Lindenberg & Life, Edição 32

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tecidos inteligentes

Lindenberg life

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tecidos inteligentes Tecnologia nacional em tramas multifuncionais

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editorial Adolpho Lindenberg Filho e Flávio Buazar são conselheiros e idealizadores da LDI

Ao leitor,

Marília Rosa

Cara Claudia

Acreditamos também que as alterações e me-

Depois que vocês saíram, saí, voltei hora e meia mais tarde. Sentei-me à mesa para folhear as revistas. Gostei. Porque é diferenciada. Uma publicação que é institucional, sem a cara de. Acabou sendo uma revista de cultura, bem desenhada, agradável de ser compulsada e com textos variados. E uma coragem inaudita (sei o que falo, editei revistas por décadas): a das capas com pinturas ou desenhos ou cartuns e assim por diante. E num número só ter Zuza Homem de Mello, Cristiano Mascaro e Rico Lins não é para qualquer um. Fiquei contente de ter dado a entrevista para vocês. Queria apenas acrescentar ao seu texto que quanto a 8 1/2, o filme, já assisti mais de 100 vezes, na verdade 108 até hoje. Sei de cor, posso repetir diálogos. Jamais me canso. Grande abraço e um beijo para Lili.

lhorias devem ser uma constante, afinal, vivemos

Loyola

a capa leva a assinatura dos designers Attilio

um cotidiano dinâmico que requisita renovação. Por isso, nas próximas páginas e próximos meses você confere as mudanças e novas seções, como Laboratório, que estreia com o potencial de jovens criativos da Escola São Paulo, do curso da fotógrafa Claudia Jaguaribe. A L&L está repleta de outras novidades, como a reportagem de capa sobre tecnologia nos tecidos multifuncionais e tendências no assunto. E, aproveitando o ensejo da matéria, Baschera e Gregório Kramer, sempre alinha-

Foi assim, com um elogio de Ignácio de Loyola

dos à vanguarda nas grandes bienais de arte e

Brandão, que começamos a produzir a edição 32

decoração, que também estão na reportagem

da Lindenberg & Life que você tem em mãos.

Novos e Sabáticos Paradigmas.

Após muito trabalho, sessões de fotos, leitu-

Esperamos que você se sinta tão inspirado

ras, e, prestes a entrar em nosso oitavo ano de

quanto nós ao produzir esta edição da Linden-

publicação, temos a satisfação e o sentimento de

berg & Life. E se você deseja fazer parte da

dever cumprido em apresentar mais uma edição.

nossa comunidade, deste mundo de ideias,

Não apenas pelo trabalho realizado, mas tam-

mande suas sugestões para marketing.institu-

bém pelo retorno que tivemos ao longo do ano

cional@ldisa.com.br.

através dos parceiros e colaboradores como o próprio Loyola, que nos prestigiaram com suas

Boa leitura e até breve!

histórias e experiências, indicando que estávamos no caminho certo. Afinal, havíamos promovido uma grande mudança gráfica, editorial e, principalmente, conceitual, para levar a você, leitor, a mesma energia de nossos brainstorms, traduzidos nas reportagens, fotos e artigos.

Adolpho Lindenberg Filho e Flávio Buazar

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Empreendimentos exclusivos com tudo o que você precisa: boa localização, muito espaço, lazer e um financiamento sob medida.

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sumário

Matéria tramas e fibras em telas high tech Imagem capa Attilio Baschera e Gregório Kramer

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Vida Novos e sabáticos paradigmas

Qualidade de vida Saudável, mas saborosa

Releitura A morte de um crítico

Cultura Um livro, uma música... Várias ideias

5 experiências Vencendo os próprios limites

Filantropia inteligente “Apoio uma ONG ótima: é de um amigo meu.”

Capa Tramas e fibras em telas high tech

Entrevista Inspirado em sua vida... ele construiu um mundo de ficção

Arquitetura Poéticas urbanas (colunas, pilares e pilotis)

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Nesta edição é uma publicação da Editora Novo Meio Ltda. para a Construtora Adolpho Lindenberg. Luís Martins e os meandros da crítica de arte

Ignácio de Loyola Brandão por uma literatura de lembranças

ano 7 • número 32 • 2010 A tiragem desta edição de 10.000 exemplares é comprovada pela

Conselho editorial: Adolpho Lindenberg Filho, Flávio Buazar, Ricardo Jardim, Rosilene Fontes, Renata Ikeda, Lili Tedde Produção e redação: Novo Meio Comunicação Empresarial Editor: Claudio Milan (MTb 22834) Editora assistente: Perla Rossetti

Paulo Renato Amaral fala de determinação e autoconhecimento

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Um outro olhar Urbanos e refinados

36

Cinema Realidade em cena

82

Empreendimentos Arte em construção

Sumário LL 32.indd 7

Revisão: Kika Freitas

Tatiana Cardoso chef da culinária ecológica

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Personna Art clean

Designers: Jonas Viotto e Marília Rosa Jornalismo: Claudia Manzzano, Larissa Andrade e Renata Vieira

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Laboratório As várias Augustas

Projeto gráfico e Direção de Arte: Sérgio Parise Jr.

Colaboração e agradecimentos: Ana Luisa Martins, José Armando Pereira da Silva, MAM - SP, Again Decor, Choque Cultural, Gal Oppido, Isabella Prata, Attilio Baschera, Gregório Kramer e Caio Pontoni (arte) Publicidade: 11 3089 0182

Baschera e Kramer inspiração e renovação de ideias

Fale com a Lindenberg & Life Opine sobre as reportagens publicadas na revista e sugira temas para as próximas edições. Envie sua mensagem para nossa redação: marketing.institucional@ldisa.com.br

Executivo de Negócios: Rogério Lapoian rogerio@novomeio.com.br Cartas para a Redação: Rua São Tomé, 119 11o / 12o andar Vila Olímpia 04551 080 São Paulo SP Brasil jornalismo@novomeio.com.br Os anúncios aqui publicados são de responsabilidade exclusiva dos anunciantes.

Filiada à

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releitura Por Luís Martins Diário de S.Paulo, 1965

A cada edição, a Lindenberg & Life traz uma releitura dos melhores textos publicados na imprensa nacional

Pioneiro da crônica e crítica do panorama artístico brasileiro, Luís Martins teve cerca de 700 de suas crônicas reunidas em livro editado pelo MAM-SP, com organização de sua filha Ana Luisa Martins e do pesquisador José Armando Pereira da Silva. Amigo de intelectuais, ele foi casado com a pintora Tarsila do Amaral e com a escritora Anna Maria Martins. A seguir, confira o estilo que o consagrou no jornal, que na época pertencia a Assis Chateaubriand, em crônica escolhida por Luisa para a Lindenberg & Life.

A morte de um crítico Agora parece que a situação modificou-se um

teressava por esta não discutia, apenas procurava

pouco, não sei. Mas no tempo em que eu fazia crítica

informar-se, de boa-fé. Espontaneamente, indepen-

de arte, a reação de uma parte do público em face

dentemente de qualquer exegese, já fizera a sua pró-

da pintura moderna era muito engraçada. Na realida-

pria opção. Os outros assumiam uma atitude de falso

de, ninguém queria aprender, ou tentar compreender.

interesse, mas certos de antemão da firmeza inaba-

Cada qual tinha sua posição firmada a priori. Fiz confe-

lável de suas convicções; de modo que a discussão

rências, participei de mesas redondas, escrevi livros,

se tornava uma coisa impossível, um penoso entre-

discuti com muita gente – mas duvido que tivesse

choque de mal-entendidos, uma grotesca parada de

convertido um único apreciador da arte acadêmica

disparates, uma conversa nas nuvens, sem qualquer

em adepto da arte moderna. Quem realmente se in-

ponto de apoio comum em que os dois interlocutores

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se pudessem firmar, como ponto de referência. Um dizia “pau”, o outro respondia “pedra”. Eu fugia dos vernissages como o diabo foge da cruz. Porque nessas movimentadas reuniões, em geral lubrificadas a martini doce e salgadinhos, era fatal encontrar o pavoroso sorriso de uma senhora (quase sempre gorda) que me pegava pela manga do paletó e arrastava-me para diante de um quadro, a fim de me solicitar, com modulações hipócritas na voz:

...duvido que tivesse convertido um único apreciador da arte acadêmica em adepto da arte moderna.

– O senhor, que gosta da arte moderna, poderia me dizer o que é isto? – É um quadro, minha senhora – sacava eu, humildemente, da minha incompetência. É claro que esta explicação não a satisfazia; era infalível – e eu bem o sabia – que a martirizante senhora iria insistir em perguntar “o que significava”, “o que representava”, “o que queria dizer”... No começo, ingenuamente, eu procurava, de boa-fé, explicar o pouco que sabia. E, no meio do aperto, do calor, da confusão, das interrupções,

– É uma galinha. – Mas a galinha tem crista – objetava a senhora.

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– Esta é uma galinha sem crista. – Pois, olhe, parece mais um caramujo maldesenhado. – Esta é uma galinha que se parece com um caramujo mal-desenhado – respondia eu, impávido. – Mas como é que aqui no catálogo não fala em galinhas? Diz que é composição...

dos encontrões com ou sem pedido de descul-

– Composição é o nome da galinha, minha senhora.

pas, iniciava pacientemente uma aula de bê-a-bá

Depois disto, só me cumpria abandonar a críti-

estético, como se ensinasse a uma criança obtusa

ca de arte, o que fiz como muito prazer, para sem-

e recalcitrante as primeiras páginas da cartilha. Aos

pre. Agora posso ir aos vernissages, que ninguém

poucos, fui-me convencendo de que era inútil. A

me pergunta nada.

senhora não queria aprender, queria simplesmente discutir. E tudo aquilo impacientava-me, irritavame, cansava-me, deprimia-me. Foi uma criança (cada vez me convenço mais de que os adultos têm muito a aprender com as crianças) quem me ensinou o método adequado a empregar. De modo que, já para o fim da minha carreira crítica, quando uma senhora, diante de um quadro abstrato, queria por força saber o que ele “representava” (mas não estava na cara que era abstrato?) – eu não tinha dúvidas; com a maior calma, o mais tranquilo cinismo, dizia,

Luís Martins: um cronista de arte em São Paulo nos anos 1940, MAM-SP

absolutamente ao acaso, o primeiro absurdo que me vinha à cabeça:

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cultura Por Perla Rossetti Fotos Divulgação

Um livro, uma música...

Várias ideias Nunca é demais Nonsense ou psicanalítico, Alice no País das Maravilhas, do britânico Lewis Carroll, continua na lista dos grandes clássicos de todos os tempos, e ganhou duas edições da Cosac Naify. Traduzida pelo historiador e professor da Universidade de Harvard Nicolau Sevcenko, uma versão da obra tem ilustrações do artista plástico paulistano Luiz Zerbini, traz indicações de ensaios sobre o texto, biografia do autor, uma relação de artistas que já se aventuraram por esse mundo da fantasia, além de uma pequena filmografia baseada no texto original. A outra é um livro-arte e simula cartas de baralho, com caixa e tudo.

Notas Um dos compositores latino-americanos mais importantes da música erudita de sua época, Heitor Villa-Lobos foi atacado pela crítica por muito tempo, mais isso não o impediu de produzir uma obra que, de tão extensa e multifacetada, é retratada no livro biográfico lançado pela Martins Martins Fontes.

Cartola e Dona Zica Acompanhado da mulher, Zica, e do Regional do Evandro, Cartola gravou um MPB Especial para a TV Cultura, em 1973, em que contou umas histórias e relembrou canções, com aquele jeito delicado que inspirou o poeta Carlos Drummond numa crônica: “Cartola sabe sentir com a suavidade dos que amam pela vocação de amar, e se renovam amando”.

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Vida arquitetada Entrevistas realizadas entre a Cidade do México e São Paulo são o fio condutor para as reflexões do arquiteto Ricardo Legorreta em obra bilíngue que chegou ao Brasil. Em Ricardo Legorreta: Constructed Dreams, o arquiteto revisita sua obra e as construções que o influenciaram. Com fotografias de Cristiano Mascaro e de seu acervo pessoal, o livro é composto por dois cadernos com textos em inglês ou espanhol e imagens para serem abertos simultaneamente.

Musicais Se o seu destino nos próximos meses é a famosa ilha de Manhattan, vale assistir a um dos clássicos da famosa Broadway. Para adquirir tickets do Fantasma da Ópera ou Memphis, dos espetáculos off Brodway, como o Blue Man Group, ou ver os argentinos do Fuerza Bruta em Look Up, os fãs dos musicais podem acessar portais úteis como o www.broadway.com

Pássaros Quem nunca viu um menino com um livro de aves raras embaixo do braço? Para ele e outros curiosos, o fotógrafo e cineasta norte-americano Andrew Zuckerman lançou Pássaros, pela Alles Trade, uma coletânea de arte com fotografias de várias espécimes, retratadas em todo o seu esplendor. Na apresentação do livro, o designer Massimo Vignelli comenta como Zuckerman cria uma obra de arte apresentada quadro a quadro, como no cinema, e transfere intensidade aos pássaros, transformando-os em seres míticos.

Babenco em série A Europa Filmes lançou em DVD, apenas para locação, três de uma série de cinco filmes do diretor Hector Babenco. Os filmes Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981), Brincando nos Campos do Senhor (1991) e Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977) foram restaurados digitalmente, quadro a quadro, nos Estados Unidos. O som foi todo remasterizado para Dolby 5.1.

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cultura

Na mão Para garantir a entrada nos museus antes mesmo de chegar à Itália, reserve seus tickets em italymuseum.com. O serviço atende todos os centros museológicos do país, como Capitoline, o National Roman e o Museu do Vaticano, entre outros. Via portal, você também contrata guias de turismo para acompanhá-lo nas visitas.

Perla Rossetti

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13 Registros Quem estiver em Paris nas férias não pode perder a mostra sobre Robert Doisneau, o famoso fotógrafo do casal se beijando diante do Hotel de Ville. Até 18 de abril na Fundação Cartier Bresson, as imagens apresentam cenas entre 1930 e 1966 de Paris e seus subúrbios. Fundação Cartier Bresson - 2 impasse Lebouis 75014 Paris www.henricartierbresson.org

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cultura

Visões Matthew Gladstone interpretou cenas de uma natureza que nunca deixa de surpreender em um diário de viagens iconográfico da estrada Rio-Santos. Editado pela DBA, com patrocínio da agência de publicidade NEOGAMA/BBH, o livro traz a Route 66 brasileira.

Experimentos A crítica inglesa de gastronomia Nigella Lawson lançou Nigella Bites, pela Ediouro. A obra traz suas receitas preferidas, algumas delas já apresentadas em seu programa no GNT. Nos capítulos, dicas para jantar com amigos, fim de semana e dias de chuva, servindo muffins de laranja, kuchen de maçã e amora, e um Blood Mary de dar água na boca.

Lembranças A banqueteira Tatá Cury lançou Um Banquete para a Vida, autobiografia com receitas que marcaram sua memória, desde criança, como uma invenção de seu pai, o atum do Nacin. Frango azedo, sonhos com amêndoas, chantilly de ricota e o tentador merengue de frutas vermelhas são algumas lembranças também reunidas na publicação da editora Desatino, à venda nas principais livrarias.

A Larousse do Brasil e a cozinheira Keda Black criaram a coleção Cozinha Passo a Passo, com quatro títulos: Pratos Básicos, Confeitaria, Chocolate e Cozinha Italiana. O primeiro traz 80 receitas e novos clássicos, como tajine de coelho e mussacá light. As páginas são ilustradas com fotos de Frédéric Lucano.

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LANÇAMENTO

Lindenberg apresenta o primeiro condomínio corporativo alto padrão de Santos.

Perspectiva ilustrada da fachada

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entrevista Por Claudia Manzzano Fotos gUi Mohallem

O escritor IgnĂĄcio de Loyola BrandĂŁo conta os contos de sua vida e linhas de passado e futuro

Inspirado em

s

... ele construiu um

m

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Apresentá-lo é fácil, pois dis-

LINDENBERG & LIFE: Dois livros

em O Menino que Vendia Palavras.

pensa muitas palavras. Autor de obras

recentes, incluindo o último, re-

Além do mais, de um tempo pra cá

clássicas de nossa literatura, o jornalis-

tomam a sua infância. O que ins-

estou com um romance parado, eu

ta e escritor Ignácio de Loyola Brandão

pirou o senhor nessa busca?

não consigo mais andar com ele. Eu

recebeu a reportagem da Lindenberg

IGNÁCIO DE LOYOLA BRAN-

me pergunto se ainda vou fazer ro-

& Life em sua casa, em São Paulo.

DÃO: Eram lembranças que foram

mance. Talvez não. Mas um dia, nos

Atualmente, atua no conselho editorial

significativas. Uma deu O Menino

anos 80, eu prometi que não iria mais

da revista Vogue e é colunista do jornal

que Vendia Palavras. Foi um episódio

escrever. E voltei. Nos anos 90 eu es-

O Estado de S. Paulo. Com 33 livros

que ficou muito vivo na minha cabe-

tava em outra fase, vida chata, tudo

publicados – traduzidos para o inglês,

ça. Eu, que era um leitor de dicioná-

chato... e eu descobri o aneurisma.

espanhol, alemão, italiano, húngaro,

rios, o meu pai que lia muito e era

Ao fazer a cirurgia e me ver vivo, voltei

checo e coreano do sul –, ele acha

sempre preocupado com palavras.

a escrever. Uma outra coisa me veio

que ainda não construiu a obra que

Ele dizia: quanto mais palavra você

à cabeça quando eu vi uma gravura

deseja. É ganhador dos prêmios Ja-

souber é melhor para tua vida, e a

de um escorpião. Você imagina que,

buti e da Fundação da Biblioteca Na-

mesma coisa me dizia a professora.

em Araraquara, eu morava na última

cional com O Menino que Vendia Pa-

E depois ela começava a dar listas de

rua e atrás de mim já era o campo,

lavras. Mas a história de Ignácio tem

palavras para a gente achar o signifi-

que era infestado. Então, você via

início lá na infância, em Araraquara,

cado, sinônimos. É claro que eu tira-

escorpião no quintal de casa. Eu fi-

onde começou a construir um mundo

va a melhor nota, eu tinha o pai e o

quei com aquilo na cabeça e veio um

cheio de histórias para contar. Depois,

dicionário. E os meninos vinham até

episódio muito interessante que é o

ele veio para São Paulo, trabalhou no

mim. Eu comecei a fazer para alguns

suicídio dos escorpiões. Um dia a

jornal Última Hora, publicou livros, foi

amigos, depois, vários vinham. Aí um

gente decidiu saber se é verdade que

censurado, morou na Alemanha e na

dia eu pensei: “estou bobo? Fazendo

o escorpião, quando se vê cercado

Itália, trafegou por contos, crônicas,

de graça?” Foi quando eu comecei

por um círculo de fogo, se mata. E

romances, teatro, cinema, realidade...

a vender, tinha que me dar uma boli-

lá fomos caçar escorpião, morrendo

e se tornou o que é hoje: um roman-

nha, revistas com fotos de navio (que

de medo. No fim consegui dois. Só

cista versátil e um homem com ótimo

era época de guerra), sorvete, doce.

que eu fiquei olhando aquele bicho e

senso de humor, sarcástico e cheio

E essa coisa, de repente, um dia,

me perguntando: por que matar? A

de palavras guardadas. Mas tudo isso

voltou na minha cabeça, eu escre-

professora já tinha dito quando per-

ele mesmo pode contar.

vi um pequeno conto, transformado

guntamos pra que servia o escor-

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sua vida...

m

mundo de ficção Entrevista_b LL 32.indd 17

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entrevista

que um livro poderia ter extrema liber-

O jornal me deu isso, me deu um pouco a alma para o escritor. Começar uma matéria segurando o leitor até o final. O romance também é isso.

dade em planos completamente soltos, caótico, só que um caos organizado. Então, daí ele ter influenciado a estrutura do livro. L&L: O livro é muito conturbado. Como foi a aceitação na época? IL: Eu tinha certeza que ia ser um fracasso. Mas foi um sucesso. Porque o pessoal começou a ler e entender o que era. Foi o primeiro livro contra pião: “deve ter alguma utilidade”. E na

ída durante a guerra”. E ele: “eu re-

a ditadura. Mas nenhum crítico dizia

aula de história a gente sabia que era

construo do meu jeito”. Assim como

“este é o retrato do Brasil”, eles me

um símbolo egípcio. Então a infância

eu reconstruo Araraquara do meu

protegiam. Claro que a censura não

era misturada com imaginário, com

jeito. Mas sempre baseado em rea-

era boba. E o livro vendeu, vendeu,

fantasia... tudo isso. E na hora de bo-

lidade. O escritor é uma pessoa que

vendeu... quando chegou à segun-

tar os escorpiões no círculo de fogo

refaz as coisas. E por isso é que está

da edição, eles proibiram. Mas não

eu soltei os bichos. E este é o mais

de bem com a vida. Ou muito de mal

retiraram das livrarias, e continuou

recente, o mais novo livro infantil, Os

com ela, e resolve com a escritura.

vendendo. E vende até hoje, só que

Escorpiões contra o Círculo de Fogo.

hoje não é mais em cima da censura,

Acho que a infância é um trecho per-

L&L: De que forma o filme 8 ½ do

é pelo livro. Eu fico encantado porque

dido da gente. A única forma de eu

Fellini influenciou seu livro Zero?

vou encontrando pessoas de gera-

me rever é retomar esta infância. Não

IL: Quando comecei a escrever eu

ções que foram marcadas pelo livro.

que eu queira ser criança. Talvez por-

não tinha ideia da estrutura e come-

Acabei de encontrar em Champaign,

que eu tive uma infância rica eu não

cei a fazer um romance convencio-

onde tem a universidade de Illinois,

quero perder. E isso é uma coisa tam-

nal. Só que eu percebi que estava

Estados Unidos, dois professores que

bém do Fellini, eu sou seu maior ad-

em um país não convencional. Eu

disseram “Zero mudou nossa cabe-

mirador, tenho todos os filmes, tudo

queria reproduzir este clima. Este é

ça”. É quando você vê que valeu a

quanto é livro sobre ele. Em Amacord,

um país fragmentado, explodido. E

pena escrever. Porque você nunca vê

você tem todo um trecho da infância.

de repente eu me lembrei do 8 ½,

o leitor. A crônica, no jornal, tem uma

No I vitelloni (Os boas-vidas, título no

que eu tinha visto dez anos antes de

resposta imediata. No livro, o leitor não

Brasil) você tem um trecho de infância

começar o livro. Já assisti 108 vezes,

sabe para onde mandar. Ninguém

rápida e já juventude, em Roma tem

sei de cor, posso repetir diálogos. Ja-

manda uma carta para a editora. Ago-

trechos da infância. E aí, um dia, al-

mais me canso. Tem aquela coisa

ra, no e-mail, vai na mesma hora.

guém perguntou como ele lembrava

dos vários planos do filme. Plano real,

tudo isso e ele disse: “quando eu não

plano idealizado, plano da memória,

L&L: Como o senhor vê a inter-

lembro, eu invento”. Responderam:

e tem a infância . Estes vários planos

ferência da linguagem da in-

“mas Rimini, a tua cidade, foi destru-

desencontrados me fizeram concluir

ternet na linguagem literária?

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IL: É uma coisa muito nova, muito

vai. Pode ser no papilo, na caneta

Depois do Sol, Retrato de um Jovem

recente. Ainda não se definiu. Eu

de pluma, no lápis, o que for, não

Brigador, que entrou como um curta-

leio muito blog, eu diria que 90% de

interessa, a literatura não vai morrer

metragem dentro de um longa que

coisas muito ruins. Por outro lado, o

porque está dentro das pessoas. E

são vários curtas, Vozes do Medo.

blog, a internet, dá a chance para

é necessária à humanidade.

Depois eu desisti do cinema.

ninguém me lia. Se eu não publicas-

L&L: Sobre o jornalismo com-

L&L: Por quê?

se, tchau. E o que a gente fazia? Em

parado à literatura, o senhor

IL: Porque eu tenho preguiça. É mais

mimeógrafo faziamos cópias de con-

convive muito bem entre os

fácil escrever livro do que fazer cine-

tos, poetas faziam isso e distribuíam

dois, mas tem mais prazer em

ma. Naquela época você tinha que

pelas ruas. Vários poetas famosos,

fazer um ou outro?

levantar dinheiro e era teu nome no

hoje, fizeram isso, Álvaro de Faria ou

IL: O jornalismo me ajudou funda-

banco. Então eu achei mais fácil eu e

Lindolf Bell fizeram poesias e foram,

mentalmente. Se eu não fosse jor-

minha máquina, na minha casa.

por exemplo, para a praça Ramos de

nalista talvez eu fosse outro tipo de

Azevedo, punham em varal. Então o

escritor. Em Araraquara eu já era um

L&L: Como que é para um es-

varal hoje é a internet. Agora, é difícil

tipo de jornalista, crítico de cinema.

critor ver sua obra interpretada

falar de qualidade e de linguagem.

Eu adorava cinema, e adoro. E lia li-

em outra linguagem por cabe-

Porque a tecnologia ajuda de um

vros sobre cinema. A minha literatura

ças totalmente diferentes?

lado, mas não dá talento. Eu já gritei

é dominada pelo cinema. Eu escrevo

IL: Desde que você entenda que

diversas vezes com meu computa-

como se fosse roteiro, você pode pe-

é outra linguagem e não fique co-

dor: escreve um conto, escreve uma

gar e filmar. Ou acho eu que pode.

brando fidelidade. Você pode cobrar

o jovem ser lido. Porque eu, jovem,

crônica! E ele não responde.

fidelidade na atmosfera, no comporL&L: E isso já aconteceu?

tamento de personagem, em vários

L&L: Mas de toda forma essa

IL: Já. Bebel que a Cidade Comeu

diálogos seus que são aproveitados.

tecnologia possibilita e es-

acabou virando filme. Depois tem

Mas uma coisa é palavra, outra coi-

timula a leitura. O senhor

Ascensão ao Mundo de Annuska,

sa é imagem, e cinema é imagem.

acredita nisso?

um conto do Depois do Sol, que foi

Então você tem que se adaptar àqui-

IL: Eu não sei se quem lê na tela lê

transformado em filme. E, também do

lo. Assim como, por exemplo, eu

num livro. Mas eu sou um otimista e acredito que, de 100, dois leem um trecho de um livro. Da mesma forma que, às vezes, eu vou à livraria e fico virando, vejo que o cara é bom e compro o livro. Agora, é muito cedo para saber se os leitores da tela vão ser leitores de livros. Eu vi uma palestra em que o palestrante dizia: não interessa o meio, o importante é que a literatura nunca vai morrer. Isso não

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19 Acho que a infância é um trecho perdido da gente. A única forma de eu me rever é retomar esta infância.

20/1/2010 12:12:41


entrevista

escrevi uma peça teatral – A Última

não sai, eu descrevo. É um pouco de

um livro talvez infanto-juvenil, chama

Viagem de Borges (referência ao es-

incompetência minha. Desde que eu

Uns Olhos Loucos dos Cavalos Ce-

critor Jorge Luis Borges). Uma coisa

assisti a uma peça nos anos 60 de

gos ou Os Olhos Cegos dos Cavalos

era a peça no papel, para mim, e

Eugene O’Neill, eu fiquei fascinado.

Loucos – eu ainda não decidi. Em

outra quando vi no palco. Era com-

Quando eu vi esta peça eu quis es-

que eu lembro a figura do meu avô

pletamente diferente, nem parecia

crever para teatro. E vivi a vida inteira

paterno, José, que fez um círculo de

minha peça. Porque aí entra o diretor,

com o Zé Celso. E depois eu fui casa-

cavalinhos, um carrossel, em 1910,

atores, figurino, cenário e aquilo tudo

do com a Bia, que é irmã da Regina

em Matão. Esse homem fez à mão,

modifica, é uma obra coletiva.

Braga, que foi casada com o Celso

porque era marceneiro, esculpiu um

Nunes. Então meus filhos cresceram

grupo de cavalos, e os olhos dos ca-

L&L: E isso dói?

dentro do teatro. Minha ligação com o

valos eram bolinhas de gude. Cada

IL: Não, ao contrário. É a criação

teatro sempre foi grande, mas nunca

um de uma cor, até que ele não en-

em cima da criação. Vários diretores

fiz para teatro. Talvez um dia. A gente

controu bolinha de cor e colocou bo-

amigos meus disseram que fariam di-

tem que ter na vida alguns planos para

linha branca. A meninada chamava

ferente, é claro, seria do seu jeito. E

o futuro, que eu não sei mais quando

de cavalo cego. Mas um dia um dos

isso é legal, porque mostra que uma

é e que está muito perto. Você chega

cavalos cegos ficou pulando, deve ter

obra pode ser vista de 100 formas. Eu

a uma idade em que você vê que o

desarranjado qualquer coisa, e o me-

não tenho aquilo de que o livro é into-

tempo encurta. E aí você tem que de-

nino que estava nele adorou e disse:

cável. Se eu aceitei a adaptação, eu

terminar prioridades.

o meu cavalo é louco. E todos os me-

concordo com aquela transposição. L&L: E quais são suas priori-

Este carrossel incendiou. Queimou

dades hoje?

inteiro e só sobraram as bolinhas que

L&L: Por que o senhor não

IL: São dois livros. Um que é a conti-

eram os olhos do cavalo. E é a his-

fez mais teatro?

nuação do Menino que Vendia Pala-

tória que meu avô contava mostran-

IL: Eu nunca tive muito tesão por

vras, que vai chamar O Menino que

do aquelas bolinhas, que eu acabei

escrever para teatro. Eu sou um ro-

Perguntava, e este eu não conto,

roubando e perdi tudo em jogo. Era

mancista e, para mim, quando a ação

para não ir embora. O outro, que é

a coisa mais importante da vida dele.

Porque senão eu vou ficar louco.

A minha literatura é dominada pelo cinema. Eu escrevo como se fosse roteiro, você pode pegar e filmar. Ou acho eu que pode.

ninos queriam ir naquele cavalo louco.

20

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Este livro é para pedir perdão ao meu

mais, é também de comportamento.

avô. Para ele me desculpar do roubo.

E hoje é um livro histórico porque é

Estes são os dois projetos. O outro

praticamente o único livro brasileiro

talvez seja retomar este romance que

que mostra como se vivia em Berlim

não tem título, ainda.

com o muro. O dia a dia, como eram as pessoas... E isso não existe mais

L&L: O senhor também está

e nunca mais vai ser.

trabalhando na biografia da dona Ruth Cardoso?

L&L: A gente acabou não falan-

IL: É um trabalho que eu faço à

do muito do Ignácio jornalista.

margem. Isto é o que eu chamo de

IL: Eu fui tudo. Repórter, depois re-

a realidade. Descrever é uma compo-

coisas encomendadas institucionais.

dator da Claudia, fui diretor de revis-

sição escolar. Transcrever é tirar a at-

São livros pagos que me permitem

ta, editor de algumas revistas, como

mosfera, dar alma aos personagens...

viver melhor e só aceito quando é

da Revista Planeta que na época era

Aprendi com o jornalismo que a ins-

uma coisa interessante e que vai

uma coisa absolutamente nova. Eu

piração é o que a gente está vendo

me acrescentar. Da dona Ruth não

adorei fazer Planeta, porque tudo que

aí fora. O jornal me deu um pouco a

só me acrescenta como também foi

era diferente caía em Planeta. Enfim,

alma para o escritor. Começar uma

minha amiga, como foi uma pessoa

fui crítico de cinema, crítico de políti-

matéria segurando o leitor até o final.

da qual Araraquara se orgulha. Além

ca, comentarista... O meu dia a dia

O romance também é isso. Aqui você

disso, pelo que ela fez, foi a primeira

forneceu a maior parte de contos e

dá dicas do que vai acontecer, mas

primeira-dama que fez alguma coisa

romances. O Bebel nasceu de uma

não conta. É uma maneira de segurar

em toda a história da república.

história que eu fui cobrir, que era o sui-

o leitor do jornal e o leitor da literatura.

cídio de uma bailarina. Ela teve câncer

Elas são muito parecidas, só que em

L&L: O senhor é um escritor

na perna, um dia viu que não podia

uma você pode colocar fantasia, outra

muito versátil. Como conse-

mais, começou a dançar e se atirou

é verdade pura. É documento.

gue caminhar por caminhos

pela janela. Transformei isso na repor-

tão diferentes?

tagem, só que aí, eu falei: “vou fazer

L&L: O que falta na obra do

IL: Desligando os registros. Não é de

um conto”. Porque então eu poderia

senhor?

repente, você tem que dar um tem-

entrar dentro, inventar. Então eu rees-

IL: Escrever um grande livro. Eu vivo

pinho entre uma coisa e outra. Mas

crevi a reportagem como um conto. E

com caderneta nas mãos. Há muitos

não é difícil porque como jornalista eu

no reescrever o conto eu acabei es-

anos eu li uma frase do John Barry-

fiz todas as matérias diferentes que

crevendo um romance. Mas sempre

more, que foi um dos maiores atores

eu posso imaginar. Mas, às vezes,

tem um ponto de partida em algum

teatrais e de cinema americano, que

eu estou fazendo uma crônica, e vira

ponto de alguma reportagem.

disse o seguinte: quando você não

21

tem mais sonhos e objetivos e co-

um conto. Às vezes, estou fazendo um conto e, não, é uma crônica. O

L&L: É difícil ser um escritor e

meça a reclamar, você ficou velho.

livro de viagem, eu digo: sou jorna-

se ater somente à realidade?

Eu não tenho do que reclamar, mas

lista e sou escritor, eu registro. O livro

IL: Pra mim é difícil. Eu não descrevo a

tenho sonho lá na frente e vão sur-

da Alemanha é um de viagem, mas é

realidade, eu transcrevo ou transfiguro

gindo outros, nunca se sabe.

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A tecnologia ajuda de um lado, mas não dá talento. O talento é teu, tua cabeça, teu estômago, tua visão.

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Vida Por Larissa Andrade Fotos Fabrizio Guardino, Raul Stolf, Marcelo Refinetti, Divulgação /Arquivo pessoal

Em comum, eles só tinham a busca pelo autoconhecimento quando mudaram o rumo de suas vidas para refletir, estudar e descobrir novas culturas

Novos e sabáticos

paradigmas Entre uma abundância de cores, sabores e

Distintos em seus sonhos, eles encararam os

cheiros, Fabrizio para e observa, apreende cada deta-

mesmos medos e preconceitos e, por um ano –

lhe, ouve o idioma incompreensível, delicia-se com a

às vezes mais, outras menos, se agarraram ao

comida inusitada, se espanta e se admira.

desejo de se dedicar exclusivamente àquilo que

Do outro lado do mundo, Marcelo dedica-se à nova

lhes dá prazer, seja uma viagem seja a música, os

paixão descoberta ao acaso: a fotografia. Simultane-

estudos ou a fotografia. Para isso, eles se des-

amente, a família Varella dedica-se aos estudos no

ligaram do trabalho, da segurança da rotina, dos

Canadá; Ritchie, à filosofia no Brasil; Moreira planeja

horários e salário no final do mês e tiraram um pe-

a viagem com os filhos e a esposa e o jovem Broggio

ríodo sabático, de autoconhecimento e felicidade

relembra os shows de bossa-nova na Europa.

que mudou suas vidas.

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23 Os empresários Attilio Baschera e Gregório Kramer venderam a empresa e passaram seis anos viajando, descansando e visitando eventos culturais

Em qualquer idade a experiência é boa já que, em tudo na vida há vantagens e desvantagens. O ideal é conciliar o equilíbrio entre tristeza e alegria, riso e choro. E cada um tem sua receita

Mas o retiro durou cerca de seis anos. “Foi uma reciclagem pessoal. Viajamos sem pressa e sem data para voltar.” O recesso intelectual foi produtivo em vários sentidos. Permitiu montar exposições, visitar a Bienal de Veneza, os festivais europeus de música e teatro, como o Aix en Provence (França) e o Salszburgo (Áustria), óperas e outros eventos culturais. Ideias renovadas e uma vontade enorme de voltar

Sem preparação e logo após vender a empresa, fruto

a trabalhar trouxeram os amigos de volta para montar a

de uma sociedade de 25 anos, os designers Attilio Bas-

Again Decor, uma loja com um novo conceito de morar

chera e Gregório Kramer decidiram respirar novos ares.

bem, com jeitão do ano sabático que compartilharam.

Inspirados no termo “sabático”, que vem da pala-

Maduros e vividos, os designers garantem que foi

vra hebraica Shabat, que na cultura judaica é o dia

o espírito jovial e livre que garantiu o sucesso da em-

de descanso e introspecção, eles deixaram contas e

preitada. “Em qualquer idade a experiência é boa já

responsabilidades sob os cuidados de um secretário e

que, em tudo na vida há vantagens e desvantagens.

partiram com o objetivo de ler, viajar, curtir e especial-

O ideal é conciliar o equilíbrio entre tristeza e alegria,

mente descansar, por um ano.

riso e choro. E cada um tem sua receita.”

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Vida

É surreal o que você vê tanto de miséria quanto de esperança, um paradoxo. A comida é absurdamente saborosa, mas você não pode ver o cara que faz...

Um ano viajando mundo afora inclui cuidados com vistos e outros documentos

Há dois anos, Fabrizio Guardino não imaginaria

em 15 dias no Peru. As fotos do blog foram vistas

que de homem de negócios se tornaria um fotó-

por uma editora de revistas que pediu uma coluna

grafo sem horários rígidos e salário fixo. “Fiz tudo

sobre a grande viagem.”

o que todo pai queria nos estudos, mas não fazia

Para imergir nas culturas regionais, os dois apos-

nada para mim.” Assim, decidiu viajar pelos cinco

taram em restaurantes e albergues acessíveis. “É

continentes com o amigo Raul Stolf, tendo como o

onde mais agrega culturas e trocas. Você recebe as

único compromisso o de ficar fora por um ano.

melhores dicas de quem está viajando como você.”

Ele aproveitou para dedicar-se à fotografia, mas

Guardino relembra que a alimentação foi um dos

sem muitas pretensões. “Pensamos numa viagem

pontos mais inusitados, com padrões de higiene

fugindo dos padrões e que talvez isso ‘descam-

bem distintos daqueles a que estavam acostuma-

basse’ profissionalmente, mas não era uma coi-

dos, mas ainda assim com refeições extremamen-

sa capitalista”, relembra. Antes de embarcar, eles

te saborosas. “Na Tailândia, a comida é fantástica,

criaram o blog Viver Leve – “associado com o estilo

mas a cultura é de comida de rua.”

de vida que buscávamos” – e montaram um proje-

Apesar de seguir a intuição, ele optou por se des-

to. “Fizemos uma viagem para testar a convivência

ligar do banco árabe corporativo em que trabalhava.

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Eles passaram por 29 países e viram uma infinidade de cenários e situações difíceis de esquecer. “O que mais impressionou foi a Índia, pela religiosidade, a maneira como vivem, a pobreza. É surreal o que você vê tanto de miséria quanto de esperança, um paradoxo. A comida é absurdamente saborosa, mas você não pode ver o cara que faz”, brinca. Na volta, a dupla recebeu convites que mudaram seus rumos. Com mais de 50 mil imagens na bagagem, montaram a exposição Unidos Por um Sorriso, no Incor, em São Paulo, na Livraria da Vila, no Shopping Cidade Jardim; e encararam um desafio em Cuba, fotografando e preparando um documentário com patrocínio da Lei Rouanet. “Vamos tentar a carreira. Muitas pessoas têm tudo, mas não têm a coragem de tentar algo novo!”

As crianças relutam porque não querem mudar, algo que os adultos também não querem mais. Mas tentamos criar o prazer da mudança neles para provar o diferente “Meu sonho é experimentar tudo o que esse ano

de), ele acredita que os desafios da experiência os

pode me dar. Enxergar meu ‘eu’ fora do que tenho

unirá ainda mais. “A ideia é um ano ou dois, mas vai

aqui. Viver de uma forma diferente dos adereços que

depender da adaptação da família.”

carregamos no dia-a-dia.”

Apesar de o destino ainda não ter sido definido,

O depoimento é de Paulo Roberto Kress Moreira,

as crianças e Moreira se dedicarão aos estudos, mas

que se prepara para viver um ano sabático a fim de ter

sem foco nos negócios. “As crianças estudam em

qualidade de vida e conhecer outras culturas. “Iniciei

colégio antroposófico e estamos procurando um lo-

um processo para reduzir o ritmo de trabalho e stress e

cal com o mesmo método.”

estou represando meus desejos no sentido de ter no-

Com a rotina pensada, agora a dúvida é o cur-

vos negócios, mantendo os que já tenho, e delegando

so. “Há opções com prós e contras, já que os Es-

responsabilidades aos líderes das minhas empresas

tados Unidos têm mais programação e na Europa

para que tomem decisões na minha ausência.”

a recepção à criança não é uma coisa tão pronta,

Com três filhos (de dez, oito e dois anos de ida-

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Bali e Katmandu fizeram parte do roteiro dos amigos, que optaram por albergues e restaurantes acessíveis

mas tem a vantagem da segurança, ir de bici-

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Vida

cleta à escola e uma cultura vasta. Pretendo preen-

e já estamos começando aqui para que não seja

cher meu tempo com aulas de artes e línguas.” Se

tão traumático. A adaptação da língua é rápida na

tudo sair como planejado, o embarque acontece

idade deles. Já conversamos um pouco sobre a

este ano. E é exatamente pensando no desenvol-

viagem e eles relutam sempre porque criança não

vimento dos filhos que o empresário acredita nos

quer mudar, algo que os adultos também não que-

efeitos positivos dos desafios que enfrentarão no

rem mais. Mas tentamos criar o prazer da mudança

ano sabático. “É um exercício de independência

neles para provar o diferente.”

Para alguns, é uma decisão autônoma, as coisas explodem, têm problemas de saúde; mas a grande maioria não faz uma pausa reflexiva.

Ritchie, que concilia filosofia e finanças. Na foto, em viagem a Toronto, no Canadá

Nada de malas e viagens. O ano sabático do ges-

de suas aptidões: falar em público. “Tenho vontade

tor de recursos e candidato a filósofo diletante Iaian

de dar aulas em escolas, ajudar pessoas a com-

Andrew Ritchie foi uma imersão em seu próprio eu por

preenderem a filosofia e participar de uma ONG

meio dos estudos e reflexões. Graduado em farmácia

que poderia se chamar Barraco do Saber, para as

bioquímica e finanças, ele se dedica atualmente ao

pessoas terem a oportunidade de enxergar a vida

curso de filosofia na USP. Mas a maior mudança foi

de outra maneira”, brinca.

quando decidiu deixar o emprego e passou a traba-

Sua esposa, Tomoko Abe, também deixou o

lhar por conta própria. “Há uns quatros anos vinha me

emprego em uma indústria farmacêutica para cur-

questionando sobre como andava minha vida. Com

sar gastronomia, área em que atuou por dois anos.

problemas de saúde, cheguei à conclusão de que não

Agora, ela passa por “um novo momento de refle-

queria aquilo por mais tempo, me questionaram e eu

xão”. Os dois, inclusive, têm viajado bastante pelo

tinha claro que iria fazer o meu pause reflexivo.”

mundo, sempre em busca de outros paradigmas.

Ritchie usa sua experiência na área financeira para

“Estive na África do Sul e vi coisas notáveis, como

trabalhar em casa, gerindo uma carteira de investimen-

pessoas que moram no interior e lidam com animais

tos. O tempo livre é dedicado aos estudos de filosofia.

selvagens. Há um convívio e respeito, eles têm téc-

Na USP, o contato com pessoas completamente diferentes de seu universo – incluindo jovens recémsaídos do Ensino Médio, foi revelador. “Eu realmente encontrei uma coisa que tem a ver comigo.”

nicas de sobrevivência em ambiente inóspito, uma sabedoria em relação à natureza.” Moral da história: “para alguns, é uma decisão autônoma, as coisas explodem, têm problemas de

Sua rotina é dedicada às manhãs de trabalho e as

saúde; mas a grande maioria não faz uma pausa re-

tardes na universidade e às leituras. E ele garante que

flexiva. Não é para ganhar fôlego e sim para mudar

as duas áreas não são incompatíveis. “A filosofia me

de forma estrutural a sua vida, entrar em harmonia

trouxe a capacidade de ponderar. Tivemos uma crise

com o seu ser”.

financeira no ano passado e agi com serenidade.” Foi na universidade que Ritchie encontrou outra

E ele finaliza: “Procure ser feliz, não se feche, não tenha medo. Se abra e se conheça”.

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27 Estava numa idade para tomar uma decisão corajosa, dar uma pensada, uma reciclada na minha bagagem cultural e profissional... eu sabia o caminho que tinha de percorrer, mas não a trilha...” Polivalente, Marcelo Refinetti, 33 anos, é fotógrafo,

sando, mas não foi fácil adaptar-se ao novo cotidia-

publicitário, marqueteiro e engenheiro. Mas sua trajetória

no. “O começo é aliviante, mas chega uma hora em

o levou para a área de marketing e a morar no México,

que você começa a sentir falta da agitação. Porém,

em Nova York, e na Índia.

preferi meu caminho e recusei todas as propostas de

Passados dez anos do início de sua carreira, ele inte-

emprego nesse período.”

grava o planejamento estratégico da agência Neogama

Mais contente com a liberdade, ele aproveita o

quando optou por sua retirada. “Estava numa idade para

tempo livre para outras reflexões. “Quando comecei

tomar uma decisão corajosa, dar uma pensada, uma

o ano sabático, sabia o caminho a percorrer, mas

reciclada na minha bagagem cultural e profissional.”

não a trilha. Agora eu sei, mas cheguei numa encru-

Planejando-se para um ano sem rendimentos, ele

zilhada: ou continuo na fotografia e aí vou seguir pro-

refletiu sobre suas áreas de interesse e a coragem de

fissionalmente, montar um estúdio, uma agência de

mudar. E sobre como a fotografia e o design já ocupa-

fotografia ou projetos autorais em galerias, ou volto a

vam um espaço significativo em sua vida.

trabalhar com marketing e planejamento, mas sem

A dedicação integral às imagens vem compen-

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deixar de lado a fotografia.”

Marcelo Refinetti em autorretrato: ele se dedicou à fotografia

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Vida

Voltaremos sabendo que não podemos mudar o Brasil, mas com pequenos gestos alcançaremos melhorias, começando pelos nossos bairros Todas as manhãs, a família Varella aprecia a vista

os planos, por conta da crise econômica mundial. Ain-

do oceano e dos parques da cidade de Victoria, em

da assim, partiram para o segundo desafio: convencer

Vancouver, no Canadá. O ano sabático para conhe-

a prole. “De início, meu filho, Eduardo, achou tudo uma

cer outra cultura e modo de viver levou não apenas

loucura e apresentou resistência, mas na realidade vai

os filhos a uma nova escola, e os pais de volta à

ser extremamente importante para ele. Aprender inglês

universidade. “A ideia era proporcionar novos apren-

e outras línguas, fazer contatos internacionais são ferra-

dizados, pois conhecimento é, sem dúvida, o maior

mentas importantes para seu sucesso no futuro.”

presente que um pai e uma mãe deixam para seus filhos”, diz Eduardo Varella.

Os Varella em Victoria, no Canadá: cerca de um ano estudando e falando apenas inglês.

A família visitou a cidade em fevereiro de 2009, conferiu contatos de estudo e se apaixonou pelo lugar. “O

O sonho se encaixou em seu momento profis-

Canadá tem uma sociedade cuja opinião pública tem

sional, quando a figura dos operadores especiais

muito valor e as instituições são respeitadas e realmen-

de pregão começava a desaparecer. “Com os

te funcionam. Voltaremos sabendo que não podemos

rumores, achamos que era a oportunidade para

mudar o Brasil, mas com pequenos gestos alcançare-

estudar fora do país.”

mos melhorias, começando pelos nossos bairros.”

Depois de ler a respeito e visitar uma feira de Educa-

O planejamento financeiro dos Varella foi traçado

ção canadense, eles não tiveram dúvidas; mas adiaram

sobre metas e cuidados burocráticos antes de deixarem o Brasil. “Organizamos as nossas despesas, cancelamos o dispensável, como jornal e TV a cabo.” Além de outros cursos que foram aparecendo, o casal conheceu a nova cultura a fundo, viajando ao lado leste do país. Já Rafaella, 16 anos, e Eduardo, 13 anos, participaram de um programa de verão de cinco semanas. Com data marcada para retornar ao Brasil, os Varella acreditam que a experiência foi renovadora. “Eu, em especial, vou estar com mais energia para voltar ao mercado e enfrentar o desafio de operar no pregão eletrônico.”

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É uma coisa que abre a cabeça: você entra em contato com um mundo diferente do seu e cresce muito. Das aulas de Engenharia Naval na Poli-USP aos

O apoio familiar ao jovem, que trancou o curso

shows de bossa-nova e choro com banquinho e

na universidade por um ano, é tão significativo que

violão em toda a Europa. No último ano, a vida do

o pai presenteou-o com o violão, uma das fontes de

estudante Rodrigo Broggi, 20 anos, transformou-

renda do filho que acredita nas vantagens da experi-

se quando ele decidiu ser mais independente e

ência no início da vida adulta. “É uma coisa que abre

viajar pela Europa. Mas nada seguiu o tradicional

a cabeça: você entra em contato com um mundo di-

esquema de intercâmbio. “Cheguei com mala e

ferente do seu e cresce muito. Pretendo fazer outros

violão sem conhecer ninguém, apesar de ter uma

anos sabáticos, no futuro”, planeja.

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Diversidade cultural de Barcelona encantou Broggi, que viajou pela Europa e fez alguns shows de MPB e bossa-nova por lá

parte da família na Itália.” Ainda assim, ele não conhecia os familiares que vivem em Milão e falava muito pouco do idioma. Depois da adaptação, Broggi fez novos amigos, um curso de italiano que serviu para estabilizá-lo em Milão por um tempo, estudou música e um pouco de línguas, sozinho. “Sempre fui dependente dos meus pais, mas ‘apanhei’ bastante na Itália e cresci um pouco.” Para se manter, Broggi trabalhou como garçom e ganhou algum dinheiro, apresentando-se em bares em toda a Europa. “Como os shows são esporádicos, me coloquei em uma situação diferente de um jovem de elite do Brasil.” Mas foi através da música que ele conheceu pessoas com os mesmos interesses e formou a banda “Gato Fraco” – uma brincadeira com o nome do aeroporto londrino Gatwick (uma pronúncia que se aproxima de ‘cat weak’). A banda levou o samba, bossa-nova, choro e MPB a públicos bastante distintos. “A recepção é muito variada porque a gente faz uma coletânea da música brasileira verdadeira, passamos do choro ao clássico.” Houve, é claro, espaço para muitas aventuras e diversão. “Cheguei em Barcelona à noite e todo mundo se reunia na praça e comia ali. É uma informalidade notória”, brinca.

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qualidade de vida Por Perla Rossetti Fotos Divulgação

Divulgação / Moinho da Pedra

Saudável, mas saborosa

Manter uma alimentação equilibrada e de acordo com a dinâmica da casa ficou mais fácil com a presença do nutricionista da família, que dá dicas para deixar tudo mais gostoso 30

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Uma frase comum no aprendizado das primeiras palavras em inglês resume uma máxima da vida saudável: “an apple a day keeps the doctor away”. O provérbio criado no condado de Pembrokeshire, no país de Gales, em 1866, ganhou uma série de variáveis no século passado e início deste. Porém, não mudou a influência da alimentação saudável e balanceada – sem ser chata ou insossa, – na vida das famílias. Por outro lado, envolver todos os membros no novo cardápio não é tarefa fácil. Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) mostram que é ainda mais difícil para os homens, já que eles não se alimentam corretamente, não fazem exercícios físicos regulares, fumam mais,

Família Setúbal: filhas Camila e Luiza trouxeram novos hábitos para as refeições

31

vão menos ao médico e, por consequência, têm mais problemas de saúde. Com base nisso, a indústria de comida sau-

dável e prática. Isso gerou uma consciência na hora de comer, sem automatismos à mesa.”

dável vem investindo na atratividade e variedade

Dicas como ter sempre na geladeira uma ce-

dos produtos, fazendo deste um mercado que

bola ou alho cortados, incorporar frutas nas sa-

movimentou R$ 8 bilhões no Brasil em 2008.

ladas e trazer ingredientes da culinária oriental

E os resultados dessa nova mentalidade mun-

acabaram promovendo o interesse isolado de

dial pró-saúde se traduzem nos depoimentos de

Ângela em adesão espontânea do marido e dois

quem apostou na ideia, a ponto de convencer

filhos adolescentes. “Do jeito que o novo concei-

todos, dentro de casa. É o caso da consultora

to foi apresentado a eles, atiçou a curiosidade e

em gestão Angela Andreopoulos, de 40 anos.

interesse em relação à qualidade das refeições e

Praticante de yoga e adepta há dois anos de uma

ninguém teve problema para se integrar.”

alimentação de qualidade, ela procurou a nutricio-

E o que interessa: a mudança deu resultado?

nista Flávia Zanatta. “O diferencial no trabalho dela

“Em termos de qualidade em saúde, temos mais

foi trazer para dentro da nossa cozinha opções e

vitalidade, nosso organismo está mais regulado,

modos de fazer saudáveis e fáceis de incorporar

e temos ciência de que tipo de alimento nos im-

no dia-a-dia. Mais do que nutricional, é uma ali-

pacta positiva ou negativamente”, garante a con-

mentação com trigos e alimentos orgânicos, que

sultora Angela.

eu já comprava, mas não tinha conhecimento profundo sobre o consumo.”

Contagiante

E Angela conta que a mudança foi, acima de tudo, comportamental. “Se ela só desse a recei-

Já viu os filhos ensinarem os pais a comer?

ta, não funcionaria. Flávia avaliou nossa cozinha e

Foi o que aconteceu com as irmãs Camila e Luiza

rotina e nos ensinou a cozinhar de maneira sau-

Setúbal, de 24 e 26 anos de idade. Até 2004,

Qualidade de vida LL 32a.indd 31

20/1/2010 14:13:03


qualidade de vida

as refeições da família eram normais, repletas de

com filhos, solteiros, recém-casados, pessoas que

bifes, batata frita e macarrão, degustados à noite,

dividem apartamento com amigos.” Para começar, ela faz uma entrevista para

e as saladas eram raras. Até que Luiza decidiu emagrecer e procu-

conhecer as pessoas, a dinâmica da residên-

rou uma nutricionista. A dieta rígida chamou a

cia e compreender as intenções e objetivos

atenção da irmã que, aos poucos e sem radi-

dos interessados. “A partir daí estabeleço vi-

calismo, passou a evitar frituras e experimentar

sitas periódicas, quando os conheço mais, e

arroz e pão integrais, até que os pais também

dou as orientações.”

incorporaram a alimentação como uma nova

E como não podia deixar de ser, os encon-

mania familiar. “Nos sentimos mais leves. Eu

tros acontecem na cozinha, em torno da comida

não engordo e percebo mais o sabor da comi-

e da alimentação. E daí é aquele bate-papo gos-

da, agora”, afirma Camila.

toso sobre onde encontrar produtos saudáveis,

Mamão, quinua – o grão nutricionalmente mais completo, segundo a ONU – frutas secas e

como guardá-los e prepará-los. Uma atividade para curtir em família.

legumes, acompanhados de proteínas, que pode

Para lidar com a resistência das crianças da

ser frango ou peixe, deixaram o menu da família

geração junk food, independentemente de suas

Setúbal muito mais equilibrado.

escolhas dentro do universo que conhecem, a nutricionista Flávia opta por alimentos rotineiros.

Diferenças

“Se as envolvermos no processo, fazendo novas ofertas, viabilizaremos o aumento do seu repertó-

Cada vez mais comum, o serviço de nutricionis-

rio alimentar, novas escolhas serão possibilitadas

ta no lar é motivado por vários fatores: obter quali-

e, certamente, repetidas. Basta tornar a comida

dade de vida, saúde, evitar a monotonia dos cardá-

delas mais real e menos virtual", aconselha.

pios e pratos prontos, ou restrições alimentares, de

Por fim, ela alerta que alimentos light e diet

acordo com a Flávia Zanatta. “Normalmente, aquele

são totalmente distintos. Cada um é direcionado

que me procura é quem desempenha o papel de

a um público específico. O primeiro tem menos

organizador ou administrador da casa, seja homem

adição de sal ou açúcar. Enquanto o segundo

seja mulher. Na maioria das vezes, o trabalho acaba

substitui, muitas vezes, o açúcar por uma dose

influenciando a todos no núcleo familiar. São casais

maior de gordura. “Não podemos pensar que ser diet ou light é igual a ser saudável. Por isso, é importantes conhecer minimamente os ingredientes, sua origem associada ao funcionamento e às necessidades do nosso corpo para sermos autônomos na hora de comer.”

Nutricionista da Equilibrium Health Food ensina a escolher os melhores ingredientes e preparos

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Serviços

lhar com culinária saudável em Nova York, São Francisco, Colorado Springs e Portugal, antes

Na Equilibrium Healthy Food, o personal diet também vai à casa do cliente e há pratos que

de pilotar as caçarolas no restaurante Moinho da Pedra, em São Paulo.

podem ser encomendados pré-cozidos e conge-

Ela revela que apreciadores do bife de chou-

lados balanceados, com proteína, carboidrato e

riço não se decepcionam com a cozinha natural

um vegetal. Tem de tudo: carnes, aves, peixes,

gourmet, pois as gorduras, que são as maiores

sopas e quiches.

vilãs das dietas e da saúde, por incrível que pa-

Uma entrevista individual, uma reunião para

reça são aliadas de sua culinária, já que ela se-

entender o fluxo dos membros entre almoço e

leciona as de origem vegetal, na temperatura e

jantar até chegar a um consenso para o cardápio

quantidade certas para o paladar e organismo.

mensal é uma jornada familiar, dividida em etapas

A chef chama atenção também porque prioriza

para a nova alimentação.

os queijos mais magros e especiais, a manteiga

Além do cardápio mensal, o cliente recebe uma lista de compras da semana e menus indi-

clarificada e o iogurte, de fabricação própria, para garantir sabor e cremosidade.

viduais, respeitando a diferença de porções para

Porém, são as sobremesas que deixam

cada pessoa, desde o café da manhã até os lan-

todo mundo de queixo caído, porque Tatiana

chinhos. “Também fazemos um treinamento com

prova que é possível deliciar-se com frutas fres-

a cozinheira da casa ou outra pessoa encarre-

cas e secas, mel, açúcar mascavo, sementes e

gada de preparar as refeições. Ensinamos a es-

grãos integrais, com se estivéssemos à frente

colher ingredientes e utensílios, temperaturas de

de um banquete das mais açucaradas pastis-

cocção, trocar produtos como o creme de leite

series do mundo.

por iogurte natural, mais saudável, e outras orien-

Truques e artimanhas que Tatiana aprendeu na

tações”, conta uma das nutricionistas da consul-

nova-iorquina Cookery School e quando trabalhou

toria, Adriana Kobayashi.

ao lado do Erick Tucker, considerado o melhor chef

E ela garante que, além de equilibrado, o

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Chef Tatiana Cardoso mostra como preparar a culinária vegetariana

vegetariano pela crítica norte-americana.

menu é saboroso. Não é à toa que a Equilibrium

A seguir você confere uma rápida entrevista

ficou famosa com sua feijoada light, com feijão

com ela, que dá dicas de como a alimentação

preto desfiado e carne seca sem gordura, servida

saudável pode ser incorporada ao dia-a-dia:

há alguns anos em seus restaurantes. Um deles, quem diria, numa das mecas da ginástica, a Academia Competition, de Higienópolis.

L&L: Como a culinária pode ser ecológica, sustentável e ao mesmo tempo despertar o apetite?

Natural gourmet

Tatiana Cardoso: “Excluir a proteína animal é um diferencial ecológico, pois protege o plane-

Sementes, castanhas, legumes, frutas fres-

ta do desmatamento e do efeito estufa causado

cas e ervas fazem parte do cardápio delicioso,

,pela criação e processamento. Utilizar alimentos

equilibrado e ecológico que a chef Tatiana Car-

orgânicos também traz a vantagem de proteger

doso trouxe ao Brasil depois de estudar e traba-

a terra de adubos químicos e livra os manan-

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20/1/2010 14:13:08


qualidade de vida

ciais dos rios dos dejetos. Em poucos anos, a

cortados em diagonal

água será o maior patrimônio do nosso planeta.

1/4 de xícara de alho-poró (parte branca

Então, é sustentável porque ao utilizar alimentos

e verde-claro) em pedaços de 2 cm cortados

orgânicos, promovemos o pequeno produtor de

em diagonal

comunidades próximas”.

1 xícara de cogumelo-de-paris cortados ao meio

L&L: As pessoas podem praticar essa alimentação em casa?

daços de 2 cm cortados em diagonal

TC: “Exclua os industrializados do armário e faça

O ambiente do restaurante Moinho da Pedra lembra a atmosfera de uma casa na hora das refeições

1/4 de xícara de pimentão vermelho em pe 1/4 de xícara de pimentão amarelo em peda-

substituições necessárias para ter uma boa culiná-

ços de 2 cm cortados em diagonal

ria natural. Coloque no lugar grãos integrais, casta-

1/2 colher (chá) de sal marinho

nhas e sementes. Você pode trocar o sal refinado

1 colher (sopa) de cebolinha picada

pelo marinho, o do Himalaia ou a flor de sal. Batata

1 colher (sopa) de ketchup orgânico biológico

inglesa ou batata comum saem de cena e entram

1 xícara de brócolis em floretes

abóbora, mandioca, mandioquinha, inhame, cará e

1/4 de xícara de couve-flor em floretes

batata-doce. Assados, marinados, salteados e co-

1 xícara de ervilha torta

zidos no vapor são melhores que as frituras. E o pão

1 colher (sopa) de alga hijiki hidratada

branco refinado dá espaço ao integral”.

1/4 de colher (chá) de cúrcuma 1/4 de colher (chá) de pimenta rosa

L&L: E na hora de cozinhar? É complicado preparar pratos vegetarianos? TC: “Não. Requer o pré-preparo de picar ve-

1 colher (sopa) cheia de folhas de salsa picada 2 colheres (sopa) de castanha de caju tostada 6 pimentas biquinhos

getais, lavar verduras e manipular as ervas, porém, a execução é rápida e simples”.

Agora, vamos ao modo de fazer: cozinhe o arroz integral com 4 xícaras de caldo de legumes e

L&L: Dá para dar uma canja do que você faz lá na sua cozinha?

a cúrcuma, e diminua o tempo de cozimento para 15 minutos. Enquanto isso, numa panela, coloque

TC: “Ok, vamos preparar uma paella vegeta-

metade do azeite e doure a cebola, o alho e a pi-

riana com legumes, cogumelo, alga e açafrão. A

menta rosa por 2 minutos em fogo baixo. Acres-

receita rende 4 porções. Anote aí os ingredientes:

cente a cenoura e o salsão e mexa por 2 minutos. Junte o alho-poró e o cogumelo e mexa por mais 1

2 xícaras de arroz integral orgânico

minuto. Coloque os pimentões e 1 colher de sopa

5 xícaras de caldo de legumes

de caldo e cozinhe por mais 3 minutos. Acrescente

2 colheres (sopa) de azeite de oliva extravirgem

metade do sal, o arroz integral e 1 xícara de caldo

1/4 de xícara de cebola roxa picada

de legumes. Junte a cebolinha e o ketchup orgâ-

1 colher (chá) de alho picado

nico. Em seguida, aumente o fogo e cozinhe por

1/4 de xícara de cenoura em pedaços de 2

mais 5 minutos, mexendo sempre, para que o ami-

cm cortados em diagonal

do natural do arroz se desprenda.

1/4 de xícara de salsão em pedaços de 2 cm

Acrescente o brócolis, a couve-flor, a ervilha

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35 torta, a alga e o sal restante. Tampe e cozinhe por

Desligue o fogo, regue com o azeite restante e

mais 5 minutos ou até que o caldo evapore e o

polvilhe com salsa, castanha de caju e pimentas

arroz adquira uma consistência cremosa.

biquinhos. Sirva imediatamente e bom apetite!”

Palavra de quem entende!

Na casa de Sânia Torres todos praticam esportes e comem de forma saudável, há muitos anos. “Estou sempre atrás de lugares novos para comprar produtos naturais”. Ela conta que, atualmente, é mais fácil encontrar comida saborosa e sem agrotóxicos. Sua família leva o assunto a sério e todos já leram o livro Anticâncer, do médico francês radicado nos Estados Unidos, David ServanSchreiber, lançado no Brasil pela editora Objetiva. “Tem um monte de dicas, como a de que o maior veneno da saúde é o açúcar e

Prevenção – A alimentação balanceada previne o câncer de mama e intestino. Segundo dados do Instituto Norteamericano de Pesquisas

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a farinha branca. Por isso, não fazemos bolos e doces.” No lugar desses quitutes a cozinha dos Torres tem delícias como o pão do céu – integral, de fermentação natural e sem conservantes nem produtos químicos. Para saber onde encontrar alimentos saudáveis, Sânia indica alguns bons lugares na cidade: Santa Luzia – “Há sete anos fui ao Chile e comi quinua. O primeiro lugar que encontrei para comprar foi no empório, que hoje tem um ótimo mezanino de produtos naturais.” Alameda Lorena, 1471 Tel.: (11) 3897-5000 www.santaluzia.com.br

Tel.: (19) 3647-1321 - (19) 36471192 / Fax (19) 3647-1355 www.aboaterra.com.br Mundo Verde – “Tem molhos sem agrotóxicos, como os da Mãe Terra, e lojas em vários bairros e shoppings.” www.mundoverde.com.br Korim – “A marca de agricultura natural foi pioneira no ramo com frangos e ovos sem hormônios. Hoje eles têm verduras, estão em supermercados e entregam em casa.” Rua Cel. Arthur de Godoy, 246 - Vila Mariana - delivery@korin. com.br – www. korin.com.br

Sítio Boa Terra – “Há cestas orgânicas com 10 hortaliças e entregam em São Paulo.”

Wal-Mart – “Atualmente, as lojas têm uma parte de produtos sem agrotóxicos.” www.walmartbrasil.com.br

do Câncer, se a população mundial modificar a dieta e abolir o cigarro reduzirá em dois terços a incidência global dos vários tipos da doença. A

instituição criou a campanha mundial “5 a day” de incentivo ao consumo diário de ao menos cinco porções de frutas e verduras.

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Cinema Por Perla Rossetti Fotos Divulgação

Profusão de cinebiografias revela personagens, histórias e um novo estilo para o cinema nacional pósretomada

De onde vem o interesse do espectador

Em seus relatos, é possível dimensionar o vulto que

pelas histórias de brasileiros famosos, anônimos ou

o assunto toma entre cinéfilos e no meio acadêmico,

do cenário político? O aumento de cinebiografias é

antes de chegar aos DVDs e ao seu home theater. São

um fenômeno comercial ou reflete a retomada após

opiniões que elucidam como a trama da vida real era ma-

o hiato do cinema nacional com o fim dos incentivos

téria de primeira linha já na literatura clássica grega, dois

culturais na era Collor?

mil anos antes da invenção do cinematógrafo, pelos ir-

Em meio a páginas de jornais e revistas com

mãos Lumière. Realidade que explica a origem dos deu-

chamadas para a estreia de filmes como Jean

ses indianos, deu vida às peças de William Shakespeare

Charles, Wilson Simonal, Chacrinha e Lula, o Fi-

e aos espetáculos da Broadway dos dias atuais, como

lho do Brasil, é natural indagar a autenticidade e

em All My Songs – sobre uma família que se envolveu no

o prestígio dos relatos, já que as trajetórias dos

mercado negro durante a segunda guerra mundial – e

protagonistas são distintas: um assassinato, uma

The Miracle Worker, conto sobre Helen Keller, professora

vítima de boatos durante a ditadura, até um épico

que nasceu cega e surda, por volta de 1880.

da pobreza nos rincões do país, lançado às véspe-

Passional

ras de uma campanha eleitoral. Para responder as questões, a Lindenberg & Life convidou críticos e professores de cinema de São

Sociólogo, diretor e crítico, idealizador e organizador

Paulo e Rio de Janeiro. Fazem parte do time o or-

da Mostra Internacional de Cinema, Leon Cakoff acre-

ganizador da Mostra Internacional de Cinema, Leon

dita que a produção cinematográfica baseada em fatos

Cakoff; o crítico de cinema da Folha de S. Paulo,

reais encanta porque o público aprecia boas ideias, por

Sergio Rizzo; o historiador e cofundador do de-

tantos anos interrompidas na produção nacional com o

partamento de cinema da FAAP, Máximo Barro e o

fim – decretado pelo então presidente Fernando Collor

professor de economia e entretenimento da ESPM,

de Mello, em 1990 – da Embrafilme, do Conselho Na-

João Luiz Figueiredo Silva.

cional de Cinema e da Fundação do Cinema Brasileiro.

Realidade em cena

36

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37

“Perdemos terreno no país com as seguidas crises. A

lo narrativo clássico, consolidado na década de

cultura sofreu muito, porque é o primeiro item de con-

1910, e que privilegiou uma maneira de contar

sumo a ser sacrificado.” No entanto, ele discorda de

histórias por meio de imagens e, mais tarde, de

que há uma tendência por cinebiografias, atualmente.

sons, que adota, entre outros, os conceitos de

“O cinema brasileiro não está retomando, está é tendo

protagonismo e de identificação. “É o apelo exer-

mais condições de ser produzido.”

cido pelos fatos verídicos. A produção nacional

O crítico atribui a boa fase a uma nova cultura pró-cinema, que proporcionou o surgimento de mais

recente apenas se alinha aos procedimentos da produção internacional quando faz isso.”

cursos de crítica, direção e roteiro, criando assim um

Ele diz que os filmes brasileiros não estão ba-

terreno propício ao expectador, a exemplo do que se

tendo recordes de orçamento e bilheteria, nem

vê na Europa. “É uma questão cultural. Em Paris, já vi

houve pulverização de cópias pelo país, como a

pais e filhos nos restaurantes, brincando de adivinhar

mídia faz parecer. “Ao contrário, o circuito é muito

títulos de filmes. Uma característica que vem do hábi-

mais restrito e concentrado do que nos anos 70 e

to de consumo. E, no Brasil, isso precisa ser amplia-

80. Nesse período, e antes também, havia filmes

do, com mais cinema, livros, discos e teatro.”

nacionais sobre personagens históricos e fatos

Sobre que tipo de narrativa tem mais chance de levar as pessoas às salas de exibição, Cakoff é categórico: “Não existe uma fórmula de sucesso. Se fosse assim, ninguém erraria no mundo todo”.

verídicos, alguns muito bem-sucedidos, como Independência ou Morte.” E, a julgar pelas bilheterias deste ano, ele observa um Brasil que dá certo no cinema quando é

Porém, ele alerta que o cinema brasileiro pre-

retratado de forma leve, com apelo humorístico, e

cisa se livrar de dois vícios. “O de imitar a TV e se

associado a atores e formatos da televisão, como

basear no orçamento abusivo da indústria da pu-

Se Eu Fosse Você 2, A Mulher Invisível, Divã e o Os

blicidade, porque cinema é feito com envolvimento

Normais 2. Por fim, o crítico acredita que a percep-

vocacional e passional.”

ção do público sobre o cinema brasileiro está diretamente relacionada a, no mínimo, dois aspectos.

Hiatos

“O primeiro é o fato de duas ou três gerações terem crescido, nos anos 80 e 90, sem que houvesse fil-

Crítico de cinema da Folha de S. Paulo, Sergio Rizzo comenta que a cinebiografia é um mode-

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mes brasileiros em cartaz na quantidade e variedade suficiente para a formação de público, o que

Da esquerda para a direita: Jean Charles, Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei, Chacrinha – Alô, Alô, Terezinha e Lula, o Filho do Brasil

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Cinema

Os indicados pelos especialistas Leon Cakoff Cineasta e organizador da Mostra de Cinema de São Paulo Olga (Diretor: Jayme Monjardim) 2 Filhos de Francisco (Diretor: Breno Silveira) Melhores da produção nacional: Central do Brasil (Walter Salles), Cidade de Deus (Fernando Meirelles), Os Inquilinos (Sergio Bianchi), Lavoura Arcaica (Luiz Fernando Carvalho) e Carandiru (Hector Babenco). Máximo Barro Historiador e professor de cinema da FAAP

gerou um hiato. E a classe média que hoje frequenta

Figueiredo Silva ressalta que o fato de o Brasil ter

os cinemas, localizados majoritariamente em shop-

uma teledramaturgia consistente também contribui

ping centers, nunca foi alvo da produção brasileira

para levar as pessoas às salas, embora o brasileiro

de consumo popular, que funcionava muito bem em

ainda não enxergue o cinema nacional no mesmo pa-

um circuito que desapareceu, o dos cinemas de

tamar do norte-americano. “Porque não temos capa-

bairro e de pequenas e médias cidades.”

cidade de fazer um filme como o 2012 e nem é esse o caminho para fortalecer o cinema brasileiro. Temos

Cotidiano

de apostar em um padrão próprio, porque não faremos Batman melhor do que Hollywood, mas contare-

Um dos principais efeitos do desmonte de me-

mos histórias do cotidiano melhor do que eles.”

canismos oficiais de fomento e financiamento ao

Tratar de assuntos próximos do espectador,

cinema brasileiro, em 1990, foi a paralisação da

como detalha Figueiredo Silva, gera uma respos-

produção de longa-metragens nacionais, como

ta positiva, uma vez que o cinema americano não

explica o professor de economia e entretenimen-

oferece a mesma identificação. “É o segredo do

to da ESPM, João Luiz Figueiredo Silva.

sucesso. Se tivéssemos uma melhor distribuição

Ele diz que o público de jovens nascidos nes-

dos filmes, e mais que os 8% dos municípios bra-

sa década não conheceu o filme brasileiro, já que

sileiros com sala de cinema, o número de espec-

se formou assistindo produções estrangeiras. “A

tadores seria ainda mais expressivo.”

geração de pessoas de 20 anos tinha a imagem

O professor da ESPM vê um padrão nas comédias

de que nosso cinema era a pornochanchada e foi

urbanas derivadas da linguagem da TV, como Os Nor-

necessário um tempo para desfazê-la. Ao mesmo

mais e Se Eu Fosse Você, que leva o telespectador ao

tempo, a qualidade estética dos filmes avançou,

cinema para ver o ator da novela e cujo fio condutor

com efeitos especiais bem feitos e uma estrutura

é a boa estrutura empresarial por trás. “Os filmes que

de produção melhor que antes.”

mais fizeram sucesso foram os que tiveram aporte da

Zuzu Angel (Direção: Sérgio Rezende) “É um filme corajoso e de impacto, com três ou quatro sequências exemplares no cinema brasileiro.” Melhores da produção nacional: Cidade de Deus e Tropa de Elite. “Forma e conteúdo se equiparam em ambos, que são muito fortes.”

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Globo Filmes e seu saber imenso em roteiros e narra-

dor do departamento de cinema da FAAP, Máximo

tivas. O grupo consegue viabilizar a propaganda, um

Barro, diz que o aumento dos docudramas, como

dos maiores problemas do cinema brasileiro, e faz isso

as cinebiografias são conhecidas, está associado

até dentro das suas novelas e programas.”

ao crescente interesse do público de maior renda

João Luiz Figueiredo Silva acredita que as indi-

e nível intelectual por aspectos sociais do país.

cações de filmes como Central do Brasil ao Oscar

Mas isso não representa uma fórmula do suces-

estimula o público e a produção da indústria inter-

so. “Qualquer história pode dar certo se há inte-

namente, mas, fora do país, apenas dá visibilidade

resse do público. Proust, por exemplo, escreveu

às histórias, sem, contudo, atrair um grande público.

‘O príncipe quer saber como vive seu escravo e

“O cinema nacional tem dificuldade em se inserir em

este quer saber como vive seu príncipe’”, cita.

mercados da Europa e Estados Unidos. O que con-

O docente também atribui a boa fase das cine-

tribui para termos mais filmes são as coproduções

biografias à liberdade na escolha dos temas, com o

entre Brasil e outros países.”

fim do vínculo da Embrafilme à produção nacional.

Apesar dos estereótipos sobre mulheres e vio-

“Antes da retomada, se você não fizesse a chan-

lência, as iniciativas tendem a chamar a atenção

chada da Atlântida ou o cangaço, estava arrasado”,

do público estrangeiro, o que, para o docente,

diz ele, referindo-se ao humor ingênuo, de caráter

não necessariamente é danoso para o Brasil, pois

popular, e à produtora carioca que descobriu nes-

sua imagem não depende apenas dos filmes.

se gênero um grande negócio entre as décadas de 1930 e 1960.

História

João Luiz Figueiredo Silva Professor de economia e entretenimento da ESPM 2 Filhos de Francisco (Diretor: Breno Silveira) “É a segunda maior bilheteira da retomada.” Simonal (Diretores: Calvito Leal, Claudio Manoel, Micael Langer) “É um filme fantástico.” Chacrinha (Diretor: Nelson Hoineff) “Excelente!” Olga (Diretor: Jayme Monjardin) “Belíssimo filme, mesmo tendo sido muito criticado, como um programa de dramaturgia.”

No entanto, o livre arbítrio dos cineastas enfrentou a mudança do público. “Nos anos 60, com o

Montador das películas rodadas e protagoni-

advento da TV e, mais tarde, do vídeocassete, as

zadas por Mazzaropi, que se dizia produtor de

salas de cinema de rua começaram a fechar, o que

filmes para toda a família, o historiador e cofunda-

distanciou as classes C e B desse tipo de en-

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Da esquerda para a direita: Onde a Coruja Dorme, Herbert de Perto, Waldick Sempre no Meu Coração e Central do Brasil

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Cinema

Cinebiografias representativas

na era pósretomada Adoniran Barbosa – e no Meio Passa um Trem (1998) Carlos Oswald – O Poeta da Luz (2005) Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995) Cartas da Mãe (2003) Cazuza – O Tempo Não Para (2004) Chacrinha – Alô, Alô, Terezinha (2009) Garrincha – Estrela Solitária (2005) Herbert de Perto (2009) Jean Charles (2009) João (2007) Lula, o Filho do Brasil (2009) Noel – Poeta da Vila (2006) O Contador de Histórias (2009) O Longo Amanhecer – Celso Furtado (2007) Olga (2004) Pan-Cinema Permanente (2008) Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda (2001) Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei (2009) Villa-Lobos – Uma Vida de Paixão (2000) Vinicius de Morais (2004) Waldick Sempre no Meu Coração (2007) Zuzu Angel (2006) 2 Filhos de Francisco (2005)

tretenimento. O cinema tornou-se intelectualizado,

mento de descobrir novidades no mundo, o exó-

para a classe A, que antes o tinha como um cir-

tico estava na ordem do dia.”

co. O próprio Fellini e suas grandes mensagens só surgiram depois da década de 1960.”

E se as películas do Brasil não ocupam lugar de destaque no exterior, também não comprometem

Assim, enquanto a demografia do país sobe,

a imagem do país: “Na década de 50, vigorava o

o número de cinéfilos é menor, sendo o público

ponto de vista das riquezas da nação. Um filme

universitário um dos que mais financia a indústria

como Cidade de Deus era contra a pátria. Mas há

com a compra de ingressos. “Enquanto Mazzaro-

muito tempo qualquer estrangeiro sabe diferenciar

pi fazia seis milhões de ingressos com um filme

o Pão de Açúcar das pessoas que moram ao seu

nos anos 50 e salas como a do cine Universo,

lado. As coisas são pensadas em outro contexto

no Brás, tinham 4,5 mil poltronas lotadas aos fi-

quando há um brasileiro sendo morto em Londres.

nais de semana, hoje a média de capacidade é

O perfil de filme com mazelas políticas e sociais

de apenas 300 lugares.”

não é tomado como representativo nem pelos pró-

Embora o público restante atualmente reco-

prios brasileiros”, conclui o historiador.

nheça as cinebiografias e documentários como opção cultural e de entretenimento de qualidade, e que fortalecem a historiografia e o cinema brasileiro, na opinião do docente da FAAP a indicação de filmes brasileiros ao Oscar não estimula os estrangeiros a assisti-los. “Ajuda internamente alguém que queira fazer outro ainda melhor. Quando O Pagador de Promessas ganhou a Palma de Ouro, o Anselmo Duarte achou que distribuiria o filme lá fora, mas não conseguiu. E era um mo-

As próximas cinebiografias brasileiras

Bezerra da Silva Bruna Surfistinha Chico Xavier Frank Aguiar Raul Seixas Cenas de Carandiru e Cidade de Deus

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Nada restou daquela pictórica cena das

da alta costura para o prêt-à-porter e a decoração

operárias trabalhando artesanalmente em tradi-

recebeu sua influência. Tanto o tecido de tapeçaria

cionais tecelagens do século XIX, embora essa

quanto o enxoval foram buscar essas fontes, como

história tenha sido tecida fio a fio. Mas foi justa-

a feira de Milão e dos próprios tecidos e cores que

mente o passado evocado pela Revolução In-

a moda dita para as estações”, diz a coordenadora

dustrial que permitiu um presente evoluído. Hoje

de lojas Trousseau, marca de enxoval premium.

ninguém se surpreende ao ver os laboratórios

A JRJ Tecidos há quinze anos aposta no jeans

de alta performance das indústrias têxteis, cená-

como alternativa aos profissionais de arquitetura e

rio das últimas descobertas em nanotecnologia

decoração e, mais recentemente, buscou inovar

e acabamentos antimicrobiais.

partindo para a linha de alfaiataria com lã e tricô.

Estamos na era dos tecidos inteligentes,

“O que notamos é que, recentemente, além de a

muito aplicados na estamparia e corte digital

decoração olhar para a moda, o movimento em

(feito a laser), recursos modernos que ampliam

busca por uma maior proximidade agora é recí-

o uso das tramas nos ambientes. “Tecidos aco-

proco nas duas áreas. Com isso, algumas mar-

plados, como o usado na luminária Charlotte,

cas no exterior criaram uma extensão de linha em

garantem resistência para uso como um difusor

decoração, como a Missoni e Diesel”, diz Tatiana

estruturado em si mesmo”, exemplifica a de-

Gabriel, diretora de marketing da empresa.

signer Baba Vacaro. Outros produtos, como o

No Brasil, alguns estilistas recentemente fo-

Tyvek, também constituem uma nova aplicação

ram convidados a criar linhas de estampas as-

do material por reunir as melhores caracterís-

sinadas. “Criamos uma parceria com a marca de

ticas do tecido e do papel, como conta a de-

moda carioca FARM para uma linha co-branding

signer: “é antiestático, antichama, não absorve

de estampas”, conta Tatiana.

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Máquinas substituíram as mãos humanas na confeção dos tecidos. Hoje, a tecnologia garante uma matéria-prima que alia beleza, conforto e praticidade

água, é leve e um excelente difusor de luz”. Divulgação ABIT - Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção

Evolução As inovações high tech possibilitaram o surgimento e a produção rápida de estampas exclusivas, impressas em metragens reduzidas, por exemplo, como explica Baba. Unicidade que é própria da busca humana, evidente no comportamento das pessoas, e é retratada na moda, que ganha as ruas e, consequentemente, os ambientes pessoais, nos lares. Assim, não é de hoje que o universo da moda inspira a decoração, mas nos últimos anos as duas áreas têm se entrelaçado de forma mais incisiva e exitosa. “Na década de 90 a moda começou a ganhar espaço e ser mais democratizada, saindo

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capa

Tecidos da Bauhaus, empresa presente há 32 anos no mercado brasileiro e que continua investindo em tecnologia

Outra inovação da empresa é a linha Lona-BR

Com a colaboração do designer Valdimir Kagan, a

100, que faz a reciclagem da lona utilizada por

coleção tem como um dos destaques o Pufe Rabat

caminhoneiros para uso em estofamentos, tape-

Pagodon, em formato cônico ou quadrado, giratório,

tes, forração em paredes, capas, toldos, painéis,

em tecido ou couro (na foto da página 50, um exem-

entre outros. O material passa por um processo

plo de trama em prêt-à-porter).

de reciclagem que o transforma em um tecido resistente e macio, e promove a sofisticação dos

Recursos

ambientes de forma consciente. Uma solução simples e eficaz para um problema ecológico, já

Com o objetivo de facilitar o dia-a-dia do con-

que a borracha não pode ser descartada no meio

sumidor, a tecnologia está em constante evolu-

ambiente após o uso nos pneus.

ção. Na área têxtil, o Brasil investiu em maqui-

Se as empresas brasileiras começam a desco-

nários e tecnologias para tornar-se competitivo.

brir agora o potencial da moda na decoração, as

Diversas soluções de acabamento são feitas por

grandes marcas internacionais já exploram esse filão

aqui, como impermeabilização, aplicação de an-

há alguns anos, como é o caso da Kenzo, Versace,

tibactericidas, e acabamento antichama. “A parte

Ralph Lauren, Armani, entre tantas outras – e não

de corantes especiais, de alta resistência solar,

apenas no que se refere a tecidos, mas também a

ainda é um desafio para nós, precisamos utilizar

louças e produtos decorativos, como velas. A Ver-

os importados, já que o foco não é apenas na es-

sace lançou a Home Collection em 1992 e, desde

tética do ambiente, mas principalmente no quanto

então, os produtos vêm ganhando espaço, embora

o produto influenciará o conforto e bem estar das

“suas criações se dêem com inspirações e concei-

pessoas”, lembra Tatiana, da JRJ Tecidos.

tos diferentes dos utilizados na linha moda”, como

Segundo o diretor da Bauhaus, especializada

ressalta a política de divulgação da marca em seus

no segmento de interiores, Raul Sarhan, o de-

materiais de marketing. Mas o cliente encontra peças

senvolvimento da área têxtil no Brasil, nos últimos

decorativas e de vestuário na loja em São Paulo, úni-

anos, levou o país aos mesmos patamares obser-

ca na América Latina que reúne os dois conceitos.

vados no exterior. “Há 32 anos, o país se desen-

A marca oferece uma abordagem clássica e a es-

volveu muito na linha tecnológica porque muitas

colha de materiais opulentos, aliada à incorporação

empresas compraram os mesmos maquinários

de referências clássicas, resulta em peças moder-

fabricados e usados na Itália, França, Bélgica e

nas que permitem, muitas vezes, ao cliente escolher

Inglaterra, países de vanguarda nessa área. Com

entre opções da linha para móveis. A cadeira Maia,

isso, o país não deve nada em tecnologia e quali-

por exemplo, é oferecida revestida em tecido, cou-

dade, tanto que já tem uma linha de exportação”,

ro preto ou branco da coleção, segundo o desejo

afirma o executivo, que aposta em um crescimen-

do comprador, sendo os dois tamanhos disponíveis

to contínuo do ramo.

com estrutura de metal e base giratória. Já a última coleção da Kenzo Maison, denomi-

Matéria

nada Estrutura e Volume, foi influenciada pela coleção feminina ready-to-wear da marca, privilegiando o contraste entre volume, desenhos e acabamento.

A qualidade da matéria-prima brasileira é decisiva na hora da compra, afinal, não adianta ter um

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O desenvolvimento de novas tecnologias permitiu o uso de cores diversas na impressão de papéis de parede

Bauhaus também atua no desenvolvimento de tecidos com impermeabilização

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capa

Apesar dos recursos tecnológicos, enxovais da Trousseau são pautados por processos artesanais

já apresentam grande resistência no pigmento, o que garante maior durabilidade das cores. E as empresas já se preocupam com os dejetos, tratamento da água e dos solventes utilizados na impressão. Os tecidos sintéticos (couros e pelicas) sofá lindo na sala de casa se sua textura não inspirar

imitam as gravações de animais (crocodilo, cobra

conforto para seu uso. Entendendo isso, cada vez

e peles) que além de ser muito mais fáceis de

mais os consumidores querem participar da deci-

limpar não comprometem a fauna.

são de escolha dos tecidos e buscam avaliar não apenas o diferencial de cores, estampas, bordados,

Comportamento

mas também maciez e praticidade. E eles buscam opções de fácil manutenção em casa, sem encolher, nem alterar cor ou textura.

Além da moda, há ainda uma nova cultura influenciando as cores e tecidos apresentados nas

Reconhecendo isto, a Regatta Tecidos, grife

coleções das lojas de decoração. A Empório Be-

em decorações especiais, investe em materiais

raldin, em sua coleção Superfícies, tem móveis,

com toque agradável, conforto, resistência e de

revestimentos, tecidos e tapetes que lembram os

manutenção tranquila. A diretora de marketing,

acordes da bossa-nova e das linhas projetadas por

Luciana Vieira, comprova que o público está mais

Oscar Niemayer e projetos de Burle Marx. As novi-

exigente e a busca por melhores tecnologias faz

dades em tecido ficam por conta dos veludos puro

a diferença na hora da compra. “Os tecidos com

linho produzidos na Holanda e veludos-jacquard da

cores exclusivas, acabamentos diferenciados, tais

Bélgica, e o puro linho bordado a mão na Índia. Os

como resistência aos raios UV, à abrasão ou anti-

calçadões de Ipanema são a inspiração para teci-

mofo sempre agregam mais valor, assim como a

dos duplos lisos e falsos lisos de mesclas de linho

preocupação com a preservação da natureza com

e algodão, como para as cortinas vazadas, feitas de

materiais recicláveis, que não utilizam substâncias

cordões macramés.

tóxicas e empresas que tratam os dejetos.”

Antecipando as novidades para o verão, a Re-

Entre as tecnologias utilizadas estão as im-

gatta Tecidos trouxe ao Brasil a mais recente linha

pressões digitais, mercerização (fio pré-encolhi-

de móveis para áreas externas da marca italiana Pa-

do), uso de materiais recicláveis e fibras alterna-

ola Lenti. Batizada de Aqua, é inspirada na natureza,

tivas, como bambu. Por ser resistente, essa fibra

interpretada em formas orgânicas e limpas que apa-

não precisa de muitos cuidados de cultivo e não

recem nos vários produtos assinados pelo designer

requer uso de agrotóxicos, o que agride menos

Francesco Rota. Com design contemporâneo, há

a natureza. Hoje, as impressões feitas no Brasil

poltronas, sofás, cadeiras, chaises, espreguiçadei-

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47 ras, mesas de apoio e pufes multiuso – perfeitos para criar espaços convidativos e sofisticados em jardins, áreas de piscina, terraços, beiras de praias ou iates. Uma das principais matéria-primas utilizadas na coleção é a Rope, uma espécie de corda criada com várias espessuras e formas, especialmente resistente a raios UV, cloro e água do mar. A Fibra Aquatech (93% Poliamida e 7% Poliuretano), também indicada para áreas externas, passa por vários processos e ganha o aspecto de palha natural, a fim de sobreviver aos fatores ambientais severos que podem causar alargamento das matérias-primas. Com o uso da

o tecido

tecnologia certa e fibras inteligentes, os desgastes

tem dura-

desaparecem quando os produtos secam, após a

bilidade

chuva, por exemplo.

xa”, diz Sarhan.

Na Bauhaus, os clientes encontram tecidos

bai-

Ele completa com

que dão impermeabilização e são recomen-

a constatação de que

dados exatamente para casas de veraneio. A

ainda há uma tendência

marca conta com uma coleção aquablock com

pelos tecidos dublados e

estampas bem diferenciadas e composição de

emborrachados, processos que

acrílico, algodão e poliéster. De acordo com o

conferem maior resistência.

diretor da empresa, tecidos com capacidade de enfrentar situações mais robustas são uma exi-

Arrojo

gência crescente do consumidor. “Porque hoje o custo está muito alto, em geral, o cliente quer um

E não é só nas tramas aplicadas à decoração

produto com uma garantia maior, que dure mais.

que a tecnologia está presente, mas também nos

Muitas vezes compra-se o móvel pronto, mas

papéis de parede, que voltaram exatamente à

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capa

Tecido da namoradeira foi pensado para a área da piscina. Peça faz parte da Coleção Aqua da Regatta

ximo três, quatro cilindros. Hoje, usamos a tecnologia retrogravura, que abriu várias possibilidades em termos de textura, sombra, sendo possível até mesmo a reprodução de uma foto.” E pensando também na durabilidade dos papéis, foram desenvolvidos os tipos vinílicos, laváveis, para uma conservação por mais tempo. Quando fala em tendências, Martha diz que está sempre atenta ao que acontece nas principais feiras do mundo, incluindo a maior delas: a Heimtextil, da Alemanha. Nesses eventos ela mantém contato com designers que comercializam desenhos. “Como estamos no mercado há muitos anos, eles já chegam até nós com as tendências, o que está sendo usado e o que é promissor.” Martha realiza, então, toda a coordenação do desenho, da produção, das moda pela versatilidade das novas coleções dis-

cores e cria um mostruário daquela coleção.

poníveis no país. “Durante uma época teve um

“Atualmente estão muito fortes as texturas,

boom e todo profissional indicava o uso, mas de-

florais e geométricas. E uma das tendências

pois os arquitetos e decoradores começaram a

é exatamente o papel que te dá a sensação

usar outras técnicas, como pátina e texturização.

de um tecido colocado, porque essa sensa-

Quando começamos a lançar os efeitos espe-

ção é agradável, mas o material retém poeira

ciais no papel de parede, ele começou a voltar,

e a mão-de-obra é mais cara”, ressalta. Dentre

diz a diretora de arte da Bobinex, Martha De Lucia

os tecidos que ganharam “adaptação” para os

Trindade. Dentre as novas técnicas citadas está

papéis estão o linho, adamascado, juta, palha,

exatamente a que faz com que o papel pareça

entre outras opções.

tecido, textura, entre outras ideias e materiais.

E se as grandes marcas garantem o sucesso

Uma evolução mais uma vez permitida pelo de-

também pelo nome reconhecido no mercado, os

senvolvimento de novas tecnologias, como conta

tecidos e papéis de parede também exigem a as-

Martha. “Antigamente, a gente tinha uma limitação

sinatura de nomes famosos. A coleção Grafismo,

de impressão, que só trabalhava com flexogravura,

da Bobinex, é assinada pelo arquiteto Marcelo

que são cilindros de borracha, cada um com uma

Rosenbaum enquanto a Trousseau conta com

cor. Naquela época, as máquinas tinham no má-

consultoria do estilista Amir Slama.

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Conforto

vrons e tweeds. Também observa-se um acréscimo de elementos no tecido, entre eles, brilho e

Na Safira Sedas, as novidades estão por

opacidade, linhas retas e elaboradas ou outras

conta de texturas, como o tafetá, o shantungue

texturas diversas. Os limites se expandiram, tor-

leve ou a musseline de seda, que estão sendo

nando mais importante a opinião do profissional e

usadas para cortinas. Eliane Gamal Mesquita,

abrindo mais portas para a criatividade.

proprietária da empresa, afirma que os aperfei-

Ramiro Palma, coordenador do Comitê de

çoamentos tecnológicos para a seda ainda são

Tecidos para Decoração da ABIT (Associação

muito restritos. Estão mais presentes apenas

Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção), afirma

no que diz respeito ao acabamento antiman-

que a tecnologia no setor ainda está em progres-

chas, feito depois do tecido pronto. “Nessa

so, mas observa-se claramente o seu uso nos

área de decoração, utilizando a seda, as tec-

acabamentos e na elaboração do fio. “Existe uma

nologias não são tão importantes. Ao contrário,

clara evolução do setor fabril, em que os investi-

o mercado de luxo tem valorizado muito os te-

mentos têm sido consistentes nos últimos anos”,

cidos industrializados, mas com a presença de

diz. Na indústria moveleira isto é visto nas madei-

processos artesanais”, esclarece.

ras e MDF. “Ainda precisamos melhorar a nossa

Trabalhos manuais, como a costura a mão,

sintonia no processo como um todo, no qual cer-

em que o tecido de alfaitaria, muito usado para

tos setores cresceram mais que outros, quer seja

ternos e paletós, agora ganham os sofás contem-

em determinados fios especiais ou acabamentos.

porâneos nas padronagens pied de poule, che-

Mas, na tecelagem, certamente temos total

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Para ler Fio a fio – tecidos, moda e linguagem Gilda Chataignier

Tecidos: história, tramas, tipos e usos Dinah Bueno Pezzolo

É um livro repleto de informações sobre tecidos. Suas histórias e origens, seus processamentos técnicos, seus usos e costumes, o fascínio ou a surpresa de identificar uma textura. O lado prático costura estética com comportamento e passa noções da arte de escolher tecidos diante de tendências profissionais ou desejos pessoais.

Acompanhado de belas imagens, este livro é uma pesquisa histórica que mostra toda a evolução do tecido. Dos primitivos tramados feitos manualmente de galhos e folhas aos mais avançados métodos de tecelagem, das fibras naturais aos fios inteligentes dos tecidos tecnológicos, das primeiras técnicas de tingimento às mais modernas formas de coloração.

Editora Estação das Letras Preço: R$ 25,60

Editora Senac – Nacional Preço: R$ 79,90

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capacidade de realizar tal qual os principais mer-

basicamente com duas coleções por ano, uma

cados produtores de tecidos do mundo”.

de inverno e uma de verão.” Nesse verão 2010, as estampas dos en-

Artesanal

xovais da marca tornaram-se mais coloridas e florais, promovendo a sensação de conforto e

Se a exigência do cliente impulsiona o desen-

bem estar também observada na moda atual.

volvimento das novas tecnologias em tecidos,

Atenta à convergência das áreas, a Trousseau

outra vertente vem ganhando espaço na decora-

contratou o estilista Amir Slama, que mostrará

ção e enxovais: itens artesanais, únicos, porém,

efetivamente seu trabalho na próxima coleção

seguidores das modas e tendências mundiais. A

de inverno. “Até aqui quem faz o design é a

Trousseau, por exemplo, tem os tecidos 100% al-

Adriana Trussardi, um trabalho feito através de

godão ou algodão egípcio. “Nos especializamos

pesquisa, viagens, feiras. Agora temos uma

no mercado de luxo e fomos buscar o que há de

consultoria em estilo do Slama, que está nos

mais exclusivo no Brasil, Itália, Índia. Trabalhamos

ajudando a coordenar com uma visão diferen-

Luminária Charlotte, da designer Baba Vacaro, com tecido acoplado que garante resistência

Pufe Rabat Pagodon em tecido prêt-à-porter, influenciado pela coleção feminina da Kenzo

Cadeira Maia, da Versace, pode ser evertida em tecido ou couro

Chaise frame da Regatta Tecidos. Altamente resistente às mudanças do meio ambiente, sol, cloro e água do mar.

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51 te”, conta a coordenadora de lojas Kriko, ressaltando que a indústria de enxoval ainda é artesanal e, exatamente por isso, rara e cara. “O algodão egípcio é uma marca porque é um negócio do governo do Egito, que

e rosa branca,

controla a produção, a colheita.

que ameniza a dor

Ele é chamado de ouro branco e

de cabeça, enxaqueca e funciona como

mesmo dentro do país há sofisti-

antidepressivo e revitalizante; e outras

cações, regiões em que está se

opções, como a espuma visco elástica,

desenvolvendo em busca de sua

que permite a posição ideal de descanso

plenitude, com máxima elasticida-

e oferece maior capacidade de distribuição

de, comprimento da fibra, resistên-

equalizada e máxima ausência de pressão

cia”, explica. Um dos exemplos do

sobre o corpo. Para completar a perfei-

algodão valioso é o Giza 45, com

ta noite de sono, o hotel conta com janelas acústicas e lençóis de algodão egípcio.

plantação e cultivo feitos a mão, sem pesticidas e com qualidade excepcional para tecelagem. No Brasil, a

Como se vê, decoração não é apenas a arte

marca Trousseau tem exclusividade de

do desnecessário, mas uma prática em busca de

comercialização e colocou apenas cem

bem-estar e conforto em lugares apreciados para

lençóis numerados à venda.

o convívio humano. E se o tecido faz parte da

Unindo a qualidade dos tecidos às proprie-

história da humanidade, desde a era Neolítica,

dades das ervas e plantas, o hotel boutique

há 12 mil anos, com primitivos tramados manu-

Royal Jardins inovou em 2008 com o Menu de

ais para as vestimentas, feitos de galhos e fo-

Travesseiros que traz oito tipos para uma boa

lhas, ainda é essencial no mundo contempo-

noite de sono. Como grande parte do público

râneo, que acrescentou modernos métodos

do hotel é formada por executivos, o objetivo da

de tecelagem para cumprir a

iniciativa é ressaltar a experiência de um relaxa-

mesma função: proteger,

mento revigorante. Entre as opções, há o traves-

aquecer e aconchegar.

seiro de macela e camomila, com propriedades calmantes para a insônia e o stress; o de alecrim

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Com mais estilo e qualidade, é claro.

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um outro Olhar Por Perla Rossetti Fotos Gal Oppido / Divulgação

urbanos e refinados

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53 Cidade dos extremos, contrastes e idiossincrasias, São Paulo abriu as portas de seu museu de arte para seis grafiteiros da galeria Choque Cultural, reduto do pop art brasileiro, para a exposição De Dentro para Fora/De Fora para Dentro. Carlos Dias, Daniel Melim, Ramon Martins, Stephan Doitschinoff, Titi Freak e Zezão levaram o grafite art e o clima das ruas para murais e imagens inéditas às amplas salas do MASP. Equipados com 700 litros de tinta látex e 600 latas de spray, eles cobriram 1.500 m2 de chão e paredes da galeria subterrânea do museu, em novembro. Acostumados a viver à margem do mecenato e até da interpretação dos amateurs, os artistas ganharam espaço de destaque para seus murais e improvisos, dispostos pelos corredores do museu, numa profusão de cores e ícones alegres, sem dúvida contemporâneas e provocadoras, mas que não abrem mão de propor reflexões sobre o ser em coletividade. Para finalizar, nesta seção você confere fotos do processo de montagem e das criações, clicadas por ninguém menos do que Gal Oppido, fotógrafo ensaísta e igualmente provocativo, famoso pelo estudo do corpo em trabalhos com Artérias Paulistanas, Prata Sobre Prata e Taxidermia.

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Cenas de Stephan Doitschinoff

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um outro Olhar

Ao lado, Titi Freak durante montagem. Abaixo, uma de suas instalaçþes

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Criações de Carlos Dias. Acima, Street Art, de 2008. Ao lado, Death Samba

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um outro Olhar

Caos e angústias em meio à cor nas instalações de Daniel Melim

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Ocupação da galeria subterrânea do MASP com telas do grafiteiro Zezão

Mais? Acesse www.choquecultural.com.br

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laboratório Por Claudia Manzzano Fotos Mari Vaccaro

as várias

Augustas Em busca de uma expressão crítica, jovens talentos são guiados por Claudia Jaguaribe e constroem uma exposição fotográfica intimista e pós-moderna na Escola São Paulo

O processo criativo é único e particular. Leva-se tempo para maturar uma ideia. E a criação não é a única etapa pela qual um artista passa para atingir seu máximo. Conceito, técnica e a forma com que o público entra em contato e reage à obra devem dar sentido à interpretação do criador, criatura, e expectador que a desfruta. Para mostrar o universo de fragmentos, o processo criativo e seu significado, a Lindenberg & Life estreia uma nova seção em que acompanhará criativos talentosos, oriundos de grandes instituições de ensino do país. Além de abrir nossas páginas a nova safra de inventivos no campo das artes, arquitetura, gastronomia e afins, receberemos o que há de mais moderno em teorias e atitudes. Nesta primeira experiência, a L&L acompanhou os últimos momentos do curso de fotografia ministrado por Claudia Jaguaribe na Escola São Paulo. A iniciativa deu vida a uma exposição em caráter de formatura dos alunos, comemorada junto ao aniversário de três anos da casa.

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laboratório

Depois de seis meses juntos, os discípulos de fotógrafos – alguns já bem experientes, em busca de novos desafios – compreenderam as características de linguagem da fotografia contemporânea, por onde Jaguaribe navega como ninguém, e analisaram cada etapa para a construção de um ensaio pessoal. Um time de peso a auxiliou, revezando-se entre prática e teoria. Fizeram parte desse seleto grupo o curador Eder Chiodetto, o professor da Faap, Rubens Fernandes Junior, fotógrafos e intelectuais, como Bob Wolfenson, Mariana Lara Resende, Waldick Jatobá, Milton Guran, Patrícia Canetti, Simonetta Persichetti, Márcia Fortes, José Marton, Álvaro Razuk, Silvio Pinhatti e Millard Schisler. Experimentar temas livres deu vazão ao que seria o tema da exposição: a Rua Augusta. Jaguaribe diz que todo o trabalho foi feito fora do curso, e as aulas somente consolidavam o que os alunos traziam em suas câmeras e sensações. “Procurei juntar a linguagem para dar harmonia, a ideia da exposição é a pessoa ver e parecer que está passeando pela Augusta”, conta.

História Versados nas artes visuais, como a artista plástica Mariana Tassinari, e iniciantes da fotografia, como o designer gráfico Alberto Greiber Rocha, dividiram opiniões com quem não tem a mínima pretensão de sustentar-se com o ofício, a exemplo da proprietária de loja Erika Malzoni. Apesar de trajetórias distintas, o resultado foi riquíssimo. Considerada o ponto de luxo para as compras a partir do final dos anos 1950, a rua Augusta começou a perder seus status entre o jet set paulistano, mas ganhou outros terrenos. Corpos expostos já existiam no lado Centro da rua, enquanto os jovens divertiam-se na paquera e playboys disputavam corridas de carro no sentido Jardins. A rua, que se divide em duas partes, quase caiu no esquecimento no final dos anos 1980,

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mas conquistou ar cultural com a abertura de cinemas

Assim, cada aluno encontrou sua história, Luiza La-

e salas culturais. Atualmente, casas noturnas estão en-

cava e Paula Brandão foram em busca das faces da

chendo a rua de jovens de diversas tribos.

prostituição, mas encontraram simplesmente mulheres,

Via de múltiplas facetas, a Augusta também foi vista

humanas. Luiza surpreendeu com os relatos de sua mo-

sob a ótica individual dos alunos de Jaguaribe, den-

delo, e não pela vida dito mundana que leva. O choque

tro das salas da Escola São Paulo. Houve quem se

veio da semelhança com a vida de qualquer mulher.

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rendeu à identificação pessoal, outros, a uma história dentro da rua. Luiza Arcuschin é estudante de administração de empresas e não tinha noção de fotografia até juntar-se ao grupo. Ela confessa ter ficado intimidada no começo. A primeira reação era falar do anonimato na Augusta. Tentou um ensaio, mas a insegurança aumentou. “Eu via o trabalho dos outros e ficava tensa. O meu era muito ruim”, conta. Prestes a desistir, Luiza não queria mais expor. Até que percebeu na fotografia um caráter documental que ela podia explorar. Experiência diferente do designer gráfico Alberto, cujo hobby nos últimos cinco anos é clicar as cenas da cidade. Ele já optou por mapear a Augusta como local de passagem. Enquanto várias atrações fazem da Augusta um destino, milhares de pessoas apenas passam por lá. Seu maior desafio: dominar a técnica para expressar esta ideia. Já as artistas plásticas Carla Venusa e Mariana Tassinara, que transitam pela linguagem fotográfica em seus trabalhos, dedicaram-se a integrar o tema urbano em seus ensaios. “Na Augusta tem tão pouca natureza...”, lamenta Carla. Encontrar um caminho a seguir foi árduo, mas ela também entendeu o momento como o mais emocionante. Ficou aflita, confessou que o processo é difícil. “Mas quando se acha a linha é a hora mais bacana”, comemora. Mariana queria usar as fachadas da Augusta. Ela trabalha com paisagens geográficas e procurava uma que lhe dissesse algo. Mas, cheias de interferências, não satisfaziam suas expectativas. Frustrada, um dia, subindo a Augusta de carro, ela viu algo que parecia ser a imagem pela qual tanto ansiava.

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laboratório

17 Augustas Ícones da fotografia contemporânea, como Wolfgang Tillmans, Gregory Crewdson, Nan Goldin, Sophie Calle e Thomas Struth viraram as grandes referências para que os alunos construíssem sua própria base conceitual. Ao longo das aulas, os participantes entraram em contato com um novo olhar para a fotografia, desenvolveram uma percepção para o seu processo criativo. Ainda que ímpar e individualizado, os alunos não negaram que a colaboração dos colegas foi decisiva. Luiza Arcuschin diz que a união se intensificou quando Claudia Jaguaribe começou a cobrar resultados. A união passou para o mundo virtual, o grupo criou um blog, cada um publicou sua foto e um texto. Surgiu um Flickr e a divulgação dos trabalhos foi crescendo, e cada membro foi tomando conhecimento da produção do colega. Colaborativismo que os conduziu. Com a ajuda de duas amigas, a aspirante Luiza criou uma narrativa sobre o dia em que viu Rita Lee na Augusta. Sem saber mexer na máquina emprestada, improvisou, divertiu-se, criou uma sequência de fotos em estilo paparazzi. Ainda que o tempo de abertura do diafragma tenha dificultado a perfeição das fotos, Alberto persistiu para mostrar uma Augusta de passagem. Surpreendeu-se como as novas composições vão aparecendo. Começou fotografando pessoas, passou aos ônibus, aos carros.... “Aprendi a pensar nas minhas fotos como unidade, foi a primeira vez que consegui fazer isso.” Carla tinha a natureza como linha de trabalho, mas pouca no tema em questão. A solução foi encontrar espaços entre fachadas e o pouco verde que habita a Augusta para criar situação. Com o nome das lojas, encontrou ícones naturais como mar, sol e praia. Com intervenção sob as imagens, destacou palavras-chaves e encontrou o verde paulistano. Presa às fachadas e sem atingir um resultado satisfatório, a solução de Mariana veio ao visualizar o gi-

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gantesco complexo do Conjunto Nacional, com suas

natureza. Uma sala, que seria ocupada por outra ex-

linhas retas, geométricas, prontas para o disparo.

posição, dos books de moda, dividiu espaço com as fotos dos retratistas da Augusta.

Montagem e chuva

A adaptação de última hora foi inevitável, já que as telas augustianas foram projetadas para ocupar outro

Fotos selecionadas, ampliadas, tratadas, espaços

local. Trena medindo altura, largura, recuos... Muita

definidos, é hora de montar a exposição. Numa quinta-

mão na massa... Claudia ensina a colocar as figuras

feira de muito calor, a chuva ameaçou estragar os pla-

no chão para medir os espaços. Segura figuras na pa-

nos dos espaços sem cobertura da escola. Claudia e

rede para dar unidade, pede a opinião dos alunos. Seis

Alvaro Razuk, especializado em projetos museográfi-

deles espremem suas fotos nas três paredes possí-

cos, instituições culturais e artistas, ajudaram os alunos

veis, usadas sem atrapalhar nem ser atrapalhadas pe-

a encontrarem uma solução contra a vontade da mãe

los books, os de moda. Se para um grupo de fotos o espaço não está adequado, muda. Tudo de novo. Lá fora, outro grupo mede a altura, a distância e a unidade para colar as fotos em outra parede. Os pequenos quadrinhos, inofensivos, dão trabalho... Acertar a medida com precisão. As fotos somam-se como uma obra coletiva, vista na parede de fundo, na entrada da exposição, mas estão à mercê da chuva. Ao primeiro sinal de que o aguaceiro dará uma trégua, é a oportunidade para secar a parece e voltar a colar as fotos. Com rapidez, Claudia e Álvaro mais uma vez colocaram as fotos no chão. E tudo recomeça, para que, no dia da festa, tudo esteja à altura dos olhos, de todos os olhares.

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laborat贸rio

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personna Por Perla Rossetti Produção fotográfica Lili Tedde Fotos gUi Mohallem Agradecimentos Nilda Alzira

art clean

Novo layout e decoração contemporânea criam clima ideal para as criações da artista plástica Mirian de Los Angeles em seu Lindenberg 66

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Em um dos endereços mais privilegiados da cidade está o apartamento da artista plástica Mirian de Los Angeles. Ao lado do Hotel Unique, e com

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vista para o elegante bar Sky, a cobertura de 500 metros quadrados é o verdadeiro exemplo de que qualquer espaço pode receber um desenho arquitetônico e uma decoração que atendam o estilo de vida e anseios pessoais de seu proprietário. Telas de Leda Catunda, Jaime Prades, Samir Jamal e do mestre Osmar Pinheiro estão espalhadas por ambientes elegantes, ao lado das obras da própria Mirian, artista de abstrações geométricas. Com a mesma concepção de ângulos, recuos e iluminação que inspiram seu trabalho, ela mudou as características originais de seu Lindenberg, reformando-o internamente ao estilo dos lofts de Nova York. Ao mesmo tempo, integrou a arquitetura à essência da construção, de estilo neoclássico. “Sou muito contemporânea, não gosto de enfeites e aprecio a praticidade.”

Divisões e desenhos diferentes para a planta inicial

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personna

Objetividade presente no primeiro andar do duplex, que permite transitar por vários ambientes, por

minam a escada de mármore branco, o ateliê e boa parte do living.

dentro ou por fora, ou seja, passando pelo jardim da

Apesar da vasta incidência de sol, a climatização

cobertura, a piscina de 3 metros e a banheira de hi-

é perfeita graças ao sistema central de ar-condicio-

dromassagem para seis pessoas, que fica discreta,

nado, com uma saída em cada ambiente.

sob um deck deslizável. O espaço tem paisagismo da arquiteta Caterina Poli e vegetação tropical, com

Toques

uma ampla vista da cidade e do parque do Ibirapuera. “Queria um clima de floresta de Lost, do seria-

Com muito bom gosto e experiência em sua pri-

do de TV, com plantas mais altas e exóticas. Aqui é

meira formação como designer, Mirian envolveu-se em

onde gosto de estar com os amigos para churrascos

cada adaptação e mudança da configuração inicial do

e curtir a linda iluminação nos dias ensolarados.”

apartamento. Das duas lareiras, apenas uma permane-

Luminescência tão inspiradora que Mirian utilizou

ceu no primeiro andar que recebeu outras alterações.

o antigo espaço criado como academia de ginástica

O lugar onde antes havia uma boisserie de madeira ela

para instalar seu charmoso ateliê, um cantinho com

transformou em um gracioso living, que hoje abriga três

ares de casa de praia, amplas janelas, portas de vi-

obras dos mais significantes artistas contemporâneos,

dro e deck onde ela e sua linda golden retriever Lua-

como uma escultura em metal do argentino Leon Ferrari,

na apreciam o fim de tarde.

ícone do estilo em exposição no Moma, de Nova York

E para aumentar a luminosidade, logo que a

em 2009, e a tela de grandes proporções de Osmar

moradora mudou-se para seu Lindenberg, há seis

Pinheiro, mestre da encáustica, técnica de pintura que

anos, criou duas clarabóias retangulares, que ilu-

mistura cores em uma cera aquecida e derretida.

Abaixo, cenas do ateliê e escultura do argentino Leon Ferrari

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Acima, o living criado onde antes havia uma boisserie de madeira. Ao lado, sala de jantar com vista para a cobertura. Decoração privilegia obras de artistas de renome internacional

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personna

Obras da artista permeiam os ambientes

Com iluminação Olho de Moscou, própria para obras de artes, o living recebeu um conjunto de sofás de couro em tom claro, para os amigos de Mirian apreciá-las sem interferências visuais contrastantes.

acabaram por ornar, de um jeito especial, como os toques contemporâneos do apartamento. A sala de jantar foi transferida do térreo para o primeiro andar do duplex. Para o transporte dos pra-

A área social ocupa atualmente o que foi o escri-

tos e itens de mesa posta, Mirian optou por insta-

tório e parte da área externa. Sempre que possível,

lar um elevador de serviços que liga a cozinha do

foram instaladas portas de vidro temperado, corredi-

térreo à de apoio, no andar superior. A primeira é

ças que, abertas, criam um túnel de vento agradável,

espaçosa e iluminada, a segunda tem clima de pub

para uma boa circulação do ar.

e abriga a pequena adega, sendo o mobiliário dos

Fluxo aerodinâmico que contribuiu também no

dois ambientes totalmente planejado.

ateliê de Mirian, onde ela geralmente passa seis

O banheiro pessoal é outra agradável surpresa com

horas por dia produzindo peças em acrílico ou

seu mármore branco, bancadas bem dispostas e uma

pinturas expostas em galerias, como Horizonte,

vista da cidade para quem está na ducha, pois preser-

New York Galery e Penteado, em Campinas, e se

va a privacidade graças às janelas com vidro tempera-

prepara para uma ocupação, como ficou conhe-

do à altura de uma pessoa de estatura média.

cida a mostra coletiva de artistas, em março, em uma casa na rua São Gualter.

Um conjunto harmonioso, como se vê, de janelas, vegetação e fluxos internos de um aparta-

Voltando ao apartamento, ela conta que os arcos

mento em estado de arte, para abrigá-las, propi-

das sacadas, tão característicos nas construções da

ciá-las e prestigiá-las em um lar ao estilo da grife

construtora Adolpho Lindenberg, foram mantidos e

Adolpho Lindenberg.

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Duplex Lindenberg foi redesenhado para a artista. Ao lado, ampla cozinha, com vista para o restaurante Sky. Abaixo, cobertura com vista para o parque do Ibirapuera

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5 experiências Por Renata Vieira Fotos Arquivo pessoal

Vencendo os próprios limites A mesma determinação e disciplina que

empreendimentos de altíssimo padrão. É aos es-

o engenheiro civil Paulo Renato Amaral tem no

portes de endurance que ele se dedica nos mo-

canteiro de obras, ele tem na vida pessoal. Ele

mentos de lazer, obtendo sempre o máximo de si

já foi responsável pela construção do Lindenberg

mesmo. Provas que proporcionam momentos de

Tucumã, nos Jardins, e seu faro detalhista não

autoconhecimento, além de oportunidades para

se aplica somente às formas neoclássicas dos

transpor seus próprios limites.

“Participar da maior ultramaratona do mundo na África do Sul, por si só, já era um desafio extraordinário. Ser o primeiro brasileiro a concluir os 89 Km da Comrades Marathon, em 2001, em 8h33’, foi inesquecível. Hoje sou o recordista brasileiro, com oito participações nesta prova, e fui nomeado o Embaixador da Comrades para o Brasil e América do Sul, o que me coloca como porta-voz deste mega evento no continente.”

“Os edifícios que ajudei a construir são como parte de mim, resultado de um eficiente trabalho de toda a equipe. E o Lindenberg Leopolldo tem posição de destaque nesta lista, tanto pela imponência arquitetônica, como pela complexidade das soluções de engenharia aplicadas.”

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“Quando criança, meu pai dizia: ‘Olha, filho, essa prova é para os homens de ferro: eles nadam 3800 metros, pedalam 180 quilômetros e depois correm 42 quilômetros’. Aquilo sempre foi um ícone para mim. E não me contive em lágrimas ao me tornar um Ironman “Servir o Exército Brasileiro foi gratificante. Cursei o CPOR e me formei 2º Tenente de Infantaria. Aos 19 anos, participei de exercícios de combate e aprendi a suportar situações

em 2005, após 11h34’ de competição.”

limite, de extrema resistência, física e psicológica. Acima de tudo, isso desenvolveu um incomparável espírito de equipe, disciplina e amor à pátria.”

“Convidei vários amigos, mas nenhum deles sentia confiança. A fase do time era irregular e o jogo seria contra um esquadrão inglês quase intransponível. Eu disse ‘quase’! Fui sozinho para o Japão e tive o dia mais feliz de toda a minha vida na conquista do Tricampeonato Mundial pelo São Paulo. O mundo era tricolor!”

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fil antropia inteligente Por Instituto Azzi Fotos Divulgação

“ApOio uma ONG ótima: é de um amigo meu.” Isso basta para avaliar um trabalho de excelência?

dos, ações judiciais e cheques sem fundos de todos os diretores. Ainda assim, a satisfação de apenas este critério não basta para que o investimento feito em

Certamente não. Mas quando se trata de fazer

uma organização seja usado da forma mais eficiente.

um investimento na área social, a escolha, na maioria

Para ajudá-lo a identificar fortalezas e desafios de

das vezes, não leva em conta o seu resultado. Por

uma organização, pode-se fazer uma avaliação geral,

isso, passa a ser uma mera doação em que não se

considerando quatro dimensões essenciais:

tem ideia do impacto gerado. As doações por “ami-

1. Gestão

zade” acontecem muitas vezes porque o amigo ga-

2. Transparência

rante a idoneidade da organização.

3. Potencial de Impacto

Em pesquisa feita pelo Prof. Dr. Stephen Kanitz

4. Solidez

(www.kanitz.com.br), 97 a 98% das entidades tinham

Abaixo, uma série de perguntas que podem orien-

a ficha limpa quando avaliados seus títulos protesta-

tá-lo no momento de avaliar uma organização. Alguns

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itens você pode responder por si mesmo, apenas

Além disso, os critérios não são absolutos, mas

consultando o website e outros materiais da orga-

sempre relativos às suas expectativas. Por exem-

nização, para outros será preciso visitar os projetos

plo, uma organização menor pode ter uma gestão

sociais ou perguntar a diretores e responsáveis.

mais frágil do que uma mais estabelecida. No en-

Dê uma nota de 1 a 5 para cada item, sendo 1

tanto, você pode preferir investir no fortalecimento

o pior caso e 5, o melhor. No final, analise o resulta-

de uma delas, cobrindo exatamente uma lacuna

do, pondere cada dimensão e faça seu julgamento

existente nos critérios que você percebe serem

de acordo com suas preferências pessoais.

mais desafiadores para a instituição.

Esta é apenas uma avaliação inicial, você deve

Use essas perguntas como um guia, que irá

buscar novas informações de acordo com o grau

orientá-lo em uma análise mais racional sobre o

de envolvimento que pretende na realização de

destino de suas doações.

75

seu investimento social.

Avaliando a qualidade da gestão

Avaliando a transparência

Gestão mal feita, como você sabe, pode que-

Uma organização transparente vai permitir que

brar uma empresa. Na área social, irá inevitavel-

você veja seus resultados e atividades e tenha

mente levar ao desperdício de muitos recursos.

acesso a seu balanço. Para saber se uma organi-

Observe alguns pontos fundamentais para ver

zação é ou não transparente:

como está a gestão da organização que você pretende apoiar:

• Relatórios de atividades e demonstrações financeiras – São publicados por algum veículo

• Planejamento – Existe um planejamento es-

de comunicação? O site pode ser uma ferramenta

tratégico bem elaborado para os próximos dois

para ajudar a organização a ser mais transparente.

anos da instituição?

Se não houver um site atualizado, os dados são

• Gestão Financeira – Existe ao menos uma

disponibilizados de forma impressa?

pessoa exclusivamente responsável por isto? Há

• A qualificação de OSCIP (Organização da

uma previsão orçamentária que inclua todos os

Sociedade Civil de Interesse Público) implica a

gastos previstos da organização para os próximos

existência de um contador e auditoria externa

12 meses?

– A organização é uma OSCIP? Tem algum título de

• Avaliação – Os programas e projetos que a ONG desenvolve são avaliados no curto e médio prazo?

utilidade pública (federal, estadual ou municipal)? • Contabilidade terceirizada – Mesmo que a

• Motivação e capacitação dos funcioná-

organização possa contratar um contador, é van-

rios – Eles participam de atividades de capacita-

tagem ter a contabilidade terceirizada, pois inibe

ção profissional com facilitadores externos? Com

possíveis desmandos, já que envolve a seriedade

que frequência?

e a reputação de outra empresa.

Pondere as respostas acima e

Pondere as respostas acima e atribua

atribua a Nota de Gestão: _____

a Nota de Transparência: _____

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fil antropia inteligente

Avaliando o potencial de impacto

Avaliando a solidez

Como toda organização tem limitação física e orça-

Enfim, se você é propenso ao risco ou mais con-

mentária, algumas estratégias podem potencializar seu

servador, vale analisar quão sólida é a instituição. Se

trabalho e aumentar seu impacto social. Por exemplo,

sua preferência é por novos empreendimentos sociais

uma ONG que influencia políticas públicas pode dar

que podem crescer e está disposto a correr riscos,

maior escala à sua atuação, multiplicando seus resul-

contribua com ONGs que obtenham menor nota. E o

tados. Então, verifique:

contrário, se você é mais conservador.

• Políticas públicas – Já influenciou políticas públicas ou há um trabalho da organização nesta direção? • Parcerias – Há parcerias formais com escolas, hospitais ou outros equipamentos sociais que, dependendo da área de atuação da organização, potencializam o seu trabalho?

• Tempo de existência – Quando a organização foi constituída juridicamente e começou a atuar? • Número de funcionários – Quantos funcionários a organização tem? • Orçamento anual – Qual a porcentagem do orçamento anual garantido e projetos de sustentabilida-

• Melhoria de programas e crescimento em es-

de para o ano seguinte? Em caso de desistência do

cala – Há projetos sociais criados nos últimos 2 anos?

único apoiador, a ONG ficará inativa ou há um sistema

Houve um crescimento da ONG neste período?

eficiente para a captação de recursos?

Pondere as respostas acima e atribua

Pondere as respostas acima e

a Nota de Potencial de Impacto: _____

atribua a Nota de Solidez: _____

Prioridade para tomar a sua decisão:

E lembre-se: o resultado de seu investimento depende do montante alocado na organização que, se for de

Representação gráfica de uma organização com as seguintes notas:

grande porte poderá ter uma elevada carga administrativa, enquanto uma menor poderá usar o recurso de for-

Gestão 5

ma mais eficiente. No entanto, uma pequena poderá lidar

4

Exemplo hipotético

bem com o recurso investido até certo valor e depois será

3

um grande desafio geri-lo.

2

Solidez 5

4

3

2

No gráfico é visível que a Ong é pouco consolidada, mas é transparente e a qualidade de sua gestão, bem como o potencial de impacto, superam o fato de não estar muito estabelecida.

1

1

Transparência 1

2

3

4

organização, considere as notas que você atribuiu a cada dimensão nas perguntas acima. Pinte, no gráfico ao lado, uma bolinha indexada com o valor atribuído no eixo que

1

corresponde ao item avaliado. Ligue os pontos com retas

2

e você terá um quadrilátero. Os maiores lados do quadri-

3

látero indicarão os pontos mais fortes da organização e

4 5

5

Para aproximar-se de uma avaliação quantitativa da

os menores lados, os mais frágeis. Com isso, faça sua Potencial de impacto

escolha e boa sorte! Dúvidas ou outras informações, entre em contato com o Instituto Azzi (11)5539-3949 ou mf@institutoazzi.org.br

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Entrevista com a New Philanthropy Capital (NPC) A New Philanthropy Capital (NPC) é uma consultoria sediada em Londres dedicada a ajudar investidores e organizações sociais a atingirem um maior impacto em suas ações. Apesar de estar baseada no Reino Unido, seu alcance é global, e ela tem crescido em parceria com organizações e pessoas que estão desenvolvendo seu modelo em diferentes países, incluindo Canadá, Alemanha e Israel. 1. Tendo em mente um doador que já conhece sua causa, quais os pontos-chave que ele deve considerar na hora de escolher uma organização para apoiar? A NPC encoraja os doadores a pensarem sobre a efetividade das organizações – no quê elas atingem resultados em seu trabalho. Nos últimos seis anos, temos analisado muitas organizações e desenvolvemos um plano de trabalho focado em seis fatores: • Atividades: As atividades da organização são direcionadas para uma real necessidade? • Resultados: Ela pode demonstrar os resultados que tem atingido? • Liderança: Os conselheiros e a gestão fornecem uma liderança de alta qualidade? • Pessoas e recursos: A organização utiliza bem sua equipe, voluntários e recursos? • Finanças: As finanças são sólidas? • Ambição: A organização é ambiciosa em solucionar os problemas sociais? Todos esses fatores afetam o impacto que a organização tem e sua habilidade em ajudar pessoas, mudando suas vidas para melhor. Nós acreditamos

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que doadores devam considerar todos esses fatores quando escolhem uma organização para apoiar, de modo a descobrir como ter o máximo de impacto com seu investimento social. 2. Como a NPC ajuda os doadores a tomarem suas decisões? A NPC fornece aos doadores serviços de consultoria para garantir que seus investimentos sociais sejam usados o mais cuidadosa e estrategicamente possível, criando assim maior impacto social. Nós ajudamos todo o tipo de doador, incluindo fundações, indivíduos e famílias, órgãos do governo e empresas. Alguns não têm muito tempo para pensar em suas doações, outros são contratados para fazer doações. Alguns querem fazer uma doação única, outros querem desenvolver um plano de doação de longo prazo. Nossos serviços incluem ajudar o doador a definir seus objetivos, desenhar programas de investimento, selecionar organizações, desenhar e implementar processos de monitoramento e avaliar resultados. 3. Na Inglaterra, os doadores costumam financiar um projeto específico ou preferem apoiar a organização como um todo, sem restrições? A NPC acredita que doadores demais restringem seus financiamentos a um projeto em particular, e que não há suficiente apoio irrestrito para a organização, como um todo. É tentador estipular que uma doação possa apenas ser usada para um projeto específico, porque isso torna

mais fácil ver o impacto direto gerado pelo investimento. Porém, nós acreditamos que isso pode limitar o impacto da doação. Primeiro, essa prática pode causar o efeito de as organizações passarem a propor projetos que se enquadram nos objetivos do doador, mas se afastam da missão da organização. Em segundo lugar, limita a flexibilidade da organização em responder às demandas conforme elas aparecem. Boas organizações devem receber confiança para tomar as decisões nos melhores interesses das pessoas que ajudam.

77

4. Qual é a principal barreira a se transpor, de modo a permitir o melhor desenvolvimento para a filantropia em um país? A ótima filantropia é baseada em evidências de que funciona, permitindo aos filantropos financiarem as intervenções e organizações mais efetivas. Uma grande barreira que a filantropia encontra é que é muito difícil encontrar as evidências que mostram o que funciona. As organizações não estão conseguindo capturar e compartilhar evidências suficientes sobre seus impactos. Em parte porque filantropos e fundações não as estão financiando para coletar esse tipo de evidência. Para transpor essa barreira, a filantropia precisa financiar a coleta dessas evidências, através de pesquisa e avaliação. Para mais informações sobre a NPC e seus serviços, visite www. philanthropycapital.org, ou contate Lucy de Las Casas, no e-mail ldelascasas@philanthropycapital.org, ou pelo telefone +44(0)20 7785 6300.

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arquitetura Por Rosilene Fontes

Colunas, pilares e pilotis, elementos

gavam a erguer colunas monumentais com

estruturais que sustentam uma construção.

uma inclinação magistralmente calculada para

Pode parecer a mesma coisa, mas não é. As

que, aos olhos dos observadores, dessem a

colunas diferenciam-se dos pilares por ter uma

ilusão de perfeitamente eretas, imponentes.

seção circular. Os pilares têm seção poligonal,

Erguidas para adorar os deuses.

usualmente quadrados ou retangulares. E os

Mais tarde, nas construções modernistas,

pilotis são um conjunto de pilares ou colunas

subiram prédios sobre pilotis, grandes vãos

em espaços livres, cobertos e abertos.

abertos para passagem dos homens e dos

Poéticas urbanas (Colunas, pilares e pilotis)

Passeando pela cidade, nos depara-

Será que estamos carentes de deuses internos? Aqueles que nos movem a olhar a vida de dentro para fora, parar, pensar e refletir?

mos com colunas, pilares e pilotis e, se mais

ções, para refrescar a alma dos transeuntes.

atentos, percebemos a predominância deles

A arquitetura ao longo dos anos perdeu

em cada estilo de arquitetura. Daí, pode-se

essa magia? Não. Não existem mais sábios

pensar: como o homem é sábio e conseguiu

e deuses para adorar?

chegar a construções tão diversas e belas?

É só ter um pouco de calma, andar pela

Os gregos diriam que são obra dos deuses.

cidade e observar, sentir e olhar as constru-

Provavelmente, os monumentos origi-

ções como se olha e sente a natureza. Um

naram-se ao erigir uma coluna em honra a

exemplo? Passe ao lado do Mube, o museu

um deus, como um menir, que é uma enor-

da escultura na avenida Cidade Jardim e en-

me coluna de pedra cravada no solo. Mais

xergará um grande dólmen contemporâneo de

tarde, notou-se que três pedras, uma ho-

“pedras de concreto”. Ande mais um pouco e,

rizontal sobre duas verticais, eram o início

na avenida Gabriel Monteiro da Silva, verá a

de uma construção. Assim, nasceu o dól-

loja Montenapoleone – é uma caixa suspensa

men, de grande importância na história da

apenas por um pilar central, que é o elevador,

arquitetura por basear a arte de construção

tão simples e tão bela. Uma árvore estilizada

praticada pelos gregos. Um caminho até a

geometricamente. Olhe para o MASP e pro-

edificação dos majestosos templos.

cure os pilotis. Eles estão lá, nos iludindo.

As colunas foram enriquecendo aos pou-

Rosilene Fontes é arquiteta da Construtora Adolpho Lindenberg

ventos. Para integrar a natureza às constru-

São tão perfeitos que estão invisíveis.

cos até se tornar um elemento decorativo in-

Será que estamos carentes de deuses

dispensável, definindo uma ordem arquitetôni-

internos? Aqueles que nos movem a olhar

ca (dórica, jônica, coríntia e de outras ordens).

a vida de dentro para fora, parar, pensar e

A coluna dórica, por exemplo, caracterizava-

refletir? A vida anda tão corrida que, não

se pela simplicidade de sua forma. As cons-

tendo tempo para adorar, deixamos de

truções gregas foram feitas por sábios. Che-

olhar a cidade com a alma.

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arquitetura esquerda LL32.indd 78

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