico ao invés de mecânico. O óleo da transmissão então passa a ter as funções de lubrificar os sistemas de embreagens, engrenagens e mecanismos mecânicos de
Figura 4: Esquema da transmissão powershift integral CASE
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Número de marchas
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Revista Agrotécnica
ideal, para o trabalho agrícola é que em todos os casos contássemos com transmissões contínuas (CVT) em que bastaria a movimentação de uma alavanca para o aumento ou a diminuição da velocidade contínua do veículo. No momento esta alternativa mostra-se de difícil aplicação pelo custo, embora alguns fabricantes tenham provado a possibilidade de montá-la em tratores, porém um número elevado de marchas pode diminuir com eficiência os “degraus” marcados entre uma velocidade e outra. Atualmente, a maioria dos tratores possuem entre 8 e 36 marchas, com a maior ocorrência de modelos entre 12 e 18 marchas. Desta forma, pode-se montar um escalonamento que para cada uma das velocidades de uso mais freqüente no trabalho agrícola possamos ter duas a três opções de escolha de marchas a utilizar, uma com mais rotação de motor que a outra, conforme a figura.
Diagrama do escalonamento de marchas de uma caixa de velocidades
acionamento e também de acionar as embreagens e os eventuais freios hidráulicos que o sistema possa utilizar. Um depósito, uma bomba hidráulica, válvulas e filtros são elementos necessários para exercer as funções de uma transmissão deste tipo. As transmissões hidrodinâmicas (“caixas hidráulicas”) e os conversores de torque, amplamente utilizados em veículos de uso rodoviário ou de movimentação de terra, não são utilizados em tratores agrícolas pelo seu baixo rendimento mecânico na demanda exigente da agricultura.
MODELOS COMERCIAIS Podemos citar três exemplos de transmissões de acionamento hidráulico para tratores comercializados no Brasil. O primeiro é o da marca CASE nos modelos MX110, MX120 e MX135, que utilizam um câmbio denomina-
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do transmissão Powershift, que possui uma alavanca próxima ao volante com três posições de avanço, ponto morto e marcha à ré. Na alavanca de seleção de velocidades há um interruptor de acionamento do powershift para ser acionado pelo dedo indicador da mão direita. Uma vez selecionada a marcha, deve ser selecionada a direção do deslocamento, para frente e para trás e soltar o pedal da embreagem. Uma vez que se queira mudar a marcha, deve-se acionar o botão ou a alavanca sem o auxílio da embreagem, pois o cambio é “em carga”. Alguns bloqueios da transmissão são naturalmente colocados, como impedimento de funcionamento sem o operador sentado ao banco e operação em quarta marcha á ré. O número de marchas é 18 à frente e 12 à ré. Outro exemplo de aplicação de caixas de marchas hidrostáticas é o da marca New Holland, que pode equipar os modelos TL, denominada comercialmente como HI-LO. É uma caixa de 24 velocidades à frente e 12 velocidades ré com duas alavancas. Na alavanca de velocidades, há um interruptor de altas e baixas (HI-LO) que duplica o número de marchas pelo acionamento do botão. Neste caso para acionar este dispositivo não é necessário acionar o pedal da embreagem, pois o sistema utiliza embreagens hidráulicas, conforme explicado anteriormente. As marchas ficam então organizadas em três grupos, com quatro velocidades em cada grupo e uma alta (HI) e uma baixa (LO) para cada velocidade. Das 24 marchas disponíveis à frente, somente as 12 baixas (LO) são possíveis acoplar à ré, totalizando 12 marchas apenas para trás. O terceiro exemplo comercializado no Brasil é a transmissão “powrquad” que equipa opcionalmente os tratores da linha John Deere. A alavanca de troca de velocidades está colocada em um console juntamente com a alavanca de troca de grupos e com a do inversor de direção. A princípio esta caixa foi construída com o mesmo módulo da transmissão sincronizada, porém foi colocado um elemento denominado “distribuidor de potência”. Este dispositivo tem quatro marchas com “câmbio
Pilar Linares
Schlosser: “Transmissões hidrodinâmicas não são utilizadas em tratores por seu baixo rendimento mecânico”
em carga” que funciona tanto para frente como para ré. É um módulo “powershift” que está colocado na saída da embreagem, portanto com torque ainda pequeno. O grupo sincronizado tem 4 posições, A, B, C e D e uma posição de estacionamento acionado hidraulicamente. Para a troca de marchas não há necessidade de acionamento da embreagem dentro de cada grupo. O sistema baseia-se em engrenagens epicicloidais freadas por embreagens de acionaM mento hidráulico. José Fernando Schlosser, UFSM
Energia
palhiço de cana Fotos Tomaz Caetano Ripoli
Resto que gera energia A dependência social em relação ao petróleo tem levado inúmeros países à criação de programas buscando novas fontes alternativas de energia, na qual o palhiço da cana-de-açúcar tem se mostrado uma importante possibilidade
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o Brasil, apesar das necessidades do país na busca por novas fontes alternativas de energia, o Governo, nos últimos anos e, para quem esperava mudanças de postura no atual governo, caracterizado por um neo-lulismo frustrante, continua oferecendo tímido respaldo para tais iniciativas, apesar de muita retórica e marketing. O fato de que, em 2003, o Brasil já extraía 80% de suas necessidades de petróleo, não invalida a necessidade de se buscar outras opções para diversificar sua matriz energética. Essa matriz hoje é calcada no petróleo e nas hidrelétricas. Não há país no mundo, por sua localização, por sua extensão territorial e pela tecnologia já desenvolvida e disponível (sem ter que pagar royalties para multinacionais), que melhores condições possua para o aproveitamento da energia de biomassa, principalmente, a proveniente da cana-de-açúcar. Até 2002, o Brasil tinha 159 termelétricas à biomassa, fornecendo uma capacidade instalada equivalente a 8% do parque tér-
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Máquinas
mico de geração e a 1,4% de toda a capacidade instalada no país. Destas, quatro operavam com resíduos de madeira (25,5MW) e três com casca de arroz (14,4MW). As demais utilizavam o bagaço de cana (Fonte:ANEEL).
BIOMASSA DE CANA Uma dessas alternativas trata-se da bio-
Se for feita a opção pela colheita integral, há a necessidade de se instalar uma estação de pré-limpeza
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massa fornecida pela cultura canavieira, já de grande importância sócioeconômica para o Brasil. Em um hectare de canavial, pode-se obter em torno de 67.080Mcal, assim distribuído: 20,09% (álcool), 40,03% (bagaço) e 39,88% (palhiço), este último constituído de ponteiros, folhas verdes e palhas, colmos não colhidos e/ou suas frações e terra agregada a estes constituintes, o qual, até o momento, vem sendo limitadamente aproveita-
Palhiço recolhido a granel, por recolhedora de forragem
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“O Brasil, que não vem conseguindo ampliar satisfatoriamente seu parque hidrelétrico, apresenta um potencial nada desprezível em relação à biomassa vegetal”
do, pois é queimado, em mais de 90% de sua quantidade, como operação de pré-colheita. O Brasil, que não vem conseguindo ampliar satisfatoriamente seu parque hidrelétrico, apresenta um potencial nada desprezível em relação à biomassa vegetal. O binômio, energia de biomassa e controle ambiental, deveria ser meta prioritária de políticas energéticas e ambientais do Governo. A cultura canavieira hoje se insere perfeitamente nesse contexto, pois apresenta grande potencial energético não-aproveitado totalmente e, em decorrência, tem se tornado agente causal de poluição ambiental, mesmo que não seja o mais importante deles. A poluição ambiental causada pelos motores de combustão interna, movidos a gasolina e, principalmente, a óleo diesel são agentes muito mais poluidores que a queima de biomassa agrícola, como prática de pré-colheita. E, ao referir-se à poluição ambiental, cabe dizer que a questão das queimadas causarem ou não poluição, segundo estudos científicos, leva a dois pontos fundamentais sobre a matéria, a saber, e que deve nortear qualquer discussão a respeito: O impacto ambiental da queima (de matéria vegetal ou de combustíveis fósseis) de-
A cultura canavieira apresenta grande potencial energético não aproveitado totalmente
pende do volume de material lançado na atmosfera e do seu potencial poluidor. A queima de uma certa quantidade de folhas secas, quando muito, pode causar incômodo ao vizinho; já a queima de 200 ou 300 pneumáticos empilhados, causará uma grave deterioração da qualidade ambiental e inclusive poderá levar pessoas a internações hospitalares, por problemas respiratórios e por alergia, principalmente. Por outro lado, um regime de fluxo de 300 veículos por hora, deslocando-se a 80 ou 100 km/h numa rodovia, praticamente tem pouco efeito sobre o ambiente. Todavia, 300 veículos deslocan-
Palhiço sendo recolhido, juntamente com os colmos durante a colheita integral
do-se em marcha lenta, por ruas estreitas de uma cidade com trânsito totalmente congestionado, certamente, irão deteriorar gravemente, a qualidade do ar daquela localidade. O impacto ambiental da queima será totalmente anulado ao ocorrer uma precipitação pluviométrica. A chuva “lava” a atmosfera, principalmente se for de média duração e de gotas pequenas. O custo de produção de energia elétrica, por co-geração, está ente entre US$ 0,035 e US$ 0,045 por Kw/h, considerando o preço da tonelada de bagaço combustível como US$ 6,30, enquanto que a mesma energia com-
“Motores hidráulicos que acionam os mecanismos de limpeza serão desnecessários, bem como mangueiras do circuito hidráulico, exaustores e ventiladores e despontador”
Tomaz Caetano Ripoli
prada da rede oficial custa US$ 0,066. Os investimentos médios para um sistema de cogeração, por Kw/h instalado, situam-se entre US$ 900 e US$ 1.150, inferiores aos observados em hidrelétricas e com a vantagem de menor prazo de instalação.(Fonte: Copersucar)
RECOLHIMENTO É A QUESTÃO
Charles Echer
Atualmente, não resta nenhuma dúvida que o palhiço passa a ser um material nobre e de interesse econômico para as usinas do país. A grande questão que se discute, é quanto ao melhor sistema de recolher e disponibilizar esse material no pátio da usina, sob o ponto de vista de eficiência energética dos sistemas, da quantidade de terra arrastada com o material e em relação ao custo, posto na usina, em termos de reais (R$) por equivalente energético, na forma de palhiço. A Esalq/USP, a FCA/Unesp Botucatu e o Grupo Cosan S.A., em parceria estão estudando três sistemas de recolhimento do palhiço. Resultados parciais estão indicando que em termos de eficiência energética, os sistemas de enfardamento, de recolhimento a granel e de colheita integral apresentam valores acima de 95%, ou seja, de cada cem unidades de energia posta na usina, na forma de palhiço, consome-me, no máximo, cinco unidades de energia na forma de óleo diesel em todas as operações envolvidas, demonstrando a grande viabilidade, em termos de eficiência energética, em se aproveitar essa biomassa. A respeito da quantidade de terra arrastada, o que melhor resultado vem apresentando é o enfardamento seguido da colheita integral. Em relação ao custo por quantidade de energia posta na usina na forma de palhiço, a colheita integral do canavial, por colhedoras combinadas, é o que melhor resultado vem apresentando. Entenda-se por colheita integral como sendo aquela em que
Palhiço recolhido por enfardamento (fardos cilíndricos)
as colhedoras operam com seus sistemas de limpeza desligados. Assim, toda a massa colhida pela máquina (colmos e ponteiros, folhas verdes, palha e terra) vai ter à unidade de transbordo. Optando-se pela colheita integral, obviamente, haverá necessidade de se instalar uma estação de pré-limpeza antes das mesas de recepção das usinas, pois a matéria-prima proveniente desta prática não poderá ser enviada diretamente à mesa de recepção, sob o risco de causar inúmeros problemas na qualidade do esmagamento, com prejuízos econômicos. Algumas usinas, em São Paulo, já utilizam estas estações. Com a introdução destas (já utilizadas em Cuba), os custos de produção de açúcar e álcool terão um acréscimo. Todavia, estimativas dão conta de que o valor do investimento e de manutenção poderá ser amortizado em torno de dois anos, considerando-se tal valor no custo total do sistema de recolhimento do palhiço e do Tabela 1 - Distribuição da energia contida em um canavial com 60 t/ha de matéria-prima e o equivalente energético em relação a outros combustíveis
Ripoli alerta para a necessidade de o Brasil buscar outras fontes de energia além do petróleo
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Máquinas
Produtos Álcool Bagaço Palhiço Materiais Petróleo (barril.t-1) Petróleo (barril.ha-1) Óleo diesel (L.t-1) Óleo diesel (L.ha-1) Etanol (L.ha-1)
Quantidades 4.500L 15t 12t Equivalentes 1,28 31,90 228,49 5.524,2 9.736,32
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quanto a unidade industrial receberá pela energia produzida por co--geração. E mais, chegará o momento em que os fabricantes de colhedoras serão pressionados pelos usuários, a oferecerem ao mercado colhedoras de valor de aquisição mais baratas (por volta de 30%) do que as atuais, pois serão fornecidas com motores de potências, em torno de 20%, menores (os atuais possuem de 300 a 350cv), e que consumirão menos litros de óleo diesel por hora ou por tonelada colhida. Motores hidráulicos que acionam os mecanismos de limpeza serão desnecessários, bem como mangueiras do circuito hidráulico, exaustores e ventiladores e despontador. Portanto, serão máquinas cujos custos de operação, de manutenção e de reparos serão menores que o das atuais, o que levará à redução, significativa, dos custos do sistema de colheita. Ainda, em termos de colheita integral, visando aproveitamento do palhiço, não se devem esquecer mais alguns aspectos: não serão necessários novos investimentos em equipamentos, tais como, colhedoras de forragem (que recolhem o palhiço a granel) e que são importadas, ou enfardadoras (cilíndricas ou prismáticas), as quais, de grande capacidade são importadas, havendo no mercado nacional dois fabricantes do tipo fardo cilíndrico, de menor capacidade, de desempenho, entre outras; veículos especiais para o transporte do material; área de estocagem no pátio da usina e máquinas para manipular o volume estocado. Esta colheita integral evitará, ainda, o tráfego dessas novas máquinas que passariam a fazer parte do sistema
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mecanizado das usinas, ou seja, das forrageiras ou enfardadoras e unidades de transporte, sobre o talhão, causando maiores compactações de solo e esmagamento de soqueiras, com conhecidos reflexos negativos em safra seguinte. Não seriam necessárias novas equipes de controle e gerenciamento. Por fim, o palhiço hoje passa a ser uma
Custo de produção
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m um hectare de cana-de-açúcar, pode-se obter em torno de 67.080Mcal distribuídos em: 20,09% em álcool, 40,03% em bagaço e 39,88% em palhiço, lembrando que o poder calorífico deste palhiço é superior ao do próprio bagaço, o qual já é queimada nas usinas e destilarias. O custo de produção de energia elétrica, por co-geração a partir do palhiço de cana-de-açúcar, está ente entre US$ 0,035 e US$ 0,045 por Kw/h, considerando o preço da tonelada de bagaço combustível como US$6,30, enquanto que a mesma energia comprada da rede oficial custa US$0,066. Os investimentos médios para um sistema de co-geração, por Kw/h instalado, situamse entre US$ 900 e US$ 1.150, inferiores aos observados em hidrelétricas e com a vantagem de menor prazo de instalação. Operações Enleiramento Recolhimento Transporte Descarregamento Total
R$.t 0,49 9,17 8,90 2,11 20,67
R$.ha 12,34 139,75 42,77 10,14 205,00
Opções de sistemas de recolhimento e disponibilização do palhiço junto às caldeiras
fonte a mais de agregação de valor para o setor sucroalcooleiro além de poder concorrer, efetivamente, para a melhoria da matriz energética brasileira, basicamente calcada e perigosamente dependente apenas do petróleo e de hidrelétricas (ultimamente, dependente, também, do funcionamento de termoelétricas, de aluguel, movidas a gás ou a derivados de pe-
tróleo e levando o cidadão brasileiro a pagar M mais em sua conta, no final do mês). Marco Lorenzzo Cunali Ripoli e Carlos Antonio Gamero, FCA/UNESP Tomaz Caetano Cannavam Ripoli, ESALQ/USP
Irrigação gotejamento
Gota a gota Fotos Unesp/Ilha Solteira
O sistema de irrigação por gotejamento viabiliza a aplicação de quantidades precisas de água, otimizando os recursos hídricos disponíveis, porém alguns cuidados são necessários para um perfeito funcionamento do sistema
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Máquinas
tência instalada por unidade de área. O uso em expansão deste sistema tem sido um atrativo para que várias empresas se instalem no país, aumentando a diversidade de gotejadores disponíveis no mercado, com padrão de produção aceitável e custo de aquisição cada vez mais baixo. Se por um lado, este sistema pode amenizar o problema de escassez de água, por outro, em função do pequeno diâmetro dos orifícios dos gotejadores, pode haver obstruções devido à má qualidade da água, que é um fator essencial, pois os tipos de problemas de entupimento de emissores estão correlacionados com as característi-
cas da fonte de água utilizada. É importante quantificar os íons presentes na água de irrigação antes de projetar um sistema. A análise da qualidade de água pode ser realizada em laboratórios especializados. Problemas produzidos por precipitações químicas, como complexo de ferro, carbonatos, sulfatos de cálcio e magnésio podem ocasionar o entupimento de emissores. O entupimento tem como conseqüência uma redução na uniformidade de aplicação reduzindo a eficiência e afetando negativamente o controle do manejo da água, cujos fatores são: obstruções,
Fotos Gustavo H. Souza Vieira
irrigação por gotejamento, nos últimos anos, tem cativado o produtor rural, devido à possibilidade de aplicação de produtos como fertilizantes e defensivos na água de irrigação (fertirrigação), com freqüências controladas, sendo este um forte atrativo para a adoção do sistema. Para a realização de um manejo de água e fertirrigação eficiente, é importante que a uniformidade de aplicação de água pelos emissores seja a maior possível, pois, com a prática contínua da fertirrigação, algumas plantas podem estar recebendo quantidades menores de fertilizantes que outras, ocasionando uma variabilidade de produtividade dentro da área. O sistema de irrigação por gotejamento corretamente manejado, oferece vantagens se comparado a outros métodos de irrigação, tais como elevada uniformidade de aplicação de água, eficiência no uso da água, melhor controle de plantas daninhas, minimização de escoamento superficial e percolação profunda. Quando adequadamente dimensionado, este sistema contribui para um menor consumo de energia por trabalhar com baixa pressão de operação e emissores de baixa vazão, requerendo uma menor po-
Abertura de final de linha mostrando a eliminação de partículas desprendidas e a água limpa após a limpeza
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“Tratamento químico é exigido freqüentemente para prevenir entupimento de emissor criando um ambiente inadequado para crescimento microbiano”
Nildo da Silva Dias
coeficiente de variação de fabricação, expoente de descarga do emissor, sensibilidade do emissor à temperatura, variações de pressão etc. Em geral, as causas do entupimento de emissores podem ser divididas em: (a) componentes físicos, como areia, partículas de PVC provenientes da montagem do sistema; (b) materiais biológicos e (c) substâncias químicas precipitadas. Outras causas de entupimento dos gotejadores são a sucção de partículas sólidas e a intrusão radicular em sistema subsuperficiais. O entupimento devido a causas biológicas é o mais comprometedor em sistemas de irrigação localizada, cuja água contém fragmentos orgânicos e ferro ou sulfeto de hidrogênio. O ferro é uma fonte potencial de depósito mineral que pode
obstruir emissores. Certas bactérias podem causar precipitação de manganês, enxofre, e combinações férricas para causar obstrução de emissores. Além disso, algas podem ser transportadas a partir da fonte de água, criando condições que podem promover a formação de agregados. Não há um método para se avaliar, com segurança, o risco de obstruções ocasionadas pelo uso de determinada fonte de água, isso porque alguns fatores que interferem nesse processo são variáveis, como a temperatura, que afeta a formação de precipitados e o desenvolvimento de microrganismos, enquanto outros dependem de produtos adicionados, principalmente fertilizantes. Todas as causas citadas estão compreendidas na combinação de material suspenso, precipitação química e crescimento biológico em bombas d’água, linhas de irrigação e emissores. Diversos tipos de gotejadores estão disponíveis no mercado, apresentando diferentes sensibilidades ao entupimento, de acordo com a qualidade da água, do diâmetro mínimo de passagem, da velocidade do fluxo e das características físicas de construção do emissor (tipos de labirintos, perda de carga localizada na lateral etc), há modelos que possuem membranas auto limpantes, tornando-se menos suscetíveis ao entupimento. Tratamento químico é exigido freqüentemente para prevenir entupimento
Utilização do sistema de irrigação por gotejamento em estufa
Gustavo H. Souza Vieira
Mucilagem formada após a ação de bactérias e precipitados de ferro nas paredes das mangueiras
de emissor criando um ambiente inadequado para crescimento microbiano. A cloração é uma medida efetiva contra a atividade microbiana, como fonte de cloro para o tratamento químico, tem-se o hipoclorito de sódio (NaOCl), encontrado em forma líquida. O cloro torna-se mais efetivo no controle de bactérias em menores níveis de pH. A cloração para controle bacteriano é relativamente ineficiente abaixo de pH 7,5. Adições de ácidos (ácido sulfúrico, clorídrico, e ácido fosfórico) podem ser necessários para baixar o pH e para aumentar a ação biocida do cloro para águas mais alcalinas. Quando um sistema de irrigação por gotejamento está com problemas de entupimento decorrente do crescimento bacteriano associado à utilização de águas ferruginosas, pode-se recomendar a aplicação de hipoclorito de sódio, em dosagens que variam de 25 a 100 mg L -1, dependendo da severidade do entupimento, do tempo de funcionamento e do tipo de sistema. Dosagens menores podem não ser eficientes, enquanto as maiores podem danificar o equipamento de irrigação. O método utilizado de injeção de cloro (injeção contínua, intermitente ou tratamento de choque), dependerá do potencial de crescimento de organismos microbianos, sendo que quando o cloro for injetado deve-se utilizar um equipamento para conferir se a taxa de injeção é suficiente. A injeção deste deve ser feita antes
“As formas reduzidas de manganês e ferro, quando oxidadas, podem precipitar e ser removidas por sedimentação, antes de sua entrada no sistema de irrigação”
Gustavo H. Souza Vieira
Fertirrigação
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fertirrigação consiste na aplica ção dos adubos juntamente com a água de irrigação, permitindo melhor distribuição do fertilizante no campo e possibilitando um maior parcelamento das adubações, aumentando a eficiência na utilização dos adubos pelas plantas.
Exemplo de um cabeçal de controle mostrando filtros e válvulas, utilizado para a limpeza da água
Marconi Batista Teixeira, Rubens Duarte Coelho e Ralini Ferreira de Melo, Esalq/USP
Unesp/Ilha Solteira
velocidades possibilita a decantação. Uma maneira de eliminar as impurezas, que se acumulam no final das mangueiras, é abrí-las periodicamente, permitindo assim, que essas impurezas sejam removidas antes que causem entupimento, principalmente, dos emissores localizados mais próximos ao final das mangueiras. É importante que a velocidade da água seja suficientemente alta para remover e transportar as partículas desprendidas das tubulações, podendo ser utilizado, no mínimo, 0,5 m/s. O tratamento físico, utilizando impactos mecânicos em toda a linha lateral, pode contribuir para que as impurezas que estão causando o entupimento
Fotos Rubens Coelho
da filtragem, de maneira a impedir o crescimento de bactérias dentro dos filtros. O uso de grandes quantidades de cloro pode prejudicar a regulação das membranas elásticas de alguns tipos de emissores auto-compensantes. Na irrigação localizada, a filtragem torna-se uma prática essencial ao bom funcionamento do sistema. Os filtros devem ser limpos (retrolavados), quando a perda de carga ultrapassar um valor máximo recomendado pelo fabricante. Alguns sistemas de filtragem possuem um sistema automático de retrolavagem. É importante considerar o diâmetro mínimo de passagem de água do emissor para selecionar o tamanho da malha do filtro. Uma forma de retirar parte do ferro da água de irrigação consiste em provocar sua oxidação e precipitação, antes do sistema de filtragem, para reter aí essas partículas. A oxidação do ferro pode ser obtida pela aeração da água por meio de arejadores de bandejas, por sistemas mecânicos, ou pela injeção de ar na água. Associada à aeração, pode-se recorrer à decantação. As formas reduzidas de manganês e ferro, quando oxidadas, podem precipitar e ser removidas por sedimentação, antes de sua entrada no sistema de irrigação. É necessário dimensionar o tanque de decantação, onde o escoamento de água a baixas
sejam removidas das paredes das tubulações e de dentro dos gotejadores, e sejam posteriormente removidas do sistema por meio da abertura do final da mangueira. Em resumo, a vida útil do sistema pode ser favorecida com uma análise da qualidade de água, sendo esta de fundamental importância, para operação do sistema de irrigação por gotejamento; uso de sistemas de filtragem eficientes para eliminar os entupimentos físicos; tanque de aeração ou sedimentação, controle do pH da água de irrigação e cloração para controle biológico e químico. Assim, a prevenção ao aparecimento da obstrução parcial ou total, dos emissores e linhas de distribuição, seria a melhor opção em relação à manutenção de sistemas por M gotejamento no campo.
M
Teixeira, Coelho e Melo trazem os principais cuidados a serem observados no sistema de gotejamento
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Máquinas
Detalhe da utilização de irrigação localizada na cultura da acerola
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Lançamento
monitor eletrônico Neri Ferreira
Sem falhas O
plantio é e sempre foi a principal preocupação do produtor, na agricultura. Plantar dentro do período indicado pela pesquisa é certeza de boa colheita. Se consideradas variantes como veranicos, pragas e doenças, o melhor mesmo é plantar corretamente e no período indicado. Entretanto, plantar certo, colocando a den-
sidade certa de sementes no solo, não é uma operação simples. Principalmente se considerarmos todos os problemas que podem ocorrer durante este serviço, como tubulações que entopem, discos que trancam a passagem das sementes, enfim uma infinidade de pequenos entraves que podem ser o gargalo no aumento e otimização da produtividade por hectare plan-
tado. A Agrofel, empresa situada em Porto Alegre (RS), está comercializando o monitor eletrônico de plantio OTM, a solução para as incertezas do plantio. Este aparelho de fácil instalação em qualquer plantadeira, está revolucionando o mercado agrícola. A tecnologia é composta por um circuito integrado, um monitor com luzes indicatórias, e sensores com raios infravermelhos, interligados por cabos condutores de informação. Basicamente, o aparelho avisa o operador, através do monitor de luzes indicatórias o que está acontecendo em cada uma das linhas da plantadeira. O sensor é instalado justamente onde caem as sementes. Um raio infravermelho é emitido constantemente com intermitência de milésimos de segundos pelo monitor de plantio, registrando a passagem das sementes e indicando que estão sendo plantadas. Se por algum motivo as sementes pararem de cair ou por outro lado se acumularem diante do raio emitido, o sistema de alerta do monitor emitirá um alarme sonoro e as luzes indicatórias do monitor apresentarão qual linha da plantadeira está com problema. Ele dispensa a contratação de um auxiliar de plantio, pessoa que se mantinha atrás da plantadeira “adivinhando” se estavam caindo sementes ou não. Até o lançamento do aparelho, certeza mesmo de que foi colocada na terra a densidade correta da cultura, só na emergência das plantas, momento em que só resta replantar, o que nem sempre resolve o problema. Como conseqüência o estande será desuniforme e haverá redução na produção. Segurança e produtividade com menos falhas no plantio é que melhor define o sistema de monitoramento de plantio. A Agrofel distribui com exclusividade nos Estados do RS, MS e MT e garante a assistência técnica, bem como as peças de reposição, com pessoal treinado na fábrica para a instalação do equipamento, inM clusive em plantadeiras em trabalho.
Filtros ar e óleo
Para não contaminar Qualquer máquina agrícola que utilize um motor de combustão interna precisa de filtros para reter as partículas contaminantes que trazem problemas de desgaste aos mecanismos onde circulam
T
odo trator ou máquina agrícola que se utilize de um motor de combustão interna para trabalhar, necessita da proteção de filtros para algumas finalidades específicas. Normalmente, tem-se pelo menos três filtros nestas máquinas: filtro do óleo lubrificante do motor, filtro do ar de admissão do motor e filtro de combustível. O filtro é uma peça que tem, como principal finalidade, a retenção de partículas contaminantes. A retenção dos contaminantes se dá através de um processo físico ou mecânico, por intermédio de um meio filtrante de tela, algodão, lã, poliéster, feltro, papel etc. Por serem abrasivas, estas partículas trariam problemas de desgaste considerável aos mecanismos onde estariam circulando. No filtro de óleo do motor, são retidas as partículas metálicas provenientes do desgaste excessivo ou natural das peças em movimento, partículas provenientes do processo de combustão do motor e partículas que penetram do exterior pelo ar de admissão que não foram retidas pelo filtro do ar. O filtro do ar retém partículas que estão em suspensão no ar aspirado pelo motor, principalmente a poeira. No filtro do combustível, são retidas as partículas que são prove-
O reservatório de pó deve ser limpo diariamente através da válvula de descarga de pó do filtro de ar
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Máquinas
nientes principalmente do contato do combustível com os reservatórios de armazenagem e transporte. Nestes casos, os filtros mais utilizados são os de superfície, tendo como meio filtrante, o papel. Este meio filtrante é composto por uma massa de celulose que em função do trabalho a realizar receberá uma medida de poros (micragem) para cada fim específico. Para óleo lubrificante e para o ar de admissão (serviço pesado), a medida varia de dez a 15 microns e para combustíveis de três a sete microns.
MANUTENÇÃO DO FILTRO DO ÓLEO Embora alguns fabricantes recomendem a substituição do filtro a cada duas trocas de óleo, substitua o filtro do óleo lubrificante do motor toda vez que trocar o óleo lubrificante. Esta providência trará maior eficiência e proteção ao seu motor. Lembrese de que o filtro é o único elemento de proteção que o motor possui contra as partículas nocivas a ele. O filtro saturado compromete os componentes móveis do motor, pois não mais remove partículas e contaminantes do óleo. Com o motor na temperatura de trabalho, escoe o óleo do carter e retire o filtro. Os filtros atualmente utilizados são selados, para retirá-los, utilize-se de uma cinta ou corren-
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te para este fim. Limpe a base, aonde a guarnição de borracha irá se assentar, utilizando pano limpo, nunca utilize estopa. Complete o filtro com óleo, o mesmo utilizado no motor. Com o dedo, passe uma pequena quantidade de óleo na guarnição de vedação, rosqueie o filtro no seu alojamento até o encosto e aplique mais ¾ de volta de aperto, sempre com as mãos. A utilização de ferramenta irá danificar o filtro. Cuidado ao descartar o filtro do óleo velho, resíduo do óleo lubrificante agride a natureza, pois em contato com a terra, torna-a estéril.
MANUTENÇÃO DO FILTRO DO AR A correta manutenção deste componente proporciona economia de combustível e maior durabilidade ao motor. Os sistemas de filtragem hoje utilizados são compostos de filtro primário e filtro secundário de segurança, ambos com elemento filtrante de papel. A carcaça dispõe de reservatório de pó e indicador de restrição. O reservatório de pó deve ser limpo diariamente, através da compressão da válvula de descarga com os dedos. A limpeza do elemento filtrante primário deve ocorrer quando o indicador de restrição indicar a necessidade. Para facilitar a visualização do indicador de restrição e desta
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“Caso haja obstrução constante dos filtros, um fato bastante comum devido à má qualidade do diesel, isto significará que o filtro está cumprindo o seu papel de reter as impurezas”
forma evitar que o motor trabalhe por longos períodos com restrição acima da normal, é interessante deslocá-lo para o painel de instrumentos ou próximo dele, onde a toda hora será visto pelo operador. Esta operação é simples e barata e pode ser feita facilmente por um bom mecânico. A manutenção do elemento primário é realizada, passando-se ar comprimido no sentido contrário à passagem do ar de admissão, estando o bico de ar a uma distância igual ou superior a cinco0 cm. do papel filtrante. Tome o cuidado de não utilizar pressão acima de 50 psi. Após a limpeza verifique a existência de “furos” no papel. Para isso, com o auxílio de uma lanterna ou lâmpada introduzida no tubo central do elemento, em local escuro, verifique a superfície filtrante. A existência de apenas um “furo” indica a necessidade de substituição do elemento. O número de limpezas para este elemento não deve ultrapassar a cinco e o controle é feito em etiqueta adesiva fixada no próprio filtro para esta finalidade. Para o elemento secundário, não é indicado nenhum procedimento de limpeza e, normalmente, o fabricante recomenda a sua substituição a cada mil horas de utilização. É interessante que não tendo sido indicada a necessidade de limpeza pelos meios acima mencionados, a cada três meses se faça uma inspeção completa de todos os elementos de filtragem de ar. Neste caso, além do filtro deve-se observar também mangueiras, abraçadeiras, fixação do coletor de admissão etc, ou seja, eliminar toda e qualquer possibilidade de entrada de pó no motor.
Fotos Marcos Bórmio
Exemplo de elementos do filtro de combustíveis, itens que auxiliam na retirada de impurezas
veis ao desgaste e de furos capilares e calibrados que entopem com facilidade. Substitua os elementos filtrantes de combustível de acordo com os procedimentos indicados pelos fabricantes das máquinas. Caso haja obstrução constante dos filtros, um fato bastante comum devido à má qualidade do diesel, isto significará que o filtro está cumprindo o seu papel de reter as impurezas. Neste caso, recomenda-se a limpeza do combustível antes de colocá-lo no tanque da máquina. Existem ,disponíveis no mercado, sistemas de limpeza através de filtragem ou centrifugação das impurezas. Caso o pequeno número de máquinas não justifique este investimento, mantenha limpos os reservatórios de transporte e armazenagem, e adquira seu combustível em postos de serviços onde haja estes sistemas
O filtro de combustível retira principalmente as partículas oriundas dos reservatórios
de limpeza. Lembre-se também de executar a drenagem do sedimentador de combustível diariamente. Abasteça o tanque a cada final de turno de trabalho, evitando assim o acúmulo de água devido à condensação do ar durante a noite.
QUE FILTRO UTILIZAR NA REPOSIÇÃO Para reposição de qualquer um dos filtros utilizados (do óleo, do ar e de combustível), verifique se estas peças têm sua utilização recomendada pelo fabricante da máquina. Filtros de segunda linha e de má qualidade não trarão os benefícios que deles se M espera. Marcos Roberto Bórmio, Unesp - Bauru
MANUTENÇÃO DOS FILTROS Estes componentes são projetados para retirar contaminantes e impurezas que danificam e entopem componentes de injeção, seja mecânica ou eletrônica. Estes sistemas são dotados de peças extremamente sensí-
Bórmio: “toda máquina agrícola que utilize um motor de combustão interna precisa da proteção de filtros”
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Máquinas
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Lançamentos máquinas
Agrishow
com mais tecnologia embarcada. Mesmo as empresas de implementos trouxeram inovações tecnológicas. São máquinas que dispensam a intervenção do operador; plantadoras que conseguem informar com precisão o número de sementes depositados no solo, e muitas outras novidades. É a nova realidade agrícola do país, que nos últimos anos conseguiu números excepcionais de produção e agora caminha rumo à liderança na produção mundial de grãos. Isso só acontece graças à sintonia que existe entre empresas de pesquisas, empresas de máquinas e produtores rurais. Se este espírito empreendedor persistir, o Brasil além de ser líder na produção de grãos, será também um referencial de produção com tecnologia. Acompanhe a seguir as principais novidades com as últimas inovações no que se refere à mecanização agrícola existente no Brasil.
SÉRIE 6000
Embaladas pela boa fase da agricultura brasileira, empresas de máquinas agrícolas apresentam equipamentos cada vez mais sofisticados para o setor
G
randes feiras merecem grandes lançamentos. E esta foi a regra nas edições deste ano do Agrishow Cerrado e Agrishow Ribeirão, realizados respectivamente de 13 a 17 de abril e de 26 de abril a 1 de maio. Somados, os dois eventos movimentaram em negócios R$ 2,45 bilhões. A edição 2004 realizada em Ribeirão Preto (SP) superou em 4,17% o montante dos negócios de 2003 e em 10% o número de público, atingindo a marca dos 150 mil visitantes. O número de expositores também passou de 540 em 2003 para 604 em 2004. Embaladas pelos bons números da agricultura nos últimos anos, as empresas de máquinas estão investindo cada vez mais em tecnologia e acessórios que possibilitem um maior aproveitamento do equipamento, maior capacidade operacional e, consequentemente, maior lucro para o produtor. As empresas sabem que
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o empresário rural definirá a sua compra baseado na melhor relação custo/benefício possível e que, em última análise, ele não se importa de pagar mais por uma máquina, desde que ele tenha certeza de que esta diferença se transformará em maior produtividade na sua lavoura. E o momento está propício para lançamentos de máquinas mais avançadas tecnologicamente. Como as últimas safras foram boas, os produtores estão mais capitalizados, sedentos por ampliar a produção e sabem que uma máquina avançada e precisa pode fazer a diferença.
Fotos Charles Echer
Pura tecnologia
A AGCO do Brasil lançou a série 6000 Massey Ferguson de tratores de alta potência para média e grandes propriedades, com motores entre 190 e 220 cv. Os modelos MF 6350 e MF 6360 possuem motor da geração Cummings da série C, seis cilindros, turbinado, com sistema de arrefecimento after cooling e mantém potência constante do motor na faixa de 1700 a 2200 rpm. O sistema hidráulico de três pontos com controle eletrônico Boschtronic, tem capacidade de levante que pode chegar a sete mil quilos. Através do terminal Datavision, que permite o trabalho com agricultura de precisão, é possível monitorar as principais funções da máquina. Eles possuem ainda um controle remoto de alta vazão, 120 l/min, que per-
LANÇAMENTOS A equipe da Cultivar Máquinas acompanhou os dois eventos e, agora, apresenta os principais lançamentos. Sem excessões, as empresas apresentaram máquinas mais avançadas,
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Os modelos MF 6350 e MF 6360 são os maiores tratores da família Massey Ferguson existentes no Brasil
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“Como as últimas safras foram boas, os produtores estão mais capitalizados, sedentos por ampliar a produção e sabem que uma máquina avançada e precisa pode fazer a diferença”
John Deere
O novo modelo da John Deere, com 200 cv, possui sistema de resfriamento direcionado, que assegura maior vida útil ao motor
mite a adaptação de um grande número de plantadoras, e alavancas com desarme automático que acionam o sistema com um simples toque e retornam sozinhas à posição inicial. A cabine Comfort Plus regula a temperatura interna, possui comandos localizados à direita do operador. O câmbio é mecânico, com transmissão sincronizada e duas alavancas. As marchas são escalonadas, com oito opções na faixa de trabalho que vai de quatro a 12 Km/h.
JOHN DEERE 7815 A John Deere está ampliando a sua linha de tratores e aproveitou para apresentar o modelo 7815, com motor de 200 cv. O trator possui sistema de resfriamento direcionado, que faz circular o líquido refrigerante próximo à parte superior das camisas dos pistões, reduzindo a temperatura na junta do cabeçote em cerca de 38Cº e nas camisas em cerca de 55Cº,
assegurando maior vida útil ao motor. O cabeçote em peça única, juntamente com as válvulas e a câmara de combustão, permitem grande fluxo de ar e possuem as características para gerar alto torque. O sistema de combustível conta com bomba injetora rotativa controlada por governador eletrônico. A transmissão é do tipo PowrQuad PlusTM, o acionamento eletrohidráulico, tem 16 marchas a frente e 16 a ré e a embreagem possui multidisco, auto-ajustável em banho de óleo. A cabine possui console lateral onde estão as marchas de acionamento eletro-hidráulico, os controladores de ar condicionado, as válvulas de controle remoto, o levante hidráulico com controle eletrônico, o controle das luzes, acelerador do motor com controle eletrônico, TDP e tração dianteira e o CommandCenterTM que informa os dados de velocidade, produtividade, consumo, autonomia e código de falhas. O tanque de combustível tem capacidades para 392 l, o comprimento máximo se suporte e pesos dianteiros e sem engate traseiro é de 5.389 mm e o peso médio de embarque é de 8,1 mil kg.
NOVIDADES CASE A Case IH apresentou o trator MXM 180, complementando a linha MXM Maxxum, a plantadora ASM 1224 e a colhedora de café
TCX 2100. O trator MXM 180, com 180 cv, proporciona a troca de marchas por comando de botão, a transmissão é do tipo Powershift, com 18 marchas à frente e seis à ré. O sistema hidráulico possui bomba de pistão de vazão PFC (Pressão e Fluxo Compensados), com fluxo máximo de 116 l/min. A cabine possui assento com regulagem pneumática, ar condicionado e área de visibilidade de 5,7 m2. A plantadora tandem ASM 1224, implentento apresentado como complemento para o trator MXM 180, tem na sua configuração básica 24 linhas e é articulada na parte central com angulação de 20 graus acima e 20 graus a baixo, permitindo que a máquina acompanhe bem as irregularidades do terreno. Dependendo das condições do terreno, ela é capaz de plantar de 80 a 100 ha/dia. Outra novidade foi a colhedora de café TCX 2100, tracionada por trator, que opera em solos com até 12% de declividade e possui pneus de alta flutuação. A máquina pesa 4.05 mil kg, tem rendimento de 90% na colheita, que devido a sua amplitude de vibração permite a colheita seletiva. Somando-se o trator e a colhedora, o comprimento médio fica em 8,6 metros. Os controles elétricos permitem que apenas uma pessoa opere a colhedora e o trator. Depois de colhidos os grãos saem da máquina a granel ou em sacos e o ensaque acontece na parte traseira da máquina numa cabine. Além de derriçar, abanar e recolher café, a TCX2100, retira as folhas e os galhos doentes com suas varetas vibratórias, o que auxilia no controle fitossanitário.
MONITOR PARA PLANTADORA A Agrosystem, empresa paulista que possui linha de equipamentos para a agricultura de precisão, apresentou o monitor para plantadora, o PM 400, da Dickey-John, que monitora sementes e adubo. O PM 400 possui display luminoso, possibilitando o trabalho noturno, os alarmes são configuráveis para velocidade de plantio, falhas nas linhas de sementes e de adubo. O monitor permite que a visualização das
A Case IH apresentou três novidades: uma colhedora de café, o trator MXM 180 e a plantadora de 24 linhas, específica para a nova série de tratores
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“Embaladas pelos bons números da agricultura nos últimos anos, as empresas de máquinas estão investindo cada vez mais em tecnologia e acessórios que possibilitem um maior aproveitamento do equipamento e maior capacidade operacional ”
Agrosystem
Fotos Charles Echer
O TM 400 possui display luminoso, possibilitando o trabalho noturno, e alarmes são configuráveis
informações seja configurada de acordo com a necessidade do agricultor, que pode escolher como elas serão apresentadas. As informações disponíveis no monitor são a população de sementes por linha e média da plantadora, espaçamento entre sementes por linha e média da plantadora, sementes por metro, duas áreas parciais, área total plantada e velocidade real de trabalho. Apresenta, ainda, compatibilidade com sensores e cabos Dickey-John e entrada RS 232 opcional para comunicação com computador.
UNIPORT NPK CANAVIEIRO A Jacto apresentou ao mercado o Uniport NPK Canavieiro, que faz a aplicação de adubo sólido granulado. O equipamento é automotriz, muito parecido com o Uniport pulverizador, e tem capacidade de três mil kg, sistema de distribuição de adubo por barras assistidas a ar. A máquina permite uma variação de dosagem
Novo pneu da Goodyear específico para máquinas florestais e duas novas mangueiras de alta pressão
de 30 a 800 kg/ha e adubação na linha da cana ou em faixa. O Uniport faz aplicações com taxas variáveis seguindo mapas de ferilidade do solo com orientação do DGPS. O controlador JFC permite aplicações precisas mesmo em velocidades que podem chegar a 18 Km/hora. A cabine é contruída com paredes duplas, possui ar condicionado, banco com ajuste, volante escamoteável e comandos dispostos de forma ergonômica.
O REI DA FLORESTA A Goodyear lançou o Logger Lug II para completar sua linha de pneus superflot. Ele foi desenvolvido para ser utilizado em tratores florestais. Sua carcaça é diagonal com cintas amortecedoras em aço, possui desenho de barras abertas em ziguezague, facilitando a limpeza e melhorando a tração em terrenos inconsistentes. Os amortecedores de aço protegem o pneu contra cortes e perfurações. O produto está disponível em quatro medidas: 23.1-26 16PR (carga máxima 6,3 mil Kg), 28L26 - 14 PR -
(carga máxima 5,940 Kg), 24.5-32 - 16PR (carga máxima 7 mil Kg) e 30.5-32 - 16 PR (carga máxima 7,450 Kg). A empresa apresentou ainda a mangueira Spira Wing, para serviços de água e ar, com alta adesão entre os componentes, aumentando a resistência à abrasão, interpéries e à pressão de trabalho, com fator de segurança 4:1.
TS 100 PARA CANA A New Holland trouxe, para o setor canavieiro, o trator TS 100 versão para carregadora de cana. O modelo de 104,4 cv, possui tração 4x4 e versão com transmissão 24x24, com embreagem hidráulica. O modelo recebeu uma trombeta de ferro fundido modular e reforço no eixo traseiro direito, como compensação a garra que é instalada nesse lado da máquina. Para que o trator possa receber a carregadora de cana, foram retirados faróis dianteiros e traseiros, plataforma, paralamas dianteiros, barra de tração, escadas, válvulas de controle remoto, arco de segurança, toldo, acelerador de mão e defletores. O novo TS 100 sai da fábrica pronto para receber o equipamentos e é indicado para a colheita manual de cana.
ROSCAS VARREDORAS A descarga de silos sempre sempre foi um problema nas propriedades rurais. Acidentes com funcionários por ocasião da descarga, eram fatos corriqueiros. Sistema de descarga embuchado, avanço da rosca deficitário. A nova família de Roscas Varredoras Kepler foi lançada com a intenção de solucionar estes problemas. Ela possui avanço automático, isto é, não precisa da ação de nenhum trabalhador. Com relação a captação dos grãos, ela faz uma varredura perfeita do fundo do silo. Deixa apenas quatro centímetros de camada de grãos no fundo do silo, dispensando dessa forma a necessidade de trabalhadores no interior do silo para rechegarem os cereais a fim de
Distribuidor de NPK canavieiro tem capacidade para 3 mil kg de adubo e possibilita a deposição em linhas de cana ou em faixas
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“Com a assinatura do protocolo de cooperação técnica , o Sistema Agrishow será responsável pela propriedade onde é realizado o evento até pelo menos 2011”
Fotos Charles Echer
TM 100 para carregamento de cana recebeu uma trombeta de ferro fundido modular e reforço no eixo traseiro direito
descarga. Mais reforçada, possui o dorso abaulado o que impede a formação de camadas sobre ela. A descarga é contínua, sem variações de fluxo, tornando a descarga mais rápida. Três sãos os modelos disponíveis ao mercado, 50, 100 e 150 t/h.
VAGÃO TRANSBORDO A Santal, empresa brasileira que atua no setor de máquinas e implementos agrícolas, lançou para o mercado de grãos um sistema de transporte, o veículo de Transbordo para Grãos, VTG – Santal. O VTG Santal trabalha através de transbordamento. A elevação e o basculamento lateral da cesta de armazenamento do veículo, ao invés do tradicional tubo de descarga com “rosca sem fim”, diminui as per-
Neri Ferreira
Nova rosca varredora da Kepler Weber, possibilita descarga mais rápida e menos perdas de grãos
das por quebra. Em pouco mais de um minuto o sistema hidráulico do veículo é capaz de descarregar 11 toneladas de soja, milho ou outros grãos ou 8 toneladas de milho em espigas. A máquina conta ainda com pneus de alta flutuação, desponíveis na versão Tandem. A altura de transbordamentochega a 4,5m e a altura de carregamento pode chegar a 2,5m. A capacidade de carga é de 4 toneladas ou 12 metros cúbicos. A Santal é uma empresa que tem grande experiência no setor sucroalcooleiro, onde atuava exclusivamente, e que agora está entrando M também no setor de grãos.
Vagão de transbordo para grãos com basculamento diminui pela metade o tempo de descarga
Tecnologia e infraestrutura aos visitantes e expositores s eventos agrícolas se tornaram ponto de encontro dos mais diversos profissionais do agribusiness brasileiro. Neles circulam gente com os mais diversos interesses. E como os eventos acontecem a cada dia em lugares diferentes do país, essas pessoas vivem muito mais nestes locais onde estes se realizam do que em suas bases de ação. Por isso a preocupação com a infraestrutura tanto da cidade como do parque de realização do evento, ganhou tanta importância. Além disso, expor a alta tecnologia em lugares inóspitos, quase embassa o brilho dos produtos. Neste aspecto Rondonópolis, a Fundação Mato Grosso, nas pessoas de seu Superintendente Dario Hiromoto e Sandro Romão, realizadores do Agrishow Cerrados, estão de parabéns. Não bastassem os mais de 1 bilhão de
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negócios realizados, o que por si só já demonstra o nível do evento, a preocupação com o visitante foi uma constante. Foram pensados os mínimos detalhes. Os sanitários bem cuidados, praças de descanso com coqueirais, avenidas asfaltadas. Enfim, tudo no mais alto nível de urbanização. Como convém ao nobre anfitrião. Neri Ferreira
O
No Agrishow Cerrado os participantes desfrutaram de ruas asfaltadas e praças para descanso
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MUDANÇAS EM RIBEIRÃO Devido ao transtorno causado pela chuva no Agrishow Ribeirão, a comissão organizadora promete investir pesado em infra-estrura para o próximo ano. Com a assinatura do protocolo de cooperação técnica entre o Sistema Agrishow e a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o Sistema Agrishow será responsável pela propriedade onde é realizado o evento até pelo menos 2011. “A Agrishow Ribeirão Preto é a feira da tecnologia e da produtividade, reunindo pequenos, médios e grandes produtores rurais. Com o protocolo assinado com o governo do Estado de São Paulo poderemos investir nas instalações, dando melhores condições de trabalho e realização de negócios para os expositores e visitantes”.
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Trator teste
A cara do dono Lançado no ano passado, o trator Valtra BL 77 tem como principal característica, a vantagem de ser configurável, de acordo com a necessidade de cada produtor. A equipe da Cultivar Máquinas testou e avaliou uma versão 4x4 com 77cv de potência
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uma iniciativa inédita no mercado nacional, a Valtra lançou no ano passado um trator da linha leve, configurável, ou seja, o produtor, ao adquirir a máquina, pode ajustá-la de acordo com as principais necessidades. Ao optar pelo modelo BL (B= Brasil, L= leve), o comprador pode escolher entre duas opções de motorização, passando pela transmissão de potência, quantidade de marchas, tipos de rodados, tração dianteira auxiliar, configuração de hidráulico e outros itens da sé-
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rie. A equipe da Cultivar Máquinas testou um modelo BL 77 4x4 no campo de dinâmicas da Expodireto 2004 e avaliou o desempenho desta máquina de configuração opcional da Valtra, conforme você verá a seguir.
MOTORIZAÇÃO Os motores da linha BL são de fabricação própria, da série 20.0. O modelo testado é equipado com um motor Valtra
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320DSR turboalimentado de 3,3 litros, diesel com injeção direta. Funciona em quatro tempos, três cilindros com camisa úmida removível gerando uma potência de 77 cv (ISO 1585) a 2300 rpm, com um torque máximo de 290 N.m a 1400 rpm. O sistema de injeção possui pré-flitro e filtro duplo de combustível, com bomba injetora rotativa com regulador incorporado. O modelo tem uma reserva de torque de 23,5%, número bom, se comparado com outros modelos da mesma faixa de potência.
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“Além da transmissão configuração standard, existem mais duas configurações: com multiplicador ou redutor”
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TRANSMISSÃO O trator testado estava equipado com transmissão com embreagem dupla de discos secos de 295 mm, de acionamento mecânico e revestimento orgânico. A caixa de câmbio possui oito marchas à frente e duas à ré, com sistema de lubrificação sob pressão e arrefecimento deste a ar com radiador. Além da configuração standard, do modelo testado, existem mais duas configurações: com multiplicador ou redutor. O multiplicador permite 16 velocidades para frente e oito para trás, sendo que sete velocidades estão na faixa de operação entre 4 e 12 km/h, característica extremamente desejável em tratores agrícolas, principalmente em utilitários desta faixa de potência. Para operações que exigem velocidades menores, é possível configurar a máquina com a transmissão de 12 velocidades à frente e oito para trás, possibilitando velocidade mínima de 0,8 km/h.
TOMADA DE POTÊNCIA O acionamento de máquinas através da árvore de tomada de potência pode ser feito pelo padrão predominante no Brasil, 540 rpm, fornecendo potência de 67.2 cv a 1890 rpm no motor. Outra opção é a tomada utilizada a 540 rpm no chamado modo econômico, quando se obtém 61.5 cv a 1540 rpm no motor. A “nova” tendência (já consolidada na Europa) de TDP a 1000 rpm também está disponível, com 71cv a 2074 rpm no motor. Esta opção proporciona potência constante para implementos mais pesa-
O sistema hidráulico aceitar óleo mineral, vegetal ou sintético mantendo a eficiência
dos, como máquinas forrageiras. A TDP é controlada por uma embreagem independente operada manualmente, que permite ao operador acionar ou desacioná-la sem necessidade de acionar a embreagem do trator.
SISTEMA HIDRÁULICO O sistema hidráulico, apropriadamente, é da categoria II, com estabilizadores ajustáveis. A capacidade máxima de levante é de 3.300 kgf (2.200 kgf a 610mm do olhal), pressão máxima no sistema de 18 MPa e vazão máxima de 40 l/min. São valores consideráveis para um trator des-
O motor é montado com lado frio (esq.) e lado quente (dir.), onde todos os componentes do sistema de alimentação são posicionados no lado da admissão (“lado frio”) facilitando as verificações
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“Além das características construtivas e do excelente desempenho desta máquina amarela, o sistema de comercialização com as especificações por encomenda é, sem dúvida, seu ponto alto”
primento, com contrapesos; tem 1,73 m de altura máxima; largura máxima de 2,06 e distância entre eixos de 2,11 m. As bitolas dianteiras no modelo 4x4 podem ser ajustadas entre 1,42 m e 1,75 m e o ajuste da bitola traseira vai de 1,39 m a 2,12 m. O raio de giro é de 3,5 m. O vão livre sob a barra de tração é de 435 mm, valores interessantes para um trator deste porte.
CONFORTO E DIRIGIBILIDADE
O paralama também é uma novidade para a categoria e um opcional para o produtor
ta categoria. Certamente não há de faltar-lhe capacidade do hidráulico. O controle remoto pode ser com uma, duas ou três válvulas de dupla ação com engate rápido, circuito em série. Uma característica de muito valor econômico e prático é a de o sistema hidráulico aceitar óleo mineral, vegetal ou sintético com a mesma eficiência de operação.
DIMENSÕES E PESOS O BL 77 mede 3,69 metros de com-
O painel de instrumentos amplo, fácil e acessível, proporciona ao operador todas as informações sobre as funções básicas da máquina. Mostradores analógicos indicam os níveis de combustível, a rotação e temperatura do motor entre outros. Um porta-luvas localizado abaixo do painel, possibilita guardar o manual de operação do trator e outros documentos necessários ao tratorista, além de permitir fácil acesso ao painel de fusíveis. O trator vem equipado com uma estrutura de proteção (ROPS), com dois pontos de apoio, cinto de segurança para o operador (o que é mandatário, quando da presença do arco de segurança) e teto de proteção. O trator pode ser montado ou não com este acessório, que, porém, deveria ser obrigatório em todos os tratores. O sistema de iluminação também é bastante completo, incorporando as funções básicas necessárias ao tráfego em rodovias vicinais.
MANUTENÇÃO
O painel é bastante completo, simples e de fácil entendimento, proporciona ao operador todas as informações sobre as funções básicas da máquina
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Para proporcionar maior facilidade de manutenção, as chapas laterais do trator são encaixadas em travas de borracha, o que facilita muito o acesso ao motor. Com o conceito de “lado quente – lado frio” do motor, onde todos os componentes do sistema de alimentação são posicionados no lado da admissão (“lado frio”), as verificações e a manutenção ficam ainda mais simplificadas. Um detalhe que atrapalha na hora de realizar a manutenção é a retirada das chapas late-
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rais. A tampa do motor, ao ser basculada, tranca no suporte do retrovisor, dificultando a retirada. Um pequeno ajuste no suporte ou na tampa poderia resolver o problema.
Linha BL77 MOTOR Tipo Cilindros
CONSIDERAÇÕES GERAIS Toda a linha de tratores Valtra tem há décadas como característica construtiva o tanque estrutural de aço, localizado entre o motor e a transmissão. Isto proporciona uma melhor distribuição de peso (abaixa a localização do centro de massa), possibilitando a sua utilização em diferentes tipos de terreno, além de preservar as características do combustível, já que o mesmo fica longe do calor do motor. Os tratores Valtra têm conjuntos e componentes padronizados em toda a sua gama de modelos, reduzindo a quantidade de peças de reposição tanto do concessionário quanto do cliente. Além das características construtivas e do excelente desempenho desta incrível máquina amarela, o sistema de comercialização com as especificações por encomenda é, sem dúvida, seu ponto alto. Uma forma efetiva de buscar a satisfação do cliente, atendendo realmente suas necessidades. Basta operar um BL para se sentir o quanto avançou a tecnologia e o desempenho dos tratores, e que estas características agora também estão acessíveis aos pequenos e médios produtores. Um trator que os laboriosos e preparados agriM cultores merecem! AD e CE
Cilindrada total Potência do motor (ISO 1585) Torque máximo (ISO 1585) Sistema de injeção
valtra 320DSR Turboalimentado Diesel, Injeção direta, 4 tempos 3 com camisa úmida removível e suporte intermediário 3.300 cm3 77 v 2300 rpm 290 Nm a 1400 rpm Pré-filtro e filtro duplo. Bomba injetora rotativa com regulador incorporado
TRANSMISSÃO DE POTÊNCIA Embreagem simples ou dupla para TDP independente (*) Caixa de câmbio
Disco seco de 295 mm com acionamento mecânico e revestimento orgânico Com 8 marchas à frente e 4 à ré, com sistema de lubrificação sob pressão e arrefecimento a ar com radiador
TOMADA DE POTÊNCIA
Potência a 540 rpm Potência a 540 rpm (econ.) Potência a 1000 rpm Rotações
35mm (1 3/4”) de diâmetro, 6 estrias, mais adaptador de diâmetro 35mm 6 estrias 67.2 cv a 1890 rpm no motor 61.5 cv a 1594 rpm no motor 71.6 cv a 2074 rpm no motor 540/540+540E/540+1000 rpm (*)
SISTEMA HIDRÁULICO Categoria Capacidade máxima de levante Pressão máxima no sistema Vazão máxima no hidráulico Controle remoto
II , com estabiliz. reguláveis 3300 kgf (2200 kgf a 610 mm do olhal) 18 MPA 40 l/min Uma, duas ou três válvulas de dupla ação com engate rápido, circuito em série e sistema hidráulico de 3 pontos
DADOS 4X4 Medidas em mm Comprimento máximo (com contrapesos) Altura máxima (no painel) Largura máxima Distância entre eixos Vão livre (sob a barra de tração) Bitolas dianteiras (ajustáveis) Bitolas traseiras (ajustáveis) Raio de giro livre Pesos (kgf) - Peso em ordem de marcha lastrado Capacidades (litros) - Tanque de combustível
Carter do motor Sistema de arrefecimento Caixa de câmbio, TDP e transmissão final
Hidráulico Eixo dianteiro Direção Freios
3892 1720 2065 2255 435 1425 a 1754 (4x4) 1398 a 2125 3.5 4435 79+27 7 11.5 28 38 6.1 Hidrostática A disco em banho de óleo e independente nas rodas tra-
As chapas laterais podem ser completamente removidas, para acessar o motor
seiras. Freio de estaciona-
O suporte do retrovisor atrapalha a abertura da tampa, obrigando o operador a retirá-la para a manutenção
mento mecânico (*) Opcionais
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Lançamento pulverizador
Direção via satélite Fotos Neri Ferreira
net, sem custos adicionais.
TIRANDO AS DÚVIDAS
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Jacto, empresa líder do setor de pulverizadores, lançou em Ron donópolis, durante o Agrishow Cerrados, o Uniport 3000 com sistema de direção Autopilot. Este sistema, uma inovação na área de pulverizações, pressupõe uma série de vantagens em relação ao já existente sistema de direcionamento por barras de luzes indicatórias do trajeto. A principal delas é que o nível de acerto do alinhamento a ser seguido pelo Uniport é quase de 100%, pois o erro lateral é de apenas 12 centímetros. Uma medida realmente diminuta, se comparada à largura da roda do pulverizador, que tem em torno de 31 centímetros. Os benefícios econômicos que a tecnologia transfere ao produtor são evidentes. Basta pensar que em pulverizadores convencionais, mesmo com a instalação de balizamentos, é difícil ao operador manter-se em linha reta, sendo comum os ziguezagues pelas lavouras. Nestes movimentos não-retilinêos, a perda se dá pelo não-controle da praga nas áreas onde não cai defensivo. Já no caso de o pulverizador invadir a faixa aplicada no tiro anterior, a sobreposição do defensivo também se torna uma perda. A curto prazo, gera aumento do gasto de defensivos e a morte de plantas em caso de aplicação de herbicidas. A médio e longo prazo, o dano fica por conta da agressão desnecessária ao ambiente. Em relação ao custo do equipamento, o desembolso inicial é um pouco maior, em torno de 20% do preço total da máquina,
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Máquinas
que hoje está em torno de R$ 320 mil. Porém consideradas as vantagens sobre os demais produtos desta classe, ele pode se justificar facilmente. Segundo Chiqui Alvarez e Gustavo Galante, da Trimble e Santiago e Cintra respectivamente, parceiros da Jacto neste programa tecnológico, qualquer inovação futura que for introduzida ao sistema Autopilot de direção, poderá ser incorporado à equipamentos que já estejam operando no campo. Basta que o produtor acesse essa inovação na página da empresa, através da inter-
Para evitar que os participantes da coletiva de lançamento do Uniport com Autopilot, saíssem com dúvidas sobre o que foi dito, a Jacto proporcionou uma espécie de teste drive no campo de demonstrações do parque de eventos da Fundação MT, onde se realizou o Agrishow Cerrados. Ao entrar no tiro de aplicação, o que se precisa fazer é apertar um único botão. Daí em frente o sistema será ativado e o GPS fará a leitura da coordenada inicial. Quando a máquina chega ao final do tiro faz-se a mesma operação, pressionando o mesmo botão, desligando o GPS e manobrando a máquina para que entre na lavoura novamente. Como o sistema já foi programado para andar numa coordenada paralela ao alinhamento anterior, tira-se as mãos da direção e o milagre acontece, o Uniport vai sozinho ao novo tiro. Alberto Honda, gerente de marketing da Jacto diz que “não fossem as manobras de entrada e saída do tiro de aplicação na lavoura, seria possível dispensar o operador da máquina”. O sistema, por enquanto pilota automaticamente a máquina apenas em linha reta, mas já existem pesquisas com o intuito de possibilitar o uso de autopilot tamM bém para aplicações em curvas. NF
O pulverizador busca seu alinhamento a partir de coordenadas enviadas por satélite
Alberto Honda, “com o autopilot poderíamos dispensar o operador, não fossem as manobras”
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Acelera...
Fotos Arno Dallmeyer
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esta edição estamos abrindo definitivamente o espaço ao “Arrancadão”, conforme anunciado na edição anterior, através do início da publicação do regulamento (supervisionado pela Federação Paranaense de Automobilismo) desta modalidade, e da sua categoria mais imponente, o Tratorshow. Incrível como este pessoal conseguiu arregimentar forças, e transformar uma atividade lúdica surgida em 1990 em uma categoria de expressão nacional, reconhecida por outra revista de porte e qualidade, como a Quatro Rodas, ou pela Bandsports na televisão através Sílvio Luis e Barbara Gância, apresentadores do programa “Dois na Bola”. Ao mesmo tempo promove a cidade de Maripá no Paraná, berço da categoria, e que também investiu, construindo no ano
Vermelho? M
uitas pessoas devem ter feito esta espantada pergunta ao desembarcar de aviões ou simplesmente ao visitar os principais aeroportos do Brasil e defrontar-se com um trator John Deere na cor vermelha. Desvendando o mistério: trata-se de um lote de 60 tratores adquiridos pela TAM em outubro de 2000, sendo 20 unidades de JD 7500 4x4 com a finalidade de rebocar os aviões da empresa nas operações de manobra e manutenção, e 40 do modelo 5605 4x2 aplicados na tração de carretas e deslocamentos de cargas. Inicialmente vendidos na cor branca pela fábrica, foram posteriormente repintados em vermelho, certamente para comunicar mais fortemente as cores da empresa aérea. Conta a lenda que foi a primei-
passado seu “tratoródromo”. Iniciativas como esta devem ser reconhecidas e apoiadas, como já o fazem a Vipal, a Firestone e a BR (Petrobrás). Menos conhecidas talvez fora de seu âmbito de atuação, mas não menos importantes, apóiam também: a Cooperativa Agropecuária C.Vale (com 7.200 cooperados e 2.800 empregados, atuação em 4 estados e 2 países) e a Rodafuso Agrícola (parafusos e rodas). Os organizadores têm estado presentes nos
maiores eventos do Agronegócio brasileiro, mostrando e demonstrando suas máquinas. Foi o caso do Agrishow de Ribeirão Preto (SP), onde “juntou gente” para ver as aceleradas dos tratores nos estandes dos patrocinadores do evento (veja na imagem acima). Não deixem de ler também a coluna de curiosidades (Vermelho?). Esperamos tê-los todos conosco na próxima edição, com mais novidades das categorias e das equipes. Até lá!
ra vez que a John Deere pintou tratores em uma cor que não fosse o verde tradicional (ou o amarelo das máquinas de construção civil). A opção pelo JD 7500 (hoje 7505) para a tração de aeronaves certamente deu-se devido ao motor turbinado de 103 kW (140 cv), à embreagem hidráulica multidiscos, arrefecidos a óleo, e à transmissão hidrostática com 16 marchas à frente (e 16 à ré) que possibilita a troca de quatro marchas Power Shift sem embreagem e sem interromper o fluxo de potência para cada um dos quatro grupos totalmente sincronizados. Tem um acionamento suave, e oferece vida longa sem manutenção. Já o JD 5605, nas operações de transporte que tem que ser rápidas e eficientes (alguém tem paci-
ência para esperar sua mala nas esteiras?) tem nas características do motor de 55 kW (75 cv), embreagem com disco cerametálico, e transmissão sincronizada com 09 marchas à frente e 03 à ré. Para parar ambos os tratores têm freios a disco em banho de óleo, com acionamento hidráulico auto-ajustável. Na hora de voar, a imagem de confiabilidade e segurança já começa no solo... Boa viagem!
Arrancadão
D
as amplas regras que regem as competições de arrancadão extraímos as principais características, para que o leitor possa se situar no tema: A pista de arrancada terá ao todo 400 metros de comprimento e 13 metros de largura, totalmente pavimentados. A competição se fará nos 200 metros iniciais da pista, os 200 metros finais da pista servirão para desaceleração e frenagem. As provas são divididas em três cate-
gorias, a saber: Tratorshow; trator aspirado sub-100 (massarikão); standard. Por uma questão de espaço nesta edição publicamos as regras da categoria de mais impacto, a partir da próxima edição.
Próximo número Conheça as regras e saiba mais sobre a categoria Tratorshow
Informe jurídico • Newton Peter • OAB/RS 14.056 • consultas@newtonpeter.com.br
Denuncia espontânea
E
m Potsdam aconteceu a primeira grande conferência para definir os rumos da Europa após a Segunda Guerra Mundial. A certa altura do encontro, o presidente norte-americano, Henry Trumman, comunicou ao ditador soviético Joseph Stalin a existência de uma nova arma, a bomba atômica. Stalin não deu importância ao fato. Desdenhosamente, sugeriu a Trumman que fizesse bom uso da arma contra os japoneses. O americano saiu de lá achando que não fora compreendido. Na verdade, Stalin sabia da bomba há mais tempo que Trumman (vice-presidente que assumira a presidência há pouco). Mas prolongar a conversa significaria admitir inferioridade militar e perder poder da barganha na disputa pelos territórios conquistados. Assim era Stalin: em momento algum reagia ao perigo com medo, mesmo quando deveria tê-lo. Convencido de que mostrar fraqueza faz o adversário mais exigente, ele sempre tentava ocultar dilemas estratégicos com a intransigência. Nem todos podem ser como o ditador soviético. Alguns não têm sangue-frio suficiente para encarar situações de risco; outros, ao calcular, optam por evitar o perigo. No caso do Direito Tributário, quando o contribuinte recolhe menos imposto do que deveria, há um jeito de zerar a dívida com a Secretaria da Receita Federal (SRF) e escapar das multas. Prevista no Código Tributário Nacional (CTN), a denúncia espontânea acontece quando o contribuinte confessa e salda a dívida. Dentre os benefícios está a dispensa do pagamento de multa. Correção monetária e juros de mora, claro, serão cobrados. Do contrário, seria mais vantajoso atrasar o pagamento e aplicar o dinheiro num fundo de investimentos, algo tentado por algumas empresas.
A DENÚNCIA ESPONTÂNEA O Art. 138 do CTN prevê, na confissão de dívida do contribuinte, eliminação da multa por não-pagamento. É um grande incentivo, pois a multa aumenta consideravelmente o valor a ser pago. Todavia, o benefício pressupõe a ausência de qualquer tipo de lançamento, isto é, o Fisco não pode ter conhecimento prévio da irregularidade nem ter instaurado procedimento de fiscalização, que poderia levar à descoberta do erro e, portanto, modifica o caráter de espontaneidade confissão. Em alguns casos, o Judiciário entende que sequer pode haver registro do erro nos livros escriturais ou contábeis do contribuinte. Conforme o Judiciário, a denúncia espontânea existe como incentivo ao contri-
buinte para informar situações de ocorrência de fatos geradores que foram omitidos, como aquisição de mercadorias sem nota fiscal, venda com registro de preço aquém do real e casos semelhantes. Deve-se observar ainda que os juízes têm prolatado sentenças baseadas na tese de que o parcelamento do débito exclui a possibilidade do benefício da denúncia espontânea, visto estar desmembrado o cumprimento da obrigação, só saldado com o pagamento total. Parcelamento não equivale a pagamento. A quitação de uma parcela não garante o pagamento total da dívida. Para quem tem dívidas com a SRF, a melhor opção é consultar o seu advogado e avaliar todos os cenários, principalmente os econômicos, para decidir qual a melhor alternativa.
Decidido nos tribunais Denúncia espontânea? - O instituto da denúncia espontânea não alberga a prática do ato puramente formal de entregar, com atraso, a Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF). As responsabilidades assessórias autônomas, sem vínculo direto com a existência do fato gerador do tributo, não estão alcançadas pelo Art. 138 do CTN. Assim, a apresentação da DIRF fora dos prazos previstos sujeita o infrator às penalidades legais, reduzidas à metade no caso de apresentação anterior a qualquer procedimento de ofício.
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Máquinas
Horas extras - O empregado dispensado da marcação de ponto deve apresentar, em juízo, as provas da ampliação de sua jornada de trabalho a fim de ter reconhecido seu direito à percepção de horas extras. Esse reconhecimento do ônus da prova sobre o trabalhador foi expresso pela Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho ao afastar um recurso de revista interposto por um ex-empregado da TV SBT Canal 4 de São Paulo S/A.
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Maio 2004