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RENASCER
CONTO
LUIZ CARLOS AMORIM
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RENASCER
Dia lindo de sol, apropriado para sair e ver a natureza, encontrar pessoas, festejar a vida. Rose, no auge da sua juventude, cheia de sonhos e com uma vida inteira pela frente, tomou o café da manhã e saiu para a faculdade. Estava no início do curso de História, pensava em se especializar em arqueologia. Uma garota bem educada e bem integrada à família, que gostava de estudar e usufruía de tudo o que a idade podia lhe oferecer, sem exageros. Como toda menina de sua idade, tinha um namorado, Felipe, e os dois se davam muito bem. Tinham quase a mesma idade, eram jovens e se curtiam muito. - Vamos à praia no final de semana? – perguntou Felipe na sexta, depois do trabalho, ao se encontrarem na faculdade. - Claro que sim. Vamos aproveitar este tempo bom. E no sábado, quase cedo – que, afinal de contas, era sábado! – lá foram os dois a caminho da praia. O trajeto já estava concorrido, pois outras tantas pessoas também queriam aproveitar o sol do quase verão. Divertiram-se muito e, de volta em casa, ao tomar banho para tirar o sal da pele, Rose percebeu alguma coisa diferente em um dos seios. Parecia um pequeno caroço. Tentou apalpar mais para ver se, de repente, aquilo não se desvanecia, mas a pequena massa continuava ali. Não disse nada a ninguém, mas decidiu que ia procurar um médico para saber o que era. O desconhecido a assustava, mas prometeu a si mesma manter a calma e ver o que o médico lhe diria. Na segunda-feira, marcou consulta com seu médico, pois ele saberia o que fazer, que exames fazer para ter um diagnóstico. Conseguiu uma data próxima, iria encontrá-lo na quarta. A família e o namorado acharam que havia alguma coisa diferente nela.
- Está tudo bem, filha? Parece preocupada… - disse-lhe a mãe, depois do almoço. - Não é nada, não, mãe. Muita coisa pra fazer, talvez. Trabalho da faculdade para terminar, deve ser isso. O namorado também notara. - Está um pouquinho triste, meu bem? - Não, só um pouquinho cansada, talvez. E tentou agir como a Rose de sempre, alegre e falante. Chegada a quarta-feira, foi finalmente ao médico. Ele a examinou, mas não deu nenhum diagnóstico. - Vamos fazer alguns exames, para que possamos saber exatamente o que está acontecendo, está bem? Primeiro vamos fazer a mamografia. E encaminhou-a a uma clínica. Rose fez a mamografia e voltou ao médico, esperando muito que não houvesse nada grave naquele exame. - Realmente, há uma lesão suspeita que precisamos investigar. É preciso fazer uma biópsia. – disse-lhe o médico. Ela fez a biópsia e o resultado não foi o que esperava: era câncer, infelizmente. - É necessário que façamos uma ressonância magnética para sabermos se há algum outro nódulo menor, além deste que encontramos, antes de decidirmos sobre a abordagem terapêutica mais adequada. – o médico alertou Rose. Marcaram a ressonância e os exames laboratoriais e agendaram um retorno, para com esses resultados, decidirem a conduta a seguir. Ela ficou desesperada, como qualquer ser humano que recebe uma notícia parecida. Teria que contar à família e ao namorado e seria como uma bomba caindo sobre todos. Precisaria da ajuda da família, claro. Eles tinham que saber. E foi para casa. Não quis dirigir, pois sabia que não estava em condições. Pegou um carro de aplicativo, pediria para o namorado pegar seu carro mais tarde. Ao chegar em casa, todos notaram a tristeza de Rose. - O que aconteceu, filha? Por que está assim tão abatida? – Sua mãe, dona Lúcia, foi abraçá-la. Ela começou a chorar. - Ah, mãe, tenho que contar uma coisa a vocês e não é boa. Dona Lúcia franziu o cenho, assustada. - O que é, filha? – e a mãe abraçou-a de novo. - Estou com câncer em uma das mamas. Senti um caroço e fui consultar meu médico, fiz os exames e ele comprovou, com a biopsia, que era maligno. Mas há tratamento, se estiver no início. Todos compartilharam a tristeza de Rose, chocados, mas tentaram animá-la. - Se há tratamento, vamos a ele, filha. - Claro, muitas pessoas ficam completamente curadas, meu amor. – Felipe a amparou, carinhoso. - Eu sei, mas vou ter que
fazer cirurgia, há o risco de tirar parte do seio. Vou ficar mutilada, pode ser que tenha que fazer quimio, nunca pensei em passar por uma coisa assim… - O importante é sacar fora a doença, Rose. – disse-lhe o pai. – E não sabemos ainda o que vai ser retirado, pode ser só o nódulo. E então não precisará de plástica, nem de quimioterapia, minha filha. Mas ela estava com medo. Sua vida sofria um baque muito violento e ela tinha receio de que tudo mudasse dali em diante. Apesar do carinho da família e de Felipe, que sempre que podia estava por perto para dar-lhe força, ela foi entrando em depressão. Com o acompanhamento da família e do namorado, fez a ressonância, voltou ao médico e constataram que havia apenas um nódulo. Com este bom prognóstico, optaram pela cirurgia conservadora, o que não modificou, infelizmente, o medo de Rose em relação à doença. Até chegar a data da cirurgia para retirada do tumor, Rose ficou muito abatida. Não fosse o apoio de todos a sua volta, não se sabe o que poderia ter acontecido. Já não se importava de morrer, como se tudo tivesse acabado para ela. Chegou mesmo a desejar a morte. Felizmente o dia da cirurgia chegou e o nódulo foi extirpado. Tudo correu bem e o médico ficou muito satisfeito com o resultado. - Seu seio está limpo, agora é se restabelecer para tocar a vida. Como não ficou nada, nenhum resquício da doença, não precisará nem de químio. Mas faremos uma nova ressonância, depois que você se recuperar, para ter certeza de que não há mesmo necessidade. - Obrigado, doutor, é como se eu estivesse renascendo para a vida. Não houve necessidade de mais nada. Rose estava curada. E a vontade de viver voltou, o sorriso foi voltando, devagarinho e Rose viu que a normalidade estava sendo restaurada. A vida, agora, tinha muito mais valor. A força da família e do namorado fora primordial para mostrar-lhe que não estar sozinha significa cem por cento de esperança e fé no futuro. Um novo verão chegou e numa nova manhã de sol e de luz, Felipe perguntou a Rose: - Que tal uma praia, para aproveitar esse dia lindo?