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Indicamos a mĂşsica " Gimme Tha Power" [Molotov], para ouvir enquanto lĂŞ a revista
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Felipe Paiva | R.U.A. FotoColetivo - Barreira da Tropa de Choque em protesto em São Paulo.
Em 1992, quando Fernando Collor de Mello sofreu um impeachment, foi a última revolta popular do séc. XX no Brasil. A história das lutas ganhou foco de novo somente a partir do ano passado, no mês de junho, em São Paulo, quando o Movimento Passe Livre lutou arduamente contra o reajuste da tarifa desde que o mesmo foi anunciado. O MPL organizou um ato de repúdio ao reajuste da passagem do transporte público paulistano e cada vez mais os atos se intensificaram, bem como o policiamento orquestrado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). As manifestações se espalharam por diversas cidades, algumas por também terem reajuste na passagem e outras por solidariedade às capitais. O prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou não dialogar com violência dos manifestantes e que não daria abertura a qualquer reajuste. Alckmin, em apoio, chamou os manifestantes de “baderneiros”, assim como toda a grande mídia também o fez. A polícia foi tão repressiva que 84% da população chegou a apoiar os protestos. A mídia independente – bem como os movimentos sociais como um todo – ganhou destaque no cenário político e social do período como alternativa à informação distorcida, e a popularização do movimento ativista se intensificou. A população viu uma forma de receber as informações para além da forma especulativa que era apresentada nos grandes meios, e era obrigada
a digerir sem tecer qualquer comentário – afinal, era a única visão que tinha da “realidade”. A mídia tradicional não viu outra alternativa senão aderir às manifestações e começar, misteriosamente, a mostrar a vandalização da polícia para com os manifestantes. As reivindicações se desviaram das tarifas e inseriuse dentre as principais pautas a corrupção e uma campanha contra a presidenta Dilma Rousseff (PT). As consequências das Jornadas de Junho se fazem bem presentes, e dessa vez bem mais politizadas, sendo apresentadas em greves, como veremos na seção Desconstrução, na truculência policial e necessidade da desmilitarização da polícia, que será assunto discutido na seção CONTR(A)(A)TAQUE, e muita fotografia sobre as Jornadas. O evento da FIFA também é uma das principais pautas das ruas, e as manifestações estão bem intensas sobre o tema. Ainda abordaremos uma entrevista feita com diversos coletivos em parceria com o COPA 412 ao Juca Kfouri, um dos maiores nomes entre repórteres esportivos, e o PAPO GUERRILHA entrevistando o Guilherme Boulos, líder do MTST. Junho de 2013 nunca acabou. Vamo que vamo!
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CARO LEITOR EM RESPEITO À TODAS AS PESSOAS DE BEM QUE ACOMPANHAM A GRR, GOSTARÍAMOS DE DEIXAR ALGO BEM CLARO: SIM, FAZEMOS PARTE DA CONSPIRAÇÃO PSEUDO-ANARCOCOMUNISTA FEMINAZI GAYZISTA NEGRISTA QUE VAI DOMINAR O MUNDO E INSTITUIR GULAGS-PLAYCENTERS EVERYWHERE YOU GO. <33 ALÉM DA CONSPIRAÇÃO DO PT E DOS BLACK BLOCS, TAMBÉM ESTÃO CONOSCO OS ILLUMINATI, OS MANOS E AS MINAS DO REI SALOMÃO, OS TEMPLÁRIOS, O MESTRE DOS MAGOS E OS MEGAZORDS. ALIÁS, QUALQUER SEMELHANÇA ENTRE ALGUMA COXINHESCA FAMÍLIA DE BEM E A FAMÍLIA DINOSSAURO É MERA COINCIDÊNCIA. VEM CONSPIRAR NESSA MERDA TBM (MENOS XERAZADA, PLEASE) ATENCIOSAMENTE, GUERRILHA CONSPIRATIONS & EMBROMATIONS S/A
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" Já foi desmascarado esse movimento aí... TÁ?. Existe um plano SIM, pode botá aí "
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Chegando na Zona Oeste de São Paulo, em uma rua relativamente tranquila em um dia de caos gerado pela greve dos metroviários, o Guerrilha GRR conheceu o COPA (Centro Ocupado de Produção Alternativa). Trata-se de uma residência compartilhada com vários veículos de comunicação independentes, encabeçados pela Revista Vaidapé. E logo no primeiro dia de atividades da Casa, acabamos trombando com ninguém menos que o Juca Kfouri, jornalista esportivo com um pé na política e outro no futebol.
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Juca Kfouri & os Midialivristas O Centro Ocupado de Produção Alternativa trata-se de mais um avanço na estrutura organizacional e colaborativa da mídia independente no Brasil. Além de mesclar a horizontalidade dos novos movimentos sociais, com o coletivismo que faz parte do discurso midialivrista, a Casa oferece um espaço que não seja só da política durante o mega-evento da FIFA, mas também para a arte e cultura. Será no C.O.P.A. que a Guerrilha GRR irá se preparar para a cobertura dos atos contra a outra Copa, a da FIFA. Neste mês estamos produzindo um documentário sobre o evento, em parceria com o documentarista canadense Nadim Fetaih. A ideia central é abordar a Copa como um ator coadjuvante, diante das gigantescas remoções que geraram mais de 200 mil desabrigados, e também das intenções neoliberais por trás do discurso da FIFA no Brasil. E pra começar bem a produção do documentário, trocamos uma ideia com o Juca Kfouri, juntamente com os demais coletivos presentes. Sobre quem organizou a Copa no Brasil, o jornalista esportivo deixa bem claro sua opinião sobre: “Sou contra que se faça a Copa do Mundo no Brasil por uma razão: com essa gente que tá sendo escolhida para fazer a Copa do Mundo, vai dar merda. Por que? Porque quando você vê que
“Nunca vi nada parecido com as Jornadas de Junho antes de um evento esportivo.” Juca Kfouri
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o Ricardo Teixeira, passou a ser o presidente do Comitê Organizador Local (COL), tava na cara o que seria. Quando ele escolhe a filha dele para ser uma das principais dirigentes, tinha que dar no que deu.” - e ainda - “Eu não tinha dúvida, nada do que tá acontecendo me surpreende. As coisas não ficarem prontas, o superfaturamento, etc. O governo brasileiro ter permitido isso chegar a esse ponto é imperdoável, porque ainda mais o Lula sabia muito bem quem era o Ricardo Teixeira.” Ainda sobre o evento, Juca deixa bem claro que apesar da ganância da FIFA e seus demais organizadores, a Copa ainda deixará um marco positivo na população brasileira - “Se você me perguntar sobre qual é o legado que a Copa vai deixar, é o legado de uma nova consciência que o povo passa ter, que esse negócio de megaevento é muito bom para quem organiza, mas não necessariamente bom para as cidades que recebem. E a prova disso é que você acaba de ver Zurique, Estocolmo e Nova York, por meio de consultas populares não aceitando fazer as Olimpíadas de Inverno de 2022.” Quer saber como foi o restante da entrevista? Se liga no Centro Ocupado de Produção Alternativa, e acompanhe o trabalho do nosso coletivo durante este mês de Junho. Vai ter C.O.P.A., temos certeza.
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Por Camila Eiroa Fotos: Eduardo Valente, Rafael Bonifácio e Paulo Ishizuka
Prestes a completar um ano, as Jornadas de Junho modificaram o cenário dos movimentos sociais em São Paulo, principalmente, e no Brasil. O que vemos hoje também é reflexo de tudo que aconteceu nas ruas durante o período das grandes manifestações que tomaram os espaços públicos e a televisão, mas terminaram em fotos no Instagram
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Já se passou um ano desde que São Paulo foi tomada por manifestações, que começaram grandes - cerca de 5 mil pessoas - e terminaram maiores ainda e noticiadas na imprensa internacional. Foram estimadas mais de dez mil pessoas nos últimos atos. O motivo inicial era o aumento da tarifa de transporte público de R$3 para R$3,20 e quem estava por trás da organização era o Movimento Passe Livre. Com o lema #amanhãvaisermaior, a causa ganhou mais apoio depois que a Polícia Militar atacou brutalmente os manifestantes e quem quer que estivesse passando – mesmo que fossem transeuntes. O dia chave para
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que a bomba explodisse (literalmente) foi 13 de junho de 2013, uma terça-feira assustadora e atípica para a capital paulistana. De gás de efeito moral, balas de borracha (que já estavam presentes nos atos anteriores) e prisão por “porte ilegal de vinagre” a ataques contra jornalistas e fotógrafos. A imprensa, até então classificando os manifestantes como vândalos desocupados, mudou de imediato sua postura quando virou alvo de repressão e, a partir daí, o cenário das ruas teria uma imagem distinta da de dias anteriores. Milhares de pessoas aderiram à causa com seus respectivos discursos a serem defendidos. Xingar a Globo e a presidente Dilma, cantar o hino do Brasil enrolado em uma bandeira e pedir pelo fim da corrupção são alguns exemplos do que se via nos cartazes. A onda era pintar o rosto de verde e amarelo e postar no Instagram. Assustadoramente, a televisão agora estava do lado dos manifestantes, que queriam
mostrar indignação com a “pátria amada”. O discurso da tarifa pareceu ter se perdido e, mesmo outros atos sendo marcados e a tarifa sendo reduzida para o valor anterior, o que se via eram pessoas aproveitando a deixa para fazer um rolê diferente na Avenida Paulista com sua garrafa de vinho barato. Apesar das distorções a que todos os movimentos sociais estão sujeitos, as Jornadas de Junho mudaram radicalmente o cenário das manifestações na cidade de São Paulo, principalmente, e no Brasil. Já em 2014, ano de Copa e eleições no País, percebese que o clima não é de total calmaria. Chegando perto de um novo junho, nove atos contra a copa já aconteceram. Maio foi o mês das greves, paralisações e união de grupos nas ruas; entre eles professores da rede municipal, garis e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Mais do que é noticiado, sempre existiu uma força muito grande por trás da luta destas pessoas, e
a maior visibilidade para todos os movimentos sociais talvez seja herança do ano passado, já que o Brasil não tinha protestos de tamanha proporção desde o Impeachment de Collor, em 1992. Movimentos que acontecem religiosamente todos os anos como a Marcha das Vadias e a Marcha da Maconha, por exemplo, também ganharam mais força. Camila Moraes, de 22 anos, é militante do coletivo feminista Pão e Rosas (impulsionado pela Liga Estratégia Revolucionária - Quarta Internacional e Independentes), metroviária e estudante da USP (Universidade de São Paulo). Para ela, que está constantemente presente nos atos, é um fato que as manifestações se tornam cada vez mais comuns nas capitais brasileiras como reflexo das Jornadas de Junho, assim como os problemas continuam os mesmos: transporte superlotado, metrô com falhas praticamente diárias e passagens caras, não excluindo
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as melhorias que também precisam a educação, a saúde e a moradia. “A força das mobilizações quando os 20 centavos foram barrados foi um grande salto, importante para perceber que só com a luta é possível conquistar melhorias nos serviços públicos. Há categorias em greve neste momento e outras que ameaçam entrar em plena Copa do Mundo. Os trabalhadores começam a sentir o poder que suas forças têm na movimentação das cidades e produção, e é a partir disso que muitos outros junhos virão”, reflete.
com que se colocassem contra os dados absurdos em relação a violência contra a mulher. Isso também demonstra o novo espírito que junho trouxe para a pauta de mulheres, negros e homossexuais. Nós, do Pão e Rosas, acreditamos que a luta contra o machismo está ligada a luta de classes. Nesse sentido, as mulheres devem ser linha de frente de movimentos sociais, estendendo-a a todos os setores que são oprimidos e explorados na sociedade”
Sobre o protagonismo feminino nos atos, ela conclui: “Este ano tivemos algumas questões bastante polêmicas tendo como foco a opressão de mulheres. Um exemplo é campanha virtual “#eunãomereçoserestuprada”*. Muitas participantes talvez nunca tenham ido a uma manifestação ou nunca tiveram nenhuma ligação com o ativismo político, mas uma nova subjetividade fez
Já o Coletivo DAR – Desentorpecendo a Razão, um dos grupos responsáveis pela Marcha da Maconha SP, acredita que junho do ano passado mostrou o potencial de diversas manifestações e organizações, assim como foi um marco de repressão e violência policial. “O processo de junho
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Clique aqui para ler carta completa do Coletivo DAR
de 2013 não inventou manifestações de rua autônomas no Brasil, mas certamente as colocou como nunca em evidência. Algumas das principais mudanças vistas pós-junho partem justamente das práticas de rua do movimento autônomo, que contaminaram até mesmo grupos partidários. Pode soar exagerado, mas até mesmo as greves dos garis no Rio de Janeiro e dos motoristas de ônibus em São Paulo carregam heranças de junho (que na verdade são bem anteriores, mas ganharam destaque no período). Em ambos os casos, a greve foi articulada de maneira autônoma, por fora da estrutura hierarquizada do sindicato e contou tanto com a tática da não-violência — com a alegria e o batuque combativo dos garis e filas de ônibus estacionados — quanto com uma certa aproximação à tática black bloc,
com depredação de ônibus para pesar no bolso dos grandes empresários do transporte. Por outro lado, seguimos diante do cenário visualizado em junho: grandes mobilizações sociais sem a existência de grandes movimentos sociais. Se, para citar Paulo Arantes [filósofo e pensador marxista brasileiro], junho nos deixou uma 'herança sem receita', por outro lado aqueles momentos explosivos levaram a esquerda autônoma a algumas conclusões importantes que infelizmente parecem ter se efetivado apenas parcialmente - como por exemplo a compreensão da importância do chamado trabalho de base (ou de troca) no sustento das mobilizações de rua. Coisa que poucos movimentos podem bancar - não por coincidência, os mais bem sucedidos deles, como o MPL e o MTST.”, finaliza o coletivo.
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Apesar da Jornada de Junho ter sido composta ao todo como uma série de manifestações de rua, a influência que ela trouxe para a série de greves das diversas categorias de trabalhadores em 2014 é clara. Com ou sem apoio dos sindicatos, o trabalhador resolveu cruzar os braços - utilizando a Copa como uma espécie de apoio popular, por mais direitos e respeito
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No dia 27 de Maio, resolvi acompanhar mais um ato dos professores da rede municipal de ensino da cidade de São Paulo, que decretaram greve logo no final do mês de Abril. No vão livre do Masp, logo na concentração, pude ver uma variedade de pessoas prontas para mais um dia de manifestação - mas ali não eram só educadores: alunos adolescentes resolveram apoiar os seus professores, parentes, até mesmo crianças. Do outro lado, um caminhão de som pronto para exigir as demandas ao poder público. De lá, acompanhei uma pequena assembléia realizada entre os líderes da greve e os demais presentes, que marcharam da Avenida Paulista até o centro da cidade. Enquanto o ato aumentava, resolvi conversar com os professores e entender a visão deles sobre a Jornada de Junho e a influência dela nas greves que estão acontecendo antes da Copa. "Os protestos do ano passado nos mostraram que podemos colocar nossa demanda além de uma greve. Ocupando as ruas, a prefeitura não tem como não nos ouvir." me contou a professora Alexandra Neves, que leciona História na rede pública municipal. Um bom paralelo que podemos aplicar entre as greves antes e depois da Jornada de Junho, são as mobilizações dos também professores da rede estadual de ensino, no começo da década - com poucos atos de rua, não conseguiram chamar a atenção popular e muito menos a da imprensa em geral, que só noticiava a paralisação por cima, ou quando havia repressão e confronto por parte da Polícia Militar e grevistas. Agora, os trabalhadores parecem ter entendido que a rua é um bom holofote: ocupando as vias públicas toda semana, o cidadão é forçado a conhecer a sua reivindicação, e o poder público e imprensa não conseguem mais ignorar suas pautas.
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Para Alexandra, a violência sempre partiu dos policiais: "Por mais que a mídia falasse que havia manifestantes violentos, a sociedade precisa entender que existe um contexto por trás daquele ato de violência. Um rapaz, pobre e sem acesso a educação de qualidade, sem chances de crescer no mercado de trabalho, precisa esbravejar sua indignação de alguma forma. Fica fácil para um jornalista em uma sala chique com ar condicionado julgar esses garotos. Mas nós entendemos completamente a ação deles." - dentro desse contexto, podemos analisar outro fator similar entre a Jornada de Junho e as greves neste ano. A criminalização por parte da mídia e do governo contra os motoristas e cobradores de ônibus grevistas em São Paulo é um verdadeiro deja vu do que aconteceu com os anarquistas que quebravam vidros de bancos e lojas ano passado. Desta forma, a mídia tradicional busca ofuscar os motivos da realização da paralisão por parte dos trabalhadores, focando no caos gerado pela greve que para a cidade e afeta a população - e com isso, destrói qualquer possibilidade de diálogo entre a categoria e o cidadão, que acaba formulando uma opinião dentro do censo comum fabricado pela mídia. Outro fator que deve ser levado em conta é a forma de organização horizontal que marcou os protestos contra a tarifa do Movimento Passe Livre. A grande maioria dos sindicatos hoje no Brasil possuem
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"Os protestos do ano passado nos mostraram que podemos colocar nossa demanda além de uma greve. Ocupando as ruas, a prefeitura não tem como não nos ouvir."
uma estrutura organizacional similar a dos partidos políticos: vertical, com direção central e diversos outros diretórios regionais. Ao contrário disso, o MPL conseguiu mostrar abertamente que é possível construir uma luta conjunta e de forma democrática, adotando um sistema horizontal de decisões e organização. E isso repercutiu nas greves deste ano, tanto no Rio como em São Paulo: cansados dos sindicatos pelegos, os trabalhadores dos ônibus em ambas as cidades resolveram parar por conta própria, realizando eles mesmos suas reuniões e decidindo de forma democrática suas pautas, demandas e passos durante a paralisação. Para o professor de Geografia, Otávio Lima, a principal conquista dos protestos do ano passado foi inspirar novos movimentos a nascerem de forma diferente "Pela primeira vez em trinta anos lecionando eu vejo uma verdadeira mobilização na área educacional aqui de São Paulo. Pra mim isso seria impossível acontecer hoje se não fosse os protestos contra a tarifa ano passado. A garotada nos mostrou que não precisamos de líderes para ditar o que faremos ou não, a luta é
nossa, e portanto é nosso dever organizar e mobilizar a categoria.". Mas o que podemos esperar depois da Copa? Será que as mobilizações dos trabalhadores continuarão seguindo esse mesmo aspecto da Jornada de Junho, mesmo depois do evento que tem sido motivo de tanta mobilização popular? É impossível definir o que acontecerá. Da mesma forma que depois de Junho do ano passado, ninguém sabia qual seria exatamente a herança da Jornada de Junho, hoje não temos como adivinhar qual será o maior legado da série de greves que tem acontecido no país pré-Copa. Mais uma semelhança?
"A garotada nos mostrou que não precisamos de líderes para ditar o que faremos ou não, a luta é nossa, e portanto é nosso dever organizar e mobilizar a categoria." 33
Gustavo Pergoli (Perg), 19 anos, ilustrador e designer gráfico, nasceu e mora em Santo André - SP. Estuda Design na Universidade São Judas Tadeu e trabalha como designer e
e
trabalhos
faz
freelances
pessoais
de
ilustração. Perg também adora ufologia e tenta transparecer esse interesse meio incomum em suas ilustraçoes.
Perg é o conspirador da capa da atual edição da GRR. Saiba mais sobre ele em sua página no link abaixo, e na entrevista a ser lançada em breve no site da GRR.
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Depois de quase duas décadas de inércia política, os brasileiros finalmente reviveram o interesse ou pelo menos a consciência de que por mais complicada que seja, a política deve sim fazer parte da vida de cada um de nós. Vivemos um ano histórico no Brasil, que despertou a movimentação de alguns milhões no mês de junho graças ao aumento da tarifa do transporte público em várias das grandes cidades do país. Dificilmente momentos históricos são explicados de maneira tão simples e mais complicado ainda seria entender enquanto vivemos o processo.
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O primeiro fato que podemos dizer que estimulou a adesão aos movimentos sociais, mesmo que brevemente, em junho, foi o acesso a internet. Em 2008 para acessar a maior rede do mundo era necessário um computador, um modem e ainda dependia da penetração dos cabos de telefone ou TV à cabo. Já no ano de 2013, além do brasileiro médio ter conquistado um padrão de vida melhor devido a avanços na economia, a internet passou a caber em nossos bolsos por preços mais acessíveis, atingindo em 2013, 49% da população brasileira. Hoje a maioria das pessoas de baixa renda possui um telefone e muitos ainda um smartphone com acesso à internet. Isso com certeza possibilitou a comunicação e organização mais eficiente dos movimentos sociais que são movidos pela classe trabalhadora. Além da comunicação, existe o acesso livre a informação que antes era recebida via TV e rádio que são concessões cedidas pelo governo ou então pelos grandes jornais. Com o acesso a internet as pessoas ganharam autonomia na busca de informação que antes jamais seria expostas na mídia tradicional. Outro ponto está intimamente ligado ao acesso a informações. Não só o Brasil mas o mundo viveu um ano de protestos. Alguns culminaram em golpe de estado e outro levaram o país à uma guerra civil como na Síria e na Líbia. Isso estimulou ainda mais os jovens sonhadores de todas as classes no Brasil. Um terceiro possível ponto foi o choque que a população levou, do choque! Protestos não são novidade no Brasil, já que sempre foram promovidos para a classe média baixa (de pouco interesse para as classes sociais mais altas) e tem pouca atenção da mídia tradicional. Protestos acontecem provavelmente quase todos os dias, porém são vistos normalmente como um grupo de pobres preguiçosos e estudantes vagabundos.
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O Movimento Passe Livre (que também não é novidade) organiza estudos e protestos para o fim da tarifa do transporte público desde sua fundação em 2005, alegando que se educação e saúde pública são de "graça", transporte público também deve ser, especialmente com a quantidade de impostos que o brasileiro paga, deveria ser de graça mesmo. No ano passado, os protestos pela redução da tarifa se iniciaram em Porto Alegre e visto o sucesso das ações, o movimento se espalhou para outras capitais. O que levou as massas para as ruas foi na verdade um protesto antiviolência alimentado pela ação violenta da polícia. A Tropa de Choque especialmente de São Paulo e do Rio abusaram excessivamente de seu poder, ferindo estudantes, jornalistas - que inclusive perderam a visão - e até mesmo cidadãos que não estavam envolvidos, e que simplesmente passavam pela região de confronto. Isso gerou uma indignação na classe média alta e o apoio da grande mídia levando multidões às ruas e conquistando assim a revogação do aumento da tarifa. Além das tarifas, o povo pressionou o impedimento de uma emenda constitucional que limita os poderes de investigação do Ministério Público, chamada PEC37, além da votação do senado à favor de uma lei que enquadra corrupção como crime hediondo. São boas conquistas, porém, ao meu ver, o maior legado ainda é o fato de que a geração das Jornadas de Junho está voltando seu interesse, mesmo que aos poucos, para políticas públicas. Uma mudança na ignorância política geral pode fazer com que governos e empresas passem a respeitar mais as condições da vida humana. Nas redes sociais iniciaram-se debates sobre os mais diversos problemas e questões sociais: desde a violência policial, desmilitarização da polícia, justiceiros e até mesmo o feminismo, mas
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infelizmente a imaturidade política impossibilita a grande maioria de realizar debates produtivos. Por outro lado o amadurecimento desses questionamentos é fruto de um processo que estamos. O brasileiro ainda não chegou em um nível de indignação a ponto de querer uma mudança que de fato melhore a vida da maioria das pessoas e portanto caso contrário as revoltas continuarão. Mas de novo, é um processo e acredito que estamos encontrando nosso caminho. Uma outra herança é a divisão fervorosa de grupos políticos. O ritmo dos grandes protestos está mais lento e isso foi atribuído ao "vandalismo ocorrido na maioria das manifestações. Pode ser. Mas também todos nós sabemos como o brasileiro vive de tendências sociais. É notável que os protestos chegaram a virar uma certa moda. Pessoas fazendo churrasco na rua, outras apenas indo pelas valiosas selfies e outras até indo até de pela festa, com uma cerveja na mão. No momento que viram que os protestos não eram brincadeira alguns se assustaram e outros viram que estar em protestos deixou de ser evento social e desencanaram. Um terceiro motivo para o enfraquecimento das massas foi a diversidade de pautas para cada ato. Isso tudo filtrou os manifestantes, deixando apenas aqueles que realmente estavam dispostos a lutar e militar por uma mudança, e como toda boa minoria é reprimida, por não ser é levada a sério pelos meios de comunicação, ela acaba se tornando radical. Pessoas vestidas de preto e cobrindo o rosto conhecidas popularmente por Black Bloc começaram a proteger fervorosamente os protestos. Em oposição aos Black Blocs de caráter anarquista surgiu com pouca força o White Bloc, formado basicamente por conservadores militares e simpatizantes. Existe também uma onda nacionalista que vem ganhando força tanto nas Américas como na Europa. Já ocorreu de eu me deparar com pessoas tão acaloradas pelas manifestações que até queriam lutar uma guerra civil para mudar a mentalidade brasileira. A segregação política se aprofundou e foi então possível notar a diversidade da mentalidade brasileira.
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Passado o período dos grandes protestos, os famosos Black Blocs passaram a estar mais presentes nas manifestações, seja ela qual fosse e, como represália a ação violenta da polícia, - que já não era mais vigiada pela mídia - vandalizavam instituições privadas como bancos e concessionárias de veículos e outros símbolos de capital. Claramente as empresas estão abusando de seu papel na sociedade, já que atualmente uma empresa é muito mais valiosa que a vida humana. Porém a tática de ataque às empresas privadas não obteve muito êxito apesar de seu enorme sucesso nos primeiros meses. Em questão de dois meses o país inteiro sabia quem eram os Black Blocs, e por algum tempo, eles tiveram uma grande arma na mão. Eles se tornaram tão conhecidos por todas as camadas sociais que poderiam passar a mensagem que quisessem que seriam ouvidos. Poderiam se organizar para realizar mudanças mais profundas, porém por continuarem agressões sem pautas lógicas e claramente por causa da perseguição midiática e policial, os "Mascarados" perderam adesão e foram obrigados a tirar férias devido a ameaças jurídicas. Este ano vamos sediar a da Copa do Mundo além do maior evento democrático do Brasil, as eleições. É um ano em que a atenção internacional estará voltada ao Brasil, seja pela emoção que o Mundial traz, seja pelas atrocidades movidas por causa da Copa e cometidas por nossos governantes e empresas que muito provavelmente continuarão impunes. Resta a população criar uma organização da sociedade civil para usar a herança e cicatriz deixada pelas jornadas. A população deixou de organizar fervorosos protestos porém a organização continua. Importante atrair atenção internacional mas de forma inteligente, caso contrario o mundo pode se voltar contra o povo brasileiro. Não podemos nos esquecer que a maioria dos espectadores internacionais do Mundial são ignorantes quanto aos problemas sociais atrelados ao evento. Causar uma violência contra estrangeiros é perigoso. Não é preciso a violência indiscriminada para trazer a atenção ao país. Já estamos no holofote por um mês inteiro e cabo somente a nós sabermos usar essa atenção para educar o mundo e com isso recuperar o apoio perdido das classes mais altas que infelizmente detém grande parte do poder.
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Estamos sendo derrotados em todas as frentes. Tinha sido uma vitória a realização de uma constituição, mas a constituição não vale mais nada, eles fazem o que querem, já lutamos faz tempo. A história do Brasil é repleta de lutas, a do mundo também. Canudos, Palmares, Coluna Prestes, maio de 68, greves do ABC...Os pensamentos revolucionários e ativistas estão no imaginário. Sempre houve luta. O brasileiro, latinoamericano, africano, asiático, indígenas, índios, aborígenes, sempre lutaram. Essa luta foi o grande legado deles, essa luta e seus desdobramentos em gestões populares de todos os tipos; fábricas (Flaskô), colônias (Cecília), EZLN, Occupys. Mas a questão é entender que de forma bastante simples, todos somos assassinos, vândalos e terroristas, mas alguns agem de forma independente e outros agem sob o a ameaça do Poder Público. A mídia hegemônica (essa mesma! Globo, record, bandeirantes, sbt) sempre dá um jeitinho especial que é aquele toque da mão do editor, que é lógico, é da família do dono do canal, um nepotismo religioso midiático pode-se até dizer, de Ali Kamel, Boni, Roberto Marinho, Edir Macedo, João Jorge Saad, Silvio Santos – para cumprir seu papel de difusor das mensagens do stablishment e do status quo necessário para o desenvolvimento pleno das ações Privadas-Estatais. O Estado (Federal, Estatal, Municipal, Feudal, Monárquico, Papal, Imperial) está sempre ali também para garantir que tenha algo que exerça força direta e soberana sobre as massas, conduzindo as multidões ao sabor das famílias tradicionais da propriedade privada (imperadores, monarcas, burgueses). O Povo (favelado, descendente indígena, descendente quilombola, caiçara) está sempre ali, pois se não estivessem, os outros dois não conseguiriam existir. Desde a instauração do Estado regido sob hierarquia e domínio de recursos e/ou leis de propriedade, "há fronteiras nos jardins da razão” e o método de diálogo
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com a população é a repressão; atos de coerção, violência, medo, incentivo a vigilância pública e privada, etc….
Como despertar a consciência natural dos seres? Não é que a população não é indignada, mas lhes falta o incentivo necessário para que passem a tomar posicionamento de ação, de seres ativos. Muitos apontam o caminho apenas com impossibilidades, da formação social, da estrutura física, da má gestão pública e do descaso das iniciativas privadas em incentivar a conscientização social. Lhes falta o entendimento de que um discurso audiovisual é essencialmente mensagem LIVRE! Audiovisual lida diretamente com duas das linguagens naturais da sociedade, a visão e a oralidade. Devido a sua relação com a psicologia, linguística, leituras de símbolos, viabiliza a percepção de quão suscetível é o homem aos seus pré-conceitos, experiências, conhecimentos. Após a criação de espaços autônomos como as favelas, como incluir a população na realização das políticas públicas da cidade? Não há volta, o diálogo não existe pois o jeitinho brasileiro já dá o jeito e é legítimo. Uma real dinâmica de direitos humanos e acesso à cidade deveria ir de encontro a liberdade de criação e autoresolução de problemas. O maior impedimento de acesso a cidade e de preservação dos direitos humanos é o constante domínio legislativo, jurídico e executivo, e a constante parceria e defesa das iniciativas privadas em detrimento da liberdade de ação individual e coletiva da população, da sociedade civil, da pessoa física. Polícia-Estado-Religião-DomínioDeInformação são as instituições mais antigas da humanidade. Sua integração é tão forte e seu alicerce tão frágil, que se uma delas ruir, leva todas as outras para a vala também.
Zonas Autonomas Temporárias de Alta Eficiência - Poder Para o Povo O que aprendemos? Que uma manifestação que se diga horizontal e sem lideranças terá o mesmo tratamento que a favela; incapazes de identificar o emissor principal das ações, o aparato armado do Estado prende, fere e mata todxs que tenham vínculo com as atividades. Que a internet é ferramenta, e não o produto, facilitadora na difusão de informação. Mas a informação não está nela, está aqui, na rua. Fazer um ato no facebook não serve pra nada se não há diálogo e formação com a população. A função da imprensa marrom sempre será a de desviar o foco do que deve ser debatido, porém quem ainda acredita neles? Não haverá retorno para o normal. Que a mídia alternativa provou que tem força sendo realmente plural, tendo desde a mídia alternativa da nova direita governista até o mídia anarquista, o mídia tenho-celular-pad-iphone-e-tô-no-rolê e o mídia-P2. Quem fiscaliza a polícia? Quem fiscaliza o governo? Quem fiscaliza a iniciativa privada? A mídia alternativa. Sem esse enfrentamento nunca haverá direito humano.
um catalizador essencial do processo revolucionário, se tornando uma necessidade, como a maneira mais eficiente de transmissão de conhecimentos, por ser dinâmica, fluída, orgânica, com facilitadores de compreensão para o imaginário levando dois componentes para sua cognição: um visual e um auditivo. Lembrando do contexto de analfabetismo no brasil 2001 - 12,4% (dados do mapa de analfabetismo desenvolvido pelo Ministério da Educação na gestão de Cristovam Buarque). Portanto, a guerrilha de comunicação se torna o primeiro passo para as revoltas. Sem uma comunicação segura da vigilância do capital, permaneceremos nas trevas do domínio da informação que vigora desde os tempos de Horus.
Do planejamento que envolve a etapa de estudos. Cultura de segurança é o marco zero dos estudos. Antes de conspirar, saiba conspirar de maneira privativa, longe das escutas e câmeras da NSA ou da ABIN. Basta procurar cultura de segurança, de preferência não no google, e um outro mundo vai se abrir para você. Recentemente o CMI-Rio em parceria com outros coletivos lançou uma ótima cartilha em português para facilitar o entendimento de todos.
Que a ocupação de espaços, públicos, ociosos, particulares, mesmo que com caráter temporário, são essenciais para o encontro e diálogo da sociedade civil. Três gerações de elíades se desenvolveram sob o conhecimento oral. Não é uma questão de dizer que a escrita não é importante, pelo contrário, ela é essencial para qualquer processo organizacional, de concepção de ideias e transmissão de mensagens em certos meios. Porém, a construção de peças audiovisuais é
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Das consequências Desempregos voluntários aliados a atos de desobediência civil com deliciosos desacatos, banhados a sangue do opressor, apenas para acordá-los de suas situações frágeis. Fragéis de seu planejamento burro de civilização, da anulação de seus conhecimentos sobre a humanidade e a constante subestimação de quem serve ao sistema. Aos comunitários horizontais, a plenitude. Aos comunitários ditatoriais, o desejo por independência. Aos comunitários capitalistas, qualquer exploração será retaliada. Aos comunitários tribais, a plenitude. Aos imperialistas, a exclusão. Anarquia: plenitude do conhecimento, da diversidade plena de meios de transporte, educação, energia, moradia, alimentos, tecnologias, com alto nível tecnológico, se utilizando da plenitude da variabilidade, variantes, variações, multiplicadade de recursos energéticos, pela plenitude de seus conhecimentos, da perfeita harmonia que é a diversidade; como forma mais avançada de vida, tendo alto acesso a informação virtual e física, podendo todos serem mestres em robótica, aeronáutica, mecânica, etc. Si no ardemos junt@s, quién iluminará esta oscuridad?
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Por Francisco Toledo
Depois de o Movimento dos Trabalhadores SemTeto colocar mais de 20 mil pessoas nas ruas, trocamos uma ideia com Guilherme Boulos, importante ícone da Coordenação Nacional do MTST grupo que tem dado o que falar nas ruas nos últimos meses, e que promete parar a Copa do Mundo caso a luta por moradia “não receber sua fatia do bolo”
Com Guilherme Boulos GRR: Hoje é quarta-feira, dia de chuva, em pleno centro de São Paulo, e o MTST voltou pra rua mesmo depois de parar a cidade com mais de 20 mil pessoas. Qual é a luta de hoje? Boulos: É a luta de todos os dias: pelo direito de ter um teto. Mas hoje necessariamente, é pela votação e aprovação do Plano Diretor. Nosso objetivo é que tenhamos isso encaminhado antes do inicio da Copa do Mundo dia 12. GRR: Mas e se os vereadores não cumprirem com o combinado, e deixarem a votação para depois de Junho? Boulos: Será mais um motivo para as mobilizações se intensificarem. Acho importante colocarmos aqui que, mesmo se o Plano Diretor for aprovado, a luta do MTST não acaba ai. Semana passada foi um aviso para os governos, tanto em escala estadual, municipal ou federal: ou teremos a nossa fatia do bolo, ou Junho nascerá com a cor vermelha nas ruas.
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rumos diferentes naturalmente, e isso é algo positivo no meu ponto de vista. GRR: Nós do Guerrilha faremos um documentário sobre a Copa do Mundo agora em Junho, e entrevistaremos pessoas que perderam suas casas para dar lugar ao projeto da FIFA. Qual mensagem você passaria para eles? Boulos: Persistência, vocês não estão sozinhos. A repressão é a forma mais fácil do Estado admitir que não possui condições estruturais de lidar com a questão da moradia. Portanto, resistam, se organizem em seus bairros, procurem saber sobre o que está acontecendo na sua região. Se mobilizar pode não ser fácil, mas quando não estamos sozinhos fica bem mais em conta, porque a coragem é contagiosa. GRR: No dia 12, na abertura da Copa do Mundo aqui em São Paulo, podemos esperar você e o MTST nas ruas mais uma vez? GRR: E você acredita que podemos repetir a Jornada de Junho neste ano, durante a Copa? Boulos: Sim, mas com traços diferentes talvez. Ano passado o Movimento Passe Livre conseguiu reunir milhares de pessoas por uma pauta específica, que acabou sendo usurpada pela mídia. A luta do MTST é bem clara: estamos na rua pelo direito a moradia, a cor da nossa luta é vermelha, e não vamos abrir mão disso e nem deixaremos que a nossa pauta seja descontextualizada.
Boulos: Quem sabe (risos). Na verdade vocês ainda podem nos encontrar antes do dia 12, temos mobilizações na semana que vem não só em São Paulo, como em outras capitais do país. Dia 06 de Junho tem amistoso do Brasil no Morumbi, correto? Então, quem sabe a maré vermelha dê uma visita ao bairro do Governador.
GRR: Mesmo com essa diferença organizacional, a Jornada de Junho pode ter servido como incentivo para a luta popular nos dias de hoje? Boulos: Claro. Basta ligar o noticiário e ver a coragem dos trabalhadores grevistas em tantas categorias, que resolveram cruzar os braços dias antes da Copa. A herança de Junho é inegável, ficará marcada na luta popular, mas os movimentos posteriores devem seguir
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LUCAS RAMOS
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WENDELL SOARES 70
NICOLA PRALL
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GUILHERME FEIJテグ 72
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ALAN MACHADO
ALAN MACHADO 74
RICARDO PEREIRA
LUCAS NUNES
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No meio de uma multidão enorme, três ou quatro policiais se destacavam pela violência com que iam para cima dos manifestantes. Jean, totalmente engasgado com o spray de pimenta, percebe que ao seu lado há uma garota sentada e tossindo muito. Ela estava prestes a desmaiar. Ele decide ceder o seu lenço que estava amarrado no rosto. “Amarra isso aqui no rosto; amarra e tentar molhar com vinagre” “Obrigad…cof cof… obrigada, moço” Ana ficou tocada com a gentileza daquele cara que, há 5 minutos, estava colocando fogo em algumas lixeiras. Um homem selvagem, mas que ainda guardava consideração pelo próximo, por quem é ovelha em solo de leões. Ele sumiu para um lado, acompanhou um grupo que, com violência, estava indo para cima dos ônibus. Ana foi para o lado mais tranquilo, ficou próxima de pessoas que já estavam caminhando para irem embora. Quando descobriu que a estação Trianon/Masp estava fechada, ela decidiu ficar um pouco mais por lá e acompanhar o que acontecia. Ela era repórter de um jornal e foi trabalhar para conhecer a verdade mais de perto. Mesmo que seus editores modificassem todas as suas palavras depois. Jean, distante daquela para qual doou seu lenço, agora respirava ares mais violentos. Enquanto alguns companheiros seus pichavam quase tudo que viam, ele gritava para quem pudesse ouvir: “Vandalismo é o que fazem com seu pai na fila do médico. Destruição é o que fazem com a sua família quando seu filho morre em mais um assalto à mão armada. Violência é quando um professor tem redução de salário. O nome disso aqui é FÚRIA. O nome desse ônibus queimado é: EU EXISTO E NÃO SOU OTÁRIO. Escândalo é o salário e benefícios desses senhores ser pago com os meus míseros vinte centavos a mais.”
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Enquanto gritava, Jean foi surpreendido por mais de seis policiais que conseguiram imobilizá-lo e detê-lo. O arrastaram por muitos minutos, mas no meio do caminho estava Ana. Ela, sem saber o motivo de Jean ser arrastado, começou a tirar diversas fotos e gritou para que ele ouvisse: ‘Eu vou te tirar dessa, cara. Me fala seu nome.’ – Ele, com medo de que os policiais usassem isso contra ele, ficou mudo, mas olhou no olho de Ana como quem dizia ‘obrigado pela coragem’. No retorno pra casa ela não tirou da cabeça o rosto daquele homem. Apertou mais forte o lenço que ganhou do jovem, rebelde, vândalo, mas humano: Jean. Quando a madrugada chegou, ela descobriu que a fiança para os detidos era de vinte mil reais. Em orações silenciosas, Ana pedia que aquele rapaz tivesse estrutura, para que sua família não fosse à miséria ao precisar pagar R$20.000,00 para soltar um filho. Filho esse que foi ser a mão que age, não apenas a boca que fala. Hoje, 12 de junho, Ana não passou ao lado de Jean. Eles não eram um casal. Mas ela tinha uma certeza: naquela noite eles flertaram com a liberdade e a coragem para que todos pudessem namorar um amanhã mais justo. Ela sabe que revolução não se faz com mingau e abraço em árvore . Também descobriu que tinha uma estranha mania: A de se apaixonar pela coragem de quem ainda consegue se revoltar.
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