O desenvolvimento de uma composteira doméstica

Page 1

O desenvolvimento de uma composteira doméstica The development of a domestic composter 1

BENTO G. S. PIMENTEL

MANOEL A. S. RODRIGUES2 NÚBIA SANTOS3

Palavras-chaves: sustentabilidade; eco-concepção; inovação. O projeto em questão constitui-se como uma proposta de incidir na qualidade de vida no meio urbano. Considerando a problemática do lixo doméstico, propôe-se criar um modo criativo de lidar com esta situação. A partir desta percepção, elege como principais conceitos fundamentais a sustentabilidade, a eco-concepção e a inovação. Será desenvolvido por meio do método da pesquisa aplicada e tem como seu principal objetivo solucionar através da metodologia projetual do Design de Produtos o projeto final de uma composteira doméstica, baseada no surgimento e progressivo amadurecimento de mercados consumidores deste setor, fundamentados com base na concepção do ecodesenvolvimento. Keywords: sustainability; eco-design; innovation. The project in question is constituted as a proposal to focus on quality of life in urban areas. Considering the problem of household waste, it is proposed to create a creative way to handle this situation. From this perception, elects the main fundamental concepts of sustainability, eco-design and innovation. Will be developed by the method of applied research and has as its main purpose to solve using the methodology of projecting as a Product Design the final design of a home composter, based on the emergence and progressive maturation of the consumer markets in this sector, based on the basis of design ecodevelopment.

1.Introdução: O objetivo da atividade exposta aqui é de contribuir para novas necessidades geradas por este presente momento de fomento aos paradigmas de Sustentabilidade, visualizadas de forma reiterada em economias de serviço em crescimento. Os consumidores de nosso tempo têm voltado sua atenção a hábitos diferenciados, que de tendências tornaram-se comportamentos perenes, dado um momento disforme da conjuntura econômica de países em expansão como o Brasil, tendendo a criar uma situação propensa à atividade nativa do empreendimento inovador. Mesmo os habitantes mais distantes das zonas rurais e preservadas desejam ter um pedacinho desta mudança de paradigma em suas casas. A humificação é um processo naturalmente encontrado na natureza em seus ciclos naturais que envolvem degradação e efervescência microbacteriana que propicia boa fertilização de solos, por muitas vezes prejudicados pelo mau uso, uso intensivo e até variação climática. Também é comumente empregado nas casas do consumidor médio, que exercita de forma

1

UEPA, Brasil, bgugapimentel.designer@yahoo.com.br

2

UEPA, Brasil, alacyrodrigues@oi.com.br UEPA, Brasil, nubiatrib@yahoo.com.br

3


salutar em algum aposento, o cultivo vegetal viabilizado pela jardinagem, ornamentação e até mesmo destinado a própria alimentação. O lixo doméstico é um grande problema para a vida saudável das cidades, por seus intrínsecos impactos ambientais cumulativos e problemas sanitários que demandam a dimensão educacional e seus atributos. Sendo assim, propõe-se aqui a lançar uma alternativa que opere sobre o lixo orgânico, gerando de forma natural em receptáculo, uma solução que induza ao costume sustentável. Para tal, a seguir tentar-se-á sintetizar alguns conceitos e relações complexas que propiciam a necessidade de basear-se na Eco-concepção como plataforma da atividade criativa para a solução inovadora em novos serviços e produtos sustentáveis. Após tal síntese, o problema prático da probabilidade desta solução será apresentado, como objeto de pesquisa em design, uma pesquisa que se encontra em andamento no ano de 2011. 2.Desenvolvimento: Em MANIZINI (2008), verifica-se na teoria de um Eco-Design uma proposta que apresenta o papel do projetista destinado ao desenvolvimento de oportunidades que tornem praticáveis os estilos sustentáveis de vida bem como o desenho do ciclo de vida dos produtos, que de forma normativa exigem a integração dos requisitos ambientais nas fases de seu desenvolvimento. Necessita-se também nas aptidões do designer, lidar com impactos ambientais somando a isto as atividades resididas em sua metodologia mais comum. Em um Design para Sustentabilidade, percebe-se o objetivo de responder à procura pelo bem-estar, reduzindo o emprego de recursos ambientais de forma drástica a 90% a menos do que atualmente pode ser empregado. O produto é concebido como sistema embasado pela necessidade de um planejamento simultâneo e transversal para itens de produto, serviço e comunicação, sendo destinado aqui a uma concepção para um novo produto-serviço intrinsecamente sustentável. Tal afunilamento infere uma elaboração que reside em um momento posterior à compreensão acerca do fomento e compreensão do objetivo, portanto, resultado da boa assimilação do valor nativo da proposta e resultado de legitimação, efetivados no ato da compra. Tal fenótipo denomina-se Eficácia, e não exige como requisito uma divergência de normatização entre possíveis formatos mercadológicos concorrentes neste mesmo raciocínio naturalista, mas juntamente efetuados em uma pluralidade eco-concebida, tornam-se um passaporte coletivo para uma obrigatória e processual intensificação. Esta intensificação culmina na Sustentabilidade, que é o objetivo ao qual se quer atingir, e não o processo em si. Esta passagem de uma sociedade com problemas cataclísmicos sistêmicos para uma sociedade sustentável dá-se como uma transição, por um aparato econômico diferenciado, que através de uma desmaterialização/ descontinuidade econômica de vários itens acumulativos, propiciará um momento de certo 'renascimento', um cenário propício à Inovações, no seu entendimento igualmente sistêmico e contemporâneo. Esta desmaterialização como objeto de necessidade, é dada por uma concepção da coletividade que aceita os entes de seu meio em disposição horizontal cíclica, equivalendo-os na importância de seus direitos e deveres, um atributo da processualidade objetivada à Sustentabilidade Ambiental, que seria levada a cabo por esta Eficácia de um sincronismo entre ciclos, como resultado interacional diacrônico em um período de transição, e não fruto de um determinismo apocalíptico ou cataclísmico. Os ciclos dão suporte a dois quocientes: suficiência, um retrato reformulado de bem-estar e necessidades do usuário, e eficiência tecnológica, um ponto de equilíbrio entre biociclos e tecnociclos, mediados pelo Princípio da Interferência, sendo o resultado desta máquina (dado por sua virtuosa Eficácia), capaz de reformular um equipamento econômico exaurido de alternativas e marcado por consecutivas crises. Tal quadro propiciaria um cenário fértil para ações sinérgicas em prol de Inovações sistêmicas, cuja atividade empresarial é extremamente importante. Sinergia aqui se trata de um cenário 'catalisador de recursos sociais e energias projectuais e criativas' (MANZINI et al, 2008 p: 43) nas quais a inovação se orientaria a atividade empresarial para melhores soluções em âmbito econômico-ecológico.


A atividade empresarial para esta bíade do racionalismo econômico-ecológico, é a competitividade como catalisadora da qualidade neste tipo de oferta. Porém, para que haja convergência entre esse racionalismo industrial para fins de Eficácia, é preciso um rompimento com o antigo paradigma. A Inovação seria a matriz destes novos signos, podendo ser concebida por um cenário minuciosamente planejado, um posicionamento estratégico e ecologicamente orientado contendo a escolha das Best Pratices e Best Technologies para uma nova businesses idea, direcionadas a um green consumerism, que em MANZINI (2008) é mostrado como fenômeno consolidado. Tal fenômeno pode ser visualizado em países de economia de serviços inovadores, aonde socialmente percebe-se um deslocamento da atividade que envolve o âmbito denunciatório do fomento civil para o foco da economia de mercado, uma vez passando por um afunilamento de consumo disseminante destes paradigmas. Tais produtos apresentariam a qualidade de, em seu desenvolvimento, ter zero resíduo entre input/ output dos impactos poluentes resididos em seus componentes. Este caráter projectual industrial ecológico somado a atividade produtiva mais convencional, denomina-se Simbiose Industrial, que alinha-se ao conceito de friendlyness no intuito de focalizar-se na atividade de criar interfaces 'mais amigáveis', reduzidas ao mínimo com a finalidade de não acarretar posteriores fatores cumulativos a serem geridos e reduzidos pela gestão de resíduos, por exemplo, ou mesmo para a redução dos fatores industriais normativos a serem geridos e um maior foco nos itens de concepção integrada da produção amigável. Tais valores são incentivados como contrapartida à percepção de que o crescimento econômico, levado a cabo pela produtividade massiva têm sido o algoz de nosso bem-estar. Ainda sobre a desmaterialização da economia, é possível considerá-la como um anteparo capaz de ligar, dentro desta máquina eco-concebida, ciclos integrados de produção, e, expansão das necessidades naturalistas ligadas ao bem-estar do usuário. O retorno desta importância naturalista não significa o diagnóstico de uma afeição coletiva alinhada com um comportamento hegemônico fundamentalista, anti-consumista, unilateral e apartado de uma interação socioeconômica e sim, a força expressa de um raciocínio eco-integrado em pujança exponencial. Percebe-se também neste aparato que leva consigo a descontinuidade e a desmaterialização, a mudança no estereótipo do trabalho e a modalidade da vigilância desenvolvidos em locais, funções e tempos antes bem-definidos, sólidos, que dão lugar agora a outras formas de compreensão da atividade produtiva mediada por relações contratuais, e portanto, exercício do poder (SARAIVA et al. 2009). Em contrapartida, fortalecem-se a Microeconomia e Economia Solidária galgadas em bens de serviços e filantropia institucional. Portanto, 'o caráter projectual da transição para a Sustentabilidade não deve ser visto como a atualização do delírio de potência projectual (…) mas um (...) conjunto de contributos parciais a um grande, complexo e, provavelmente, contraditório fenômeno de inovação social (…)' (p. 64). 3.Sobre a atividade de compostagem: Sendo assim, no intento de suprir a necessidade dada para o desenvolvimento de um produtoserviço intrinsecamente sustentável, objetivou-se o estudo da compostagem aliada à gestão da 4 reciclagem , tendo nesta relação uma atividade pensada para a gestão dos resíduos orgânicos através da compostagem. Já no estudo realizado para este fim, o objetivo da atividade da compostagem é conduzir matérias-primas orgânicas residuais de seu estado sólido ao estado parcial ou total de humificação (estado de húmus) (KIEHL, 1986). Portanto, no contexto deste artigo esta atividade será concebida de maneira objetiva quanto ao seguinte quesito: contribuir para a necessidade de geração do humus na residência que apresente áreas destinadas ao pequeno cultivo (no que concerne a atividade de jardinagem independente do destino dado ao desenvolvimento das mudas) com grandes níveis de dependência de humus. A partir desta iniciativa reconhece-se o benefício microbiológico na 4 Composteira Coloidal (BRASIL, É. C. et al. 2009), Menção Honrosa Prêmio Alcoa de Inovação em Alumínio – América Latina e Caribe.


geração de microagregados ao solo, que aprimora a performance qualitativa do desenvolvimento do cultivo devido á melhora de seu fator estrutural agregante na forma dos aglutinantes coloidais, que por meio de estabilidade atômica possibilitam a melhor nutrição da muda. Empregado no solo, o humus se combinará com a argila retendo nutrientes tais quais K, 4Ca, Mg e H . No intuito de visualizar de forma exploratória estes eventos, visitou-se um grupo de extensionistas no Núcleo de Responsabilidade Empresarial Social – NURES na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA da Amazônia Oriental, sob orientação da professora assistente Ana Julia Soares Barbosa da Universidade do Estado do Pará. Ali fora pesquisado o comportamento de grandes amostras da atividade de compostagem, comumente realizada em áreas produtivas rurais de médio e pequeno porte (SENAR, 2003). 2 Tais amostras são denominadas leiras e são tetraédricas piramidais de aproximadamente 4m , que dependendo do local da aplicação para medição térmica, a análise resultará em três temperaturas heterogêneas, dada a profundidade do local. Aparentemente, o envoltório que se forma em torno da região que apresenta temperatura mais alta, é o responsável pela qualidade do composto a ser gerado, dada por uma relação inversa de espaço/tempo. O desenvolvimento térmico da atividade da compostagem se dá mediante alguma indução espacial do pesquisador com a amostra, e sintetiza-se em duas fases: termófila, que têm seu desenvolvimento térmico de 40 a 55°C, e fase mesófila, que evolui de de 55 a 70º C, tendo portanto, entre sua temperatura inicial e final, 30 graus de diferença entre fase de aquecimento e processo de humificação diagnosticado na amostra final. As leiras são montadas segundo uma recomendação na ordem do material para o empilhamento do composto orgânico, sendo a primeira formante, de capim seco, a segunda de Horti-Frutti, a terceira de folha e capim, e a quarta novamente, de folha e capim. A estimativa da média na composição estrutural formante nas leiras é que seja de 40% de horti-frutti e 60% de material estruturante, em terreno ideal sem diferenças em planagem. Tal material que é basicamente composto de restos vegetais, meios em fermentação e em alguns menores casos, de proteínas na sua forma animal, precisam de uma pré-trituração antes do arranjo espacial nas leiras. A degradação das leiras exige ambiente aeróbio, aberto, que também proporcionará minimização do odor possivelmente gerado no processo. Sua mistura inicialmente ácida (PH de 8 ou 9) consiste em 204 partes de restos vegetais para 1 parte de meios de fermentação, resultado em um composto pós-degradação de C1/35 = 1N de teor alcalino (PH de 5 ou 5,5). O custo-valor do benefício do composto gerado pela atividade da compostagem é de 333% de benefício (KIEHL, 1986). Atualizando-se esses dados, têm-se diante da percepção de uma intensificação da inovação em marketing demandada pelo fomento à produção e consumo sustentável, que este benefício calculado a partir desta valorização e mediante destinação ao ambiente urbano, estes custos legitimados na aquisição do produto-serviço em receptáculo poderiam ser modestamente mais altos para a pequena informal e doméstica iniciativa de venda de insumos orgânicos. Tal comportamento já pode ser averiguado mediante SEBRAE (2011), que aponta uma crescente e consolidante tendência japonesa, as Urban Farms 5 (OURWORLD 2.0, 2010) , percebendo aí neste recorte social japonês, um retrato de uma sociedade industrial em muitos âmbitos restringida por escassos espaços férteis para o cultivo, e que como toda a comunidade global culturalmente híbrida (CANCLINI, 2004), fomentadora também do consumo consciente (ALMANAQUE SOCIOAMBIENTAL, 2008) de forma progressiva em vários espaços das trocas intangíveis. Figura 1: Composteira Coloidal (2009). Fonte: acervo do autor

5

Entendida aqui como expoente de uma tendência a comercializar mudas para os usuários moradores de apartamentos. Acesso em 31 de Maio de 2011. Link: http:/ourworld.unu.edu/en/farming-in-the-concrete-jungle


Figura 2: Processadora de lixo (2010). Fonte: acervo do autor

4.Conclusão O projeto deste serviço de compostagem, formatado no receptáculo para processamento de lixo, se destina ao objetivo de minimizar o acúmulo do residual orgânico domiciliar em suas propriedades minerais e concentrações, ao mínimo. Este composto será então renaturalizado em sistemas regidos por bio-ciclos, na forma das atividades resididas no cultivo em áreas urbanas, tal como as Urban Farms, incentivando assim a adesão a uma ecologia industrial fortemente desmaterializada, uma economia baseada em ofertas de serviço, e favorecendo o interesse pela cultura empreendedora, orientada pela inovação sustentavelmente viável. O acondicionamento de sintéticos para catalização das amostras estudadas, apresentarão baixo quociente de custo/ benefício na fertilidade do material, ou má herança congênita. Portanto tais catalisadores não são em qualquer ocasião indicados. Porém não foram percebidos em casos estudados, o uso de condicionamento térmico. A segregação dos processos na forma do biociclo e tecnociclo, demonstra a segregação e talvez a simplificação do raciocínio estruturalista e também acumulativo na concepção dos ciclos. As lacunas de compreensão acerca da sustentabilidade só poderão ser superadas mediante um fluxo mais elevado de informações, para uma melhor gestão da inteligência organizacional e portanto, produtiva. Pode-se dizer sobre os raciocínios apresentados aqui, que são um tipo de racionalismo econômico e ecológico, em prol de um novo paradigma econômico. Um importante atributo a ser seguido a risca durante este longo processo é a


democratização da interlocução, a discussão constante dos feedbacks acerca dos processos referentes a sustentabilidade. 5. Referências Almanaque Brasil Socioambiental. (2008). Instituto Socioambiental. Canclini, N. G. (2004). Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Editora Edusp. Kiehl, E. J. (1986). IN: XXVI CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA. Curso de nutrição e adubação de hortaliças. Salvador. Kawasaki, J. OURWORLD 2.0: Farming in the concrete jungle. Acesso em 31 de Maio de 2011. Link: http://ourworld.unu.edu/en/farming-in-the-concrete-jungle/ Manzini, E. & Vezzoli. (C. 2008). O desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. Saraiva, K. & Neto, A. V. (2009). Modernidade Líquida, Capitalismo Cognitivo e Educação Contemporânea. Educação e Realidade. SEBRAE. Fórum de tendências de moda Inverno 2012. 31 de Maio de 2011. Belém (PA). SENAR. (2003). Trabalhador na olericultura básica: Compostagem. Brasília.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.