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A ILHA

SUPLEMENTO LITERÁRIO

Florianópolis(SC) - Agosto/2017 - N.141A - Edições A ILHA - Ano 37

Edição Especial

CONFRARIA DO PESSOAS

Portal A ILHA: Http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br


SOMOS A CONFRARIA DO PESSOAS A Confraria do Pessoas tomou forma numa noite fria de 2016 quando, nas sincronicidades do cotidiano, um sarau abriu tempo e espaço para os dispostos à Poesia. Sincronicidades mui virtuosas providenciaram o encontro transmutando meros desconhecidos em Pessoas afins. Vimos o que a Poesia Início: Roney, Norma, Amorim e Fátima havia criado e achamos bom. Houve, no entretanto, o momento em que as trocas virtuais já não bastavam, então providenciamos afetuosos esbarrões no mundo dito real. – Um sarau! Alguém disse. A criação de uma Confraria foi a sobremesa inevitável. A escolha do patrono foi unânime e uníssona: - Pessoa!!! De lá para cá, ocorreram encontros esporádicos. Agora estamos perfilando armas e assumindo a responsabilidade visto que o Mundo está muito feio e o Tempo urge. Encontros semanais, sopa, café, vinho, visitas a museus, arquivos históricos e exposições, lançamentos de livros, visitas guiadas a sítios históricos, tudo é desculpa para o desfrute da Arte, da Música e da Poesia. Elegemos Pessoa, mas apreciamos e degustamos todos os poetas, inclusive o nosso próprio fazer literário. Em vez de Confrades e Confreiras, tratamo-nos por “Pessoa”. Pessoa Fulana de Tal, Pessoa Sicrano de Tal. Que tal? Em tempo e antes que te perguntes: Por que “Pessoas”? Por que o Fernando é vasto, oras! Na Confraria tudo é novíssimo de tão velho e a cada encontro experimentamos lugares, recebemos visitas, acolhemos um novo achegado e inauguramos jeitos mantido o propósito do Ativismo Poético com os dados proselitismos: nossa causa é a Poesia. Nossa religião, a Beleza. Nosso único partido, a Utopia de mundar o Mundo para melhor, pois pra pior já tem muita gente trabalhando. Sim, nós estamos querendo te convencer.

(Texto de Norma Bruno)

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A ILHA

SUPLEMENTO LITERÁRIO

EDITORIAL

APRESENTANDO A COFRARIA DO PESSOAS O Grupo Literário A ILHA tem o prazer de apresentar a Confraria do Pessoas. Os poetas Roney e Norma tiveram a ideia, chamaram a Fátima e este que vos escreve e iniciamos este encontro de escritores que tem como patrono o amado Pessoas, vasto e múltiplo. E o grupo foi aumentando, pois muitos amam o Pessoas, amam a poesia de Fernando Pessoa, a multiplicidade de Fernando Pessoa e amam Portugal, a terra do grande poeta. E chegaram Chris, Marli (Bulucha), Cláudia, Denise, Rita e outros vão chegando. Entre outros tantos projetos, está uma incursão dos poetas pela terrinha, Portugal, e uma antologia da Confraria do Pessoas, mas enquanto o primeiro livro reunindo o grupo de poetas não sai, o Grupo Literário A ILHA empresta a sua revista para uma primeira publicação. Então aqui está uma edição especial do Suplemento Literário A ILHA com os poetas da Confraria do Pessoas, a primeira coletânea do grupo. Ela é lançada no segundo Sarau poético-etílico-gastronômico do grupo, quando o primeiro faz aniversário.

O Editor

Visite o Portal PROSA, POESIA & CIA. em do Grupo Literário A ILHA, na Internet, Http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br 03


FERNANDO PESSOA MAR SALGADO

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.

Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quere passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.

E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. 04


CHRIS ABREU

Chris sempre escreveu sem compromisso, e só para si. Quando adolescente, escrevia poemas inspirados no êxtase e nos lamentos das paixões típicas daquela idade. Morria de amor, fosse por relacionamentos reais ou platônicos. O importante era sentir as emoções e expressá-las no papel, para que o registro tornasse aquele amor imortal. Aos 14 anos, foi estudar na Inglaterra. A partir de então, passou a escrever sobre as muitas situações inusitadas de sua vivência em outras culturas. Morou 16 anos na China, trabalhando com ensino, tradução e interpretação de inglês. Esses anos todos, a vivência de uma cultura tão diferente da nossa renderam muitas histórias. Recentemente, graças ao incentivo de amigos escritores da Confraria do Pessoas, descobriu-se escrevendo poesia novamente.

VERMELHO Gosto de pessoas intensas Daquelas Com infinito no olhar Que veem graça Num som de apito E se arrepiam com o rufar Do vento na vidraça Pessoas vermelho sangue Que acaloram as conversas Que tem cheiro De ylang-ylang Provocam euforia E nos vemos nelas imersas.

PINHÃO

Índio por fora, caboclo por dentro Filho da mais altiva espécie Esta, que com braços finos, Se extende longe Para espalhar a cria. Ele nasce da terra e alcança o céu Mas despenca de lá, E explode, um dia Aguarda no solo O ressurgir da vida Para cumprir sua parte De pinheiro e pinhão À natureza, devida.

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VIDAS PASSADAS

SEDUÇÃO Chris Abreu

Seu olhar de volúpia Me toma de assalto Me tira o ar Desestrutura. Grito, de sobresalto, Quero fugir De tamanha loucura! Anseio pela paz Do amor constante Mas minh’alma recorda Tantas vidas de paixão Não respiro, só suspiro Nos saltos de um coração vibrante. Não bastasse você, Em sua beleza singular, Noite e lua, me seduzem Corro à rua, sem parar O luar se insinua, Faz-me ir ao teu encontro: Sou tua!

Detrás daquela porta Escondem-se Sonhos arquivados De habitantes passados Quem são? Não importa! Fica na imaginação De quem passa e vê A porta selada Será que foi feliz? Será que foi amada? Amores e pesares Nem mais sentidos Pois a alma da casa Já não está O pensamento vaga longe Séculos atrás E de súbito, vislumbra-se A nobre senhora Refletida na janela Que não existe mais

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OLHAR DE POETA

ABRIGO

Chris Abreu

Na verdade Tudo é poesia Desde o vai e vem das marés Até a louça suja na pia Basta olhar com olhos de poeta Que de forma indiscreta Expõe os mais íntimos segredos Do parceiro, da viagem Da sua própria vida Ou de uma paisagem. A poesia vem de fora pra dentro E de dentro pra fora As linhas de uma folha Tornam-se rugas de uma senhora Feliz de quem consegue Viver a vida em poesia Senão, que se encarregue De fazer a travessia Para onde a poesia aflora.

Nas asas De um cata-vento Solto no ar Flutuo Para o além-mar Até chegar Na floresta fechada Onde luz mal penetra Ouço quase nada Só as folhas Que sussurram Em meus ouvidos Uma canção de ninar E no balanço Dos galhos floridos Me abrigo.

INVERNO E quanto mais convivo Vejo que não tem nada A ver comigo Mundos opostos, distantes Nem em momentos delirantes Poderíamos ser um par Quem dirá amantes? Ah, desejo que queima Vira gelo eterno Quiçá um amor fraterno? Nem disso sou mais capaz Morre a dor, morre o amor Chega o inverno.

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LUZ

PAIXÃO OU NÃO Chris Abreu

Das pessoas que conheço A sua alegria, é a maior. De uma energia envolvente Que toca todos em derredor. Seja um estranho, Um passante, Seja um amigo, Um vigia... Onde traz você esta luz, Em seus cabelos de anjo? Alma amiga, me conduz, O seu caminho, me seduz.

ALEGRIA DE DANÇAR

Amor ou paixão Qual tem maior razão De ser? O amor não domina Cresce lentamente Cuida, protege, acaricia Se estabelece eternamente. Paixão fulmina Incendeia, amarra Como termina? Fogo apagado Cinzas no chão Sonho queimado Só ilusão.

Chris Abreu

Felizes dos Eucaliptos Que dançam ao sabor do vento Livres no movimento Com energia concentrada em cada folha, em cada intento De trazer vida à natureza Como em uma floresta encantada Onde criaturas inanimadas Acordam e fazem festa para celebrar tanta riqueza.

Visite o Blog

CRÔNICA DO DIA, em

Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br Arte, cultura, literatura. Sempre um novo texto. 08


CLÁUDIA KALAFATÁS

Cláudia Ferro Kalafatás nasceu em 1966 em Florianópolis, SC. Descendente de gregos e italianos, concluiu mestrado em Administração e Gerência em 2008. Escrevendo poemas desde 1991, recebeu muita influência das obras de Ida Katzap, Neimar de Barros, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, André Ramos, Pablo Casals, Alice Ruiz, Cláudio Schüster, dentre muitos outros. Publicou seu primeiro livro em 2015 intitulado “Dilemas, reticências: poemas” e atualmente trabalha na conclusão de sua segunda obra. Integra-se à Confraria do Pessoas para disseminar a arte da poesia, a cultura da palavra. E passa a integrar, também, o Grupo Literário A ILHA.

NÃO Pode o amor ser calmo? Ou ele apenas nos incendeia quando vivemos aquela alegria vibrante, quase ansiosa, que palpita o peito e faz disparar as batidas do coração no início de qualquer relação? O tempo aquieta a emoção? Jamais amarei novamente? Será que você mente? Na analogia do amor você acredita na semente? Ao ler poesia com rima não sentes que tua alma se ilumina? Com o passar dos anos a vida te refina? As decepções amorosas subjugaram os sonhos da menina?

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BÚSSOLA

ESTAÇÕES Cláudia Kalafatás

Me empreste a vida que habita teu olhar para que assim, eu possa melhor enxergar o caminho correto a se trilhar bússola cuja agulha aponta na direção do meu arfar mas cujo desejo teus olhos te impedem de enxergar...

O amor me chegou com o sopro colorido da primavera; No verão fez-se quimera; No outono, ocupou o trono, que até então, vazio era; Para que no inverno, trêmulo e terno viesse me convencer que poderia ser eterno.

EXPEDIENTE Suplemento Literário A ILHA - Edição 141A - Ago/2017 - Ano 37 Editor: Luiz C. Amorim - Edições A ILHA - Grupo Literário A ILHA Contato: revisaolca@gmail.com A ILHA na Internet: Http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br Edição Especial Confraria do Pessoas 10


A ESFERA

VENÇO! Cláudia Kalafatás

Há um olhar alheio que acerta em cheio em um amor não vivido a voz que ouço desperta candura e não libido lembrar-me de você aguça euforia, alegria, enfim, te chamo! Para onde você foi depois de um fim de semana intenso? Para onde foi você que inequivocamente me deixa tenso? Para onde você foi cujo perfume ainda repousa em meu lenço? Por onde andas super comunicativa e, durante a semana muda, penso... Será mais uma ilusão? Triste censo novamente céu denso... Mas, quer saber? Não importa, seja qual for a batalha: Venço!

A espera de você me desespera enquanto aguardo, imagino que o amor é a esfera da caneta da vida nossa escrita, quando bela, só é possível em razão da complexa esfera. E quando meu tempo for conjugado no "era" lembrem-se de mim em um dia de Primavera rosto ao sol, sincera, que escreve, e sabe que em breve, o calor de seu coração se tornará neve, mas o tempo virá para que ela sossegue e perceba que o amor a persegue mesmo que ela internamente o negue. Vieses da esfera em tudo o que ela sucede...

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AMORA

ESPERANÇA Cláudia Kalafatás

Preciso me permitir dizer e crer que em matéria de amor ainda poderei ser!... Essa demora de ti que afeta meu relógio e forma lenta a hora demora, demoras longo... Logo, logo vou embora tua proximidade me acalora e há um pavor de levar um fora então acabe com esse sofrimento dispa-se e venha agora colocar em minha boca o gosto gostoso do amor amora.

AGOSTO Cláudia Kalafatás

Se você quisesse o que eu sentia fim não teria. Regozijar-me ao desfrutar do prazer que me concedem pequenas coisas na vida: O calor do beijo do sol em meu rosto, fazendo-me feliz com gosto após diversas semanas de chuva em agosto...

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DENISE DE CASTRO

Denise de Castro é compositora, cantora e pianista, nascida em Florianópolis, SC. Graduada em Licenciatura em Música pelo Centro de Artes da UDESC, residiu em Portugal por quatro anos, fazendo shows de música popular brasileira em diversos bares, teatros e casas de show em Portugal e Espanha. Entre suas produções musicais destaca-se direção musical do show Festa Pra Cascaes promovido pelo governo do estado de Santa Catarina em comeFoto: Chris Mayer moração ao centenário de Franklin Cascaes; trilha sonora para o curta-metragem L’amar de Sandra Alves; participação no projeto Sonora Compositoras SC no Teatro Pedro Ivo, como compositora e pianista. É professora de piano, teclado e canto na Escola Livre de Música Compasso Aberto em Florianópolis. Além de participar em várias gravações de outros artistas da cidade, tem dois CDs gravados com composições próprias, o CD Espírito da Terra e o CD Todas As Ondas. Https://www.youtube.com/user/denisedecastro1

GARIMPO Procuro palavras, qual garimpeiro no veio mais profundo das minas... Com olhos de cobiça, sôfrego viajante, busco na gema bruta a possibilidade do brilhante... Pesco palavras, feito um pescador que busca o alimento eterno a reluzir nas redes. Semeio palavras, testemunhas incansáveis da nossa condição humana a lavrar a terra. Invento palavras, qual visionário delirante, para que delas se desenhe o concreto imaginário e em algum momento tudo faça sentido...

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FAROS DE ALEXANDRIA

A MENINA E O SOL

Denise de Castro

Precisamos da poesia...para encararmos o dia e seus algozes Precisamos da poesia...para suportarmos a noite e seu silêncio Precisamos da poesia...para que não caiamos em tantas controvérsias Precisamos da poesia... mais do que nunca precisamos da sua benevolência Qual Faros de Alexandria a nos conduzir ao porto dos saberes Precisamos da poesia...pois ela, e só ela, nos faz contempladores do que é e do que se supõe Precisamos da poesia...não a deixemos prisioneira dos livros ou O luar espera uma estrela encarcerada no tempo Que ela se apodere das coisas como Pra junto com ela anoitecer Sem pressa de viver o infinito frutas numa fruteira. Deixar o dia acontecer. A menina espera na janela Alguém que lhe faça amanhecer Fechar pra sempre aquele livro antigo E finalmente o amor viver... Terá flores nas mãos E ondas no olhar Os pés descalços não tocam o chão O sol agora é seu par Pra sempre juntos vão Dançando sem parar Os dias e as noites nascerão Dos sonhos de quem sonhar.

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VERSOS NA GAVETA

ARRASTÃO DO BOITATÁ

Denise de Castro

Não derruba essa mata que ela não é de derrubar pode não parecer mas ela é do Boitatá Não mexe nesse cipó que ele não é de segurar Ele é balanço bruxólico que vai e torna a voltar O que é do mar é do mar peixe siri camarão Tarrafa do pescador farinha para o pirão O que é do chão é do chão isso tem que respeitar Procuro os versos na gaveta Garapuvú floração e todo verde Da alma displicente e distraída que há Talvez uma canção por sobre a O que avistou Sebastião quando na mesa ilha aportou Que de longe nem sequer adivinha Hoje está muito mudado só o hoAs notas que escorregam da cermem é que não mudou... teza O rio abraça a Lagoa, a duna é casa De existirem lá escondidas de areia Palavras se encontram no espaço Do mar minha terra é noiva e Se enlaçam em música e romance quem governa é sereia No redemoinho dos abraços Dos livros em cima da estante Nas rimas em trovas antigas Amores feitos de escrita Sonora poesia dos amantes Nas páginas do livro da vida Procuro os versos na gaveta Da alma displicente e distraída Faço e refaço as linhas Das cartas que escreverei um dia

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COR Denise de Castro

Praia da Armação Colorida

Gastei minha caixa de lápis de cor na ânsia de descrever tua paisagem... Usei óleo, aquarela e guache e nem assim lhe fui fiel ou melhor. Só mesmo as tintas do dia, derramadas na tela dos sonhos, conseguem transformar a realidade em miragem.

MEU FADO Atravesso o oceano e me encontro com Pessoa... Há em mim muito mais do que as calçadas de Lisboa, seus casarios, suas varinas com seus pregões melancólicos... Há em mim o fado que ressoa e a esperança dos náufragos!

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LUIZ CARLOS AMORIM

Luiz Carlos Amorim é fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA em SC, com 37 anos de atividades e editor das Edições A ILHA, que publicam as revistas Suplemento LIterário A ILHA e Mirandum, da Confraria de Quintana, além de mais de 60 livros. Http://www. prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br Eleito a Personalidade Literária pela Academia Catarinense de Letras e Artes, pelo livro NAÇÃO POESIA e ocupa a cadeira 19 da Academia Sul Brasileira de Letras. Foi o representante de Santa Catarina no Salão Internacional do Livro de Genebra, com o lançamento de 3 obras suas. Editor de conteúdo do portal PROSA, POESIA & CIA. e autor de 31 livros de crônicas, contos e poemas, três deles publicados no exterior. Colaborador de jornais no Brasil e exterior, como Jornal do Brasil, Correio do Povo, Folha de Pernambuco, O Estado, de Fortaleza, Noticias do Dia, Folha de Pernambuco, Folha do Espírito Santo, etc. Tem trabalhos publicados na Índia, Rússia, Grécia, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Cuba, Argentina, Uruguai, Inglaterra, Espanha, Itália, Cabo Verde e outros, e obras traduzidas para o inglês, espanhol, bengalês, grego, russo, italiano. Blog Crônica do Dia:Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br

LIBERDADE A poesia Ficou presa Na ponta do lápis Na ponta dos dedos Sem querer abandonar A alma do poeta. É preciso Libertar a poesia! Só ela poderá Salvar o mundo...

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MEU CORAÇÃO E EU

POESIE-SE

Luiz Carlos Amorim

É preciso Salvar a beleza Que emana da poesia Há que se matar A indiferença E a insensibilidade Que expulsam a poesia De nossa essência. É preciso ser poesia Para gritar O que está preso Na garganta E sussurrar vida Ao pé do ouvido. E a poesia É o brado da alma É a voz da emoção, A cor da razão. Poesia é coração, É sentimento, É a busca do amor, Todos os tipos De amor, Qualquer tipo de amor... Então, Poesio-me.

Meu coração, Pejado de saudades, Está de malas prontas, De mudança Para as terras D'além mar: Portugal, amada, Da língua liquida e fluida, Sonora e musical, A única que tem A palavra saudade. Vou encontrá-lo lá, Mais tarde, À beira do Tejo, Sob a luz sem igual De Lisboa, No esplendor do Douro Ou à beira do Sado...

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JANELA CÓSMICA

LUZBOA

Luiz Carlos Amorim

Nos meus olhos Mora o tempo, Memória da alma, Repositório do coração. Dentro dos meus olhos Mora o mundo, Moro eu E o meu cosmo. Dentro dos meus olhos, Mora a minha alma, A essência de mim. No meu olhar Mora a vida, Moram todas as cores, Mora a poesia. Meu olhar é minha casa E cabe o universo todo Dentro da minha casa.

Lisboa, De tanta luz, Luzboa, Com sua luz única, Que adentra meus olhos míopes E os enchem De beleza. Lisboa, o Tejo Que te banha, Também te ilumina, Apaixonado, E te confere Essa luz sem igual. Não espalhe, Minha querida Lisboa, Mas és minha prisioneira: Acomodei toda tua luz boa E toda a tua beleza Dentro dos meus olhos Míopes E do meu coração Antigo E nunca mais Vou te libertar. Nem quando eu me quedar Ao pé de ti Nem quando me aninhar No teu regaço...

No alto, a Torre de Belém e ao lado,o Monumento dos Descobridores e a Ponte 25 de Julho.

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AMANHÃ

SER Luiz Carlos Amorim

O universo me pergunta Quem sou, E eu respondo: Não sei. Procuro outra resposta, Me procuro, E vejo, por uma fresta Da alma, infinita: Sou a lágrima Que não rolou, Sou um crente descrente, Sou quase nada… Mas sou o encontro E o desencontro do amor, O sentimento contido, A emoção encarcerada, O sorriso que não veio, prestes a se desenhar. Não sei quem sou, Ou o que sou. Mas a resposta - certa Me invade: Sei apenas Que sou ser, Irmão gêmeo da natureza, Filho do universo E mereço estar aqui.

Estendo minha mão e alguém deposita nela um punhado de amanhã. Meus olhos, vazios de esperança, iluminam-se de novo, com aquela pequena semente, meu pedaço de futuro… Por favor, desliguem o tempo e liguem a eternidade de harmonia e paz!

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FÁTIMA BARRETO Maria de Fátima Barreto Michels, a Fátima de Laguna, é poetisa de mão cheia e cronista atenta. Fátima é escritora de prosa e verso, defensora e divulgadora da cultura catarinense, catarinense convicta que é. É professora aposentada e tem dedicado seu tempo a escrever e fotografar. Foto é seu hobby, escrever é sua vocação. A autora já publicou o livro de poemas “Tecidas Manhãs” e tem participado de várias antologias, como Varal do Brasil, Mudanças e Permanências, Tão Perto e Tão Longe - Vol 1, 2 e 3, Prosa e Verso na Terra de Anita, A Nova Literatura Catarinense e outras. Faz parte do Grupo Literário A ILHA, do Grupo de Escritores Lagunenses Carrossel das Letras, da Confraria de Quintana e da Confraria do Pessoas.

A BELEZA DELA Olhou-me. Mostrei-lhe as mãos vazias eu não levava bolsa. Observei-a. Um corpo, uma competência, uma historia em crescimento Sem passagem. De passagem. Que criança linda circulando ali pela rodoviária Muito cedo para desaprender sobre dinheiro Cedo demais para precisar saber quanto custa. Aquele jovem, rendeu-se à beleza dos seis anos dela. Deu-lhe todas as moedas que possuía,em um dos bolsos. Mas se ela crescer, talvez consiga viajar Cabotagem em boléia de caminhões é quase de graça. Olhei-a afastando-se em leveza e candura Levei comigo a feiúra da nossa sociedade. Contrastando. A beleza dela incomodava tanto…

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TECIDAS MANHÃS

Fátima Barreto

Não há galos nas redondezas Bem-te-vis já tecem a madrugada Aguardo, espreito, com a máquina ao alcance de um bote rápido Ainda friozinho o ar passeia na varanda Por trás dos prédios já se espalha o vermelhão Chego até a sacada, nos surpreendemos. Lá vem! Ele soberano, e eu, colhendo seu esplendor Uma, duas, vinte, quarenta vezes! Tento roubar cor e frescor desta praiana manhã... É Laguna! Não, não há galos nas redondezas, mas irrequietos sabiás, Pardais e quero-queros também tecem o amanhecer São os minutos iniciais do cerimonial. Testemunho. Fotografo, me envolvo. Ele soberano, súdita eu, colhendo-o O vermelhão agora vai tingindo mesmo todos os vidros dos prédios Questão de segundos e um laranja vai tomando conta dasnuvens Continuo colhendo todas as poses Vai se dourando a sala e eu, ficando rica de repente Meu corpo diáfano, coração e também meu pensamento A passarada, insistente, agitada, tece ao léu Penso no amor, nos amores, colho mais 21 vezes A sala fica toda dourada com jeito de paixão Passarada em vôos lilases, rosáceos, laranja, vermelhões, Riscando, tecendo no espaço que a luz colore. Ao léu! Meu coração também vai tecendo, vermelhões , alaranjados, Lilases, dourados e cheio de passarinhos, vai tecendo... Fica rico de paixões. Ao léu!

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CORES

VERSOS INCOMPLETOS Fátima Barreto

Outonais... são deste meu sentir as cores Prismas inúteis em tempos sem arte sou tela vazia, emudeço, destarte. Beleza há ! Tanta! Mas não sei pintar desejos inconfessos de Van Gogh Sinto paixões do laranja ao ocre fugidio trigais repletos Em mim há consciência em tons de outono em terciária cor Em ti vermelho, azul e amarelo brincam em distraída primavera no tom do amor

É incompleto todo poema até enquanto (inacabado) não lhe chegar do seu leitor o olhar primeiro. É solitário é quase inútil todo poema não deflorado. Também te afirmo que meu poema é incompleto enquanto a música não o ferir não o rasgar É incompleta minha garganta, se meu poema, se estou poeta se faço verso que não se canta Toda verdade, toda viagem. É incompleta! Te digo mais É incompleto todo poeta É momentânea toda certeza toda palavra Insaciável todo poeta

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BOLHINHAS DE SABÃO

SENTENÇA DE VIDA

Fátima Barreto

Amar...amar...amar Você pegou meus “enta” e tantos de praia... Fez ao bafo Fez caldo e fez pirão! Água viva você queima! Tanto fez que até fez um dodói cá no meu coração Amar é tubo no vento surf na pedra É bicho que pega é bicho papão Tarrafa brandida no ar, é amar! É sorte lançada, sentença de vida Amar é condenação!

Que leves são bem coloridas faço trezentas já num minuto! E no espaço, elas se vão ! Se houver brisa, da bem suave, até viajam, um bocadinho mas tais bolhinhas são como eu deixam de ser, bem ligeirinho Tudo é igual aqui no mundo, a uma bolhinha bem delicada Não se demore Não se distraia apenas olhe e se permita Seja bem leve e compreenda Que ser bolhinha, é nossa lida! E estar humano, é tão ligeiro! É nossa sina. É tão depressa que a gente brilha É num repente, que a gente finda. E por ser tão breve esta nossa vida, use seu tempo só pra me olhar dizendo sempre que me assoprar: linda! linda! Ela é tão linda!

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MARLI LÚCIA LISBOA (Bulucha)

Marli Lúcia Lisboa, a Bulucha, como é conhecida pelos amigos, tem dois propósitos claros na busca pela sua própria poesia: manifestar sua humanidade, dores e amores e fortalecer laços sociais. A poetisa começou a escrever com 12 anos e nunca mais parou. Formou-se em Educação Física, Pedagogia, Direito, é mestre em Educação e Cultura e deu aulas por trinta e três anos. Nas suas reflexões, professa uma crença otimista na vida, traduzida na fé, no riso, nos encontros e na paixão pelo mar. (Texto de Aline Torres)

É NOITE

No cair da tarde do dia Vem o anoitecer É o silencio da vida Que afasta o viver. É noite Tudo fica em suspense Parece que nada existe Será que nada persiste? Nada da noite desperta Fala através do luar O silencio desespera Prejudicando o nosso caminhar É noite As luzes clareiam enfim Da escuridão, a agonia. Alguém espera por mim, Esperarei vir o dia?

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SE EU PUDESSE

PINTURA

Marli Lúcia Lisboa Chego, paro olho e vejo: Se eu pudesse ir ao teu encontro Se eu pudesse alcançar-te além da Tu em forma de choro, de risos. Tu em forma suave, permanente despedida molejo. Se eu pudesse achar-te atrás daTu em forma única, roliços... quele morro

Se eu pudesse impedir aquele dia...

És ternura serena para meu olhar Transmites desejos de eterna vida Se eu pudesse ir de encontro ao Por isso não posso deixar de te amar mar Se eu pudesse colher aquelas espu- Não posso pensar na minha inevitável ida... mas Se pudesse fazer ninguém te amar Há hora para chegar, há a hora de ir Se eu pudesse voar como as pluHá a hora do encontro eu contemplo. mas. Há a hora de te olhar, há a hora de

Se eu pudesse tua imagem apagar Se eu pudesse fazer-te beijar-me Se eu pudesse tuas mãos afagar, Se eu pudesse de ti, esquecer-me.

sentir Todo teu ser, tudo que és, em todo tempo...

Tu és o mar agora calmo, mais tarde tormentoso Se eu pudesse o mundo correr És o céu limpo que mais tarde estará Se eu pudesse chegar-te a mim. encoberto, Se eu pudesse os obstáculos vencer Por nuvens grossas, chuvas, choro lamentoso! Se eu pudesse impedir chegar o E depois, veremos todo o meu eu, fim. descoberto... Possuis o campo que precisa ser cultivado, As montanhas que procuram a altura. És assim, precisas de amor, teu ser olhado, Concentras tudo em todos complexa pintura.

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CHUVA DE VERÃO Marli Lúcia Lisboa

Dia de verão, vidas cheias de tudo Músicas cheias de mensagem É verão, é tudo. Mas enfim. Contudo É sem rumo, sem meta, viagem... Dia de verão, chuva fina desenfreada, Horas, minutos, segundos, tempo. Chuva de verão, vida trancada... Chuva triste, mútuo impedimento. Passos lentos, respingos chorosos. Olhar calmo, triste alento! Mãos dadas, pés descalços, Chove , mas caminhar, tento Duas almas, dois seres, uma vida! Viver tão só, me dê a mão! Águas que passam, água infinita, Águas tristes, águas frias, chuva de verão... Vozes que chegam, vozes que vão... Palavras afirmativas, talvez não... Alguém que chega, todos que vão. Chuva que chega, chuva de verão!

CONFRARIA DO PESSOAS 27


NORMA BRUNO Norma vive na Ilha de Santa Catarina desde que nasceu. É de aquário, portanto já nasceu aluada, como ela mesma diz, mas contraditoriamente, não se dá bem com tecnologia e gosta mesmo é de coisa velha. Fez muitas coisas, deixou para trás outras tantas, tem muito por fazer. Coleciona cenas urbanas, rendas de bilro e revistas antigas. Declara-se escritora amadora em todos os sentidos, inventa coisas, conta histórias, mas na verdade não tem nada de amadora. Livros publicados: - Prosa, quase Poesia - ou vice-verso Tempo Editorial. 2015 - Cenas Urbanas e Outras Nem Tanto, Bernúncia Editora. 2012 - A Minha Aldeia Editora Papa-Livros. 2004. Licenciada em História pela Universidade Federal de Santa Catarina, tem especialização em Moderna Gestão Empresarial e em Empreendedorismo. É blogueira, cronista da Ilha e, embora diga que não é, é poeta de prosa e verso. Participa do Grupo Literário A ILHA.

HOJE TEM FESTA N´ALDEIA Queres conhecer a alma de um lugar? Foge dos shoppings e dos condomínios, esquece os hipermercados, as grandes avenidas, os bares da moda e as praias indicadas nos guias turísticos. Os museus deixa pra depois, assim como os restaurantes que te foram recomendados. Adentra as ruelas e os becos, as lojas populares e os mercados. Vai de ônibus. Entra na igreja mais antiga, ajoelha, pede licença aos santos e fantasmas do lugar, depois sai à rua e observa.

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CACOFONIA Norma Bruno

“Atenção, dona-de-casa! Está passando em sua rua o carro dos produtos Cata...”. Buzinas de automóvel, aparador de grama, sirene de ambulância, carro de bombeiro, motocicletas, tum-tum à toda no carro que passa. Fecho os olhos. Bem-te-vis. Farfalhar de folhas. Cigarras.

NA ESQUINA Balaios, cestos, colares, animais esculpidos em madeira pirogravada. Pacote de fraldas descartáveis, garrafa de refrigerante, marmitex, saco plástico. Sentada no chão, em meio à paisagem improvável, uma jovem índia com seu indiozinho adormecido sobre o regaço. Olhar perdido, pobre Pietá extemporânea.

UM MAR DE SUCESSIVAS ONDAS O que é o viver senão um mar de sucessivas ondas, ora serenas, ora em fúria, até que advém a calmaria? Morrer deve ser isso, o inevitável mergulho num imenso céu liquefeito. E, então, a calmaria... Pode ser que, num frêmito, tudo recomece. Quem sabe os Mistérios do Mundo? Os mares são muitos, já as águas sempre as mesmas.

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PONTO DE FUGA Norma Bruno

Foge pela fresta que te resta E faz do teu norte o vento mais forte. Não temas a força do vento. Melhor temer o teu próprio medo. Impõe o desejo ao pensamento. Não pensa. Apenas abre tuas asas e voa. Foge pela fresta que te resta E faz do teu norte o vento mais forte. Não temas a força do vento. Melhor temer o teu próprio medo. Impõe o desejo ao pensamento. Não pensa. Apenas abre tuas asas e voa.

SALTO MORTAL Um olhar teu e o mundo se me descortinava em festa. De repente palhaços, malabaristas, atiradores de faca. Leões amestrados, contorcionistas, engolidores de fogo. Por fim a Poesia, e o homem de cartola anuncia: “_ Respeitável público, vai começar o espetáculo!”. Então, a trapezista louca se lança num salto mortal duplo, sem rede de proteção. Na queda, quem sabe a morte, mas antes o voo...

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O BURACO DA FECHADURA Norma Bruno

Poesia é a casa e a parede da casa, É a janela, a porta, O buraco da fechadura. É a chave, E também a mão que a gira. POEMINHA

Eu queria ser um Cata-Vento, Pra mudar de rumo Ao mudar do Vento. Eu queria ser um Cata-Vento Na mão de um guri pequeno... DE FRENTE PARA O MAR

Desde o dia em que nasci, minha vida dá de frente para o mar. Quando eu nascer de novo, quero nascer distante, que é para experimentar o assombro e o deslumbramento de ver o mar pela primeira vez. 31


RITA MARILIA T. SIGNORINI

Rita Marília T. Signorini nasceu em Rio Grande, RS. Mora em Florianópolis, SC. Ex-bancária, é atualmente administradora e escritora. Rita participa do Grupo Literário A ILHA, participou da Confraria do Júlio de Queiroz e agora junta-se aos poetas da Confraria do Pessoas. Ama poesia desde sempre e julga ter sido, quando muito pequena, contagiada pelo lirismo de seu pai que adorava recitar versos enquanto caminhavam juntos. “Escrevo porque a escrita sai de mim como uma lágrima, sai como uma transpiração: involuntariamente.”

LAR Por trás dos montes espia outras almas a brincar Por trás dos montes expia ouvindo almas a cantar Por trás dos montes se esconde esta alma a chorar.

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ESPERANÇA DE DEUS

DESEJO DE DEUS

Rita Marilia T. Signorini

Deus cansou de esperar Inventou a ex-perança A beleza, A incerteza. Misturou tudo num caldeirão “Que confusão” Deu ao homem de presente, Que jogou bem longe No futuro escuro.

Deus enjoou de inventar Inventou desejo. Colocou no sapo, Nem pulou. Colocou na pedra, Nem se mexeu. Colocou na árvore Nem se importou; Colocou no homem, Que suspirou, Desejou ser deus Inventou, Desinventou, Enjoou, Matou Deus..

REVISÃO DE TEXTOS Revisão e orientação de textos

DESISTÊNCIA DE DEUS Deus desistiu de ser perfeito Inventou o homem Não conseguiu, Deu-lhe pensar, Conseguiu.

Contate o e-mail revisaolca@gmail.com 33


FELICIDADE MUSICAL Rita Marilia T. Signorini

PASSO A balconista da livraria embrulha o livro que acabei de comprar… Sinto-o estremecer olhar-me de forma clemente para que, livre das embalagens dos rótulos eu o leve nos meus braços do meu lado esquerdo. Assim nosso amor transborda: eu e ele saímos como par de namorados. Todos nos olham. Ninguém entende o meu leve sorriso

o brilho das estrelas no meu olhar. Todos me olham: eu passo.

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RECADINHO PARA MARIO QUINTANA Rita Marilia T. Signorini

Meu tempo Também passará, Passarinho!

Apenas penas Ficarão Do meu caminho

TRIBUTO A JÚLIO DE QUEIROZ Veja este olhar! Diz tudo não? Não, não diz tudo porque havia mais, muito mais no seu sorriso, no seu coração, no seu pensar. Meu estar com ele foi temporal de verão: rápido e forte. Pelo seu porte físico, sempre me lembrei com carinho

de Mário Quintana. Agora tenho dois passarinhos na gaiola aberta do meu coração: um Alegre, outro Alegrete Vida é amor represado Morte, amor trans-bordado Perdemos o que viria a ser. Guardemos o que foi para que sejamos dignos. Meu profundo sentimento de dor egoísta.

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RONEY PRAZERES Roney Prazeres nasceu em Florianópolis, SC, a 13 de Maio de 1966. É casado com a mulher que ama. Advogado por profissão e poeta por paixão. Mais poeta do que advogado, porque a poesia que vem no vento é que alimenta a sua alma. É um contemplador dos cantos perdidos: as mulheres de pedra no alto do Palácio Cruz e Sousa, as lajotas portuguesas, as telhas de barro, velhas portas e as janelas, presenças constantes nas suas fotos-poema. Sua inspiração são Fernando Pessoa, Florbela Espanca e os fados. Voltou a escrever nos últimos dez anos e planeja seu primeiro livro para breve. Nele, não faltarão referências a Florianópolis e a Portugal.

BEM-AVENTURADOS Felizes os que não sonham Os que não fazem versos Os que não pensam com a alma Os frios de coração

Felizes os donos da terra Os que negam o chão Os que calam a voz Os que desconhecem perdão

Felizes os que não olham para trás Os que não têm saudades Os que fazem o dia Os secos de sentimentos

Felizes os que são tudo Os que dominam o mundo Os que determinam nossas vidas Os que nos vendem ilusões

Felizes os que conquistam Os que desfazem caminhos Os que não ouvem clamores Os que desprezam amores

Sejamos gratos Aos senhores de tudo Aos que nos permitem respirar O mesmo ar que respiram

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DIA LOUCO

A VIAGEM DO POETA

Roney Prazeres

Dia louco Confusão total O pensamento em muitos lugares E ao mesmo tempo em nenhum Penso aqui, penso ali, Vou lá, mas não é, Volto aqui, mas não está, Faço uma coisa Que parece ser certa Mas que deve ser outra Lembro um detalhe Que esqueço um minuto depois Vou a um lugar E não sei o que lá fui fazer Corro para um compromisso Mas não é hoje Tento telefonar Mas ninguém atende Quando atende, não é lá, Saio para um lugar Mas esqueço aonde quero ir Desisto! Depois de tanto cansaço e desencontro Só me resta sentar E rir de mim mesmo Alguém lá em cima zomba de mim E ri às gargalhadas!

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(A Ferreira Goulart)

Vai o poeta Viajando pelo infinito Vai por caminhos Que imaginava Nunca ter ido Revê toda a sua vida Velhas cantigas Rostos amigos Vai o poeta Viajando pelo infinito Livre e feliz A dizer sua poesia Todos o escutam Outro poeta o aplaude, dizendo: Bem-vindo meu amigo Serás aqui poeta em tempo integral Sem outras preocupações Ou palavras desnecessárias Aqui a poesia será teu mandamento Teu combustível Teu alimento Vem poeta Fica solto Liberta-te de vez do que já não importa Sejas agora poeta pleno


PROFECIA Roney Prazeres

Se todas as manhãs do mundo Fossem manhãs de sol De um verão iluminado Com sorrisos em uma praia qualquer Com crianças correndo pela areia E homens e mulheres a brincar no mar Talvez nossos dias valessem a pena Talvez fossem dias de uma vida comum E as preocupações que nos rondam Não turvariam o sol Não trariam a chuva no meio da tarde Não é justo! Por mais que se fale em esperança Nosso tempo insiste em se fazer tristeza E há tanto sono entrecortado de ansiedade Tantos sonhos interrompidos na caminhada Que chego mesmo a crer em profecias Pois a luz do sol Que ilumina nossos dias Também ilumina os medos da noite E somos peças de um jogo de salão Espalhadas por uma mesa qualquer

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Falamos de sonhos, de vida, do querer, Mas o destino Mexendo suas peças no tabuleiro Define quem pode sorrir Quem pode amar Quem vai viver Quem vai perder Somos vítimas de uma profecia fatal Vítimas de uma profecia mal feita


O ESPECIALISTA Roney Prazeres

Sei que não entendo de nada Sofro de um total desconhecimento Das coisas que penso conhecer Por vezes me especializo em generalidades E acabo entendendo de coisas desinteressantes aos outros E, portanto, destituídas de qualquer importância Gostaria sinceramente de conhecer – mesmo que um pouco De algum assunto relevante para a humanidade Mas não! Meu conhecimento superficial dos fatos da vida Não me permite fazer discursos Sustentar discussões acaloradas Formular teses - orientar decisões Estabelecer regras para a vida De quem quer que seja Sigo apenas especialista de mim mesmo Conhecedor dos meus desimportantes fatos Tarefa enfadonha e egoísta de quem tem Como objeto de estudo Exclusivamente a própria vida

REGRESSO Voltar a velha cidade De muros - pontes - rios Sentir as paredes do casario E ver as imagens do tempo Ver tudo o que foi vida Alegria Encantamento Ver o que fui E o que não fui naqueles dias Deixar o passado se fazer presente

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FERNANDO PESSOA, O PESSOAS Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, em junho de 1888, e morreu em novembro de 1935, na mesma cidade, aos 47 anos, em consequência de uma cirrose hepática. Sua última frase foi escrita na cama do hospital, em inglês, com a data de 29 de Novembro de 1935: ‘I know not what tomorrow will bring’ (Não sei o que o amanhã trará). Seus poemas mais conhecidos foram assinados pelos heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, além de um semi-heterônimo, Bernardo Soares, que seria o próprio Pessoa, um ajudante de guarda-livros da cidade de Lisboa e autor do ‘Livro do Desassossego’, uma das obras fundadoras da ficção portuguesa no século 20. Além de exímio poeta, Fernando Pessoa foi um grande criador de personagens. Mais do que meros pseudônimos, seus heterônimos foram personagens completos, com biografias próprias e estilos literários díspares. Álvaro de Campos, por exemplo, era um engenheiro português com educação inglesa e com forte influência do simbolismo e futurismo. Ricardo Reis era um médico defensor da monarquia e com grande interesse pela cultura latina. Alberto Caeiro, embora com pouca educação formal e uma posição anti-intelectualista (cursou apenas o primário), é considerado um mestre. Com uma linguagem direta e com a naturalidade do discurso oral, é o mais profícuo entre os heterônimos. São seus ‘O Guardador de Rebanhos’, ‘O Pastor Amoroso’ e os ‘Poemas Inconjuntos’.

PEQUENO GRANDE POEMA

Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


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