12 minute read

Colhedoras

Next Article
Semeadoras

Semeadoras

Hora para colher

Para realizar uma colheita de qualidade é necessário respeitar diversas recomendações, desde o manejo da lavoura até as operações de colheita

Aescolha da variedade de algodão pode ter incidência na qualidade da colheita. Características como pilosidade das folhas, tamanho das brácteas ou aderência do algodão ao capulho podem afetar tanto a carga do algodão em impurezas, como a eficiência da colheita, contribuindo para o aumento das perdas. O manejo de altura das plantas, lavoura limpa - sem plantas daninhas - e desfolha adequada, tem papel importante na qualidade da colheita. A contaminação do algodão por plantas daninhas, como picão-preto, por exemplo, pode gerar descontos significativos no momento da comercialização.

A desfolha é um recurso que auxilia na programação do período de colheita, caso seja utilizada de forma indevida poderá ser causadora de alguns problemas posteriores, como queda no tipo do algodão (caso a folha permaneça seca no algodoeiro), perda de peso (caso o algodão seja desfolhado em quantidades superiores ao potencial de colheita), fibras imaturas (desfolha precoce) e folhas verdes devido à rebrota. A condição adequada para a colheita mecanizada é quando o algodão estiver seco e com mais de 90% das maçãs abertas ou completamente formadas.

MANUTENÇÃO DAS MÁQUINAS

Grandes problemas de falhas prematuras e de baixa performance podem ser evitados se as pessoas encarregadas pelo maquinário optassem por fazer o uso correto dos manuais técnicos dos equipamentos. Esses manuais revelam particularidades como especificações de lubrificantes, produtos nocivos à pintura, chapas metálicas ou plásticas, bem como a maneira correta de limpeza e manutenção da eletrônica embarcada, cada vez mais presente nos equipamentos agrícolas. Constam também informações sobre a frenquência das manutenções e consumo de combustíveis e água/detergente para o sistema umidificador, entre várias outras.

Após a manutenção básica diária da máquina, como lubrificação e abastecimento, começa a verificação técnica dos mecanismos operacionais da colhedora de algodão: unidades de colheita (tambores), dutos de saída e tubos de elevação, turbinas de ar, pentes de limpeza e telas do cesto, sistema de descarregamento e proteção contra incêndio. A correta calibração dos pneus vai garantir que a estabilidade da máquina e a altura de colheita nas linhas das extremidades se mantenham, principalmente em máquinas montadas para colher em espaçamentos maiores.

RECOMENDAÇÕES GERAIS DE REGULAGENS

As unidades de uma colhedora de algodão devem ser inclinadas para facilitar a retirada do algodão dos capulhos da parte de baixo da planta. A parte inferior da unidade deve estar a aproximadamente 25mm acima da superficie do solo. A adequadação desta inclinação deve-se ao fato da ocorrência de um ligei-

ro movimento vertical relativo entre a entrada e a saída das plantas colhidas. Esta inclinação faz com que se tenham alinhamentos diferentes dos eixos dos fusos dos tambores dianteiro e traseiros, fazendo com que entre em contato com todas as alturas das plantas, proporcionando maior eficiência na colheita, além de promover um alívio na carga de lixo na parte traseira, reduzindo o acúmulo de folhas e restos vegetais.

O tambor dianteiro deve colher 19mm mais baixo do que o traseiro. De fábrica já vem ajustado nesta medida que é de 584mm de centro a centro do pino. Esta medida deve ser ajustada no campo, principalmente quando colher em solos macios.

PLACAS

Se a lavoura apresenta um estande homogêneo de maturação, a regulagem da pressão das placas compressoras deve ser de forma que retirem o máximo de plumas, sem atacar mecanicamente a planta, pois, sendo assim, esta irá soltar galhos e restos de capulhos, diminuindo a qualidade do produto. Se as placas estiverem com uma

Renildo Mion

Pluma manchada devido à presença de folhas verdes no momento da colheita

pressão muito alta, elas podem derrubar os capulhos ainda com as plumas, aumentando as perdas antes da colheita. Como os rotores dianteiros colhem em média 75% do algodão, um operador prudente regula as placas traseiras sempre um pouco mais apertadas, pois a planta vai chegar mais “magra” aos rotores traseiros.

FOLGA ENTRE PLACA DE PRESSÃO E FUSOS

A folga entre os fusos e as placas de pressão deve ser de 3mm a 6mm. Recomenda-se deixar em torno de 4mm. Caso esse espaço seja menor do que o especificado, os fusos podem tocar nas placas e provocar fagulhas e início de incêndio no algodão em caroço colhido.

Quanto mais pressão a placa dianteira estiver, maior é a eficiênica na retirada da pluma, porém, maior é a presença de galhos e impurezas (casquinhas e folhas) no algodão colhido. Por isso é necessário regular a placa de acordo com as características da variedade, produtividade e altura da cultura, de forma a reduzir as perdas quantitativas e qualitativas do algodão.

John Deere

Ajuste de inclinação das unidades de colheita

DESFIBRADORES

A função dos defibradores é a de remover o algodão em caroço dos fusos, limpando e retirando as plumas presentes neles.

Os desfibradores devem manter uma distância de aproxiamdamente 1mm em relação ao fuso e, quando estiverem desgastados, a coluna deve ser retirada e levada para lixar em uma bancada especial. Quando os desfibradores estão desrregulados ou com desgaste, as plumas de algodão não serão retiradas dos fusos, acarretando encarneiramento, sendo necessá-

Fotos Renildo Mion e John Deere

Regulagem das placas de pressão

Máquinas mais modernas já realizam o enfardamento do produto, que deve ser colhido com teor de umidade ideal Fusos quebrados e desfibradores com desgaste (acima), pluma de algodão não retirada pelos desfibradores (abaixo)

ria a parada da máquina para retirada dos restos que ficam nos fusos.

AJUSTE DE BARRA DE GRADE

Sempre verificar a distância das costelas em relação ao fuso, porque qualquer atrito pode resultar em início de incêndio. Elas podem ser reguladas soltando os parafusos da lateral usando chave 15mm. Os fusos trabalham juntamente com as costelas para executar a limpeza centrífuga, muito parecida com um descaroçador de algodão. Algumas dicas vão ajudar a manter uma boa colheita, como veremos a seguir. As costelas mal espaçadas, danificadas ou soltas podem entrar em contato com os fusos, contribuindo para aumentar o desgaste e provocar incêndios. A falta de costelas deixará de limpar galhos, folhas e outros contaminantes no momento da colheita. Por isso, é necessário inspecionar os suportes e parafusos nas extremidades das costelas quanto ao desgaste e, caso seja necessário, providenciar a substituição.

COLUNA UMIDIFICADORA

O objetivo do sistema de umedecimento do fuso é para fornecer solução de limpeza constantemente sobre os eixos para remover as gomas e resinas de plantas. Essa limpeza ajuda a manter os fusos agressivos e tornar mais fácil a retirada da pluma. A solução remove os resíduos de plantas e de pluma, bem como realiza uma limpeza no fuso. Uma solução de limpeza misturada com a concentração correta é essencial para a função apropriada. É importante seguir algumas recomendações para manter e utilizar o sistema de umidificação corretamente: após ter regulado a altura, ajustar a guia para eliminar a folga entre a guia e o fundo da unidade, evitando assim o enrosco de galhos. Esta consta somente no tambor traseiro. Para ajustar a posição da coluna umidificadora deve-se abrir a coluna e soltar os tuchos. Após mover os mesmos para dentro ou para fora, de modo que a primeira aleta da escova toque no início do colar antipoeira no máximo até o meio do colar, esta deve ser tanto na parte superior quanto na parte inferior.

QUANDO REMOVER AS ESCOVAS?

As escovas devem ser substituídas

quando estiverem com as cerdas rasgadas ou desgastadas. Para uma ótima performance, as mesmas devem estar reguladas corretamente e os orifícios de fluxo da água devem estar desobstruídos. Caso os orifícios estejam obstruídos, causará excesso de água, contribuindo para o acúmulo de poeira e impurezas na pluma, além de elevar a umidade do algodão.

É importante salientar que certas regulagens devem ser conferidas ao longo do dia, em função principalmente das condições dos talhões colhidos. Mudanças de regulagens (fusos-placas ou fusos-barras) podem ser a origem de incêndios das máquinas.

FUSOS

Os fusos são os responsáveis pela retirada da pluma do algodão do capulho, sendo que os fusos da parte inferior do tambor têm maior desgaste que os da parte superior, por estarem mais próximos do solo, ocorre desgaste diferente nas barras, conforme as características de cultivo.

Desgastes dos fusos podem reduzir a eficiência da colheita e caso tenha identificado o desgaste é necessária a substituição imediata do fuso, quando estiver quebrado ou com as farpas arredondadas ou quebradas – 10%; em caso de dúvidas rodar o mesmo na palma da mão, se estiver em boas condições irá penetrar na pele. Em situação onde há desgaste desuniforme, os fusos podem ser intercambiados, frente e trás, superior e inferior.

Horário de colheita e umidade da pluma e sementes de algodão. Adaptado de Mayfield et al. e Willcutt et al. (2010)

UMIDADE NA COLHEITA

O controle adequado e a medição para permitir o controle da umidade do algodão são essenciais para manter e preservar a qualidade da fibra. O comprimento e a resistência das fibras de algodão, bem como outras propriedades, podem ser afetados pela umidade da fibra de algodão. Há diversas formas de medir a umidade do algodão e muitos pontos dentro da cadeia produtiva em que a umidade deve ser medida. As tecnologias foram desenvolvidas para permitir o monitoramento e controle da umidade do algodão no campo durante a colheita, no beneficiamento e no processo de descaroçamento.

A umidade é um importante atributo no comércio do algodão, devido não só ao seu impacto no peso do fardo, mas também aos potenciais impactos na qualidade e no beneficiamento da fibra. A umidade excessivamente elevada pode levar à deterioração da qualidade do algodão e das sementes; no entanto, a baixa umidade do algodão com caroço pode levar à quebra de fibras e a uma redução geral da qualidade durante a colheita e o beneficiamento. As algodoeiras devem controlar a umidade do algodão cuidadosamente para facilitar a limpeza e o descaroçamento, minimizando o dano da fibra. A umidade com valores baixos requer energia excessiva na prensagem dos fardos e a umidade elevada pode levar à deterioração da qualidade da fibra durante o armazenamento, por causa da atividade microbiana. Portanto, o controle de temperatura e umidade é importante durante o processamento das fibras têxteis.

Posicionamento dos fusos entre as barras Exemplos de excesso de água, acúmulo de impurezas nas escovas, escovas com as cerdas danificadas e escovas reguladas de forma errada

Fusos novos e desgastados

O algodão é uma cultura perecível, especialmente durante as etapas de colheita, antes do beneficiamento e após o descaroçamento. O controle adequado da umidade começa durante a colheita. Em áreas onde o algodão é colhido com fusos, pode haver uma tentativa de começar a colher o algodão, enquanto ainda está úmido do orvalho da manhã, pois irá pesar mais. Os agricultores podem ser motivados a aumentar o número de horas de colheita durante o dia. Independentemente do método de colheita, o algodão que é colhido com excesso de umidade corre o risco de perder qualidade durante o armazenamento, além de causar problemas com o equipamento de colheita, aderindo às máquinas e causando a acumulação de bloqueios no interior do equipamento. O algodão colhido com máquina convencional armazenado em módulos é coberto com lonas para minimizar a deterioração da qualidade por causa da chuva ou danos ao módulo devido à ação do vento. Novas colhedoras já produzem fardos cilíndricos e envolvem numa película plástica que pode evitar a entrada de umidade no módulo. Esse mesmo material de embalagem pode evitar que o excesso de umidade deixe o módulo também. Os módulos redondos demonstraram preservar melhor a qualidade do algodão com caroço, permitindo o armazenamento a longo prazo antes do descaroçamento, mas somente quando o algodão for colhido em condições adequadas. Recentemente, houve novos desenvolvimentos para equipar colhedoras de algodão com sensores de umidade, para permitir que os produtores monitorem a umidade do algodão com caroço durante a colheita.

O controle da umidade durante a colheita e o armazenamento de algodão com caroço afetam também o funcionamento eficiente do descaroçador de algodão. À medida que o algodão é alimentado na planta de descaroçamento, ele é submetido à secagem para facilitar a remoção de conteúdo que não são fibras. A umidade excessiva, bem como uma umidade muito variável, faz com que o descaroçamento seja operado de forma ineficiente. Umidade excessiva aumenta os custos de energia, exigindo mais secagem. O aumento do consumo de combustível e dos custos de energia aumenta o custo do descaroçamento do algodão, de modo que, além de potencialmente prejudicar a qualidade da fibra e, assim, reduzir o valor econômico da massa descartada, o custo da produção do descaroçamento é aumentado.

A umidade da fibra do algodão colhido mecanicamente não deve ser superior a 8%, para não ocasionar “encarneiramento”, degradação das fibras, amarelecimento e manchas que podem ocorrer devido aos fungos.

Alterações na cor são causadas por micro-organismos que proliferam com o aumento da temperatura e umidade, sendo que isto pode ocorrer mesmo após a formação dos módulos. O algodão colhido com umidade superior a 16% sofrerá perdas mesmo que descaroçado imediatamente.

O monitoramento de umidade deve ser constante, principalmente no início e no final do dia, ocasiões em que a umidade pode mudar abruptamente, em poucos minutos, principalmente à noite devido à presença de orvalho, fazendo com que a temperatura seja reduzida rapidamente. O monitoramento da umidade do algodão em caroço é essencial e com o aumento do uso dos fardos redondos é necessária uma atenção especial, em função das características da construção deste módulo.

Por ocasião da colheita, é comum as fazendas buscarem a máxima utilização das máquinas disponíveis, a fim de não deixar o algodão com os capulhos abertos expostos às condições do clima.

Porém, é importante levar em consideração o efeito da umidade sobre a qualidade do algodão em caroço, colhido com colhedoras mecânicas. Muitos trabalhos técnicos já apresentaram uma série de considerações sobre a influência da umidade no algodão em caroço em relação ao processo de colheita e à qualidade da fibra. O Gráfico 1, por exemplo, apresenta as condições climáticas do estado do Mato Grosso e a umidade do algodão em caroço nas diferentes horas do dia.

A decisão do início da colheita do algodão depende da análise de fatores que comprometem a qualidade da fibra. A maioria dos produtores agenda a colheita de dez a 14 dias após a aplicação de desfolhantes. A condição do algodão no campo pode afetar a colheita, destacando a umidade que reduz a eficiência da máquina quando o algodão está com umidade acima do recomendado para colher, além de causar danos às fibras.

Renildo Mion, CUR - URMT

Fotos Renildo Mion

Capulhos colhidos com umidade acima da recomendada

This article is from: