Educar aprendendo sempre

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Educar aprendendo sempre Alexandre Ventura Jane PatrĂ­cia Haddad Vasco Moretto Claudio Sassaki

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Alexandre Ventura Jane PatrĂ­cia Haddad Vasco Moretto Claudio Sassaki

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Ficha técnica Autoria

Gerência do Centro de Excelência em Educação Expoente (CEEE) Pré-Impressão Gerência de Produção Capa, Projeto Gráfico, Diagramação e Arte-final Edição

Iconografia Revisão

Alexandre Ventura Jane Patrícia Haddad Vasco Moretto Claudio Sassaki Rosires Gallucci Alexandre Straube Antônio Paulo Both Meiriane Born Zamarian Cláudia Stadler Mikoski Martins Marcelle Iubel Patrícia Hostilio Seila Hiba Suelen Mendes Fortunato Koenig Caroline Rabelo Gomes Lisiane Marcele dos Santos Valéria Graziele Stüber

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da Organização Educacional Expoente Educar aprendendo sempre / Alexandre Ventura... [et al.]. – Curitiba: Expoente, 2016.

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215 p.: il. ISBN 978-85-8159-646-4 1. Educação (Ensino fundamental). 2. Aprendizagem (Ensino fundamental). 3. Motivação na educação. I. Ventura, Alexandre. II. Haddad, Jane Patrícia. III. Moretto, Vasco. IV. Sassaki, Claudio. V. Organização Educacional Expoente. VI. Título. CDD - 370.1523

Este livro está disponível no Portal Escola Interativa. <www.escolainterativa.com.br>

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Sumário

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Capítulo 1

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Capítulo 2

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Capítulo 3

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Capítulo 4

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Referências

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Ser professor na contemporaneidade: desafios da profissão

Geração digital: como o aluno do século XXI aprende

O papel da educação no século XXI: competências e habilidades para lidar com as demandas estratégicas deste século

Educação 3.0: uma proposta pedagógica para a educação

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Professor como protagonista O mundo está mudando, e as pessoas também. A maneira como os indivíduos – especialmente os nativos digitais – relacionam-se com o entorno e seus pares ganhou novas configurações. Nesse contexto, os profissionais de todas as áreas têm aprendido diariamente a lidar com um mundo cada vez mais múltiplo e de transformações rápidas e constantes. Por compreender que nos encontramos em uma sociedade mais dinâmica, durante os próximos dois anos, direcionamos nossa atenção para o professor e as exigências da (re)construção de seu papel e de sua identidade pessoal e profissional diante de um universo em constante mutação. Nos últimos anos, os temas escolhidos guiaram o trabalho do professor com assuntos ligados ao processo de aprendizagem e ao relacionamento com o aluno. Neste biênio,

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o centro é a gestão do ensino, não a gestão da aprendizagem – o foco passa a ser o professor e sua formação. O mote escolhido para este livro é Formação Continuada do Professor. Educar aprendendo sempre significa buscar novos conhecimentos, pensando principalmente na melhoria da prática docente. Este livro auxilia no desenvolvimento do trabalho do professor e reúne textos embasados pela pesquisa e pela prática de profissionais que atuam na área de Educação. São pesquisadores de diferentes especialidades que, partindo de suas experiências didáticas e reflexões teóricas, colocam em pauta assuntos de relevância para a compreensão das novas demandas que refletem diretamente no trabalho do professor em sala de aula. O capítulo de abertura apresenta os desafios da profissão professor e promove uma reflexão crítica sobre práticas de re(construção) permanente da identidade profissional. O professor se reinventa e inova seu fazer docente a todo o momento para acompanhar a dinâmica da sociedade.

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Complementando o quadro inicial, o segundo capítulo descreve e analisa quem é o aluno do século XXI e como ele aprende. Além disso, aborda os desafios do uso da tecnologia em sala de aula e a adaptação dos métodos de ensino aos novos parâmetros de aprendizagem. O terceiro capítulo aborda o elemento que une aluno e professor: a educação. É feita uma análise dos aspectos relativos a competências e habilidades dos professores para sua prática em sala de aula, no intuito de favorecer o desenvolvimento de competências nos alunos por intermédio do professor, como estratégia de ensino e aprendizagem. No capítulo final, há a proposta de um novo começo: Educação 3.0. A reconfiguração da sala de aula e do papel do professor exige um ensino renovado, que valoriza a aprendizagem colaborativa e estimula múltiplas inteligências. Esperamos que os temas sejam levados às salas de aula, estimulem o desenvolvimento do professor e permitam que as inovações tecnológicas acompanhem os alunos em sua trajetória escolar. Compreendemos que o papel da educação no século XXI é desafiador, e as competências e habilidades para lidar com as demandas estratégicas deste século devem acompanhar o ritmo de constantes mudanças do tempo e do espaço social. Esses fatores justificam a formação permanente do

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profissional de educação. Somente o trabalho contínuo possibilita ao docente a aquisição de conhecimentos específicos da profissão e o torna capacitado a atender às novas exigências impostas a cada instante pela sociedade. Dessa maneira, este livro caracteriza-se como uma provocação ao desenvolvimento do trabalho pedagógico em sala de aula e ao trabalho de formação continuada. O contexto de ensino e aprendizagem já vem mostrando os efeitos da era digital, sinalizando, também, o importante papel que as ferramentas de natureza tecnológica vêm desempenhando na definição de novas posturas e modalidades pedagógicas. O professor, acima de tudo, deve estar mobilizado pela sensibilização do olhar crítico e das múltiplas possibilidades de intervenção em sala de aula. Esperamos conduzir o professor em uma releitura crítica de sua prática, considerando todos os condicionantes possíveis de atuação que permitam a melhoria qualitativa dos saberes necessários ao desenvolvimento do trabalho pedagógico.

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Alexandre Ventura Morando atualmente em Brasília, é Professor no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro, em Portugal. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Aveiro e pela Universidade de Brasília, desenvolve atividade profissional na área de educação desde 1986 como docente dos ensinos Fundamental, Médio e Profissional, gestor e inspetor escolar. Realiza pesquisas nos domínios da avaliação institucional, avaliação de desempenho profissional, liderança, formação de professores, assessoria, gestão, ensino diferenciado, inspeção da educação, cursinhos, indisciplina e bullying. Foi pesquisador visitante do Educational Testing Service, em Princeton (EUA), e professor visitante da École Supérieure de L’Éducation Nationale para a formação de inspetores de educação, em Poitiers (França). Proferiu palestras em 12 países. Exerceu os seguintes cargos públicos, em Portugal: Subinspetor-geral da Educação, Presidente do Conselho Científico para a Avaliação de Professores e Vice-Ministro da Educação. É consultor de organizações educacionais, formador de professores e gestores escolares e conferencista internacional em Educação.

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Capítulo 1

Ser professor na contemporaneidade: desafios da profissão

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Numa sociedade completamente racional, os melhores de nós aspirariam a ser professores e o resto de nós teria de se contentar com algo menor, porque passar o conhecimento de uma geração para a próxima é a maior honra e maior responsabilidade que alguém pode ter. Lee Iacocca

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Repensar o papel do professor Jodie Foster, uma das estrelas de Hollywood, que se notabilizou como atriz, diretora e produtora, apesar de ter ascendido ao estrelato muito jovem e de não necessitar de um diploma acadêmico para lhe permitir alcançar bem-estar material, sempre valorizou a educação formal e graduou-se em Literatura pela Universidade de Yale como uma das melhores alunas de sua turma.

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Emma Watson, que obteve sucesso galáctico com sua participação nos filmes da série Harry Potter, também sempre valorizou a educação acadêmica e, apesar de algumas interrupções devido a sua carreira de atriz, graduou-se em Literatura Inglesa pela Universidade de Brown. Shakira, cantora colombiana, com sucesso em escala planetária, famosa pela sua voz exótica e pelas suas curvilíneas apresentações no palco, também valoriza a educação e estuda para obter sua licenciatura em História da Civilização Ocidental pela Universidade da Califórnia. Shaquille O’Neal, uma das lendas vivas da NBA, regressou à escola em 2000 e obteve um diploma em Negócios pela Universidade do Estado da Louisiana. Em 2005, completou um mestrado em Negócios na Universidade de Phoenix e, em 2012, concluiu um doutorado em Educação na Universidade Barry.

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Esses exemplos mostram que, mesmo pessoas de enorme sucesso em suas respectivas áreas profissionais, a quem a educação formal não vem agregar valor em termos materiais, valorizam a escola e os benefícios que ela pode trazer. Em um tempo em que alguns setores sociais tendem a desprestigiar a escola, importa explicitar o papel estruturante e insubstituível que ela desempenha há séculos e equacionar, em uma perspectiva longa e abrangente, o cenário social em que escolas e professores realizam suas ações. Apresenta-se esse pano de fundo, especificamente para perceber em que medida as escolas e os professores necessitam ajustar os papéis que desempenham, para que melhor correspondam às necessidades e às expectativas da sociedade moderna. Em cada geração, a contemporaneidade, apesar de toda a indefinição, assume no imaginário das pessoas uma conotação de sustentabilidade. São-lhe associadas características de estabilidade que permitam defini-la, servindo de cenário à vida contemporânea das sucessivas gerações de seres humanos. Precisamos de referentes que nos ajudem a situarmo-nos no espaço e no tempo. No entanto, vivemos em um mundo em que a mudança impera. Essa é uma condição inerente à vida. Até aí, nada de novo. Já Camões, no século XVI, dizia em seu imortal soneto Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades:

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(...) Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; (...)”

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Vê-se que, já nessa época, o imprevisto marcava a vida dos seres humanos. O que verdadeiramente se modificou foi o ritmo de ocorrência da mudança. Esse ritmo é vertiginoso e deixa uma sensação de fragilidade, impotência e receio sobre o que se espera. Não há tempo para antecipar a mudança e se preparar para ela. O ser humano é confrontado com novidades a todo o momento. No lapso temporal de uma vida humana têm ocorrido inúmeras mudanças surpreendentes. São exemplos disso o automóvel, o avião, a chegada do homem à Lua, o computador, a queda do Muro de Berlim, a internet, a subida do nível das águas do mar, o aumento da expectativa média de vida, a desertificação, os ataques de 11 de Setembro.

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Cada um desses fenômenos gerou ondas sucessivas de impactos sociais, políticos, econômicos, filosóficos, científicos e técnicos que influenciam a vida das pessoas, de maneira mais próxima ou remota durante muitos anos. Para que ao longo da história da humanidade ocorresse tanta trepidação eram necessários séculos. Hoje, basta uma geração para que ocorram mudanças profundas. Nunca a máxima “a vida é dinâmica” se aplicou com tanta propriedade como agora. Um dos aspectos em que a vida mais mudou relaciona-se com a aceleração do movimento de populações. Ocorreram fenômenos de concentração populacional nas áreas urbanas e de crescente complexidade na estrutura das cidades com implicações sociais, urbanísticas, culturais, de mercado de trabalho e de segurança. Ao mesmo tempo, tem sido crescente a desertificação populacional de grandes territórios em muitos países. As pessoas que habitam as áreas rurais são em número cada vez menor e mais idosas.

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Outro fenômeno muito importante é o envelhecimento populacional. A expectativa média de vida aumentou significativamente em virtude dos desenvolvimentos no domínio da medicina e da farmacologia, além da ausência de conflitos bélicos em larga escala e da opção por um estilo de vida mais saudável por parte de um número crescente de pessoas. Em função disso, há um desenvolvimento muito significativo de áreas profissionais e científicas que se destinam a esse segmento cada vez maior da população que, apesar de não se manter na vida ativa em termos profissionais, está muito ativo em outras áreas, como cultural, desportiva, de lazer e educacional. Nunca como hoje o conceito de aprendizagem ao longo da vida foi tão praticado. A educação e a formação são componentes que cada vez mais não se circunscrevem a uma fase da vida das pessoas. Elas são visitadas e revisitadas durante a vida ativa profissional e depois dela. A disponibilização e circulação de informação é outro fenômeno marcante da contemporaneidade e influencia muito o modo de vida, a maneira de ver o mundo e de se relacionar uns com os outros. Desde 1969, quando a internet começou a ser usada, tem ocorrido um desenvolvimento extraordinário das possibilidades de comunicação e de partilha de informação. Esta sociedade virtual ficou virtualmente sem controle, devido ao fato de funcionar como um conjunto de infraestruturas tecnológicas de hardware e de software, que criam um potencial infinito alimentado por organizações e pessoas em todo o mundo. Apesar de ainda existirem milhões de excluídos digitais, por não terem acesso à tecnologia ou por serem iletrados digitais, cada vez mais pessoas têm acesso e utilizam tecnologias de informação e comunicação digital para os mais variados fins: profissional, social e pessoal. Tem ocorrido um movimento crescente de democratização digital em função do desenvolvimento tecnológico e da redução no custo dos provedores de acesso à internet e seus serviços. Atualmente, calcula-se que há 3,2 bilhões de pessoas com acesso à internet.

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Hoje, milhões de pessoas criaram certa dependência de muitos desses elementos de informação e conhecimento. O verdadeiro vício, que gradualmente vai-se desenvolvendo em muitos de nós, causa inúmeros prejuízos. O maior de todos é o gasto desmedido do tempo, o mais precioso e escasso recurso de que dispomos na vida. A dependência afeta o critério de escolha das opções. As escolhas tornam-se menos racionais e eficientes. Perambulamos por páginas, assuntos e redes sociais que não agregam valor ao conhecimento e que deixam uma sensação de frustração e desperdício. Apesar disso, muitos não conseguem sair desse modo de agir irracional e vazio. Isso leva ao desperdício de nossas vidas e a uma menor eficiência de nossas ações. Esse cenário levou Shafir (2011) a considerar que vivemos em uma Idade da Distração, devido à quantidade exponencial de informação com que somos bombardeados nesta barganha por atenção, envolvimento e ação de adesão, apoio, compra e dependência.

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Aproveitando a tecnologia, cada vez mais são feitas perguntas a máquinas que estão acessíveis 24 horas por dia. O Google e outros serviços de busca esclarecem dúvidas de todo o tipo. Essa tendência vai aprofundar-se no futuro em virtude dos desenvolvimentos no âmbito da inteligência artificial. Com dispositivos móveis, como celulares, smartphones, tablets e relógios digitais, tem-se acesso à internet, ouvem-se rádio e músicas, fazem-se pagamentos e outras operações bancárias, enviam-se e-mails, fotos, vídeos e mensagens e mantêm-se conversas com familiares e amigos usando apenas áudio ou enviando imagens. O fenômeno é tão rápido e intenso que muitos já se acostumaram com o fato, mas vale recordar que há apenas 30 anos isso era mera ficção.

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Muitas outras pessoas têm acesso, possuem os equipamentos necessários e dominam minimamente os procedimentos para navegar nos sites de informação. No entanto, não dispõem de suficientes competências de pesquisa de informação que lhes permitam colocar o potencial existente na internet a serviço da resolução de problemas concretos com os quais são confrontadas. Então, acabam por viver uma situação frustrante, visto que dados, informações, conhecimento e até sabedoria estão à distância de um clique, mas elas não conseguem ter acesso a esses benefícios de maneira cirúrgica para atender suas demandas. Não se pode confundir disponibilização de informação com seu efetivo aproveitamento. Frequentemente, quando as pessoas usam uma ferramenta de pesquisa na internet, recebem uma lista interminável de sites para acessar. Com esse resultado, ficam mais perdidas do que antes de iniciar a busca. Isso ocorre porque há uma quantidade enorme de dados e informações na internet, que cresce a cada segundo alimentada por cibernautas em todo o mundo, e resulta também da ausência de delimitação do foco da busca. A competência de pesquisa fina ou avançada de informação, por exemplo, por meio de busca por operadores booleanos, permite encontrar o que pretendemos de maneira muito mais precisa e eficiente. As expressões booleanas são palavras que têm o objetivo de definir para o sistema de busca como deve ser feita a combinação entre os termos ou as expressões de uma pesquisa. Exemplo: as palavras em inglês and, or, not, que significam e, ou, não em português. Com o uso dessa linguagem, é possível delimitar muito mais o campo de pesquisas.

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13 Booleanos A expressão booleano é um neologismo em homenagem a George Boole (1815-1864), matemático inglês, criador da álgebra booleana.

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Charles Duhigg (2016) explora com inteligência o conjunto das ciências da produtividade e designa o resultado desse fenômeno de sobrecarga de dados como “cegueira informacional”. Isso ocorre quando as pessoas são confrontadas com tantas informações que seus cérebros não têm capacidade de processá-las e compará-las para tomar decisões. Em virtude dessa sobrecarga, bloqueiam. Esse é um dos casos em que mais não corresponde a melhor. Por exemplo, se uma pessoa tem de contratar um seguro para seu carro e recebe cinco propostas de diferentes companhias, em princípio, ela tomará uma decisão racional que corresponda à melhor relação custo-benefício. Mas se ela receber 50 propostas, provavelmente entrará em modo de cegueira informacional. Não terá tempo hábil e nem capacidade de processamento das diferentes nuanças dessas propostas que lhe permitam tomar a melhor decisão. Ela tenderá a bloquear e a tomar uma decisão movida pelo instinto, devido ao fato de ser muito difícil processar tanta informação e estabelecer tantas comparações relativas. No fundo, essa é também uma das premissas da Teoria da Avaliação. Independentemente do objeto dessa mesma análise, não é possível saber tudo sobre tudo. Daí que, para avaliar de modo metódico, racional e consequente, tenha-se que delimitar as características do objeto de avaliação, o alvo da análise. O mesmo princípio se aplica à Teoria da Informação. As premissas, os conceitos e os instrumentos dessas teorias são essenciais na profissão docente.

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Paradigmas conservadores e paradigmas inovadores

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Hoje, somos confrontados com um mundo crescentemente complexo, inesperado, economicamente competitivo e conectado em escala global. O mercado de emprego, o ranking das profissões e as competências mais valorizadas pelas organizações que oferecem melhores condições de trabalho, mais estimulantes e de maior sucesso mudam muito rápido. Muitos se queixam de que a escola, na maior parte dos sistemas educacionais do mundo, não consegue acompanhar as tendências de mudança e tem mantido na essencialidade sua configuração e seu modo de agir, desconectando-se dos anseios dos alunos, da sociedade e das necessidades do mercado de trabalho.

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Nesse cenário, tem crescido na sociedade, nos sistemas educacionais e nas escolas a valorização de competências acadêmicas e de um viés de racionalidade truncada. Em um mundo cada vez mais marcado por valores de concorrência, de mercado, de hierarquização de desempenhos pessoais, profissionais, organizacionais e dos próprios países, os alunos são frequentemente induzidos, em casa e na escola, a lógicas, atitudes e comportamentos de competição em detrimento de uma cultura de cooperação. Ao se distanciar do cotidiano, vê-se um panorama de concurso, de corrida permanente, de comparação, de quantificação de desempenhos, de elaboração de rankings, normalmente descontextualizados, de um número cada vez menor de vagas para um número cada vez maior de candidatos.

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Essa ênfase na dimensão cognitiva da formação, que infelizmente muitas vezes não é articulada com um caráter profissionalizante, tem tido como um de seus principais instrumentos a tecnologia das provas em larga escala. Instalou-se mundialmente uma cultura de avaliação, mensuração e inspeção marcada por lógicas quantificadoras, supostamente confiáveis e com rigor científico, que não deixa margem para erros. Alguns autores consideram que se vive em uma sociedade de avaliação ou de auditoria, em que se aumenta a pressão no sentido do escrutínio dos profissionais, das organizações e dos países relativamente a seus desempenhos e resultados. Construiu-se à volta dessa tendência de avaliação em larga escala um conjunto de políticas educacionais, muitas delas aplicadas em escala, e uma verdadeira indústria de elaboração, aplicação e avaliação de provas. Frequentemente, é difícil distinguir entre aquilo que é a utilidade social dessas políticas e dessa indústria na resposta a genuínas necessidades e aquilo que é um discreto processo de autojustificação para sobrevivência e mesmo proliferação de um mercado que movimenta bilhões em todo o mundo, e que, por meio de lobby ou outras iniciativas mais discretas, influenciam políticos, elementos da administração educacional e da gestão escolar.

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Em relação a essa tendência de concentração de competências acadêmicas, pode-se dizer que se verifica uma defasagem entre ela e os encaminhamentos decorrentes das descobertas nas neurociências e na constelação de áreas mais ou menos científicas que se têm dedicado a estudar o bem-estar, a motivação, a produtividade e a felicidade. Essas descobertas apontam para a necessidade de complementarmos a dimensão racional com o desenvolvimento, na escola e na família, de competências sociais e emocionais igualmente indispensáveis para que os alunos se desenvolvam, tenham sucesso e sejam felizes na carreira e na vida em geral. Cada vez mais, as palavras de ordem na formação e educação do ser humano são equilíbrio, harmonia, globalidade e emoção informada pela razão.

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Hoje, fala-se e pesquisa-se muito sobre a aprendizagem socioemocional. Esta inclui atitudes, competências, sentimentos e comportamentos que ajudam os alunos a ter sucesso na escola, na carreira e na vida. Aspectos que vão muito além do currículo prescrito em uma lógica predominante de competência científica e técnica. Competências como perseverança, gestão de emoções, pensamentos e comportamentos em diferentes situações, estratégias de aprendizagem e consciência social são conhecidas na literatura como “soft”, “do século XXI” ou “socioemocionais”. Com isso, cresce a noção de que o aluno que desenvolve essas competências está mais bem preparado para participar nos grupos sociais aos quais pertença, para melhorar a capacidade de relacionamento interpessoal, ter um comportamento mais disciplinado e também melhorar o desempenho acadêmico.

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Na realidade, pode-se dizer que essa corrente de formação e educação mais global olha para o aluno como uma pessoa e um cidadão com potencial e características que ultrapassam em muito a dimensão acadêmica configurada em um currículo que em determinado momento foi escolhido pelo grupo dominante. A família e a escola, como instituições estruturantes da sociedade, têm de evoluir e exercer uma influência mais holística na formação e na educação das crianças e dos alunos. A escola não pode manter seu caráter anacrônico militante. Tem de abandonar o modelo de tecnologia industrial e da Administração Científica do Trabalho que a inspirou no século XIX. Esse modelo de padronização – ensinar a muitos como se fossem um só – não corresponde mais às necessidades da sociedade atual. A consciência dessa necessidade já se converteu em um clássico do debate acadêmico e social sobre o setor educacional e suas articulações com outros setores. Mas parece que estamos diante de uma daquelas situações em que a maioria quer mudanças, mas poucos são aqueles que querem mudar, e ainda menos os que efetivamente mudam.

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Muitas vozes se levantam contra o denominado paradigma conservador na educação. Consideram que a escola prepara os alunos para uma realidade que já não existe. Acham que ela, com a adoção do modelo industrial, mata a criatividade dos alunos e trata-os de maneira indiferenciada, como se fossem números e não pessoas. Nesse paradigma, privilegia-se a memorização, o mimetismo de conceitos e soluções, a estandardização dos processos, a mensuração das aprendizagens por meio de provas em larga escala. Valoriza-se a obediência a rotinas e regras impostas sem negociação ou justificação, por vezes, sem lógica. Setores mais progressistas da sociedade consideram que a escola aborda os alunos de acordo com princípios de desequilíbrio de poder. Os alunos são tradicionalmente tratados em uma perspectiva paternalista, que acaba por reforçar dependências e fragilizar responsabilidades. Prevalece uma cultura de que “os adultos sabem mais e sabem o que é melhor”. Essa cultura dá origem a atitudes e comportamentos de subalternização dos alunos e consequente fragilidade de suas diligências. É necessário dizer que muitas vezes o meio familiar reforça essa cultura. Em resultado disso, há sempre alguém que diz às crianças, aos adolescentes e aos jovens “o que fazer, como fazer e quando fazer”. Paradoxalmente, espera-se depois ter jovens adultos que sejam proativos e participantes em termos sociais e profissionais.

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No paradigma inovador de educação, dá-se a primazia a abordagens humanizadas e diferenciadas. Valoriza-se o ser humano e procura-se planejar, realizar e avaliar a educação a partir da aprendizagem, e não a partir do ensino. Interessa menos saber como o professor ensina. Privilegia-se o modo de realização da aprendizagem e abre-se a panóplia de possibilidades de efetiva aprendizagem. Sabe-se que “um tamanho não serve a todos”. A aprendizagem, sobretudo a que corresponde à aquisição sustentada de competências, é algo quase tão diversificada quanto as impressões digitais. Por isso, promove-se ensino o mais diferenciado possível em função das características do aluno, seu histórico de aprendizagem, seu ritmo, suas preferências, enfim, os modos que mais propiciam que ele desenvolva seu potencial. O objetivo é, em cada aula, oportunizar aprendizagens aos alunos, lidando da forma mais natural com a diversidade de modos, ritmos e percursos. Olhando para essa diversidade como uma alavanca de aprendizagem e não como um obstáculo. Aposta-se em um empoderamento de alunos em uma lógica de vivência democrática que lhes dê voz na gestão da escola e cultive suas dimensões de responsabilidade cidadã, de protagonismo político e de empreendedorismo pessoal e profissional. A escola tem de ser o local por excelência de desenvolvimento do protagonismo. Isso exige dar voz aos alunos e tratá-los genuinamente como parceiros de aprendizagem e de gestão na escola. Essa é a melhor maneira de desenvolver a autonomia dos alunos e de eles entenderem que a melhor forma de aprender é aquela que é construída pelo sujeito aprendente, como o escultor que esculpe uma figura que interpreta e reinterpreta o real. Na literatura científica, esse tipo de abordagem humanizada de ensino e aprendizagem designa-se ensino diferenciado – differentiated instruction, em inglês. O ensino diferenciado é uma abordagem educativa, segundo a qual os professores adaptam sua instrução em função das caraterísticas dos alunos no que se refere aos níveis de preparação, interesses, motivação, perfis e ritmos de aprendizagem. O foco de atuação do professor está do lado da aprendizagem, construindo e aplicando as estratégias, táticas e operacionalizações do ensino. O professor customiza sua ação de acordo com as caraterísticas e necessidades dos alunos.

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A diferenciação do ensino deve ser uma estratégia e uma prática da qual todos na escola comunguem e que se entreajudem para fazer acontecer. A articulação e a partilha são indispensáveis para que se obtenha sucesso nesse domínio. Pretende-se que o professor exerça sua atividade como um catalisador das competências de cada um dos seus alunos, e que partilhe com os outros professores seus sucessos e obstáculos com que se confrontou. Nessa perspectiva, os professores reconhecem que cada aluno é único e que merece cuidados diferentes e adaptações de aprendizagem para atender as necessidades, interesses, habilidades e atitudes dele. O ensino diferenciado é equitativo, visto que possibilita a todos os alunos o desenvolvimento do potencial de aprendizagem, independentemente de serem dotados de alta habilidade, estarem na média ou terem dificuldades de aprendizagem. Além disso, por via do ensino diferenciado, os professores têm a oportunidade de ampliar o conhecimento sobre como a aprendizagem se realiza de modo mais eficaz, eficiente e significativo. Ao investir no ensino diferenciado, o professor trabalha seus modelos mentais para os tornar, pela prática, mais flexíveis e para mudar o foco de seu paradigma de atuação do ensino para a aprendizagem. Mas, para que essa mudança de paradigma aconteça verdadeiramente em uma escala significativa, é necessário introduzir essa filosofia de atuação e os modos de operacionalizá-la por meio das didáticas específicas de cada área disciplinar na formação inicial e continuada de professores. Quem tiver todo um histórico, como aluno e como professor, de práticas, exemplos e modelos de ensino indiferenciado, terá muita dificuldade em adotar estratégias, táticas e ações concretas diversificadas em sala de aula. Na realidade, é muito mais fácil ensinar a todos como se fossem um só. Por isso, a tendência é para que se sucumba à tentação da estandardização de procedimentos, soluções, registros comunicacionais, métodos e materiais. A única solução é ajudar os professores a verem que é possível concretizar, mostrando-lhes bons exemplos nesse domínio, permitindo-lhes partilharem ideias, planejamentos da ação educacional e materiais. Ver o que outros profissionais, em circunstâncias semelhantes, fazem e como conseguem fazer é o incentivo mais poderoso à prática do ensino diferenciado.

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A importância da formação continuada A formação continuada dos professores deveria ser um processo de desenvolvimento ou aprimoramento de competências que não tivessem sido objeto de trabalho na formação inicial de professores. Em uma lógica de aprendizagem ao longo da vida, a formação continuada serviria para suprir necessidades ou preencher lacunas que não foram identificadas na fase de formação inicial. É impossível citar formação continuada de professores sem falar antes da formação inicial e sem entender suas características e limitações. Em muitos países, o que acontece é que a formação continuada de professores tenta remediar evidentes lacunas na formação inicial de professores. Em vez de capacitar competentemente os professores na fase de formação inicial, passam-se décadas tentando suprir, por via da formação continuada, as falhas daquela formação. Muitas vezes, depois de reiteradamente diagnosticadas as debilidades, continua a não se rever a formação inicial para melhorá-la. Frequentemente, continuam a fazer as mesmas coisas, esperando resultados diferentes.

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No caso do Brasil, para entender a formação continuada de professores, tem-se de assumir uma perspectiva longitudinal que considere o contexto social, as políticas educacionais e, de modo especial, a formação inicial de professores. De acordo com o Censo Escolar de 2012, dos 2.101.408 docentes que atuavam na educação básica do Brasil, 22% não tinham formação adequada. Segundo o movimento Todos pela Educação, 25,2% dos docentes atuando na educação básica em 2013 não tinham curso superior. Segundo o mesmo movimento, também em 2013, só 48,3% dos docentes do Ensino Médio apresentavam licenciatura na área em que atuavam. A meta 16 do Plano Nacional de Educação (PNE) determina: “garantir a todos os profissionais da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino”. No entanto, não aponta especificações sobre a operacionalização de tal intenção e nem prazos para atingi-la. Entretanto, esgotou o prazo para apresentação por parte do governo de uma política nacional de formação de professores e apenas têm sido tomadas algumas medidas avulsas, cujo alcance não se vislumbra melhora na situação. Muito pelo contrário.

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E isso é muito preocupante, porque grande parte dos problemas do sistema educacional brasileiro advém de problemas de planejamento e de funcionamento da formação de professores. Nessa perspectiva, sem esgotar o assunto, identificam-se seguidamente três problemas fundamentais na formação continuada de professores: o fato de, em grande medida, ser uma ação paliativa quanto ao que não funciona adequadamente na formação inicial de professores; o fato de, frequentemente, não se coadunar com as efetivas necessidades de formação de professores que estão no desempenho de suas funções; o fato de haver pouco monitoramento e avaliação do impacto nas práticas docentes decorrentes da participação dos professores em ações de formação continuada.

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Um estudo do The New Teacher Project, publicado em 2015, concluiu que nos EUA os distritos gastam em média 18 mil dólares por ano com cada professor em formação continuada, mas a maior parte desses programas não consegue produzir mudanças na efetividade dos professores que seja detectável nas classificações obtidas pelos alunos nas provas. O mesmo estudo aponta que os professores americanos gastam cerca de 10% do tempo do ano escolar em atividades de formação continuada e só metade dos professores inquiridos considerou que essa formação estava em sintonia com suas necessidades de desenvolvimento profissional ou seu contexto laboral.

Identidade pessoal e profissional

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Um dos grandes problemas dos professores é a enorme quantidade de profissionais. No Brasil, existem cerca de 2,3 milhões de professores da educação básica. Proporcionalmente, semelhante ao que acontece em outros países, os professores são o maior grupo profissional do funcionalismo público. Essa dimensão constitui, ao mesmo tempo, sua força e sua fraqueza. Força, porque são sempre muitos votantes potenciais. Portanto, seu peso político e de negociação, por meio das organizações sindicais que os representam, é sempre muito grande. Podem efetivamente fazer diferença nas eleições. Além disso, pelas funções que desempenham, são formadores de opinião junto de seus alunos e de muitas famílias. Já a fraqueza é porque qualquer subida de seu estatuto remuneratório tem um impacto muito significativo no orçamento do Estado. Assim como o elevado número de professores banaliza a profissão e provoca erosão em seu estatuto social.

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De acordo com o Observatório do PNE, em 2014, 76,2% dos professores brasileiros tinham Ensino Superior completo. Essa falta de certificação prejudica o desempenho profissional e fragiliza a credibilidade junto aos alunos, às respectivas famílias e à sociedade em geral. Claro que isso afeta também a imagem social dos professores como grupo profissional.

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Mas essas questões não colocam desafios apenas na imagem externa dos profissionais docentes e de sua capacidade de negociação. Também em relação à grande proporção, esse grupo profissional apresenta dificuldades. Pela dimensão, pela história da profissão, pela cultura prevalecente e pelas estruturas de funcionamento formais e informais, há uma tendência dos professores para ações individualizadas. Prevalece uma cultura de isolamento, de os professores se relacionarem predominantemente com suas turmas, com seus colegas de especialidade e com alguns outros colegas de profissão por afinidades pessoais.

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Desafios da educação contemporânea Queremos educar para quê? A inércia do funcionamento de muitas instituições e organizações as levou, por vezes, a não questionarem os resultados e os impactos de suas ações. É o que acontece frequentemente com a escola: ela se torna um fim em si mesma, em vez de ser um instrumento a serviço dos alunos, das respectivas famílias, do mercado de trabalho e da sociedade em geral. Há um conjunto de pressupostos que levam a uma grande concentração em infraestruturas, recursos humanos, currículos, financiamentos de livros, computadores e outros materiais; outro conjunto de pressupostos que concentram a atenção nos resultados, normalmente apenas os acadêmicos e somativos. Entretanto, os alunos ficam esquecidos ou relegados a um plano secundário.

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Por outro lado, há uma polêmica que se arrasta há décadas sobre o papel atribuído à escola como instituição a serviço da sociedade, especialmente seu setor produtivo, ou um funcionamento da escola como uma instituição independente, em termos de suas atribuições e responsabilidades, do resto do tecido social. Claro que o predomínio da orientação das políticas educacionais, principalmente dos currículos e dos financiamentos, para uma ou outra das tendências referidas, faz uma grande diferença em termos dos objetivos da educação e da forma como se delineiam os percursos de ensino em termos formais e substantivos. Essa realidade suscita a questão fundamental do papel da educação na sociedade: educar para quê? Qual é o objetivo do trabalho desenvolvido pelos profissionais da educação nas escolas junto aos alunos? Que perfil de alunos melhor atende às necessidades da estrutura produtiva? A formação deve ter uma configuração generalista ou especialista? Quais são as formações que incrementam a probabilidade de os alunos virem a obter um emprego compatível com suas expectativas e competências? Representantes do setor produtivo devem ser envolvidos no debate e nas decisões sobre a configuração dos

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currículos escolares? A educação deve ter uma perspectiva mais humanista e acadêmica ou deve apresentar um caráter profissionalizante? O currículo deve ter mais disciplinas, atribuindo menos tempo e profundidade a cada uma delas ou concentrar-se apenas naquelas que sejam consideradas estruturantes e constitutivas da “gramática” de acesso à multiplicidade do conhecimento, em uma lógica de aprendizagem ao longo da vida? Essas são questões fundamentais para atribuir à educação um papel estruturante no funcionamento da sociedade. Não fazer reiteradamente esse debate ou esboçar simulacros de sua realização contribui para arrastar paulatinamente a escola para a irrelevância. No mundo da educação, há demasiados aspectos fundamentais que são geridos em função de um senso comum não questionado, em vez de serem administrados em uma perspectiva científica baseada em dados e informações recolhidos criteriosamente na escola e na sociedade.

A sociedade espera qual indivíduo?

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Os perfis de cidadão ou de profissional que a sociedade valoriza são marcados pelas tendências de cada época e pela história, pela cultura, pela política, pela demografia, pelo capital humano e pela economia de cada região e pelo país. Nesse sentido, aquilo que a sociedade espera do indivíduo é sempre datado, circunstancial e transitório, ou seja, nunca é uniforme. A sociedade é um contexto abstrato que, na realidade, corresponde a uma colcha de retalhos caracterizada por conflitos de interesses, barganhas por recursos e representatividade de variados grupos sociais, políticos, econômicos, religiosos, filosóficos etc.

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Quando se entende toda essa complexidade, conflito e incongruência, tem-se a noção de que, quando se fala do que a sociedade quer, está-se fazendo na verdade uma simplificação grosseira de uma realidade enredada, descontínua e paradoxal. Na prática, o que acontece é que o que a sociedade quer resulta da imposição, mais ou menos assumida, do que o grupo dominante considera mais relevante ou vantajoso para fortalecer sua posição. A famosa “sociedade”, referida com tanta frequência como se fosse algo uniforme e coerente, é uma aglutinação das mais variadas correntes de opinião, ideologias, interesses e estratégias. Em uma democracia, o grupo dominante faz prevalecer suas opções para a condução dos destinos da nação, por meio de processos de tomada de decisão com mais ou menos diálogo social, que varia em função do equilíbrio de forças no tabuleiro político. São essas decisões que configuram o perfil desejável do indivíduo, no caso, o perfil do aluno, que é tarefa da escola ajudar a construir.

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Teletrabalho Forma de trabalho exercida a distância de forma autônoma, utilizando ferramentas telecomunicacionais e de informação que asseguram um contato direto entre o teletrabalhador e o empregador.

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Uma das tendências que se configura, e que será reforçada, aponta para uma fragilização dos vínculos laborais. O mercado de trabalho sofre muitas alterações. O emprego para toda a vida tende a diminuir substancialmente. O mercado de trabalho está se flexibilizando cada vez mais, e quanto mais aumentar o fenômeno do desemprego, maior será a pressão para tornar admissões e demissões mais ágeis e flexíveis. Por outro lado, as próprias profissões e respectivos conteúdos funcionais estão em dinâmica mais acelerada relativamente a seus quesitos, suas estruturas e seu funcionamento. O trabalho em tempo parcial, o duplo e o triplo emprego, o teletrabalho e o trabalho a partir de casa serão cada vez mais uma realidade. Há também tendência para mais pessoas criarem seus próprios empregos e suas microempresas, trabalhando em um formato mais sustentável ou em regime de freelancer.

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Claramente, a tendência é para vínculos laborais mais tênues, menos sustentados e para o pluriemprego. Tudo aponta para que o Estado social venha a encolher cada vez mais nas sociedades do futuro e se circunscreva a pessoas que efetivamente não tenham meios para assegurar sua subsistência.

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Globalmente, a tendência é para o crescimento da responsabilização do indivíduo de prover suas necessidades em termos de emprego, educação, saúde e aposentadoria. Isso exige um posicionamento muito diferente por parte dos cidadãos, já que não podem esperar que o Estado assegure essas dimensões estruturantes da vida. Tem de ser o indivíduo a negociar, junto às empresas privadas, a satisfação de suas necessidades nesses domínios. Observe o que se passa cada vez mais com o crescimento da oferta privada de ensino, com o crescimento dos cursinhos e o reforço escolar, com a enorme expansão dos planos de saúde, as contas poupança para a aposentadoria. Ora, esse contexto desafiador vai exigir um perfil de cidadão mais precavido, estratégico e empreendedor, que seja capaz de prover suas necessidades e de sua família. A escola tem uma responsabilidade especial no sentido de fazer o trabalho de preparação para essa realidade. Só uma escola empoderadora, responsabilizadora, pragmática e esclarecedora pode fazer esse trabalho de forma competente. Nas culturas latinas, mais superprotetoras quanto à família, esse trabalho de preparação para uma realidade crescentemente hostil é ainda mais necessário. Por exemplo, em várias culturas europeias, existe o hábito de os jovens irem morar longe da casa dos pais depois dos 18 anos.

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Que professor queremos ser? Os professores são padrões de referência para milhões de alunos em todo o mundo. Seus exemplos de conduta, aliados a seus discursos, são orientação e inspiração para os alunos. Quanto melhores forem esses exemplos, maior será a possibilidade de os professores fazerem efetivamente diferença nas vidas das sucessivas gerações de seus alunos. Há uma dimensão profunda de humanidade na figura do professor. Suas competências científica, pedagógica, didática, comunicacional e de gestão comportamental são fundamentais, mas têm de estar alicerçadas na qualidade humana, principalmente no respeito e no cuidado com os outros. Assim, pode-se dizer que o bom professor é também uma boa pessoa. São duas faces da mesma moeda e têm de ser cumulativas.

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O maior desafio de ser professor é fazer diferença na vida dos alunos e agregar valor a seu potencial de progresso. É também oportunizar aos que querem aprender, e também aos menos motivados para isso, situações de aprendizagem e de empoderamento que os responsabilizem por seu percurso de desenvolvimento como pessoas, cidadãos e profissionais. Escrever isso é mais fácil do que conseguir efetivamente fazê-lo.

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A propósito do papel dos professores, Nietzsche (2001) afirmou que há três tarefas para as quais são necessários os educadores: é preciso que os alunos aprendam a pensar, falar e escrever para, em função disso, aprenderem a ver e educar seu espírito, controlando os impulsos e os instintos. Segundo ele, são os educadores que têm a responsabilidade de desenvolver nos alunos essas competências de aperfeiçoamento da humanidade na dimensão espiritual e da expulsão do caráter animalesco dos seres humanos. Nessa perspectiva, o professor assume o papel de agente de desenvolvimento do ser humano, que é o aluno em sua capacidade de ler e lidar com o real, e como adjuvante da construção do ser pensante e autocontrolado diante de seus impulsos irracionais. Assim, compreende-se que a profissão de docente apresenta características de grande complexidade e exige o domínio de uma multiplicidade de conhecimentos, competências e sensibilidades para ser exercida com credibilidade. Essa diversidade pode se comparar a um coquetel cujos ingredientes conhecemos, mas desconhecemos as porcentagens de cada um deles para que haja equilíbrio no paladar e no aroma. Para que o professor desenvolva um ensino que promova aprendizagens significativas de seus alunos, ele precisa dominar os segredos da profissão. Esse desenvolvimento de expertise só é possível com sólida formação, motivação, persistência, experiência, reflexão, autoformação e partilha com colegas de profissão. Ele deve mobilizar competências e conhecimentos específicos de sua área de intervenção, e de outras áreas, para resolver situações do cotidiano em seu exercício profissional.

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O professor tem de ser conhecedor profundo de sua área científica de docência. Ninguém pode ensinar o que desconhece. Se for, por exemplo, professor de Matemática, tem de conhecer profundamente essa ciência e de se manter atualizado em face das descobertas e dos debates entre os profissionais dessa área, tanto no âmbito da pesquisa sobre Matemática como na área dos que ensinam essa ciência.

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Além disso, o professor tem de dominar um conjunto de técnicas que facilite a preparação das aulas, a autoformação, a interação com os alunos, o desencadear de tarefas de aprendizagem, a elaboração e aplicação de instrumentos de monitoramento e a avaliação do trabalho desenvolvido pelos alunos. Esse manancial de técnicas faz parte do saber da profissão docente que a torna única.

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Uma das características que atribui um caráter irrepetível à profissão de docente e que define o ensino como uma área de expertise com contornos próprios é a Pedagogia. Essa é uma área multifacetada e que recebe contribuições de várias ciências, como História, Medicina, Comunicação, Psicologia, Sociologia, Antropologia, Filosofia, Gestão etc. Pode-se considerar que a Pedagogia é uma espécie de enquadrador teórico, estratégico e procedimental do ensinar e do aprender. Uma das disciplinas albergadas pelo manto da Pedagogia é a Didática, que corresponde a um conjunto de técnicas e modos de operacionalização propiciadores de melhores aprendizagens. A Didática tem uma perspectiva muito “chão de fábrica”, sobretudo as didáticas específicas de cada disciplina ou área disciplinar, e construiu-se a partir de experiências concretas na realidade de sala de aula mais propensas a permitir bons resultados de aprendizagem. Na escola tradicional, as didáticas eram inquestionáveis e funcionavam como uma espécie de liturgia monolítica. Atualmente, as correntes que tentam resgatar a didática do esquecimento a que foi submetida nas duas últimas décadas têm uma perspectiva muito mais plural e que aposta na partilha e na polinização de boas práticas dos docentes e dos alunos, trabalhando em conjunto para atingir objetivos comuns.

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Atualmente, as tendências apontam para alguns traços importantes dos perfis dos professores, que podem tornar a ação deles mais credível, competente e motivadora, para melhorar seus níveis de autoestima e realização pessoal e profissional. Elencam-se em seguida e analisam-se sucintamente algumas dessas características, sem a pretensão de exaurir o assunto. Respeito próprio: nas instruções de segurança dos comissários de bordo, antes de iniciar os voos, recomenda-se que, em caso de emergência com a despressurização do avião, os passageiros devem, antes de prestar assistência a outros, assegurar-se de que colocaram as respectivas máscaras de oxigênio. Os professores precisam adotar a mesma postura no exercício profissional. Devem, antes de tudo, respeitar-se como pessoa e cuidar de sua segurança, seu bem-estar, sua autoimagem, sua realização profissional e sua felicidade. Professores que cuidam de si, equilibrados e zelosos com sua satisfação, refletem isso na relação com seus colegas, no trabalho de promoção das aprendizagens e apresentam um modelo desejável de conduta a seus alunos. Cosmovisão: ter uma visão de mundo baseada em relações humanas pautadas no respeito pelo outro, especialmente pelo aluno. Ter a capacidade de partilhar com o aluno essa humanidade e esse espírito atento ao que nos rodeia baseado no respeito pelo diverso. Essa característica implica um humanismo coletivo e altruísta, vivenciado nas práticas e nos discursos do professor que possam servir de referência para seus alunos. O professor com cosmovisão e competência para cativar alunos para essa perspectiva abre-lhes probabilidades cosmopolitas e de interesse e respeito pela diversidade.

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Ética: pautar sua atuação por princípios éticos de respeito pelos outros, de capacidade para se colocar no lugar dos outros e de tratá-los como gostaria de ser tratado. O desenvolvimento dessa competência infraestrutural de relacionamento com os outros pode beneficiar imensamente a formação dos alunos como pessoas, profissionais e cidadãos. Será também uma forma de lhes transmitir sentimentos de responsabilidade social.

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Inspiração: o professor tem de se assumir, por meio de seu discurso e sua prática, um modelo inspirador para seus alunos. A atitude e o comportamento do professor é fonte de inspiração para as boas práticas dos alunos. Nesse âmbito, muito mais do que o discurso, interessa o que o professor faz e o modo como faz. A autenticidade da ação do professor é o modo mais promissor para exercer influência benéfica na construção da personalidade dos alunos.

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Dar voz aos alunos: o ideal é que o professor transfira o máximo possível do epicentro da comunicação para os alunos. Quanto mais os alunos forem responsáveis pelas verbalizações, por fazer perguntas, dar respostas, equacionar hipóteses e apresentar soluções, mais aumenta sua eficácia comunicativa e seu sentido de responsabilidade relativamente à condução de seus percursos de aprendizagem. O papel do professor passa muito mais por desencadear as situações comunicacionais e de trabalho, por alimentá-las, ajudar a manter o foco e a contornar alguns obstáculos. Para isso, o professor adota uma postura de suporte, monitoramento e avaliação, intervindo apenas quando os alunos não conseguem prosseguir pelos próprios meios. Atualização: o professor tem de estar ciente, e agir em função disso, de que sua profissão exige permanente atualização e predisposição para efetivamente estar atento e aprender. Precisa conhecer a realidade que o rodeia no contexto de trabalho e assumir um posicionamento de cidadão do mundo. Não pode correr o risco de uma fossilização como profissional e como cidadão. Se não estiver atualizado, é desvalorizado pelos alunos e não pode contribuir substancialmente para a formação deles. A desatualização do professor é o princípio do desamor pela profissão. Por isso, o professor tem de se atualizar em sua área científica, na Pedagogia, na Didática, na Tecnologia, sobretudo na qual tem potencial de aplicação com fins educacionais.

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Leitura: a leitura é a porta que abre para a diversidade, a complexidade e as maravilhas do mundo. Na escola, a leitura é instrumento do sucesso educativo dos alunos e fator de promoção do capital cultural da comunidade educativa. A leitura desempenha um papel estratégico de acesso ao conhecimento e de adoção de uma perspectiva narrativa da vida. Ela proporciona uma lógica de articulação, de concatenação de fatos e acontecimentos, além de desenvolver a imaginação e a criatividade. Quem não lê fecha a janela de acesso ao conhecimento. Os professores têm de se colocar como indutores, junto aos alunos, de hábitos sustentados de leitura. Para isso, terão eles mesmos de ser leitores e instilar nos alunos a paixão pela leitura ao longo da vida. Precisam contribuir para a conquista dos alunos na leitura, ou para alimentar esse gosto, sem nunca impor gêneros, estilos ou preferências. As ditaduras dos gostos devem ser excluídas das escolas. Elas apenas formam seres submissos com pensamento próprio limitado. Paradoxalmente, há escolas onde, além de não se incentivar a leitura, restringe-se o acesso dos alunos aos livros da biblioteca, por motivos que em nada se relacionam com o benefício desses estudantes. Sabendo que essa competência e o gosto pela leitura são fundamentais para professores e alunos para o acesso a todo o tipo de conhecimento, é preocupante saber que há um deficit de leitura tão significativo na população brasileira e, de modo particular, nos professores. Na recente pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, encomendada pelo Instituto Pró-Livro e divulgada em 2016, para 67% da população, não houve uma única pessoa que incentivasse a leitura em sua trajetória, mas dentre os 33% que tiveram alguém que os influenciasse, para apenas 7% dos respondentes foi o professor a incentivar hábitos de leitura. Isso não deve acontecer. Depois dos pais, os professores têm a responsabilidade ética, profissional e de cidadania de incutir hábitos de leitura nos alunos, pois essa é a principal ferramenta de acesso ao conhecimento e de sustentabilidade de aprendizagem ao longo da vida.

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Assumir riscos: sem assumir riscos não há evolução, descoberta ou invenção. A história da Ciência descreve inúmeros casos em que as invenções tiveram origem na aceitação de riscos. Para que a escola seja oportunidade de desenvolvimento de uma postura inconformista e criativa por parte dos alunos, é necessário que os professores deem o exemplo, assumindo os riscos inerentes a experimentar novas estratégias, usar novos materiais e questionar dados adquiridos como irrefutáveis. Com isso, abrirá caminho a fracassos? Sim, mas o fracasso é a fase intermédia da descoberta e do desenvolvimento. Então, o professor não deve dar a seus alunos exemplos de práticas ultrapassadas, receitas requentadas e posturas defensivas. Deve, por exemplo, alterar seu plano de aula se a turma estiver indo em uma direção melhor ou incentivar os alunos a preparar e desenvolver partes de aulas ou aulas inteiras, ficando o professor apenas como adjuvante dos trabalhos. Nunca deixar de ser aluno: este é um tópico com duplo viés. Por um lado, o professor deve estar em constante processo de construção e aprimoramento de sua personalidade, da informação que domina, das competências de que dispõem e da sabedoria que cultiva e partilha. Por outro lado, ele nunca deve esquecer seus momentos como aluno. Ele precisa manter vivas as memórias de suas dificuldades, suas limitações, seus sucessos, suas motivações e seus modelos de quando era estudante. Com isso, ele aguça a sensibilidade para melhor entender seus alunos e para se relacionar com eles de modo mais proveitoso e gratificante para ambas as partes. Quanto mais fresca for a memória de seus tempos de estudante, mais fácil para o professor criar empatia e calibrar a relação com seus alunos. Frequentemente, os professores são intolerantes a atitudes perfeitamente naturais em crianças ou adolescentes. E isso acontece porque veem essas atitudes com olhar de adultos. É mais vantajoso e equilibrado que mesclem o olhar do adulto com o olhar da criança que já foram. A sala de aula é o cenário perfeito para o exercício da democracia.

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Apostar na felicidade dos alunos: o professor tem uma pluralidade de incumbências sociais e institucionais – umas explícitas, outras implícitas e algumas delas contraditórias. Espera-se que ele ensine, eduque, motive, socialize, sensibilize, discipline, prepare para as etapas acadêmicas subsequentes e para o mercado de trabalho e que garanta a obtenção dos melhores resultados possíveis nas provas em larga escala. Mas o professor deve procurar fazer tudo o que está a seu alcance para fundamentalmente contribuir para que seus alunos sejam felizes, e para que essa felicidade se manifeste no presente da vida escolar e adulta. A felicidade é fundamentalmente um processo pessoal de construção de equilíbrios que cada ser humano procura fazer. Mas o professor pode ter uma grande influência ao criar um ambiente de aprendizagem que alimente a autoestima, a autoconfiança, a criatividade e o empreendedorismo. Um ambiente em que o aluno sinta que o professor faz tudo o que pode para lhe proporcionar as melhores condições possíveis de desenvolvimento de sua personalidade e seu potencial multifacetado de aprendizagem.

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Garra: o exercício da docência expõe seus profissionais a elevado desgaste. Por isso, é necessário que, ao escolher a profissão docente, tenha-se no início e saiba cultivar ao longo da carreira grande perseverança. Para resistir aos obstáculos, frustrações e inerente desgaste é necessário apostar em um desenvolvimento da resiliência. Isso só se consegue se houver consciência profissional profunda, estratégia sustentada para lidar com os inconvenientes, as práticas de partilha e de transparência relativamente às dificuldades. Os professores têm de se habituar a partilhar problemas com os colegas, sobretudo com a coordenação pedagógica, no sentido de resolvê-los e de naturalizar um espírito de abertura e construção conjunta que ajude a manter a garra e o brilho nos olhos, que é o maior incentivador da motivação do professor e dos alunos.

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Por que continuar aprendendo sempre?

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Um dos mantras da educação, da cidadania e do exercício profissional nas mais variadas áreas é a atitude e as ações de aprendizagem ao longo da vida. Em virtude da dinâmica em todas as áreas da vida humana, defende-se que todos têm de aprender, adaptar-se, reconverter-se, redescobrir, reformular, mudar, ajustar-se, em função de necessidades e intencionalidades. A palavra de ordem é flexibilização. As estruturas têm se tornado menos importantes porque são cada vez mais transitórias. Impera a lei do descartável, do fugaz, do substituível e do temporário. O sucesso extraordinário de uma música dura duas semanas, o último modelo de smartphone dura seis meses até ser substituído, o namoro é efêmero e descompromissado, o carro precisa ser substituído ao fim de dois anos, o emprego é temporário, o escritor idolatrado hoje é relegado para o fundo das prateleiras amanhã e o político que encanta em um ano é rejeitado logo a seguir. Essa dinâmica exige das pessoas e das instituições uma atitude e um posicionamento de disponibilidade e vontade de aprender, de atualizar conhecimentos e procedimentos, de adquirir e aprofundar competências. Essa capacidade de atualização em face das dinâmicas sociais, tecnológicas e do mercado de trabalho é muito importante para o potencial de empregabilidade e a satisfação profissional e pessoal.

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Na escola tradicional, cabia ao professor a tarefa de ensinar os alunos. Adotava-se uma postura paternalista/maternalista relativamente à responsabilidade pela aprendizagem. A filosofia de atuação colocava a tônica em uma lógica do topo para a base. Paradoxalmente, se o aluno não aprendia, a culpa era dele. Isso acontecia por ele não estudar ou por ser inapto para a aprendizagem devido a algum deficit cognitivo. Na sociedade contemporânea, temos uma situação paradoxal. Por um lado, as escolas e os professores são crescentemente responsabilizados pelos resultados acadêmicos dos alunos obtidos em provas em larga escala. O conceito de prestação de contas e o mercado educacional são crescentemente determinantes e, a partir da esfera privada, contagiam cada vez mais o território da escola pública. Por outro lado, exponencialmente, verifica-se uma mudança da responsabilidade pela aprendizagem do Estado, da escola e do professor para as famílias e os alunos. De maneira mais ostensiva ou discreta, cresce o financiamento da educação por parte das famílias. Em muitos países, o Estado está, de modo mais abrupto ou gradual, diminuindo os financiamentos para o setor da educação. Esse fenômeno tem levado a um crescimento da oferta privada, em uma lógica de mercado cada vez mais empresarial e crescentemente concentrada em grandes grupos econômicos transnacionais. Além disso, as famílias, confrontadas com um mercado de trabalho mais competitivo, mobilizam mais recursos que robusteçam as possibilidades de sucesso dos filhos na fase acadêmica e, posteriormente, nas fases profissionais e sociais de suas vidas.

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Confrontados com esse cenário concorrencial, muitos alunos, sobretudo os que são oriundos de camadas mais elevadas da população, sentem o peso da pressão para os resultados como passaportes para o sucesso. Assim, convocam fatores que possam aumentar possibilidades de atingir seus objetivos. Aproveitam o que a escola, pública ou privada, proporciona-lhes e correm atrás de fatores externos que possam reforçar suas chances. É assim que crescem em todo o mundo o reforço escolar, as aulas particulares e os cursinhos com foco supletivo ou autônomo da ação das escolas formais.

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Nesse cenário, aprender a aprender e estar sempre aprendendo constituem competências fundamentais para os alunos contemporâneos. Apesar dos discursos no cenário moderno, é o aluno que tem a responsabilidade de aprender, de configurar seu percurso de aprendizagem e de persistir com estratégia e disciplina. Claro que essa nova postura fica imensamente facilitada pela enorme quantidade de recursos que os alunos têm atualmente a sua disposição, muitos deles de maneira totalmente gratuita. Nunca, ao longo da história da humanidade, foi tão fácil aprender para quem quer efetivamente fazê-lo. Mas se a escola for espaço de socialização para a submissão intelectual e o mimetismo, onde os alunos sejam habituados a que alguém lhes diga o que fazer, como fazer e quando fazer, estes tenderão a manifestar o mesmo tipo de indolência e falta de responsabilidade na vida adulta.

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Essa mudança do epicentro da responsabilidade pela aprendizagem de Estado, escolas e professores para as famílias e os alunos vem agregar complexidades e contradições. Exige um repensar das funções do Estado e uma nova maneira de olhar para a escola. De maneira clara, fragiliza o papel da escola como a instituição de promoção do saber e obriga-nos a repensar a função dos professores na escola. Decorrente de uma tendência para aplicação de políticas neoliberais, verifica-se uma diminuição da responsabilidade pelo ato de aprender. Essa responsabilidade se dissipa da dimensão estatal e institucional para o sujeito aprendente. É o aluno que tem de desenvolver suas competências de estudo, autonomia e capacidade decisória. Como se estivesse em um restaurante à la carte, compete ao aluno analisar as múltiplas e dinâmicas opções que lhe apresentam, muitas delas de maneira cada vez mais agressiva e marqueteira. Ele deve tentar antecipar a evolução do mercado de trabalho, definir uma estratégia que concilie suas intencionalidades com a possibilidade de obtenção de emprego e ser disciplinado no prosseguimento da estratégia traçada. Nessa perspectiva, o aluno tem de estar sempre aprendendo, e o professor tem de adotar essa mesma postura para poder ajudar o aluno a aprender e para lhe dar o exemplo.

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Ser professor no século XXI A educação não faz tudo, mas sem educação não se faz nada.” (Alexandre Ventura)

O professor no século XXI está confrontado com um conjunto significativo de dificuldades e desafios. A profissão docente está sujeita a um conjunto de pressões e tem sido, em escala global, responsabilizada por fenômenos que afligem a sociedade. Em alguns quadrantes geográficos, os professores foram convertidos em bodes expiatórios de fracassos sociais, científicos, tecnológicos ou geopolíticos. Paradoxalmente, quanto mais essas sociedades desvalorizam o papel e a importância dos professores, por meio de discursos, políticas educacionais ou por omissão, mais os responsabilizam pelos mencionados fracassos. Desde a publicação do famoso Relatório Coleman, em 1966, cujo verdadeiro título é Equality of Educational Opportunity, pesquisas no meio educacional mostram reiteradamente que a qualidade dos professores é o fator que mais influencia o sucesso acadêmico dos alunos na escola. Essa influência é mais significativa nos alunos oriundos de famílias desfavorecidas. Por isso, pode-se dizer que a influência dos professores, além de beneficiar os alunos em geral, tem um papel de reforço da equidade na escola e na sociedade.

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A profissão docente confronta-se hoje com um conjunto de desafios importantes, e são os professores que devem protagonizar as mudanças. Um desses desafios é a necessidade de criação de um modelo profissional para a profissão docente. A esse propósito, Mehta (2013) escreveu no The New York Times, o seguinte:

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O ensino exige um modelo profissional, como o que existe em Medicina, Direito, Engenharia, Contabilidade, Arquitetura […] Nessas profissões, a consistência da qualidade é menos criada por exigir prestação de contas a seus membros e mais por construir um corpo de conhecimento, treinar cuidadosamente as pessoas nesse conhecimento, exigir que demonstrem perícia antes de serem certificadas para o exercício da profissão e depois usar os seus padrões de desempenho profissional para guiar o seu trabalho.”

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Esse modelo de desenvolvimento da profissão docente está, portanto, em sintonia com os modelos das profissões liberais. Associa-se a elevado capital humano, reconhecimento social e estatuto remuneratório acima da média. No entanto, esse modelo profissional docente desejável colide na prática, em muitos países, com uma desconsideração da profissão docente. Há quem considere que a profissão docente, na realidade, é uma semiprofissão. Quer dizer, não atingiu um estatuto de respeitabilidade, reconhecimento, delimitação clara de suas caraterísticas e incumbências sociais que permita que seja considerada ao nível das outras profissões, como as liberais. E esse problema assume contornos de legitimação institucional quanto às políticas educacionais em muitos lugares. De modo surpreendente, em vários países, em vez de se investir em um aprimoramento da profissão docente, com medidas que apostem na seleção, na qualidade, no estímulo para acesso e manutenção da profissão, tem-se assistido a políticas de enfraquecimento, desmoralização e descrédito dos professores. Isso é surpreendente, porque se tem a impressão de assistir à adoção de políticas educacionais bipolares. Por um lado, não há político que não impregne seus discursos com enorme valorização da educação. Alguns até alegadamente a consideram o carro-chefe de seus discursos políticos. Mas, por outro lado, adotam políticas de desvalorização dos professores e torpedeiam critérios de formação inicial, certificação, acesso à profissão docente e formação continuada. Abrindo cada vez mais as portas a pessoas não qualificadas, selecionadas e formadas especificamente para a profissão de professor.

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Em uma sociedade em que qualquer um possa ser professor, ninguém será verdadeiramente professor. A profissão docente exige um equilíbrio complexo entre um elevado nível de especialização e uma cultura e visão profundas e ecléticas. A mente do professor tem de ser preparada, maturada e cultivada ao longo da vida para que possa efetivamente ajudar seus alunos a pensar. Essa é a chave-mestra do processo de ensino. Mas isso exige um esforço estratégico e determinado de toda a sociedade, das políticas educacionais, sobretudo das que se relacionam com a formação de professores, e deve contar com as organizações científicas e sindicais representativas dos docentes. A história da Educação e da Pedagogia está predominantemente marcada por um investimento no conhecimento e na competência do professor como um sólido repositório de sabedoria. Essa sabedoria seria exposta e os alunos, caso tivessem a competência e a diligência para aprender, poderiam usufruí-la. O mundo atual e as pedagogias modernas exigem um posicionamento radicalmente diferente. O epicentro do processo de ensino está no aluno e em sua aprendizagem. O investimento tem de ser feito nessa dimensão. A função do professor é agregar mais valor e facilitar a caminhada de aprendizagem do aluno. As novas pedagogias, que visam uma aprendizagem profunda e sustentada, concebem o binômio professor-aluno como uma equipe articulada que mobiliza os informantes e os recursos necessários para, em conjunto, descobrir, redescobrir e dominar conhecimentos e competências úteis para a resolução de problemas concretos.

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Nessa caminhada árdua, mas estimulante, que se alimenta de conhecimento, aprendizagem e motivação, o desgaste ou burnout do professor é um dos problemas que prejudicam a profissão docente. O estresse e a ansiedade afetam milhões de professores em todo o mundo. Há décadas que se fala de mal-estar docente. Têm sido desenvolvidas muitas pesquisas sobre essa questão e todas se referem à grande pressão a que os professores são sujeitos no exercício profissional. Os efeitos nefastos dessa pressão traduzem-se globalmente em acréscimo de estresse e correspondem frequentemente a patologias, como ansiedade, doenças cardíacas, câncer, doenças musculares, perturbações gastrointestinais e depressão, além de acidentes e suicídios.

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Essa pressão decorre de vários motivos. A seguir, alguns dos mais importantes: falta de prevenção para o desgaste inerente à profissão, por exemplo, pelo monitoramento e acompanhamento dos professores por parte de médicos especialistas em Medicina ocupacional e mental; falta de preparo na formação inicial de professores para lidar com esse fenômeno; deficiente gestão do trabalho em muitas organizações educacionais; deficit de formação continuada; reduzidas iniciativas de motivação; ausência de perfil pessoal e/ou profissional para o exercício da profissão docente; reduzidas possibilidades para o exercício de outras funções na escola durante determinado período; falta de motivação de muitos alunos; problemas pessoais dos professores; falta de colaboração e parceria com os pais de alguns alunos; comportamentos disruptivos de alguns alunos; pressão para resultados acadêmicos; aumento da carga de trabalho com características burocráticas ou administrativas; turmas de grandes dimensões; frequentes mudanças na legislação municipal, estadual e federal que rege o setor da Educação.

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Apesar dessa situação complexa, a verdade é que o estresse é inerente ao exercício da profissão docente. Esse caso pode ser comparado ao das dívidas públicas dos países. Na prática, elas são uma inerência do funcionamento das finanças públicas e do caráter dinâmico das economias; os países fazem a diferença na forma como gerem essas dívidas para não entrarem em descumprimento do pagamento dos compromissos que assumiram. Estabelecendo um paralelo com o estresse inerente à profissão docente, o que deve existir por parte da administração do sistema educacional é um conjunto de mecanismos que possam prevenir e lidar com esse fenômeno da forma mais harmoniosa possível. Da parte dos professores, é necessário que exista a consciência sobre o estresse associado à profissão docente e que eles próprios façam tudo o que está a seu alcance para lidar com essa situação e protegerem-se tanto quanto possível desse tipo de desgaste, que, se não for controlado, poderá levar a um mal-estar profundo, deficiente desempenho profissional, perturbações psicológicas, depressão e abandono da profissão. Nessa questão, é fundamental não esquecer a importância do ócio e reconsiderar os paradigmas de análise e ação. O ócio é o grande propiciador de imaginação e criatividade. Não se deve estar sempre realizando tarefas. É importante criar espaços para fazer nada, contemplar e refletir. Nessa perspectiva, os professores se beneficiam muito se desenvolvem a habilidade de parar para refletir, contemplar e para descansar da atividade profissional tão absorvente. Na prática, isso só pode acontecer se os professores forem autodisciplinados e sentirem que isso efetivamente se converte num benefício para o equilíbrio emocional deles e para sua saúde.

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Um dos modos de lidar com o estresse do desempenho profissional é desenvolver a capacidade de gestão do tempo dos professores no sentido de separar da forma mais clara possível o tempo profissional do tempo pessoal. Essa segregação protege o equilíbrio emocional dos professores e deixa-os descansar da quase obsessão em que se tornam os afazeres profissionais. Quando não se desenvolve essa capacidade, há uma canibalização do tempo pessoal pelo tempo profissional, fazendo com que o professor não possa revigorar-se do desgastante desempenho profissional. É muito mais fácil referir essa desejabilidade de segregar claramente o tempo de trabalho do tempo pessoal e familiar. O tempo de trabalho vai além daquele que os professores passam nas escolas. Ele inclui também o tempo passado em casa preparando aulas, montando e corrigindo provas e outros instrumentos de avaliação de aprendizagens dos alunos. Ainda há que considerar o tempo usado nos deslocamentos para o trabalho e o tempo a pensar em questões do trabalho.

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Os professores têm muita dificuldade de separar esses dois tempos e sofrem as consequências disso com o aumento do desgaste emocional. É fundamental que eles desenvolvam uma competência para gerirem seu tempo. Isso deve ser feito em uma perspectiva egoísta, para se protegerem, e em uma perspectiva altruísta. Professores que sabem gerir melhor seu tempo são pessoas mais equilibradas e mais satisfeitas. Isso, claro, reflete-se na relação deles com os alunos e com os colegas. Mas, esses professores podem também ajudar seus alunos a desenvolverem a competência de gestão do tempo, com óbvios benefícios em termos acadêmicos, sociais e profissionais. A motivação é outro aspecto fundamental na vida dos professores, que também passa por autodisciplina, mas que depende muito mais da ação da liderança da escola, das regras definidas pela administração educacional, da própria legislação que determina o desenvolvimento da carreira docente e dos

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sistemas de incentivo públicos ou privados. Relativamente a essa questão, o senso comum tem induzido em erro algumas das políticas educacionais que apostam em incentivos financeiros para os trabalhadores. A pesquisa mostra que a motivação dos professores é proporcionada pela criação e sustentabilidade de um ambiente de trabalho em que as pessoas sentem que têm autonomia profissional e que existe uma elevada qualidade de relacionamento interpessoal com os colegas e com lideranças, diretores e coordenadores pedagógicos. Os profissionais sentem que têm margens de progressão e de aprimoramento de suas competências e suas carreiras. Finalmente, a motivação é alimentada pela celebração das pequenas e grandes vitórias e pelo reconhecimento do trabalho realizado, por parte dos colegas, das lideranças e dos alunos. No entanto, é bom ter presente que a principal motivação é intrínseca. Ela tem base no pensar e no sentir do professor e uma relação forte com a personalidade dele. Pode-se dizer que a qualidade do professor depende, antes de tudo, de sua índole. Como coach de aprendizagens dos seus alunos e modelo de atitudes e condutas para eles, o professor será tão marcante quanto melhor for como pessoa. Sua qualidade profissional depende, em grande medida, de seu caráter. Este será determinante para que ele influencie nos alunos atitudes e comportamentos pessoal e socialmente desejáveis.

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A falta de professores é um problema que assola várias regiões e países e que tem tendência a se tornar grave. São poucos os países e as organizações que olham com verdadeiro cuidado para essa situação e procuram combatê-la. Segundo o Instituto de Estatística da UNESCO, em 2015, havia 263 milhões de crianças e jovens que não frequentavam escolas e cerca de 74 países sofrendo com falta de professores.

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O deficit do número de professores em alguns quadrantes geográficos tem levado diversos países a baixar o nível de exigência no acesso à profissão docente e na manutenção dos profissionais nos postos de trabalho. Não basta satisfazer as necessidades de professores nas salas de aula, é necessário que eles manifestem qualidade, tenham perfil para a docência, estejam motivados e recebam formação inicial e continuada de qualidade compatível com a extraordinária exigência do desempenho de funções docentes. Em muitos países subdesenvolvidos, na luta pela quantidade, são recrutados professores que não correspondem a padrões mínimos de qualificação e formação. Em alguns países desenvolvidos, mas afetados pelo fenômeno de falta de professores, tem ocorrido uma redução dos padrões de exigência na formação inicial e no acesso à profissão docente. Ao contrário do que seria de esperar, em vez de se aprimorar a qualidade dos professores, tem-se regredido nesse mesmo quesito.

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Essas abordagens em termos de políticas de formação e recrutamento de professores, que apostam em soluções de curto prazo, vão inexoravelmente afetar a qualidade de educação de gerações futuras e impactar negativamente o funcionamento do setor produtivo e da sociedade em geral. Esse não é o caminho. Daí apenas resultará fracasso, falta de qualidade, desbaratamento de recursos, criação de falsas expectativas e péssimo exemplo para toda a sociedade. Se a educação for sucateada, como esperar que os outros setores sociais primem pela excelência?

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Na sociedade de informação e conhecimento em que cada vez mais viveremos, as escolas são as instituições e os professores são os agentes sociais melhor posicionados para ajudar os alunos a desenvolverem competências de identificação, decodificação, relacionamento e utilização de informação ao serviço da resolução de problemas concretos. É indesculpável que os alunos passem pela escola e não desenvolvam e robusteçam suas competências finas neste âmbito. Elas são cada vez mais indispensáveis para a vida acadêmica, social e profissional.

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As condições infraestruturais (computadores, tablets, laboratórios de informática, ligações de internet de alta velocidade) são importantes. Contudo, está na hora de a escola deixar de se fixar nas condições materiais e entender que o valor agregado que ela pode, e deve, transmitir aos alunos consiste essencialmente na “gramática” de decodificação e resolução que, face à avalanche de comunicação cotidiana, permite compreender, priorizar, recriar a profundidade do olhar de maneira muito mais potente e aplicar o resultado de todos esses processos na realização dos mais variados tipos de tarefa com mais eficiência e satisfação. Se não forem escolas e professores a fazer isso, milhões de alunos continuarão a ser escolarizados, mas terminarão seus estudos como “descamisados” da sociedade da informação e do conhecimento, com óbvios reflexos nocivos em termos de empregabilidade e equidade social. As escolas e os professores têm de se conscientizar mais dessa realidade e fazer tudo o que está a seu alcance para construir um mundo melhor.

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É também por isso que ser professor no século XXI é um ato de coragem, altruísmo, cidadania e uma enorme responsabilidade. Os professores fazem a diferença. Nada substitui um bom professor. A profissão docente não está em declínio de sua importância social. Ela está em declínio de seu reconhecimento social. São coisas diferentes, mas frequentemente confundidas, até pelos próprios professores. Perante a complexidade do mundo atual e do que se antecipa, talvez nunca como agora os bons professores sejam tão necessários para orientar os alunos na navegação por essa complexidade. Essa necessidade tem de ser assumida pelos próprios professores com sentido de responsabilidade, empenho e contentamento. Será necessário que eles lamentem menos o que os apoquenta e invistam mais em construir o que pretendem e em comunicar estratégias para o ensinar, para o aprender e para a escola.

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Ao fim de várias décadas de queixas e lamentos e da crescente indiferença social, ou até oposição, já se consegue entender que esse não é o caminho para reforçar a profissão docente, ou o papel da educação e da escola. É preciso outra estratégia que, de mãos dadas com as comunidades e partindo do terreno, mas com orientação estratégica concertada, permita uma renovação de paradigma em que os professores se reconheçam, de que tenham brio e que permita uma redescoberta pela sociedade desse papel crucial da profissão docente. Os professores são o esteio de uma sociedade, e não há sociedade melhor do que seus professores. Se o desejo é uma melhor sociedade, o caminho é investir em professores ainda melhores, selecionando-os, respeitando-os, estimulando-os, reconhecendo seu papel, avaliando-os, exigindo-lhes que deem seu melhor pelos alunos e colaborando com eles na árdua missão social de que estão investidos. Os professores precisam da sociedade e esta não pode passar sem eles. A solução para um mundo melhor está na melhoria da ação educativa da família e em sua articulação com uma educação mais profissional, pragmática e equitativa.

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Sugestão de livros Garra: o poder da paixão e da perseverança Angela Duckworth. Intrínseca, 2016. No livro, a psicóloga Angela Duckworth demonstra para pais, estudantes, educadores, atletas e empreendedores que o segredo para realizações incríveis não é o talento, mas uma mistura de paixão e perseverança que ela chama de “garra” – a capacidade de perseverar e produzir resultados além do puro talento, da sorte ou das eventuais derrotas. O mais importante para professores e alunos é entender que a pesquisa, em áreas científicas que vão desde gestão e liderança até a Psicologia, vem reiteradamente mostrando que a chave do sucesso não corresponde ao talento, mas, fundamentalmente, ao sentido estratégico e à perseverança para atingir objetivos. Esta obra é fundamental no sentido de fazer entender que o sucesso depende muito mais de trabalho persistente do que de talento. Um bom professor, faz-se em virtude de sua garra para investir sustentadamente na profissão e em seus alunos. Profissionalidade docente João Formosinho, et. al. Elo - Revista do Centro de Formação Francisco de Holanda, nº 20. Guimarães: Centro de Formação Francisco de Holanda, 2013. A revista reúne textos muito interessantes sobre a temática da docência e os desafios que ela encontra para se afirmar em sua plenitude, tanto no seio da corporação docente quanto na sociedade em geral. São abordados temas como a competência e o desenvolvimento profissional e a identidade docente.

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Foco. A atenção e seu papel fundamental para o sucesso Daniel Goleman. Objetiva, 2013. O autor do livro Inteligência Emocional defende nesta obra que, para ter sucesso na era contemporânea de distrações intermináveis, é necessário aprender a aprimorar o foco e a exercitar essa competência. O foco é o que diferencia um especialista de um amador, nomeadamente na docência. Neste livro, defende-se claramente uma lógica de especialização em detrimento de uma lógica generalista. Só assim será possível atingir um elevado nível de proficiência compatível com a excelência educacional que se pretende.

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Guia prático da política educacional no Brasil. Ações, planos, programas, impactos Pablo Silva Machado Bispo Santos. Cengage Learning, 2014. Este é um livro fundamental para o professor interessado na arquitetura jurídica do sistema educacional brasileiro. Essa obra de referência consegue harmonizar uma análise dos fundamentos das políticas educacionais com sua tangibilidade jurídica e apresenta uma feição didática e de análise crítica fundamentada que revela algumas das desarticulações e defasagens do edifício técnico-jurídico no setor educacional. Aula nota 10: 49 técnicas para ser um professor campeão de audiência Doug Lemon. Safra, 2016. O bom ensino é uma arte. Partindo dessa premissa e da observação de bons professores em sala de aula, o autor reúne nesse livro 49 técnicas de eficácia comprovada para quem busca ser um professor popular. Defendendo uma filosofia de atuação do profissional docente muito ligada ao pragmatismo e a soluções que possam resolver situações de aprendizagem de modo eficaz e harmonioso, Lemov apresenta técnicas de ensino inspiradoras e que ajudarão professores iniciantes e também os mais experientes na difícil tarefa de promover as aprendizagens dos alunos.

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Sem treino não se ganha jogo: o poder da prática e as regras para desenvolver talento e progredir na arte do aperfeiçoamento Doug Lemon, Erika Woolway e Katie Yezzi. Safra, 2014. Este livro apresenta 42 regras práticas para adotar um posicionamento de criação de rotinas que permitam aprimorar a prática profissional na senda da excelência. Cada uma delas é baseada em uma história e relatada em tom familiar, de leitura prazerosa. As regras apresentadas estão divididas em blocos que orientam a prática e repensam a maneira de executá-la, por meio de demonstrações e do incentivo de novas habilidades. O lema que perpassa todo o livro é que a qualidade em qualquer profissão depende da prática, do treino, do aperfeiçoamento demorado. Esse tipo de posicionamento incorporado na filosofia de vida de professores e alunos poderá mudar muitas vidas para melhor. A mente organizada – Como pensar com clareza na era da sobrecarga de informação Daniel J. Levitin. Objetiva, 2014. Este psicólogo cognitivo, especializado em neurociências, apresenta sugestões práticas de pequenas mudanças de perspectiva no cotidiano que podem melhorar a qualidade de vida, aumentando a produtividade e a sensação de bem-estar ao lidar com quantidades exponenciais de informação. Por meio de casos concretos que articulam pesquisa acadêmica e exemplos do dia a dia é possível entender melhor alguns dos mecanismos mentais humanos que permitem o pensamento e a ação. Considerando que os professores estão sujeitos a grande estresse no exercício profissional, poderão se beneficiar muito dessas sugestões práticas e partilhá-las com seus alunos, daí decorrendo óbvios benefícios para uns e outros.

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Profissão docente: profissionalidade e autorregulação Agostinho dos Reis Monteiro. Cortez, 2015. O autor deste livro há muito defende a criação de um estatuto de autorregulação para a profissão docente. A autorregulação profissional é apresentada como um poder, um privilégio e uma responsabilidade que a profissão docente deve perseguir com pensamento estratégico, ética e sentido de responsabilidade, com a consciência de que beneficiará todas as partes, direta ou indiretamente, envolvidas no fenômeno educacional. A obra defende um posicionamento de empreendedorismo por parte dos professores, tomando nas mãos a responsabilidade de promover um estatuto profissional docente condizente com os anseios da classe. Anais dos IX Simpósio Nacional de Educação e III Colóquio Internacional de Políticas Educacionais e Formação de Professores, Políticas e Processos de Formação Docente no Território Ibero-Americano: construindo um futuro comum Luci Mary Duso Pacheco e Ana Paula Noro Grabowsky (Org.). URI/RS, 2016. Neste livro, o leitor encontrará trabalhos acadêmicos sobre uma diversidade de questões relacionadas à formação de professores, sobretudo no Brasil, principalmente sobre as questões da formação inicial, da formação a distância, da utilização de recursos tecnológicos por professores e alunos e dos processos de indução na prática docente. Escolas, competição e colaboração: que perspectivas? Alexandre Ventura, Jorge Adelino Costa e António Neto-Mendes (Org.). Atas do VII Simpósio de Organização e Gestão Escolar. Aveiro: Universidade de Aveiro, 2013. Além de outras temáticas na área educacional, o leitor encontra nesse livro interessantes abordagens sobre o binômio colaboração e competição na educação e os desafios causados pela incongruência entre a desejabilidade de políticas fomentadoras de colaboração e a realidade de políticas de cada vez maior competição. O foco dos autores são as tendências predominantes em termos internacionais e apresentam-se diversos casos no Brasil e em Portugal.

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Sugestão de links A rich seam: how new pedagogies find deep learning <http://www.michaelfullan.ca/wp-content/uploads/2014/01/3897.Rich_Seam_web.pdf> Nesta publicação, encontra-se apresentado um estado da arte sobre os desenvolvimentos recentes no domínio das pedagogias mais modernas que têm potencial para proporcionar aos alunos oportunidades de aprendizagem profunda por meio de uma parceria com seus professores que permita incorporar metodologias e resoluções de problemas. Os autores baseiam-se em boas práticas promovidas neste domínio em salas de aula de vários países e destacam a importância de lideranças escolares visionárias e apoiadoras do trabalho dos professores para efetivamente fazer acontecer a educação condizente com as exigências da sociedade contemporânea.

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Fundação Lemann <http://www.fundacaolemann.org.br> Organização brasileira sem fins lucrativos, criada em 2002 pelo empresário Jorge Paulo Lemann. A entidade é atuante na área da educação no Brasil e disponibiliza no site textos e vídeos nos domínios do aprender, do ensinar, das políticas educacionais e da liderança acadêmica nas escolas. É uma poderosa ferramenta que disponibiliza, entre outras coisas, dezenas de vídeos da Khan Academy e do Google muito interessantes e úteis para professores e alunos.

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Edutopia <https://www.edutopia.org> Fundação Educacional George Lucas (produtor cinematográfico, roteirista e cineasta mundialmente famoso pelas franquias Star Wars e Indiana Jones). No site é possível encontrar centenas de pequenos vídeos e posts sobre temáticas educacionais, como aprendizagem baseada em projetos, desenvolvimento profissional de professores, aprendizagem social e emocional, competências de comunicação, aprendizagem colaborativa, aconselhamento, integração de artes no currículo, integração de tecnologia, envolvimento da família etc. Future of the Teaching Profession <http://www.educ.cam.ac.uk/centres/lfl/current/research/Future_ Teaching_Prof_2012.pdf> Nesse interessante relatório, a partir das tendências atuais, da pesquisa e das políticas educacionais, o autor apresenta sua visão sobre o que será a profissão docente no futuro e que papéis desempenharão as escolas. A obra, depois de analisar o papel do professor e da escola, apresenta o estado da arte sobre o impacto das políticas e os sistemas educacionais nas comunidades escolares. Bill & Melinda Gates Foundation <http://www.gatesfoundation.org> Fundação Bill e Melinda Gates dedicada a aumentar a consciência pública sobre temas globais prementes. Para além da filantropia, a fundação estabelece parcerias com governos e organizações dos setores público e privado para melhorar a qualidade de vida das pessoas e aumentar a equidade na distribuição de riqueza, nomeadamente do bem que é uma educação de qualidade. Esta fundação trabalha essencialmente nas áreas da saúde, pobreza e educação.

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William & Flora Hewlett Foundation <http://www.hewlett.org/> Site da fundação filantrópica criada por um dos fundadores da Hewlett Packard, uma das maiores empresas de informática do mundo. Estão disponíveis materiais interessantes sobre educação, que abordam temáticas como inovação em sala de aula, aprendizagem profunda, avaliação formativa moderna, articulação entre formação e mercado de trabalho. Geekie <http://www.geekie.com.br/> No site Geekie, o poder de aprender, disponibiliza-se material extremamente interessante para alunos, escolas e professores. A essência dos recursos disponíveis visa desenvolver aprendizado personalizado por meio de uma plataforma adaptativa que pode ser usada de maneira autônoma ou em articulação entre escolas, alunos e professores. Portal do Professor <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html> Neste site do MEC que abriga outros sites (por isso, a designação de portal), o professor pode acessar sugestões de planos de aula, baixar mídias de apoio, ter notícias sobre educação e iniciativas do MEC ou até mesmo compartilhar um plano de aula, participar de uma discussão, fazer um curso. O portfólio de recursos é bastante diversificado. ABC Teach. The Educator’s online resource <http://www.abcteach.com/> Este site disponibiliza materiais de ensino, planejamento de aulas, imagens, vídeos, apresentações em PowerPoint e jogos interativos. Uma das seções é dedicada a atividades de ensino para a aprendizagem da língua inglesa. Também disponibiliza uma área para interface na língua portuguesa, principalmente para trabalhar a leitura e a redação. Também é possível criar exercícios personalizados em português ou em inglês, usando as ferramentas disponibilizadas.

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Só Pedagogia <http://www.pedagogia.com.br/> Site com inúmeras páginas com conteúdos, atividades, artigos pedagógicos, jogos, curiosidades, glossário e muito mais. Disponibiliza gratuitamente materiais de apoio, atividades de diferentes níveis de ensino e atividades de entretenimento, como jogos online, desenhos para colorir, contos e poesias para trabalhar com os alunos.

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Jane Patrícia Haddad Mestre em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná (2010–2013), tem docência do Ensino Superior pelo Centro Universitário Newton Paiva (2004), fez Teoria Psicanalítica na Universidade Federal de Minas Gerais (2001) e Psicopedagogia no Centro Universitário de Belo Horizonte (1999). Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1998). Atuou por mais de 22 anos em escolas como professora, coordenadora pedagógica e diretora. É conferencista, tendo participado de inúmeros eventos educacionais (nacionais e internacionais). No ano de 2014, atuou em um trabalho na Província de Namibe, em Angola, com o tema Mediação de conflitos entre professores e alunos. Também é autora de diversos artigos sobre educação, com temas relacionados à indisciplina escolar, à relação família e escola, aos transtornos educacionais etc., e de livros como Educação e psicanálise: vazio existencial, O que quer a escola: novos olhares resultam em outras práticas e Cabeça nas nuvens: orientando pais e educadores a lidar com o TDAH, publicados pela editora WAK, Rio de Janeiro. Atualmente é colaboradora das revistas Direcional Educador e BIS, do Sindicato das Escolas Particulares de BH-MG.

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Capítulo 2

Geração digital: como o aluno do século XXI aprende

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Nos dias de hoje, somos bombardeados por informações de todos os lados. Como separar o que é importante e significativo do que é supérfluo e descartável? Zygmunt Bauman

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Ontem, crianças brincavam. Hoje, pilotam seus smartphones com todo tipo de apps, telas, whatchs, gears etc. Festas de aniversários eram momentos para a reunião de familiares. Nos dias atuais, priorizam-se as pequenas princesas, de 7 e 8 anos, que entram em limusines cor-de-rosa para serem conduzidas a um salão de festas, onde receberão roupões, maquiagens e unhas feitas, sempre com muitas selfies imediatamente postadas nas redes sociais para contabilizar sua popularidade. Antes, o jovem sonhava e programava seu futuro. Hoje, ele relata não querer pensar nem no presente, quem dirá no futuro. Ontem, as meninas adolescentes sonhavam com o primeiro baile. Hoje, realizam-se com os silicones nos seios e as cirurgias plásticas. Antes, os meninos adolesciam. Hoje, adolescem seus músculos bem definidos. Ontem, os adolescentes flertavam. Hoje, ficam sem compromisso. Antes, os pais tinham prioridade na programação de uma única TV. Hoje, cada TV tem seu dono, e cada dono tem seu quarto, e cada quarto tem um adolescente o habitando, que geralmente está conectado às redes por meio de seu celular por 12 ou até 20 horas, silenciado em seu espaço seguro. Entre esses adolescentes, alguns escapam ao lema apareça e exista, logo são deletados no mundo real por seus pares ou sofrem perseguições por meio de cyberbullying.

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Sejam todos bem-vindos ao século XXI. Tomem seus lugares para iniciar uma pequena viagem, na qual conhecerão um pouco dos alunos que adentram as salas de aula das escolas atuais. Para melhor entender esses alunos, é necessário iniciar olhando para a história em que são construídas as categorias geracionais nominadas Y e Z, que aqui serão utilizadas como referencial temporal e espacial de compreensão. Não se pretende uma classificação rígida e impessoal, pois cada criança e adolescente traz consigo sua história pessoal, suas circunstâncias existenciais, sua história familiar, seus diferentes desejos e suas perspectivas. No quadro das gerações e suas características, apresentado na sequência, há a pretensão didática de aproximação à realidade, de leitura, e não de classificação. Por aproximação, entendem-se os traços gerais de determinada cultura e época e suas implicações em caracterizar as gerações, o que retrata uma representação flexível, aberta, sugestiva, que indica os traços gerais e os sinais mais evidentes de algumas tendências e comportamentos partilhados por crianças, adolescentes e jovens.

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Olhando para a história recente, percebe-se que nas últimas seis décadas do século XX, um século marcado por aceleradas e dramáticas mutações sociais, destacam-se cinco traços ou tendências geracionais que se constituem nos complexos e multifacetados cenários da sociedade contemporânea: as gerações tradicionais, baby boomers, X, Y e Z.

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Cada uma dessas gerações constituiu tendências, ocupou e ocupa seu espaço, alterou e altera comportamentos e costumes em busca de se autodefinir e afirmar sua identidade pessoal e coletiva. Cada uma delas está se ajustando ao presente. Algumas estão cedendo lugar para as mais recentes – as gerações Y e Z –, ou tentando se firmar diante dos desafios dos novos tempos ou querendo adaptar-se ao mundo construído pelas novas gerações. Em um olhar panorâmico, pode-se perceber que as gerações Y e Z estão afirmando suas presenças, seus estilos de vida multifacetados e conectados. Parece que o dinamismo delas acontece por meio da tecnologia, do mundo em redes virtuais, aberto e múltiplo. Para essas gerações, isso parece tão natural, e para as anteriores, por vezes, parece assustador, desafiante, estranho, mas de que não se pode escapar.

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As gerações e suas características Tradicionais Nascidos até 1945. É uma geração que viveu em um período de grandes conflitos, escassez e dificuldades, sobrevivendo a uma crise econômica e a uma guerra mundial. Diante disso, precisou reconstruir o mundo. Por isso, tem como características o patriotismo, a praticidade, a dedicação, o apreço pela hierarquia, a família e o comprometimento com o trabalho. Para atingir seus objetivos, as pessoas dessa geração foram capazes de se sacrificar, dobrando Filhos do pós-guerra, nascidos jornada de trabalho, permanecendo na entre 1946 e 1964, que vivenciaram um mesma empresa por quase toda a vida. mundo já reconstruído, com crescimento Essa geração tem dificuldades com os econômico e mudanças sociais positivas, com recursos tecnológicos. grandes avanços tecnológicos, conquista espacial e rock and roll. Criados na rigidez dos tradicionalistas, as pessoas dessa geração destacam-se por serem otimistas e esperançosas diante do presente, ocupando-se com lutas pela paz e pelos direitos civis. Desenvolveram habilidades de consenso, autoconfiança e anseio por mudança de padrões, desafiando as formas tradicionais de autoridade. Essa geração também tem dificuldades em desenvolver habilidades tecnológicas e é resistente às mudanças provocadas e vividas nesse âmbito pelas gerações seguintes.

Baby boomers

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Geração X Nascidos entre 1965 e 1978, em um período impactado por grandes turbulências sociais e econômicas, vivenciando os pavores e as dúvidas provocados pelo avanço da aids e o estabelecimento de uma nova ordem geopolítica mundial pela Guerra Fria, o que os tornou menos otimistas que seus pais. São mais autoconfiantes e têm mais habilidades com a tecnologia em seus cotidianos. As pessoas dessa geração vivenciaram o desenvolvimento do computador pessoal e o acelerado processo de aumento da capacidade de armazenamento e distribuição de informações, tornando-se a primeira geração a dominar os computadores. No ambiente corporativo, buscaram manter-se atualizados para sobreviver no contexto tecnológico, competitivo e em constantes mudanças, em que velocidade, criatividade e trabalho em equipe passam a ser critérios de sucesso. O grande desafio dessa geração é lidar com uma nova geração de colaboradores independentes e individualizados, cada vez mais especializados e com quase nenhum senso de fidelidade à corporação: a geração Y.

Geração Y

Nascidos a partir de 1979, já em tempos de mundo globalizado, relativamente estável, em ambiente de valorização da infância, de acesso fácil à internet e à educação. Habituados ao mundo da informação via web web,, buscam interatividade, inovação, participação e controle ativo sobre a informação. Ao lado da preocupação com as questões ambientais, dedicam-se exclusivamente a atividades a curto prazo. Acostumados a um mundo que muda velozmente, marcado pela instantaneidade e simultaneidade dos eventos e do acesso às informações, não têm muita paciência, faltando-lhes foco e flexibilidade.

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Geração Z São os denominados nativos digitais, que nasceram a partir dos anos 1990, bem no auge do boom tecnológico. Não conheceram a vida sem computador, internet, telefones celulares e jogos em rede. O mundo deles é o virtual, no qual estão conectados simultaneamente por diversos tipos de aparelhos. Sentem-se totalmente à vontade para lidar com as tecnologias e com e-mails, mensagens de texto, redes sociais virtuais, diversos aplicativos etc. Em razão disso, destacam-se por apresentar certa falta de interesse pela vida ao ar livre, mas também apresentam senso de responsabilidade social e preocupação com a sustentabilidade do planeta, além de serem criativos e colaborativos nos trabalhos corporativos.

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Gerações Y e Z: vivendo em um mundo mutante O que seria uma geração? Quanto tempo dura? Aqui, o termo geração é usado como sinalizador de uma faixa etária ou um grupo de características que indicam algumas especificidades de determinado grupo de pessoas em determinada época ou período da história. Como fator histórico-cultural, tem caráter temporal e mutável. Geração, portanto, é uma categoria implicada na história e em seus dinamismos próprios, sujeita às velocidades temporais de cada época e, por isso, percebida em suas mutações com maior intensidade nos tempos mais recentes, mais fluídos e velozes, e com menor intensidade em tempos mais distantes na história.

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As gerações mais antigas podem ser identificadas a cada 30, 25, 20 anos. Na história recente, no mundo líquido, conforme qualifica Zygmunt Bauman, pode-se pensar uma geração a cada 10 anos. Isso devido às aceleradas, complexas e multifacetadas transformações que acontecem nas sociedades contemporâneas. Não há também consenso entre estudiosos a respeito das datas de início e fim de cada geração. Para alguns, a geração Y inicia antes de 1970, e a geração Z se manteria até 2010. No entanto, o que há em comum entre as duas gerações são os novos hábitos voltados à comunicação e à obtenção da informação instantânea, o que as caracteriza como juventude digital. Aqui, utiliza-se como referência a geração Y com a faixa etária entre 18 e 35 anos de idade, e a geração Z, entre 5 e 17 anos. Para melhor compreender o que constitui a categorização das gerações Y e Z, são apresentadas na sequência algumas características que buscam colocar em evidência o contexto, as tendências comportamentais, as implicações e os desafios decorrentes para o estabelecimento de novas relações entre adultos e jovens e entre professores e alunos dessas gerações.

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Novas relações familiares Entende-se que ambas as gerações – Y e Z – são frutos de famílias que passaram por profundas e rápidas transformações, com mudanças significativas no papel da mulher diante das novas demandas do mercado de trabalho, e as repercussões desse processo na constituição de novas relações familiares, na redistribuição dos papéis e das obrigações dos pais, na presença deles na vida dos filhos, assim como na constituição de novas configurações e arranjos familiares. Tais mudanças se refletem diretamente na criação dos filhos, já que era à mulher que se incumbiam os primeiros cuidados com o bebê. Com a inserção dela no mercado de trabalho e o crescimento do número dos divórcios nas famílias classificadas como tradicionais – compostas por mãe, pai e filhos –, os efeitos têm se repercutido diretamente nas novas gerações. Se esses efeitos são melhores ou piores, ainda não se sabe, por causa da complexidade de análise desse assunto. O que já se pode evidenciar é que o primeiro ambiente de aprendizagem (família) se transformou.

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Os pais da geração digital constituem famílias que já não se mantêm em uma relação amorosa por obrigação ou mesmo por conveniência. Configuram novos arranjos familiares, em que muitos são recasados ou moram sozinhos e que tentam criar seus filhos da melhor maneira possível. Essa geração de pais faz parte de uma geração que faz escolhas por meio de suas próprias convicções, abandonando modelos rígidos de educação.

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Há um conjunto de transformações que faz esses atores sentirem-se livres para tomar suas próprias decisões. Em um contexto tradicional, no qual as instituições eram relativamente perenes, fixas e ordenadoras, as referências basilares dos comportamentos estruturavam-se a partir dos padrões colocados pela religião, pela família e pela escola. Na modernidade líquida da sociedade contemporânea, tudo isso se desfaz e as mudanças atingem todas as instituições e estruturas da sociedade: no campo da religião, há uma diversidade de crenças e modelos; na família, estabelecem-se diferentes tipos de constituição familiar, em que já é possível o reconhecimento dos modelos de família monoparental, no qual a criança mora com apenas um dos pais ou com outro parente próximo, de famílias recompostas por padrastos e madrastas e filhos de diversos casamentos e de famílias homoafetivas – união de pessoas do mesmo sexo.

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Independentemente dos modelos e arranjos familiares, já se pode identificar a tendência de uma terceirização da função materna e paterna, já que os pais trabalham quase em tempo integral. Nesse sentido, as crianças e adolescentes das gerações Y e Z ficam sem receber acompanhamento direto no dia a dia, passando parte de seus tempos sozinhos ou aos cuidados de outras pessoas e da escola e, dessa maneira, aprendem a se virar sozinhos desde cedo. Para a psicanálise, estamos vivendo um declínio da função paterna. Assim, o modelo de família tido por tradicional, conformado por uma hierarquia vertical, em que (bem ou mal) havia uma delimitação clara dos papéis paterno e materno, vai cedendo progressivamente lugar a novas configurações e à nova distribuição e significação dos papéis. O pai, antes com função de lei, e a mãe, em seu papel de acolhedora e cuidadora, aos poucos dão lugar e poder para uma relação mais horizontal, quase (em redes) de afinidades, cooperação, negociação e também de barganhas, em que se vão estabelecendo diversas parcerias.

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Novas relações com a escola e na escola Não é surpresa que as transformações nos domínios da autoridade tradicional familiar trouxeram impactos na qualidade e na maneira que se configuram outras relações jovem–adulto, como é o caso das relações pedagógicas nas escolas. Ao mesmo tempo que nas famílias contemporâneas estão se substituindo as representações sobre a autoridade e os papéis que cada um deve exercer e de como se estabelecem as relações entre os diferentes atores, as novas gerações Y e Z passam a não reconhecer mais em seus professores a autoridade que representam. O que vem causando um distanciamento significativo entre alunos e professores, resultando, muitas vezes, no fracasso escolar.

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Está em jogo, portanto, a constituição de uma nova forma de autoridade, não como dominação, segundo a perspectiva da sociologia tradicional de Weber (2003), mas de autoridade como reconhecimento. Nesse sentido, a autoridade na relação pedagógica passa a se constituir como reconhecimento do professor ser ou não uma referência de autoridade para os alunos. Ou seja, autoridade como reconhecimento e não como decorrência do medo e da submissão. Para os alunos das gerações Y e Z, a autoridade do professor não é algo vindo de seu status,, mas sim um reconhecimento de suas atitudes, por suas competências e habilidades relacionais, didáticas e pedagógicas.

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Em consequência disso, é necessário, por parte dos professores, adequar sua leitura de mundo, principalmente sobre suas representações para as novas gerações. Os valores e as referências entre professores e alunos não são mais os mesmos e, provavelmente, nunca mais serão. Atualmente, os modelos identificatórios das novas gerações são, por exemplo, os jogadores de futebol e os emergentes youtubers (jovens formadores de opinião que criam vídeos na plataforma do Google), que falam e orientam as novas gerações sobre amor, comportamento, sexo e valores. Outro dado importante dessa mutação de valores referenciais é que as gerações Y e Z têm para sua vida o sucesso em curto prazo e o bem-estar rápido como reflexos de uma cultura que os prepara para curtirem prazeres imediatos.

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Essas gerações trazem um grande desafio para as escolas contemporâneas, pois são oriundas de novas configurações familiares, nascidas em um mundo que passa a se estruturar pelas relações virtuais, conectadas ao momento presente, ao instantâneo, à informação em tempo real. Tudo isso possibilitado e gerado por novos e constantes avanços tecnológicos, que, infelizmente, a educação brasileira não consegue acompanhar. Esses novos modelos familiares, essas novas maneiras de se relacionar, suas implicações e exigências desafiam escolas e educadores a pensarem na diversidade como chave de leitura para encontrar caminhos com o objetivo de saber lidar com as mutações e suas consequências.

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Torna-se imprescindível, portanto, pensar a partir da diversidade em todos os âmbitos das relações, começando na sala de aula, onde não há mais um grupo homogêneo de alunos advindos de um ou dois modelos de família, com crenças e valores parecidos. Definitivamente, não se está mais diante de um modelo único. Por isso, é necessário entender um pouco mais sobre as diferentes características dessas gerações, para configurar uma nova forma de acolhimento dessas crianças e adolescentes. Não é mais possível conceber uma educação que não reconheça os novos modelos identificatórios e suas influências nas condutas, nos comportamentos e nas relações. Trabalhar com as gerações Y e Z requer professores com olhares atentos e escutas apuradas.

Novas formas de se comunicar e consumir Para entender melhor as gerações Y e Z, pode-se partir da compreensão acerca das mutações familiares, do estatuto dessas relações, suas representações e exigências em relação aos filhos. Mas isso não basta. Para compreender essas gerações como digitais é necessário reconhecer a importância e a influência das tecnologias na estruturação de seus modos de vida, suas formas de se relacionar, interagir com os outros, de se comunicar e de consumir.

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Como exemplo, pode-se pensar nas diferenças entre como nos comunicávamos com os outros e como as novas gerações se comunicam. Boa parte dos professores atuais é da geração X, uma geração que usava telefone fixo e que acompanhou a chegada dos telefones celulares. Já os alunos, que compõem as gerações Y e Z, são usuários de internet simultânea e se expressam por meio das telas de computadores e smartphones, exibindo-se e tornando-se celebridades emergentes.

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Nesse mundo on-line, ninguém jamais fica de fora ou distante. Todos parecem constantemente ao alcance de um chamado. E mesmo que alguém, por acaso, esteja dormindo, há muitos outros a quem enviar mensagens, ou a quem alcançar de imediato pelo twitter, para que a ausência temporária nem seja notada.” (BAUMAN, 2011).

Para essas gerações conectadas ao imediato, ao exibicionismo do real via redes sociais, tempo e espaço são reconfigurados e mutantes e comprometem diretamente na concentração e na atenção dos alunos Y e Z, já que lidam diretamente com um bombardeio de informações em tempo real, o que não permite um tempo de elaboração e muito menos de reflexão. As gerações Y e Z transformam o meio de informação em um meio de mensagens, cada vez mais rápidas, enxutas e instantâneas, o que tem contribuído significativamente para um pensar–agir disperso e desatento.

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As duas gerações têm como ponto forte a conectividade em tempo real por meio de computadores, tablets, smartphones e seus derivados – dos inúmeros aplicativos que ensinam a organizar individualmente músicas e vídeos preferidos em playlists personalizadas –, o que contribui para o entendimento sobre o fato de serem mais individualistas e apresentarem dificuldades de se relacionar em grupos presenciais. Estar presente, conectado ao mundo virtual, expõe as crianças, os adolescentes e os jovens aos apelos de todo tipo de consumo, tornando-os consumidores. Embora a geração Z ainda não tenha entrado no mercado de trabalho, já é parte integrante do mercado de consumo. O marketing contemporâneo é voltado para essa geração, pois é ela quem orienta seus pais na compra de produtos tecnológicos e serviços a fim.

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Gerações Y e Z: em busca de sua identidade e reconhecimento As gerações Y e Z vivem em um mundo recente, mutante, veloz, conectado, imediato, que requer adaptações constantes dos adultos e professores. Porém, há algo que não muda em relação a essas novas gerações e às anteriores: a necessidade de construir uma identidade e uma noção de reconhecimento. A nova sociedade é marcada por uma ruptura da ordem vertical nas relações de poder entre o adulto e o jovem, que substitui modelos já definidos, tradições e valores, seja na configuração familiar, nas relações sociais ou na escola. O choque entre as gerações está constantemente presente, com inúmeras queixas relacionadas às novas gerações, causando um mal-estar generalizado entre adultos, professores e escolas. É um tempo líquido, em que tudo é efêmero e se desfaz, marcado pela “ausência das tradicionais referências balizadoras do comportamento humano” (BAUMAN, 2009).

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Como metáfora, é um mundo em que nós, professores, usamos as grandes rodovias para chegarmos a determinado local. Já nossos alunos usam os atalhos e quebradas das rodovias, pois as gerações Y e Z tendem a poupar esforços e ganhar tempo. Para eles “o que importa é o que se pode fazer, e não o que se deve ser feito ou o que foi feito” (BAUMAN, 2009).

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As novas gerações chegam à escola: quem são os alunos dessas gerações?

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Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos, a consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora, lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem, a capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para você o respeito àquilo que é indispensável: além do pão, o trabalho, além do trabalho, a ação e, quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída.” (Gandhi)

Os alunos das gerações Y e Z, apesar de toda virtualidade e instantaneidade, buscam um lugar para serem olhados e escutados além de seus aparelhos tecnológicos e de suas aparências indiferentes diante de seus professores. Para as gerações Y e Z, o respeito aos mais velhos é uma via de mão dupla, eles respeitam desde que sejam respeitados. Isso interfere diretamente na sala de aula, pois os alunos envolvem-se nas aulas não só quando determinado assunto é relevante para eles, mas quando forem bem tratados e respeitados por seus professores. Caso contrário, eles descartam imediatamente, desconectam-se e até se revoltam.

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Na tabela a seguir, é possível visualizar melhor as distinções entre as gerações X, Y e Z.

GERAÇÃO X (33–53 anos)

GERAÇÃO Y (18–33 ANOS)

GERAÇÃO Z (ATÉ 18 ANOS)

Reativos 1960–1980

Cívicos 1980–1995

Adaptáveis (silenciosa) 1995–

Filhos de pais divorciados

“Echo boomers”

Geração Zapping (Z)

Pais ausentes e “estressados”

Mídia: ódio, medo e ganância

Nativos digitais

11/setembro, assassinatos, assaltos, terrorismo, violação da ética

Videogames

Consolidação do capitalismo: grandes demissões TV = babá

Mundo instável/futuro incerto

Mundo virtual paralelo Pais mais jovens Geração Líquida Ambos os pais trabalham: mais riqueza, menos tempo

Informatização (informação): mais velhos deixam de ser portadores do conhecimento

Crescimento das telecomunicações

Desilusão com os valores vigentes: busca de equilíbrio entre vida pessoa e trabalho

Grande valor à educação

Desenvolvimento precoce

Tudo é possível

Obsolescência: perda de valores precocemente

Descrédito com as instituições: desconfiança da hierarquia e importância de status

Só faz o que gosta e surpreende

Ambiente de trabalho mais informal e acolhedor: clima de comunidade Famílias sólidas: “trabalhar para viver”, e não “viver para trabalhar” Questiona autoridade Mudanças nos layouts das empresas

Pais profundamente envolvidos (filhos mimados)

Chefe = pai

Multitarefas Ansioso Sempre conectados

Descrença na educação e carreira formais

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“Geração silenciosa”: fones de ouvido Pensamento não linear

Engajados

Distração constante – baixo engajamento político

Voltados para a natureza

“E-mail é antiguidade”

Consumista

Pobres em relações interpessoais e familiares Mentalidade de curto prazo Laços momentâneos e descartáveis Emos: resposta à carência emocional Indies: reação à massificação Coloridos: “obsolescência feliz”

Fonte: Batista, 2010; Oliveira, 2010. Elaborado por: Silmara Bergamo Marques. Disponível em: <https://www.oficinadanet.com.br/post/13498-quais-as-diferencas-entre-asgeracoes-x-y-e-z-e-como-administrar-os-conflitos>.

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Ao olhar esse cenário de mudanças, não podemos mais conceber uma sala de aula com alunos enfileirados, esperando que estejam prontos para receber conteúdos acabados e, muitas vezes, desconectados de sua realidade. Os alunos das gerações Y e Z nasceram em uma sociedade que está substituindo as relações hierárquicas e verticalizadas, em que os padrões eram semelhantes em uma mesma sociedade e a educação era valorizada e se constituía em uma garantia para ser alguém melhor no futuro. Hoje, os Y e Z encontram-se em uma sociedade cujas relações se dão de modo horizontalizado, em que pais e filhos falam a mesma linguagem e dividem os mesmos direitos. Enquanto alguns filhos passam a ser conselheiros dos pais, outros passam a ser os eternos bebês a serem cuidados. As ambiguidades ocupam a cena.

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Uma nova relação com os saberes As novas gerações não veem mais a escola como um lugar do saber, e sim como mais um ponto de encontro em que circulam informações e pessoas. Para elas, a escola não garante mais o passe para uma vida melhor e simboliza, para alguns estudantes, um atraso de vida. No entanto, a escola e as salas de aulas são espaços reais e afetivos em que as novas gerações podem fazer uma interseção entre dois mundos: o real e o virtual. O mundo virtual traz informações importantes das novas gerações por meio de suas postagens em redes sociais e blogs. Para criar vínculos afetivos entre professores e alunos, é importante que os professores compreendam esse mundo virtual e o usem também como ferramenta de aprendizagem.

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As gerações Y e Z são marcadas pelo advento da internet e das novas tecnologias. No entanto, a geração Z – dos nativos da era digital – já nasceu imersa na tecnologia avançada, o que marca uma diferença entre a geração Y. Porém, ambas se conectam com o mundo e com os outros por meio de seus aparelhos, sejam eles computadores, smartphones ou tablets.

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A internet, ícone da revolução da era digital, marcou um divisor de águas entre as gerações e trouxe uma mudança significativa na forma de se relacionar com os novos Y e Z e com as novas configurações dos processos de ensino e aprendizagem. São crianças, adolescentes e jovens que vivem on-line o tempo todo, de diferentes maneiras, e que acreditam que informação e conhecimento são praticamente sinônimos. As novas gerações não aceitam aprender conteúdos que não façam sentido a elas. Uma das características dos alunos dessas gerações é que o conteúdo deve conversar diretamente com suas vidas, caso contrário eles se desconectam da fala do professor ou de qualquer trabalho que exija esforço, atenção e concentração.

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Aprender para eles é algo que deve ser prazeroso e rápido. E isso é um dos grandes nós da educação contemporânea, uma vez que todo trabalho intelectual exige esforço, atenção, concentração e tempo. O grande desafio da escola é como fazer isso acontecer.

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Uma escola capaz de mobilizar A escola precisa aceitar que os alunos mudaram e que aprendizagem não é algo imposto de cima para baixo. Deve-se estabelecer uma relação com o saber e com a escola de modo que provoque neles o sentimento de mobilização intelectual, conforme afirma o educador francês Bernard Charlot:

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[...] a relação com o saber é relação de um sujeito com o mundo, com ele mesmo e com os outros. É relação com o mundo como conjunto de significados, mas também, como espaço de atividades, e se inscreve no tempo.” (CHARLOT, 2000)

É necessário despertar no aluno o desejo de aprender, pois não há relação com o saber sem um sujeito desejante. Para que esse sujeito desejante aprenda, é preciso haver uma mobilização intelectual, implicada no “desejo do mundo, do outro e de si mesmo, que se torna desejo de aprender” (CHARLOT, 2000).

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Nessa perspectiva, a relação com o saber é parte de uma dinâmica interna do movimento, em que os alunos se encontram ou não. Trata-se de o professor provocar a noção de desejo nos alunos que lidam apenas com a noção de necessidade, característica marcante na relação com o saber das gerações Y e Z. Tanto a geração Y como a geração Z acreditam que têm o direito de obter tudo o que necessitam sem esforço e investimento. Os alunos dessas gerações aprendem rápido quando as informações fazem sentido para eles, caso contrário, esquecem-nas. É sempre bom iniciar a aula com uma breve síntese da aula anterior, para que os alunos busquem em seus registros mentais o que aprenderam. Dessa maneira, é possível despertar neles o desejo adormecido. O termo desejo é utilizado neste capítulo como algo que faz sentido, algo que encanta o aluno a aprender, um desejo que circula entre o não saber e o querer saber.

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Os professores devem ter em mente que alunos desinteressados sofrem de ausência de desejo por não verem sentido em aprender determinado conteúdo. O desejo deve ser como mola propulsora da mobilização, um movimento que corresponde a uma trama de sentidos que o aluno vai dando a suas ações. Esse movimento estabelece uma relação do aluno com o saber, que compreende o ato do ensino legitimado com a aprendizagem, e que provoca nele o comprometimento com esse exercício, ou seja, ele também se torna responsável direto por seu processo de aprendizagem – e não somente o professor. Mobilizar e mobilizar-se implicam energia, esforço, dedicação, trabalho e foco, de modo que seja necessário também superar a dificuldade com esforço intelectual. Os alunos pensam e agem em tempo real, sem refletir e esperar o tempo do plantio, e são considerados mais impacientes. Essa dificuldade vem do olhar mais periférico que eles exercem sobre o conhecimento, muitas vezes o considerando algo atemporal e não como construção histórica.

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O esforço intelectual que o estudo requer dos alunos dos ensinos Fundamental e Médio só fará sentido se significar algum ganho para eles. Vale lembrar que para essas gerações a aprendizagem é conectada diretamente ao prazer e ao sentimento de utilidade. No entanto, qualquer esforço intelectual requer certa dose de frustração, já que nem sempre o resultado (notas e conceitos) corresponde ao que eles entendem como esforço. Um dos desafios diários do professor é encontrar o equilíbrio necessário entre prazer e desprazer dos alunos. Entende-se que os alunos Y e Z, muitas vezes, não estão preparados para lidar com as doses de frustração e de esforço que o estudo requer, o que gera uma tensão entre professor e aluno. O que não deve significar, por parte do professor, sua isenção diante do conflito. Ele deve torná-lo fonte de reflexão sobre o esforço intelectual. Outra característica das gerações Y e Z que desafia os professores é a habilidade multi-, ou seja, são alunos que conseguem fazer várias coisas simultaneamente. Em consequência disso, há novas conformações para o que se compreende como atenção e concentração. Existem duas gerações marcadas por uma atenção desatenta, uma atenção flutuante que vai e vem em questão de minutos e segundos, em um zapping, uma relação simultânea e instantânea com celulares, músicas, televisão, redes sociais e livros. Os estímulos chegam de todas as partes, várias janelas do computador abertas enquanto eles conversam em seus telefones e leem algum texto para os deveres.

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Zapping Expressão de origem inglesa que se refere ao ato de mudar constantemente de canal.

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Surgem assim novos alunos, com outras formas de pensar e estudar, marcadas pela instantaneidade e rapidez, o que altera também a noção de tempo. O tempo para eles é algo instantâneo, que funciona de acordo com seus zappings que, por exemplo, ao mesmo tempo que o professor está expondo ou detalhando um assunto, os alunos estão o acessando em tempo real, com mais informações, imagens, vídeos, comentários etc. Cabe ao professor entender isso não como um desinteresse por parte dos alunos, e sim como uma maneira de quererem saber mais. Esses momentos são excelentes para uma reflexão conjunta sobre a veracidade de determinadas informações. Por meio dessa aprendizagem, é possível despertar o interesse dos alunos, tornando-os protagonistas do processo. Nessa troca, algumas indagações podem ser feitas pelo professor: em que site você encontrou tal questão? Quem são os autores?; Existem mais pessoas falando sobre isso? Por meio dessas discussões, é possível chegar ao que se pretende, a uma pedagogia do questionamento e da desconstrução de ideias sem embasamentos. Dessa maneira, é possível fazer uma conexão com os multiconectados.

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A relação dos alunos com os saberes e as informações se dá também pela flexibilidade e não linearidade de pensamento. Não há início, meio e fim, eles compõem suas narrativas de modo não linear: o começo para eles pode ser o fim para os professores. Eles têm várias habilidades e flexibilidade para o estudo, porém se as propostas de estudo vierem fechadas, inflexíveis, impostas, dificilmente se mobilizam para sua realização. É necessário que se sintam atores participantes nas ideias e na proposta, ligadas diretamente a suas experiências de vida. Uma diferenciação entre as gerações Y e Z é que os nativos digitais (geração Z) são mais ligados em games on-line, por meio dos quais conversam, interagem e competem em tempo real, mesmo estando em espaços geográficos distintos, tendo como características essenciais a competitividade e a colaboração. A competição faz parte do mundo da geração Z, o que pode indicar uma boa estratégia para as aulas, mas sempre levando em consideração a noção de tempo entendida pelos alunos. Um tempo mais fragmentado que requer uma proposta de trabalho a curto e médio prazos, sempre sustentada em uma metodologia mais investigativa, estimulante, em lugar de trabalhos de longa duração, enfadonhos e cansativos. Dessa maneira, a possibilidade de envolvimento deles pode ser maior, além de trabalhar com o que eles gostam, como enigmas, desafios e competições. Aliar isso ao estímulo ao trabalho colaborativo é começar a falar a linguagem deles e contribuir ainda mais para que se mobilizem a aprender.

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Conectados ou distraídos: qual o perfil da nova geração? Conectados sim, quase “24 horas” on-line. Distraídos em seus diversos pensamentos e aparelhos, também. A questão que fica é como conectá-los às aulas? Sabendo-se que as crianças, os adolescentes e os jovens das gerações Y e Z são conectados e distraídos, que só focam naquilo que faz sentido para eles, que são duas gerações 100% touch e que a atenção deles e o uso da memória devem ser treinados, fica aqui um convite para exercitar outro olhar e outra escuta sobre essa questão.

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Sobre atenção e memória, vale lembrar que a atenção não é por si só um fenômeno quantitativo, mas uma função ligada aos modos de satisfação de um sujeito e elemento fundamental na aprendizagem, podendo ser definida “como a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto. A atenção se refere ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar informações do entorno em unidades controláveis e significativas” (COHEN; SALLOWAY; ZAWACKI, 2006).

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Avançando nessa reflexão, os conceitos de atenção e memória se relacionam aos de desejo e mobilização. Pressupõe-se que, nessa relação de complementaridade, só há atenção e concentração quando o aluno, a partir do desejo, mobilizar-se para o conhecimento, selecionando o que lhe interessa, filtrando e priorizando o que é essencial e fundamental para sua aprendizagem, em um processo que utiliza diferentes estratégias de organização, sistematização e memória. Quando a informação é desconectada do contexto da vida, dificilmente se consegue atenção, e a informação perde-se rapidamente, tornando-se apenas uma memorização temporária. O que é fácil reconhecer na frequente exclamação dos alunos diante dos momentos de avaliação: “estudei tanto para prova e na hora me deu branco!”. A atenção que deve ser despertada e incentivada nos alunos é a que contempla o conjunto de processos psíquicos, que possibilita colocar em movimento as operações de desejar, selecionar, filtrar e organizar, responsáveis pela capacidade de focar e sustentar a atenção para o trabalho intelectual, necessário a qualquer aprendizagem formal. Essa tarefa não é fácil, porém é necessária e possível. Conectar ao que parece desconectado, dar sentido ao que parece não ter sentido para os alunos. Dessa maneira, será possível oferecer a eles referências maiores que as que existem hoje no mundo virtual e quase imaginário.

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O que se está propondo é a possibilidade de outro olhar perante as gerações Y e Z e de como elas trabalham simultaneamente com sua atenção flutuante entre diversas telas e diversos afazeres. Para isso, entende-se ser preciso mudar o filtro mental de percepção de cada um, começando pelo professor acerca de si mesmo. Um ponto de partida para engendrar tal processo poderia ser pensar sobre como aprendeu, quem foram os professores que marcaram sua vida e suas aprendizagens. O professor, entendendo-se no processo de aprendizagem, talvez possa também decifrar se seus alunos estão conectados ou distraídos. Não se trata de uma volta ao passado, ao quadro e giz, e sim entender o que a distração pode significar no mundo contemporâneo.

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Dessa maneira, é possível refletir sobre como pensam os alunos que frequentam as escolas, para vislumbrar novas formas de ensinar e de aprender com gerações imersas em um mundo altamente tecnológico, que fazem uso de uma atenção flutuante que vai e vem como pequenos flashes. Memória: processo pelo qual se adquire, forma-se, conserva-se e se evoca a informação.

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Fase de aquisição: aprendizagem

Fase de evocação: lembrança

Vale lembrar que a formação de uma memória depende em grande parte de informações que devem ser conectadas ao contexto da vida da pessoa. Não havendo conexão com o emocional, a memorização é apenas temporária e a informação perde-se rapidamente. Pode-se conseguir aumentar bastante essa capacidade utilizando estratégias diversas de memorização, pois, diferentemente das memórias sensoriais e de curto prazo, que são limitadas e se desfazem rapidamente, a memória de longo prazo pode armazenar quantidades ilimitadas de informações, que ficam mais tempo retidas no cérebro e se constituem na porção de memória que todo professor gostaria de despertar em seus alunos. As gerações Y e Z trabalham, portanto, com uma atenção flutuante, quase fragmentada e dispersa. O que fez aumentar, e continua a fazer, o número de diagnósticos de Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Faz-se necessário entender que a atenção desatenta reflete na concentração, na forma de assimilar determinada informação e, principalmente, na forma de os alunos construírem suas relações com os saberes. Eles mesmos mostram que a melhor maneira de aprender é por meio da interação. É nessa interação, denominada transferência pela psicanálise, que se dá o aprendizado, na relação entre pais e filhos e depois entre professores e alunos.

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Como as gerações Y e Z usam a internet nos estudos Os alunos das gerações Y e Z usam a internet o tempo todo, acessando diversos sites, navegando, e, quando têm dúvidas, recorrem ao Google. O tempo de atenção deles é baixo, cerca de 7 a 8 minutos, enquanto antes era de 45 a 50 minutos. Interagem com o mundo por meio de tablets, smartphones e videogames. Gostam de estudar ouvindo o conteúdo, buscando imagens e até mesmo ouvindo músicas que façam conexões com os temas propostos. A atenção desses alunos é flutuante e eles costumam passar de uma tela para outra, fazendo uso da memória de curto prazo, ou seja, uma memória que se perde rapidamente. Buscam e se dedicam a estudar apenas os temas que lhes dão prazer, adiando os demais. Não apresentam muita persistência e foco naquilo que não lhes dá prazer. Comunicam-se muito mais por imagens do que por meio da escrita, e, quando escrevem, suas frases são sempre sintetizadas e abreviadas, como vc, tb, bj, abç, sdd etc.

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Nascer e viver em um contexto marcado não só pelo advento das tecnologias, mas principalmente pelo fácil acesso a elas em todos os momentos da vida cotidiana, pode possibilitar também uma forma fragmentada de produção de saberes, quase como uma colcha de retalhos, na qual o início, o meio e o fim se misturam. Um saber fragmentado composto de flashes.

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Em contrapartida ao acesso fácil de informações, essas novas gerações apresentam dificuldade em nomear sentimentos e em lidar com planejamento a médio e longo prazo. Do mesmo modo, liberdade passa a ser sinônimo de flexibilização, em que quase tudo pode ser negociado, desde que atenda a suas necessidades. Participação nas decisões e liberdade começam a fazer parte da rotina dessas gerações e isso deve ser levado em consideração na hora de planejar as aulas. Os alunos Y e Z apresentam muita dificuldade com questões impostas, pois querem participar das decisões. Diferente também é a compreensão desses alunos acerca das noções de espaço e tempo. Nascidos na era virtual, o tempo que eles entendem é um tempo incompatível com a espera e o adiamento, é quase instantâneo, uma mudança rápida de foco. Não é de se admirar que se tem falado tanto em indisciplina, ou seja, na ausência de disciplina, que começa desde o primeiro ambiente de aprendizagem, conhecido como família, que, de alguma forma, disse a eles que são reis e rainhas e que têm privilégio em tudo.

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O mundo desses alunos, além de virtual, é de globalização, pois nele as fronteiras geográficas e as distâncias já não significam o mesmo que para as gerações anteriores. As informações chegam de maneira imediata, não importando de onde venham. Eles estão um passo à frente dos mais velhos, concentrados em se adaptar aos novos tempos. Paradoxalmente, por estarem tão conectados virtualmente, muitos deles sofrem com a falta de intimidade com a comunicação verbal, a comunicação interpessoal, causando diversos problemas com as gerações anteriores. Segundo alguns analistas, as gerações Y e Z também são marcadas pela ausência da capacidade de ser ouvinte. E aqui se apresenta um convite aos adultos: considerar sem rotular. E se propõe enfrentar o desafio de lidar com os alunos dessas gerações, que preferem celulares a livros; valorizam as mensagens instantâneas e os grupos de WhatsApp; digitam ao invés de escrever; habitam e transitam nas e pelas redes sociais, em que disseminam informações rapidamente e compartilham tudo o que é deles (dados, fotos, hábitos, músicas e vídeos); que estão muito adiantados na utilização e no consumo das tecnologias em relação aos adultos. Como enfrentar o desafio do uso do celular na escola e torná-lo um aliado, uma ferramenta, capaz de potencializar o aprendizado desses alunos?

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Esses questionamentos servem para que se consiga ter uma regra coerente sobre o uso de celular dentro da sala de aula e o uso dele como ferramenta de aprendizagem, complementando o projeto político pedagógico da escola bem como o regimento interno acordado.

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Indica-se aos professores que dediquem tempo ao debate sobre essa problemática. Pode-se utilizar como fonte de reflexão a Lei Federal que proíbe o uso de celulares em sala de aula: o que significa a proibição? Quais suas justificativas? Que pontos podem ser levantados a favor e contra o uso? Como isso pode interferir positivamente ou negativamente nas condições de ensino e aprendizagem nas salas de aula? Que negociações podem ser estabelecidas em relação ao uso do celular? Que combinados podem reger o uso do celular na sala de aula?

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O bom professor na perspectiva da geração Y e Z O bom professor é um eterno aprendiz, portanto jamais está acabado, pelo contrário, o que o move é o desconhecido e o desejo de aprender que jamais cessa. A sala de aula pode ser um palco imenso de possibilidades de realização, totalmente aberto para o novo. O bom professor é aquele que consegue estabelecer pontes entre a sala de aula e o mundo.

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A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas.” (BARROS, 1998)

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Da citação, pode-se pensar que ser outro, nesse caso, um bom professor, diz respeito a assumir sua incompletude em um processo de ensino e aprendizagem contínuo, considerando sua história pessoal e a do outro. Deve acolher as novas gerações que estão ávidas por um novo sentido de vida, de escola e de sujeito. São crianças, adolescentes e jovens que querem ser compreendidos, reconhecidos e sentir-se pertencentes a uma escola que possam chamar de sua. Nesse sentido, o professor para as gerações Y e Z precisa constituir-se em alguém capaz de refletir e adaptar os métodos de ensino – crianças, adolescentes e jovens estão imersos em um ambiente com diversos estímulos, como sonoros, visuais, auditivos e textos que pipocam na tela do celular constantemente. Aulas sem recursos didáticos tecnológicos tendem a desconectar os alunos do tempo real. Incorporar mensagens de texto rápidas em forma de sínteses, youtubers, imagens, músicas no cotidiano da sala de aula é um bom caminho para fisgar os desatentos e distraídos;

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considerar as multitarefas – crianças, adolescentes e jovens estão conectados em diversas coisas ao mesmo tempo, conseguem realizar diferentes tarefas, como acessar o celular, escutar música e conversar com alguém. O processo de atenção flutuante lhes permite estarem atentos a tudo simultaneamente, e não mais a uma coisa de cada vez. Se essas gerações desenvolveram a capacidade de fazer mais de uma coisa por vez, é interessante explorar esse potencial, oportunizando diferentes desafios intelectuais, nos quais seja possível utilizar diferentes recursos e estratégias para sua solução;

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criar janelas de possibilidades – o cérebro traz os neurônios de toda vida, permanece aberto desde o nascimento até o dia de sua morte, pronto para se desenvolver e aberto a todos e quaisquer estímulos. Criar e abrir janelas de possibilidades significa dar sentido aos conteúdos para que crianças, adolescentes e jovens desejem acessar os saberes; desenvolver e propor jogos, enigmas e desafios – considerando que essas gerações se dedicam aos jogos de videogames e aos enigmas, e que, por isso, desenvolveram habilidades visuais, auditivas e espaciais, é uma excelente estratégia para estimular nos alunos o pensamento por intermédio de jogos e desafios de raciocínio lógico, encorajando-os a novas descobertas. Dessa maneira, é possível provocá-los a irem além do imediatismo e instantaneismo que marcam suas ações e expectativas, estimulando o espírito investigativo, o interesse e impulsionando-os à superação. O bom professor é aquele que, ao criar ponte entre a sala de aula e o mundo, consegue compreender-se no processo de evolução das novas gerações. É o professor que reflete, considera, cria, desenvolve e, principalmente, que se permite e permite aos alunos se apropriar da própria história pessoal.

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As novas gerações e o novo papel do professor No contexto das mutações produzidas pelo mundo informacional e tecnológico, que impactam significativa e profundamente nos modos de ser, de aprender e de se relacionar dos alunos das gerações Y e Z, as transformações sociais atingem também a escola e alavancam um processo de redefinição do papel do professor, que vai se afastando da função tradicional de transmissor de conhecimento unidirecional. Caracterizados pela rapidez em que são processados e pela fluidez com que se disseminam, os avanços científicos e tecnológicos tornam-se cada vez mais elaborados e exigem dos professores outro tipo de performance docente. Os reflexos desses avanços incidem diretamente no ambiente escolar, desafiam a reflexão sobre a socialização dos alunos, o encaminhamento do processo pedagógico, a gestão disciplinar, gerando incertezas e preocupação entre os docentes. Mas não se está diante de um caminho sem saída, e sim de uma encruzilhada em que muitos caminhos são possíveis e que admitem diferentes formas de trilhá-los. Nesse sentido, aqui se faz ecoar a voz de uma jovem professora de Belo Horizonte (MG), Yara Queiroz, por meio de relatos apaixonados que envolvem suas vivências com músicas, séries, youtubers e jogos usados como ferramentas para seu trabalho em sala de aula.

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89 Yara Queiroz Jovem educadora que atua na promoção de ações educacionais com acompanhamentos pedagógicos, gestão de processos e conflitos com adolescentes e jovens desde 2013. Administradora de Empresas (Newton Paiva, 2010), uma das 10.000 mulheres empreendedoras Goldman Sachs (Fundação Dom Cabral, 2013) e facilitadora social (Instituto EcoSocial, Antroposofia, 2016).

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Como educadora, acredito na empatia, escuta ativa, interação, coerência e respeito às necessidades e realidades do outro, independente das diferenças. Vivo e sonho com uma atuação de facilitadora de diálogos e, principalmente, de ações educacionais voltadas para a educação empreendedora.” (Yara Queiroz)

Vivências com músicas, séries, youtubers #Professor #Interação #Empatia

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Uma forma que encontrei de me aproximar dos meus alunos e ganhar a confiança foi perguntando sobre os canais no YouTube que preferem, além de filmes e séries. Até para fazer inferências e trazê-los para as matérias com as quais eles têm mais resistências. Depois, assisto, leio alguma coisa sobre o tema e também peço ao aluno para me falar sobre o assunto. Já fizemos produção de texto e ditado de vídeos de youtubers favoritos. Também já passei a indicação de um filme sobre Grandes Navegações. Além disso, fizemos desenhos e mímicas para representar o que estudamos para uma aluna que é apaixonada por dança. Como somos resistentes ao novo, rotulamos a geração tecnológica, dos tablets, ícones, funks, vídeos e também a geração “nem nem”. Concordo que, em certos momentos, as críticas são necessárias, mas é preciso investigar e entender a razão dos interesses dessa criança, adolescente ou quase adulto. Quando essa conexão acontece, chega a ser mágico perceber a aprendizagem por meio da empatia e intimidade geradas. Simplesmente faça.

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Os games/jogos #Professor #Interação #Empatia Meu irmão é da geração Z, o que me fez julgá-lo e rotulá-lo bastante por isso. Principalmente porque temos sete anos de diferença. No dia em que mudei minha postura e comecei a me interessar pelo que ele jogava no computador durante horas, percebi uma riqueza estratégica e intelectual impressionantes. Já imaginaram o trabalho investigativo, curativo e cultural que um design de games faz para conseguir perfeições de jogabilidade e gráficas que prendam o interesse dessas gerações? Como nós podemos mostrar esse outro lado? Penso que o meu papel como educadora está diretamente ligado a ampliar esse olhar consciente e investigativo sobre o que os alunos não veem. Esse foi o ponto de mudança para que eu criasse um novo olhar para esse tema. Hoje, pesquiso muito mais os jogos para fazer inferências e citar exemplos. Já tive uma experiência com um jovem nesse sentido. Mostrei que ele poderia muito bem redirecionar as habilidades aprendidas nos games na vida real, por meio das questões escolares e também nas relações com outras pessoas. Dialogamos sobre as habilidades de trabalhar em equipe, comunicação, direcionamento, gerenciamento de conflitos, interpretação, cumprimento de processos seguindo etapas e desenhando mapas. Também falamos sobre como dialogar na dificuldade, cálculos matemáticos básicos, como orçamento e compras, além de fazer trocas e acordos. Vale a pena interagir e estudar nem que seja o nome do jogo e a ideia geral que ele traz. Normalmente, faço isso e peço para me contarem detalhes dos games. Com esses relatos consigo conectar as informações que precisamos trabalhar. Vale a pena testar!

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O mundo caiu: o acolhimento para a formação humana #Educador #Interação #Empatia #Biografia #Realidade #AceitaçãoDoGrupo #ComunicaçãoNãoViolenta #Escuta #Contato Tenho a percepção e comprovo que, na prática, nosso erro como educadores (pais, professores etc.) é tratar essas gerações como se fossem adultas e não lembrar da nossa biografia como referência. Estou me referindo ao olhar para o nosso comportamento em alguns aspectos do que, necessariamente, do que efetivamente fazíamos. Analisando minha biografia, eu vejo uma adolescente vesga, com dentes horríveis, com diversas dificuldades de aceitação em grupo e que ficava doze horas seguidas ao telefone ou na internet (discada) em chats com pessoas que nunca tinha visto na vida. Para quê? Falar sobre coisas que eu não entendia, tinha curiosidade ou simplesmente para desabafar sobre meus problemas. Meus motivos eram meus pais se separando e com problemas financeiros, minha avó cometendo suicídio, o primeiro namoro, além daquela necessidade de ser aceita em um grupo, que é tão importante na adolescência.

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Percebi-me olhando adolescentes como adultos e me propus a mudar o olhar. Dessa forma, comecei a contar partes da minha biografia a essa criatura supostamente perdida. Minha proposta é sempre deixar claro que eu não tenho capacidade de mudar nada. Posso contar minha vivência e eles definem se vão se inspirar ou não com meus relatos. A ideia é tentar trazer um olhar no seguinte sentido: sim, a realidade está aí, mas este mundo também é lindo e você tem que ficar calmo para organizar as informações perdidas e bagunçadas. Somente desta forma você vai conseguir tomar decisões cada vez mais claras. O poder da biografia, da empatia e da conexão é fantástico. Muitos chegam até a chorar, ficam aliviados e pensam em soluções. Preocupo-me em proporcionar um ambiente e uma relação de confiança em que eles não se sintam “monstros rejeitados”. É assim que o adolescente normalmente se vê, apesar do exagero. Realmente, tudo é tempestade em copo-d’água.

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Tenho alguns alunos que às vezes estão emburrados, bravos, tristes e sem a intenção de render muito papo ou de firmar compromisso com o aprendizado. Nós, educadores, muitas vezes percebemos, mas fazemos de conta que não vimos nada. O que você quer transmitir a esse indivíduo? “Isso aí, ignora os sentimentos dos outros, ninguém olha para você”. “Esse mundo não tem jeito”. Seriam essas as suas respostas? Essa é a hora de provar que escutar e sentir o outro é mais que a nossa obrigação para minimizar conflitos futuros e necessidades não atendidas. Pergunte a essa criança ou adolescente o que ela sente. Se ela não falar, tente adivinhar. Às vezes ela ainda não aprendeu a dar nome ao que está sentindo. Nem nós sabemos. É nesse momento que pode acontecer outra mágica. Um sorriso brota e você ganha pontos. Mostrou para essa pessoa que o mundo pode ser belo, que existe compreensão e que tudo tem jeito. Se sentir esse impulso, comece agora e já.

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Conforme os relatos da professora Yara Queiroz sobre seu trabalho com as gerações Y e Z, entende-se que é necessário um movimento em relação ao novo mundo, uma mudança de pensamento e de percepções, que envolve inclusive a revisão de algumas certezas internas diante das novas gerações. Os relatos apontam a necessidade de troca de informações entre os colegas de profissão mais velhos, mais jovens, de outras realidades etc., pois a aprendizagem acontece por meio de um processo dialético e dialógico entre o mundo objetivo e subjetivo.

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Não é possível dizer-te sempre coisas novas, nem te é necessário ouvi-las. O que importa é que sejas sempre novo, que te desprendas cada dia do homem-velho, e que cada dia tornes a nascer, a crescer e a progredir.” (Santo Agostinho)

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Basta ao professor, de tal modo, perceber-se outro todos os dias, assim como perceber como outros seus alunos. E, por conseguinte, entender que os recursos tecnológicos podem e devem fazer parte do contexto escolar, sendo utilizados de maneira estratégica por meio daquilo que faz sentido para seus alunos (conforme as várias sugestões apresentadas) e perscrutar uma conexão com os cotidianos escolares, em uma pedagogia que contemple o constante processo de adaptação e a busca de harmonização entre professores e alunos.

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Conhecer o que os alunos gostam e como os conteúdos podem entrar nas salas de aula, especialmente por meio dos recursos tecnológicos, reconstruindo as tramas do currículo escolar e tecendo novas formas de conexão entre o mundo dos adultos e das crianças, dos adolescentes e dos jovens das gerações Y e Z, parecem despontar como estratégias para um novo perfil de professor na educação contemporânea. Tais atitudes podem constituir-se em alavancas para o desenvolvimento de um processo colaborativo de interatividade, sem julgamentos, capaz de acolher. O professor deve tornar-se orientador na aprendizagem mediada pelas novas tecnologias, criando novas possibilidades para ensinar e aprender.

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Práticas pedagógicas inovadoras em sala de aula com uso da tecnologia ― Aonde fica a saída? ―, perguntou Alice ao gato que ria. ― Depende ― , respondeu o gato. ― De quê? ― , replicou Alice. ― Depende de para onde você quer ir...” (Alice no País das Maravilhas)

Para onde vamos? Aonde queremos chegar?

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Queremos chegar à sala de aula e à necessidade de se desenvolver práticas inovadoras com o uso da tecnologia que venham responder a estes cenários geracionais dos alunos Y e Z. A rotina da sala de aula precisa ser adaptada para todos os tipos de alunos. A sala de aula deve ser pensada como um espaço de acolhimento e interações, em que cada um aprende de uma forma e pode falar sobre sua maneira de aprender. Não há mais espaço para um estilo homogeneizador de transmissão unilateral de conteúdos, de presença passiva, silenciada, sem contexto ou sentido para os alunos. Hoje, no mundo contemporâneo, deve-se considerar as múltiplas aprendizagens, e não somente uma aprendizagem.

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Com alunos das gerações Y e Z, será preciso conciliar os mundos dessas crianças, adolescentes e jovens – on-line – com o dos pais e professores – off-line.

ON-LINE

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OFF-LINE

Um mundo em que as leis vêm antes da Lei

Possibilidade de a Lei vir antes das leis

Um tempo que escorre pelas mãos, fugaz, rápido. O tempo sem espera, fragmentado, em janelas e ícones

Um tempo que é incompatível com a pressa. Tempo do educar; tempo da escuta que ouve e do olhar que vê. O tempo da narrativa, do processo etc.

Mundo quase real

Mundo que imagino ser e querer

Vida que gostaria de ter

Vida que tenho

Abertura para enfraquecer os vínculos afetivos (excluir, deletar, remover)

Possibilidade de fortalecer os vínculos afetivos (conversar, negociar, flexibilizar, considerar o ponto de vista do outro)

Curto prazo

Longo prazo

Entre pessoas há uma máquina que se interpõe

Entre pessoas há pessoas

Gratificação quase imediata

Possibilidade de adiar o tempo da gratificação

Neste mundo sou eu

Não sou quem eles gostariam que eu fosse

O mundo virtual, que marca o universo da geração on-line, vem ocupando casas, escolas e trabalhos e, como se pôde acompanhar no quadro apresentado, o aprender para as novas gerações passa pelo espaço virtual. É nesse espaço que muitos alunos conseguem expressar-se com mais facilidade, pois se sentem mais seguros em suas comunidades virtuais do que na própria casa e também mais à vontade para discutir conteúdos escolares, debater ideias e preferências. O momento é de mudanças rápidas e requer outro refletir–fazer sobre as práticas pedagógicas. Ao pensar sobre as práticas pedagógicas inovadoras, faz-se necessário refletir a importância do mundo on-line e de como ele vem influenciando as novas gerações. Um bom exercício para os professores é fazer reflexões por meio de questões como “Até que ponto os alunos estão conseguindo se expressar no mundo off-line?”; “De que maneira as práticas pedagógicas podem ser inovadoras na sala de aula com o uso da tecnologia?”. É importante construir novas práticas pedagógicas tendo as aprendizagens tecnológicas como ponto de partida, e não apenas como ponto de chegada.

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Há, portanto, a necessidade de um olhar e uma escuta sensíveis dos professores para um planejamento de aulas com momentos dialógicos e de reflexão, viabilizando uma comunicação possível entre as diversas gerações. O sociólogo Bauman (2009) denominou civilidade “a capacidade de interagir com estranhos sem utilizar essa estranheza contra eles e sem pressioná-los a abandoná-la ou a renunciar a alguns traços que os fazem estranhos” (BAUMAN, 2009). Ou seja, pensar da mesma maneira que os alunos é uma forma de reconhecer a si como estranho a eles, derrubando a ideia de um discurso vertical e bilateral de certo e errado, bom e mau, eu sei e eles não sabem. Deve-se colocar a escuta a serviço da sala de aula. Escutar os alunos e lembrar que muitas vezes o corpo fala, os sentimentos manifestos sinalizam algo que nem sempre se entende, e que os silenciosos também estão dizendo alguma coisa.

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Desse modo, acredita-se que práticas pedagógicas inovadoras devem provocar o desejo dos alunos, com regras claras, nas quais estes devem sentir-se coautores e coparticipativos no processo de planejamento e na utilização das tecnologias digitais na sala de aula. “Se o professor não souber encaixar sua aprendizagem em computador e internet, não saberá levar para o estudante nenhuma proposta útil nessa direção.” (DEMO, 2015).

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A função do professor contemporâneo no processo de ensino e aprendizagem é transformar a velha sala de aula em um espaço para o conhecimento por meio dos mundos on-line e off-line, articulando o velho e o novo, o impossível e o possível e dando sentido à aprendizagem. Começar a dar sentido às aulas é tornar os alunos desejosos a apropriarem-se do conhecimento. Por isso, sugere-se uma pedagogia crítica e ética sobre as tecnologias como recursos que facilitem o processo de aprendizagem, oportunizando sempre que possível a participação ativa dos alunos. Os alunos têm muito a ensinar, acreditem nisso.

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Uma prática pedagógica inovadora contempla todas essas possibilidades e compreende que a tecnologia é um instrumento de possibilidades, e jamais de limitações. De acordo com Bauman (2009), “o ‘mundo do lado de fora’ das escolas cresceu diferente do tipo de mundo para o qual as escolas estavam preparadas a educar nossos alunos”. Portanto, pensar em práticas pedagógicas inovadoras é pensar nas mudanças. Acolher as mudanças significa colocar-se em movimento e, nesse capítulo, movimento é quase sinônimo de desejar, dito de outra maneira, inovar é encontrar sentido onde muitas vezes parece não ter sentido. Há muito por fazer e desejar. Mãos à obra, professores!

Curiosidades 1.

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A nomofobia Existem estudos atuais que comprovam ser uma característica marcante das gerações Y e Z a ligação direta delas com celulares. Pedir aos alunos que se separem dos aparelhos é quase um crime. Já existem sinais de uma nova patologia: nomofobia. Crianças, adolescentes e jovens estão tendo crises de abstinência quando separados de seus aparelhos. Para saber mais, acesse <http://revistagalileu.globo.com/Revista/ Common/0,,EMI305325-17770,00->

Nomofobia O nome vem do inglês no + mobile + fobia, ou seja, “fobia de permanecer sem conexão móvel”, que inclui internet e celular. Essas pessoas não saem de casa sem o celular, mantêm o telefone ligado 24 horas por dia e sentem ansiedade quando o esquecem em casa (MEDEIROS, Roberta).

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2.

A “Generation C” É um conceito criado há alguns anos para uma geração não definida pela idade, mas pelo comportamento. É a geração dos youtubers e dos creators (termo usado nos Estados Unidos para designar qualquer um que produz conteúdo na internet). Eles valorizam a conectividade, o pertencimento a comunidades e a criação de conteúdo e redefinem o conceito de cultura – mainstream. Para ficar por dentro, conheça os youtubers que seus alunos acessam diariamente: Kéfera Buchmann, Jout Jout, Chris Figueiredo, Isabela Freitas, Felipe Neto etc. Eles ditam o que é tendência nas redes sociais, provocam e influenciam as tendências no mercado publicitário que os escutam e os projetam. Lotam bienais, estádios, livrarias e teatros. Júlia, também conhecida como Jout Jout, uma jovem jornalista de 23 anos, apresenta vídeos rápidos sobre existir e sobreviver no mundo atual. As gerações Y e Z se identificam com a forma brincalhona e despojada da Jout Jout, que já é um fenômeno e tem mais de 1 milhão de seguidores em seu canal do YouTube, criado no ano de 2014.

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Sugestão de filmes Os desconectados (Disconnect) – Ensino Fundamental II e Ensino Médio Direção: Henry Alex Rubin, 2012. O filme conta quatro histórias interconectadas e explora a reação das pessoas diante das experiências negativas da comunicação moderna, tendo como ponto comum os efeitos excessivos da tecnologia: a vida de um casal entra em perigo quando sua vida privada é exposta on-line; uma viúva e ex-policial descobre que seu filho humilha um garoto da escola pela internet; um advogado, que é obcecado por seu telefone, não consegue se comunicar com a própria família; e uma jornalista vê sua vida se transformar ao pesquisar a história de um adolescente que faz atuações eróticas pela webcam.

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O menino e o mundo – para todos os segmentos de ensino e pais e professores Direção: Alê Abreu, 2014. A animação traz elementos estéticos muito diferentes do que crianças, adolescentes e jovens estão acostumados. Trata-se de um trabalho quase artesanal e, por isso, pode até causar certo estranhamento, porém é uma experiência inspiradora pela música e trilha sonora (os sons são fundamentais no filme), assim como pela visualidade. É um filme importante para todas as idades, pois há muitas camadas de leituras possíveis. Para crianças pequenas, pode ser uma experiência estética inédita. À medida que aumenta a idade do espectador, mais elementos da densidade dramática podem ser compreendidos. Um filme essencial para educadores (pais e professores), pois trata com sensibilidade como uma criança vê e sente o mundo dos adultos. Eu e meu guarda-chuva – Ensino Fundamental II Direção: Toni Vanzolini, 2010. Essa obra é uma criativa produção que permite reflexões sobre sentimentos profundos de maneira lúdica. Desde o início do filme, sabe-se que o garoto Eugênio, de 11 anos, está muito triste com o falecimento recente de seu avô, de quem era muito próximo. A insegurança se acentua com o fato de ser o último dia de férias, e ele, com seus melhores amigos, Frida e Cebola, passarão a estudar em um prédio muito antigo, carregado de histórias assustadoras. Eles resolvem, como última aventura de férias, explorar o cenário da nova escola assombrada pelo fantasma do Barão de von Staffen. Por intermédio do filme, é possível debater sobre o luto, medos e dificuldades da vida.

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O menino no espelho – Educação Infantil e Ensino Fundamental I e II Direção: Guilherme Fiuza Zenha, 2014. O filme é uma adaptação de uma obra literária homônima de Fernando Sabino. A história se passa em Belo Horizonte, em 1930. Fernando é um garoto levado, que está cansado de fazer as coisas chatas da vida. Certo dia, seu reflexo no espelho se solta e ele pode atribuir ao sósia as tarefas chatas, ficando apenas com a parte boa da vida. O filme pode inspirar nos alunos o interesse pelas obras de Fernando Sabino. É interessante também que eles conheçam a representação do tempo de seus bisavôs, o que pode desencadear pesquisas sobre como era a vida das crianças daquela época. Hoje eu quero voltar sozinho – Ensino Fundamental II e Ensino Médio Direção: Daniel Ribeiro, 2014. O filme traz uma abordagem leve e criativa. O despertar da sexualidade é tratado com naturalidade entre os adolescentes. O protagonista Léo, que é cego, começa a gostar de Gabriel, um aluno que chegou há pouco tempo do interior, mas a deficiência de Léo o leva a vários desafios. Um filme que proporciona uma discussão sobre a homofobia.

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Divertida mente (Inside Out) – Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio Direção: Peter Docter e Ronaldo Del Carmen, 2015. Crescer não é uma tarefa fácil, e com Riley não é diferente. Ela é retirada de sua vida no Meio-Oeste americano quando seu pai arruma um novo emprego em São Francisco. Rilley convive com várias emoções: alegria, medo, raiva, nojinho e tristeza. As emoções vivem no centro de controle de seu cérebro, onde a ajudam com conselhos em sua vida cotidiana. Ao longo do filme, as emoções entram em conflito sobre qual a melhor maneira de viver em uma nova cidade, casa e escola. O filme traz um debate sobre as emoções e ajuda crianças, adolescentes e jovens a nomear seus sentimentos, muitas vezes tão esquecidos.

Sugestão de livros

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Cabeça nas nuvens: orientando pais e professores a lidar com o TDAH Jane Patricia Haddad, Wak, 2013. O livro traz uma reflexão sobre o Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), que vem ganhando lugar na mídia, nos consultórios médicos, psicológicos e psicopedagógicos, na educação e na tendência da moda educacional e contemporânea: para tudo tem um nome, uma resposta, uma certeza. A ideia desse livro é o oposto das respostas prontas e certezas estabelecidas. O momento educacional contemporâneo nos convoca ao esvaziamento, deixar tantas certezas e começar a nos interrogar: por que crianças e jovens andam hiperativos e desatentos? O impacto da psicanálise na educação Leny Magalhães Mrech (Org.), Avercamp, 2005. O livro apresenta um debate entre diversos autores renomados e oferece uma reflexão acerca do entrelaçamento entre psicanálise e educação, conversa que tem se intensificado entre as diversas áreas do saber. A subvalorização da educação pela sociedade é preocupante. O livro provoca a reflexão sobre a escuta das questões educativas. O tema central do livro é “Os professores escutam a psicanálise?”

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Conectados, mas muito distraídos Sidnei Oliveira, Integrare, 2014. O livro traz alguns conceitos sobre tecnologia, redes sociais, informação etc. e propõe uma reflexão sobre uma geração distraída e que não aprendeu a lidar com frustrações. São seis personagens em busca de autoafirmação e de um caminho para alcançar a realização pessoal e profissional. Sidnei Oliveira conta a história de jovens bombardeados por informações, mas que estão distraídos demais e não percebem as possibilidades do momento em que estão vivendo. “A maior consequência desta distração é a infelicidade pessoal, representada por um consumismo insano, uma apatia social, demonstrada na omissão diante de problemas reais e o desvio ético, agora considerado como estratégia de sucesso.” Geração delivery: adolescer no mundo atual Cybelle Weinberg (Org.), Sá Editora, 2001. Ser adolescente, hoje, não é uma condição muito fácil, ainda que aparentemente as coisas estejam muito mais fáceis para os jovens. Os pais são mais compreensivos, mais tolerantes, há maior liberdade sexual, maior liberdade de expressão, maior liberdade para escolha profissional. Essa dupla mensagem da sociedade, por um lado acreditando que hoje tudo é mais fácil e por outro sendo cada vez mais exigente no que diz respeito à competência profissional, à estética, ao sucesso etc., é responsável por novos sintomas, que se manifestam nas relações familiares, na escola e no próprio corpo. O livro provoca reflexões sobre vários temas envolvendo jovens, dentre eles adoção, relações incestuosas, sexualidade e gravidez na adolescência, escolaridade, depressão, pânico, drogadição, transtornos alimentares. Se o mundo está difícil para nós, adultos, o que pensar para os adolescentes?

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Vasco Pedro Moretto Mestre em Didática das Ciências pela Universidade Laval, em Québec, no Canadá; Licenciado em Física pela Universidade de Brasília (UnB); Especialista em Avaliação Institucional pela Universidade Católica de Brasília (UCB); autor de várias obras em educação, entre elas Construtivismo: a construção do conhecimento em aula; Prova: momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas e Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento de competências.

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Capítulo 3

O papel da educação no século XXI: competências e habilidades para lidar com as demandas estratégicas deste século

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O papel da escola é ajudar a formar gestores de informações e não meros acumuladores de dados. Vasco Moretto

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Com frequência, o tema educação em contexto escolar é abordado com a conotação de necessidade de mudanças. É recorrente a ideia de que é urgente mudar. O argumento que justifica essa urgência: a educação no Brasil é ruim, salvo poucas exceções. Visando a mudanças, de tempos em tempos, o governo propõe novas diretrizes curriculares tentando implantar modelos educativos para melhorar a aprendizagem e o desempenho dos alunos. Por que, no entanto, os resultados continuam pífios tendo em vista o tamanho dos esforços empreendidos? Será o modelo escolar predominante incompatível com as necessidades e as exigências de um mundo globalizado e integrado virtualmente? Ou será a capacitação inadequada dos professores que dificulta a melhor qualidade de ensino e determina a baixa qualidade da aprendizagem? Ou, ainda, será que o sistema de avaliação aplicado em todos os níveis de escolaridade não é capaz de verificar a real aprendizagem dos alunos? O que falta efetivamente para uma educação melhor em todos os níveis escolares? São tantas e tão complexas as questões levantadas que as respostas exigem análise profunda do sistema educacional em função de inúmeras variáveis relacionadas à cultura, à economia e à política.

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O embate entre a escola “tradicional” e a “atual” se caracteriza como grande vilão responsável pelo resultado ruim no processo da educação. A primeira é apontada como a escola com predominância na transmissão de informações, decoradas pelos alunos (como se decorar fosse condenável) e reproduzidas nos momentos de avaliação da aprendizagem. A escola atual, por outro lado, é apresentada como a que busca novas teorias da educação e métodos de ensino com vistas à melhor aprendizagem. Novas teorias, novos métodos e novas estratégias de ensino constituem o novo modelo para a educação escolar. Edgar Morin indica o sentido da mudança para a escola: A primeira finalidade do ensino foi formulada por Montaigne: mais vale uma cabeça bem feita do que uma cabeça bem cheia. O que significa “uma cabeça bem cheia” é claro: é uma cabeça onde o conhecimento é acumulado, empilhado, e não dispõe de um princípio de seleção e de organização que lhe dê sentido. “Uma cabeça bem feita” significa que, mais do que acumular conhecimentos, é importante dispor, ao mesmo tempo, de uma atitude geral ao abordar e tratar problemas e de princípios organizadores que permitem relacionar os conhecimentos e lhes dar sentido.” (MORIN, 1999)

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Essa análise, embora baseada em bons e reais argumentos, parece simplista e mais afeita ao discurso crítico sobre educação do que a práticas que a revolucionem. Para melhor compreender as razões que devem motivar as mudanças, é preciso pensar que tanto a escola tradicional quanto a atual comungam dos mesmos problemas crônicos: há muitos alunos que não se motivam a prestar atenção nas aulas, não fazem deveres de casa, não desenvolvem autonomia para estudar, não adquirem gosto pelo estudo etc. Outros tantos gostariam de estudar, mas as condições econômicas e sociais dificultam a frequência às aulas ou mesmo a matrícula na escola.

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É claro que é preciso buscar novos modelos que visem encontrar respostas para a questão fundamental “qual a função social da escola?”. Ao abordá-la, dois aspectos podem ser considerados: o primeiro é sua função conservadora e o segundo, sua função transformadora. A escola é conservadora na medida em que seleciona saberes socialmente construídos pelos grupos sociais ao longo de suas histórias e os apresenta aos cidadãos em processo de formação visando a sua inserção social. No sentido da socialização do sujeito, Um indivíduo que vem ao mundo encontra uma realidade já construída, isto é, um conjunto de conhecimentos estabelecidos, estruturados, institucionalizados e legitimados. Este conjunto de conhecimentos tem como objetivo dar um sentido às experiências vividas pelos homens e constitui a realidade objetivada da sociedade onde o indivíduo viverá. Outras sociedades, em outros momentos históricos, poderão viver outras experiências (ou as mesmas) e constituir realidades, com outro universo simbólico, que dê sentido às suas experiências.” (MORETTO, 2006)

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Nesse aspecto, é importante que a escola selecione saberes relevantes para que as novas gerações compreendam o processo histórico evolutivo de seu grupo social. Assim, ao mesmo tempo em que trabalha o aspecto cognitivo, a escola analisa os valores históricos, políticos, éticos e morais de seu grupo cultural e os apresenta aos educandos visando à formação para vivência plena da cidadania. Nessa vivência, autonomia e responsabilidade são valores fundamentais para o desenvolvimento harmônico dos diferentes grupos sociais.

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Além de exercer o papel conservador, a escola exerce o papel transformador, preparando criticamente os jovens e capacitando-os a analisar a sociedade, avaliar as relações existentes, equacionar seus problemas e propor transformações. É nessa medida que se pode afirmar ser o homem produto e produtor da sociedade. Como produto, ele se apropria e vive os valores e hábitos de sua sociedade; como produtor, ele é agente de transformação social. É na função de formar esse cidadão que se insere a escola: conservar o patrimônio cultural e buscar tecnologias, metodologias e saberes que permitam ao ser humano construir as melhores condições de vida para si e para seu grupo social.

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Porém, tanto a apropriação do conhecimento por parte dos alunos como a capacidade de transformação social precisam ser acompanhadas em seus resultados. Quanto à apropriação do conhecimento, quais resultados se tem observado nos diferentes processos avaliativos nacionais e internacionais? Os alunos aprendem mais e melhor? As informações apresentadas pelos professores se transformam realmente em conhecimentos dos alunos ou apenas ficam “acumuladas” (leia-se memorizadas) para serem utilizadas em momentos de avaliação da aprendizagem e depois esquecidas por não terem relação com o cotidiano do cidadão? As respostas a essas questões e os resultados, em nível internacional e nacional, são decepcionantes. Em 2012, o Brasil participou do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) para jovens de 15 anos. Entre os 65 países participantes, o Brasil alcançou apenas o 57.º lugar. A mesma avaliação revelou que 55% dos chineses têm desempenho extraordinário. Já os brasileiros contam com 0,8% nesse seleto grupo preparado para produzir e inovar.

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Na avaliação interna do Brasil, o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira (Ideb) de 2015 mostrou que nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio os estudantes brasileiros não conseguem alcançar as metas estabelecidas. Ressalta-se que essas metas não são nada extraordinárias, como se pode ver nos quadros a seguir.

Anos iniciais do Ensino Fundamental Ideb observado

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Metas

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Anos finais do Ensino Fundamental Ideb observado

Metas

2005 2007 2009 2011 2013 2015 2007 2009 2011 2013 2015 2021 Total

3,5

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Ensino Médio Ideb observado

Metas

2005 2007 2009 2011 2013 2015 2007 2009 2011 2013 2015 2021 Total

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Fonte: Saeb e Censo Escolar. Os resultados destacados referem-se ao Ideb que atingiu a meta.

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Quanto à capacidade de transformação social pelas novas gerações, é de se perguntar: quais os resultados positivos na melhoria da qualidade de vida do ser humano ao longo de sua história? Os avanços das ciências e suas aplicações no âmbito das tecnologias têm melhorado a qualidade de vida das pessoas? Certamente. Mas ao mesmo tempo em que há mais recursos para manter a saúde das pessoas e melhores condições para que se desloquem pelo mundo com rapidez e conforto, observam-se grandes conflitos causados pela intolerância entre povos, pela desigualdade social cada vez mais acentuada, pelos governos corruptos e totalitários, por grupos radicais que desrespeitam a vida e a convivência harmônica entre semelhantes. Assim, quanto à proposta de a escola preparar agentes de transformação social, buscam-se resultados indicadores para saber se de fato o aluno que frequentou a escola por mais de 15 anos realmente agregou valor para sua vida e seu grupo social.

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Nesse contexto, cabem as perguntas: que cidadão a escola pretende ajudar a formar? Para que sociedade? São duas questões complexas que levam a outra reflexão importante: é a sociedade que diz qual escola ela quer ou é a escola que planeja a sociedade que almeja para as futuras gerações?

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Um olhar para a sociedade atual As rápidas e constantes transformações tecnológicas e sociológicas, resultado de novas concepções epistemológicas no mundo das ciências, têm apresentado consequências na vida social e na educação para esta. Uma dessas consequências é o extraordinário aumento da quantidade, da qualidade e da velocidade das informações que circulam pelo mundo, tornando a utilização dos conhecimentos socialmente produzidos em todos os campos da vida em sociedade, fator de profundas e rápidas mudanças no comportamento dos cidadãos.

112 Nesse aspecto, pode-se analisar o comportamento das pessoas em relação à evolução das tecnologias da telefonia. Há alguns anos, telefone era um dispositivo difícil e caro para ser adquirido. Comprava-se e esperava-se um longo tempo para ele ser instalado. Era um investimento tão caro que tinha de ser declarado como um “bem” para o imposto de renda. Sua função, no entanto, era muito simples: fazer e receber chamadas. A tecnologia atual “ainda permite” essa função, no entanto, seu uso diário é para uma série de outras funções, antes mesmo impensáveis, que mudaram a vida das pessoas. Quem ia ao banco pagar uma conta, ver seu saldo e fazer transferências já pode fazer tudo por meio do celular, em sua casa ou escritório. Quem se deslocava até uma loja de vendas de passagens para adquiri-las hoje efetua as compras pelo celular sem se deslocar e ainda faz o check-in sem precisar imprimir os bilhetes para o embarque. Com o celular, pode-se receber e enviar mensagens em tempo real, ligando-se com o mundo, independentemente das distâncias. Por meio dele, é possível fazer novos amigos, dialogar e compartilhar a vida, sem necessidade

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de maiores deslocamentos. Com ele, pode-se ainda obter informações e fazer consultas sobre temas desconhecidos, funcionando como uma biblioteca. No entanto, ao lado de tantos benefícios, sua entrada na vida dos cidadãos e no mundo do trabalho acarretou outra consequência: muitos empregos desapareceram (os que recebiam os cheques no banco, carimbavam, conferiam, enviavam para compensação etc.) e em seu lugar apareceram outros (os que desenvolvem aplicativos para interface na internet, os que criam sistemas de controle virtual ou sistemas de segurança). Nas empresas, grande quantidade de papel deixou de circular, uma vez que as informações são divulgadas virtualmente com rapidez quase que instantânea, permitindo a análise de situações e tomada de decisão para sua solução. Em virtude dessas novas tecnologias, novos estilos de vida e profissões aparecem. Em muitos casos, não é preciso deslocar-se para o “local de trabalho” para resolver situações complexas: uma teleconferência reúne pessoas fisicamente distantes, mas funcionalmente próximas, trocando ideias, analisando problemas, tomando decisões etc. É um novo estilo de vida ubíquo, em que tempo e espaço se secundarizam, uma nova visão de ambiente de trabalho e um conjunto de profissões que aos poucos vai se desenhando nas relações sociais.

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Esse panorama modifica as necessidades de tempos e espaços de aprendizagem dos cidadãos e ainda cria demandas que antes não existiam. Um bom exemplo é a exigência de criatividade. As constantes mudanças sociais exigem muita criatividade por parte de funcionários e de colaboradores das organizações que lideram os mercados. Estará a escola com o foco na necessidade de formar alunos mais criativos ou, no mínimo, mais sensíveis para as demandas sociais emergentes, sendo capazes de percebê-las, de refletir sobre elas e contribuir para resolvê-las?

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Cita-se novamente a evolução na telefonia. Parece que há uma febre em busca de celulares de última geração. Essa necessidade frenética de ter o último modelo de celular é real ou o mercado a cria? Será que as pessoas são mesmo capazes de refletir sobre o produto que realmente necessitam ou são levadas a comprar celulares, por exemplo, pela força do marketing que impele a compra da novidade? Em um mundo fluido, como denuncia Zygmunt Bauman, a capacidade reflexiva é essencial para que as pessoas não sejam encurraladas pelos mercados consumidores. E ficam as perguntas: essa questão já está nos currículos das escolas? Há de fato projetos para que essa habilidade reflexiva seja desenvolvida pelos estudantes? Monitora-se se a escola está cumprindo sua função conservadora e inovadora?

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Um olhar sobre a escola para o novo tempo No contexto social atual, com novos valores e exigências profissionais, a escola precisa voltar seu olhar para sua estrutura, refletir sobre seu papel transformador e promover um novo modelo para a educação em contexto escolar. A base de uma proposta que toma força nesse contexto pode ser assim enunciada: a escola do novo tempo promove a construção interativa do conhecimento em busca do desenvolvimento de competências. Tomando-se isso como princípio, pode-se traçar o perfil do aluno, do professor e das relações que nascem entre eles visando à formação do cidadão para as exigências profissionais e sociais da sociedade do novo tempo.

A construção interativa do conhecimento

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Na escola, circulam informações contidas em livros, revistas, jornais, redes sociais e na internet. Os professores selecionam as informações relevantes distribuídas em diferentes disciplinas e as transmitem aos alunos ou criam estratégias para que eles as encontrem. Estes, por sua vez, são estimulados a compreender seu sentido, aplicá-las em situações reais ou imaginárias e delas se apropriarem. Esse processo pode ser chamado de construção do conhecimento pelo sujeito que aprende. Nesse sentido, afirma-se que todo o conhecimento é uma construção individual mediada pelo social, ou seja, cada sujeito constrói seu conhecimento em um processo de interação com o meio em que vive. É nele que o sujeito forma sua linguagem, seus valores e adquire a cultura de seu grupo social.

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Ao afirmar-se que o conhecimento é uma construção interativa, colocam-se em foco outros atores sociais que participam desse processo de construção, entre eles os professores. O professor ensina para que o aluno aprenda é um princípio que deu base às relações entre professor e aluno ao longo de toda a história da educação. O que mudou nesse percurso foi o sentido dado ao aprender e ao ensinar. Este foi entendido, durante muitos anos, como sinônimo de transmitir informações aos alunos para que eles pudessem repeti-las em momentos de avaliação da aprendizagem. O foco naquele momento era guardar a informação, fixá-la por meio de exercícios e repeti-la no momento da avaliação.

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Para a escola atual, ensinar é organizar as condições que favoreçam a aprendizagem. O professor planeja seu ensino, escolhendo conteúdos relevantes a serem propostos, bem como estratégias que favoreçam de maneira eficiente a aprendizagem. Nessas estratégias, as interações entre professor e aluno, aluno e aluno e aluno e contexto social assumem o papel principal. Esse é o sentido aqui atribuído ao termo “construção interativa”. Assim, o aluno aprende. Ele é o protagonista no processo da construção de seu conhecimento. Isso ocorre na medida em que o “aprendente” (estudante) interage com o “ensinante” (professor), com os colegas, com os livros e com outros atores sociais que possam favorecer a aprendizagem. O conceito de interação pode ser aprofundado e ampliado com o de mediação. Quando se afirma que o professor é o mediador do processo de aprendizagem do aluno, está-se dizendo que há mais do que simples interações entre os dois no campo cognitivo. Afirma-se, com isso, que o professor conhece os conteúdos de sua disciplina, também conhece cognitiva e socialmente seus alunos e, em função disso, procura usar as estratégias mais favoráveis à construção do conhecimento de cada um de seus estudantes. Nesse sentido, Marcos Meier afirma:

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Mediar significa, portanto, possibilitar e potencializar a construção do conhecimento pelo mediado. Significa estar consciente que não se transmite conhecimento. É estar intencionalmente entre o objeto de conhecimento e o aluno de forma a modificar, alterar, organizar, enfatizar, transformar os estímulos provenientes desse objeto a fim de que o mediado construa sua própria aprendizagem, que o mediado aprenda por si só.” (MEIER; GARCIA, 2007)

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No trecho, a expressão “que não se transmite conhecimento” deve ser entendida a partir do conceito estabelecido anteriormente para a palavra conhecimento: uma construção individual, mediada pelo social. Então, cada sujeito constrói e transmite seu conhecimento, e a escola transmite os saberes socialmente construídos, institucionalizados e legitimados socialmente.

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O paradigma do desenvolvimento de competências Uma das grandes críticas à escola dita tradicional deveu-se a sua concentração no ensino enciclopédico que promovia, por meio da estratégia da transmissão de informações, tendo como maior objetivo a preparação de alunos para exames vestibulares, uma vez que estes, com frequência, enfatizavam a memorização e a aplicação mecânica de conteúdos decorados pelos alunos, nem sempre uma aprendizagem significativa.

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No modelo proposto da construção interativa do conhecimento em busca do desenvolvimento de competências é dado um novo sentido para o processo da aprendizagem e do ensino. Ou seja, o resultado que se busca é o desenvolvimento de competências do educando.

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Educar por habilidades e competências. É assim proposta a orientação do novo paradigma da educação em contexto escolar. Mas o que isso significa na prática e o que representa para as ações do dia a dia do professor em aula?

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As orientações oficiais contidas em vários documentos, em especial no Parecer 009/2001, que aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica em nível superior, embora não deem conceitos claros sobre o termo competência, indicam a direção da proposta quando trata da formação do professor: O professor, como qualquer outro profissional, lida com situações que não se repetem nem podem ser cristalizadas no tempo. Portanto precisa, permanentemente, fazer ajustes entre o que planeja ou prevê e aquilo que acontece na interação com os alunos. Boa parte dos ajustes tem que ser feitos em tempo real ou em intervalos relativamente curtos, minutos e horas na maioria dos casos – dias ou semanas, na hipótese mais otimista – sob risco de passar a oportunidade de intervenção no processo de ensino e aprendizagem. Além disso, os resultados das ações de ensino são previsíveis apenas em parte. O contexto no qual se efetuam é complexo e indeterminado, dificultando uma antecipação dos resultados do trabalho pedagógico. Ensinar requer dispor e mobilizar conhecimentos para improvisar, isto é, agir em situações não previstas, intuir, atribuir valores e fazer julgamentos que fundamentem a ação da forma mais pertinente e eficaz possível.” (Parecer 009/2001)

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Observou-se confusão na compreensão e implantação do modelo proposto como de habilidades e competências. Faltou clareza na diferenciação entre os conceitos de habilidade e de competência. Autores, professores e pesquisadores apresentam suas interpretações sobre ambos os conceitos, ou de modo excessivamente acadêmico ou muito superficial, deixando professores confusos e, porque não dizer, descrentes do modelo de desenvolvimento de competências. O que ocorre então? Rotula-se de “modismo” (no sentido pejorativo do termo) toda tentativa de mudança de modelo na educação escolar.

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Orientação As orientações estão em vários pareceres emitidos pelo CNE/CES entre os anos 2001 e 2005, no período de aprovação dos diferentes cursos de nível Superior. Convém citar Parecer 0146/2002 para curso de Direito, Parecer 1302/2001 para cursos de Matemática etc.

A falta de clareza é agravada com a orientação dos órgãos oficiais aos sistemas de ensino para que, na elaboração de propostas pedagógicas, explicitem quais competências e habilidades os estudantes devem alcançar no final de um ano escolar ou de um ciclo de estudos. Essa orientação e a falta de compreensão dos conceitos competência e habilidade levaram, em muitos casos, à seguinte situação: o que há alguns anos se classificava nos planos de ensino como objetivos gerais foram classificados como competência, e o que eram os objetivos específicos foram classificados como habilidades. Essa confusão foi e continua sendo prejudicial para as mudanças necessárias nos rumos da educação escolar.

Uma interpretação do problema 120

O senso comum dá uma boa pista para a análise que se deseja fazer do paradigma da educação para o desenvolvimento de competências, pois por meio dele é possível captar outros indicadores para a compreensão do conceito. Nesse caso, a ênfase não está em alcançar competências, mas em desenvolvê-las. Quando alguém procura um médico, um dentista, um advogado ou outro profissional, é normal afirmar “Quero um profissional que seja realmente competente”. E quando alguém comete erros no exercício profissional, é logo classificado de incompetente. Isso permite duas pistas para a reflexão. A primeira é um desejo natural de todos: quem presta um serviço ou realiza uma tarefa deve fazê-lo da melhor forma possível, o que pode ser associado, mesmo sem o rigor acadêmico, ao conceito de competência que estamos utilizando. A segunda é afirmar que o médico, o dentista e o advogado realizam tarefas diferentes, e, por isso, suas competências para realizá-las não podem ser comparadas. Assim, não se pode afirmar que um médico é mais competente que o advogado, pois eles realizam tarefas diferentes.

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Nesse sentido, Medeiros, fazendo a ressalva de uma definição em caráter provisório, propõe o conceito de competência da seguinte forma: (...) competência é uma relação social dialética afetiva/ cognitiva/performativa, fundada em informações, capacidades, saberes, saber-fazer, conhecimentos, habilidades, atitudes e aptidões, que se configura através de um sujeito (individual ou coletivo), sob a forma de representações e ações inovadoras, diante de situações inéditas ou do inédito que se apresenta em situações rotineiras.” (MEDEIROS, 2007)

O mesmo autor, em sua pesquisa sobre um conceito consensual para competência, afirma que “Competência é o domínio praxiológico de procedimentos adequados para resolver problemas em situação de modo eficiente e eficaz.” (Medeiros, 2007)

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E busca ampliar os elementos do conceito: Competência é um arranjo praxiológico perceptivo-afetivo-cognitivo-motor, fundado em saberes, conhecimentos, habilidades, valores, atitudes e aptidões, adequado à solução efetiva de problemas postos por situações inéditas ou pelo inédito que aparece em situações rotineiras.” (MEDEIROS, 2007)

Neste capítulo, o intuito não é realizar uma pesquisa profunda sobre o conceito de competência. Deseja-se mostrar como é importante compreendê-lo e aplicá-lo no modelo do desenvolvimento de competências na educação em contexto escolar. Orientam-se com isso as ações do professor em seu dia a dia em sala de aula, com possibilidade de promover a aprendizagem significativa dos alunos.

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Mesmo correndo o risco de simplificar o fundamento do paradigma, será adotado, nesse texto, com apoio em autores como Guy Le Boterf e Philippe Perrenoud, o seguinte conceito para competência: é a capacidade de um sujeito de mobilizar recursos para administrar e resolver situações complexas.

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Situações complexas, também chamadas situações-problema, são aquelas que se apresentam no dia a dia dos alunos, nos conteúdos escolares, ou na vida de qualquer profissional. Como exemplo, são situações complexas para alunos em sua atividade escolar a elaboração de uma redação sobre os refugiados na Europa, a resolução de problemas de Física envolvendo as Leis de Newton, o estudo da Revolução Francesa e suas consequências econômicas e sociais para a Europa, o estudo das funções de primeiro e segundo graus. Já para um professor, são situações complexas o planejamento de suas atividades pedagógicas, o ministrar aulas e o avaliar a aprendizagem de seus alunos. Para Neymar Jr., a situação complexa é jogar futebol. Para Lewis Hamilton é competir na Fórmula 1. Para Bernardinho é treinar uma equipe de vôlei.

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Da análise do conceito de competência, pode-se chegar a várias e importantes conclusões. Uma delas é a utilização da expressão ensino por competências em lugar de ensino para o desenvolvimento de competências. A primeira expressão levou a uma interpretação que causou problemas em sua aplicação, pois entendeu-se que se poderia listar um conjunto de competências que os estudantes deveriam alcançar. O que se lista, no entanto, são as situações complexas para as quais o sujeito desenvolve competência, e esse é o sentido do para em ensino para o desenvolvimento de competências. O para é indicador de que sempre que se fala em competência deve-se dizer “ser competente para administrar e resolver tal situação”, o que equivale a dizer que a competência é sempre definida em uma situação explícita. De Lewis Hamilton diz-se que é competente “para dirigir carro de Fórmula 1”, mas isso não significa que não possa ser competente para tocar violino, jogar vôlei, desenhar ou para tantas outras situações para as quais poderia ter desenvolvido competência. Da mesma forma, pode-se dizer que Michael Phelps é competente para provas de natação, mas não para correr em prova de Fórmula 1. Por essa razão, não se pode comparar a competência de Hamilton com a de Phelps, pois eles enfrentam situações complexas diferentes. Não teria sentido dizer que Lewis Hamilton é mais competente que Michael Phelps nas atividades nas quais os dois são conhecidos em sua competência.

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Quando se diz que competência é a capacidade de mobilizar recursos, é preciso explicitar que recursos são esses. Assim, os recursos para Usain Bolt como corredor são diferentes dos recursos de Neymar Jr. como jogador de Futebol e dos de Bernardinho como treinador da equipe de vôlei, mas os três desenvolveram competências para resolver as respectivas situações complexas.

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Retomando-se o Parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), 009/2001, é possível aprofundar a orientação oficial quanto ao desenvolvimento de competências: mobilizar recursos para resolver situações complexas no momento em que elas se apresentam. No mesmo sentido está outra proposição do Parecer: As competências tratam sempre de alguma forma de atuação, só existem “em situação” e, portanto, não podem ser aprendidas apenas no plano teórico nem no estritamente prático. A aprendizagem por competências permite a articulação entre teoria e prática e supera a tradicional dicotomia entre essas duas dimensões, definindo-as pela capacidade de mobilizar múltiplos recursos numa mesma situação, entre os quais os conhecimentos adquiridos na reflexão sobre as questões pedagógicas e aqueles construídos na vida profissional e pessoal, para responder às diferentes demandas das situações de trabalho.” (Parecer 009/2001, grifo nosso)

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O trecho em destaque no texto encaminha para outro aspecto do conceito de competências: mobilização de recursos diversos para resolver uma situação complexa. Por isso, o modelo da construção interativa do conhecimento tem como objetivo a busca do desenvolvimento de competências, tanto do professor, demonstrando suas competências nas situações de planejar, de ministrar aulas e de avaliar a aprendizagem, quanto dos alunos, adquirindo recursos que permitam desenvolver competências para administrar e resolver situações complexas que lhes forem propostas.

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São indissociáveis da noção de competência as seguintes características: a competência sempre se manifesta em ação para administrar e resolver uma situação complexa específica; administrar uma situação complexa com competência exige a capacidade de mobilização de recursos (cognitivos, afetivos, motores); a competência manifesta-se em situações inéditas ou no inédito que aparece em situações rotineiras; para a mesma situação, haverá sempre sujeitos mais competentes que outros porque desenvolveram mais recursos necessários para as competências solicitadas na solução de situações-problema; só se podem comparar competências para a solução da mesma situação complexa; não é possível comparar a competência de um médico com a de um engenheiro, pois eles atuam em situações complexas diferentes.

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Para essa análise, usa-se o termo “situação complexa” (ou situação-problema) na linha de pensamento de Edgar Morin. A partir das ideias desse pensador, apresentam-se a seguir algumas características de uma situação complexa. Pode ser um fenômeno da natureza, um fato social, um acontecimento, um problema “que pode surgir tanto de uma inquietação do indivíduo diante do mundo e de si mesmo como também de determinadas necessidades sociais que a vontade de alguns ou de muitos quer resolver. O problema nasce da relação entre o homem e os outros homens. Nasce fundamentalmente da práxis humana” (PAVIANI, 2005).

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Supõe uma variedade de relações que precisam ser consideradas para a análise e compreensão de um problema a ser solucionado. Encerra o desafio de relacionar pontos de vista muitas vezes opostos, exigindo escolhas para a solução do conflito. Pode permitir que o sujeito encontre soluções ainda não propostas por outros e que fujam de padrões já estabelecidos. Exige do sujeito que aprende um esforço de elaboração que envolve suas concepções prévias, suas habilidades, sua visão de mundo, seus valores e suas ideologias, ou seja, as soluções da situação complexa mobilizam variáveis internas (do sujeito) e externas (do contexto).

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As relações entre os elementos da situação se apresentam em gradientes de dificuldades do ponto de vista de quem aprende, estando o grau de dificuldade relacionado com a estrutura cognitiva do sujeito. No conceito de competência apresentado – capacidade de mobilizar recursos para resolver situações complexas –, a primeira parte trata da mobilização de recursos. Ou seja, diante de uma situação complexa, o sujeito competente precisa ter desenvolvido recursos para resolvê-la. Que recursos seriam esses? Para situações complexas diferentes seriam necessários recursos diferentes? De que ordem e em que extensão eles seriam? Há recursos comuns a várias famílias de situações?

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MODELO VMDC

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No intuito de responder, de alguma forma, às questões propostas, elaborou-se um modelo que permite visualizar cinco recursos a serem desenvolvidos para administração e solução de qualquer situação complexa. Como todo modelo, esse também terá seus limites e suas potencialidades, e será apresentado com a sigla VMDC (Vasco Moretto para Desenvolvimento de Competências) apenas para facilitar sua identificação ao longo do texto. O modelo VMDC, representado na imagem a seguir, é composto de cinco recursos – Conteúdos conceituais (C.C), Habilidades (H), Linguagens (L), Valores culturais (V.C) e Administração do emocional (A.E) – que devem ser trabalhados simultaneamente pelo sujeito que desenvolve competências para administrar e resolver uma situação complexa.

C.C

e H e e e A.E e e e e L e V.C e

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Conteúdos conceituais Toda situação envolve um conjunto de conceitos. Entre eles, pode-se estabelecer relações para administrar a situação e encontrar a possível solução. Dominar conceitos é a primeira condição para a competência na solução de qualquer situação. Nesse sentido, é preciso compreender a crítica que se fazia à escola dita tradicional: era uma escola conteudista. Entendia-se como conteudista a escola que transmitia grande quantidade de conteúdos das várias disciplinas, que eram decorados pelos alunos e nem sempre compreendidos.

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Nesse caso, os alunos interiorizavam e nem sempre se apropriavam dos conteúdos conceituais propostos. Ao mesmo tempo, eles eram estimulados a aplicá-los em listas de exercícios, questionários e resolução de problemas. A posterior avaliação da aprendizagem seria realizada com a cobrança da aprendizagem entendida como capacidade de responder a exercícios semelhantes aos realizados nas listas propostas ou nos questionários aplicados sobre o assunto. Embora essa seja uma crítica feita para uma escola “do passado”, tudo indica que ela cabe para grande número de escolas do momento atual. Exames como Enem, vestibulares e concursos públicos são a prova de que a escola conteudista ainda está em prática, embora muitos discursos a condenem.

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Habilidades Nesse contexto, considera-se habilidade o saber-fazer. Alguém pode ter todos os conteúdos conceituais envolvidos em um problema, mas se não forem adquiridas as habilidades necessárias para relacioná-los, contextualizá-los e aplicá-los, faltará um pilar da competência. Desenvolver uma habilidade não significa necessariamente desenvolver competência. Por exemplo, um professor programa para uma aula o processo de solução de equações de primeiro grau. Ele explica como se faz, apresenta dois exemplos e solicita aos alunos que resolvam vinte exercícios de uma lista. Ao final, elabora uma prova com cinco questões dessa lista. Ele observa que a maioria dos alunos alcançou nota superior a 7,0 sobre 10,0. Será que ele pode dizer que os alunos desenvolveram competência para a solução de equações de primeiro grau ou será que ele está avaliando apenas se desenvolveram a habilidade de resolver?

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Nesse exemplo, devem distinguir-se os conceitos de competência e de habilidade. O aluno desenvolve habilidade se souber fazer, e estará desenvolvendo competência para essa situação complexa específica se, além de fazer corretamente, souber o que está fazendo (dominar os conteúdos conceituais relativos à situação) e fizer cada vez melhor e com perfeita compreensão. Terá competência se aplicar o que aprendeu em uma situação ainda não abordada e resolvida anteriormente, uma vez que domine os conceitos e as relações envolvidas na nova situação. A compreensão do problema e sua interpretação, juntamente com a habilidade do fazer, são fortes indicadores da competência em desenvolvimento para a situação complexa da solução de equações.

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Linguagem Conteúdos e habilidades se relacionam por meio da linguagem. Quanto mais ela for desenvolvida e apresentar clareza e precisão, maior será a probabilidade de solução para a situação complexa abordada. Assim, quando se diz que um professor é competente para avaliar a aprendizagem, está-se afirmando que ele domina os conceitos relevantes de sua disciplina, que tem habilidade para elaborar instrumentos adequados e que sua linguagem é clara e precisa. Alguns exemplos de questões elaboradas que demonstram falta de competência do professor na situação complexa da avaliação da aprendizagem por meio de provas escritas foram listados a seguir. “Comente a frase de Sócrates: conhece-te a ti mesmo.”

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“Discorra sobre os principais direitos da criança e do adolescente propostos no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).” “Dê sua opinião sobre o casamento de pessoas de mesmo sexo.”

Analisando questões desse tipo, conclui-se que a linguagem pode até ser clara, mas não é precisa. O aluno não saberá necessariamente o que o professor espera como resposta e procurará responder com base no seguinte pensamento: “o que será que o professor quer como resposta?” ou “o que foi dito em aula?”. Ainda, para esse tipo de questão, pode-se contestar sua relevância para a formação do aluno e verificar que não apresenta parâmetros para correção. Tudo isso está associado ao problema do uso inadequado da linguagem na situação complexa para o professor, que é a avaliação da aprendizagem.

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Valores culturais Conteúdos, habilidades e linguagens estão sempre relacionados aos valores culturais. As experiências pessoais do sujeito lhe permitem construir um conjunto de conhecimentos que constituem sua estrutura cognitiva, e ela forma o conjunto das representações com as quais o sujeito realiza suas experiências de vida. Essa estrutura é desenvolvida a partir da cultura e dos saberes socialmente construídos pelo grupo social. Ao abordar uma situação complexa nova, será esse conjunto de representações que permitirá ao sujeito analisar a situação, estabelecer novas relações, encontrar possíveis soluções e ancorar a nova aprendizagem, ampliando, assim, sua estrutura de desenvolvimento cognitivo. É com esse conjunto de representações compartilhadas com os membros de seu grupo que se integrará socialmente, compreendendo e sendo compreendido em suas experiências cotidianas.

Administração do emocional Embora pareça estranha a ideia, esse recurso é fundamental para o êxito na solução de problemas. A experiência tem mostrado que sujeitos aparentemente competentes, com muito conteúdo teórico e boas habilidades, podem sucumbir diante de uma situação nova por falta de capacidade de administrar seu emocional. São pessoas que não suportam pressão em seu dia a dia e, sobretudo, em seu ambiente de trabalho. Apavoram-se diante de dificuldades. Isso ocorre com frequência, por exemplo, com alunos que se preparam para provas de vestibular. Eles estudam os conteúdos, fazem centenas de exercícios, dominam as linguagens, mas na hora “H” se apavoram, não dominam seu emocional, esquecem o conteúdo e, muitas vezes, fracassam.

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Outro exemplo tristemente vivido pela Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 2014 foi sua atuação no jogo contra a Seleção Alemã de Futebol. Teoricamente, foram escolhidos para a Seleção Brasileira os jogadores mais competentes: conheciam os fundamentos teóricos e as regras do futebol; eram os mais habilidosos no trato com a bola; dominavam a linguagem do futebol, interpretando suas regras e as orientações do treinador; eram oriundos do “país do futebol”, onde os valores culturais ligados a esse esporte estão presentes em cada esquina. O que faltou então para demonstrar a competência da equipe no momento da pressão da Seleção Alemã? Faltou o recurso da administração do emocional. Em poucos minutos, uma seleção desequilibrada emocionalmente tomou um, dois, três e mais gols. “Inexplicável”, diziam todos. “O que aconteceu?”, perguntavam-se atônitos os brasileiros. O que fez o treinador? Nada, pois nada tinha a fazer. Houve um apagão na Seleção. A competência da equipe falhou, entre outras razões, porque seus jogadores não tinham (ou não utilizaram) o recurso da administração do emocional para resolver a situação complexa de jogar uma partida de futebol na Copa do Mundo contra uma seleção que demonstrou competência de grupo com os cinco recursos necessários para esse fim. No esquema apresentado do modelo VMDC, estão distribuídas várias letras e, que significam ética profissional. Ou seja, o pano de fundo do modelo é a ética do sujeito que desenvolve competência. Ética entendida como conjunto de valores que regem a vida em sociedade, entre eles respeito, honestidade, tolerância. A competência profissional se configura como condição para um comportamento ético, pois quem é competente como profissional respeita aquele a quem presta seu serviço, fazendo-o da melhor forma possível. Respeita não apenas porque é remunerado, mas por uma questão de ética.

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O modelo VMDC pode ser aplicado a um grande número de situações complexas. Sendo situações diferentes, cada um dos recursos pode ser solicitado de modo e intensidade diferentes. Pode-se analisar a aplicação desse modelo em diversas situações: S1: Para um jogador de futebol, a exigência talvez seja maior no recurso de habilidade e de administração do emocional. S2: Para análise de texto, os recursos mais exigidos seriam conteúdos conceituais e a linguagem.

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S3: Para um ator de teatro, os recursos que o tornam competente talvez sejam todos. S4: Para um jogador de vôlei de quadra, todos os recursos são importantes. Talvez os valores culturais não sejam tão exigidos, mas a administração do emocional é um fator fundamental no momento de uma partida em que se disputa a medalha de ouro em uma Olimpíada. Em síntese, ao se afirmar que um dos princípios para a escola é promover a construção interativa do conhecimento em busca do desenvolvimento de competências, está-se indicando o sentido a ser dado às mudanças para a educação em contexto escolar. Mudanças estas associadas a novas posturas de gestão dos educadores e educandos, novas metodologias no processo do ensino e o uso de novos instrumentos facilitadores nos processos de aprendizagem.

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O professor competente O modelo VMDC também pode ser aplicado especificamente para responder à seguinte questão: o que é ser um professor competente? Nesse caso, são três as situações complexas que constituem a essência de sua profissão: planejar aulas, ministrar aulas e avaliar a aprendizagem do aluno. O quadro a seguir apresenta o modelo de maneira esquemática: Modelo VMDC

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e

Planejar aulas

C.C

e H e e e A.E e e e e L e V.C e

Avaliar a aprendizagem

Ministrar aulas

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Professor competente para planejar aulas Para muitos professores, o planejamento de aulas pode parecer um trabalho inútil, pois frequentemente a aula “já vem preparada” pelos sistemas de ensino. Há quem simplesmente diga: “já dou aulas há mais de 15 anos e sei qual a matéria de hoje” ou “vou dar aula expositiva sobre o assunto”. Nesse caso, o professor fala, explica, dá exemplos e manda o aluno fazer exercícios em aula ou em casa. O planejamento, nesse caso, resume-se em verificar o conteúdo conceitual a ser proposto, com a metodologia expositiva e a atividade discente de fazer exercícios. Um professor que desenvolveu competência na situação complexa (SC) de planejar aulas, aplicando o modelo VMDC, segue os seguintes passos:

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escolhe/circunscreve a SC para a qual deseja que os alunos desenvolvam competência e determina quantas horas/aula dedicará para essa atividade;

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lista as habilidades (H) que serão solicitadas na abordagem e desenvolvidas na solução;

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verifica quais os conteúdos conceituais (C.C) a serem trabalhados para administrar e resolver a SC; ©2 0

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4.

elabora uma lista com palavras-chave que constituirão a linguagem (L) a ser utilizada e sobre as quais todos os estudantes deverão atribuir os mesmos significados durante o processo de solução;

5.

analisa o contexto social de seus alunos para captar os valores culturais (V.C) que os influenciam. A partir disso, avalia o sentido que as palavras a serem utilizadas possam ter para que haja aprendizagem significativa e contextualizada;

6.

pensando no recurso da administração do emocional (A.E), verifica que ações poderão ser praticadas para estimular os alunos a aprender, questionar e buscar hipóteses e soluções criativas na solução da SC em análise;

7.

programa estratégias adequadas para alcançar o objetivo final: a melhor solução para a SC em foco;

8.

avalia a aprendizagem dos alunos em função dos pontos 2, 3, 4, 5 e 6 desta proposta.

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Professor competente para ministrar aulas Um bom planejamento é condição necessária, mas não suficiente para a administração da aula, e o professor precisa desenvolver os recursos a serem mobilizados para esse momento. Aplicando o modelo VMDC para essa situação, pode-se analisar o que é um professor competente para ministrar a aula. O sentido aqui dado para “ministrar uma aula” é criar as melhores condições em um processo interativo para que o aluno aprenda, ou seja, para que construa conhecimentos e desenvolva competências.

1. Conteúdos conceituais O primeiro e óbvio recurso para o professor ministrar uma aula com competência é dominar o conteúdo conceitual de sua disciplina. Além disso, precisa dominar conceitos básicos de psicologia, sociologia, pedagogia e didática para compreender seus alunos e administrar as diferenças entre eles.

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2. Habilidades O segundo recurso do professor competente para gerir a situação complexa de ministrar a aula é ter desenvolvido habilidade para isso. Ouvem-se alunos afirmando: “o professor sabe a matéria, mas não sabe dar a aula; a gente não sabe de que ele está falando”. Ou como disseram alunos de um professor PhD em Direito: “ele é um poço de sabedoria, mas tão profundo e estreito que ninguém tira água lá de dentro”. O que significam essas manifestações? O professor não desenvolveu habilidades para ministrar a aula. Entre elas, podese citar seguir o planejamento; ouvir e compreender reações dos alunos a seu ensino; sondar as concepções prévias dos alunos antes de propor conteúdos novos; provocar a interação entre alunos no momento de discussões sobre temas específicos, criando uma comunidade de aprendizagem; funcionar como mediador da aprendizagem e não apenas como transmissor de informações.

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3. Linguagem O recurso “usar de linguagem clara e precisa na comunicação” é um dos determinantes no ensino para mediar a aprendizagem significativa. Nesse item, cabe ao professor adequar sua linguagem à de seus alunos. Vale lembrar que as palavras não têm sentido em si; o que lhes dá sentido é o contexto. Assim, uma palavra ou expressão pode sair do emissor (o professor) com um sentido e o receptor (o aluno) lhe dar outro sentido.

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O professor competente tem o cuidado de não apenas perguntar “vocês entenderam o que eu disse?” a seus alunos após uma afirmação. Eles podem ter realmente entendido, mas no contexto deles. Por isso, cabe ao professor competente estabelecer um diálogo para sondar o real sentido que seus alunos deram a sua linguagem. Nesse sentido, a frase que os professores deveriam utilizar com frequência quando ouvem a resposta ou afirmação do aluno é “o que você quis dizer com isso?”. Se o aluno souber repetir com outras palavras, o professor terá melhor compreensão do significado que ele está dando a elas.

4. Valores culturais Tanto a linguagem do aluno quanto as representações que ele faz do mundo estão profundamente ligadas ao ambiente cultural em que vive. Se um aluno falar em aula “não ponhei na cesta”, outro disser “não cabeu na lata”, e outro “pega aquele trem prá mim”, provavelmente pode-se identificar o contexto de cada um desses alunos. Não se pode partir do pressuposto de que estão errados, mas deve-se afirmar que estão descontextualizados. Professor competente para dar aulas observa o contexto psicossocial de seus alunos para estabelecer uma interação que permita a construção do conhecimento do aluno a partir de suas concepções prévias, visando possível transformação.

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5. Administração do emocional Todo professor educador sabe da dificuldade de ministrar aulas para grupos de 20, 30 ou mais alunos. Sabe que tem a sua frente não apenas indivíduos, mas sujeitos. Entende-se indivíduo, nesse contexto, a unidade da espécie humana. Nesse sentido, seriam todos iguais (uma cabeça, duas pernas, dois braços, um coração etc.). Assim, se o professor considerar seus alunos apenas como indivíduos, ele poderia dar a mesma aula, com a mesma linguagem, fazer a mesma prova e usar os mesmos critérios para avaliação de desempenho.

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No entanto, cabe ao professor ter a convicção de que seus estudantes não são apenas indivíduos, mas sujeitos, entendido este termo como “indivíduos com sua história particular”. Desse ponto de vista, cada sujeito é único. Por isso, a dificuldade de administrar “os únicos” pode gerar estresse no professor. O problema da indisciplina pode prejudicar o exercício da competência do docente, por maiores recursos que ele tenha (conteúdos, habilidades, linguagens e valores culturais), e o emocional pode comprometer sua atividade educativa. Então, aprimorar esse recurso é condição para o desenvolvimento da competência do professor na situação complexa de administrar sua aula.

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Professor competente para avaliar a aprendizagem

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Avaliar a aprendizagem é, foi e provavelmente sempre será uma situação complexa para todo professor. Isso porque o conhecimento é uma construção individual (diria “sujeital”), mediada pelo social (a linguagem). E mais, o conhecimento construído pelo sujeito é intangível, incomensurável e imponderável. Como então avaliá-lo, se não pode ser tocado, medido e pesado? Na verdade, na avaliação da aprendizagem, o que se pode obter são indicadores da possível construção do conhecimento do sujeito, interpretando sua linguagem, suas ações e as relações que estabelece em situações propostas nos diversos instrumentos de avaliação. Então, como pode um professor desenvolver sua competência na situação complexa de avaliar a aprendizagem? Aplica-se novamente o modelo VMDC para a possível análise.

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1. Conteúdos conceituais Há dois aspectos em relação aos conteúdos conceituais inerentes ao processo de avaliação. O primeiro está relacionado à concepção do professor referente ao processo, ou seja, o professor precisa partir do princípio de que deve avaliar a construção do conhecimento do aluno e não apenas o acúmulo de informações que pode ter havido. Ressalta-se, no entanto, que não deixa de avaliar também as informações que o estudante tem sobre o assunto em foco. Mas vai além, procura avaliar que sentido o aluno dá a essas informações. O segundo aspecto está relacionado à competência do professor na escolha dos conteúdos a serem avaliados e na identificação das habilidades que o aluno desenvolveu. Não são todos os conteúdos propostos e nem todas as habilidades desenvolvidas que devem ser objeto da avaliação da aprendizagem. Deveriam ser priorizados os conteúdos que ancoram novos conteúdos a serem estudados. São os ditos conteúdos relevantes. Quanto às habilidades, priorizam-se aquelas que terão maior aplicação no desenvolvimento da estrutura cognitiva do aluno. O professor desenvolve competência no sentido de fazer mapas conceituais com seus alunos e avaliar as ideias fundamentais para cada situação de avaliação.

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2. Habilidades Algumas habilidades que o professor competente deve desenvolver para avaliar a aprendizagem: selecionar conteúdos relevantes; escolher instrumentos adequados a cada disciplina objeto da avaliação; adequar o processo de avaliação da aprendizagem às características dos alunos; organizar questões em provas escritas que ofereçam graus de dificuldade variados (questões fáceis, médias e difíceis).

3. Linguagem 142

A linguagem utilizada no comando de questões em processos de avaliação escritos, orais ou outros exerce um papel fundamental no sentido de proporcionar indicadores da real aprendizagem. Dizer que é obrigação do aluno “interpretar” a questão é correto, mas muito vago, pois as palavras de comando poderão ser interpretadas por ele segundo os elementos de sua estrutura cognitiva. Uma professora perguntou na prova “Quais são os poderes da República e qual sua obrigação?” e a resposta do aluno foi “Poder Executivo, Legislativo e Judiciário e minha obrigação é estudar os três”. A resposta esperada certamente não era essa, pois a professora pensou a palavra sua na pergunta como a de cada um dos três poderes. Mas sua pode perfeitamente significar a obrigação do aluno e ele assim interpretou e respondeu. A professora competente, nesse caso, faria a pergunta com outra linguagem: “Quais os três poderes da república? Explique qual a obrigação fundamental de cada um deles”. O objeto de avaliação é o mesmo, mas a linguagem é mais clara e precisa.

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Da mesma forma, quando a professora perguntou “Como é a organização de uma colmeia?” e o aluno respondeu “É maravilhosa”, não deixou de responder corretamente à questão, embora não fosse a resposta esperada pela professora. Certamente haverá quem critique a forma como o aluno respondeu, dizendo que ele não poderia ter dito o que disse, pois assistiu à aula da professora e sabe o que ela quer. Esse é o problema. Professor competente no item linguagem na avaliação da aprendizagem não deve simplesmente supor que o aluno saiba o que ele quer. A linguagem deve ter clareza e precisão para não haver possibilidade de outra interpretação. No caso, a questão anterior poderia ser feita da seguinte forma:

143 Vimos em nossas aulas de Ciências como é maravilhosa a organização das abelhas em uma colmeia, pois cada um de seus membros tem uma função específica para que o todo funcione em harmonia. Partindo dessa ideia: a) descreva a função de ao menos três grupos de elementos da colmeia; b) estabeleça um paralelo entre o funcionamento da colmeia e o de nossa escola, tendo em vista a função de cada um de seus membros.

4. Valores culturais Considerando-se o processo de ensino utilizado e a linguagem em voga no contexto cultural do aluno, a avaliação da aprendizagem deve seguir a mesma linha. As situações-problema propostas aos alunos devem ter por base suas vivências e experiências. Nem sempre isso é possível, sobretudo em algumas disciplinas específicas, como a Matemática e a Física. Mesmo assim, o professor competente busca textos e situações às quais o estudante pode se reportar.

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5. Administração do emocional Talvez esse recurso seja o menos solicitado no caso da situação complexa da avaliação da aprendizagem. Mesmo assim, várias considerações podem ser feitas. Elaborar um instrumento de avaliação escrito, por exemplo, exige concentração e tranquilidade do professor. Não deve ser feito em momento de estresse ou de aborrecimento. O professor não pode se deixar levar pelo sentimento de “acerto de contas” (“bagunçaram minha aula, agora vou dar o troco”).

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Outra reflexão que o professor deve fazer nessa hora é que muitos alunos entram em estresse no momento da avaliação e, mesmo tendo estudado e se preparado, são traídos pelo emocional, não demonstrando sua real competência. Cabe também ao professor administrar o emocional de seus alunos, criando clima de tranquilidade e segurança para os estudantes. A seguir, há um pequeno texto que, de maneira simples e descontraída, mostra a ação de uma professora competente em sua ação educativa, pois conhece o conteúdo de sua disciplina, tem habilidade de dialogar com seus alunos, estimula os estudantes à interação, os respeita em suas abordagens típicas de adolescentes e administra seu emocional e o de seus alunos.

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Conflitos são inevitáveis nas relações interpessoais, em todos os níveis. Em sala de aula, com maior razão, eles têm presença obrigatória e constante. Ser pré-adolescente ou adolescente é sinônimo de fonte de conflitos. Nada mais natural. Provocar quem representa autoridade – o professor – é condição de desenvolvimento da personalidade do sujeito. Do professor – o adulto que se supõe maduro na relação – espera-se a capacidade de administrar conflitos, ou seja, espera-se uma resposta de adulto a uma provocação de adolescente. Foi assim que a professora Paulina se viu desafiada perante uma turma de adolescentes. Durante atividade pedagógica destinada a desenvolver a interpretação de texto, a professora lia com seus alunos. Em certo momento, surgiu a frase “e os namorados se abraçavam carinhosamente na penumbra do cair da tarde”, e a aluna Lise pergunta: – Professora, o que é penumbra? Diante da pergunta, a professora poderia simplesmente dar uma explicação do tipo “é quando está acabando o dia e começando a noite” ou “quando não está claro e nem escuro”. Mas a professora foi além: – Boa pergunta, Lise. Esta é uma palavra formada pelo prefixo pen que vem do grego e pela palavra umbra que vem do latim. Pen significa quase e umbra significa sombra. Assim, penumbra significa quase sombra. – Ah! Entendi – respondeu Lise sorridente.

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Ana Luisa interveio: – Então, professora, será que a palavra península tem a mesma origem e o mesmo significado? A professora, feliz com a intervenção inteligente de Ana, provoca a aluna conduzindo o processo de aprendizagem no modelo da construção interativa do conhecimento: – Tente explicar você mesma. Vamos ver se entendeu. – Penso que insula deve vir do latim e significar ilha. Como pen significa quase, como acabamos de ver, península poderia significar quase ilha. – Ótimo! – elogiou a professora. – Você mostrou que realmente entendeu a explicação. Então Zezinho levanta a mão e pergunta: – Professora, o que significa is em latim? A professora, pega de surpresa, pensa um pouco e responde: – Não sei, Zezinho. Por que você perguntou?

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E ele, com a cara de pseudoinocente, responde: – Nada não, professora. Eu estava pensando de onde veio a palavra pênis. Pela sua explicação, deve ser “quase is”. Só não sei o que pode significar o is, professora. Todos riram. E surgiu possível conflito. Qual deve ser a ação da professora? Dar uma bronca no aluno? Mandá-lo para a direção para ser punido por falta de respeito? Parabenizá-lo pela ideia criativa? Ou aproveitar para dar uma resposta de adulto educador a uma provocação de adolescente brincalhão, explicando que nem todas as palavras que começam com pen significam “quase alguma coisa”? A professora Paulina respirou fundo e adotou a atitude educativa, não entrando na gaiatice de Zezinho. – Zezinho, é importante que você saiba que nem todas as palavras que começam com pen significam quase alguma coisa. Assim, para você entender que há outros prefixos a serem estudados, vamos examinar a palavra pentágono. Embora comece com pen, o prefixo grego aqui utilizado é penta, que significa cinco. Assim, pentágono é um polígono de cinco lados. Da mesma forma, time pentacampeão é aquele que foi cinco vezes campeão. Vamos, Zezinho, tente lembrar de outras palavras que iniciam por pen e que não são palavras com prefixo “quase”.

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– Pente – gritou alguém; – pendurar – disse outro; – penúltimo – lembrou uma aluna. – Um momento – interveio a professora – Quem falou penúltimo? – Fui eu – disse a tímida Yasmim. – Então, Yasmim, o que significa penúltimo? – É antes do último. Ou quase o último – disse eufórica. – Parabéns, – disse-lhe a professora. – Você encontrou outra palavra com prefixo pen também significando “quase”. O penúltimo é quase o último, não é mesmo? E a professora continuou a aula estimulando os alunos a procurarem termos com prefixo penta, outras apenas começando com pen, mas sem ser do prefixo grego “quase”. A professora Paulina tomou a melhor decisão como educadora: aproveitou a brincadeira para oportunizar a aprendizagem significativa de seus estudantes. Mostrou que é uma professora competente, pois conhece conteúdos conceituais, tem habilidade de trabalhá-los, domina a linguagem, interage com a linguagem do aluno e administra seu emocional e o de seus alunos.

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O aluno competente O modelo desenvolvido até aqui ressalta o protagonismo do sujeito que aprende (aprendente). O conceito de aprender pode ter muitos significados. Diz-se que o papagaio aprende a falar, o cachorro aprende a sentar e deitar fingindo-se de morto, o cavalo aprende a saltar, marchar e dançar. Essa aprendizagem é associada ao conceito de adestramento. Mesmo assim, diz-se que eles aprendem. O aluno também aprende, e muitas vezes pode-se até dizer que aprende como o papagaio, o cachorro ou o cavalo. Ele é adestrado. Isso ocorre quando realiza mecanicamente algumas tarefas por força de repetição, sem pensar no significado de suas ações. É isso, por exemplo, que ocorre no aprendizado de Matemática ou de Física, quando o aluno decora fórmulas e regras e executa suas tarefas satisfatoriamente. Quando solicitado a explicar o que fez, sua resposta é simples: “apliquei a fórmula e deu certo” ou “a regra é essa e eu simplesmente apliquei e deu certo”.

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No modelo da construção interativa do conhecimento em busca do desenvolvimento de competências, que está sendo apresentado neste capítulo, o que se busca é um processo de ensino com professor competente que favoreça o desenvolvimento de competências dos alunos. E que sentido se pode dar a “aluno competente”? Dentro do modelo desenvolvido até agora, aluno competente é o sujeito que desenvolveu recursos para administrar e resolver situações complexas. E de que recursos se está falando? Os que foram propostos no modelo VMDC. Um exercício possivelmente frutuoso seria imaginar uma situação-problema que poderia ser apresentada para o desenvolvimento de competências do aluno aplicando os cinco pilares do modelo proposto.

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Essa reflexão permite que se observe a importância de um modelo que integre as três questões fundamentais na relação professor e aluno: como o aluno aprende? Como se deve ensinar? E como avaliar a aprendizagem? Em síntese do que foi até aqui desenvolvido, pode-se afirmar que o aluno aprende na medida em que constrói significados/representações; o professor ensina na medida em que cria as melhores condições para que o aluno construa conhecimento; na avaliação da aprendizagem, verifica-se se o aluno construiu conhecimento significativamente, de conteúdos relevantes.

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O trabalho em função de resultados Ao longo da história da formação escolar no Brasil, houve forte influência de uma das mais importantes linhas de pensamento pedagógico do mundo: a pedagogia da autonomia. Encabeçada por Paulo Freire, esta perspectiva epistemológica fez severas críticas aos sistemas sociais que excluíam os cidadãos usando para isso as escolas como sistema de perpetuação do status quo. Essa forma de pensar, correta e adequada ao contexto social pelo qual passava o Brasil, foi interpretada de modo equivocado pelos sistemas de gestão das escolas. Assim, a análise de processos foi abandonada no cotidiano escolar. Da mesma forma, aconteceu com a formulação de metas de trabalho e a busca de resultados para tomadas de decisão. Com isso, afastaram-se das escolas diversos sistemas que permitiriam análise de erros cometidos no cotidiano e perdeu-se o foco da gestão escolar. Nesse contexto, os resultados dos vestibulares, do Enem, dos concursos nacionais e da Prova Brasil tomaram a frente, e as escolas passaram a medir seus serviços em função daqueles, deixando de lado sua proposta pedagógica e suas intenções educativas.

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Essa deficiência nas escolas é tão grande que praticamente não existem ferramentas de busca de informações sistematizadas para dar suporte a tomadas de decisão dentro das escolas, dificultando com isso o planejamento de criação de metas de ação. Um exemplo típico é o número de alunos dentro das salas de aula. As novas perspectivas pedagógicas vêm sugerindo, há décadas, que o número de alunos dentro das salas de aula seja compatível com a necessidade de atenção dos educadores a cada aluno em todos os segmentos da escola: Infantil, Fundamental e Médio. E o que vem ocorrendo? Não há planejamento em muitas escolas para o desenvolvimento de planos estruturais e financeiros que permitam em médio prazo a realização desse intento. Conclui-se que o discurso educativo cai no vazio se não for amparado pelo discurso da implementação de novas medidas na escola a partir da gestão escolar. Complementa-se, então, com o trecho do livro O regresso dos professores:

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O excesso de discursos esconde, frequentemente, uma grande pobreza de práticas. Temos um discurso coerente, em muitos aspectos consensual, mas raramente temos conseguido fazer aquilo que é preciso fazer.” (NÓVOA, 2011)

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Novos tempos, posturas e metodologias Na reflexão desenvolvida no início deste capítulo, foi apresentada uma das características da sociedade atual: a rapidez de circulação de informações. Crianças, jovens, adultos e idosos estão “conectados” durante muitas horas – principalmente as novas gerações. Essa conexão se intensifica progressivamente e inicia-se em idade cada vez mais precoce. Para distrair crianças em restaurantes, oferecem-se tablets ou smartphones para que “se ocupem e não incomodem”. E os adolescentes e jovens aceitam qualquer punição para seus erros, menos ficar sem seus celulares. Estes se transformaram em um órgão de seu corpo com status de “vital”.

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Esse fato exige dos educadores uma reflexão sobre o papel dos recursos oriundos do desenvolvimento das novas tecnologias da informação no contexto da educação escolar. Não há mais dúvidas de que o mundo virtual veio para ficar. Os ambientes virtuais de aprendizagem precisam ser estimulados para responder aos anseios das novas gerações. Novos tempos exigem novas posturas tanto de gestores escolares como de educadores e educandos. No entanto, a tentativa de muitas escolas em inserir esse mundo digital em sala de aula vem atendendo muito mais à motivação dos estudantes e às pressões exercidas pelo marketing do que priorizando a aprendizagem. Isso ocorre em função da implementação não planejada dessas ferramentas e da falta da visão estratégica dos resultados, aspectos que as escolas precisam ter para analisar a inclusão de qualquer novo elemento na ação pedagógica. Muitas escolas que optaram por sistemas de inserção digital não têm sequer comparado os resultados da aprendizagem antes e depois, usando as ferramentas apenas como diferenciais de marketing.

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Nesse sentido, buscando uma aplicação prática dos princípios da construção interativa com auxílio do mundo tecnológico, pode-se pensar sobre uma prática muito utilizada nas escolas: a avaliação da aprendizagem por meio de provas escritas nas quais o aluno não pode usar recursos tecnológicos, como calculadoras, tablets, celulares ou outros instrumentos que possibilitem o acesso à informação. A escola afirma e reafirma que sua missão é preparar para a vida. Observa-se, no entanto, no dia a dia de grande número de profissionais, que o acesso à informação não é apenas recurso, mas condição de trabalho. Os profissionais colocados diante de situações complexas precisam demonstrar competência para sua solução. Essa competência está diretamente relacionada a sua habilidade de consultar fontes seguras de informação.

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A escola que prepara para a vida seria, então, aquela que oferece ao aluno condições para desenvolver a competência na situação complexa de consultar. Nesse processo, ele aprende os passos para resolver problemas. Inicialmente, precisa saber analisar uma situação, identificando conceitos envolvidos, relações estabelecidas e algoritmos a serem utilizados. Ora, se durante as provas o aluno não pode consultar, estará ele sendo preparado para a vida? Que vida? Isso não significa que o professor não deva organizar momentos de avaliação sem consulta para verificar o desenvolvimento do aluno. Cabe ao professor ter clareza nos objetivos de cada momento do processo avaliativo. Essa reflexão deve orientar o sentido das mudanças para a escola no processo de ensino e no de avaliação da aprendizagem.

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Vale, a esta altura da reflexão, lembrar o princípio que fundamenta a proposta para a nova escola: preparar o aluno para a vida é prepará-lo para ser gestor de informações e não simples acumulador de dados. Quem acumula dados é o computador. Nos novos tempos, as informações estão à disposição “na nuvem”, como dizia Steve Jobs, fundador da Apple. O gestor de informações tem que saber onde, quando e como buscá-las e, depois, aplicá-las corretamente. A despeito dessas perspectivas, as escolas e suas avaliações continuam sendo pontuais e sem retorno em relação à aprendizagem efetiva e ao desenvolvimento de habilidades por parte dos alunos. Muitas escolas, após a percepção de que a aprendizagem não ocorreu, apenas lamentam o fato e desenvolvem fórmulas de resgate da pontuação para a aprovação dos alunos sem de fato identificarem e corrigirem as falhas em seus processos de ensino. É a “ilusão” do processo da recuperação, realizado depois de algumas aulas de revisão dos conteúdos, alguns exercícios propostos e provas com um número limitado de questões.

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Se a nova escola exige uma nova concepção de avaliação da aprendizagem, é preciso uma nova concepção para o processo de ensino e de sua gestão como um todo. Define-se, assim, o sentido da mudança de postura do educador em contexto escolar: em lugar de ser apenas o transmissor da informação, ele passa a ser o catalisador/ mediador do processo de aprendizagem. Nesse papel, ele pode (e deve) também transmitir informações por meio de aulas expositivas. Isso significa que o professor é também uma fonte (e de grande importância) de informações. Deve-se frisar que é “também” essa fonte, pois seu papel como educador vai muito além do simples transmitir. A internet, os livros, as revistas, os jornais etc. são apenas fontes de informação. E só. O professor é mais do que isso. Em seu papel de educador, aprende ensinando e ensina compartilhando conceitos, valores e atitudes. E, além disso, cada educador se torna responsável por seus atos educativos, pelos resultados de seus aprendizes e pela competência que eles desenvolvem.

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Concluindo: uma escola com visão de futuro As reflexões feitas até agora permitem concluir que a escola propõe às novas gerações conhecimentos socialmente construídos que fazem parte da história e da evolução de seu grupo social. Essa mesma escola se propõe a preparar uma nova geração de cidadãos que viverá em um contexto em grande parte hoje desconhecido. Crianças que estão na escola aprendendo a conhecer seu mundo estarão no mercado de trabalho dentro de 5, 10 ou 15 anos. Então, que perfil deverá ter o profissional para esse tempo? Quais serão as exigências das novas profissões? Que competências deverá ter desenvolvido o novo cidadão no campo profissional e no social? São questões relevantes para educadores e gestores de políticas educacionais. Uma coisa é clara: há necessidade de mudanças nos rumos da educação escolar, pois os indicadores apontam para a necessidade de um modelo de educação que forme o aluno pensador e não o apenas repetidor de informações.

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Ao longo deste capítulo, sinalizou-se que a escola precisa organizar-se para, primeiramente, ajudar a formar cidadãos eticamente conscientes de sua responsabilidade social. Ao mesmo tempo, tem a função de ajudar a formar o sujeito profissionalmente competente. Para isso, os educadores no contexto escolar precisam ser competentes para criar as melhores condições de aprendizagem do aluno e utilizar os melhores instrumentos que avaliem se a aprendizagem foi realmente significativa. Conclui-se, então, que deva haver uma constante preocupação dos educadores em buscar novas teorias educacionais, estratégias e metodologias de ensino. Essas mudanças devem ter o foco na dupla missão da escola, conservadora e transformadora, com apoio de eficaz atividade gestora. Pensando a nova escola, retoma-se o título deste capítulo O papel da educação no século XXI: competências e habilidades para lidar com as demandas estratégicas deste século. Nele, duas ideias-chave foram colocadas como objeto de análise. A primeira, com base nas competências a serem desenvolvidas. A segunda, com foco nas demandas estratégicas deste século.

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Embora pensar nas demandas para um século seja tarefa quase impossível, considerando-se a velocidade das mudanças em todas as áreas que afetam a vida profissional e social dos seres humanos, pode-se refletir sobre um futuro muito próximo levando em conta uma sociedade que demanda o cidadão com competência para leitura e compreensão de textos diversos; solução de problemas pensamento crítico;

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busca de informações necessárias para a administração e a solução de situações complexas a serem resolvidas;

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pensamento analítico para abordagem de fatos históricos e atuais, com vistas à compreensão do mundo atual e à projeção do futuro; utilização da criatividade na solução de problemas; o trabalho cooperativo em equipe; comportamento ético e responsável em sociedade.

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Talvez, a maior dificuldade para a escola hoje seja cumprir a missão de educar com os pés no chão – partindo da realidade social – o cidadão que viverá em um mundo desconhecido e imprevisível. A escola precisa se reinventar com criatividade.

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Sugestão de livros As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação Philippe Perrenoud, Artmed, 2002. Nesse livro, Perrenoud utiliza textos de conhecidos autores brasileiros, como Lino de Macedo, Nilson José Machado e Cristina Dias Allessandrini para esclarecer e sustentar o modelo de desenvolvimento de competências. Ressalta-se o capítulo 5, que aborda com maestria o conceito de situação-problema, relacionando-o com o de competência. Competências: diferentes lógicas para diferentes alternativas Mário Medeiros, Edupe, 2007. Interessante para quem deseja se aprofundar na discussão sobre o conceito de competência, o livro traz uma revisão bibliográfica ampla sobre o tema, ressaltando diferentes visões, contradições e concordâncias.

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Planejamento – planejando a educação para o desenvolvimento de competências Vasco Pedro Moretto, Vozes, 2014. O autor desenvolve o modelo do desenvolvimento de competências, dando a resposta à questão central: o que é ser um professor competente? Prova – um momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas Vasco Pedro Moretto, Lamparina, 2010. O livro aborda a situação-problema avaliação da aprendizagem, com foco na análise crítica de centenas de questões de provas mal elaboradas, apresentando sugestões de melhoria.

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Sugestão de links Palestra do professor Vasco Moretto <https://www.youtube.com/watch?v=qUPwD8CLseQ> Palestra explicando o modelo VMDC para o entendimento dos conceitos de habilidades e competências, e suas aplicações para o dia a dia do professor em aula. Jogo Aberto – Professor Vasco Moretto fala sobre educação <http://www.youtube.com/watch?v=GUFoVmqY3R4> Entrevista de Vasco Moretto no programa Jogo Aberto. Nela, o professor fala para Fernando Brevilheri sobre educação e desempenho escolar focado no desenvolvimento de competências.

Sugestão de filmes O sorriso de Monalisa (Mona Lisa Smile) Direção: Mike Newell, 2002. Filme interessante com tema atual para a educação. Proporciona reflexão para os educadores sobre a mudança de modelo na relação entre professor e aluno. O filme mostra que o professor deve levar o aluno a pensar, a questionar os fatos e não simplesmente repetir informações. A aprendizagem é resultado da troca de experiências entre alunos e professores, e o debate em sala de aula é saudável, todos ganham com ele. Modelos prontos estão fadados à falência. Não importa a matéria a ser lecionada, o bom professor é aquele que leva seu aluno a pensar.

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Mentes perigosas (Dangerous Minds) Direção: John N. Smith, 1995. Professora ex-oficial da marinha abandona a vida militar e resolve lecionar inglês em uma escola de Ensino Médio em um bairro pobre. No início, tenta seguir a linha tradicional e encontra resistência dos alunos, que não se interessam por suas aulas. Então, resolve mudar sua metodologia de trabalho, aproximando-se dos alunos, procurando entender seus problemas sociais e suas motivações. A competência da professora em lidar com essa situação-problema se mostrou em sua atitude de diálogo, compreensão e respeito às individualidades. Com isso, conquistou seus alunos, motivando-os ao estudo e dando-lhes novo sentido para a vida. É esse tipo de ação que caracteriza um professor competente, capaz de enfrentar uma situação complexa, administrá-la e resolvê-la.

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Claudio Sassaki É cofundador da Geekie, empresa pioneira na oferta de aprendizado personalizado no Brasil e a única credenciada pelo Ministério da Educação. Construiu sólida carreira no mercado financeiro, chegando a ser vice-presidente de um importante banco mundial, mas foi com o trabalho desenvolvido na Geekie que conquistou a sociedade de Jorge Paulo Lemann, Bernardo Gradin e Pierre Omidyar. Também alcançou o reconhecimento da comunidade empreendedora e educacional, já tendo sido selecionado como empreendedor Endeavor, Empreendedor Social do ano pela Folha de S.Paulo e pela Fundação Schwab, TRIP Transformador e o primeiro brasileiro a ganhar o Innovation Fellowship da revista Internacional Wired. Palestrou em eventos como o TED, o Fórum Econômico Mundial, a Conferência Global de Educação em Harvard, e o SXWEdu, em Austin.

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Capítulo 4

Educação 3.0: uma proposta pedagógica para a educação

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Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Paulo Freire

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O que é a Educação 3.0? Pode-se traçar um paralelo entre o ambiente de trabalho e o ambiente escolar. Em geral, são as demandas do mercado que ditam ou influenciam a educação recebida pelas novas gerações, para quem a instrução tem como principal objetivo a inserção profissional.

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Basta observar a evolução da educação através dos séculos para compreender o fenômeno. Por milhares de anos, a própria família foi encarregada da formação dos filhos, como forma de transmitir as funções executadas de pais para filhos, de mães para filhas. A pequena chance de mobilidade social tornava o ensino muito pragmático, com enfoque em tarefas operacionais, sem qualquer propósito de expandir o universo do aprendiz: o filho do ferreiro seria ferreiro, o filho do agricultor seria agricultor. Um único trabalhador era responsável por todo o ciclo de desenvolvimento de seu produto.

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A escola formal, como a concebemos hoje, era reservada aos homens e aos nobres, a quem línguas, cultura, geografia ou história eram consideradas valiosas, assim como motivo de status. Outras crianças eram preparadas para servir à sociedade seguindo a profissão de seus antepassados – o que significa, sob um olhar mais atento, que o mundo pouco mudava; as ferramentas eram as mesmas, assim como as necessidades. Cada indivíduo ocupava uma posição fixa no mundo e tinha uma visão bastante estreita da realidade. A educação não tinha função de diminuir abismos sociais, pelo contrário, exaltava-os.

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Ao longo desse período, organiza-se a Educação 1.0: rural, familiar, composta por pequenos grupos de pessoas com laços entre si. Essa fase da educação esteve em vigor até que os meios de produção passaram pela primeira grande transformação da história: a Revolução Industrial, ao fim do século XVIII.

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A Revolução Industrial se passsa em um cenário de êxodo rural, em que famílias inteiras deixam o interior para viver e trabalhar em grandes cidades. O trabalho fechado ao núcleo familiar é substituído pelas fábricas, que têm suas particularidades – logo replicadas pela escola. Em primeiro lugar, as fábricas abrigam grande número de pessoas que, contraditoriamente, trabalham sozinhas. Elas passam o dia em espaços fechados, divididas de acordo com a função exercida, com seus horários controlados rigorosamente. A supervisão constante e a pouca (ou inexistente) autonomia também fazem parte da rotina. Um trabalhador, na Era Industrial, deixa de ser responsável pela integridade do que constrói; ele agora trabalha em uma linha de produção da qual domina apenas uma tarefa muito específica. Seu trabalho é mecânico, repetitivo e isolado.

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Assim é também a Educação 2.0, cuja missão é preparar uma classe operária para povoar as fábricas e diminuir custo e tempo de produção. As escolas tornam-se abertas não mais somente aos filhos da nobreza, mas às massas, porque o mercado busca mão de obra capacitada. As escolas organizam-se de modo muito semelhante às fábricas: um grande grupo de alunos, separados de acordo com seus conhecimentos (faixa etária), cada um trabalhando individualmente. A supervisão do professor é constante e a troca de ideias não é estimulada, mas reprimida. Existe um objetivo comum e fixo a ser atingido. Horários inflexíveis repartem o tempo – aqui, em disciplinas e tempos preestabelecidos para o cumprimento de cada tarefa. Por fim, as aulas ocorrem em um ambiente fechado, desconexo do mundo externo.

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O mercado de trabalho e a Educação 3.0 O panorama da Educação 2.0 soa familiar aos educadores atuais. A escola do século XXI ainda suporta a maioria daquelas estruturas – o mercado de trabalho, porém, sofreu uma mudança profunda com o início da Era da Informação, na década de 1980.

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Desde então, o mundo entrou em uma onda de crescimento exponencial, em oposição ao crescimento linear de tecnologia experimentado até então. Basicamente, isso significa que as novidades chegam a uma velocidade alucinante: a quantidade de informações disponíveis em uma única edição do jornal The New York Times, por exemplo, é maior do que a que um cidadão da Idade Média receberia ao longo de toda a vida. A mudança rápida e constante funciona como combustível para um novo mercado de trabalho, que valoriza padrões e habilidades distintos daqueles do período industrial.

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Decorar um processo ou uma informação é menos valorizado, já que novas descobertas são recorrentes e, não raramente, tornam aquele conteúdo obsoleto. Em vez disso, ambientes de trabalho passam a procurar profissionais autônomos, criativos, capazes de atuar sob pressão e incerteza rumo à resolução de problemas. É preciso desenvolver habilidades que não se ancorem em um cenário em particular, afinal, ele já não existe: desde 2014, pesquisadores como Carl Frey, doutor em economia da Universidade de Oxford, afirmam que 47% das profissões atuais correm o risco de entrar em extinção, enquanto outras centenas podem surgir nas próximas décadas. A atuação coletiva, o trabalho em grupo e a inclusão da diversidade – seja ela relacionada a diferentes faixas etárias, gerações, padrões socioeconômicos, experiências culturais ou descendências – ganham força nos espaços profissionais, assim como a capacidade de liderança e tomada de decisão. A tecnologia digital traz não somente novas ferramentas, mas novas mentalidades. É preciso saber procurar, curar e priorizar informações em meio a um mar de novidades em que, de repente, todos se tornam produtores de conteúdo, não mais consumidores passivos. O profissional 3.0 é multitarefa, está sempre conectado ao que ocorre no mundo e pode trabalhar de qualquer lugar.

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Seguindo essa lógica, a escola deveria refletir a nova realidade do mercado. A Educação 3.0 defende essa adaptação: a escola passaria a ser um ambiente multisseriado (que permite interação entre crianças e jovens de diferentes idades), de estruturas mais flexíveis no que concerne tempo e espaço. As carteiras individuais são substituídas – ou, então, complementadas – por mesas redondas, pufes e almofadas, laboratórios, plataformas on-line, excursões e pesquisas de campo. Afinal, a aprendizagem, assim como o trabalho profissional, pode acontecer em toda parte. Não há mais um único objetivo imutável a ser atingido: a aprendizagem ocorre a partir da solução de problemas reais; cada aluno ou grupo de alunos enveredando por um caminho alternativo e adquirindo, enquanto isso, seu conjunto particular de conhecimentos, habilidades e competências.

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A tecnologia, da mesma forma, tem papel central na Educação 3.0; entretanto, ao contrário do que acreditam alguns, isso não significa distribuir um tablet por aluno. A escola do novo milênio deve preparar os alunos para a cidadania digital e para a autoria. A tecnologia é uma linguagem a ser dominada para que o aprendiz possa criar, não apenas curtir e compartilhar conteúdo. Sendo assim, a ênfase não está nas ferramentas em si, mas nas possibilidades de interação, produção, solução de problemas e colaboração.

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Finalmente, esse novo modelo valoriza as habilidades socioemocionais, consideradas relevantes não apenas para o sucesso acadêmico, mas também para as jornadas profissional e pessoal dos indivíduos. Elas se dividem entre habilidades cognitivas (como memória, análise, pensamento crítico, argumentação), interpessoais (como liderança, cooperação, resolução de conflitos, empatia) e intrapessoais (como ética, resiliência, curiosidade, autoconhecimento).

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Diferentemente dos movimentos anteriores, em que a escola se remodelou para responder ao mercado de trabalho, a Educação 3.0 ainda está por se tornar realidade na maioria das instituições. O que se encontra nas escolas brasileiras é um padrão industrial de ensino, em que o conhecimento é estático e detido nas mãos de um único indivíduo, o professor, e alunos diferentes são submetidos a um único formato de avaliação que não contempla suas particularidades. Os espaços permanecem restritivos, pouco estimulantes ao diálogo, debate ou à experimentação; já a tecnologia digital é frequentemente vista como vilã e não aliada do processo de ensino e aprendizagem – ou, na melhor das hipóteses, como um acessório que replica exatamente as mesmas atividades realizadas off-line. É preciso repensar profissionais, abordagens e estruturas para que vão ao encontro das demandas do século XXI. Todos os indicadores apontam para uma aprendizagem cada vez mais personalizada – tanto on-line quanto off-line – e multimídia, ou híbrida, que combina ambientes para potencializar o desenvolvimento de alunos com diferentes perfis.

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O uso da tecnologia na Educação 3.0 O uso da tecnologia digital é intrínseco ao conceito de Educação 3.0, ainda que, talvez, não da maneira como o senso comum o concebe. A tecnologia deve servir ao propósito de integrar pessoas, ideias e soluções, de modo complementar aos momentos presenciais. Trabalhar on-line com os alunos é cada vez mais exigido dos professores, tanto pelos pais quanto pela escola – e, acima de tudo, pelos próprios alunos. Afinal, se, há alguns anos, aprender inglês era um diferencial no mercado de trabalho, agora, a tecnologia é a nova linguagem a ser dominada.

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Isso porque ela está em tudo: nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens, nos sites de compras on-line, nos jogos, nas músicas e no entretenimento, no pagamento de contas – é difícil pensar em qualquer tarefa diária que não possa ser cumprida virtualmente. E, se a tecnologia está por toda parte, essas gerações precisam saber não apenas consumi-la, mas entendê-la. Jovens devem ser capazes de criar com a tecnologia. Grandes personalidades, como o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, já anunciaram publicamente que ser capaz de criar com a tecnologia é parte da alfabetização para o século XXI. Obama chegou a defender que a programação fosse ensinada em todas as escolas do país.

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Por enquanto, é seguro afirmar que a maioria dos jovens é capaz de consumir tecnologia: mais de 80% dos jovens brasileiros entre 15 e 17 anos usam internet. Entre os 9 e os 17 anos, 90% possuem ao menos um perfil em rede social – e, de acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil, crianças de 6 anos já estão criando suas primeiras contas on-line. Entre as redes mais usadas por adolescentes brasileiros entre 15 e 18 anos, segundo a Amdocs Brasil – empresa que oferece análise de big data e soluções de software para os maiores provedores de serviços de comunicações, entretenimento e mídia do mundo –, estão Facebook (94%), YouTube (85%) e WhatsApp (84%). Em um cenário global, que pode indicar as próximas tendências, Snapchat, Instagram e Twitter também aparecem no topo do ranking.

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Os números comprovam uma tendência: cada vez mais cedo, a internet faz parte da vida dos alunos. A geração Y, dos nascidos na década de 1980 e início dos anos 1990, e a geração Z, dos nascidos a partir de meados dos anos 1990, que já nasceram conectadas, têm um relacionamento íntimo com o universo digital, e de modo intenso. A Amdocs Brasil perguntou a adolescentes brasileiros se eles gostariam de ter um dispositivo com acesso à internet acoplado ao corpo: 88% deles responderam que sim. Enquanto a presença dos jovens no universo virtual pode ser vista como vantajosa, por seu poder de ampliar as possibilidades de acesso a conhecimento, experiências e oportunidades, alguns a julgam perigosa, quando os expõe a ambientes ainda pouco fiscalizados e sem regras claras.

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Como o professor 3.0 se relaciona com a tecnologia É necessário que o professor ocupe um papel de facilitador e mediador no uso das redes. É errôneo acreditar que, por terem contato constante com tecnologia digital para comunicação e entretenimento, os alunos não precisem de orientação quando passam a usá-la com propósitos educativos. A Era da Informação implica, justamente, atualização e mudanças velozes, portanto, deve tornar-se hábito que professor e estudantes percorram em conjunto essa curva de aprendizagem.

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Estes são alguns passos iniciais para utilizar a tecnologia em sala de aula. Faça o diagnóstico da turma: ações mais qualificadas exigem embasamento, não um tiro às cegas. É recomendável, por exemplo, que o professor descubra quais sites e redes sociais são mais usados por seus alunos no momento de lazer, quanto tempo passam conectados e que tipo de material costumam compartilhar. Essas informações servem de base para preparar conteúdos personalizados: games, podcasts ou memes.

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Avalie os melhores projetos para inserir tecnologia: quer a tecnologia seja usada diariamente ou em atividades pontuais, o porquê de se estar inserindo a tecnologia naquele momento deve estar claro para todos os envolvidos, do gestor ao aluno. O que ela vai acrescentar que não pode ser ensinado (tão bem) de outra forma? Quais os objetivos do exercício e o que se espera que os alunos tenham aprendido ao fim dele? Envolva-se: criar grupos nas redes sociais para compartilhar conteúdo interessante ou levantar debates e convidar os alunos para participar são boas práticas de engajamento. O ambiente virtual consiste em uma oportunidade para sugerir leituras, vídeos, imagens ou para iniciar fóruns de discussão. Porém, as regras de uso e convivência devem ser estabelecidas desde o princípio, para evitar que a interação se desvirtue do objetivo de aprendizagem.

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Seria mentiroso afirmar que a inserção de tecnologia em sala de aula não acrescenta certa carga de trabalho ao educador, ainda que inicialmente. O período de implementação requer planejamento de recursos, espaço, atividades com intencionalidade. A elaboração de regras para o uso correto das ferramentas digitais entre os alunos também é um processo em permanente atualização. No longo prazo, a tecnologia mostra potencial para diminuir trabalhos burocráticos e operacionais do educador. Seja por meio de ferramentas de planejamento, seja pela correção automática de exercícios ou pela compilação de dados sobre cada aluno e turma, a tecnologia digital tem como objetivo final que o educador dispense mais tempo às tarefas nas quais não pode ser substituído: aquelas que envolvem o relacionamento, a afetividade e o olhar para o desenvolvimento integral do aluno. A maioria dos professores brasileiros concorda que a tecnologia em sala de aula, fundamento da Educação 3.0, pode melhorar a qualidade do ensino. Os dados são do estudo Conselho de Classe, realizado pelo Ibope Inteligência e pela Fundação Lemann com mil professores do Ensino Fundamental da rede pública de todo o país. Entre os entrevistados, 92% acreditam que ter materiais didáticos de qualidade e receber treinamento para o uso da tecnologia aplicada ao ensino teria impacto positivo na aprendizagem dos alunos; enquanto 81% apoiam o ensino personalizado por meio da tecnologia.

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O que torna a tecnologia relevante para o professor O estudo Teachers Know Best, promovido pela Fundação Bill e Melinda Gates, nos Estados Unidos, desenvolveu um olhar mais atento às qualidades das tecnologias preferidas pelos educadores. Em 2013, foram entrevistados 3.100 professores para mapear o que as ferramentas digitais mais relevantes na escola têm em comum.

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Ter bom custo-benefício foi a resposta mais frequente, citada por 48% dos professores. O preço pago pela tecnologia ainda é um fator de peso, tanto para eles quanto para as escolas em que trabalham. Sim, existem ferramentas gratuitas disponíveis on-line; entretanto, normalmente elas oferecem funções limitadas para quem não é assinante. Nem sempre vale a pena gastar tempo e energia para aprender algo que não se pode aproveitar completamente – e as restrições também podem afetar o desempenho dos alunos e a avaliação do professor (quando, por exemplo, os alunos acessam um jogo, mas o professor não recebe os resultados para analisar os erros e acertos de cada um). É indicado dedicar mais tempo buscando a ferramenta que melhor se encaixa na escola e atinge os objetivos de aprendizagem. Priorizar plataformas, games e aplicativos em nuvem (ou seja, que podem ser acessados on-line, sem serem instalados nos equipamentos da escola) é outra boa sacada; afinal, o preço costuma ser reduzido, e não há riscos de a estrutura da escola ser insuficiente. Também foi citada a economia de tempo – recurso valioso para professores – e, em seguida, a personalização. Esta foi mencionada por 38% dos professores, que buscam materiais e conteúdos diferenciados para alunos que apresentam seus próprios ritmos e estilos de aprendizagem. Por fim, 32% buscam tecnologia que os ajude a compilar e analisar dados, de modo a acompanhar o desenvolvimento de seus alunos e tomar decisões pedagógicas baseadas em informações concretas.

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Realidade da tecnologia na escola A falta de formação profissional e de infraestrutura nas escolas representa um obstáculo a ser superado para que se atinja o uso de tecnologia educacional de qualidade. Apenas o aparelho eletrônico em si – um tablet ou computador – não é equivalente à inovação. Paulo Blikstein, professor da Escola de Educação e do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Stanford, afirma que, para cada dólar gasto em tecnologia, nove dólares deveriam ser investidos em formação e treinamento de professores e gestores. Do contrário, as ferramentas podem acabar se tornando um estorvo ao educador e um prejuízo à aprendizagem.

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O brasileiro Edvaldo Couto, doutor em Educação pela Unicamp e professor da Universidade Federal da Bahia, concorda. Ele lista três empecilhos que precisam ser superados para que a tecnologia digital seja usada de maneira inovadora em sala de aula: a infraestrutura tecnológica (muitas escolas ainda lutam para conseguir eletricidade, água potável e acesso à internet), acesso à rede (que, no Brasil, tem custo alto e qualidade baixa) e formação de professores para ensinar na cultura digital. O último é o que se denomina letramento digital ou alfabetização digital. De modo semelhante à alfabetização tradicional, o letramento digital engloba o ato de “ler” a tecnologia, sim, mas, em seguida, saber apropriar-se dela, integrá-la à realidade escolar e dar-lhe significado em vez de consumi-la passivamente. Vai, portanto, além do uso apenas instrumental da tecnologia.

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Importância dos dados na Educação 3.0 A Educação 3.0 remete diretamente à personalização do ensino, ou seja, à possibilidade de traçar percursos de aprendizagem individuais para cada aluno. Ainda que a personalização fosse possível, em escala menor, sem auxílio da tecnologia, foi justamente esse desenvolvimento técnico exponencial que possibilitou individualizar o ensino com tamanho detalhamento e propriedade.

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Da mesma forma que redes sociais e comércios virtuais utilizam suas informações para indicar os produtos certos para cada indivíduo, plataformas de tecnologia educacional conseguem explorar dados com o objetivo de acompanhar e avaliar o desenvolvimento dos estudantes. O big data torna-se, então, a peça-chave para a personalização na educação: à medida que um aluno estuda e completa exercícios em uma plataforma on-line, o sistema consegue identificar os assuntos que ele domina, as lacunas na aprendizagem e até mesmo sugerir roteiros de estudo que se adequem a suas dificuldades.

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A personalização é feita por meio do big data, sistema que reúne, analisa e inter-relaciona uma grande quantidade de dados. Esse tipo de tecnologia é utilizado largamente em diversas áreas além da educação: na sugestão de filmes on-line, de acordo com as preferências de cada espectador; ou nos anúncios de compras nas redes sociais, logo após o usuário visitar o site de uma loja. Basicamente, o sistema entende o que o usuário procura de acordo com as páginas que visita, os links que curte ou compartilha, os vídeos a que assiste e utiliza essas informações para prever seu comportamento futuro.

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Fatores comportamentais, tal qual o tempo dedicado a estudar cada matéria ou o formato midiático preferido por determinado aluno (vídeo, texto, game), também trazem insights à plataforma – ou seja, combinadas, as informações traçam um panorama bastante completo do estudante, do qual o professor pode tirar ideias e aprendizados para as intervenções mais eficientes. A personalização guiada pelo big data descobre, portanto, qual a melhor maneira de apresentar conteúdos a cada usuário, quais ações do aluno on-line potencializam sua aprendizagem e quais, por outro lado, prejudicam sua performance. Além da personalização proporcionada pela plataforma, o big data na educação serve como apoio aos educadores, afinal gera gráficos e relatórios que podem ser estudados diretamente por gestores, coordenadores e professores. Eles, por sua vez, complementam os dados virtuais com uma visão de desenvolvimento integral, angariada pelo contato presencial com a turma.

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Por meio dessas informações, a escola traça um perfil apurado de cada aluno, compreendendo sua trajetória individual e, a partir dela, propondo caminhos para melhorar o desempenho. Sistemas de análise de dados são capazes ainda de alertar para a possibilidade de desistência de um estudante – combinando indicadores como notas baixas, pouco engajamento ou insatisfação com o curso –, dando ao educador tempo hábil de intervir e reorientar sua prática pedagógica de modo a melhor atender às necessidades da turma.

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O professor na Educação 3.0 O papel do educador se transforma com a chegada da Educação 3.0. Ainda que grandes nomes da educação tenham proposto, já no século passado, um professor mentor, cujo trabalho é esclarecer caminhos e facilitar o aprendizado, como substituto ao professor detentor de todo o conhecimento, até hoje, poucas escolas se atreveram a tirar esse novo profissional do discurso. Na educação tradicional, o professor é o centro da sala de aula: basta uma rápida observação da configuração do espaço escolar. Todas as carteiras, alinhadas, são voltadas ao professor. Mesmo em uma roda de Educação Infantil, é ele quem ocupa o centro. O professor é um indivíduo superior, por idade e experiência, que decide quais e como os conteúdos devem ser transmitidos, com pouca ou nenhuma influência das vontades e interesses de seus alunos.

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É também o professor quem impõe avaliações homogêneas para turmas heterogêneas. Ele avalia o desenvolvimento de maneira imparcial, em que seu olhar repousa somente no cognitivo: na reprodução dos fatos exatamente como ele os ensinou. A chegada da tecnologia, a reorganização dos espaços de trabalho e a consequente onda da Educação 3.0 tornaram esse modelo inviável. Primeiramente, porque o acesso cada vez mais democrático à informação deixa explícito que o professor já não é a única forma de se adquirir conhecimento. Com a velocidade das novas descobertas científicas, mesmo o conteúdo que o professor aprendeu em sua formação acaba sendo datado e descartado rapidamente. Enquanto isso, seus alunos, nativos digitais, atualizam-se em alguns cliques no celular.

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Pode-se concluir, portanto, que o professor 3.0 estará em constante formação. Mas esse é apenas o começo! Na Educação 3.0, o professor deixa de ser o sol, o centro da sala de aula, para orbitar em torno de seus alunos. Sem a obrigação de ser fonte exclusiva de conhecimento, ele adquire maiores responsabilidades: a de compreender seus alunos, orientá-los individual e coletivamente, coordenar projetos e atividades, introduzir novas ferramentas (ou ferramentas conhecidas, mas com novos propósitos) e provocar reflexões. Ele usa a tecnologia como instrumento para conectar pessoas, ideias, soluções, para acompanhar o desenvolvimento da turma e para potencializar a aprendizagem – mas a tecnologia, em si, não é o foco e nem deveria ser. O professor 3.0 valoriza a troca de experiências, o desbravamento de novos caminhos e a produção coletiva.

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Características do professor 3.0 Em 2012, os educadores holandeses Erno Mijland e Rob Mioch publicaram um artigo listando as 12 características comuns aos professores 3.0. Suas ideias foram reproduzidas e traduzidas para o inglês no site Education Futures – e, aqui, livremente traduzidas para o português.

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1. O professor 3.0 olha para o futuro Crianças e jovens desta geração precisarão encontrar espaço em uma sociedade cada vez mais incerta, com grandes riscos. O professor 3.0 olha para tendências, possíveis cenários e considera consequências. Quando entende que determinado cenário é relevante, encontrar maneiras de traduzir suas descobertas em conhecimento e habilidades relacionados a sua área de ensino. 2. O professor 3.0 oferece uma base para a vida em sociedade O professor 3.0 vê a escola como uma sociedade que conecta os alunos com o mundo a seu redor. Ele ensina seus alunos a assumir responsabilidade por suas decisões, sua vida particular e o ambiente do qual fazem parte. Também busca desenvolver uma atitude flexível, adaptável. Assim, dá forma à ambição de criar por meio da educação uma sociedade mais saudável.

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3. O professor 3.0 estabelece diálogos Atualmente, crianças e jovens têm acesso às mesmas fontes de informação que seus professores. Por mais que o conhecimento técnico e profissional seja significativo, acima de tudo, o professor 3.0 cria momentos para que seus alunos aprendam uns com os outros. A divisão tradicional de papéis (o professor que tudo sabe versus o estudante ignorante) não mais se aplica. Ele inicia diálogos entre e com seus alunos. Por isso mesmo, habilidades e estratégias didáticas são ferramentas importantes para o professor 3.0, que está sempre aprendendo sobre a experiência, a mentalidade e o comportamento dos jovens. Conversas com colegas de profissão, famílias e o mundo a sua volta dão a ele acesso a uma diversidade de informações, inspirações e ideias. 4. O professor 3.0 impulsiona os talentos de seus alunos Seus alunos vivem em uma sociedade extremamente competitiva. Ainda que, aparentemente, haja inesgotáveis oportunidades, existe paralelamente o risco de desigualdade. O professor 3.0 busca possibilidades para que todas as crianças atinjam grandes conquistas. Ele presta atenção no desenvolvimento integral e no aluno como indivíduo. Percebe a motivação intrínseca de cada um e a usa como base para orientá-lo e motivá-lo. O professor 3.0 trabalha em conjunto com seus colegas e outros educadores para ajustar suas ações de modo que se adequem às habilidades dos estudantes. 5. O professor 3.0 explora Com atitude de explorador, o professor 3.0 procura navegar pela realidade instável em torno dele. Sempre que possível, e com apoio de uma rede, ele busca soluções criativas para seus desafios diários. Ele vai pesquisar e experimentar continuamente novas maneiras de tornar seu ensino eficaz e eficiente. O professor 3.0 não tem medo de testar métodos inovadores, tecnologias e recursos diferentes. Ele vai conectar a pesquisa com sua prática e traduzir seus estudos em resultados reais, que podem ser testados e avaliados.

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6. O professor 3.0 é um modelo de aprendizagem “ao longo da vida” O prazo de validade das informações está cada vez mais breve. Conhecimento e aprendizagem estão cada vez mais relacionados à habilidade de encontrar soluções para novos problemas. É por isso que o professor 3.0 precisa continuar ativamente aprendendo. Parte disso pode acontecer de maneira autodidata, já que é fácil acessar fontes de qualidade na internet. O professor 3.0 estuda, reflete e procura feedback quanto a sua performance, seja entre colegas ou proveniente de seus superiores. Também inclui o desenvolvimento pessoal e o autoconhecimento em sua jornada, podendo beneficiar, com isso, não apenas sua vida profissional, mas a de seus alunos e da instituição em que trabalha. Todas essas atitudes transformam o professor 3.0 em um modelo a ser seguido por seus alunos.

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7. O professor 3.0 não tem medo de compartilhar e perguntar O desenvolvimento é rápido demais para que o professor conheça tudo, atualize-se sobre tudo ou invente tudo por conta própria. O professor 3.0, então, aproveita sua rede de contatos para tirar dúvidas, compartilhar conhecimento e contribui em projetos coletivos. A Era da Informação oferece um número sem precedentes de oportunidades para democratizar o conhecimento – por exemplo, através de networks e da internet. Sempre que considera relevante, o professor 3.0 participa de esforços coletivos para melhorar a educação. Isso faz dele um membro ativo de uma sociedade cocriadora – e mostra o poder de se estar conectado.

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8. O professor 3.0 usa tecnologia para complementar sua visão de aprendizagem Novas mídias e tecnologias (como lousas digitais, games e redes sociais) oferecem diversos recursos para a aprendizagem. Entretanto, o professor 3.0 não precisa seguir todas as febres do momento – seu olhar está voltado, primeiramente, para o aprendizado de seus alunos. Com isso em mente, ele analisa criticamente as possibilidades de cada ferramenta, definindo quais objetivos deseja atender e como elas podem ajudá-lo a chegar lá. Caso a tecnologia não acrescente nada de valioso ao processo, o professor 3.0 não tem receio de dizer “não”. Nem sempre, porém, a análise é realizada facilmente; afinal, nem sempre é possível conhecer profundamente uma nova ferramenta para tomar uma decisão. A habilidade de tomar decisões conscientes e deliberadas pode ser uma das competências mais valiosas do professor 3.0. 9. O professor 3.0 trabalha com eficiência A tecnologia deve facilitar o trabalho do professor, não dificultá-lo. O professor 3.0 aproveita oportunidades de automatizar tarefas operacionais para, em contrapartida, ter mais tempo disponível para se dedicar às atividades que realmente importam: o contato direto com os estudantes. Métodos de avaliação digital, gravações da aula e plataformas de estudos são usadas para ampliar os momentos de aprendizagem da turma.

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10. O professor 3.0 é apaixonado por ensinar A rotina do professor 3.0 exige muita energia. Há tanto que descobrir, experimentar e pensar a respeito, que o trabalho nunca termina. A única forma de continuar motivado é tendo paixão pelo que faz. O professor 3.0 é genuíno e confiável, qualidades importantes para se lidar com os estudantes atuais. Ele compreende que influências externas podem distraí-lo de sua missão. Por exemplo, novos regulamentos, protocolos, mudanças no planejamento – o professor não precisa aceitar qualquer novidade cegamente; ele deve conhecer a tecnologia até mesmo para negar a tecnologia com propriedade quando for necessário. O professor 3.0 está preocupado com o significado, a substância de seu trabalho, e vai sempre questionar a si mesmo sobre qual sua real motivação. Ele tem consciência das atividades de que verdadeiramente gosta de executar e encontra felicidade em sua profissão, na convivência com alunos e colegas, e em compartilhar sua paixão com outros. 11. O professor 3.0 não tem medo de ser único Em toda escola, existe a necessidade de especialistas e generalistas que orientem o uso da tecnologia e a implementação de abordagens inovadoras. O professor 3.0 enxerga sua atuação como a letra “T”: imagine que a especialidade é a linha vertical, aprofundando-se no conhecimento, enquanto a linha horizontal representa o alcance – ou seja, não basta conhecer detalhadamente um assunto, ele deve ser compartilhado amplamente. O professor 3.0 tem autoridade em sua área de especialização. Pode-se encontrar conhecimento único e profundo nele; além disso, ele pensa de modo multidisciplinar, conectando sua expertise com o desenvolvimento de seu ambiente. Com esse perfil em “T”, ele contribui para a qualidade da escola com atributos únicos.

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12. O professor 3.0 tem orgulho de sua profissão Como professor, é possível sentir-se como uma gota no oceano. Mas mesmo Einstein, Gandhi ou Picasso foram, em algum momento, meninos em uma escola qualquer, em algum lugar do mundo. A sociedade carrega grandes expectativas para a educação, portanto é hora de parar de apontar dedos ou ter vergonha da profissão de professor. O professor 3.0 sabe que faz a diferença e orgulha-se de seu trabalho. MIJLAND, Enro, MIOCH, Rob. Teacher 3.0: sharing, creating and connecting knowledge.

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O aluno 3.0

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Geração Y, millennials, nativos digitais. Há muitos nomes para se referir à geração de jovens que nasceu imersa na internet. Como mostraram as pesquisas citadas anteriormente, eles têm um relacionamento íntimo com a tecnologia digital, diferente do mantido pelos migrantes digitais – aqueles que, nascidos antes da democratização da internet, aprenderam a navegar pela necessidade, mas ainda se lembram de um mundo analógico. Uma série de características que configuram os alunos 3.0 é comum a esse grupo: imediatismo, menor tempo de concentração exclusiva, multitarefa, adaptabilidade e busca por estreitar a relação entre trabalho e lazer. Essa geração, assim como as que seguem, como a geração Z, sempre pertenceu a um mundo completamente globalizado e conectado, em que limitações de tempo e espaço são bastante diferentes daquelas apreendidas por seus pais e avós. Ao contrário do que se sentencia por aí, ela é capaz, sim, de manter relacionamentos – muitos inclusive a distância – o que confirma que os alunos 3.0 são pouco apegados às fronteiras geográficas. Um tuíte, afinal, pode atravessar o globo.

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Entretanto, as particularidades dos alunos 3.0 vão além de seu uso da tecnologia. Suas mudanças de mentalidade, comportamento e forma de aprender se expandem para o mundo off-line. Para que a escola vá ao encontro desses estudantes, precisa, primeiro, compreender como seus cérebros funcionam.

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A neurociência fala do aluno 3.0 Para a neurociência, aprender consiste em guardar uma informação na memória de longa duração, de modo que ela possa ser resgatada quando necessária. Entretanto, com frequência, os conteúdos escolares acabam na memória de curta duração, que dura de 4 a 6 horas. Isso se deve a dois fatores: primeiro, o aluno não enxerga sentido naquela informação e, segundo, o modelo de ensino não inclui seu tipo de inteligência e estilo de aprendizagem.

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O fato de um conteúdo cair na prova não é suficiente para dar sentido a ele. O cérebro humano se desenvolveu por milhares de anos para descartar informações irrelevantes – ele se assemelha mais a um filtro do que a uma esponja. E o motivo pelo qual o cérebro seleciona uma informação em detrimento de outra é seu valor funcional para a sobrevivência, seu senso prático na vida do indivíduo.

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Daí a necessidade de se inserir novas abordagens e metodologias que priorizem a aprendizagem “mão na massa” em sala de aula, que serão abordadas adiante, em Abordagens e metodologias da Educação 3.0. Além disso, hoje, a neurociência reconhece nove tipos de inteligência que todo indivíduo possui em maior ou menor nível de desenvolvimento; infelizmente, a maioria ainda recebe pouca ou nenhuma atenção em sala de aula, prejudicando a aprendizagem de determinados perfis de alunos.

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Os nove tipos de inteligência Lógico-matemática: consiste na habilidade de calcular, quantificar, considerar hipóteses, raciocinar logicamente, desenvolver estratégias e solucionar operações matemáticas complexas. Verbal ou linguística: refere-se ao domínio de idiomas, à capacidade de pensar e articular palavras, ao uso de linguagens variadas para expressar significados complexos e à reflexão sobre o uso da língua. Musical ou artística: é a capacidade de discernir ritmo, timbre e tom, de reconhecer, criar e reproduzir música. Corporal ou cinestésica: referente à capacidade de controlar e realizar movimentos com o corpo e manipular objetos. Quem possui esse tipo de inteligência apresenta uma relação estreita entre mente e corpo. Espacial: consiste em compreender o mundo visual, incluindo o raciocínio visual, a manipulação de imagens e a compreensão das três dimensões.

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Intrapessoal: expressa pelo autoconhecimento, o entendimento de seus próprios sentimentos, desejos e limitações, e pelo uso desse autoconhecimento para planejar ações futuras e se autodesenvolver. Interpessoal: é a capacidade de interagir com os outros, compreender suas necessidades, negociar, sentir empatia e sensibilidade, aceitar diferentes perspectivas. Naturalista: manifesta-se em indivíduos com sensibilidade para o mundo natural, capazes de perceber o ambiente a seu redor e lidar com outros seres vivos. Espiritual ou existencial: é a capacidade de refletir sobre questões fundamentais da vida humana, como a fé, o sentido da existência e a vida após a morte.

Geralmente, as inteligências lógico-matemática e verbal ou linguística são mais exploradas em sala de aula do que a naturalista ou a cinestésica.

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Da mesma forma, os estilos de aprendizagem (que podem se manifestar de 15 maneiras, combinando os estilos: visual, auditivo, cinestésico e artístico) são contemplados em proporções desiguais. Hoje, a neurociência estima que apenas 19% dos estudantes tenham como estilo de aprendizagem mais forte o auditivo – isso significa que, quando o professor apenas fala em sala de aula, 81% dos estudantes não estão aprendendo da melhor forma possível.

Características do aluno 3.0 O aluno 3.0 é um criador. Ele molda sua experiência acadêmica de acordo com seu estilo de aprendizagem, tipo de inteligência, facilidades e dificuldades, interesses e background – a bagagem do aluno – que acumulou com suas experiências anteriores. O aluno 3.0 aprende melhor quando coloca seu conhecimento em prática. Confira a seguir sete características do aluno 3.0. 1. O aluno 3.0 trabalha para solucionar problemas

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A aprendizagem depende de dar sentido à informação; por isso, o aluno 3.0 prefere deixar de lado a “decoreba” antes da prova para aplicar seus conhecimentos em questões reais. Ele trabalha para solucionar problemas que observa em sua escola, sua comunidade ou no mundo – e, no caminho para a solução, explora conteúdos multidisciplinares. Essa lógica segue a prática do mercado de trabalho: ao começar um novo emprego, não é esperado que o profissional memorize uma grande quantidade de informações descontextualizadas. Em vez disso, ele busca formas de realizar as tarefas conforme elas se apresentam. Ou seja, a necessidade vem antes do conteúdo. Trabalhar para a resolução de problemas reais também coloca o aluno 3.0 em contato direto com a sociedade fora das paredes da escola e, não raramente, com realidades distintas da sua. Assim, ele não atinge apenas conquistas acadêmicas, como também desenvolve habilidades socioemocionais interagindo com um grupo mais amplo.

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2. O aluno 3.0 desenvolve a criatividade A Educação 3.0 assume que criatividade não é um traço inato da personalidade, mas algo que pode ser desenvolvido ao longo da vida. O aluno 3.0 valoriza a curiosidade e a criatividade – e deve ter espaço para exercitá-las em todas as áreas de conhecimento. Esse olhar atento para a criatividade tem razão de ser: os profissionais mais procurados no século XXI são aqueles que conseguem encontrar soluções alternativas em cenários adversos, com poucos recursos ou em ambientes hostis. Eles se sentem compelidos pelo que ainda desconhecem, não têm medo de inovar e estão em constante atualização. Desde a idade escolar, portanto, o aluno 3.0 precisa começar a identificar oportunidades para ampliar sua aprendizagem, seja por um interesse pessoal seja por um desafio atribuído pelo professor. Eles pedem espaço para errar; afinal, o erro é parte natural do processo de experimentação, sem a qual é impossível inovar. Por fim, descobertas e novos caminhos devem ser valorizados e recompensados.

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3. O aluno 3.0 é um investigador Alunos 3.0 têm autonomia na construção de seu aprendizado, o que significa que, ainda que todos saiam de um mesmo ponto de partida, o produto final de cada estudante ou grupo pode ser completamente diferente. Não cabe ao professor expor todo o conteúdo para que, então, a turma comece a trabalhar. Alunos 3.0 vão buscar os conhecimentos necessários para atingir seus objetivos, contando com a orientação do educador, que deve ajudá-los criando pontes, apresentando contatos úteis ou fontes de pesquisa, sugerindo caminhos e provocando questionamentos.

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A investigação pode incluir leitura de textos sobre o tema, entrevista de especialistas, reunião de materiais necessários, compilação e comparação de dados, uso de aplicativos, vídeos e websites, realização de pesquisas de opinião, teste de suas hipóteses, entre outros. 4. O aluno 3.0 conhece e utiliza ferramentas digitais Nascido na Era da Informação e acostumado com ferramentas digitais que facilitam quase qualquer aspecto de sua rotina, o aluno 3.0 entende qual tecnologia serve a qual propósito. Novas práticas, antes proibidas, tornam-se comuns em sala de aula: como o uso de celulares, que podem ser aproveitados para pesquisa, fotos ou gravações. Os estudantes precisam desenvolver a habilidade de, além de consumir, criar com a tecnologia – a escola para o aluno 3.0 inclui robótica, programação, aprendizagem maker e projetos, não laboratórios (ambientes isolados, em que a tecnologia não se relaciona ao externo). Além disso, o aluno 3.0 sabe que, com uso de tecnologia, sua aprendizagem não se limita à sala de aula. Ele usa ferramentas digitais para comunicação, como mensagens instantâneas e videoconferências, para manter contato com colegas, professores e especialistas; aproveita transmissões ao vivo, vídeos, animações e portais de notícias para informar-se sobre temas de seu interesse; e inclusive conhece fatos e explora cenários em jogos e games on-line.

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5. O aluno 3.0 sabe apresentar resultados Habilidades interpessoais são as chaves na Educação 3.0. Logo, o aluno 3.0 faz mais do que apenas desenvolver projetos e produtos – ele sabe comunicá-los de modo atraente e persuasivo, sabe “vender” sua ideia. A escola do século XXI pode aproveitar o mesmo número de recursos do mercado de trabalho para que os alunos exponham seus conhecimentos e descobertas: imagens, vídeos, músicas, podcasts, animação, portfólio on-line, sites, aplicativos, slides. É claro que desenvolvimento da linguagem, capacidade de argumentação e negociação também se enquadram nessa categoria. 6. O aluno 3.0 aprende em parceria com o professor O professor e o aluno 3.0 não têm um relacionamento vertical, em que um está automaticamente em posição superior ao outro. Como o professor já não é o centro da sala de aula, tampouco o único detentor do conhecimento, eles assumem uma postura de parceria em prol de um objetivo comum. Entre eles, estabelece-se uma relação horizontal, de troca: pela idade e pela experiência, o professor logicamente tem condições de prever certos passos do aluno e, acima de tudo, deve considerar sua trajetória individual para orientá-lo no processo de aprendizagem. Em outros momentos, porém, é o aluno quem apresenta inovações ao professor, que não deve ter vergonha de aprender em conjunto. 7. O aluno 3.0 aprende com seus pares

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O aluno 3.0 vive em conexão – on-line e off-line – com seus pares. Colaboração, cooperação e senso de coletividade são peças-chave no século XXI. Nada mais justo do que o conhecimento ser, também, construído a partir da interação. O trabalho em grupo não é oposto à autonomia do aluno; ambos podem ocorrer simultaneamente. Em uma equipe, cada aluno é responsável pelo processo e pelo resultado final, com consciência de que suas atitudes influenciam o todo. Ao longo dessas interações, o aluno 3.0 trabalha empatia, agrega novas perspectivas, aprende a negociar, argumentar e ceder, tem contato com culturas e recursos antes inimagináveis. O professor que quiser potencializar esses encontros pode prestar especial atenção à configuração dos grupos, combinando habilidades e competências que se complementem. Aqui, a organização deixa de ser aleatória, tornando-se intencional. Isso quer dizer que dois alunos não são agrupados por acaso; eles devem ter habilidades e conhecimentos que agreguem um ao outro. Aquele que explica se beneficia tanto quanto aquele que recebe a informação, já que a repetição e a prática garantem seu aprendizado no longo prazo.

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Temáticas e cuidados da Educação 3.0 Se na Educação 1.0 e na 2.0 o professor tinha preocupações limitadas ao espaço físico da sala de aula – o conteúdo a ser estudado, as tarefas de casa feitas, a lista de chamada, o comportamento presencial dos alunos –, hoje o professor 3.0 acumula ainda o papel de orientar seus pupilos quanto à cidadania digital.

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De acordo com Mike Ribble, autor de Raising a digital child (em português, Educando a criança digital), a expressão cidadania digital refere-se ao uso responsável e apropriado da tecnologia. Ribble explica que, na Era da Informação, todos são cidadãos digitais: o acesso à cultura digital é um direito de todos; a tecnologia pode e deve estar presente em variados âmbitos da vida pessoal e profissional. Entretanto, navegar nessas águas exige compreensão do alcance que a informação pode tomar em rede.

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Tudo o que é colocado em um ambiente on-line – e-mail, download de um aplicativo, post nas redes sociais – compõe o que o autor denomina marca digital ou pegada digital. A pegada digital é equivalente a um rastro que nunca será apagado (mesmo quando o autor deleta determinada publicação, ela pode ter sido salva por outros usuários, que podem divulgá-la futuramente). Daí a necessidade de o professor levar pontos de discussão à sala de aula: o que postar nas redes sociais? O que enviar em mensagens privadas? Com quem compartilhar fotos e informações? Como o que é publicado no ambiente virtual pode afetar minha imagem?

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Esse debate é essencial ao se tratar das gerações Y e Z, habituadas ao mundo conectado, que veem o compartilhamento on-line como parte natural do dia a dia. Nascidos e criados rodeados de tecnologia digital, a proibição dificilmente é uma saída (primeiro porque o aluno 3.0 consegue burlá-las; segundo porque o priva de competências e habilidades que lhe serão úteis no futuro profissional). O mais indicado é o ensino da ética e da segurança digital. Levar cidadania digital para a escola previne casos de cyberbullying, evita superexposição dos adolescentes e desenvolve autonomia digital, ou seja, a capacidade de tomar decisões sábias quando em uma situação virtual.

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Seguem algumas áreas da cidadania digital em termos cunhados por Mike Ribble: Acesso digital: o direito à inclusão digital e eletrônica, concedido a todos. Lei digital: direitos e regulamentações legais que cercam o uso da tecnologia. Direito e responsabilidade digital: privilégios e deveres dos usuários on-line. Comunicação digital: a troca de conteúdo e informações em ambiente virtual. Comércio digital: compra e venda de produtos e serviços on-line. Saúde digital: bem-estar físico e emocional relacionado ao uso de tecnologia. Segurança digital: segurança pessoal e da rede de contatos de cada usuário em ambientes on-line.

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Alfabetização digital ou letramento digital: capacidade de compreender, discernir e criar com tecnologia digital. Etiqueta digital: conduta-padrão entre usuários em ambientes digitais.

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O educador 3.0 passa, então, a ser corresponsável pela cidadania digital de seus alunos, tarefa que compartilha com as famílias deles. A seguir, observam-se os tópicos mais frequentes na rotina de educadores e alunos do século XXI quanto ao uso responsável da internet.

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Privacidade e segurança Cada rede social, jogo e aplicativo apresenta termos de uso que são exibidos aos usuários no momento da inscrição. Não raro, jovens clicam em “aceitar termos e condições” sem de fato ler e compreender seu conteúdo. É justamente nesse documento on-line que constam a idade mínima para o acesso àquela rede em particular, quais informações e dados sobre o usuário passam a ser de domínio da plataforma, valores que possam ser cobrados futuramente, entre outras informações. Há uma idade mínima para o uso de redes sociais como Twitter, Instagram, Snapchat ou Tumblr, todas populares entre adolescentes. Porém, a decisão de permitir ou não o acesso de crianças e jovens cabe, primeiramente, aos pais e responsáveis. Como, então, deve agir o professor que pretende trabalhar em ambiente virtual? Sempre que os alunos forem menores de idade, é necessário obter a autorização dos pais para qualquer trabalho em rede. Em seguida, cabe ao professor decidir como configurar o canal escolhido para garantir a segurança de seus alunos: um grupo no Facebook, por exemplo, tem as opções “público”, “fechado” e “secreto”. Vídeos no YouTube também podem ser configurados como “público”, “não listado” ou “privado”.

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Basicamente, essas três opções contemplam conteúdos abertos, que podem ser encontrados e acessados livremente; conteúdos que são acessíveis, mas não aparecem em ferramentas de busca; e, finalmente, conteúdos secretos, que só poderão ser encontrados e acessados pelos participantes daquele grupo.

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As orientações devem se estender ao uso pessoal das redes e plataformas digitais. Alunos devem entender as possibilidades de configuração de suas contas: quem pode visualizar suas publicações, qual o alcance de um post e qual o tempo de vida de um conteúdo on-line. Divulgar informações pessoais ou que detalhem a rotina do aluno (como fotos com o uniforme escolar, por exemplo) pode ser perigoso.

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Por fim, o educador 3.0 deve tomar precauções ao se relacionar com seus alunos em ambiente virtual. Como não é permitido a menores de 13 anos integrar a maior parte das redes sociais, é preciso que a família esteja ciente e aprove sua participação em quaisquer projetos – o professor deve conferir essa permissão até mesmo para aceitar uma solicitação de amizade do aluno. Também é o caso de se pensar nas informações que o educador compartilha em suas redes pessoais: como elas podem afetar sua imagem perante os estudantes? A possibilidade de manter perfis distintos, um profissional e outro pessoal, pode ser considerada dependendo da faixa etária dos alunos.

Liberdade de expressão e responsabilidade Usuários on-line tendem a usar o argumento da liberdade de expressão para encobrir comportamentos ofensivos ou mesmo ilegais. Existem, sim, regras que cerceiam o comportamento on-line, desde comentários preconceituosos até a divulgação de material confidencial.

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Para trabalhar essa temática em sala de aula, o professor 3.0 pode fazer uso de exemplos reais, debates e fóruns em que os próprios alunos analisam quais atitudes são ou não permitidas em um ambiente virtual. Dessa forma, em vez de serem proibidos de uma ação, eles desenvolvem autonomia e responsabilidade para decidir suas ações com plena noção das consequências.

Distração Frequentemente, o uso de tecnologia digital em sala de aula esbarra em um medo profundo do professor: o de que seus alunos usarão as ferramentas apenas para entretenimento, distraindo-se dos propósitos da aula. Assim como o professor passa por um processo de aprendizagem para usar tecnologias digitais, trabalhar com alunos on-line também requer tempo de adaptação. Afinal, mesmo que os jovens estejam acostumados a usar tecnologia no dia a dia, há uma enorme diferença entre usá-la como forma de comunicação e entretenimento e usá-la como ferramenta de estudos.

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Para evitar que o objetivo se perca, o professor 3.0 garante que o projeto faz sentido tanto em relação ao currículo a ser cumprido quanto dentro da rede que pretende utilizar – não adianta “fazer por fazer”, o ambiente on-line é inserido quando traz benefícios para a aprendizagem da turma. Pedir que os alunos produzam uma redação no WhatsApp, por exemplo, dificilmente fará sentido; contudo, a ferramenta pode ser peça-chave em um projeto em que os alunos conversem como personagens históricos. É importante lembrar que qualquer estímulo novo supera um estímulo de longa duração; isso quer dizer que a novidade não dura para sempre. O professor que deseja conquistar a atenção de seus alunos não pode se apoiar em um único recurso digital por aulas a fio, é a alternância de abordagens e metodologias que irá despertar o interesse dos alunos 3.0.

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Uso excessivo e ansiedade Com a velocidade e o volume de informações disponíveis na internet, é fácil sentir que se está perdendo algo ao passar alguns minutos sem conexão. A necessidade de conferir o telefone a todo instante é a maior prova disso. O resultado pode ser a ansiedade, que já atinge 68% dos adolescentes, também segundo a Amdocs, quando forçados a ficar sem internet.

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O vício tecnológico, ou a compulsão, manifesta-se quando um indivíduo não consegue ficar desconectado por determinado período de tempo. O denominado tecnostresse, ou o estresse tecnológico, surge quando alguém é incapaz de usar ferramentas digitais de maneira equilibrada, conciliar sua vida on-line e off-line, não compreende como a tecnologia digital funciona e, principalmente, quando a tecnologia falha, deixando-o “isolado” do resto do mundo. Os principais sintomas do estresse tecnológico são ansiedade, irritação, agressividade, insônia, depressão e distúrbios alimentares. Ao professor 3.0 cabe conversar com os alunos sobre boas práticas e formas de organizar uma rotina saudável sem excluir a tecnologia. Hábitos simples, como fazer pausas regulares, realizar exercícios físicos ou atividades que ajudem a relaxar e não ter refeições diante da tela são parte dessa organização.

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O professor também é encarregado de ensinar a curar informações na rede: ler, interpretar, selecionar o que é relevante e inter-relacionar conteúdo é uma habilidade indispensável no século XXI, além de reduzir a ansiedade causada pela quantidade de materiais disponíveis.

Cyberbullying O termo refere-se ao bullying sofrido na internet ou à violência virtual, que envolve assédio, humilhação, ameaças e xingamentos. Ainda que seja mais provável que o bullying virtual aconteça nas redes pessoais dos alunos, em vez de em grupos coletivos para trabalhos acadêmicos, falar sobre o assunto em sala de aula faz parte de criar um senso de cidadania digital. O cyberbullying ocorre, entre outros fatos, quando fotos íntimas ou constrangedoras são compartilhadas sem o consentimento da vítima; quando comentários ofensivos ou preconceituosos são publicados; quando um usuário se passa por outro (podendo inclusive acessar seu perfil) e espalha notícias mentirosas.

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É preciso que o aluno 3.0 compreenda que qualquer conteúdo postado na internet dificilmente será apagado – mas, principalmente, que existe uma postura adequada nos ambientes virtuais. Por que as pessoas se sentem autorizadas a dizer certas coisas quando estão atrás de uma tela? Quando um comentário ou publicação é realmente relevante? É mais construtivo educar antes que os ataques aconteçam do que agir reativamente, reparando danos.

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Após um caso de cyberbullying, o primeiro passo é que o professor 3.0 estabeleça relações de confiança com os estudantes, para que as vítimas se sintam confortáveis e seguras ao denunciar os agressores. A escola também deve estar a par dos procedimentos para fazer uma denúncia formal na delegacia: o primeiro passo é arrecadar provas, como capturas de telas (print screen), comprovando a ofensa.

Diversidade

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As redes sociais costumam filtrar o que aparece no feed de notícias do usuário de acordo com suas curtidas, comentários e compartilhamentos. Ou seja, a tendência é que seu aluno receba mais e mais informações com as quais concorda – o que pode deixar qualquer um com uma noção incorreta de que sua opinião é unanimidade. Portanto, ao trabalhar com alunos on-line, é essencial que os debates começados na internet sejam ampliados para o off-line, transformados em projetos ou complementados com outras vozes. O professor 3.0 deve estender as discussões virtuais para a comunidade local, a cidade, o país ou mesmo o globo, introduzindo pensamentos divergentes sobre um mesmo tema.

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Abordagens e metodologias da Educação 3.0 Parece lógico concluir que em um cenário de constante e acelerada mudança como o que foi descrito não existam receitas de bolo que garantam o sucesso do ensino no século XXI. Novidades que ditam apenas ferramentas, esquecendo-se do mindset – ou seja, a mentalidade, o modo de pensar – que envolve alunos e educadores, estão fadadas a tornar-se modinhas passageiras.

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A Educação 3.0 caminha em direção a uma sala de aula menos hierárquica, mais horizontal; em uma escola que prioriza a coletividade, sem abrir mão da personalização; no uso de tecnologia digital que agregue sentido e valor na busca por soluções de problemas reais.

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Entretanto, há sim tendências amplamente apoiadas por educadores e pesquisadores ao redor do globo e que apresentam potencial para levar a Educação 3.0 para mais perto do que exige o mercado e a sociedade 3.0.

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Infelizmente, o debate sobre o futuro da educação – e o futuro das escolas como a instituição que representam hoje – não é democrático. Enquanto muitos dos termos e conceitos discutidos chegarem aos educadores brasileiros embaralhados em siglas e palavras em inglês, ele continuará pouco acessível. Com o objetivo de abrir as portas desse debate, estão listadas, a seguir, algumas das abordagens mais significativas que povoam o imaginário da Educação 3.0.

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Ensino híbrido O ensino híbrido (blended learning) consiste na alternância de diferentes momentos e espaços de aprendizagem em torno de uma mesma temática. Essa mescla tem por objetivo fornecer ao aluno a oportunidade de aplicar e construir o conhecimento em etapas, além de valorizar diversos tipos de inteligência e estilos de aprendizagem. Entre as possibilidades do ensino híbrido estão momentos individuais e coletivos, on-line e off-line, de debate e produção, em sala de aula e em campo. O ensino híbrido não descarta a aula expositiva, mas a complementa.

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Há diferentes linhas de pesquisa sobre o ensino híbrido: para a abordagem blended, difundida nos Estados Unidos, a inserção de tecnologia digital é imprescindível. Entretanto, ao viajar pelo globo, outros educadores defendem que o ensino híbrido refere-se, acima de tudo, à reorganização do tempo e do espaço da aula, além dos papéis de aluno e educador. Ou seja, entregar um tablet na mão de cada estudante não caracteriza, necessariamente, o ensino híbrido: ele se concretiza quando as diferentes composições de trabalho se entrelaçam para ampliar a aprendizagem. A segunda opção faz sentido especialmente em países em desenvolvimento, em que o acesso à tecnologia educacional não é a regra, mas a exceção. Ainda assim, nessa definição mais livre do que seria o “híbrido”, professores são capazes de inovar em sala de aula com os recursos que têm à disposição: seja a construção com sucata, a visita a campo, a exibição de um filme, a organização de uma mesa-redonda. Com o uso de ferramentas digitais, porém, existem novas possibilidades – entre as mais marcantes está a personalização do ensino respeitando o ritmo de cada aluno, facilitada por sistemas que analisam big data, uma grande quantidade de informações on-line que pode ser compilada, filtrada, relacionada e interpretada, gerando insights sobre os usuários.

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Isso ocorre nos momentos em que alunos aprendem em plataformas de estudos virtuais. À medida que um estudante consome conteúdo e faz exercícios no ambiente virtual, o sistema é capaz de identificar os assuntos que ele domina, as lacunas na aprendizagem e, a partir disso, indicar trilhas de aprendizagem que se adequem a suas necessidades específicas.

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Assim, chega-se à premissa de que cada aluno pode enveredar por um caminho de pesquisa a partir do mesmo ponto de partida, rever e refazer atividades quando há necessidade e avançar de acordo com as etapas cumpridas individualmente, sendo guiado por uma inteligência artificial que será mais apurada quanto maior sua interação.

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Além da personalização proporcionada pela tecnologia digital, plataformas de estudos geram dados que podem ser analisados diretamente pelos educadores, que os complementam com uma visão de desenvolvimento integral dos alunos. Coordenadores e professores conseguem por meio dessas informações traçar um perfil apurado de cada aluno, compreender sua trajetória, sugerir caminhos para o aperfeiçoamento e reorientar a prática pedagógica de modo a melhor atender às necessidades da turma. O ensino híbrido é considerado uma abordagem, não uma metodologia, pois não oferece um passo a passo ou um modelo fechado a ser replicado em qualquer escola. Pertencem ao ensino híbrido, entretanto, as metodologias a seguir.

Sala de aula invertida

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A sala de aula invertida (flipped classroom) transforma a organização de tempo e espaço em que ocorre a aprendizagem. Nesse modelo, os alunos estudam os conteúdos previamente, à distância, por meio de materiais digitais: videoaulas, textos, podcasts, games ou áudios. Após o estudo individual, os alunos vão para a sala de aula para tirar dúvidas, debater, trazer assuntos complementares e desenvolver projetos ou atividades em grupo. Justamente o contrário do sistema tradicional, em que o aluno tem seu primeiro contato com o assunto em uma aula expositiva e, quando parte para aplicar esses conhecimentos (na resolução de exercícios e tarefa de casa), está isolado. Ao propor a sala de aula invertida, o educar assume que a transmissão de conteúdo, por si só, prescinde de um professor – os relacionamentos (entre professor e aluno ou aluno e aluno) só fazem sentido ao gerar oportunidades de aprendizagem significativas; ou seja, quando a turma, presencialmente, consegue explorar um assunto em profundidade e criar a partir do conhecimento adquirido de modos que não seriam possíveis individualmente.

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Ainda que parta da orientação direta do professor, a sala de aula invertida avança alguns passos na personalização do ensino, quando permite que o aluno, ao estudar em casa, selecione em qual ordem acessar os materiais e, quando houver dificuldade de compreensão, reveja o conteúdo para anotar dúvidas e fazer pesquisas paralelas. Adotar essa metodologia também significa desenvolver com intencionalidade as habilidades do século XXI: a resolução de problemas, o pensamento crítico, a colaboração e a criatividade, que devem permear a aprendizagem presencial.

Rotação por estações de aprendizagem Outra modalidade do ensino híbrido é a rotação por estações de aprendizagem, que configura um circuito dentro da sala de aula. A proposta é que os alunos, divididos em pequenos grupos, façam um rodízio por essas estações, cada uma com atividades acerca de um mesmo tema central – uma delas, no mínimo, fazendo uso de tecnologia digital.

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É importante ressaltar que o trabalho em cada estação deve ser independente das outras; ou seja, precisa ter começo, meio e fim, sem exigir um exercício prévio. Isso porque cada grupo começa em uma estação diferente e circula a partir dela até completar o círculo.

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O tempo mínimo para cada estação costuma ser de 15 minutos (mas pode aumentar conforme a disponibilidade do professor com a turma). Por isso, é preciso uma aula de pelo menos 45 minutos no total para aplicar a rotação por estações de aprendizagem. Dependendo do número de alunos em sala, o professor também pode adaptar a metodologia, levando a turma inteira a cada uma das estações. Existem três momentos essenciais à rotação por estações de aprendizagem: o de interação entre alunos e professor (que pode ser explorado pelo educador de maneiras variadas, como para sanar dúvidas, orientar projetos, explicar conteúdos, fazer perguntas, provocar reflexões etc.); o de trabalho colaborativo (em que alunos trabalham em um projeto comum, propõem questões uns para os outros, organizam debates ou desenvolvem um produto que demonstre seu aprendizado); e o de tecnologia digital (que pode incluir estudos individuais, exercícios on-line, pesquisa, games, videoaulas, entre outros).

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Peer to peer Peer to peer (de igual para igual) também é conhecida como aprendizagem por pares. A ideia central é que o conhecimento seja construído a partir da interação entre dois alunos. Para trabalhar com peer to peer, o educador organiza a turma em pares – porém, essa organização não é aleatória, e sim intencional. Isso quer dizer que dois alunos não são agrupados por acaso; eles devem ter habilidades e conhecimentos complementares para que ensinem um ao outro. Assim, eles assumem lideranças em diferentes frentes, um sendo sempre o expert em determinada área e o outro o aprendiz (e vice-versa). Nessa abordagem, o aluno que é apoiado aprende por meio da mentoria de um par mais experiente, enquanto o que apoia aprende pela repetição, a prática e o desenvolvimento de habilidades interpessoais, que garantem seu aprendizado no longo prazo.

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Não é mandatório que os alunos agrupados no peer to peer sejam da mesma faixa etária: a metodologia aceita que crianças e jovens de diferentes idades sejam enriquecidos com momentos de troca. A abordagem peer to peer também garante o desenvolvimento de habilidades socioemocionais: comunicação e relacionamento interpessoal, responsabilidade, autoconfiança e colaboração entre alunos. A supervisão é necessária nessa configuração para que um aluno não domine a dupla, o que pode acontecer quando se unem um estudante tímido e outro de personalidade forte ou características de liderança mais desenvolvidas; ou quando são pareados alunos de idades muito distantes. É importante que ambos tenham espaço e se sintam confortáveis para se expressar.

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As duplas devem trabalhar por um objetivo comum, a ser definido pelo professor – ao contrário de outras abordagens e metodologias, em que o resultado está em aberto, dependendo do interesse natural do alunos, aqui há uma meta a ser atingida (ainda que o caminho até ela possa variar de dupla para dupla). Assim, o professor consegue garantir a troca equilibrada entre indivíduos.

Aprendizagem baseada em projetos O Project Based Learning (PBL), que significa “aprendizagem baseada em projetos”, aposta na construção de conhecimento por meio de um trabalho longo de investigação que responda a uma pergunta complexa, um problema ou desafio. A partir dessa questão inicial, os alunos se envolvem em um processo de pesquisa, elaboração de hipóteses, busca por recursos e aplicação prática da informação até chegar a uma solução ou produto final.

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Tradicionalmente, configuram-se sete passos para a aprendizagem baseada em projetos. Pergunta motivadora: o professor começa com uma questão que não possa ser resolvida facilmente – por exemplo, com apenas uma pesquisa no Google. Assim, o assunto da aula é introduzido de maneira instigante e o professor é capaz de averiguar o quanto seus alunos conhecem sobre o tema. Desafio proposto: o professor apresenta um desafio à turma, que pode consistir em apresentação, objeto ou pesquisa que vá demonstrar o conteúdo e as habilidades adquiridas ao longo do processo. Pesquisa e conteúdo: nessa etapa, os alunos buscam se tornar especialistas no assunto em questão. Eles devem beber de diversas fontes, consumindo textos, pesquisas, dados, realizando entrevistas ou enquetes, tudo o que os ajude a atingir o objetivo estabelecido. Cumprindo o desafio: os alunos cumprem o desafio proposto e encontram uma maneira de colocar em prática conhecimentos e competências que adquiriram durante a pesquisa. Caso o projeto envolva a criação de um objeto pouco familiar aos alunos – como filme, robô ou aplicativo – o professor pode recomendar mentores que supervisionem e orientem os trabalhos. Reflexão e feedback: os alunos refletem sobre o tema por meio de debates, exercícios ou rodas de conversa. Durante essa fase, tanto professor quanto mentores têm a possibilidade de provocar a turma com perguntas instigantes, que os façam refletir sobre o projeto ou dar feedback quanto ao que foi desenvolvido.

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Resposta à pergunta inicial: o professor retoma a pergunta instigante que apresentou no início do projeto. Agora, com uma visão mais ampla e novos insights, os alunos voltam a respondê-la e percebem as mudanças geradas pela aprendizagem. Avaliação do aprendizado: por fim, o professor aplica avaliações – que podem ou não ser uma prova tradicional – para identificar se cada estudante atingiu os objetivos propostos e desenvolveu as habilidades planejadas.

A aprendizagem baseada em projetos torna o aprender e o fazer inseparáveis. Aprender com o PBL tem a ver diretamente com a exploração do contexto, a comunicação entre pares e a criação a partir do conhecimento. E é especialmente na etapa final, a produção de resultados, que a tecnologia enriquece o processo: alunos podem organizar suas descobertas em formatos multimídia, fazendo uso de gráficos e tabelas, vídeos, aplicativos, ferramentas.

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É importante ressaltar que, nessa metodologia, não cabe ao professor expor todo o conteúdo para que, então, a turma comece a trabalhar. São os próprios alunos que vão buscar os conhecimentos necessários para atingir seus objetivos, contando com a orientação do educador – portanto, um mesmo projeto realizado por grupos distintos pode chegar a resultados completamente diferentes. Também é comum que o PBL trabalhe a transdisciplinaridade, envolvendo competências e temáticas pertencentes a várias das matérias escolares. As habilidades para o século XXI são desenvolvidas ao longo de toda a jornada – especialmente autonomia, curiosidade, resolução de problemas e comunicação interpessoal.

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Aprendizagem maker O movimento maker atrela a cultura do “faça você mesmo” com a tecnologia. Quando aplicado ao ambiente escolar, tem como objetivo promover criação, investigação e originalidade. No movimento maker, é importante pensar fora da caixa, buscar soluções criativas e saber aproveitar recursos. Ao criar algo – seja uma alavanca de palitos de picolé, seja um game on-line – os estudantes colocam conceitos em prática e levantam questionamentos de acordo com o contexto. Geralmente, os projetos desenvolvidos estão estreitamente ligados à comunidade local e seus problemas, que os alunos buscam solucionar.

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As possibilidades de aplicação do movimento maker vão desde as aulas expositivas até o desenvolvimento de projetos em que o aluno é protagonista. O Grupo Makers Brasil, plataforma de educação e inovação focada na prototipagem e no desenvolvimento de produtos para a nova revolução industrial, explora esses níveis de aprofundamento da maneira a seguir. Expositivo: o professor cria os protótipos que serão utilizados em sala de aula sem a participação dos estudantes. Nesse caso, a maior vantagem é o educador ser capaz de criar seu próprio conteúdo; paralelamente, ele gera aulas mais atrativas e facilita a compreensão do tema com demonstrações práticas. Participativo: aqui, alunos já têm voz no processo de ensino e aprendizagem, sugerindo projetos a partir do tema central da aula – porém, a palavra final ainda é do professor. É ele quem vai orientar e direcionar o trabalho da turma, trazendo exemplos, levantando questões e propondo desafios. Mão na massa: o último estágio implica um grau mais elevado de interatividade. Os alunos conquistam autonomia no manuseio de tecnologias e ficam livres para desenvolver suas próprias soluções. Eles são responsáveis por todo o trajeto, desde o planejamento e a documentação do projeto até a avaliação dos resultados.

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Laboratórios maker podem contar com uma série de equipamentos como impressoras 3D, óculos 3D, sensores, cortadora a laser, notebooks, softwares e outras ferramentas. Entretanto, a tecnologia de ponta não é o ponto alto da abordagem, mas sim a experimentação e o trabalho colaborativo. O movimento maker defende que errar deve ser visto como etapa natural de qualquer processo de aprendizagem, não como uma falha ou algo que tire pontos do aluno. Afinal, se o mercado de trabalho 3.0 busca profissionais criativos, capazes de achar soluções inovadoras para antigos problemas, é necessário criar uma geração confortável com a experimentação. E a inovação consiste em explorar caminhos ainda não visitados – sem garantia prévia de sucesso.

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Sugestão de livros O foco triplo Daniel Goleman e Peter Senge, Objetiva, 2016. Os autores discorrem sobre as habilidades-chave para o novo milênio: autoconsciência, empatia e entendimento da nossa relação com o mundo. Segundo eles, as três são necessárias para acompanhar de modo saudável as mudanças tecnológicas aceleradas pelas quais passam as novas gerações, além de garantirem melhor desenvolvimento acadêmico, pessoal e interpessoal.

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Inteligências múltiplas na sala de aula Thomas Armstrong, Penso, 2001. O livro é um guia prático sobre como a escola pode acolher inteligências múltiplas. Traz estratégias, ferramentas e boas práticas com exemplos reais. Uma leitura interessante para quem busca entender os tipos de inteligência aplicados ao desenvolvimento do currículo, plano de aulas, avaliação e políticas educacionais. Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto e Fernando de Mello Trevisani, Penso, 2015. Como os próprios organizadores explicam, é um livro feito de professores para professores, portanto, traz excelentes reflexões sobre a realidade da sala de aula – propondo, inclusive, alternativas de ensino híbrido sem tecnologia. É resultado da experiência do Grupo de Experimentações em Ensino Híbrido desenvolvido pelo Instituto Península e pela Fundação Lemann.

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Sugestão de links Ken Robinson: do schools kill creativity? <https://www.ted.com/talks/ken_robinson_says_schools_kill_ creativity?language=en#t-13224> Essa TED Talk icônica discute: as escolas matam a criatividade? Sir Ken Robinson desafia o sistema de educação atual e diz que, apesar de toda criança nascer criativa e naturalmente curiosa, propensa à experimentação e ao erro, esses impulsos passam a ser podados no ensino formal. Especial Tecnologia na Educação Porvir <http://porvir.org/especiais/tecnologia/> O portal Porvir oferece um especial de tecnologia educacional para quem está começando a se aventurar na área: explore recursos tecnológicos, leia sobre a infraestrutura ideal para cada abordagem e encontre exemplos práticos de quem já inova na educação.

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Referências Capítulo 1 Ser professor na contemporaneidade: desafios da profissão DUHIGG, Charles. Mais rápido e melhor: os segredos da produtividade na vida e nos negócios. Rio de Janeiro: Objetiva. 2016. INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da leitura no Brasil. 4.ª ed. Disponível em: <http://prolivro. org.br/home/images/2016/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2016. MEHTA, Jal. Teachers: Will We Ever Learn? The New York Times. Edição de 12 abril 2013. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2013/04/13/opinion/teachers-will-we-ever-learn. html?_r=0>. Acesso em: 14 dez. 2016. NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos ídolos (ou a filosofia a golpes de martelo). Curitiba: Hemus, 2001. OBSERVATÓRIO do PNE. Disponível em: <http://www.observatoriodopne.org.br/metaspne/15-formacao-professores/indicadores>. Acesso em: 14 dez. 2016.

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SHAFIR, Rebecca Z. The zen of listening: mindful communication in the age of distraction. Wheaton: Quest Books, 2011. THE MIRAGE: confronting the hard truth about our quest for teacher development. Disponível em: <http://tntp.org/assets/documents/TNTP-Mirage_2015.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2016. UNESCO. Sustainable development goal for education can not advance without more teachers. UIS Fact Sheet. October 2015, n.. 33. Unesco Institute for Statistics. Disponível em: <http://www.uis.unesco.org/education/Documents/fs33-2015-teachers.pdf>. Acesso em: 5 out. 2016. VENTURA, Alexandre. O tempo na vida dos professores. Educação Rio – Revista do Sindicato dos estabelecimentos de educação básica do município do Rio de Janeiro. n. 17, maio, 2016.

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Capítulo 2 Geração digital: como o aluno do século XXI aprende ALMEIDA, Felipe Quintão; GOMES, Ivan Marcelo; BRACHT, Valter. Bauman & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. (Coleção Pensadores & Educação). BAUMAN, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011. BARROS, Manoel. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro: Record, 1998. CHARLOT, Bernard. Da relação sobre o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000. ______. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed, 2005. COHEN, R. A.; SALLOWAY, S. S.; ZAWACKI, T. Z. Aspectos neuropsiquiátricos dos transtornos de atenção. In: YUDOFSKY, Stuart C.; HALES, Robert. E. Neuropsiquiatria e neurociência na prática clínica. Porto alegre: Artmed, 2006, p. 416-445.

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ESTRELA, Maria Teresa. Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na sala de aula. 4. ed. Portugal: Porto, 2002. CINCO gerações contemporâneas: uma descrição. IHU on-line. Disponível em: <http://www. ihuonline.unisinos.br/index.php?secao=361>. Acesso em: 27 set. 2016. DEMO, Pedro. Professor eterno aprendiz. Ribeirão Preto: Alphabeto, 2015. MEDEIROS, Roberta. Cadê meu celular? Portal Ciência & Vida. Disponível em: <http:// psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/63/artigo212065-1.asp>. Acesso em: 12 set. 2016. QUEIROZ, Yara. Pesquisa e relatos com crianças e jovens de 10 a 21 anos. 2016. Texto não publicado.

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Capítulo 3 O papel da educação no século XXI: competências e habilidades para lidar com as demandas estratégicas deste século BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. BRASIL. Parecer 9/2001, de 8 de maio de 2001. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Conselho Nacional de Educação. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ cne/arquivos/pdf/009.pdf>. Acesso em: 27 set. 2016. DOLZ, Joaquim; OLLAGNIER, Edmée (Org.). O enigma da competência em educação. Porto Alegre: Artmed, 2004. LE BOTERF, Guy. Desenvolvendo a competência dos profissionais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. MEDEIROS, Mário. Competências: diferentes lógicas para diferentes alternativas. Recife: EDUPE, 2007. MEIER, Marcos. Mediação da aprendizagem: contribuições de Feuerstein e de Vygotsky. Curitiba: edição do autor, 2007. MORETTO, Vasco P. Planejamento, planejando a educação para o desenvolvimento de competências. 9. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2014.

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______. Prova, um momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas. 9.º ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2010. MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2006. ______. La tête bien faite. Repenser la réforme, réformer la pensée. Paris: Éditions du Seuil, 1999. NÓVOA, Antônio. O regresso dos professores. Pinhais: Melo, 2011. PERRENOUD, Philippe. As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2002. ZABALA, Antoni; ARNAU, Laia. Como aprender e ensinar competências. Porto Alegre: Artmed, 2010.

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Capítulo 4 Educação 3.0: uma proposta pedagógica para a educação BOPPRÊ, Vinícius. Educação 3.0 é a tecnologia que integra pessoas. Porvir. Disponível em: <http://porvir.org/educacao-3-0-e-tecnologia-integra-pessoas/>. Acesso em: 18 out. 2016. CONSELHO de classe. Fundação Lemann. Disponível em: <http://www.fundacaolemann.org. br/uploads/estudos/conselho_de_classe_notas_tecnicas_e_detalhamento_das_questoes. pdf>. Acesso em: 18 out. 2016. EDUCATION 3.0 and the pedagogy, andragogy and heutagogy of mobile learning. User generated education. Disponível em: <https://usergeneratededucation.wordpress. com/2013/05/13/education-3-0-and-the-pedagogy-andragogy-heutagogy-of-mobilelearning/>. Acesso em: 18 out. 2016. MAKERS. Disponível em: <http://makers.net.br/>. Acesso em: 18 out. 2016. MIJLAND, Enro; MIOCH, Rob. Teacher 3.0: sharing, creating and connecting knowledge. Education futures. Disponível em: <https://educationfutures.com/blog/2012/05/teacher3-0-sharing-creating-and-connecting-knowledge/>. Acesso em: 18 out. 2016.

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MOURA, Marcelo. Profissões condenadas a desaparecer e que não resistirão às novas tecnologias. Época. Disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/vida-util/carreira/ noticia/2014/03/bprofissoesb-condenadas-desaparecer-e-que-resistirao-novastecnologias.html>. Acesso em: 18 out. 2016. RIBBLE, Mike. Raising a digital child. Disponível em: <http://www.iste.org/docs/excerpts/ DICIPA-excerpt.pdf>. Acesso em: 18 out. 2016. RODRIGUES, Cinthia. Cada dólar investido em tecnologia educacional exige nove em treinamento. Último segundo. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/ educacao/2013-08-15/cada-dolar-investido-em-tecnologia-educacional-exige-nove-emtreinamento.html>. Acesso em: 18 out. 2016. SALES, Mariana. Jovens brasileiros são mais dependentes das redes sociais. Correio. Disponível em: <http://www.correio24horas.com.br/detalhe/tecnologia/noticia/jovensbrasileiros-sao-os-mais-dependentes-das-redes-sociais/?cHash=5e54e0fae2d9bde963d3 d6f22ff6387b>. Acesso em: 18 out. 2016. TEACHERS know best – Bill and Melinda Gates Foundation. Disponível em: <https:// s3.amazonaws.com/edtech-production/reports/Gates-PDMarketResearch-Dec5.pdf>. Acesso em: 18 out. 2016. TIC Kids Online Brasil. Cetic.br. Disponível em: <http://www.cetic.br/pesquisa/kids-online/>. Acesso em: 18 out. 2016.

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Educar aprendendo sempre Alexandre Ventura Jane PatrĂ­cia Haddad Vasco Moretto Claudio Sassaki

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