Destaques Matéria de capa
Consumo na ponta do lápis Saiba por que é fundamental monitorar a quantidade de combustível consumida durante as operações agrícolas
05
Quando escarificar
PD na cana
Conheça os benefícios da escarificação esporádica em lavouras onde é praticado o plantio direto
O plantio direto na cana é uma operação que gera redução drástica de tempo e mãode-obra, diminuindo em até 47% os custos
Índice
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Nossa Capa Valtra
Rodando por aí
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Consumo de combustíveis
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Aplicação via aérea
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Plantio: Hora de evitar erros
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Precisão no plantio
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Armazenagem em silos horizontais
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Quando escarificar
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Plantio direto de cana-de-açúcar
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Esporte Trator
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Grupo Cultivar de Publicações Ltda.
www.cultivar.inf.br www.grupocultivar.com
Cultivar Máquinas Edição Nº 52 Ano V - Maio 06 ISSN - 1676-0158
www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 • 70,00
• Editor
Charles Ricardo Echer • Redação
Vilso Júnior Santi • Revisão
Silvia Maria Pinto • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia • Marketing
Pedro Batistin
Otávio Pereira • Gerente de Circulação
Cibele Costa • Assinaturas
Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externa
Raquel Marcos • Expedição
Edson Krause Dianferson Alves
• Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL
3028.2000 • ASSINATURAS
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3028.2060 • MARKETING
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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Bardahl A Bardahl apresentou recentemente sua nova linha de graxas lubrificantes brancas e atóxicas. A linha de graxas especiais também tem aplicação no setor agrícola, porque é própria para ser usada nas centrífugas automáticas de açúcar. Para o próximo ano, a Bardahl está trabalhando na ampliação de sua linha agrícola, visando a lubrificação total nas usinas de cana. Hoje já são mais de 20 produtos desenvolvidos para proteger tratores, colhedoras e implementos agrícolas da corrosão.
Tortuga A empresa participou da 10ª edição da Feira Interativa para Caminhoneiros – Exposafra Paranaguá. A Tortuga participa da feira visando fortalecer sua marca diante deste que é reconhecidamente um dos principais consumidores finais do segmento. Para o gerente de marketing da Tortuga Câmaras de Ar, Caio Fontana, “a importância da participação nesse tipo de evento é o contato direto com o caminhoneiro, dando a possibilidade de oferecer informações úteis e novidades da marca”.
IDI-RS O Índice de Desempenho Industrial do RS, medido pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), teve queda de 9,19% no primeiro trimestre do ano, em relação a igual período de 2005. Em março, na comparação com o mesmo mês do ano passado, o IDI-RS aumentou 0,25%. Na análise por setor industrial, os piores desempenhos no primeiro trimestre do ano foram registrados nos setores de fumo (-25,08%), máquinas agrícolas (-15,69%) e de calçados (-14,22%). Todos estes são segmentos direcionados para as exportações.
04 • Maio 06
Cummins
Agrale Com pesar, o Grupo Cultivar de Publicações informa que faleceu no último dia 08/05 o empresário Francisco Stédile. O idealista Stédile foi fundador e diretor-presidente das empresas Francisco Stédile Participações e Empreendimentos S/A, Agrale S/A, Agrale Amazônia S/A, Agrale Argentina S/A, Agritech Lavrale S/ A, Fundituba Indústria Metalúrgica Ltda, Germani Alimentos e Fazenda Três Rios. Seu sepultamento foi realizado no Cemitério Público Municipal de Caxias do Sul (RS).
Francisco Stédile
John Deere Amílcar Centeno assumiu recentemente o cargo de gerente de planejamento e processos de Marketing para a América do Sul da John Deere. Ele será responsável pela coordenação do planejamento e desenvolvimento de estratégias de marketing para todo o continente. Amílcar ocupava o cargo de gerente de Planejamento de Produto. Já Luiz Sartor é o novo gerente de suporte de produtos da empresa.
Yanmar
IAC O IAC já dispõe de um laboratório para atestar a qualidade de EPI’s. Essa resposta está chegando como resultado de um trabalho do Instituto junto a empresas fabricantes e usuárias de EPI’s. O Selo será apresentado durante a Agrishow 2006. O público da feira irá conhecer o Selo IAC de Qualidade de Equipamentos de Proteção Individual na Agricultura, no estande da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo.
ExxonMobil A realização de análises de óleo destinado a indústrias e frotas atualmente é considerada uma ferramenta importantíssima para a minimização de falhas e o prolongamento da vida útil de equipamentos. Dessa maneira, ela atua como uma das diferentes formas de manutenção preditiva, além de ser tão importante quanto a manutenção preventiva. Esse será o assunto abordado pelo engenheiro Benício Silva, coordenador de marketing da ExxonMobil, durante sua palestra no XIV Seminário de Lubrificantes e Lubrificação InBenício Silva dustrial da Abraman – Associação Brasileira de Manutenção.
NaanDan A NaanDan está desenvolvendo uma reorganização societária, a fim de incrementar sua atuação no Brasil. A empresa produz sistemas de irrigação agrícola e tem sede em Israel. Também possui fábricas e subsidiárias na Austrália, no Chile, na Espanha, nos EUA, na França, na Itália e no México. A NaanDan tem se consolidado desde o ano de 1937. No Brasil iniciou suas atividades nos anos 80 e, desde o dia 1º de abril deste ano, reconfigurou o seu comando acionário. Segundo seu gerente geral, Alfredo Mendes, a NaanDan muda para melhor. “Já tínhamos um bom trabalho no país com boas perspectivas de crescimento, agora ganhamos mais agilidade nas decisões.”
Ter uma colhedora com motor que consome menos, é mais eficiente, emite menos gases e ruídos e ainda permite prolongar o intervalo de manutenção de 250 para 500 horas já é possível. Tudo isso graças ao motor QSC Tier III, a novidade tecnológica que a Cummins apresenta no momento. Desenvolvido com 8.3 litros, o novo produto proporciona potência que varia de 215 a 330 cv. A Agritech Lavrale, fabricante dos tratores e motocultivadores Yanmar Agritech e dos motores diesel Yanmar, bem como de implementos agrícolas e autopeças, apresentou recentemente mais uma novidade: o trator 1050 D Turbo, que tem potência de 50 cv. Seu motor diesel é do tipo vertical de quatro tempos turbo alimentado. Ele possui oito velocidades de marcha à frente e duas à ré. A embriagem é do tipo monodisco a seco, e a direção é hidrostática.
Massey Ferguson
Alfredo Mendes
Kepler Weber O Grupo Kepler Weber tem novo presidente. Após o pedido de demissão de Othon d’Eça Cals de Abreu, Milton Paulo Silva assumiu o cargo. O ex-diretor administrativo, financeiro e de relações com investidores, na função desde agosto de 2005, passa agora a acumular os cargos de diretor presidente da Kepler Weber Industrial S/A e da Kepler Weber Inox Ltda. Milton Paulo Silva iniciou sua carreira profissional na Forjas Taurus, passando pelas empresas americanas Springer Carrier, Bausch & Lomb Brazil e pela francesa Thomson Multimídia.
John Deere A produção da primeira colhedora de cana com a marca John Deere foi comemorada recentemente na fábrica de Catalão, em Goiás. “A apresentação da primeira unidade da colhedora 3510 com as cores verde e amarelo tem um significado histórico”, afirma Paulo Herrmann, diretor de Marketing da empresa para a América do Sul. A incorporação da marca John Deere nas colhedoras de cana, que começa no Brasil, vai reforçar a presença da empresa líder mundial da produção de equipamentos agrícolas no mercado de cana-de-açúcar. Ao mesmo tempo em que lança o novo modelo, a John Deere criou uma unidade de negócios especial para o mercado da cana no Brasil.
Auxiliar o produtor rural no acompanhamento da vida de seus tratores e colhedoras é o objetivo do novo serviço de pósvenda disponibilizado no site da Massey Ferguson. Os módulos disponíveis já possibilitam o cadastro da frota e o acompanhamento das revisões efetuadas. Em breve serão incluídas novas funcionalidades como: tabelas de manutenção recomendadas para cada modelo de máquina, dicas de manutenção específica, ofertas originais de peças e serviços, consulta a kits de acessórios, atividades na concessionária de cada região e plantão de peças. Disponível em www.massey.com.br/ meumassey.
combustíveis
Charles Echer
Consumo na ponta do lápis
Nas operações agrícolas o combustível consumido, ou a se consumir, é um importante fator na composição do custo de trabalho e influi diretamente no preço da produção e na rentabilidade da cultura
U
m dos principais itens a se considerar no planejamento das operações agrícolas e em experimentos de campo para fins de pesquisa é o consumo de combustível. Na operação agrícola o combustível consumido, ou a se consumir, é um fator de custo do trabalho com máquinas agrícolas e influi no preço da produção e na rentabilidade da cultura. A quantidade de combustível utilizada para a implantação ou condução da cultura é função de vários fatores como porte, adequação e condição do conjunto trator-implemento, exigência de operação, tipo e condição de solo, tempo de manobras e também do número de operações agrícolas adotadas no processo de produção. No custo total da cultura, o custo do combustível pode chegar a 30%. Em trabalhos de pesquisa devem ser buscados valores reais do experimento, mas, qualquer que seja a situação, o uso de equi-
pamentos de medição apropriados é necessário.
TECNOLOGIA DE MEDIÇÃO No passado, um sistema muito adotado para estimar o consumo em operações mecanizadas era aquele que determina o volume necessário para completar o tanque do trator após certo tempo de trabalho; outro sistema consiste em medir o tempo necessário para consumir certo volume de combustível. Ambos os processos, além de demandarem considerável tempo para sua realização, não fornecem a precisão desejável, pois são influenciados pelo tamanho e pela forma do terreno. Esses fatores determinam o número de manobras nos finais das linhas e o tempo consumido para executá-las, não fornecendo, portanto, o consumo real para a efetiva execução da operação agrícola. Outro método era aquele que empregava um tanque de combustível removível,
acoplado e desacoplado ao trator por meio de engates rápidos. O combustível utilizado é determinado pesando-se o tanque antes e depois de um teste e considerando-se o tempo de consumo. Esse processo também não é preciso, pelas mesmas razões. Em trabalhos experimentais era comum o uso de equipamentos construídos com tubos graduados, buretas e eletroválvulas. A Figura 1 exemplifica um desses sistemas, constituído de dois tubos-reservatórios em PVC, montados paralelamente em uma estrutura fixa ao trator. A comunicação entre os dois tubos é feita na parte superior e inferior por meio de cotovelos e conexão tipo “T”. Entre eles é conectado um tubo de vidro graduado. Junto à saída do combustível, é instalada uma tomada para colocação de termômetro ou termopar, para obtenção da temperatura do combustível, visando à determinação da densidade do combustível. O controle automático de fluxo utiliza
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Figura 1 - Esquema de um medidor volumétrico: 1 – Alimentação do medidor; 2 – Retorno do combustível do motor do trator; 3 – Saída do combustível para o motor do trator; 4 – Acoplamento para termômetro ou termopar; 5 – Tanque alimentador do medidor; 6 – Válvula de acionamento manual; 7 – Medidor de combustível; 8 – Motor do trator; 9 Tanque do trator; NA1 e NA2, eletroválvulas normalmente abertas; NF1 e NF2, eletroválvulas normalmente fechadas
Fonte: MAZIERO et al. (1992)
tanque principal do trator) e NF-2 (cuja saída vai para o tubo reservatório do aparelho medidor). A alimentação do equipamento é feita por gravidade, mediante um pequeno tanque plástico, colocado acima do equipamento, pelo acionamento de uma válvula manual instalada entre ambos. As eletroválvulas são dispostas de tal modo que, em operação normal (posição energizada), o fluxo
Figura 2 - Esquema de um medidor de vazão com engrenagens ovais
Yanmar
quatro eletroválvulas (12 VCC), duas do tipo normalmente fechadas (NF) e duas normalmente abertas (NA), que empregam como fonte de potência a bateria do próprio trator. O equipamento é ligado ao sistema de alimentação do trator com mangueiras de plástico de baixa pressão, de modo que o conduto de combustível que sai do tanque principal do trator é ligado na entrada da eletroválvula NA-1, sendo a saída desta conectada à bomba de alimentação. O retorno do combustível é ligado entre as eletroválvulas NA-1 (cuja saída vai para o
O consumo do combustível pode facilmente alcançar 30% do custo total da lavoura
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de combustível se faz por meio das eletroválvulas NA-1 e NA-2, indo do tanque do trator para a bomba de alimentação; o excesso da bomba injetora e dos bicos retorna ao tanque do trator. Durante as medições (posição energizada), a alimentação do trator é feita pelo equipamento medidor, e o fluxo de combustível, pelas eletroválvulas NF-1 e NF-2, retornando o excesso ao equipamento do medidor. A quantidade de volume consumido é dada pela diferença das leituras inicial e final nos tubos graduados. Embora esses aparatos sejam de baixo custo de construção, envolvem uma série de componentes e requerem adaptações específicas para instalação em cada modelo de trator, além de dependerem de anotações para registro do volume consumido para posterior processamento. O surgimento dos medidores de vazão por engrenagens ovais (Figura 2), de fácil instalação nos tratores, permite a leitura instantânea do consumo horário e pode ser conectado a um sistema de aquisição de dados ou a um indicador digital. Tais medidores compõem-se de duas engrenagens ovais em uma das quais existe um ímã que sensibiliza um sensor a cada volta dessa engrenagem, que é relacionada ao volume de combustível que passa. São equipamentos de formato compacto que, se ligados a um indicador digital, constituem-se num conjunto dedicado à medição de consumo de combustível. Os medidores de vazão tipo engrenagens ovais têm como princípio de medição o deslocamento positivo. A pequena folga entre as engrenagens e a carcaça cria uma pressão diferencial e estabelece um fluxo de produto entre a entrada e a saída do medidor; fluxo esse que movimentará as engrenagens
Fonte: OVAL Corporation.
“A quantidade de volume consumido é dada pela diferença das leituras inicial e final nos tubos graduados” Charles Echer
A quantidade de combustível utilizada é função de fatores como porte, adequação e condição do conjunto trator-implemento
acopladas a um sistema eletrônico de contagem, que indica o volume total escoado. Esse tipo de equipamento é indicado para o controle e medição de óleos pesados de alta e baixa viscosidade.
AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS Algumas configurações para a instalação de sistemas de medição podem variar em função dos equipamentos disponíveis, entretanto, a instalação de um sistema é muitas vezes motivo de questionamento, principalmente com relação à necessidade de uso de um ou dois equipamentos no circuito de alimentação e à sua influência na exatidão das medições. Para tirar as dúvidas quanto a isso, foram avaliados dois sistemas de medição utilizando medidores de vazão de engrenagens ovais: a configuração A, com dois medidores (Figura 3), e a configuração B, com um medidor (Figura 4). A medição do consumo de combustível era obtida por meio de indicador digital, em l/h, sendo que na configuração A o valor cor-
respondia à diferença de leitura entre os dois medidores (sensor de alimentação e sensor de retorno) e, na configuração B, a leitura era direta. Para verificar a exatidão dos sistemas, foi realizado um ensaio sob cargas variáveis
com o motor também operando em regime de máxima aceleração. As cargas aplicadas em bancada dinamométrica foram: 12,5; 25; 50; 75; e 100% do torque de potência máxima do motor. Foram feitas medições de consumo horário pelo sistema de medição exis-
Figura 3 - Esquema de instalação da configuração A (utilização de dois medidores de vazão)
Divulgação
tente (sistema aferidor da bancada dinamométrica), obtidas em função do tempo gasto para consumir um volume constante. Durante cada um desses intervalos de tempo, foram anotados os valores de consumo apresentados no visor do sistema sob avaliação. A avaliação da exatidão foi feita com base nos desvios de leituras entre o sistema de referência (do laboratório de dinamometria) e o sistema avaliado, aplicando-se o teste “t” a dados parecidos. Estabeleceu-se a hipótese de igualdade de medição de consumo horário entre o sistema avaliado e o sistema de referência, verificando-se também o atendimento às normas NBR ISO 1585 e NBR ISO 13400. Essas normas estabelecem que a exatidão de sistemas de medição de fluxo de combustível deve ser de +/- 1,0%.
Figura 4 – Esquema de instalação da configuração B (utilização de um medidor de vazão)
Pelos resultados do Quadro 1, vê-se que não houve diferença estatística entre os valores medidos com a configuração A e o sistema de referência, o que não ocorreu na configuração B. Verifica-se, porém, que as diferenças porcentuais obtidas na configuração A (0,27%) e na configuração B (- 0,64%) estão dentro do limite de tolerância admitida para a medição do consumo de combustível em ensaios normalizados. Particularmente para a configuração A, também foram checadas as pressões e temperaturas do sistema em circuito aberto e fechado. No circuito aberto, mediante a instalação de duas válvulas, o óleo do retorno seguia para o tanque, enquanto que, no circuito fechado, o óleo do retorno seguia para o circuito de alimentação. Os resultados desse ensaio são apresentados no Quadro 2, onde se observa que as temperaturas do combustível no retorno e próximo ao medidor mantiveram-se mais altas no circuito
fechado, com uma diferença de 7,3 ± 0,5 °C, e que o aumento de 8,0 mmHg (0,01 kgf/ cm2), na condição de circuito fechado, pode ser considerado desprezível. Tais diferenças, entretanto, não afetaram os valores obtidos para o consumo horário de combustível, que foram os mesmos nas condições de circuito aberto e fechado. Em vista das pequenas diferenças encontradas em ambas as configurações, do atendimento às normas técnicas com respeito à exatidão e pelo fato de as diferenças de pressão e de temperatura no circuito de alimentação não afetarem a medição, pode-se considerar que ambas as configurações são indicadas para medição de consumo em moM tores diesel de tratores agrícolas. José Valdemar Gonzalez Maziero, Moisés Storino e Ila Maria Corrêa, IAC
Quadro 1 – Resultados do ensaio para avaliação da exatidão dos sistemas Parâmetros Nº. de leituras Média, l/h Média das diferenças, l/h Diferença porcentual, %
Consumo de combustível Configuração A Configuração B Sistema de referência Sistema avaliado Sistema de referência Sistema avaliado 5 5 5 5 8,098 8,100 7,616 7,570 0,002 (NS) - 0,0046 (S) 0,27 - 0,64
NS: Não significativo; S: Significativo pelo teste t a dados pareados ao nível de 95 % de confiança.
Quadro 2 – Resultados do ensaio para verificação da influência da pressão e da temperatura em circuito aberto e fechado Parâmetros Média*
Ila fala da importância da medição adequada do consumo de combustível para composição do custo de produção
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Temperaturas, oC Medidor (A) Retorno (B) Diferença (A) - (B) Pressão no circuito, mmHg Consumo de combustível, l/h
31,4 a 41,0 b 9,6 a 20,0 b 9,8 a
Circuito aberto Desvio padrão 1,27 0,8 0,5 0,0 0,0
Média* 36,0 b 43,3 a 7,3 b 28,0 a 9,8 a
* Médias seguidas de mesma letra na horizontal não diferem significativamente pelo teste t de Student, ao nível de 95 % de confiança.
Circuito fechado Desvio padrão 0,0 0,5 0,5 0,0 0,0
aviões Fotos Jeferson Luís Rezende
Via aérea
A aviação agrícola vem se materializando como uma importante aliada do campo, capaz de alavancar a produtividade e aumentar a competitividade dos agricultores brasileiros nos mercados interno e externo
A
agricultura está se tornando cada vez mais uma atividade que envolve alta tecnologia e grandes recursos técnico-financeiros. Com o advento da globalização da economia mundial, observando-se os atuais níveis de subsídios agrícolas mantidos pelos países do dito primeiro mundo, torna-se imprescindível para o produtor rural brasileiro uma reavaliação de métodos e técnicas utilizados na sua lavoura, buscando readequar a estrutura física de sua propriedade. Nos Estados Unidos e na Austrália, países que fazem largo uso da aviação agrícola, a frota
de aeronaves agrícolas é significativa. No Brasil, essa tecnologia também se mostra como uma interessante alternativa para alavancar a produtividade e os lucros de uma propriedade.
Falta, porém, no país uma política de incentivo, por parte dos governos, que fomente e estimule o crescimento dessa atividade. Nosso país ainda não utiliza todo o potencial dessa tecnologia. Estudos do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) mostram que há muita área plantada que poderia estar fazendo uso desse método de proteção à lavoura. No entanto, a falta da cultura aeroagrícola por parte do produtor rural brasileiro não permite a utilização plena dessa importante ferramenta.
PAPEL DA AVIAÇÃO O avanço de culturas altamente tecnificadas, como a soja, o milho e o algodão, pelo país afora pôs em destaque o papel da aviação agrí-
O avanço de culturas altamente tecnificadas põe em destaque o papel da aviação como ferramenta de apoio ao homem do campo
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Fotos Jeferson Luís Rezende
O tratamento aéreo agrega algumas vantagens em relação ao terrestre, como tratamento da área cultivada em menor tempo e no momento apropriado
em uma hora o que um trator pulverizaria em um dia. Realiza o trabalho com velocidade constante e uniforme. Opera em qualquer tipo de terreno e logo depois das chuvas. Não amassa a cultura e não transporta vetores de uma área para outra. Também não compacta o solo nas áreas de cultivo. O custo médio de uma aplicação aérea no estado do Paraná é de US$ 11,21 por hectare. Em São Paulo, Santa Catarina e no Rio Grande do Sul também gira em torno disso. Noutros estados, como Mato grosso, Mato grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Minas Gerais, em razão da maior utilização desse tipo de serviço e também do maior rendimento do trabalho, os preços tendem a ser um pouco mais baixos. cola como ferramenta de apoio ao homem do campo. Com o advento da ferugem asiática, os aviões ganharam importância ainda maior, tornado-se peças decisivas para combater essa grave doença, limitando e minimizando os danos que ela causa à soja. A ferrugem mudou drasticamente o perfil de tratamento da soja, transformando o avião agrícola numa ferramenta imprescindível e estratégica. Principalmente quando se fecham as contas de custo/benefício e produção. Imbatível na homogeneidade de aplicação e incomparável no combate de pragas e doenças em áreas mais extensas, onde o tratamento geralmente é urgente, a aviação agrícola ainda é subutilizada em muitas regiões brasileiras, provavelmente, por falta de maior difusão e de informações técnicas entre produtores rurais e agrônomos. Mesmo assim, o setor tem crescido a passos largos nos último anos – mais de 10% ao ano, ultrapassando o percentual de evolução das áreas plantadas. Com o avanço das lavouras de soja e algodão no Centro-Oeste e Norte do país, e a recuperação da cultura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul, o Brasil está assistindo a um novo “boom” de crescimento em sua frota aeroagrícola. Vale lembrar também que os aviões
O comparativo de custos entre aplicações aéreas e terrestres é um bom indicativo das vantagens das primeiras
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agrícolas também são empregados de forma extensiva na cultura da banana e, numa escala um pouco menor, nas culturas do trigo, feijão e milho. Também a cultura da batata tem feito interessante uso da aplicação aérea. Algumas áreas, como Casa Branca, no interior de São Paulo, adotaram essa tecnologia em 100% do tratamento realizado, alcançando um incremento na produtividade de até 50 sacas por hectare, de acordo com informações do engenheiro agrônomo Valter Ceccarello. O tratamento aéreo agrega algumas vantagens em relação ao terrestre. O avião permite tratar uma área cultivada em menor tempo e no momento apropriado. Consegue pulverizar
TECNOLOGIA AEROAGRÍCOLA A tecnologia aeroagrícola envolve a aplicação de líquidos: inseticidas, fungicidas, herbicidas e acaricidas; e de sólidos: semeadura de plantas de cobertura, de pastagens e florestas, aplicação de adubos e fertilizantes, povoamento de lagos e rios com peixes, combate a incêndios florestais e, ainda, controle de vetores de doenças endêmicas como os mosquitos da dengue. Uma das técnicas que mais vem sendo utilizada é a BVO (baixo volume oleoso), que trabalha com vazões entre seis e 15 litros por hectare. O BVO é a grande sensação do momento em diversos estados brasileiros. Tem sido a tecnologia aeroagrícola que melhor tem se adap-
CONFIRA AS VANTAGENS
A
lém de um baixo custo, a aviação agrícola oferece ainda vantagens como: • Aplicação no momento oportuno: o produto é aplicado no momento ideal, de forma rápida e de acordo com a recomendação técnica; • Maior eficiência: pelas suas características, essa tecnologia de aplicação proporciona maior uniformidade e melhor cobertura da área tratada, contribuindo de forma decisiva no controle de pragas e doenças; • Não transporta vetores: por não manter contato com o solo, a aplicação aérea não transfere vetores de uma área para a outra, também não fere as plantas, o que facilitaria a instalação de doenças;
• Pode operar depois das chuvas: a aviação agrícola pode trabalhar em seguida das chuvas, mesmo com o solo encharcado, o que impediria a entrada de máquinas por terra; • Diminui a compactação e elimina o amassamento: os serviços aéreos não degradam o solo, por não tocá-lo, colaborando para diminuir a compactação do solo. Além disso, por não amassar as plantas, contribui para o aumento da rentabilidade da lavoura, potencializando os lucros; • Otimiza o gerenciamento: pela sua rapidez, a aviação agrícola cria condições adequadas para o gerenciamento eficiente e otimizado, proporcionando mais tempo disponível para o exercício de outras atividades na fazenda.
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“O avião permite tratar uma área cultivada em menor tempo e no momento apropriado”
AVIÃO X TRATOR
O
comparativo de custos entre as aplicações aéreas e terrestres também é um bom indicativo das vantagens das primeiras. Numa lavoura de 150 hectares de soja, onde a produtividade média estimada é de 50 sacas por hectare, a percentagem de amassamento por conta da aplicação de defensivos pela via terrestre pode chegar a 5%. Isso representa uma perda total de 375 sacas de soja. Com a saca da soja cotada a R$ 28, e o dólar, a US$ 2,14 o prejuízo com o amassamento na lavoura em questão pode alcançar R$ 10,5 mil, ou US$ 4,9 mil. tado às necessidades de tratamento das grandes lavouras, principalmente no combate à ferrugem asiática. As tecnologias BVO, BV e UBV usam normalmente atomizadores ao invés de bicos, resultando num tratamento mais eficaz, por atingir o alvo amplamente, inclusive o terço inferior da planta. Vazões de dez a 15 litros por hectare são ideais para as aplicações de fungicidas; cinco a dez litros por hectare para aplicação de inseticidas; de 20 litros por hectare para atrazina; e 25 litros por hectare para glifosato. Na cultura do algodão e da soja, por exemplo, as últimas aplicações na lavoura são feitas com volumes de dez a 12 litros por hectare. Embora grande parte dos técnicos e dos produtores ache que volumes maiores de aplicação sejam mais eficientes e signifiquem maior cobertura, pesquisas indicam que na maioria desses casos a cobertura é insatisfatória, e conseqüentemente o controle de insetos e doenças é sofrível. Os menores volumes de caldas são mais eficientes por vários motivos, principalmente pelo fato de que o princípio ativo mais concen-
Computando-se ainda o custo de operação de um equipamento tratorizado, que é de R$ 28 ou US$ 13,08 por hectare, têmse mais R$ 4,2 mil ou US$ 1,9 mil de custo para operação nessa área. Somando-se os custos, com os prejuízos causados pelo amassamento, têm-se R$ 14,7 mil ou US$ 6,8 mil de perdas totais. Por sua vez, o custo médio por hectare, para contratação de uma empresa aeroagrícola para aplicação de defensivos é de R$ 24 ou US$ 11,21. Na área em questão, de 150 hectares, o valor total de uma aplicação aérea alcançaria R$ 3,6 mil ou US$ 1,7 mil. trado permite maior eficiência de tratamento. Volumes menores também significam maior produtividade por hectare no tratamento realizado. Abaixa vazão propicia maior penetração na cultura e melhor homogeneidade do produto aplicado sobre o alvo. Uma das principais características da aplicação aérea é o tamanho das gotas utilizadas. Os equipamentos pulverizantes dos aviões conseguem produzir gotas entre 50 e 250 micras. Esse é o melhor espectro de gotas utilizável em todos os tratamentos, especialmente para a aplicação de fungicidas. É importante ressaltar que algumas culturas chegam a apresentar perdas de até 8% com o amassamento, quando são utilizados equipamentos terrestres na aplicação de defensivos. Além disso há um gasto adicional de 2% do custo de produção só para descompactar o solo na próxima safra. Outro serviço realizado pelos aviões diz respeito à semeadura de coberturas verdes e pastagens, muito comum no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso e no Paraná.
POTENCIALIZANDO OS LUCROS
Rezende fala da importância da aviação agrícola no aumento da competitividade da agricultura brasileira
O setor aeroagrícola tem contribuído expressivamente para o aumento da produtividade e dos lucros do campo, colaborando decisivamente para o fortalecimento do agronegócio brasileiro. É uma tecnologia indispensável para os empresários rurais que praticam ou desejam praticar uma boa gestão nos seu negócios. Nesse contexto, as faculdades de agronomia têm papel fundamental na difusão dessa tecnologia e no preparo técnico dos agrônomos. Elas poderiam incluir em seus currículos disciplinas de aviação aeroagrícola como matérias naturais. Assim se poderá oferecer conhecimentos adequados aos futuros profissionais sobre essa técnica de aplicação, pois são eles os responsáveis legais pela execução desses serviços. Dessa forma, além de formar técnicos mais preparados, as faculdades fomentarão uma maior e melhor utilização da aviação pelos agricultores, através dos profissionais formados que atuarão no campo e também a partir de pesquisas a serem desenvolvidas em parceria com outros órgãos e empresas. Como vimos, a aviação agrícola pode gerar grandes benefícios para o campo, não só aumentando a produtividade das lavouras, mas também diminuindo a poluição ambiental. Com ela o produtor rural poderá redirecionar investimentos na sua propriedade, aplicando seus recursos financeiros de forma mais adeM quada e eficiente. Jeferson Luís Rezende, Nata - Unicentro Uma das principais características da aplicação aérea é o tamanho das gotas utilizadas - entre 50 e 250 micras
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regulagem
Fotos John Deere
Hora de acertar
É no momento do plantio que se define o potencial de produtividade da lavoura. O sucesso dessa operação está diretamente relacionado ao equipamento de plantio utilizado, à sua correta regulagem e boa manutenção
O
agricultor deve observar nos mínimos detalhes a distribuição correta de sementes e fertilizantes, bem como a forma com que estes são depositados no solo, para elevar ao máximo o potencial produtivo de uma cultura. Um desafio para os fabricantes de semeadoras tem sido desenvolver equipamentos que garantam a precisão na colocação dos dois elementos básicos no solo, semente e fertilizante, dentro das seguintes condições: • Depositar as sementes no sulco de plantio com profundidade uniforme; • Distribuir semente por semente de forma eqüidistante e sem falhas; • Promover o contato entre solo e semente de forma apropriada, para uma melhor germinação; • Depositar o fertilizante na profundidade e quantidade desejadas. Para dificultar essa operação, entram em cena condições adversas como tipo e quantidade de palha, diferentes condições de umidade do solo, diferentes tipos de solo e ondulações de terreno. As semeadoras precisam ter a capacidade de se adaptar a todas essas variações sem perder qualidade no plantio. Nos últimos anos, tivemos um desenvolvimento muito grande nos equipamentos de
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plantio, principalmente em função do desenvolvimento de técnicas novas, como o plantio direto, tendo hoje no mercado inúmeras opções de escolha para o agricultor. A seguir, vamos discutir alguns detalhes das plantadoras e suas regulagens que o agricultor deve observar no momento de adquirir seu equipamento, ou na hora do plantio. Estes farão grande diferença nos resultados obtidos com a lavoura.
COMPONENTES PRINCIPAIS Os mais importantes componentes de uma semeadora podem ser classificados em: • Chassi;
Um desafio para os fabricantes de semeadoras tem sido desenvolver equipamentos que garantam a precisão na colocação das semente e do fertilizante
• Sistema de rodados; • Linhas de semente; • Dosadores de semente; • Linhas de adubação; • Dosadores de adubo; • Transmissões.
CHASSI Possui a função estrutural de suportar todos os esforços gerados nos componentes de
“A opção de calços de regulagem nos cilindros serve para liberar mais ou menos peso da máquina sobre os elementos de ataque ao solo”
ataque ao solo, bem como o próprio peso da máquina na hora do transporte. Estruturas bem dimensionadas não precisam necessariamente ser pesadas, mas sim ter seus componentes bem distribuídos, otimizados. Para tanto se utilizam as mais modernas técnicas de análise estrutural disponíveis no mundo, que visam obter a vida longa dos componentes com otimização de peso destes. Outro detalhe importante no chassi é a capacidade de permitir a maior gama possível de regulagens de espaçamentos. Como as técnicas de cultivo estão em constante evolução, esse detalhe será importante na hora em que o agricultor decidir por adotar outro espaçamento para sua cultura, sem ficar preso às limitações de seu equipamento. Além disso são realizadas milhares de horas de teste em condições extremas até a aprovação final do produto.
SISTEMA DE RODADOS Possuem a função de suportar a máquina em transporte e também de acionar o sistema de transmissão da máquina. Alguns fabricantes dispõem de opção de rodado duplo, que visa diminuir a pressão sobre o solo e a compactação deste. Os pneus devem estar posicionados entre os discos duplos da semente e os sulcadores da linha de adubo, de forma equilibrada, para proporcionar o melhor efeito de copiagem possível, sem perder tração e sem suspender a linha de semente e os sulcadores de adubo do solo em condições extremas, como por exemplo, na hora de cruzar plantando sobre terraços. A opção de calços de regulagem nos cilindros serve para liberar mais ou menos peso da máquina sobre os elementos de ataque ao solo. No caso de solo muito leve se usam os calços para segurar parte do peso da máquina sobre os rodados, e no caso de solos pesados podemos liberar mais peso da máquina para os sulcadores de adubo e linha de semente, ao se re-
A análise estrutural usa tecnologia de ponta em todos os componentes da semeadora
tirar os calços do cilindro. No caso de rodados duplos, é importante que todos os pneus possuam transmissão para evitar que ocorram falhas em função de patinagem de um dos pneus. Outra questão importante é a articulação do rodado para permitir um acionamento constante da transmissão. Deve-se observar também a altura de levante que o sistema de rodados proporciona à máquina, para evitar danos nos componentes de ataque ao solo no momento do transporte, principalmente em estradas vicinais.
LINHAS DE SEMENTE Podem ser consideradas como a parte mais importante de uma semeadora. A linha de semente será responsável pela abertura do sulco, pela correta deposição de semente ao solo - na profundidade adequada, com boa uniformidade e na distância certa, e pelo adequado fechamento do sulco. Existem no mercado diversas versões de linhas de plantio, sendo que podemos dividi-las em dois modelos principais: pantográficas e pivotadas. Linhas pantográficas possuem a capacidade de copiar as ondulações do terreno sem alterar a profundidade da semente, resultando em uma melhor qualidade de plantio. Esse efeito é obtido pela construção dos braços de sustentação da linha em forma de pantógrafo. As rodas limitadoras de profundidade possuem um papel importante, pois elas garantem a uniformidade na profundidade de deposição da semente. Elas podem estar montadas junto ao disco duplo de semente ou logo atrás deles. Esta última posição de montagem será importante para permitir o trabalho em solos úmidos e argilosos, permitindo que se entre na lavoura com antecedência e se aproveite o melhor período de plantio. As rodas cobridoras possuem a função de fechar o sulco e promover o melhor contato entre a semente e o solo, evitando formação de bolsões de ar sobre a semente, a fim de aproveitar ao máximo o potencial de germinação das mesmas. As rodas cobridoras mais usadas são
Uma boa altura de levante é importante para o transporte do equipamento entre as áreas de cultivo
as em “V”, pois promovem uma compactação lateral das sementes, sem formar o “crostamento” da superfície do solo quando se trabalha com solo úmido, ou acorrem chuvas logo após o plantio. Quanto ao dosadores de semente, existem várias opções disponíveis no mercado, dividindo-se os mesmos em dois grupos principais: Mecânicos e Pneumáticos. Os dosadores pneumáticos mais utilizados são os de pressão negativa, conhecidos como “a vácuo”. Essa tecnologia teve uma grande penetração no mercado nesses últimos anos, destaque às regiões do Cerrado com suas grandes propriedades, onde o sistema ganhou grande espaço. Eles permitem maiores velocidades de operação sem perder precisão na distribuição. No entanto, os dosadores mecânicos de disco horizontal ainda são os mais utilizados, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. A velocidade de operação nestas regiões está limitada, muitas vezes, por condições de solo, não pela questão do dosador, por isso esse sistema ainda vem atendendo convenientemente às necessidades da maioria dos agricultores. O referido sistema evoluiu muito ultimamente, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento dos discos. Estes, bem regulados, hoje operam com precisão em velocidades de até 5 km/h para milho e 8 km/h para soja - para este último utilizando discos de dupla carreira. Frisamos, porém, que estes precisam estar muito bem regulados e que se devem selecionar de forma adequada o disco e o rolete para que a semente utilizada possa atingir bons níveis de germinação. Não se deve deixar tam-
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As Figuras abaixo mostram o efeito da linha pantográfica e da linha pivotada no controle de profundidade da semente
bém de observar a velocidade máxima de operação do equipamento. Um detalhe importante na hora da escolha da semeadora é avaliar a disponibilidade e a variedade de discos que o mercado oferece para o modelo de dosador que a máquina possui. Também é imprescindível o uso de grafite para aumentar a precisão do mecanismo e diminuir o torque necessário para o acionamento, aliviando o sistema de transmissão. Outro ponto importante de ser observado é a vedação dos rolamentos nas mancalizações dos elementos rodantes. Vedações eficientes, como, por exemplo, o Veda System utilizado pela John Deere, podem garantir vida longa aos rolamentos, evitando paradas imprevistas durante o plantio.
semeadora de plantio direto. Existem no mercado várias opções de sulcadores: pivotados ou pantográficos, com disco duplo e com facão afastado/haste, que figuram entre os mais utilizados. Associado aos elementos sulcadores, usam-se discos para corte da palha a fim de evitar embuchamentos dos componentes. Um bom curso do conjunto sulcador proporciona um melhor desempenho do conjunto e um melhor efeito de copiagem do solo em terrenos acidentados e cruzando terraços. Outro detalhe que faz a diferença em área com grande massa de resíduos culturais é o desencontro das linhas sulcadoras. Quanto maior o desencontro, melhor o fluxo de palha entre os sulcadores. Sulcadores de discos duplos podem ser desencontrados ou defasados, geralmente utilizados em solos de baixa compactação. Possuem a vantagem de causar menor consumo de potência para a tração do implemento. Seu uso é desaconselhado em solos com alto teor de argila ou muito compactados, pois poderá causar espelhamento do sulco ou contato da semente com o adubo, comprometendo o desenvolvimento da cultura. Já os sulcadores do tipo hastes são recomendados para uso em solos muito argilosos ou compactados. Seu uso promove a descompactação no sulco, favorecendo o desenvolvimento radicular das plantas onde seu uso for exigi-
SULCADORES DE ADUBO Servem para depositar o adubo no solo sob certas condições, para fazer o corte da palha e para preparar o sulco para a linha de semente. Com o desenvolvimento do plantio direto, os sulcadores tiveram um incremento muito grande, tornando-se um dos diferenciais numa
COPIAGEM ma característica muito importante é a capacidade de copiagem da linha de semente. Linhas com pouca amplitude de trabalho tendem a ocasionar falhas quando encontrarem irregularidades no terreno. É importante não confundir o efeito pantográfico com capacidade de copiagem, pois são coisas distintas. A amplitude, ou curso de trabalho, é dada em função do comprimento do braço e do ângulo de trabalho do mesmo. O ideal é que esse curso seja superior a 50 cm, quando se trabalha em terrenos ondulados ou sobre terraços.
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Fotos John Deere
U
O curso da linha de semente na copiagem do solo é muito importante para um plantio uniforme
do. Possuem o inconveniente de aumentar a potência consumida para a tração do implemento. Para minimizar esse efeito, tem-se trabalhado muito nos últimos anos em perfis de haste que diminuam a potência consumida e que reduzam o revolvimento do solo. A nova haste que a John Deere está usando em modelos de plantadoras da série 11000 é um exemplo disso. Juntamente com a haste, está montado o tubo condutor de adubo. O ideal é que o mesmo possua regulagem para possibilitar que se deposite o adubo na profundidade desejada, independentemente da profundidade da haste. Os discos de corte, por sua vez, podem ser tanto duplos (triplo disco) quanto com haste. Esse elemento visa efetuar o corte da palha, para
“O ideal é que o tubo condutor de adubo possua regulagem para possibilitar que se deposite o adubo na profundidade desejada, independentemente da profundidade da haste”
O dosador profissional elimina o problema dos pulsos, proporcionando um fluxo constante na dosagem de fertilizante
zam os embuchamentos por manterem um corte da palha mais constante, independente das oscilações do terreno.
DOSADORES DE ADUBO Sulcador tipo disco duplo com disco de corte e tipo haste com disco de corte
evitar os embuchamentos e também melhorar o efeito de corte do disco duplo e/ou haste. Os tamanhos de disco de corte mais utilizados atualmente são de 18 e 20 polegadas. O disco de 18 polegadas possui maior poder de corte e desempenho melhor em solos argilosos e compactados onde houver dificuldade de penetração. Em solos leves que oferecem pouca resistência ao corte se recomendam discos maiores como os de 20 polegadas. Sistemas de disco de corte com boa amplitude de trabalho minimi-
Existem vários sistemas de dosagem de fertilizante no mercado, sendo os mais usados os sistemas de rotores dentados e a rosca sem-fim. Esta última é a opção mais comum atualmente. Esses tradicionais sistemas, no entanto, apresentam o inconveniente de proporcionar pulsos na dosagem. Hoje, porém, existem tecnologias, como o sistema de dosador Pro Meter (Dosador Profissional) da John Deere, que elimina o problema dos pulsos, proporcionando um fluxo constante na dosagem de fertilizante. Esse efeito resulta em ganhos diretos de produtividade, principalmente em culturas como o milho, onde é muito importante o desenvolvimento inicial da planta. Outro detalhe importante nos dosadores é a questão da facilidade de manutenção. Caso o sistema não possua dispositivos de interrupção rápida do fluxo de adubo, ou não apresente fa-
O sistema de transmissão possui a função de acionar os elementos dosadores de semente e adubo
As opções de regulagem da máquina devem oferecer facilidade, a fim de permitir máximo rendimento operacional no campo
cilidade de desmontagem dos componentes, como a mola sem-fim, por exemplo, poderá acarretar uma perda significativa de tempo na hora do plantio.
TRANSMISSÃO A transmissão possui a função de acionar os elementos dosadores de semente e fertilizante. Na maioria das máquinas o movimento é transmitido a partir do sistema de rodado, passando por um sistema de catraca e uma caixa de transmissão, onde se permite fazer as regulagens da população de sementes e dosagem de fertilizantes, de acordo com a necessidade de cada cultura. Nesse caso o importante é observar a gama de variações de regulagens que a máquina oferece e a facilidade com que são feitas as regulagens, para se ganhar tempo no campo.
AJUSTES E REGULAGENS É importante observar as opções de regulagem que a máquina oferece e a facilidade com que podem ser feitas, para se tirar o máximo de qualidade de plantio e de rendimento operacional no campo. A observação do conjunto de todos esses fatores resultará em uma semeadora que realiza um plantio com a melhor qualidade e com um maior rendimento operacional. Detalhes como qualidade dos componentes, durabilidade do equipamento, valor de revenda, disponibilidade de peças de reposição e assistência técnica são fatores que não podem ser deixados de lado na hora da escolha de um equipamento. Tentamos aqui descrever alguns detalhes que podem fazer diferença nos resultados de uma lavoura e orientar na escolha do equipamento ideal para atender às necessidades do produtor. Sucesso na aquisição de seu próximo equiM pamento de plantio. Eleandro Tomelero, John Deere
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precisão
Estande perfeito A precisão na semeadura é um fator que pode aumentar os índices produtivos das culturas, maximizando a eficiência das sementes e dos fertilizantes, o aproveitamento do solo e da radiação solar, além de melhorar o controle cultural de plantas concorrentes
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Fotos Charles Echer
semeadura de precisão é imprescindível para a mecanização integral dos cultivos anuais, o que resulta em uma boa emergência de plântulas e aumenta significativamente a probabilidade de chegar ao momento da colheita com adequado número de plantas por hectare e com uma distribuição mais uniforme entre elas. Esses fatores permitem um bom crescimento e desenvolvimento da cultura. O presente trabalho buscou avaliar o nível tecnológico utilizado nas propriedades que cultivam milho, das regiões Sul e do Planalto do estado do Rio Grande do Sul, e identificar os principais fatores que influenciam na precisão de semeadura e obtenção de estande final de plantas na lavoura. Os trabalhos foram realizados em sete propriedades de quatro municípios da região Sul (Capão do Leão, Canguçu, São
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Lourenço do Sul e Turuçu) e de quatro municípios da região do Planalto (Erechim, Erval Grande, Chiapeta e Santo Augusto), todos no Rio Grande do Sul.
TECNOLOGIA DE PLANTIO Para a avaliação da tecnologia de semeadura, foi usada estatística descritiva para os dados referentes à semente, à semeadora, ao mecanismo dosador, ao sistema de cultivo e à velocidade de plantio (baixa, até 4,5km/h; média, entre 4,6 e 5,5 km/h; e alta, maior que 5,6 km/h). Para a avaliação da precisão de semeadura, foram medidos os espaçamentos entre plantas em quatro amostras por lavouras (linhas de 30 m), quando estas atingiram em torno de 0,2 m de altura. Avaliaram-se a percentagem de espaçamentos aceitáveis (normal, falho e múltiplo), como pro-
posto pela ABNT (1994), e o coeficiente de variação dos espaçamentos. Para a avaliação do dosador, considerouse a precisão deste em distribuir sementes, independente da percentagem da emergência de plântulas. Na avaliação da precisão de todo o conjunto da semeadora, quando as sementes não germinaram devido à profundidade semeada, considerou-se como espaçamento falho; no entanto, quando as sementes não germinaram devido a fatores da semente ou do ambiente, considerou-se como espaçamento normal. Observou-se que em todas as propriedades, de ambas as regiões avaliadas, as cultivares eram híbridos de alta e média tecnologia, com poder germinativo mínimo de 85%. Além disso, as semeadoras apresentavam características semelhantes em seus equipamentos componentes, como o meca-
“Para a avaliação do dosador, considerou-se a precisão deste em distribuir sementes, independente da percentagem da emergência de plântulas” Fankhouser
A semeadura de precisão é imprescindível para a mecanização integral dos cultivos anuais
A profundidade de deposição da semente e do adubo é fundamental para uma boa emergência de plântulas na lavoura
nismo dosador do tipo disco horizontal. No entanto, em relação ao sistema de cultivo, na região Sul o plantio direto é usado em 57% das propriedades avaliadas, e no Planalto este valor é de 100%.
PRECISÃO NA LAVOURA Na precisão de semeadura, houve diferenças significativas em todas as variáveis avaliadas entre o desempenho das lavouras da região Sul. O mesmo não ocorreu na região do Planalto, onde houve maior uniformidade entre (e dentro de) lavouras, sendo apenas possível verificar diferenças entres estas através do coeficiente de variação do
mecanismo dosador e pelo estande final de plantas em relação à população-meta. Os melhores resultados observados no estado foram no município de Canguçu (75,55% de precisão de semeadura e 84,95% de estande de plantas atingido), em uma propriedade que utilizava espaçamento de 0,45 m entre linhas e de 0,33 m entre plantas, de acordo com as novas recomendações para o cultivo do milho. Isso demonstra que essa recomendação auxilia uma melhor distribuição de plantas na lavoura. Por outro lado, há valores desanimadores em muitas propriedades no estado, as quais representam quase 70% dos produtores, onde a precisão de semeadura é abaixo dos 65% de espaçamentos aceitáveis, e o estande de plantas, abaixo dos 70% do objetivado na semeadura. Através dos resultados, observou-se também que velocidades baixas de semeadura para a região Sul e médias para o Planalto, associadas ao sistema de plantio direto, geram um melhor desempenho na obtenção
do estande final de plantas (acima de 80%) e com boa uniformidade e distribuição longitudinal de sementes (acima de 60% de espaçamentos aceitáveis). Outro resultado de interesse se refere ao coeficiente de variação entre mecanismos, mostrando-se como uma importante ferramenta na comparação de mecanismos dosadores e semeadoras, avaliando as pequenas variações de desempenho destes sistemas, as quais passariam despercebidas pelo método proposto pela ABNT (1994). Em resumo, as lavouras da região Sul apresentam níveis satisfatórios de tecnologia de semeadura de milho, mas inferiores aos encontrados no Planalto. No entanto, ambas as regiões necessitam elevar seus níveis tecnológicos, buscando, assim, melhorar seus índices produtivos e conseqüentemente reduzir seus custos M de produção.
Inúmeros produtores trabalham com precisão de semeadura abaixo de 65%, para espaçamentos aceitáveis, e de 70%, para estande de plantas
No milho, chegar à colheita com o número adequado de plantas por hectare é imprescindível para uma boa produção
Roberto Fritsche Neto, Ângelo Vieira dos Reis e Daniel Siefert Krüger, UFPel
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silos horizontais
Armazenar é preciso Na busca de alternativas para suprir a carência e evitar perdas de produtos, armazenar na própria fazenda é uma tendência que vem crescendo muito. Alguns dos novos projetos em vias de instalação têm por base armazéns auto-portantes horizontais, uma nova opção que chega ao Brasil
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mente aplicada às máquinas, com pouco envolvimento de mão-de-obra, como no padrão norte americano; ou baseada em pequenas áreas, usando intensamente a mão-de-obra, como no padrão chinês. O Brasil, pela sua característica de um país continental, adotou como referência o padrão norte-americano. A agricultura no Brasil até o início da década de 50 era um sistema de sub-
Miguel Neves Camargo
enhuma economia no mundo é forte sem uma agricultura fortalecida. A produção agrícola é a base de qualquer sistema econômico. A industrialização é uma conseqüência posterior a uma produção agrícola organizada e eficiente. A atividade agrícola pode ser baseada em médias ou grandes propriedades, com produção em larga escala e com muita tecnologia, principal-
sistência, voltado apenas para o sustento da sua população, com exceção das lavouras de café e cana-de-açúcar, que desde o século XIX já tinham um caráter empresarial. A produção de grãos, cereais e oleaginosas, com características industriais, voltada principalmente para a exportação, começou tardiamente no Brasil. No início da década de 50, os Estados Unidos já tinham uma estrutura de produção totalmente mecanizada, enquanto no Brasil estávamos apenas iniciando um processo de transição da enxada e da junta de bois para o trator, e o trator ainda era visto pela maioria dos agricultores como uma máquina exótica com possivelmente pouco resultado prático e custo muito elevado, o que, de fato,
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“Seguindo essa tendência de crescimento, em dez anos, devemos estar produzindo 200 milhões de toneladas de grãos por ano”
Gráfico 1 - Curvas de produção, de área plantada e de produtividade de grãos no Brasil
era uma realidade. Porém, a adesão ao processo de mecanização foi extraordinário e em nenhum outro país do mundo foi tão rápido como no Brasil. O país hoje é um dos maiores produtores de grãos do mundo. E certamente em poucos anos se tornará o maior produtor de alimentos do mundo. O Brasil é o país que tem a maior área arável disponível ainda não utilizada em todo o mundo. Sem aumentar a área de derrubadas, apenas usando as áreas de Cerrado baixo e campos ainda não arados, o Brasil pode duplicar a sua área de lavouras, por outro lado, devido à utilização em massa de tecnologias de ponta, muitas desta desenvolvidas no próprio país, pela Embrapa, a produtividade da lavoura brasileira cresceu rapidamente nos últimos anos, igualando-se em muitos casos aos países mais desenvolvidos do mundo. Isso pode ser comprovado pelos quadros e gráficos de produção de grãos no Brasil nos últimos anos. Os dados referentes à safra 2005/ 06 são estimativas baseadas em informações fornecidas pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
CAPACIDADE DE ARMAZENAGEM
guerra. Portanto, a armazenagem de grãos é uma questão de segurança nacional. No Brasil, os números são alarmantes. A Conab mantém um registro de todos os armazéns do país, classificados por regiões e por tipos de armazém. A Tabela 2 mostra números até razoáveis, que permitem imaginar que temos capacidade de armazenar quase uma safra completa, entretanto, a análise mais detalhada nos mostra que a verdade é outra muito diversa. Os dados aparentam uma razoável situação, já que, para uma previsão de colheita em torno de 113 milhões de toneladas, temos capacidade de estocar 104 milhões, ou seja, praticamente uma safra. Isso, apesar de ainda estar longe da meta mínima para garantir a segurança alimentar frente a um eventual catástrofe, já seria um avanço considerável. Entretanto, essa não é a realidade, porque nessa estatística estão computados todos os possíveis locais de armazenagem do país. Quase a metade são armazéns antigos de fundo plano, utilizáveis apenas para sacaria, sem nenhum tipo de equipamento. Entre estes, existe um número muito elevado de antigos armazéns ca-
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos mantinham cereais armazenados para cinco anos, e isso permitiu que todos os esforços fossem dirigidos para a defesa da nação, sem faltar alimento para a sua população. Hoje, com maior controle e racionalização dos estoques reguladores, eles mantém três safras estocadas. Com isso, é possível enfrentar um período prolongado de seca, ou mesmo uma Tabela 1 - Evolução da produção da área plantada e da produtividade da lavoura brasileira Safra
Produção Área plantada (milhões de t) (milhões de ha) 1999/2000 83,030 37,824 2000/01 100,267 37,847 2001/02 96,747 40,198 2002/03 123,168 43,947 2003/04 119,114 47,423 2004/05 113,481 48,736
Produtividade (kg/ha) 2.195 2.649 2.407 2.803 2.512 2328
feeiros do extinto IBC (Instituto Brasileiro do Café). Estes são galpões de alvenaria coberto com telhas de barro, com calhas, muitos dos quais semi-destruídos. Também estão computados até salões de festas das igrejas e colégios de zonas remotas, que em época de safra poderão ser requisitados como armazenagem emergencial. Dos restantes, muitos estão condenados por falta de condições mínimas para processar e preservar os grãos. A Conab apresenta também uma avaliação real da situação, mostrando os armazéns/ silos capazes de receber e conservar os grãos (Tabela 3). Os dados comprovam que temos condições de armazenar apenas pouco mais da quarta parte de uma safra, por um período de pouco mais de três meses.
ESTIMATIVAS FUTURAS Se forem consideradas as estatísticas que apontam para o progressivo crescimento do volume de produção da agricultura brasileira, relacionando-as com os investimentos previstos para o setor no mesmo período, a situação tende a ficar ainda mais preocupante. Ver Gráfico 4. Fica claro, desse modo, que a produção brasileira apresenta uma tendência progressiva. Seguindo essa tendência de crescimento, em dez anos, devemos estar produzindo 200 milhões de toneladas de grãos por ano. Então, para atingirmos a meta de armazenar pelo menos uma safra completa, nesse período, deveremos instalar pelo menos cinco vezes mais silos e armazéns do que foi feito nos últimos 50 anos. Desse modo, não é nenhuma heresia afirmar que a demanda de equipamentos para armazenagem de grãos é muito superior à capacidade de fabricação das empresas que hoje atuam no setor.
EVITANDO PREJUÍZO Curvatura circular do perfil longitudinal dos telhados auto-portantes
Estima-se que entre 10% e 20% da produção brasileira de grãos seja perdida por falta de armazenagem adequada. É muito comum se ouvir falar que a safra está chegando e que não existem silos disponíveis para estocar a produ-
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Divulgação
Tabela 2 - Evolução da capacidade de armazenagem no Brasil UF 1980 1990 2000 2001 2002 2003 2004 2005
BA 533,0 1.096,0 2.012,3 2.031,2 1.856,7 1.877,9 2.848,8 2.891,4
GO 1.995,0 8.126,0 9.813,7 10.052,2 10.181,2 10.345,7 11.068,6 11.149,5
MG 2.241,0 4.378,0 4.541,6 4.499,4 4.750,5 4.676,3 6.216,4 6.327,0
MS 997,0 3.159,0 4.516,3 4.757,1 4.863,8 5.581,4 5.798,2 5.844,1
MT 242,0 5.334,0 12.706,1 13.231,0 13.433,1 14.418,3 14.900,7 15.971,8
PR 10.506,0 17.711,0 17.693,1 17.624,4 18.648,4 18.960,9 20.375,8 22.021,3
RS 10.126,0 15.537,0 18.134,1 18.662,0 18.674,8 19.644,7 20.140,3 21.238,3
SC SP TO TOTAL 1.402,0 8.787,0 40.449,00 2.409,0 12.644,0 676,0 76.506,00 3.011,4 9.755,9 1.003,1 87.462,40 3.063,2 9.677,5 1.012,1 88.656,20 2.850,7 9.618,8 1.012,6 89.734,20 3.185,6 9.585,3 1.089,7 93.358,60 3.371,1 9.668,3 1.352,8 100.476,70 3.304,2 9.876,6 1.285,4 104.879,62
Tabela 3 - Situação real dos armazéns/silos capazes de receber e conservar grãos no Brasil SITUAÇÃO CADASTRAL CREDENCIADOS DESCREDENCIADOS APTOS SEM CONTRATO TOTAL IMPEDIDOS IRREGULARES
UA’s 435 282 1.453 2061 4.749 240
CONVENCIONAL CAPAC. (t) 2.245.820 1.058.830 4.769.780 7.489.260 16.821.990 922.810
Miguel Neves Camargo
ção. Isso é uma verdade que representa um grande prejuízo para o produtor e para a nação. Não havendo como armazenar, o produtor se vê forçado a vender sua produção, por qualquer preço, para a primeira empresa exportadora que se mostrar interessada. Em geral são grandes empresas exportadoras, geralmente multinacionais, que detêm os contratos de exportação. Dessa forma, o produto é vendido imediatamente pelo preço que o comprador se propõe a pagar. Como não há onde armazenar, caminhões e trens se transformam em armazéns temporários entre a fazenda e o porto. Esse pico de transporte durante a safra causa outros problemas, como excesso de tráfego nas rodovias, elevação do custo do transporte durante o período, necessidade de uma grande frota de caminhões, que após a safra fica parcialmente ociosa, entre outros. Muitas vezes a secagem e limpeza dos grãos é feita nos armazéns portuários. Nesse caso pode haver perda por fermentação dos grãos durante o transporte. Outra fonte de perdas são os próprios silos sem equipamentos adequados. Por exemplo: a falta de aeração pode causar até a queima dos grãos armazenados. As perdas por ataque de insetos, roedores e fungos devido à armazenagem inadequada causam também um prejuízo
No Brasil as condições de armazenagem são preocupantes, atualmente pouco mais da quarta parte de uma safra pode ser acondicionada por apenas três meses
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UA’s 634 315 892 1.758 5.111 413
GRANEL CAPAC. (t) 11.953.070 4.034.110 9.768.420 24.213.580 45.905.020 6.726.420
UA’s 1.069 597 2.345 3.819 9.860 653
TOTAL CAPAC. (t) 14.198.890 5.092.940 14.538.200 33.830.030 62.727.010 7.649.230
considerável.
ARMAZENAGEM NA FAZENDA Na busca de alternativas para suprir essa carência e evitar mais perdas, uma tendência vem crescendo nos últimos tempos. Trata-se da armazenagem nas próprias fazendas. Considerando-se essa tendência de o produtor armazenar o seu produto no local onde foi produzido, algumas empresas vêm desenvolvendo projetos específicos para armazenagem “em casa.” Alguns desses projetos têm por base um armazém auto-portante horizontal de pequeno porte. Esse armazém, pelas suas características, não tem estrutura de sustentação (a própria telha se auto-sustenta e suporta cargas adicionais, como peso de uma rosca de carga, cabos de termometria, efeito de vento etc.) (Figura 1).
Miguel e Cleiton apresentam mais uma alternativa para armazenagem de produtos em nível de fazenda
Podem ser usados como um armazém graneleiro de fundo plano ou semi-V, ou ainda como galpão para armazenagem, abrigo de máquinas, instalação de lojas, oficinas, depósitos e/ou até mesmo hangar. Uma característica que diferencia os armazéns horizontais é a formato do seu perfil. A telha que forma o arco tem uma forma característica, tanto no perfil transversal como no longitudinal, que lhe garante a rigidez necessária para a formação de um arco auto-portante, ou seja, sem estrutura de sustentação. Telhados auto-portantes são utilizados atualmente, porém, não atendem às especificações técnicas de projetos para armazenagem em nível de fazenda. O perfil longitudinal dos telhados autoportantes hoje existentes têm a forma de um arco de círculo. Essa curvatura circular, conforme ilustrado na Figura 2, tem o inconveniente de formar um ângulo pequeno em relação ao piso, impedindo o uso pleno do armazém nesta região, pois o telhado, começando no piso, forma uma parede inclinada. Essa parede inclinada impede, por exemplo, que aí seja instalado um equipamento, estacionada uma máquina agrícola, ou que seja depositada uma caixa
Gráfico 2: Evolução da capacidade estática de armazenagem no Brasil
“Nas nervuras existentes nas abas laterais da telha existem furos que servem para fixar, através de parafusos, dois arcos adjacentes, na montagem do armazém”
Gráfico 3 - Resumo da situação dos armazéns brasileros
alta. A telha auto-portante, base desse projeto, possui um perfil transversal em arco, com uma curva característica não circular. Esse arco inicia com uma curvatura pouco acentuada que aumenta progressivamente até atingir um ápice deslocado do centro da telha. Após, a curvatura decresce, voltando progressivamente à curvatura inicial. Montando–se com parafusos duas telhas, em seqüência, porém, com sentidos opostos, obtém-se um semi-arco, não circular, com uma curvatura mais acentuada em torno da união das duas peças. Dois destes semi-arcos unidos pelas pontas de forma espelhada formam um arco abatido, isto é, um arco não circular com curvatura variável possuindo dois ápices simetricamente opostos. Esse arco abatido tem como vantagem na formação de um armazém o fato de que a parede lateral formada pelo próprio telhado se inicia quase na vertical e lentamente vai se curvando em direção ao centro do armazém, até um ponto onde se acentua abruptamente formando uma espécie de aresta curva, determinando uma altura de pé direito. Isso resulta em
Gráfico 4 - Estimativa brasileira de produção para as próximas safras
uma área útil junto à parede com um pé direito mais alto, permitindo o uso do espaço vertical nesta região. O arco padrão é constituído de quatro telhas idênticas montadas alternadamente em sentidos opostos. Diversos arcos assim formados compõem um armazém cujo comprimento depende do número de arcos montados. A secção transversal da telha possui um perfil característico, definido para obter uma alta rigidez. Esse perfil tem a forma geral de um V com o vértice truncado, formando uma base onde existem três nervuras, que enrijecem a superfície do fundo do V. Nos taludes laterais existem duas nervuras que enrijecem a parede assim formada, diminuindo o seu comprimento de flambagem. As bordas superiores do V são dobradas para fora, e em cada aba assim formada existe uma nervura semelhante às do
fundo do V. Nas nervuras existentes nas abas laterais da telha existem furos que servem para fixar, através de parafusos, dois arcos adjacentes, na montagem do armazém. Nas extremidades da telha também existem furos que servem para fixar com parafusos duas telhas subseqüentes na formação do arco. O carregamento dos grãos no armazém (silo horizontal) é feito por uma rosca sem-fim suspensa na própria telha auto-portante, e a descarga é feita também por uma rosca sem-fim encaixada em uma canaleta no piso do armaM zém. Miguel Neves Camargo, Fahor Cleiton Lima Boeno, UFSM
M
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escarificadores
Quando escarifi
A escarificação esporádica de solos sob plantio direto é uma técnica que pode melhorar a qualidade física do solo e se refletir em aumento na produtividade das lavouras
A
compactação dos solos sob sistema plantio direto, ocasionada pelo tráfego de máquinas ou pelo pisoteio de animais (em áreas com integração lavoura-pecuária) é um problema identificado em várias regiões do Brasil, segundo levantamento feito dentro do Projeto Plataforma Plantio Direto (2003). O problema existe e, em muitas situações, tem afetado a produção das culturas, principalmente em anos agrícolas em que as condições climáticas não são favoráveis, tanto por excesso ou por falta de chuva. Determinar níveis críticos de densidade continua sendo o grande desafio da pesquisa. Esses limites dependem principalmente da textura, da qualidade da estrutura do solo e do teor de matéria orgânica. As alterações na densidade do solo promovem alterações na estrutura do solo, afetando de forma muito intensa as complexas interações que ocorrem no sistema solo-água-planta.
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DENSIDADE RELATIVA Uma alternativa para definir valores críticos de densidade do solo é a densidade relativa, que é a razão entre a densidade do solo e a densidade máxima do solo, obtida pelo teste de Proctor.
Diversos autores têm determinado valores críticos de densidade relativa entre 0,86 a 0,90 (dependendo da textura do solo). Nessa condição ocorre uma grande redução no volume de macroporos, o que afeta o movimento normal da água e do ar, determinando um menor crescimento e rendimento das culturas. Outro trabalho, comparando áreas sob plantio direto (PD) e plantio direto escarificado (PDE) (Vieira, 2006), encontrou diferenças significativas de densidade relativa entre os manejos, sendo que no PD foi de
0,94 e, no PDE de 0,89, 12 meses depois da escarificação.
IHO Uma outra metodologia para determinar a qualidade física do solo é o Intervalo Hídrico Ótimo (IHO), que consiste em analisar de forma conjunta as propriedades físico-hídricomecânicas de um solo, sendo possível a indicação de limites de densidade, a partir dos quais as condições ao desenvolvimento do sistema
CONDIÇÕES IDEAIS
É
importante destacar que quando as condições climáticas forem favoráveis, isto é, chover na medida certa, os efeitos da compactação poderão passar despercebidos.
“Outro cuidado importante com a escarificação é a questão da umidade do solo, que deve se encontrar friável” Case IH Valtra
car? estresses por deficiência de aeração, excesso de resistência mecânica ao crescimento do sistema radicular das plantas e redução no volume de água disponível às plantas. Estabelecida a densidade do solo crítica, sendo esse valor maior, é fundamental que se adotem práticas mecânicas para solucionar esse problema imediatamente, visando minimizar riscos físicos ao pleno desenvolvimento das plantas.
PLANTIO DIRETO PLUS
radicular das plantas são críticas. Para o solo acima analisado (Figura 1) em densidade acima de 1,34 Mg/m3 existem grandes probabilidades de plantas sofrerem severos
Uma alternativa para eliminar o problema da compactação é realizar, esporadicamente, uma escarificação do solo, utilizando implementos de hastes, preferencialmente parabólicas, equipadas com discos de corte, para corte dos restos culturais, e um complemento nivelador/ destorroador, em profundidade não superior a 25 cm. A ação desse tipo de implemento promove o cisalhamento dos agregados maiores do solo nos seus pontos de fraqueza, o que afeta muito pouco a estrutura do solo. Nesse tipo de sistema deve-se evitar ao máximo a utilização de implementos de preparo secundário, como grades niveladoras, pela ação de pulverização que esse tipo de implemento causa ao solo, o que,
A escarificação esporádica é uma prática importante que não afeta de forma negativa o teor de matéria orgânica do solo
nas condições de lavoura, sem terraços, é erosão hídrica na certa. É preciso ter muito cuidado, para não realizar a escarificação em um momento inadequado, uma vez que a superfície do solo fica com elevada rugosidade superficial, o que poderá acarretar sérios problemas durante a colheita, principalmente com culturas que necessitem ser colhidas rentes à superfície do solo, como a soja. Outro cuidado importante com a escarificação é a questão da umidade do solo, que deve se encontrar friável. Solo muito úmido não permite uma descompactação adequada, e solo seco, além de exigir uma elevada potência do trator, forma torrões muito grandes, o que dificulta a implantação da cultura subseqüente em função da excessiva rugosidade superficial. Para evitar esse tipo de problema, recomenda-se, pelo menos na região Sul do Brasil, realizar essa operação imediatamente antes da implantação da cultura de inverno que irá anteceder o milho, uma vez que isso permitirá um tempo para acomodação natural do solo
Figura 1 - Variação da umidade do solo em relação à densidade nos níveis críticos da resistência mecânica do solo à penetração (RP Figura 2 - Teor de matéria orgânica do solo em profundidade (PD= plantio direto e PDE = = 2 MPa); porosidade de aeração (PA = 10 % de poros livres de água); capacidade de campo (CC = tensão da água no solo a 6 kPa plantio direto escarificado. (Vieira, 2006)
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Figura 3 - Produção do milho em dois sistemas de manejo (PD= plantio direto e PDE = Plantio direto escarificado
sem a necessidade de operações de nivelamento. Existem, inclusive, implementos comerciais que permitem realizar a escarificação e a semeadura de uma cultura para cobertura do solo na mesma operação.
ESCARIFICAÇÃO X MO A escarificação, pelo pequeno revolvimento do solo que ela acarreta, não afeta de forma negativa o teor de matéria orgânica do solo. Em trabalhos realizados, demonstrou-se que a escarificação melhora as condições para o desenvolvimento do sistema radicular das plantas de cobertura, proporcionando, inclusive, um aumento no teor de matéria orgânica no solo em profundidade, como pode ser observado na Figura 2, em amostras coletadas 12 meses após a escarificação em área sob resteva de soja.
ESCARIFICAÇÃO X PRODUTIVIDADE Vários trabalhos têm sido realizados buscando quantificar o efeito da escarificação sobre o rendimento das culturas. Resultado de dois experimentos são apresentados a seguir: A cultura do milho é aquela que, em função da necessidade de um grande crescimento do sistema radicular, melhor responde a esse sistema. Os resultados obtidos com milho implantado 15 meses após a escarificação demonstram que o PDE produziu 805 kg/ha mais do que o PD. Um outro problema que a compactação acarreta é a deficiência de aeração no solo, fato que ocorreu com a cultura do trigo apresenta-
do na Figura 4. Em inverno chuvoso (2005) o trigo no PDE produziu 682 kg/ha a mais do que no PD.
ESCARIFICAÇÃO X PRAGAS DE SOLO Uma questão que também pode ser apontada como positiva da escarificação em solos sob PD é a alteração na dinâmica dos insetos de solo, muitas vezes prejudiciais às culturas implantadas e responsáveis pela necessidade de tratamentos químicos com inseticidas. Em trabalho realizado por Silva e colaboradores ficou comprovado que essa operação mecanizada reduziu significativamente o número de larvas de coro (Dilobderus abderus) no solo, pela perturbação no ambiente onde estava alojado.
Figura 4 - Produção de trigo em dois sistemas de manejo (PD= plantio direto e PDE = Plantio direto escarificado
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ESCARIFICAÇÃO X INFILTRAÇÃO Inúmeros têm sido os problemas de erosão hídrica verificados em solos sob plantio direto, em função da falsa idéia de que os restos culturais na superfície são os únicos responsáveis por evitar esse problema. A erosão hídrica é diretamente influenciada pela redução na taxa de infiltração da água na superfície do solo, a qual depende, além dos restos culturais, da permeabilidade, da rugosidade superficial, da umidade inicial, da declividade do terreno, entre outras características e propriedades do solo. Nesse sentido avaliou-se o efeito da escarificação do solo sob plantio direto na infiltração de água no solo. Num trabalho
Figura 5 - Efeito da escarificação sobre os insetos de solo (Silva et al. 1995)
“O problema da compactação do solo em áreas sob plantio direto é sério em muitas situações, e o pior cego é aquele que não quer ver” Yanmar
Massey Ferguson
VIABILIDADE TÉCNICA
Vilson, Márcio e Clóvis demonstram a viabilidade da escarificação esporádica no plantio direto
A escarificação esporádica de solos sob plantio direto é uma técnica viável, tanto do ponto de vista econômico quanto em relação ao seu efeito
ou um problema técnico, e tampouco os seus efeitos sobre as plantas e o ambiente, costumase desprezá-lo. O problema da compactação do solo em áreas sob plantio direto é sério em muitas situações, e o pior cego é aquele que não quer ver. O que apresentamos nesse texto é uma tecnologia já conhecida pelos agricultores, a maioria tem esse implemento na sua propriedade o qual resolve de forma imediata a limitação física imposta pela compactação, sem prejuízos à “estrutura do solo” construída durante muitos M anos de plantio direto. Vilson Antonio Klein, Márcio Luis Vieira e Clóvis Dalri Marcolin, UPF Figura 6 - Taxa de infiltração da água no solo em função dos sistemas de manejo (PD= plantio direto e PDE = Plantio direto escarificado). (Câmara e Klein, 2005)
Vilson Antonio Klein
Divulgação
(Vieira, 2006), 24 meses após a escarificação, a taxa de infiltração básica ainda era 2,12 vezes maior no PDE. Em outro trabalho (Figura 6), em testes de condutividade hidráulica do solo saturado, realizados 12 meses após a escarificação, a infiltração de água no solo foi oito vezes maior no PDE e, seis meses após escarificação foi de 3,8 vezes superior no PDE em relação ao PD. Esses resultados comprovam mais uma vez a eficiência da escarificação em aumentar a infiltração de água para o perfil do solo, o que, além de aumentar a água disponível às plantas, em muito contribui para a preservação do ambiente, visto que colabora para reduzir o carreamento de nutrientes e pesticidas para os cursos de água.
A escarificação esporádica de solos sob plantio direto é uma técnica viável, tanto do ponto de vista econômico, já que é uma operação barata (=R$ 70,00/ha), e o seu efeito, duradouro. Os efeitos positivos da sua ação no solo poderão beneficiar mais de uma cultura (no mínimo seis), ficando assim esse custo diluído. Do ponto de vista ambiental, aumenta a infiltração de água no solo e reduz o escoamento superficial de água e, por conseqüência, os riscos de erosão hídrica e todos os seus efeitos danosos à preservação da qualidade do solo e ao ambiente. Não se está aqui recomendando escarificação indiscriminada dos solos sob plantio direto. É preciso saber se o solo efetivamente está com problemas de compactação e se o crescimento do sistema radicular das plantas está sofrendo restrições. Solos com altos teores de argila são mais problemáticos do que aqueles de textura média ou arenosa. O diagnóstico correto precisa ser feito para que o remédio adequado seja aplicado. Precisamos conhecer melhor as propriedades físicas, hídricas e mecânicas dos solos agrícolas e o comportamento do sistema radicular nessas condições. Quando não se conhecem um assunto,
Raiz de girassol com séria limitação ao crescimento em profundidade, devido à compactação
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cana
Direto na cana O plantio direto de cana-de-açúcar, além de proporcionar a redução do número de operações e do tempo disponível de pessoal e equipamentos envolvidos, promove a redução de até 47% dos custos em comparação ao sistema convencional de implantação da lavoura
O
sado prejuízos com a queima da cana, tanto em nível de solo, como humano e principalmente ambiental.
BENEFÍCIOS DO PD O uso de sistemas conservacionistas, como o plantio direto (PD) que engloba a adubação verde e a rotação de culturas, é capaz de proporcionar melhorias nas características químicas e físicas do solo. Este sistema proporciona comprovadas melhorias nas condições de fertilidade do solo, pois é eficiente em acumular matéria orgânica no solo e contribuir para o seqüestro do CO2 atmosférico em solos agrícolas e, portanto, para a melhoria da qualidade ambiental.
De médio a longo prazo, o sistema de plantio direto favorece o maior acúmulo de palha na superfície do solo, maior percentagem de agregados nas classes de maior diâmetro, menor desagregação do solo, maior retenção de água, maiores taxas de infiltração de água no solo, redução superior a 99% nas perdas de solo e 94% nas perdas de água. Este sistema proporciona ainda menores temperaturas máximas e flutuação térmica do solo, menor evaporação da água do solo, maior economia de água de irrigação em torno de 14%, em relação ao preparo convencional com o solo descoberto ou sem palhada na superfície do solo e, reduz o número de operações mecanizadas significativamente, proFotos Ricardo Ferreira Garcia
Brasil colheu 440 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em aproximadamente seis milhões de hectares, com produtividade média de 74 t ha-1. Na região Sudeste do Brasil, a canade-açúcar é uma cultura de grande importância, tanto social como economicamente. No estado do Rio de Janeiro, que responde por 1,6% da produção nacional, os níveis de produtividade ainda são baixos, em torno de 45 t ha-1, em virtude do manejo inadequado solo com o preparo convencional causando erosão de partículas e lixiviação dos nutrientes, dos cultivos sem adubação e do uso de variedades com baixo potencial produtivo. Além disto, o manejo convencional tem cau-
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“O milho híbrido e variedade reagem favoravelmente ao plantio direto e adubação verde no inverno, evidenciando sensível melhoria de rendimento”
Plantio direto de cana sobre a crotalária juncea com o conjunto Ford 8430 DT e plantadora de duas linhas
PRODUTIVIDADE
E
m pesquisa inédita, conduzida na região Norte Fluminense, avaliando o sistema de plantio direto de canade-açúcar com o emprego da adubação verde em comparação com o convencional, foram observados resultados muito relevantes. O sistema de plantio direto de cana-planta, variedade SP80-1842, sobre as plantas de cobertura crotalária juncea, mucuna preta e feijão de porco proporcionou produtividade média de 135,9 t/ha enquanto no convencional foi de 99,0 t/ha de colmos. porcionando economia em custos operacionais. O emprego de leguminosas para cobertura do solo em sistema de plantio direto em culturas como a cana-de-açúcar, milho, sorgo, trigo, entre outras da mesma família, apresenta-se como uma alternativa para o suprimento parcial ou total de N. Além do suprimento de N, a cobertura do solo por essas espécies pode determinar um aumento no rendimento das culturas comerciais, considerando a reciclagem de nutrientes como P, K, Ca, Mg e S, assim como a associação do sistema de plantio direto ao uso de plantas de cobertura demonstra potencial para recuperar o teor de matéria orgânica e, conseqüentemente, seqüestrar carbono no solo e contribuir para mitigar o efeito estufa. Como exemplo pode-se citar a alternân-
cia do milho com leguminosa que traz melhoria da produtividade no plantio direto. Tal prática pode aumentar em cerca de 12% o rendimento de grãos quando comparado com o sistema convencional. O milho híbrido e variedade reagem favoravelmente ao plantio direto e adubação verde no inverno, evidenciando sensível melhoria de rendimento. A adoção dessa prática permite obter índices médios de aumento da ordem de 26% em relação aos obtidos nas condições de solo degradado pelo manejo convencional. Portanto, é fator preponderante para alcançar altas produtividades, não só ocasionalmente, mas com acréscimos ao longo dos anos. Nesse sentido, deve ser estudado e utilizado como um importante instrumento para garantir a sustentabilidade da agropecuária,
pois reúnem um conjunto de práticas capazes de fazer manter viável o solo, o ambiente e a economia ao longo do tempo.
PD EM CANA-DE-AÇÚCAR Com a adoção do sistema de plantio direto, não há mais a queima prévia da canade-açúcar, uma vez que a colheita da cana no plantio direto é crua. A adição de carbono pela preservação da palhada da cana, por ocasião da colheita mecânica, também contribui para a melhoria dos atributos químicos do solo e proporciona melhoria na qualidade da matéria orgânica do solo com aumento de substâncias húmicas alcalino-solúveis mais condensadas. A colheita da cana sem queima da palha resulta em maiores teores de magnésio, carbono orgânico e da biomassa microbiana do solo. As práticas de manejo que visam à cobertura e proteção do solo com resíduos de plantas condicionam uma acentuada recuperação da fertilidade e, conseqüentemente, um ambiente favorável ao desenvolvimento das plantas cultivadas. E ainda o plantio direto na cana-de-açúcar proporciona redução no número de operações, tempo disponível de pessoal e equipamentos envolvidos e de custos em aproximadamente 47% em comparação ao convencional. O sistema de plantio direto de cana-deaçúcar, no Estado de São Paulo, evidenciou todos os benefícios já citados, refletindo diPlantio convencional com mucuna preta incorporada com o conjunto Ford 8430 DT e sulcador de três linhas
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COMBINAÇÕES TESTADAS
F
oi realizado um trabalho com o objetivo de avaliar o desempenho de conjuntos mecanizados para o plantio direto da cana-de-açúcar em comparação ao convencional – que consiste em operações de aração e gradagem. O trabalho desenvolvido também objetivou avaliar a viabilidade do plantio direto sobre os adubos verdes sem o prévio manejo dos mesmos com manejo químico (herbicidas), rolo faca ou roçadora. Foram testadas as seguintes combinações de trator implemento: trator Ford 8430 DT 4x2 TDA com plantadora de duas linhas DMB; trator Ford 8430 DT com sulcador de três linhas DMB, e trator Ford 5610 4x2 com sulcador de duas linhas DMB. retamente na produtividade da cana-planta, que atingiu aproximadamente 131 t/ha, enquanto no convencional ficou em torno de 65 t/ha. Da mesma forma, no segundo corte o plantio direto proporcionou a cana-soca uma produtividade 121% superior ao sistema convencional.
CONJUNTOS MECANIZADOS A operação de plantio requer do trator utilizado capacidade em desenvolver esforço para tracionar as máquinas e implementos agrícolas. Na transmissão de potência do motor para a barra de tração, ocorrem perdas que, dependendo das condições de operação do trator, distribuição de peso sobre as rodas motrizes e tipo de acoplamento podem atingir níveis bastante comprometedores. A perda de potência ocorre também nos diferentes setores do trator e em diversos
tipos de tratores (4x2, 4x2 TDA, 4x4 e de esteiras) e condições de piso. A perda de potência disponível na barra de tração em relação à potência líquida no motor de tratores 4x2 pode variar de 22 a 51% para piso de concreto e solos soltos, respectivamente. Enquanto, a perda de potência dos tratores 4x2 TDA pode variar de 22 a 42% para piso
de concreto e solos soltos, respectivamente. A patinagem de um rodado de tração pode ser definida como a redução de deslocamento em determinada condição de piso comparada com uma condição específica, também chamada de condição zero, onde se mede o rolamento do rodado em piso indeformável e em situação sem carga. A cober-
Gráfico 1 - Patinagem média dos conjuntos em operações de plantio de cana em diferentes Gráfico 2 - Patinagem média de cada conjunto em operações de plantio de cana em manejos e plantas de cobertura diferentes manejos e plantas de cobertura
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“É possível reduzir o tempo de implantação da cultura e os custos operacionais devido à diminuição de operações no plantio direto da cana-de-açúcar” Fotos Ricardo Ferreira Garcia
Ricardo e José mostram que o plantio direto de cana proporciona a redução do número de operações no campo e diminui os custos de implantação da lavoura
Os conjuntos mecanizados foram avaliados em quatro sistemas: plantio direto sobre crotalária juncea; plantio direto sobre feijão de porco; preparo convencional sobre mucuna preta incorporada com grade aradora; e preparo convencional com aração e gradagem. O solo predominante é um Cambissolo Ta eutrófico argiloso, com boa drenagem, e textura argilo-siltosa, com 38, 52 e 10% de argila, de silte e de areia total, respectivamente. A patinagem foi calculada deslocando o trator em espaço pré-definido comparandose o número de voltas do rodado motriz do trator em condição sem carga em pista de concreto e o número de voltas nas diferentes condições de trabalho.
DESEMPENHO NA LAVOURA tura do solo interfere na capacidade do trator em desenvolver esforço para tracionar máquinas e implementos e o tipo de cobertura podem causar mudanças de patinagem e na eficiência tratória. Recomenda-se para a obtenção de máxima eficiência de tração, patinagem de 8-10% em solos não mobilizados e de 11-13% em solos mobilizados. No entanto, é importante salientar que os referidos solos não mobilizados não têm palhada na superfície, ou seja, o solo está descoberto.
Analisando os resultados obtidos, observou-se que não houve diferença quanto à condição de manejo e cobertura do solo plantio direto sobre feijão de porco, preparo convencional com mucuna preta incorporada e preparo convencional, no que se refere ao favorecimento à patinagem dos conjuntos. Porém, o plantio direto sobre a crotalária juncea favoreceu a patinagem dos conjuntos em 22% a mais que a média das demais condições de trabalho, conforme verificado no Gráfico 1. Na avaliação de cada conjunto, o trator
Ford 5610 com sulcador de duas linhas apresentou 17% de patinagem. O trator Ford 8430 DT com sulcador de três linhas, por sua vez, apresentou 11% de patinagem, enquanto que o Ford 8430 DT com plantadora de duas linhas obteve 6%, como pode ser visualizado no Gráfico 2. Pode-se verificar de modo geral, que o conjunto Ford 5610 com sulcador apresentou elevada patinagem de seus rodados, devido ao baixo lastro, o que pode ocasionar aumento de consumo de combustível, redução da eficiência tratória e capacidade de campo e cisalhamento do solo seguido de compactação superficial do mesmo. Em outra condição oposta, foi observada reduzida patinagem para o conjunto Ford 8430 DT com plantadora que estava com peso excessivo o que pode ocasionar compactação do solo, desgaste prematuro de partes do trator como motor, pneus, mancais e rolamentos, além de baixa eficiência tratória. Foi encontrada também situação ideal de patinagem para trabalho com o conjunto Ford 8430 DT com sulcador, que está na faixa de 8 a 10% considerando o solo firme, evidenciando que este conjunto estava bem dimensionado no que se refere ao lastro e força de tração. Verificou-se também, que as operações de sulcagem para posterior plantio manual ou sulcagem e plantio mecanizado, da canade-açúcar em sistema de plantio direto sobre as plantas de cobertura sem serem manejadas anteriormente, com aplicação de herbicidas, roçadora ou rolo-faca, foram possíveis e igualmente eficientes quando comparadas ao sistema de plantio convencional. Portanto, é possível reduzir o tempo de implantação da cultura e os custos operacionais devido à diminuição de operações M no plantio direto da cana-de-açúcar. José Barbosa Duarte Júnior, Ricardo Ferreira Garcia, Fábio Cunha Coelho e Reynaldo Tancredo Amim, UENF
por Arno Dallmeyer - arnomaq@yahoo.com.br
Acelera... F
orte, pois Ferruccio Lamborghini não começou sua empresa construindo carros de alta performance, mas sim tratores, após a Segunda Guerra mundial. Para provar a capacidade e confiabilidade de seus tratores, Lamborghini promovia, já na década de 1950, competições de tração. No final da década de 1960, produzia cerca de cinco mil tratores/ano. Por isso,
certamente será mais fácil encontrar um trator que um automóvel Lamborghini na Europa, pois destes foram produzidos escassos dez mil exemplares. A propósito: ele fundou a Lamborghini Automobili em 1963 devido à sua insatisfação com uma Ferrari que possuía. Embora tendo comunicado pessoalmente a Ferrrari os problemas de embreagem de seu carro,
não foi ouvido, e, ciente de que poderia construir um carro melhor, iniciou a fábrica utilizando o símbolo de seu signo, touro, como distintivo. Em 1973, Ferrucio vendeu todas as suas empresas e aposentou-se, indo viver na Úmbria, em seus vinhedos. Ele faleceu em 1993, com a idade de 77 anos. Uma valiosa história. Boa leitura!
Fotos Divulgação
Lamborghini Trattori
A HISTÓRIA
e o leitor associa o nome Lambor ghini apenas a veículos como Miura, Countach, Gallardo ou Murcielago, precisa rever seus conhecimentos. Muito antes de fabricar automóveis, Ferrucio Lamborghini fabricava tratores! Veja um pouco da história.
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O HOMEM Ferrucio Lamborghini nasceu em 28 de abril de 1916 em uma pequena vila agrícola chamada Renazzo di Cento, em Ferrara. Desde criança, manifestava sua aptidão para a mecânica e, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou em manutenção de veículos nas forças italianas. Após a Guerra começou a montar tratores a partir de peças de reposição, ajudando a recuperação de seu país da devastação sofrida durante a guerra. Ferrucio iniciou a fabricação de tratores em um velho galpão, mas o negócio ia bem, e já em 1949 ele construiu uma nova fábrica em sua terra natal.
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1948 Em Certi di Ferrara nasce a Lamborghini Trattori. 1949 Lançado o primeiro trator “CARIOCA” com componentes de material bélico (ARAR) e com motores “MORRIS”, transformados de gasolina para diesel. Construída uma nova fábrica em Cento e fundada a Lamborghini Trattori SpA. Naquela época construíam um trator por dia, com um pequeno grupo de empregados. 1950 Nasce o “L 33”, primeiro trator produzido em séria pela Lamborghini. 1952 Lançamento dos tratores “DL 30 - DL 40” com motores diesel “M.W.M” tipo KDW 415. 1954 Lamborghini lança seu primeiro trator de esteiras, o “DL 25C” seguido pelo “DL 30C”, dois anos depois. Os tratores agrícolas de esteiras são até os dias atuais uma das especialidades da marca. 1958 Alcança a marca de 1,5 mil tratores/ano. 1962 Modelo “2R DT”, uma série de tratores com quatro rodas motri-
zes. 1966 Lamborghini introduz na Itália o câmbio sincronizado de série. 1972 Ferrucio perde a confiança em sua fábrica de tratores, após o cancelamento de um pedido importante, e vende a fábrica ao grupo Same Co de Treviglio. A produção prossegue e em 1979 alcançou dez mil tratores/ ano. As inovações prosseguem na marca Lamborghini, em mãos da SAME, como controle eletrônico de injeção (1989), transmissão power shift (1991) e uma linha de tratores (Rummer) destinada à agricultura de pequeno porte e à jardinagem (1994). Verifica-se que a SAME sempre posicionou a marca Lamborghini com destaque em inovação e design, à semelhança dos automóveis, embora sem vincuM lação comercial entre ambos.
Falha nossa Na edição 51, ao descrever as máquinas quentes da Equipe Zerinho Bomba Show, mencionamos o trator 19 como tendo design próprio, entretanto, esse trator utiliza design de capô e laterais do modelo Yanmar Agritech 1155. Essa utilização já é do conhecimento da fábrica, e não há nenhuma objeção quanto à utilização do design Agritech. (Agradecemos a observação do leitor atento).