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SUPLE MENTO

LITE RÁRIO Florianópolis - SC • Março / 2018 • N.144 • Edições A ILHA • Ano 37

A PAZ

(Aqui jaz),

por Rosângela Borges

MIGUEL TORGA no Brasil, por Enéas Athanázio

CARÍCIA Literária,

por Rita Marília

INSPIRAÇÃO, Vontade,

Iniciativa, por Denise de Castro

PASSANDO o Verão no

Inverno, por Luiz Carlos Amorim

MAURA Soares

no Teto de Onze Livros, por Celestino Sachet

A LITERATURA PERDEU SEU POETA GENTIL

TIAGO DE MELO

E O ESTATUTO DO HOMEM

Portal A ILHA: http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br


Florianópolis - SC • Março / 2017 • N.144 • Edições A ILHA • Ano 37

folhas esvoaçantes, pilotadas por brigadeiros ferozes, que lançavam bombas de solidão sobre as letras coloridas, abatendo-as todas, e também sobre meu lençol, que logo ficou sujo de vazio e letras mortas.

minhas pernas não me levariam a nenhum outro lugar: estava paralítica e cega.

Com o resto de energia da última hora, agitei vigorosamente o que eu segurava mas, na Rita Marilia ponta, não havia um pano Florianópolis, SC Fui metralhada, atingida branco e sim uma revista Dormi. Sonhei. em cheio, ferida mortal- que ao ser chacoalhada, desprendia poesia e hinos minha frente, e sobre mente. mim, desfilavam Meu coração, aos peda- de amor. letras coloridas de Derrotei o inimigo. ços, pediu paz. mãos dadas, cantando a roda-cutia enquanto Numa última tentativa Acordei quando, de chovia ternura. Mas, de de sobreviver, levantei minhas mãos, deslizava repente, do outro lado, a bandeira da paz. Ergui suavemente, como uma no horizonte (aos pés) da bem alto, o mais que carícia, A REVISTA SUPLEminha cama, foi surgindo pude usando meu último MENTO LITERÁRIO A uma esquadrilha de mil fôlego, sabendo que ILHA número 143.

CARÍCIA LITERÁRIA

À

a gritar em meus lábios? Toma o luar de minhas mãos luar que reflete os meus olhos e faz morada em meu peito. Adentra minhas paredes quebra essa saudade, mistura com esperança, um bocadinho de paz e constrói uma fortaleza, casa de nossas vidas.

ENLUARAR Luiz Carlos Amorim – Florianópolis, SC

Minhas mãos enluaradas se erguem, a saudar o Universo e iluminam minha saudade, embebida em ternura, encharcada de carinho. Quem habita esse beijo 2


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SUPLE MENTO

LITE RÁRIO

EDITORIAL

M

ais uma edição do Suplemento Literário A ILHA, recheada de prosa e de poesia. É a última edição impressa, devido aos custos de impressão e editoração que, juntos, tornam inviável a manutenção do projeto, assim como era até agora. Mas não, a revista não está acabando, não. Apenas passará a ser digital, on-line, e todos continuarão a ter acesso a ela, através do nosso portal e por outros endereços. É claro que continuaremos a ter o custo da editoração e teremos que dividir com os escritores que publicarem na revista, mas mesmo aqueles que quiserem imprimir,

poderão pedir o arquivo em pdf e assim, se dirigir a um birô de impressão rápida e ter a sua versão tradicional em papel. Mandaremos convite aos escritores que sempre estiveram presentes nestas páginas, com as informações sobre a nova sistemática e esperamos continuar com todos que sempre dividiram conosco e com o mundo as páginas do Suplemento Literário A ILHA, por todos esses quase quarenta anos. Registramos a evolução da literatura nessas décadas e continuaremos a fazê-lo.

para a literatura de nossa gente não pode diminuir, temos que tentar aumentá-lo. E para fazer isso, lançaremos, no segundo semestre deste ano, a revista ESCRITORES DO BRASIL, que acolherá autores de todo o país, novos ou não, que queiram espaço para mostrar a sua produção. Quem quiser se habilitar, o endereço para informações é revisaolca@gmail.com . A revista será on-line, mas como o Suplemento Literário A ILHA, poderá ser impressa por todos aqueles que assim o desejarem.

As mudanças são necessárias, mas o espaço

Boa leitura para todos. O editor

Visite o Portal

PROSA, POESIA & CIA.

do Grupo Literário A ILHA, na Internet, http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br 3


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MENINA E PESCADOR

saciedade.

Taiana Brancher –

sinto as escamas ásperas e lisas ao mesmo tempo,

Tenho um peixe em cada mão,

Florianópolis, SC

contradições que eu estava longe de interrogar.

Eu sou essa menina a quem o pescador curtido de sol

Caminho serena pela praia deserta.

entregou o peixinho que restou na rede,

Vou ao encontro dos meus pais que me observam achando graça

curvou-se em cuidadosa reverência,

Era verão, era 1970. Posso imaginar minha mãe fritando os peixes,

como quem oferece e espera sem pressa o tempo do outro de receber.

com biquini e avental pra não queimar a barriga.

Eu pego o peixe que ele me dá com cuidado,

Posso imaginar a farinha de mandioca,

aquilo tinha uma grande importância,

eu gostava de brincar com ela.

era muito grande esse peixe, e eu mal respirava

Peixe frito com gosto de mar. O pai cantava suas paródias inventadas

Talvez contivesse o tamanho do mar gelado a nos observar

e todos riam em volta da mesa

talvez sua força contra o costão perigoso

O sol quente e a água fria da praia deserta da Joaquina

talvez meu primeiro lampejo de consciência da vida e da morte

a fúria do mar no costão a fúria dos pescadores a puxar a rede

tão pequena eu era, tão solene o momento

a fúria da mãe ao lavar a frigideira

Agitada por dentro, senti-me grande ,

a fúria da menina que não dormia bem

como se levasse o mar inteiro ali na minha mão

a fúria do pai, contra a ditadura Só o peixe jazia em paz

talvez sentisse fome e antecipasse a alegria da

Era 1970. 4


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BRINCAR COM A LÍNGUA Filipa Silva - Portugal

O

meu filho inventou um verbo. Ao início achei que era apenas uma gracinha, mas à medida que ele continua a utilizá-lo, pesem embora as sucessivas correcções, comecei a achar que é um verbo extremamente útil e não percebo porque é

que ninguém se lembrou Hoje dei por mim a fazer um trabalho horrível e notei disto antes. que precisava mesmo de O verbo é horrorar. Que usar o verbo do Tiago. vem de horror e significa Eu horroro este trabalho! ter aversão a algo horrível. Muito mais forte do que Eu horroro odeio, abomino, detesto, Tu horroras desamo. Obrigada filhote, Ele horrora por enriqueceres a língua Nós horroramos portuguesa. Poderás Vós horrorais não seguir os passos da Eles horroram mamã na escrita, mas Exemplo: Mamã, eu definitivamente terás lugar como linguista. horroro esse xarope.

com algumas caras, Pouco e mal contado, alguns sons, incertas e estávamos distraídos, demasiado ocupados vagas. na felicidade para lhe Nuno Camarneiro Lembramos os sapatos fazermos o retrato. Portugal que calçávamos quando alguém morreu, a hora da Somos tolos e sentimentais, temos arcas omos todos uns notícia, o programa que sentimentais e por cheias de mágoas que isso demoramos passava nesse instante não esquecemos e que e até as vergonhas que no que nos dói. abrimos a todo o momento pensámos. a ver se ainda nos doem, Temos o choro fácil que dá ou não dá em Folheemos as páginas do e doem sempre. lágrimas, guardamos as riso e pouco encontraremos, Descuramos o arquivo dores cheias de pormenor algumas frases, momentos do bem que apesar de enquanto as felicidades caricatos, elementos de tudo nos vai acontecendo, somos tolos de lágrimas. ficam por ali, confusas, uma paisagem.

SOMOS TODOS UNS SENTIMENTAIS

S

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Despida de qualquer bagagem Ela respira fundo o ar renovado E recomeça do nada De alma purificada.

UMA HISTÓRIA MUITO ANTIGA Chris Abreu – Florianópolis, SC

Na tela do seu olhar Projetam-se cenas De um passado longínquo Às margens de um rio Em seus trajes surrados Ela caminha descalça Sobre as pedras roliças Desgastadas pelas corredeiras O frio das pedras sob seus pés Relembra tantos invernos Sem trazer calçados As águas que a tocam São ainda mais gélidas Seu corpo estremece Ao mesmo tempo Que sua alma desperta Ela adentra o rio Onde as águas a envolvem Por completo Seus longos cabelos negros Espalham-se pela superfície Parecendo flor de carvão Seu sangue flui veloz Como a correnteza do rio Seu peito arde em brasa Apesar do frio intenso O vento na mata Canta serenata Uma canção de despedida Da vida que ela deixa para trás Então ela ressurge, Sua alma liberta

NOSTALGIA... Lorena Zago – Presidente Getúlio, SC

O tempo passa... Histórias constroemse. Momentos significativos Registram lembranças, Armazenadas no baú da memória. Emoções exaltam-se. Sentidos confrontam-se. Compreensões primam por excelência, De posturas de reciprocidade... A alma está dolorida. Que vazio é este? Momentos a sós, Outros compartilhados... E o tão necessário abraço amigo. O olhar que compreende, A mão que acena, O gesto de solidariedade, A essência que busca, O simples entendimento, E o tempo apontará, As escolhas e o caminhar.... 6


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para enfrentar o frio que quase posso ver como vem rolando pelo céu como quem desenrola um grande tapete.

FRIO PERTO DO MONTE CAMBIRELA

Se naquele inverno recente nevou à beira do mar, como terá sido no Monte Urda Alice Klueger – Cambirela, que quase Blumenau, SC faz sombra aqui, nas da manhã de tardes, e que tem mais segunda-feira, de mil metros de altura? e 14 graus Centígrados no Sertão da Enseada de Brito. Baixará mais oito graus hoje. O céu, de nuvens baixas, está sinistro e ameaçador. Fico pensando se virá chuva ou virá neve – afinal, faz pouco tempo (3 anos? É lindo, esse monte, que 4 anos?) que nevou em é o fim de uma serra com Santa Catarina a nível o mesmo nome e em do mar. As montanhas cujo topo, em profunda próximas têm os cumes caverna, o demônio escondidos pelas nuvens, está preso, segundo a e meus cachorros e mitologia Guarani – meus meus gatos, na noite que vizinhos, no outro lado cá passou, comeram muito do morro de traz, são os mais do que o habitual, Guarani e morro de traz como se estivessem a se chama Morro dos fazer reservas de energia Cavalos. Penso, então,

Dez

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em outros tempos, em outras neves, e em como antigos Guaranis e os antigos Sambaquianos enfrentaram tais momentos de frio nos últimos 6.000 anos por aqui, pois já faz 6.000 anos que a última glaciação se foi e chegamos ao que a ciência chama de “ótimo climático”, que quer dizer que é o clima que temos agora, que nem é tão ótimo assim, principalmente quando penso nos vizinhos Guarani e suas casas desprovidas de quase tudo. Por sorte há lá a Opy, casa sagrada que os protege e garante a prisão para sempre daquele demônio lá no topo do Monte Cambirela. Sim, e lembrar de novo desse morro me leva a outras divagações, e fico a pensar na separação que houve (ainda não terminou) dos continentes africano e americano, e


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dos profundos abalos sísmicos e do tanto vulcanismo que aconteceu, então, para separar assim essas duas terras que eram uma só. O que é Santa Catarina hoje fazia parte de uma terra que na África, hoje, se chama Namíbia, e metade das serras próximas do litoral catarinense estão na Namíbia. Há até pedaços do deserto do Kalahari, na Namíbia, que hoje

LIVROS

MAURA SOARES NO TETO DE ONZE

Celestino Sachet – Florianópolis, SC

Em

2012, ao publicar o calhamaço “A Literatura dos Catarinenses – Espaços e caminhos de uma identidade”, com 626 páginas, entre as centenas de autores nele

são litoral catarinense. hoje à noite é coisa pouca Um morro tão bonito e quando se está numa grande assim aqui na beira casa bem protegida, do mar decerto tem sua com cachorros e gatos outra parte lá do outro dormindo ao redor da lado do oceano – como gente. não pensara nisto antes?

Visto-me de verde com

E então, quando imagino quentes casacos e uso no o ribombar atroador de cabelo uma flor de seda todo aquele vulcanismo que ganhei de presente de e terremotos do tempo uma princesinha encantada da separação, dou-me que às vezes aparece. conta que os seis graus de A chuva já começou e temperatura que haverá a vida segue.

incluidos, reservei duas linhas para Maura Soares. E lhe atribuí a autoria de Cambada de Invejosos, 2006, “crônicas sobre o pecado da inveja”.

seiro, Vida Bandida, Em Poucas Palavras, Um Amor Para Lembrar, O Teatro de Maura, Velhos Guardados e Uma Rua Chamada Pedreira.

Grossa bola fora da minha decisão. A autoria do livro é da Maura, sim, mas irmanada com um grupo de outros coautores amparados pelas asas do Clube de Autores, responsável, igualmente, por outras obras, entre elas: Sobre o Traves-

Maura já estava se ajustando em 19 antologias da Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Nesse meio tempo, ou nesse tempo e meio, Maura, solo, publicou o ensaio A Biblioteca e Seus Patronos, com a vida e a obra dos patronos da

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Biblioteca Municipal Prof. década, em 2004, Lauro Francisco Barreiros Filho. Junkes, com “Poesia Reunida e outros textos”, No ano de 2017, Maura em 430 páginas, dá decidiu navegar sozinha vida a uma respeitada com duas obras de sua análise do acervo das exclusiva autoria: “Rebeldia obras poéticas da autora: e Tenacidade de Maura Cântaro de Ternura, 1931; de Senna Pereira: Poetisa. Poemas do Meio-dia, Amante. Mulher” e um 1949; Círculo Sexto, outro livro com o título “7 1959; País de Rosamor, Dias de Julho” – poema, 1962; A Dríade e os Darconto e crônica. dos, 1978; Despoemas, O primeiro ensaio, dedicado 1980; Cantiga de Amiga, a todas as mulheres que, 1981; Poemas Estórias, no mesmo navegar de 1984; Sete Poemas de Maura de Senna Pereira – Amor, 1985 e Busco a Florianópolis, 1904 – Rio Palavra, 1985. de Janeiro, 1992 – lutaMaura Soares proclama que ram vitoriosamente pelo Maura de Senna Pereira reconhecimento feminino. foi mulher guerreira, alheia Com a obra, Maura Soares às convenções sociais. E desejou incorporar-se a partiu para uma vida plena outros dois catarinenses de amor, depois de ter que mergulharam fundo sofrido uma grande dor na vida e na obra da no primeiro casamento. respeitada poeta. Em “7 Dias de Julho” – É o caso de Pedro Ber- Poema, conto e crônica, a tolino, em “Viagens com obra é alimentada durante Maura”, alargado ensaio 172 páginas e ao longo biográfico e crítico de de sete fases, ou sete duas centenas e meia dias, com produções de páginas, publicado literárias esparsas por em 1993. Passada uma aí e ressuscitadas para 9

brilharem ao longo de nova viagem. Em 4 de julho de 2017, em uma carta, Maura Soares confessa que resolveu tirar as garatujas dos arquivos e publicá-las em livros. Nessa corrida, surgiram oito obras sob o selo do Clube dos Autores. A autora se confessa: “A obra é rodada on-line. Fica, então, no site do clube, para venda. Todos os livros saem impressos, pois assim os pedi. Embora esteja em 19 antologias da Câmara Brasileira de Jovens Escritores, faltava uma que dissesse o que realmente senti quando, a duras penas, consegui um apartamento para que eu e meu filho tivéssemos um teto só nosso.” Para encerrar, vale a pena ouvir que um teto de onze livros em um ano é abrigo que, certamente, todo escritor desejaria tornar conhecido.


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EU E VOCÊ

Angela Neves –

Não sei o que fazer! Não sei se quero saber o que fazer!

Joinville, SC

Caí em mim quando te perdi!

Sem você não tenho chão, Você era meu chão,

Sumi em você quando te pedi,

Mas você não sabia!

Te pedi pra ficar,

Ou fingia que não via!

Te pedi pra não ir,

Hoje, assim, sem querer, vou me esquecer de você!

Te impedi de sonhar, Te impedi de viver.

Dou-te asas para voar, mas se preferir pode ficar!

Caí em mim quando não mais sorri, Quando não mais vivi, Não mais senti,

VIAGEM

O que era ser livre,

Miguel Torga - Portugal

O que era não ter pra onde ir,

É o vento que me leva.

Não ter o que exalar.

O vento lusitano.

É este sopro humano

Sumi em você,

Universal

Não me abrilhantei, Não me superei,

Que enfuna a inquietação de Portugal.

Me inferiorizei,

É esta fúria de loucura mansa

Pra te fazer sentir

Que tudo alcança

Que vivi pra você!

Sem alcançar.

Que vai de céu em céu,

Não tenho pra onde ir!

De mar em mar,

Nem mesmo o que sentir!

Até nunca chegar.

Sentir pena de mim?

E esta tentação de me encontrar

Saudade de você?

Mais rico de amargura

Raiva de nós dois?

Nas pausas da ventura

Por não ter aonde ir!

De me procurar... 10


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incentivo de “abrace Jesus e ele te dará vida farta”. Na ilusão de ser como o vizinho, a pessoa se Maura Soares, ilude. E vem a desilusão, Florianópolis, SC a tristeza, o estresse, a estes dias que depressão e, em muitos correm cada vez casos, o óbito. mais loucos, há que se fazer bastante esforço Esquecem que o que deve para manter a calma ao haver é a reforma íntima. apelo do comércio “com- Mudança de atitudes. pre,compre”, à exposição Procurar a melhoria de na mídia, “vejam como vida deverá ser a meta de estou linda...”, “olhem a todas as pessoas, mas minha casa como está sem perder a ternura, luxuosa”, enquanto na rua o amor ao próximo, o vizinha a mãe com o filho desejo de ascender na doente, sem poder adquirir vida através do trabalho o remédio necessário, faz honesto, do bem viver com que reflitamos que com harmonia.

REFLETINDO A VIDA

N

Preservar a família, os costumes sadios, o sorriso das crianças, o encantamento em tê-las no convívio se não diário, pelo menos nos fins de semana. O “ser” Amor, o “ser” com os entes queridos, cada qual trabalhando em harmonia com os outros, dando e tendo o suficiente para viver com as coisas boas que a vida honesta oferece e não à procura incessante de coisas materiais, na vã ilusão de que se exibindo, às vezes numa falsa alegria – sobretudo nas redes sociais – mostrando carros, joias, casas com ambientes enormes que nem se usam, a pessoa será feliz.

as pessoas estão cada Amar-se em primeiro vez mais desumanas e lugar; procurar obter indiferentes à dor alheia. o necessário para não O “ter” há muito substituiu passar necessidades no o “ser”. A proliferação de mundo atual, em que as Ledo engano. Vã ilusão. igrejas não diminuiu o coisas materiais é que problema, eis que há o são valorizadas. Pensem nisso.

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A PAZ (AQUI JAZ) LIVRO

Rosangela Borges México

Pierre Aderne – Lisboa, Portugal

Essa escuridão, essa rua. Aquela calçada, aquele sapato. A janela. A chuva. Os olhos abertos, O corpo desperto. Uma noite. Uma sombra. Um gato. Um inimigo. Um abraço qualquer. Uma história, um castigo. Aquele caminho, aquela descida. Essa árvore, esse dia. Uma mulher, uma menina. Um pássaro preso. Um lugar perdido. Uma lua. Uma esquina. Uma moeda, um beijo. Os olhos abertos O corpo desperto. Esse medo, essa guerra Aquela vida, aquele sangue. A dor. A lágrima. A terra. Nem fruta. Nem água. A fome, o desprezo. Um grito, uma pedra. A agonia. A morte. A paz. Os olhos fechados, o corpo calado... (Aqui jaz).

eu nunca vou escrever um livro não gosto da ideia de deixar deitado o que escrevo entre duas capas tão duras. os meus poemas são gente humilde deixem os livros para quem faz literatura as palavras que pinto com a caneta devem estar soltas e dormir ao léu cobertas pela lua e pela via láctea dar cambalhotas e pisar no céu. eu nunca vou escrever um livro não conheço nenhum doutoreditor. a ponta do meu lápis é grossa para essa gente tão grãfina prefiro escrever num papel de pão tomando uma cerveja no boteco da esquina. também não sou tão jovem nem moderno para ficar escrevendo em muros mas livro não... não gosto nada de pensar que minhas palavras vão dormir no escuro. 12


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MIGUEL TORGA enfim, “todo serviço que Paulo, além de rever a NO BRASIL podia humilhar o menino.” região em que vivera na A bruxa via no pequeno hóspede uma ameaça Camboriú, SC à herança dos filhos. Os m substancioso maus tratos marcaram ensaio, o escritor para sempre a alma do Pedro Rogério futuro escritor. Moreira rastreou os pasNa segunda visita, já na sos de Miguel Torga no maturidade, foi mais feliz. Brasil. Considerado o maior escritor português Esteve no Rio e em São de seu tempo, Torga esteve por duas vezes no país, a primeira aos 12 anos de idade, quando permaneceu por cinco anos, e a segunda aos 47 anos, já consagrado pela crítica e pelo público, aqui vindo para proferir conferências e outros compromissos literários. Enéas Athanázio – Baln.

E

Órfão em Portugal, Torga foi trazido ao Brasil pelo tio, fazendeiro em Providência, na Zona da Mata mineira. Na primeira estadia, o garoto sofreu toda sorte de humilhações pela “tia torta”, tendo que tratar dos porcos, rachar lenha e até matar cobras no terreno da fazenda, 13

meninice, aonde “vai ao encontro de sua infância...” Adolfo Correia da Rocha adotou o pseudônimo de Miguel Torga, com o qual se consagrou, homenageando Cervantes e Unamuno, além de uma flor agreste que teima em


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vicejar no chão inóspito de sua região natal. Na primeira vinda, viajou na terceira classe do navio inglês “Arlanza”, entregue aos cuidados do comerciante português de nome Gomes, que nem sequer o procurou durante a travessia. No Rio de Janeiro, embarcou num trem da Estrada de Ferro Leopoldina e se deslumbrou com a paisagem montanhosa do trajeto, suas matas e rios, observando as diversas estações onde o comboio fazia escalas. “As serras, os rios e as florestas eram de tal maneira, que não cabiam dentro dos olhos” – anotou ele. Nesse primeiro período, apesar de tudo, frequentou o célebre Ginásio Leopoldinense e teve os primeiros namoricos e paixões arrebatadas. Retornando à pátria, a seu pedido, estudou

medicina na Universidade de Coimbra, cujo curso foi custeado pelo mesmo tio. Formado, estabeleceu-se como médico especialista em ouvidos, nariz e garganta na mesma cidade.

político, como as guerras e as ditaduras.” Ainda que duramente perseguido, jamais deixou de bradar contra a criminosa ditadura salazarista que, como todas, praticava mais um de seus incontáveis crimes. E ainda existe Independente, com sólida quem pregue a implanformação democrática, tação da ditadura! Torga sofreu implacável perseguição pela dita- Torga registra em seus dura salazarista. Esteve diários os nomes de na prisão de Aljube, foi várias estações por onde demitido do serviço médico passou na primeira vinda oficial, suas obras foram ao Brasil, estações da censuradas e foi relegado Estrada de Ferro Leopolao ostracismo cultural e dina, hoje extinta, algumas social. Até sua esposa delas ainda com vida e foi proibida de lecionar outras em ruínas. Fotos literatura portuguesa. “O de muitas delas foram ditador de Portugal levara estampadas no livro. É aos extremos a crueldade curioso lembrar que, na da tia bruxa”, escreve o segunda viagem, o escritor ensaísta, acrescentando: português chegava ao “Torga foi um combatente Rio em 24 de agosto de das letras, que jamais 1954, dia fatídico em que deixou de combater as se suicidava o presidente desumanidades da civili- Getúlio Vargas. São muitas zação, especialmente as as referências ao Brasil produzidas no campo na sua obra.

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PASSANDO O VERÃO NO INVERNO Por Luiz Carlos Amorim - Escritor, editor e revisor, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 37 anos de trajetória, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras. http:// lcamorim.blogspot.

na serra. Esse nosso clima anda mesmo descontrolado. Pois aqui, também, em Braga e no Porto, andamos de manga de camisa no dia 30 de janeiro. Estava um sol esplendoroso e pudemos ficar bem à vontade.

A vista lá de cima é fantástica. Está a 113 metros acima do nível do Tejo e o monumento todo tem 110 metros de altura. O pedestal tem 82 metros de altura e o Cristo Rei tem 28. De lá se tem a melhor vista da Ponte 25 de Abril e uma vista privilegiada do outro Mas a terrinha continua lado do Rio Tejo, as sete linda. O céu de brigadeiro, colinas onde fica Lisboa.

com – http://www.

Já conhecemos muitas cidades portuguesas, como Coimbra, Évora, Guimarães, Óbidos, Ourém, Peso da Régua, Crasto (é cidade? Nem sei, mas é lindo, no Vale do Rio Douro, como a Régua), Porto, Aveiro, Sintra e tantas outras, mas na nona ou décima visita a Portugal, voltamos ao Porto, visitamos Braga, Barcelos (o berço do Galo, um símbolo de Portugal), Cascais, Guarda (Serra da Estrela – tivemos temperatura de 12 graus negataivos), Covilhã, Queluz e ainda temos um sem número de cidades e lugares para ver.

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V

iajamos em quase fins de janeiro, para Portugal, fugidos do calor de mais de quarenta graus, para o frio gostoso que estava em além-mar, oscilando em torno de dez graus. É um frio um pouco mais seco que o nosso, no sul do Brasil. É claro que a gente se preveniu com os agasalhos necessários: casacões, gorros, luvas, cachecóis, suéters, meias grossas. E acaba-se ficando até elegante. Pois eis que senão quando, tivemos notícias do clima no sul do Brasil, da Santa e bela Catarina, que havia geado na serra! Imagine, em pleno verão de dias que ultrapassaram os quarenta graus, geada

com este sol esplendoroso, que refletindo no Rio Tejo, confere essa luz única à Luzboa, é uma beleza. Meus olhos não se cansam de olhar para as belezas dessas terras portuguesas, nem minhas pernas se cansam de andar por elas, para Por falar em ver, fomos admirá-las tanto mais ver a mostra Modernistas quanto possível. Brasileiros, no Museu Estivemos no Cristo Rei Berardo. Uma coleção de Almada, o filhote do imensa e completa de nosso Cristo Redentor. todos os grandes pintores 15


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brasileiros de todas as épocas, como Tarsila do Amaral, Cícero Dias, Di Cavalcanti e Candido Portinari e muitos, muitos outros. Uma oportunidade única de admirar grandes artistas brasileiros. Visitamos outros museus, como o Museu Arquelológico de

Lisboa, o MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia e outros, que conhecimento e cultura não ocupam lugar. Fomos ao espectáculo Rua das Pretas, de Pierre Aderne, no Palácio do Príncipe, mas isso é assunto para outra crônica.

E ainda fomos à França e Itália, desbravamos a Côte D´Azur – maravilhosa, mas isso também é assunto para outras crônicas - e voltamos para Portugal. Muito há para se ver e para se encantar por esses países encantadores, sempre.

te vi, nem te senti Mas sei que estavas lá. Chorei um choro sereno como há muito não chorava E uma mulher estranha, se aproximou de mansinho E mansinho me abraçou, com palavras de conforto, Me disse que um dia passa esta dor dilacerante Que está dentro do pacote enfeitado com um laço. Senti uma enorme calma, minhas lágrimas secaram E a mulher me abraçou e foi-se, assim como veio. Acariciei tua lápide e te disse o que sentia, pedi que me esperasses Num lugar cheio de flores que um dia eu chegaria. Deixei o pacote enfeitado, com fita de seda vermelha Formando um laço bonito, como as lembranças de ti. E parti esperando este encontro que há de vir Filho que tanto amei e não deixarei de amar.

A FITA VERMELHA Mary Bastian – Joinville, SC

Peguei uma fita de seda, emprestada do Quintana. E com ela fiz um laço, elegante, atrevido Vermelho como paixão e amarrei no pacote Em que pus meu coração, partido em tantos pedaços Que não se podia juntar. Levei o pacote enfeitado com o laço feito de fita Lá pra perto de onde está o que restou-me de ti E onde nunca mais voltei, nem para me despedir. Durante estes anos todos, apenas passei por lá Olhando pra onde estavas, mas sem coragem de entrar. Mas ontem, nem sei porque Alguém que também te amou, levou-me pra despedida Que eu me negava a fazer. Procurei o lugar que ocupas, não 16


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A lua, romã dos céus, de seus coxins, acompanhou-me em aventuras de orvalho e almiscar. Tantas vezes, sozinho, escapuli do casulo do sono para deslumbrar-me com os olhos luminosos da madrugada anoitecida, ou dormir, outra vez, ouvindo estórias compridas, contadas pela chuva. Têm sido tantas as faces, tantos os gestos do Amor irmão, brincando de cabra-cega comigo, que, dele, o corpo não se cansou, foi-lhe demais; o velho odre está se esgarçando. Daqui a pouco túneis de lua; galáxias apaixonadas, cometas tontos de alegria, e, pela Constituição do Universo, um passaporte para tornar-me energia amorosa. Obrigado, amigo, por ser parte deste tudo, dado tão gratuitamente.

PAISAGEM COM ACENOS Júlio de Queiroz – Céu dos Poetas

Confesso: foi sempre um tempo palpitante. Nele, apaixonei-me por relâmpagos; vagabundeei, pés e coração nus, sonhando nuvens. Vivi a calma beleza de tardes monásticas e a gritaria azafamada e colorida de portos. Dialoguei com passarinhos na língua dos mariscos; recebi segredos estonteantes que a grama me trazia, mandados por águas escondidas. Participei, em silêncio extasiado, das festas que árvores em flor dançaram com o ar fino. Amei despudoradamente o mar, os ventos e seus amores: as inquietas areias cantantes. Cães aceitaram-me, como igual, em sua confraria;

REVISÃO DE TEXTOS Livros, revistas, jornais, TCCs, artigos, blogs, etc. Revisão e preparação.

Contato: revisaolca@gmail.com 17


Florianópolis - SC • Março / 2017 • N.144 • Edições A ILHA • Ano 37

QUICO Else Sant´Anna Brum – Joinville, SC

Q

uico era um mimoso beija-flor que morava num jardim. Não havia coisa mais linda para ele que aquele recanto. Aliás, ele nunca havia saído de lá desde que nascera. Para ele, então, o mundo era aquele pequeno paraíso. A dona do jardim, Dona Mara, plantava todas as qualidades de flores: as da primavera, as do verão, as do outono, e no inverno seu jardim era um festival de azaléias de todas as cores.

e parecia compreender quando ela reclamava das saíras, tiés e rolinhas que beliscavam os belos figos de sua única figueira.

para os companheiros a seguinte norma:

Quico resolveu então ajudar Dona Mara. Trabalhou um dia inteiro escondido na malha de bananeiras que havia no fundo do pomar e pintou várias faixas com seu biquinho ligeiro:

o biquinho, tomou mais um gole de néctar e de tão alegre que ficou, voou ligeiro e deu um beijo em Dona Mara que naquele momento, muito admirada, lia as faixas estendidas na figueira. Percebeu, pelo beijo recebido, que o trabalho tinha sido feito pelo seu amigo beija-flor. Daquele dia em diante, Dona Mara feliz da vida, passou a colher belos figos inteiros, pois os passarinhos levaram a sério o pedido do pequeno beija-flor.

- De hoje em diante vamos respeitar Dona Mara. Vamos comer somente - Se pelo menos eles alguns figos e deixar os comessem um figo inteiro, outros inteiros. ou meia dúzia, dizia des- Quico espiava a cena consolada Dona Mara, do alto da laranjeira com mas não, bicam todos! grande satisfação. Limpou

Por favor, não belisque todos os figos! Coma um e deixe os outros inteiros! Dona Mara também quer os figos!

À noite ele colocou as faixas na figueira pedindo O que mais encantava ajuda para Dona Aranha, (Else Sant´Anna Brum, Quico eram as laranjeiras que teceu fiozinhos para escritora infantil e edudo pomar, que de tempos segurá-las bem. cadora. cobriam-se de lindas flores brancas. Uma bicadinha De manhãzinha, mal o brumsantos@uol.com.br) aqui, outra bicadinha ali, dia clareou, veio toda a ia ele se empanturrando turma dos beliscadores com o gostoso néctar, de de figos. Ao verem as laranjeira em laranjeira. faixas ficaram surpresos. Que vida boa ele tinha! - Puxa! – disse o tié Dona Mara já conhecia pardo que comandava Quico porque ele ficava o bando – nunca tinha às vezes olhando para ela pensado nisso! Ditou 18


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VOVÔ E A UVA Rita Marília – Florianópolis, SC

QUE VENHAM

Vovô viu a uva A uva não viu vovô A uva não uiva O cão de vovô uiva Vovô viu a noiva na curva A noiva de luva uiva Vovô não usa luva Noite de chuva Vovô uiva Morre vovô na curva

Erna Pidner – Ipatinga, MG

Que venham ao nosso lado a esperança, a coragem de enfrentar o perigo, a alegria de viver. Que tragam mais alento a esse mundo tão conturbado, com guerras e desenganos entre os seres humanos.

Vovô não mais verá a uva Nem a noiva de luva.

Que vençam a bondade, a compreensão e o respeito por nosso semelhante e que possamos seguir adiante mais compenetrados

SEM TÍTULO

de nossa missão.

Gisela Cañamero – Portugal

Que se abram as portas

escreve sobre qualquer coisa mas escreve os dias demasiado longos as noites demasiado úmidas pode ser sobre um gato o futuro trancado nas horas ou a cor do gato a escrita aguenta-te à tona como a força da água deram-te um pontapé com a certeza de que o pontapé te tornaria uma pessoa sensata ou decente mal sabem eles da indecência dos pelos de um gato.

da verdade e da justiça e os caminhos do saber. Que se ultrapassem as barreiras da infelicidade e se espalhe felicidade no ar. Que os povos se entendam e se estendam as mãos. Que a pureza das crianças possa se irradiar em todo e qualquer lugar. Que a estrela-guia seja o arauto da paz! 19


Florianópolis - SC • Março / 2017 • N.144 • Edições A ILHA • Ano 37

INSPIRAÇÃO, VONTADE, INICIATIVA? Denise de Castro – Florianópolis, SC

V

amos conversar sobre algo aparentemente abstrato? Saiba desde já que você precisa destes três elementos para a alquimia textual. Este assunto, para alguns, é também chamado de dom, para outros de talento... quando para nós, chama-se trabalho, simplesmente. Todo e qualquer escritor tem suas "vibes", seus ápices de criação, os quais podem sim ser chamados de inspiração. No entanto, cabe pensar: é ela quem faz o texto surgir e se concluir? INSPIRAÇÃO

Mas que palavrinha, hein? Vive circulando, inundando e pressionando você a escrever algo - ou não. Deixa eu te contar um ponto muito importante, pra começar: inspiração não é o momento de êxtase que boa parte das pessoas denominam, Inspiração é ideia, é convite, é a chamada do papel para você. E deixa eu te contar mais um detalhe: nem sempre as palavras vão desembestar a falar e a aparecer quando a tal inspiração der o ar da graça. Por isso, prefiro mesclar os significados e pensar em inspiração como uma ideia repentina, um convite literário e muita vontade de escrever. O Dicionário Priberam ratifica meu pensamento definindo a palavra, dentre outros contextos, como: "Ideia ou pensamento que surge de repente; a estro." Este texto, por exemplo, tive a inspiração para 20

escrevê-lo enquanto aspirava a casa, entretanto as palavras foram fluindo e se encontrando alguns dias depois, em pedaços, em meio aos meus blocos de notas, até chegar a hora oportuna para completá-lo e revisá-lo antes da publicação. Inspiração é assim mesmo, um negócio louco que te agarra quando menos esperas, daí a importância de melhorar sua produtividade com algumas dicas que vão aqui: Como ser um Escritor produtivo e Ativo? Já imaginou se os cronistas de jornais tivessem que esperar surgir a inspiração perfeita para publicar semanalmente um texto? Essa palavra faz a nós uma pressão enorme e ainda leva-nos a pensar que fatos sóbrios e maravilhosos são inspiradores, quando pode ser totalmente o inverso. Lembro de em minha adolescência ter um fluxo de escrita maior quando


Florianópolis - SC • Março / 2017 • N.144 • Edições A ILHA • Ano 37

estava triste e, inclusive, achava impossível escrever quando estivesse feliz. Até um dia dialogar com Fernando Pessoa, em frente A Brasileira, na cidade de Lisboa e entender a veracidade de seus versos de que​ "O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente."

VONTADE "Somos fingidores, podemos ser." Ele me disse, enquanto tomávamos uma bica. Porque após a

inspiração, vem a Iniciativa. Neste instante, as primeiras linhas vão surgir e, nesse ato, você irá descobrir a necessidade de saber mais sobre a tal ideia repentina, virá a vontade de fazer hiperlinks ou uma literatura comparada; virão flashes de memória - das vivências do dia a dia - a se enroscar com a ficção e com a vontade de traduzir sensações reais ou imaginárias. Neste ir e vir, o lapidar acontece e pode sair, rápido ou lentamente, o tão esperado texto. INICIATIVA Agora, atentem a um pormenor: se você tem consciência de que escrever é também um trabalho e precisa ter a atenção e disciplina para efetuá-lo com precisão, deve já contra-argumentar comigo que essas ideias repentinas nem sempre são aproveitadas. Muitas

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e muitas vezes são tiros pela culatra, descobertos apenas no exato momento em que seu quadril se aconchega no assento da labuta. Muita paz e energias positivas nessa hora, você não está sozinho. Deixe quieta a ideia que não se estica e parta para os seus estímulos favoritos. Entenda estímulos como aquilo que normalmente lhe faz apetecer/querer escrever qualquer coisa, um bilhete que seja. Por isso, é importante conhecer a si mesmo e entender o seu próprio processo de criação. A mim, por exemplo, funciona muito bem estar nos transportes públicos; fazer faxina e a solitude num bar. Brotam muitos pensamentos nestes contextos, cujas experiências se transformam em contos ou crônicas, na maioria das vezes.


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HARPA INERTE

empoeirado na estante

Claudia Kalafatás –

de mais uma vez ouvi-lo tocar.

aguardando o instante

Florianópolis, SC

E, desta maneira, aguardar até que o visceral despertar

Cada um de nós traz em si,

promova a esperada melodia

a capacidade de deslumbrar o mundo

que vá seu coração tocar e eu, em suspensão, quase não presente,

quando tocado pelo amor do outro; E isso, acredite, não é pouco...

em um lugar onde reina a harmonia

Música ecoando no silêncio,

onde teima a esperança

calando cotidianas banalidades,

rastilho de pólvora

despertando o arrepio

acionado pelo vislumbre de um certo olhar de querer

que te traz para dentro de si mesmo,

para nos mostrar as coisas que o amor

trêmulo fôlego... A vida virando as páginas da idade...

pode nos fazer

Harpa inerte que me tornei

Ambíguo sentir-se advertida pela sorte

você querer fazer...

esquecida na empoeirada prateleira;

que acena acerca

Hei!!!! A harpa inerte vem me lembrar

da óbvia curva adiante e, a poucas décadas da morte

sabotando tudo aquilo

perceber a virtude da verdade

que poderia me tornar... Triunfo sobre o nada! Pois sabe-se deste amor

lhe abraçar: confiante!

lindo, imenso, edificante

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SAUDADES DE JOSÉ FERNANDES O professor, escritor e crítico literário José Fernandes, da Universidade Federal de Goiás, morreu na quinta-feira, 22 de Fevereiro deste 2018, em Goiânia, uma perda enorme para a cultura deste país. José Fernandes era um intelectual clássico, o poeta gentil, o amigo de todos. Não sabia de tudo, claro. Mas sabia de quase tudo (inclusive latim). Conhecia literatura brasileira e internacional como poucos. Falava com facilidade sobre escritores díspares, situando-os, com perspectiva abrangente, tanto no contexto histórico quanto no literário.

Há pesquisadores que se especializam no estudo de teorias, mas conhecem muito pouco de literatura. José Fernandes era um intelectual diverso — conhecia literatura e teoria literária como poucos (viveu para o mundo da cultura). Falava sobre existencialismo como se fosse o assunto mais simples do mundo. Conhecia tão bem a literatura dos grandes escritores portugueses e brasileiros, como Camões, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Erico Verissimo, Osman Lins. Era um grande crítico e, também, um grande leitor. Apreciava postar poesia de qualidade no 23

Facebook. Apreciava filosofia e sabia muito sobre, por exemplo Jean-Paul Sartre. Além do crítico, é preciso lembrar do José Fernandes poeta, capaz de altos voos, de rara sofisticação. Manejava a linguagem como poucos. A verdade é que a poesia, a literatura, estão de luto, assim como a crítica séria e consistente. José Fernandes nasceu em Alto Rio Doce, em Minas Gerais. Cursou Letras na PUC, do Paraná. Mestre pela Universidade Federal de SC e Doutor pela Universidade Federal do Rio. O professor José Fernandes morava em Goiás há 37 anos. Ao longo da carreira, escreveu vinte e sete livros.


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primavera e um outono inteirinhos,

VIDA Márcio José Rodrigues –

trezentos e sessenta e cinco dias e tantas outras noites,

Laguna, SC

A vida é a eterna celebração do novo.

tantas auroras e ocasos. Garoas e tempestades, brisas e ventanias.

Do surpreendente, do inusitado. As coisas e as pessoas se movem para dar lugar à renovação.

Quantas vezes você parou para apreciar o céu estrelado sobre o infinito manto negro,

É a alegria do Criador se manifestando a cada dia.

o raio amedrontador riscando a noite escura com seus caminhos de fogo?

Águas estagnadas apodrecem.

A vida é um teatro onde somos ao mesmo tempo atores e espectadores, onde emocionamos pessoas e pessoas nos emocionam.

Existir é rio caudaloso. Alguém comemora seu aniversário. Celebra mais um ciclo de uma volta completa em torno do sol sem ter saído de seu pequeno rincão, secreto e único,

E o espetáculo jamais repete, mudam atores e plateia, mas a mesma peça, nunca mais!

onde se desenrola sua história no universo.

Portanto, vivamos o novo de cada dia a cada dia,

Talvez nem se dê conta,

A eterna evolução de nossa fábula.

mas em cada um deles havia mimos especiais de Deus.

Façamos dela um show digno de aplausos.

Um inverno, um verão, uma

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LINGUAGEM DO MAR Marli Lucia Lisboa (Bulucha) – São José, SC

VIAJAR Aracely Braz - Céu dos Poetas.

O horizonte está vestido por um mar imenso. Longe ou perto balança numa viagem. Possui um valor intenso, Qual será tua linguagem? Com o ruflar de suas ondas, Com o alto e baixo de suas notas musicais, Guardas histórias que não contas, Até a do barco que não volta para o cais ... Estando eu na praia a vagar, Caminhando pela areia fina e quente, No silêncio do barulho ouvindo seu falar, Ouvir suas palavras em cada espuma fremente ... Confusa com o som balbuciante, Fiquei surda, fiquei muda. E como um cavaleiro andante, Cavalguei livre pegando uma onda ... E assim, tornando-me uma alga marinha, Vi a vida lentamente passar ... E no mar, a poesia que continha, Era nada mais do que a Linguagem do Mar ...

No meu barco, Mesmo sem vela, Vou! A exuberante paisagem Reaviva o panorama Do céu azul, do sol e do mar Quando assisto sonora dança De peixes, camarões e outros, Que me saúdam e convidam A entrar em seu doce bailar. Então viajo, voando Sobre mares, vales, montanhas, Cascatas e labirintos. Vibrei com momentos que colhia De ventura e de magia, Sem estrela, sem castelos, Sem sinos ou clarins. No regresso saudava-me de bandeja Inesperada surpresa. Em sobressalto, vibrando, chorei, Porque do sonho acordei. (Aracely Braz nos deixou no último dia 12 de março deste ano de 2018, do alto dos seus 92 anos de juventude, e foi fazer poesia no céu, com Quintana, Coralina, Pessoa, Vó Mariana, Júlio, etc.) 25


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INCONSTÂNCIA

passagem…

Jacqueline Aisenman

preciso dos ires e vires das viragens, da falta de estiagem

– Genebra, Suiça

não quero pisar firme

preciso saber que poderei

não quero terra firme

ser quem sou

sob os meus pés cansados…

sem o medo da constância

quero a areia molhada

mãe de tanta agonia…

das ondas do mar calmo

quando estiver no fim

esperando o vento para dançar…

velha aos pedaços ou

não quero a segurança

ainda agora aos pedaços já…

de um abrigo sob a terra

quando eu estiver no fim

não quero a bonança

nem aí me deem terra…

de saber o futuro como certo…

me deem o mar…

quero o desalinho das curvas

seu sal há de me doar a energia

que desenham a estrada

que permitirá continuar

e surpreendem a cada

a ser…

QUERER

CAETÉS

Harry Wiese – Indaial, SC

Selma Franzoi de Ayala – Jaraguá do Sul, SC

Quero milhões de nostalgias

Flor do mato

em milhões de céus.

Flor do tempo

Quero planar livre

Caetés em flor

como as gaivotas no seu voo matinal.

Perfume dos caetés que me impregnam de saudade

Quero a quietude

Que se espalham por todo o meu Vale

que tonifica as imagens celestes traçadas à maneira de anjo.

Que se espalham por onde vou...

Quero voar como as gaivotas tão soltas, tão poetas. 26


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Não se deve perder a esperança. Nem sempre as situações se apresentam como nós gostaríamos, mas sempre ESPERANÇA se apresentarão do modo Célia Biscaia Veiga – como necessitamos para Joinville, SC crescer em busca de sperança... É o que outros cumes evolutivos. nos mantém em pé Esperança – linda palavra, quando tudo parece que carrega o coração escurecer ao nosso redor. dos que passam por A esperança que consiga- alguma provação. É ela mos manter entranhada que alivia o cansaço em nossos poros, em e dá o estímulo para todo o nosso ser, nos seguir em frente, sem dá ânimo para seguir desanimar. É ela que nos em frente. permite buscar novas

E

formas de viver quando a forma que vivemos se mostra obsoleta. É ela que nos faz reconhecer que a felicidade é possível mesmo quando se tem problemas para resolver. Que possamos sempre mantê-la viva em nossa vida, por maiores que sejam as dificuldades que tenhamos que enfrentar, pois ela nos permitirá no futuro, com os problemas superados, olhar para trás e nos sentirmos vitoriosos.

Do Amor e sempre no Silêncio borda

INEFÁVEL Cruz e Sousa

De estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Nada há que me domine e que me vença

Claros, meus olhos tornam-se mais claros

Quando a minha alma mudamente acorda…

E tudo vejo dos encantos raros

Ela rebenta em flor, ela transborda

E de outras mais serenas madrugadas!

Nos alvoroços da emoção imensa.

Todas as vozes que procuro e chamo

Sou como um Réu de celestial sentença,

Ouço-as dentro de mim porque eu as amo

Condenado do Amor, que se recorda

Na minha alma volteando arrebatadas 27


Florianópolis - SC • Março / 2017 • N.144 • Edições A ILHA • Ano 37

pequenos rasgos de tempo, que te transformam em rio a cada luar, escrito em segredo nos meus versos. Sou eu, a INSTANTES margem que transborRita Pea - Portugal das a cada silêncio da noite. É assim que me (…) sinto artéria, incapaz de Instantes são isso mesmo, sangrar palavras junto instantes. São esses ao coração. Permito-me

caminhar de corpo em corpo, dividir-me em moléculas de vento e invadir as bocas famintas e embriagadas de amor. Só assim me sinto uma unidade, duas ou talvez três, porque o infinito não serve na contagem das minhas mãos… (…)

METEOROS Terezinka Pereira – USA

Nós somos meteoros Infinitamente

CHATINHA

pequenos,

Fátima Barreto – Florianópolis, SC

Frágeis, que na terra,

Uma voltinha?

Extraviados,

Hoje não posso só se for ao passado.

Tomamos forma

Um banho quente?

Mais valioso que o ouro,

É o que minha carne pede nesta noite.

O cristal ou a rosa.

Para beber?

E algum dia,

Em carne e osso.

Viemos do céu

Chá de alecrim, ou melhor, alecrinzinho

Embora enterrados na tumba, Regressaremos ao universo.

P.S: beija-me devagarzinho

Outra vez fulgurantes (Fátima Barreto, a Fátima de E poderosos Laguna, é natural de Laguna, mas reside atualmente em Florianópolis) Como reconstituídos Meteoros. 28


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um viajante com destino traçado, como o fumo deste cigarro que desaparece indeciso

SEM TÍTULO José Luís Peixoto – Portugal

e já esqueceu de onde veio. e rio, rio, rio, perdido e desalmado, de dentes sujos e quase doente,

entre mim e o meu silêncio há gritos de cores estrondosas e magias recortadas dos sonhos que acontecem naturalmente.

porque minha é esta esperança e esta vontade de nascer em cada manhã,

eu sou a cama onde me deito, todas as noites diferente,

em cada rosto, em cada fósforo aceso, em cada estrela.

eu sou o sorriso estridente dos pássaros no céu todo, eu sou o mar, o oceano velho a abrir a boca

rio, rio, rio, porque meu é o amor e o luto e a fome e todas as coisas

numa gruta que assusta as crianças e os homens que conhecem o mundo.

que fazem esta vida que não entendo e persigo. eu sou um homem vivo a sentir cada pedra,

eu sou o que não devia ser e rio, rio,

eu sou um homem vivo a sentir cada montanha,

rio porque sou puro, porque sou um pouco da alegria,

eu sou um homem vivo a sentir cada grão de areia.

porque mil mãos e dez mil dedos me percorrem o corpo

desordenadamente, eu sou alguém que é eu sem o saber,

e me beijam, entre mim e o meu silêncio

entre mim e o meu silêncio há um desentendimento

há uma confusão de equívocos que não entendo e não admito.

esculpido nas flores e nas nuvens, rio, rio, rio,

sou arrogante, porque sou do país em que inventaram a arrogância.

eu sou a vida e o sol a iluminarme.

sou miserável. que sei eu? sou

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Artigo 4 – Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como ESTATUTOS DO a palmeira confia no vento, como o vento confia no HOMEM ar, como o ar confia no Tiago de Melo campo azul do céu.

o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo 8 – Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não Parágrafo único: O homem poder dar-se amor a confiará no homem como quem se ama e saber um menino confia em que é a água que dá à planta o milagre da flor. outro menino.

Artigo 1 – Fica decretado que agora, vale a verdade, que agora vale a vida e que de mãos dadas trabalharemos todos pela Artigo 5 – Fica decretado vida verdadeira. que os homens estão livres Artigo 2 – Fica decre- do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a tado que todos os dias couraça do silêncio, nem da semana, inclusive a armadura de palavras. as terças-feiras mais O homem se sentará à cinzentas, têm direito a mesa com seu olhar limpo converter-se em manhã porque a verdade passará de domingo. a ser servida antes da Artigo 3 – Fica decretado sobremesa. que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo 6 – Fica estabelecido, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de outrora.

Artigo 9 – Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo, tenha sempre o quente sabor da ternura. Artigo 10 – Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, ouso do traje branco. Artigo 11 – Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo 12 – Decreta-se que nada será obrigado Artigo 7 – Por decreto irre- nem proibido. Tudo será vogável, fica estabelecido permitido, inclusive brincar 30


Florianópolis - SC • Março / 2017 • N.144 • Edições A ILHA • Ano 37

com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma Parágrafo único: Só uma espada fraternal para coisa proibida: amar sem defender o direito de cantar e a festa do dia amor. que chegou. Artigo 13 – Fica decretado que o dinheiro não poderá Artigo final – Fica proibido nunca mais comprar o sol o uso da palavra liberdade,

a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante, a liberdade será algo vivo e transparente, como um fogo ou um rio, ou como a semente do trigo, e a sua morada será sempre o coração do homem.

minhas ansiedades.

É MADRUGADA AINDA

Minhas vontades.

Arlete Trentini dos

Dou um suspiro profundo.

Santos – Gaspar, SC

Penso em levantar agora,

É madrugada ainda

E te encontrar na calada da noite.

Acordo num sobressalto.

Umedeço levemente os lábios

Melhor não!

E parece que te sinto. Um gole de água gelada

Sou forte.

Para refrescar meus pensamentos,

E venço esta infame tentação Mesmo que me doa o coração.

EXPEDIENTE Suplemento Literário A ILHA – Edição 144 – Mar/2018 – Ano 37 Edições A ILHA – Grupo Literário A ILHA – contato: revisãolca@gmail.com A ILHA na Internet: portal PROSA, POESIA & CIA. http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br 31


LITERARTE

“No tempo da magia” é a história de um homem, uma mulher, um menino e um passarinho – quando se combinam esses quatro seres, quase tudo pode

ser possível e as barreiras entre o que pode e o que não pode deixam de existir, e cavernas de ar rosa-claro e azul e praias do sol nascente e do sol poente passam a ser apenas detalhes no entorno de uma Vila.

ano e será on line, digital, virtual. Os escritores que quiserem participar do novo projeto e ter a sua produção lida por leitores de todo o Brasil e do resto do mundo, contatem a redação pelo e-mail revisaolca@gmail. com, que enviaremos todas as informações. A revista é on line, mas

qualquer dos autores que publicarem nela poderão imprimi-la, se quiserem, pois poderemos disponibilizar os arquivos em pdf para serem usados em qualquer birô de impressão rápida, possibilitando, assim, aos mais conservadores, que tenham a revista em papel.

totalmente novo para um ser que emerge para ele. E, também, é a descoberta do outro, Marli Lúcia Lisbôa, a Bulu- do próximo. cha, poeta e prosadora, “Hora H tem o privilégio de está com novo livro no estar sempre na hora certa prelo, para lançamento porque trata do humano em maio. É uma novela, na sua especialidade que que trata do nascimento é perguntar, porque trata para o mundo, da des- da dimensão que mais nos coberta de um mundo aproxima da Energia Maior,

que é a capacidade de provocar o diálogo com o semelhante. Porque trata do que todos nós desejamos, que é ser Gente!” (Fátima Barreto)

NOVO LIVRO DE URDA Urda Alice Klueger, uma das representantes mais importantes da literatura de Santa Catarina, está com seu novo livro, “No Tempo da Magia”, pronto para ser publicado. Lançou uma campanha no site Catarse, para obter os recursos para a publicação, que os tempos não

REVISTA ESCRITORES DO BRASIL O Grupo Literário A ILHA está prestes a abrir mais um espaço para a literatura dos catarinenses e dos brasileiros. A nova revista ESCRITORES DO BRASIL será lançada no segundo semestre deste

A HORA H DE MARLI LÚCIA LISBÔA

estão fáceis para ninguém. Quem quiser participar do projeto, acesse o site Catarse, pois terá em troca o novo livro da autora e outros dos vinte e quatro já publicados.


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