Maquinas 38

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Do editor Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Nilo Peçanha, 212 96055-410 – Pelotas – RS www.cultivar.inf.br www.grupocultivar.com Direção Newton Peter Schubert K. Peter

Cultivar Máquinas Edição Nº 38 Ano III - Fevereiro 05 ISSN - 1676-0158 www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 • 70,00

Prezado leitor Uma maneira de garantir maiores ganhos é diminuindo os custos e perdas na lavoura, principalmente no momento em que as previsões de preços dos produtos não estão tão otimistas. É nestes momentos que todos os cuidados devem ser tomados para garantir o máximo de produtividade para compensar os baixos valores pagos pelo mercado. É com este intuito que publicamos um artigo sobre perdas na colheita, que mostra quais as medidas que devem ser tomadas para minimizar as perdas na plataforma de corte. Você vai perceber que tão importante quanto realizar manunteção e regulagem adequadas é avaliar o terreno e a estrura das plantas que serão colhidas. É uma questão de perfeita sintonia entre operador, máquina, planta e terreno, que resultará em percentuais de perdas bem menores e, conseqüentemente, aumento nos ganhos. Abordamos ainda custos de aplicações aéreas e terrestres, cuidados com semeadoras, principalemente no que diz respeito a uso de fertilizantes, os principais lançamentos do Show Rural Coopavel 2005, além de outros assuntos interessantes para quem gosta de manter a frota alinhada. Uma boa leitura a todos!

Índice

Nossa Capa

• Editor

Charles Ricardo Echer Capa Rocheli Wachholz

• Redação

Rocheli Wachholz • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia _____________

• Comercial

Pedro Batistin _____________

• Gerente de Circulação

Cibele Costa • Assinaturas

Rosiméri Lisbôa Alves Jociane Bitencourt Simone Lopes

Rodando por aí

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Aproveitamento da força na tração

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Cuidados com a plataforma de corte

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Cuidados com fertilizantes em semeadoras 16 Custos de pulverização aérea e terrestre

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Negócios - Empresas

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Uso de trituradores em café

26

Colheita de árvores

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Show Rural Coopavel 2005

34

Negócios - Empresas

39

Teste Drive pulverizador Tittan 1200

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Esporte Trator

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Coluna jurídica

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• Gerente de Assinaturas Externa

Raquel Marcos • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves

Destaques Sem perdas

• Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Além de manutenção e regulagens permanentes, o produtor deve estar atento às condições da lavoura a ser colhida .................................................... 12

NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL

3028.2000

Além da semeadura

• ASSINATURAS

3028.2070 • REDAÇÃO

3028.2060 • MARKETING

3028.2065

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Caderno especial Colheita

Saiba quais os cuidados na hora de realizar a manutenção da semeadora, garantindo a distribuição perfeita de sementes e fertilizantes ................................................... 16

Cortando custos Entenda a relação custo/benefício das aplicações aérea e terrestre e conheça os itens que mais influenciam nos gastos da operação ................................................... 20

Teste drive Tittan 1200 Veja como o pulverizador Tittan 1200 da Stara Sfil se saiu no teste drive Cultivar Máquinas ................................................... 40


Rodando por aí

Produção recorde

Sérgio Jorge dos Santos

Perspectiva Sérgio Jorge dos Santos, responsável pela aplicação da linha de mangueiras hidráulicas da Gates do Brasil, está otimista com o mercado para 2005.

Companhias aéreas Uma frota de 27 tratores da New Holland, modelo TL 65 Aeroporto, vai operar pela TAM em Congonhas e Brasília. Essa é a terceira compra que a TAM faz de tratores da New Holland. De acordo com o gerente Comercial da empresa, Mário Toigo, as máquinas foram preferidas pela companhia aérea por oferecerem qualidade, rede de assistência técnica facilitada e curto prazo de entrega.

A unidade da AGCO do Brasil em Santa Rosa (RS), que fabrica colhedoras da Massey Ferguson, bateu recorde de produção atingindo a marca de 2.463 unidades fabricadas em 2004. Esta produção representa um aumento de 16% com relação a 2003, quando foram produzidas 2.152 máquinas.

Tecnologia Pimento A John Deere acaba de adquirir o LMS Pimento como ferramenta de medição vibroacústica para a planta de Horizontina (RS). De acordo com o engenheiro mecânico da empresa, Hugo Scheid, um dos motivos que levou à escolha do Pimento foi a melhor relação custobenefício proporcionada pela tecnologia LMS, que será utilizada na empresa para aprimorar projetos de sistemas rotativos nas máquinas e também minimizar o nível de ruídos e vibrações.

Hugo Scheid

Samba A New Holland, juntamente com outras empresas do agronegócio, ajudou a levar o setor para o Sambódramo patrocinando o desfile da Escola de Samba Tradição. Com o enredo “De sol a sol; de sol a soja... Um negócio da China” a escola contou a saga da soja no Brasil e levou uma réplica da colhedora da empresa para a avenida Marquês de Sapucaí. “Atuamos no Brasil há mais de 30 anos e temos uma sólida história de envolvimento com o país, sua gente e sua cultura”, afirma o diretor de Comunicações da CNH, Milton Rego.

Crescimento

Cláudio Costa

Inovação A Valtra inovou no Show Rural 2005, apresentando toda a sua frota de tratores, inclusive nas dinâmicas, abastecidos com 5% de biodiesel. “Devido à alta tecnologia, nossos tratores mantém a performance com até 50% de biodiesel”, garante Cláudio Costa, diretor de Vendas e Pós-Vendas para a América Latina.

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Máquinas

A CNH Latin America, detentora das marcas New Holland e Case IH, fechou o ano com produção 4,68% maior que a obtida em 2003. No total foram fabricadas 14.491 máquinas, ante 13.843 produzidas em 2003. Segundo o diretor Comercial da CNH para América Latina, Francesco Pallaro, o crescimento na produção devese à demanda maior do mercado externo, pois as vendas para o mercado doméstico tiveram ligeira queda.

Crescimento A Agrale fechou 2004 com um crescimento na venda de tratores na ordem de 74% em relação a 2003. Silvio Rigoni, gerente de Vendas de Tratores, garante que o crescimento está relacionado à boa aceitação dos produtos da empresa, aliado à presença constante da Agrale nas feiras agrícolas.

Biodisel A Petrobras investirá cerca de US$ 3,5 milhões, em parceria com o governo de Minas Gerais, em uma usina para a produção de biodiesel, que será implantada no Vale do Jequitinhonha. O investimento será feito ainda este ano e a unidade terá capacidade para produzir, no mínimo, 10 milhões de litros/ ano do combustível.

Safra

Francesco Pallaro

Novo gerente O engenheiro Pedro Soares é o novo gerente de Vendas de Veículos para o Mercado Interno da Agrale S.A., responsável pelos segmentos de caminhões, ônibus e aplicações especiais, como o novo jipe Marruá. Formado em Engenharia Mecânica e com especialização em Marketing, Soares terá como funções consolidar o crescimento da empresa no seu segmento de atuação e fortalePedro Soares cer o relacionamento com o mercado.

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Silvio Rigoni

Dados divulgados pelo IBGE reafirmaram as constatações das planilhas da balança comercial do Rio Grande do Sul, onde a venda de tratores foi a grande vedete nas exportações do país no ano passado. O embarque de tratores e colhedoras ao exterior avançou 90,4% em 2004. Cerca de 53% do volume foi puxado pela marca Massey Ferguson, produzida pela AGCO do Brasil em Canoas e Santa Rosa (RS).

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Tecnologia

Sucesso O trator cargo da Agrale fez sucesso durante o Show Rural 2005. Ele foi utilizado pela equipe de limpeza do evento para recolher e transportar materiais diversos.

Embarque A AGCO do Brasil, detentora da marca Massey Ferguson, realizou embarque de 165 colhedoras Massey Ferguson num único navio para a Venezuela. As máquinas partiram do porto de Rio Grande (RS) e o número é recorde brasileiro. Desde 1990, quando foram enviadas 150 máquinas para o Oriente Médio, não se embarcavam tantas unidades em um único navio.

José Eduardo

Desempenho José Eduardo, gerente de Vendas de Pneus Agrícolas da Goodyear, está entusiasmado com os bons resultados obtidos pelo primeiro pneu radial agrícola produzido na América Latina, o DT 806 Optitrac. “Nada será como antes”, garante, fazendo referência ao slogan de lançamento do produto.

Tortuga A Tortuga Câmaras de Ar teve o Show Rural como termômetro em relação às demais feiras. Para Caio Fontana, gerente de Marketing da Tortuga, uma das principais marcas de Câmaras de Ar do mercado, as perspectivas para este ano são bem animadoras.

Flávia Mucio

Sima 2005 Dilvo Grolli

Otimismo O diretor presidente e o gerente comercial da Grazmec, Antônio Alberi de Mattos e Ricardo Mor, rescpecitavamente, ficaram satisfeitos com os resultados e contatos obtidos no Show Rural 2005 e anunciam novidades para a Expodireto.

Nova Linha

Presença marcante Márcio Afonso, engenheiro de aplicação para correias agrícolas da Gates do Brasil, destacou a presença da empresa em praticamente todas as montadoras de equipamentos agrícolas desenvolvendo e atendendo todas as exigências de aplicação.

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Norberto Luckow

Show A direção da Coopavel vem fechando vários convênios com instituições, inclusive com a prefeitura de Cascavel, para melhorar ainda mais a infra-estrutura do centro tecnológico onde acontece o Show Rural. Difícil é imaginar quais serão as próximas inovações no parque.

Ricardo Mor e Antônio Alberi de Mattos

Márcio Afonso

A AGR/Raven Precision Solutions participou pela primeira vez do Show Rural, apresentando a linha de produtos DGPS, controladores de fluxo - aplicação de taxa variável, piloto automático. “Tivemos grande receptividade no evento”, garante Flávia S. Andrade Múcio, diretora Comercial da empresa.

A Industrial KF está lançando nova linha de plantadoras de grande porte para o Centro-Oeste. Os diretores da empresa, Alceu e Ademir Kelm, estão otimistas com a nova linha e deixam claro que continuarão dando atenção especial para a agricultura familiar.

De 27 de fevereiro a 3 de março acontece o Sima 2005 em Paris Nord Villepinte, na França. O evento é uma excelente oportunidade para quem quer conhecer as últimas novidades do setor de máquinas e agropecuária da Europa

Miac O diretor presidente da Indústrias Reunidas Colombo, Luiz Hermínio, anunciou que novos lançamentos estarão pintando em 2005, sendo que o primeiro será a recolhedora/trilhadora Advanced para amendoin com nova unidade recolhedora para duas leiras.

Errata Na última edição da Cultivar Máquinas (Edição 37, página 29) publicamos erroneamente a fotografia que ilustra a matéria “Filial no Mato Grosso” sobre a nova revenda da Montana Indústria de Máquinas em Rondonópolis. A fotografia publicada é a da fábrica da empresa localizada em São José dos Pinhais (PR) e não da revenda. Ao lado, publicamos a fotografia correta da unidade em Rondonópolis.

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Luiz Hermínio

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Tratores tração

Força bem distribuída Para obter o melhor aproveitamento da capacidade de tração é preciso observar o tipo e a condição do solo, as dimenções e elementos de tração, o tipo de pneu e a distribuição de carga

Figura 1 - Forças atuantes num trator 4x2 TDA sem e com força aplicada à barra de tração

trator constitui a base da mecanização agrícola, ele proporciona a energia necessária para o acionamento das máquinas, a tração de implementos e o transporte de produtos. A tração é o resultado da interação do elemento de tração com o solo, sendo ela a forma menos eficiente, porém a mais usada de transferência de potên-

cia nos tratores. O desenvolvimento de rodados protegidos com borracha proporcionou verdadeira revolução do trator, visto que a roda pneumática, ao deformar-se, adapta-se melhor às características irregulares do terreno aumentando assim sua capacidade de tração e permitindo o aumento da velocidade de trabalho.

A escolha de um pneu adequado para as rodas motrizes de um trator agrícola não deve limitar-se simplesmente no fato de que ele tem que suportar carga vertical, transmitir potência e produzir força de tração. O problema é ainda mais complexo, pois o trator trabalha em solos que podem apresentar distintas características. O uso de pneus específicos para determinado tipo de superfície de rolamento permite aumentar seu desempenho operacional. Entretanto, os vários tipos e condições de solos agrícolas são fatores que dificultam o projeto de elemen-

Os eixos fixos no chassi por barras tensoras e a suspensão pneumática evitam impactos

O vão livre e a falta de proteção da parte inferior do cofre de alojamento eleva o risco de acidentes

O vão livre de 1,54m, talvez o maior da categoria, facilita o deslocamento em áreas rurais

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“A escolha de um pneu adequado para as rodas motrizes de um trator agrícola não deve limitar-se simplesmente no fato de que ele tem que suportar carga vertical, transmitir potência e produzir força de tração”

tos de tração que funcionem satisfatoriamente em qualquer situação. Em condição dinâmica, as forças atuantes sobre o trator apresentam-se de maneira complexa. Analisando-se o trator se deslocando em velocidade constante e desprezando-se a resistência do ar, têm-se como forças ativas do trator seu peso próprio (W) e a força de tração bruta desenvolvida (Ftt e Ftf). Como forças resistivas, têm-se as reações verticais do terreno (Wf e Wt), as resistências ao rolamento (Rrf e Rrt) e a força na barra de tração (Fb). Na Figura New Holland

Figura 2 – Planilha eletrônica desenvolvida para analisar a capacidade de tração dos tratores de rodas

1 são apresentadas as forças e reações do solo em um trator 4x2 com tração dianteira auxiliar (TDA) parado e em movimento desenvolvendo esforço tratório. Quando o trator se desloca sem força aplicada à sua barra de tração tem-se:

USO DE PLANILHA ELETRÔNICA Uma planilha eletrônica (Figura 2) foi desenvolvida para analisar o comportamento dinâmico dos tratores agrícolas de pneus, conforme metodologia proposta pela Associação Norte-Americana de Engenheiros Agrícolas (ASAE), que considera parâmetros relativos às

Enquanto que na situação em que o trator se desloca à velocidade constante com uma força Fb aplicada à sua barra de tração tem-se:

Dessa forma, se todas as características e propriedades do mecanismo de tração e do terreno são conhecidas, o problema é determinar as relações entre as condições do terreno, a carga sobre o rodado motriz, o torque aplicado e a tração desenvolvida. Prever o comportamento trativo de tratores agrícolas de pneus não é tarefa fácil diante da complexidade que envolve a interação entre o rodado e o solo. Por meio de modelos matemáticos pode-se prever o desempenho de tratores trabalhando com diferentes tipos de pneus e em diferentes condições de solo, ajudando no entendimento de diversos aspectos relacionados ao processo trativo e na tomada de decisão sobre o manejo a ser adotado. Com esse tipo de análise podese selecionar um dado trator, a melhor distribuição de peso sobre os eixos e o tipo de pneu adequado para determinada situação de campo.

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Figura 3 – Desempenho simulado de um trator 4x2 utilizando a planilha eletrônica da ASAE (2004)

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“Fatores que afetam a capacidade de tração, como resistência ao rolamento, patinagem, tipo de trator e de pneu, distribuição de peso sobre eixos, atrito e deflexão do elemento de tração podem ser estudados utilizando a planilha desenvolvida”

Charles Echer

Figura 4 - Relações de potência em tratores agrícolas (Fonte: ASAE, 2004)

características dos diferentes tipos de trator e de solo, ao carregamento e característica do pneu e à interação existente entre o rodado e o terreno. Fatores que afetam a capacidade de tração, como resistência ao rolamento, patinagem, tipo de trator e de pneu, distribuição de peso sobre eixos, atrito e deflexão do elemento de tração podem ser estudados utilizando a planilha desenvolvida. Como medida da resistência do solo à penetração das garras do pneu foi usado o índice de cone (medido pelo instrumento penetrômetro), que é a força média de penetração de um cone no terreno dividida pela unidade de área de sua base. Com essa medida e as características do pneu e do trator pode-se estimar a condição de trabalho do trator. Para usar a planilha é necessário entrar com os valores da largura, diâmetro, altura da seção e deflexão dos pneus dianteiro e traseiro, da resistência do solo à penetração, da distância entre o eixo dianteiro e o traseiro do trator, da altura da barra de tração, do peso sobre o eixo dianteiro e traseiro do trator e da velocidade de trabalho, e selecionar o tipo de pneu (diagonal

As recomendações feitas são de que as operações agrícolas sejam realizadas dentro da faixa de patinagem de 8 a 16%

ou radial). Todos esses dados podem ser facilmente medidos ou determinados na propriedade, com uso de trena, de balança e de um penetrômetro. Depois de fornecidos os valores de entrada, basta dar um clique no botão “Calcular tração” (Figura 2) para que sejam exibidas a patinagem das rodas, a força de tração desenvolvida, as resistências ao rolamento dos pneus, a variação do carregamento sobre os rodados traseiro e dianteiro, a eficiência tratória, a potência de tração, a potência nos eixos, a potência equivalente da TDP e a potência exigida no motor do trator. Os resultados podem ser visualizados em tabelas ou em gráficos. Os dados apresentados a seguir foram determinados por meio da planilha eletrônica para a predição da capacidade de tração de tratores de rodas, desenvolvida conjuntamente pela UFV e a UFMS.

APROVEITAMENTO DE POTÊNCIA Como já foi mencionado anteriormente, a tração dos tratores é o meio menos eficiente de

Figura 5 – Efeito do tipo de pneus na potência disponível na barra de tração de um trator 4x2TDA

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aproveitamento de potência do motor e a mais usada. Da potência produzida pelo motor de um trator considera-se que de 86 a 90% está disponível para uso na TDP do trator, e dependendo das condições do solo, a potência na barra de tração pode chegar a ser inferior a 50% da potência produzida pelo motor. Uma das formas de se avaliar o aproveitamento de potência de um trator em termos de desenvolvimento da tração é por meio da eficiência tratória. A eficiência tratória pode ser definida como a relação entre a potência disponível na barra de tração e a potência aplicada no(s) eixo(s) motriz(es). Os resultados apresentados na Figura 3 foram obtidos com a utilização da planilha eletrônica para calcular a capacidade de tração de um trator 4x2 trabalhando sobre solo duro. Na Figura 3(a) pode ser observado como a capacidade de tração influencia a patinagem do rodado motriz do trator. À medida que aumenta-se a força aplicada na barra de tração aumenta-se também a patinagem. Na Figura 3(b) é apresentado como a eficiência tratória varia com a patinagem das rodas motrizes. A máxima efici-

Figura 6 – Eficiência tratória para um trator 4x2TDA como função da patinagem e da resistência do solo

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“Assim, a adequada distribuição de peso sobre eixos além de proporcionar boa capacidade de tração, contribui para melhoria da estabilidade e da digiribilidade do trator”

Charles Echer

Por meio de modelos matemáticos é possível prever o desempenho de tratores trabalhando com diferentes tipos de pneus e condições de solo

ência tratória foi obtida quando a patinagem foi de 7%. Nessa situação a potência na barra de tração correspondia a 65% da potência aplicada no eixo motriz. Na Figura 3(c) é apresentado como a força aplicada na barra de tração influencia a velocidade de deslocamento, à medida que é aumentada a força aplicada na barra de tração reduz-se a velocidade de deslocamento do trator devido ao aumento da patinagem das rodas motrizes.

TIPO DE TRATOR A eficiência de utilização da potência de um trator agrícola desenvolvendo esforço de tração varia com o tipo de trator. Na Figura 4 é apresentado um esquema mostrando a eficiência na transmissão de potência entre o motor e a barra de tração para tratores tipo 4x2, 4x2TDA, 4x4 e de esteiras. Por exemplo, se um trator apresenta 100 kW de potência bruta no volante do motor, ele terá 83 kW (100 kW x 0,83) de potência disponível no eixo da TDP, se for um do tipo 4x2 trabalhando sobre solo arado, a potência disponível na barra de tração será de 55,6 kW (83 kW x 0,67). Se ao invés de um trator 4x2 for utilizado um trator de esteiras, a potência na barra de tração será de 66,4 kW (83 kW x 0,80). É claro que esses valores são válidos se o trator estiver equipado com pneus apropriados para sua potência e se estiver com a quantidade de lastros ideal.

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Para que um trator apresente sua maior capacidade de tração é importante observar a distribuição adequada de peso sobre os eixos e a definição adequada dos lastros no trator. O excesso de peso sobre o rodado causa aumento da perda de potência devido à maior resistência ao rolamento e maior compactação do solo. Quantidade insuficiente de lastros provoca excesso de patinagem e maior perda de potência devido à queda na eficiência tratória. Assim, a adequada distribuição de peso sobre eixos além de proporcionar boa capacidade de tração, contribui para melhoria da estabilidade e da digiribilidade do trator. Quando os tratores são equipados com pneu radial tem-se observado maior capacidade de tração. Esse resultado pode ser atribuído ao fato do pneu radial apresentar maior área de contato com o solo que o pneu diagonal. De maneira geral, quando o pneu radial é utilizado como elemento de tração, a potência disponível na barra pode ser 17% superior ao pneu diagonal (Figura 6). Embora os pneus radiais apresentem maior capacidade de tração e conseqüentemente menor consumo de combustível, esses ainda não são tão utilizados devido ao seu maior preço e devido à menor resistência lateral. As recomendações feitas pelos técnicos da área de mecanização agrícola é de que sejam realizadas as operações agrícolas dentro da faixa de patinagem de 8 a 16%. Entretanto, verificou-se que pode haver vantagens para a utilização de pneus radiais em índices maiores de

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patinagem, o que proporciona maior disponibilidade de força na barra de tração com maior velocidade de avanço, obtendo-se dessa forma maior capacidade operacional. Neste caso é importante observar o desgaste de pneus agrícolas em distintos níveis de patinagem em operações que demandem grandes esforços. O comportamento de um trator 4x2 TDA, equipado com pneu diagonal, é distinto quando ele trabalha sobre o mesmo solo com diferentes condições. Utilizando-se a planilha eletrônica pode-se verificar que trabalhando sobre o solo em seu estado duro (compactado) esse tipo de trator apresenta 3% a mais de eficiência tratória que com o solo firme (plantio direto), 6,9% a mais que com o solo convencionalmente cultivado e 18% com o solo solto (Figura 7). O aumento excessivo da patinagem do rodado do trator provoca diminuição na eficiência tratória, sendo que em cada condição de terreno há uma patinagem que proporciona a melhor capacidade de tração. As maiores eficiências tratórias foram observadas nas patinagens de 7% para o solo duro, 8% para o solo firme, 9% para o solo cultivado e 12% para o solo solto. Portanto, o tipo de elemento de tração, o tipo e a condição do solo, as dimensões do elemento de tração e a distribuição de carga são fatores que influenciam consideravelmente a capacidade de tração dos tratores agrícolas de pneus. Exatamente por isso, o usuário deve estar muito atento na hora de escolher as condições de trabalho do trator agrícola. O uso de sistemas computacionais, como a planilha eletrônica mencionada, que facilitem a análise do comportamento de tração dos tratores para cada fator é extremamente importante, pois ele pode auxiliar no manejo e na tomada de decisão da utilização e aquisição de um equipamento, para as condições enfrentadas no dia-a-dia da proM priedade. Cristiano Márcio Alves de Souza, DCA/UFMS Daniel Marçal de Queiroz, DEA/UFV Divulgação

Souza explica que o uso de pneus específicos aumenta o desempenho operacional do trator

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Colhedoras

plataforma de corte

Sintonia total New Holland

Além das manutenções e regulagens habituais, o produtor deve estar atento para as condições da lavoura a ser colhida, pois esta também vai influenciar diretamente na condução das máquinas durante a colheita

4º) Capacitação dos operadores: grande parte das pessoas que operam as colhedoras são apenas condutores de tratores, com pouco ou nenhum treinamento. Daí resultam as deficiências verificadas tanto na manutenção quanto na regulagem da máquina. Como conseqüência, verificamos um mau desempenho da colhedora, principalmente em lavouras de baixo porte, onde as perdas de colheita afetarão a produtividade final.

SITUAÇÃO ATUAL Em safras como a de 2004/2005, marcada por uma estiagem prolongada, alguns cuidados especiais devem ser tomados pelo produtor para minimizar as suas perdas. Assim, na colheita desta safra de soja deve-se ter em mente que a cultura estará com porte menor, a inserção das vagens estará muito baixa e, para diminuir custos, o produtor deverá colher a soja com baixa umidade. Centenas de levantamentos efetuados ao longo dos últimos anos têm mostrado que as perdas na colheita de soja são significativas e, em muitos casos, acarretam prejuízos desnecessários ao produtor.

TIPO DE PERDAS

Massey Ferguson

As perdas na colheita podem ser devidas a diferentes fatores, tais como: perdas de pré-colheita devidas principalmente às condições de lavoura como grau de maturação, acamamento e características genéticas da planta. Estes

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ários são os fatores que concorrem para que ocorram perdas durante a colheita da soja. Dentre eles, podemos citar os mais importantes: 1º) Conservação das colhedoras: um número significativo das máquinas que estão em operação são velhas e estão desgastadas, em decorrência da dificuldade de reposição do quadro de máquinas, por questões de crédito e também pelo alto preço das máquinas novas. 2º) Terceirização: é expressivo o número de lavouras colhidas com máquinas alugadas. Talvez seja um dos principais problemas a serem

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considerados, pois o dono da máquina, embora receba pelo serviço prestado, não leva em conta a necessidade de reduzir perdas na colheita. Em razão da pouca disponibilidade desse serviço nas épocas de pique de colheita, sua maior preocupação é quantidade de área colhida (aumentando a velocidade de trabalho) e não com a qualidade do produto colhido. 3º) Inserção das vagens: em anos com deficiência hídrica como o desta safra, as plantas apresentam uma inserção de vagens baixa, o que propicia um aumento do número de vagens não recolhidas pela colhedora.

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“Assim, quanto maior for a velocidade do cilindro, menor deve ser a distância entre o cilindro e o côncavo”

problemas podem ser minimizados peIo bom manejo e colheita na época adequada, desde que não haja nenhum contratempo, tais como vento e chuva. Perdas no mecanismo de recolhimento ou plataforma da colhedora: devemse às falhas do molinete ou da barra de corte. Estas perdas podem ser evitadas pela adequada regulagem destes equipamentos. Perdas de trilha e separação são devidas ao fluxo de ar inadequado, orientação defeituosa da corrente de ar, peneiras mal reguladas e falta ou excesso de trilha.

MECANISMOS Em safras como esta, deve-se dar especial atenção aos seguintes mecanismos da colhedora, bem como às suas regulagens.

MOLINETE A função do molinete é conduzir as plantas contra a barra de corte e, logo após o corte, conduzi-las para o caracol de alimentação. O molinete deve mover a cultura com suavidade e uniformidade, evitando batidas ou atritos excessivos que possam causar debulha de espigas. As regulagens de um molinete são as seguintes: Posição do molinete Horizontal: para um padrão de lavoura normal, o eixo do molinete deve ficar deslocado cerca de 15 a 20 cm à frente da barra de corte, conforme mostra a Figura 1. Quando as plantas são muito altas, adianta-se o molinete. Por outro lado, quando a lavoura apresenta plantas muito baixas, o molinete é retraído para perto do sem-fim de alimentação, conforme mostra a Figura 2. Vertical: em lavouras de condição normal, a ponta do dente do molinete deve ser ajustada

na cultura cerca de 5 cm abaixo da vagem mais baixa, conforme mostra a Figura 3. Quando houver plantas acamadas, o molinete deve ser deslocado bem para a frente da barra de corte, cuidando-se para que a colheita seja efetuada sempre na direção da inclinação. Velocidade de rotação Uma velocidade de rotação do molinete (IM) adequada permite obter um segundo ponto de apoio da planta no momento do corte e a colocação uniforme de material cortado no semfim de alimentação, sem provocar agitamento excessivo da planta e evitando debulha. Inclinação dos dentes do molinete Em lavouras densas e com plantas altas, os dentes do molinete devem estar na posição vertical ou levemente inclinados para a frente. Em lavouras com plantas de porte normal, os dentes devem permanecer na posição vertical. Para lavouras acamadas, deve-se regular a inclinação dos dentes para trás, adiantando todo o molinete para uma posição muito próxima da plataforma, conforme mostra a Figura 4. Os dentes devem passar cerca de 2,5 cm da barra de corte. Cilindro e côncavo Recebem parte da planta e as vagens, dando início à operação de trilha. A velocidade de rotação do cilindro e a abertura do côncavo é que vão determinar a maior ou menor ação de trilha. Assim, quanto maior for a velocidade do cilindro, menor deve ser a distância entre o cilindro e o côncavo. Nessa safra, monitorar a qualidade do grão que está indo para o tanque graneleiro é palavra de ordem. Regulando corretamente a abertura do côncavo e a rotação do cilindro, menores são as chances de ocorrerem perdas por dano mecânico no grão de soja. Lembrar que a parte da frente da abertura entre o cilindro e o côncavo deve ser mais ou menos cinco milímetros maior que a parte de trás. É fundamental também observar o paralelismo entre o cilindro e o côncavo.

Figura 1 - Posição do molinete para colheita de cultura com altura normal

Figura 2 - Posição do molinete para colheita de lavouras com plantas muito baixas

Figura 3 - Posição vertical do molinete para colheitas normais

REGULAGENS DO CILINDRO Abertura entre cilindro e côncavo A abertura entre o cilindro e o côncavo afeta a qualidade da ação trilhadora e a quantidade de grãos que é separada da palha pelo côncavo. A abertura entre o cilindro e o côncavo deve ser maior na entrada do que na saída. Isso porque o maior volume de material encontrase no começo da trilha. Essa concentração vai diminuindo à medida que os grãos vão caindo através do côncavo. A regulagem dessa abertura é efetuada de forma mecânica, elétrica ou hidráulica, dependendo do modelo de colhedora. Para que a trilha seja uniforme, é necessário que a abertura

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Figura 4 - Regulagem do molinete para colheita de lavouras com plantas acamadas

Figura 5 - Côncavo paralelo com o cilindro

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“A falta de ação trilhadora é causada tanto por rotação do cilindro muito baixa como por abertura muito ampla entre o cilindro e o côncavo”

Divulgação

Para a cultura de soja, são aconselhados os seguintes índices de molinete (IM) Condições da lavoura Alta e densa Normal Baixa e rala

IM

Descrição

1,00

Igual à velocidade de avanço da colhedora

1,15 - 1,25

15 a 25 % mais rápido que a colhedora

1,35

35 % mais rápido que a colhedora

entre cilindro e côncavo seja igual em ambos os extremos do cilindro, conforme mostra a Figura 5. Quando a trilha é difícil, pode-se reduzir a abertura entre o côncavo e o cilindro, para tornar mais delgada a camada de palha, fazendo com que a maioria das vagens entrem em contato com o cilindro e haja melhor ação de trilha. À medida que se aumenta o espaçamento entre o cilindro e o côncavo, a trilha ocorre mais na parte traseira do côncavo e não há tempo para que os grãos sejam separados. Como resultado, estes caem sobre os saca-palhas, sobrecarregando-os. Velocidade do cilindro A velocidade do cilindro afeta a qualidade de grãos trilhados e eleva a quantidade de grãos quebrados. Segundo as condições da lavoura, deve-se estabelecer a velocidade tangencial do cilindro, expressa em m/s, que é calculada da seguinte maneira: velocidade tangencial do cilindro = (2? / 60) x raio do cilindro (m) = m/s.

Excesso de trilha O excesso de ação trilhadora é causado tanto por rotação elevada do cilindro como por pouco espaçamento entre côncavo e cilindro. Essa rotação poderá ser reduzida diminuindo-se a velocidade do cilindro. Inicialmente, reduza em apenas 5% a rotação. Verifique os resultados dessa mudança. Se a redução de rotação em até 10% não resolver o problema, abra ligeiramente o côncavo. Se a ação trilhadora excessiva não for resolvida por esses meios, diminua a velocidade de avanço da colhedora, reduzindo assim o volume de material que entra na máquina. Falta de trilha A falta de ação trilhadora é causada tanto por rotação do cilindro muito baixa como por abertura muito ampla entre o cilindro e o côncavo. Nesse caso, deve-se aumentar a rotação do cilindro em 5%. Se isso não resolver, diminua um pouco a abertura entre o cilindro e o côncavo. Sob certas condições de colheita (pouca palha), a falta de ação trilhadora poderá não ser resolvida apenas com esses ajustes. Nesse caso, aumente a velocidade de trabalho da colhedora. Separação final do grão O material que já foi trilhado é conduzido à área de separação. Essa unidade é composta

Rocheli Wachholz

Conhecendo-se o diâmetro do cilindro, a rotação do cilindro pode ser calculada por: rpm do cilindro = Vt x 60 / 2? x Rc, onde: Vt = velocidade tangencial do cilindro; Rc = raio do cilindro.

Ação trilhadora A eficiência de trilha depende da abertura entre o cilindro e o côncavo, da velocidade de rotação do cilindro e das condições da lavoura, que podem variar ao longo da jornada de colheita. Assim, a abertura e a velocidade devem ser reguladas conjuntamente.

Portella: “se as perdas com a colheita forem superiores a 1 sc/ha há o uso inadequado da máquina”

por batedor traseiro, pente do côncavo, cortinas e saca-palhas. Os grãos que não foram separados na trilha deverão ser separados na área de separação. O batedor traseiro é um defletor rotativo que executa uma segunda batida na palha contra o pente do côncavo, deslocando-a para o sacapalhas onde é realizada a separação final. As cortinas defletem o material jogado pelo batedor traseiro, fazendo com que este seja distribuído uniformemente sobre o saca-palhas. Após a operação de trilha, tem-se os seguintes produtos: grão trilhado e separado da palha, grão trilhado, porém junto com a palha e grão não trilhado.

CONCLUSÃO A colheita é a última etapa do processo produtivo. Apesar de ser uma operação relativamente fácil, requer a tomada de cuidados para que não ocorram perdas de grãos que, em alguns casos, chegam a ser o lucro do produtor. Aceita-se que fique na lavoura em torno de um saco de soja por hectare, mesmo com a máquina bem regulada. No entanto o que se perde, em média, é muito mais que isto (2,3 sacos por hectare). Portanto mais de um saco por hectare fica na lavoura em razão do uso inadequado e falta de regulagem das colhedoras. É correto afirmar que regulando e operando adequadamente as colhedoras estareM mos transformando perdas em lucro. Em anos com deficiência hídrica as plantas apresentam uma inserção de vagens baixa propiciando um aumento no não recolhimento, exigindo regulagens especiais da máquina

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Máquinas

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José Antonio Portella, Embrapa Trigo

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Semeadoras fertilizantes

Baldan

Muito além da semeadura Além de distribuir sementes, a semeadora tem como função aplicar fertilizantes observando sempre a regularidade e a eficiência na operação, que serão atingidas se houver cuidado redobrado com a máquina e os insumos durante e após o trabalho

A

plicar a quantidade correta de fertilizante observando um padrão de uniformidade é um dos grandes desafios no momento da semeadura. Em tempos onde se inicia uma Agricultura de Precisão, inovando e revolucionando o sistema produtivo de diversas culturas, ainda busca-se a “precisão na agricultura”. Além da distribuição de sementes, a semeadora tem como função distribuir fertilizantes, observando uma regularidade, para que se forneçam quantidades iguais de nutrientes para todas as plantas. Utilizando ferramentas de qualidade total, o processo de semeadura pode ser visualizado como sistêmico, podendo ser representado através de um diagrama (diagrama de Ishikawa), com cinco divisões (fatores) principais: máquina (trator e semeadora), meio (solo e palha), material (semente e adubo), mãode-obra (técnico e operador) e método (regulagem e velocidade), conforme mostrado na Figura 1. A sua correta interpretação e aplicação fornece subsídios para um processo de semeadura eficiente e tecnologicamente adequado. No caso da distribuição de fertilizantes, os mesmos fatores podem ser discutidos e devem ser analisados para a obtenção de uma distribuição uniforme e em quantidades corretas. Aqui está sendo tratado do material “fertilizante”, discutindo suas principais características, determinantes para obtenção de uma distribuição adequada pela semeadora-adubadora. Distribuir adubos ou fertilizantes não é uma tarefa simples. Certamente todo o produtor já

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deparou-se com problemas como a sobra de adubo ao término da semeadura, o que não deveria ocorrer, pois havia adquirido a quantidade exata a ser aplicada na área, para a dosagem recomendada, ou, em outros casos, ter de comprar mais fertilizante, pois o que tinha sido adquirido não foi suficiente. Pode-se enumerar diversos outros problemas observados empiricamente, como, ao abastecer uma semeadora com dois reservatórios para adubo, verificar que um está vazio enquanto o outro encontra-se

ainda com alguma quantidade, que certamente são indicativos de que já ocorreram problemas na distribuição. A uniformidade na distribuição de fertilizantes por semeadoras adubadoras não é função apenas das características da máquina utilizada e regulagens empregadas, mas depende também das características físicas do adubo (tamanho de grânulos, uniformidade do tamanho destes grânulos, resistência ao esfarelamento, higroscopicidade etc) a ser aplicado e dos fato-

Figura 1 - Diagrama de Ishikawa do processo de semeadura (Weirich Neto, 1999)

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“A escoabilidade de um adubo varia em função de diversos fatores, como o tamanho das partículas, a natureza do fertilizante, a massa específica e a umidade do material”

Lama/UEPG

ção (neste caso, rotor dentado horizontal) para ambos adubos, a razão de distribuição (massa de adubo distribuída por distância percorrida) dos mesmos foi diferente. Isso reafirma a necessidade de efetuar nova regulagem da semeadora adubadora sempre que um adubo for substituído por outro, mesmo que apresentem mesma fórmula química. Outros padrões de distribuição podem ser verificados para fertilizantes orgânicos e organominerais, como demonstrado na Figura 4. A segregação das partículas e conseqüentemente dos fertilizantes componentes de um adubo é um dos problemas associados a sua distribuição. Isso ocorre quando as partículas de maior tamanho, com a vibração da máquina no campo, concentram-se na parte superior do reservatório de fertilizantes. Os problemas associados a estes fatores podem acarretar a alteração das proporções dos fertilizantes distribuídos (usualmente NPK), além da alteração na dosagem, pois em dados momentos terá partículas de tamanhos diferentes alimentando o mecanismo, alterando a vazão e conseqüentemente a razão de distribuição do adubo (quantidade de adubo distribuído por distância percorrida pela máquina). A higroscopicidade (capacidade de retirar água do ar) de alguns fertilizantes é um dos fatores a serem observados. Pode-se dizer que é com relação a esta propriedade dos fertilizantes que está associada quase que toda, senão toda a influência do ambiente na distribuição dos adubos. A umidade pode aparecer tanto no período em que o adubo está armazenado quanto no momento da semeadura. A umidade elevada dá início à solubilização do fertilizante. Assim, as partículas que estão em contato, ao perderem novamente a umidade para o ar, formam aglomerados muito coesos (na linguagem popular se diz que o adubo empedrou) difíceis de serem quebrados. Isto ocorre geralmente quando o fertilizante é armazenado em locais com alta umidade, ou mesmo em galpões com goteiras. Quando não há

res ambientais que podem modificar estas propriedades. Os adubos convencionalmente utilizados por agricultores brasileiros são misturas de fertilizantes muito heterogêneas em relação ao tamanho, forma e massa específica das partículas e elementos constituintes. Isso aumenta ainda mais se tratando de adubos orgânicos e organominerais (adubos obtidos da mistura de fertilizantes orgânicos e minerais). Uma das formas de conhecer a escoabilidade de um adubo ou fertilizante é a partir do ângulo de repouso, indicado pela letra “a” na Figura 2, que é o ângulo entre uma superfície plana e a superfície formada pela massa de fertilizantes que se acumula, ao cair livremente, e uma superfície plana. A escoabilidade de um adubo varia em função de diversos fatores, como o tamanho das partículas, a natureza do fertilizante, a massa específica e a umidade do material. É interessante ressaltar, considerando esta propriedade dos fertilizantes, que a regulagem efetuada para uma fórmula não será a mesma para outra, devendo-se regular novamente o mecanismo de distribuição de fertilizantes da semeadora adubadora a cada vez que se substitui o fertilizante por outro diferente, mesmo que a dosagem a ser utilizada seja a mesma. O tamanho das partículas constituintes dos adubos determina sua classificação quanto à forma física, em adubos granulados, farelados e pós, respectivamente do maior para o menor tamanho de partículas. Pelo arranjo que as partículas assumem, pode-se dizer que os fertilizantes em pó são os que apresentam maior dificuldade para uma distribuição uniforme pelos mecanismos das semeadoras adubadoras de precisão, por apresentar baixa escoabilidade. Quando há baixa escoabilidade de um adubo da forma física “pó”, acontece do mesmo formar um espaço vazio no reservatório, não alimentando de forma adequada o mecanismo de distribuição. Neste caso, o problema da forma física foi agravado pela presença de umidade no adubo. A influência da forma física do adubo pode ser verificada na Figura 3, onde utilizando-se a mesma regulagem do mecanismo de distribui-

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Charles Echer

Figura 2 - Determinação do ângulo de repouso (a) de um adubo

tempo e condições atmosféricas suficientes para a perda da água, a massa de fertilizantes assume uma consistência pastosa, aumentando a adesão entre as partículas perdendo a sua escoabilidade. É um fato de comum ocorrência quando, ao término do expediente, o operador deixa a semeadora adubadora abastecida com o fertilizante para o próximo dia de trabalho, pois a umidade do ar aumenta no período noturno, propiciando condições de umedecimento e condensação no interior do reservatório quando o fertilizante não está devidamente protegido. Usualmente, os fertilizantes nitrogenados apresentam alta higroscopicidade, devendo redobrar os cuidados quando se trabalha com fórmulas de adubo que apresentem maior concentração deste nutriente. Outros problemas que são verificados para os fertilizantes orgânicos, que geralmente apresentam baixa massa específica e uma falta de uniformidade muito maior nos tamanhos de partículas, em relação aos adubos químicos, apresentando comportamentos diferenciados para distribuição. Embora exista um predomínio da utilização de fertilizantes químicos no momento da semeadura, muitos produtores vêm aplicando os fertilizantes orgânicos. Estes geram uma demanda de desenvolvimento de mecanismos mais adequados para sua distribuição, considerando que os projetos de mecanismos para distribuição em linha (por semeadoras adubadoras) comercializados no Brasil não foram desenvolvidos visando trabalhar com estes materiais. Ressalta-se a importância de que o agricultor mantenha um controle rigoroso da sua semeadora-adubadora quanto à aplicação dos fertilizantes, uma vez que este material terá influência direta na produtividade da cultura, podendo gerar resultados não condizentes com o planejamento inicial. Ou seja, a produtividade vai diminuir e comprometer a lucratividade da lavoura implantada. A utilização correta dos equipamentos é parte integrante dos requisitos

Após o uso do equipamento de distribuição do fertilizante é necessário deixá-lo limpo e protegido por uma camada de óleo para evitar a sua oxidação

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“Manutenção e cuidadoso armazenamento da semeadora-adubadora são ações que deverão ser executadas para que o equipamento apresente bom desempenho no campo”

Fotos Lama/UEPG

Problema observado na distribuição de um adubo em pó, agravado pela presença de umidade. Vista superior mostrando o buraco na massa de fertilizante

para uma produção tecnologicamente adequada. Outro fator que é importante é o cuidado com a manutenção do equipamento de distribuição do fertilizante. Após a utilização dos equipamentos de distribuição dos fertilizantes, são necessários cuidados especiais, por utilizar produtos agressivos, corrosivos, que estarão deteriorando rapidamente os equipamentos se estes não forem limpos e guardados, protegidos por uma camada de óleo para evitar a oxidação das partes (enferrujar) e provocar danos irreparáveis no equipamento. Estes cuidados devem ser redobrados com o reservatório de adubo e o mecanismo de distribuição (rotor dentado, helicóide, prato horizontal), que estão em contato direto com o adubo e apresentam os maiores problemas com a oxidação. A pintura também é um elemento importante a se verificar. Tem como função proteger as partes metálicas da máquina da corrosão por oxidação (enferrujamento), evitando o contato direto das superfícies metálicas com o meio (atmosfera, adubos). Com o atrito entre os mecanismos da semeadora e destes com o adubo durante o trabalho, a pintura é desgastada e expõe as superfícies metálicas, que iniciam o processo de oxidação. Desta forma, é recomendável que ao término da semeadura seja também verificado o estado da pintura, essencialmente na parte interna do reservatório de adubo e mecanismo de distribuição. Caso a pintura apresente-se desgastada, a mesma deve ser refeita. Este tipo de manutenção apresenta um certo custo ao produtor, que entretanto é recompensado com o aumento da vida útil do equipamento, bem como pela manutenção da qualidade da distribuição do adubo pelo mecanismo, que quando desgastado apresentará pa-

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Figura 3 - Distribuição de dois adubos de granulometrias diferentes (Schoenberger Júnior, 2001)

drões diferentes de distribuição para o adubo. Cabe lembrar que nas semeadoras-adubadoras que apresentam o reservatório de adubo confeccionado por algum tipo de fibra ou plástico, o mecanismo de distribuição, seja qual for, ainda é feito de material metálico e demanda o mesmo tipo de cuidados. Como conclusão, manutenção e cuidadoso armazenamento da semeadora-adubadora são ações que deverão ser executadas para que o equipamento apresente bom desempenho no campo (distribuição do adubo em quantidade correta com boa uniformidade) e prolongue sua vida útil, podendo ser utilizado adequadamente nos próximos plantios. Os cuidados com o material (adubo) a ser utilizado, desde o armazenamento até a regulagem adequada da máquina, considerando a interação existente entre estes fatores, são fundamentais para a obtenção de uma distribuição na dosagem recomendada e de maneira uniforme na área. Deve-se lembrar que qualquer tipo de mecanismo de distribuição de fertilizantes (rotor dentado horizontal, helicoidal,

prato giratório) não apresentará boa distribuição do adubo no campo se não for utilizado um adubo de qualidade, a qual deve ser exigida dos fabricantes e revendedores. A observação de todos os fatores de influência no processo de semeadura é determinante para sua qualidade. A aquisição de um equipamento de elevado custo, considerado tecnologicamente mais avançado, não garante ao produtor a obtenção de qualidade no momento da semeadura. Uma semeadora-adubadora que receba cuidados ideais com sua manutenção, regulagem e operação, certamente apresentará bons resultados no campo. A capacitação (treinamento) do operador também é essencial, pois conhecendo a fundo o processo, pode detectar mais facilmente quaisquer problemas durante a semeadura logo que aconteçam, evitando alguns “imprevistos” no campo. Em resumo, o agricultor deverá estar atento aos seguintes fatores: A) regular a semeadora para o adubo que será empregado, na velocidade de trabalho a ser utilizada durante a semeadura (tabelas im-

Figura 4 - Distribuição de um adubo organomineral (à esq.) e um orgânico (à dir.) utilizando a mesma regulagem (Bergamini et al., 2001)

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Esvaziar os reservatórios de adubo é um dos cuidados que deve ser tomado com a máquina

pressas na máquina por seus fabricantes são feitas utilizando uma única forma física do adubo ou média de resultados obtidos com algumas, e servem apenas como um ponto de partida para a regulagem, do qual o produtor irá ajustar para o seu adubo e condições de trabalho); B) ao final de cada período de trabalho, garantir que os reservatórios de adubo estejam vazios; C) ao abastecer o reservatório de adubos para o início do período de trabalho, verificar as condições do reservatório de fertilizante, principalmente quanto à presença de umidade; D) caso a semeadura tenha que ser inter-

rompida por alguns dias, lembrar de lavar o reservatório de fertilizante antes de guardar a semeadora; E) lembrar de verificar a distribuição de fertilizante sempre que as condições do tempo modificarem demasiadamente (de seco para chuvoso); F) sempre que notar diferenças no consumo de fertilizante, conferir a regulagem do distribuidor, ou pelo menos uma vez a cada dia; G) mudando de marca, formulação ou qualquer outra alteração de fertilizante, rever a regulagem do distribuidor; H) ao término da semeadura, lavar a semeadora completamente, fazer as revisões necessárias e pulverizar com óleo de mamona, pois não ataca os componentes de borracha, ou outro lubrificante na falta deste; e, I) finalmente, guardar a semeadora em loM cal protegido. Marcelo J. Colet, Cláudio B. Sverzut, Feagri/Unicamp Pedro H. Weirich Neto, Lama/UEPG Ineu A. Schoenberger Junior e Monica R. Slob, Insolo Soluções Agrícolas

Oxidação de componentes da semeadora por problemas com limpeza e lubrificação


Pulverização aviação agrícola

Cortar custos

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A relação custo/benefício da aplicação aérea x terrestre tem sido, cada vez mais, motivo de análises técnicas, pois todos os itens são importantes no objetivo de minimizar gastos

D

os vários fatores envolvidos na produção agrícola, a pulverização tem se destacado pelas implicações decorrentes não somente do aspecto do próprio valor de aquisição do insumo, mas também da importância na exatidão e momento da aplicação. Vários são os tipos de máquinas utilizadas para este fim. Independente do processo empregado, o agricultor busca sempre qualidade, eficiência e menor custo final. O custo/benefício é também um item de grande importância que muitas vezes o agricultor menos atento deixa em segundo plano. Entre os processos de aplicação, a utilização de aeronaves agrícolas tem como atrativo principal a rapidez na execução dos trabalhos e qualidade na aplicação. Trabalhos desenvolvidos por Boller (2004), comparando os efeitos do amassamento e compactação de solo com o uso de equipamentos terrestres sobre a produtividade na cultura do trigo na região de Passo Fundo (RS), com variações de espaçamentos nas aplicações entre seis e

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Máquinas

24 metros nas passagens de um pulverizador de arrasto, verificou que, dependendo da distância entre as aplicações, estas promoveram reduções significativas nos índices de produção, conforme observado na Figura 1. Em seu trabalho, os resultados sobre os níveis de amassamento e os efeitos da passagem do pulverizador/trator sobre a lavoura foram significativos. A quebra causada pelo amassamento foi calculada comparando-se o que foi colhido nas faixas com e sem tráfego e os prejuízos de produção foram determinados pela ação dos efeitos de passagem pelas duas ro-

Figura 1 - Curva característica de redução produção x distância de passagem do pulverizador

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das, descontando-se da produção total esperada para determinada largura de faixa de trabalho. Os dados refletem a média de 48 amostragens. A análise dos dados possibilita (Tabela 1) verificar que aplicações com espaçamentos reduzidos provocam perdas extremamente altas e para a faixa de maior amplitude, com aplicações espaQuadro 1 - Efeitos do amassamento e compactação do solo na produção na cultura de trigo, submetido a diferentes distâncias de passagem na região de Passo Fundo (RS) Custo tratamento aéreo x terrestre Custo em R$/ha (2003/2004) Terrestre Diferença Custo da pulverização 12,00 +100% Custo do fungicida 70,00 Custo parcial do tratamento 82,00 +15% Perda por amassamento 45,00 Custo total do tratamento 127,00 +35%

Aérea 24,00 70,00 94,00 0 94,00

Dados médio coletado junto a empresas e sojicultores - RS. (Pode haver variação entre lavouras). Relação US$ 1,00 = R$ 3,00 Amassamento: Produtividade 50 sc/ha x 2% amassamento = perda 1 sc/ha = R$ 45,00 Retorno do investimento: Expectativa de aumento de produtividade pelo controle de doenças = 6scs/ha x r$ 45,00/sc = R$ 270,00/ha Fonte: Schröder (2004), Consultoria Agrotécnica n.58. 2004

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“Entre os processos de aplicação, a utilização de aeronaves agrícolas tem como atrativo principal a rapidez na execução dos trabalhos e qualidade na aplicação”

Tabela 1 - Produção x espaçamento

Quadro 2 - Custo de aplicação

BARBOSA, J. (2004)

Quadro 3 - Amassamento

çadas de 24 m, as reduções de produção ainda permitem que o técnico analise de forma ponderada que nível de perda será aceitável na opção de escolha sobre qual técnica deverá ser utilizada. Levantamentos realizados com produtores soja na região de Pelotas (RS), com aplicações de fungicidas sobre a cultura, identificaram perdas relativas ao amassamento na ordem de 2%. Considerando na época do levantamento, o custo básico de R$ 12,00 e parcial do tratamento de R$ 82,00, observa-se um acréscimo de 15% para a aplicação aérea. Se forem considerados os valores na época de R$ 45,00 para a saca de soja e uma produtividade de 50 sacas/ha, o resultado final implica num diferencial favorável de 35% para as aplicações aéreas, conforme pode ser visto no Quadro 1. Outro aspecto importante que o autor destaca é a expectativa de aumento de produtividade ocasionada pelo controle de doenças e o custo relativo ao investimento realizado (contratação do serviços). Barbosa (2004) estudando o custo de produção de soja numa área de 946,40

ha em uma propriedade agrícola de Mineiros (GO) durante o ano agrícola de 2002, sem considerar o amassamento obteve um custo de produção de R$ 9,60 para as aplicações terrestres e R$ 18,75 para as aplicações aéreas (Quadro 2). Muitos agricultores e técnicos têm questionado sobre os efeitos de redução na produção de soja quando são realizadas aplicações sucessivas passando-se a máquina sobre o mesmo sulco. Há uma idéia difundida de que as marcações que são normalmente feitas antes do plantio e seqüencial nas diferentes aplicações sobre o mesmo sulco inicial só produziriam a perda por este amassamento e compactação uma única vez. Diante deste questionamento avaliou-se as produções ocasionadas por pulverizadores tracionados sobre a lavoura de soja realizando três e cinco pulverizações (Quadro 3). Os resultados de rendimento da cultura encontrados indicaram que, na linha não trafegada, a produção obtida foi de 54 sc/ha. Quando se avaliou o efeito de três passagens realizando pulverizações passando-se sobre o mesmo sulco

(aplicações anteriores), foi verificado que houve uma redução de 4% na produção, caindo dos 54 sc/ha para 51,4 sc/ha. Já para áreas onde foram utilizadas cinco pulverizações ocorreu uma redução de 7%, ou seja, produções de 50,22 sc/ha. É interessante verificar que, ao contrário do que se imaginava, que a redução de produção só afetaria a cultura na primeira passada e que as demais por passarem sobre o mesmo sulco não teriam um efei-


“Os cuidados na preparação dos solos, colheita e aquisição de insumos também deve ser motivo de atenção, pois envolve aumento de custos de produção e interferem na decisão para as pulverizações”

Figura 2 - Produção x época ideal de aplicação. Fonte: Vieira, T.V./Fundação MT, 2004

resultados esperados durante uma aplicação são muito dinâmicos. Em muitas aplicações nem sempre bem sucedidas, onde são atribuídos erros pelo uso do equipamento de aplicação, quer aérea ou terrestre, na realidade o que tem que ser considerado e avaliado não é apenas a máquina aplicadora ou a empresa prestadora de serviço, mas a qualidade do produto utilizado, o momento ¨timing¨ da aplicação e as condições meteorológicas, o que tem sido negligenciado muitas vezes. Nos trabalhos realizados na Fundação MT (Figuras 2, 3 e 4), podemos ver a importância e as implicações em se aplicar produtos no momento e estágio adequados. Reduções significativas de produção são observadas quando os momentos mais adequados não são verificados. Muitos dos insucessos de pulverizações podem ser atribuídos a falhas na qualidade de geração de gotas e conseqüente deposição, o que também está intimamente ligado à não observação de tais momentos, aplicando-se produtos ora em sub-doses, ora em doses acima do recomendado. Uma parcela significativa de usuári-

Além da rapidez nas aplicações, o não amassamento das culturas é outro benefício proporcionado pelas pulverizações aéreas

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Máquinas

Figura 4 Fonte: Viei

os de defensivos agrícolas não tem tido o cuidado devido com os equipamentos. A realização de treinamentos e a verificação periódica dos pulverizadores se fazem cada vez mais necessárias. Os cuidados na preparação dos solos, colheita e aquisição de insumos também devem ser motivos de atenção, pois envolvem aumento de custos de produção e interferem na decisão para as pulverizações. Muitas empresas rurais, mesmo as de grande porte, têm se descuidado da importância que se deve dar à manutenção adequada dos equipamentos aplicadores. Tem sido comum encontrarmos todo um planejamento na aquisição e escolha de insumos, entretanto, a mesma atenção não tem sido observada quando se fala na manutenção dos equipamentos aplicadores, na substituição de partes danificadas ou desgastadas, tais como pontas de pulverização, responsáveis diretas por toda a passagem do produto da máquina em direção ao alvo. Trabalhos desenvolvidos estudando Quadro 4 - Avaliação de máquinas pulverizadoras Item avaliado Presença, funcionamento e precisão do manômetro Erro na dosagem do produto Bicos ruins Erro na taxa de aplicação Antigotejadores ruins ou ausentes CV da barra acima de 15% Falta de proteção de partes móveis Mangueiras mal localizadas Vazamentos Mangueiras danificadas Espaçamento incorreto entre bicos Outras

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to tão elevado, as conclusões demonstram que houve uma redução adicional com a ocorrência de novas passadas sobre a lavoura. Dentre os fatores que influenciam na escolha do equipamento, a qualidade da pulverização, a confiança na empresa aplicadora, o rendimento da pulverização e o preço da aplicação são os principais. A escolha do equipamento de aplicação e das técnicas a serem utilizadas está intimamente ligada à relação de confiança entre o produtor e a qualidade esperada, não só na aplicação, mas no serviço pós-venda. Caberá à empresa prestadora de serviços de aplicação ficar atenta, pois tão importante quanto a qualidade de aplicação esperada pelo agricultor, a assistência pós-venda tem sido um fator decisivo na manutenção e sobrevivência da empresa. Temos observado que a valorização da qualidade do serviço prestado nem sempre tem sido reconhecida por aqueles que a utilizam, ressaltando e valorando muito mais alguns insucessos do que o próprio sucesso das aplicações. Não se pode esquecer que os fatores que envolvem os

Figura 3 - Produção x época de difícil controle. Fonte: Vieira, T. V./Fundação MT, 2004

Máquinas reprovadas Nº % 71 93,4 66 62 61 55 27 49 46 43 37 32 11

86,8 81,6 80,2 72,4 69,2 64,5 60,5 56,6 48,7 42,1 14,5

Fonte: Gandolfo, M.A. (2001)

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Quadro 5 - Aumento do rendimento operacional com o uso do sistema de tecnologia com BVO Item Horas voadas Horas trabalhadas Translado(horas) Hectares aplicados Hectares por hora Combustivel (l/ha)

Convencional 1.030,23 1.010,43 19,8 84.822 86,5 0,81

BVO 449,34 446,34 3 87.448 190 0,37

Fonte: VILELA, M.M. (CBB – 2004)

Produção x época fora do controle. ra, T. V./Fundação MT, 2004

za de que o agricultor estará perdendo dinheiro pela ineficácia da operação, sem contar com a possibilidade das contaminações a que estará sujeito com valores imensuráveis .

MÁQUINAS REPROVADAS máquinas aplicadoras terrestres em algumas regiões dos estados de São Paulo e Paraná (Quadro 4) apresentam uma situação bastante preocupante de como estão nossos equipamentos aplicadores. Entre os equipamentos analisados 81,6% apresentaram bicos ruins e um percentual muito significativo de outras ocorrências. Os reflexos diretos serão o aumento dos custos de aplicação e a certe-

No processo de pulverização, em especial com aplicação aérea, temos que analisar alguns pontos importantes antes de falar na composição dos seus custos, como tipo de ponta instalada, produto utilizado, sistema de geração de partículas (hidráulico ou centrífugo), volume de calda, posicionamento e distribuição dos bicos etc.

Aeronave a álcool

N

o final de 2004, a Indústria Aeronáutica Neiva fez a apresentação oficial com a homologação da aeronave agrícola a álcool, que já estará em produção no início de 2005. Segundo cálculos da Neiva, citados pela empresa (Aero Leste, 2004), a grande vantagem é a economia de utilização para o proprietário, pois a despesa direta por hora de trabalho do avião a gasolina é 139% superior ao utilizado com avião a álcool na mesma função. Num ano com 400 horas de vôo, de acordo com o estudo apresentado, a diferença deverá ser de R$ 111.200,00 para R$ 48.400,00. A explicação para tal economia é a significativa diferença no preço dos dois combustíveis: o litro da gasolina de aviação custa R$3,90 e o do álcool R$ 1,40. e o desempenho da máquina a álcool, que é ainda 5% superior. A Neiva já está se preparando para fazer a conversão dos motores, a um custo de US$ 15 mil, visando estender o benefício à frota existente.


“Os cuidados na preparação dos solos, colheita e aquisição de insumos também deve ser motivo de atenção, pois envolve aumento de custos de produção e interferem na decisão para as pulverizações”

tidos, onde é possível verificar, pelas informações comparativas entre aplicações com o uso desta técnica, um aumento no rendimento das aeronaves passando dos 86,5 ha/h para 190 ha/h e uma redução significativa do gasto energético por ha, o que implica na redução dos custos de produção.

CUSTO OPERACIONAL - AVIAÇÃO AGRÍCOLA Composição dos custos operacionais custo / hora = custo / hectare hectare / hora

Figura 6 - Distribuição dos custos de produção. Fonte: Araújo, E.C . Agrotec (2004)

O respeito às condições meteorológicas é a altura adequada das pulverizações, de acordo com cada equipamento, associados ao momento da aplicação e à escolha correta do método empregado resultam em reduções de custos. Na composição dos custos operacionais por hectare das aplicações de produtos fitossanitários, é importante levar em consideração o custo/hora e o rendimento operacional das máquinas. Se for considerado apenas o custo/hora, veremos que o das aplicações aéreas é bastante elevado, entretanto, considerando diretamente apenas seu rendimento operacional e fatores como o não amassamento, a rapidez e a eficácia nas aplicações, o custo por área trabalhada será bastante reduzido. Composição dos custos operacionais Custo / hora = Custo / hectare Hectare / hora Fonte: Araújo.E.C. Agrotec – RS s.d.

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Nos últimos anos tem havido um es-

Os autores alertam para a necessidade de avaliar bem a lavoura antes de escolher um sistema de pulverização

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Máquinas

forço entre os técnicos que trabalham com tecnologia de aplicação no aprimoramento das técnicas de pulverização, na redução dos volumes aplicados, mantendo-se o padrão de qualidade de controle esperado. O rendimento ha/h leva em consideração volumes de aplicação. Recentemente, as técnicas a baixo volume têm se destacado na redução de volume a baixo custo, exigindo maior qualificação entre os aplicadores e cuidados operacionais principalmente no que tange às condições de vôo e meteorológicas. Vilela (2004) desenvolveu em 2001 um equipamento para aplicações em baixos volumes (Turbaero) que tem também recebido evoluções e tem aperfeiçoado as técnicas de aplicação. Esta tecnologia de baixo volume oleoso (BVO) tem provocado uma verdadeira revolução nas aplicações aéreas no país nos últimos anos, proporcionando um aumento ainda mais significativo no alto rendimento através das aplicações aéreas. Além do rendimento e da redução de custo operacional, a qualidade nos níveis de controle tem sido uma meta nunca esquecida. O Quadro 5 apresenta resultados ob-

Hectare / hora • velociadade operacional; • largura da faixa de aplicação; • capacidade de carga; • volume de aplicação; • distância da pista ou ponto de abastecimento; • tempo de “balão” ou manobras; • tempo de carregamento; • paradas diversas. Fonte: Coopervale. Custos em Av. Agrícola. CCAA, 1991. Nas Figuras 6 e 7 pode-se observar que, na composição dos custos, o item combustíveis e lubrificantes representa 26,49% do custo operacional das empresas, indicando que a substituição dos combustíveis das aeronaves a gasolina pelo álcool poderá representar uma ¨folga¨ às empresas aplicadoras e usuários, permitindo que haja uma recomposição da frota, que, mesmo com o crescimento ocorrido nos últimos anos, tem reduzido suas margens de lucro deixando a atividade fragilizada. Com a competição de mercado e elevação dos custos operacionais, principalmente pela alta dos combustíveis e itens de manutenção na sua grande maioria importados, cuidadosos estudos de planejamento de gastos deM vem ser adotados. Wellington P. A. de Carvalho e Ronaldo G. Magno Júnior, Ufla

Figura 7 - Distribuição dos custos de produção de uma empresa agrícola. Fonte: Araújo, E.C. Agrotec (2004)

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Fevereiro 2005


Negócios empresas

Casa nova

A

GTS do Brasil Ltda, indústria de máquinas e implementos agrícolas, transferiu sua sede de Campo Belo do Sul para o Distrito Industrial de Lages (SC), onde inaugurou em janeiro as novas instalações em uma área de 70 mil m². “A idéia é buscar a logística integrada, ter fácil acesso aos fornecedores de componentes e estar ao alcance do mercado consumidor”, explica o diretor-presidente da empresa Assis Strasser. A empresa produz, atualmente, 66 modelos de plataformas com número de linas variando de quatro a 18 e espaçamentos de 45, 50, 55, 60, 70, 75, 80 e 90 cm e também possui uma linha de montagem específica para niveladora de arrasto. A GTS do Brasil surgiu em setembro de 2000, fruto da união das famílias Garro, Tanzi e Strasser, pois um grande problema enfrentado na década de 90 era o de não haver, no país, plataforma que colhesse milho com espaçamento de 50 cm, fazendo com que os Strasser transformassem a primeira plataforma de milho, de 70 cm para 50 cm e, animados com os excelentes resultados, resolvessem criar uma empresa para produção de plataformas, buscando parcerias no exterior. Atualmente, a GTS do Brasil é uma empresa com cotas 100% da família Strasser e foi pioneira no desenvolvimento de plataformas colhedoras de milho em estrutura M de alumínio na América do Sul.

Empresa responsável A

Goodyear do Brasil foi além da simples exposição e vendas de produtos no Show Rural 2005. Durante o evento, a empresa, numa iniciativa inédita no país em parceria com a Coopavel, lançou o programa Agricultor Nota 10. A campanha tem como objetivo de conscientizar o agricultor sobre a importância de fazer exames preventivos e, como complemento, iniciar um banco de dados sobre a saúde do homem do campo e os principais problemas e doenças que o afetam. Ao lado do estande técnico da Coopavel, em uma área de cem metros quadrados, o programa montou um laboratório com capacidade para realizar 1,8 mil tipos de exames, além de uma equipe formada por bioquímicos, médicos clínicos, oftamologistas e fisioterapeutas. Mais de 1,8 mil pessoas foram atendidas durante o evento. Um exemplo dos exames realizados é o de Colinesterase, que indentifica o nível de agrotóxico no sangue.

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DOAÇÃO Outra novidade foi a inauguração da loja da Goodyear, com vendas de produtos personalizados com a grife Goodyear. Todo o dinheiro arrecadado com as vendas dos objetos foi doado para a União Oeste de Pesqui-

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sa e Combate ao Câncer (Uopeccan) de Cascavel (PR). O cheque no valor de R$ 3.451,00 foi entregue ao presidente da instituição, Ciro Kreuz, pelo gerente de Vendas e Marketing de Pneus Agrícolas, José Carlos Moreno, pelo gerente de Vendas, José Eduardo, e o gerente M de Área Marcos Wozniak.

Máquinas

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Triturador café

Fotos Ezequiel de Oliveira

Menos linhas no café

A necessidade de eliminar linhas alternadas de cafeeiros plantados em sistema adensado, visando viabilizar o uso mais intenso da mecanização, exige a observação de critérios como a escolha do melhor método e da adequação do trator

O

café figura no cenário nacional como uma das grandes commodities comercializadas no país, responsável por alavancar as exportações e garantir juntamente com outros produtos agrícolas o superávit na balança comercial, porém em decorrência de manejo inadequado, fatores climáticos e crises econômicas, muitas lavouras vêem apresentando baixos índices de produtividade. Assim sendo, muitos cafeicultores passaram a adotar novas tecnologias e práticas culturais que visam o aumento da produtividade. Uma dessas práticas é o uso de espaçamentos reduzidos, também chamados de adensados, ou seja, lavouras com 5 a 17 mil cafeeiros/ ha, que resultam em maior produtividade e redução de custos quando considerado um maior número de safras. No entanto a partir da 4a ou 5a safra a produtividade diminui devido ao fenômeno denominado de “fechamento”, que reduz a luminosidade na base da copa da planta, sendo fator limitante para se obter boa produtividade. Nesse contexto, pesquisadores da Universidade Federal de Lavras têm desenvolvido e orientado trabalhos de pesquisa relacionados com o manejo da lavoura cafeeira, com o objetivo de avaliar as operações de cultivo desde o

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Máquinas

plantio da lavoura até a colheita dos grãos, sejam operações manuais ou mecanizadas, a exemplo dos trabalhos dos professores Fábio Moreira da Silva, Rubens José Guimarães e equipe, buscando aprimorar o processo produtivo, sobretudo para as condições do Sul de Minas Gerais, maior região produtora de café do país. Como citam os pesquisadores, o “fechamento dos cafeeiros”, além de diminuir a produtividade, favorece a incidência de pragas como a “broca” e doenças como a “ferrugem”, dificultando, ainda, o controle fitossanitário (IBC, 1981) e a colheita, sendo necessário adotar o uso de poda do cafeeiro ou outra prática que melhor se adapte às condições da lavoura adensada. Essas práticas de poda podem ser dos seguintes tipos: • Recepa com pulmão: é um corte com aproximadamente 80 cm de altura do solo, mantendo-se “ramos pulmão”, sendo recomendada em plantas que ainda não perderam a “saia”. Neste tipo de poda as brotações são mais vigorosas; • Recepa baixa: é o corte do tronco a uma altura de 30 a 40 cm do solo, É recomendada quando o “fechamento” da lavoura resulta em

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falta de luminosidade e perda da “saia”. Esta poda dá bons resultados se a brotação for bem conduzida, proporciona lavoura renovada, com colheita em dois anos; • Desponte com decote alto: é o corte do tronco com 1,5 a 2 m, sendo recomendado para revigoramento de ramos produtivos, em plantas que não perderam a “saia”. É uma prática provisória que permite aproveitamento de uma a duas colheitas, após o que a lavoura volta a se fechar; • Esqueletamento com decote: trata-se da poda dos ramos laterais a uma distância de 20 a 30 cm do “tronco”, podendo ser feita no pulmão, sendo indicada para lavouras em vias de “fechamento”, que ainda não perderam a “saia”; • Decote baixo: é a poda do tronco na altura de um a 1,5 m, normalmente é necessária quando ocorre o cinturamento (pescoço pelado). Deve-se observar se não houve perda da “saia”. Em lavouras com altas populações é uma prática provisória, havendo a necessidade de uma nova poda após duas colheitas, pois a lavoura volta a se fechar novamente; • Eliminação de linhas alternadas: trata-se da eliminação de linhas alternadas em lavouras adensadas com plantio planejado de 1,6 a 2 m entre linhas, onde o espaçamento do adensa-

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“Durante os ensaios foram avaliados: tempo operacional, consumo de combustível, quantidade de matéria orgânica residual sobre o solo, além do índice de patinagem do trator”

mento seja a metade do que se deseja para a lavoura definitiva. As linhas serão eliminadas após a terceira ou quarta colheita ou quando apresentarem início de sombreamento, contudo preservando-se a “saia”. Com a atual tendência em mecanizar as operações de cultivo da lavoura cafeeira, em virtude dos altos custos da mão-de-obra em especial para a colheita, algumas das técnicas de podas recomendadas para lavouras adensadas não satisfazem as necessidades dos produtores, pois impedem o uso de tratores e colhedoras, restando ao cafeicultor apenas a possibilidade de eliminação de linhas alternadas de cafeeiros para viabilizar o uso mais intenso da mecanização. Neste sentido as avaliações deste trabalho se resumiram no levantamento de dados técnicos relacionados com a eliminação mecanizada de linhas alternadas de cafeeiros, plantados em sistema adensado. Os ensaios foram realizados no município de Lavras (MG), na área experimental do Cepecafé/Ufla, em lavoura da cultivar Catucaí, plantada no espaçamento adensado de 2 m entre linhas e 0,8 m entre plantas, com população média de 6.250 plantas/ha, altura média de 2,5 m, com o diâmetro do “tronco” variando de 5 a 7 cm. As avaliações foram feitas considerando linhas com cem m de comprimento, contendo em média 125 cafeeiros, que foram eliminados com uma e duas passadas do triturador sobre as linhas dos mesmos ou pelo método de arranquio com gancho tracionado por trator. O triturador utilizado foi o modelo SP-160, com largura de corte de 1,5 m, fabricado pela Indústria de Implementos Agrícolas Ifló, aco-

Com o plantio adensado, a eliminação de linhas alternadas de cafeeiros é a alternativa que viabiliza o uso mais intenso da mecanização

plado pelo sistema hidráulico a um trator modelo Valtra 685 cafeeiro, 4x2 com redutor de velocidades. Durante os ensaios foram avaliados: tempo operacional, consumo de combustível, quantidade de matéria orgânica residual sobre o solo, além do índice de patinagem do trator. Para a determinação da quantidade de matéria orgânica, demarcou-se aleatoriamente uma área de um m2, onde se retirou todo o material da superfície para posterior pesagem de matéria seca. Estas amostras foram secas em estufa à temperatura de 60ºC, até obtenção de peso constante. Na operação com o triturador o trator operou sobre a linha dos cafeeiros, em primeira marcha super-reduzida com rotação do motor de 2400 rpm, equivalendo a velocidade média de 630 m/h, triturando a planta toda, que fo-

Operação de eliminação de linhas alternadas com o triturador para viabilizar o uso mais intensivo da mecanização

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ram tombadas pelo pára-choque dianteiro, na primeira passada denominada de “ida”. Na segunda passada em sentido contrário ao da primeira, denominada “arrepio”, o trator operou em segunda marcha super-reduzida, com rotação de 2400 rpm e 1187 m/h. Para o arranquio com gancho foi utilizado o mesmo trator, com gancho preso no tronco do pé de café e puxado por cabo de aço. Os trabalhos de campo demonstraram a necessidade de se adequar o trator para obter melhor desempenho operacional com o triturador, sendo necessário acrescentar lastros, no total de 140 Kg nas rodas traseiras, 70 Kg para cada roda. Foi necessário também instalar o pára-choque do trator em posição mais avançada para evitar que os ramos e folhas dos cafeeiros obstruíssem a ventilação do radiador do motor, causando superaquecimento. A operação de campo foi realizada em outubro de 2004, após a colheita, cujos resultados podem ser evidenciados na Tabela 1. Considerando o desempenho operacional de eliminação das linhas de cafeeiros, observase que com uma passada do triturador o desempenho operacional foi de 4,08 h/ha. Para duas passadas do triturador, sendo a segunda o arrepio, o desempenho operacional foi de 6,35 h/ha. O consumo de combustível na primeira passada foi de 8,2 l/h e na segunda passada de 4,8 l/h, resultando em média de 7 l/h, quando se faz duas passadas. O maior consumo da primeira passada do triturador pode ser explicado devido ao fato do trator trabalhar utilizando marcha pesada, primeira super-reduzida. No arrepio, ou segunda passada, o consumo de combustível foi menor devido à velocidade operacional mais elevada, tratando-se de operação mais leve, com o trator trabalhando em segunda marcha super-reduzida. A determinação de patinagem do trator registrou 1,7% na primeira passada e 0,2% na operação de arrepio. O arranquio com gancho envolve opcionalmente a operação inicial de “palitamento”, que

Máquinas

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“O maior consumo da primeira passada do triturador pode ser explicado devido ao fato do trator trabalhar utilizando marcha pesada, primeira super-reduzida”

Tabela 1 - Desempenho operacional de eliminação das linhas de cafeeiros Tratamento Uma passada triturador Duas passadas triturador Arranquio com gancho Arranquio sem palitamento

Serviço Palitamento (h/ha) -

Retirada troncos (h/ha) -

23,50 -

7,30 -

Tempo máquina (h/ha) 3,88 (1a) 3:53 (2a) 2:08 18,22 19,80

Velocidade operacional (m/h) 630 (1a) 630 (2a) 1187 -

Desempenho de campo (h/ha) 4,08 6,35

Consumo combustível (l/h) 8,2 7,0

Consumo combustível (l/ha) 33,5 44,5

Matéria Seca (g/m2) 4856,0 6855,0

18,22 19,80

4,0 4,0

73,0 79,2

1006,5 -

Tabela 2 - Custos das operações de eliminação das linhas de cafeeiros (R$/ha) Palitamento 62,98

Retirada troncos 19,56

se trata da limpeza dos ramos laterais, para o aproveitamento dos “troncos” como lenha. O palitamento foi feito manualmente com foice, que demandou em média 23,50 horas de serviço/ha. O desempenho operacional do arranquio com gancho foi de 18,22 h/ha e o tempo de retirada dos troncos foi de 7,30h/ha. Sem o palitamento, que dificulta um pouco a colocação do gancho nos troncos dos cafeeiros o desempenho operacional foi de 19,80 h/ha. Em média o tempo gasto para o arranquio foi 4,7 vezes maior que o tempo gasto com uma passada do triturador. Para a operação com uma passada do triturador observou-se a deposição de 4856 g/m2 de matéria seca, com destaque para a operação com duas passadas do triturador, com expressivo ganho de matéria seca de 6855 g/m2. Tal ganho se deve ao fato de picar em menores pedaços os ramos do pé de café sendo que a segunda passada chega a incorporar parte deste material no solo. Na operação de aranquio a deposição de matéria seca de 1006 g/m2, corresponde ao ramos laterais resultantes do palitamento. Para a análise de viabilidade econômica, como conta na Tabela 2, o custo operacional do trator e do triturador, foram determinados através do método da depreciação linear, dentro dos seguintes parâmetros e preços vigentes para a safra de 2004.

CUSTO HORÁRIO DO TRATOR Depreciação (D) em 10 mil horas, trabalhando em média mil horas/ano, Tempo de depreciação 10 anos. Custo inicial do trator: R$ 56.000,00. D = R$ 5,04/hora. Remuneração do capital investido (J) (8,75% aa. sobre capital médio investido), J = R$ 2,69/hora. Custo de manutenção (M), 50% do custo inicial durante a vida útil, M = R$ 2,80/hora, Custo operador R$ 2,68/hora

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Custo Máquina 148,87 197,48 404,71 372,42

Custo total 148,87 197,48 404,71 454,96

Lubrificantes (20% do consumo médio de combustível) R$ 1,23 Custo total: 14,44/hora. Custo combustível (variável em função da operação) 1a passada com triturador (8,2 l/hora) R$ 12,30 2a passada com triturador (4,8 l/hora) R$ 7,20 Arranquio com gancho (4,0 l/hora) R$ 6,00

CUSTO HORÁRIO DO TRITURADOR Depreciação (D) em 3 mil horas, trabalhando em média 600 horas/ano, Tempo de depreciação 5 anos. Custo inicial do triturador: R$ 15.500,00. D = R$ 4,65/hora. Remuneração do capital investido (J) (8,75% aa sobre capital médio investido), J = R$ 1,24/hora. Custo de manutenção (M), (duas trocas de martelos e correias/ano) M = R$ 3,25/hora. Lubrificantes R$ 0,31/hora Custo total: 9,45/hora Custo final do conjunto trator/implemento 1a passada R$ 36,49

Fábio Moreira da Silva, Rubens José Guimarães e Ezequiel de Oliveira, Ufla Emerson Rogério Guessi, Iflo

Divulgação

Tratamento Uma passada Duas passadas Arranquio sem palitam. Arranquio com palitam.

2a passada R$ 31,10 Arranquio R$ 20,44 Como se observa o custo da eliminação das linhas de cafeeiros com uma ou duas passadas do triturador foi respectivamente de R$ 148,87 e R$ 197,48/ha, sendo economicamente mais viável que o arranquio com gancho com custo de R$ 404,71/ha. A única condição em que se justifica economicamente o arranquio com gancho reside na possibilidade da venda dos troncos como lenha. O volume médio de troncos decorrente do arranquio, quando se fez o palitamento, foi de 41,5m3/ha, resultando a receita bruta de R$ 726,00/ha e líquida de R$ 271,00/ha, sendo o custo operacional de R$ 454,96/ha. Finalmente é preciso considerar que com o triturador, toda parte aérea da planta é eliminada, ficando picada sobre o solo, servindo de cobertura morta e agregando matéria orgânica no solo, sendo difícil avaliar economicamente o ganho para o processo produtivo ao médio e longo prazos, porém não é difícil encontrar cafeicultores que valorizam muito a manutenção de matéria orgânica em cobertura do solo, retornando à lavoura a própria casca do café e outros subprodutos agrícolas, atendendo as técnicas conservacionistas de manejo do solo e da M lavoura.

O custo de eliminação das linhas de cafeeiros com o triturador mostrou-se economicamente mais viável que o arranquio com gancho, concluem os autores

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Colheita

máquinas florestais

Máquinas na floresta tração da madeira. Esse processo de modernização das operações florestais teve inicio na década de 70, quando os maquinários começaram a ser fabricados para fins florestais. Com a abertura das importações por volta de 1994, grande parte das empresas iniciou a mecanização da colheita. Desde então, verifica-se um aumento contínuo do nível de mecanização no país e, em maior escala, na colheita de floresta de 1a rotação, onde o alto volume de madeira e a homogeneidade da floresta colaboram para sua viabilização. A escolha do sistema de colheita deve levar em considerações variáveis como experiência e habilidade da mão-de-obra, espécie florestal, produtividade, distância de arraste, transporte, desempenho da máquina, capital requerido e característica do terreno. A falta de consideração de alguma dessas variáveis resultará em problemas operacionais e ineficiência do processo. Atualmente existem dois sistemas de colheita de madeira: sistema de toras longas e de toras curtas. O sistema de toras longas envolve o corte e desgalhamento das arvores no local de abate, transporte das mesmas e posterior processamento à margem da estrada ou no pátio. No sistema de toras curtas, as árvores são cortadas e processadas em toras, com dimensões de acordo com o uso final, no próprio local de abate. A combinação “Skidder + Feller-buncher” pode ser considerada representativa no sistema de toras longas, enquanto que o módulo “Harvester + Forwarder” trabalha em um sistema de colheita com processamento das árvores no local de abate.

O setor florestal tem grande representatividade na economia nacional, sendo o processo de colheita o conjunto de operações que prepara e transporta a madeira até o depósito. Conheça as principais máquinas e técnicas utilizadas para esta finalidade Divulgação

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Máquinas

os móveis são os seus principais produtos. A colheita de madeira é um conjunto de operações realizadas no maciço florestal, visando o preparo e o transporte da madeira até o depósito, utilizando técnicas e padrões preestabelecidos. As etapas mais importantes são: corte, extração, carregamento, transporte e descarregamento, essas etapas representam 50% dos custos finais da madeira posta na indústria. A demanda por produtos de origem florestal contribuiu para uma mecanização intensiva do setor, visando um aumento na produtividade. A colheita foi a fase do processo que mais sofreu alterações devido à introdução de tratores florestais para o corte e a ex-

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Carlos Machado

O

caminho para o atendimento das necessidades crescentes por produtos florestais se dá por meio de uma produção mais intensa, que, por sua vez, está associada a uma ampla mecanização, que é o principal meio para elevar a produtividade do trabalho florestal. Na década de 60 com o advento dos incentivos fiscais, o setor florestal teve seu maior crescimento, pois muitas empresas começaram a manifestar interesse pelo setor, desenvolvendo pesquisas, plantando em novas áreas e gerando tecnologias. Atualmente o setor desempenha um importante papel na economia nacional, principalmente na indústria de transformação, onde o carvão, a celulose e

As vantagens do sistema de toras longas A área fica limpa de resíduos diminuindo o risco de incêndios, utilização da biomas-

A garra traçadora apresenta como desvantagem a necessidade do desgalhamento prévio

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“A escolha do sistema de colheita deve levar em considerações variáveis como a experiência e habilidade da mão-de-obra, espécie florestal, produtividade, distância de arraste, transporte, desempenho da máquina, capital requerido e a característica do terreno”

Robson Souza

Sebastião Eudes

O Track-Skidder causa menor dano ao solo que o guincho-arrastado

O Skidder é utilizado para o arraste das toras de dentro dos talhões

sa como fonte energética, concentração de várias operações em um único ponto permitindo maior controle das operações e conseqüentemente maior rendimento operacional se comparado ao sistema de toras curtas, que tem como principal vantagem a exploração de áreas com condições topográficas desfavoráveis. A colheita e o transporte florestal podem ser realizadas de forma manual, semimecanizada e mecanizada: Os principais fatores que afetam a colheita mecanizada Diâmetro e rigidez dos galhos, volume da copa, densidade da madeira, volume por hectare, diâmetro, altura, retidão do fuste, alinhamento do plantio.

Os principais ambientes físicos que afetam a colheita Declividade do terreno, capacidade de su-

porte do solo, regime pluviométrico, distância de extração e relevo. Distribuição das florestas , com relação ao relevo Há de se ressaltar que o solo florestal apresenta características bem diferenciadas do solo agrícola. As características do sistema radicular, o arraste das toras de madeira, o tráfego intenso e o peso das máquinas utilizadas podem causar uma grande compactação do solo. Um atenuante que dá a estes solos uma boa capacidade de suporte é o alto teor de matéria orgânica. Os principais sistemas de corte de madeiras • Cut-to-lenght, corte no tamanho, toras curtas, “sistema escandinavo”. • Full-tree, árvores inteiras, toras longas, “sistema canadense, americano”.

Etapas de um sistema de colheita e transporte • Corte, é o tombamento das árvores (Harvester, Feller – Buncher, Motoserra). • Processamento, consiste no desgalhamento, traçamento, descascamento (Harvester, Processador, Motoserra). • Baldeio, é a retirada da madeira de dentro dos talhões deixando-as na beira da estrada. É também conhecido como transporte primário (Forwarder, Skidder, Guincho, Track-Skidder). • Carregamento, consiste em pegar a madeira deixada na beira da estrada e efetuar o carregamento do caminhão (Grua). • Transporte, consiste em transportar a madeira até o pátio da fábrica (Romeu e Julieta, Treminhão).

COLHEITA SEMIMECANIZADA Ainda é muito usada no Brasil e utiliza a motosserra para derrubar, desgalhar e traçar. Vantagens apresentadas pela motosserra • Baixo custo de aquisição; • Atuação em qualquer tipo de terreno; • Executa todas as operações de corte;


“Além das máquinas citadas acima existem muitas outras que vão sendo lançadas no mercado internacional ou adaptações que são efetuadas”

Sebastião Eudes

• Alta produtividade em comparação com métodos manuais. As suas desvantagens • Periculosidade; • Elevado nível de ruído (> 85 decibéis); • Elevado esforço físico; • Baixo rendimento em relação aos métodos mecanizado. Dados técnicos de uma motosserra • Peso sem o conjunto de corte = 5,4 – 7,7 Kg; • Potência (hp) = 3,4 – 5,0 hp. Constituição • Conjunto motor = motor de 2 tempos alimentado por um carburador de membranas (evita vazamentos). • Conjunto de corte = Formado pelo pinhão e pela corrente com lubrificação automática.

O Clambunk é utilizado para o arraste e carregamento de toras inteiras

desbaste seletivo, apresentando um rendimento 80 st/h. • Guincho-Arrastador: É um trator agrícola de pneus com um guincho que é acionado pela TDP. É uma solução para áreas montanhosas com declive > 200. Esta máquina tende a compactar mais o solo devido ao arraste das toras. • Track-skidder: é um trator florestal arrastador com esteiras. Utilizado em maiores declividades, é um misto do Skidder com o guincho. Causa menor dano ao solo que o guincho – arrastador. • Clambunk: Também utilizado para o arraste e carregamento de toras inteiras apresentando uma maior capacidade de carga. • Forwarder: É um equipamento projetado para utilização no transporte primário, ou seja, a remoção das toras já cortadas de dentro da floresta para a periferia dos talhões de modo a evitar o tráfego de caminhões dentro da mesma. Apresenta um rendimento 40 st/h, trabalhando em uma declividade máxima de 35o. A distancia máxima de baldeio deve ser entre 200-300m.

• Slingshot: É constituído de um cabeçote processador chamado Slingshot adaptado numa escavadeira hidráulica, tem a função de processar ao mesmo tempo diversas árvores já cortadas. Normalmente, é utilizada em povoamentos de baixa produtividade. • Garra traçadora: Consiste em uma garra que é adaptada a uma escavadeira hidraúlica para efetuar o traçamento e carregamento de árvores inteiras (até 20 árvores por ciclo). Apresenta como desvantagem a necessidade de um desgalhamento prévio. Além das máquinas citadas acima existem muitas outras que vão sendo lançadas no mercado internacional ou adaptações que são efetuadas. Isto fica muito evidente em casos de necessidade de retirada da madeira em áreas de declividade muito acentuada ou de difícil acesso onde estão sendo utilizados sistemas de calhas, cabos aéreos (teleféricos) M e até mesmo helicópteros. Haroldo Carlos Fernandes e Carlos Alberto Viliotti, Universidade Federal de Viçosa

Divulgação

Haroldo Fernandes

As principais máquinas hoje utilizadas no Brasil • Harvester: é um equipamento autopropelido cuja finalidade é cortar e processar árvores dentro das florestas. O harvester corta, desgalha, descasca e traça no tamanho desejado (sistema computarizado). Pode produz o equivalente a vinte motosserras. No Brasil, apenas 5-10% da colheita florestal é realizada com o harvester e apresenta um rendimento 30 st/h, chegando a processar em alguns tipos de talhões até cem árvores por hora. • Feller- Buncher: esta máquina faz o corte das árvores, numa única linha, acumulando algumas nas garras, através de um “abraço hidráulico”, antes do tombamento. Trabalha no sistema Full – tree (árvores inteiras) e apresenta um rendimento 80 st/h. • Skidder: é um trator florestal, articulado com tração 4x4 e pneus de mesmo diâmetro. Ele é utilizado para o arraste das toras de dentro dos talhões, com pinça traseira ou cabo-de-aço, levando-as até o ponto de carregamento. Muito utilizado no

O Harvester é autopropelido e ele corta e processa árvores dentro da própria floresta

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Máquinas

Fernandes e Viliotti explicam que existem várias outras máquinas além das citadas e também adaptações que são feitas nos casos de necessidade

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Evento Coopavel

coopavel

Show 2005

Com público de 180 mil visitantes e 281 expositores, o Show Rural Coopavel 2005 abre em grande estilo o circuito de feiras agrícolas e apresenta os primeiros lançamentos do ano

O

tido como o “termômetro” do agronegócio todos os anos. Mais de 180 mil visitantes passaram pelo parque nos cinco dias do evento. O número superou a meta de 140 mil e foi 30% maior em comparação ao público recebido em 2004, quando o Show Rural registrou a visita de 138.710 pessoas. O número de expositores subiu de 260 para 281. Somente o Banco Brasil, uma das quatro

Coopavel

circuito de feiras agrícolas 2005 não poderia ter começado em maior estilo. O Show Rural Coopavel, realizado de 31 de fevereiro a 04 de março, novamente fez justiça ao nome do evento e a cada ano consegue surpreender a todos que passam pelo Centro Tecnológico da Coopavel. Com o parque completamente reestruturado, a comissão organizadora inovou e deu ares de primeiro mundo ao evento, que é

instituições financeiras presentes neste ano, recebeu 1.769 propostas e deve movimentar, como conseqüência do Show Rural, R$ 100 milhões em financiamentos. As propostas estão mais seletivas e apuradas, segundo Dilvo Grolli, informando também que houve superação de metas pelo Bradesco. Além das exposições estáticas, os visitantes puderam conferir as exposições dinâmicas de máquinas agrícolas realizadas em dez sessões durante a semana do evento. Parte dos 72 hectares do centro tecnológico foi dedicada a demonstrações, onde os produtores puderam avaliar o desempenho de máquinas e implementos, além de poder esclarecer dúvidas com operadores e técnicos de cada empresa participante.

LANÇAMENTOS Por ser o primeiro evento do ano, muitas empresas aproveitam para fazer seus lançamentos no Show Rural. O forte deste ano foi na linha de plantio, com diversos produtos novos, tanto para pequenos, médios ou grandes produtores.

MÚLTIPLA JM5090 EX E JM5080MG Parte dos 72 hectares do centro tecnológico foi utilizada para demonstrações dinâmicas

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Máquinas

A Jumil lançou a Múltipla JM5090 EX e

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Fevereiro 2005


“Além das exposições estáticas, os visitantes puderam conferir as exposições dinâmicas de máquinas agrícolas realizadas em dez sessões durante a semana do evento ”

JM5080MG, uma semeadora com inovação no sistema de troca das configurações para culturas de verão e inverno, que pode ser feita com a remoção de um pino e alteração de espaçamentos. A Múltipla possui chassi com alta tecnologia em análise estrutural e regulador no cabeçalho para ajuste preciso do implemento ao acomplamento de tratores. Os depósitos de fertilizante e sementes permitem um aproveitamento maximizado devido à possibilidade de utilização de um conjunto de depósitos para cada barra porta-ferramenta ou aproveitamento do depósito de fertilizantes para a semente, através de defletores. Ela permite também a utilização de dois tipos de sementes ao mesmo tempo, para adubação verde, ou dois tipos de fertilizantes ou micronutrientes.

A novidade da Jumil foi a multiplantadeira para culturas de verão e inverno

A unidade de plantio para culturas de verão possui menor distância entre disco de corte, unidade adubadora e unidade semeadora, o

Fotos Charles Echer

Sombra e água fresca

O

que diferencia e destaca uma feira da outra são os investimentos em infra-estrutura e pequenos detalhes. Os expositores, que participam da maioria dos eventos agrícolas do Brasil, notam com facilidade a diferença entre as feiras e são unânimes em afirmar que, nos quesitos conforto e infra-estrutura, o Show Rural é um dos referenciais para os demais eventos do país. Ampliando o que já existia em outras edições, mais ruas foram calçadas e cobertas, possibilitando um passeio pelo parque livre

Jacto

Pedro Batistin

do sol ou da chuva em aproximadamente 3,3 quilômetros. Nove áreas de descanso dotadas de bancos e de arborização foram erguidas, além de um novo jardim na entrada do parque com lagos, chafarizes, peixes e flores. Diariamente, os participantes recebiam na entrada do evento uma embalagem com protetor solar FPS 30 e um kit de higiene bucal contendo escova de dentes, pasta e fio-dental, na saída do restaurante. Em qualquer lugar do parque era possível também encontrar estações com água filtrada e copos descartáveis. Rogério Rizzardi, coordenador do Show Rural, promete mais novidades para o próxiom ano. É esperar para ver.

O Uniport 4x4 da Jacto ganhou versão hidro, que permite maior agilidade

que possibilita um melhor desempenho na deposição de fertilizantes e sementes no solo, principalmente em terrenos com grande quantidade de curvas. A distribuição de fertilizantes é feita por rosca sem-fim de passo 2”. Para culturas de inverno, as sementes são distribuídas por rotor acanelado; para culturas de verão, a distribuição pode ser pneumática ou mecânica. A Múltipla tem como opcionais marcadores de linha hidráulicos, unidades para transporte longitudinal do implemento, kit pastagem ou forrageira e depósito em aço inox.

UNIPORT 3000/24 – 4X4 HIDRO Nesta edição da feira, a Jacto apresentou o pulverizador Uniport 3000/24 – 4x4 Hidro, uma máquina automotriz com tanque para 3 mil litros, barras de 24 metros, tração nas quatro rodas e transmissão hidrostática, que dispensa a embreagem, a caixa de câmbio, os cardans, o diferencial, a redução final e os mancais de rodas. Através de fluido hidráulico, bombas acopladas ao motor diesel e motores nas rodas, a transmissão maximiza a utilização da máquina. A bomba dupla permite a existência de dois circuitos completos e independentes de tração, tanto traseira quanto dianteira, além de uma condução mais estável do pulverizador. O novo sistema se auto-regula para atender à programação de velocidade e rotação do motor de acordo com a topografia do terreno, mantendo a velocidade da máquina sem intervenção do operador e independente das variações da to-


Fotos Charles Echer

“O número superou a meta de 140 mil e foi 30% maior em comparação ao público recebido em 2004, quando o Show Rural registrou a visita de 138.710 pessoas”

Mangueira de Poliuretano da Goodyear, para grãos, pós e outros produtos abrasivos

pografia durante a aplicação. O sistema hidrostático permite ainda que a máquina na estrada se comporte como um veículo hidramático, bastando controlar o motor diesel pelo pedal do acelerador, quando o sistema procura automaticamente as marchas mais adequadas ao translado. Os motores do sistema hidráulico do Uniport 3000/24 – 4x4 Hidro contam com freios dinâmicos externos e independentes da transmissão, conforme normas de segurança veicular vigente. O pulverizador conta ainda com suspensão de molas helicoidais e amortecedores, bitola regulável em movimento, a partir de comando na cabina, programa de pulverização feito através do controlador JSC – 5000, motor Cummins com potência de 234cv a 2.200 rpm, cabina pressurizada com ar filtrado em carvão ativo, ar-condicionado, parede dupla, vidro fumê, poltrona flutuante com ajuste de peso do operador e banco do acompanhante.

Pneu Radial Agrícola DT 806 Optitrac, o primeiro radial agrícola fabricado na AL

lhada. A empresa lançou também durante a feira a Mangueira de Poliuretano, indicada para sucção e passagem de grãos, pós e outros produtos abrasivos. As mangueiras possuem alta flexibilidade e resistência mecânica, superfície interna lisa e suporte para uma temperatura de trabalho de até 60º C.

TM EXITUS A New Holland lançou os tratores TM Exitus, nas versões TM135E e TM150E, de alta potência. Os TM versão Exitus, com motores de 137 e 149 cv, são equipados com trans-

missão mecânica do tipo Shuttle Command 16X16 com quatro marchas em quatro gamas sincronizadas. Esse tipo de transmissão oferece o maior número de marchas disponíveis entre 4 a 12 Km/h – 10 das 16 disponíveis – conferindo precisão e rendimento em operações como plantio. Além disso, seu inversor sincronizado permite mudar o sentido de direção acionando-se a alavanca de reversão. Os TM Exitus possuem motor Powerstar desenvolvido para tratores agrícolas, com 7,5 litros, turboalimentado, o que permite oferecer maior torque, com o mesmo nível de potência, sem aumentar o consumo de combustível. A reserva de torque – de 34% no TM135E e de 37% no TM150E – proporciona maior capacidade para superar irregularidades do terreno, mantendo a velocidade de operação, sem necessidade de troca de marchas. O torque máximo é obtido a 1.400 rpm, o motor é o único da categoria com sangramento de combustível automático. O filtro de combustível possui separador de água com sensor de presença, que garante a retirada de impurezas do óleo diesel e os filtros de ar do motor possuem sistema de pré-limpeza “Heavy Duty” diminuindo o tempo das manutenções. O painel possui 21 luzes de advertência que informam o funcionamento do motor, dos filtros, as temperaturas e pressões da máquina. A cabine conta ainda com sistema de climatização, assento com regulagem, predisposição para instalar equipamento de som, porta-copos e porta-objetos.

SEMEADORAS E ARADO SUBSOLADOR A Agri-Tillage do Brasil apresentou nesta edição da Coopavel a tecnologia dos produtos

PNEUS E MANGUEIRAS A Goodyear apresentou no Show Rural Coopavel 2005 o Pneu Radial Agrícola DT 806 Optitrac e as mangueiras de Poliuretano. O pneu radial agrícola de tração DT 806 Optitrac é fabricado com carcaça radial de nylon e cintas de amortecedores da rayon ou aramid (dependendo do seu tamanho), oferecendo proteção extra contra danos e perfurações. As cintas amortecedoras aliadas à carcaça radial e seu baixo perfil garantem melhor distribuição da carga por polegada quadrada, menor compactação e maior preservação do solo com maior poder de tração. Por ser um pneu com código de serviço R1W (altura de barra 25% maior que um pneu código de aplicação R1), proporciona maior durabilidade com menor custo por hora traba-

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Máquinas

A série Exitus ganhou motores de 137 e 149 cv nas versões TM135E e TM150E

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Pedro Batistin

Múltipla SMB pode ser fornecida nos modelos com 29, 25 e 21 linhas

Baldan, mostrando três semeadoras e um subsolador. A SLA 2500 Evolution com cinco linhas no espaçamento de 45 cm, é equipada com sistema Speed Box Baldan – caixa de engrenagens banhada a óleo, com 62 pontos de regulagens para distribuição de adubos e sementes. A semeadora conta com sistemas de rodas de transmissão articuladas, acompanhando as irregularidades do terreno, discos de corte de 16” com regulagem individual, sulcadores pon-

A Imasa destacou a plataforma para transporte de implementos para médias e longas distâncias

tiagudos com ponteiras removíveis ou disco duplo descentrado de 15” para adubo e semente, sistema de lubrificação centralizado, sistema de distribuição de sementes pneumático de alta precisão, estrutura montante em sistema monobloco em aço de alta resistência e peso reduzido, que permite seu acoplamento em tratores com baixa potência. A semeadora pode vir com depósito de adubo em aço carbono com tratamento epoxi, aço inoxidável ou polietile-

no. O outro lançamento da empresa, a Semeadora Múltipla SMB pode ser fornecida nos modelos 6000 com 29 linhas no espaçamento de 16,5 cm; 5000, com 25 linhas no espaçamento de 16,5 cm; e 4000, com 21 linhas. A semeadora também é equipada com sistema Speed Box. A Semeadora de Precisão modelo PP Solo CX3 Speed Box 4500 10/05, com cin-


“O Show Rural da Coopavel, realizado de 31 de fevereiro a 04 de março, novamente fez justiça ao nome do evento e a cada ano consegue surpreender a todos que passam pelo Centro Tecnológico da Coopavel”

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para milho. A largura de trabalho é de 1.800mm para a 5030 5/5 e de 2.250mm para a 5030 5/6 a largura total é de 2.680 mm para ambas, o peso vazio é de 1.850 Kg para a 5/5 e de 2.015 Kg para a 5/6. Os motores têm potência de 75 e 80 cv e a capacidade de adubo é de 410 e 500 litros respectivamente e os pneus são 6.50-16”.

PLANNER 710

Nova linha de plantadeiras da Fankhauser possui menor número de linhas com configurações avançadas

possui vão útil de 6,3 metros, pesa 2,8 mil Kg, tem capacidade para transportar até 8 mil Kg, largura total de 2,76 metros e pneus de alta flutuação 400/60 – 15.5, 14 lonas.

PLANTADEIRAS-ADUBADEIRAS 5030 A Fankhauser apresentou as plantadeiras-adubadeiras 5030 5/5 e 5/6. A empresa já possuía plantadeiras 5030 de sete a 14 linhas e agora lançou as de cinco e seis linhas para soja e quatro linhas para milho. As máquinas têm capacidade que varia de 200 litros (aproximadamente 150 Kg) a 240 litros (aproximadamente 180 Kg) para soja e de 160 litros (aproximadamente 120 Kg) GTS

co linhas para milho no espaçamento de 90 cm, possui terceira caixa para distribuição de calcário ou micronutrientes, com regulagem de distribuição individual através de Sistema Speed Box. A semeadora é fornecida em modelos de quatro a 15 linhas de plantio, paralelas ou desencontradas, distribuidor de adubo em espiral flutuante e depósito de fertilizantes em chapa de aço tratada (opcionalmente em aço inoxidável), sistema de lubrificação centralizado e discos duplos descentrados para adubo e sementes ou sulcadores pontiagudos com ponteiras removíveis. Já o Arado Subsolador modelo ASDADR 5/5 hastes com espaçamentos de 37,5 cm, é equipado com cinco hastes, de arrasto, controle remoto, com discos de corte de 18 polegadas e rolo destorroador oscilante, podendo trabalhar até a profundidade de 450mm.Suas hastes são dotadas de um sistema de desarme e rearme automático que ao encontrar obstáculos, desarma e retorna à posição normal de trabalho levantando o implemento. O arado possui também sulcadores com bicos recambiáveis e rolos destorroadores oscilantes que servem para o nivelamento do terreno, não danificando a cobertura morta do solo.

A GTS lançou a plaina Planner 710, única com quatro operações hidráulicas diretamente do trator. A plaina possui válvula elétrica para o direcionamento do fluxo hidráulico que possibilita o trabalho de quatro articulações através do comando duplo do trator, por intermédio de uma chave seletora. O levante de vão livre da lâmina acima do nível do solo é de 70 cm e a penetração da lâmina abaixo do nível do solo atinge 40 cm. O equipamento possui comprimento total de 7,22m, comprimento da lâmina de 4,24m, altura com a lâmina erguida de 2,5m, largura externa do rodado de 2,2m, pneus 18 – 4 -30 e peso total com lastro de 4 mil kg. A potência mínima do trator é de 100 cv e a máxima é de 300 cv. A inclinação vertical da lâmina é de 35 graus, o giro/basculação lateral de 17 graus e o giro horizontal da lâmina +40 graus / -140 graus. A lâmina da plaina alcança um ângulo de ataque de 40 graus em linha reta e mais 15 graus no deslocamento lateral. É a única com inclinação do rodado no sentido oposto à basculação da lâmina, que atinge 17 graus de inclinação horizontal, e as rodas 20 graus de inclinação vertical. A Planner 710 possui ainda deslocamento lateral, ou seja, a plaina trabalha em paralelo ao trator, alcançando 50 cm de distância no rodado duplo e um metro no rodado simples. M

PRATICE 8000 A Imasa lançou a plataforma para transporte de implementos para média e longas distâncias. A Pratice 8000 é uma plataforma de tansporte longitudinal de acionamento hidráulico na parte traseira e através dos braços de levante hidráulico do trator na parte dianteira,

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Máquinas

Plaina Planner 710, única com quatro operações hidráulicas diretamente do trator

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Negócios empresas

Escola profissionalizante

Centro de pesquisa

A

Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia (FSNT), entidade ligada ao Grupo Jacto, vai oferecer em 2005 para a cidade de Pompéia (SP) e região a Escola Profissionalizante Chieko Nishimura, nome dado em homenagem à esposa do fundador da Jacto. Ela foi construída para atender a demande de jovens que precisam de maior capacitação para disputar uma vaga no mercado de trabalho, oferecendo inicialmente cursos de mecânica geral e posteriormente de ferramentaria, solda, pneumático, hidráulica e outros em convênio com o Senai. Instalada em uma área de 1,4 mil metros quadrados, doado pela Prefeitura de Pompéia, a escola conta com pavilhão de oficinas, laboratórios, bibliotecas, vestiários, refeitório, além de salas de aula e demais dependências necessárias para o seu funcionamento, sendo totalmente adaptada para deficientes físicos. Como forma de contribuir para o progresso da região, Shunji Nishimura, primeiro construiu o Colégio Técnico Agrícola, depois fundou a Escola de Ensino Fundamental e agora inaugura a Escola Profissionalizante, que ainda implementará o “Programa do Menor Aprendiz”.

A

Jacto, ciente das novas tendências e necessidades do agricultor, inaugura um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, que dedica-se a pesquisar e desenvolver a automação de pulverizadores, adubadoras para a agricultura de precisão e ao estudo e desenvolvimento de tecnologias de colheita de café, azeitona e laranja. A unidade, instalada em um terreno de 80 ha, conta com 8,5 mil metros quadrados de área construída, uma equipe de 120 funcionários, entre engenheiros, técnicos, mecânicos e profissionais de informática e com duas pistas de concreto e uma de terra para testes e avaliação dos equipamentos. No centro serão desenvolvidas as atividades das áreas de engenharia mecânica, eletrônica, agrícola e informática com o objetivo de desenvolver e aperfeiçoar produtos da empresa.

Webmetro

A

Toledo do Brasil está disponibilizando aos seus clientes o Webmetro, um software que viabiliza, via internet, o acesso a todos os dados do parque de equipamentos da empresa e permite emissão de certificados de calibração.O software possibilita ao usuário manter um controle sobre os Certificados de Calibração ou Conformidade. O Webmetro funciona integrado com o sitema corporativo da empresa e assim aproveita os dados cadastrais, evitando novas digitações. Através de uma senha exclusiva cadastrada pela Toledo, o cliente terá acesso on-line a todas as informações relacionadas a seus equipamentos como marca, modelo, capacidade, resolução, localização, TAG, além dos certificados emitidos em todas as intervenções realizadas no equipamento. A consulta aos dados pode ser feita via internet de qualquer microcomputador, o que proporciona maior rapidez às operações, além de o software tor-

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nar possível a integração com PalmTop ou Pocket PC. O software conta ainda com gráficos de tendência, que possibilitam ao cliente analisar estatisticamente as variações do equipamento no decorrer das ma-

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nutenções. Todas as empresas que mantêm com a Toledo programas de Manutenção Periódica para os equipamentos de pesagem poderão utilizar o software Webmetro.

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Pulverizador teste

Autonomia e praticidade Com capacidade para 1,2 mil litros, o Tittan 1200 da Stara Sfil Amazone reúne a praticidade dos pulverizadores acoplados com grande autonomia e tecnologia nos componentes de aplicação

N

a modernização da agricultura brasileira ocorrida nos anos recentes a pulverização vem sendo privilegiada, tanto pela interferência oportuna quanto pelos custos envolvidos: custo do produto, da operação e das perdas, caso não aplicado na hora e no local certo. A maioria dos pulverizadores acoplados ao sistema hidráulico de levante de três pontos do trator (montados) comercializados no Brasil possuem um reservatório com capacidade entre 400 e 800 litros. Caso necessite maior autonomia, o agricultor dispõe de pulverizadores de arrasto, os quais têm pouca manobrabilidade, ou então os autopropelidos. O modelo Tittan 1200, fabricado pela Stara Sfil em parceria com a Amazone, reúne a praticidade dos pulverizadores acoplados com uma maior autonomia, proporcionada pelo tamanho do depósito. Da nova linha de montagem da Stara Sfil, tendo boa parte dos componentes fabricados na Alemanha, saem os produtos cuja tecnologia nós fomos verificar, junto com a equipe da Cultivar Máquinas, na Fazenda Ana, localizada em Não-MeToque (RS).

ESTRUTURA O Tittan 1200 possui chassi constituído de chapas leves, dobradas, formando vigas em “S” e tubulares que aumentam a sua resistência e sobre as quais são colocados os componentes, especialmente o reservatório onde se concentra o maior peso quando com carga. Na posição de transporte tem altura de 3 m, largura de 2,3 m e comprimento de 2,1 m. Mesmo que para o seu projeto e construção sejam utilizadas técnicas e materiais até então somente utilizados na fabricação de aeronaves, o que lhe garante boa qualidade, o seu peso vazio chega a 1.075 kg, enquanto os pulverizadores comercializados no Brasil com capacidade inferior a 800 litros, notadamente com menos funções automatizadas, pesam entre 300 a 450 kg. Quando abastecido com 1,2 mil litros de calda, 20 litros de água limpa e 120 litros de água para enxágüe, o pulverizador pesa mais de 2,4 mil quilos, os quais são transferidos para o trator. Da mesma maneira que os demais implementos acoplados aos três pontos, há uma sobrecarga do rodado traseiro do trator pelo peso do pulverizador e devido à transferência de peso

da parte frontal do trator, podendo aumentar a compactação do solo. Mesmo com esse peso (massa), o conjunto trator-implemento fica abaixo do peso dos pulverizadores autopropelidos. Alguns cuidados devem ser tomados para evitar que o uso prolongado cause danos ao sistema hidráulico de três pontos do trator, especialmente a bomba. Outro detalhe é o cuidado que o operador deve ter nas manobras com o tanque cheio para evitar o empinamento por causa do peso do equipamento, fenômeno que, no caso do Tittan, é minimizado por causa da sua construção “vertical”.

RESERVATÓRIO E BOMBA

Na posição de transporte tem altura de 3 m, largura de 2,3 m e comprimento de 2,1 m

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A construção vertical do reservatório e dos componentes minimiza o efeito alavanca

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O reservatório de polietileno bem como a bomba e os demais componentes do Tittan 1200 ficam projetados sobre o trator, numa construção com o objetivo de reduzir o comprimento do braço de alavanca que transfere o peso do rodado dianteiro do trator para o traseiro. Uma das principais vantagens é a autonomia de trabalho para um pulverizador montado, mas esse diferencial todo exige um trator com capacidade de levante (categoria II), com

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“Um fator que o diferencia no mercado é o sistema pendular de sustentação da barra que, associado ao sistema de suspensão feito por molas, faz o autonivelamento”

Fotos Charles Echer

capacidade mínima de 2,5 toneladas, segundo informações do fabricante. Outro ponto forte é a bomba de fabricação alemã com seis pistões revestidos com membrana de desmoplan, resistente a abrasão, corrosão e deformação. Estas características permitem o seu uso para adubação líquida e a grande capacidade de bombeamento (210 l/min) reabastece o pulverizador em apenas sete minutos, aumentando a sua versatilidade.

testes foi possível verificar a estabilidade da barra. Enquanto o trator apresentava grande movimentação devido às irregularidades do terreno, as barras mantinham-se alinhadas vertical e horizontalmente em relação ao terreno, dando a impressão de que elas estavam “planando” sobre o solo. Este talvez seja um dos itens que os produtores devem observar na hora de adquirir um equipamento para pulverização,

pois a estabilidade é a chave para aplicações precisas que possibilitam o controle ideal sem desperdiçar ou sub aplicar produtos. A extremidade da barra é de alumínio, portanto leve, com uma haste flexível colocada na vertical para evitar que as pontas toquem o solo e, caso ocorra esta situação, uma barra posicionada à frente das pontas as protegem. Dependendo do trator, do seu sistema hidráulico e do

BARRA DE PULVERIZAÇÃO A barra com 24 m de comprimento comporta 49 pontas de pulverização afastadas entre si em 50 centímetros e aplica uma faixa de 24,5 m. As barras diferem das habituais (perfil quadrado) por serem do tipo “Super S”, uma tecnologia avançada que está sendo gradativamente introduzida em nosso país. Um fator que o diferencia no mercado é o sistema pendular de sustentação da barra que, associado ao sistema de suspensão feito por molas, faz o autonivelamento (evita o movimento vertical devido à movimentação do trator). Isto permite operar em velocidades superiores a 20 km/h, apesar de não ser recomendada a aplicação nestas velocidades. Durante os

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As barras são do tipo “Super S” e possuem extremidades em alumínio, com uma haste flexível para evitar que elas toquem no solo

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“A autonomia de trabalho do Tittan 1200 é um fator de destaque para um pulverizador montado”

Fotos Charles Echer

As barras possuem comandos individuais e podem alcançar até dois metros de altura

tipo de pneus em uso é possível posicioná-la desde o nível do solo até uma altura superior a 2 m. O Tittan 1200 possui ainda um sistema de amortecimento do avanço horizontal da barra para evitar que um dos lados ou ambos avancem rapidamente devido a situações como frenagem, variação de velocidade, acidentes de relevo e manobras. Isso evita que ocorra a diminuição da dose em alguns locais e uma sobredose no ponto de equilíbrio. A máquina testada estava equipada com suporte para três pontas de pulverização do tipo engate rápido e válvula anti-gotejo, o que facilita a alteração entre as pontas e evita o gotejamento. Todos os comandos como a abertura e o fechamento eletro-hidráulico das seções da barra são feitos no painel de controle localizado na cabine do trator, com um simples comando do operador. Através deste comando é possível pré-definir vazão e volume de aplicação para as três pontas. Com isso, ao trocar de ponta, basta que o operador selecione no painel a programação definida para aquele modelo de bico e continue a aplicação sem a necessidade de novas regulagens durante a aplicação.

COMANDOS E SISTEMA DE PULVERIZAÇÃO O painel de controle é colocado no lado direito do posto de trabalho, na altura desejada, uma vez que é instalado pelos representantes quando da entrega técnica da máquina e ajustado de acordo com as características do operador. O sistema de comando que equipa o pul-

Sistema de comando simples e o controlador eletrônico de pulverização Spray-Control II-A

verizador é do tipo eletro-hidráulico, com poucas teclas, ilustrado e de manuseio simples, adequado para operadores iniciantes ou que tenham pouco conhecimento de eletrônica. O seccionamento da barra em cinco partes com comando independente e auto-ajuste da vazão utilizando a pressão de trabalho proporciona uma aplicação uniforme. Este comando permite o desligamento individual das seções da barra e, quando uma seção é aberta ou fechada, ele auto-ajusta a pressão das demais seções para que estas continuem aplicando a mesma dosagem. Tem ainda a possibilidade de variar a vazão em passos de 10 em 10% ou voltar a 100% da dose apertando uma só tecla. O retorno é controlado através de uma válvula com seis posições (velocidades de agitação) e o volume excedente é enviado para a bomba e não para o reservatório onde poderia gerar espuma. Como mencionado, existe a possibilidade de realizar a aplicação em velocidades superiores a 20 km/h. Neste caso ainda deve se ter cuidado com a deriva na barra, pois o deslocamento do trator succiona o ar com as gotas pequenas para o centro aumentando a dosagem nesta posição.

ERGONOMIA E SEGURANÇA O conforto do operador depende do trator que está sendo utilizado e da presença de uma cabina com visão panorâmica. O painel de comando pode ser instalado com facilidade em qualquer modelo de cabine. A posição das bar-

Um sistema “trava” as barras quando elas estão em posição de trabalho, dando mais rigidez e estabilidade em toda a extensão

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ras seja de altura, fechamento para transporte ou abertura é feito por um leve toque em chaves ou botões do comando eletro-hidráulico. O acesso fácil aos filtros posicionados na entrada do reservatório, antes da bomba, na linha e nas pontas facilita sua limpeza e manutenção. A escala de controle do volume contido no reservatório possui uma bóia para evitar o contato direto com a calda e é possível visualizar o volume estando em pé ao lado do pulverizador. Uma tabela com indicações de pressão de trabalho, distância entre pontas e velocidade auxilia na sua regulagem, além de apresentar sinais indicativos de pontos de perigo. O reservatório de enxágüe agitável, do tipo tambor, é escamoteável para evitar acidentes na operação e reduzir a largura de transporte. Ele faz uma pré-mistura de água com produto comercial antes de enviar a mistura ao reservatório principal. O tambor de enxágüe pode realizar a primeira lavagem do frasco com a calda de pulverização para remover o que ficou no frasco e, posteriormente, realizar a tríplice lavagem com água limpa. Possui um reservatório de água (120 l) utilizada no sistema de lavagem de embalagens vazias, limpeza da bomba, comando, canaliza-

A máquina testada estava equipada com suporte para três pont válvula anti-gotejo, o que facilita a alteração entre as pontas e

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Manual

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Francisco Faggion coordenou os testes com o Tittan 1200

ções, pontas e depósito principal. Mais um reservatório de água limpa (20 l) exclusiva para higiene pessoal, indispensável nas condições de operação a campo. Um detalhe interessante é a possibilidade de regular a posição da bomba de acordo com o comprimento do cardã em uso para evitar o corte do mesmo. A presença de rodas de apoio retráteis utilizadas para evitar o tombamento do pulverizador quando estacionado é mais um item importante de ergonomia, segurança e funcionalidade.

O acesso fácil aos filtros proporciona agilidade na limpeza e manutenção

ACESSÓRIOS Um destaque dentre os acessórios é o controlador eletrônico da pulverização, o SprayControl II-A da Müller-Elektronik. Ele atua quando da variação mínima da rotação do motor, da velocidade de avanço ou do desligamento de uma ou mais seções da barra. Ele é conectado junto ao controle eletro-hidráulico e assume a regulagem do volume a ser aplicado (l/ha), conforme programado. Esse comando registra ainda a velocidade instantânea (km/h), dosagem (l/ha), vazão (l/ min), volume total aplicado (l), área trabalhada (ha), distância percorrida (km), tempo de trabalho do trator, do pulverizador e do tratorista, bem como o desempenho médio (ha/h). Vários outros acessórios podem equipar o pulverizador (opcionais). Entre eles o marcador de espuma e a barra de luzes controlada por sistema de posicionamento global (GPS), pois o seu controle eletrônico é compatível.

IMPRESSÕES GERAIS A autonomia de trabalho do Tittan 1200 é um fator de destaque para um pulverizador montado. A regulagem da barra de acordo com o nível da superfície a ser tratada e a sua estabilidade, associadas a outros itens de segurança, o diferenciam no mercado nacional. Mesmo com a possibilidade de ocorrência de compactação do solo e a necessidade de um trator com alta capacidade de levante do siste-

as de pulverização do tipo engate rápido e evita o gotejamento

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O reservatório de enxágüe agitável e a escada de acesso ao depósito são escamoteáveis

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pulverizador possui dois manu ais do usuário: um para o pulverizador e outro para o controlador eletrônico (Spray-control II-A). O segundo manual com a descrição do controlador eletrônico somente é entregue a quem adquirir este equipamento. As várias ilustrações de ambos são coloridas, bastante explicativas e o texto facilita a visualização e compreensão do tema. Os manuais apresentam ainda um check-list da manutenção básica e detalham algumas medidas de segurança tanto de aplicação de agrotóxicos quanto da máquina, o que é louvável. No entanto, ainda apresentam alguns “vícios” de tradução, o que não os desqualifica. Se os dois manuais fossem transformados em apenas um, a localização dos itens seria facilitada. ma hidráulico, a máquina apresenta vários itens que permitem realizar pulverizações eficientes e com capacidade de trabalho próxima à atingida por autopropelidos. Dentre os pulverizadores montados ele se destaca por sua tecnologia e segurança, apresenta maior versatilidade que os de arrasto e pode ser uma boa alternativa para agricultores que não dispoem de recursos para adquirir um autopropelido. O valor do Tittan 1200 é de aproximadamente R$ 100 mil. Para quem precisa de autonomia, versatilidade e bom nível de eletrônica embarcada, mas não quer ou não pode chegar num modelo autopropelido, o Tittan 1200 é uma opção que deve ser levada em conta. Embora seja uma máquina relativamente nova aqui no Brasil, vale lembrar que a marca Amazone é muito conceituada na Europa, onde as exigências com tecnologia são muito maiores do M que no Brasil. Francisco Faggion, Unisc

É possível regular a bomba de acordo com o comprimento do cardã para evitar o corte do mesmo

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Acelera... C

umprindo o proposto na edição 37, cá estamos com as últimas notícias de 2004. A espetacular vitória de Dorval Conci Jr. em Maripá (PR) fechou com chave de ouro o ano do Arrancadão de Tratores 2004. Melhores novidades estão prometidas pelo “Alemão” (HSJ Empreendimentos) e sua troupe para 2005. A começar pela provável inclusão de novos locais de disputas e de novas equipes. Por falar em equipes, a alvissareira estréia de uma equipe puramente feminina. Você verá a foto da Penélope Charmosa... Não bastam os motivos para assistir e estimular as provas de Arrancadão em 2005? E não esqueça de incluir em sua programação as provas de Trekker Trek, pois certamente há desafiantes suficientes para o Dick Vigarista. Bom começo de ano a todos.

Resultado do GP Vipal de Arrancada de Tratores em Maripá 1º) Dorval Conci Júnior (Maripá), 2º) Paulo Radetzki (Maripá) 3º) Ivan Schanoski (Maripá) 4º) David Bretzke (Maripá) 5º) Aldir Luiz Muller (Pérola Independente) 7º) Aldecir Rohloff (Toledo) 8º) Darli Drisner/Irani Kreutz (Maripá) 9º) Valdecir Rohloff (Toledo) 10º) Claudinei Matte (Mal. Cândido Rondon)

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Máquinas

por Arno Dallmeyer - arnomaq@yahoo.com.br

Arrancada de tratores Conci é Campeão Brasileiro

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orval Conci Júnior, de Maripá (PR), é o novo campeão brasileiro de Arrancada de Tratores. Numa semifinal e final cercadas de muita expectativa em função de problemas mecânicos com dois dos quatro semifinalistas, Conci derrotou Paulo Radetzki na decisão do 2º Campeonato Brasileiro de Arrancada de Tratores/GP Vipal, disputado em 14.11.2004, no Tratoródromo de Maripá. A diferença de tempo na final foi muito pequena. Conci fez os 200 metros em 10s133, enquanto que Paulo fez 10s314. Para aumentar ainda mais o drama, Conci, que disputou as seminais com problemas na caixa de Fotos Orlei Silva câmbio, teve a turbina estourada faltando dez metros para cruzar a linha de chegada. A disputa pelo terceiro lugar não chegou a ser realizada porque David Bretzke, com a caixa de câmbio quebrada, não pode largar. Com isso Ivan Schanoski garantiu a terceira colocação na competição. Para David ficou o consolo de sair da competição com o recorde do Tratódromo de Maripá, com tempo de 9s962.

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Campeão surpreso Dorval Conci Júnior se disse surpreso com a conquista do título. “Não esperava conquistar o título porque estava com problemas na caixa desde a última bateria classificatória. Não conseguia engatar a terceira marcha e também encavalava. Fui para as semifinais na expectativa de fazer apenas a primeira largada e forçar até o final na expectativa que outro concorrente quebrasse e não registrasse tempo. Felizmente consegui engatar a terceira e fiz um bom tempo. Nas outras largadas, consegui engatar a terceira, mas fiquei sem a ré. Era um drama, poderia quebrar tudo a qualquer momento. Graças a Deus somente na linha de chegada da decisão, foi tudo para o espaço, quebrando a caixa por completo e explodindo a turbina”, falou Conci Júnior, ganhador este ano também do Grande Prêmio Firestone, disputado em agosto em Campo Grande (MS). Já Paulo Radetzki disse estar satisfeito com o título de vice-campeão. “Faltou pouco para o título vir. Fizemos um bom trabalho. A chegada do preparador Daniel Nardini deu mais força à equipe. No próximo ano vamos estar na briga pela vitória em todas as provas da temporada”, finaliza Paulo. Mulheres na disputa A recém criada equipe Penélope Charmosa, composta por Darli Drisner e Irani Kreutz conquistou a oitava colocação, demonstrando que terão condições de brigarem para chegar às semifinais e finais na próxima temporada. E como o nome da equipe diz, é um charme a mais nas pistas. Bem vindas, e sucesso na próxima temporada.

Fevereiro 2005



Informe jurídico • Newton Peter • OAB/RS 14.056 • consultas@newtonpeter.com.br

Títulos antigos da dívida pública

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á algum tempo recebi uma consulta interes sante de um agrônomo sobre a liquidez de títulos da dívida pública da União emitidos por volta dos anos 1950. Acompanhavam os documentos laudos de peritos contábeis atualizando seus valores. Não recordo com precisão, mas o montante atingia R$ 400 ou R$ 500 mil. Após alguns dias de pesquisa de minha equipe, recomendei não ingressar na Justiça para pleitear o suposto crédito por considerar o resultado da demanda incerto. Indiquei um colega, caso o cliente desejasse outra opinião. Curiosamente, duas outras pessoas procuraram-me com questão semelhante nas primeiras semanas de dezembro passado. Adotei o mesmo procedimento: a questão permanece demasiadamente incerta, boa apenas para quem gosta de riscos. Grandes vitórias implicam em grandes riscos? Às vezes. A realidade é que o dinheiro advém do trabalho duro; raramente de lances miraculosos de sorte ou de esperteza. Muita gente se perdeu na busca pelo Eldorado, fábula inventada pelos índios americanos para confundir os espanhóis sedentos por ouro...

interesse de padronizar a dívida pública, o governo promoveu troca ou resgate de títulos. A primeira, em 1957, atingiu os emitidos no período compreendido entre 1902 e 1955. A segunda, mais polêmica, realizou-se em 1967, sob a vigência do Ato Institucional nº 4. Dois Decretos-Leis regulam a matéria: o 263/67 e o 396/ 68. Há um terceiro caso envolvendo títulos federais de que tenho notícia, mas parece ser mera falsificação. Seriam LTNs (Letras do Tesouro Nacional) emitidas nos anos 1970 com prazo superior a um (01) ano. O Tesouro nega a existência de qualquer

UM POUCO DE HISTÓRIA Contrair dívidas foi o método encontrado pelo governo brasileiro para realizar obras básicas de infra-estrutura, como melhoramento de portos, construção de ferrovias, aumento na capacidade de geração de energia e outros. Lembre-se ter este país poucos anos de existência e uma população reduzida frente à magnitude de seu território – pelo menos até os anos 1960. Aqui, em pouco tempo, nasceu um país razoavelmente moderno “do nada”. Desenvolvimento acelerado custa dinheiro. Emitir títulos fora a opção. A denominação dos papéis pouco importa. Por duas vezes, no alegado

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Máquinas

título dessa natureza com validade superior a 365 dias. Abordaremos o segundo caso, por ser mais comum. Dispensarei a discussão técnica, importante tão-somente para os advogados, e tentarei traçar um panorama da situação.

LEGAL OU ILEGAL? Invocaram-se diversos argumentos contra a legalidade dos referidos Decretos-Leis e os efeitos deles decorrentes, como a participação do Conselho Monetário Nacional ou do Banco Central do Brasil no processo.

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Atuando com Direito há mais de trinta anos, defendo, amparado por nobres jurisconsultos, como Carlos Maximiliano, autoridade em hermenêutica (interpretação das leis), que a longevidade, principalmente em aspectos constitucionais, é forte indício da legalidade da lei. Evidente, essa tese aplica-se apenas às leis em uso, não àquelas modificadas pela realidade social – como as antigas leis sobre o matrimônio, por exemplo. Se uma lei vigora durante décadas sem ser questionada, tende-se a acreditar em sua constitucionalidade à época da feitura e em sua aceitação por parte dos contemporâneos. Portanto, acautele-se quem questionar uma lei mais de trinta e cinco anos após sua promulgação. Se havia problemas, por que tanto tempo passou antes do questionamento? A questão do tempo implica também no que se chama, em Direito, de “pacificação social”. Isso significa, em termos simples, que um conflito não pode permanecer eternamente sem solução. Não promovendo a defesa de seus interesses em prazo hábil, há prescrição (em termos processuais) ou decadência (do direito em si). Não cabe aqui discutir a aplicação dos conceitos ao caso, até porque, revogados artigos ou a íntegra dos decretos-lei, não se haveria de invocar qualquer dos conceitos. Procuro apenas mostrar aos leigos a força conferida pela Filosofia do Direito ao caráter “tempo”. Além de tudo, depõe contra a possibilidade de acionar a União Federal o fato de os títulos em questão, por força dos citados decretos-leis, terem sido resgatados da forma mais favorável aos credores, ressalte-se, integralmente – originalmente, previase pagamento parcelado. Se, apesar dessa pequena e rápida explicação, o leitor ainda desejar buscar uma solução jurídica, procure seu advogado. Ele poderá dirimir suas dúvidas e, quem sabe, conseguir transformar M seus títulos em dinheiro.

Fevereiro 2005




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