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UMA VIDA DE LETRAS

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DONA JACIRA

DONA JACIRA

ENTREVISTA

LUIZ CARLOS AMORIM

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UMA VIDA DE LETRAS

Luiz Carlos Amorim é natural de Corupá (SC), a cidade das cachoeiras ao pé da Serra do Mar, onde nasceu em 16 de fevereiro de 1953. É formado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Joinville. Bancário aposentado, reside em Florianópolis e Lisboa, onde escreve contos, poesia, crônicas, artigos, etc. É fundador e coordenador do Grupo Literário A ILHA, que completa, neste ano de 2022, QUARENTA E DOIS anos de existência e resistência – único órgão cultural a permanecer tanto tempo na luta. É editor das Edições A ILHA, com mais de 100 títulos já publicados, além do Suplemento Literário A ILHA, revista trimestral que reúne a produção dos integrantes do grupo, de escritores do estado, do país e até do exterior, com 42 anos de circulação, da revista Mirandum, da Confraria de Quintana, e da revista ESCRITORES DO BRASIL, o mais recente sucesso editorial das Edições A ILHA. O autor tem 33 livros publicados, de poesia, de crônica, de contos, infantil e de história literária. Três outros estão no prelo, para lançamento este ano: LIVRO DE VIAGEM, DIÁRIO DA PANDEMIA e A NOVA LITERATURA CATARINENSE – 2ª. Edição revis-

ta e ampliada. Foi eleito a Personalidade Literária de 2011 pela Academia Catarinense de Letras e Artes e ocupa a cadeira 19 da Academia Sul Brasileira de Letras. Foi o representante de Santa Catarina no Salão Internacional do Livro de Genebra, com o lançamento de 3 obras suas, participação na antologia Varal do Brasil e com a divulgação de escritores que não puderam ir, com a revista Suplemento literário A ILHA. Editor de conteúdo do portal PROSA, POESIA & CIA. e autor de 33 livros de crônicas, contos, infantojuvenil e poemas, três deles publicados no exterior. Co-autor de várias antologias, pelo Brasil e pelo mundo, como "Selected Writings" - Colorado-Estados Unidos; "Mar, Poema e Imagem" - FCC Edições, Florianópolis; "Antologia da Nova Poesia Brasileira" - Fundação Rio, Rio de Janeiro, "Poesia Brasileña para el nuevo milênio", "A Poesia Catarinense do Século XX", "UK Brasil - Antology of Poems" – Londres, “Varal do Brasil” - Suiça, Poetas da ILHA, etc. Colaborador de revistas e jornais no Brasil e exterior – tem trabalhos publicados na Índia, Rússia, Grécia, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Cuba, Argentina, Uruguai, Inglaterra, Espanha, Itália, Cabo Verde e outros, e obras traduzidas para o inglês, espanhol, bengalês, grego, russo, italiano, francês -, além de colaborar com vários portais de informação e cultura na Internet, como Rio Total, Telescópio, Cronópios, Alla de Cuervo, Usina de Letras, etc. Pergunta – Luiz Carlos Amorim, é sabido que você é um pioneiro em lançar “novos espaços” para a poesia, como por exemplo o Poesia no Shopping, Poesia na Rua, Pacote de Poesia, Poesia Carimbada, Poesia na Escola, etc. Poderia nos falar sobre eles quanto à dinâmica e se algum deles existe de forma ininterrupta?

Luiz Carlos Amorim –

Pois é, esses projetos foram surgindo com o tempo, com a necessidade de novas maneiras de divulgar a poesia. Começamos com o Varal da Poesia e o Recital de Poemas, nas praças, nas feiras, nas escolas, bares, etc. e nos anos 90 o varal transformou-se em Poesia no Shopping, pois os tempos assim o exigiam, já que a maior concentração de público passou a ser nos shoppings. Esse trabalho continua em alguns shoppings, em escolas e nas feiras do livro. O projeto Poesia na Rua é mais dispendioso, ele implica na produção de outdoors e no aluguel dos tapumes. Por isso, não tem uma periodicidade. Quando conseguimos recursos ou uma pareceria com alguma empresa de outdoors, entra em ação o Poesia na Rua. O Pacote de Poesia é um livro de formato diferente: as páginas são folhas soltas dentro de um pacote pardo (tipo de pão), que se transforma na capa do livro. Já tivemos três edições e brevemente teremos outra. Poesia Carimbada é um projeto sempre em ação: onde o grupo vai, ele pode ser aplicado, impresso em qualquer superfície. Apenas renovamos os carimbos com novos poemas de tempos em tempos. O projeto

Amorim e Agualusa Poesia na Escola é o mais barato e um dos que dá muito retorno, pois como é uma apresentação com poemas de integrantes do grupo, ele pode ser enviado por e-mail e só depende dos professores usarem o material ou não. Tem dado resultado, pois somos convidados para comparecer a algumas escolas para conversar com os alunos. Pergunta – “... os projetos foram surgindo com o tempo, com a necessidade de novas maneiras de divulgar a poesia...” Então, poder-se-ia dizer que apesar do caos cotidiano sempre há espaço para a poesia. Na sua opinião, o que mais contribui para a criação artística: um mundo maravilhoso ou um mundo mais conturbado? Luiz Carlos Amorim – Eu acho que nem uma coisa nem outra e as duas coisas: qualquer que seja o tempo, há que haver lugar para a poesia, ou então o ser humano ficará totalmente insensível, duro, muito mais do que é hoje. A poesia e a infância são nossas esperanças de salvação. Se soubermos educar nossos filhos, quem sabe o amanhã não será melhor? Eu diria que o que contribui mais para a criação artística é o fato de podermos ver – não só os poetas, mas talvez mais eles – que o mundo ainda é bonito, apesar do caos, apesar do desrespeito à natureza e ao ser humano. É a capacidade de ver essa beleza, olhar com olhos de • 54 •

poeta que faz com que tentemos mudar esse estado de coisas que torna o mundo um lugar tão perigoso de se viver. E ao mesmo tempo tão bom. Depende de nós. Pergunta – Você já publicou em Grego, Bengalês, russo, italiano, inglês, espanhol, francês, entre outros idiomas. Estas publicações são de obras avulsas ou todos são livros, a exemplo do “The Color of the Sun”, a versão inglesa do seu livro “A cor do Sol”?

Luiz Carlos Amorim –

Livros, tive apenas quatro publicados lá fora. Esse que você citou em inglês, a versão dele em espanhol, “The Poet”, também publicado pela IWA – International Writer Association (USA), do qual faço parte, e a edição em cinco idiomas – português, inglês, espanhol, francês e italiano, de uma antologia poética minha. No mais, são poemas e textos traduzidos para outros idiomas que são publicados em jornais, revistas e antologias pelo mundo. Pergunta – É longa a sua trajetória literária; mais de quarenta anos. Você pôde se dedicar exclusivamente à sua vida de escritor ou isto foi algo paralelo com outras atividades profis-

sionais? Luiz Carlos Amorim – Há mais de dez anos estou aposentado, então posso dizer que me dedico exclusivamente a ler e escrever. É claro que tenho atividades como dança, tai-chi, hidro, musculação, caminhada, edito duas revistas e faço a manutenção/atualização do portal Prosa, Poesia & Cia. do Grupo Literário A ILHA, além de um blog diário, mas posso me dedicar muito mais agora a escrever, tanto que colaboro com dezenas de jornais, revistas e sites no Brasil e pelo mundo afora. E posso, também, me dedicar mais aos meus livros, publicar fora do Brasil. Até me aposentar, para ler e escrever tinha que dividir muito bem o tempo, roubar um pouquinho do tempo com a família, que do trabalho não havia como prescindir. Mas valeu a persistência, porque hoje, graças a Deus, sou reconhecido e respeitado no meio. Pergunta – Uma sua crônica fala sobre a “doação de livros”. Você acredita que se a condição financeira dos brasileiros fosse outra, elas comprariam mais livros?

Luiz Carlos Amorim –

Quero acreditar que sim. Digo isso porque quando há (havia?) coleções literárias à venda nas bancas de revistas e jornais, por preços bem mais convidativos, vende tudo. Os sebos vendem muito livro, principalmente os mais atuais, que muita gente compra, lê e depois vende para o sebo, pois muitas vezes não têm onde guardar. Então acho, sim, que se a condição financeira dos brasileiros fosse melhor, comprariam

muito mais livros, até porque a educação e a cultura também seriam mais apuradas, o que por si só já significa mais leitura. A educação ruim que temos no Brasil, com o ensino sucateado, tem muito a ver com a falta do hábito da leitura. Pergunta – “Mirandum” é uma publicação que você coordena e edita. Você poderia falar um pouco sobre • 55 •

a Confraria de Quintana? Luiz Carlos Amorim – Os editores da Mirandum, na verdade, somos eu e a Maria de Fátima Barreto, de Laguna. Ela teve a ideia e eu a adotei, pois sou admirador inconteste do poeta Quintana. A Confraria de Quintana é uma tentativa de reunir numa mesma publicação todos aqueles escritores que são leitores do grande poeta. É uma reunião de gente que gosta do que Quintana escreveu e que escreve sobre a obra dele e sobre ele, também para combater aquele mania de alguns "formadores de Opinião" ou "críticos de literatura" que insistem em colocar em dúvida a grandeza de Quintana. Então a Confraria de Quintana existe e publica a Mirandum para dizer ao mundo que Quintana é, sim um dos maiores, senão o maior poeta do Brasil. Pergunta – Na sua opinião o estilo é algo mais ligado à decisão do escritor ou seria o resultado da soma de fatores como a cultura, experiência e amadurecimento de cada um?

Luiz Carlos Amorim –

Penso que seria o resultado da soma de fatores como a cultura, experiência, amadurecimento, criatividade e leitura de cada um, pois o

estilo é uma coisa que raramente está definida na primeira obra do escritor. O estilo vai sendo construído, moldado, com a prática. É escrevendo que se adquire a nossa identidade literária. Pergunta – Algum autor em especial influenciou você durante a sua trajetória de escritor?

Luiz Carlos Amorim

– Quando comecei a escrever, lá pelos quatorze, quinze anos, eu lia, ainda, apenas os clássicos da literatura brasileira. Logo em seguida comecei a ler os grandes clássicos universais e os grandes contemporâneos. Descobri, também, Quintana, Coralina, Pessoa, Amado. Então, acho que querendo ou não, Quintana e Coralina me influenciaram. E Urda Alice Klueger e Dr. Enéas Athanázio também, pois sempre os li, desde que começaram a publicar. Pergunta – Atualmente, com a internet, temos oportunidade de conhecer muita produção escrita, principalmente a poesia. Isto poderia ser um indicador de que as pessoas gostam sim, de poesia? Então porque será que poesia não vende tanto quanto os romances? Luiz Carlos Amorim – A Internet é uma vitrine democrática, onde qualquer um pode colocar a sua produção, seja ela boa ou não. O que não significa que vai ser lido. Nem tudo é lido. O que é bom se destaca, ganha mais visibilidade. É óbvio que com o advento da internet, a poesia é muito mais lida do que se ela não existisse. Mas quem gosta mesmo lê na internet,

até copia para ter e ler mais vezes, mas compra livro também. Há muito plágio ou apropriação indébita na internet, mas esta já é uma outra história. Pergunta – Ainda com relação à pergunta anterior, será que muitas destas pessoas não escreveriam poesia apenas como um meio de extravasar os seus sentimentos?. É cansativo ler três, quatro, cinco poemas sentimentalóides. Será que esta característica é o que afasta os leitores e compradores de livros de poesia?

Luiz Carlos Amorim –

Sim, pode ser, há muita gente que escreve pensando que está fazendo poesia, mas na verdade não está. Muita vez é prosa em forma de verso, e prosa ruim. E não é nada agradável ler um poema que não é poema e não contém poesia. E nem sequer é uma boa prosa. Isso pode afastar o leitor. Eu imagino um leitor que não costumava ler poesia, tentando aderir a ela e ter o azar de lhe cair às mãos, logo de cara, uma coisa ruim. Esse leitor vai voltar para o romance, para o conto, etc. e não vai querer mais saber de poesia. Pergunta – Na sua crônica “Para Gostar de Ler” você fala sobre a importância de haver livros em casa, despertando a curiosidade da criança, e também do papel da escola neste processo de amor aos livros. Grande parte dos jovens e crianças de hoje não conseguem interpretar um texto, um bilhete, além de escreverem errado. Na sua opinião, a que se deve este fiasco na Educação atualmente?

Luiz Carlos Amorim –

Esse fiasco tem muitas causas. A educação de nossos filhos mudou muito, de umas duas ou três gerações para cá. Então deixamos nossos filhos fazerem o que querem, para não nos incomodarmos, não lhes damos muitos limites e a liberdade excessiva faz com que eles façam escolhas erradas ou não muito saudáveis. E a escola vai pelo mesmo caminho. O ensino está cada vez mais fraco e as crianças, às vezes, passam de ano sem merecer. Os pais e os professores já são das gerações permissionistas, da liberdade exagerada, da televisão em demasia, da internet, dos jogos, etc. O governo relega a educação a último plano, colaborando para a sua falência. Então é um círculo vicioso. Pergunta – Parabéns pela publicação do seu livro "Histórias de Natal” e também de ‘MEU PÉ DE JACATIRÃO”, “Portugal, Minha Saudade”, “O Vale das Águas”. Fale um pouco sobre eles. Luiz Carlos Amorim – O livro "Histórias de Natal" é uma coletânea de contos sobre a data magna da cristandade. O tema é cativante tanto para quem escreve como para quem lê. Então, quando a minha editora, Urda Klueger, me propôs publicar um livro só de contos de natal, comecei a trabalhar nele e levou alguns anos para chegar até ele. Os leitores estão gostando. A internet facilita muito o feedback, atualmente. “Meu Pé de Jacatirão” é um livro de poemas, com poemas mais antigos lado a lado com os mais atuais. Já esgotou também a segunda edição. “Portugal Minha Saudade” é um livro de crônicas sobre aquela terra fantástica, sua gente, suas belezas tantas, seus vinhos, sua comida, sua música, tudo. Tão fantástica que estou morando metade do ano lá e metade aqui. Já “O Vale das Águas – o paraíso de água doce – é um livro de crônicas sobre minha terra natal, Corupá, a terra das cachoeiras. Com muitas fotos em cores, para estampar um pouco de toda a beleza natural daquele lugar. A natureza tem queda por Corupá. Todos esses livros estão disponíveis na Amazon. Pergunta – Há pessoas que dizem "não acreditar em Deus". O estranho é que elas arrumam presépio no Natal, os filhos casam na Igreja e até fazem promessa. Será que declarar "não acreditar em Deus" traz alguma forma de status nestes tempos atuais? Luiz Carlos Amorim – Eu não tinha pensado nisso, mas pode haver algum sentido nisso. Dizer que não se acredita em Deus causa polêmica e que melhor maneira de se manter em evidência do que provocar polêmica? Deve ser muito difícil não acreditar em

uma força superior, não importa o nome que se lhe dê. Porque há que haver uma força superior que rege o universo, isso é inegável. Pergunta – Você ocupa uma cadeira na Academia Sul Brasileira de Letras e foi eleito a Personalidade Literária de 2011, pela Academia Catarinense de Artes e Letras, pelo livro “Nação Poesia”. Que diferença isso faz?

Luiz Carlos Amorim –

A diferença que faz é a constatação do reconhecimento do trabalho que venho realizando nessas mais de quatro décadas em prol da criação de espaços para a nossa literatura e da divulgação de nossos escritores. O Grupo Literário A ILHA, que coordeno, teve muito a ver com isso. Pergunta – Você esteve representando a literatura catarinense no Salão Internacional do Livro de Genebra. Como foi isso? Luiz Carlos Amorim – Fui convidado pela editora do Varal do Brasil, Jacqueline Aisenman, brasileira que divulgou a literatura brasileira a partir de Genebra, na Suiça. Agora ela vive em Portugal. Eu já conhecia Genebra e foi muito bom voltar para lançar meus livros lá. É incrível estar num país onde não se fala a nossa língua e ter os livros comprados por portugueses, angolanos, cabo-verdianos, etc. É muito bom ser prestigiado num lugar onde não se é tão conhecido. É fascinante você estar numa feira internacional longe de casa e ouvir, pelo serviço de alto-falantes do Salão, que algumas pessoas estão procurando por um escritor brasileiro, e ouvir o meu nome. Pergunta – Alguma mensagem especial para os leitores?

Luiz Carlos Amorim

– Sim, que leiam, leiam muito, de tudo, e também e principalmente, conheçam os escritores da terra de cada um, os escritores que estão perto. E se gostarem, deem livros deles de presente para amigos que gostam de ler. E, ainda, doem seus livros depois de lidos: para escolas, para pessoas, para asilos, orfanatos, etc. Não os deixem presos em gavetas ou prateleiras. Pergunta – Últimas palavras?

Luiz Carlos Amorim –

Fico feliz por ter a oportunidade de dar a conhecer um pouquinho de mim aos leitores. Sou um cara simples, que gosta da família, da natureza, de ler e escrever, de conhecer pessoas, de conhecer novos lugares. Que não se preocupa muito mais com horários, mas que não perde a hora para fazer tai-chi, hidroginástica, musculação, dança de salão. Para caminhar, ler e escrever, não há necessidade de agendar hora. Mais sobre mim e o meu trabalho pode ser encontrado no portal PROSA, POESIA & CIA., em https://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br , na minha página e na página do Grupo Literário A ILHA/Escritores do Brasil, no Facebook e no meu blog Crônica do dia, em Http:// luizcarlosamorim.blogspot. com.br . Leiam meus livros em e-book disponíveis na Amazon, por preços quase simbólicos.

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