Maquinas 55

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Destaques Matéria de capa

Energia cultivada De queima limpa, o biodiesel desponta como opção de combustível, capaz de impulsionar um novo ciclo na agricultura brasileira 12

Plantadoras no canavial

Irrigação em arroz

Plantio mecanizado surge como alternativa para reduzir os custos e a dependência da mão-de-obra braçal. Sistema é testado com sucesso em São Paulo

Determinar os volumes de água retirados e efetivamente consumidos é tarefa importante no momento de escolher o melhor sistema

Índice

16

28

Nossa Capa John Deere

Rodando por aí

04

Sensores de velocidade

06

Ensaio de pneus agrícolas

09

Biocombustível

12

Comparativo de plantadoras de cana

16

Símbolos em máquinas agrícolas

20

Manutenção passo-a-passo

24

Esporte trator

26

Irrigação em arroz

28

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.

www.cultivar.inf.br www.grupocultivar.com

Cultivar Máquinas Edição Nº 55 Ano VI - Agosto 06 ISSN - 1676-0158

www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 • 70,00

• Editor

Gilvan Quevedo • Redação

Vilso Júnior Santi • Revisão

Silvia Maria Pinto • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia • Comercial

Pedro Batistin

Sedeli Feijó Silvia Primeira

• Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

• Gerente de Circulação

Cibele Costa • Assinaturas

Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externa

Raquel Marcos • Expedição

Dianferson Alves

NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL

• REDAÇÃO

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3028.2060

• ASSINATURAS

• MARKETING

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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Case IH

Arvus

Conbea 2006 Acaba de ser realizado o 35º Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola. O Conbea 2006 ocorreu na cidade de João Pessoa (PB), no período de 31 de julho a 4 de agosto. Esta foi a primeira edição sob a responsabilidade direta da SBEA. O evento contou com o apoio da Universidade Federal de Campina Grande, da Universidade Federal da Paraíba, da Embrapa, da Empresa de Pesquisa Estadual e da Iniciativa Privada. O tema do encontro foi “Agroenergia e Desenvolvimento Tecnológico”, e a programação científica visou discutir e compreender os desafios que a engenharia agrícola terá para atender às futuras demandas do país.

Massey A Massey Ferguson esteve presente na quarta edição da Agrifam - Feira da Agricultura Familiar e do Trabalho Rural, realizada de 4 a 6 de agosto em Agudos (SP). A empresa apresentou o trator MF 250 XE, o Brasileirinho, modelo voltado para o segmento. Realizado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do estado de São Paulo (Fetaesp), é o principal evento do setor, voltado especificamente ao agricultor familiar e assalariado rural. Hoje, as pequenas propriedades são as maiores fontes de emprego, renda e produção de alimentos no país, responsáveis por uma parcela importante da produção de fumo, mandioca, feijão, milho, soja, arroz e café, além de leite bovino, ovos e a criação de suínos e aves.

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As vantagens da Agricultura de Precisão sempre tiveram um contrapeso para a implantação no Brasil: as tecnologias utilizadas são importadas. Porém, essa barreira começa a ser superada, uma vez que a Arvus desenvolveu um sistema totalmente voltado para o produtor brasileiro. O Sistema Arvus de Agricultura de Precisão, segundo Adriano Naspolini, diretor de desenvolvimento da empresa, só tem a beneficiar o produtor nacional. “Com o sistema da Arvus, as vantagens da tecnologia podem ser exploradas sem dificuldades para os operadores das máquinas. Além disso, o preço é acessível, e a manutenção é facilitada”, explica.

Adriano Naspolini

Tortuga Especializada na produção de câmaras de ar, a Tortuga é reconhecida internacionalmente pela qualidade de seus produtos e por ser fornecedora das grandes fabricantes de pneus. A empresa recentemente revolucionou o setor ao lançar a câmara de ar para pneu sem câmara, sendo que parte da produção já está sendo exportada para países da América do Sul. Cerca de 85% das câmaras de ar para pneu sem câmara no Brasil são destinados a caminhões e ônibus, enquanto a outra parcela se destina a maquinário agrícola e agora também a veículos comerciais leves.

John Deere Paulo Herrmann, diretor de marketing da John Deere para a América do Sul, palestrou na abertura do I Ciclo de Palestras sobre Gestão de Pessoas, com foco no agronegócio, promovido pela Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, da Universidade Federal de Pelotas. Diante de um público atento, formado por estudantes e professores de agronomia, Herrmann, que começou sua formação acadêmica na UFPel, apontou a capacidade de renúncia, o respeito conquistado a partir de bons resultados, a integridade moral, o gosto por desafios, a satisfação pessoal no trabalho e a constante atualização como ingredientes indispensáveis para quem busca o sucesso profissional.

Nos últimos tempos as vendas de colhedoras têm batido recordes. Somente a Case IH, líder de mercado no fornecimento de colhedoras de cana, comercializou até o início de maio 70 equipamentos novos. A expectativa da empresa é de negociar, até dezembro, outras 50 unidades. Segundo especialistas, o mercado brasileiro deve absorver 180 colhedoras de cana novas em 2006, contra as 130 máquinas vendidas no ano passado. A mistura de características favoráveis à mecanização da cana, entre elas a falta de mãode-obra e a expansão da atividade, impulsiona o faturamento das empresas fornecedoras e ajuda a minimizar a queda das negociações com as culturas de grãos.

Agrale Paulo Herrmann

Publicação O livro “Plantio de cana-de-açúcar: Estado da Arte” - de autoria de Tomaz Caetano e Marco Lorenzo Ripoli, Dumas Vicenti Casagrandi e Bernardo Ide, editado em Piracicaba (SP), com 216 páginas, 259 figuras e 125 referências - esclarece inúmeras dúvidas acerca da produção canavieira. A publicação trata não apenas de questões de mecanização, mas também de outros aspectos diretamente envolvidos em sistemas de plantio de cana, e pode ser adquirido no seguinte endereço: http:// dibd.esalq.usp.br.

New Holland A New Holland acaba de lançar um kit de peças específico para a colheita de feijão. Os produtores que possuem colhedoras TC57, TC59 e CS660 podem procurar um dos 170 pontos de venda das concessionárias da marca e adquirir os acessórios, que deverão ser instalados nas máquinas. Para as colhedoras CS660, por exemplo, o agricultor deve realizar, além das regulagens, a instalação de dedos levantadores, chapas perfuradas na plataforma, redutor de rotação do cilindro e também do cilindro e côncavo de dentes.

Valtra A filial da Valtra na Argentina completou dez anos de atividades no mês de junho. Atualmente a unidade funciona na cidade de Haedo, na província de Buenos Aires, onde comercializa em média 60 tratores por mês. Entre os mais vendidos está o modelo BH 180, utilizado principalmente nas lavouras de trigo e soja. Os profissionais da filial oferecem cursos de capacitação das equipes técnicas das concessionárias que representam a marca no país, além de suporte e assistência na comercialização diretamente para agricultores e para seus parceiros comerciais. Com o aniversário, em 2006, a Valtra comemora a marca de 4,5 mil tratores vendidos na Argentina.

Hugo Zattera foi nomeado presidente da Agrale S.A., tradicional montadora brasileira de caminhões, utilitários, chassis, tratores e motores. Desde o início do mês de agosto, o executivo assumiu a presidência da montadora nacional e também passou a acumular a presidência do Conselho de Administração. Zattera era diretor-superintendente da companhia, cargo que passou a comandar em 1996, durante o processo de reestruturação da empresa. Nesse período, conduziu ações para expansão da montadora, que resultaram na internacionalização e ampliação das linhas de produtos.

Hugo Zattera



Agricultura de precisão

Velocidade certa Na agricultura de precisão a velocidade de deslocamento é um dos fatores determinante no planejamento das operações. Estudo avalia sensores comerciais usados na aferição em campo

O

velocidade de deslocamento se torna indispensável para que ocorra a correta dosagem de calcário, fertilizantes e defensivos. Com o advento das práticas de aplicação de insumos em taxa variada como função da variabilidade espacial da demanda, associado a práticas de agricultura de precisão com auxílio de controladores, a detecção da velocidade passou a ser ainda mais importante, pois é um dos componentes da definição da

dosagem.

CONTROLADORES ELETRÔNICOS No gerenciamento das operações agrícolas os tempos e as distâncias têm importância crescente, na medida em que as técnicas de otimização logística passam a ser adotadas rotineiramente e sensores de velocidade associados a um sistema de coleta e registro de dados são recursos indispensáJohn Deere

conhecimento da velocidade correta é fundamental para o gerenciamento da qualidade de operações como a semeadura, a pulverização, a colheita, o preparo do solo etc. Além disso, no trator, a velocidade influencia diretamente no requerimento de potência, na patinagem das rodas motrizes e na eficiência de tração, dentre outros. Na distribuição de insumos, em geral, a

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“Os sensores magnéticos funcionam a partir de contatos ferro-magnéticos presos à roda do trator que geram pulsos induzidos pelo campo magnético de um ímã” Fotos José Paulo Molin

Figura 1a - Sensor de radar de velocidade modelo DjRVS II, da marca Dickey John

veis nesse processo. Os sistemas mecanizados mais avançados contam com monitores ou controladores eletrônicos, que utilizam a velocidade obtida por meio de radares ou sensores ópticos ou magnéticos ligados às rodas dos tratores. O princípio de funcionamento do radar se baseia no efeito Doppler, que estabelece que, quando uma onda se propaga num meio qualquer e se reflete em algum objeto móvel, será refletida e terá uma freqüência diferente da onda incidente. Já foi comprovado por estudos que os sensores baseados em radares sofrem influência do tipo de superfície em que estão atuando, justamente por conta da rugosidade dessa superfície. Os sensores magnéticos funcionam a partir de contatos ferro-magnéticos presos à roda do trator que geram pulsos induzidos pelo campo magnético de um ímã. De forma semelhante, os sensores óticos funcionam a partir de uma fonte de luz fixa e de interrupções físicas, como dentes de uma roda presa ao elemento que gira (roda do trator). Com a popularização dos receptores de GPS, eles passaram a ser utilizados para a determinação da velocidade, que é calculada a partir do desvio na freqüência (o mesmo efeito Doppler) do sinal vindo de cada satélite. O desvio de freqüência é proporcional à velocidade relativa entre a antena do receptor e o satélite.

SENSORES A CAMPO Recentemente um estudo foi realizado no Departamento de Engenharia Rural da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/Esalq) em Piracicaba (SP), para avaliar alguns desses sensores de velocidade comerciais. O estudo avaliou quatro diferentes tipos de equipamentos: sensor de radar de velocidade modelo DjRVS II da marca Dickey John® (Figura 1a), sensor de radar de velocidade modelo RGSS-201 da marca MidTech® (Figura 1b), um receptor de GPS como sensor de velocidade, modelo SV18GPS, desenvolvido pela Auteq, fixado no toldo do trator (Figura 1c) e um sensor óptico com 240 pulsos por volta, marca Hohner®, fixado na roda dianteira direita do trator (Figura 1d) e considerado como referência. Os dois sensores tipo radar foram fixados um de cada lado do trator, próximo ao eixo dianteiro. Todos os equipamentos foram instalados seguindo as recomendações técnicas dos fabricantes e com uma corrente de alimentação de 12V. Para aquisição dos dados de tem-

po e número de pulsos de cada sensor, foi utilizado um cronodômetro, montado em uma bancada de instrumentação acoplada no engate de três pontos do trator (Figura 2). Como a superfície do solo e suas condições de cobertura influenciam o desempenho especialmente dos radares, escolheramse dois tipos distintos para essa superfície: cobertura vegetal e asfalto. Da mesma forma, como o GPS tem um “atraso” no tempo de resposta, trabalhou-se sob acelerações e desacelerações, e, como ele mede distâncias horizontais, também se utilizaram aclives e declives, sempre em velocidades representativas para aplicações agrícolas. A calibração dos sensores foi realizada em superfície asfáltica e em percurso reto. Foi demarcado o espaço de 30 metros a ser percorrido pelo trator, entre duas balizas posicionadas no início e no final do percurso. O trator estava equipado com um sensor fotoelétrico de feixe duplo com alinhamento a laser (modelo DT-30 marca DTech®), possuindo um ajuste de velocidade de disparo de 50 ms. Ao passar pela primeira baliza, o dispositivo é acionado por meio de um relé que dispara o cronodômetro, e ao passar pela segunda baliza o dispositivo é desacionado. Utilizaram-se cinco repetições para as velocidades de 6, 11 e 15 km/h, obtidas a partir do escalonamento de marchas do trator. Com o número de pulsos obtido para cada sensor, dividido pelo espaço percorrido de 30 m, obteve-se o número de pulsos por metro. Para o cálculo da velocidade média, foi utilizado o número de pulsos por metro obtidos na calibração com o número de pulsos

do cronodômetro, obtendo-se a distância considerada para cada sensor. Com a distância e o tempo do cronodômetro, calculou-se a velocidade média de cada sensor, e durante os testes foram utilizados os mesmos equipamentos da calibração. Na superfície de asfalto, os testes foram realizados com o trator sob velocidade constante, acelerações, desacelerações, aclives e declives. No solo com cobertura vegetal, os sensores foram ensaiados apenas sob velocidade constante. Em todos os ensaios uti-

Figura 1b - Sensor de radar de velocidade modelo RGSS-201, da marca Mid-Tech

Figura 1c - Receptor de GPS como sensor de velocidade, modelo SV18GPS, da Auteq

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Fotos José Paulo Molin

Molin fala do desempenho de radares e de GPS como sensores de velocidade em máquinas agrícolas Figura 1d - sensor óptico com 240 pulsos por volta, marca Hohner, fixado na roda dianteira direita do trator

lizou-se uma extensão de 30 metros, e para estabilização da velocidade foi adotada uma distância de 45 metros antes da primeira baliza. No teste sob velocidade constante utilizaram-se quatro velocidades para a condição de solo coberto (2, 6, 11, e 15 km/h) e três velocidades para a condição de asfalto (11, 16, e 20 km/h). No teste de aceleração utilizou-se um espaço de 0,5 m, antes da primeira baliza, para a partida do trator da posição parada, e a partir de então a velocidade permanecia crescente em todo o percurso. A desaceleração foi realizada com o trator sob velocidade constante, retornando a alavanca do acelerador para posição mínima imediatamente após a passagem do trator pela primeira baliza. Em todo o percurso o trator permaneceu em velocidade decrescente, passando na segunda baliza com uma velocidade próxima à nula. Para aclives e declives utilizou-se uma rampa com inclinação longitudinal de aproximadamente 9%. Analisou-se o erro da velocidade indicada em cada sensor, considerando que, para o sensor de GPS, a distância medida é equivalente à projeção horizontal, o que pode causar distorção no valor estimado da velocidade, interferindo na medição da distância. Em função da rampa as velocidades obtidas foram de 6, 11 e 16 km/h para aclives e declives. Figura 2 - Bancada de instrumentação acoplada ao sistema hidráulico de três pontos do trator

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Para situação de solo coberto, o ensaio foi realizado em uma área em que havia sido colhido milho para silagem seis meses antes. Durante o teste evitou-se a repetição do tráfego do trator no mesmo percurso para não causar deformação na vegetação.

RESULTADOS OBTIDOS Nas condições de solo com cobertura vegetal observou-se ausência de diferença significativa nas velocidades indicadas por todos os sensores para as velocidades nominais de 2 e 11 km/h. Já nas velocidades de 6 e 15 km/h, o sensor óptico apresentou velocidade inferior quando comparado com os radares, não apresentando diferença significativa com o sensor de GPS. Nessas velocidades o radar Dickey John indicou velocidade maior que o radar Mid-Tech. Nessas

condições de cobertura, os sensores tipo radar demonstraram ser influenciados pela irregularidade da superfície. Na condição de velocidade constante em superfície asfáltica, aclive e declive, não foi encontrada diferença significativa entre os sensores analisados. Já na condição de aceleração o sensor de GPS apresentou erro na ordem de 41% inferior em relação à velocidade nominal. Em desaceleração, também em superfície asfáltica, apenas o sensor óptico e o sensor de radar Mid-Tech não apresentaram diferença significativa na velocidade indicada. O sensor de GPS apresentou velocidade média 18% superior em relação à velocidade nominal. O que se observou é que o sensor de GPS apresentou um retardo na obtenção de velocidades na situação de aceleração e desaceleração, e essa diferença está relacionada ao processamento de dados que geram o sinal de velocidade, por conta do algoritmo interno do receptor. Isso, de alguma forma, deve ser corrigido ou compensado, para não comprometer significativamente a qualidade de operações dependentes da velocidade, especialmente nas bordas dos talhões, onde as máquinas apresentam mudanças acentuadas na velocidade em função de manobras. Alguns dos novos sensores tipo GPS já contornam esse problema, e a velocidade, mesmo em acelerações e desacelerações, vem sendo mais acertada. M José Paulo Molin, Adriano B. M. Souza, Gustavo Fontana e Gustavo K. Nagumo, USP/Esalq


perdas

Pneus em teste

A área de contato do pneu é a responsável, em grande parte, pelo desempenho do trator, além de influenciar diretamente na compactação do solo. Por isso é importente observar fatores como modelo, nível de pressão, carga e as condições do terreno Goodyear

A

pesquisa com máquinas e implementos agrícolas em tanque (ou caixão) de solo é uma técnica usada desde 1930 nos Estados Unidos, mais precisamente em Auburn, estado de Alabama, no National Tillage Machinery Laboratory, onde tem sido denominado soil bin. Essa técnica visa estudar em condições de laboratório os fenômenos que ocorrem em condições de campo. O primeiro estudo sobre desempenho de pneus foi realizado nos EUA em 1937, segundo Mialhe. Para realização do presente trabalho, empregando duas classes de solo, foi utilizado um equipamento para o ensaio estático de pneus individuais, que eram pres-

sionados sobre a massa de solo por meio de um dispositivo hidráulico de aplicação de carga. Para cada ensaio foram determinadas as respectivas áreas de contato do pneu com o solo, utilizando métodos de integração de áreas através de fotos digitais. Muitos pesquisadores em todo o mundo vêm trabalhando de forma a preparar o solo para conseguir manter as condições necessárias à implantação de lavouras. Enfatiza-se a versatilidade do uso de canais (ou tanques) de solo, devido às facilidades de controle dos fatores envolvidos no processo, funcionando como equipamentos ideais para avaliar corretamente os resultados da mobilização dos solos.

TANQUE DE SOLO O tanque de solo tem sido considerado como um dos melhores métodos para estudos de testes com equipamentos de preparo do solo, por exemplo. A vantagem do uso da caixa de solo está associada à facilidade de controle das condições de solo, conseguindo-se resultados mais precisos. A sua desvantagem está no alto custo de construção. Os tanques têm sido construídos com diferentes dimensões, desde 100 x 10 x 1,5 m em Auburn, até 3 x 0,65 x 0,35 m, na Espanha. No Brasil existem tanques de solo de várias dimensões. O maior que se tem notícia foi construído sob galpão no Centro de Engenharia do Instituto Agronômico de Campinas, localizado em Jundiaí, com 70 m de comprimen-

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Fotos Jair Rosas da Silva

Figura 5 - Desempenho dos pneus sobre o solo argiloso e pressão de inflag

Figura 3 - Vista geral dos três pneus ensaiados no tanque de solo

Figura 1 - Ensaio de pneu em tanque de solo, no campus da Unesp de Botucatu

to, 4 m de largura e 2 m de profundidade, dotado de estrutura de drenagem na base do canal de solo, destinado a ensaios com máquinas agrícolas em escala real. A Universidade Estadual de Campinas dispõe de três canais de solo, todos cobertos: um com 13 m de comprimento, 2 m de largura e 1 m de profundidade, destinado a testes de implementos em escala natural; um outro canal para testes de semeadoras em escala natural, com as dimensões de 5 m x 0,8 m x 0,1 m e um terceiro tanque de 3 m x 1,2 m x 0,6 m, este utilizado por Célio Losnak, docente da Unesp Bauru, para testes de geometria de implementos. Dexter construiu nos Estados Unidos um tanque de solo com 20 m de comprimento, 5 m de largura e 0,9 m de profundidade, para avaliar as tensões geradas pelo tráfego de veículos na superfície nas camadas situadas abaixo,

sendo que o pesquisador acondicionou no interior do tanque cinco camadas de solo com espessura de 15 cm, onde foram instaladas células de carga, com o objetivo de determinar as pressões impostas ao solo pelo pneumático. Para os testes foi utilizado um solo sob quatro níveis de carregamento e três pressões de inflagem dos pneus. Neukam estudou o comportamento da transmissão de pressões em solos causada pelo tráfego de máquinas agrícolas. O autor comparou dados de campo por meio de um penetrômetro e células de carga instaladas ao longo da trilha, nas profundidades de 18, 28, 38 e 48 cm. O solo analisado foi de textura arenosa. Experimentos foram conduzidos utilizando-se um tanque de solo com o mesmo tipo de solo avaliado no campo. Os resultados apresentaram parâmetros de compactação do solo menores que os obtidos no campo. No tocante ao comportamento das tensões verticais, estas apresentaram maior sensibilidade com relação à propagação de carregamentos aplicados aos tipos de pneus utilizados no tanque de solo, sendo que esse fenômeno ocorreu em todas as profundidades estabelecidas dentro do mesmo tanque.

PNEUS AVALIADOS Os pneumáticos estudados são apresentados na Figura 3. O trabalho foi realizado no Núcleo de Ensaios de Máquinas e Pneus Agrícolas do Departamento de Engenharia Rural

da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, e considerou: a) três tipos de pneu: diagonal, radial e BPAF, este denominado correntemente de baixa pressão e alta flutuação, todos utilizados no eixo traseiro do trator e sempre pneus de tração; b) dois níveis de pressão de inflagem do pneu: alta - 117 KPa (17 psi ou libras) - e baixa - 48 KPa (7 psi); c) quatro magnitudes de carga vertical aplicada no pneu: 4,9 t; 9,8 t; 14,7 t e 19,6 t; d) dois tipos de solo: arenoso e argiloso. As características de tração de um pneu dependem do tipo e condições do solo, tipo e geometria do pneu, formato das suas garras, carga no eixo e pressão de inflagem do pneu. A área de contato do pneu com o solo é a responsável, em grande parte, pelo desempenho do trator, afetando também a patinagem de pneus, que significa o deslizamento do pneu sobre o solo sem deslocamento do trator ou outra máquina, e a capacidade de tração. A compactação do solo surge em função da pressão aplicada no solo, e, tendo em vista o aumento de peso dos tratores, a solução para resolver esse problema terá, sempre, que considerar a área de contato entre o rodado e o solo. Portanto, para que se possa alcançar maior produtividade agrícola, sem provocar a compactação, e por outro lado, objetivando a sustentabilidade da produção agrícola ao longo dos anos, tornase necessário que a área de contato entre o rodado e o solo aumentem consideravelmente.

ESFORÇOS PROPAGADOS

P

Figura 2 - Exemplo de área de contato de pneu BPAF com o solo

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Figura 4 - Ilustração da secção radial do pneu, modelo 620/75 R30, tipo radial

ara a avaliação dos esforços propagados ao solo, foram colocados sensores elétricos de carga, apoiados nas superfícies das camadas acondicionadas no tanque de solo e na região do contato do pneu com o solo, com a finalidade de se obter os perfis característicos da propagação das pressões no solo nas áreas determinadas.


“Diversos pesquisadores têm demonstrado que os pneus radiais fornecem melhor desempenho e menor compactação do solo em relação aos pneus de construção diagonal”

em de 117 kPa

Figura 6 - Curvas características dos pneus para o solo argiloso e pressão de inflagem de 165,50 kPa

Algumas soluções para esses problemas são a utilização de tratores de esteiras, um maior número de pneus por trator, pneus de maiores dimensões, ou, finalmente, a utilização de pneus especiais de alta flutuação. Diversos pesquisadores têm demonstrado que os pneus radiais fornecem melhor desempenho e menor compactação do solo em relação aos pneus de construção diagonal. A disposição das lonas nos pneus radiais promove a redução da deflexão das garras do pneu e, em contrapartida, aumenta a deflexão lateral do pneu, tornando o pneumático mais “bojudo”, quando sob carga e em trabalho e inflado com a pressão correta, o que resulta em uma maior área de contato da banda de rodagem com o solo.

ÁREA DE CONTATO A determinação da área de contato no tanque de solo foi feita por meio de uma câmara fotográfica digital, fixada na estrutura da prensa hidráulica, e posterior análise por meio do software AutoCad. As características dos solos colocados no tanque de solo, empregados nos ensaios com pneus, constam na Tabela 1.

Figura 8 - Curvas obtidas na avaliação de pneu traseiro de trator agrícola, estrutura diagonal, com variação das cargas concentradas em tanque de solo, sobre solo argiloso

PRÁTICA EFICIENTE A metodologia utilizada na montagem do tanque de solo mostrou ser eficiente e prática para avaliar os parâmetros de estudos com pneus. O ensaio realizado com o pneu de alta flutuação produziu as maiores deformações para os solos analisados, ao passo que pneu diagonal resultou nas menores deformações. O pneu do tipo radial mostrou um comportamento intermediário em relação aos demais pneus, quanto à deformação. Os resultados utilizando o solo arenoso demonstraram sempre as maiores variações comparativamente ao solo argiloso, com relação às metodologias utilizadas nos ensaios. As células de pressão instaladas no interior do tanque de solo mostraram uma tensão decrescente a partir da superfície, sendo o valor da primeira (10 cm de profundidade) próximo da pressão de inflagem do pneu.

Para as pressões de inflagem e cargas concentradas aplicadas aos pneumáticos, nota-se que as tensões e as respectivas pressões de inflagem resultaram sempre valores decrescentes à proporção do aumento de profundidade no M interior do tanque de solo. Jair Rosas da Silva, IAC Kleber Pereira Lanças, Unesp Pedro Ivo Borges dos Santos, Unicamp

Tabela 1 - Características dos solos utilizados no tanque Tipo de solo arenoso argiloso

granulometria (%) areia argila 77,0 21,5 45,0 48,5

densidade (g/cm3) mínima máxima 1,40 1,41 1,18 1,41

conteúdo de água (%)

mínimo máximo 11,64 11,64 22,81 22,81

A testagem dos pneus é procedimento importante na busca da otimização dos processos produtivos nas lavouras

M


biodiesel

Energia cultivada O biodiesel, produzido a partir de oleaginosas, é um combustível alternativo aos derivados de petróleo. De queima limpa, pode impulsionar um novo ciclo na agricultura brasileira

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Vilso Júnior Santi

COMBUSTÍVEL ALTERNATIVO O biodiesel é um com-

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bustível alternativo de queima limpa, produzido a partir de óleos e gorduras vegetais ou animais. O biodiesel pode ser produzido a partir de qualquer óleo vegetal novo ou usado, de gorduras animais e até com resíduos ou borras, chamados de ácidos graxos, de empresas moageiras. Por isso, é considerado um combustível Miguel Neves Camargo

ono da maior biodiversidade do mundo e com uma grande variedade de oleaginosas, o Brasil iniciou a exploração de mais uma fonte de energia limpa, o biodiesel. Assim como o álcool combustível foi desenvolvido para substituir a gasolina em motores de ciclo Otto, o biodiesel é o substituto para o óleo diesel em motores de ciclo diesel. Diversos países já utilizam o biodiesel como um recurso para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e a poluição atmosférica, entretanto, tudo começou por aqui. O uso do biodiesel é um invento brasileiro. Na década de 1970, um brasileiro, o professor Expedito Parente, registrou a primeira patente de biodiesel sem obter, no entanto, apoio governamental para a implementação de um grande projeto para uso desse combustível, que seria pioneiro no mundo. Quando expirou a validade da patente e o conceito de biodiesel se tornou de domínio público, diversos países iniciaram programas de utilização desse combustível, tomando a dianteira dessa tecnologia. Somente recentemente, após a consagração desse combustível no exterior, as autoridades brasileiras se voltaram para o investimento num plano de uso do biodiesel.

A mistura de diesel com biocombustível já pode ser encontrada em alguns postos do país

ecológico, obtido de fontes renováveis. O biodiesel puro não contém óleo diesel de petróleo, mas pode ser adicionado a ele formando uma mistura. O que está recebendo designação de biodiesel no Brasil é, na realidade, um óleo diesel aditivado com biodiesel, devido à baixa proporção de mistura, segundo classificação de organismos internacionais. Ele pode ser usado em um motor de ignição por compressão (diesel) sem necessidade de modificação. O biodiesel é simples de ser usado, é biodegradável, não tóxico e livre de compostos sulfurados e aromáticos, além de melhorar a capacidade de lubrificação do óleo diesel quando misturado a este. Para produzir biodiesel com qualidade, devem-se seguir normas específicas. Recentemente a ANP emitiu a Portaria 255, especificando as características do produto, definindo o biodiesel como um combustível composto de mono-alquilésteres de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou de gorduras animais e designado pelo código B100. FABRICANDO O BIODIESEL O biodiesel é produzido através de um processo químico chamado transesterificação, onde a glicerina é separada da gordura ou do óleo vegetal. O processo gera dois produtos, o éster (o nome químico do biodiesel) e a glicerina (produto valorizado no mercado de sabão). Esse processo consiste


“Possivelmente a maior contribuição que o biodiesel dará ao país será o grande incentivo à produção agrícola de oleaginosas”

na linearização da molécula tridimensional do óleo ou gordura, tornando-a similar à do óleo diesel, assim como na redução da acidez e na separação da glicerina pela ação de um álcool. Para que essa reação se complete é necessário um catalisador. O catalisador mais usado é o hidróxido de sódio (soda cáustica). Na fabricação do biodiesel, os óleos ou gorduras vegetais ou animais são colocados num reator, aquecidos e misturados com um álcool, geralmente metanol ou etanol, e a soda cáustica. Depois de aproximadamente uma hora, inicia-se o processo de decantação pelo qual a mistura separa-se em dois produtos: no topo do recipiente fica o biodiesel e, no fundo, fica depositado o glicerol ou a glicerina. Depois de drenado o glicerol, o biodiesel puro é “lavado” com água acidulada para corrigir a acidez e remover traços de álcool e outras impurezas. Finalmente o biodiesel é filtrado e está pronto para o uso. Todo esse processo de fabricação leva cerca de oito horas para ser concluído. Além do combustível propriamente dito, o processo de transesterificação produz o glicerol, que é uma mistura de glicerina com resíduos de álcool e soda. O subproduto bruto pode ser usado como sabão ou desengraxante. Depois de purificada, a glicerina tem diversos usos nobres, inclusive para a produção de cosméticos e medicamentos na indústria farmacêutica. O biodiesel é um produto ecologicamente correto. O Protocolo de Kyoto sugeriu a produção e utilização do biodiesel e do álcool como uma das maneiras mais eficazes de diminuir a poluição da atmosfera por gás carbônico, enxofre, metano e outros gases formadores do efeito estufa. O biodiesel emite muito menos CO2 do que o petróleo. Além disso, o biodiesel não é tóxico, se degrada muito facilmente na natureza se houver vazamentos, não produz fumaça preta nem odores desagradáveis. Além de promover a redução da poluição ambiental, a produção de biodiesel possibilita pleitear financiamentos internacionais no mercado de créditos de carbono, sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto no Protocolo de Kyoto.

A LEGISLAÇÃO

E

m 13 de janeiro de 2005, o governo federal publicou a Lei 11.097, que estabelece a obrigatoriedade da adição de um percentual mínimo de biodiesel ao óleo diesel vendido ao consumidor final, em qualquer parte do território nacional. Esse percentual obrigatório será de 5% (B5) a partir de 2013, havendo um percentual obrigatório intermediário de 2% (B2) a partir de 2008. O governo já trabalha com a hipótese de antecipar a obrigatoriedade do B2 para 2007. A adição de até 5% (B5) de biodiesel ao óleo diesel não exigirá alterações nos motores movidos a diesel, assim como não exigiu nos países que já utilizam o produto. Segundo pesquisas, misturas de até 20% (B20) de biodiesel e óleo diesel não exigem qualquer tipo de modificação nos motores. (B5) de adição de biodiesel a todo o óleo diesel consumido no país, será necessário adicionar ainda mais dois milhões de hectares ao plantio de oleaginosas para a produção de óleos vegetais no Brasil, gerando em torno de 200 mil empregos diretos no meio rural, isso se considerarmos estável o consumo de diesel nos próximos oito anos. O governo definiu o programa brasileiro de biodiesel, chamado Plantando Combustível, como uma nova matriz energética com ganhos sociais, já que o programa será, inicialmente, sustentado pela produção de oleaginosas por pequenos agricultores, muitos destes de regiões pobres do país.

ASPECTOS COMERCIAIS

M

undialmente passou-se a adotar uma nomenclatura bastante apropriada para identificar a concentração de biodiesel na mistura com óleo diesel de petróleo. É o biodiesel Bxx, onde xx é a percentagem em volume de biodiesel presente na mistura. Por exemplo: B2, B5 e B100 são combustíveis com uma concentração de de 2%, 5% e 100%, respectivamente. A experiência da utilização de biodiesel no mercado internacional de combustíveis tem se dado em quatro níveis de concentração: • Puro (B100); • Misturas comerciais (B20 a B30); • Aditivo (B5); • Aditivo de lubricidade (B2). As misturas em proporções volumétricas de 5% a 20% são as mais usuais, sendo que, para as misturas B5, não será necessária nenhuma adaptação aos motores. Entretanto pode-se supor que, apesar do aspecto social da agricultura familiar, será necessário, também, incentivar o aumento da produção da agricultura empresarial mecanizada em larga escala, para que essa meta de adicionar 5% de biodiesel em todo o óleo diesel possa ser atingida até 2013. Isso requer um significativo esforço agrícola, somente possível mediante um plano de apoio do governo federal. Segundo uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba (SP), a soja é a matériaprima mais viável para a utilização imediata na

Quadro 1 - Processo de produção

NOVO CICLO O biodiesel constitui-se, na atualidade, numa das mais importantes alternativas para os combustíveis derivados do petróleo. Possivelmente a maior contribuição que o biodiesel dará ao país será o grande incentivo à produção agrícola de oleaginosas. A área plantada necessária para atender ao percentual de mistura de 2% (B2) de biodiesel ao diesel de petróleo é estimada em cerca de 1,5 milhão de hectares, o que equivale a 1% dos 150 milhões de hectares plantados e disponíveis para agricultura no Brasil. Esse número não inclui as regiões ocupadas por pastagens e florestas. E, para ser atingida a meta de 5%

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Fotos Miguel Neves Camargo

Estado de um pistão após funcionamento com a mistura 50% de óleo de soja in natura e 50% de óleo diesel

produção de biodiesel. A estrutura da produção, distribuição e esmagamento dos grãos tornam seu uso mais vantajoso em relação a outras oleaginosas. O biodiesel pode representar um novo ciclo na agricultura do Brasil, com distribuição de renda e lucros para toda a cadeia produtiva agroindustrial. PRODUÇÃO CASEIRA Para o produtor de soja, ou de outra oleaginosa, a produção em casa de um óleo vegetal é bastante simples e de baixo custo. Basta um pré-cozimento, seguido de secagem e posterior prensagem para extrair o óleo. Dependendo da oleaginosa, pode-se até dispensar a etapa de précozimento. Com esse processo é possível obter um óleo bruto, natural, muitas vezes impróprio para o consumo humano devido à toxidade e a altos teores de impurezas. O resíduo dessa prensagem é a chamada torta gorda, que, dependendo da oleaginosa, pode ser usada como ração animal. O óleo assim obtido deve ser filtrado, para se retirarem impurezas, antes de ser transformado em biodiesel. Para a fabricação do biodiesel, é necessário um pouco mais de tecnologia, entretanto existem empresas especializadas que fabricam pequenos reatores com capacidade de produzir biodiesel a partir de 200 litros diários. Também é necessário um controle de qualidade bastante rigoroso do combustível que está sendo produzido; para tanto são precisos um pequeno laboratório de controle de qualidade e pessoal especializado para operá-lo. Quem tem a intenção de produzir biodiesel, mesmo para seu próprio consumo, deve também pensar no que fazer com o subproduto: glicerina. A glicerina atualmente tem um bom valor de venda, entretanto, a tendência é saturar o mercado e não se encontrar comprador, principalmente para pequenas quantidades. Também se deve pensar sobre o que fazer

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com os resíduos sólidos, borras e o catalisador utilizado. Esses produtos nunca deverão ser enterrados ou abandonados na natureza devido à poluição que irão causar. Deve-se sempre consultar o órgão de proteção ambiental da região para obter informações sobre o destino que deve ser dado a esses dejetos. BIODIESEL X ÓLEO CRU O biodiesel, quando produzido na própria fazenda, pode ter um custo menor que o diesel convencional e liberta o produtor da dependência do combustível de petróleo para mover sua frota. No entanto, essa não é a realidade que temos encontrado. Empolgados com as notíci-

as acerca do plano do governo para a implantação do biodiesel no país, muitos agricultores se anteciparam e iniciaram o uso de óleo vegetal in natura (óleo cru) para mover suas frotas de tratores e caminhões dentro da propriedade rural. O uso de óleo vegetal in natura, isto é, sem retirar a glicerina, pode causar graves problemas ao motor e à saúde dos usuários. Os óleos vegetais, assim como as gorduras animais, são compostos basicamente de triglicerídios e glicerina. Na produção do biodiesel as moléculas dos triglicerídios devem ser quebradas e linearizadas para se transformarem em ésteres (biodiesel), e a glicerina deve ser separada e retirada do combustível. Desse modo não se recomenda usar óleo vegetal, sem tratamento, como combustível de motores pelos seguintes motivos. DANOS À SAÚDE Devido às condições de alta temperatura e pressão dentro do motor, parte da glicerina contida no óleo se decompõe formando acroleina. A acroleína é um composto químico altamente tóxico e cancerígeno. DANOS AO MOTOR A partida do motor com óleo vegetal in natura é extremamente difícil, principalmente em dias muito frios.

VANTAGENS DO USO

A

lgumas vantagens do uso do biodiesel são enumeradas a seguir: • O biodiesel é mais seguro do que o diesel de petróleo porque a temperatura de ignição espontânea é maior. Motores a biodiesel são, portanto, mais seguros; • O biodiesel tem um grande poder lubrificante, tem mais viscosidade e desgasta menos o motor, aumentando a sua vida útil; • O biodiesel não requer armazenamento especial, podendo ser armazenado em qualquer lugar onde o petróleo é armazenado, e, pelo fato de ter maior temperatura de ignição, o seu transporte é mais seguro; • A exaustão do biodiesel é menos ofensiva. O uso do biodiesel resulta numa notável redução dos odores. Não causa irritação nos olhos; • O biodiesel preserva o meio ambiente e contribui para melhorar a qualidade do ar nos grandes centros urbanos, reduzindo a emissão dos gases que provo-

cam o efeito estufa. O biodiesel é biodegradável e não tóxico; • Como o biodiesel é oxigenado, ele apresenta uma combustão mais completa; • O biodiesel funciona em motores convencionais sem requerer modificações. Numa mistura de B5 (5% de biodiesel e 95% de óleo diesel) é praticamente impossível notar as diferenças de desempenho do motor em relação ao óleo diesel puro. A sua adaptalidade aos motores diesel é a principal vantagem em relação a outros combustíveis limpos como o biogás e gás natural; • É renovável, contribuindo para a redução do dióxido de carbono; • O biodiesel pode ser usado puro ou misturado em quaisquer quantidades com o diesel de petróleo; • A produção do biocombustível fortalece o agronegócio e cria um novo mercado para óleos vegetais.


“O biodiesel pode representar um novo ciclo na agricultura do Brasil, com distribuição de renda e lucros para toda a cadeia produtiva agroindustrial”

Dentro do motor, com as altas temperaturas alcançadas, parte da glicerina promove a deposição de gomas e causa má combustão, formando outros resíduos. A goma prende os anéis dos pistões, impedindo a vedação dos cilindros e aumentando o seu desgaste. Essa goma e os resíduos da combustão formam crostas de carvão na cabeça do pistão e na câmara de combustão. Também se formam crostas de carvão no bico injetor que dificultam ou até mesmo impedem a pulverização do óleo, dificultando a sua queima. A bomba injetora, os bicos injetores e filtros não foram projetados para trabalhar com um combustível tão viscoso como o óleo vegetal (dez vezes maior que o óleo diesel). A alta viscosidade do óleo vegetal dificulta ou até mesmo impede a necessária pulverização do óleo dentro da câmara de combustão, podendo provocar entupimentos no sistema de injeção de combustível. A conseqüência de não haver uma pulverização correta do óleo combustível é que parte do óleo não queima completamente, gerando grande quantidade de monóxido de carbono (CO), o qual é liberado para a atmosfera. Por outro lado, parte do óleo não queimado passa para o cárter, contaminando o óleo lubrificante, modificando suas características e dificultando sua função. O desgaste das partes mó-

Aspecto do injetor após funcionamento com uma mistura de 50% de óleo de soja não convertido para biodiesel (in natura) e 50% de óleo diesel

Paulo e Miguel apresentam o biodiesel como alternativa à utilização de derivados de petróleo

veis (mancais do virabrequim e de bielas, comando de válvulas etc., é então acelerado. Para diminuir os problemas oriundos do uso de óleo vegetal in natura, deve-se misturá-lo ao óleo diesel, formando uma mistura com no máximo 20% de óleo vegetal. Assim, em princípio, deve-se alertar a quem se aventurar ao uso dessas misturas conscientemente que: • Haverá redução da vida útil do motor; • Haverá dificuldade de partida, principalmente no inverno; • A utilização de frações de óleo in natura não deve exceder 20% como forma de minimização dos problemas de formação de depósitos; • Se for providenciado um sistema de préaquecimento do óleo vegetal antes da bomba

injetora, haverá uma redução dos efeitos nocivos da presença deste óleo na mistura; • Uma análise econômica deve ser realizada para confrontar redução imediata dos custos equivalentes com combustível com os custos de manutenção dos motores. Deve-se considerar que os preços praticados tanto para diesel como para óleos vegetais no presente momento são absolutamente irreais e não devem perdurar por muiM to tempo. Miguel Neves Camargo, Fahor Paulo Romeu Moreira Machado UFSM


plantadoras

DMB

Plantadoras nos canaviais

Nas lavouras canavieiras a opção pelo plantio mecanizado, essencialmente, visa a diminuição dos custos operacionais e a menor dependência de mãode-obra braçal. A viabilidade do sistema vem sendo comprovada nas usinas do estado de São Paulo com a introdução dessa nova tecnologia

A

A plantadora GreenSystem, da John Deere, é uma das alternativas diponíveis no mercado

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ser uma necessidade, e os fabricantes responderam positivamente. E mais, em face do bom momento que o mercado de açúcar e álcool (nacional e internacionalmente) está passando e de projeções promissoras de um futuro melhor ainda, apenas no Oeste do estado de São Paulo, estão sendo projetadas e construídas mais de 40 novas unidades sucroalcooleiras. Os pastos dessa região estão dando lugar a canaJohn Deere

tualmente a etapa de plantio de cana-de-açúcar é semimecanizado (sulcação e adubação mecânicas; distribuição de mudas e alinhamento destas no sulco, manualmente, e cobertura do sulco com aplicação de inseticida, mecanicamente). Em 1964, Luiz A. Ribeiro Pinto, da Santal Equipamentos, foi o pioneiro no país, lançando uma plantadora, de um sulco e que utilizava colmos inteiros. Arnaldo Ricciardi, por sua vez, em 1978, lançou pela Motocana um protótipo de maior capacidade de carga, também para uma fileira de plantio (Figura 1). Por não haver a “cultura da necessidade” à época, esses protótipos não vingaram. Nos últimos oito anos, porém, com a elevação de custos de mão-de-obra e sua menor disponibilização às usinas e destilarias, a mecanização do plantio passou a

viais. Conseqüência: não haverá mão-deobra para atender a essa expansão, que não entrará em colapso graças à mecanização de colheita e também do plantio. A opção pelo plantio mecanizado, essencialmente, visa a diminuição dos custos operacionais e a menor dependência de mão-de-obra braçal, o que vem sendo comprovado em usinas do estado de São Paulo que já estão introduzindo essa nova


“A opção pelo plantio mecanizado, essencialmente, visa a diminuição dos custos operacionais e a menor dependência de mão-de-obra braçal” Fotos Tomaz Caetano Ripoli

tecnologia. Cabe ressaltar o trabalho em desenvolvimento pela usina São Martinho, a qual, sem dúvidas, é a que mais vem incrementando esforços na busca de uma plantadora que atenda aos aspectos econômicos e agronômicos requeridos para essa operação em um mercado internacional altamente competitivo que é o da produção sucroalcooleira. Merece destaque, ainda, o trabalho desenvolvido pelo CTA-Centro de Tecnologia Açucareira (ex-Centro de Tecnologia da Copersucar), que desenvolveu projetos iniciais que resultaram em algumas das atuais máquinas disponíveis no mercado. Por sua vez, em 2005, a Esalq-USP, juntamente com o Grupo Cosan-unidade Costa Pinto (Piracicaba), foram os pioneiros, quiçá no mundo canavieiro, a efetuar um profundo estudo agroeconômico a respeito de tais máquinas, no qual, com cinco máquinas de diferentes fabricantes e sob mesmas condições de campo, analisaram inúmeros aspectos envolvidos nessa etapa de produção canavieira.

CUSTOS COMPARATIVOS Do ponto de vista econômico e reforçando o que algumas usinas já detectaram, o custo do plantio mecanizado, sem levar-se em conta os custos de colheita, transporte etc. das mudas, ou, posto de outra forma, apenas considerando-se o custo da operação em si (custos operacionais de conjuntos trator + plantadora + operadores), é significativamente mais barato do que a operação convencional (semi-mecanizada). Cabe aqui uma colocação a respeito de custos comparativos. Já está se criando no setor um posicionamento que aceita o fato de que, em plantio mecanizado, a quantidade de mudas por unidade de área deve

MODELOS DISPONÍVEIS

H

oje, têm-se as seguintes máquinas disponíveis no mercado brasileiro: Sermag, GreenSystem - John Deere, Santal PCP2, DMB PCP5000 e Tracan PT7000 (que utilizam as mudas na forma de rebolos provenientes de colheita mecanizada e apenas um operador e um tratorista ) e as Civemasa PCSA-2L, Civemasa SPTPC2/2/L e DMB PCI 4000 GIII (que recebem mudas colhidas manualmente e de colmos inteiros, utilizando, além do tratorista, mais quatro operadores que manipulam as mudas em direção ao mecanismo picador).

ser de duas a três toneladas maior em relação ao plantio semimecanizado (o convencional), a fim de se compensar uma menos homogênea distribuição de rebolos por metro de sulco, com conseqüente aumento de falhas de brotação. Caso se cristalize tal posição, com a qual não se concorda, os custos totais de operação de plantio mecanizado podem, eventualmente, ultrapassar os custos do sistema convencional. Ora, por que adotar esse posicionamento, como se a engenharia não tivesse competência em solucioná-lo? Entende-se que cabe aos fabricantes, que possuem respeitáveis equipes de engenheiros, debruçar-se sobre a questão e oferecer mecanismos mais precisos em suas máquinas, a fim de sanar a questão da aleatória distribuição de rebolos nos sulcos. Tratando-se de custos operacionais, fatores gerenciais e administrativos podem levar a custos variáveis, dependendo da Eficiência de Campo (%) obtida na operação, conforme apresentado na Figura 2, que mostra, ainda, o confronto entre o

Na Civemasa, dois modelos podem realizar o plantio da cana - a SPTPC2/2/L e a PCSA-2L

custo (R$/ha) do plantio semimecanizado e os custos de cinco plantadoras analisadas no plantio mecanizado, sob mesmas condições de campo. Atingir-se eficiência de campo em operações mecanizadas de plantio da ordem de 70 % vem a ser um grande desafio gerencial, porém, possível de ser atingido.

ASPECTOS AGRONÔMICOS Do ponto de vista agronômico, o plantio mecanizado apresenta a grande vantagem, em relação ao semimecanizado


Tomaz Caetano Ripoli

Santal

Figura 1 - Protótipos de plantadoras: Santal, em 1964, para um sulco, e Motocana, em 1978

(convencional), de que as mudas são colocadas em sulcos recém abertos pela própria máquina e, simultaneamente, estes são cobertos com camada de oito a 10 cm de solo. Com isso as condições de umidade, no sulco, são preservadas, favorecendo uma melhor germinação. Tal fato raramente ocorre no sistema convencional, em larga escala, pois os sulcos permanecem dias abertos, aguardando a operação de distribuição de mudas e sua posterior cobertura com terra. O grande problema que os fabricantes ainda não solucionaram diz respeito aos mecanismos distribuidores de mudas na forma de rebolos (nas plantadoras que re-

cebem as mudas já picadas). Na verdade não são mecanismos dosadores de rebolos, mas apenas lançadores dos mesmos, nos sulcos. Nas plantadoras que utilizam mudas

Figura 2 - Estimativas de custos operacionais dos conjuntos em função de diferentes eficiências de campo (%) comparados com sistema semimecanizado (SM)

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inteiras, deve-se tomar cuidado em não se elevar a velocidade de deslocamento da operação, pois, esperando-se com isso ganhar-se em desempenho operacional, certamente a melhor distribuição de gemas por metro de sulco será comprometida. Isso se deve ao fato de que são operários os responsáveis pela retirada dos colmos do depósito e por direcioná-los aos mecanismos picadores. Velocidades efetivas acima de 5 km/h levam, rapidamente, à estafa dos operários e, conseqüentemente, ao aumento de falhas na colocação dos colmos nos mecanismos picadores. Com isso, não ocorre a esperada distribuição homogênea de número de gemas por metro de sulco, mais adequadamente encontrada no sistema convencional. O resultado é que, dependendo, ainda, da variedade a ser plantada e de sua qualidade, falhas de brotação poderão comprometer, severamente, a produtividade agrícola do canavial. Se, por um lado, reduzirá custos operacionais, por outro, comprometerá significativamente a qualidade do plantio, obrigando como opção


“Desejar-se que o atual estádio tecnológico das plantadoras estivesse em patamar ideal não se justifica, pois se trata de inovação tecnológica bastante recente” Tomaz Caetano Ripoli

Divulgação

TRATOR + PLANTADORA

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Marco e Tomaz apresentam as opções de plantadoras de cana disponíveis no mercado brasileiro

movimento (torcer o tronco para retirar dois colmos, simultaneamente, do depósito ou da carreta, posicionar-se de frente para o sentido de deslocamento e direcioná-los e inseri-los nas bicas do picador). Quando a velocidade de trabalho foi de 2,49 km/h, o tempo médio por movimento foi de 5,16 segundos. Em termos de esforço repetitivo, essa diferença é muito significativa, levando a maior ou menor estafa do operário e, conseqüentemente, a menor ou maior possibilidade de falhas na resultante deposição de rebolos no sulco.

TRINÔMIO DE SUCESSO

a um rodízio de trabalho mais curto entre equipes de operários responsáveis pelo picamento dos colmos, o que por sua vez levará ao encarecimento da operação. Nas máquinas que utilizam operários (quatro pessoas, duas por mecanismos picadores) para o direcionamento dos colmos, dos inúmeros resultados obtidos nos estudos da Esalq-USP, a título de exemplo, pode-se afirmar que o esforço repetitivo/operário, quando a máquina trabalhou a 4,6 km/h, foi de 3,07 segundos por

É lugar comum que o sucesso, em qualquer cultura, começa por adequadas técnicas de preparo de solo e de plantio. Qualquer etapa de um sistema de produção, seja industrial ou agrícola, deve sempre atender ao trinômio redução de custos – qualidade da operação - redução do consumo de energia. Em cana-de-açúcar, em face da ordem de grandeza das áreas canavieiras de cada unidade sucroalcooleira (milhares de hectares), a questão é bastante complexa em termos de logística dessas etapas, de suas interdependências e de seu gerenciamento, requerendo adequada qualificação e treinamento profissionais desde o engenheiro até o operador e tratorista. O conceito de sistema não

os estudos efetuados pela EsalqUSP ficou claro que é fundamental a correta escolha do trator em acordo com exigência de força de tração e de potência de determinada plantadora, pois o custo por unidade de área dessas fontes de potência representaram, em média, por volta de 50% do custo da operação. Assim, o mau hábito do agricultor brasileiro em não se preocupar com a adequação entre trator e máquina ou implemento a serem tracionados reveste-se de maior impropriedade quando os tratores necessários são de potência elevada, como é o caso para tracionamento de plantadoras de cana que utilizam mudas na forma de rebolos, que requerem valores da ordem de 150 a 170 c.v. no motor, com relativo elevado consumo específico de combustível por unidade de tempo. deve se limitar à retórica, mas aplicado em sua plenitude. Por fim, desejar-se que o atual estádio tecnológico das plantadoras estivesse em patamar ideal não se justifica, pois se trata de inovação tecnológica bastante recente. Somente com a utilização em escala comercial, o acompanhamento sobre ensaios padronizados e com sugestões de usuários, evoluções e saneamento de problemas ocorrerão. Basta lembrar que colhedoras combinadas de cana-de-açúcar estão no mercado brasileiro desde a década de 70, e anualmente novas inovações estão sendo implementadas, por parte dos fabricantes, para torná-las cada vez mais eficientes e com custos operacionais meM nores. Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, John Deere Tomaz Caetano Cannavam Ripoli Esalq/USP


Claas

símbolos

No comando A falta de padronização, aliada ao desconhecimento dos símbolos utilizados para identificar comandos e controles nas máquinas agrícolas, gera dificuldades na operação dos conjuntos mecânicos, o que aumenta os risco de acidentes no campo

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“O analfabetismo e o precário acesso às informações e à educação formal contribuem para uma diferenciação dos padrões de comunicação”

A

existência de padrões diferenciados de comunicação dentro de uma mesma sociedade ou grupo organizado é fator conhecido. Essa diferença pode ser claramente percebida quando são comparados, por exemplo, os padrões de comunicação rural e o urbano. Essa diferenciação se relaciona com o fato de a população rural concentrar suas atividades e seu comportamento ao redor de uma atividade toda especial, complexa e marcante que é a agricultura. As comunidades resultantes da ocupação agrícola e do habitat rural pensam, sentem e agem de maneira diferente da dos habitantes das cidades, comunicando-se também através de códigos e meios próprios. A origem dessa diferença repousa não somente no isolamento do homem do campo, resultante das distâncias normalmente existentes entre as propriedades e os vilarejos e/ou núcleos, agravado pela dificuldade/ precariedade dos meios de transporte disponíveis, mas também por características próprias do processo de produção rural, como a jornada exaustiva e o trabalho que demanda esforços físicos fatigantes, restringindo o tempo livre disponível para as atividades sociais e comunitárias. O analfabetismo socialmente determinado e o precário acesso às informações e à educação formal, nas comunidades em questão, também contribuem para uma diferenciação dos padrões de comunicação. Ao invés de contribuírem para minimizar as dificuldades de compreensão no contexto da comunicação rural, esses estudos vêm, muitas vezes, aprofundar o distanciamento entre os personagens rural e urbano. Impregnado por esse universo simbólico, ainda predominante nos meios universitários, alguns profissionais levam ao campo todas essas distorções de imagem, reforçadas por vícios etnocêntricos advindos de sua formação técnica. Essas distorções atendem a uma série de conveniências no campo, como a imposição de uma visão de mundo profissional, tecnicista, que desconsidera os saberes advindos da cultura popular.

IDENTIFICANDO OS SÍMBOLOS Com base no acima exposto e com o objetivo de realizar uma pesquisa analítica a respeito do grau de conhecimento sobre símbolos gráficos para a identificação dos comandos e controles de operação e manutenção em máquinas agrícolas, dos principais clientes envolvidos no processo, desde o projeto da máquina agrícola até sua utilização e conseqüente manutenção, foi realizado um trabalho, no período compreendido entre março de 2000 a junho de 2005, que constituiu-se na aplicação de um ques-

Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Avante Respostas dadas por alguns dos entrevistados Nível superior Pistão Altura máxima Trator desbloqueado Carga Liberado para operar Filtro Mantenha nesta posição Pino graxeiro Subida Levanta o objeto Liberação para funcionamento Este lado para cima Elevar Colocar deste lado Liberação Retirar alguma coisa Reduzida Ligado Retângulo com flecha Local de estacionamento Velas Direção em que deve levantar o implemento Abrir para cima Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Totalmente mecanizada Respostas dadas por alguns dos entrevistados Trânsito de colheitadeiras Relativo ao sistema industrial Máquina Plataforma abaixada Colhendo Esteira Colhedora Sistema de debulhador Máquina colhendo Trânsito de máquinas agrícolas Máquina agrícola Ceifa ligada Cuidado! Máquina! Máquina de grande porte Automotriz Visão interna da colheitadeira Há colheitadeira na área! Trilha Colhedora em colheita Símbolo de regulagem do saca-palha Tráfego de máquinas Colheitadeiras na pista Ligar sistema industrial colhedora Colheitadeira de grãos Trilha ligada Trator Plataforma Obstrução no sistema de trilha Máquina agrícola na pista Implemento trabalhando Ativada a ceifadeira Indicador do sistema de trilha e separação Circulação colhedoras Trator com implemento Acionar processador Regulagem do saca-palhas Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Afogador Respostas dadas por alguns dos entrevistados Batedor Rotação Bloqueio Borboleta do carburador Válvula Borboleta Ventilador do carburador Velocímetro Injeção eletrônica Ignição Entrada de ar Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Farol principal - luz baixa Respostas dadas por alguns dos entrevistados Luz “auta” Pisca Luz lanterna Sinaleira Mostra o aquecimento do motor Ligar farol Faróis de trabalho Sonorizador

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Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Cuidado Respostas dadas por alguns dos entrevistados Sinal de trânsito Freio de estacionamento Dê a preferência Líquido de freios Triângulo Freio de mão Pare! Preferencial! Relacionado à energia elétrica Triângulo com exclamação Falta de fluído do freio Pressão do motor Motor apagou Manutenção Admiração Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Freio de estacionamento Respostas dadas por alguns dos entrevistados Pare Puxe Ventilador Partida Pressão do óleo Retorno Pisca alerta ligado Parada obrigatória

Ponto morto Indicativo neutro Pista estreita Pressão de “insuflagem” Freio de pé Freio de mão “puchado” (acadêmico) Continue Carro parado e freio de mão puxado

Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Cinto de segurança Respostas dadas por alguns dos entrevistados Sem cinto de segurança Baixa segurança Operador “Sinto” de segurança (estudante) Homem com cinto Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Pressão do óleo da transmissão Respostas dadas por alguns dos entrevistados Engrenagem Falta de óleo na engrenagem Lubrificação de engrenagem Temperatura do óleo “Ingrenage” Caixa do óleo Polia da bomba d’água Indicador de falha no sistema hidráulico “Hole” lubrificante Posição do óleo Óleo/engrenagem Falta de fluído da engrenagem Diâmetro da engrenagem Filtro de combustível Ponto de lubrificação Nível do óleo lubrificante “Preção” do óleo do motor (estudante) Nível do óleo do motor Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Ventilação forçada Respostas dadas por alguns dos entrevistados Ventoinha Ar ligado Hélice Reserva “Élice” da ventuinha Ar condicionado Refrigeração para usuário Ventilador interno dentro do carro RPM Circulação do ar Hélice girando Ventarola Motor superaquecido Ar da cabine do trator Aquecimento radiador Ventilador do radiador com problemas

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tionário onde foi solicitado ao entrevistado que dissesse o significado de cada símbolo. Esse questionário, desenvolvido no Laserg-UFSM (Laboratório de Segurança e Ergonomia da Universidade Federal de Santa Maria), foi composto por 20% da totalidade dos símbolos contidos na NBR 11379 – símbolos gráficos para máquinas agrícolas (ABNT, 1990), retirados ao acaso, compondo assim uma amostra representativa. O mesmo foi aplicado em três distintas categorias: operadores/mantenedores, profissionais e acadêmicos.

RESULTADOS DO TRABALHO Os resultados desse trabalho, entre outras funções, servirão para orientar na eventual criação de ferramentas para a capacitação dos envolvidos no processo (estudantes, projetistas, operadores, mantenedores e outros) e para fortalecer a necessidade de uniformização da simbologia utilizada por parte das indústrias. Ele também pretende mostrar, para conscientizar a todos os interessados, o quão pouco sa-

Airton, Mônica e Alessandro fazem uma radiografia do conhecimento dos símbolos utilizados nos comandos de máquinas agrícolas


“O estudo pretende mostrar o quão pouco se sabe sobre os símbolos gráficos utilizados para identificar comandos e controles de máquinas agrícolas” John Deere

Nas máquinas agrícolas é notória a dificuldade de identificação dos símbolos gráficos de comando e controle de operações

bem sobre os símbolos gráficos utilizados para identificar comandos e controles de máquinas agrícolas, o que é muito perigoso, potencializando o risco de acidentes no campo. As figuras apresentadas, por si só, a partir do real significado de cada símbolo e de como o definiram alguns entrevistados, dão a dimensão do problema que, segundo nossa ótica, deverá ser resolvido em conjunto com instituições de ensino, pesquisa e extensão, com indústrias envolvidas na fabricação e montaM gem desses equipamentos. Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Nível do óleo Respostas dadas por alguns dos entrevistados Lubrificação Falta de combustível Ponteira ou pino da roda ·Óleo na pista Lubrificação por gotejamento ·Entrada de ar Água ·Viscosidade do óleo Com combustível ·Aumenta para a direita Óleo da TDP superaquecido Palito de fósforo quebrado Significado do símbolo de acordo com a ABNT (1990) Pressão do óleo do motor Respostas dadas por alguns dos entrevistados Nível de água Tanque de óleo Água do radiador Falta de combustível Bloqueio Função do óleo Advertência temperatura alta Temperatura do óleo Bateria Indicador de falta de lubrificação no motor Luz do óleo Luz bateria Óleo “disel” (estudante) Pressão do óleo no cilindro Pouco óleo no cárter Pressão no tanque Líquido de freio Pressão do cilindro Fluído Água do radiador em nível crítico Colocar mais óleo lubrificante

CATEGORIAS PESQUISADAS • Operadores/mantenedores: Categoria composta por operadores de máquinas agrícolas profissionais e por mecânicos especialistas nesse tipo de equipamento. Nesta categoria foram entrevistados 182 profissionais de todas as regiões do Brasil que estivessem participando de feiras agropecuárias e também nas propriedades rurais de todo o país e algumas da Argentina e do Uruguai; • Profissionais: Categoria constituída por engenheiros agrícolas, engenheiros florestais, engenheiros agrônomos e engenheiros mecânicos, atuantes em ensino, pesquisa, projeto e desenvolvimento na área de máquinas e mecanização agrícola. Nesta categoria foram entrevistados 72 profissionais oriundos de várias instituições de ensino do Brasil e do exterior, como por exemplo: UFPA (Belém – PA); Furg (Rio Grande – RS); UNB (Brasília – DF); Ufla (Lavras – MG); UFSM (Santa Maria – RS); UPM (Madri – Espanha), entre outras; • Acadêmicos: Categoria constituída por alunos do sétimo semestre em diante, dos cursos de engenharia agrícola, agronomia, engenharia florestal e engenharia mecânica existentes na UFSM (Santa Maria – RS), UFPel (Pelotas – RS), UFSC (Florianópolis) e Unisc (Santa Cruz do Sul – RS). No total de entrevistados, 164 alunos. Airton dos Santos Alonço, Mônica Regina Gonzatti Balestra e Alessandro de Franceschi UFSM


passo-a-passo

Fotos Vilso Júnior Santi

são, posicione o trator em local nivelado e apropriado. Freie o trator e abaixe o sistema de levante. Remova os bujões de drenagem – um localizado na carcaça central, e o outro, na caixa de câmbio. Faça sempre a drenagem do óleo pelos dois bujões, pois, além de ser mais rápida, o escoamento e a eliminação de impurezas são mais eficientes.

BOMBA ISYP Nos tratores equipados com sistema de levante do tipo Ferguson você deve fazer também a limpeza do filtro da tela metálica da bomba isyp. Para isso, remova a tampa do conjunto e, posteriormente, o filtro. Lave-o com querosene ou óleo diesel e seque-o com ar comprimido. Limpe também a superfície de contato da tampa e aplique cola para facilitar a vedação. Recoloque o filtro e reinstale a tampa, fixandoa com seus parafusos.

Transmissão lubrificada A verificação periódica e a troca do óleo da transmissão nos tratores devem ser observadas pelos produtores rurais. Na maioria dos casos esse procedimento é protelado, o que pode vir a comprometer o desempenho das máquinas nas lavouras

A

cada 50 horas de trabalho, devese conferir o nível e/ou o estado de desgaste do óleo da transmissão nos tratores agrícolas. Para fazer a verificação do nível do óleo da transmissão, o trator deve estar em local nivelado e com o motor desligado há pelo menos 15 minutos. O freio estácionário da máquina deve estar acionado, a fim de evitar acidentes. O nível sempre deve estar entre as duas marcas indicativas gravadas na vareta de medição. Para os diferentes modelos de tratores, das diferentes marcas, você encontra no manual do operador a localização exata dos bujões de drenagem e abastecimento do sistema, os quais devem ser revisados um a um. A troca do óleo, por sua vez, deve ser feita a cada 500 horas de trabalho, ou conforme orientação da fábrica. A troca exige também a limpeza e/ou a substituição de filtros dos outros sistemas que utilizam o óleo da transmissão. Por exemplo, a limpeza do filtro centrífugo, do

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filtro tela de sucção das bombas auxiliares, a substituição dos filtros de direção e controle remoto e a limpeza do filtro da bomba isyp. Para proceder a troca do óleo da transmis-

Baixar o sistema de levante é fundamental na troca do óleo da transmissão

TELA DE SUCÇÃO Em tratores como nos modelos da série 5300 da Massey Ferguson, é importante limpar também o filtro tela da sucção. Para isso, remova sua tampa junto com a mola que integra o conjunto. Retire o filtro e depois limpe o seu alojamento cuidadosamente. Lave-o com querosene ou óleo diesel e seque-o. Inspecione todos os componentes e substitua-os, se necessário. Limpe também a superfície de contato da tampa e coloque de volta os componentes, observando o estado da junta da tampa. É recomendável substituir essa junta toda vez que se realizar esse procedimento no trator. Para facilitar a instalação, fixe a mola na tampa e reinstale-a, fixando-a com seus respectivos parafusos.

FILTRO CENTRÍFUGO Para limpar o filtro centrífugo, solte a porca e remova sua cobertura. Depois remova o conjunto do rotor. Em uma bandeja, desmonte o rotor e lave todos os seu componentes com querosene ou óleo diesel, para depois secá-los. Examine com cuidado os anéis de vedação e substitua-os, se necessário. Monte o conjunto do rotor, não esquecendo do anel de vedação, e reinstale o rotor em seu alojamento. Em seguida, sobreponha a cobertura, fixando-a com a porca. Não aperte em demasia, para não danificar a cobertura ou o anel de vedação.

O nível do óleo da transmissão deve ser conferido a cada 50 horas de trabalho da máquina


“A troca do óleo, por sua vez, deve ser feita a cada 500 horas de trabalho, ou conforme orientação da fábrica”

A drenagem do óleo deve ser feita sempre pelos dois bujões - um localizado na carcaça central, e outro, na caixa de câmbio Seguir orientação dos fabricantes quanto ao tipo de óleo e à periodicidade da troca é sempre importante

FILTRO DE DIREÇÃO E CONTROLE REMOTO Nos tratores Massey da série 200, 600 e 5200, deve-se substituir também o filtro de sucção da bomba dos sistemas de direção e controle remoto. Para remover o filtro, utilize uma cinta apropriada. No filtro novo, passe uma camada de óleo no anel de vedação, para evitar sua deformação, e encha-o com o óleo antes de instalar. Com as mãos, coloque o filtro novo no lugar, cuidando para que ele fique bem firme. Lembre-se de que só filtos originais garantem a eficiência da filtragem.

ABASTECIMENTO DO ÓLEO Após a troca e a limpeza de todos os filtros do óleo da transmissão, reinstale os bujões de dreno, observando o estado dos anéis ou arruelas de vedação, substituindo aquelas danificadas. Depois, coloque o óleo até atingir a marca máxima na vareta de nível. Use somente óleo homologado pelos fabricantes, cuja especificação você vai encontrar no manual do operador da máquina.

EIXO TRASEIRO Periodicamente, a cada 250 horas, verifique o nível do óleo dos redutores finais traseiros. O trator deve estar em local nivelado e pa-

rado há pelo menos cinco minutos. O nível estará correto quando o óleo estiver na borda do local de abastecimento. Se estiver abaixo, complete com óleo homologado pela fábrica. Para proceder a troca, a cada 500 horas, posicione o trator em local nivelado e apropriado. Remova os bujões de dreno e abastecimetno. Para facilitar o escoamento, o óleo deve estar na temperatura de trabalho. Depois, reinstale os bujões de dreno e abasteça os redutores. Faça a troca de óleo nos dois redutores e coloque óleo até a borda do local.

EIXO DIANTEIRO A manutenção do eixo dianteiro, nos tratores 4x4, basicamente se resume à verificação do nível do óleo nos redutores finais a cada 250 horas de trabalho - similar à prática recomendada para o eixo traseiro. Para tanto, o trator deve estar em local nivelado, parado há pelo menos 15 minutos e com o bujão posicionado na horizontal. Ao remover o bujão, o óleo deve estar no nível deste. Caso contrário, complete o nível com óleo homologado pela fábrica. Para proceder a troca, posicione o bujão de dreno para baixo. Com o óleo na temperatura de trabalho, remova o bujão e deixe o óleo escorrer totalmente. Posicione agora o local de dreno na horizontal, recoloque o óleo até a broda do orifício, até completar o nível. Mas lembre-se de que a troca deve ser feita nos dois redutores. Nos modelos 4x2 a manutenção do eixo dian-

A remoção e a limpeza do filtro de tela metálica da bomba isyp devem ser feitas a cada troca de óleo

teiro se resume basicamente ao engraxe dos pontos recomendados no manual do proprietário.

DIFERENCIAL É recomendável verificar também a cada 250 horas o nível do óleo do diferencial. Se estiver abaixo dos níveis recomendados, complete-os com óleo homologado pela fábrica. Para troca, com o trator posicionado em local plano e a cada 500 horas, remova os bujões de dreno e abastecimento. Mas, atenção, nos modelos com tração central, remova também o bujão de dreno da caixa de subida, deixe escorrer totalmente o óleo, recoloque os bujões de dreno e, através do bocal de abastecimento, coloque o M óleo até atingir a borda do furo. Colaboração Cimma Ltda. M

No eixo dianteiro dos tratores 4x4, deve-se verificar o nível do óleo dos redutores finais a cada 250 horas

Na traseira o nível estará correto quando o óleo estiver na borda do local de abastecimento

Agosto 06 • 25


Acelera... D

esta vez, com vontade! Estamos trazendo um apanhado do que foi a prova de Trekker-trek no dia 16 de julho em Holambra (SP). A lamentar que foi a única prova da categoria no ano. Esperamos para breve que mais cidades se agreguem e, principalmente, que mais patrocinadores se motivem a investir nessa categoria que é a mais antiga das competições de tratores no mundo mecanizado. O espetáculo é garantido, e os eventos sensibilizam tanto aos assistentes de origem rural, pela proximidade do seu meio, quanto aos “urbanos”, pela tecnologia aplicada nas máquinas e pelas técnicas de condução necessárias nas provas. Enquanto o maior número de provas não vem, vamos torcer pelo Arrancadão. Veja na agenda as próximas provas, e nos vemos lá. Até a próxima! CLASSIFICAÇÃO FINAL Equipe

Distância da puxada Categoria Livre 2.400 kg Iniciantes 1º Alligator/Leadro G. da Silva 83,13 m 2º Fenômeno/Renato Eltink 81,46 m 3º Furacão/Marcos Eltink 68,17 m Categoria Livre 2.400 kg 1º Ronik/Roland Niens 81,56 m (3ª) 2º Silver Star/Henricus Walravens 77,17 m (3ª) 3º Yellow Power/Johannes Eltink 74,32 m (3ª) Categoria Livre 3.400 kg 1º Bandido/Luís Antonio B. Silva 86,71 m (3ª) 2º Dick Vigarista/Geraldo Reijers 86,14 m (3ª) 3º Yellow Power/Renato Eltink 83,86 m (2ª) Categoria Livre 4.400 kg 1º Dick Vigarista/Henrique Reijers 94,63 m (3ª) 2º Tornado/Pedro Groot 83,28 m (2ª) 3º Write Succes/Adriano Jameli 8,38 m (2ª) Categoria Agrícola 3.000 kg 1º Ford/Irene Eltink 36,65 m (2ª) 2º Valmet 68/Sabrina Groot 36,13 m (2ª) 3º M.F. 65 X/Eduardo Martins 35,76 m (2ª) Categoria Agrícola 4.000 kg 1º Ford 6.600/Rogério Santos 38,43 m (2ª) 2º Ford 6.600/Valdelino Rodrigues 38,28 m (2ª) 3º M.F. 283/Patrícia Scheltinga 36,59 m (2ª) Categoria Agrícola 5.000 kg 1º Valmet 985/Cláudio Scheltinga 84,86 m (2ª) 2º N. Holland 7.630/Guilherme Eltink 67,77 m (2ª) 3º Valmet 980/Leandro B. Silva 50,42 m (2ª) Categoria Agrícola 6.000 kg 1º Valmet 985/Cláudio Scheltinga 98,7 m (2ª) 2º Massey F./Henricus Scheltinga 65,53 m (2ª) 3º J. Deere 6.300/José Ap. B. Silva 64,96 m (2ª)

Cidade Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP)

competição de tratores foi realizada no domingo, 16 de julho, no Parque de Exposições da Expoflora. O Circuito Nacional de Trekker-Trek reuniu equipes de Holambra e Bragança Paulista para um público de cerca de sete mil pessoas. Além dos competidores com seus tratores “envenenados” da categoria Livre, também participaram pilotos na categoria Agrícola. Essa prova abriu a competição, e entre os participantes também estavam representantes femininas. Na categoria Agrícola, os tratores são originais, tal como são usados no campo, e é essa a que mais se aproxima das origens do esporte. O Trekker-Trek é uma competição que põe à prova a potência do trator, somada à habilidade do piloto. A prova é dividida em duas categorias: Agrícola, com tratores pesando 3.000, 4.000, 5.000 e 6.000 kg, de motor original sem nenhuma modificação; e a Livre, com tratores de motores altamente potentes e equipados para a competição, alguns chegando a ter quatro motores. As classes da Livre são: 2.400, 3.400 e 4.400 kg. O objetivo da disputa de tratores é puxar o maior peso dentro de uma pista de cem metros. O vencedor é aquele que conseguir puxar o maior peso à maior distância da pista.

Pódio

RESULTADOS Não faltou emoção à etapa de Holam-

Penél

Holambra (SP) Holambra (SP) Bragança Paulista (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP) Holambra (SP)

Conheça mais sobre o evento no site www.trekkertrek.com.br

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A

Fotos Divulgação

Holambra ferve com Trek

Bandido, vencedor da 3.400 kg livre

Agenda Data 18 a 20/08/2006 09 a 10/09/2006 07 a 08/10/2006 11 a 12/11/2006

Categoria Arrancadão Arrancadão Arrancadão Arrancadão

Local Curitiba (PR) Fraiburgo (SC) Não-Me-Toque (RS) Maripá (PR)

Obs. Força Livre Motorsport Show

Tratoródromo


por Arno Dallmeyer - arnomaq@yahoo.com.br

ker-Trek

Ronik, vencedor da 2.400 kg livre

4.400 kg Trekker-Trek em Holambra (SP)

ope Charmosa com Iolanda Groot

bra do Circuito Nacional de Trekker-Trek, que este ano só teve uma prova. A competição foi uma demonstração de como o público aprendeu a apreciar esse esporte e de como algumas equipes já conquistaram sua torcida fiel. A platéia não gos-

tou de ver a desclassificação do piloto Luís Antônio da Silva e seu Bandido, depois de uma apresentação emocionante na categoria Livre 4.400 kg. Uma falha técnica custou o bicampeonato de Bandido nessa prova, que teve como campeão o experiente Henrique Reijers, pilotando Dick Vigarista, seguido por Tornado, de Pedro Groot. “Essa é a nossa Fórmula 1”, disse Reijers ao sagrar-se campeão. Sua equipe havia conquistado o circuito em 2004. “Foi uma pena que meu adversário, o Bandido, teve problemas com o trator”, acrescentou. “Na hora de acertar o trator dimensionei mal os pesos e acabei queimando a faixa”, justificou Luís Antônio. Mas o competidor não pôde reclamar. Na categoria 3.400 kg, as posições se inverteram, ele ficou em primeiro lugar, conquistando o bicampeonato e deixando Dick Vigarista em segundo. Na categoria 2.400 kg, a vencedora foi a equipe Ronik, do piloto Roland Niens, seguida por Silver Star, de Henricus Wal-

Dick Vigarista, grande campeão da 4.400 kg e vice na 3.400 kg

ravens. Entre os Iniciantes (2400 kg), o primeiro lugar ficou com a equipe Alligator, de Leandro da Silva, de 19 anos, o mais jovem piloto do TrekkerTrek. Em segundo lugar, terminou a equipe Fenômeno/ Renato Eltink. Essa categoria também teve a participação da equipe Penélope Charmosa, pilotada por Iolanda Groot, a última colocada entre os quatro participantes, mas o resultado não a deixou decepcionada. Ao contrário, Iolanda estava muito feliz de poder participar pelo segundo ano consecutivo da competição. “É muita adrenalina”, contou a competidora, que parou quando as rodas da frente de seu trator começaram a empinar.

ORGANIZAÇÃO O Circuito Nacional de Trekker-Trek tem organização da Associação Brasileira de Trekker-Trek (ABTT). Este ano, contou com o patrocínio das empresas Valtra, Gráfica Pfeifer, Seiva Agropecuária, Vida Agrociência Insumos Agrícolas, Sicredi, Isotec, Pró-Campo, Posto de Molas Thimari, Horti Shop, LG Campos, Posto Pioneiro, Mult , Alarm Cel, Green House, Imobiliária Esberci, Dismotor, Bicicletaria Caposse, Veiling Holambra, Carueme Caminhões, Madelon, Construtora Tulipa, Garcia Terraplenagem e Pavimentação e o apoio da Prefeitura Municipal da Estância Turística de M Holambra.

Alligator, vencedor da 2.400 kg Iniciantes

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sistemas

Determinar os volumes de água retirados retirados ee efetivamente efetivamente consumidos é tarefa importante, do ponto de vista econômico e ambiental, no momento de escolher o melhor sistema de irrigação a ser aplicado no cultivo de arroz

VOLUMES RETIRADOS X CONSUMIDOS

O

arroz, um dos cereais mais produzidos e consumidos em todo o mundo, é considerado o cultivo alimentar de maior importância na maioria dos países em desenvolvimento. Constitui dieta básica para, aproximadamente, 2,4 bilhões de pessoas, e, segundo estimativas (Embrapa, 2003), será necessário aumentar sua oferta para atender ao dobro dessa população até 2050. De acordo com dados da FAO (2005), o Brasil ocupa a nona posição entre os países produtores, contribuindo com 2,1% da produção mundial. A irrigação representa importante papel na

produção do arroz, sendo que mais de 75% da produção mundial é oriunda de cultivos irrigados (Embrapa, 2003). No Brasil, a irrigação por inundação é utilizada em grande parte das áreas cultivadas com arroz e apresenta alta produtividade. Esse sistema de irrigação é tradicionalmente utilizado na região Sul do Brasil, principalmente nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Segundo o IBGE (2006), esses dois estados foram responsáveis por cerca de 67% da produção nacional na safra 2005/06, sendo a contribuição do Rio Grande do Sul de aproximadamente 58% do total.

Primeiramente, é necessário entender a diferença entre volume retirado e volume efetivamente consumido. O volume retirado corresponde à quantidade de água captada dos mananciais para atender à irrigação do arroz durante todo o ciclo da cultura. Esse volume geralmente é bastante elevado em áreas irrigadas por inundação, devido à necessidade de manutenção da lâmina d’água na superfície do solo e às perdas por infiltração lateral e percolação profunda. O volume efetivamente consumido corresponde à quantidade de água consumida por evapotranspiração durante o ciclo da cultura, ou seja, é o volume de água abstraído da bacia hidrográfica, constituindo as perdas no sistema hidrológico. Em trabalho publicado recentemente, Amaral et al. (2005) apresentaram uma metodologia para quantificar os volumes retirados e efetivamente consumidos durante o cultivo do arroz, considerando os sistemas de irrigação por inundação e por aspersão. Para tanto, foram utilizadas diversas informações relativas ao clima, ao tipo de solo, às características das principais cultivares e às práticas de manejo adotadas na lavoura. A metodologia foi aplicada no município de Uruguaiana, situado na região Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, pela sua produção expressiva e pela grande área irriNa irrigação por aspersão, o volume de água efetivamente consumido foi quase duas vezes superior ao volume de água retirado

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“A sazonalidade dos volumes retirados pelos sistemas de irrigação analisados se deve à variação da precipitação nas diferentes safras” Fotos Cultivar

Os volumes de água efetivamente consumidos pelos sistemas por inundação convencional e por aspersão foram muito próximos, 6.770 m3/ha e 6.687 m3/ha

gada. A Figura 1 representa a variação dos volumes retirados pelos sistemas de irrigação por inundação (convencional e pré-germinado) e aspersão nas safras de 1995/96 a 2003/04, com exceção da safra de 1996/97, a qual foi descartada devido ao grande número de falhas nos dados diários de precipitação.

VOLUMES RETIRADOS Apesar de o período de irrigação do sistema de cultivo pré-germinado ser maior que o do convencional, em geral os maiores volumes retirados foram obtidos para o sistema convencional. Isso se deve ao fato de que o sistema de cultivo convencional requer vazões contínuas maiores para a manutenção da lâmina d’água superficial na lavoura. No sistema pré-germinado, a vazão necessária para a manutenção da

lâmina é menor, devido à baixa percolação da água no solo com a formação da lama. A sazonalidade dos volumes retirados pelos sistemas de irrigação analisados se deve à variação da precipitação nas diferentes safras. Os sistemas de irrigação por inundação apresentaram menor sazonalidade, uma vez que esses sistemas necessitam de uma aplicação contínua de água, enquanto que no sistema por aspersão a aplicação de água só ocorre quando a precipitação não supre as necessidades hídricas da cultura. Os menores volumes retirados pelos sistemas de irrigação analisados ocorreram nas safras de 2000/01 e 2002/03, o que se deve às maiores precipitações ocorridas nessas duas safras na região de Uruguaiana. Por outro lado, os maiores volumes retirados pelos sistemas por inundação e por aspersão foram observados nas

Figura 1 - Volumes retirados pelos métodos de irrigação por inundação (sob cultivo convencional e pré-germinado) e por aspersão

safras de 1999/00 e 2001/ 02 em decorrência das menores precipitações ocorridas na região durante essas duas safras. Na Figura 2 são apresentados os volumes médios retirados e efetivamente consumidos nos sistemas de irrigação por inundação (convencional e pré-germinado) e aspersão nas oito safras analisadas. Os volumes médios retirados para atender às demandas dos dois sistemas de irrigação por inundação foram, aproximadamente, três vezes superiores ao da irrigação por aspersão. Isso se deve ao fato de que os sistemas por inundação necessitam de vazões contínuas durante grande parte do ciclo da cultura, ao contrário do sistema por aspersão, no qual a aplicação de água é intermitente e realizada quando o volume precipitado é inferior à evapotranspiração da cultura.

VOLUMES CONSUMIDOS Nos sistemas convencional e pré-germinado, os volumes efetivamente consumidos tiveram uma redução de 37% e 21%, respectivamente, em relação aos volumes retirados, evi-

Figura 2 -Volume médio retirado e efetivamente consumido no período de análise pelos sistemas de irrigação por inundação (sob cultivo convencional e pré-germinado) e por aspersão

Agosto 06 • 29


Divulgação

denciando que grande parte do volume retirado pelo sistema de inundação retorna aos mananciais, permanecendo na própria bacia. O volume retirado pelo sistema convencional é maior que no pré-germinado, devido à utilização de vazões contínuas maiores no sistema convencional. Por outro lado, o volume consumido pelo sistema convencional é menor que no pré-germinado, porque o sistema de cultivo prégerminado apresenta um período de irrigação mais longo. O volume efetivamente consumido pela irrigação por aspersão foi quase duas vezes superior ao volume retirado, pois o consumo efetivo engloba, além da vazão aplicada pela irrigação, a parcela da precipitação que é convertida em evapotranspiração. Os volumes médios efetivamente consumidos pelos três sistemas analisados foram semelhantes. O maior volume efetivamente consumido, de 8.480 m3/ha, foi obtido no sistema pré-germinado, sendo 27% superior ao volume efetivamente consumido pelo sistema de aspersão. Os volumes efetivamente consumidos pelos sistemas por inundação convencional e por aspersão foram muito próximos, 6.770 m3/ha e 6.687 m3/ha, respectivamente.

ANÁLISE COMPARATIVA Cultivar

Os resultados apresentados demonstram

IRRIGAÇÃO POR INUNDAÇÃO

A

Prusky e sua equipe ressaltam a importância de uma avaliação ponderada na escolha do sistema de irrigação a ser utilizado para o cultivo de arroz

que, embora a irrigação por inundação seja responsável pela retirada de uma grande quantidade de água durante o ciclo da cultura quando comparada à irrigação por aspersão, a quantidade de água abstraída da bacia é bastante próxima em ambos os sistemas. Ou seja, do ponto de vista hidrológico, os consumos de água das lavouras irrigadas sob inundação e aspersão são bastante semelhantes, pois grande parte da água retirada nas áreas irrigadas por inundação retorna aos mananciais da própria bacia. Por outro lado, apesar de o volume de água retirado pela irrigação por aspersão ser menor que o volume retirado pela inundação, o método de aspersão apresenta maior consumo de energia quando comparado ao de inundação.

pesar de amplamente utilizado, o sistema de produção de arroz por inundação tem sido alvo de duras críticas devido aos grandes volumes retirados dos mananciais durante o ciclo da cultura e à baixa eficiência de irrigação desse sistema. Em pequenos corpos d’água, a disponibilidade de água para os outros usos reduz consideravelmente no período de maior demanda da cultura, trazendo conseqüências negativas ao meio ambiente e insegurança aos produtores. Por esses motivos, torna-se inevitável a discussão acerca da substituição do sistema de irrigação por inundação pelo de aspersão nas áreas cultivadas com arroz. Entretanto, essa é uma questão muito delicada, que deve ser analisada criteriosamente. Conforme Marouelle e Silva (1998), a energia consumida varia de 0,2 a 0,6 kWh/m3 para a irrigação por aspersão e de 0,03 a 0,3 kWh/m3 para a irrigação por superfície. Isso se deve às maiores pressões requeridas para o bombeamento da água até a lavoura. Em sistemas de pivô central com aspersores de tamanho médio, a pressão requerida no centro do pivô pode chegar a 540 kPa (Bernardo et al., 2005), enquanto que em sistemas de irrigação por inundação a pressão requerida para o recalque da água até as áreas irrigadas dificilmente ultrapassa 100 kPa. Além disso, a substituição de um sistema de irrigação por outro implica em investimento bastante significativo, principalmente no caso da instalação de sistemas de aspersão com pivô central. Também é importante salientar que o sistema de irrigação por inundação se constitui num sistema de produção bem estabelecido que, além de apresentar alto grau de desenvolvimento tecnológico, apresenta também alta produtividade. Face ao que foi exposto, ressalta-se a importância de uma avaliação ponderada na escolha do sistema de irrigação a ser utilizado para o cultivo de arroz, levando em consideração tanto os fatores ambientais quanto os econômicos, visando a sustentabilidade do sistema M de produção. Fernando Falco Pruski, Márcio Mota Ramos, Luís Gustavo H. do Amaral e Renata del Giudice Rodriguez, UFV

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