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Pisadeira
No jornal A Gazeta, de São Paulo, de 13 de outubro de 1962 há registro de uma oração contra a Pisadeira, que foi transcrita assim:
São Vicente cum São Simão me disse que a Pisadeira tem a mão [furado; S. Vicente cum S. Simão me disse que a Pisadeira tem as unha [rebitado; S. Vicente cum S. Simão me disse que a Pisadeira tem os óio [arregalado; S. Vicente cum S. Simão me disse que a Pisadeira tem o beiço [arrevirado; S. Vicente cum S. Simão me disse que a Pisadeira tem o dente [arreganhado.
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Essa personagem, bem falada, especialmente em São Paulo e em Minas Gerais, provavelmente chegou de Portugal, ainda que o pesadelo - de onde ela vem - seja um tema universal. Na maior parte das narrativas folclóricas, o pesadelo é ato do demônio ou de um espírito mau, que pode ser um gigante, um anão, uma mulher ou um homem horrível que senta sobre o peito da pessoa e vai sufocando-a, até que acorde sobressaltada. A figura da Pisadeira mais famosa por aqui é conhecida como Diabinho (ou Fradinho) da Mão Furada. Ela entra no nosso quarto no meio da noite pelo buraco da fechadura e põe-se em cima de nós, sufocando-nos. Só quando acordamos é que ela vai embora. Tem na cabeça uma carapuça vermelha. Sua mão é muito pesada. Ela pega quem dorme de barriga para cima, e a mão pesada sobre o peito da pessoa nem a deixa gritar. Nas tradições portuguesas, o Fradinho da Mão Furada lembra bastante o Saci-Pererê, pois ele usa um gorro vermelho, azeda o leite, ferve o mel, faz sumir coisas, mas também ajuda quem satisfaz - basta deixar migalhas de pão ensopadas em prato, durante a noite, em qualquer canto da casa - a encontrar tesouros nas residências. Os portugueses também descrevem a Pisadeira como uma velha que tem uma gargalhada comprida e estridente, mas nunca sorri. De queixo
virado para cima e boca escancarada, exibindo dentes horríveis, esverdeados, ela tem olhos vermelhos sempre arregalados e um olhar maligno. Seus dedos são compridos, secos, com unhas sujas e amareladas. Tem cabelo desgrenhado, um nariz enorme, arqueado como o bico de um gavião, e as pernas curtas. Ela gosta de esperar em cima dos telhados a hora de entrar no quarto das pessoas pela chaminé ou pelas janelas. No Brasil, a Pisadeira ganhou algumas variações de inspiração indígena. Por exemplo, a dos povos de língua tupi-guarani, que a chamavam de Kerepi-ayua (que não é a Kerpimanha, a mãe do sonho), a velha que os visitava trazendo uma porção de agonias terríveis. Já para os sertanejos nordestinos, a Pisadeira é uma velha que arranha nosso rosto durante o sonho e com quem lutamos muito, pois ela possui uma força enorme. Acordamos exaustos e muito assustados. No estado de São Paulo, também é conhecida como uma negra gorda que pisa na barriga das pessoas que vão dormir de estômago cheio.
OUTROS NOMES: Diabinho (ou Fradinho) da Mão Furada REGIÕES DO PAÍS: Todas ORIGEM: Universal PERSONAGEM RELACIONADA: Saci-Pererê