Do editor Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160 – 12º andar 96015-300 – Pelotas – RS www.cultivar.inf.br www.grupocultivar.com Direção Newton Peter Schubert K. Peter
Cultivar Máquinas Edição Nº 36 Ano III - Novembro 2004 ISSN - 1676-0158 www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Prezado leitor Otimizar o aproveitamento das máquinas e implementos agrícolas de forma que uma frota mais enxuta dê o mesmo resultado de uma frota maior é um dos eternos desafios dos produtores. Nosso artigo de capa vai auxiliá-lo na escolha dos equipamentos de acordo com a necessidade de cada propriedade, bem como mostrar métodos que ajudarão a aumentar o desempenho das máquinas e, ao mesmo tempo, diminuir o tempo ocioso entre as atividades. Outros três destaques desta edição estão na mesma linha do artigo de capa. Um deles é sobre a regionalização de projetos, mostrando as adaptações que algumas grandes empresas estão fazendo para atender necessidades peculiares de regiões diferentes. Outros dois artigos que merecem atenção falam de colheita mecanizada de batata, uma saída para os agricultores que destinam sua produção à indústria; e aplicação localizada de fertilizantes. Essa edição traz também um caderno técnico sobre colheita mecanizada de feijão, mostrando as diversas alternativas e as máquinas utilizadas na operação.
Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 • 70,00
Uma boa leitura a todos!
Índice
Nossa Capa
• Editor
Charles Ricardo Echer • Redação
Rocheli Wachholz • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia _____________
• Comercial
Pedro Batistin _____________
• Gerente de Circulação
Cibele Costa • Assinaturas
Rosiméri Lisbôa Alves Jociane Bitencourt Simone Lopes
Rodando por aí Custo horário de máquinas e implementos Preparo do solo Colheita semi mecanizada de café Regionalização de projetos Aplicação localizada de fertilizantes Colheita mecanizada de batata 4x4 - Trechos com pedras Lançamento Jacto Lançamento FEI Lançamento Civemasa Entrevista Valtra Negócios - Conird Esporte Trator Coluna jurídica
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Capa Valtra
• Gerente de Assinaturas Externa
Raquel Marcos • Expedição
Edson Krause Dianferson Alves
Destaques Aliados na produção
• Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Saiba otimizar a frota agrícola e melhorar o desempenho de máquinas e implementos, garantindo mais rendimento em menos tempo .................................................... 06
NOSSOS TELEFONES: (53) • ATENDIMENTO AO ASSINANTE:
3028.4013
Projetos regionais
• ASSINATURAS:
3028.4010 / 3028.4011 • GERAL
3028.4013 • REDAÇÃO:
3028.4002 / 3028.4015 • MARKETING:
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3028.4001 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Caderno especial Colheita
Para satisfazer os clientes, as empresas de grande porte estão tendo que reprojetar máquinas de acordo com realidades regionais ................................................... 18
Aplicação seletiva Projetos para aplicação localizada de fertilizantes já caminham a passos largos podendo ser, em breve, uma realidade nas lavouras ................................................... 22
Rapidez e menos esforços A colheita mecanizada de batata é uma alternativa para produção destinada à indústria, que exige agilidade no processo ................................................... 26
Rodando por aí
Pop List Rural A Belgo Bekaert Arames recebeu o prêmio Pop List Rural 2004 na categoria arames para a agropecuária, em Goiânia (GO). O Pop List Rural, que chegou a sua 7ª edição, foi entregue ao gerente geral da Belgo Bekaert, Ricardo Castilho. De acordo com Rodrigo Carrara, da gerência de Marketing da empresa, o prêmio é resultado do trabalho de fortalecimento da marca .
EDI
A todo vapor O Rio Grande do Sul está finalizando a colheita do trigo e, no meio de tantas lavouras, é possível encontrar algumas raridades. Na lavoura de Vitório Machiavelli, em Tapera, uma colhedora Claas de 1976 ainda trabalha a todo o vapor. “Ela está bastante velha, mas continua colhendo como se fosse nova. Tenho outra colhedora nacional que comprei há poucos anos, mas esta me acompanha em todas as colheitas”, garante.
Reaproveitamento
Jacob LaRue
O americano Jacob LaRue, gerente de desenvolvimento de produto da Valmont Industries, apresentou dois seminários, no Congresso de Irrigação, sobre reaproveitamento de águas residuais na agricultura e experiências práticas com uso de pivô central com aço galvanizado e outros tipos de aço de liga tipo SAC, inox alumínio e o patenteado Poly Span da Valmont.
Tendência
Rodrigo Carrara
Colégio Agrícola O Colégio Técnico Agrícola de Pompéia (SP), mantido pela Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, começa a receber inscrições na segunda quinzena de novembro para a realização do processo seletivo em 2005 e visa oferecer educação e tecnologia a serviço da agricultura.
Bernhard Kiep, diretor presidente da Valmont no Brasil, vê com bons olhos o futuro da irrigação na agricultura, principalmente em relação ao aproveitamento de águas residuais, experiência de 15 anos nos EUA. “No Brasil as águas residuais ainda não são um problema, mas possuem nutrientes que podem ser aproveitados na agricultura”, garante
Pela primeira vez, tratores agrícolas trabalharam no Grande Prêmio Brasil. A linha de tratores Case IH de 137 a 177 cv equipados com computadores de bordo, monitor de performance, câmbio seqüencial acionado por joystick e direção hidráulica assistida, estiveram presentes fora das pistas de Interlagos, retirando os carros que sofreram acidentes ou saíram da pista.
Congresso
Logotipo A Jacto reformulou seu logotipo, apresentando uma visão futurista, acompanhando as mudanças no mercado agrícola, visando ainda o posicionamento como uma empresa globalizada, com metas de crescimento sustentável e de responsabilidade social. A maior visibilidade, simplicidade gráfica e sua rápida identificação tornam o novo logotipo tão forte quanto a tradição da empresa.
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Máquinas
Bernhard Kiep
Fórmula-1
Vitor Cainelli e Ereneu Trennepohl, do Grupo Fockink, avaliaram positivamente a participação da empresa no XIV Congresso de Irrigação, e apresentaram a linha completa da Fockink aos participantes do evento.
Vitor Cainelli e Ereneu Trennepohl
Nova fábrica
Jim Martinez
A John Deere lançou a pedra fundamental de sua nova fábrica de tratores no Brasil, que estará situada em Montenegro (RS). O empreendimento representará um investimento total calculado em US$ 250 milhões. A nova unidade deverá gerar 500 empregos diretos, além de 1,5 mil indiretos, devendo entrar em produção na segunda metade de 2006. “Vamos investir em uma nova fábrica de tratores para aumentar a nossa capacidade instalada em toda a linha de produtos, cada unidade no seu foco”, afirmou Jim Martinez.
Top Ser Humano Pelo terceiro ano consecutivo a AGCO do Brasil é uma das vencedoras do Prêmio Top Ser Humano – Categoria Empresa, concedido pela ABRH-RS (Associação Brasileira de Recursos Humanos/Rio Grande do Sul), tendo concorrido com o programa Geração AGCO – Nossos Profissionais têm preferência.
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A AGCO do Brasil está aprimorando a troca eletrônica de documentos com a maior parte de sua cadeia de fornecedores unindo o EDI (Electronic Data Interchange) com a velocidade da internet nas unidades industriais de Canoas e Santa Rosa (RS). “Hoje exportamos para mais de 80 países e não poderíamos tratar as informações em nosso recebimento como fazíamos há uma década”, justifica o gerente do Projeto, Ernani Leonel Oliveira.
Ernani Leonel Oliveira
Pneus Agrícolas A Maggion está lançando novos pneus diagonais com câmara para uso agrícola de alta resistência, boa performance nos diferentes estágios de velocidades, autolimpeza, construção que propicia resistência nas laterais e maximiza sua durabilidade quilométrica. A Maggion disponibiliza os pneus nas medidas 10.5/80-18 MHF; 4.00– 15 MTF2; 9.00–16 MTF2; 11–15 MHF; 7.50-18 Transcarga e 11 L 15 MHF.
Doação A Valtra está doando um trator modelo BL 77 4x4 para o Hospital do Câncer de Barretos (SP) através da Campanha Rede Band Vida. “A Valtra sentese mais uma vez muito honrada em poder colaborar com esta campanha, proporcionando ao Hospital do Câncer de Barretos uma melhor estrutura para continuar salvando vidas” explica, Robson Moraes do Consórcio Nacional Valtra.
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Seleção de Máquinas dimensionamento
John Deere
Aliados na produção A definição do tempo útil, o cálculo do ritmo operacional e o dimensionamento técnico da máquina ou conjunto disponível para cada operação são fatores que estão interligados e são primordiais para a maximização do tempo de uso dos recursos disponíveis e minimização dos custos produtivos 06
Máquinas
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atividade agrícola vem sofrendo um rápido aumento de custos de produção resultando na perda da rentabilidade do negócio. Uma análise crítica dos custos envolvidos e a definição de prioridades para minimizá-los pode atenuar e até reverter esse quadro. O sistema mecanizado agrícola, definido como o conjunto máquinas e implementos que executam as etapas do processo de produção, como a implantação, condução e retirada das lavouras comerciais, pode representar, dependendo da cultura, de 20 a 40% dos custos de produção. Constitui, portanto, um ponto estratégico merecedor de atenções especiais dos agricultores. Um sistema mecanizado deve ser planejado e projetado para atender as operações que compõem um sistema de produção considerando os requisitos agronômicos da cultura, do solo e do clima. Se o planejamento for efetuado de maneira restrita, ele pode melhorar o desempenho de uma ou mais operações, mas não necessariamente apresentar um resultado final melhor. Ademais, o planejamento deve considerar a interação das várias operações para obter o dimensionamento e a seleção dos equipamentos de forma equilibrada, bem como a previsão dos custos que o sistema mecanizado representará no sistema de produção da cultura. A análise operacional é a base para a definição do sistema mecanizado para atender as demandas de um sistema de produção agrícola, conforme se observa na figura 1. O sistema de produção é entendido como um conjunto de operações seqüenciais que viabilizam a produção de uma cultura considerando os fatores intervenientes para atingir metas quantitativas e qualitativas. Na análise operacional são definidas as operações e as épocas ótimas em que devem ser executadas para serem efetivas no sistema de produção. Assim, um sistema de produção de duas culturas anuais como a soja e o trigo em plantio direto, por exemplo, pode diferir de um local para outro, dependendo do solo, do clima e das características agronômicas das variedades utilizadas. Tais diferenças conduzem a sistemas mecanizados e custos respectivos também diferentes. Resumindo, cada produtor rural deve planejar e projetar o sistema mecanizado para atender as necessidades e as características do seu empreendimento ao longo de um ciclo anual. Uma vez definidas as operações e as épocas ótimas em que devem ser realizadas, é necessário a estimativa do tempo útil disponível no período para o trabalho das máquinas em função das condições edafo-climáticas e da jornada de trabalho adotado, para cada operação. O tempo útil disponível depende do número de dias totais reservados para a realização da operação, dos quais serão deduzidos os dias úteis impróprios para o trabalho das
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“O clima e a umidade do solo são os fatores que determinam o número de dias impróprios para o trabalho das máquinas ao longo do ano”
Massey Ferguson
máquinas, os domingos e feriados do período, quando respeitados. A diferença será multiplicada pela jornada de trabalho e, finalmente, pela eficiência gerencial (equações 1 e 2). É importante ressaltar a observação da legislação trabalhista quanto à jornada de trabalho e ao descanso remunerado. ... ( 1 ) em que Nd é o número de dias úteis disponíveis no período; ND é o número de dias contido no período ótimo de realização da operação; Ndf é o número de domingos e feriados, se respeitados, do período; Nimp é o número de dias úteis impróprios ao trabalho das máquinas no período; ... ( 2 ) em que TD é o tempo útil disponível para realizar a operação, em horas; Jt é a jornada de trabalho adotada, em horas; Eg é a eficiência gerencial, decimal. Particularmente difícil é a estimativa dos dias impróprios para o trabalho das máquinas. O clima e a umidade do solo são os fatores que determinam o número de dias impró-
O fator mais considerado para o cálculo dos dias úteis disponíveis, principalmente para as operações de preparo do solo, refere-se à trafegabilidade e à operacionalidade das máquinas
prios para o trabalho das máquinas ao longo do ano. A variabilidade climática introduz a incerteza no dimensionamento da maquinaria. Uma alternativa seria dimensionar o sistema mecanizado com base nos anos mais críticos, mas isso acarretaria a ociosidade nos anos normais resultando no aumento dos custos fixos da maquinaria. Outra alternativa seria dimensionar o sistema para os anos favoráveis reduzindo o investimento, mas assumindo o risco das perdas por falta de capacidade
nos anos desfavoráveis. O fator mais considerado para o cálculo dos dias úteis disponíveis refere-se à trafegabilidade e a operacionalidade das máquinas agrícolas, principalmente para as operações de preparo do solo. Outros fatores, porém, influenciam a disponibilidade de dias úteis para realização de operações de pulverização e colheita, por exemplo. No caso de pulverização, a velocidade do vento e a temperatura ambiente podem limitar a aplicação por conta da
“A disponibilidade de dias úteis para uma operação de campo numa região específica é, de fato, a variável mais restritiva nos processos de modelagem de sistemas mecanizados”
ha;
Figura 1 - Fluxograma de um processo geral para a seleção de um sistema mecanizado agrícola
TD é o tempo disponível no período, em horas. Conhecido o ritmo operacional, pode-se estimar o número de máquinas ou conjuntos necessários para realizar o serviço no prazo ótimo. Antes, porém, deve-se proceder o dimensionamento técnico da máquina ou conjunto que atenda as necessidades e características do serviço a ser realizado, basicamente a capacidade de trabalho ou capacidade operacional da máquina ou implemento, e a potência requerida na para realizar a operação. A capacidade operacional é determinada através da equação 4. ... ( 4 )
deriva e evaporação do produto. No caso da colheita, além da umidade do solo, a umidade relativa do ar interfere na operação. No caso da semeadura, mais do que a trafegabilidade, o fator mais restritivo é a falta de umidade adequada no solo. A disponibilidade de dias úteis para uma operação de campo numa região específica é, de fato, a variável mais restritiva nos processos de modelagem de sistemas mecanizados. Isto justificaria o desenvolvimento de linhas de pesquisa nessa área. Nos EUA, por exemplo, o Iowa Crop and Livestook Reporting Service disponibiliza aos agricultores estatísticas de dias úteis de campo observados desde o ano de 1958. A eficiência de gerenciamento é um fator de correção para a jornada de trabalho da empresa. Embora prevista para durar um nú-
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mero determinado de horas, ela sofre perdas de tempo devido a falhas da administração com erros no ordenamento, alocação de máquinas, tempo desperdiçado pelo operador, atrasos na entrega de insumos, manutenção e reparo de máquinas entre outros, que devem ser atribuídos ao gerenciamento e não às máquinas. Uma vez definido o tempo útil disponível para cada operação, a próxima etapa é calcular o ritmo operacional, ou seja, a quantidade de área que deve ser trabalhada por unidade de tempo de forma que a operação seja concluída no prazo ótimo (equação 3).
New Holland
(MILAN 2004, adaptado de MIALHE 1974)
em que CCO é a capacidade de campo operacional, em ha.h; Lt é a largura efetiva de trabalho, em metros; Vd é a velocidade média de deslocamento, em km.h.; Ec é a eficiência de campo, decimal. O desempenho dos equipamentos pode ser obtido com razoável grau de precisão quando se dispõe de controles adequados em relação à capacidade de trabalho. Nas atividades agrícolas, porém, nem sempre isso é possível. Nelas, o desempenho dos equipamentos dependem de fatores como a topografia, tipo de solo, clima, variações do material a ser trabalhado, entre outros, que influenciam as variáveis que compõem o cálculo da capacidade operacional e, conseqüentemente, o dimensionamento físico do sistema mecanizado. Ressalte-se a eficiência de campo, aqui definida como a razão entre a capacidade de campo operacional e a capacidade de campo nominal ou teórica da máquina. Na equação, entra como um fator de correção do tempo máquina consumido em atividades não produtivas no campo como manobras, ajustes e regulagens, carga e descarga, abastecimento e desembuchamentos. Geralmente os manuais de mecanização apresentam valores para a eficiência de campo padronizados para as operação agrícolas. Tais valores podem ser utilizados como refe-
... ( 3 ) em que RO é o ritmo operacional, em ha.h; A é a área a ser trabalhada no período, em
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A descarga entra como fator de correção do tempo máquina consumido em atividades não produtivas
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Valtra
Divulgação
Segundo Borges e Milan o produtor deve selecionar o equipamento que atenda o maior número de operações
Com relação à potência requerida para realizar a operação, há modelos que estimam a potência requerida com base nas características do solo, velocidade de deslocamento, profundidade e largura de trabalho
rência inicial, porém, seria interessante que cada produtor rural fizesse o controle das operações para obter os coeficientes para as condições peculiares da propriedade. De posse da estimativa da capacidade de campo operacional, é possível calcular o número de máquinas ou conjuntos demandados por uma operação (equação 5). ... (5 ) em que NC é o número de máquinas ou conjuntos (unidade); RO é o ritmo operacional, em ha.h; CCO é a capacidade de campo operacional, em ha.h. Quanto à potência requerida para realizar a operação, há modelos empíricos que estimam a potência requerida por uma máquina ou implemento agrícola em função das caracte-
rísticas do solo, velocidade de deslocamento, profundidade e largura de trabalho. Dada a complexidade do assunto para ser tratado neste espaço informativo, o produtor rural deve consultar o que informa o catálogo técnico ou o manual do proprietário fornecido pelo fabricante sobre a potência exigida para operação. A viabilidade de acoplamento deve ser feita comparando os valores da potência requerida com a potência disponível na barra de tração do trator. Ressalta-se, todavia, que a potência disponível não deve ser exatamente a potência requerida, mas deve-se guardar uma reserva mínima de 20%. Há também modelos empíricos que estimam potência disponível na barra de tração a partir da potência bruta do motor em função da eficiência transmissão, fatores de tração para diferentes interfaces de contato rodado/solo e tipo de trator agrícola. Geralmen-
te os fabricantes informam em seus catálogos técnicos a potência bruta do motor. Dependendo da interface rodado/solo, a potência disponível na barra será de 60 a 65% da potência bruta para tratores de pneus e 68% para tratores de esteiras, operando em solos firmes. Para ambos tipos, admite-se que na TDP a potência disponível seja 83% da potência bruta do motor. Finalmente, é possível partir para o cálculo do custo do serviço realizado por uma máquina ou conjunto mecanizado. Antes, porém, a partir do planejamento das operações agrícolas, deve-se contabilizar o tempo que cada equipamento opera efetivamente desenvolvendo os serviços projetados ao longo do ano agrícola. Sucede que o custo horário de propriedade e utilização de cada máquina ou conjunto será em função do respectivo tempo de uso anual. Assim, o produtor deve selecionar o equipamento que atenda o maior número de operações, maximizando o tempo anual de uso M produtivo. Marcos Milan Esalq/USP Iackson Borges, UFPR
Manejo do solo preparo
Como preparar? New Holland
O preparo convencional do solo continuará a ser feito para culturas ou condições onde não existe a possibilidade de utilização de semeadura direta e, portanto, as suas técnicas devem ser usadas de modo racional
A
exploração de culturas anuais cultivadas sucessivamente na mesma área oferece certas vantagens, mas requer técnicas mais racionais de manejo do solo para reduzir os problemas de desagregação, compactação, formação de crostas, erosão, poluição e outros, que advém com o uso intensivo do solo. O sistema de produção algumas vezes tem como equipamentos de preparo do solo aqueles que resultam em grandes alterações na es-
trutura e rugosidade do solo, formando camadas compactadas e encrostamento superficial, reduzindo a cobertura vegetal, com conseqüências desastrosas como erosão do solo, redução na taxa de infiltração de água no solo, menor volume de solo disponível para as raízes, perda de nutrientes, aumento nos custos de produção e maior susceptibilidade à ocorrência de veranicos. As modernas técnicas de semeadura direta têm demonstrado que, para determinadas con-
Formação de crosta afetando a emergência do milho resultado de métodos de preparo do solo que geram grandes alterações na sua estrutura e rugosidade
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dições de solo, clima e culturas, é possível obter-se uma produtividade tão boa ou, em alguns casos, até melhor do que com os métodos tradicionais de preparo do solo e semeadura. De qualquer forma, o preparo periódico do solo continuará a ser feito para as culturas ou condições onde não existe a possibilidade de utilização de técnicas de semeadura direta. Por ser uma das fases mais importantes dentro do manejo do solo, o preparo visa propiciar condições favoráveis à semeadura, germinação, desenvolvimento e produção das plantas cultivadas com a menor degradação possível do solo. A princípio, o preparo periódico do solo parece ser uma operação muito simples, de fácil compreensão e execução por qualquer pessoa. Entretanto, o processo compreende várias técnicas que, se usadas de modo racional, permitem a obtenção de elevada produtividade nas culturas, mas, se mal empregadas, em poucos anos de uso intensivo destruirão o solo, che-
A erosão, que pode expor as raízes das plantas, é um dos principais problemas do preparo convencional
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“A quantidade de solo desestruturado aumenta com a intensidade da precipitação, a velocidade e o tamanho das gotas”
gando à desertificação de áreas agrícolas. Denomina-se preparo periódico as operações de movimentação do solo, com a finalidade de instalação periódica de culturas e, de forma geral, pode-se dividir em: • Preparo primário do solo (aração e/ou escarificação) - são as operações mais profundas e grosseiras que têm como objetivo o revolvimento do solo, promovendo a incorporação da vegetação instalada e dos restos de cultura. Geralmente, deixam a superfície do terreno irregular, com torrões e desnivelada, dificultando as operações seguintes de plantio e cultivo. Recomenda-se que neste preparo não ocorra excessiva quebra dos torrões, deixando o máximo possível de resíduos vegetais na superfície, atingindo profundidade suficiente para permitir uma boa infiltração de água no solo e menor risco de erosão. • Preparo secundário do solo (destorroamento e nivelamento) - pode ser definido como todas as operações superficiais feitas após o preparo primário. Visam o nivelamento do terreno, o destorroamento, a incorporação de herbicidas, a eliminação de plantas invasoras no início do seu desenvolvimento, ou permitir a fácil colocação da semente no solo e a cobertura desta com terra, produzindo um ambiente favorável ao desenvolvimento inicial da cultura implantada, com reflexos diretos na produção.Todas as atividades de preparo secundário do solo (gradagens em geral) deverão ser feitas com o mínimo de operações possível, evitando a ação pulverizadora das grades e a compactação do pneu do trator e dos equipamentos sobre o solo solto. A umidade no solo para a realização de operações mecanizadas é fundamental, sendo considerada como ideal aquela onde o trator apresenta melhor desempenho, operando com o mínimo de esforço. Deve-se evitar o preparo de solo com umidade excessiva devido aos danos na estrutura física, gerando maior compactação na região do rodado dos tratores e pior qualidade do serviço executado, entre outros fatores. Quando o solo é preparado estando muito seco, um número maior de passagens será necessário para alcançar o destorroamento que permita efetuar a operação de semeadura, além de proporcionar maiores gastos com combustíveis, menor rendimento no serviço e torrões muito grandes, difíceis de serem quebrados, trazidos à superfície. No preparo do solo, os objetivos devem ser atingidos com o menor número possível de operações sobre o terreno, reduzindo o tempo e o consumo de energia necessários para a implantação da cultura. Desta forma, diferentes equipamentos agrícolas podem ser utilizados para alcançar tais objetivos, entretanto, deve ser ressaltado que cada um possui uma ação específica, em função das características próprias
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Manejo do solo
O
manejo do solo consiste num conjunto de operações realizadas com o objetivo de propiciar condições favoráveis à semeadura, ao desenvolvimento e à produção das plantas cultivadas, por tempo ilimitado. Para que esses objetivos sejam atingidos, é imprescindível a adoção de diversas práticas, dando-se prioridade aos sistemas conservacionistas. A umidade excessiva causa compactação na região do rodado do trator
de seus órgãos ativos, sobre o solo.
ARADO DE DISCOS O arado de discos promove um corte da camada superficial do solo em fatias denominadas leivas, que recebem um movimento torcional, sendo invertidas de maneira que a face superior fique voltada para baixo. Os discos são menos suscetíveis aos impactos, uma vez que, ao encontrarem obstáculos quaisquer, rolam sobre os mesmos, diminuindo a influência do impacto sobre a estrutura. Assim, o arado corta, eleva, esboroa e inverte a camada de terra, provocando uma aeração das camadas mobilizadas, permitindo maior introdução de oxigênio e expulsão de gás carbônico, o que facilita
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os processos químicos e biológicos da oxigenação, como uma verdadeira respiração do solo, proporcionando um ambiente propício para a proliferação de microorganismos úteis à agricultura. Uma aração bem realizada facilita as demais operações agrícolas e também de maneira positiva a germinação, o desenvolvimento das plantas e, conseqüentemente, o rendimento das culturas. Por isso a aração deve ser feita criteriosamente, após ter-se um conhecimento perfeito das condições que afetam a estruturação do solo, sua relação com as plantas cultivadas, com o desenvolvimento de plantas invasoras, com a movimentação das águas, com a natureza do material de cobertura, além dos fatores econômicos envolvidos em sua execução. Com esse equipamento consegue-se boa penetração no solo, desde que se trabalhe com
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“Cada situação merece, portanto, uma análise específica e que contemple os diversos fatores que realmente favorecem ou não a ocorrência das perdas de solo e água”
Corte e inversão do solo pelo arado de discos e detalhe da ação do arado e da camada compactada
adequada umidade do solo, com regulagem correta e com poucos resíduos vegetais na superfície.
ARADO DE AIVECAS O arado de aivecas realiza o corte, elevação, esboroamento e inversão da leiva de uma forma mais perfeita e em profundidades maiores que aquelas alcançadas pelo arado de discos, entretanto, deixa a superfície do solo mais descoberta, o que aumenta o risco de erosão e exige que o terreno a ser trabalhado esteja livre de obstáculos, especialmente raízes. Caso não disponham de mecanismo de segurança com desarme automático, a ponta da relha prende-se a cada momento, diminuindo o rendimento e piorando a qualidade do serviço. O arado de discos mistura melhor o solo do que o arado de aivecas, fato importante para a incorporação de calcário.
GRADE ARADORA A grade aradora movimenta o solo duas vezes em sentidos opostos, em uma única pas-
Arado de aivecas e detalhe da profundidade de ação do arado e da camada compactada (abaixo da linha)
sada. O conjunto das secções dianteiras, em face do ângulo que fazem entre si e dos discos recortados, destorroam jogando a terra para fora enquanto o conjunto traseiro joga a terra removida novamente para dentro, completando o trabalho do primeiro. A grade aradora possui pequena capacidade de penetração, causando espelhamento no fundo do sulco, o que reduz a infiltração de água e promove menor incorporação dos resíduos vegetais encontrados na superfície do terreno, quando comparada aos arados. Além disto, a grade proporciona maior desagregação do solo e somente consegue romper camadas compactadas localizadas mais próximas à superfície do solo. A grade é preferida pelos agricultores quando comparada aos arados, devido à maior largura útil de ação e maior velocidade de deslocamento, o que aumenta sensivelmente sua capacidade efetiva de trabalho. Porém, o que se ganha em largura perde-se em profundidade, gerando uma camada compactada, quando empregado de forma intensiva ao longo dos anos, a menores profundidades, impedindo o desenvolvimento das raízes das culturas e proporcionando queda na produção nos anos em que ocorre estiagem.
Grade aradora e detalhe da profundidade de ação da grade e da camada compactada (abaixo da linha)
de irrigação. Além disso, ele não enterra a maior parte dos resíduos vegetais que, mantidos na superfície, protegem da erosão, sendo assim possível enquadrá-lo como equipamento de sistema conservacionista do solo. O escarificador proporciona um consumo de combustível e rendimento de serviço pouco menor que o da grade aradora, porém não provoca a erosão, já que seu índice de rugosidade é maior. Quanto à produção das culturas tem-se mostrado igual, ou em muitos casos maior com a escarificação do que quando o solo é preparado com arados ou grades aradoras. Já para o controle de plantas invasoras mostra-se ineficaz, quando comparado aos equipamentos do M sistema convencional. Alberto Carvalho Filho, Fazu
ESCARIFICADOR
Alberto alerta para o processo de preparo do solo, que tem grande influência no desenvolvimento das culturas
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Máquinas
O escarificador é um equipamento cuja função é promover um mínimo de mobilização, desagregando menos o solo, no sentido de baixo para cima, até a profundidade média de 0,35 m na fase de pré-plantio. Não forma camada compactada no subsolo, e isto pode representar maior armazenamento de água, menor risco para as culturas de sequeiro e também a possibilidade de redução da freqüência
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Escarificador com disco de corte e destorroador, e detalhe da ação do escarificador não provocando compactação
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Colheita café
Fotos Charles Echer
Aliança na colheita A possibilidade de se fazer a colheita semi mecanizada do café, associando mão-de-obra com máquinas de baixo custo, é uma realidade técnica e economicamente viável que vem suprindo a falta de pessoal, além de gerar economia de 21,6% na colheita e 43,8% na abanação O parque cafeeiro em produção no Sul de Minas na safra de 2002/2003 chegou a 545 mil ha, com produção de 13,2 milhões de sacas conforme dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Em média são empregados 60 mil trabalhadores ao longo do ano para as operações de cultivo, dos quais 44% enquadram-se na agricultura familiar, 36% são contratados permanentes e 20% temporários. Somente a colheita do café que se processa em um período de três meses ou 75 dias úteis necessita de aproximadamente 310 mil trabalhadores, ou seja, mão-de-obra temporária não disponível na região, sendo necessário complementar com trabalhadores de outras regiões. A mecanização agrícola, por este ponto de vista, assume papel primordial por aumentar a capacidade produtiva da mão-de-obra, à medi-
É
redundante destacar a importância da cafeicultura para o Brasil e em especial para o estado de Minas Gerais, que responde por aproximadamente 50% da produção nacional, sendo que somente no Sul do Estado a produção média dos últimos anos é da ordem de nove milhões de sacas. A mecanização da lavoura cafeeira trata-se de um tema de pesquisa apropriado ao Sul de Minas Gerais, conforme citam os professores Fábio Moreira da Silva e Nilson Salvador, do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Lavras (Ufla), precursores dos primeiros trabalhos de pesquisas na região, que iniciaram em 1996, mediante a busca dos produtores solucionar um dos maiores pontos de estrangulamento do processo produtivo que era
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Máquinas
e ainda é a colheita. Segundo o diagnóstico do projeto Desafio 2000 no Sul de Minas Gerais, com relação à cadeia produtiva do café, resultados de pesquisa apresentados pela professora Maria Tereza Franco Ribeiro, da Ufla, demonstraram a disposição dos produtores da região, tidos como tradicionais, em introduzirem novas tecnologias, sobretudo com relação a equipamentos mais adequados às condições topográficas, para vencer um dos grandes problemas que é a mãode-obra para a operação de colheita, que chega a ocupar 54% de toda mão-de-obra do processo produtivo. A colheita do café depende grandemente do trabalho braçal, sendo uma operação complexa com várias etapas, que representa 30% a 40% do custo de produção.
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Na abanação manual, um homem faz em média 30 medidas/dia
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“A colheita do café constitui-se de diversas operações que são a arruação, a derriça, a varrição, o recolhimento, a abanação e o transporte”
Fabio Moreira da Silva
da que o trabalho manual passa a ser auxiliado por máquinas que dispõem de potência superior à humana. A colheita do café constitui-se de diversas operações que são a arruação, a derriça, a varrição, o recolhimento, a abanação e o transporte. A derriça consiste em desprender os frutos da planta, jogando-os sobre o chão ou panos. A varrição é feita para juntar os frutos derriçados no chão e a abanação é a operação de pré-limpeza dos frutos, retirando-se as folhas, os gravetos e os torrões. A forma como estas operações são realizadas manualmente ou mecanicamente é que caracterizam o sistema de colheita, como segue: Manual - é o sistema que pode ser considerado convencional por ser o mais utilizado, onde as diversas operações da colheita são realizadas a partir de trabalho braçal, demandando grande mão-de-obra. Semi mecanizado - consiste na utilização associada de trabalho braçal e máquinas para a execução das operações de colheita. Este sistema varia muito, podendo ter uma ou quase toda as operações realizadas com o auxílio de máquinas. É o sistema que tende a crescer muito, podendo atender pequenos e médios produtores. Mecanizado - neste sistema considera-se o uso das colhedoras que realizam simultaneamente as operações de derriça, recolhimento, abanação e ensaque ou armazenamento a granel do café colhido, sendo um sistema limitado às propriedades com topografia favorável. Apesar deste sistema ser chamado de mecanizado, não dispensa totalmente o uso de mão-de-obra, pois as colhedoras não colhem 100% dos frutos das plantas, necessitando a operação manual de repasse. Supermecanizado - este sistema surgiu em
Onde predominam pequenas e médias propriedades o uso de derriçadoras portáteis é comum, já que não é possível utilizar colhedoras tratorizadas
2000 e consta de todas operações da colheita feitas mecanicamente, iniciando com a arruação mecanizada, seguida de duas passadas da colhedora na lavoura, fazendo colheita seletiva e dispensando a operação de repasse, finalizando com a varrição e recolhimento mecânico do café caído no chão. Este sistema também tem emprego limitado, dependendo de boa topografia e elevado investimento inicial com máquinas. A tendência que se verifica no Sul de Minas, onde predominam pequenas e médias propriedades, com topografia e arquitetura das lavouras limitantes ao uso das colhedoras tratorizadas, é uma expansão do sistema semi mecanizado para as operações de derriça e abanação, com o emprego equilibrado
de mão-de-obra e máquinas, atendendo em especial a agricultura familiar. Na colheita semi mecanizada, a derriça é feita com o auxílio das derriçadoras portáteis, manejadas manualmente e acionadas por motores laterais ou costais, que fazem vibrar as varetas em sua extremidade, promovendo a derriça dos frutos. A operação de campo pode ser feita em equipes de dois a cinco apanhadores, sendo um homem operando a derriçadora e um a dois homens fazendo o repasse e o levantamento do café derriçado sobre panos ou chão ou dois homens operando as derriçadoras de cada lado da linha dos cafeeiros, com dois a três homens fazendo o repasse e levantamento. Com a derriçadora, um homem chega a derriçar de 20 a 39 medidas/dia, que dividido
“O volume médio de café em coco a ser colhido é da ordem de 240 medidas/ha, o que requer o serviço de 48 homens/ha”
Fotos Charles Echer
Na colheita manual são gastos em média 56 minutos para derriçar uma medida de 60 litros de café, mais nove para a varrição/levantamento e 12 para a abanação
pela equipe de trabalho resulta na média de 10 a 13 medidas/homem/dia, considerando medidas volumétricas de 60 litros. Alguns parâmetros da colheita manual podem ser considerados para nortear os produtores na tomada de decisão quanto ao sistema semi mecanizado. Na colheita manual um homem gasta em média 56 minutos para derriçar uma medida de 60 litros de café, mais 9 minutos para fazer a varrição/levantamento e 12 minutos para a abanação, totalizando 77 minutos/medida. Sendo assim, para uma jornada diária de trabalho de 8 horas, um homem derriça em média 7 medidas/dia, com a varrição/levantamento seu desempenho cai para 6 medidas/dia e deixando o café abanado, seu desempenho operacional médio é de 5 medidas/dia. Com base no desempenho médio da mãode-obra e do valor da diária paga, pode-se calcular o custo operacional, assim a exemplo, consideremos uma lavoura com produtividade média de 30 sacas/ha de café beneficiado. O
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Máquinas
volume médio de café em coco a ser colhido é da ordem de 240 medidas/ha, o que requer o serviço de 48 homens/ha. O preço mínimo da mão-de-obra pago na safra 2004 foi de R$ 3,00/ medida, o que representa uma diária líquida de R$ 15,00/homem, que acrescido dos encargos sociais, devido ao contrato de trabalho sob tempo determinado, chega à diária bruta de R$ 21,50/homem, resultando ao custo final de R$ 1.032,00/ha ou ao valor parcial de R$ 4,30/ medida colhida manualmente. No caso, os encargos sociais de 43% restringem-se ao contrato de trabalho por tempo determinado, caso típico da colheita do café, onde não incide a taxa de 40% de rescisão. Para a colheita no sistema semi mecanizado, a exemplo da mesma lavoura, ou seja, 240 medidas/ha de café a ser colhido, o desempenho mínimo operacional da equipe de trabalho foi de 30 medidas/dia, considerando uma equipe de três homens, sendo um derriçando e dois no repasse/levantamento. O repasse é a operação manual que retira os frutos restantes
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após a derriça mecanizada, uma vez que as derriçadoras não retiram 100% dos frutos. Desta forma o tempo requerido de colheita é de 8 dias/ ha. O custo da derriçadora na safra de 2004 foi da ordem de R$ 1,9 mil que, depreciado por 400 horas/ano em 2,5 anos, resulta em R$ 1,70/ hora, este valor acrescido da remuneração do capital médio investido com juros de 6% aa., totalizam os custos fixos em R$ 1,86/hora. Os custos variáveis da derriçadora ficam por conta do consumo de combustível e gastos com manutenção. Com consumo observado de 0,5 litros/hora de gasolina, o custo de combustível foi de R$ 1,03/hora, mais 16% de lubrificantes, chegando a R$ 1,19/hora. O custo de manutenção considerado foi de 50% do custo inicial durante a vida útil, resultando em R$ 0,95/ hora. Assim o custo da derriçadora totalizou R$ 4,00/hora (fixos mais variáveis), ou custo diário de R$ 24,00 (média de 6 horas-máquina/dia de 8horas). O custo da mão-de-obra na colheita semi mecanizada foi calculado sobre a diária líquida de R$ 18,00, considerando melhor remuneração ao homem, que acrescida dos encargos, chega a diária bruta de R$ 25,74 (encargos sociais de 43%). Desta forma, o custo diário da equipe de três homens é de R$ 77,22, que acrescido ao custo horário da derriçadora, totaliza o valor de R$ 101,22/dia, resultando para o período de 8 dias, o custo final da colheita semi mecanizada de R$ 809,76/ha, ou parcial de R$ 3,37/medida, com redução de 21,6% em relação à colheita manual. Os resultados considerados levaram à redução de custos para o sistema semi mecanizado de ao menos 21,6%, devendo-se observar que na colheita manual o custo da diária líquida foi de apenas R$ 15,00, tratando-se da menor diária praticada na safra de 2004. No sistema semi mecanizado, a diária líquida considerada foi de R$ 18,00, 20% maior que na colheita manual, sendo possível remunerar melhor os trabalhadores e ainda obter redução de custo final, o que demonstra a viabilidade técnica-econômica da utilização das derriçadoras. A mesma comparação pode ser feita no uso
Amostra de café depois do processo de abanação
Novembro 2004
das abanadoras mecânicas que são acopladas e acionadas por tratores cafeeiros, podendo fazer a abanação do café na lavoura, separando folhas, torrões, gravetos, que são varridos junto com o café derriçado no chão, possibilitando assim transportar para o terreiro apenas o café limpo. Estas abanadoras apresentam o desempenho operacional médio de 48 medidas abanadas/hora e requerem baixa potência de acionamento, podendo ser utilizado pequenos tratores de 30 cv, que operam estacionários, com baixo consumo de combustível, não necessitando de operador. Na abanação manual, um homem faz em média 30 medidas/dia, necessitando de 8 dias de serviço para abanar a produção de 240 medidas/ha, resultando no custo de o total R$ 172,00/ha. Para a abanação mecanizada, o custo horário é de R$ 4,70 (fixos mais variáveis), considerando o preço inicial da abanadora de R$ 6 mil e depreciando em cinco anos com 400 horas/ ano, acrescido do custo horário do trator de R$ 11,40/hora (trator cafeeiro operando estacionário), totaliza o custo operacional do conjunto de R$ 16,10/hora. Acrescendo o custo de um ajudante para pôr e tirar o café da abanadora, ao valor de R$ 3,22/hora (diária bruta de R$ 25,74), chega-se ao valor total da abanação
mecanizada de R$ 19,32/hora. Para o desempenho operacional do conjunto de abanação de 48 medidas/hora, o tempo de serviço é de 5 horas/ha, correspondendo ao custo de R$ 96,60/ha, com redução de 43,8% em relação à abanação manual. Como se observa, seja na operação de derriça ou abanação semi mecanizada, as reduções de custos analisadas isoladamente são significativas. O uso conjunto da derriçadora e abanadora resulta na redução de custo da ordem de 32% em relação à colheita manual, como se observa em propriedades que têm adotado este sistema, isto representa uma economia da ordem de R$ 330,00/ha. A colheita semi mecanizada do café é atualmente uma alternativa viável e possível de ser implantada na maioria das lavouras cafeeiras, com baixo custo inicial, independentemente do tamanho ou desenvolvimento tecnológico da propriedade. A possibilidade de se fazer a colheita semimecanizada do café, associando mão-de-obra com máquinas de baixo custo inicial, acessível ao pequeno e médio produtor, é uma realidade técnica e economicamente viável, sendo um caminho socialmente equilibrado para as regiões produtoras, com aumento do desempenho operacional suprindo a falta de pessoal na épo-
Janice Ebel
A colheita semi mecanizada é uma alternativa para aliar mão-de-obra e máquinas, diz Silva
ca da colheita, valorizando o trabalhador rural com qualificação profissional e melhor remuneração, possibilitando à agricultura familiar, maior margem de renda e sustentabilidade do M processo produtivo. Fábio Moreira da Silva e Nilson Salvador, Universidade Federal de Lavras
Máquinas projetos
José Inácio Rad
Projetos regionais
Devido à globalização, as montadoras começaram a fabricar produtos mundiais que nem sempre atendem as necessidades dos consumidores, obrigando-as a reprojetar produtos/projetos regionais para satisfazer os clientes
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om a globalização, as montadoras iniciaram uma era de produtos mundiais como automóveis, tratores, caminhões, colheitadeiras, etc. Os resultados obtidos nem sempre atenderam aos objetivos almejados pelos consumidores, principalmente no item relativo à cultura das pessoas, seus hábitos e comportamentos. Além disso, outros itens influenciaram na não aceitação dos produtos mundiais: custos, estilo, complexidade, sofisticação, clima, localização geográfica, culturas agrícolas, tipos de solo, topografia, etc. Desta forma, muitos dos produtos mundiais necessitaram e foram reprojetados em produtos/projetos regionais ou receberam acessórios e variantes para satisfazer os clientes das determinadas regiões envolvidas. Quando estes volumes são baixos, devido à escala de produção, com certeza os custos unitários serão maiores, por vezes inviabilizando o lançamento do produto. Quando estes volumes tornam-se elevados (vide automóveis, caminhões, tratores, colheitadeiras), a marca mundial tem migrado suas engenharias de produto para as regiões envolvidas. O Brasil é o caso da virada do século. No caso específico dos automóveis, várias montadoras passaram a projetar seus veículos inteiramente no país, este tabu
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Máquinas
foi quebrado após muitas décadas de projetos totalmente importados. Tais decisões evidenciam a capacidade da engenharia brasileira e incrementaram o uso entre nós de ferramentas computacionais cada vez mais avançadas. O uso de CAD em 3D está cada vez mais popularizado entre as empresas e a utilização de outras ferramentas como a Análise por Elementos Finitos é cada vez maior. No que tange aos tratores e colheitadeiras, que já eram desenvolvidos parci-
almente no país, os fabricantes aqui instalados resolveram incrementar suas engenharias com o fim de desenvolver produtos novos e diminuir a famosa tropicalização dos produtos gerados no hemisfério norte (EUA/Europa). Os fatores preponderantes para esta diferenciação regional são a utilização mais intensa (mais de uma cultura anual), condições adversas de trabalho, necessidade de maior autonomia (áreas maiores: Brasil e Argentina), maior variedade de tipos de solo, clima com muita di-
Teste virtual dinâmico para determinação de reações e esforços
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Novembro 2004
“Tais decisões evidenciam a capacidade da engenharia brasileira e incrementaram o uso entre nós de ferramentas computacionais cada vez mais avançadas”
versidade, custos etc. No caso de implementos agrícolas, principalmente plantio e pulverização, os produtos sempre necessitaram de desenvolvimento local devido às peculiaridades dos nossos tipos de solo, tamanho das áreas, topografia, velocidade de trabalho, clima, variedade de culturas (grãos e outras), etc. O uso intenso de mais engenharia nas indústrias do segmento, bem como a corrida contra o tempo para o cumprimento de cronogramas apertados para o lançamento de novos produtos e up-grade em produtos já existentes, otimização de processos, redução de custos, etc, evidenciou por vezes a falta de capacidade das engenharias do produto das empresas locais, tanto físicas como técnicas, além da inexistência de especialistas em seus quadros funcionais. Ao mesmo tempo, tem-se constatado que, em inúmeros projetos, as soluções utilizadas são empíricas, ou seja, não foram ou não são utilizadas soluções com engenharia em “n” projetos desenvolvidos no país ou no exterior. Esta falta de conhecimento, de vontade ou de cuidados com os projetos faz com que os produtos gerados carreguem consigo algumas das seguintes dificuldades posteriores: Produtos com custos elevados - com custos mais elevados pode-se perder a competitividade; Condições inadequadas de ergonomia - nesta situação, os operadores aumentam o cansaço e perdem produtividade; Níveis de ruído elevados - cada vez mais busca-se o conforto dos operadores e também atender a legislação trabalhista; Condições de segurança insuficientes - aqui também deve-se buscar a integridade dos operadores e o atendimento da legislação pertinente; Falta de autonomia operacional - principalmente em áreas maiores deve-se buscar o máximo de autonomia para os equipamentos, evitando-se assim o reabastecimento freqüente;
Otimização de esforço de operação em pedal de embreagem
Uso de excesso de material - com certeza, ao usarmos materiais em excesso, iremos aumentar os custos sem necessidade e, ao mesmo tempo, os equipamentos terão maior peso, aumentando desta forma o consumo de combustível e, muitas vezes, requerendose tratores de maior potência; Uso de processos inadequados - novamente, afetaremos os custos se não otimizarmos os processos de fabricação; Resistência estrutural inadequada para as condições de solicitação - nesta situação, pode-se incorrer em duas situações: ou o equipamento está super-dimensionado ou sub-dimensionado; Confecção de inúmeros protótipos não ocorrendo simulações e cálculos estruturais, serão necessários inúmeros protótipos para testar as diferentes variáveis envolvidas;
Uso de tentativa e erro até aprovar o produto - como não há conhecimento antecipado das solicitações que atuam tanto na estrutura quanto nos mecanismos, aumenta-se o tempo dos testes até que o produto seja considerado “confiável”. Mesmo assim, as dúvidas permanecem; Aumento dos prazos para lançamento - devido aos “tempos” adicionais para confecção de inúmeros protótipos, uso de tentativa e erro para “aprovar” o produto, normalmente os prazos previstos para lançamento são ultrapassados; Insegurança quanto à durabilidade do produto - mesmo depois de todos os testes, o fabricante ainda não está seguro quanto à durabilidade do equipamento que acabou de “aprovar”; Custos elevados de pós-venda e garantias - como, mesmo após a “aprovação”, o
“Este artigo não pretende esgotar o tema e sim mostrar que é possível o uso de engenharia terceirizada para que todos ganhem, em inovação, estilo, tempo, segurança e confiabilidade dentre outros predicados que um produto necessita ter”
Projeto de ROPS com determinação de deformação plástica por elementos finitos
produto ainda não é confiável, os riscos de falhas no campo permanecem e podem inviabilizar um novo produto se o mesmo necessitar de assistência técnica freqüente, recall ou garantia. Reprojeto do produto - se os problemas mencionados acima forem significativos, pode haver a necessidade de uma revisão profunda no projeto original, com mais custos e novos tempos para relançamento. Perda da credibilidade na marca - com a ocorrência de muitos dos problemas acima, e também com a repetição freqüente em lançamentos, as marcas vão perdendo credibilidade ao longo do tempo. Todos estes fatores ensejaram o nascimento de empresas habilitadas a cobrir as lacunas existentes e assim auxiliar na terceirização das engenharias.No Brasil isto não tem sido diferente; atualmente estão em atividade empresas de outros países e empresas genuinamente nacionais operando neste segmento. O livro A Arte da Inovação, de autoria de Tom Kelley, em sua introdução cita quatro razões principais para que as empresas terceirizem suas engenharias: Capacidade - falta de capacidade física nas engenharias das empresas; Velocidade - busca de cumprimento de cronogramas com prazos cada vez mais limitados; Especialização - as empresas não possuem os especialistas e as ferramentas necessárias; Inovação - as engenharias tendem a manter o status quo, inibindo a inovação. Felizmente, no Brasil já estão em pleno funcionamento empresas de engenharia direcionadas para os seguintes focos de atuação: • Desenvolvimento de Produtos e Processos; Soluções de Engenharia. • Desenvolvimento de Produtos e Processos - soluções de forma integrada, englobando as seguintes etapas: Levantamento de necessidades - o primeiro passo para o desenvolvimento de um produto é o levantamento das neces-
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Máquinas
Simulação de trajetórias de partículas em distribuidor de fertilizantes
sidades que o mesmo deve atender; Levantamento de informações - para o início do projeto deve-se levantar também as informações relativas ao estado da arte, propriedade industrial, design, dentre outras, gerando-se então uma “Certidão de Nascimento do Produto” (Especificação do Produto Desejado); Projetos virtuais das alternativas (simulação eletrônica em 3D) - em seguida executam-se simulações eletrônicas das alternativas para podermos visualizar como será o aspecto de cada uma delas; Simulações virtuais (através do uso de Análise por Elementos Finitos) e outras ferramentas - com a utilização de FEA e Motion, iniciam-se as análises da estrutura e dos mecanismos do produto;
Projetos de peças, componentes e conjuntos - em continuação, projetam-se as peças, os componentes e os conjuntos do produto; Execução de mock-ups - frequentemente são necessários modelos (mock-ups) para auxiliar na definição das formas. Utilizam-se os mesmos antes da fabricação dos protótipos e em geral não são funcionais; Interação com fornecedores - desenvolver fornecedores é uma etapa importante no processo. Sempre que possível utilizam-se materiais e componentes de mercado ou itens de uso já consagrados na organização; Análise e especificação de processos de fabricação - na hora da execução do projeto, é necessário estar atento para a cultura fabril da empresa envolvida, seu parque de máquinas operatrizes e explorar seus pontos fortes no que tange aos processos de fabricação; Execução e montagem de protótipos após a aprovação dos mock-ups e, já com os fornecedores e processos definidos, executam-se os protótipos em quantidades definidas de antemão; Acompanhamento de testes de laboratório e homologações - dependendo do produto, serão necessários testes de laboratório no todo ou em partes do mesmo.
Determinação de esforços em power train de trator
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Henrique Kohman
Teste virtual dinâmico
Também, muitas vezes serão necessárias homologações para poder comercializar o produto em questão; Acompanhamento de testes de campo - no caso específico de máquinas agrícolas, as mesmas sempre serão testadas a campo para confirmação de tudo que já foi feito anteriormente; Acompanhamento do try-out - quando o ferramental estiver concluído e testado, os fornecedores definidos, os componentes adquiridos, os processos escolhidos, os procedimentos de qualidade especificados, fazse o try-out (teste de montagem); Utilização de normas e padrões pertinentes - sempre que existirem deverão ser utilizadas as normas adequadas para cada solicitação; Entrega de desenhos e especificações dentro dos padrões dos clientes - após a conclusão dos testes e ajustes no produto, a documentação técnica será concluída e entregue ao cliente em seus padrões e de acordo com suas normas e procedimentos internos; Acompanhamento do projeto e execução dos ferramentais - com as informações finais do produto, ou antes, quando necessário, serão executados ferramentais pelo cliente ou por terceiros; Utilização de outros especialistas de acordo com a necessidade (exemplos: design/ruído/calor/ergonomia) - quando houver necessidade de outros especialistas para atividades muito específicas, a empresa de projetos busca a solução junto a associados e atende todas as demandas de seu cliente através de sua rede. Soluções de Engenharia - com a aplicação de ferramentas analíticas e computacionais de última geração, tais como Método de Elementos Finitos; Modelagem Dinâmica; Testes Virtuais e outros, ofe-
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José Inácio Rad e José Gerbase Filho: “Por nem sempre atenderem aos consumidores muitos produtos mundiais foram reprojetados”
recendo soluções para a determinação do comportamento estrutural de componentes e conjuntos de um determinado produto, ensejando então a atuação em: • Projeto de componentes ou conjuntos • Reprojeto dos itens analisados • Redução de custos • Definição de processos e materiais alternativos Para atender as necessidades acima, tais empresas utilizam-se de profissionais experimentados, capacitados e com o treinamento necessário para a utilização de ferramentas computacionais compatíveis com as necessidades do mercado. Dentre elas citaremos algumas das mais conhecidas, sem subestimar outras que não estão aqui relacionadas: • PTC-PRO Engineer; • SolidWorks; • SolidEdge; • Algor/FEMPRO/FEA; • MSC Nastran; • MSC Visual Nastran Motion; • E inúmeras outras ferramentas (softwares) pertinentes a cada necessidade específica.
Este artigo não pretende esgotar o tema e sim mostrar que é possível o uso de engenharia terceirizada para que todos ganhem, em inovação, estilo, tempo, segurança e confiabilidade, dentre outros predicados que um produto necessita ter. Ao mesmo tempo sabemos que, cada vez mais, as engenharias do produto das empresas estão se capacitando com especialistas e softwares adequados às suas demandas. Porém, na quase totalidade delas, as engenharias envolvem-se com o diaa-dia e em muitos casos não conseguem aceitar novos desafios em prazos adequados e/ou trabalhar em busca da redução de custos, dentre outros. Nestes momentos, com a disponibilidade de empresas de consultoria voltadas para atender estas demandas e prontas para somar (e não substituir), as engenharias do produto das empresas não podem mais dizer que não dá para atender este M ou aquele prazo ou desafio. Eng. José Inácio Rad Eng. José Gerbase Filho MGR-Consultores Associados Ltda.
Moega rotomoldada e acelerador
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Máquinas
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Máquinas controladores
Charles Echer
Aplicação seletiva
A necessidade de se ter no mercado nacional e internacional controladores capazes de operar de forma independente, incentivou o desenvolvimento de uma alternativa de baixo custo, com tecnologia nacional e capacidade de variação da formulação em rempo real
sumo. Cada dispositivo aplicador regula individualmente a dosagem de seu componente. Deste modo, a variação na proporção entre os diferentes componentes possibilita a variação na formulação do defensivo ou do fertilizante aplicado, bem como a somatória das vazões de todos os componentes resulta na taxa de aplicação total. Os equipamentos de aplicação de insumos, controlados por dispositivos eletrônicos, existentes atualmente no mercado podem operar a taxas de aplicação constante ou a taxas variáveis. Neste último caso, baseiam-se nos mesmos elementos dos sistemas a taxas constantes, acrescendo-se de equipamentos externos para possibilitar a regulagem da vazão de fertilizante em função de um sinal de posicionamento e de um mapa de aplicação previamente confeccionado. Ainda não estão disponíveis, no mercado nacional e internacional, controladores dedicados capazes de operar de forma independente, sem a necessidade de equipamentos auxiliares acoplados externamente, para a formulação e aplicação localizada de insumos líquidos (defensivos ou fertilizantes) a taxas variáveis, fato que denota a necessidade de desenvolvimento de novos controladores de aplicação. Neste sentido, a Tandra Sistemas de Controle, empresa sediada em São Paulo (SP), associou-se a pesquisadores da Unicamp, Campinas (SP), para desenvolver uma alternativa de baixo custo e com tecnologia nacional para a aplicação localizada de fertilizantes líquidos a taxas variáveis, com capacidade de variação da formulação em tempo real, para ser utilizado em implementos de aplicação de insumos líquidos. O desenvolvimento do equipamento é financiado pela Fundação de Amparo à
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om o avanço da tecnologia eletrônica e da computação, o desenvolvimento de equipamentos capazes de trabalhar variando as suas regulagens em função das necessidades locais da cultura teve um salto. Isso possibilitou a implantação de máquinas semeadoras e aplicadores de insumos e defensivos capazes de variar as taxas de aplicação destes produtos automaticamente durante sua operação. Uma evolução dos sistemas de aplicação localizada a taxas variáveis são os sistemas com capacidade de formulações variáveis. Nestes sistemas podem-se utilizar diferentes tipos de matérias-primas de modo a formular a composição do in-
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Máquinas
Instalação dos módulos de controle e de interface no trator e implemento, respectivamente
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“O módulo de controle incorpora também um receptor GPS com correção diferencial em tempo real e deve ser instalado na máquina agrícola, junto ao seu operador”
Unicamp
Conceito da variação da formulação
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abe-se que, em geral, a distribuição espacial dos macronutrientes (NP-K) no solo é bastante específica e depende de fatores permanentes e transitórios.
Dutos de captação e junção dos produtos dosados em uma única linha de aplicação
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), através de uma linha denominada Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas, que se destina a apoiar o desenvolvimento de pesquisas inovadoras sobre problemas importantes em ciência e tecnologia, a serem executadas em pequenas empresas, que tenham alto potencial de retorno comercial ou social. O controlador de aplicação em desenvolvimento é adequado para utilização em um sistema de aplicação de insumos líquidos, com possibilidade de operação com até três concentrados diferentes, obedecendo a mapas de aplicação. Os concentrados deverão ser adequadamente selecionados, e serão combinados de modo a suprir as necessidades localizadas de nitrogênio, fósforo e potássio, possibilitando a alteração da formulação em tempo real, além da alteração da dosagem do composto resultante, em função da posição geo-referenciada do equipamento de aplicação. A aplicação será baseada em mapas de aplicação, armazenados na forma de arquivo de dados, que deverão conter as recomendações de adubação para a área a ser coberta, relacionando as coordenadas geodésicas do terreno com as informações das quantidades necessárias de cada nutriente a ser aplicado. O equipamento controlador de aplicação é constituído por dois módulos principais: módulo de controle e módulo de interface. O módulo de controle é responsável pela interface com o usuário, leitura dos mapas de aplicação de
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Os fundamentos da agricultura de precisão recomendam que a adubação seja realizada em função das deficiências de cada um dos macronutrientes. Para atender a este preceito, seriam necessárias diversas formulações, uma para cada local da área agrícola. O conceito da formulação variável permite obter tal resultado, utilizando-se apenas três tipos diferentes de matérias-primas. Cada uma das matérias-primas deve ser cuidadosamente selecionada a partir das necessidades de todo o campo, visando atender a maioria das formulações requeridas. Ao se misturar as três matérias-primas com uma
fertilizantes, monitoramento e controle geral do equipamento. Possui uma plataforma computacional dedicada e exclusiva, baseada em microcontroladores de alto desempenho. O módulo de controle incorpora também um receptor GPS com correção diferencial em tempo real e deve ser instalado na máquina agrícola, junto ao seu operador. O módulo de interface se comunica com o módulo de controle, recebendo informações referentes ao comando dos dis-
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determinada proporção entre elas, um novo formulado será obtido. Se a proporção entre as matérias-primas for alterada, haverá uma conseqüente alteração da concentração de cada um dos macronutrientes. Um exemplo de formulação variável é mostrado a seguir. Supondo-se um sistema de aplicação de fertilizantes líquidos, operando com três formulados comerciais com diferentes concentrações de N, P2O5 e K2O. Escolhendo-se os pré-formulados comerciais 20-0-0, 6-30-0 e 12-0-18 e considerando-se uma proporção de 16,7%, 13,9% e 69,5% de cada um deles, respectivamente, será obtido um novo formulado com proporção entre os macronutrientes equivalente ao pré-formulado comercial 12-4-12. Se a proporção for alterada para 44,0 %, 0,0% e 56,0%, respectivamente, o formulado terá proporção entre os macronutrientes equivalente ao pré-formulado comercial 20-0-13. Utilizando-se o conceito da variação da formulação é possível obter diferentes formulados, alterando-se a proporção das três matérias-primas utilizadas. Desta forma, pode-se conseguir uma variação contínua da formulação durante uma aplicação e também existe a possibilidade de obtenção de formulados diferentes dos encontrados comercialmente.
positivos para aplicação de insumos. Paralelamente, o módulo também poderá monitorar condições operacionais e enviar informações ao módulo de controle. A comunicação entre o módulo de controle e o módulo de interface será realizada sem fios. O módulo de interface deverá ser instalado junto ao equipamento de aplicação de fertilizantes. O módulo de interface permite o acionamento de dispositivos elétricos através de sinais digitais, analógicos, em freqüência
Máquinas
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“A partir da posição geo-referenciada, o controlador buscará informações no mapa de aplicação e efetuará uma interpolação dos dados”
Fotos Unicamp
Protótipo de uma semeadora- adubadora para plantio direto com capacidade de formulação, dosagem e aplicação de fertilizantes sólidos no sulco, à taxa variável
e também na forma PWM (modulação por largura de pulso). O controlador pode operar em dois modos: configuração e operação. O modo configuração permite ao operador ajustar os parâmetros operacionais do controlador através da realização de alguns procedimentos: transferência do mapa de aplicação; configuração do GPS interno; ajuste das características do equipamento de aplicação (número de linhas, número de pré-formulados, capacidade dos tanques, velocidades mínimas e máximas de operação, largura da aplicação etc); parâmetros da aplicação (quais os pré-formulados utilizados e em que reservatórios estão armazenados, concentração de cada pré-formulado, velocidade ideal de deslocamento, tamanho da área a ser trabalhada etc). O modo operação é utilizado durante o funcionamento do controlador em uma aplicação de fertilizantes. Neste modo são extraídas do GPS informações de data e hora, posicionamento e velocidade do equipamento, e validade da correção diferencial. A partir da posição georeferenciada, o controlador buscará informações no mapa de aplicação e efetuará uma interpolação dos dados. Com os
valores de recomendação de aplicação de cada pré-formulado e da velocidade de deslocamento instantânea, serão calculados os valores correspondentes para os sinais de atuação dos dispositivos dosadores de cada matéria-prima. Estes sinais são enviados ao módulo de interface através de uma comunicação serial bidirecional sem fios. Após a transmissão dos sinais, o sistema verificará se o módulo de interface recebeu corretamente os dados. Serão continuamente monitorados eventuais falhas na operação do sistema. O módulo de controle poderá operar não apenas na aplicação de fertilizantes líquidos, mas também com praticamente qualquer tipo de atividade que exija o uso de controladores e monitores. O modulo de controle poderá ser configurado, através do software residente, para a realização de outras operações tais como: computador de bordo, monitor de plantio, monitor de produtividade, monitor de aplicação de fertilizantes, orientação de veículos e implementos, controlador de aplicação de fertilizantes sólidos, controlador de aplicação de defensivos, etc. O desenvolvimento do projeto está sendo realizado por pesquisadores com formação multidisciplinar e conta com o
Depósito subdividido em três partes mostra os dosadores helicoidais relativos a cada matéria-prima
apoio do Laboratório de Instrumentação e Controle da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp. A coordenação é do pesquisador Claudio K. Umezu da Unicamp, formado em Engenharia Elétrica pela Unesp, com Mestrado em Engenharia Elétrica e Doutorado em Engenharia Agrícola pela Unicamp. O responsável pela Empresa Tandra Sistemas de Controle é o engenheiro Edison Russo, que possui formação em Engenharia Elétrica pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá e está concluindo Mestrado em Engenharia Agrícola pela Unicamp. Atuam como consultores técnicos o engenheiro agrícola Nelson L. Cappelli e o engenhei-
A aplicação será baseada em mapas, armazenados na forma de arquivo de dados, dizem os autores
ro de computação Thales C. B. Lima, ambos da Unicamp. Ao final do projeto, previsto para o próximo ano, o controlador para formulação, dosagem e aplicação localizada de fertilizantes líquidos deverá ser disponibilizado com tecnologia igual ou superior aos disponíveis no mercado, a um preço significativamente inferior, o que atenM de a um dos requisitos do projeto. Claudio Kiyoshi Umezu e Nelson Luis Cappeli, Unicamp Edison Russo, Tandra Sistemas de Controle
Colhedoras batata
Fotos Jaime Alberti Gomes
Rapidez e rendimento A colheita mecânica de batata é uma alternativa principalmente na entrega do tubérculo para as indústrias, que normalmente exige grande volume de produto em pequeno espaço de tempo
D
entre os processos que compõem o sistema de produção da batata, a colheita apresenta-se como etapa fundamental, sendo uma das operações mais complexas e onerosas. A viabilização da mecanização da colheita vem apresentando destaque nos últimos anos, principalmente nas grandes regiões produtoras do país, buscando otimização do processo produtivo, onde o produtor pode obter um rendimento de colheita muito superior ao sistema manual ou semi mecanizado, podendo dessa forma otimizar a área de produção e promover a retirada dos tubérculos mais rápida do solo, estando livre do risco de ataque de pragas e doenças, permitindo também cumprir rigorosamente os prazos de entrega da produção. Nos estados de São Paulo, Paraná e Minas
Gerais, os bataticultores especializados no fornecimento de batata para a indústria foram os primeiros na aquisição de máquinas para a colheita mecânica da cultura da batata, principalmente quando o produto é destinado à indústria, que normalmente exige grande volume de produto em pequeno espaço de tempo. Para utilização desse tipo de máquina, vários são os fatores que devem ser considerados:
PREPARO DO SOLO O principal fator ligado ao preparo solo é a formação de torrão, principalmente em solos com textura argilosa. Normalmente são utilizadas operações como escarificação, aração, gradagens e até mesmo enxada rotativa
em uma mesma área para a implantação da lavoura, mas mesmo com toda essa mobilização acabam ficando alguns torrões que no momento da colheita a máquina dificilmente separa os que apresentam tamanho semelhante aos tubérculos de batata. Em visita a uma lavoura com colheita mecânica na região de Itapetininga (SP) no ano de 2002 em solo de textura argilosa observou-se a presença de 10 pessoas em uma colhedora que comportava apenas quatro lugares para a retirada de torrão que eram recolhidos junto aos tubérculos. O importante, seja em solos arenosos ou em solos com textura argilosa, é a realização de um preparo de solo que não forme torrões que comprometam o desempenho das colhedoras no que diz respeito à separação de torrões.
Semelhante aos tubérculos de batata, os torrões oriundos do preparo do solo devem ser evitados, para não comprometer o desempenho das colhedoras na separação
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Máquinas
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“Espaçamentos entre linhas ou leiras incorretos, influenciam diretamente no desempenho da colhedora, é importante posicionar as leiras de maneira que fiquem mais paralelas possíveis”
Esquema que representa a disposição em que os tubérculos podem se encontrar no solo
PLANTIO Um ponto importante no plantio é a profundidade dos tubérculos, pois é um dos principais fatores que influenciam nas perdas na colheita mecânica da batata, principalmente quando plantado muito abaixo da base da leira, impossibilitando a coleta pela colhedora. Espaçamentos entre linhas ou leiras incorretos influenciam diretamente no desempenho da colhedora. É importante posicionar as leiras de maneira que fiquem o mais paralelas possível. As colhedoras normalmente são dotadas de mecanismos com discos que compõem a plataforma de arranque. Estes discos ficam na
lateral no sentido vertical com o objetivo de recortar a leira para que seja recolhido pela colhedora, caso as leiras não estejam paralelas entre si, certamente correrá o risco de que o disco venha a cortar os tubérculos, ocasionando perdas.
TRATOS CULTURAIS Com relação aos tratos culturais, pode-se comentar inicialmente sobre o controle de plantas invasoras. Algumas colhedoras não apresentam sistema para a separação de ramos da batata e das invasoras. Alguns agricultores de regiões mais quentes acreditam que algumas ve-
Tubérculos de batata deixados no solo pela colhedora (perdas)
“As perdas na colheita mecânica da cultura da batata são consideradas um fator normal para a grande maioria dos agricultores, como também consideram os produtores de grãos”
Fotos Jaime Alberti Gomes
Tecnologia nacional
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nep, foi desenvolvido um projeto de colhedora-ensacadora de batata, numa parceria entre o Nafa-UFSM e a Serralheria São João, empresa do município de Silveira Martins (RS). Os executores foram os professores Arno Dallmeyer e Leonardo Nabaes Romano e o acadêmico de Engenharia Mecânica Juliano Tessaro. A máquina, embora utilizasse quatro operários na tarefa de separação de pedras e impurezas, mostrou-se viável, substituindo 20 operários da operação de arranquio manual, chegando a uma capacidade operacional de colheita de mais de 100 sacos por hora. Foram construídos dois protótipos antes do fechamento da empresa. A tecnologia continua disponível aos interessados junto ao Nafa/UFSM.
Fotos Arno Dallmeyer
m 1997 foi desenvolvido na Universidade Federal de Santa Maria, através de uma parceria do Núcleo de Automação e Processos de Fabricação (Nafa-UFSM) e a empresa Terra Máquinas Agrícolas de Santa Maria, com o apoio da Fapergs, o redesenho de uma arrancadora de batatas. O referido projeto foi tema da dissertação de mestrado do engenheiro Francisco Faggion, que foi orientado pelos professores Arno Dallmeyer e Leonardo Nabaes Romano, junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola. O principal resultado obtido foi uma redução do custo industrial total da máquina, na ordem de 15% em relação ao custo da arrancadora utilizada no estudo. Em 1998, com apoio do Sebrae/Fi-
A máquina possui plataforma lateral para o transporte dos classificadores
O principal resultado do projeto foi a redução do custo industrial de 15%
Concepção da colhedoraensacadora de batata
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Máquinas
Colhedoras que apresentam espaço lateral para separação manual do torrão
zes a presença das invasoras pode ser benéfica. Isso ocorre quando as batatas já estão no ponto de colheita e o agricultor não pode tirar imediatamente o produto da lavoura, sendo que nestas condições, as plantas invasoras servem como proteção, promovendo o sombreamento da batata e mantendo o solo úmido. Outros tratos culturais que podem ser comentados além do controle de plantas invasoras são: controle de pragas, controle de doenças e muitas vezes processo de irrigação. Sabe-se que a cultura da batata é altamente exigente nesses tratos, pois não é difícil de encontrar lavouras onde os agricultores fazem cada uma dessas práticas até duas vezes por semana, dependendo da região e condições climáticas. Dessa forma, através de todas essas práticas, pode-se observar que a mecanização de uma lavoura de batata é bastante intensa, havendo a necessidade de destinar linhas para o tráfego do trator e do sistema de irrigação, muitas vezes o pivô central. Com isso, a compactação do solo nessas linhas é inevitável, causando sérios problemas com relação à colheita mecânica. Quando a colhedora opera nessas áreas específicas, a resistência exercida pelo solo é maior, forçando todos os sistemas que compõem a plataforma de arranque, além de ser comum a formação de torrões nessas áreas, sendo estes recolhidos pela colhedora e de difícil separação entre os tubérculos.
Plataforma de arranque comum entre as colhedoras de batata utilizadas no Brasil
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Linhas de tráfego de trator
CONSIDERAÇÕES SOBRE COLHEITA MECÂNICA Como se pode observar, a colheita mecânica de batata no Brasil é bastante recente, quase todas as colhedoras utilizadas na atualidade são de origem estrangeira. Os países fabricantes dessas máquinas são, principalmente Alemanha e Estados Unidos. Tendo em vista esse fator alguns problemas foram encontrados no início da utilização dessas máquinas, sendo que todos os fatores, que envolvem o processo de colheita são objeto de estudo para uma melhor adaptação e desempenho dessas máquinas para as condições de lavouras brasileiras. A maioria das colhedoras encontradas no Brasil exige a utilização de um trator para serem tracionadas. A literatura descreve que colhedoras de batata tracionadas por tratores apresentam uma eficiência de campo da ordem de 70%. Em estudo realizado na grande região produtora de batata no norte do estado de São Paulo, com cinco diferentes marcas dessas colhedoras, encontraram-se valores bastante semelhantes, sendo que o menor valor encontrado foi de 69,59% e o maior valor de eficiência de campo encontrado foi de 76,92%. A mão-de-obra foi outro fator complicador no início da utilização dessas máquinas, pois apresentam certa complexidade desde o seu sistema de engate até todos os sistemas controladores, como altura da plataforma de arranque, velocidade da esteira de recolhimento, velocidade da esteira para descarga, alinhamento da colhedora entre as leiras de batata, entre outras. Algumas dessas colhedoras apresentam re-
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Linhas de tráfego do sistema de irrigação (pivô central) que causam sérios problemas, já que há grande compactação
servatório para armazenamento do produto, outras apresentam sistema de descarga direta em um caminhão ou trator com carreta durante o processo de colheita. As perdas na colheita mecânica da cultura da batata são consideradas um fator normal para a grande maioria dos agricultores, como também consideram os produtores de grãos. No mesmo estudo na região Norte do estado de São Paulo, encontrou-se uma perda que variou muito de colhedora para colhedora, considerando que as condições de trabalho foram semelhantes. A colhedora que apresentou menor perda foi da ordem de 305 kg/ha e a colhedora que apresentou maior perda foi da ordem de 3455 kg/ha, sendo que as demais ficaram com valores de perdas de 2000 kg/ha. Dessa forma, confirma-se tudo o que foi descrito anteriormente, sendo que muitos são os fatores que podem influenciar nas perdas, tais como mão-deobra, adaptação de cada tipo de colhedora, condições das lavouras. Considerando que uma perda de 2000 kg/ha equivale a 40 sacos de 50 kg de batata e considerando ainda um valor médio de R$25,00 por saco, temse uma perda de R$ 1.000,00 por hectare, valor esse que pode ser reduzido, uma vez que facilmente pode-se chegar a valores de perdas em
Colhedora com sistema de descarga direta
torno de 300 kg/ha. Um fator que chama bastante a atenção é que colhedoras de batata normalmente são utilizadas por agricultores que entregam seu produto para a indústria, que normalmente exige uma grande quantidade de produto em pequeno espaço de tempo, havendo a necessidade do cumprimento de prazos. Uma colhedora como essa pode realizar em média o trabalho de 40 a 50 homens, fator esse que merece também bastante atenção e muito esM tudo pela frente. Jaime Alberti Gomes, Cescage Antonio José da Silva Maciel, Feagri/Unicamp Afonso Peche Filho IAC/Apta
4x4 4x4
condução Fotos Técnica 4x4
Pedras no caminho Trechos que possuem pedras merecem atenção redobrada na travessia, pois alta velocidade, lombadas fortes ou pedras muito altas podem travar o veículo, ocasionando o choque com componentes inferiores ou com a carroceria
A
o atravessar um trecho com rochas é fundamental o uso de baixa velocidade, e sendo assim, é necessário utilizar tração 4x4 e reduzida. Em 100% das situações a primeira marcha será a ideal e, para caixas automáticas, a melhor alternativa é colocar a alavanca em “L”. Regiões pedregosas como as estradas secundárias na Floresta Atlântica, regiões da Serra Geral no Rio Grande do Sul e margens de rios com fundo pedregoso, requerem muita atenção para se evitar choques violentos con-
Abordagem correta de rocha
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Máquinas
tra o piso rochoso. Quando entrar em uma trilha, com lombadas muito fortes ou pedras muito altas, procure desviar a parte de baixo evitando o choque de pedras pontiagudas contra os diferenciais, eixos cardã, cárter e até o tanque de combustível. Se isto não for possível, porque a estrada ou trilha é muito estreita, faça um dos pneus dianteiros passar por cima da pedra. Com isto você evitará que ela bata embaixo do veículo. Preste atenção ainda na transposição central, para que a pedra não se choque com a carroceria.
Abordagem errada de rocha
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Em situações críticas onde qualquer erro pode travar o veículo entre as pedras, ocasionando o choque com componentes inferiores ou carroceria, é prudente contar com a ajuda de um auxiliar que possa orientar o motorista. Essa segunda pessoa vai ter outro ângulo de visão, o que ajudará na escolha do melhor trajeto. Finalizando, use sempre a primeira marcha reduzida e blocante, quando atravessar terenos pedregosos. Siga devagar e sempre atento para mudar o trajeto quando encontrar pedras muito grandes. Esse tipo de terreno também requer o manuseio do volante de forma suave, permitindo que os pneus trabalhem livres, desviando para esquerda ou direita, quando se depararem com pedras ou pequenas irregularidades do solo. Fique atento para não sair da trajetória principal, mantenha-se na direção certa e deixe o veículo “procurar” pelo melhor caminho, assim você aumenta a vida útil do barraM mento de direção. João Roberto de C. Gaiotto, Goodyear
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K3 Challenger 4x4 Fotos Jacto
A
Jacto Máquinas Agrícolas está lançando a colhedora de café K3 Challenger 4x4. A colhedora possui tração nas quatro rodas, o que lhe permite mobilidade em solos irrigados por pivô central e outros terrenos como o arenoso e os acidentados. A máquina conta com GPS opcional e sistema hidráulico para nivelamento que permite ao operador levantar e abaixar o equipamento de acordo com a altura do cafeeiro ou incliná-lo de um lado para o outro, acompanhando a disposição das plantas e a característica do terreno. Os pneus de alta flutuação conferem baixa compactação do solo e melhor estabilidade durante a operação. A K-3 possui bica de descarga a granel, com abertura regulável para diferentes espaços entre linhas. A regulagem do ângulo de trabalho da descarga mecânica faz com que a carreta caminhe em diferentes distâncias da máquina, adaptando-se aos diversos espaçamentos da lavoura. A colhedora opera o cavaleiro nas linhas das plantas, as hastes vibratórias atuam nas plantas causando a queda dos grãos e o sistema de mapeamento de produtividade
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Máquinas
através de GPS permite o posicionamento da máquina através de um computador que registra a produção da lavoura e os frutos colhidos são levados até o sistema de limpeza por transportadores internos, nos sentidos hori-
O sistema hidráulico para nivelamento permite inclinar a máquina de um lado para outro
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zontais e verticais onde as impurezas são separadas por um processo de ventilação. A colhedora possui altura máxima de 4,95 m, mínima de 4,55 m, largura com descarga de 3,75 m, largura sem descarga 3,20 m, bitola 2,70 m e comprimento máximo 5,00 m. A capacidade do tanque de combustível é de 100 litros e o utilizado é o diesel. A máquina é equipada com motor International Engines, 4 cilindros, a transmissão é hidrostática e a direção hidráulica. A velocidade de trabalho pode variar de 0,7 a 2Km/h e a de transporte em até 15 Km/h, operando em terrenos com declividade máxima de 10%. A K-3 é equipada ainda com freios dinâmicos e de estacionamento cubomotor, os pneus são do modelo 500/55-22,5 – 12pr a e pressão de inflação 28 psi. O sistema de direção proporciona ao operador um menor raio de giro nas manobras em geral e principalmente nos finais de rua, os intrumentos ao alcance do operador na cabine proporciona maior visibilidade e conforto. A K-3 Challenger está disponível também na versão 4x2. M
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Negócios lançamento
Fotos Divulgação
Aton A
Fundação Educacional Inaciana (FEI) apresentou no Salão Internacional do Automóvel o trator Aton, que tem como inovação no projeto o sitema de transmissão. O Aton é equipado com uma transmissão hidrostática: motor com combustão interna do ciclo Diesel, estacionário, que aciona uma bomba hidráulica, que por sua vez aciona dois motores hidráulicos acoplados diretamente nos cubos das rodas traseiras. O sistema oferece diversas relações de
transmissão e o projeto permitiu a eliminação da embreagem, caixa de mudança de velocidades, árvore de transmissão, diferencial e freios, o que permitiu redução do peso e das dimensões, obtendo-se menor relação peso/potência e menor compactação do solo. A potência nominal do motor é de 16,5 cv a 2.200 rpm, o seu sistema de partida é elétrico, o sistema de arrefecimento do radiador a água, o motor diesel quatro tempos e o peso de 210 kg. A transmissão é hidrostática e a capacidade do reservatório de óleo é de 45 litros. Através de engates padronizados, o sistema hidráulico assegura uma capacidade de levantamento de implementos de até 350 kg, o sistema de freio é hidráulico nas rodas traseiras (aproveita o sistema hidrostático) e o de estacionamen-
to é mecânico. O Aton possui 2.220mm de comprimento, 1.200mm de largura, altura de 1.750 mm (com cabine), o vão livre do solo é de 360mm, a distância entre eixos é de 1.250mm, o peso sem lastro é de 750kg e com lastro é de 900 kg. O sistema facilita na operação do trator, pois com o uso de uma só alavanca é possível ir à frente, dar ré e parar além disso, garante uma aceleração suave, sem trancos nas muM danças de velocidades. Ficha Técnica Bomba
Baixa rotação e alto torque
Barra de tração Direção Rodagem Bitolas (dianteira e traseira) Carroceria
Pistões – variável Pressão de trabalho de 210 bar Velocidade máxima: 14 km/h Motor hidráulico: tipo Lobular Deslocamento positivo Reversibilidade Velocidade variável Alta Eficiência Compacto, leve e estanque Tipo oscilante e regulável em 3 pontos; altura: 350mm Rosca sem fim Dianteira: 6” – 12” – 4 lonas Traseira: 7” – 18” – 4 lonas Mínima: 960 mm Máxima: 1.160 mm Fibra de vidro resinada.
Negócios lançamento
Civemasa
Plantadora de cana semi-automática 2/2 A
Civemasa Implementos Agrícolas Ltda está lançando a Plantadora de Cana Semi-Automática (PCSA 2/2). A plantadora é composta por duas hastes sulcadoras tipo semi-parabólica com asas, reguláveis para espaçamento de plantio de 1,40 a 1,50 m, quatro discos independentes de 18” equipados com mancais de rolamento de lubrificação permanente com banho a óleo e dois rolos compactadores oscilantes. A PCSA 2/2possui carreta de arrasto com capacidade de carga para até quatro toneladas de mudas inteiras, dependendo da variedade, é construída em aço, apóia-se sobre quatro rodas com pneus de alta flutuação em sistema Tandem (bitola de 2,9 m), que garantem estabilidade e menor esforço de tração e ainda é equipada com um cabeçalho para estabilização dianteira da máquina. Dois picadores de mudas, acionados por
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Máquinas
motores hidráulicos com válvula reguladora de fluxo, cortam a cana em toletes de aproximadamente 38 cm, que são locados em dois reservatórios primários com capacidade de 700 kg cada que, por sua vez, alimentam outros dois secundários com capacidade de 500 kg cada, por meio de rampas basculantes independentes. Os toletes são distribuídos nos sulcos por um sistema de esteiras e taliscas de borracha de alta resistência. A plantadora conta ainda com duas caixas de polietileno para 0,300 m³ de adubo cada, acionadas por motor hidráulico com válvula reguladora de fluxo, um tanque plástico para 200 litros de calda de defensivo, acionado por um motor elétrico e painel elétrico de todo o mecanismo da máquina. Para o trabalho recomenda-se velocidade entre seis e oito km/h e vazão do sistema hidráulico do trator de 90 litros/minuto acima. O abaste-
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cimento é feito por carregadora. A plantadora semi-automática abre o sulco no solo, aplica inseticida no fundo, distribui o adubo, ordena os toletes dentro do sulco, cobre e compacta o suficiente para não M deixar “bolsas” de ar. Modelo Caixa de adubo (m3) Pneus de alta flutuação Bitolas dos pneus (mm) Capacidade do tanque inseticida (l) Peso aproximado (sem carga - kg) Capacidade de carga (kg) Trator (cv) Capacidade operacional Consumo Quantidade de mudas Germinação
PCSA 2/2 2 x 0,270 ou 2 x 0,300 4 x 400/60-15.5 – 14L 2.900 (centro a centro) 200 5.500 6.900 150 até 0,9 ha/h cerca de 12 l/h 10 a 12 ton/ha 90%
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Negócios entrevista
Crescimento progressivo
CM - Este crescimento está ligado ao fato de a empresa mudar de estratégia e investir em outros setores, além do setor canavieiro, que sempre foi o carro-chefe da Valtra? CC - Nunca focamos somente o setor canavieiro, sempre focamos o agricultor de maneira geral, porém em função da robustez e do custo benefício, os produtos pesados Valtra têm uma excelente aceitação no segmento canavieiro, mas o mesmo também ocorre em outros setores, como soja, algodão, arroz, o que transparece efetivamente uma participação expressiva no mercado de tratores pesados. Sem dúvida nenhuma, a Valtra é um líder destacado neste segmento.
economia sem subsídios, culminando em função dos ganhos de produtividade e baixos custos de produção, tornando-se o líder de seu segmento. CM - Os R$ 5,5 bilhões anunciados pelo Governo para o Moderfrota são suficientes para atender a demanda, num momento em que a agricultura se expande? CC - Sim, os R$ 5,5 bilhões, de acordo com nossas estimativas, são suficientes para suportar um mercado na faixa de 33 mil tratores por ano. CM - Quais os principais problemas existentes com créditos para financiamento de máquinas agrícolas? CC - Os problemas, de maneira geral, estão ligados a limite de créditos e prazo de aprovação dos financiamentos. CM - Na sua visão, o que falta para que os produtores tecnifiquem ainda mais seu processo produtivo? CC - Eu creio que falta um pouco mais de tempo, o processo de renovação de frota vem ocorrendo naturalmente no setor produtivo, e o que precisamos são linhas de financiamento que suportem essa renovação de frota, o que é na verdade o grande projeto Moderfrota. Valtra
O
diretor de marketing da Valtra para a América Latina, Claudio Costa, fala em entrevista dos resultados alcançados com o último lançamento, das mudanças após a aquisição da empresa e das estratégias para os próximos anos. Cultivar Máquinas - De 2000 a 2003 a Valtra ocupou a terceira posição no ranking de vendas internas de máquinas agrícolas no Brasil. No primeiro quadrimestre de 2004 ocupa o segundo lugar, com 25% do total comercializado. A que o senhor atribui esta evolução? Claudio Costa - Principalmente a uma reestruturação que estamos realizando em nossa rede de concessionárias, que nos possibilita que tenhamos cada vez além de um melhor produto, a melhor rede de concessionárias no Brasil e no exterior, possibilitando ao cliente final um atendimento bastante profissional e com muita qualidade. O cliente, por sua vez, obviamente sente maior confiança na aquisição de um produto Valtra.
CM - Isso vai afetar de que forma a produção e a comercialização de máquinas da Valtra no Brasil? CC - Não sabemos ainda, pois precisamos obter primeiramente a aprovação por parte dos órgãos governamentais. CM - Com esta transação, houve boatos de que a Valtra estaria entrando no mercado de colhedoras, isso está nos planos da empresa? CC - Não possuímos nenhuma informação a respeito disso no momento. CM - O último lançamento da empresa foi o BL 77 e 88, configurável. Como o público tem reagido, já que isso é uma novidade no setor de máquinas agrícolas? CC - Não só os produtos como o processo de lançamento desses novos tratores nos permitiram um retorno muito positivo. Já foram comercializadas aproximadamente mil unidades desses dois modelos, o que demonstra claramente uma fantástica aceitação no mercado por tratores que possam oferecer mais tecnologia e melhor desempenho com baixos custos de aquisição. É, sem dúvida, o produto com o melhor retorno de investimento nesta categoria. CM - Quais são as estratégias da empresa para os próximos anos? CC - Acredito que as estratégias básicas que podemos afirmar, neste momento, é que pretendemos continuar presentes no mercado brasileiro, expandir nossos mercados na área de exportação, nos firmar como uma empresa de nível mundial e, acima de tudo, nos manter próximos dos nossos clientes finais, para que possamos continuar a contribuir com o sucesso da agricultura brasileira. M
CM - Quais são os principais desafios encontrados no Brasil? CC - O principal desafio encontrado no Brasil, acima de tudo, é contribuir para que o agricultor tenha uma competência profissional com classe mundial, trabalhando numa
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CM - Passados nove meses, o que mudou na Valtra após ser adquirida pela AGCO Corporation? CC - Para a Valtra do Brasil, não mudou nada, porque ainda estamos pendentes com relação à aprovação de órgãos governamentais.
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Negócios evento
Divulgação
Água em destaque O XIV Conird reuniu um público de 600 pessoas para discutir o uso racional da água e as tendências do setor
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agricultura irrigada esteve em pauta entre os dias 24 e 29 de outubro, com a realização do XIV Conird e I Encontro Interamericano de Irrigação, Drenagem e Controle de Enchentes. Os seminários, palestras, mini cursos e conferências aconteceram na Fiergs, em Porto Alegre (RS). Além do do Ministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rosseto, que participou
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Máquinas
da abertura do evento, todo o segmento do meio ambiental e palestrantes de renome nacional e internacional marcaram presença. Os debates agregaram compromissos mais fortes em relação à água, como por exemplo, a necessidade de parceria entre todos os Estados para a agilização e simplificação da outorga da água, e também concentraram-se na discussão sobre o
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consumo excessivo e reaproveitamento da água, um problema bastante evidente nas lavouras de arroz. O uso racional da água na produção de arroz já é uma realidade em algumas lavouras e os participantes do evento tiveram oportunidade de conferir alguns resultados em dias de campo realizados na semana do congresso nos municípios de Camaquã e Farroupilha. O Encontro Interamericano, realizado paralelamente, possibilitou a participação de palestrantes estrangeiros de empresas como Valmont dos Estados Unidos e do Grupo Clínica Agrícola do Equador, que abordaram técnicas utilizadas naqueles países, como reaproveitamento da água e produção de rosas com irrigação. As tecnologias de irrigação foram amplamente discutidas com ênfase no acesso ao pequeno produtor e enfocando técnicas modernas, que permitem o melhor aproveitamento da água e com mais eficiência. A organização do evento estipulou público de 600 pessoas, que participaram dos 18 minicursos, oito seminários, quatro conferências, sessão de pôster e dois dias de campo. M
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por Arno Dallmeyer - arnomaq@yahoo.com.br
Acelera... N
o final de semana de 13 e 14 de novembro os motores roncaram alto em dois pontos do Brasil: em Maripá (PR), com os velozes do arrancadão e em Paranapanema (SP), com os furiosos do trekker-trek. Na próxima edição traremos uma cobertura completa destes eventos, já também com o campeão de 2004 do arrancadão definido. Desta vez trazemos duas curiosidades deste mundo não convencional de tratores. O fotógrafo Paulo Cardoso envia uma colaboração do sul de Portugal, com o uso “salgado” de um trator. A outra curiosidade nós levantamos durante a cobertura da prova de Tcha-tcha-tcha, mostrada na edição anterior. Veja a criatividade sem limites dos nossos valiosos mecânicos do interior. Boa diversão...
Na praia
Rastros na areia...Uma tarde cinzenta... Fotos Paulo Cardoso
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ertamente não tem nada a ver com o clássico poema de motivação religiosa (pegadas na areia). O que faria então um trator na praia? Descobrimos que este antigo Case IH 3230 é utilizado para retirar barcos de pesca no mar, na praia de Armação de Pêra, no Algarve, sul de Portugal. Os pescadores preferem um trator a outros veículos (jipes, por exemplo) por sua maior capacidade de tração, trafegabilidade, e menor custo (se considerado o uso de trator “velho”). Vários tratores da faixa de potência de 70-80 cv são utilizados nestas fainas na região.
Moto-Kombi
Fotos Arno Dallmeyer
O
u Kombi-Moto? Como poderíamos chamar esta curiosa combinação de uma estrutura de Kombi antiga equipada com motor de motocicleta Honda CG 125? E anda? Pasme: anda! Vimos duas unidades deste veículo híbrido construído em oficinas do interior, lá mesmo em Vila Cruz. A adaptação é feita retirando o motor original da Kombi, colocando em seu lugar um motor de moto, com transmissão completa. O motor é acoplado ao eixo primário da caixa de câmbio da Kombi através de um flange com amortecimento. Desta forma o veículo fica com duas caixas de câmbio, o que lhe dá uma ¨super-redução¨ que permite tracionar o peso de quase uma tonelada (entre chassi e carga) com um motor de apenas uma dezena de cv. A embreagem passa a ser a da motocicleta. É a criatividade aguçada pela necessidade. E anda...
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Agenda Data 27/11/2004
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Local Castrolanda - Castro (PR)
Categoria Trekker Trek
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Informe jurídico • Newton Peter • OAB/RS 14.056 • consultas@newtonpeter.com.br
Problemas no arrendamento rural
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m produtor do interior de São Paulo arrendou pro pri-edade rural e se comprometeu a pagar, anualmente, uma quantidade pré-determinada de suas colheitas. Quando o proprietário morreu, seus herdeiros, percebendo o não-pagamento do combinado, ajuizaram ação de cobrança. Perderam em todas as instâncias, pois a lei expressamente proíbe a determinação do aluguel rural em quantidade fixa de produto. Inconformado, um dos herdeiros contou-me os detalhes dessa história há algumas semanas e perguntou o que poderia fazer. Nada. Legislação especial rege o arrendamento rural e, em alguns pontos, impõe condições injustas aos olhos do cidadão não acostumado ao convívio diário com as leis. A irrenunciabilidade de alguns direitos, por exemplo. A lei impede o arrendamento com preço combinado em produtos e sem equivalência monetária. Em tese, o arrendatário, ao assinar contrato comprometendo-se a entregar uma quantidade fixa de sacos de soja, por exemplo, renunciaria ao seu direito. Todavia, por constituir direito irrenunciável, mesmo com a existência de contrato, não pode o arrendador sustentar a exigência. Embora essa situação possa ser ou parecer injusta, fato é que ela ocorre com freqüência e iniciar aqui uma discussão filosófica sobre a justiça contida ou não na norma pouco ajudaria o leitor.
CONTRATOS AGRÁRIOS Seja através de parceria ou de arrendamento, as duas formais mais utilizadas de contratos agrários, a utilidade, juridicamente falando, é a mesma: viabilizar a função social da propriedade, conforme determina a Constituição. Não podendo ou não desejando cultivar suas terras, o proprietário confere a alguém essa tare-
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fa mediante recebimento de um valor fixo. Esses contratos são regulados por legislação especial por causa das particularidades envolvidas. Por exemplo, há previsão de contrato agrário realizado verbalmente devido ao elevado índice de analfabetismo existente no campo, principalmente no momento de promulgação da lei – anos 60. Um ponto interessante é que a ruralidade do imóvel advém do seu uso, não de sua localização. Mesmo um imóvel inserido no perímetro urbano pode ser considerado rural se for usado para agricultura ou pecuária. A moradia dos proprietários ou arrendatários no local não descaracteriza essa condição.
Outras particularidades desses tipos de contrato são a proteção social e econômica dos contratantes, a conservação dos recursos naturais da Terra, a proibição de usos e costumes lesivos à economia agropecuária e a já mencionada irrenunciabilidade de vantagens legalmente conferidas ao arrendatário. Importante também é mencionar a possibilidade de provar esses contratos, independente do seu valor e forma, através de testemunhas. Por outro lado, para fazerem valer seus direitos perante terceiros, devem as partes registrar o contrato em cartório.
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ARRENDAMENTO RURAL Nessa modalidade de contrato, há pagamento de aluguel, fixo e expresso monetariamente, pelo uso da terra. O arrendatário se compromete a usar o imóvel exclusivamente para o declarado, plantio de soja, por exemplo, não podendo modificar unilateralmente o combinado, sob pena de rescisão contratual e de arcar com perdas e danos. O preço do arrendamento sujeitase a um máximo de 15% do valor cadastral do imóvel declarado pelo proprietário do Incra. Reajustes são permitidos conforme o aumento de preços dos produtos agrícolas, variação dos índices oficiais vigentes, índices de valorização da terra ou de acordo com o aumento do ITR. Note-se, contudo, que o limite prático de reajuste é o de preço do produto cultivado. O período mínimo de duração do contrato no caso de exploração agrícola de lavoura temporária (soja, algodão) ou de pecuária de pequeno e médio porte (ovinos e caprinos) consiste em três anos; para lavoura permanente (café, citros) ou de pecuária de grande porte (bovinos, eqüinos), cinco anos; para exploração florestal, sete anos. Prazos superiores podem ser contratados livremente; inferiores costumam ser aumentados pela Justiça. Resta ainda comentar a questão da preferência do arrendatário no caso de novo arrendamento ou venda da propriedade. O arrendador, caso deseje retomar o imóvel, deve comunicar ao arrendatário seis meses antes do término do contrato. Caso contrário, há renovação automática. No caso de venda, o proprietário deve comunicar ao arrendatário das propostas e lhe conceder prazo de trinta dias para exercer seu direito de preferência à compra. Em caso de dúvida, consulte seu advogado.
Novembro 2004