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Semeadoras
Abrindo caminhos
Os sulcadores presentes nas semeadoras, além da importante tarefa de preparar o local onde será depositada a semente, ajudam a descompactar o solo e a criar um ambiente favorável para a germinação
Asemeadura é uma das operações mais importantes entre todas as realizadas durante o ciclo das culturas. Vários detalhes são levados em consideração, para que este trabalho seja executado de forma que o resultado possa ser o melhor possível, ou seja, que as sementes depositadas no solo tenham acesso a água e nutrientes, para proporcionar condições adequadas de germinação e emergência.
Neste sentido, além da importância dos dosadores de sementes e fertilizantes para uma boa semeadura, os mecanismos sulcadores que entram em contato diretamente com o solo são fundamentais. As principais funções deles são: cortar a palha do sistema de plantio direto, abrir o sulco adequado para a deposição de fertilizantes e sementes e, por fim, fechar o sulco para que as sementes possam manter a uniformidade de distribuição horizontal e vertical, proporcionando o melhor desenvolvimento inicial da planta.
Além disso, a tecnologia presente no campo, como o tráfego controlado de máquinas, permite a escolha mais precisa do melhor sulcador para cada condição do solo e cultura, trazendo inúmeras vantagens para o desempenho das máquinas e redução de custos. Os mecanismos sulcadores e sua adequada recomendação serão discutidos ao longo deste artigo.
IMPORTÂNCIA DO SULCO
O sulco é caracterizado como o local onde a semente será depositada ao solo e servirá como base para a sua germinação e emergência. Para atender essa exigência, principalmente em sistemas de plantio direto, a semeadora deve dispor de mecanismos capazes de cortar a palha da superfície, abrir o sulco de semeadura na profundidade adequada para o fertilizante e semente e, após a deposição de ambos no solo, fazer o fechamento de forma a eliminar o excesso de ar e permitir melhor contato da semente com o solo para favorecer a sua germinação.
Em um primeiro momento parece fácil essa função de abrir e fechar o sulco. No entanto, deve-se levar em consideração alguns limitantes no processo de semeadura que podem dificultar essa operação. A quantidade de palhada remanescente da cultura anterior, a textura e a umidade do solo são alguns dos fatores que devem ser considerados na escolha dos sulcadores. No caso da palha, a importância da sua presença na superfície do solo é indiscutível, por inúmeras vantagens que propicia ao sistema de plantio direto.
Charles Echer
No entanto, quando a biomassa se encontra com certa umidade, dependendo da cultura, pode dificultar a ação dos sulcadores responsáveis por cortá-la, e ocasionar obstruções na entre linha ou até mesmo bloquear a abertura do sulco. Outro detalhe da palha sobre o solo é que a altura da sua camada deve ser considerada na regulagem dos sulcadores, devido à interferência na profundidade do sulco.
Outros obstáculos comuns são as pedras que podem ser encontradas em classes mais específicas de solo, nestes casos, pode dificultar a abertura do sulco ou danificar os sulcadores da semeadora. Para estes casos já existe no mercado algumas tecnologias, que visam reduzir os danos causados pela ação do contato direto do sulcador com a rocha. Em relação à textura do solo, a sua variação também deve ser considerada no momento de escolha do sulcador que será utilizado para realizar a abertura dos sulcos, pois dependendo do solo, existem recomendações mais específicas que atendem melhor às propriedades físicas, sem esquecer-se da pressão exigida e a profundidade recomendada, as quais serão discutidas ao longo deste artigo.
A profundidade dos sulcos de semeadura tende a variar de acordo com as condições do solo e o tipo de cultura. Para definir qual a melhor profundidade a ser utilizada para uma cultura específica, deve-se levar em consideração fatores como tipo e vigor da semente, umidade do solo, possibilidade e intensidade de chuva, presença de palha, dentre outros.
TIPOS DE SULCADORES DISCO SIMPLES
O primeiro elemento sulcador, presente nas semeadoras de grãos graúdos, é o disco simples ou disco de corte. Esse mecanismo é composto por um único disco e antecede os sulcadores específicos de fertilizante e semente que pode ser liso, ondulado, corrugado ou recortado, e que tem a função principal de cortar a palha presente sobre o solo no sistema plantio direto, além de raízes e outros obstáculos que podem prejudicar a atuação dos demais sulcadores. Além disso, auxilia na formação do sulco, pois é o primeiro mecanismo da semeadora a trabalhar em profundidade.
A regulagem do disco de corte é realizada, geralmente, pela tensão de uma mola, ou seja, conforme as condições do solo (compactação e presença de palha), é adicionada maior ou menor pressão para regular a tensão (e consequentemente a profundidade) com que o sulcador irá atuar no solo.
Fotos Gilvan Moisés Bertollo
Impedimento físico ao desenvolvimento radicular causado pela compactação gerado pelo tráfego de máquinas
DISCO DUPLO
O sulcador do tipo disco duplo pode equipar tanto as semeadoras de grãos graúdos como as de grãos miúdos. É composto por dois discos, os quais ficam próximos na parte frontal e afastados na parte traseira, permitindo que se possa abrir um sulco para deposição de semente, fertilizante ou ambos. Para que possam trabalhar próximos na parte frontal e abrir o sulco, os discos podem ser de mesmo diâmetro com eixo desencontrado ou de diâmetros diferentes. Entre os dois discos, encontra-se o tubo condutor que tem origem no dosador, e acaba próximo ao solo onde as sementes ou fertilizantes são depositados no sulco. Para evitar o acúmulo de solo que possa aderir às paredes dos discos, raspadores ou limpadores são dispostos na parte interna e traseira do disco duplo para remover esse excesso de solo.
A regulagem desse mecanismo é realizada pela tensão de mola ou, em semeadoras mais recentes e tecnológicas, por pressão hidráulica ou pneumática, permitindo variar essa pressão com maior facilidade, manualmente ou através da automação, conforme alteram-se as condições do solo ou do clima.
HASTE SULCADORA
Também conhecida popularmente como “botinha” ou “facão”, a haste sulcadora é utilizada nas semeadoras quando se deseja romper camadas superficiais compactadas ou atingir profundidades de trabalho maiores em relação ao disco duplo. Sua origem foi a necessidade que existe de fazer um certo preparo do solo na região do sulco, decorrente da compactação acumulada no sistema de plantio direto. Por esse motivo, é comumente utilizada nas semeadoras de grãos graúdos para a deposição do fertilizante ao solo, já que o mesmo deve ser colocado afastado da semente devido ao efeito salino. Desta forma, propicia o rompimento da compactação gerada pelo tráfego das máquinas, que atinge habitualmente os primeiros 0,15m de profundidade, e podem dificultar o desenvolvimento das plantas (Figura 1).
No entanto, o sulcador do tipo haste, por cisalhar o solo e atingir profundidades maiores, demanda maior potência do mo-
Fotos Gilvan Moisés Bertollo
Utilização de haste sulcadora nas linhas de tráfego das máquinas
tor do trator para tracionar a semeadora, e isso pode resultar em aumento do consumo de combustível, emissão de gases poluentes, patinamento das rodas motrizes, dentre outros.
A haste também expõe maior volume de solo devido ao cisalhamento, principalmente quando comparado ao sulcador disco duplo que gira sobre o solo. Quando o solo é exposto, perde-se umidade de forma mais rápida para o ambiente, já que a camada de palha não o protege mais. Além disso, aumenta a possibilidade de causar a erosão, facilita a germinação de sementes de plantas daninhas, dentre outras desvantagens da exposição do solo.
Outra característica da haste sulcadora refere-se ao rompimento dos parafusos de suporte quando encontram uma rocha, raízes ou qualquer outro impedimento. Para superar esse problema, algumas semeadoras disponibilizam mecanismos de desarme, existentes entre a haste e a estrutura da semeadora. Para evitar o desarme e a necessidade de parar a máquina para rearmar o sistema, modelos de semeadoras também permitem a articulação da haste, quando encontra um obstáculo e após a passagem volta a haste à posição normal. tando colocar maior ou menor quantidade de solo sobre o sulco de semeadura. Possuem mola com regulagem de tensão para adequar a pressão exercida lateralmente no sulco. Ambos os mecanismos, tanto as rodas de controle de profundidade como as de fechamento de sulco, possuem uma camada de borracha na extremidade para evitar o acúmulo de solo, já que o mesmo, estando aderido, pode interferir na profundidade do sulco.
CONTROLE DE PROFUNDIDADE E FECHAMENTO DE SULCO
Próximas ao disco duplo ou à haste estão localizadas as rodas de controle de profundidade da semente. Esse mecanismo é composto por duas rodas, fixadas em uma estrutura que permite a variação da sua altura em relação ao sulcador da semente. São importantes na semeadora devido à variação das condições do solo, que pode fazer com que o sulcador da semente trabalhe em diferentes profundidades. Assim, com a presença das rodas de controle de profundidade, as mesmas limitam a penetração do sulcador no solo, melhorando a uniformidade de distribuição vertical das sementes.
Após esse mecanismo, a maioria das semeadoras também possui rodas de compactação e fechamento de sulco. São rodas com diâmetro menor e inclinadas para que possam exercer pressão lateral no sulco e facilitar a emergência das plantas. A pressão exercida no sulco se justifica para eliminar o excesso de ar entre os agregados do solo e favorecer o contato da semente com o solo.
Essas rodas de compactação e fechamento de sulco também possuem regulagem do ângulo horizontal, possibili-
SULCADORES NA AGRICULTURA DE PRECISÃO
Vivemos hoje a agricultura de precisão, agricultura 4.0, também chamada de agricultura digital, com máquinas cada vez mais eficientes, complexas e tecnológicas. No entanto, a realidade na maioria das semeadoras que atuam nas lavouras brasileiras é outra, e ainda tem muito a evoluir. Em termos de tecnologia, muito foi melhorado nos últimos anos através do uso de sensores, atuadores, tornando a deposição de sementes mais precisa. Contudo, a utilização dos sulcadores ou, então, com exceções, a escolha do mais adequado para cada situação, parece estar defasada.
A maioria das semeadoras, principalmente aquelas que trabalham em solos mais argilosos, utiliza como configuração das linhas de semeadura sulcadores do tipo haste para o fertilizante e disco duplo para a semente. Muitas vezes, com o uso adequado das tecnologias disponíveis, a escolha do sulcador na semeadora poderia ser realizada com base nas condições em que o mesmo irá trabalhar, resultando em economia de potência no motor, consumo de combustível, desgaste do trator, menor patinamento das rodas motrizes, menor emissão de gases poluentes, dentre outros.
Mas de que forma isso é possível? Na verdade, cada propriedade agrícola possui suas particularidades e, dependendo das condições das áreas, das máquinas e das tecnologias utilizadas, o tráfego controlado de máquinas pode ser uma opção para facilitar a escolha do sulcador mais adequado para o tipo de solo ou a condição de trabalho.
O conceito e as formas de trabalhar com o tráfego controlado de máquinas consistem em organizar o tráfego das máquinas para que uma trafegue no rastro da outra, reduzindo desta forma a compactação do solo para locais específicos (apenas nos rastros) e em baixas porcentagens da área (geralmente menor de 20%), possibilitando o manejo dessa compactação de forma precisa, com baixo custo e podendo ser realizado pela própria semeadora.
Um exemplo interessante de uso dos sulcadores da semeadora no sistema de tráfego controlado é utilizar, para o fertilizante, a haste sulcadora nos locais de tráfego e disco duplo nas demais linhas que não recebem o contato de pneus de máquinas e, por consequência, não possuem limitação física para o desenvolvimento das culturas. Nesta disposição, o disco duplo percorre o solo apenas para depositar o fertilizante em profundidade e afastado das sementes devido ao seu efeito salino. Como a descompactação na linha de tráfego já é realizada pelas hastes sulcadoras de fertilizante, os sulcadores de sementes utilizam apenas o tipo disco duplo.
Além disso, outra possibilidade que complementa esses benefícios compreende não cultivar as linhas de plantas por onde o pulverizador irá trafegar durante o desenvolvimento da cultura. No sistema
Área destinada ao tráfego de tratores e pulverizadores sem o plantio da cultura Detalhe do rastro do trator, onde as linhas de plantio foram adaptadas com sulcadores
de tráfego controlado de máquinas, se conhece aquelas linhas por onde o pulverizador irá transitar, antes da máquina entrar no campo, sendo que as mesmas linhas coincidem com as linhas de tráfego do trator durante a semeadura e da colhedora. Assim, se eliminada essa linha de plantas, já que as mesmas serão amassadas e não resultarão em plantas viáveis para auxiliar na produção, economiza-se em potência do motor, consumo de combustível, menor patinamento das rodas motrizes, redução de emissões de gases poluentes, dentre outras vantagens.
Cabe ressaltar que a eliminação das linhas de tráfego do pulverizador, além das vantagens citadas anteriormente, resultam em economia de fertilizantes, sementes e tratamento dessas sementes. Parece um pouco contraditório falarmos em agricultura de precisão ou agricultura digital e ao mesmo tempo colocarmos sementes ao solo para depois da planta estar estabelecida, a eliminarmos com o tráfego de uma máquina sabendo exatamente que a mesma iria transitar neste local.
Ainda assim, existe a possibilidade de aumentar a densidade de sementes das linhas adjacentes às aquelas eliminadas. Em trabalho realizado por um dos autores e prestes a ser publicado, foi constatado que essa alternativa resulta no aumento da produtividade da lavoura, quando se eleva a densidade de plantas de soja e milho ao lado das linhas retiradas devido ao tráfego do pulverizador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que alertar é que a escolha adequada dos mecanismos sulcadores pode auxiliar no desempenho da semeadora, favorecer as condições do solo, dar estrutura adequada às sementes para que possam germinar e se desenvolverem em plantas produtivas, além de reduzir custos como combustível e manutenção. Desta forma, os sulcadores utilizados nas semeadoras podem contribuir para que uma boa safra seja iniciada na operação de semeadura, sendo um motivo de alegria e ânimo para os produtores rurais, ver a cultura bem estabelecida, o solo preservado e os custos reduzidos. .M
Gilvan Moisés Bertollo Alison de Meira Ramos, UTFPR Santa Helena José Fernando Schlosser Rovian Bertinatto, Agrotec UFSM