Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Hortaliças Embrapa Estudos e Capacitação Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Agência Brasileira de Cooperação Japan International Cooperation Agency
Coleção - Third Country Training Program – TCTP Hortaliças
Sistema de Produção Sustentável de Hortaliças Módulo I
Juscimar da Silva Margarida Gorga Editores Técnicos
Embrapa Brasília, DF Março 2014
Esta publicação destina-se exclusivamente ao desenvolvimento de Programa Third Country Training Program (TCTP). Venda Proibida. Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Unidade Responsável pela Edição: Unidade Responsável pelo Conteúdo: Embrapa Hortaliças
Embrapa Estudos e Capacitação
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Comitê de Publicações da Embrapa Hortaliças Presidente: Warley Marcos Nascimento Editor Técnico: Ricardo Borges Pereira Supervisor Editorial: George James Bibliotecária: Antônia Veras de Souza
Chefe Adjunto de Capacitação: Paulo Melo Coordenador do Projeto: Margarida Gorga Apoio pedagógico: Maria Quitéria Marcelino
Membros: Fábio Akiyoshi Suinaga, Carlos Eduardo Pacheco Lima, Ítalo Moraes Rocha Guedes, Jadir Borges Pinheiro, Mariane Carvalho Vidal.
Consultoria em EAD: Mentor Interativa Design Educacional: Ximenes Prado, Adriano Marcius Ferreira, Juliete Alves de Oliveira. Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Editora Nova Espiral Capa: Editora Nova Espiral 1ª edição 1ª impressão (2014): 100 exemplares: il.; - 20,5 x 27,5 cm. – (Third Country Training Program – TCTP Hortaliças).
Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.160). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Hortaliças Curso Internacional sobre Produção Sustentável de Hortaliças: módulo I Sistema de Produção Sustentável de Hortaliças / SILVA, Juscimar da, GORGA, Margarida (Ed. Técnicos). – Brasília, DF: Embrapa, 2014. 216p. : il.; - 20,5 x 27,5 cm. – (Third Country Training Program – TCTP Hortaliças). ISBN: 1. Sistema de Produção. 2. Agricultura. 3. Horticultura. 4. Sustentabilidade. I. Silva, Juscimar da. II. Gorga, Margarida (ed. Técnico). III. Coleção CDD 631.584 ©Embrapa Março 2014
Autores Alexandre Pinho de Moura
Margarida Gorga
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Entomologia, pesquisador A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. alexandre.moura@embrapa.br
Jornalista, especialista em Inovação em Tecnologias Educacionais, Analista B da Embrapa Estudos e Capacitação, Brasília, DF. guida.gorga@embrapa.br
Daniel Basílio Zandonadi Engenheiro Agrônomo, Doutor em Biociências e Biotecnologia, Analista A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. daniel.zandonadi@embrapa.br
Mariane Carvalho Vidal
Ítalo Moraes Rocha Guedes
Nuno Rodrigo Madeira
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. italo.guedes@embrapa.br
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitotecnia, Pesquisador A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. nuno.madeira@embrapa.br
Iriani Rodrigues Maldonade
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitopatologia, Pesquisador A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. ricardo-borges.pereira@embrapa.br
Engenheira de Alimentos, Doutora em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Pesquisadora A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. iriani.maldonade@embrapa.br
Jadir Borges Pinheiro Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitopatologia, Pesquisador A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. jadir.pinheiro@embrapa.br
Juscimar da Silva Engenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. juscimar.silva@embrapa.br juscimar.silva@embrapa.br
Marçal Henrique Amici Jorge Engenheiro Agrônomo, Ph.D. em Fitotecnia, Pesquisador A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. marcal.jorge@embrapa.br
Marcelo Mikio Hanashiro Engenheiro Agrônomo, Mestrado em Desenvolvimento Econômico, Analista A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. marcelo.hanashiro@embrapa.br
Marcos Brandão Braga Engenheiro Agrônomo, Doutor em Irrigação, Pesquisador A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. marcos.braga@embrapa.br
Bióloga, Ph.D. em Agroecologia, Pesquisadora A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. mariane.vidal@embrapa.br
Ricardo Borges Pereira
Rita de Fátima Alves Luengo Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitotecnia, Pesquisadora A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. rita.luengo@embrapa.br
Waldir Aparecido Marouelli Engenheiro Agrícola, Ph.D. em Engenharia Agrícola e de Biossistemas, Pesquisador A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. waldir.marouelli@embrapa.br
Warley Marcos Nascimento Engenheiro Agrônomo, Ph.D. em Fisiologia de Sementes, Pesquisador A da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. warley.nascimento@embrapa.br
Prefácio Mais um desafio cumprido! O Módulo I – Sistemas de Produção de Hortaliças, agora reformulado, é fruto de intensa observação sobre o curso Produção Sustentável de Hortaliças, que vem se realizando desde 2011 no formato híbrido – um módulo realizado a distância e um realizado presencialmente no Brasil. Da mesma forma que as Tecnologias de Informação e Comunicação evoluem a largos e velozes passos, o setor educacional tem sido profundamente impactado por essas transformações e pelo uso das novas tecnologias em sala de aula e fora dela. Ainda mais quando se trata de educação continuada, cujo público-alvo são adultos que trabalham e buscam, senão, aperfeiçoamento profissional. A Embrapa, em parceria com a ABC (Agência Brasileira de Cooperação) e a JICA (Japan International Cooperation Agency), assumiu o desafio de rever metodologias, recursos, processos e tecnologias com o objetivo de atualizar, não só os conteúdos, como também as estratégias de ensino-aprendizagem desse Curso. Assim apresentamos a uma nova edição do Módulo I, com o enfoque mais amplo que os anteriores, Sistema de Produção Sustentável de Hortaliças. Os anos anteriores e as experiências em sala de aula mostraram que o modelo de capacitação implantado precisaria ser revisto, visando melhorar a interação dos participantes com os conteúdos propostos, levando-os à prática de produção agrícola, avançando além da parte teórica, dada em sala de aula. Levou-nos a desafiar também a equipe de pesquisadores da Embrapa Hortaliças para uma nova dinâmica de ensino-aprendizagem, desfazendo-se dos modelos tradicionais de ensino baseados na apresentação linear e de mão única – com apoio do Power Point e uma palestra ativa-passiva, em que os participantes faziam pouca ou nenhuma interpelação. Os pesquisadores aceitaram o desafio, debruçaram-se sobre os conteúdos e construíram um conjunto de ensinamentos considerados o estado da arte da produção de Hortaliças hoje no Brasil, fruto das suas pesquisas, às quais se dedicam diariamente. O presente livro-texto não abarca toda essa experiência, mas será o ponto de partida de uma nova abordagem que envolve também modificações no Módulo II, a ser ministrado no Brasil. A segunda parte dessa capacitação também será reformulada, apresentando um programa mais prático, com experiências reais em campo, visando completar os ensinamentos teóricos iniciados no Módulo I. Nesta breve apresentação, queremos externar os devidos agradecimentos aos parceiros JICA e ABC e aos pesquisadores da Embrapa Hortaliças, que, ombro a ombro, dedicaram-se com ânimo e paixão a esse projeto. Foram meses de articulações, escolhas e trabalho intenso para, enfim, apresentar o Módulo I – Sistema de Produção Sustentável de Hortaliças. O esforço não se encerra aqui, ainda virão novos desafios a serem superados quando caminhamos rompendo as barreiras do desconhecido e da excelência, as quais queremos atingir. Juscimar da Silva e Margarida Gorga
Apresentação
Esta obra fornece conhecimentos básicos de diferentes áreas da agronomia que compõem um sistema de produção de hortaliças. Cada capítulo retrata a percepção de cada especialista de como se produzir hortaliças de forma sustentável - termo utilizado num sentido mais amplo, com ênfase na manutenção da saudabilidade de todo o ecossistema. O uso de insumos agropecuários, necessários para produção de hortaliças, é abordado e incentivado, desde que precedido de recomendações técnicas. O primeiro capítulo enfoca a preocupação com o indivíduo solo, tema central quando se refere ao sistema de cultivo conservacionista. A proteção do solo com vistas a melhorar as características físicas e o incremento da matéria orgânica é discutida com ênfase na manutenção da cobertura do solo e da adoção da prática de rotação de culturas, abrindo mão de técnicas convencionais de aração e gradagem. O sistema de produção orgânica de hortaliças, tema do segundo capítulo, é uma alternativa interessante para regiões com baixa disponibilidade de insumos e deve ser encorajada porque se trata de uma alternativa de cultivo factível de ser reproduzida localmente. A construção da fertilidade do solo e a diversificação de culturas são pontos centrais da discussão. Dentre os conceitos agroecológicos, são apontados exemplos de adubos verdes, biofertilizantes e manejo do solo. Conhecer o indivíduo solo e o seu estado nutricional são as premissas do terceiro capítulo, que aborda o tema adubação de hortaliças. Solos férteis não são necessariamente solos produtivos. A interação entre nutrientes, influenciada pelas variáveis físicas e químicas do solo, pode afetar a disponibilidade deles para as plantas. Além disso, as espécies hortícolas, diferentes de outras plantas cultivadas, são muito exigentes em nutrientes. Portanto, a análise química do solo é tratada como ferramenta-chave para iniciar um programa de manejo da fertilidade do solo. O quarto capítulo discorre sobre o uso e o manejo da água. A pressão sobre o uso da água, recurso limitante ao desenvolvimento vegetal, tornou proibitiva a irrigação de hortaliças fundamentada em conhecimentos empíricos. Em regiões onde o regime pluviométrico é limitado ou irregular, o manejo eficiente da irrigação é fundamental e será conseguido por meio do bom dimensionamento do sistema. Informações básicas sobre sistemas de irrigação e recomendações técnicas para o bom manejo da água de irrigação são discutidas com detalhe. A produção de sementes e mudas, tema do quinto capítulo, introduz a preocupação com a qualidade da semente a ser utilizada na produção de hortaliças. Com as condições ambientais adequadas e o uso de sementes selecionadas, o produtor poderá obter o máximo de germinação em pouco tempo, levando ao aumento do potencial produtivo da sua lavoura. O cuidado na seleção e na produção de boas sementes será tratado detalhadamente no referido capítulo.
As maiores ameaças à produção de hortaliça são as pragas e as doenças. A identificação, o reconhecimento do nível de dano e a tomada de decisão de quando intervir são muito bem abordados nos capítulos seis e sete, de manejo integrado de pragas e manejo integrado de doenças. Alternativas de controle biológico são apontadas e seu uso é recomendado e incentivado. Por fim, no capítulo de pós-colheita são indicados os cuidados que devem ser tomados nos estágios intermediários à chegada da hortaliça até a mesa do consumidor. Minimizar a perda pós-colheita é um grande desafio para os profissionais da ciência e tecnologia de alimentos, e isso ocorre porque, diferente da maioria das culturas, as hortaliças, depois de colhidas, ainda se mantêm “vivas”. Com esse conjunto de conhecimentos, adquiridos pelos cientistas da Embrapa, em parceria com diferentes instituições brasileiras e internacionais de ensino e pesquisa, na constante experimentação científica, fruto do exercício cotidiano da ciência nos campos e laboratórios, buscou-se oferecer aos participantes do TCTP Hortaliças a oportunidade de se aproximar de duas vertentes: o conhecimento científico e a prática exercida nos seus campos de atuação.
Índice Capítulo 1 – Sistemas de plantio direto (SPD) 1.1 Preocupação com o solo .................................................................................................... 13 1.2 Plantio direto na palha ...................................................................................................... 13 1.3 Considerações finais .......................................................................................................... 18
Capítulo 2 – Sistemas de cultivo orgânico 2.1 Agricultura sustentável ..................................................................................................... 20 2.2 Sistema de produção orgânica ......................................................................................... 20 2.3 Produção orgânica de hortaliças ...................................................................................... 25 2.3.1 Ações para a produção orgânica de hortaliças ...................................................... 25 2.3.2 Manejo de solo em agricultura orgânica ............................................................... 35 2.3.3 Adubos e adubação na produção orgânica de hortaliças ..................................... 44 2.3.4 Certificação da produção orgânica ........................................................................ 50 2.3.5 Integração com a produção animal ........................................................................ 54 2.4 Considerações Finais ......................................................................................................... 58
Capítulo 3 – Adubação de hortaliças 3.1 Solo .................................................................................................................................... 60 3.2 Manejo da fertilidade ....................................................................................................... 67 3.3 Avaliação da fertilidade .................................................................................................... 70 3.4 Considerações finais ........................................................................................................... 81
Capítulo 4 – Irrigação 4.1 Importância e eficiência dos sistemas de irrigação ......................................................... 83 4.2 Métodos e sistemas de irrigação ...................................................................................... 84 4.2.1 Método de irrigação superficial ............................................................................. 84 4.2.2 Método de irrigação subsuperficial ........................................................................ 87 4.2.3 Método de irrigação por aspersão ......................................................................... 88 4.2.4 Método de irrigação localizada .............................................................................. 93 4.2.5 Seleção de sistema de irrigação .............................................................................. 96 4.2.6 Cuidados e Manutenção de Sistemas de Irrigação ................................................ 97 4.3 Manejo da água de irrigação ........................................................................................... 98 4.3.1 Necessidade de água das hortaliças ....................................................................... 99 4.3.2 Armazenamento de água no solo ........................................................................ 101 4.3.3 Métodos de manejo da água de irrigação ........................................................... 102 4.3.4 Tempo de irrigação ................................................................................................ 106 4.3.5 Melhor horário para irrigar .................................................................................. 108 4.3.6 Estratégias para economizar água ....................................................................... 109 4.4 Considerações finais ......................................................................................................... 110
Capítulo 5 – Sementes e mudas 5.1 Sementes e mudas de qualidade .................................................................................... 112 5.2 Produção de sementes .................................................................................................... 112 5.2.1 Qualidade das sementes ....................................................................................... 113 5.2.2 Análise de sementes de hortaliças ........................................................................ 116 5.2.3 Tratamento de sementes ....................................................................................... 121 5.3 Produção de mudas.......................................................................................................... 124 5.3.1 Qualidade na produção de mudas ....................................................................... 124 5.4 Considerações finais ......................................................................................................... 135
Capítulo 6 – Manejo Integrado de Pragas 6.1 Sustentabilidade, meio ambiente e bem estar .............................................................. 137 6.2 Reconhecimento de pragas e suas injúrias .................................................................... 138 6.3 Reconhecimento dos inimigos naturais ......................................................................... 156 6.4 Vistoria periódica do cultivo – monitoramento ............................................................ 157 6.5 Momento de controlar a praga (tomada de decisão).................................................... 159 6.6 Seleção e uso planejado dos métodos de controle ....................................................... 161 6.7 Considerações finais ........................................................................................................ 165
Capítulo 7 – Manejo Integrado de Doenças 7.1 O ciclo de doença nas plantas ........................................................................................ 168 7.2 Métodos de controle cultural de doenças ..................................................................... 171 7.3 Nematoides....................................................................................................................... 184 7.3.1 O que são nematoides? ......................................................................................... 184 7.3.2 Sua importância no cultivo de hortaliças ............................................................. 185 7.3.3 Perdas e danos provocados pelos nematoides em hortaliças. ............................ 185 7.3.4 Principais espécies de nematoides de importância para hortaliças .................... 185 7.3.5 Amostragem para identificação e diagnose de nematoides .............................. 186 7.3.6 Sintomatologia ...................................................................................................... 187 7.3.7 Manejo Integrado de Nematoides. ...................................................................... 188 7.4 Considerações finais ........................................................................................................ 190
Capítulo 8 – Pós-colheita e comercialização 8.1 Qualidade na pós-colheita .............................................................................................. 192 8.2 Colheita ............................................................................................................................ 192 8.2.1 Cuidados na colheita ............................................................................................. 192 8.2.2 Acessórios de colheita ........................................................................................... 195 8.2.3 Técnicas de colheita ............................................................................................... 196 8.2.4 Ponto de colheita de hortaliças ............................................................................ 197 8.2.5 Manuseio ............................................................................................................... 198 8.3 Armazenamento ............................................................................................................. 202 8.4 Distribuição ...................................................................................................................... 204 8.5 Logística e comercialização ............................................................................................ 206 8.5.1 Logística ................................................................................................................. 206 8.5.2 Comercialização ..................................................................................................... 207 8.6 Considerações finais ........................................................................................................ 209
Introdução Sustentabilidade na Agricultura – uma reflexão O consumidor atual, em grande parte dos países, tem sido insistentemente chamado a pensar sobre o conceito de sustentabilidade. Os meios de comunicação, numa adoção superficial, "vendem" a ideia de que a sustentabilidade é um produto acabado, não relacionado a mudanças de atitudes próprias ou da sociedade em que vive. Mudanças que estão diretamente relacionadas à cultura, às crenças e aos valores dos povos, independente do país em que se encontre. O desejo por um "mundo sustentável" implica em adoção – quase que unânime – de práticas cotidianas menos agressivas ao planeta, tais como reciclagem de lixo, redução de poluição do ar, da água e da terra. Essa nova postura passa também por atitudes sustentáveis nas relações sociais, profissionais e até entre países, pela sustentabilidade econômica da produção, entre tantos outros elementos. Com base no tripé da sustentabilidade, que engloba questões ambientais, econômicas e sociais, a reflexão que se propõe aqui nesse curso é identificar – no âmbito da produção de hortaliças em diferentes escalas – técnicas e processos que permitam o equilíbrio entre a produção efetiva de alimentos, aliada à economicidade da produção e à sua correta distribuição para a sociedade. Em relação especificamente à produção de hortaliças, a reflexão sobre a sustentabilidade deve ser mais profunda. Existem alguns mitos a serem derrubados. O primeiro deles, e que faz parte de um senso comum, é o que trata o agricultor como um dos vilões, levando o debate para o plano ideológico e político, quando não para o plano moral. Um debate a respeito da produção sustentável de hortaliças, por exemplo, está relacionado ao uso intenso de defensivos agrícolas (agrotóxicos). Destaca-se que parte da opinião mundial é contrária a essa prática – inclusive muitos produtores. Entretanto, a adoção ou não do uso de defensivos agrícolas na produção de hortaliças é uma decisão difícil de ser tomada. Se por um lado, não há produtos químicos adequados às diferentes variedades, por outro, há uma crescente preocupação com a forma correta de utilização, e o produtor, muitas vezes, não tem alternativas. Mas, o não uso de defensivos agrícolas deverá levar o produtor a rever todo o seu sistema de plantio, o que implica em custos extras. Os ganhos com a comercialização de alimentos orgânicos poderão compensar – no médio prazo – os investimentos iniciais? A produção orgânica garantirá a rentabilidade (sustentabilidade econômica da produção) ao produtor? Essas questões, entre tantas, devem ser analisadas à luz da sustentabilidade em diferentes aspectos. As razões que impulsionam o mundo globalizado a propor a produção de alimentos menos agressiva ao organismo humano devem ser analisadas, inevitavelmente, considerando, além dos fatores ambientais, os sociais e os econômicos. E, para você, considerando a sua atividade exercida hoje, qual a sua visão sobre sustentabilidade na produção de hortícolas?
Neste curso, procurou-se abranger diferentes tipos de cultivos, visando debater as diferentes possibilidades destes, bem como outros aspectos da produção de qualidade, que envolve a preparação e a análise dos diferentes solos, a escolha de mudas e sementes, os cuidados com tratos culturais e o combate a pragas e a doenças, a escolha do tipo de irrigação adequada, bem como os cuidados na colheita e na comercialização. Nesse primeiro capítulo, a proposta é refletir sobre a sustentabilidade na produção hortícola. A primeira atividade em grupo é o fórum disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), para a reflexão e o debate sobre diferentes visões acerca de SUSTENTABILIDADE. Participe! No link a seguir, você encontrará o local para iniciar esse debate com os demais colegas e os professores. Encontramo-nos lá.
Ítalo Moraes Rocha Guedes
Fórum Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e participe do fórum "As diferentes visões sobre sustentabilidade", no endereço: http://capacitacao.sede.embrapa.br/
Capítulo
Nuno Rodrigo Madeira
Foto: Nuno Rodrigo Madeira
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Sistema de Plantio Direto (SPD)
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • Demonstrar a importância do sistema de plantio direto (SPD). • Descrever o que é e quais são os fundamentos deste sistema de cultivo. • Distinguir as vantagens e as desvantagens do plantio direto na palha. • Identificar os pontos-chave para a adoção do plantio direto.
1.1 Preocupação com o solo Hoje sabemos da importância de se entender que o solo deve ser tratado e não somente explorado. Devemos pensar em "adubar o solo" e não em adubar a planta, sendo consequência do equilíbrio deste a obtenção de produções satisfatórias. É indispensável buscar alternativas para o desenvolvimento de um modelo de produção de hortaliças com sustentabilidade ambiental, equidade social e viabilidade econômica, adequado às condições climáticas tropicais. O Sistema de Produção Conservacionista, conhecido como Sistema de Plantio Direto (SPD), vem sendo apontado como alternativa social e econômica para o tratamento do solo de maneira sustentável.
Caso de sucesso: Teresópolis e Nova Friburgo Na década de 90, em Teresópolis e Nova Friburgo, região serrana do Estado do Rio de Janeiro - Brasil, aplicouse o sistema conservacionista para o cultivo de couve-flor, utilizando aveia, ervilhaca e vegetação espontânea para a formação de palhada, manejando o mato sem eliminá-lo. Os resultados? A produção superou as expectativas, indo melhor do que em cultivos convencionais realizados na mesma época, por produtores regionais. Os agricultores que utilizaram a prática alegaram que a terra fica mais "gorda", mais fácil de trabalhar, o terreno resseca menos e a planta aguenta o calor. Esses são comentários práticos carregados de ciência, que fazem referência à melhoria das características físicoquímicas e biológicas e à regulação hídrica e térmica do solo. Até hoje o SPD é empregado na região, usando, principalmente, a aveia como planta de cobertura formadora de palhada
Desafio! Você sabe responder as seguintes perguntas? • O que é plantio direto? É um modelo sustentável? Por quê? • O plantio direto diminui a erosão do solo? • Por que o plantio direto promove o aumento dos teores de matéria orgânica no solo? • No plantio direto, a infestação por plantas espontâneas aumenta ou diminui? • Quais itens devem ser levados em consideração ao se decidir por adotar o Sistema de Plantio Direto (SPD)? Encontre estas ou outras respostas ao longo deste capítulo.
1.2 Plantio direto na palha O plantio direto é um sistema de manejo sustentável de solo e água que visa expressar o potencial produtivo das culturas, sendo fundamentado em três requisitos básicos, como se vê ao lado.
Requisitos básicos do plantio direto • Rotação de culturas, incluindo plantas de cobertura formadoras de palhada. • Revolvimento mínimo do solo, restrito às covas ou às linhas de plantio. • Cobertura permanente do solo, verde ou morta (palhada).
Sistema de plantio direto (SPD)
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Efeitos do plantio direto • Redução da erosão (Figura 2): - Aumento da capacidade de retenção de água. - Redução do assoreamento dos cursos d’água. • Maximização do uso da água e da energia. • Redução da mecanização. • Maior eficiência de uso da água (Tabela 1).
Figura 2. Voçoroca em Mato Grosso, MT, Brasil.
Tabela 1. Consumo estimado de água para produção de alimentos (L.kg-1)
Tipo de hortaliça
Consumo estimado de água
Tipo de hortaliça
Consumo estimado de água
Alface
192
Cenoura
276
Batata
200
Repolho
326
Cebola
134
Tomate
192
• Recuperação ou preservação das características físicas, químicas e biológicas do solo: - Elevação dos teores de matéria orgânica. - Preservação da estrutura do solo. - Maior ação de minhocas e microrganismos. • Regulação térmica: - 41 °C em PC x 32 °C em PD. • Redução da infestação de plantas daninhas. • Redução na dispersão de doenças.
Foto: Nuno Rodrigo Madeira
Dentre as premissas do plantio direto (Figura 1), destaca-se, do ponto de vista social e econômico, a possibilidade desse modelo de gerenciamento da produção agrícola ser uma opção para a promoção do desenvolvimento rural sustentável, em decorrência da menor dependência por insumos externos, pela alta conservação ambiental que proporciona e pelo consequente aumento de renda do agricultor. O plantio direto pode significar a sobrevivência da agricultura nos trópicos e subtrópicos, caminho certo e definitivo na busca da competitividade, da sustentabilidade e da equidade com qualidade ambiental. Significa, ainda, uma mudança de comportamenFigura 1. Repolho no sistema de plantio direto na palha. to e uma profissionalização dos atores do agronegócio. Plantio direto – uma opção para a promoção do desenvolvimento rural sustentável
Foto: Claudio Lucas Capeche
Sistema de plantio direto (SPD)
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Para refletir e anotar! Aproveite este momento e reflita sobre a seguinte questão: quais são as vantagens e as desvantagens do plantio direto? Vantagens
Desvantagens
Um caso de sucesso em Piedade Na região de Piedade, Estado de São Paulo, produtores, buscando alternativas para melhorar a produção de alface no verão, dificultada pelo clima quente e chuvoso, testaram o plantio de hortaliça sobre palhada de aveia preta ou milheto. O preparo dos canteiros é feito em junho, com adubação de base programada. Efetua-se o semeio manual a lanço e, antes da maturação dos grãos, desseca-se a aveia ou o milheto 30 dias antes do transplantio da alface. Verificou- se incremento produtivo, redução do inçamento e redução da infestação por doenças, pela ausência de respingos nas folhas, e pela melhor drenagem dos canteiros, proporcionando produto de melhor qualidade.
Vantagens do Sistema de Plantio Direto • Minimização da erosão, pelo amortecimento do impacto das gotas da chuva e dos efeitos das pesadas enxurradas, tanto pela palhada propriamente dita quanto pela integridade da estrutura do solo, pelo fato de não se efetuar o revolvimento do solo e sim a "aração biológica", verificando-se significativo aumento da infiltração de água e da capacidade de retenção de água no solo. • Aumento na eficiência de uso de água e energia, pela maior infiltração da água no solo e menor escorrimento superficial e evaporação da água, observando-se redução na necessidade de irrigação de até 20%. • Redução da mecanização, superior a 50%, quando comparado a sistemas convencionais de produção. • Elevação dos teores de matéria orgânica do solo, pela reduzida movimentação e pelo aporte de resíduos. • Redução da infestação por plantas espontâneas, seja pela ação física, atuando como barreira; seja pela ação química, em função do efeito alelopático que algumas espécies apresentam, como sorgo, mucunas e outras. • Aumento na diversidade da biota do solo, por elevar os teores de matéria orgânica. • Redução da dispersão de doenças de solo, em consequência da diminuição dos respingos de água da chuva e do escorrimento superficial.
Sistema de plantio direto (SPD)
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Sistema de plantio direto (SPD)
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• Regulação térmica do solo, observando-se amenização da temperatura nas horas mais quentes do dia, com redução de até 9°C na palhada em superfície do solo, próximo ao coleto da planta, quando em comparação ao solo desprotegido, e retenção do calor residual nas horas mais frias do dia.
Desvantagens do Sistema de Plantio Direto • Em regiões muito úmidas, o plantio direto pode favorecer o desenvolvimento de alguns fungos fitopatogênicos que sobrevivem na palhada, aumentando o inóculo inicial de doenças; entretanto, a dispersão destas é mais lenta. • Aumento da população de "corós", besouros consumidores de matéria orgânica que, quando em elevadas populações, podem atacar as raízes das plantas como alimentação alternativa – fenômeno já relatado em áreas sob plantio direto de grãos. • Aumento da população de cupins, consumidores de celulose, que podem atacar as raízes caso haja um desequilíbrio na população e a disponibilidade de palhada seja insuficiente em alguns períodos do ano. • Compactação do solo, caso não ocorra o pleno estabelecimento das plantas de cobertura, em geral, em decorrência da escolha inadequada da rotação de culturas ou, ainda, de seu inadequado manejo, a exemplo do excesso de pisoteio ou de trânsito de máquinas na área. • Indisponibilização da área pelo cultivo de plantas de cobertura que muitas vezes não tem valor comercial direto. As experiências com sistemas de plantio direto devem receber ajustes conforme a realidade local, visto que, nesse sistema de plantio, não existe um manejo único, uma receita geral, mas sim uma complexa dinâmica, exigindo acompanhamento constante e moni-
Plantio direto – não existe um manejo único, uma receita geral.
toramento de todos os fatores, bióticos e abióticos, que atuam no sistema produtivo. Os sistemas de plantio direto de hortaliças podem ser desenvolvidos dentro dos mais diversos ambientes ou realidades socioeconômicas. Grandes produtores, altamente tecnificados e mecanizados, ou microprodutores, cujo único bem é a força de sua mão de obra, podem desenvolver eficientes sistemas de produção. Também se pode trabalhar o SPD sob manejo orgânico (capítulo 02). Fato é que o plantio direto é uma ferramenta para o desafio de conservar os recursos solo e água, maximizando o uso da água e do solo e minimizando os processos erosivos.
Fórum A questão-chave é saber identificar quais devem ser as características do Sistema de Plantio Direto que trará melhores resultados, diante de uma determinada realidade. Para trocar experiências com outros interessados a esse respeito, acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e participe do fórum do capítulo 1, no endereço: http://capacitacao.sede.embrapa.br/.
Dinâmica populacional de pragas e inimigos naturais próprios.
• Calagem e "fosfatagem". • Redução da população de plantas infestantes problemáticas. • Descompactação do solo (mecânica ou biológica). • Escolha adequada da sucessão de culturas (diversidade). • Alta densidade e uniformidade nas plantas de cobertura. • "Palha, Palha, Palha" (grãos) e "Raiz, Raiz, Raiz" (hortaliças). • Adequação da adubação de base. • Oportunidade de redução da adubação fosfatada. • Adubação nitrogenada diferenciada conforme a palhada. • Manejo da irrigação considerando a → Efic. Uso Água. • Dinâmica populacional de pragas e inimigos naturais próprios. • Adaptação às realidades locais.
Dificuldades (ou) oportunidades • Uso intensivo da área em olericultura. • Baixa produção de resíduos em hortaliças para o SPD. • SPD exige planejamento e PC "não tanto". • Falta de equipamentos, o que representa grande oportunidade para o desenvolvimento de novos produtos.
1.3 Considerações finais Neste capítulo, você viu o que é o Sistema de Plantio Direto (SPD), quais são seus fundamentos, vantagens e desvantagens e, por fim, discutiu-se sobre os pontos-chave para a sua adoção. No capítulo seguinte, você apresentará sobre a produção orgânica de hortaliças que tem como um dos métodos o SPD.
Sistema de plantio direto (SPD)
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Sistema de plantio direto (SPD)
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Pesquise e aprenda mais! Para aprofundar seus conhecimentos sobre este assunto, consulte os materiais de referência existentes no material de apoio. Como sugestão, responda às seguintes perguntas direcionadoras.
Questão Direcionadora Quais modelos de produção são adequados para o sistema de plantio direto? Como o sistema de plantio direto pode ajudar a combater os efeitos negativos da seca?
Material de Referência
(disponíveis na Biblioteca do material de apoio e do AVA) Plantio direto reduz efeitos da degradação do solo http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2011/plantio-direto-reduz-efeitos-da-degradacao-do-solo/?searchterm=plantio%20direto Vídeo no material de apoio • Plantio_direto_degradacao
Quais são as vantagens do plantio direto para a agricultura familiar?
Sistema de Plantio Direto para agricultores familiares http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2009/sistema-de-plantio-direto-para-agricultores-familiares/?searchterm=plantio%20direto Vídeo no material de apoio • SistemaPlantioDiretoAgricultoresFamiliares Plantio direto agroecológico http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2008/plantio-direto=-ecologico/?searchtermplantio%20direto Vídeo no material de apoio • PlantioDiretoAgroecológico
Como escolher as culturas para se realizar a rotação?
RESENDE, F.V; VIDAL, M.C. Organização da propriedade no sistema orgânico de produção. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2008. (Circular Técnica, 63).
Que plantas podem ser utilizadas para a formação da palhada?
Atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) http://capacitacao.sede.embrapa.br/ Acesse o ambiente virtual de aprendizagem e responda as atividades propostas para este capítulo.
Capítulo
Francisco Vilela Resende Daniel Basílio Zandonadi
Mariane Carvalho Vidal Ronessa Bartolomeu Foto: Francisco Vilela Resende
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Sistema de cultivo orgânico
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • Listar as características necessárias para que uma produção de hortaliças seja considerada orgânica. • Destacar aspectos importantes da legislação sobre a produção orgânica e comparar as legislações do Brasil e de seu país. • Planejar ações para transformar um sistema de produção convencional em um sistema orgânico. • Demonstrar como organizar uma propriedade no sistema orgânico de produção. • Descrever técnicas de manejo de solo e adubação, pertencentes à agricultura orgânica. • Comparar instituições e processos que envolvem a certificação da produção orgânica no Brasil e em seu país. • Conhecer parte da integração da produção orgânica com a produção animal.
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2.1 Agricultura sustentável Em busca de uma produção agrícola mais sustentável, a agricultura orgânica se apresenta como um sistema bastante interessante no que se refere à adoção de algumas práticas e princípios alinhados ao que é preconizado no conceito de sustentabilidade. Embora seja bastante debatido, é consenso que, para ser sustentável, é necessário que o sistema apresente:
Vale lembrar que... Enquanto no sistema convencional, uma lavoura é tratada de forma individualizada e com a maioria dos insumos de alto custo energético vindos de fora da propriedade, no sistema orgânico procura-se explorar ao máximo os fatores inerentes ao ambiente e os recursos internos à propriedade.
• Uma base ecológica. • Um rendimento sustentável. • A capacidade de renovar-se diante da colheita de certa quantidade de biomassa. • A garantia de que essa capacidade de renovação não esteja em risco. • As mínimas consequências negativas para o futuro.
Desafio Você sabe responder as seguintes perguntas? • Quais são os requisitos para ter-se uma produção orgânica? • Que elementos compõem o planejamento da produção orgânica? Como fazer esse planejamento? • Como realizar o manejo do solo na produção orgânica? • Como adubar na produção orgânica? • O que é a certificação dos produtos orgânicos? Que benefícios oferece? Como obtê-la? • Como a produção orgânica pode ser integrada à produção animal? Encontre estas ou outras respostas ao longo deste capítulo.
2.2 Sistema de produção orgânica Na agricultura orgânica, a propriedade rural é considerada um agroecossistema, que se traduz num sistema agrícola baseado na biodiversidade do local. Depende das interações e dos ciclos biológicos das espécies vegetais e animais, da atividade biológica do solo, do uso mínimo de produtos externos à propriedade e do manejo de práticas que restauram, mantêm e promovem a harmonia ecológica do sistema. Portanto, o sucesso e a sustentabilidade dos sistemas orgânicos dependem da integração de todos os recursos internos da propriedade, buscando-se o equilíbrio entre: • Os recursos naturais;
• A criação de animais; e
• As plantas cultivadas;
• O homem.
Figura 1. Sistema orgânico de produção (organismo agrícola).
Princípios gerais e legislação da produção orgânica No Brasil, a agricultura orgânica é definida segundo a Lei n° 10.831, de 23 de dezembro de 2003, que é considerada por especialistas uma referência para outros países. Essa legislação estabelece um conjunto de normas e procedimentos a serem cumpridos e observados, além de estabelecer conceitos, definições e princípios relacionados à agricultura orgânica.
O que é agricultura orgânica, segundo a lei brasileira nº 10.831: "Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis, e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente".
Para refletir e anotar! A Instrução Normativa nº 46, de 06 de outubro de 2011, define os requisitos gerais dos sistemas orgânicos de produção no Brasil. Aproveite este momento e, para cada item apresentado a seguir, identifique pontos de atenção para a implementação da agricultura orgânica em seu contexto. Se seu país possuir legislação equivalente, indique as semelhanças e as diferenças.
Sistema de cultivo orgânico
O termo agricultura orgânica está associado mais ao conceito de organismo agrícola (Figura 1) do que ao uso de adubação orgânica, como acreditam muitas pessoas pouco familiarizadas com o tema. Nesse organismo, modificado pela ação do homem, ocorrem complexas interações entre os seres vivos e os elementos naturais (solo, nutrientes, ar, temperatura, água, etc.), e a obtenção do produto (colheita) depende da manutenção do equilíbrio do sistema que, por sua vez, depende do papel individual de cada um desses elementos e de suas relações. Esse organismo também deve ser saudável, indo além do ponto de vista agronômico, mas considerando também os aspectos econômico, social e ecológico.
Foto: Francisco Vilela Resende
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Requisitos Aspectos ambientais
Atividades econômicas
Aspectos sociais
Sistemas orgânicos de produção vegetal
Brasil - IN nº 46 de 06/10/2011 1. A manutenção das áreas de preservação permanente. 2. A atenuação da pressão antrópica sobre os ecossistemas naturais e modificados. 3. A proteção, a conservação e o uso racional dos recursos naturais. 4. O incremento da biodiversidade animal e vegetal. 5. A regeneração de áreas degradadas. 1. O melhoramento genético, visando à adaptabilidade às condições climáticas locais, a rusticidade e a resistência a pragas e doenças. 2. A manutenção e a recuperação de variedades locais, tradicionais ou crioulas, ameaçadas pela erosão genética. 3. A promoção e a manutenção do equilíbrio do sistema de produção, como estratégia de promover e manter a sanidade dos animais e dos vegetais. 4. A interação das produções animal e vegetal. 5. A valorização dos aspectos culturais e a regionalização da produção. 6. A promoção da saúde animal e vegetal por meio de estratégias prioritariamente preventivas. 1. As relações de trabalho fundamentadas nos direitos sociais determinados pela Constituição Federal. 2. A melhoria da qualidade de vida dos agentes envolvidos em toda a rede de produção orgânica. 3. A capacitação continuada dos agentes envolvidos em toda a rede de produção orgânica. Deve-se priorizar: 1. A utilização de material genético adaptado às condições climáticas locais e tolerantes a pragas e doenças – daí a importância em fomentar programas de melhoramento que tratem de desenvolver trabalhos voltados para os sistemas orgânicos. 2. A reciclagem de matéria orgânica como base para a manutenção da vida e da fertilidade do solo, e a nutrição das plantas – essa matéria orgânica é a base não só do manejo orgânico do solo, como também do equilíbrio deste. 3. A manutenção da atividade biológica do solo, o equilíbrio de nutrientes e a qualidade da água – esses constituem os principais pilares da produção orgânica e, em conjunto, garantem a sustentabilidade e o equilíbrio do sistema. 4. A adoção do manejo de pragas e doenças que respeite o desenvolvimento natural das culturas; respeite a sustentabilidade ambiental; respeite a saúde humana e animal, inclusive em sua fase de armazenamento; e privilegie métodos de controle culturais, físicos e biológicos. 5. A utilização de insumos que, em seus processos de obtenção, utilização e armazenamento, não comprometam a estabilidade do habitat natural e do agroecossistema, não representando ameaça ao meio ambiente e à saúde, tanto humana quanto animal.
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Fórum Com base nos destaques apresentados a seguir, discuta com outros participantes as boas práticas já adotas por você e os benefícios que resultam delas. Para isso, acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e participe do fórum do capítulo 2, no endereço: http://capacitacao.sede.embrapa.br/.
Outros destaques da instrução normativa nº46
Práticas de manejo
É importante que a diversidade na produção vegetal seja assegurada, no mínimo, pela prática de associação de culturas a partir das técnicas de rotação e consórcios e associações de cultivos (essas técnicas serão detalhadas mais à frente); a irrigação e a aplicação de insumos devem ser realizadas de forma a evitar os desperdícios e a poluição da água de superfície ou do lençol freático. As instalações de armazenagem e manipulação de esterco, incluindo as áreas de compostagem, deverão ser projetadas, implantadas e operadas de maneira a prevenir a contaminação das águas subterrâneas e superficiais. Segundo a IN nº46, é proibido o uso de reguladores sintéticos de crescimento na produção vegetal orgânica, sendo que os reguladores de crescimento em estado natural são permitidos desde que obedeçam ao mesmo modo de ação dos reguladores de origem natural ou biológica, respeitados os princípios da produção orgânica. Não só a produção, mas também o processamento e a pós-colheita devem seguir as normas da agricultura orgânica. Nas atividades de pós-colheita, por exemplo, a unidade de produção deve instalar sistemas que permitam o uso e a reciclagem da água e dos resíduos, evitando o desperdício e as contaminações química e biológica do ambiente. Deve-se preferir o uso de embalagens recicláveis ou retornáveis para comercialização de produtos.
Produção de sementes
A Instrução Normativa nº 46 previa a proibição da utilização de sementes e mudas não obtidas em sistemas orgânicos de produção a partir de 19 de dezembro de 2013. No entanto, a IN nº 17 de 2014 altera esse prazo, conforme consta no artigo 100 desta normativa. Art. 100 ............................................................................................................. § 1º O OAC ou o OCS, caso constate a indisponibilidade de sementes e mudas oriundas de sistemas orgânicos, ou a inadequação das existentes à situação ecológica da unidade de produção que irá utilizá-las, poderá autorizar a utilização de outros materiais existentes no mercado, dando preferência aos que não tenham sido tratados com agrotóxicos ou com outros insumos não permitidos nesta Instrução Normativa.
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§ 3º A partir de 2016, a CPOrg de cada Unidade da Federação poderá produzir anualmente uma lista com as espécies e variedades em que só poderão ser utilizadas sementes orgânicas em função da disponibilidade no mercado ser capaz de atender às demandas locais. § 4º A lista prevista no § 3º, quando elaborada, deverá estar disponível até o dia 31 de dezembro de cada ano, para ser referência para os plantios do ano posterior. § 5º O produtor que tiver adquirido, em data anterior à divulgação de nova lista, sementes não orgânicas de variedades que passaram a constar da lista, poderão utilizá-las, dando ciência ao OAC ou OCS.” (NR). Ainda sobre a produção de sementes e mudas, é proibida a utilização de organismos geneticamente modificados em sistemas orgânicos de produção vegetal, e é vedado o uso de agrotóxico sintético no tratamento e na armazenagem de sementes e mudas orgânicas. Adubação
Segundo a IN 46, somente é permitida a utilização de fertilizantes, corretivos e inoculantes que sejam constituídos por substâncias autorizadas no Anexo V desse Regulamento Técnico, e de acordo com a necessidade de uso prevista no Plano de Manejo Orgânico. Além disso, o seu uso deve ser autorizado pelo Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC) ou Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC).
Controle de pragas
Os insumos destinados ao controle de pragas na agricultura orgânica não deverão gerar resíduos, nos seus produtos finais, que possam acumular-se em organismos vivos ou conter contaminantes maléficos à saúde humana, animal ou do ecossistema. É vedado o uso de agrotóxicos sintéticos, irradiações ionizantes para combate ou prevenção de pragas e doenças, inclusive na armazenagem, além de serem proibidos insumos que possuam propriedades mutagênicas ou carcinogênicas.
Plano de Manejo Orgânico
Finalmente, recomenda-se que todas as unidades de produção orgânica disponham de Plano de Manejo Orgânico atualizado, que contemple: •
Histórico de utilização da área.
•
Manutenção ou incremento da biodiversidade.
•
Manejo dos resíduos.
•
Conservação do solo e da água.
•
Manejos da produção vegetal.
O produtor orgânico deve se preocupar, prioritariamente, com a diversificação da paisagem geral de sua propriedade para produção de hortaliças. Deve-se fazer associações com outras espécies arbóreas, de porte médio e outras herbáceas, frutíferas, ornamentais - de aproveitamento econômico ou não. Dessa forma, procura-se restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do (re) estabelecimento do equilíbrio da propriedade (Figura 2).
Foto: Francisco Vilela Resende
2.3 Produção orgânica de hortaliças
Figura 2. Plantas variadas para promover a diversificação no sistema orgânico.
Deve-se atentar também para o papel fundamental das espécies espontâneas, para cobertura de solo e para adubação verde no processo de diversificação. Assim, procura-se atingir a sustentabilidade da unidade produtiva no tempo e no espaço, através da incorporação de características de ecossistemas naturais, tais como: • Promover a reciclagem de nutrientes. • Priorizar o uso de fontes renováveis de energia. • Estimular as relações biológicas que ocorrem naturalmente com o uso de materiais de origem natural, evitando aqueles oriundos de fora do sistema. • Estabelecer padrões de cultivos apropriados com espécies de plantas agrícolas e animais adaptados às condições ecológicas do local. • Buscar práticas que enfatizem a conservação do solo, da água, da energia e dos recursos biológicos.
2.3.1 Ações para a produção orgânica de hortaliças Você acabou de conhecer os princípios da produção orgânica, mas como aplicar esses princípios? Que técnicas utilizar? A seguir, serão detalhados pontos importantes deste sistema produtivo. • Planejamento da produção orgânica de hortaliças • Calendário de plantio • Divisão da área de cultivo • Condicionamento microclimático • Cordões de contorno • Áreas de refúgio • Áreas de pousio
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• Rotação de culturas • Consorciação e associação de culturas • Plantas atrativas e repelentes • Manutenção de plantas espontâneas • Cultivo de hortaliças sem canteiros
Para refletir e anotar! Leia atentamente cada um desses pontos, sublinhe itens importantes e monte uma lista de ações que você, e/ou a comunidade em que trabalha, poderá(ão) adotar considerando o seu contexto de produção.
Planejamento da produção orgânica de hortaliças O planejamento do sistema orgânico exige que a propriedade seja considerada no todo, a partir de uma visão integrada do manejo e dos processos inerentes ao ecossistema, rompendo assim com barreiras disciplinares e entendendo a propriedade como um organismo vivo, dinâmico e sistêmico. É importante considerar dois aspectos fundamentais para o planejamento:
A fonte de biomassa para alimentação do sistema
A fonte de água de qualidade para irrigação do sistema
A fonte de biomassa determinará o tipo de infraestrutura de armazenagem e o método de processamento e de aplicação do material fertilizante. A localização dessa infraestrutura, bem como das áreas de compostagem, deve facilitar a distribuição dos fertilizantes nas áreas de cultivo. Deve-se considerar que, no sistema orgânico, a exigência de mão de obra para preparo e distribuição de adubo é alta, assim como a quantidade de fertilizante necessária por área.
Para ser de qualidade, os contaminantes químicos ou biológicos não poderão estar acima dos limites de segurança na água utilizada para o sistema. Caso a água disponível não se enquadre nas normas de qualidade, o que é frequente, será necessário tratá-la ou encontrar uma fonte alternativa.
Calendário de plantio Há um planejamento: • das atividades de cada um que irá trabalhar na horta? • das datas para semear? • da sequência e da rotação de culturas por talhão e/ou canteiro?
Divisão da área de cultivo A propriedade está bem dividida? A produção orgânica de hortaliças necessita da reformulação da organização da propriedade de maneira distinta daquela adotada no sistema convencional. O aspecto mais importante é a subdivisão da propriedade em talhões (Figura 4) que, preferencialmente, não ultrapassem 1.000 m2, com elementos que promovam o condicionamento climático das culturas e a preservação da biodiversidade. A disposição dos talhões e da infraestrutura na propriedade deve buscar reduzir as necessidades de transporte e de mão de obra para execução dos trabalhos, já que há grande movimentação de pessoas e insumos, o que exige eficiência no funcionamento do sistema, visando facilitar a administração e reduzir os custos da atividade. A delimitação dos espaços físicos da horta é feita por carreadores principais e secundários. O dimensionamento dos carreadores deve ser realizado
Figura 4. Divisão da área de cultivo.
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A horta é um espaço de uso intensivo de mão de obra, sendo indispensável, então, planejar as atividades de acordo com a disponibilidade. É muito frequente que, por falhas de planejamento, falte mão de obra para se atingir as metas previstas. A inclusão dos trabalhadores no planejamento do calendário contribui para seu sucesso, pois proporciona uma visão global da horta. O calendário de semeadura e a sequência de culturas em cada talhão da horta e/ou canFigura 3. Talhões e faixas de cultivo. teiro precisam ser bem compreendidos. A identificação dos talhões e das faixas de cultivo (Figura 3) é fundamental para o gerenciamento dos cultivos, facilitando a implantação Cartazes para de esquemas de rotação de culturas, cultivos sequenciais, consórcios anotações das tarefas e estabelecimento de áreas de pousio ou para adubação verde. A a serem executadas finalidade desses procedimentos é criar uma rotina que facilite o anpodem ajudar. damento da produção.
Foto: Francisco Vilela Resende
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de forma a perder o mínimo possível de área produtiva. Os caminhos secundários devem apresentar dimensões de 30 cm de largura, no máximo, para permitir apenas o trânsito de pessoas e carrinhos de mão. Os carreadores principais devem ser dimensionados com 1,5 a 2,0 m, permitindo a entrada de máquinas e equipamentos para transporte de insumos e escoamento da produção.
Condicionamento microclimático Há ações para o controle climático, tais como: • Cordões de contorno. • Faixas de vegetação. • Cobertura morta sobre o solo. • Cobertura viva. As condições climáticas interferem de maneira decisiva na produção das hortaliças. Extremos de temperatura, umidade e excesso de ventos podem comprometer a produção da maioria das hortaliças. O condicionamento climático é conseguido com a delimitação dos talhões de cultivo por cordões de contorno ou cercas vivas, faixas de vegetação ou áreas de refúgio, uso de cobertura morta sobre o solo com restos vegetais ou mulching, plantio direto sobre palhadas e plantios consorciados. O uso de coberturas vivas com algumas espécies de leguminosas rasteiras, como amendoim forrageiro (Arachis Pintoi), tem sido testado para o cultivo de hortaliças, contribuindo para aumentar a produtividade, melhorar o ambiente de cultivo e conservar o solo. Um dos mecanismos utilizados pelo produtor orgânico para controle climático são os cordões de vegetação.
Isolamento da propriedade Cordões de contorno (Figura 5) são faixas de vegetação, normalmente com espécies arbóreas ou de porte médio, que circundam a propriedade, permitindo isolamento das áreas de cultivo convencional circunvizinhas. É um componente fundamental na organização de uma propriedade orgânica voltada para produção de hortaliças. Dificultam a livre circulação de pragas e doenças e a deriva de agrotóxicos de propriedades vizinhas convencionais para áreas de cultivo orgânico; cria microclimas mais favoráveis para o cultivo de hortaliças; e formam áreas de refúgio e abrigo para pequenos animais úteis e alguns inimigos naturais de pragas.
Foto: Francisco Vilela Resende
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Figura 5. Cordão de contorno com bananeiras.
A própria vegetação natural, como matas, e a vegetação nativa, podem ser usadas como cordões de contorno. Podem ser usadas ainda espécies para produção de madeira, frutíferas e leguminosas (leucina, gliricídia, sansão do campo, etc.).
Divisão de talhões de cultivo São faixas de vegetação utilizadas para divisão dos talhões internos da propriedade, funcionam como quebra-vento, reduzindo o impacto dos ventos frios ou quentes, criando variações de microclimas, com maior ou menor umidade e temperatura, garantindo eficiência na fotossíntese. As faixas vegetadas funcionam também como tampões fitossanitários, dificultando a livre circulação de pragas e inóculos de doenças dentro da propriedade e controle biológico pela atração de pequenos predadores e insetos inimigos naturais de pragas. Essas faixas podem ser formadas por uma ou várias espécies, sendo temporárias ou permanentes. Algumas podem servir como: • fontes de biomassa e nutrientes, como capins, leucena, hibiscus, flor do mel ou girassol mexicano. • fixadoras de nitrogênio, como os adubos verdes. • espécies atrativas para insetos e pequenos animais. • complementação de renda da atividade principal, como a banana. Sempre que possível, as faixas vegetadas e as áreas de refúgio devem estar conectadas à mata ou à vegetação nativa para facilitar a livre circulação de predadores e inimigos naturais pela propriedade. Se a área para a produção de hortaliças for pequena, o agricultor pode aproveitar para introduzir nos cordões de contorno espécies que possam prover algum retorno econômico e que não venham a causar prejuízos aos cultivos principais. Pode-se utilizar, por exemplo: café
mamão
maçã
acerola
plantas melíferas
plantas condimentares
plantas medicinais
plantas ornamentais
combinações
Além dos exemplos anteriores, o agricultor pode utilizar plantas para produção de massa verde para compostagem ou para adubação verde. Em propriedades integradas com produção animal, essas áreas podem contribuir também para produção de alimentos para os animais. Formar os cordões de contorno/faixas vegetadas com espécies com boa capacidade de florescimento, além de funcionar como excelentes áreas de refúgio para predadores e inimigos naturais, atraem abelhas para produção de mel. A flor do mel, ou girassol mexicano, é uma espécie de florescimento constante e abundante praticamente o ano todo, e que, no Brasil, tem sido bastante associada ao cultivo orgânico de hortaliças. Pode-se obter uma associação bastante interessante entre essa espécie com apicultura e horticultura. Além da renda extra proporcionada pela produção do mel, as abelhas são importantes agentes polinizadores de algumas hortaliças.
Os cordões de contorno e faixas de vegetação podem ser formadas com espécies melíferas visando à integração com a produção de mel, além de atrair predadores e inimigos naturais.
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Em regiões de vento forte, o produtor deve optar por extratos mais altos, introduzindo uma faixa de quebra-ventos nos cordões de contorno que circunda a propriedade. Para isso, deve-se utilizar uma vegetação arbórea e mais robusta. Por exemplo: leucena, grevília, gliricídia.
Uma vez estabelecido o quebra-vento, associam-se a ele extratos mais baixos. Por exemplo: café, milho, cana-de-açúcar, mandioca, sorgo/crotalária.
Áreas de refúgio São áreas de vegetação para preservação e atração de inimigos naturais de pragas e pequenos predadores que auxiliam no controle dessas pragas, pois servem de refúgio para diversos insetos benéficos que se alimentam de fungos ou organismos que, sem seus inimigos naturais, poderiam destruir a plantação. Esses nichos são formados pelas reservas de vegetação nativa, pelas faixas de vegetação ou pelos cordões de contorno e cercas vivas que circundam as áreas de cultivos e as comunidades de plantas invasoras ou espontâneas. As áreas de refúgio garantem a preservação da fauna silvestre e a diversidade é essencial para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo fortemente para o equilíbrio do sistema como um todo. Foto: Mariane Carvalho Vidal
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Áreas de pousio Garantem o "descanso" do solo após cultivo intensivo para reconstituir e conservar suas propriedades químicas, físicas e biológicas (Figura 6). As áreas em pousio devem permanecer cobertas, durante esse período, com alguma vegetação, que pode ser formada por adubos verdes, ou mesmo a vegetação natural da área. Essas áreas são muitos importantes para garantir a manutenção da vida no solo. O agricultor deve prever esse período no planejamento da horta, pois, para produção de hortaliças, que utilizam intensamente os recursos do solo, essa prática é fundamental.
Figura 6. Área de pousio.
Rotação de culturas Um dos aspectos mais importantes do manejo em sistemas orgânicos de produção é a exploração equilibrada do solo, por meio de alternância de culturas e sucessão vegetal, levando à prática da rotação de culturas nas diversas unidades de solo de uma propriedade agrícola (Figura 7). Deve-se estabelecer uma escala de exigência em adubação e manter o terreno permanentemente coberto. Essas práticas conjugadas permitirão explorar os nutrientes
Recomendação – alternar culturas mais exigentes com culturas menos exigentes em nutrientes.
do solo de maneira mais racional, evitando seu esgotamento. Deve-se alternar culturas mais exigentes com culturas menos exigentes em nutrientes (rústicas), que exploram profundidades diferentes do solo pela diferença na estrutura radicular. Outro aspecto igualmente importante da rotação, e também do consórcio de hortaliças, é evitar a proliferação e o acúmulo de doenças e pragas, que, em um sistema intensivo de cultivo, pode ocorrer de forma bastante acelerada. Foto: Francisco Vilela Resende
Os talhões devem ser subdivididos em faixas de cultivo, o que auxilia na implantação de esquemas de rotação. Nessas faixas, alterna-se o cultivo de adubos verdes com diferentes famílias de hortaliças.
Atenção! O plantio sucessivo de espécies de solanáceas (tomate, batata, pimentão, etc.) numa mesma área pode elevar a incidência de pragas e doenças tanto de solo quanto de parte aérea. Figura 7. Rotação de culturas.
Nesse esquema, é importante evitar o plantio de espécies da mesma família em sucessão ou nas faixas adjacentes. No caso das hortaliças em que a maioria se adapta melhor aos cultivos de inverno, época que o olericultor intensifica a produção, deve-se evitar a prática de rotação com adubos verdes, permitindo que a área fique integralmente ocupada pelas culturas de interesse econômico. No verão, reserva-se uma área maior para o plantio de espécies de adubo verde, que se adaptam bem ao cultivo nessa estação. Dessa forma, pratica-se a recuperação anual das áreas de produção. Outra estratégia de manejo importante é evitar o acúmulo de inóculos de organismos patogênicos, uma vez que o cultivo de hortaliças sucedidos por adubos verdes provocarão uma quebra do ciclo biológico desses organismos pela alternância de espécies. Na rotação, o produtor pode utilizar um esquema alternando grupos de hortaliças com diferentes características: folhosas, raízes/tubérculos e flores/frutos. As espécies de cada um desses grupos apresentam ciclo fenológicos, desenvolvimento vegetativo distintos e possuem sistemas radiculares que ocupam diferentes profundidades, consequentemente explora o solo e retira os nutrientes também de forma diferenciada. Logo após o preparo e a adubação inicial do solo, devem-se cultivar hortaliças mais exigentes, seguindo-se com espécies cada vez menos exigentes. Assim, o produtor pode planejar o plantio utilizando o esquema de alternar entre esses grupos e deixando sempre um intervalo entre um ciclo e outro para descanso e recuperação do solo (pousio). Durante o pousio, o produtor pode explorar a utilização dos adubos verdes para recomposição e manutenção do solo.
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Consorciação e associação de culturas Foto: Francisco Vilela Resende
O sistema de consórcio (Figura 8) é caracterizado quando são plantadas duas ou mais culturas na mesma área e ao mesmo tempo. É uma das práticas mais importantes para o cultivo de hortaliças no sistema orgânico, pois abrange tanto aspectos ambientais quanto econômicos. A consorciação permite otimizar a produção pelo melhor aproveitamento da área e dos recursos, como nutrientes, água e luz. A eficiência e as vantagens de um sistema consorciado estão na complementariedade entre as culturas Figura 8. O sistema de consórcio. envolvidas. Essa complementariedade é maior à medida que se consegue minimizar os efeitos negativos de uma cultura sobre a outra. Além da consorciação clássica entre duas espécies de interesse econômico, outro consórcio muito útil para agricultura orgânica é aquele que associa a cultura com fim comercial com espécies que apresentem funções variadas, como, por exemplo, atração de inimigos naturais, repelência de insetos, atuação como adubos verdes, etc. Um exemplo clássico dessa associação ocorre entre o milho e a mucuna (Figura 9). O plantio sincronizado dessas espécies permite que a floração da leguminosa coincida com a seca da planta de milho, originando uma palhada bastante rica em nutrientes que pode ser utilizada no cultivo de várias hortaliças. O olericultor obtém, ainda, retorno econômico com a comercialização do milho verde. Existem muitas possibilidades de combinação de hortaliças em consórcios, entretanto, é mais comum o consórcio em faixas e em linhas. No consórcio em linha, são intercaladas linhas de cultivo de uma ou mais espécies com a cultura principal. Pode-se consorciar alface e cebolinha, couve e cebola, tomate e coentro, pimentão e feijão guandu anão, tomate e crotalária, entre outras.
Figura 9. Consórcio de milho e mucuna.
Foto: Flávia A. Alcântara
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No consórcio em faixas, são intercaladas faixas de cultivo de uma ou mais espécies com a cultura principal. Em alguns casos, essas faixas podem se confundir com os próprios canteiros. Podem-se agrupar hortaliças companheiras, como: cenoura e tomate
batata e repolho
tomate e cebola
cebola e pepino
alface e rúcula
abóbora e chicória
repolho e arruda
É preciso considerar aspectos como tolerância a sombreamento, profundidade do sistema radicular, hábito de crescimento e potencial como hospedeira de pragas e doenças. Deve-se observar também a afinidade entre as culturas, ou seja, quais espécies se desenvolvem melhor quando em associação. Dessa forma, as plantas são divididas em companheiras, se não há interferência negativa entre elas ou ainda há algum estímulo de desenvolvimento entre ambas; ou em antagonistas, quando uma espécie prejudica o desenvolvimento de outra. Alguns exemplos de relações antagonistas são: abóbora e batata, alface e salsa, cebola e ervilha, tomate e batata, batata e pepino, entre outras. Deve-se evitar a utilização dessas culturas ao mesmo tempo no campo, pois uma poderá servir de fonte de inóculo (pragas e doenças) e competir por água, luz e nutrientes com a outra cultura e, assim, desencadear um grande prejuízo para o produtor. O cultivo associado entre hortaliças e adubos verdes tem sido muito difundido entre os produtores orgânicos. Os plantios são sincronizados de forma que o adubo verde seja incorporado no momento em que a hortaliça começa a produzir. Tem-se observado experiências de sucesso com tomate x guandu, crotalária x berinjela e crotalária x taro (inhame).
Plantas atrativas e repelentes As plantas aromáticas, com sabor e cheiro forte, podem ser atrativas ou repelentes de pragas e insetos, pois liberam substâncias no ambiente que afastam ou inibem a ação destes. O cultivo dessas plantas, junto com as culturas principais, pode ser uma estratégia de manejo ecológico, usado em conjunto com outras técnicas de controle, sempre buscando a promoção do equilíbrio ambiental em toda a propriedade agrícola. Algumas espécies de plantas atrativas e repelentes: • Cravo-de-defunto (Tagetes minuta) e/ou cravorana silvestre (Tagetes sp.) – repelente de insetos e nematoides, principalmente durante o florescimento. Atua tanto por ação direta contra as pragas quanto por confundi-las devido ao seu forte odor. • Cinamomo (Melia azedorach) – ação inseticida. Os frutos devem ser moídos e seu pó pode ser usado na conservação de grãos armazenados. • Saboneteira (Sapindus saponaria) – ação inseticida. Apresenta alto poder de ação - apenas seis frutos bastam para preservar 60 quilos de grãos armazenados. • Quássia ou pau-amargo (Quassia amara) – ação inseticida, especialmente contra moscas e mosquitos, pelo alto teor de substâncias amargas presentes na casca e na madeira.
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• Mucuna (Mucuna spp.) e Crotalária (Crotalaria spp.) – possuem ação nematicida. • Coentro (Coriandrum sativum) – ação repelente. Tem-se observado redução significativa de frutos de tomateiro perfurados por insetos quando associado a plantios de coentro. • Arruda (Ruta graveolens) – ação repelente. Evita a lagarta em folhosas como o repolho. • Manjericão (Oncimum basilicum) – devido ao forte odor e aos compostos que exala, é um repelente de insetos. • Gergelim (Sesamum indicum) – cordões de contorno com gergelim oferecem excelente proteção contra saúvas e outras formigas cortadeiras. • Purungo ou cabaça (Lagenaria vulgaris) – atrativo para o besourinho ou a vaquinha verde -amarela (Diabrotica speciosa). Pode ser plantado na forma de cercas-vivas ou utilizado com seus frutos cortados e espalhados na lavoura. • Tajujá (Cayaponia tayuya) – atrativa para as vaquinhas (Diabrotica sp.). Foto: Daniel Basilio Zandonadi
Geralmente, plantas aromáticas, medicinais e condimentares são menos atacadas por pragas, constituindo, dessa forma, uma boa opção para compor canteiros na horta, próximos às culturas (Figura 10). Outros exemplos dessas plantas: artemísia, alecrim, menta, tomilho, losna, funcho, hortelã, etc.
Figura 10. Tomateiro em consórcio com coentro.
Manejo de plantas espontâneas As plantas espontâneas podem contribuir para: • Cobertura e a proteção do solo. • Reciclagem mais eficiente de nutrientes. • Melhoria das condições físicas do solo pelo aumento dos níveis de matéria orgânica. • Rompimento de camadas compactadas. • Abrigo para inimigos naturais. • Diversificação do ambiente.
Vale lembrar que... As plantas que crescem junto com as espécies cultivadas são consideradas como espontâneas e não como daninhas, pois, a princípio, nenhuma planta é daninha por natureza, todas elas têm sua função ecológica no sistema, daí que, na agricultura orgânica, elas nunca são chamadas de daninhas.
Foto: Francisco Resende
Para um manejado adequado, recomenda-se: • A utilização de cobertura morta ou viva, após controle por capina ou solarização, pode auxiliar a reduzir a competição com a cultura principal em área com elevada infestação de plantas espontâneas (Figura 11). • A capina em faixas, de forma a evitar a presença das ervas próximas à cultura de interesse comercial, deixando-se uma estreita faixa de vegetação nas entrelinhas de plantio.
Figura 11. Cobertura morta em alho.
• O coroamento de plantas berinjela, jiló, abóbora, quiabo, e realizar roçadas leves no restante da área. • No caso de hortaliças de canteiro, capinas nos momentos críticos apenas nos leitos de semeadura, preservando-se a vegetação dos carreadores ou apenas roçando-a quando estiverem dificultando os tratos culturais. De maneira geral, o manejo das plantas espontâneas tem sido feito com o emprego de práticas mecânicas, como aração, gradagem, cultivos, roçadas, amontoas e capinas manuais, conforme a necessidade de redução das invasoras e, ainda, com o uso de plantas com efeitos alelopáticos, adubação verde, cobertura morta, cobertura viva, rotação e consorciação de culturas. Você acabou de ver algumas práticas da agricultura orgânica para a produção de hortaliças. A seguir, conheça um pouco mais sobre o manejo de solo.
2.3.2 Manejo de solo em agricultura orgânica O manejo do solo é o conjunto de todas as práticas a ele aplicadas, visando à produção agrícola. Inclui operações de cultivo como: • Práticas culturais. • Práticas de correção. • Fertilização.
Vale lembrar que... O solo faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes, como a água, as plantas, os animais e o homem. Dessa forma, tudo que acontece com o solo terá algum reflexo, positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz parte.
As práticas tradicionais de conservação do solo, como o plantio em curva de nível, a formação de faixas de retenção e os cordões de contorno, são utilizadas também na agricultura orgânica. Na agricultura orgânica, o solo é o centro de todo o processo produtivo, sendo um recurso-chave. Desse modo, o manejo orgânico preconiza: • aumento dos teores de matéria orgânica no solo e da atividade biológica. • revolvimento mínimo do solo.
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• manutenção de cobertura vegetal sobre o solo. • adubação verde. • plantio direto. • uso preferencial de fontes orgânicas de nutrientes. • ausência de fertilizantes de alta solubilidade de origem sintética.
Para refletir e anotar! A seguir, você verá informações sobre importância da matéria orgânica, processos de reposição da matéria orgânica, preparo do solo para plantio e consequências do manejo inadequado do solo. Considerando o seu ambiente de produção/cultivo ou um ambiente que você adote como exemplo, explore estes tópicos completando as seguintes frases:
• O meu ambiente de produção, pode fornecer os seguintes componentes para a formação de matéria orgânica
• Se eu fosse aliar a utilização de um composto orgânico com a adubação verde, em meu contexto, eu realizaria da seguinte forma
• A movimentação mínima do solo é conseguida por meio de
• Em meu sistema de produção o maior risco ao solo está relacionado a • Esse risco pode ser minimizado por meio de
Matéria orgânica A matéria orgânica (Figura 12) do solo é a grande chave para o sucesso da agricultura como um todo, em especial no sistema orgânico de produção. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos e que garante que ele se mantenha "vivo". Quando um solo é muito claro, aparentemente sem vida, "fraco", é bem provável que seu teor de matéria orgânica seja muito baixo.
Foto: Daniel Basilio Zandonadi
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Figura 12. Húmus como fonte de matéria orgânica.
A matéria orgânica é constituída de resíduos de origem vegetal ou animal, em diferentes estágios de transformação, com efeitos sobre a fisiologia e a nutrição de plantas e características físicas, químicas e biológicas dos solos. Alguns exemplos de materiais que podem elevar a quantidade de matéria orgânica dos solos são apresentados na Tabela 1, a seguir. Tabela 1. Exemplos de componentes da matéria orgânica
Componente vivo
Componente em decomposição
• Raízes das plantas;
• Estercos;
• minhocas;
• restos de cultura que ficam no campo;
• cupins;
• palhadas;
• formigas;
• folhas,
• besouros;
• cascas e galhos de árvores;
• fungos;
• raízes das plantas.
• bactérias; • outros microrganismos.
O elemento químico carbono é o principal constituinte da matéria orgânica, mas a ele estão ligados vários outros elementos importantes para a nutrição de plantas e condicionamento físico, químico e biológico do solo.
Benefícios da matéria orgânica para o solo A matéria orgânica atua tanto na fertilidade do solo quanto no seu condicionamento físico, além de manter a vida nesse espaço. Assim, podemos dividir os benefícios da matéria orgânica em três categorias: 1. Benefícios para a • Fornecimento de nutrientes para as culturas (macro e micronutrientes): fertilidade do solo: quando decomposta e mineralizada, a matéria orgânica se torna uma atributos químicos fonte de nutrientes. e físico-químicos do • Aumento da capacidade de troca de nutrientes do solo: a matéria solo. orgânica facilita o fornecimento de nutrientes por formar complexos organo-minerais no solo. 2. Benefícios para o condicionamento físico do solo: a matéria orgânica pode melhorar a estrutura do solo.
• Melhoria da estrutura do solo: efeito agregador que desencadeia benefícios nas outras características físicas do solo descritas abaixo. • Densidade do solo: redução da densidade aparente do solo, tornando-o mais "leve" e solto. • Porosidade do solo: melhoria da circulação de ar e água nos poros (espaços vazios entre as partículas) do solo. • Capacidade de retenção e infiltração de água: aumento da capacidade de armazenamento da água do solo.
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3. Benefícios para o • Atua como uma fonte de alimento para microrganismos decompocondicionamento sitores, que a utilizam como substrato; são esses microrganismos os biológico do solo: responsáveis por parte da decomposição e mineralização da matéria a matéria orgânica orgânica no solo. fornece energia para • Aumenta a população de minhocas, insetos, fungos, bactérias e outros microrganismos organismos benéficos para a manutenção da vida no solo. benéficos.
Adição ou reposição de matéria orgânica A matéria orgânica do solo contém mais de três vezes carbono do que a atmosfera ou a vegetação terrestre. Ainda são pouco conhecidas as razões pelas quais uma parte dessa matéria orgânica dura milênios no solo e outras são decompostas prontamente. Na verdade, a persistência da matéria orgânica do solo é uma importante propriedade do ecossistema. Supõe-se que uma grande fração da matéria orgânica, já estabilizada (chamada de fração huimificada), pode durar muito tempo no solo (milênios). Isso ocorre porque, teoricamente, os microrganismos decompõem primeiro as moléculas mais fáceis de serem quebradas e, nesse processo, a parte mais difícil de se decompor fica no solo. Porém, a maior parte da matéria orgânica adicionada ao solo seria decomposta de forma relativamente rápida (de meses a anos), principalmente em regiões onde a temperatura e a precipitação pluviométrica são altas. O preparo intensivo do solo, por meio do revolvimento, também Em regiões tropicais, é acelera a decomposição da matéria orgânica, pois favorece a ruptura muito mais fácil e rápido dos agregados do solo, com maior exposição ao ataque dos microro solo "perder" matéria ganismose e outros fatores abióticos. Teoricamente, é muito mais fáorgânica do que "ganhar". cil e rápido o solo "perder" matéria orgânica do que "ganhar", nas regiões tropicais. Portanto, para manter o solo produtivo ao longo do tempo, é necessário que se adicione/reponha a matéria orgânica com certa frequência. O ideal é que, a cada cultivo, adicione-se matéria orgânica ao solo por meio de fontes que podem ser diversas. No entanto, a frequência da adição ou da reposição vai depender do ciclo da cultura em questão e do sistema de cultivo. Existem várias maneiras de se manter e aumentar o teor de matéria orgânica do solo, como será exposto a seguir. Uso de estercos e compostagem Uma das maneiras de se repor ou adicionar matéria orgânica ao solo é a utilização de estercos animais para o processo de compostagem (Figura 13), ou outras alternativas de fertilizantes. No caso da produção de hortaliças, são utilizados estercos de aves, bovinos, equinos ou caprinos. Em qualquer caso, esses materiais devem ser previamente compostados de maneira adequada para garantir a qualidade sanitária desses adubos orgânicos, respeitandose as diretrizes de produção orgânica e mesmo sanitárias.
Foto: Francisco Vilela Resende
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Figura 13. Compostagem de resíduos orgânicos.
Foto: Francisco Vilela Resende
Outros materiais, provenientes da própria fazenda ou de agroindústrias, também podem ser boas fontes de matéria orgânica, sendo utilizados puros ou junto com os estercos em compostagem, como, por exemplo, palhas de milho, aveia, arroz, feijão e café; capim gordura, capim guiné, capim meloso, entre outros capins; serragem de madeira; bagaço de cana, tortas de algodão e de mamona, etc. É importante ressaltar que o produtor deve priorizar resíduos produzidos na propriedade ou resíduos agroindustriais da região, a fim de facilitar e baratear a aquisição do material. A compostagem é uma maneira eficiente de se utilizar os estercos e também o material volumoso rico em carbono (capins, resíduos vegetais) (Figura 14).
Figura 14. Material volumoso.
Mas afinal, o que é compostagem? É um processo de decomposição e estabilização da matéria orgânica em ambiente aeróbico (na presença de ar), com fase de aquecimento natural (cerca de 70 °C). O material é empilhado parte em camadas, geralmente na proporção de duas a três partes de volumoso para uma pilha de esterco, e é revirado de 15 em 15 dias, quando é também umedecido. Como resultado, obtémse, após um período aproximado de 90 dias, um produto mais eficiente como fonte de nutrientes para as culturas, e, além disso, higienizado. O composto também apresenta outra vantagem em relação ao esterco não compostado: por ter um volumoso em sua formação, geralmente palhada e capim permanecem mais tempo no solo, funcionando também como um condicionar físico, melhorando sua estrutura. Em um tópico sobre o assunto, mais à frente, serão discutidos outros detalhes sobre a compostagem. Foto: Gustavo Porpino
Adubação verde Uma alternativa prática e eficaz para se adicionar matéria orgânica ao solo é a adubação verde (Figura 15), que proporciona ao produtor a produção de matéria orgânica diretamente na área de cultivo.
Figura 15. Adubação verde.
Os adubos verdes podem ser utilizados em esquemas de rotação, sucessão ou consórcio com as hortaliças. Muitos produtores não utilizam essa prática porque não querem ou não podem deixar a área "parada" por um tempo (enquanto os adubos verdes crescem e chegam ao ponto ideal de corte).
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No entanto, o consórcio é uma boa alternativa para esses casos. Algumas hortaliças podem ser consorciadas sem problema com os adubos verdes, devendo-se atentar, entretanto, para a melhor época de plantio desse adubo em relação à cultura, para que não haja competição. O manejo dos adubos verdes dependerá do objetivo de sua utilização (Tabela 2). Tabela 2. Objetivo de utilização x manejo dos adubos verde
Objetivo Fornecer nutrientes para a cultura sucessora.
Manejo Adubo verde incorporado ao solo Processos de decomposição e mineralização acontecem mais rápido, e, consequentemente, a melhoria da fertilidade e o condicionamento do solo aparecem mais rapidamente.
Proteger o solo contra a erosão e o surgimento de plantas espontâneas problemáticas (cobertura vegetal).
Adubo verde mantido sobre a superfície A massa vegetal fica disposta sobre o solo após seu corte e, por isso, decompõe-se mais lentamente.
Uma situação ideal seria aquela em que o produtor orgânico pudesse aliar um esterco curtido e de boa qualidade, ou um composto bem produzido, com a prática da adubação verde ou da cobertura vegetal. Assim, conseguir-se-ia manter elevados teores de matéria orgânica e propiciar a manutenção e mesmo a melhoria da qualidade do solo ao longo do tempo. Além disso, deve-se adotar o preparo conservacionista do terreno, evitando-se o revolvimento excessivo.
Foto: Mariane Vidal
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Figura 16. Adubação verde.
A adubação verde é uma prática excelente em quantidade e qualidade de matéria orgânica (Figura 16). Em quantidade, porque os adubos verdes produzem muita massa vegetal; e em qualidade, porque essa massa é muito rica em nutrientes. Em qualidade, também, porque, como se decompõe mais lentamente no solo, em comparação aos estercos e ao composto, a matéria orgânica proveniente dos adubos verdes é um ótimo condicionador físico de solo. Além disso, os adubos verdes são plantas ricas em nitrogênio devido à fixação biológica desse nutriente e, por isso, na agricultura orgânica, são proibidos os fertilizantes nitrogenados sintéticos.
Preparo do solo para o plantio O preparo do solo no cultivo orgânico de hortaliças procura ser conservacionista, priorizando a movimentação mínima do terreno. Recomenda-se que sejam feitas as operações de aração e gradagem apenas no primeiro ano, e que, nos anos seguintes, utilize-se mecanização reduzida, mantendo o solo coberto e realizando o novo plantio sem que seja feito um novo preparo (Figura 17).
Há diversas espécies de hortaliças que se adaptam facilmente ao sistema de plantio direto, como cebola, repolho, couve-flor, brócolis, couve, tomate, pimentão, berinjela, jiló, abobrinha, abóboras (Figura 19), entre outras. Basicamente, podem ser cultivadas nesse sistema todas as espécies que são
Figura 19. Abóbora em plantio direto.
Foto: Henrique Martins Gianvecchio Carvalho
Plantio com preparo reduzido: sistemas intermediários de plantio, entre o convencional e o direto, que visam maximizar a produção a longo prazo, considerando os custos indiretos advindos da atividade agrícola, mas que não atendem a um dos três princípios básicos do plantio direto. Como exemplo de cultivo mínimo, pode ser citado o cultivo de cebola, que se faz sobre a palhada, geralmente de milho ou milheto (Figura 18): utiliza-se uma grade niveladora semifechada, de modo a homogeneizar a Figura 18. Cebola no sistema de plantio direto sobre a palhada. área e facilitar o plantio ou transplantio, mantendo a palhada em cobertura, porém revolvendo ligeira e superficialmente o solo em área total. É importante mencionar que o plantio diretamente no local definitivo após o preparo de solo de forma alternativa à tradicional formação de mudas, como em cebola ou beterraba, é chamado por vezes de plantio direto no setor de hortaliças. Entretanto, trata-se, na verdade, de um método de cultivo – o de semeadura direta – distinguindo-se, assim, do sistema de plantio direto.
Foto: Nuno Rodrigo Madeira
Plantio com preparo reduzido
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O sistema de plantio direto é um sistema de plantio conservacionista, que pode ser utilizado no cultivo orgânico de hortaliças. Entretanto, o que ocorre é que muitas pessoas acreditam que o plantio direto está necessariamente vinculado ao uso de herbicidas, o que não é verdade. Da mesma forma que se fazem capinas manuais ou com auxílio de enxadas em sistemas orgânicos com revolvimento de solo, também se faz o mesmo em sistemas orgânicos sob plantio direto. É importante que a área apresente baixa ocorrência de plantas espontâneas problemá- Figura 17. Preparo de solo. ticas, como tiririca, grama-seda, losna ou trapoeraba. Outro ponto importante é o entendimento de que é essencial que se trabalhe para a construção da fertilidade, utilizando uma adequada rotação de culturas, pensando em longo prazo e não somente na safra corrente.
Foto: Gilmar Henz
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plantadas em espaçamento relativamente aberto o suficiente para permitir fáceis capinas posteriormente ao transplantio. Por outro lado, algumas culturas apresentam verdadeira limitação ao cultivo em sistemas de plantio direto, como cenoura, batata-doce e batata. A cenoura necessita de solo extremamente solto em virtude da frágil dominância apical de suas raízes, o que leva à formação de raízes tortuosas ou bifurcadas em caso de qualquer mínimo impedimento físico. A batata-doce precisa de leiras para a formação de raízes. A batata necessita de amontoa para a formação dos tubérculos. Entretanto, há casos de cultivo mínimo de batata, nos quais a operação de plantio é feita efetuando-se somente o revolvimento localizado nos sulcos sobre palhada, quebrando-se o sistema por ocasião da amontoa 25 a 30 dias após o plantio.
Cobertura morta É a palhada disposta sobre o solo para a realização do plantio direto ou do cultivo mínimo. A obtenção da cobertura morta pode ser feita de duas maneiras: pela importação de palhada de outra área, como se efetua tradicionalmente na cultura do alho; ou pelo cultivo de plantas de cobertura, fornecedoras de palhada, e seu manejo (corte) no próprio local. Produzindo a palhada no próprio local, o agricultor está respeitando o princípio da sustentabilidade, preconizado pelos sistemas orgânicos de produção, reduzindo a importação de insumos, considerando a propriedade ou a área. Além disso, dispondo palhada trazida de outro local na superfície do solo, pode-se obter o efeito de cobertura do solo; porém, é impossível, dessa forma, reproduzir o efeito de estruturação do solo promovido pela "aração biológica". Esta consiste da decomposição do sistema radicular das culturas precedentes, tornando o solo leve, poroso, além de aumentar seu teor de matéria orgânica.
Foto: Nuno Rodrigo Madeira
Há inúmeras espécies que podem ser utilizadas para produção de cobertura morta, seja em cultivo "solteiro", seja em consorciado. Espécies de adubos verdes, como leguminosas, gramíneas ou plantas de outras famílias, podem ser utilizadas como plantas de cobertura. Plantas de interesse econômico também podem ser utilizadas para a produção da palhada, como milho, soja e ervilha, entre outras. Para todas essas plantas de cobertura, existe a possibilidade de produção de sementes na própria propriedade, sendo, inclusive, difícil encontrar fornecedores de sementes de algumas delas. A escolha da planta para cobertura morta dependerá de diversos fatores, tais como: clima; esquema de rotação de culturas, devendo-se considerar o tempo disponível para a formação de palhada; capacidade das plantas de hospedarem pragas e patógenos; características físicas do solo, a exemplo da necessidade de rompimento de camadas compactadas; características químicas do solo, considerando a necessidade de reciclagem de nutrientes e a velocidade na disponibilização de nutrientes pela cobertura morta; utilidade comercial das plantas de cobertura; entre outros. Como regra geral, se o desejado é a obtenção de uma cobertura morta duradoura, opta-se pelo plantio de gramíneas, Figura 20. Milheto antes e depois da trituração.
grupo de plantas com alta relação C/N, tais como o milho, o milheto (Figura 20), o sorgo, as aveias, entre outras. Porém, se deseja-se obter cobertura morta de degradação mais rápida para liberação de nutrientes para a cultura sucessora, utilizam-se plantas de cobertura com relação C/N mais baixa, tais como as brássicas, a exemplo do nabo forrageiro e das nabiças; as amarantáceas, como o amaranto; ou as leguminosas, como as mucunas, as crotalárias, o lab-lab, as sojas, o guandu, o feijão-de-porco, entre outras. O uso de vegetação espontânea pode ocorrer como planta de cobertura. Normalmente, há predominância de gramíneas, especialmente no verão. Entretanto, há que se observar se estão ocorrendo plantas espontâneas problemáticas, como grama-seda, trapoeraba, tiririca, losna, entre outras, que poderão competir por água e nutrientes durante o ciclo da cultura principal, inviabilizando-a.
Manejo das plantas de cobertura A formação de palhada deve ser feita pelo uso de roçadeira ou rolo-faca. Alternativamente, podese usar, no cultivo mínimo, a grade niveladora. Esta só deve ser usada em alguns casos, com grande massa vegetal, devendo ser passada semifechada, de modo a não se aprofundar no solo e a não incorporar a cobertura morta, deixando a palhada em superfície. O corte deve ser efetuado antes da existência de sementes viáveis. Nos casos em que as plantas de cobertura para formação de palhada apresentem alguma capacidade de rebrota, seu plantio em linha pode facilitar as capinas posteriormente, efetuando-se o semeio ou o transplantio de mudas da cultura principal nas entrelinhas das plantas de cobertura.
Consequências do manejo inadequado do solo O manejo inadequado do solo, no sistema orgânico ou no convencional de produção, pode levar a graves consequências, como: Deficiência e toxidez nutricional
Quando não são realizadas análises periódicas da fertilidade do solo, corre-se o risco de errar na fertilização. Errar para menos, causa deficiência, que é a falta de um ou mais dos nutrientes de plantas. Errar para mais, além do maior gasto com adubo, pode levar a toxidez, o que determina o excesso de um ou mais nutrientes, também acarreta desequilíbrio nutricional e, consequentemente, redução da produção. A deficiência é relativamente mais fácil de resolver. Dependendo do nutriente e do estágio da cultura, é possível aplicar um fertilizante e reverter o quadro de deficiência. No entanto, para o excesso não há solução a curto prazo.
Revolvimento excessivo
O revolvimento excessivo promove a destruição dos agregados do solo, acelerando a decomposição e a perda da matéria orgânica. A desagregação do solo provocada pelo revolvimento excessivo também pode ocorrer quando o solo está desprotegido, isto é, sujeito à ação do vento e da água das chuvas, principais causadores da erosão.
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Erosão do solo
A erosão é o processo de transporte do solo para outro local pela ação de agentes erosivos como a água e o vento. Pode ocorrer naturalmente, sem a ação do homem. No entanto, em áreas agrícolas é causada principalmente pela falta de proteção do terreno. No Brasil, o principal agente erosivo é a chuva. Quando as gotas batem sobre o solo desprotegido, sua força faz com que as partículas do solo se desagreguem e, quando soltas, essas partículas são arrastadas pela água da chuva. Com o passar do tempo, o processo vai se tornando mais intenso e perigoso, a erosão vai formando sulcos no terreno e pode evoluir para grandes voçorocas. Além disso, a terra vai parar nos cursos d’água, levando ao assoreamento dos rios e lagos, tornando a água suja e de má qualidade. As queimadas, intencionais ou acidentais, também favorecem a erosão do solo por destruírem a vegetação de cobertura. Uma prática inadequada ainda utilizada por alguns produtores de hortaliças em função da facilidade operacional é a formação de canteiros "morro abaixo", ou seja, no sentido da declividade do terreno. Essa prática é uma porta aberta para a erosão, pois facilita grandemente a formação de sulcos no terreno, causados pelo escorrer da enxurrada.
Compactação do solo
A compactação não é um fenômeno natural. Isso significa que é um processo exclusivamente causado pelo manejo incorreto do solo. Ocorre quando o solo sofre compressão por máquinas ou pelo pisoteio animal ou humano. A compressão causa adensamento do solo, o que dificulta o desenvolvimento das raízes das plantas e reduz o número de poros do solo, por onde circulam água e ar, levando à redução do movimento de água no perfil.
2.3.3 Adubos e adubação na produção orgânica de hortaliças Fertilizantes (ou adubos) orgânicos são obtidos de matérias-primas de origem animal ou vegetal, sejam elas provenientes do meio rural, de áreas urbanas ou, ainda, da agroindústria. Os fertilizantes orgânicos podem ou não ser enriquecidos com nutrientes de origem mineral (não orgânica), de acordo com as regras da legislação vigente. Os fertilizantes orgânicos são divididos em quatro tipos principais: Simples
Fertilizante de origem animal ou vegetal. Exemplos: estercos animais, torta de mamona, borra de café, etc.
Mistos
Produto da mistura de dois ou mais fertilizantes orgânicos simples. Exemplo: cinzas (fonte principalmente de K) + torta de mamona (fonte principalmente de N).
Compostos
Fertilizante obtido por um processo químico, físico, físico-químico ou bioquímico, sempre a partir de matéria-prima orgânica, tanto vegetal como animal. Pode ser enriquecido com nutrientes de origem mineral. Exemplos: composto orgânico, vermicomposto (húmus de minhoca), composto de farelos, etc.
Organominerais
Produto da mistura de fertilizantes orgânicos (simples ou compostos) com fertilizantes minerais. No caso específico da agricultura orgânica, esses fertilizantes minerais a serem misturados devem ser naturais (não processados quimicamente) e de baixa solubilidade, permitidos pela legislação para produção orgânica. Exemplos: Fertilizantes organominerais granulados, fertilizantes organominerais extrusados.
Para refletir e anotar! Nos próximos tópicos, aprenda um pouco sobre os fertilizantes listados abaixo e, para cada um deles, anote as restrições de uso. • • • • • •
Fertilizantes minerais. Esterco fresco. Composto Orgânico. Biofertilizante. Composto de farelo tipo Bokashi. Fertilizantes organominerais.
Fertilizantes minerais de uso permitido na agricultura orgânica Somente os fertilizantes minerais de origem natural e de baixa solubilidade são permitidos na agricultura orgânica, como, por exemplo, os fosfatos naturais, os calcários e os pós de rocha. Em situações específicas, para uso restrito, uma vez constatada a necessidade de utilização do adubo e com autorização da entidade certificadora, poderão ser utilizados termofosfatos, sulfato de potássio, sulfato duplo de potássio e magnésio de origem natural, sulfato de magnésio, micronutrientes e guano ( excrementos de aves marinhas). Se o solo for ácido, pode-se fazer calagem no sistema orgânico, e a quantidade de calcário a ser utilizada deve ser calculada com base na análise química do solo. Entretanto, a quantidade é limitada a 2 toneladas por hectare, por ano.
Estercos frescos Os estercos frescos podem conter microrganismos causadores de doenças no homem. Não devem ser utilizados no cultivo de hortaliças, pois podem contaminar as partes comestíveis das plantas. Esse problema pode ser resolvido com o curtimento, que é o envelhecimento do esterco sob condições
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naturais, ou com a fermentação. Deve-se deixar o monte de esterco "envelhecer" em local coberto ou protegido com um plástico ou uma lona contra chuvas, cujas águas lavam o esterco, removendo os nutrientes. Para ficar pronto, pode levar de 10 a 90 dias, dependendo das condições ambientais e da fonte do esterco. O esterco curtido é uma massa escura com aspecto gorduroso, odor semelhante ao odor de terra e sem nenhum mau cheiro.
Composto Orgânico O composto orgânico é um produto estabilizado e mais equilibrado, em que, durante sua formação, foram dadas todas as condições necessárias à eficiente reações aeróbica; portanto, sua qualidade como condicionador ou melhorador do solo é superior à do esterco curtido. Além disso, é mais rico em nutrientes por constituir-se de resíduos vegetais e animais e por ser, muitas vezes, enriquecido com resíduos agroindustriais e adubos minerais. É possível, portanto, direcionar a produção de um composto orgânico a uma necessidade específica do produtor. Exemplo: composto produzido na Unidade de Produção de Hortaliças Orgânicas da Embrapa Hortaliças. • 15 carrinhos de mão de capim braquiária roçado. • 30 carrinhos de capim napier. • 20 carrinhos de cama de matriz de aviário. • 13 kg de termofosfato. Formar camadas alternadas na seguinte ordem: braquiária, napier, cama de matriz e termofosfato, montando uma pilha de 1m x 10m x 1,5m (largura x comprimento x altura) para obtenção de 2.500 kg de composto orgânico após cerca de 90 dias.
BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 2, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Processo de compostagem (arquivo C2_CF_02.pdf ) e aprenda sobre o processo de compostagem.
Biofertilizantes Os biofertilizantes são misturas que funcionam a partir de inóculos de micro-organismos benéficos em estado viável, com efeitos na melhoria da fertilidade e da vida do solo, resultando em maior crescimento das plantas. Segundo a Instrução Normativa número 64, o biofertilizante é um produto que contém componentes ativos ou agentes biológicos capazes de atuar, direta ou indiretamente, sobre o todo ou parte das plantas cultivadas, melhorando o desempenho do sistema de produção, sendo isento de substâncias proibidas pela regulamentação da agricultura orgânica. De maneira geral, são soluções resultantes da mistura de estercos, farelos, adicionados ou não de outros resíduos orgânicos e nutrientes, em água, na presença de inóculos microbianos ativos. O processo de fabricação de biofertilizantes pode ser aeróbio (na presença de ar) ou anaeróbio
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(na ausência de ar). Podem ser aplicados via foliar, diluídos em água, ou no solo, via gotejamento. A quantidade para aplicação deve ser decidida com base nas análises de nutrientes de cada biofertilzante, evitando resultados indesejados. Somente podem ser aplicados via foliar, os biofertilizantes que não apresentem resíduos de origem animal em sua composição. A forma como o biofertilizante atua nas plantas ainda não é completamente esclarecida e merece ser mais bem estudada. Apresenta efeitos nutricionais (fornecimento de micronutrientes) e fitossanitários, atuando diretamente ou indiretamente no controle de algumas doenças. Tem sido demonstrado recentemente que biofertilizantes podem conter hormônios vegetais importantes para o crescimento e o desenvolvimento vegetal. Especula-se que tais moléculas reguladoras de crescimento podem ser produzidas por microrganismo presentes em inóculos utilizados na formulação dos biofertilizantes. BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 2, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Biofertilizante (arquivo C2_CF_01.pdf) e aprenda a fazer um biofertilizante.
São compostos orgânicos produzidos a partir da mistura de materiais como farelos de cereais (arroz, trigo), torta de oleaginosas (soja, mamona), farinha de osso, farinha de peixe e outros resíduos com ou sem terra de barranco (rico em argila) (Figura 21). Essa mistura é inoculada com microrganismos e submetida a um processo aeróbico ou anaeróbico (Bokashi tradicional). O inoculante microbiano pode ser terra de mata (bosque natural), soja fermentada, microrganismos capturados da natureza por meio de arroz cozido ou inoculantes comerciais como o EM® (Microrganismos Eficazes), hoje chamado de Embiotic®.
Foto:Ronessa Souza
Compostos de farelos ou bokashis
Figura 21. Composto de farelos tipo Bokashi. Fertilizante resultante da fermentação de farelos e resíduos agrícolas.
Sua composição deve ser ajustada de acordo com os ingredientes disponíveis e as necessidades nutricionais das culturas. Por utilizar matérias-primas nobres, de uso frequente na alimentação animal, o bokashi é um fertilizante relativamente caro e rico em nutrientes, especialmente N, P e K. O teor de N pode alcançar 3,5%, dependendo da formulação. Existem diferentes formulações com duração variável de 3 a 21 dias para obtenção do composto. Durante o processo aeróbio, a umidade deve permanecer em torno de 50% a 60%, e a temperatura em torno de 50ºC. Na maioria das formulações aeróbias, a movimentação da mistura é feita diariamente, uma vez que, devido às boas características físicas (partículas pequenas) e químicas (riqueza em nutrientes) da matéria-prima, a temperatura eleva-se com facilidade. O final do processo caracteriza-se pela queda de temperatura. O composto de farelos comercial mais conhecido é o "Nutri Bokashi", produzido pela Korin, empresa criada em 1995 pela Fundação Mokiti Okada, que utiliza Embiotic® como inoculante. Neste contexto, deve-se ressaltar que a procura por insumos fabricados por empresas ou
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produtores idôneos é fundamental para o sucesso da adubação, visto que a variação de composição nutricional de produtos no mercado atual é grande. Este fato pode levar a resultados indesejados, principalmente por falta de eficiência de insumos não registrados.
Principais fontes de nutrientes permitidas na produção orgânica
Nitrogênio
Estercos puros de animais diversos, cama e urina de animais, espécies leguminosas de adubos verdes (mucunas, crotalárias, guandu, feijão de porco, feijão bravo do Ceará, etc.), resíduos agroindustriais, como torta de oleaginosas (mamona, algodão, soja) e de cacau, e resíduos de culturas leguminosas, como soja e feijão, farinha de sangue, farinha de peixe, composto orgânico, biofertilizantes, bokashis, entre outros.
Potássio
Cinzas, cascas de café, pós de rochas silicatadas com altos teores de potássio, talos de banana, entre outros.
Fósforo Micronutrientes
Fosfatos naturais e farinha de ossos. Alguns pós de rocha, estercos, fontes minerais permitidas (ex.: óxido de cobre e outros utilizados nos biofertilizantes).
Para maiores informações, consultar o anexo V da Instrução Normativa nº 46, de 06 de outubro de 2011, sobre as substâncias e produtos autorizados para uso em fertilização e correção do solo em sistemas orgânicos de produção. No Brasil, de acordo com a Instrução Normativa nº 17, de 2014, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que altera a IN nº 46 de 2011, podem ser utilizados sulfato de potássio, de magnésio, e sulfato duplo de potássio e magnésio, desde que obtidos por procedimentos físicos, não enriquecidos por processo químico e não tratados quimicamente para o aumento da solubilidade, e somente com a autorização do OAC ou da OCS em que estiverem inseridos os agricultores familiares em venda direta. Os carbonatos são permitidos desde que não contenham resíduos contaminantes oriundos do processo de fabricação.
Análise química e quantidade de adubos a utilizar no sistema orgânico A análise química periódica é a única maneira de conhecer a fertilidade do solo, ou seja, de saber se o solo está ácido ou não, e se os teores de macro e micronutrientes e de matéria orgânica estão adequados. O cálculo da adubação para o plantio deve ser feito levando em consideração a análise química do solo, além da composição química do adubo e da exigência da cultura. Em geral, as recomendações de material orgânico situam-se entre 10 a 50 t ha-1 de composto orgânico ou esterco curtido. Essas
doses devem ser ajustadas de acordo com a cultura, com a qualidade do material, com as características químicas do solo que se vai cultivar, com a cultura antecessora e com o histórico de manejo orgânico. O sistema de manejo intensivo utilizado na produção de hortaliças tende a favorecer a elevação dos teores de nutrientes no solo com o decorrer do tempo. Portanto, para evitar desequilíbrios nutricionais, é importante considerar o efeito residual da adubação orgânica. Você verá mais a esse respeito no capítulo 03. BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 2, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Exemplo de cálculo (arquivo C2_EXC_01.pdf) e veja um exemplo de cálculo.
Correção de deficiência e toxidez no sistema orgânico Sistemas orgânicos efetivamente equilibrados e sustentáveis não devem apresentar deficiências minerais. Contudo, falhas na escolha das culturas, no manejo ou na própria concepção do sistema, especialmente na fase de transição para o sistema orgânico, podem propiciar o aparecimento de deficiências. Nesse caso, a correção pode ser feita por meio de aplicações de biofertilizantes, cuja formulação pode ser ajustada de acordo com a necessidade das culturas. Podem-se preparar diferentes formulações de biofertilizantes enriquecidos nos vários macro e micronutrientes. Situações de toxidez são raras em sistemas orgânicos, mas podem ocorrer eventualmente. Em solos de baixa fertilidade, como os latossolos, é possível ocorrer toxidez de Mn e/ou de Fe nos primeiros anos de cultivo. Nesse caso, a correção se faz com a calagem calculada de acordo com a análise de solo, e na quantidade permitida para sistemas orgânicos. Devido ao seu alto poder tampão, a adição de matéria orgânica ao solo ajuda a corrigir problemas de excessos e deficiências de nutrientes, especialmente de micronutrientes, com muitos dos quais forma quelatos, regulando assim a disponibilidade para as plantas. BIBLIOTECA - Vídeos de apoios Assunto
Link de acesso na internet
Produção orgânica de hortaliças – Parte 01
http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/ programacao/2006/producao-organicade-hortalicas/ProdOrgHortalicas1.wmv/ view?searchterm=produ%C3%A7%C3%A3o%20org%C3%A2nica
Produção orgânica de hortaliças – Parte 02
http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/ programacao/2006/producao-organicade-hortalicas/ProdOrgHortalicas2.wmv/ view?searchterm=produ%C3%A7%C3%A3o%20org%C3%A2nica
Arquivo no material de apoio (capítulo 02) ProdOrgHortaliças1.wmv
ProdOrgHortaliças2.wmv
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2.3.4 Certificação da produção orgânica O Brasil possui uma legislação que estabelece um conjunto de normas e procedimentos a serem cumpridos e observados por todos que integram a rede de produção orgânica. Além disso, estabelece conceitos, definições e princípios relacionados à agricultura orgânica. Como vários países do mundo começaram a criar legislações específicas para os produtos orgânicos, e isso poderia implicar em barreiras para o comércio internacional, foram estabelecidos normas e regulamentos básicos voltados a orientar os países nos seus processos de regulamentação, como os padrões da Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM – www.ifoam.org) e as diretrizes da Comissão do Codex Alimentarius (www. codexalimentarius.org). Diante disso, a legislação brasileira se parece com a de vários países, uma vez que foi feita com base nesses regulamentos, porém sem deixar de considerar as particularidades do Brasil.
Fórum • Em seu país, já existe a certificação orgânica? • Você já passou por esse processo? Como foi isso? • Que benefícios obteve? Convidamos você a aprender mais sobre certificação orgânica, consultando as informações apresentadas a seguir, comparando com a legislação própria de seu país e compartilhando com seus colegas no fórum do capítulo 02 do AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) no endereço: http://capacitacao.sede.embrapa.br/.
O produtor, ao colocar no mercado um produto certificado, pode obter vantagens em relação ao produto convencional, pois cada vez mais o consumidor tende a dar preferência a um produto (Figura 22) cuja qualidade envolva atributos relacionados a saúde, justiça social, conservação e preservação ambiental, como é o caso do produto orgânico, especialmente quando há preços competitivos. Outra vantagem para o produtor é o aumento da preferência pela aquisição do produto orgânico pelos mercados institucionais, como, por exemplo, as escolas, os hospitais e o próprio Estado, como é o caso, no Brasil, do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA – CONAB), em que o produto orgânico alcança valorização de cerca de 30% em relação ao convencional, e o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), no qual os produtos orgânicos são priorizados.
Foto: Mariane Vidal
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Figura 22. Produto orgânico.
Mecanismos de controle e informação da qualidade orgânica A avaliação da conformidade orgânica é o procedimento que inspeciona, avalia, garante e informa se um produto ou processo está adequado às exigências específicas da produção orgânica. Segundo o INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, a atividade de avaliação da conformidade pode ser realizada: • Por primeira parte – pessoa ou empresa que fornece o produto ou processo. • Por segunda parte – interessado no produto ou processo, podendo ser usuário (pessoa ou empresa), cliente potencial ou organizações que representam esses interesses. • Por terceira parte – pessoa ou organização independente da pessoa ou da organização que fornece (primeira parte) e que tem interesse (segunda parte) no produto ou processo. Os mecanismos de avaliação de conformidade e garantia da qualidade dos produtos orgânicos brasileiros são diferenciados conforme o agente responsável e os procedimentos utilizados na avaliação. No Brasil, são reconhecidos três mecanismos de garantia: 1. Certificação por Auditoria
A garantia da qualidade orgânica do produto é dada por uma certificadora (terceira parte, não envolvida no processo produtivo), que é uma instituição que inspeciona as condições técnicas, sociais e ambientais, e verifica se estão de acordo com as exigências dos regulamentos técnicos específicos da produção orgânica. As Certificadoras atuam comercialmente na prestação de serviços de cerificação a produtores individuais e grupos, e devem estar regularmente constituídas para atividade.
2. Sistema Participativo de Garantia – SPG
O Art. 29 do Decreto Nº 6.323/07 institui o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica - SisOrg, que tem como integrantes órgãos e entidades da administração pública federal (também os estaduais e distrital, se conveniados) e os organismos de avaliação da conformidade orgânica (OAC) credenciados pelo MAPA. O SPG é formado pela reunião de produtores e outras pessoas interessadas em organizar a sua estrutura básica, que é composta por: • Membros: fornecedores (produtores, comercializadores, transportadores e armazenadores) e colaboradores (consumidores e suas organizações, técnicos, organizações públicas e privadas, ONGs e organizações de representação de classe que atuem na rede de produção orgânica). • OPAC: Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade, possui personalidade jurídica, com responsabilidade formal pelas atividades desenvolvidas no SPG.
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Os SPGs são sistemas socioparticipativos de organização com controle social, normalmente em forma de rede, de abrangência regional de atuação, com envolvimento e participação de todos que formam a rede. O conjunto de atividades desenvolvidas no sistema tem como base o controle social, a participação e a responsabilidade compartilhada, com o objetivo de criar mecanismos legítimos de credibilidade e garantia dos processos desenvolvidos por seus membros. O SPG também se caracteriza pela descentralização de decisões e compartilhamento de conhecimentos e informações. 3. Controle Social – OCS
Segundo a alínea VIII do Art. 2 do Decreto Nº 6.323/07, a Organização de Controle Social é definida como "grupo, associação, cooperativa ou consórcio a que está vinculado o agricultor familiar em venda direta, previamente cadastrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com processo organizado de geração de credibilidade a partir da interação de pessoas ou organizações, sustentado na participação, comprometimento, transparência e confiança, reconhecido pela sociedade.". Processo de geração de credibilidade organizado a partir da interação de pessoas ou organizações, sustentado na participação, comprometimento, transparência e confiança das pessoas envolvidas no processo de geração de credibilidade. No Brasil, esses mecanismos com controle social foram reconhecidos e garantidos no texto da Lei nº 10.831, e regulamentados pelo Decreto nº 6.323.
Venda direta sem certificação No Brasil, os SPGs e o controle social para a venda direta sem certificação utilizam mecanismos de organização com controle social (OCS) para a avaliação, garantia e informação da qualidade orgânica. Na organização de controle social, os produtores familiares são organizados em grupo, associação, cooperativa ou consórcio, formalizado ou não, para um fim comum, e que possua mecanismos próprios de avaliação e controle baseados no controle social. Na organização social, há corresponsabilidade entre os
Na OCS (Organização de Controle Social) - um produtor verifica e garante a veracidade da qualidade da produção do outro.
produtores envolvidos no processo: um produtor verifica e garante a veracidade da qualidade da produção do outro, podendo Os consumidores conhecem e confiam nos produtores e nos processos produtivos.
ocorrer, ainda, reafirmação da idoneidade, quando do envolvimento de empresas de assistência técnica de caráter público ou privado. A garantia é oriunda da relação direta entre o produtor e o consumidor, na qual os consumidores conhecem e confiam nos produtores e nos processos produtivos.
No Brasil, para que o agricultor familiar possa comercializar diretamente com o consumidor seus produtos como orgânicos, são necessários cumprir os regulamentos técnicos da produção orgânica, e que sua OCS se cadastre em órgão fiscalizador (MAPA ou órgão conveniado). Após esse cadastramento, o órgão fiscalizador emitirá declaração de cadastro para cada membro da OCS. Assim, o produtor familiar poderá se identificar como orgânico através da apresentação de seu cadastro, e o rótulo de seus produtos e os locais de comercialização poderão conter a expressão: "Produto orgânico para venda direta por agricultores familiares organizados não sujeitos à certificação, de acordo com a Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003".
Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg) O Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica – SisOrg é integrado por órgãos e entidades da administração pública federal, pelos sistemas participativos de garantia e pela certificação por auditoria. Os organismos de avaliação da conformidade (certificadora e OPAC) deverão se credenciar no MAPA. No caso da certificação por auditoria, o credenciamento será precedido por acreditação pelo INMETRO. O sistema exige que haja rastreabilidade, isto é, o produto orgânico disponibilizado no mercado interno deverá ser identificado de maneira que se possa chegar à sua origem. O selo do SisOrg (Figura 23) estará presente em todos os produtos orgânicos em que avaliação da conformidade tenha sido realizada por OAC (certificadora ou OPAC) credenciado no MAPA. Agregado ao selo, haverá a identificação do mecanismo de avaliação da conformidade utilizado. Os organismos de avaliação da conformidade orgânica podem exigir particularidades no sistema de produção da unidade, em função das suas normas específicas. Ao assinar um contrato ou termo de compromisso com determinada entidade, o produtor deve cumprir as exigências previstas, pois as normas obrigatoriamente atendem às exigências contidas nos regulamentos oficiais. Por
Figura 23. Selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica – SisOrg e a combinação de cores possíveis para sua utilização.
Vale lembrar que... • Regulamentos são próprios dos órgãos públicos e devem ser cumpridos obrigatoriamente. • Normas: procedimentos exigidos pelas entidades privadas, de livre e voluntária adesão por parte do produtor. Os procedimentos descritos nas normas devem obrigatoriamente atender às exigências contidas nos regulamentos, podendo ser mais restritivos em determinados aspectos que considerarem relevantes, ou para atenderem a mercados específicos.
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exemplo: algumas entidades não permitem uso de estercos animais na adubação, enquanto outras exigem o uso de insumos específicos para que o produto receba uma classificação diferenciada. As normas podem ser solicitadas diretamente para os organismos de avaliação da conformidade ou acessadas pela internet em seus sítios. O produtor é livre para escolher o mecanismo de avaliação mais adequado às suas condições, e decidir pela entidade que melhor se aplica ao seu sistema produtivo e ao mercado. O produtor interessado deve: 1. Inscrever-se em OAC (certificadora ou OPAC) credenciado pelo MAPA. Feita a inscrição, uma visita deverá ocorrer em sua unidade produtiva, quando se definirá o período de conversão, com base em um plano de manejo, contendo a forma como se dará a implantação das exigências específicas da produção orgânica. 2. Após a adoção dos princípios e das práticas de manejo exigidas pelos regulamentos da produção orgânica e cumprido o período de conversão, a unidade de produção estará apta a receber o certificado de conformidade orgânica, emitido pelo OAC. O OAC, credenciado no MAPA, emite o certificado para as unidades controladas por ele, o qual permite que a unidade opere no SisOrg, estando autorizadas a utilizar o selo oficial do sistema. O selo da certificadora, ou OPAC, poderá ser utilizado juntamente com o do SisOrg. A mudança para outro organismo de avaliação da conformidade é livre, devendo o produtor ficar alerta para os prazos de vigência dos contratos e/ou termos de compromisso com as entidades. O produtor deve, obrigatoriamente, ter cópia atualizada dos documentos referentes aos procedimentos de avaliação e controle, como relatórios de visita/inspeção/auditoria. Assim o novo organismo de avaliação e controle aceitará sua condição de produtor orgânico e poderá exigir ajustes no manejo, com base nesses documentos. REFERÊNCIAS: • Legislação brasileira: http://www.agricultura.gov.br/portal/page/portal/Internet-MAPA/pagina-inicial/desenvolvimento-sustentavel/organicos/legislacao/Nacional. • SAMINÊZ, T. C. O.; DIAS, R. P.; NOBRE, F. G. A.; GONÇALVES, J. R. A.; MATTAR, R. G. H. Legislação e os mecanismos de controle e informação da qualidade orgânica no Brasil. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2008. 12 p. (Embrapa Hortaliças. Circular Técnica, 66). • Regularização da produção orgânica: http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/organicos/regularizacao-producao-organica.
2.3.5 Integração com a produção animal Da mesma maneira que a diversidade funcional aplicada ao sistema de produção é importante, a integração de atividades produtivas na agropecuária têm sido responsável pela manutenção da estabilidade da população rural. Desse ponto de vista, a integração dos cultivos e criações, através de sistemas de produção que ampliem o número de produtos agropecuários ofertados e busquem o manejo sistêmico da propriedade visando à manutenção dos processos ecológicos agregam elementos para aumentar ainda mais a complexidade desses sistemas. O mais interessante da integração
é que esses sistemas, do ponto de vista da agroeco- Vale lembrar que... logia e do balanço energético são mais eficientes na Propriedades rurais diversificadas estão utilização de recursos naturais, menos dependentes de menos sujeitas às crises decorrentes da insumos externos e geram menos resíduos. A diversififlutuação de preços de seus produtos, às condições climáticas desfavoráveis a um cação e a integração de sistemas de produção podem cultivo específico, e/ou ao surgimento de ser estudadas em três níveis. No primeiro nível, está a ataques intensos de pragas e doenças. fertilidade do solo, onde são considerados o aporte de N no sistema através da fixação biológica via adubação verde, o aporte de matéria orgânica via resíduos vegetais e animais, e o impacto na biota do solo dos diversos manejos realizados no sistema. No segundo nível, está a produção vegetal, onde se considera a produção de forrageiras (pastagens e capineiras), culturas agrícolas de ciclo curto como as hortaliças, sistemas agroflorestais e culturas perenes de produção. Finalmente, no terceiro nível, está a produção animal que tem como base o desenvolvimento de técnicas de produção de leite, carne e ovos e seus derivados, dentro da concepção agroecológica. Sabe-se que sistemas integrados, a exemplo do que ocorre com os sistemas naturais, são: • mais eficientes na utilização de recursos naturais. • menos dependentes de insumos externos. • geram menos resíduos. É importante salientar que a diversificação e a integração de sistemas de produção se tornam ainda mais robustos quando realizados em nível de comunidade, em que diversos produtores em distintas atividades econômicas estabelecem arranjos produtivos que ganham força de inserção no mercado. A produção animal de base ecológica integrada a lavouras representa um modelo de produção capaz de aumentar a eficiência de sistemas de produção agropecuário, que busca a sustentabilidade social, ambiental e econômica. A integração animal-vegetal favorece a estabilidade da renda da unidade de produção, principalmente quando o componente vegetal é formado por cultivos sazonais. O produto de origem animal enriquece a dieta familiar e pode proporcionar melhor distribuição da renda monetária durante o ano, contribuindo sobremaneira para segurança alimentar. Os dejetos oriundos da atividade animal são fontes de fertilizantes orgânicos para as áreas de lavoura. No entanto, torna-se necessário entender que um dos primeiros aspectos a ser considerado para que a atividade pecuária seja bem sucedida, mesmo que para atender apenas as necessidades alimentares da família, refere-se à nutrição e à alimentação animal.
Para refletir e anotar! Leia a seguir 2 casos de integração da produção animal e vegetal e, no espaço ao lado, anote: a. Que culturas vegetais estão sendo produzidas? b. Que animais estão sendo criados? c. Como cada produção se relaciona com a outra?
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Case Um Caso de Sucesso de Integração da Produção Animal e Vegetal
Anotações Anote aqui! Que culturas vegetais estão sendo produzidas?
Várias têm sido as experiências com a integração da produção animal e vegetal em diferentes biomas. Na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, foram introduzidas galinhas poedeiras da linhagem Embrapa 051, desenvolvida pela Embrapa Suínos e Aves em 27 unidades de produção familiar dedicadas ao cultivo orgânico de hortaliças. Optou-se por esse genótipo pelo fato de ser uma linhagem produtiva (255 ovos/ave/ano), além de ser adaptada a sistemas menos intensivos de produção. A base da dieta das aves foi constituída de ração balanceada e pela oferta do descarte da produção de olerícolas e refugos de frutas. Na mesma ocasião, foram introduzidas também cabras mestiças Saanen x Boer, gestantes, adaptadas a pasto em suas unidades de origem. A dieta dos caprinos nas unidades familiares foi baseada na ingestão de volumosos disponíveis, a partir de pastos de espécies de ocorrência espontânea, capineiras e descarte de hortaliças produzidas localmente. Reprodutores da raça Saanen foram introduzidos em cada núcleo da Horta Orgânica atendendo, em média, cinco unidades de produção vizinhas.
Que animais estão sendo criados?
Os cabritos nascidos foram repassados para outras unidades, a fim de evitar consanguinidade ao longo do tempo, e as fêmeas foram mantidas para ampliar a oferta de produção de leite. Entre os principais resultados, destacam-se: a. as modificações observadas no comportamento da família após a introdução dos animais; b. agregação de renda suplementar àquela obtida com a comercialização de hortaliças orgânicas, bem como melhoria da dieta alimentar da família; c. a rotina diária requerida no manejo dos animais (alimentação, ordenha, manejo de crias, colheita de ovos entre outras atividades) aproximou o jovem das atividades praticadas pela família, estimulando-os a permanecerem no meio rural; d. o aumento da participação da mulher, valorizando ainda mais a sua contribuição na manutenção econômica da família.
Como cada produção se relaciona com a outra?
Êxito com um sistema agrossilvipastoril
Anote aqui!
Outra experiência exitosa foi a construção participativa de sistema agrossilvipastoril orgânico para recria de novilhas leiteiras no cerrado, implantado por 10 agricultores familiares do assentamento Três Conquistas – PAD-DF e de São Sebastião, no Distrito Federal. A área com 1,2 ha foi dividida em três partes, onde foram plantadas espécies frutíferas nativas e florestais (jenipapo, jambo, baru, oiti, jatobá e eucalipto) respectivamente, em faixas cultivadas nas áreas de pastagens de braquiaria (Brachiaria ruziziensis) consorciadas com a leguminosa estilosantes (Estilosantes guyanensis cv Campo Grande), alternada por áreas de cultivos de culturas - mandioca e milho. Foram utilizados calcário dolomítico, gesso agrícola; como fonte de fósforo (P), o fosfato de rocha (20% P2O5), como fonte de potássio (K), o pó de rocha (8,3% K2O), e matéria orgânica de cama de frango (2,45% N) como fonte de nitrogênio (N). Todas as sementes de leguminosas e gramíneas foram inoculadas com bactérias diazotróficas e fungos micorrízicos, respectivamente.
Que culturas vegetais estão sendo produzidas?
Foi observado, nesse sistema, além do aumento da fertilidade dos solos, que sua boa produtividade dependeu de menor densidade de árvores, que permitiu maior incidência de luz nas forrageiras herbáceas, e da presença das leguminosas na pastagem, pela sua contribuição para dieta dos animais. Foram evidenciados também bons resultados na qualidade (12,2% PB) e produção de biomassa (29,8 ton/ha/ ano) pelo consórcio das gramíneas e leguminosas na pastagem com a carga animal de 2UA/ha.
Como cada produção se relaciona com a outra?
Que animais estão sendo criados?
Pela evidência de bons resultados dessas experiências, conclui-se que, embora a produção agropecuária tradicional tenha gerado um grande passivo ambiental, a agricultura desenvolvida de maneira racional e sustentável representa uma alternativa de geração de renda, principalmente se voltada a mercados diferenciados aos quais é possível agregar valor aos produtos de sistemas orgânicos integrados. REFERÊNCIAS: • FRANCIS, C.A. 1986. Multiple Cropping Systems, New York, MacMillan. • FIGUEIREDO, E.A.P.; SOARES, J.P.G. 2012. Sistemas orgânicos de produção animal: dimensões técnicas e econômicas. IN: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 49, 2012, Brasília. A produção animal no mundo em transformação. Brasília: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2012, pg 01-31. Disponível em: http://orgprints.org/21463/1/21463.pdf. 2012, p. 1-31. • FUNES-MONZOTE, F.R.; SERRANO, M.M.; LÓPEZ, I. 2013. Innovación agroecológica, adaptación y mitigación del cambio climático em Cuba. In NICHOLLS, C. I; RÍOS, L. A; ALTIERI, M. A. Agroeoclogia y resiliência socioecologica: adaptando-se al cambio climático. Gama gráfica: Lima, Peru. • SOARES, J. P. G. Produção Orgânica de leite: desafios e perspectivas. IN: SIMPÓSIO NACIONAL DE BOVINOCULTURA LEITEIRA E SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE BOVINOCULTURA LEITEIRA, 3, 2001, Viçosa. Anais do III Simpósio Nacional de Bovinocultura Leiteira e I Simpósio Internacional de Bovinocultura Leiteira. Viçosa: Suprema Gráfica e Editora, 2011. p. 13 – 43. • SOARES, J. P. G.; FIGUERIREDO, E.A.P.; GUERRA, J.G.M.; LEAL, M.A.A.; FERRERIRA, L.C.B.; LEITE, R.G. Integração agroecológica de animais em sistemas orgânicos de produção vegetal. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2012. In Guedes, I.M.R. & Vidal, M.C. Curso Internacional sobre produção sustentável de hortaliças: módulo 2. 70 a 73p.
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2.4 Considerações finais Neste capítulo, você aprendeu a organizar os espaços físicos da propriedade, distribuição e diversificação de culturas, e os processos produtivos e de manejo em função dos princípios da agricultura orgânica. Com as informações obtidas aqui, é possível realizar um estudo e um planejamento da propriedade para a adoção do cultivo orgânico, considerando seus benefícios produtivos, ecológicos e sociais. Nos próximos capítulos, você aprofundará questões específicas, relacionadas a todo o ciclo produtivo, iniciando com o tema adubação de hortaliças, que é apresentado a seguir.
Pesquise e aprenda mais! Para aprofundar seus conhecimentos sobre a produção orgânica de hortaliças, consulte os materiais de referência existentes no material de apoio e no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem). Como sugestão, responda às seguintes perguntas direcionadoras. Questão direcionadora
Material de referência
Como produzir e utilizar o húmus de minhoca na agricultura orgânica?
SCHIEDECK, G.; GONÇALVES, M. M.; SCHWENGBER J. E. Minhocultura e produção de húmus para a agricultura familiar. Pelotas, RS, 2006. (Circular Técnica, 57).
Quais são as etapas da produção de composto orgânico?
COUTO, J. R.; RESENTE, F.V.; SOUZA, R. B.; SAMINEZ, T. C. O. Instruções práticas para produção de composto orgânico em pequenas propriedades. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2008. (Embrapa Hortaliças. Circular Técnica, 53).
Como realizar o manejo de plantas espontâneas? O que é alelopatia? Plantas espontâneas podem ser indicadoras de solo pobre ou com desequilíbrio de nutrientes?
PEREIRA, W.; MELO, W. F. Manejo de plantas espontâneas no sistema de produção orgânica de hortaliças. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2008. (Embrapa Hortaliças. Circular Técnica, 62).
Como produzir sementes orgânicas?
http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2011/ producao-de-sementes-organicas-de-hortalicas/?searchterm=produ%C3%A7%C3%A3o%20org%C3%A2nica
Quais são as características da produção orgânica?
http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2006/producao-organica-de-hortalicas/?searchterm=produ%C3%A7%C3%A3o%20org%C3%A2nica
Como produzir biofertilizantes e outros insumos alternativos?
http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2011/biofertilizantes-e-defensivos-naturais-para-controle-de-pragas/?searchterm=produ%C3%A7%C3%A3o%20org%C3%A2nica
Atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) http://capacitacao.sede.embrapa.br/ Acesse o ambiente virtual de aprendizagem e responda as atividades propostas para este capítulo.
Capítulo
Juscimar da Silva Ítalo M. R. Guedes Foto: Juscimar da Silva
3
Adubação de hortaliças
Ao final desse capítulo, você será capaz de: • Estabelecer relações entre as propriedades do solo e o desenvolvimento de hortaliças. • Identificar sintomas de deficiência e toxidez nutricional em hortaliças. • Realizar amostragem e interpretar a análise química do solo. • Realizar cálculos para recomendação de fertilizantes.
3.1 Solo Ao longo da história, o homem sempre conviveu com o solo. Inicialmente, ele apenas colhia o que germinava e se desenvolvia espontaneamente. Após certo tempo, observando os processos da natureza, o homem identificou padrões relacionados ao desenvolvimento das plantas, aprendendo, assim, a cultivar o solo para obter seu alimento (Figura 1). Diversas técnicas foram criadas e aperfeiçoadas, permitindo ao homem regular o solo de maneira cada vez mais eficaz, a fim de obter uma produção de qualidade e adequada às Figura 1. Agricultores. suas necessidades. Assim, para a humanidade, o solo tornou-se um recurso tão importante quanto o ar e a água. Pode-se dizer que a vida não existiria sem essa que é uma das nossas maiores fontes de alimentos.
Desafio Você sabe responder as perguntas abaixo? • Como a disponibilidade dos elementos no solo influencia o desenvolvimento das hortaliças? • Quais são as consequências da ausência ou alto conteúdo de certos nutrientes nas hortaliças? • Quais as principais técnicas para avaliar se o solo está carente ou com excesso de elementos químicos? Encontre as respostas para essas ou outras perguntas ao longo deste capítulo.
Composição do solo O solo é resultante de um paciente trabalho da natureza. Ao longo dos anos, a chuva, o vento, o calor e o frio desgastam as rochas, criando partículas que vão sendo depositadas em camadas. São necessários cerca de 400 anos para formar 1 (um) centímetro de solo. Observe na Figura 2 a gênese do solo a partir do intemperismo da rocha. Os nomes entre parênteses referem-se às classes de solo, conforme o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.
Figura 2. Gênese do solo a partir do intemperismo.
Foto: REF 001/2014 Arquivo EMBRAPA
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O solo ideal para o desenvolvimento de plantas cultiváveis é composto por água, minerais, matéria orgânica e ar, de maneira equilibrada (Figura 3).
Figura 3. Relação ideal entre elementos que compõem o solo.
O solo como fonte de nutrientes A agricultura é dependente do solo, de onde extrai os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento, com o auxílio de elementos bióticos e abióticos (Figura 4). Portanto, não se deve apenas retirá-los, ocasionando o empobrecimento do solo. É necessário repor os nutrientes de algum modo, para que a agricultura possa ser praticada por um período maior em determinada área. Muitos problemas no fornecimento de nutrientes para as culturas têm suas origens na formação do solo. A ausência ou o excesso de determinados elementos nutricionais podem acarretar prejuízos ao produtor em função do desenvolvimento limitado da planta.
Raízes
Figura 4. Elementos bióticos e abióticos atuando no solo.
A produtividade do tomateiro (Figura 5) para processamento industrial tem atingido, em algumas regiões produtoras no Brasil, em especial no estado de Goiás, a expressiva marca de 110 t ha-1 até 140 t ha-1. Para alcançar esse resultado, a planta demanda, entre outros fatores, de uma grande quantidade de nutrientes que não são fornecidos, na sua totalidade, pela maioria dos solos, devido às suas baixas reservas naturais. Portanto, foi necessário analisar a composição química do solo a fim de identificar e quantificar os elementos necessários para incrementar o desenvolvimento da planta e estimular a produção. Fonte: Agência EMBRAPA.
Foto: André Fachini Minitti
Estimulando a produção de tomate!
Figura 5. Tomateiro
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Lei do Mínimo Você se recorda da Lei do Mínimo? Segundo esse princípio, todos os nutrientes devem estar em concentrações adequadas no solo para que a planta possa expressar seu máximo desempenho produtivo. A ausência ou a disponibilidade limitada de apenas um elemento nutricional essencial já afeta a produtividade da cultura. Observe a representação ao lado (Figura 6). Como as madeiras do barril apresentam tamanhos diferentes, o seu enchimento está limitado à menor madeira e, mesmo que esta a seja substituída, outra de menor tamanho controlará o volume do barril. Isso ocorrerá até que todas as madeiras estejam no mesmo nível/tamanho. Portanto, não importa se um ou mais nutriente(s) apresenta(m) teor (es) adequado(s) no solo e estão disponíveis para a planta. Se apenas um deles estiver abaixo do recomendado, a planta não irá atingir seu potencial produtivo máximo.
Figura 6. Representação conhecida mundialmente da Lei do Mínimo de Liebig.
Para evitar problemas relacionados à produtividade, é necessário conhecer o solo em que se quer produzir, e restituir-lhe os nutrientes limitantes. Para isso, é muito importante realizar a análise química do solo, e, considerando a Lei do Mínimo, verificar a concentração de cada elemento químico.
Para refletir e anotar! O solo alimenta as plantas. As plantas alimentam o homem. Quem alimenta o solo?
Por que as hortaliças demandam grande quantidade de nutrientes? As necessidades nutricionais das hortaliças em cada fase de crescimento estão predominantemente associadas a dois processos: formação de órgãos vegetativos (folhas e caule) e formação de órgãos reprodutivos (fruto e tubérculos). Esta última não se aplica às folhosas, porém a maior demanda por nutrientes dessas espécies se dá em função da grande quantidade de plantas por área e seu ciclo rápido. Há hortaliças cuja produção é limitada a determinadas fases (hortaliças folhosas), enquanto outras apresentam um padrão de produção contínuo por um determinado período de tempo (tomate para mesa), o que leva a diferenças nas curvas de acúmulo de nutrientes. Na figura 7, por exemplo, podese verificar que, mesmo produzindo folhas e ramos, a grande quantidade de nutrientes é deslocada para a parte comercial, o fruto. Embora exista uma dependência entre a curva de absorção de nutrientes e a curva de produção de matéria seca das plantas, não há completa coincidência entre ambas devido às diferenças no que se
refere a variações no estágio de desenvolvimento e as necessidades de nutrientes específicos. Hortaliças folhosas se comportam de maneira muito diferente das hortaliças fruto quando comparamos as curvas de acúmulo de nutrientes e a matéria seca. Isso porque as culturas como tomate e pimentão, por exemplo, apresentam produtividade contínua e, por isso, necessitam de aporte continuado dos nutrientes do solo. Portanto, as hortaliças “fruto” diferentemente das “folhosas”, apresentam curvas distintas para cada parte da planta (Figura 8).
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Figura 7. Acúmulo de matéria seca durante o ciclo do tomateiro para processamento industrial (cv. H9494). Fonte: Fontes (2000).
Figura 8. Diferenças entre os padrões de desenvolvimento e produção das hortaliças.
Elementos requeridos na nutrição da planta Observe abaixo a classificação dos elementos necessários para a nutrição das plantas. Tabela 1. Elementos requeridos na nutrição de plantas
Elementos minerais essenciais Macro Micro
Elementos não minerais essenciais
Elementos minerais benéficos
C
N
B
Co
O
P
Cl
Na
H
K
Cu
Ni
S
Fe
Si
Ca
Mn
Mg
Mo Zn
a) Elementos essenciais A ausência e/ou a deficiência de qualquer um desses elementos resulta na queda significativa da produção. Eles são classificados como macronutrientes e micronutrientes. Macronutrientes: N, P, K, S, Ca e Mg Micronutrientes: B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn
Em geral, os micronutrientes estão em quantidades adequadas no solo, porém, quando se cultivam plantas mais sensíveis, é preciso conhecer seu teor no solo a fim de prevenir o mau desenvolvimento da planta. Por exemplo, a deficiência de boro em couve-flor, causando o que chamamos vulgarmente de talo oco (Figura 9). Foto: Juscimar da Silva
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Figura 9. Couve-flor com deficiência de boro (talo oco).
b) Elementos benéficos Co, Na, Ni e Si
Em geral, a presença desses elementos acarreta incremento de produção.
Interações entre nutrientes no interior da planta Muitos dos elementos químicos essenciais para as plantas são absorvidos na forma de íons, ou seja, elementos químicos com carga elétrica. Aqueles com carga elétrica positiva são chamados cátions, já os que possuem carga negativa, são os ânions. No interior das células, para onde vão os nutrientes, deve ser mantido um equilíbrio entre a concentração de ânions e cátions (equilíbrio eletroquímico). Existem interações sinergísticas e antagônicas entre alguns nutrientes. Nas interações sinergísticas, a absorção de determinado elemento pode favorecer a absorção de outro, como tem sido observado entre K+ e Cl – em algumas espécies. Por outro lado, nas interações antagônicas, a absorção de determinada forma de um nutriente pode dificultar a absorção de outro. Muito
conhecida entre os técnicos que lidam com tomate é a interação antagônica que existe entre a forma amoniacal do nitrogênio (NH4+) e o cálcio (Ca2+). Como se pode observar, ambas as formas são catiônicas. Tabela 2. Principais nutrientes associados à nutrição de plantas e a suas formas químicas absorvidas pela planta
Nutriente
Forma química Iônicas
Gasosas
Nitrogênio (N)
NO3- e NH4+
N2
Fósforo (P)
Nutriente
Forma química Iônicas
Boro (B)
H3BO3(0) e B(OH)4-
H2PO4- e HPO42-
Cloro (Cl)
Cl-
Potássio (K)
K+
Cobre (Cu)
Cu2+
Cálcio (Ca)
Ca2+
Ferro (Fe)
Fe2+
Magnésio (Mg)
Mg2+
Manganês (Mn)
Mn2+
Enxofre (S)
SO42-
Molibdênio (Mo)
MoO42-
Níquel (Ni)
Ni2+
Zinco (Zn)
Zn2+
SO2
Fonte: Adaptado de Marschner (2005) e referências citadas pelo autor.
Interações antagônicas
Foto: Juscimar da Silva
Em geral, o uso exclusivo ou excessivo da forma amoniacal de nitrogênio leva ao surgimento de sintomas de deficiência de cálcio, como a podridão apical dos frutos, conhecido como fundo preto (Figura 10). Mesmo se o cálcio estiver presente no solo em formas disponíveis, a planta não o aproveitará, porque a célula necessita manter o equilíbrio eletroquímico. O excesso de um determinado cátion impede a absorção (ou causa a saída) de outro cátion.
Figura 10. Sintoma de deficiência de Ca em frutos de tomateiro.
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Sinergimos entre Mg2+ e P Quando o teor de Mg2+ está adequado (boa calagem, utilizando calcário dolomítico, por exemplo), ele pode se combinar com o fósforo, formando um par iônico (molécula) solúvel, prontamente disponível para as plantas. Como pode ser observado na Figura 11, as formas de P absorvidas pelas plantas (H2PO4- e HPO42-) têm sua atividade aumentada a valores de pH entre 6,0 – 6,5.
Figura 11. Distribuição relativa das espécies de P em (%) na solução do solo em função do pH.
Interação positiva S x P Outro exemplo claro de reação sinergística é a relação ente S e P. A exigência a S cresce conforme aumenta a disponibilidade de N e P. Na presença de enxofre (S) e na ausência de fósforo (P0), a produção (Y) se reduz; ao adicionar o P (P1), a produção aumenta linearmente. Para o P na presença de S (S1), a resposta é a mesma. Y aumenta quando aumenta S (Figura 12).
Figura 12. Esquema representativo do efeito da interação enxofre (S-SO42-) e fosfato (PO42-) na produção (Y). Adaptado de Alvarez V. et al. (2007).
Mobilidade dos elementos químicos Os elementos químicos são também classificados quanto à sua mobilidade dentro da planta. Esse fator poderá auxiliar no manejo da fertilidade do solo, observando-se os sintomas de deficiência. A deficiência de nutrientes móveis, por exemplo, é verificada na porção inferior da planta, nas folhas
velhas. Já a ausência de nutrientes com mobilidade limitada (imóveis) apresenta sintomas de deficiência nas partes mais jovens das plantas (folhas novas). Tabela 3. Classificação dos nutrientes quanto à sua mobilidade dentro da planta
Imóveis
Móveis Nitrogênio
Cálcio
Potássio
Enxofre
Magnésio*
Ferro
Fósforo
Boro
Cloro
Cobre
Sódio Molibdênio Nota: Os elementos estão listados na ordem de sua abundância na planta. * O Mg apresenta mobilidade limitada na planta, porém, não pode ser enquadrado como imóvel.
BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 3, (no material de apoio ou no AVA): • Documento - Fluxograma para identificação de sintomas de deficiência de nutrientes em hortaliças (arquivo C3_FLX_01.pdf).
3.2 Manejo da fertilidade A fertilidade do solo está diretamente relacionada ao desempenho da produção hortícola. A falta ou o excesso de determinados nutrientes no solo podem repercutir negativamente no desenvolvimento das plantas. Veja o exemplo a seguir.
Sintomas da deficiência de nutrientes no tomateiro
Foto: Juscimar da Silva
Foto: Juscimar da Silva
A deficiência de Mg no tomateiro tem como causa tanto a falta do nutriente no solo (Figura 13) quanto a ocorrência de virose (Figura 14), que afeta a síntese de clorofila na qual está o Mg. O magnésio é parte constituinte da molécula de clorofila.
Atenção!
Figura 13. Folhas de tomateiro com sintoma de deficiência de magnésio. Clorose internerval (nervura verde-escuro).
Figura 14. Tomateiro com folhas retorcidas, sintomas típicos de virose.
Muito cuidado para não confundir sintoma de virose com deficiência de Mg.
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Deficiência de Mg ou virose? Para diferenciar se o sintoma apresentado pela planta é causado por virose ou por falta do nutriente no solo, algumas perguntas devem ser feitas: 1. As folhas estão retorcidas? 2. A ocorrência é generalizada ou em reboleiras (pequenas áreas/manchas na plantação)? Em reboleiras/manchas, há maior chance de ser sintoma de virose. 3. Se for generalizado, há presença elevada de agentes transmissores de virose (mosca branca)? Folhas retorcidas e sintomas localizados na lavoura são aspectos típicos de virose. Quando erramos na adubação ou na correção da acidez, em geral erramos na área total, a menos que acabe o produto no meio do plantio e não há como adquirir mais. Portanto, dificilmente teremos pequenas áreas/manchas na plantação, resultantes da falta de Mg no solo. Por outro lado, uma grande quantidade de insetos transmissores pode disseminar o vírus em área total, especialmente em cultivo de hortaliça que ocorre em pequenas áreas. Portanto, é necessário identificar se há a presença de agentes transmissores do vírus.
Deficiência de nutrientes ou toxidez? Como foi visto no exemplo acima, o desequilíbrio nutricional, ocasionado por deficiência ou excesso de nutrientes, compromete a produção. A deficiência se dá quando os teores disponíveis no solo para a planta estão ABAIXO do adequado. No caso da toxidez, os teores disponíveis estão MUITO ACIMA do recomendado. Veja alguns exemplos. Quadro 1. Exemplos de deficiências e excessos de nutrientes no tomateiro
Foto: Juscimar da Silva
Deficiência de Boro
Características: Quando há deficiência de boro, os frutos apresentam manchas necróticas, de coloração marrom (principalmente perto do pedúnculo), rachaduras, e não desenvolvem totalmente a cor vermelha (Figura 15). As paredes do fruto tornam-se assimetricamente deprimidas e os lóculos se abrem.
Figura 15. Tomateiro com deficiência de boro.
Deficiência de Cálcio Foto: Juscimar da Silva
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Figura 16. Tomateiro com deficiência de cálcio.
Características: O sintoma característico da deficiência de cálcio inicia-se com a flacidez dos tecidos da extremidade dos frutos, que evolui para uma necrose deprimida, seca e escurecida (Figura 16). O sintoma é conhecido como podridão estilar ou "fundo-preto" e ocorre quando há períodos curtos de deficiência – principalmente quando ocorrem mudanças bruscas de condições climáticas. Eventualmente verificam-se, em condições de campo, deformações das folhas novas e morte dos pontos de crescimento. A presença de umidade (água) no solo é importantíssima para que o Ca2+ chegue até a planta. Como é sabido, o Ca2+ movimenta-se no solo via fluxo de massa, que é governado pela água.
Foto: Juscimar da Silva
Deficiência de Fósforo induzida por toxidez por Boro
P
B
Figura 17. Tomateiro com deficiência de fósforo.
Características: A deficiência de fósforo (P) é identificada quando as folhas mais velhas adquirem coloração arroxeada, em razão do acúmulo do pigmento antocianina. Em estágios de desenvolvimento mais tardios, as folhas apresentam áreas roxo-amarronzadas, que evoluem para necroses. Essas folhas caem prematuramente, e a planta retarda sua frutificação. O aspecto queimado da borda da folha é sintoma característico de toxidez causado pelo B. Na figura ao lado (Figura 17), a deficiência de P foi induzida pela toxidez por B. Lembra quando se falou do potencial eletroquímico dentro da célula? Se há muito borato (ânion boro), a planta evita absorver o fosfato (PO42-), que também é um ânion.
Foto: Juscimar da Silva
Deficiência de Mg2+ induzida pelo excesso de NH4+, K+ e Ca2+
Características: A deficiência de magnésio (Mg) é marcada pela descoloração das margens dos folíolos mais velhos, que progride em direção à área internerval, permanecendo verdes as nervuras (Figura 18). Quando a deficiência é mais severa, as áreas amarelas vão escurecendo, tornando-se posteriormente necrosadas. Nesse caso, a deficiência de Mg foi induzida pelo excesso de cátions, como NH4+, K+ e Ca2+.
Figura 18. Tomateiro com a deficiência de magnésio (Mg).
Foto: Juscimar da Silva
Plantas murchas devido ao excesso de sais no solo
Características: Plantas murchas devido à perda de água para o solo, que está salino (Figura 19). Atenção! Há três coisas que fazem a planta murchar: falta de água, excesso de água e excesso de sais.
Figura 19. Excesso de sais no solo.
O resultado de análise do solo indicado abaixo é referente à área das duas fotos anteriores (excesso de sal e deficiência de Mg). Tais dados demonstram o que seria um teor alto de elementos no solo. pH = 6,3 Pdisponível = 1086 mg dm-3; Kdisponível = 136 mg dm-3 S-SO42- = 128 mg dm-3; Ca2+ = 9,1 cmolc dm-3; Mg2+ = 1,2 cmolc dm-3; Fe = 175 mg dm-3
Vale a pena ler de novo! Espécies olerícolas extraem do solo e exportam, em suas partes comestíveis, maior quantidade de nutrientes em relação a outras culturas. Devido a essa demanda, é muito importante se ater aos macronutrientes secundários, uma vez que são frequentes a observação de sintomas de deficiência de Ca, Mg e S no campo.
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Portanto, é necessário saber quanto é requerido dos elementos químicos para o desenvolvimento satisfatório das plantas. No quadro abaixo, por exemplo, indica-se a exigência de enxofre (S) por diferentes grupos de culturas. Tabela 4. Exigência de enxofre para diferentes grupos de plantas cultivadas
Planta
Quantidade de S (kg/ha)
Crucíferas (Couve, Repolho) Aliáceas (Cebola, Alho)
70 – 80 kg/ha S – SO42-
Leguminosas
40 kg/ha S – SO42-
Forrageiras
15 – 30 kg/ha S-SO42-
Batata, Tomate e Ervilha
Requerem + S do que P Fonte: Alvarez V. (2003)
O uso de fontes mais concentradas para produzir formulações NPK pode induzir o aparecimento de sintomas de deficiência de enxofre nas plantas, em especial nas hortaliças. Nessas formulações, quando se usam fontes mais concentradas de fertilizantes, duas fontes de S são suprimidas – a ureia substitui o sulfato de amônio (perda de S) e o “super simples” (fonte de P e S) é substituído pelo “super triplo” (fonte concentrada de P, sem S). Quando se usam fontes mais concentradas de fertilizantes, duas fontes de S são suprimidas.
Para prevenir todos os problemas associados à falta de nutrientes ou toxidez, é de extrema importância conhecer o solo. Realizar calagem e adubação sem conhecimento prévio é desperdício de tempo e dinheiro, pois não se saberá quais as reais condições e necessidades do solo em função da cultura plantada. A melhor maneira, portanto, para conhecer o solo, é por meio da Análise Química do Solo, como será apresentada a seguir.
3.3 Avaliação da fertilidade A fertilidade do solo é essencial para se conseguir boa produtividade, mas um solo fértil nem sempre é o mesmo que um solo produtivo. Fatores como má drenagem, erosão, entre outros, limitam a produção, mesmo quando a fertilidade é adequada. Por isso a importância de práticas que protejam o solo e aumentem o teor de matéria orgânica, bem como de técnicas de conservação do solo, como terraceamento, plantio em nível e manutenção da palhada. Não podemos deixar de mencionar a rotação de culturas também, uma vez que promove a ciclagem de nutrientes do solo.
Terraceamento agrícola É a distribuição de terraços em áreas agrícolas de acordo com as características da chuva, como quantidade, duração e intensidade, e da paisagem, comprimento da rampa, rugosidade do terreno, profundidade e permeabilidade do solo, e práticas de manejo agrícola, como plantio convencional, cultivo mínimo e plantio direto. Fonte: Agência Embrapa.
Como avaliar o solo? A avaliação da fertilidade do solo é um procedimento imprescindível para estimar as quantidades corretas de fertilizantes e corretivos da acidez, com vistas a evitar os problemas nutricionais das plantas. A avaliação pode ser realizada por meio dos seguintes procedimentos: 1. Conhecimento do solo por meio da análise química. Envolve amostragem do solo e envio do material ao laboratório.
2. Interpretação do resultado da análise química (atenção aos extratores!). 3. Análise foliar: ferramenta complementar que servirá de balizadora das recomendações.
4. Recomendação de adubação. 5. Formulações.
1) Amostragem do solo A amostragem é uma operação muito importante, pois uma pequena quantidade de solo deve ser capaz de representar a fertilidade média de uma grande área. Portanto, os procedimentos para a coleta de amostras devem ser rigorosos, já que as análises laboratoriais não corrigem as falhas de uma amostragem mal feita. Para se conseguir uma amostra representativa da área, siga as orientações abaixo.
Observar e corrigir as variabilidades a) Macrovariações: relacionadas com alterações morfológicas e/ou mineralógica e/ou física e/ou química no solo, verificadas a grandes distâncias, ou seja: Macro = f(vegetação, topografia, cor do solo e textura)
b) Microvariações: diferenças nas características do solo dentro da unidade de amostragem ou gleba, verificadas a pequenas distâncias (da ordem de centímetros): • Inerente à gênese do solo, mas é acentuada pela decomposição de resíduo orgânico e pela aplicação localizada de fertilizante. • Mais intensa em solos agricultáveis e sob pastagem, e menos em solos naturais (mata, cerrado, savanas, campo, etc.). Estratificar o solo: subdividir a área em glebas ou unidades de amostragem (UA) contribui para minimizar as macrovariações.
2) Interpretação do resultado da análise do solo Agora que você já realizou a etapa de coleta e o envio das amostras para análise, compreenda como interpretar os resultados dessa análise. Para tanto, utilizam-se boletins regionais que trazem tabelas contendo classes de valores (muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto) para interpretação da disponibilidade de determinado nutriente em função do seu teor no solo contido na análise química.
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Extratores São soluções salinas ou ácidas, as quais são misturadas ao solo por determinado período de tempo e numa relação pré-estabelecida. Os teores obtidos nessa reação apresentam CORRELAÇÃO DIRETA com o que é absorvido pela planta. É um EQUÍVOCO, porém, dizer que essa quantidade é equivalente ao que a planta terá disponível para utilizar ao longo do seu ciclo vegetativo. O extrator para determinado nutriente varia de acordo com a região. Cuidado para não escolher laboratórios que adotem métodos europeus ou americanos. Tais métodos são calibrados para solos diferentes daqueles observados em condição tropical. Ao utilizá-los, a chance de insucesso pode ser grande! Observe abaixo alguns exemplos de métodos aplicados no Brasil. Tabela 5. Métodos de análises químicas para avaliação da fertilidade do solo utilizados pelos laboratórios integrantes dos programas de controle de qualidade da análise química de solo no Brasil
Característica
PEP-IAC(1)
PROFERT(2)
ROLAS(3)
CELA(4)
PAQLF(5)
pH
CaCl2 0,01 mol L-1 (1:2,5)
H2O (1:2,5)
H2O (1:1)
H2O (1:2,5)
H2O (1:2,5)
Al3+
KCl1 mol L-1
KCI1 mol L-1
KCI 1 mol L-1
KCI 1 mol L-1
KCI 1 mol L-1
Ca2+ e Mg2+
Resina(6)
KCl1 mol L-1
KCI 1 mol L-1
KCI 1 mol L-1
KCI 1 mol L-1
H + Al
SMP(7)
Ca (OmAc) 0, 5 mol L-1 pH 7,0 ou SMP
SMP
Ca(OmAc) 0, 5 mol L-1 pH7,0
Ca (OmAc) 0, 5 mol L-1 pH 7,0 ou SMP
P disponível
Resina(6)
Mechlich-1
Mechlich-1
Mechlich-1
Mechlich-1
K disponível e Na+
Resina(6)
Mechlich-1
Mechlich-1
Mechlich-1
Mechlich-1
S disponível
Ca (H2P04)2 500 mg L-1 em H20
Ca(H2P04)2 500 mg L-1 em HOAc
Ca(H2P04)2 500 mg L-1
Ca(H2P04)2 500 mg L-1
Ca(H2P04)2 500 mg L-1
Fe, Mn, Cu e Zn disponíveis
DTPA(8)
Mechlich-1
Mechlich-1
Mechlich-1
Mechlich-1
B disponível
Água quente
Água quente
Água quente
Água quente
Água quente
Matéria orgânica
C oxidável por Cr2O72- dosagem titulométrica ou colorimétrica
C oxidável por Cr2O72- dosagem titulométrica ou colorimétrica
C oxidável por Cr2O72- dosagem colorimétrica
Matéria orgânica por incineração
C oxidável por Cr2O72- dosagem titulométrica ou colorimétrica
Programa de Ensaio de Proficiência do Instituto Agronômico de Campinas, SP.(2) Programa Interlaboratorial de Controle de Qualidade de Análise de Solos de Minas Gerais. (3) Programa da Rede Oficial de Laboratórios de Análise de Solo e de Tecido Vegetal dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. (4)Programa da Comissão Estadual de Laboratórios de Análises Agronômicas do Estado do Paraná.(5) Programa de Análise de Qualidade de Laboratórios de Fertilidade da Embrapa. (6) Utilizam-se resina mista (catiônica + aniônica). (7) Solução mista de cloreto de cálcio, cromato de potássio, acetato de cálcio e trietanolamina, com pH tamponado em 7,5. (8) Ácido dietilenotriaminopentaacético. (1)
Fonte: Cantarutti et al. (2010)
BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 3, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Lista de tabelas de recomendações (arquivo C3_TAB_01.pdf).
3) Análise Foliar Juntamente com a análise do solo, a análise foliar é uma ferramenta fundamental para o bom manejo da fertilidade do solo. Ela permite planejar, avaliar e calibrar a recomendação de adubação da lavoura. Veja abaixo alguns exemplos. BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 5, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Como Fazer: Análise Foliar (arquivo C3_CF_01.pdf)
Corretivos e Fertilizantes Segundo pesquisas recentes sobre o uso de fertilizantes no mundo, divulgadas pelo New York Times1, é notório que, nos países em desenvolvimento, há um aumento no uso de fertilizantes, enquanto que, nos países desenvolvidos, há clara redução ou estabilização no uso. Isso se deve, em grande parte, à preocupação com a contaminação ambiental (veja as zonas mortas representadas por pontos marrons no mapa apresentado no link da nota de rodapé – essas zonas são áreas com problema de eutrofização). Na Europa, por exemplo, o uso de fertilizante fosfatado caiu mais de 400 kg/ha-1 num período de 10 anos.
Calagem O excesso de alguns elementos químicos pode contribuir para acidificação do solo. O alto teor de alumínio (Al3+), por exemplo, além de gerar acidez, é prejudicial à maioria das culturas, provocando queda de produtividade. Quanto mais ácido o solo, maior a atividade de Al3+. É possível controlar a acidez do solo por meio de uso de calcário. Entretanto, da mesma forma, o excesso de calcário desequilibra o solo e diminui a produtividade. Na figura a seguir (Figura 20), está a faixa de valores de pH que podem ser verificados no solo. Nos solos tropicais, o valor de pH, em geral, é inferior a 5. Nessa condição, a atividade do Al3+ é alta e pode ser tóxica às plantas. O retângulo azul mostra a faixa de pH ideal para cultivo de hortaliças (5,5 a 6,5). Quando fazemos a calagem, o objetivo é ajustar o pH para próximo desse intervalo. 1
Figura 20. Faixa de pHs encontrados na maioria dos solos agrícolas.
http://www.nytimes.com/imagepages/2008/04/30/business/20080430_FERTILIZER_GRAPHIC.html
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A figura a seguir (Figura 21) é excelente para mostrar o comportamento dos nutrientes em função do pH. Por exemplo, para valores de PH < 5,5, a disponibilidade dos micronutrientes é alta (Fe, Zn, Mn, Cu, etc) o que pode parecer bom; mas, se os teores desses nutrientes estiverem altos, eles podem causar toxidez.
Figura 21. Comportamento dos nutrientes em função do pH do solo e faixa de pH ideal para crescimento de plantas.
Lembre-se de que micronutrientes devem ser fornecidos em pequenas quantidades. Nessa mesma condição, a disponibilidade dos macronutrientes e do molibdênio é baixa (veja a linha do P – verde). Como no pH ácido há predomínio de cargas positivas no solo, os ânions fosfato e molibdato ficam retidos (forças de adsorção). Num cenário inverso, ou seja, pH básico (pH > 7,0), a situação se inverte. Aumenta a disponibilidade dos macronutrientes e do molibdênio, e diminui a dos micronutrientes, devido às reações de precipitação.
Atenção! Note que, à medida que o pH aumenta, a disponibilidade do fósforo começa a diminuir devido à formação de fosfato de cálcio. Então, deve-se evitar supercalagem. Atente ao retângulo azul – faixa adequada para crescimento de plantas e de disponibilidade dos nutrientes.
Baseado na explicação da figura anterior, é fácil inferir sobre o comportamento dos nutrientes do solo, desde que se saiba o valor do pH. Não é possível dizer se a quantidade está adequada, mas facilita muito na tomada de decisão para corrigir a acidez e evitar a toxidez por Al3+, ou se o P e os demais nutrientes estão numa condição que favoreça a absorção deles pelas plantas.
Monitorar a Condutividade Elétrica do Solo (CE) A condutividade elétrica do solo reflete na mudança no conteúdo de água e, ou, da concentração de sais da solução no solo. Utilize a equivalência dS m-1 = µS cm-1 para estabelecer os valores de condutividade elétrica.
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Deve-se monitorar: • Solos de regiões passíveis de influência marinha. • Regiões de clima árido a semiárido. • Cultivo em casas de vegetação. Um solo considerado salino apresenta valor de CE > 4 dS m-1.
Hortaliças que demandam grandes quantidades de nutrientes e são adaptadas a condições de estresse salino (melão e melancia) não resistem a CE maiores que 3 dS m-1. Devido à ausência de chuva, plantios em casa de vegetação (estufas) são mais propensos a apresentar solo salino.
Foto: Juscimar da Silva
Como consequência do excesso de sais, as plantas podem apresentar sintomas de murcha, como demonstrado na Figura 22.
Figura 22. Plantas murchas devido ao excesso de sais no solo.
Necessidade de Calagem (NC) Veja abaixo alguns exemplos de métodos para estimar a necessidade de calagem utilizados no Brasil. 1. Método utilizado no Estado de Minas Gerais Neutralizar Al3+ e fornecer Ca2+ + Mg2+ NC (t/ha) = Y[Al3+ + (mt x t /100)] + [X – (Ca2+ + Mg2+)]
Em que: NC = necessidade de calagem t = acidez ativa do solo Y = relacionada à textura do solo (solo argiloso pesado 3, textura média 2, mais arenoso leve 1) X = necessidade de Ca e Mg da cultura (hortaliças em geral 3 ou 4) mt = saturação de Al; em outras palavras quanto de Al a espécie tolera
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2. Método utilizado no Estado de São Paulo
Fórum
Saturação por Bases (V%) NC (t/ha) = (Ve x T/100) – SB
Acesse o Fórum e participe da discussão sobre os métodos utilizados para calcular a NC em sua região.
Em que: Ve = saturação de base ideal para cultura; hortaliças em geral maior que 70% T = acidez potencial; [T = SB + (H+Al)] SB = soma de bases; (SB = Ca+Mg+Na+K); quando o teor de K estiver expresso em mg/ dm3, o valor DEVE ser dividido por 390 para igualar sua unidade com as do Ca e Mg)
Relação Ca:Mg = 3:1 ou 4:1; Teor de Mg2+ > 0,9 cmolc dm-3
Escolha do corretivo Segundo a legislação brasileira: mínimo de 67% de poder de neutralização (PN) e 45% de poder relativo de neutralização (PRNT). Classificação do calcário (em função do teor de Mg) • Calcíticos: < 5 dag kg-1 (%) de MgO. • Magnesianos: 5 – 12 dag kg-1 de MgO. • Dolomíticos: > 12 dag kg-1 de MgO. A classificação do calcário é adotada no mundo todo. Para hortaliças, a preferência é para o calcário dolomítico, porque tem maior teor de Mg2+.
Aplicação do fertilizante O quê? 1. Adubo em pó ou granulado? Depende inicialmente da disponibilidade local. Havendo disponibilidade, o granulado é melhor porque a reação é mais lenta, dificulta a retenção dos nutrientes pelo solo, principalmente o P, favorecendo a absorção pela planta. Como? 1. Localizada • 2 a 5 cm ao lado e abaixo da linha cultivo. A aplicação localizada favorece a planta na briga com o solo pelo nutriente. Porém, não plante na linha onde foi adubado para evitar "queimar" a planta pelo excesso de sais. 2. A lanço • Pastagem e culturas perenes. • Não para K.
Não se recomenda para hortaliças, mesmo em áreas novas. 3. Na cova: junto com calcário? Devido à reação lenta, os calcários devem ser aplicados bem antes do plantio (90 dias é o ideal). Além disso, alguns nutrientes podem se tornar indisponíveis quando colocados junto ao corretivo. Revise o gráfico de disponibilidade de nutrientes em função do pH do solo. O fósforo reage com o calcário, formando fosfato de cálcio, que é de difícil solubilidade; ao colocar o adubo na cova, evite plantar logo em seguida, para não haver contato da raiz da muda com os sais.
Atenção! Para que as reações aconteçam, é muito importante que tenha água no solo. Sem umidade, os sais ficam na superfície do solo e as plantas não poderão utilizar os íons (nutrientes) adicionados.
Quando? 1. No plantio: após calagem. Não se deve utilizar o fertilizante com antecedência, ao contrário da calagem. Isso porque sua reação é bem mais rápida do que a do calcário. Não use fertilizantes com antecedência! Se o fertilizante reagir e não houver planta para utilizá-lo, o P ficará retido pelo solo (se não for bem manejada, 80% do P da adubação fosfatada fica retido no solo nas primeiras horas), o N pode ser perdido por lixiviação ou volatilização, a depender da fonte, e o K perdido por lixiviação. 2. Parcelamento: • Com Fósforo? Está em discussão na comunidade científica. Em geral, o P é aplicado 100% no plantio. Porém, tem sido observada resposta positiva das plantas à adubação fosfatada pós-plantio, principalmente nas culturas com produção continuada, como é o caso de algumas hortaliças (tomate e pimentão). • Com Potássio? Dependerá do ciclo e da demanda da cultura e do tipo de solo. • N e K sempre devem ser parcelados porque a planta precisa deles durante todo o ciclo e também para evitar perda. Estudos têm mostrado que, para hortaliças que produzem por longo período, faz-se necessária complementação com P. Mas a discussão ainda permanece no meio científico. Quanto (kg/ha)? Devem-se considerar alguns fatores: 1. Análise do solo. 2. Fase de desenvolvimento / idade da planta. 3. Demanda da planta: • Cultura anual X Hortícolas. 4. Intensidade de produção: • Custo X Produção.
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Recomendação de adubação Após colher uma amostra de solo que melhor represente a sua unidade de amostragem, considerando os fundamentos para selecioná-la de forma adequada, deve-se enviar a amostra para o laboratório a fim de realizar a análise química do solo. Interpretar o resultado desse procedimento é fundamental para estimar a quantidade de corretivos e nutrientes necessários para adubar o solo para o plantio de determinada cultura.
4) Formulações Adubação do plantio 40% do N; 100% do P; 60% do K Quantidade de adubo por hectare
60 kg de N; 900 kg P2O5; 480 kg K2O
Adubo simples Adquirir: Sulfato de amônio (SA), Super simples (SS) e Cloreto de potássio (KCl). SA = 20% de N
100 kg SA
20 kg de N
X
900 kg/ha
SA = 300 kg/ha SS = 20% de P2O5
100 kg SS
20 kg de P2O5
X
60 kg/ha
SS = 4.500 kg/ha KCl = 60% de K2O
100 kg KCl
60 kg de K2O
X
480 kg/ha
KCl = 800 kg/ha
Depois de calculadas as quantidades dos adubos, é preciso aplicá-los na área de plantio. Se todos os fertilizantes estiverem na forma granulada, eles podem ser misturados antes e, depois, adicionados juntos na linha de plantio. Uso de formulação Como os adubos formulados são muito mais fáceis de encontrar nos estabelecimentos de venda de fertilizantes, é importante saber fazer o cálculo da relação de nutrientes para sua área. Depois de estimada a relação entre os nutrientes, é possível procurar no mercado fornecedor uma formulação que mais se aproxime da sua.
Cálculo da formulação e preparo da mistura de fertilizantes: 1º passo: dividir a relação de N : P2O5 : K2O pelo menor valor, ou seja, 60. 60 : 900 : 480 / 60 = 1:15:8
Nesse caso, pode-se procurar nos pontos de venda uma formulação que mais se aproxime da estimada para a área de interesse. Multiplicando a relação 1:15:8 por 2, por exemplo, teremos 2:30:16, equivalência muito próxima a utilizada no comércio brasileiro, ou seja, a formulação 4:30:16. É necessário apenas complementar a quantidade de N, utilizando, por exemplo, ureia, sulfato de amônio, nitrato de amônio, etc. No entanto, se houver a possibilidade de fazer a própria formulação, siga os passos abaixo. 2ª Opção: Preparar uma tonelada da mistura a partir de SA, SS, KCl.
1000 Kg
Fórum 10 kg de N
SA = 50 kg
150 kg de P2O5
SS = 750 kg
80 kg de K2O
KCl = 133 kg
Acesse o Fórum e participe da discussão sobre as formulações utilizadas no comércio da sua região.
Total obtido: Mistura = 50 + 750 + 133 Para completar 1000 kg: 1000 – 933 =
933 kg 67 kg de enchimento (esterco seco, gesso, turfa, etc.)
Atenção! Nem todos os fertilizantes podem ser misturados! Veja abaixo as relações entre diferentes fertilizantes (Figura 23).
Figura 23. Compatibilidade entre fertilizantes e corretivos. Fonte: LOPES, 1989.
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Observe abaixo um exemplo da estimativa da quantidade de nutriente contido no solo. COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA: Argila, g/kg Silte,g/kg Areia, g/kg
325 225 450
pH, sem unidade
6,3
VR: Muito Acido <5,0 Media Acidez 5,0 a 5,5 Adequada Acidez 5,6 a 6,9 Alcalino: 7,0 a 7,8 Muito Alcalino: >7,8
FÓSFORO - P, em mg/dm3 - ppm VR: Argila entre 150-350 g/kg
Muito baixo 0 a 10
Baixo: 10,1 a 15 Medio: 15,1 a 20 Adequado: 20,1 a 30 Alto: >30
1086
CÁLCIO - Ca, em cmol0/cm3 = mE/100mL
9,1
MAGNESIO - Mg, em cmol0cm3 = mE/100mL
1,2
VR: Argila entre 150-350 g/kg Baixo: <1,0
Medio: 1,0 a 2,5 Adequado: >2,5
VR: Argila entre 150-350 g/kg Baixo: <0,2
Medio: 0,2 a 0,6 Adequado: >0,6
POTÁSSIO - K, em cmol0/cm3 = mE/100mL
0,34
SÓDIO – Na, em cmol0/ cm3 = mE/100mL
0,08
VR: Baixo<0,06
VR: Baixo<0,15
Medio: 0,06 a 0,13 Alto: >0,13
Medio: 0,15 a 0,57 Alto: >0,57
ALUMÍNIO - Al, em cmol0/cm3 = mE/100mL
0,0
ACIDEZ (H + Al), em cmol0/cm3 = mE/100mL
3,2
VR: Baixa Toxidez 0,0 a 0,3
VR: Baixa Toxidez <2,50
Media Toxidez: 0,4 a 1,0 Alta Toxidez: >1,0
Media Toxidez: 2,5 a 5,0 Alta Toxidez: >5,0
SOMA DAS BASES, em cmol0/cm3 = mE/100mL Muito Baixa: <0,61
Baixa: 0,61 a 1,80
Media: 1,81 a 3,60
Boa: 3,61 a 6,00
Muito Boa: >6,00
CTC ou T, em cmol0/cm3 = mE/100mL VR: Argila entre 150-350 g/kg Baixa: <4,8
Media: 4,8 a 6,0 Adequada: 6,1 a 9,0 Alta: >9,0
SATURAÇÃO por BASES – V, em % VR: Baixa: <20
Media: 20 a 39 Adequada: 40 a 60 Alta: >60
SATURAÇÃO por ALUMÍNIO – m, em % VR: Adequada: <15
Media: 15,1 a 30 Alta: 50,1 a 75,0 Muito Alta: >75
10,72 13,92 77 0,0
A figura a seguir (Figura 24) representa uma forma rápida e fácil para conversão de unidades, o que facilitará o cálculo dos elementos para suas formulações. Assim, considerando que temos 1086 mg dm-3 de P, multiplicamos por 2 e obtemos 2172 kg/ha-1. Para saber a quantidade de sacos de 60 kg de super simples que teremos, basta dividirmos por 60 e obteremos o resultado de 36,2 sacos. 36 sacos de 60 kg 434 sacos de SS Figura 24. Uma forma rápida e fácil de conversão de unidades.
Nesse cálculo, foi utilizado o valor de P na análise do solo acima (P = 1086 mg/dm3) e estimado quanto do P disponível no solo – valor muito alto por causa do excesso de adubação – representava em termos de sacos de adubo.
3.4 Considerações Finais Ao longo desse capítulo, abordamos a importância da composição do solo para o desenvolvimento satisfatório das hortaliças. Apresentamos exemplos das consequências de um solo carente e com excesso de nutrientes para certas culturas e, diante desses possíveis impactos, você viu quais são as técnicas disponíveis para avaliar corretamente o solo e realizar a futura correção de elementos químicos, se necessário.
Pesquise e aprenda mais! Para aprofundar seus conhecimentos sobre a adubação de hortaliças, consulte os materiais de referência existentes no material de apoio e no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem). Como sugestão, responda às seguintes perguntas direcionadoras.
Questão Direcionadora
Material de Referência
Como você avalia o processo de erosão na sua região?
Áudio - Erosão do solo, seus efeitos e práticas de controle. Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/ prosarural/programacao/2013/erosao-do-solo-seus -efeitos-e-praticas-de-controle/?searchterm=eros%C3%A3o%20do%20solo%20seus%20efeitos
Quais fatores de risco presentes na sua região poderiam desencadear o processo de desertificação?
Áudio - Manejo Sustentável para evitar riscos de desertificação. Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/programacao/2013/manejo-sustentavel-para-evitar-riscos-de-desertificacao/?searchterm=Manejo%20Sustent%C3%A1vel%20 para%20evitar%20riscos%20de%20desertifica%C3%A7%C3%A3o.
Das práticas citadas, você já observou alguma praticada na sua região? Há outra não citada que é realizada?
Áudio: Manejo e conservação de solo e água na região semiárida. Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/ programacao/2013/manejo-e-conservacao-de-solo-e-agua-na-regiao-semiarida/?searchterm=regi%C3%A3o%20semi%C3%A1rida
Atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) http://capacitacao.sede.embrapa.br/ Acesse o ambiente virtual de aprendizagem e responda as atividades propostas para este capítulo.
Adubação de hortaliças
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Capítulo
Waldir Aparecido Marouelli Marcos Brandão Braga
Foto: Griszka Niewiadomski/freeimages
4
Irrigação
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • Identificar e selecionar o melhor sistema de irrigação. • Avaliar a necessidade de água das principais hortaliças. • Avaliar a disponibilidade de água no solo. • Identificar e aplicar os principais métodos de manejo da água de irrigação.
Foto: Zineb Benchekchou
4.1 Importância e Eficiência dos Sistemas de Irrigação
Figura 1. Sistema de irrigação mecanizado por aspersão do tipo pivô central.
A irrigação é uma das práticas agrícolas que permite maior aumento de produtividade na agricultura, inclusive viabilizando a produção em regiões com baixa disponibilidade hídrica (Figura 1). No entanto, apesar de a agricultura irrigada estar, geralmente, associada a um elevado nível tecnológico, a irrigação é ainda praticada de forma inadequada, com grande desperdício de água. Estima-se que, de toda a água captada para fins de irrigação, apenas 50% seja utilizada pelas plantas. Em sistemas de irrigação por superfície, as perdas podem chegar a percentuais bem maiores. A baixa eficiência no uso da água ocorre devido a três fatores principais:
a) Uso de sistemas de irrigação inapropriados e/ou com baixa eficiência de aplicação de água. b) Diminuta utilização de critérios técnicos de manejo de água na maioria das áreas irrigadas. c) Informações escassas e incompletas de parâmetros para o manejo da água de irrigação. O desperdício de água na irrigação, além de aumentar os custos de produção, acarreta consequências ambientais pelo comprometimento da disponibilidade e da qualidade da água. Essa situação tem levado muitos projetos de irrigação, em todo o mundo, a uma condição de baixa sustentabilidade econômica e socioambiental. A preocupação com o uso eficiente da água na agricultura irrigada, além do efeito direto sobre o rendimento das culturas, cresce proporcionalmente com o aumento da escassez de água tanto em quantidade quanto em qualidade, agravando a competição entre os diversos setores que dela dependem.
Desafio Você sabe responder as perguntas abaixo? • Como determinar a necessidade de água das hortaliças? • Como avaliar se o solo tem umidade suficiente para o bom desenvolvimento de uma cultura? • Quais são os principais métodos e sistemas de irrigação? • Como escolher o sistema de irrigação mais adequado para uma determinada condição? • Quais são as principais técnicas para o manejo racional da água de irrigação? Encontre estas e outras respostas ao longo deste capítulo.
Irrigação
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Irrigação
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4.2 Métodos e Sistemas de Irrigação Existem diferentes sistemas que podem ser utilizados para irrigação, desde um simples regador até um sistema totalmente automatizado em que a água é aplicada gota a gota junto a cada planta (gotejamento). Todos os sistemas apresentam características próprias, com custos variáveis, vantagens e desvantagens. Dependendo da forma com que a água é aplicada nas plantas, os sistemas podem ser agrupados nos seguintes métodos de irrigação: superficial, subsuperficial, aspersão e localizado.
4.2.1 Método de irrigação superficial O método superficial engloba todos os sistemas de irrigação em que a água se movimenta por gravidade, diretamente sobre a superfície do solo, infiltrando-se e molhando-o. A água pode ser conduzida até a área a ser irrigada por meio de canais ou tubulações. Os principais sistemas são: Sulco, Faixa, Corrugação e Inundação. Os sistemas superficiais são, geralmente, os que requerem menor investimento inicial e menor uso de energia. Adaptam-se à maioria dos solos, com exceção daqueles com altas taxas de infiltração, como os arenosos, mas requerem terrenos planos ou sistematizados e com baixa declividade. Foto: Mateus Figueiredo Santos
Os custos para aquisição e implantação do sistema podem aumentar substancialmente caso o terreno necessite de intensiva sistematização. Por outro lado, são aqueles que mais demandam mão de obra e água, e podem favorecer a salinização e a erosão do solo. Por não molharem a parte aérea das plantas, os sistemas superficiais pouco interferem na aplicação de agrotóxicos.
Foto: Mateus Figueiredo Santos
Figura 2. Sistema de irrigação por sulco em lavoura de melancia.
Figura 3. Sistema de irrigação por faixa em lavoura de batata.
No Brasil, a irrigação por sulco é utilizada principalmente para as hortaliças tutoradas e/ou que requerem pulverizações frequentes, como a ervilhatorta, o pimentão e o tomate. O sistema também tem sido utilizado em hortaliças como melancia (Figura 2) e melão, e na produção de sementes de hortaliças de frutos secos (cenoura, cebola etc.), dentre outras. Para situações específicas, o sistema de inundação intermitente de pequenos tabuleiros ou bacias pode vir a ser utilizado. Os sistemas por faixa (Figura 3) e, principalmente, por corrugação são pouco utilizados no Brasil. O sistema por corrugação, que pode causar sérios problemas de erosão ao solo, adapta-se melhor às culturas com alta densidade de plantio, como a ervilha, a lentilha e o grão-de-bico.
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No sistema por sulco (Figura 4), a água é aplicada em pequenos canais ou sulcos, cavados diretamente no solo, pelos quais a água se infiltra, movimenta-se vertical e lateralmente, molhando o solo. A forma do sulco depende da cultura a ser irrigada, sendo mais comum a geometria em "V". A largura do sulco varia entre 20-30 cm, e a profundidade, entre 15-25 cm. Os sulcos devem ter declividade inferior a 1% (1 cm por 1 m de sulco) para não causar erosão do solo. O espaçamento entre sulcos está em função da espécie de planta culti- Figura 4. Irrigação por sulco em lavoura de tomate consorciada com vada e da capacidade de movimenta- coentro. ção lateral da água no solo – faixa de molhamento que, normalmente, é menor em solos de textura arenosa. Para espécies com espaçamento entre fileiras de plantas acima de 60 cm, deve ser utilizado um sulco por fileira de plantas, em geral feito junto às plantas. Para espécies com pequeno espaçamento entre fileira de plantas e cultivadas em canteiros, os sulcos podem ser espaçados em torno de 80-100 cm, sendo o maior valor para solos com textura mais argila.
Atenção! O comprimento do sulco depende da declividade do terreno e do tipo de solo. Para solos com alta taxa de infiltração (arenosos), o comprimento não deve ultrapassar 10 m, enquanto para solos pouco permeáveis (argilosos), o comprimento pode variar entre 50 e 100 m.
O fornecimento de água para os sulcos pode ser feito com uso de sifões de plástico ou de mangotes a partir de um canal Fazer o desvio da água de distribuição. Muitos produtores fazem o desvio da água para os sulcos com o auxílio para os sulcos com auxílio de enxada, enxadão e/ou pá, prátide enxada não garante o controle da quantidade de ca que não garante qualquer controle da quantidade de água água aplicada e favorece a aplicada nos sulcos e favorece uma maior erosão do solo. A erosão do solo! condução e a distribuição da água podem ainda ser feitas por meio de mangueiras flexíveis acopladas a tubos de PVC ou de registros, o que aumenta custos, mas garante maior economia de água. Em pequenas áreas, o abastecimento de água em cada sulco pode ser feito por meio de uma mangueira conectada a uma fonte de água pressurizada.
Foto: Waldir A. Marouelli
Sistema por sulco
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Pesquise e aprenda mais! Aproveite este momento e reflita sobre a seguinte questão: além daquelas listadas anteriormente, quais outras vantagens e desvantagens da irrigação por sulco?
Vantagens
Desvantagens
Citamos como principais vantagens da irrigação por sulcos: • • • •
Baixo investimento inicial para instalação do sistema. Baixo uso de energia. Possibilidade de uso de águas com sedimentos. Não molhar a parte área das plantas, prevenindo, assim, doenças de parte aérea.
No entanto, esse sistema pode apresentar as desvantagens a seguir: • • • • • •
Requer terrenos planos ou sistematizados e com pequena declividade. O solo deve ser pouco permeável. Uso de grandes volumes de água. Maior demanda de mão de obra. Maior potencial para salinização e erosão do solo. Favorece a ocorrência de doenças de solo, principalmente naqueles com tendência ao encharcamento.
A irrigação por sulco é indicada principalmente para hortaliças tutoradas e/ou muito suscetíveis a doenças da parte aérea, como o pimentão e o tomate. O sistema também pode ser utilizado em espécies com grande espaçamento entre fileira de plantas, como abóbora e melancia. Embora tal sistema possa ser utilizado para irrigar lavouras com pequeno espaçamento entre plantas cultivadas em canteiros, como alface, cenoura e cebola, o manejo de água para garantir um umedecimento uniforme de toda a superfície do canteiro é mais complexo que para irrigar plantas cultivadas em fileiras.
Sistema por inundação intermitente O sistema por inundação, muito utilizado para a irrigação do arroz, é pouco empregado no cultivo de hortaliças no Brasil. Nesse sistema, há a formação e a manutenção de uma lâmina de água sobre o solo durante praticamente todo o ciclo de desenvolvimento das plantas de arroz. Com exceção do agrião, praticamente nenhuma outra espécie de planta cultivada tolera tais condições de solo totalmente saturado. Porém, a inundação intermitente de pequenos tabuleiros pode ser, no entanto, utilizada para a irrigação de diferentes culturas. O tamanho de cada tabuleiro pode ter área de até 20 m2, dependendo do tipo de solo, da topografia do terreno e da espécie de planta.
O fornecimento de água aos tabuleiros pode ser realizado por meio de sulcos de distribuição, tubulação fixa ou mangueira flexível. O uso de mangueira para o abastecimento individual de cada tabuleiro pode ser utilizado em pequenas áreas quando da disponibilidade de mão de obra.
Esse método engloba todos os sistemas de irrigação em que a água é aplicada sob a superfície do solo por meio da criação e do controle de um lençol freático (Figura 6). O lençol é mantido a uma profundidade fixa preestabelecida (sistema com lençol freático fixo), em função da cultura, do estágio de desenvolvimento das plantas e do tipo de solo. A umidade atinge a zona radicular da cultura em consequência da ascensão capilar da água. O lençol pode ainda ser elevado e rebaixado periodicamente (sistema com lençol freático variável), Figura 6. Irrigação subsuperficial em lavoura de batata. conforme as necessidades hídricas da cultura, por fechamento e abertura de comportas. Ambos os sistemas podem ser projetados concomitantemente ao sistema de drenagem da área. As principais características da irrigação subsuperficial são: • • • •
Baixo investimento inicial para instalação do sistema, desde que as condições sejam favoráveis. Baixo uso de energia. Requer pouca mão de obra. Aplica-se a solos planos ou sistematizados, com camada permeável sobrepondo-se à camada impermeável em torno de 1,5m de profundidade. • A água não lava os agrotóxicos aplicados à folhagem. • Em condições de solo e água salinos, favorece a salinização do solo.
Foto: Lincoln Zotarelli
4.1.2 Método de irrigação subsuperficial
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Para a irrigação das culturas do chuchu e da bucha vegetal, por exemplo, deve-se construir um pequeno dique, em forma de bacia, com diâmetro entre 80 e 150 cm ao redor de cada cova/planta. Já culturas com pequeno espaçamento entre plantas, como a cebola e o alho, o tabuleiro pode ter formato retangular e área maior que no caso do chuchu e da bucha vegetal (Figura 5). O dique para a retenção da água dentro do tabuleiro é feito de terra e deve ter altura de 10 a 15 cm, suficiente Figura 5. Irrigação por inundação intermitente em lavoura para a retenção temporária da água necessária a de cebola. cada irrigação. De um modo geral, toda a água deve se infiltrar no solo em no máximo 2 horas.
Foto: Nivaldo A. Costa
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No Brasil, a irrigação subsuperficial tem sido usada de forma incipiente na irrigação de hortaliças. A exceção é a cultura da melancia, amplamente irrigada por esse sistema na bacia do Rio Araguaia, nos Estados de Goiás e Tocantins. Estudos realizados na Embrapa Hortaliças indicaram que a irrigação subsuperficial é tecnicamente recomendada para a produção de várias hortaliças, como o alho, o feijão-de-vagem e o milho-doce, porém, para a cenoura e a cebola mostrou-se inviável. No estado americano da Flórida, a área de hortaliças irrigada por meio do manejo do lençol freático é expressiva, sendo o método mais comumente usado para a produção de tomateiro, dentre outras hortaliças.
4.2.3 Método de irrigação por aspersão O método de irrigação por aspersão engloba todos os sistemas em que a água é aplicada às plantas ou ao solo na forma de chuva artificial, utilizando-se, por exemplo, dispositivos emissores denominados aspersores. Aspersor é um dispositivo hidráulico mecânico que aplica água na forma de chuva artificial, geralmente por meio de um ou dois bocais. Dentre os sistemas de aspersão, destacam-se o convencional portátil, o semiportátil e o fixo; o autopropelido; o deslocamento linear; e o pivô central. Desde que utilizado para aplicar água na forma de chuva, um simples regador ou uma mangueira podem ser enquadrados como sistemas por aspersão. A aspersão pode ser utilizada para a irrigação de praticamente todas as espécies de plantas, sendo o método mais adotado na produção de hortaliças em geral. Por molhar toda a planta, é mais indicada para irrigar espécies menos susceptíveis a doenças da parte aérea, devendo ser evitada, por exemplo, na produção de tomate e pimentão, sobretudo em regiões e estações com ocorrência de chuvas ou de orvalho. A aspersão é também utilizada na produção de mudas em geral. Para pequenas quantidades de mudas, a irrigação é normalmente feita com regador ou mangueira, enquanto que, para grandes quantidades, são utilizados microaspersores. As gotas de água devem ser de pequeno calibre para não arrancar as sementes do solo ou substrato e não danificar as mudas. Apesar de existirem diferentes sistemas por aspersão, inclusive sistemas mecanizados, o denominado convencional tem sido o mais utilizado para a irrigação de hortaliças no Brasil, especialmente em pequenas áreas de produção. Em grandes áreas, o sistema pivô central (Figura 7) tem sido usado para a irrigação de tomate para processamento, milho-doce, cenoura, batata, melancia (Figura 9), entre outras. O uso de sistema autopropelido (Figura 8), em menor escala, tem se verificado principalmente na cultura de batata (Figura 10).
Atenção! A designação convencional está relacionada ao aspecto histórico da introdução desse sistema de irrigação no Brasil.
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Área irigada Moto-bonba
Fonte dágua
Moto-bonba Hidrante
Pivô Linha adutroa enterrada
Linha lateral móvel
Fonte dágua
Carretel recolhedor da mangueira
Linha principal
Água irrigada
Área irigada
Mangueira flexível Aspersor tipo canhão
Água irrigada
Figura 8. Esquema de um sistema de irrigação por aspersão do tipo autopropelido.
Foto: Waldir A. Marouelli
Foto: Carlos Timmermann
Figura 7. Esquema de um sistema de irrigação por aspersão do tipo pivô central.
Figura 9. Sistema de irrigação por aspersão do tipo pivô central em lavoura de melancia.
Figura 10. Sistema de irrigação do tipo autopropelido, com carretel enrolador em primeiro plano, em lavoura de batata.
As principais vantagens dos sistemas por aspersão convencional são: • Pode ser usada em qualquer tipo de solo e em terrenos com diferentes tamanhos. • Menor gasto de água e mão de obra. • Melhor uniformidade de distribuição de água que o sistema por sulco. • Permite a automação e a aplicação de fertilizantes e de agrotóxicos via água de irrigação. • Reduz a incidência de ácaros e de insetos-pragas de plantas, pois molha a parte aérea das plantas.
Dentre as principais desvantagens dos sistemas por aspersão convencional, destacam-se: • Maior custo inicial e de manutenção que o sistema por sulco. • Maior gasto com energia. • Uniformidade de distribuição de água afetada pelo vento. • Maior perda de água por evaporação em condições de clima seco, quente e com ocorrência de ventos. • Interfere nos tratos fitossanitários. • Maior incidência de doenças na parte aérea.
Sistemas por aspersão convencional O sistema convencional pode ser subdividido em portátil, semiportátil e fixo, dependendo de como o equipamento é manejado no campo. Os principais componentes dos sistemas são: conjunto motobomba, incluindo tubulação de sucção, tubulação de condução (principal e secundária), pelo menos uma tubulação de distribuição de água (linha lateral) e aspersores. São ainda necessários acessórios, como válvulas e registros, e conexões. O material de tubulações, conexões e acessórios mais frequentemente utilizado é o PVC. Tubulações de polietileno também podem ser usadas em algumas situações. No sistema portátil, os componentes são deslocados manualmente na área a ser irrigada. Seu custo inicial de aquisição é relativamente baixo, mas requer maior quantidade de mão de obra para as mudanças das tubulações e dos aspersores de posição com intuito de irrigar toda a área. No sistema fixo, nenhum dos componentes do sistema necessita de ser movido, o que aumenta o custo deste, mas reduz expressivamente o uso de mão de obra. No sistema semiportátil (Figura 11), as linhas laterais e os aspersores são movidos manualmente, enquanto os demais componentes do sistema permanecem fixos.
Água irrigada Moto-bonba
Fonte dágua
Área a ser irigada Linha lateral
Linha Principal Água irrigada
Figura 11. Esquema de um sistema de irrigação por aspersão convencional semiportátil com duas laterais móveis.
Os sistemas convencionais por aspersão somente podem ser utilizados caso exista água pressurizada. Para tal, é necessária uma bomba hidráulica. É mais econômico e prático utilizar um motor elétrico para o acionamento da bomba; todavia, quando não se dispõe de energia na área, pode-se usar um motor de combustão interna (gasolina ou diesel) de baixa potência.
Fonte: Marouelli et al. (2008)
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O bombeamento da água é geralmente feito diretamente para o funcionamento dos aspersores. No caso de hortas pequenas, a água pode ser bombeada para um reservatório de água elevado (caixa d’água), e, a partir daí, ser conduzida para os aspersores. Nesse caso, é possível utilizar dispositivos como o carneiro hidráulico ou bombas de água, sendo estas movidas por roda d’água ou cata-vento. O fundamental, nesse caso, é que o reservatório esteja numa altura mínima suficiente para descarregar água com pressão suficiente aos aspersores. Existe uma infinidade de modelos de aspersores, de diferentes tamanhos e materiais de fabricação (plásticos e metais). Embora seja possível construir alguns modelos simples de aspersores, é, em geral, mais econômico adquirir um modelo comercial. Ademais, aspersores comerciais possibilitam melhor distribuição da água sobre o solo. A pressão necessária para o bom funcionamento da aspersão convencional depende do tamanho e do tipo de aspersor utilizado (Tabela 1). No caso de hortas, são geralmente utilizados microaspersores, mangueiras com microfuros ao longo de sua extensão, aspersores de médio porte e, principalmente, de pequeno porte. Tabela 1. Valores médio de pressão de serviço e de raio de alcance para diferentes tipos de aspersores
Tipo de aspersor
Pressão
Raio de alcance
Microaspersor
1,0 a 1,5 kgf/cm2
2 a 5m
Mangueira com microfuros
0,5 a 1,0 kgf/cm2
2a3m
Aspersor de pequeno porte
1,5 a 2,0 kgf/cm2
5 a 15m
Aspersor de Médio Porte
2,0 a 3,0 kgf/cm2
15 a 25m
Figura 12 Irrigação por aspersão convencional, com mangueiras com microfuros, em lavoura de alho.
Foto: Waldir A. Marouelli
Foto: Marco A. Lucini
Mangueiras com microfuros (Figura 12) e microaspersores (Figura 13) são indicadas para pequenas áreas, pois ocorre menor desperdício com molhamento fora do espaço cultivado, além de funcionarem com menor pressão de água. A principal desvantagem é a maior quantidade de tubulação na área, que dificulta os tratos culturais.
Figura 13. Irrigação por aspersão convencional, com microaspersores, de lavoura de salsinha.
Foto: Waldir A. Mourelli
Aspersores de grande porte (raio de alcance acima de 25 m), também conhecidos como canhões hidráulicos (Figura 14), são geralmente indicados para a irrigação de áreas acima de cinco hectares. Requerem maior pressão de serviço (3,0 a 4,0 kgf/cm2), têm a distribuição de água mais afetada pelo vento e produzem gotas de água de maior tamanho que aspersores de menor porte, o que pode prejudicar a produção de algumas hortaliças. Para uma boa irrigação, independentemente do tipo de aspersor utilizado, é necessário que a água Figura 14. Irrigação por aspersão convencional, com aspersores de impacto de grande alcance (canhão hidráulico), seja aplicada o mais uniformemente possível. Para em lavoura de alho. tal, os aspersores devem estar devidamente distanciados entre eles. Atenção! Como regra geral, o espaçamento entre aspersores ao longo da O espaçamento é função do tubulação e entre tubulações deve ser tal que o aspersor jogue raio de alcance do jato, da água no pé do próximo aspersor, ou seja, deve ser igual ao raio de intensidade do vento e da alcance do aspersor (Tabela 1). No caso de tubulações de PVC de uniformidade de distribuição de engate rápido, devido ao comprimento padrão de 6 m dos tubos, o água que se deseja obter. espaçamento a ser adotado deverá sempre ser um múltiplo de 6 m.
Regadores e mangueiras com crivo
Figura 15. Irrigação por aspersão usando regador com crivo fino.
Foto: Waldir A. Marouelli
Para hortas pequenas, principalmente aquelas destinadas ao autoconsumo, pode ser utilizado apenas regador (Figura 15) ou mangueira com crivo na ponta (Figura 16). Comparativamente ao regador, o uso da mangueira é muito mais prático e menos trabalhoso, mas requer água pressurizada em uma tubulação. O crivo a ser acoplado na ponta da mangueira pode ser do mesmo tipo usado em regador, construído com um tubo perfurado na largura do canteiro ou adquirido em lojas de produtos agropecuários ou de jardinagem, onde há diferentes tipos de crivo. O crivo deve ser fino para melhor distribuição da água, e assim não compactar a superfície do solo e não prejudicar a germinação e o desenvolvimento de plantas sensíveis ao impacto da água. Assim, não é recomendado o uso de regador e mangueira sem crivo na ponta se o objetivo for irrigar por aspersão. Foto: Waldir A. Marouelli
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Figura 16. Irrigação por aspersão usando mangueira com crivo fino na ponta.
Para irrigação com regador (Figura 15), são requeridos torneira, reservatório ou pequeno curso de água na área. Para irrigação usando mangueira, é indispensável que exista água pressurizada na área, que pode ser alcançada conectando a mangueira à rede pública de água; a um reservatório a, pelo menos, 5 m de altura, ou a pequena bomba hidráulica. A bomba pode ser manual ou conectada a um motor elétrico ou de combustão interna. O uso de regador e de mangueira (com ou sem crivo grosso na ponta) pode ser indicado para a irrigação de plantas individuais espaçadas entre elas (melancia, chuchu e as fruteiras em geral), cultivadas em áreas diminutas, com aplicação de água diretamente sobre o solo e sem molhar a parte aérea das plantas. Esses métodos são exemplos da irrigação localizada, que veremos a seguir.
Para refletir e anotar! O que é necessário para implantar um sistema de irrigação por aspersão em seu contexto de produção? Qual é o sistema de irrigação mais adequado? No caso de aspersão convencional, qual é o tipo de aspersor mais adequado e a distância entre os aspersores? Qual é a demanda de mão de obra? Resumindo, seria viável utilizar esse método de irrigação para atender sua necessidade?
4.2.4 Método de irrigação localizada O método de irrigação localizada compreende os sistemas em que a água é aplicada próximo à planta, sem molhar toda a superfície do solo e sem que haja acúmulo de água sobre o mesmo. Por molhar apenas parte do terreno, as irrigações necessitam ser realizadas de forma mais frequente e com menores volumes de água que os demais métodos. Os principais sistemas de irrigação localizada são por gotejamento e por microaspersão. As principais características dos sistemas localizados são: • • • • • • • •
Menor uso de e energia e mão de obra. Uso eficiente de água e fertilizantes. Pequena interferência nas práticas culturais. Possibilidade do uso da água com certo grau de salinidade. Utilização em diferentes tipos de solo e declividades. Automação total da irrigação. Alto investimento inicial. Risco de entupimento de gotejadores.
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Sistema por gotejamento O principal sistema de irrigação localizada é o por gotejamento, que fornece água lentamente às plantas (baixa vazão) por meio de pequenos emissores denominados gotejadores. Esses são inseridos ao longo de uma tubulação, geralmente de polietileno, por onde a água é conduzida sob pressão e distribuída entre as plantas (Figura 17). Foto: Waldir A. Marouelli
Os componentes básicos para instalação do sistema são: conjunto motobomba, incluindo tubulação de sucção; sistema de filtragem de água (evitar entupimento dos gotejadores); tubulação de condução (principal e secundária); e tubulações de distribuição de água (linhas laterais), na qual estão acoplados os gotejadores. Também são necessários alguns acessórios, como válvulas, registros e conexões. O uso de motobomba pode ser dispensado no caso da água Figura 17. Irrigação por gotejamento em lavoura de alface.
estar armazenada em um reservatório a, no mínimo, 10 metros de altura acima da área a ser irrigada.
As dimensões das tubulações dependem do tamanho da área a ser irrigada, e da quantidade e da vazão dos gotejadores. As tubulações, que podem ser de PVC ou polietileno, geralmente têm entre 25 e 75 mm (1-3") para hortas de até dois hectares. Existe no mercado uma grande variedade de tipos de gotejadores. De um modo geral, esses já vêm acoplados a um tubo flexível de polietileno, normalmente denominado de tubo gotejador ou fita gotejadora. O diâmetro dos tubos varia de 16 a 20 mm, e a espessura de parede, entre 0,1 e 1,2 mm, sendo que os de maior espessura são mais duráveis e caros. Tubos gotejadores com diâmetro de 16 mm e espessura entre 0,1 e 0,4 mm são os mais utilizados para a produção de hortaliças por reduzir custos e facilitar que sejam armazenados ao final de cada safra. A vazão por gotejador pode variar desde menos de 0,5 L h-1 até mais de 4,0 L h-1, sendo aqueles com vazões entre 1,0 - 2,5 L h-1 os mais indicados. Embora seja possível construir alguns tipos de gotejadores caseiros, é, em geral, mais econômico adquirir um modelo comercial. Ademais, gotejadores comerciais possibilitam melhor precisão e uniformidade na aplicação da água. O espaçamento entre tubos gotejadores depende da espécie cultivada e da capacidade de movimentação lateral da água no solo. Para hortaliças com espaçamento entre fileiras acima de 60 cm, geralmente é recomendado utilizar um tubo gotejador por fileira de plantas. Todavia, principalmente em solos com bulbo molhado reduzido, é recomendado utilizar dois tubos gotejadores, um de cada lado da fileira de plantas, visando a um maior desenvolvimento lateral das raízes da cultura.
Atenção! O espaçamento entre gotejadores ao longo da tubulação deve ser tal que haja a formação de uma faixa contínua de molhamento do solo ao longo da tubulação.
Para espécies com menor espaçamento entre fileiras de plantas, como alface, cebola e cenoura, os tubos gotejadores devem ser espaçados de forma que as faixas de molhamento se encontrem. Em geral, podem ser necessárias de dois a três tubos gotejadores por canteiro. Os espaçamentos comerciais mais frequentemente utilizados são os de 20, 30 e 40 cm, sendo os menores espaçamentos indicados para solos com baixa capacidade de movimentação lateral da água, como os arenosos e alguns argilosos. O melhor espaçamento pode ser facilmente determinado no próprio local de cultivo, fazendo-se um teste inicial. O sistema por gotejamento é caracterizado pela economia e pela eficiência no uso de água e na baixa demanda de mão de obra. Outras vantagens são: • • • • •
Uso em diferentes tipos de solos e terrenos. Não sofre ação de fatores climáticos. Facilidade de automação da irrigação. Redução da ocorrência de doenças da parte aérea, pois não molha a planta. Aplicação de fertilizantes juntamente com a água de irrigação (fertigação).
Como principais limitações, destacam-se: • • • • • •
Elevado custo de implantação. Risco de entupimento de gotejadores. Favorecimento de algumas doenças de solo. Requer cuidados para o manejo do sistema. Alto custo de manutenção do sistema. Necessidade de remoção das tubulações da área ao final de cada safra.
O gotejamento é particularmente indicado para espécies de alto retorno econômico e susceptíveis a doenças da parte aérea favorecidas pelo molhamento foliar, tais como o tomate, o pimentão e o melão. Embora o sistema possa ser utilizado com sucesso para a irrigação de hortaliças com pequeno espaçamento entre plantas e pouco susceptíveis a doenças da parte aérea, como as hortaliças folhosas, o retorno econômico é muitas vezes inferior ao uso da aspersão convencional. Isso ocorre devido a dois fatores principais: • Necessidade de grande quantidade de tubos gotejadores por unidade de área. • Pequeno incremento de produtividade. No entanto, existem vários outros fatores que devem ser considerados e que podem alterar esse cenário, como a disponibilidade de água para irrigação e tamanho da área a ser irrigada.
Outros sistemas localizados O uso de regador e de mangueira com ou sem crivo grosso na ponta, pode ser indicado para a irrigação de plantas individuais, com a aplicação de água diretamente sobre o solo e sem molhar a parte aérea das plantas, trata-se de outro exemplo de irrigação localizada. Tais dispositivos são
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indicados para a irrigação de espécies com maior espaçamento entre plantas, como a melancia, o chuchu e fruteiras em geral, cultivadas em áreas diminutas. Quando microaspersores são utilizados para irrigar plantas individuais ou faixas contínuas, deixando parte do solo sem molhar, situação bastante utilizada em fruticultura, tem-se também um sistema de irrigação localizado, a exemplo do gotejamento. BIBLIOTECA - Ouça na biblioteca do capítulo 4, (no material de apoio ou no AVA): • Áudio – Cultivo de hortaliças com irrigação por gotejamento e fertirrigação (arquivo Cultivo_de_hortalicas_com_irrigacao_por_gotejamento_e_fertirrigacao.mp3) sobre como aplicar a irrigação por gotejamento no cultivo de hortaliças. Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/programacao/2014/cultivo-de-hortalicas-com-irrigacao-por-gotejamento-e-fertirrigacao/?searchterm=gotejamento
4.2.5 Seleção de sistema de irrigação Embora os sistemas por aspersão sejam os mais utilizados na produção de hortaliças, nenhum sistema pode ser considerado ideal para todas as situações e capaz de atender a todos os interesses e necessidades envolvidos. Também não se deve adotar um determinado sistema só porque muitos produtores o empregam. As vantagens e as desvantagens de cada um devem ser consideradas para cada caso específico, de modo a permitir a seleção daquele que seja mais adequado para cada situação. A escolha do sistema de irrigação deve ser baseada na análise de viabilidade técnica e econômica do empreendimento, por meio da avaliação detalhada de fatores físicos, agronômicos, sociais e econômicos envolvidos, dentre outros. BIBLIOTECA - Ouça na biblioteca do capítulo 4, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Seleção de Sistemas de Irrigação (arquivo ct_98.pdf) sobre critérios para a seleção de sistemas de irrigação.
Para refletir e anotar! Consulte a Circular Técnica 98 – Seleção de Sistemas de Irrigação da Embrapa Hortaliças (arquivo ct_98. pdf) presente no material de apoio de apoio didático, e, em seguida, reflita e responda as seguintes questões:
1. Quais os principais critérios que você utiliza para selecionar os sistemas de irrigação mais apropriados para uma determinada condição?
2. Quais as principais diferenças e semelhanças entre o processo de seleção que você utiliza e o apresentado na Circular Técnica? 3. Após rever os critérios sugeridos, você realizaria alguma alteração no sistema de irrigação do seu contexto de produção para torná-lo mais eficiente? Por quê?
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Fórum Acesse o Ambiente de Aprendizagem Virtual (AVA) e consulte o fórum do capítulo 4 sobre os critérios utilizados para definir o melhor método e o melhor sistema de irrigação segundo os tipos de hortaliças e contextos de produção na sua região.
4.2.6 Cuidados e manutenção de sistemas de irrigação O dimensionamento hidráulico de um sistema de irrigação inclui, entre outros aspectos, a definição da vazão de água e das presO dimensionamento técnico sões de funcionamento, a determinação dos diâmetros e dos comdo sistema de irrigação deve primentos de tubulações, a escolha do modelo e da potência da ser feito por profissionais especializados a fim de motobomba, e a definição da taxa de aplicação de água. No caso garantir o funcionamento do sistema por sulco, é necessária, ainda, a determinação do comadequado do sistema. primento e da declividade dos sulcos, da vazão máxima não erosiva e da vazão mínima capaz de manter todo o sulco com água. Para o adequado funcionamento, tais determinações devem ser realizadas por profissionais especializados. Sistemas de irrigação mal dimensionados, tanto agronômica quanto hidraulicamente, distribuem água de maneira desuniforme na lavoura, o que compromete o desenvolvimento das plantas e a produtividade da cultura, aumenta os gastos de água e de energia, além de provocar outros problemas. Mesmo quando dimensionado e instalado de forma adequada, o sistema de irrigação pode sofrer modificações ao longo do tempo ou ser transferido de área sem a devida adequação técnica, o que modifica seu desempenho. Antes de qualquer modificação, o produtor deve procurar um técnico especializado para avaliação e, caso necessário, promover o redimensionamento do sistema.
É importante realizar a manutenção preventiva e adequada do sistema de irrigação para garantir sua efetividade ao longo de toda a sua vida útil.
A manutenção preventiva e adequada de um sistema de irrigação tem por objetivo aumentar a vida útil do equipamento e mantê-lo irrigando de forma eficiente todo o ciclo da cultura. Bombas, motores e demais partes móveis devem ser mantidas conforme recomendação do fabricante. Aspersores devem funcionar em posição vertical e serem inspecionados periodicamente; borrachas de vedação, registros, válvulas de derivação e outros acessórios devem ser substituídos quando apresentarem sinal de vazamentos.
Os cuidados mais importantes com o sistema de irrigação estão relacionados, sobretudo, à pressão de operação do sistema. Pressão abaixo da recomendada prejudica diretamente a uniformidade de distribuição de água e, consequentemente, reduz a produtividade da cultura. Diferentemente, pressão muito alta compromete, por exemplo, a integridade da tubulação e dos acessórios, e acarreta maior consumo de energia. No caso específico do gotejamento, deve-se ter atenção especial à qualidade da água utilizada para irrigação, pois a presença de impurezas orgânicas e inorgânicas ou a aplicação de fertilizantes na água de irrigação podem causar problemas de entupimento dos emissores. Para prevenir e eliminar
as impurezas em suspensão presentes na água recomenda-se sua filtragem contínua e a lavagem periódica das tubulações. A presença de carbonatos, cálcio, magnésio, ferro, manganês e sulfetos na água de irrigação favorecem a formação de precipitados que podem obstruir parcialmente filtros e gotejadores.
Atenção! Cuidado com a qualidade da água em sistemas de gotejamento! Impurezas, mesmo que solubilizadas na água, podem ocasionar problemas de entupimento parcial ou total!
4.3 Manejo da água de irrigação As hortaliças são, em geral, muito sensíveis à falta de água. Além de afetar negativamente a produtividade, a deficiência de água pode comprometer a qualidade dos produtos colhidos. A baixa tolerância à seca de muitas espécies hortícolas deve-se ao fato das plantas serem tenras, com mais de 90% de água na constituição das partes comestíveis (folhas, frutos, tubérculos, raízes etc.), ciclo de desenvolvimento curto e sistema radicular pouco ramificado. Assim, pode haver sensível redução de produção inclusive em condições de umidade moderada do solo. Mesmo em regiões úmidas, a ausência de chuva, ainda que por poucos dias, pode prejudicar o desenvolvimento e a produção de algumas espécies de plantas sensíveis à falta de água. As hortaliças folhosas (alface, cebolinha, rúcula etc.), por exemplo, normalmente requerem irrigações complementares, mesmos durante a estação das chuvas. BIBLIOTECA - Ouça na biblioteca do capítulo 4, (no material de apoio ou no AVA): • Áudio – Bom manejo da água de irrigação (arquivo Bom_manejo_agua_irrigacao) e veja algumas orientações para o melhor aproveitamento da água de irrigação. Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/programacao/2007/bom-manejo-de-agua-para-irrigacao-emedidas-de-preservacao/?searchterm=manejo%20%C3%A1gua%20irriga%C3%A7%C3%A3o
Foto: Waldir A. Marouelli
O excesso de água também prejudica a produção da grande maioria das espécies de plantas cultivadas. Duas exceções mais conhecidas são o arroz e o agrião. Água em demasia prejudica a aeração do solo e a respiração das raízes, provoca a lixiviação de nutrientes, principalmente nitrogênio e potássio, e favorece a maioria das doenças de plantas (Figura 19). Foto: Marco A. Lucini
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Figura 18. Irrigação dos canteiros de multiplicação, visando suprir a carência de chuvas durante o início do estabelecimento das plantas de batata-doce.
Figura 19. Falhas de estande pelo apodrecimento da batata-semente em virtude de excesso de irrigação antes da emergência, em solo com drenagem deficiente.
O correto manejo da água de irrigação (quando e quanto irrigar) é, portanto, muito importante no processo de produção de hortaliças. Um manejo bem feito tem como foco realizar as irrigações no momento oportuno, não permitindo que as plantas sofram com a falta de água (Figura 18), e na quantidade suficiente para repor o reservatório de água do solo, sem excesso. Ao contrário do que possam parecer, questões sobre quando e quanto irrigar não são de simples respostas, pois envolvem vários fatores. Em irrigação, a quantidade de água utilizada pelas plantas, armazenada no solo ou aplicada via irrigação, é comumente expressa em milímetros, da mesma forma que a chuva, e denominada "lâmina" de água. Assim, uma lâmina de um milímetro (1,0 mm) de água representa um litro (1,0 L) de água em uma área de um metro quadrado (1,0 m2). Portanto, para irrigar, por exemplo, um hectare (1,0 ha =10.000 m2) com uma lâmina de 20,5 mm são necessários 205.000 L de água (20,5 mm x 10.000 m2).
4.2.1 Necessidade de água das hortaliças A necessidade de água das plantas varia de espécie para espécie, em função do ciclo de desenvolvimento das plantas, do sistema de irrigação, do sistema de cultivo e, principalmente, das condições climáticas. Calcular o consumo diário de água em uma lavoura, denominado de evapotranspiração da cultura (ETc = evaporação do solo + transpiração das plantas), não é uma tarefa simples. A ETc é normalmente determinada por meio de equações, com base em variáveis climáticas e de coeficientes de cultura. Porém, para fins de manejo da água de irrigação, o ciclo das principais hortaliças pode ser dividido nas quatro fases listadas na tabela a seguir. Tabela 2. Fases do ciclo de produção das hortaliças
Fase
Período
Fase 1 (Inicial)
Do transplante até o pleno pegamento das mudas ou da semeadura direta no campo e a emergência plena das plântulas.
Fase 2 (Vegetativa)
Do final da Fase 1 até 75 % do máximo desenvolvimento vegetativo (plena floração);
Fase 3 (Formação da Produção)*
Do final da Fase 2 até o início da maturação ou da précolheita.
Fase 4 (Pré-colheita e manutenção)
Do final da Fase 3 até a colheita.
*Fase 3 pode apresentar particularidades segundo os diferentes tipos de hortaliças.
A Fase 3 pode apresentar algumas variações segundo o tipo de hortaliça, conforme observado na tabela a seguir.
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Tabela 3. Descrição da Fase 3 do Ciclo de Produção segundo o tipo de hortaliça
Tipo de Hortaliça
Fase 3
Hortaliças que florescem (ervilha, tomate, melão)
Período entre o pleno florescimento da cultura e o início da maturação de grãos ou frutos.
Hortaliças do tipo fruto (berinjela, pimentão, tomate)
Em hortaliças do tipo fruto, é comum a ocorrência de um período em que existem flores, frutos verdes e maduros, o que requer a realização de várias colheitas. Nesse caso, o término da Fase 3 deve ser por ocasião do início da maturação de frutos a serem colhidos na penúltima ou antepenúltima colheita.
Hortaliças do tipo tubérculo (batata, batata-doce)
Do início da formação de tubérculos até o momento em que estes atingem o máximo desenvolvimento.
Hortaliças do tipo brássicas (repolho, couve-flor)
Período entre o início da formação de cabeça ou inflorescência e o seu máximo desenvolvimento.
Hortaliças do tipo raiz (cenoura, beterraba)
Período entre o desenvolvimento (engrossamento) acentuado de raízes e o início da senescência da parte área.
Hortaliças folhosas (alface, couve)
Período entre 80 % do máximo desenvolvimento da planta até 5 a 7 dias antes da colheita.
As plantas são geralmente mais sensíveis à falta de água durante as fases de pegamento de mudas e de formação da produção. No caso das hortaliças folhosas, por exemplo, a falta de água é danosa durante todo o ciclo. A ETc geralmente atinge seu máximo valor durante a fase de formação da produção, devido à maior transpiração das plantas com maior quantidade de folhas (máximo desenvolvimento vegetativo). Durante a fase inicial e o começo da fase vegetativa, a ETc é geralmente em torno de 30 a 60% da ETc durante a fase de formação da produção. No entanto, se durante a fase inicial as irrigações são realizadas diariamente, a ETc é similar à que ocorre durante a fase de formação da produção, pois a evaporação durante a fase inicial torna-se muito alta. A ETc na fase vegetativa varia entre 60 a 85% da ETc durante a fase de formação da produção. Por fim, a ETc, durante a fase de pré-colheita é muito variável. Para espécies que são colhidas antes de completar seu ciclo de desenvolvimento, como as hortaliças folhosas, a ETc, durante as fases de pré-colheita e de formação da produção, são praticamente iguais, enquanto para espécies que são colhidas após completar seu ciclo de desenvolvimento, como as culturas cerealíferas (feijão, milho etc.), a ETc é de 40 a 70% menor. Na Tabela 1, são apresentados valores médios diários de ETc para hortaliças em geral, conforme a temperatura e a umidade relativa média do ar na região. Tais valores são apenas ilustrativos e devem ser usados com reserva, pois são afetados pelo tipo de hortaliças, pelas fases de desenvolvimento das plantas, pelo sistema de irrigação e por outros fatores climáticos.
Atenção! As tabelas de 1 a 5, citadas a seguir, estão disponíveis na biblioteca do capítulo 4 no material de apoio.
A necessidade total de água para hortaliças, em geral, pode variar de 200 mm a mais de 800 mm, sendo a soma da ETc diária desde o plantio até a colheita. A lâmina total de irrigação aplicada poderá ainda ser maior no caso de ausência de chuva, pois se deve aplicar uma lâmina de água maior que o somatório de ETc entre duas irrigações consecutivas para compensar o fato de não existir nenhum sistema de irrigação que seja 100% eficiente. Para que a ETc de uma determinada cultura específica seja determinada de forma minimamente precisa, deve-se recorrer a publicações mais detalhadas.
4.3.2 Armazenamento de água no solo O solo é o reservatório que temporariamente armazena água e a fornece às plantas à medida das necessidades destas. Como sua recarga natural é descontínua, a quantidade de água disponível pode variar muito caso não haja irrigação ou se as regas forem realizadas de forma inadequada. Nem toda a água presente no solo está disponível para as plantas de maneira similar. À medida que o solo vai secando, mais difícil é para a À medida que a planta extrair água por meio de suas raízes e distribuí-la para as folhas umidade diminui, a e demais órgãos. Isso se deve ao estado energético da água presente água restante fica mais no solo, ou seja, à medida que a umidade diminui, a água restante fica fortemente presa às partículas do solo. mais fortemente presa às partículas de solo, exigindo da planta maior quantidade de energia para extrair um mesmo volume. Por outro lado, reservatório cheio não é garantia de bom desenvolvimento das plantas. Embora, nesse caso, a água esteja livremente disponível à planta, o seu excesso pode saturar grande parte dos espaços porosos do solo, comprometendo a aeração na zona radicular, afetando negativamente o bom funcionamento das raízes e, consequentemente, o desempenho da cultura.
Atenção! O teor de umidade do solo é importante para quantificar a água que pode ser armazenada, aquela disponível no solo ou aquela a ser aplicada via irrigação. Porém, o teor de umidade NÃO define o estado energético da água, que é importante para entender o seu movimento no solo e daí para a planta e a atmosfera.
Em termos de irrigação, o componente mais importante é a tensão matricial de água no solo, que expressa a "força" com que a água encontra-se presa às partículas deste. A disponibilidade total de água no solo engloba toda a água entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente na camada correspondente à profundidade efetiva explorada pelo sistema radicular da planta. Sendo que: • Capacidade de campo: quantidade máxima de água em relação à massa seca, armazenada pelo solo depois que o excesso tenha drenado. • Ponto de murcha: quantidade mínima de água armazenada pelo solo possível de ser utilizada pelas plantas. • Profundidade efetiva: camada de solo onde estão contidas cerca de 80% das raízes da cultura.
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O desenvolvimento e a produtividade das culturas respondem diferentemente aos níveis de umidade do solo compreendido entre a capacidade de campo e o ponto de murcha. Dessa maneira, a irrigação deve ser realizada antes que a água restante no solo esteja retida sob uma determinada tensão de água que prejudique o rendimento da cultura. Esse valor de tensão está entre 20 e 50 kPa, para a maioria das espécies vegetais. Em termos gerais, a tensão crítica, que é dependente da cultura, do tipo de solo, do clima e do sistema de irrigação, é atingida após as plantas terem utilizado entre 30 e 60% da água total disponível no solo. O tamanho e a natureza das partículas minerais, bem como o arranjo dos elementos estruturais, dão ao solo características próprias de armazenamento de água. Em termos gerais, a textura é o parâmetro mais intimamente ligado ao armazenamento de água no solo, podendo-se dizer que solos de textura arenosa apresentam menor capacidade de retenção de água do que solos argilosos. Todavia, há casos em que a estrutura do solo é tão ou mais importante que a textura, como em solos compactados.
4.3.3 Métodos de manejo da água de irrigação A reposição da água ao solo no momento e na quantidade corretos envolve variáveis relacionadas à planta, ao solo e ao clima. Embora existam inúmeras estratégias para manejo da água de irrigação, a grande maioria dos produtores irriga suas lavouras e hortas de forma imprópria, na maioria das vezes em demasia e de modo desuniforme. Ainda que contraditório, as plantas podem ser submetidas a condições de falta de água mesmo sendo irrigadas em excesso. Isso pode ocorrer quando se aplica mais água que o solo pode armazenar. O baixo índice de adoção de tecnologias de manejo de irrigação deve-se, sobretudo, ao fato de os produtores acreditarem que elas são caras, complicadas, trabalhosas e que não proporcionam ganhos econômicos compensadores. Na verdade, os métodos de manejo mais precisos requerem disponibilidade de mão de obra qualificada e podem ter custo elevado, sendo normalmente recomendados para grandes áreas de produção e/ou culturas de alto retorno econômico ou mais sensíveis às variações de umidade do solo. Para pequenas áreas de produção, como as normalmente encontradas em agricultura urbana e periurbana, podem ser utilizadas estratégias simplificadas de manejo. Ainda que menos precisas, algumas estratégias permitem melhorar a qualidade da irrigação, com ganhos de produtividade, redução na quantidade de água aplicada e, de um modo geral, maior retorno econômico. BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 4, (no material de apoio ou no AVA): • Vídeo – Uso e manejo racional da água de irrigação (arquivo Uso_manejo_racional_agua_irrigação. wmv), contendo orientações sobre a aplicação da água para irrigação segundo as necessidades da cultura desenvolvida. Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2002/uso-e-manejo-racional-da-agua-de-irrigacao
Método da aparência visual da planta Uma das estratégias mais simples normalmente utilizada por produtores para determinar o momento de irrigar é por meio da avaliação visual da planta (Figura 20). A avaliação deve ser realizada
Foto: Waldir A. Marouelli
diariamente, preferencialmente ao final do período matinal. Deve-se irrigar quando for observado qualquer sintoma de murchamento das folhas. Para algumas hortaliças, é possível observar uma ligeira alteração de tonalidade na coloração das folhas quando as plantas em condições de déficit hídrico moderado. O grande problema da avaliação visual da planta é que, quando sintomas de murchamento ocorrem, a produtividade já pode ter sido prejudicada. Por outro lado, em solos arenosos e condições de Figura 20. Plantas de tomate com e sem sintomas de murcha por deficiência de água no solo. clima quente e seco, as plantas podem murchar temporariamente nas horas mais quentes, mesmo quando a umidade no solo é adequada. Outro ponto negativo é que o método não permite estimar a lâmina de água a ser aplicada por irrigação.
Método do tato-aparência do solo
Uma precisão minimamente aceitável da disponibilidade de água no solo para as plantas pode ser alcançada amostrando-se o solo entre 30 e 50% da profundidade efetiva das raízes e avaliando-se sua consistência (tato) ao manuseio e a aparência visual (método do tato-aparência do solo). A amostragem deve ser realizada próximo à planta e em pelo menos três pontos representativos da área, utilizando-se, de preferência, um trado tipo meiacana com diâmetro entre 20 e 25 mm (Figura 21). Essa estratégia, apesar de bastante simples, possibilita uma precisão muito superior à da avaliação visual de sintomas de murchamento da planta. Para a avaliação, um punhado de solo deve ser comprimindo na palma da mão e esfregado entre os dedos polegar e indicador, para verificação visual e sensitiva da consistência do torrão e da plasticidade do solo (facilidade de moldagem) (Figura 22). Um guia prático e interpretativo que possibilita ao usuário estimar a porcentagem de água disponível no solo (AD), e, consequentemente, a necessidade de irrigação, por meio de observações da consistência (tato) e da aparência visual do solo, é apresentado na Tabela 2. Devido à imprecisão de se determinarem valores exatos de AD, utilizando-se o método
Figura 21. Coleta de amostra de solo com trado.
Foto: Waldir A. Marouelli
Outros produtores decidem o momento de irrigar suas lavouras a partir da avaliação visual da existência de umidade na camada superficial. Essa avaliação, no entanto, não fornece qualquer informação confiável sobre a real disponibilidade de água na zona radicular da cultura, a menos que as plantas encontrem-se na fase inicial de desenvolvimento, período em que as raízes são bastante superficiais.
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do tato-aparência, a Tabela 3 apresenta apenas quatro faixas de AD: 0-25% (solo seco), 2550% (umidade baixa a moderada), 50-75% (solo úmido) e 75-100% (solo com alta umidade), além da condição de AD igual a 100% "cheio" (solo na capacidade de campo). Por exemplo, um solo com AD entre 50-75% significa que ainda se encontra armazenado no solo entre 50-75% da sua capacidade máxima de armazenamento de água, ou seja, já foi utilizado pelas plantas entre 25-50% da água. Ainda consta na Tabela 2 a condição de capacidade de campo (AD = 100%). Na Figura 23, observamos: coleta da amostra com trado (A); condição de saturação (B); 100% de AD (capacidade de campo) (C); 75%–50% de AD (úmido) (D); 50%–75% de AD (moderadamente úmido) (E); 25%–50% de AD (moderadamente seco) (F); 0%– 25% de AD (seco) (G); 0% de AD (ponto de murcha permanente) (H).
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Figura 22. Avaliação da água disponível (AD) em um solo de textura média pelo método da consistência (tato) e aparência visual.
Para determinação do momento que se deve irrigar, a Tabela 2 deve ser utilizada em conjunto com a Tabela 3, na qual é apresentada a faixa "ideal" de AD para diferentes espécies de plantas, conforme a textura do solo. Por exemplo, se um produtor deseja irrigar quiabo em um solo de textura grossa (arenoso), as irrigações devem ser realizadas quando AD estiver entre 25-50%.
Atenção! Não deixe de consultar as tabelas citadas na biblioteca do capítulo 4 no material de apoio.
Sumarizando as Tabelas 2 e 3, tem-se que, para as hortaliças mais sensíveis à falta de água, deve-se irrigar quando: a) Solos de textura grossa: solo tende a se manter coeso ao ser comprimido na palma da mão, mas o torrão pode se rompe facilmente. b) Solos de textura média: forma torrão maleável que desliza facilmente entre os dedos. c) Solos de textura fina: solo desliza entre os dedos, na forma de lâmina escorregadiça, ao ser comprimido. Após determinado o momento de irrigar, a lâmina de água a ser aplicada deve ser suficiente para molhar a camada de solo até a profundidade das raízes, sem, contudo, encharcar o solo. Para a grande maioria dos produtores, a determinação é totalmente empírica. Frequentemente irriga-se até que o solo esteja quase totalmente "encharcado". Com base em informações sobre a retenção de água por ele, obtidas em laboratórios especializados, pode-se determinar com precisão a lâmina de irrigação.
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Para usuários que não dispõem de informações, nem mesmo de ordem prática, sobre a capacidade de retenção do solo existente em sua propriedade, a lâmina real de água necessária por irrigação (LRN, mm) pode ser estimada por: LRN = AFD x Zr X fAm Em que: AFD: quantidade de água facilmente disponível no solo (mm/cm). Zr: profundidade efetiva do sistema radicular da cultura (mm). fAm: fração de área molhada do solo pelo sistema de irrigação (decimal). Valores de AFD, em função de AD, são apresentados na Tabela 4 para diferentes texturas de solo. Para irrigação por aspersão e por sulco, considerar fAm igual a 1,0 (100% de área molhada), enquanto, para gotejamento, fAm geralmente varia entre 0,4 e 0,7, devendo ser avaliado no local. Como os valores de AD apresentados na Tabela 4 são gerais, a lâmina de irrigação determinada pelo procedimento acima poderá necessitar de ajustes. Isso pode ser verificado com auxílio do próprio trado utilizado para verificar quando irrigar. Para tal, coletar periodicamente amostras de solo ligeiramente abaixo do limite inferior do sistema radicular. O aumento contínuo da umidade do solo (AD na faixa entre 75-100%) é indicativo de irrigação em excesso, devendo-se reduzir a lâmina.
Método da tensão de água no solo Na Tabela 5, são apresentados valores de tensão-limite de água no solo para a irrigação de diferentes hortaliças. Irrigar antes que a tensão de água no solo atinja valores muito acima dos limites recomendados na Tabela 5 é fundamental para a obtenção de altas produtividades.
Foto: Waldir A. Marouelli
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Para avaliação da tensão de água no solo existem dois tipos principais de sensores: tensiômetro (Figuras 23 e 24) e Irrigas® (Figura 25). O primeiro, bastante utilizado em diferentes países, apresenta custo pelo menos três vezes maior que o segundo e requer manutenções frequentes.
Figura 23. Tensiômetros com manômetro metálico.
Figura 24. Tensiômetros e tensímetro digital para leitura de tensão.
O Irrigas®, diferentemente do tensiômetro, é um sensor simples e de fácil operação pelo agricultor, que apresenta boa precisão, é de baixo custo (15-30% do valor do tensiômetro) e praticamente não requer manutenção. O sensor foi desenvolvido pela Embrapa e está disponível comercialmente nas versões de 15 kPa, 25 kPa e 40 kPa. O modelo "genérico" do sensor, com tensão de referência em torno de 25 kPa, pode ser construído facilmente pelo próprio usuário, a um custo entre 10 -15 reais. A decisão sobre quando irrigar deve ser feita com base na avaliação diária de sen- Figura 25. Sensor comercial do tipo Irrigas®, incluindo cuba de leitura e recipiente para água. sores instalados entre 30-50% da profundidade radicular efetiva, em pelo menos três locais representativos da área, e entre 10 e 30 cm da planta. A escolha do tipo de Irrigas® a ser utilizado deve ser realizada com base nas tensões-limite de água no solo, apresentadas na Tabela 5. Para produtores que não dispõem de informações sobre a retenção de água do solo em sua propriedade, a lâmina de irrigação pode ser estimada a partir dos dados de água facilmente disponíveis (AFD), apresentados na Tabela 5, conforme indicado anteriormente no método do tato-aparência do solo. BIBLIOTECA - Veja na na biblioteca do capítulo 4, (no material de apoio ou no AVA): • Vídeo – Irrigas: simplicidade e eficiência no controle da irrigação (arquivo Irrigas_simplicidade_eficiencia_controle_irrigacao. wmv Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2003/irrigas-simplicidade-e-eficiencia-no-controle-da-irrigacao/?searchterm=irrigas
• Documento - Manejo de Irrigação em Hortaliças no Sistema Irrigas® (arquivo ct_69.pdf).
4.3.4 Tempo de irrigação O tempo de irrigação em sistemas por aspersão convencional e por gotejamento é função da lâmina real de água necessária por irrigação, da eficiência de irrigação e da intensidade de aplicação de água pelo sistema. Assim, o tempo de irrigação em sistemas que aplicam água mais rapidamente é menor que em sistemas que aplicam água lentamente. Para aspersão convencional, o tempo de irrigação (Ti, min.) é calculado por: Ti = 60 x LRN/ (Ia x Ei)
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Em que: Ia: intensidade de aplicação de água (mm/h-1). Ei: eficiência de irrigação (decimal). A intensidade de aplicação é uma característica do sistema de irrigação que depende da vazão e do espaçamento entre aspersores. O valor de Ia pode ser obtido diretamente no catálogo técnico do aspersor ou ser determinado pela equação abaixo: Ia = 1.000 Q/(Ea x El ) Em que: Q: vazão do aspersor (m3/h-1). Ea: espaçamento entre aspersores ao longo da linha lateral (m). El: espaçamento entre linhas laterais de aspersores (m). A vazão do aspersor pode ser medida com o auxílio de um balde, de um recipiente graduado em mililitros, de uma mangueira flexível e de um cronômetro. Para isso, deve-se interromper o giro do aspersor, adaptar uma mangueira ao bocal e conduzir a água para dentro do balde. Coletar pelo menos 20 litros de água e medir o tempo de cada coleta, não devendo este ser menor que 5 segundos. Repetir o teste três vezes, em três aspersores diferentes. Caso o aspersor tenha mais de um bocal, medir um bocal de cada vez e somar as vazões. Os aspersores devem estar funcionando na pressão de serviço do sistema. A vazão do aspersor é computada por: Q = 3,6 Vc/Tc Em que: Vc: volume médio de água coletado (L). Tc: tempo médio de coleta (min.). A eficiência de irrigação (Ei) depende das características e da manutenção do sistema, dentre outros fatores, devendo ser avaliada, para maior precisão, por um técnico no próprio local. Como valores gerais, sugerem-se: 0,6-0,8 para aspersão convencional; 0,5-0,7 para irrigação com regador e mangueira. Para gotejamento, o tempo de irrigação é calculado por: Ti = 60 x LRN x SF x Sg/(Ei x nL x Vg)
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Em que: SF: espaçamento entre fileiras de plantas (m). Sg: espaçamento entre gotejadores (m). nL: número de linhas laterais por fileira de plantas. Vg: a vazão do gotejador (L/h). No caso de gotejamento em sistema de fileiras duplas de plantas, considerar SF como sendo o espaçamento de centro a centro entre fileiras duplas e nL o número de linhas laterais por fileira dupla. Como valores gerais para sistemas por gotejamento, sugere-se Ei entre 0,7 e 0,9. No sistema por sulco, o tempo total de irrigação varia em função do comprimento e do espaçamento entre sulcos e da velocidade com que a água se infiltra no solo. Deve incluir os minutos necessários para a água atingir o final do sulco (tempo de avanço), além do tempo requerido para aplicar a lâmina real necessária (tempo de oportunidade). O tempo de oportunidade pode ser estimado por: To = LRN/(Qi – Qf)x LS x SS Em que: To: é o tempo de oportunidade (min). Qi: a vazão no início do sulco (L/min). Qf: a vazão no final do sulco (L/min-1). LS: o comprimento do sulco (m) e Ss, o espaçamento entre sulcos (m). A eficiência de irrigação em sistemas por sulco varia entre 0,4-0,7, mas não é levada em consideração na determinação do tempo total de irrigação.
4.3.5 Melhor horário para irrigar Em regra, o horário da irrigação tem pequena influência sobre o rendimento das culturas, exceto quando as irrigações são realizadas por aspersão, o que pode favorecer significativamente a severidade de doenças da parte aérea. A severidade vai depender do tipo de hortaliça, da pressão da população de patógenos, das condições climáticas e do tempo de molhamento foliar. Visando minimizar tais riscos, especialmente em regiões sujeitas à formação de orvalho, as regas por aspersão devem ser realizadas preferencialmente depois das primeiras horas da manhã e antes das últimas horas da tarde, a fim de reduzir o tempo em que as plantas permanecem molhadas. No caso específico da aspersão, as regas devem ser realizadas em horários sem vento ou quando estes apresentam baixa intensidade. Irrigações durante períodos de ventos intensos, além de favorecerem a maior evaporação de água, prejudica demasiadamente a distribuição de água, o que pode comprometer a produtividade.
Outros fatores relacionados à operação do sistema de irrigação não têm efeito sobre a produtividade, mas podem influenciar na escolha do horário da irrigação, tais como a disponibilidade de mão de obra e o custo de energia. Por exemplo, pode não haver disponibilidade de mão de obra ou ser inviável, por questões operacionais, irrigar durante o período noturno. Atualmente existem descontos na tarifa da energia elétrica que podem variar entre 60% e 73% para consumidores de baixa tensão, e entre 70% e 90% para consumidores de alta tensão, dependendo da região do Brasil. A exigência é que haja adesão do produtor ao programa e que as irrigações sejam realizadas no horário noturno, entre 21h30min e 6h. Para que o produtor possa irrigar apenas em horários específicos, é necessário que o sistema tenha capacidade para tal, haja vista ser geralmente dimensionado para funcionar durante um número mínimo de horas por dia. Assim, muitas vezes não se tem flexibilidade na escolha do horário para se irrigar.
4.3.6 Estratégias para economizar água É estimado que uma considerável parte da água usada na irrigação não seja efetivamente usada pelas plantas, devido a perdas por vazamento, escoamento superficial, drenagem profunda e evaporação. Para reduzir tais perdas, várias estratégias podem ser utilizadas pelo produtor, tais como: a) Aumentar o intervalo entre duas irrigações consecutivas. b) Não aplicar mais água que o solo pode armazenar na camada onde as raízes atuam. c) Utilizar sistemas de irrigação que aplicam água de forma mais uniforme. d) Gotejamento economiza mais água que aspersão, que, por sua vez, economiza mais água que sulco. e) Eliminar todos os pontos de vazamento existentes no sistema. f) No caso da aspersão, não aplicar água fora da área cultivada. g) Uso de cobertura sobre o solo (mulch). h) Irrigar no momento e na quantidade corretos.
Fórum! Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e participe do fórum do capítulo 4 sobre melhores horários para irrigação e estratégias adotadas para economizar água.
O uso de cobertura do solo é uma prática eficiente para reduzir o uso de água para irrigação. A economia pode variar de 10-50%, dependendo do tipo de cobertura e da espécie cultivada. As coberturas mais utilizadas são com resíduos vegetais (palhada) ou com filme plástico não transparente, geralmente na cor preta. A palha usada sobre o solo (Figura 26) pode ser de uma cultura recémcolhida (milho, sorgo etc.), de plantio realizado exclusivamente para a produção de palha (gramínea, leguminosa etc.) ou, no caso de pequenas hortas, ser trazida de outra área. A cobertura do canteiro com plástico (Figura 27) possibilitará uma maior economia de água que a cobertura com palha em razão de quase eliminar as perdas de água do solo por evaporação.
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Foto: Waldir A. Marouelli
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Figura 26. Lavoura de repolho em solo com cobertura de palha e irrigação por microaspersão.
Figura 27. Lavoura de pimentão em solo coberto com plástico preto e irrigação por gotejamento.
4.4 Considerações Finais Ao longo deste capítulo, você viu os principais métodos e sistemas de irrigação e diferentes estratégias para o manejo sustentável da água, assim como técnicas para se avaliar a disponibilidade de água no solo e a necessidade de água de diferentes hortaliças. Observou também as consequências da boa e da má irrigação, o que destaca a importância da escolha correta de um sistema de irrigação e de se manejar as irrigações, levando-se em consideração as necessidades hídricas de cada cultura e a capacidade de armazenamento de água pelo solo.
Pesquise e aprenda mais! Para aprofundar seus conhecimentos sobre sistemas de irrigação, consulte os materiais de referência existentes no material de apoio e no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem). Como sugestão, responda as seguintes perguntas direcionadoras após consulta aos materiais de referências listados.
Questão Direcionadora
Material de Referência
Como produzir um sistema de irrigação de baixo custo?
Áudio: Bubler: Sistema de irrigação de baixo custo
Como deve ser o manejo da irrigação para a produção de mudas de hortaliças?
Vídeo: Produção de mudas de hortaliças Fonte: Programa Dia de Campo na TV – Embrapa Embrapa Informação Tecnológica e Embrapa Embrapa Hortaliças http://www.youtube.com/ watch?v=h7pPY_qXpY8
Atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) http://capacitacao.sede.embrapa.br/ Acesse o ambiente virtual de aprendizagem e responda as atividades propostas para este capítulo.
Capítulo
Warley Marcos Nascimento Marçal Henrique Amici Jorge Foto: Michaela Kobyakov/freeimages
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Sementes e mudas de hortaliças
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • Descrever os aspectos que influenciam a qualidade das sementes. • Identificar os objetivos e processos dos métodos de análise de sementes. • Listar os benefícios dos métodos de tratamento de sementes. • Identificar ações positivas para a produção de mudas de qualidade.
5.1 Sementes e mudas de qualidade Em um sistema de produção tanto de sementes como de mudas, (Figura 1), vários aspectos devem ser considerados, tais como:
Foto: Marçal Henrique Amici Jorge
Sementes e mudas
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• Qualidade das mudas. • Fatores climáticos. • Nutrição. • Substratos. • Recipientes. • Qualidade da água e manejo da irrigação. • Tratos culturais.
Figura 1. Muda de alface pronta para transplante.
• Controle de pragas e doenças. • Idade para transplantes, etc. Neste capítulo, você verá como estes aspectos influenciam na produção de sementes e mudas de qualidade.
Desafio Você sabe responder as seguintes perguntas? • Que fatores devem ser considerados para a obtenção de sementes de qualidade? • Como se obter a máxima germinação, no menor tempo possível? • Quais métodos e procedimentos de análise são utilizados para se determinar a qualidade das sementes? • Que tratamentos são comumente utilizados, na produção de sementes, para aumentar a performance em campo? • Como produzir mudas de qualidade? Encontre as respostas para essas ou outras perguntas ao longo deste capítulo.
5.2 Produção de sementes O sucesso da produção de hortaliças dependerá, dentre outros aspectos, de um adequado estabelecimento de plântulas no campo, fator esse diretamente relacionado com a qualidade das sementes. Sementes de baixa qualidade tendem a originar estandes desuniformes, com falhas na emergência de plântulas que comprometem não apenas a produtividade como também a qualidade e a padronização do produto colhido.
Por outro lado, a utilização de sementes de alta qualidade e a semeadura sob condições ambientais adequadas, que permitam a máxima germinação no menor tempo possível, são fatores importantes que contribuem para se obter uniformidade na emergência em campo.
A plântula é o embrião vegetal já desenvolvido e ainda encerrado na semente ou, também, é a planta recém-nascida, que numa fase mais adiantada de desenvolvimento, passará a ser chamada de muda.
Foto: Marçal Henrique Jorge
Tanto para culturas onde se realiza a semeadura direta em campo, como cenoura, ou para aquelas em que as mudas são transplantadas do viveiro para o campo, como alface (Figura 2),
Vale lembrar que...
brássicas e outras, o emprego de sementes de alta qualidade é imprescindível para obter-se população adequada de plantas. Figura 2. Mudas de alface transplantadas em canteiro de alvenaria.
5.2.1 Qualidade das sementes O conceito de qualidade de sementes é geralmente considerado restrito pelos produtores, entretanto, o termo qualidade envolve outros atributos relevantes para a agricultura, além da germinação. O conceito de qualidade de sementes é, portanto, mais amplo e deve envolver não apenas o componente fisiológico (germinação e vigor) como também os campos genético, físico e sanitário, de modo que a qualidade das sementes seja produto do somatório de todos esses atributos igualmente importantes.
Para refletir e anotar! Aproveite este momento e, ao ler os tópicos seguintes, reflita sobre as questões apresentadas. Que ações ajudam na conquista e na conservação Anote aqui! da qualidade genética das sementes? Que ações ajudam na conquista e na conservação Anote aqui! da qualidade física das sementes? Que ações ajudam na conquista e na conservação Anote aqui! da qualidade sanitária das sementes? Que ações ajudam na conquista e na conservação Anote aqui! da qualidade fisiológica das sementes?
Sementes e mudas
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Qualidade genética Vale lembrar que... A Pureza Varietal representa a ausência de outras espécies e/ ou cultivares no lote de sementes. A pureza varietal é obtida quando os campos de produção de sementes são acompanhados de rígido controle de qualidade, utilizando-se sementes puras da cultivar na semeadura e ocupando áreas que anteriormente não eram utilizadas com outros cultivares da mesma espécie. Isso porque as sementes deixadas no campo na cultura anterior podem germinar e contaminar a nova área de produção.
A qualidade genética está relacionada à pureza varietal, ou seja, à identidade genética da cultivar (Figura 3), que é definida durante o processo de produção de sementes através de cuidados específicos, tais como:
Foto: Henrique Martins Gianvecchio Carvalho
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• Eliminação de plantas atípicas. • Utilização de isolamento adequado entre os campos de produção, os quais visam evitar as contaminações genéticas, ou seja, impedir a troca de pólen entre cultivares distintos.
Atenção aos cuidados para evitar as contaminações varietais.
Figura 3. Abóboras da cultivar Brasileirinha.
A pureza varietal, contudo, só estará garantida se também forem tomados cuidados que evitem as contaminações varietais, quando sementes de diferentes cultivares se misturam devido a descuidos durante as etapas, que envolvem mecanização, como colheita, beneficiamento e semeadura em campo. Cuidados na limpeza e regulagem das semeadoras evitam a ocorrência de misturas varietais e danificações mecânicas às sementes durante a semeadura.
A identidade genética da cultivar, representada por características de produtividade, resistência a pragas e a doenças, ciclo e arquitetura da planta, qualidade do produto, deverá estar expressa nas sementes a serem comercializadas, as quais garantirão que todas essas características selecionadas pelo melhorista se manifestem nas plantas em campo. Outros cuidados para evitar a mistura varietal devem ser tomados também nas fases de: • Secagem. • Transporte. • Armazenamento. • Beneficiamento.
Qualidade física A qualidade física é determinada por aquelas características da semente relacionadas com o grau de umidade e com a presença de impurezas no lote. Sementes danificadas, por exemplo, podem afetar a germinação e, consequentemente, a emergência das plântulas em campo. Impurezas misturadas ao lote de sementes dificultam a semeadura, além de trazerem contaminantes, como sementes de plantas daninhas e patógenos.
Vale lembrar que... As impurezas são representadas por material inerte, como pedras, palhas, terra, ou sementes quebradas, sementes de outras espécies cultivadas ou daninhas, que contribuem para a depreciação da qualidade do lote.
O grau de umidade representa a quantidade de água contida na semente, expressa em porcentagem, em função do seu peso úmido. O teor de água contido nas sementes exerce grande influência sobre a sua qualidade, pois define a sensibilidade a danos mecânicos durante as etapas de colheita, debulha e processamento. O teor de água determina ainda a intensidade de atividade metabólica na semente, exercendo, portanto, grande influência sobre a sua conservação durante o armazenamento. Sementes de hortaliças que são comercializadas em embalagens herméticas (latas) geralmente são secas até atingirem grau de umidade de, aproximadamente, 5-7%, antes de serem embaladas, o que contribui para reduzir significativamente a sua atividade respiratória e, consequentemente, ampliar a sua longevidade no armazenamento.
Foto: Evelyn Koch
Qualidade sanitária A qualidade sanitária relaciona-se com a presença de pragas e microrganismos, como fungos, bactérias, vírus e nematoides (Figura 4), sendo os fungos os mais frequentes. Pragas e patógenos (Capítulo 6) afetam tanto a conservação das sementes durante o armazenamento como o estabelecimento das plântulas em campo após a semeadura. Sementes contaminadas atuam como veículo de disseminação de patógenos para diferentes áreas. Figura 4. O tratamento físico, bioquímico, biológico ou químico das sementes Patógenos podem estar presentes visa eliminar os patógenos associados e proteger as sementes e plântulas dos microrganismos do solo. nos tecidos internos da semente (infecção), podendo também estar aderidos à superfície da semente ou misturados ao lote, o que é chamado de infestação, como é o caso de escleródios de fungos.
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A utilização de sementes isentas de microrganismos, bem como de sementes tratadas com produtos específicos, como inseticidas e/ou fungicidas, minimizam a ocorrência de tombamento de plântulas e contribuem para melhorar o estabelecimento de plântulas no campo.
Atenção! Doenças importantes das hortaliças podem ser transmitidas pelas sementes e, muitas vezes, pequena quantidade de inóculo presente na semente pode ter um efeito epidemiológico significante.
Qualidade fisiológica A qualidade fisiológica das sementes é representada pela germinação e pelo vigor. • Na análise de sementes, a germinação é definida como a emergência e o desenvolvimento das estruturas essenciais do embrião, originando uma plântula normal sob condições ambientais favoráveis. • Já o vigor de sementes (Figura 5) é definido pela Association of Official Seed Analysts (AOSA, 1983) como "aquelas propriedades das sementes que determinam o potencial para a emergência rápida e uniforme e o desenvolvimento de plântulas normais sob diferentes condições de campo". Foto: Warley Marcos Nascimento
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Figura 5. Vigor em sementes: alto, à esquerda; médio, ao centro; e baixo, à direita.
Em campo, um dos principais aspectos que geralmente se observa é o desempenho das sementes durante o processo de germinação e emergência da plântula.
Alta germinação e vigor são dois prérequisitos para se alcançar uma população uniforme de plântulas em campo.
5.2.2 Análise de sementes de hortaliças A análise de sementes é o exame de uma amostra com o objetivo de estabelecer a qualidade das sementes de um lote, sendo a qualidade definida por parâmetros genético, físico, fisiológico e sanitário. Essa análise teve início entre os anos de 1900 e 1920. No começo, toda atenção estava voltada para o desenvolvimento de procedimentos, métodos e condições para testar a germinação das sementes. Ainda em 1920, como o início da organização em níveis nacional e internacional da análise e comércio de sementes, os esforços foram se concentrando no refinamento e na padronização dos procedimentos de análise.
RAS (Regras para Análise de Sementes) No Brasil, a análise de sementes teve início em 1967, quando o Ministério da Agricultura, atendendo ao que determinava a Lei nº 4727, de 13 de julho de 1965, que dispõe sobre a fiscalização do comércio de sementes e mudas, oficializa as "Regras para Análise de Sementes – RAS". Essas regras foram baseadas nas adotadas pela Associação Internacional de Análise de Sementes (ISTA), juntamente com as Regras da Associação Norte-Americana de Analistas de Sementes (AOSA), com a finalidade de melhor atender as possibilidades dos Laboratórios de Análise de Sementes existentes no país.
As Regras para Análise de Sementes especificam métodos, padrões e definições para o comércio internacional, sendo, por esse motivo, extremamente necessário um alto nível de acuidade e repetibilidade.
Objetivos da análise de sementes de hortaliças No processo de produção de sementes, a análise é realizada com dois objetivos principais: • Atender às exigências para a comercialização das sementes. • Controlar a qualidade da produção. Nas "RAS", estão indicados os procedimentos padrão para a obtenção de amostras (amostragem) e para a execução dos testes de pureza física e de verificação de espécies e cultivares; o exame de sementes nocivas, de germinação, de determinação do grau de umidade, de sanidade de sementes e outros.
Para refletir e anotar! Nos tópicos seguintes, você conhecerá um pouco mais sobre a análise de qualidade das sementes, sendo eles: •
Amostragem
•
Pureza
•
Germinação
•
Umidade
•
Sanidade
•
Vigor
Para cada um deles, identifique e anote nos quadros, com suas palavras, o objetivo e como se faz!
Amostragem O O objetivo da amostragem é obter uma quantidade de sementes que seja representativa do lote em análise. Essa é a primeira etapa dentro do processo de análise de sementes, e uma das mais importantes. A amostragem é estabelecida em função da quantidade de sementes do lote e do tipo de embalagem.
Objetivo e como se faz!
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Se o lote não for homogêneo ou se houver erro na amostragem, haverá informações incorretas que poderão beneficiar ou prejudicar os interessados. Além dos procedimentos gerais, é necessário seguir as indicações das "RAS" com relação aos equipamentos, à frequência e à intensidade da amostragem, à homogeneização, ao peso das amostras, à embalagem e à identificação.
BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 5, (no material de apoio ou no AVA): • Documento - Regras para análise de sementes (arquivo 2946_regras_analise_sementes.pdf) e saiba mais sobre a RAS.
Pureza No caso da pureza, o objetivo da análise Objetivo e como se faz! é determinar a composição da amostra em exame e, consequentemente, à do lote de sementes, e a identidade das espécies de sementes e das partículas inertes que constituem a amostra. Em hortaliças, a análise de pureza é, em geral, mais trabalhosa devido ao tamanho reduzido das sementes. A pureza física determina a composição da amostra e a proporção em que os componentes estão presentes; a indicação das sementes fisicamente puras é expressa em porcentagem pelo peso da amostra. Na amostra, são consideradas: sementes puras (%) – espécie predominante e fragmentos maiores que ½ do tamanho original da semente, outras sementes (por número) – qualquer espécie diferente da semente pura e do material inerte (%) – sementes e outros materiais que não são definidos como sementes puras ou outras sementes.
Germinação O teste de germinação tem, como objetivo Objetivo e como se faz! principal determinar o potencial máximo de germinação de um lote de sementes de hortaliças, sendo os resultados desse teste usados para comparar a qualidade entre diferentes lotes, e também estimar o valor da semente para o plantio. O teste de germinação é realizado no laboratório, mas, na falta de equipamentos e/ ou de condições, pode ser conduzido no campo. A grande vantagem desse teste ser realizado em laboratório é a possibilidade de repetibilidade. As condições são então padronizadas para fornecer reprodutibilidade nos resultados dos testes dentro de limites os mais próximos possíveis daqueles determinados pela variação aleatória das amostras. A percentagem de germinação irá indicar a proporção do número de sementes que produziram plântulas normais sob condições e dentro do período padronizado.
Umidade Durante a produção, geralmente, o controle do Objetivo e como se faz! teor de água das sementes começa a ser realizado na fase de colheita, sendo em função do grau de umidade destas que se define, por exemplo, o momento da colheita. O grau de umidade é um dos fatores mais importantes que afetam sementes e grãos, e, consequentemente, a qualidade destes. Grãos e sementes secos e sadios podem ser mantidos sob armazenamento apropriado por muitos anos, mas, quando úmidos, podem se deteriorar rapidamente em poucos dias. Além disso, o grau de umidade tem um efeito dominante no predomínio e na atividade de insetos e fungos, durante o armazenamento. O método geralmente utilizado pela maioria dos laboratórios para determinação do grau de umidade das sementes é o método da estufa a 104 °C por 24h.
Sanidade O teste de sanidade tem o objetivo de deObjetivo e como se faz! terminar o estado sanitário de uma amostra de sementes. A análise de sanidade permite identificar e quantificar os microrganismos e insetos associados às sementes, ou seja, presença ou ausência de agentes patogênicos, tais como fungos, bactérias, vírus, nematoides e insetos. Os fungos representam o maior grupo, seguido pelo das bactérias e, em menor proporção, pelo dos vírus e dos nematoides. A avaliação sanitária possibilita identificar problemas ocorridos durante as fases de campo e de armazenamento, estabelecer métodos de controle, fornecer subsídios para a fixação de padrões e a fiscalização do comércio, o que impediria o transporte de patógenos através das sementes.
Vigor Já os resultados de testes de vigor indicam quais os lotes com maior potencial para apresentar melhor desempenho em campo, na produção de mudas em bandejas ou durante o armazenamento, se as condições ambientais durante o estabelecimento da lavoura se desviem das mais favoráveis.
Objetivo e como se faz!
Alguns testes de vigor simulam as condições de campo ou da casa de vegetação dentro ou fora do laboratório, como podemos citar: os testes de frio, velocidade ou porcentagem de emergência das plântulas, peso da matéria seca, crescimento das plântulas, envelhecimento acelerado e teste de aquecimento para ervilha.
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Outros métodos, no laboratório, procuram correlacionar seus resultados com o comportamento das plântulas em campo, com a resistência das sementes às condições de armazenamento, com o desenvolvimento das plântulas etc. Dentre esses testes, podemos citar:
Testes de resistência
O período de exposição e temperatura é variável em função da espécie. A avaliação baseia-se no teste de germinação e resultado indicado em porcentagem de plântulas normais. • Envelhecimento acelerado
Sementes são expostas previamente à temperatura e à umidade relativa de 100% (água) ou de 76% (solução saturada de sal) por alguns dias, e, após, submetidas à germinação.
• Teste de frio
Sementes são expostas previamente à temperatura baixa (10 °C) por uma semana e umidade alta, e, após, submetidas à germinação.
• Deterioração controlada
Sementes previamente umedecidas são expostas à temperatura e à umidade relativa alta; após isso, submetidas ao teste de germinação.
Testes bioquímicos
• Condutividade elétrica
Sementes previamente pesadas são imersas em água destilada. O número de sementes, o tempo de imersão em água e a temperatura são variáveis em função da espécie. A avaliação é por meio da determinação da quantidade de lixiviados liberados pelas sementes, utilizando um condutivímetro; o resultado é indicado em μS.cm-1.g-1.
Testes fisiológicos
• Teste de Germinação
Os testes fisiológicos são baseados na Avaliação dos Processos de Germinação da Semente e de Desenvolvimento da Plântula: quantidade e velocidade de germinação; comprimento da plântula e/ ou, de suas partes; massa de matéria seca; classificação do vigor da plântula. A avaliação baseia-se no teste de germinação, com avaliação no dia indicado para a primeira contagem desse teste para a espécie em análise. Os resultados são indicados em porcentagem de plântulas normais, índice e medidas de massa e de comprimento. Esses testes podem ser utilizados para qualquer espécie de semente, pois não exigem condições especiais para a execução.
5.2.3 Tratamento de sementes Atualmente, diferentes tipos de tratamentos de sementes têm sido desenvolvidos, visando a um melhor estabelecimento de plântulas no campo (semeadura direta) ou na estufa (transplantio). Esses tratamentos permitem uma maior segurança no manuseio das sementes, um melhor controle de microrganismos, uma maior e mais rápida germinação, uma emergência mais uniforme, e/ou uma melhor distribuição das sementes.
Para refletir e anotar! As características de alguns dos tratamentos aplicados às sementes de hortaliças são discutidas a seguir. Busque informações no texto a respeito destes tratamentos e preencha a tabela abaixo.
Tratamento
O que é
Benefícios
Condicionamento osmótico (seed priming)
Anote aqui!
Anote aqui!
Peletização (pelleting)
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Peliculização (film coating)
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Tratamento contra microrganismos
Anote aqui!
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Condicionamento osmótico (seed priming) O condicionamento osmótico consiste de uma hidratação controlada das sementes, suficiente para promover atividade pré-metabólica, sem, contudo, permitir a emissão da radícula. Em geral, o tratamento consiste em embeber as sementes em uma solução osmótica, sob certa temperatura, por um determinado período de tempo, e fazer, em seguida, uma secagem das mesmas para o grau original de umidade. Isso torna esse tratamento vantajoso, uma vez que as sementes podem ser manuseadas e/ou armazenadas. A possibilidade de armazenar as sementes em escala comercial por determinado período após o tratamento, sem a perda do benefício do mesmo, constitui fato altamente desejável. O condicionamento osmótico tem sido utilizado principalmente em sementes de hortaliças e flores, com o objetivo de melhorar a velocidade de germinação, a uniformidade das plântulas e, algumas vezes, a percentagem de germinação, especialmente em condições edafoclimáticas adversas. Em alface, por exemplo, esse tratamento permite a germinação das sementes sob condições de altas temperaturas (acima de 30 °C), evitando, assim, a termoinibição e a termodormência. Em geral, esse tratamento não é padronizado, isto é, exige uma metodologia adequada para cada espécie, cultivar e até para lotes de sementes. Dependendo das condições de armazenamento, as sementes
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osmoticamente condicionadas também não suportam um longo período de armazenamento (em geral, alguns meses), recomendando, assim, sua pronta utilização logo após o tratamento. Tal tratamento normalmente é realizado pelas empresas de sementes. BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 5, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Produção de sementes de hortaliças para a agricultura familiar (arquivo agricultura_familiar.pdf) e saiba mais sobre Condicionamento Osmótico.
Peletização (pelleting) A grande maioria das sementes das espécies olerícolas caracteriza-se por pequeno tamanho e formato irregular; isso faz com que o manuseio das sementes e a semeadura fiquem dificultados. A peletização (Figura 6), tratamento que consiste no revestimento da semente com um material seco, inerte, de granulometria fina e um material cimentante (adesivo), permite dar às sementes uma forma arredondada, de maior tamanho, facilitando assim a sua distribuição, seja ela manual ou mecânica. Em contraste com as sementes nuas, as sementes peletizadas são distribuídas com maior precisão e uniformidade. Desse modo, o gasto de sementes é reduzido, e a operação de desbaste é minimizada ou é totalmente eliminada. Esse tratamento permite ainda incorporar ao pélete inseticidas, fungicidas, fertilizantes e/ou reguladores de crescimento. Em alguns casos, a semente peletizada pode apresentar problemas na germinação (principalmente retardamento), uma vez que o pélete pode atuar como uma barreira física para a troca gasosa entre a semente e o ambiente externo; nesse caso, a utilização de materiais porosos na composição do pélete deve ser preferível. Assim como as sementes osmoticamente condicionadas, sementes peletizadas também Figura 6. Germinação de sementes peletizadas de alface. não suportam um longo período de armazenamento. BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 5, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Peletização de sementes de hortaliças (arquivo doc_137.pdf)
Peliculização (film coating) A peliculização consiste de um filme composto de uma mistura de polímeros, plásticos e corantes, o qual envolve a semente. Geralmente, fungicidas acompanham este tratamento. A peliculização reduz o desperdício do fungicida, além de permitir uma maior eficiência do tratamento, uma vez que o produto é distribuído mais uniformemente e ainda fica "retido" entre a semente e o filme. Essa técnica traz ainda um menor risco de contaminação por parte do usuário, pois o mesmo não tem contato direto com o fungicida. Diferente da peletização, esse tratamento não modifica a forma ou o tamanho das sementes. A utilização de corantes propicia uma semente de melhor aspecto visual, além de oferecer uma maior visibilidade das mesmas após a semeadura; algumas empresas produto-
Foto: Marçal Amici Jorge
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ras de sementes utilizam essa característica para diferenciar suas diferentes cultivares. Outra vantagem das sementes peliculizadas é que elas apresentam um maior fluxo ("deslizam" mais) durante a semeadura, devido à menor fricção entre elas. Quando realizada de maneira inadequada, a película pode atuar como uma barreira física, restringindo a difusão de oxigênio para o interior da semente, e/ou reduzindo a saída de inibidores da semente.
Tratamento contra microrganismos Esse tratamento visa reduzir ou eliminar os microrganismos presentes (interna ou externamente) nas sementes e/ou controlar aqueles causadores de tombamento pré e pós-emergência (damping-off) (mais informações ver capítulos 6 e 7), como Alternaria, Pythium, Phytophythora e Rhizoctonia. Comercialmente, as sementes de hortaliças, em geral, são apenas tratadas com fungicidas, sendo na maioria dos casos com produtos de contato, com amplo espectro de ação, como é o caso do Captan ou Thiram. Convêm lembrar que esses produtos não controlam todas as espécies de fungos, principalmente aqueles que infectam (internamente) as sementes. Além disso, certos vírus ou bactérias podem também ser transmitidos pelas sementes, e, obviamente, esse tratamento torna-se ineficiente. O teste de sanidade, realizado pelos laboratórios credenciados, detecta os diferentes microrganismos associados às sementes e torna-se o orientador para o tipo de tratamento e produto a ser utilizado. Para determinados patógenos, a utilização de produtos sistêmicos (atuam internamente nas sementes), tratamentos térmicos ou uso de sementes indexadas (livre de vírus, por exemplo) devem ser empregados. As condições em que as sementes serão armazenadas e/ou semeadas também devem ser levadas em consideração para a escolha da melhor forma do tratamento. Assim, o uso de sementes tratadas permite eliminar os patógenos das sementes, além de protegê-las tanto como as plântulas dos patógenos do solo, possibilitando uma melhoria no estande inicial da cultura e evitando uma disseminação desses microrganismos na lavoura. BIBLIOTECA - Vídeos de apoio Arquivo no material de apoio (capítulo 05)
Assunto
Link de acesso na internet
Produção de sementes orgânicas de hortaliças
http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/ programacao/2011/producao-de-sementes-organicas-de-hortalicas/?searchterm=produ%C3%A7%C3%A3o%20org%C3%A2nica
ProduçãoSementesHortaliças_1.wmv
Produção de sementes de hortaliças para a agricultura familiar
http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/ programacao/2009/producao-de-sementesde-hortalicas-para-a-agricultura-familiar/?searchterm=sementes%20crioulas
ProduçãoSementesHortaliças_2.wmv
Agregação de tratamentos Os diferentes tratamentos previamente descritos não são exclusivos, isto é, todos eles podem ser combinados entre si, em uma sequência, obtendo assim um efeito aditivo. A agregação de um ou mais tratamentos ao lote de sementes permite à empresa produtora de sementes a obtenção de um
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produto diferenciado, além de fornecer ao produtor uma semente de melhor qualidade. Soma-se a isso que a grande maioria dos lotes "escolhidos" pelas empresas produtoras de sementes para receber esses tratamentos são aqueles de alto vigor. Embora na maioria das vezes o custo da semente "tratada" possa ser mais elevado, mas ainda baixo em relação ao custo total de produção, a utilização dessas sementes por parte dos produtores poderá trazer benefícios no estabelecimento da lavoura, com consequências na produtividade e qualidade dos produtos.
Fórum Com base em sua experiência na utilização e na seleção de sementes, discuta com outros participantes as lições aprendidas por você a respeito desse assunto. Para isso, acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e participe do fórum do capítulo 5.
5.3 Produção de mudas 5.3.1 Qualidade na produção de mudas Assim como no caso das sementes, a produção de mudas de qualidade também está relacionada a diversos fatores que devem ser pontos de atenção do produtor. Dentre eles, podemos citar: • Qualidade do material propagativo (sementes ou partes vegetais). • Forma e instalações para a produção das mudas. • Controle de doenças. • Condições para o desenvolvimento das mudas.
Vale lembrar que... O período compreendido entre a semeadura e o estabelecimento das plântulas é a fase crucial da produção de mudas. Diversos fatores externos, como temperatura, água, oxigênio, luz, profundidade, nutrientes, dentre outros, poderão afetar a germinação e, consequentemente, a emergência das plântulas.
• Transplantio. Esses assuntos serão abordados com mais detalhes nos próximos tópicos.
Para refletir e anotar! Ao ler os próximos tópicos, aproveite para refletir sobre o processo de produção ou aquisição de mudas e faça anotações de ações que você adotaria dentro dos meios produtivos de hortaliças que você conhece ou em que está envolvido.
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Material propagativo
Figura 7. Sacos de sementes básicas da Embrapa devidamente rotulados.
As estruturas vegetativas mais utilizadas na olericultura são: broto, bulbo, bulbilho, estaca, ramas, tubérculo, raiz tuberosa, rizoma, caule rizomatoso e estolho.
O material propagativo deve ser adquirido de empresas idôneas de produção de sementes ou de fornecedores confiáveis, para ter-se a certeza da identificação e da recomendação correta das espécies, da sanidade e da porcentagem de germinação.
Foto: Geovani Amaro
Foto: Marçal Henrique Amici Jorge
Material propagativo são as sementes (Figura 7) ou partes (estruturas) vegetativas (Figura 8). As sementes germinam e dão origem às plântulas. As partes vegetativas, quando devidamente coletadas e preparadas, possuem a capacidade de se reconstituir, ou seja, enraízam e se tornarem indivíduos autônomos.
Produção protegida de mudas O cultivo protegido (Figura 9) tem como objetivo melhorar a qualidade e a padronização das plântulas a serem levadas a campo e, consequentemente, dar maior uniformização aos canteiros e alcançar maiores produtividades. Isso se dá pela proteção contra intempéries, melhor controle da umidade e luminosidade, melhor estabilidade da temperatura, maior facilidade no manejo da irrigação, maior eficiência no controle de Figura 9. Produção de mudas de alface com alta uniformidade. pragas e doenças e melhor controle da capacidade e do escalonamento da produção, proporcionando um microclima favorável, principalmente nos estádios iniciais de desenvolvimento das mudas.
Foto: Marçal Henrique Amici Jorge
Evita-se comprar embalagens com muitas sementes quando a quantidade a ser cultivada for pequena. O armazenamento não adequado das sobras de sementes pode comprometer o vigor desse Figura 8. Plantio a partir de mudas (ramas) de batata doce. lote a ponto de influir na porcentagem de germinação e emergência nos próximos plantios.
O planejamento da produção de mudas em ambiente protegido deve incluir todos os gastos, desde a estrutura até a logística de distribuição, além de ter mão de obra exclusiva e qualificada para os tratos culturais. Em geral, a área protegida deve preencher alguns pré-requisitos, como: • Localizada próxima do local definitivo de plantio. • Local de rápido e fácil acesso, próxima à moradia da família ou da comunidade (isso facilita a presença constante das pessoas que conduzirão os trabalhos). • Bancadas em nível em áreas com declive acentuado (se necessário, construir externamente curvas de nível e/ou valas para a contenção da erosão). • Estar em local totalmente ensolarado, com o comprimento das bancadas voltado para o sentido norte-sul (vegetações ou construções mais próximas a mais ou menos 10 metros de distância, para evitar sombreamento). • Suprimento de água de boa qualidade (livre de impurezas e sem cheiro) e disponível em abundância para a irrigação das mudas (recomenda-se instalar caixas d’água perto do ambiente para armazená-la). • Deve ser fechada lateralmente com plástico ou tela apropriada para impedir a entrada de insetos vetores de doenças, além de causarem danos às mudas (a grande vantagem da tela é favorecer a circulação de ar e diminuir a temperatura interna em dias muito quentes. Com relação às doenças, recomenda-se também a construção de pedilúvio para desinfetar os calçados dos trabalhadores do local).
Cultivo em bandejas Em vários países, incluindo o Brasil, a produção de mudas em bandejas sob condições de cultivo protegido de várias espécies olerícolas para posterior transplantio é, atualmente, a principal forma de estabelecimento de plântulas no campo. O cultivo em bandejas (Figura 10) proporciona melhor utilização do espaço da área de produção, facilitando os trabalhos de semeadura e tratos culturais. O recipiente mais utilizado na produção de mudas é a bandeja com células, de poliestireno expandido (isopor) ou de plástico. É muito importante que tenha furos na parte inferior para funcionar como dreno e poda natural das raízes (evita-se o enovelamento das mesmas na parte inferior do recipiente e o entrelaçamento das raízes de plantas vizinhas no momento do transplante para o local definitivo, evitando-se perda excessiva de torrão).
Foto: Henrique Carvalho
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Figura 10. Bandeja de mudas.
Nesse processo, as mudas são produzidas de forma individualizada, favorecendo a obtenção de mudas com raízes mais vigorosas. Recomenda-se colocar os recipientes em cima de telas de arame ou estrados, para que os orifícios inferiores não sejam obstruídos. Bandeja
A escolha da bandeja é um importante aspecto a ser considerado, inclusive o custo. O tamanho das células, por exemplo, pode afetar a massa radicular e refletir no desenvolvimento da parte aérea da muda. Reduzindo-se o tamanho da célula, impõe-se uma restrição ao crescimento radicular das plântulas, afetando assim o desenvolvimento das mudas. Embora, na maioria das vezes, seja utilizado, para a produção de mudas, um substrato comercial previamente inerte e sem a presença de microrganismos, certos patógenos podem estar presentes (interna ou externamente) nas sementes e causar tombamento pré e pós-emergência (damping-off). A sanidade e/ou a limpeza e desinfecção das bandejas deve também ser verificada. As bandejas devem ser lavadas, seguidas por uma imersão em solução de hipoclorito de sódio (1 a 2%) por 20 minutos, e, a seguir, devem ser novamente lavadas e secas ao sol.
Substrato
Outro importante aspecto a ser observado na produção de mudas é a qualidade do substrato a ser utilizado. Para o crescimento adequado, tanto da parte aérea como do sistema radicular, o substrato deve prover nutrientes, reter umidade, permitir trocas gasosas e fixar adequadamente as plantas. Substratos inadequados (muito férteis e/ou desbalanceados em termos de nutrientes e composição) podem acarretar prejuízos à germinação, ao desenvolvimento das plântulas e, consequentemente, desuniformidade no desenvolvimento das mudas. O substrato deve proporcionar boas condições de crescimento e desenvolvimento do sistema radicular, tais como aeração, drenagem, disponibilidade de nutrientes, esterilidade biológica, uniformidade de retenção de umidade e boa agregação das raízes (torrão). A condutividade elétrica (CE) do substrato deve estar em torno de 1,0 dS/m, e está diretamente relacionada ao teor de sais solúveis. O pH do substrato interfere na absorção de nutrientes pelas plantas, na vida microbiana e no desenvolvimento do sistema radicular. O nível adequado de pH em água no ambiente radicular deve ficar entre 5,6 e 6,8. Os substratos podem ser formulados pelos próprios produtores, utilizando diversos materiais, puros ou em misturas, disponíveis nas suas regiões. De qualquer forma, a utilização de um único material para composição de substratos pode não atender as reais necessidades da planta, sendo mais viável, então, o uso de misturas de materiais orgânicos e minerais. Os ingredientes podem ser de diversas origens, como: •
Vegetal – tortas, bagaços, serragem, fibra de coco, pó de fibra de coco, composto orgânico, casca de arroz carbonizada, casca de árvore, terra rica em matéria orgânica, casca de pinus compostada, carvão vegetal e húmus.
•
Animal – esterco, farinha de osso e húmus de minhoca.
•
Mineral – vermiculita, perlita, calcário e areia.
•
Artificial – espuma fenólica e poliestireno expandido (isopor).
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BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 5, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Substrato para a produção de mudas (arquivo substrato_organico.pdf).
Embrapa Circular Técnica 4 (2004)
A solarização é um processo que utiliza a energia solar para promover a desinfestação do substrato, eliminando a maior parte dos microrganismos indesejáveis. A técnica consiste em aquecer o substrato por tempo determinado em aquecedores solares (solarizadores) feitos de madeira e tubos de metal, ou no chão (Figura 11). Em ambos os casos, utiliza-se uma cobertura com plástico transparente para a penetração dos raios solares e para a manutenção do calor produzido.
Foto: Eliana de Souza Lima
Solarização
Figura 11. Solarizador.
O equipamento tem a finalidade de controlar fungos, bactérias e algumas sementes de plantas daninhas dos substratos que serão utilizados para o plantio de mudas produzidas em recipientes como sacos plásticos, vasos ou bandejas, principalmente em viveiros. O objetivo principal é produzir mudas livres de microrganismos maléficos de solo, que prejudicam o desenvolvimento da planta. De acordo com a pesquisadora Raquel Ghini, idealizadora do solarizador ou coletor solar, "é extremamente simples, barato e pode ser construído pelo próprio usuário". O sol aquece o substrato no interior dos tubos e os microrganismos são eliminados pelo calor. Normalmente, em um dia de sol, a temperatura dentro dos tubos chega a 70 graus (Figura 12), o que é suficiente para controlar os fungos mais comuns, como Scletorinia sclerotiorum, Sclerotium rolfsii, Verticillium e RhizocFigura 12. Temperaturas médias do substrato dentro de um coletor tonia solani, entre outros, pois são todos solar durante um dia de radiação plena. sensíveis ao calor, explica Ghini. O mecanismo de funcionamento é o mesmo de um aparelho de energia solar para aquecer água nas residências, mas, nesse caso, o calor produzido tem a finalidade de eliminar fungos, bactérias e algumas sementes de plantas daninhas. O diferencial do equipamento é que o coletor solar substitui o uso do gás brometo de metila, que, além de caro e perigoso, está proibido por ser prejudicial ao meio ambiente.
BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 5, (no material de apoio ou no AVA): • Documento - Solarização do solo em sacos plásticos para o controle dos nematoides-das-galhas, Meloidogyne incognita e M. javanica (arquivo C5_CF_01.pdf).
Métodos de controle de doenças em pré-plantio Medidas de exclusão do patógeno
A primeira e fundamental medida de controle consiste em impedir ou retardar a entrada dos patógenos na área. Sempre que possível, optar por áreas livres de patógenos, principalmente de solo. Uma vez ocorrida a infestação, é quase impossível sua erradicação. Nesse caso, resta ao produtor adotar medidas para reduzir a população do patógeno na área de forma que este não inviabilize a produção. Para prevenir a infestação de novas áreas com patógenos, tanto de solo como de parte aérea, recomenda-se o plantio de barreiras vegetais ao redor da área de cultivo e o uso de sementes, mudas e substratos livres de patógenos.
Uso de sementes, mudas e substratos livres de patógenos
A utilização de sementes e mudas sadias é essencial, visto que muitos patógenos podem estar associados a estas, vindo a causar prejuízos futuros problemas com a infestação de novas áreas e aumento do inóculo inicial em áreas já infestadas. Assim como as sementes e mudas, os substratos e matérias primas para sua formulação devem ser de boa qualidade e livres de patógenos, adquiridos sempre de empresa idôneas. Cascas de arroz poderão ser utilizadas somente na forma carbonizada, para evitar a contaminação do substrato. As bandejas e as bancadas utilizadas na produção de mudas devem ser lavadas e desinfestadas com solução de hipoclorito de sódio 2,0%, para evitar a contaminação das mudas. As principais doenças dessa fase do desenvolvimento da muda estão divididas em dois grandes grupos: a) Murchas, tombamento (damping-off) e podridões de raízes causadas por fungos e bactérias de solo e nematoides. b) Manchas foliares e viroses causadas por patógenos de parte aérea.
Tombamento de plântulas (Damping-off) As culturas do tomate e beterraba, por exemplo, apresentam alta suscetibilidade a diversas doenças durante seu cultivo, entre as quais o tombamento de plântulas, também chamado de damping-off. Essa doença causa lesões deprimidas nos tecidos vegetais jovens, que provocam o fendilhamento ou constrição do caule e levam ao tombamento da muda. O tombamento de plântulas (Figura 13) é causado principalmente por fungos dos gêneros Rhizoctonia, Pythium, Phytophthora, Colletotrichum, Phoma, Fusarium, Helminthosporium, Cercospora e Botrytis e pelas bactérias dos gêneros Xanthomonas e Pseudomonas.
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Foto: Warley Marcos Nascimento
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Figura 13. Tombamento de plântulas no campo: Rhizoctonia solani em ervilha (esquerda acima), Fusarium sp. em lentilha (direita acima); em bandejas: Pythium sp. em tomate (esquerda abaixo), Phytophthora em berinjela (direita abaixo).
BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 5, (no material de apoio ou no AVA): • Documento - Controle do tombamento de plântulas de beterraba e tomate pelo tratamento de sementes com quitosana (arquivo tombamento_plantula.pdf).
Estiolamento Um dos problemas comumente observados na produção de mudas é o rápido desenvolvimento da parte aérea, podendo ocorrer o estiolamento, com formação de mudas alongadas, frágeis e com poucas raízes. Mudas alongadas e/ou estioladas tendem a ser menos resistentes aos estresses ambientais ou a doenças, podendo dificultar o transplantio por causarem problemas no sistema de distribuição da transplantadeira mecânica, resultando em falhas no estande final. Este último aspecto observa-se em algumas espécies, como tomate destinado à indústria, quando se adota transplantio direto de mudas em solos com ou sem cobertura morta.
Controle de temperatura Diversos fatores afetam a germinação e, consequentemente, a emergência das plântulas. Dentre eles, a temperatura poderá vir a ser o mais importante, uma vez que nem sempre o produtor tem o total controle sobre esse fator. Cada espécie apresenta temperaturas mínima, máxima e ótima para a germinação (Tabela 1), e, dentro de cada espécie, podem existir diferenças marcantes entre as cultivares quanto à germinação nas diferentes temperaturas. Temperaturas muito baixas ou muito altas poderão alterar tanto a velocidade quanto a porcentagem final de germinação. Em geral, temperaturas
baixas reduzem, enquanto temperaturas altas aumentam a velocidade de germinação. Isso se deve principalmente ao menor ou ao maior comprimento da Fase II durante o processo de embebição de água pelas sementes durante a germinação. Em condições extremas de temperatura, a germinação poderá não ocorrer, e em alguns casos, poderá levar a semente à condição de dormência. Tabela 1. Temperaturas exigidas para germinação de sementes de algumas olerícolas
Espécie Abóbora
Temperatura (° C) Mínima
Máxima
Ótima*
16
38
20-30**
Alface
2
29
20
Berinjela
16
35
20-30
Beterraba
4
35
20-30
Cebola
2
35
20
Cenoura
4
35
20-30
Couve-flor
4
38
20-30
Ervilha
4
29
20
Feijão-vagem
16
35
20-30
Melancia
16
41
20-30
Melão
16
38
20-30
Milho-doce
10
41
20-30
Pepino
16
41
20-30
Pimentão/Pimenta
16
35
20-30
Quiabo
16
41
20-30
Repolho
4
38
20-30
Tomate
10
35
20-30
* Refere-se à temperatura prescrita nas Regras para Análise de Sementes, MAPA, 1992. ** Indica temperaturas alternadas (16-8 h)
Na maioria das cultivares comerciais de alface, por exemplo, condições de altas temperaturas (acima de 30 °C) durante a embebição das sementes podem levar a dois fenômenos diferentes: Termoinibição
As sementes não germinam, mas irão germinar, uma vez que a temperatura volte a um nível adequado, portanto, um processo reversível.
Termodormência
As sementes, após permaneceram embebidas em altas temperaturas durante um período prolongado, não germinarão, mesmo após a redução da temperatura. Nesse caso, as sementes necessitam de algum tratamento para superar essa dormência (também chamada de dormência secundária).
Por outro lado, condições de baixas temperaturas (próximas de 15 °C) reduzem a velocidade de germinação das sementes e a emergência de plântulas de várias espécies, incluindo aquelas da família das cucurbitáceas (abóbora, melão, melancia, pepino etc.). Em adição à redução da velocidade de germinação, a incidência de microrganismos do solo causadores de tombamento (damping-off) é favorecida em condições de baixas temperaturas, havendo, assim, uma redução do estande, com consequências negativas na produtividade.
Sementes e mudas
131
Razões pela baixa ou pela ausência de germinação das sementes olerícolas, em condições normais de germinação, são devidas ao fenômeno da dormência. Assim, a presença de inibidores, o baixo nível de reguladores de crescimento, a resistência física de endosperma, perisperma e/ou pericarpo prevenindo a protrusão da radícula, a baixa difusão de oxigênio através do tegumento, a deficiência do potencial de crescimento do embrião, e a inibição da síntese de enzimas que degradam a parede celular, dentre outras, são as principais causas da dormência em sementes de hortaliças. BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 5, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Dormência em sementes de hortaliças (arquivo doc_136.pdf).
Em muitos dos casos, aquela porcentagem de germinação indicada no rótulo da embalagem de um determinado lote de sementes, nem sempre irá corresponder à emergência em campo obtida pelo produtor; isso deve-se ao fato de que as sementes foram analisadas em laboratório sob condições ótimas de germinação, inclusive na temperatura ideal para a germinação da espécie em questão. Assim, caso a temperatura do solo, por ocasião da semeadura, não for a ideal para aquela espécie, a germinação poderá ser diferente (menor) daquela indicada no rótulo (Figura 14). Outros fatores como água, oxigênio, luz, microrganismos, tipo de solo, profundidade de semeadura etc., também poderão influenciar a germinação das sementes em condições de campo. Em condições de laboratório, a adição de reguladores de crescimento como giberelinas, citocininas e etileno, tem fornecido resultados positivos no estímulo da germinação em condições adversas. E isso, inclusive, tem provido importantes informações a respeito dos possíveis mecanismos relacionados com a germinação das sementes nessas condições de estresse. Foto: Warley Marcos Nascimento
Sementes e mudas
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Figura 14. Temperaturas influenciando a germinação de sementes de melão (esquerda) e pimentão (acima, à direita) e tomate (abaixo).
Em condições não controladas, algumas ações e/ou técnicas podem ser praticadas no sentido de minimizar o efeito da temperatura durante o processo de germinação das sementes olerícolas.
Como foi mencionado anteriormente, sementes de alta qualidade devem ser utilizadas pelo produtor. É sabido que sementes com alto vigor toleram mais condições de estresses, como altas ou baixas temperaturas. A opção por cultivares que toleram condições adversas (por exemplo, cultivares termo-tolerantes de alface, os quais germinam a 35 °C) durante a germinação pode também minimizar o risco, apesar de que, na maioria dos casos, a qualidade genética "embutida" na semente não visa a aspectos relacionados com a qualidade das mesmas.
Época do plantio
Plantio na época adequada, quando a temperatura seja aquela próxima do ideal para a germinação da espécie e cultivar, também deve ser considerado, embora, em certos casos, o produtor preferisse "fugir" da melhor época de plantio, visando, assim, a preços mais compensadores. Nesse sentido, a utilização de mudas produzidas em bandejas sob casasde-vegetação (estufas) vem a ser uma prática altamente interessante, não só pela melhor germinação e uniformidade das plântulas obtidas, como também da oportunidade de semeadura em épocas inadequadas para a espécie em questão. Essa tecnologia em expansão no segmento olerícola, em que várias espécies têm sido produzidas em estufas, permite ao produtor de mudas colocar suas bandejas, logo após a semeadura, em ambientes controlados ou até mesmo em câmaras de germinação com temperaturas adequadas para a obtenção do potencial máximo de germinação.
Cobertura plástica do solo
A utilização de cobertura plástica no solo (mulching) é outra prática cultural que pode elevar a temperatura deste e melhorar a emergência das plântulas de espécies que exigem temperaturas mais elevadas para germinarem. Por outro lado, deve-se tomar cuidado quando da semeadura de certas espécies que requerem temperaturas mais amenas para a germinação: plásticos escuros tendem a absorver mais calor, e, em condições de verão, a temperatura do solo pode ultrapassar 40 °C, temperatura essa prejudicial para a germinação da maioria Figura 15. Preparação de mulching para cultivo de solanáceas. das espécies olerícolas (Figura 15).
Semeadura em temperaturas amenas
Uma alternativa para minimizar o efeito de altas temperaturas durante a germinação consiste em realizar a semeadura no final da tarde, quando a temperatura é mais amena. Se o período de embebição de água pelas sementes, principalmente aquele correspondente à Fase I da germinação (ou seja, nas primeiras horas, dependendo da espécie), ocorrer em temperaturas mais amenas, a probabilidade de ocorrer uma melhor germinação será sempre maior do que naquelas sementes embebidas sob altas temperaturas.
Foto: Marçal Henrique Amici Jorge
Qualidade das sementes
Sementes e mudas
133
Cuidados contra temperaturas muito baixas
Por outro lado, temperaturas muito baixas (próximas de 5 °C), por ocasião da embebição, podem levar a uma injúria de frio (chilling injury). Isso ocorre principalmente em sementes de feijão vagem, grão de bico, ervilha e milho doce, em virtude da rápida embebição das sementes, geralmente muito secas, sob baixas temperaturas. Nessas condições, as sementes sofrem uma maior exsudação dos componentes celulares. Visando à redução desse aspecto negativo da rápida embebição das sementes sob baixas temperaturas, testes estão sendo realizados no exterior no sentido de desenvolver novos polímeros para peliculização de sementes (film coating). Esses polímeros permitiriam a absorção de água pelas sementes somente em determinadas temperaturas; assim, as sementes peliculizadas com esses polímeros poderiam ser plantadas em solos com baixas temperaturas sem ocorrer a injúria de frio.
Técnica do condicionamento osmótico (seed priminng)
Tem-se observado um melhor desempenho das sementes osmoticamente condicionadas em temperaturas sub ou superótimas em diferentes espécies olerícolas. Como exemplo, pode-se citar a excelente germinação de sementes de alface sob condições de verão (altas temperaturas), ou de sementes de melão no inverno (baixas temperaturas). Esse tratamento permite, ainda, maiores velocidade e uniformidade de germinação.
Enfim, os conhecimentos prévios de espécie, cultivar e até mesmo do lote de sementes em relação à temperatura de germinação permitirão ao produtor maior maximização do estabelecimento de plântulas, seja na estufa ou no campo. A máxima germinação com maior rapidez e principalmente uma maior uniformidade de plântulas poderão garantir o sucesso do empreendimento.
Idade para transplantio A idade das mudas a serem transplantadas é outro fator que merece atenção. Pode refletir no desenvolvimento das mesmas, e afetar o manuseio (Figura 16) e o transporte, bem como o estabelecimento da cultura e seu posterior desenvolvimento no campo. Para o produtor de mudas, o ideal seria a produção em um menor espaço de tempo, reduzindo assim seus custos de produção. Entretanto, um período mínimo e/ou adequado deve ser levado em consideração, o qual irá permitir a obtenção de uma muda de alta qualidade (bem Figura 16. Transplantio de mudas de alface. enraizada, com bom crescimento vegetativo, "dura", sem sintomas de deficiência nutricional, e sadia).
Fórum Com base em sua experiência na utilização e na produção de mudas, discuta com outros participantes as lições aprendidas por você a respeito desse assunto. Para isso, acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e participe do fórum do capítulo 5.
Foto: Marçal Henrique Amici Jorge
Sementes e mudas
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5.4 Considerações finais A utilização de sementes de boa qualidade (preferencialmente obtidas de fontes idôneas), juntamente com a observação daqueles fatores que contribuem com a máxima germinação e o estabelecimento das plântulas, é o primeiro e talvez o mais importante aspecto para o sucesso da produção de hortaliça. Vale a pena investir nesses dois aspectos, ou seja, semente de boa qualidade e condições, para que estas expressem o seu potencial máximo. No próximo capítulo, você conhecerá mais a respeito do controle de pragas na produção de hortaliças.
Pesquise e aprenda mais! Para aprofundar seus conhecimentos sobre sementes e mudas, consulte os materiais de referência existentes no material de apoio e no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem). Como sugestão, responda às seguintes perguntas direcionadoras.
Questão Direcionadora
Material de Referência
Como realizar a extração de sementes de frutos secos? Como realizar a limpeza e o beneficiamento de sementes? Qual é a importância da secagem das sementes? Como realizar o armazenamento de sementes na agricultura familiar?
NASCIMENTO, W. M. Produção de sementes de hortaliças para a agricultura familiar. Brasília, DF: Embrapa, 2005. (Embrapa. Circular Técnica, 35).
Descreva um procedimento de amostragem. Qual é a influência da amostragem nos resultados da análise de sementes?
LOPES, A. C. A.; NASCIMENTO, W. M. Amostragem de Sementes para Análise em Laboratório. Brasília, DF: Embrapa, 2009. (Embrapa. Circular Técnica, 81).
Como é feito o teste de Germinação? Como é feito o teste Tetrazólio? Para que serve o teste Raio-X de sementes de hortaliças?
LOPES, A. C. A.; NASCIMENTO, W. M. Análise de Sementes de Hortaliças. Brasília, DF: Embrapa, 2009. (Embrapa. Circular Técnica, 83).
Quais são as características de um solarizador? Quais são as vantagens e desvantagens de se utilizar um coletor solar para a desinfestação de substratos?
GHINI, R. Coletor solar para desinfestação de substratos para produção de mudas sadias. Jaguariúna, SP: Embrapa, 2004. (Embrapa. Circular Técnica, 4).
Quais são os benefícios do condicionamento osmótico? Que fatores afetam o condicionamento osmótico? Como é realizado o condicionamento osmótico?
NASCIMENTO, W. M. Condicionamento osmótico de sementes de hortaliças. Brasília, DF: Embrapa, 2004. (Embrapa. Circular Técnica, 33).
Atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) http://capacitacao.sede.embrapa.br/ Acesse o ambiente virtual de aprendizagem e responda as atividades propostas para este capítulo.
Sementes e mudas
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Capítulo
Alexandre Pinho de Moura
Foto: Michaela Kobyakov/freeimages
6 4
Manejo Integrado de Pragas
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • Reconhecer as principais pragas de hortaliças e suas injúrias. • Reconhecer os inimigos naturais das pragas. • Realizar o monitoramento periódico de pragas. • Selecionar e decidir o melhor momento para aplicar determinados métodos de controle de pragas.
6.1 Sustentabilidade e meio ambiente Atualmente, em função da maior conscientização da população mundial, existe uma grande preocupação com a redução no uso de agrotóxicos, ao mesmo tempo em que há uma exigência dos mercados consumidores por alimentos de qualidade (Figura 1).
Figura 1. Abrangência do conceito de qualidade.
O desenvolvimento de um sistema de controle de pragas tornou-se necessário para suprir a necessidade crescente de alimentos e, ao mesmo tempo, respeitar os preceitos da sustentabilidade do agroecossistema, da conservação do meio ambiente e do bem-estar do ser humano. Nesse cenário, surgiu, na década de 1970, o Manejo Integrado de Pragas (MIP), definido como um sistema de controle de pragas que objetiva preservar e/ou incrementar os fatores de mortalidade natural das pragas. No MIP, estabelece-se o uso integrado de diversas medidas de controle, compatíveis entre si, selecionadas com base em análises de custo/benefício, levando-se em consideração parâmetros ecológicos, econômicos e sociológicos. Tem como principais objetivos: • Manter a(s) praga(s) em nível populacional que não cause prejuízo econômico (não visa exterminá-las). • Racionalizar o uso de agrotóxicos. • Preservar e incrementar os fatores de mortalidade natural (abióticos e bióticos). • Garantir produção a baixo custo. Tais ações visam garantir maior sustentabilidade da atividade agrícola. O MIP tem como princípios: 1. Reconhecimento das pragas e de suas injúrias. 2. Reconhecimento dos inimigos naturais.
Manejo Integrado de Pragas
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Manejo Integrado de Pragas
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3. Vistoria periódica do cultivo. 4. Momento de controlar a praga (tomada de decisão). 5. Seleção e uso planejado dos métodos (táticas) de controle.
Desafio Com base nos princípios do MIP, você sabe responder as seguintes perguntas? • Ao vistoriar uma cultura, que injúrias podem ocorrer? • Quais são as principais pragas e injúrias relacionadas? • Quais são os principais inimigos naturais das pragas mais comuns? Por que é importante conhecê-los? • Como e por que realizar a vistoria periódica de uma cultura? • Quais são os métodos para o controle de pragas relacionados ao MIP? Quando devem ser aplicados? Encontre estas ou outras respostas ao longo deste capítulo.
6.2 Reconhecimento das pragas e de suas injúrias No controle convencional, considera-se praga a simples presença do organismo na lavoura, desde que cause alguma injúria na planta. No MIP, somente quando o organismo puder causar dano econômico, ou seja, quando o prejuízo for maior ou igual ao custo de controle, este é considerado praga. Nesse sistema, as medidas de controle são selecionadas em função da praga-chave (ou das pragas-chave) da cultura em questão, sendo que, indiretamente, as demais pragas (secundárias ou ocasionais) têm seus níveis populacionais mantidos abaixo do nível de controle (NC), e somente causarão danos econômicos em situações especiais, quando, então, deverão ser controladas pela utilização de estratégias e táticas (métodos) específicas para cada caso.
Tipos de pragas Pragas-chave: espécies que, frequentemente, provocam danos econômicos, exigindo adoção criteriosa e integrada de medidas de controle. O MIP é estabelecido para essas pragas. Ex.: traça-do-tomateiro, broca-das-cucurbitáceas, mosca-branca, pulgões, tripes, etc. Pragas secundárias ou ocasionais: espécies que causam poucas injúrias à cultura e que raramente provocam prejuízos significativos, ocorrendo esporadicamente em determinados períodos do ano e em áreas isoladas de cultivos. Ex.: vaquinhas, moscas-minadoras e lagarta-rosca no tomateiro. A maior ou menor importância de cada praga em determinada cultura pode variar de acordo com a região e a época de cultivo. O reconhecimento das principais pragas da cultura, bem como de suas injúrias, auxiliará o produtor na seleção e na adoção de medidas que favoreçam as populações de seus inimigos naturais e/ou que gerem condições ambientais desfavoráveis à praga em questão.
Para refletir e anotar! Nos tópicos seguintes, você conhecerá um pouco mais sobre as principais pragas de hortaliças, suas características, injúrias e plantas hospedeiras, sendo elas: a)
mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B – Hemiptera: Aleyrodidae).
b)
pulgões (Myzus persicae, Macrosiphum euphorbiae e Aphis gossypii – Hemiptera: Aphididae).
c)
tripes (Thrips tabaci, Thrips palmi e Frankliniella schultzei – Thysanoptera: Thripidae).
d)
ácaros tetraniquídeos (Tetranychus urticae, Tetranychus evansi, Tetranychus marianae, Tetranychus ludeni – Acari: Tetranychidae).
e)
ácaros eriofiídeos (Aculops lycopersici, Aceria (= Eriophyes) tulipae – Acari: Eriophyidae).
f)
ácaro-branco (Polyphagotorsonemus latus – Acari: Tarsonemidae).
g)
minadores de folhas e broqueadores de frutos; e
h)
outras pragas.
Analise cada uma delas e reflita sobre qual poderia ser a forma de manejo integrado, considerando os objetivos do MIP, o contexto de seu país e a região de cultivo.
Principais pragas de hortaliças
Fotos: Alexandre Pinho de Moura
a) Mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B – Hemiptera: Aleyrodidae) A espécie B. tabaci biótipo B (Figura 2) pertence à ordem Hemiptera, subordem Sternorrhyncha, família Aleyrodidae, sendo erroneamente chamada de mosca. O biótipo B, anteriormente denominado Bemisia argentifolii, foi introduzido no Brasil em meados da década de 1990, no Estado de São Paulo, proveniente de plantas ornamentais importadas da Europa e dos Estados Unidos. Difere dos demais biótipos de mosca-branca pelo fato de ocasionar desordens fisiológicas nas plantas atacadas, como o prateamento das folhas das cucurbitáceas, de onde tem origem o nome B. argentifolii.
A
B
Figura 2. Mosca-branca, Bemisia tabaci biótipo B. A – adulto; B – ninfa de quarto ínstar.
São insetos pequenos, apresentam cerca de 1 mm de comprimento, coloração esbranquiçada ou amarelo-palha. Possuem dois pares de asas membranosas recobertas por uma pulverulência branca e, quando em repouso, as asas permanecem levemente separadas. É um inseto fitófago, sugador de seiva, que apresenta ampla distribuição geográfica. Seus ovos têm coloração amarelada; são colocados na superfície inferior das folhas e encontram-se presos a estas por meio de um pedicelo curto. Ao eclodirem, as ninfas de primeiro ínstar são móveis e translúcidas. Apre-
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139
sentam coloração variando do amarelo ao amarelo-pálido, assemelhando-se a cochonilhas. Entretanto, tornam-se sésseis quando iniciam sua alimentação. As ninfas passam por quatro ínstares, sendo o último chamado de pseudopupa, caracterizado morfologicamente por apresentar olhos de coloração vermelha (Figura 2B). Esses insetos localizam-se, preferencialmente, na face inferior das folhas das plantas hospedeiras (Figura 3A), formando colônias numerosas, nas quais se podem verificar todas as fases de desenvolvimento da praga presentes nas folhas (Figura 3B). Fotos: Alexandre Pinho de Moura
A
B
Figura 3. Colônias de mosca-branca, Bemisia tabaci biótipo B na face inferior de folha de tomateiro. A – adultos; B – adultos, ninfas e ovos.
Ciclo de vida A fêmea de B. tabaci (biótipo B) apresenta elevado potencial reprodutivo, sendo capaz de depositar até cerca de 300 ovos. Seu ciclo biológico apresenta a fase de ovo, quatro ínstares ninfais, sendo o último chamado de pupa ou pseudopupa, e a fase adulta (Figura 4). O ciclo é completado em cerca de 15 dias, dependendo da temperatura ambiente, sendo a longevidade das fêmeas de aproximadamente 18 dias. Plantas hospedeiras
Ciclo de vida da mosca branca Ninfa 1º instar
Ninfa 2º instar
Ninfa 3º instar
Ninfa 4º instar "pupa"
Ovo
Adulto
Eclosão
Figura 4. Ciclo de vida da mosca-branca, Bemisia tabaci biótipo B.
A mosca-braca B. tabaci ataca cerca de 750 espécies. Alguns exemplos: •
Solanáceas: tomate, pimentão, berinjela, jiló, pimenta, batata.
•
Apiáceas: cenoura.
•
Brássicas: repolho, brócolis, couve-flor.
•
Cucurbitáceas: melão, abobrinha, melancia, chuchu, pepino.
•
Flores/plantas ornamentais: crisântemo, poinsétia.
• Plantas daninhas: mentrasto, erva-de-Santa Luzia, picão-preto, joá-de-capote, falsa-serralha, leiteiro, trapoeraba, beldroega.
Ilustração: Henrique Martins Gianvecchio Carvalho Foto: Alexandre Pinho de Moura
Manejo Integrado de Pragas
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Injúrias Fotos: Alexandre Pinho de Moura
Tabela 1. Descrição de injúrias causadas pela mosca-branca nas hortaliças
A
B
Fotos: Alexandre Pinho de Moura
Figura 5. Danos diretos causados pela mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B. A – amarelecimento das folhas; B – enrolamento dos bordos das folhas.
A
B
Além disso, esses insetos excretam o excesso da seiva na forma de gotículas de substâncias adocicadas (honeydew) na superfície das folhas, dos ramos e dos frutos, favorecendo o desenvolvimento de fungos do gênero Capnodium, causadores da fumagina. Esse fungo cria uma capa enegrecida que dificulta a realização da fotossíntese (Figuras 6A e 6B) e prejudica a aparência dos frutos (Figuras 7A e 7B). Em altas densidades populacionais, a praga pode ocasionar a morte de mudas e plantas jovens.
Foto: Alexandre Pinho de Moura
Figura 6. Ocorrência de fumagina em folhas de tomateiro. A – diversas folhas enegrecidas; B – detalhe de folha recoberta por fumagina.
Ao sugarem a seiva, os adultos da mosca-branca causam danos diretos (amarelecimento e enrolamento dos bordos das folhas) (Figuras 5A e 5B) e indiretos (injeção de toxinas e transmissão de viroses) à planta, sendo responsáveis por provocarem alterações em seu desenvolvimento vegetativo (crescimento desuniforme dos tecidos e nanismo das plantas) e reprodutivo (redução da floração).
A
B
A
Foto: Miguel Michereff Filho
Foto: Alexandre Pinho de Moura
Figura 7. Ocorrência de fumagina em frutos de tomate. A – fumagina em penca de frutos maduros; B – fumagina em penca de frutos maduros e verdes.
B
Figura 8. Amadurecimento irregular de frutos de tomate. A – penca de frutos com sintomas de amadurecimento irregular; B – frutos de tomate cortados mostrando internamente o amadurecimento irregular.
No caso específico da cultura do tomateiro, causa amadurecimento irregular (Figuras 8A e 8B) e isoporização dos frutos, bem como redução do teor de sólidos solúveis (Brix).
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b) Pulgões (Myzus persicae, Macrosiphum euphorbiae e Aphis gossypii – Hemiptera: Aphididae)
O pulgão M. persicae é considerado uma praga que ataca muitas espécies vegetais, ocorrendo em vários países ao redor do mundo e pode atuar como vetor de mais de 100 espécies de vírus em diversas culturas. Os adultos dessa espécie têm cerca de 2 mm de comprimento, sendo a forma áptera (sem asas) de coloração geral verde-clara, enquanto a forma alada (com asas) apresenta coloração verde, com cabeça, antenas e tórax pretos (Figura 9). As ninfas apresentam coloração de verde a marrom-avermelhado.
Macrosiphum euphorbiae
Foto: Alexandre Pinho de Moura
Myzus persicae
Figura 9. Pulgão alado da espécie Myzus persicae.
O pulgão-das-solanáceas M. euphorbiae é o maior das três espécies de afídeos que ocorrem em hortaliças. Os indivíduos ápteros dessa espécie medem cerca de 3,5 mm de comprimento, apresentam coloração verde-claro e possuem as pernas e os sifúnculos com as extremidades escurecidas. As formas aladas são maiores, apresentando cerca de 4 mm de comprimento, coloração variando do verde-claro ao verde-escuro e antenas ultrapassando o tamanho do corpo. É relatado como vetor de mais de 40 espécies de vírus e tem sido encontrado em cerca de 50 espécies vegetais. Plantas hospeiras de M. persicae e M. euphorbiae Essas duas espécies de afídeos atacam cerca de 200 espécies (20 famílias botânicas) de plantas. Alguns exemplos: • Tomate, batata, berinjela, pimentão, jiló, alface, repolho.
Aphis gossypii A espécie A. gossypii apresenta ampla distribuição mundial e encontra-se associada a diversas culturas de grande importância econômica. É uma espécie que ataca diferentes vegetais e é capaz de transmitir mais de 50 espécies de vírus. Os adultos apresentam de 1 a 2 mm de comprimento e coloração variável do amarelo-claro ao verde-escuro (Figura 10). São muito prolíferos e, nas condições tropicais, não ocorrem machos, sendo que as fêmeas reproduzem-se por partenogênese telítoca, ou seja, sem a participação do macho, fêmeas originando novas fêmeas. Em geral, não apresentam asas, mas quando a população aumenta significativamente, levando à falta de alimento, desenvolvem-se as formas aladas (com asas), que voam para outras plantas, de
Foto: Jorge Anderson Guimarães
Manejo Integrado de Pragas
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Figura 10. Pulgões da espécie Aphis gossypii.
Manejo Integrado de Pragas
143
modo a estabelecerem novas colônias. As fêmeas desenvolvidas colocam as ninfas nas plantas onde se instalam até a fase adulta, por meio de ecdises (mudas) sucessivas, sendo comum encontrar exúvias (exoesqueleto quitinoso eliminado) ao lado das populações de pulgões. Plantas hospeiras de A. gossypii Ataca cerca de 90 famílias botânicas. Alguns exemplos: • Solanáceas: batata, pimenta, pimentão, quiabo, berinjela. • Cucurbitáceas: abóbora, pepino, melão, melancia. • Daninhas: picão-preto, trapoeraba, malva-preta, guanxuma. • Ornamentais: crisântemo. Injúrias As três espécies de pulgões aqui descritas podem ocorrer em grandes populações nas plantas, atacando folhas, ramos novos, brotações e flores de diversas culturas, sugando a seiva das plantas e excretando excesso da seiva (honeydew) na superfície das folhas, dos ramos e dos frutos, o que favorece o desenvolvimento da fumagina, dificultando a realização da fotossíntese pela planta. Além disso, a excreção do excesso de seiva atrai formigas, as quais defendem os pulgões contra a ação de inimigos naturais. A sucção de seiva pelos pulgões causa amarelecimento e encarquilamento de folhas, a exemplo do que foi descrito para a mosca-branca B. tabaci biótipo B. Consequentemente, há redução na produção das culturas atacadas. Espécies de vírus transmitidas por afídeos •
PYPV (vírus-do-topo-amarelo do tomateiro).
•
PVY (vírus Y e A da batata, vírus-do-mosaico do pimentão).
•
ToMV (vírus-do-mosaico do tomateiro/mosaico comum).
c) Tripes (Thrips tabaci, Thrips palmi e Frankliniella schultzei – Thysanoptera: Thripidae) Tripes (Thysanoptera) são insetos pequenos, de corpo estreito, apresentam dois pares de asas franjadas e aparelho bucal raspador sugador, formado por três estiletes. Sugam a seiva das flores, folhas e frutos. Geralmente vivem sobre folhas, brotos, flores e sob a casca de árvores. Têm sua ocorrência favorecida por períodos quentes e secos, mas também podem surgir em condições de baixas temperaturas associadas à estiagem. Os tripes são de difícil constatação em lavouras recém-plantadas.
As fêmeas de T. tabaci são de coloração que varia do amarelo-claro ao marrom, e possuem em torno de 1 mm de comprimento e 2 mm de envergadura (Figura 11). Têm asas longas, estreitas e franjadas, pernas mais claras que o corpo, abdome com 10 segmentos, ovipositor curvado para baixo e com vários "dentes". Cada fêmea põe de 20 a 100 ovos Figura 11. Tripes adulto da espécie Thrips tabaci. durante toda a sua vida, que dura cerca de 20 dias. Esses insetos formam colônias e alimentam-se da seiva das plantas, colocando seus ovos nas partes mais tenras das folhas onde, posteriormente,
Foto: Ernesto Prado
Thrips tabaci
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procedem ao ataque. As ninfas eclodem cerca de quatro dias após a oviposição, têm cerca de 1 mm de comprimento e apresentam coloração amarelo-esverdeada. Diferem dos adultos por serem mais claras e por possuírem as pernas e as antenas quase incolores. O período ninfal de T. tabaci varia de 5 a 15 dias, a depender da temperatura ambiente. Suas ninfas passam por um período de imobilidade de cerca de 24 horas, na própria planta ou no solo.
Thrips palmi Os adultos de T. palmi são pequenos, medindo cerca de 1 mm de comprimento, têm asas estreitas e franjadas, apresentam coloração amarelo-clara e são cobertos de cerdas grossas, de coloração preta. Suas ninfas são ápteras, muito ativas e têm a coloração amarelada. Tanto os adultos quanto as ninfas vivem na face inferior das folhas. As fêmeas adultas inserem seus ovos na epiderme das folhas, os quais têm coloração esbranquiçada e formato de rim. A formação das pupas ocorre no solo. Esses insetos completam seu ciclo de desenvolvimento em 21 a 25 dias, em condições tropicais, a depender também do hospedeiro.
Frankliniella schultzei A espécie F. schultzei é maior quando comparada às duas espécies descritas anteriormente, apresentando de 1 a 3 mm de comprimento, com coloração variável e asas franjadas e relativamente longas. Suas formas jovens (ninfas) distinguem-se dos adultos por possuírem coloração mais clara e por não apresentarem asas (ápteras). Normalmente seu ciclo de vida tem duração de 15 dias. Essa espécie é considerada uma das mais importantes em várias regiões do Brasil, atacando, além das solanáceas, a cebola, o algodão, o amendoim, o sorgo e diversas espécies de plantas ornamentais.
Vale lembrar que... Os tripes apresentam reprodução sexuada e partenogenética. Na reprodução partenogenética, os ovos não fecundados originam machos, enquanto os fecundados darão origem a fêmeas. Apresentam dois estádios "larvais" (ninfas), as quais demonstram intensa atividade, inclusive de alimentação. Possuem, também, dois estágios inativos, ou seja, as fases de pré-pupa e pupa, quando não se alimentam.
Injúrias Os tripes atacam folhas, flores (causando esterilidade e/ou prejudicando o desenvolvimento de frutos novos) e brotações, causando áreas descoradas culminando, consequentemente, com a necrose dos tecidos. São insetos vetores de viroses, sendo que as "larvas" adquirem o vírus e o transmitem ao longo de toda a sua vida. A transmissão das viroses é mais prejudicial quando transmitem o vírus até 60 dias após a emergência da planta.
Espécies de vírus transmitidas por F. schultzei Essa espécie de tripes é o vetor do principal complexo virótico do tomateiro no Brasil. • Vira-cabeça (Tospovírus): solanáceas e Compositae. • Tomato spotted wilt virus (TSWV). • Tomato chlorotic spot virus (TCSV). • Groundnut ringspot virus (GRSV). • Chrysanthemum stem necrosis virus (CSNV).
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Plantas hospedeiras Cultivadas • Tomate: T. tabaci, T. palmi e F. schultzei. • Batata, berinjela, jiló: T. palmi e F. schultzei. • Brássicas (agrião, brócolis, couve-flor, repolho, etc): T. tabaci. • Liliáceas (alho, cebola e cebolinha): T. tabaci (de difícil controle, pois os insetos se alojam nas bainhas das folhas). • Pimentão e pimenta: T. palmi e F. schultzei. • Quiabo: F. schultzei. d) Ácaros tetraniquídeos (Tetranychus urticae, Tetranychus evansi, Tetranychus marianae, Tetranychus ludeni – Acari: Tetranychidae)
Tetranychus urticae
Fotos: Alexandre Pinho de Moura
A espécie T. urticae produz teia, e as fêmeas colocam seus ovos, de formato esférico e coloração amarelada, entre os fios de teia (Figura 12). Verifica-se acentuado dimorfismo sexual nessa espécie, sendo as fêmeas ovaladas e os machos apresentando a extremidade posterior do abdome mais estreita. Os adultos medem aproximadamente 0,3 mm de comprimento. As fêmeas geralmente apresentam duas manchas verde-escuras no dorso, sendo uma de cada lado.
A
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Figura 12. Planta de morangueiro atacada por Tetranychus urticae. A – presença de teia sobre as folhas; B – detalhe mostrando as teias e diversos ácaros. Fotos: Alexandre Pinho de Moura
Plantas hospedeiras: Ataca as culturas da abóbora, berinjela, melancia, melão, morango, pepino, pimenta, pimentão, quiabo e tomate. Injúrias Sintomas de sua alimentação se caracterizam pelo aparecimento de puncturas esbranquiçadas, com posterior presença de clorose generalizada nas folhas, enquanto as nervuras permanecem verdes, evoluindo para necrose foliar (Figura 13) e posterior queda acentuada das folhas atacadas, com consequente morte das plantas, quando os ataques são severos.
Figura 13. Injúrias causadas pelo ácarorajado Tetranychus urticae, em morangueiro, evidenciando a necrose das folhas devido à alimentação do ácaro.
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Tetranychus evansi Fêmeas adultas de T. evansi têm cerca de 0,5 mm de comprimento, possuem o corpo ovalado, apresentam coloração laranja-avermelhada, com duas manchas laterais escuras e tecem teias. Os machos dessa espécie são menores e apresentam coloração alaranjada.
Vale lembrar que... Puncturas são aberturas profundas, porém com reduzido diâmetro, realizadas no tecido foliar pelos ácaros, quando estes se alimentam.
Plantas hospedeiras Ataca as culturas de batata, berinjela, chuchu, pimentão e tomate. Injúrias As injúrias causadas por essa espécie são semelhantes àquelas descritas para T. urticae.
Tetranychus marianae A espécie T. marianae apresenta grande semelhança morfológica com T. evansi, mencionada anteriormente. Fêmeas de T. marianae são maiores (0,65 mm de comprimento por 0,41 mm de largura) que os machos (0,38 mm de comprimento por 0,19 mm de largura) e apresentam coloração avermelhada. Sua dispersão ocorre, principalmente, por meio do vento, mas também pode ocorrer por meio de estruturas vegetais infestadas e transportadas de uma área para outra, ou de forma natural, pelo contato entre a folhagem das plantas. Plantas hospedeiras Há relatos da ocorrência desse ácaro atacando as culturas de batata-doce, berinjela, jiló, mandioca, quiabo, tomate, pimentão, além da pimenta. Injúrias Semelhantes às injúrias descritas antes, causadas pelas espécies T. urticae e T. evansi. Na cultura da batata-doce, especificamente, a espécie T. marianae causa o arroxeamento das folhas das plantas atacadas.
Tetranychus ludeni Adultos de T. ludeni apresentam coloração vermelha intensa, sendo as fêmeas (0,45 mm de comprimento por 0,23 mm de largura) maiores que os machos (0,26 mm de comprimento por 0,15 mm de largura). As fêmeas jovens dessa espécie são mais claras e, logo após a última ecdise, apresentam coloração vermelho-clara. As fêmeas adultas de T. ludeni também tecem teias e provocam injúrias e prejuízos semelhantes aos do ácaro-rajado. Plantas hospedeiras Essa espécie ataca as culturas de alho, cebola, pimenta, pimentão, quiabo e tomate. e) Ácaros eriofiídeos (Aculops lycopersici, Aceria (=Eriophyes) tulipae – Acari: Eriophyidae)
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Aculops lycopersici Essa espécie é conhecida vulgarmente como microácaro ou ácaro-do-brozeamento do tomateiro. Tem corpo fusiforme, comprimento variando de 0,15 mm a 0,2 mm, apresenta coloração branco -leitosa e é invisível a "olho nu". Os ovos são depositados nas nervuras ou na base das folhas. Dois pares de pernas têm estruturas típicas semelhantes a garras na parte posterior do tarso, denominadas pinças, contendo quatro pares de estrias. Plantas hospedeiras Esse ácaro ataca as culturas de berinjela, pimentão e tomate.
Aceria (=Eriophyes) tulipae O ácaro A. tulipae, também conhecido como microácaro ou ácaro-do-chochamento do alho, apresenta formato alongado e vermiforme. São invisíveis a "olho nu" e localizam-se nas dobras das folhas ou, no caso da cultura do alho, sobre os bulbilhos. A temperatura ideal para o desenvolvimento dessa espécie é de 25°C, enquanto a temperatura capaz de causar sua morte é de 45°C. Temperaturas inferiores a 6°C não permitem o desenvolvimento dessa praga. A eclosão dos ovos é beneficiada por umidade relativa elevada, enquanto a condensação da água nas folhas é prejudicial ao seu desenvolvimento. Plantas hospedeiras Ataca as culturas de alho, cebola, cebolinha e tomate. Injúrias O ataque do ácaro às plantas provoca deformações nas folhas, que não se abrem completamente; nas culturas de alho, cebola e cebolinha, as folhas permanecem com as extremidades presas e arqueadas, dando um aspecto espiralado como o de um chicote. Provoca, ainda, retorcimento, estrias cloróticas e posterior secamento das folhas, causando nanismo acentuado às plantas. Na cultura do alho, afeta o desenvolvimento dos bulbos e, quando a infestação é severa, as plantas murcham e morrem.
O ácaro-branco, P. latus, também conhecido como ácaro-tropical, apresenta ocorrência frequente na maioria das áreas produtoras do Brasil (Figura 14). As fêmeas de P. latus medem cerca de 0,17 mm de comprimento por 0,11 mm de largura e colocam os ovos, de coloração branca, achatados e com saliências superficiais, na face inferior das folhas. Não tecem teias. Os machos são menores, medem cerca de 0,14 mm de comprimento por 0,08 mm de largura e possuem o quarto par de pernas avantajado (tipo clavado), o qual não exerce função de locomoção, mas permite carregar a "pupa" da fêmea,
Foto: Frederick Mendes Aguiar
f) Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus – Acari: Tarsonemidae)
Figura 14. Ácaro-branco, Polyphagotarsonemus latus.
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para que a cópula seja garantida no momento de sua emergência, funcionando como mecanismo de perpetuação da espécie.
Vale lembrar que... O ácaro-branco se reproduz de forma sexuada, porém também ocorre partenogênese arrenótoca, na qual fêmeas virgens podem gerar machos para copular e originar novas colônias.
O ciclo de vida completo de P. latus dura, em média, de 3 a 5 dias. Contudo, fatores abióticos e bióticos exercem determinante influência na biologia do ácaro. Seu desenvolvimento é favorecido, de modo geral, pela combinação de temperaturas elevadas e pela baixa umidade relativa do ar, associadas à baixa luminosidade.
Devido ao tamanho diminuto, a presença do ácaro-branco no cultivo passa frequentemente despercebida, sendo detectado somente quando a população já atingiu o nível de dano econômico (NDE), causando injúrias severas às plantas. As infestações iniciais do ácaro-branco ocorrem em reboleiras, ou seja, em vários pontos distribuídos na área, sendo encontrados, frequentemente, na parte inferior das folhas. A disseminação se dá pelo vento, pelo contato entre a folhagem das plantas, por meio de estruturas vegetais infestadas e transportadas de uma área para outra e, ainda, por meio da relação forética que ocorre entre o ácaro-branco e a mosca-branca B. tabaci e algumas espécies de pulgões, em que a mosca-branca e os pulgões transportam o ácaro-branco.
Vale lembrar que... Forésia é uma associação existente entre indivíduos de espécies diferentes (relação ecológica interespecífica), em que um indivíduo transporta outro, sem prejudicarem um ao outro.
Plantas hospedeiras Essa espécie ocorre em regiões tropicais e subtropicais, tendo sido registrada em um amplo espectro de hospedeiros, que incluem hortaliças como batata, berinjela, morango, pimenta, pimentão e tomate. Injúrias Ataca, preferencialmente, folhas novas da parte apical das plantas, além de brotos terminais, sugando seu conteúdo celular. As folhas inicialmente escurecem, apresentando coloração bronzeada e depois enrolam seus bordos para baixo, ficando com aspecto vítreo e tornando-se quebradiças. Por último, ocorrem rasgaduras, quando já não se observa o ácaro na folha. Esse ácaro também é responsável pela ocorrência de deformidades nas flores e nos frutos, causando-lhes queda e, consequentemente, comprometendo a produção, inclusive de sementes. Em ataques intensos, pode ocasionar a morte de plantas jovens. g) Minadores de folhas e broqueadores de frutos
Tuta absoluta (Lepidoptera: Gelechiidae) No Brasil, essa espécie é conhecida vulgarmente como traça-do-tomateiro e ocorre durante todo o ano, especialmente no período mais seco, quase desaparecendo em períodos chuvosos. O ciclo de vida desse inseto-praga é composto pelos estágios de ovo, lagarta, pupa e adulto e, de acordo com
Plantas hospedeiras Atacam as culturas de batata, berinjela, pimenta, pimentão e tomate, ocorrendo ao longo de todo o ciclo das culturas. Alimenta-se, também, sobre solanáceas silvestres. Injúrias
Fotos: Alexandre Pinho de Moura
As lagartas recém-eclodidas penetram nas folhas, alimentando-se do parênquima foliar, formando uma galeria de contorno irregular (Figura 16A). Em altas densidades populacionais, as lagartas causam redução da capacidade fotossintética da planta devido à alimentação no parênquima foliar. Além disso, as galerias formadas nas folhas, no caule e nos frutos (Figura 16B) servem como vias de entrada para fitopatógenos oportunistas, que podem causar sérios danos à planta. Na cultura do tomateiro, ocasionam perfurações nos frutos, o que causa consequente apodrecimento destes.
A
B
Figura 16. Injúrias causadas pela traça-do-tomateiro, Tuta absoluta. A – em folíolo de tomateiro; B – em frutos de tomate.
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a temperatura, dura cerca de 30 dias. Os ovos são colocados nas folhas, hastes, flores e frutos. Apresentam formato elíptico e coloração branca, tornando-se amarelados ou marrons próximos à eclosão. As lagartas eclodem de três a cinco dias após a postura e apresentam coloração branca ou verde (Figura 15A). Após a eclosão, penetram imediatamente nas folhas, nos frutos ou nos ápices A B das hastes, onde permanecem até se transformarem em pupas. A fase de Figura 15. Traça-do-tomateiro, Tuta absoluta. A – Lagarta; B – Adulto. . pupa dura de sete a dez dias e ocorre, principalmente, nas folhas ou no solo; ocasionalmente, nas hastes e frutos. Os adultos são pequenas mariposas de cor cinza, marrom ou prateada, medem aproximadamente 10 mm de comprimento (Figura 15B) e vivem, em média, uma semana. Acasalam-se imediatamente após a emergência, voam e ovipositam predominantemente ao amanhecer e ao entardecer.
Foto: Jorge Anderson Guimarães
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Neoleucinodes elegantalis (Lepidoptera: Pyralidae) Também conhecida como broca-pequena-do-tomateiro ou broca-pequena-do-fruto, essa espécie é nativa da Região Neotropical. No Brasil, N. elegantalis foi registrada inicialmente no Estado do Ceará, em 1922 e, desde então, tornou-se importante praga em quase todas as regiões produtoras do país. Na cultura do tomateiro ocorre, principalmente, no período chuvoso do ano, quando as altas temperaturas e umidades relativas do ar são mais favoráveis ao crescimento populacional da praga.
Vale lembrar que... A região Neotropical compreende a América Central, incluindo a parte sul do México, e a península da baixa Califórnia, o sul da Flórida, todas as ilhas do Caribe e a América do Sul.
Adultos de N. elegantalis apresentam acentuado dimorfismo sexual, sendo as fêmeas maiores que os machos, com cerca de 10 mm de comprimento. As mariposas possuem coloração geral branca, asas transparentes, apresentando nas asas anteriores uma mancha de cor marrom escura e, nas posteriores, pequenas manchas marrons esparsas (Figura 17A). A fêmea possui abdome bastante volumoso quando comparada ao macho. O abdome do macho é delgado e apresenta a parte distal recoberta por um tufo de escamas modificado em forma de pincel. Os ovos são elípticos e depositados de forma isolada ou agrupados no pecíolo, junto ao cálice, sob as sépalas, ou diretamente na superfície do fruto. As lagartas recém-eclodidas raspam a casca do fruto e se alojam em seu interior, alimentando-se da polpa. No interior do fruto, a lagarta passa por cinco ecdises e, ao final do desenvolvimento, possui de 11 a 13 mm de comprimento e coloração rosada bastante característica (Figura 17B). Totalmente desenvolvida, a lagarta sai do fruto para transformar-se em pupa no solo, logo abaixo da planta. O ciclo de vida varia de acordo com a temperatura, sendo que em locais com temperatura de 30°C, o desenvolvimento larval dura cerca de 26 dias, enquanto que em locais mais frios, com temperatura média de 15°C, essa fase pode durar até 115 dias. Os frutos infestados (Figura 18A e 18B) tornam-se impróprios para consumo. Por ser uma praga que ataca os frutos, é responsável por danos diretos na produção, causando perdas consideráveis, que podem variar de 45% a 90%. A presença de apenas uma lagarta da broca-pequena no interior do fruto é o suficiente para causar sua inviabilização para o consumo ou mesmo para o processamento. Foto: Alexandre Pinho de Moura
Foto: Geni Vilas-Boas
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A
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Figura 17. Broca-pequena-do-tomateiro, Neoleucinodes elegantalis. A – adulto; B – lagarta.
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Plantas hospedeiras A broca-pequena-do-tomateiro ataca as culturas de berinjela, pimentão e tomate, além de solanáceas silvestres. Injúrias
Vale lembrar que... Os fungos saprófitas alimentamse de matéria orgânica animal ou vegetal morta sendo, portanto, considerados decompositores.
Fotos: Alexandre Pinho de Moura
Após a eclosão, a lagarta da broca-pequena-do-tomateiro penetra no fruto e alimenta-se da polpa, formando galerias, podendo destruir completamente o fruto. À medida que a lagarta se alimenta, deposita suas fezes no interior das galerias, o que favorece o desenvolvimento de fungos saprófitas, os quais causam o apodrecimento dos frutos atacados
A
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Figura 18. Injúrias causadas pela broca-pequena-do-tomateiro, Neoleucinodes elegantalis. A – penca de frutos com perfurações; B – galerias no interior do fruto, com presença de fezes da lagarta.
A espécie H. armigera foi recentemente introduzida no Brasil, tendo sido detectada, inicialmente, nos estados de Goiás, Bahia e Mato Grosso. Na atualidade, já há relatos da ocorrência dessa espécie nos estados da Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Piauí, São Paulo e Goiás, inclusive causando grandes prejuízos na cultura do tomateiro. Fêmeas adultas dessa espécie apresentam o primeiro par de asas de coloração amarelada; os machos exibem colora- Figura 19. Macho adulto de Helicoverpa ção geral cinza-esverdeada e apresentam o terço distal da armigera. asa ligeiramente mais escuro, contendo, ainda, uma pequena mancha escura, em formato de rim, na região central da asa (Figura 19). As asas posteriores de ambos os sexos têm coloração mais clara em relação às anteriores, e apresentam a margem da extremidade apical de coloração marrom. As fêmeas depositam seus ovos, isoladamente ou agrupados, preferencialmente na face superior das folhas das plantas hospedeiras, mas também sobre os ramos, flores, frutos e brotações, normalmente durante o período noturno. Os ovos apresentam coloração branco-amarelada com aspecto brilhante logo após a sua oviposição (Figuras 20A e 20B), assumindo coloração marrom-escura próximo da eclosão.
Foto: Alexandre Pinho de Moura
Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae)
Fotos: Cecília Czepak
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A pupa de H. armigera tem coloração marrom brilhante e cerca de 17 mm de comprimento (Figura 22). A fase de pupa ocorre no solo, podendo ou não ocorrer diapusa nessa espécie, dependendo das condições climáticas.
Figura 22. Pupas de Helicoverpa armigera.
Plantas hospedeiras Dentre as hortaliças, cita-se a cultura do tomateiro; no entanto, essa espécie também causa prejuízos às culturas de algodão, milho e soja. Injúrias Na cultura do tomateiro, as lagartas de H. armigera alimentam-se de folhas, hastes, inflorescências e frutos. Os frutos atacados tornam-se imprestáveis para o consumo.
Helicoverpa zea (Lepidoptera: Noctuidae) O adulto da broca-grande-do-fruto do tomateiro, H. zea, é uma mariposa que mede de 30 a 40 mm de envergadura, apresentando asas anteriores de coloração cinza-esverdeadas ou amareladas. Cada fêmea pode ovipositar uma média de 1.000 ovos ao longo de sua vida, os quais são colocados ao anoitecer, em qualquer parte da planta, principalmente na parte superior. Os ovos têm forma hemisférica, medindo cerca de 1 mm de diâmetro, e coloração inicial branca, tornando-se marrons próximo à eclosão.
Foto: Alexandre Pinho de Moura
A fase larval dessa espécie apresenta de cinco a seis ínstares; a partir do terceiro ínstar, as larvas apresentam coloração variando do amarelo-palha ao verde, marrom-avermelhada ou preta, influenciada pelo tipo de alimento consumido. Também são detalhes característicos das lagartas de H. armigera a presença de linhas finas brancas laterais e de pelos. A partir do Figura 21. Lagarta de Helicoverpa quarto ínstar, as lagartas apresentam tubérculos abdominais armigera. bastante visíveis na região dorsal do primeiro segmento abdominal, de coloração escura, os quais se encontram dispostos formando um semicírculo, em formato de sela (Figura 21). Quando tocadas, as lagartas apresentam um comportamento bastante peculiar, encurvando-se de modo que sua cápsula cefálica aproxime-se do primeiro par de falsas pernas, permanecendo nesta posição por algum tempo. Completamente desenvolvida, a lagarta apresenta de 30 a 40 mm de comprimento.
Foto: Alexandre Pinho de Moura
Figura 20. Ovos de Helicoverpa armigera. A – em inflorescência de tomateiro; B – na sépala e no fruto de tomate.
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Lagartas recém-eclodidas apresentam coloração branca, com cabeça marrom. Completamente desenvolvidas medem cerca de 40 a 50 mm de comprimento, possuindo coloração variável, como verde, marrom, branco-sujo e até preto, com listras longitudinais de duas a três cores. No solo, a lagarta constrói uma espécie de célula ou câmara, contendo uma galeria de saída para a superfície do solo, para a emergência do adulto, passando, em seguida, à fase de pupa. A pupa mede, em média, 20 mm de comprimento e possui coloração marrom. Foto: Alexandre Pinho de Moura
Plantas hospedeiras Ataca as culturas da abóbora, abobrinha, chuchu, melancia, melão, pepino e tomate. Injúrias As lagartas alimentam-se das folhas e causam broqueamento do fruto, destruindo parcial ou totalmente sua polpa, tornando-o imprestável para consumo.
Figura 23. Lagarta de Spodoptera frugiperda.
Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) O adulto de S. frugiperda é uma mariposa que mede cerca de 35 mm de envergadura e apresenta as asas anteriores de coloração parda-escura, enquanto as posteriores são branco-acinzentadas, com pontos claros na região central de cada asa. As fêmeas depositam seus ovos na parte superior das folhas, agrupados, formando massas de ovos de cerca de 100 ovos por vez, em camadas sobrepostas. Os ovos apresentam coloração verde-clara, passando a alaranjado quando próximos à eclosão. As lagartas chegam a medir cerca de 50 mm de comprimento (Figura 23) e apresentam comportamento de canibalismo. Completamente desenvolvida, a lagarta penetra no solo sob a planta, onde se transforma em pupa. A pupa apresenta cerca de 15 mm de comprimento e possui cor vermelha ou marrom. Plantas hospedeiras Ataca as culturas de alface, batata, cenoura, pimentão e tomate. Injúrias
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Figura 24. Injúrias causadas por lagartas de Spodoptera frugiperda. A – em folhas de tomateiro; B – em frutos de tomate.
Fotos: Alexandre Pinho de Moura
As lagartas alimentam-se das folhas (Figura 24A), também podendo causar broqueamento de frutos (Figura 24B), como no caso do pimentão e do tomate, destruindo parcial ou totalmente sua polpa e tornando-o imprestável para consumo.
Liriomyza spp. (Diptera: Agromyzidae) – moscas-minadoras
Os adultos são pequenas moscas, de coloração geral preta, apresentando manchas amareladas nas laterais do corpo, na parte inferior do abdome e no escutelo (Figura 25). O comprimento desses insetos varia de 1,5 a 2 mm. Apresentam asas translúcidas e o corpo revestido de cerdas, sendo o macho menor que a fêmea. As fêmeas depositam seus ovos endofiticamente, nas folhas de plantas hospedeiras, sendo depositado um ovo por punctura, esta chamada de punctura de oviposição. Cerca de 20% das puncturas realizadas por uma fêmea são puncturas de oviposição, enquanto as demais são realizadas para alimentação. Cada fêmea oviposita, em média, de 500 a 700 ovos, preferencialmente nas primeiras horas da manhã e nos primeiros dias de vida. Seus ovos medem aproximadamente 0,2 mm de comprimento x 0,13 mm de largura, apresentam formato elíptico e coloração branco-leitosa, transparentes.
Foto: Jorge Anderson Guimarães
No Brasil, três espécies nativas da Região Neotropical, sendo elas Liriomyza sativae, Liriomyza trifolii e Liriomyza huidobrensis, são consideradas pragas importantes de diversas culturas.
Figura 25. Adulto de mosca-minadora, Liriomyza spp.
As larvas são ápodas, cilíndricas, inicialmente de coloração branco-hialina, tornando-se amareladas com o passar do tempo. Chegam a medir cerca de 6 mm de comprimento. Transformam-se em pupas no solo, a pequenas profundidades, ou mesmo aderidas às folhas inferiores da planta hospedeira. As pupas apresentam cerca de 4 mm de comprimento, formato de barril e coloração marrom, tornando-se mais escuras à medida que envelhecem. As maiores infestações ocorrem no período seco do ano, geralmente de maio a outubro.
Vale lembrar que... Escutelo é a porção posterior do mesonoto ou do metanoto do tórax de um inseto. Endofiticamente é algo que se situa ou ocorre dentro de tecidos vegetais, ou seja, neste caso específico, as fêmeas de moscas-minadoras depositam seus ovos dentro do tecido foliar, mais precisamente no parênquima foliar.
Plantas hospedeiras Ataca as culturas de batata, berinjela, ervilha, melancia, melão, pepino, pimenta, pimentão e tomate. Também utilizam plantas daninhas como hospedeiros alternativos. Injúrias Foto: Alexandre Pinho de Moura
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Suas larvas se alimentam do parênquima foliar, construindo minas em forma de serpentina nas folhas (Figura 26); folhas severamente atacadas ficam necrosadas, secam precocemente e caem, ocasionando redução da capacidade fotossintética da planta e, consequentemente, redução na produção. Ataques severos podem causar a morte das plantas. h) Outras pragas
Figura 26. Injúrias causadas por mosca-minadora, Liriomyza spp., em folha de tomateiro.
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Agrotis ipsilon (Lepidoptera: Noctuidae) A lagarta-rosca, A. ipsilon, é considerado um inseto polífago, capaz de atacar várias culturas de importância econômica. Os adultos são mariposas que apresentam 35 mm de envergadura, asas anteriores marrons com algumas manchas pretas e, as posteriores, semitransparentes. Cada fêmea deposita, em média, cerca de 1.000 ovos, nas folhas das plantas hospedeiras. Os ovos apresentam coloração branca, de onde eclodem lagartas de coloração pardo-acinzentada escura, que podem atingir até 45 mm de comprimento. As lagartas possuem hábitos noturnos, permanecendo enroladas em abrigos no solo durante o dia, o que deu origem ao nome vulgar "lagarta-rosca". Após a fase larval, a lagarta se transforma em pupa no solo e permanece nesse estágio por cerca de 15 dias, quando então emerge o adulto. Plantas hospedeiras Dentre as hortaliças, a lagarta-rosca ataca as culturas de batata, melancia, melão, morango, pimenta e tomate, além de plantas ornamentais e diversas espécies de plantas daninhas e silvestres. Injúrias As lagartas seccionam as plantas jovens rente ao solo. Sob infestação severa, em períodos quentes e secos, torna-se necessária a realização de replantio de mudas. Entretanto, essa praga também pode causar graves injúrias em plantas maiores, alimentando-se de seus ponteiros e prejudicando seu desenvolvimento.
São besouros conhecidos vulgarmente como vaquinha, "patriota" ou "brasileirinho", que podem atacar as hortaliças ainda na sementeira, cortando as mudas, como também no campo. Essa praga caracteriza-se por ser um besouro de coloração verde com 5 a 6 mm de comprimento, de cabeça de coloração castanha, tendo em cada élitro três manchas amareladas (Figura 27). Cada fêmea pode chegar a depositar até 400 ovos. Os ovos são depositados no solo, de onde Figura 27. Adulto da vaquinha, Diabrotica eclodem as larvas, de coloração branco-leitosa, conhecidas speciosa, conhecido vulgarmente como vulgarmente como larvas-alfinete que, completamente de- “brasileirinho”. senvolvidas, medem cerca de 10 mm de comprimento. No último segmento abdominal, as larvas possuem uma placa de coloração castanho-escura, quase preta. Plantas hospedeiras A praga ataca as culturas de batata, melancia, melão e tomate. Injúrias As larvas atacam as raízes das plantas hospedeiras, enquanto os adultos se alimentam das folhas e do pólen. O ataque às folhas resulta em grande número de pequenas perfurações, reduzindo a área
Foto: Alexandre Pinho de Moura
Diabrotica speciosa (Coleoptera: Chrysomelidae) – Vaquinha
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fotossintética da planta. Altas infestações de larvas danificam as raízes e os tubérculos das plantas atacadas, enquanto adultos podem ocasionar a destruição total da parte aérea de mudas, quando o ataque ocorrer logo após o transplante e, consequentemente, comprometer a produção.
6.3 Reconhecimento dos inimigos naturais Inimigos naturais são organismos que, para completarem seu desenvolvimento, alimentam-se das pragas. Os inimigos naturais mais conhecidos são os predadores (joaninhas, vespas, bichos lixeiros, etc.), que se alimentam de inúmeros indivíduos de uma ou de várias espécies de praga. Os parasitoides pertencem à outra categoria de inimigos naturais e, em sua maioria, são vespas diminutas que se desenvolvem no interior ou sobre o corpo da praga. Além desses agentes, existem microrganismos como fungos, bactérias, vírus e nematoides, que ocasionam doenças e matam as pragas, quando estas alcançam grandes populações no cultivo. São, portanto, agentes de mortalidade natural das pragas. O uso dos inimigos naturais no controle de pragas é conhecido como controle biológico e se baseia na regulação natural das populações de insetos e ácaros que se alimentam de plantas. Dentre as diversas táticas que podem ser utilizadas no MIP, o controle biológico é considerado uma ferramenta importante, pois se baseia no uso dos inimigos naturais para manter as populações das pragas em níveis toleráveis, de maneira sustentável.
O controle biológico é considerado uma ferramenta importante, pois se baseia no uso dos inimigos naturais.
O controle biológico pode ser dividido em: Natural (conservativo) O controle biológico natural baseia-se no uso de táticas conservacionistas de controle para preservar e/ou aumentar as populações de inimigos naturais nativos, já presentes no agroecossistema, para que estes possam manter os níveis populacionais das pragas abaixo do nível de dano econômico (NDE). Aplicado (inoculativo ou inundativo)
O controle biológico aplicado baseia-se na multiplicação de inimigos naturais em biofábricas para liberações inoculativas ou inundativas, em estufas, em casas de vegetação ou mesmo no campo, no momento em que a praga começar a colonizar a cultura ou quando atingir o nível de controle (NC).
Você sabia que... Nível de Dano Econômico (NDE): é a intensidade de ataque da praga que causa prejuízos de igual valor ou superior ao custo de controle. Nível de Controle (NC): é a intensidade de ataque da praga em que se deve adotar medida adicional de controle para que não ocorra dano econômico.
O produtor pode tirar proveito do controle biológico natural preservando e maximizando a ação dos inimigos naturais já existentes no agroecossistema (controle biológico conservativo), por meio de táticas como:
• Manutenção do solo recoberto por vegetação ou por cobertura morta, por exemplo, ao se adotar o plantio direto sobre palhada de milho ou milheto (capítulo 01). • Uso de barreiras vivas nas bordaduras do cultivo (capítulo 01). • Preservação das matas nativas próximas à cultura, as quais atuam como ilhas de reposição de inimigos naturais. • Uso de inseticidas e acaricidas biológicos contendo microrganismos patogênicos às pragas. • Uso de inseticidas e acaricidas químicos seletivos aos inimigos naturais. • Aplicação seletiva de inseticidas e acaricidas químicos (pulverização apenas nos focos de infestação; produtos de ação sistêmica, aplicados na etapa de viveiro). A utilização de táticas descritas anteriormente beneficiam a ocorrência e a ação de diversos inimigos naturais das pragas nas mais variadas culturas.
Para refletir e anotar! Como avaliar se as ações adotadas de controle biológico estão sendo eficazes no manejo de pragas?
6.4 Vistoria periódica do cultivo – Monitoramento Deve-se proceder à inspeção periódica do cultivo (monitoramento) por meio da realização de amostragens, de modo a determinar a densidade populacional da(s) praga(s) na área, o que auxiliará na tomada de decisão, tendo-se por base o nível de controle (NC) existente para cada praga. A realização frequente do monitoramento, com a utilização do nível de controle, indicará o momento em que a população da praga deverá ser controlada. Durante o monitoramento, devem-se realizar inspeções em diferentes partes das plantas (folhas, ramos, flores, frutos, etc.) ou empregar armadilhas atrativas (contendo cor específica, atraente alimentar ou feromônio sexual sintético), o que permitirá conhecer a ocorrência da(s) praga(s) no cultivo e seu(s) nível(eis) populacional(ais). Recomenda-se que as inspeções no cultivo sejam realizadas, pelo menos, duas vezes por semana, de forma a identificar possíveis alterações na dinâmica populacional da(s) praga(s) na área.
Plano de amostragem A amostragem tem por objetivo verificar o nível das populações das pragas e dos inimigos naturais nos cultivos. Deve ser realizada de forma que seja:
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a)
Representativa para a área de cultivo.
b)
De fácil obtenção/execução.
c)
De baixo custo (não deve representar aumento significativo no custo de produção).
Os componentes de um plano de amostragem são os seguintes: a) Período e frequência das amostras O monitoramento deve ser realizado com maior frequência em períodos de maior incidência das pragas e de maior suscetibilidade da cultura ao seu ataque. Geralmente, em culturas hortícolas, as amostragens são realizadas semanalmente. Fatores climáticos, tais como umidade relativa do ar, temperatura, chuvas, etc., devem ser levados em consideração. b) Divisão da lavoura em subáreas Na realização do monitoramento, a área de cultivo deve ser dividida em subáreas (talhões), de forma que cada talhão apresente condição homogênea, ou seja, mesmo genótipo da cultura, plantas de mesma idade, mesmo espaçamento, mesmo sistema de condução das plantas, mesmo tipo de solo e topografia. c) Deslocamento dentro da subárea O deslocamento dentro da subárea durante a realização do monitoramento representa a forma como o agricultor deve se deslocar na área de cultivo para realizar a amostragem. O deslocamento deve ser realizado de forma que tanto as áreas internas do cultivo quanto as áreas de bordadura sejam contempladas na amostragem. d) Técnica de amostragem Trata-se das maneiras como a amostragem pode ser realizada na área de cultivo, sendo elas:
•
Armadilhas adesivas coloridas (Figuras 28B e 28C).
•
Armadilhas contendo feromônio sexual sintético.
•
Armadilhas contendo atrativo alimentar.
•
Pano de batida branco ou bandeja plástica branca, etc. Foto: Miguel Michereff Filho
A
Foto: Miguel Michereff Filho
Inspeção visual (contagem direta da população do inseto) (Figura 28A).
Foto: Alexandre Pinho de Moura
•
B
C
Figura 28. Técnicas de amostragem de pragas. A – inspeção visual; B – armadilha adesiva amarela; C – armadilha adesiva azul.
e) Número de pontos a serem amostrados Geralmente, são amostrados 20 pontos por talão ou subárea, avaliando-se cinco plantas em cada ponto amostral, totalizando 100 plantas avaliadas. Obtém-se, assim, a porcentagem de plantas infestadas e/ou o número médio de insetos por planta.
Para refletir e anotar! Aproveite este momento e, ao ler os tópicos seguintes, reflita sobre as questões apresentadas. Período de amostragem
Anote aqui!
Frequência
Anote aqui!
Divisão da lavoura
Anote aqui!
Forma de deslocamento dentro da subárea
Anote aqui!
Técnica(s) de amostragem
Anote aqui!
Número de pontos a serem amostrados
Anote aqui!
6.5 Momento de controlar a praga (tomada de decisão) Com base nos dados obtidos no monitoramento de pragas, é possível efetuar a tomada de decisão, em que são analisados todos os aspectos econômicos da cultura e a relação custo/benefício do controle de pragas.
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Uma vez determinado o nível populacional que causa o prejuízo, é necessário avaliar ainda o parasitismo e a predação, observados ao longo do programa de monitoramento, para a determinação da tendência de crescimento populacional do inseto. Com esses dados, o produtor pode analisar os custos do controle e o benefício financeiro que isso lhe proporcionará, ou seja, se o dano feito pelo inseto compensa ou não o uso de medidas de controle. Entretanto, não existem resultados de pesquisa que definam sistemas de amostragem e índices de tomada de decisão (nível de dano econômico – NDE e nível de controle – NC) para a maioria das pragas de hortaliças no Brasil. Assim, a tomada de decisão para o controle de pragas em várias hortaliças deve basear-se na constatação das pragas de relevância econômica e no monitoramento da lavoura. Alguns exemplos apresentados a seguir ilustram bem como se deve utilizar as informações obtidas no monitoramento na tomada de decisão, ou seja, quando se deve efetuar o controle da(s) praga(s) em questão.
Para refletir e anotar! Veja os exemplos e responda: o que se deve fazer se o número ou a porcentagem de pragas for maior do que o nível de controle?
Exemplo 1: Amostragem e tomada de decisão para algumas pragas da cultura do tomateiro (elaborado por Miguel Michereff Filho). Grupos de pragas Características avaliadas
Vetores de viroses1
Minadores de folhas2
Broqueadores de frutos3
Nº de pontos amostrados por talhão
20
20
20
Nº de plantas avaliadas por ponto de amostragem
5
5
5
Parte amostrada
Ponteiro da planta com"bandeja"
3a folha a partir do ápice
1a penca de frutos
Nível de controle
1 adulto/ponteiro, em média
20% de folhas minadas
5% dos frutos broqueados
1
tripes, pulgões e mosca-branca; 2 traça-do-tomateiro; 3 traça-do-tomateiro, broca-pequena e broca-grande.
Exemplo 2: Amostragem e tomada de decisão para algumas pragas da cultura do pimentão (elaborado por Miguel Michereff Filho).
Grupos de pragas Características avaliadas
Vetores de viroses1
Vaquinhas
Broqueadores de frutos2
Nº de pontos amostrados por talhão
20
20
20
Nº de plantas avaliadas por ponto de amostragem
5
5
5
Parte amostrada
Ponteiro da planta com"bandeja"
Copa da planta
2º e 3º frutos a partir do ápice
Nível de controle
1 adulto/ponteiro, em média
25% de folhas com desfolhas
5% dos frutos broqueados
1
tripes e pulgões; 2 broca-pequena e broca-grande.
Exemplo 3: Amostragem e tomada de decisão para algumas pragas da cultura do repolho (elaborado por Miguel Michereff Filho). Grupos de pragas Características avaliadas
Pulgões
Lagartas desfolhadoras1
% de pontos amostrados por talhão
15
15
NC:
15% das plantas “colonizadas”
– Pré-formação da cabeça
15% das plantas “colonizadas”
– Formação da cabeça
1
20% das plantas com lagartas pequenas 10% das plantas com lagartas pequenas
lagartas pequenas ≤ 1 cm de comprimento.
6.6 Seleção e uso planejado dos métodos de controle Caso seja necessário adotar alguma medida de controle, deve-se optar por um plano de manejo de pragas que envolva dois ou mais métodos de controle. Diversas táticas ou métodos podem e devem ser usados para auxiliar na implementação do MIP (Figura 29), dentre eles: •
O manejo do ambiente de cultivo.
•
A resistência de plantas.
•
O controle comportamental.
•
O controle biológico.
•
O controle químico.
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Manejo ambiental Consiste na aplicação do conhecimento agronômico disponível, a fim de prever possíveis prejuízos e tentar evitá-los com um programa de ações preventivas de boas práticas agrícolas. Envolve os métodos de controle cultural, a resistência de plantas a insetos e o manejo comportamental, utilizados para reduzir as populações das pragas e seus danos. São medidas profiláticas que devem ser consideradas como a primeira linha de defesa contra as pragas.
Figura 29. Bases e estrutura do manejo integrado de pragas (MIP). Adaptado de Gonzalez (1971). Elaborado por Miguel Michereff Filho.
O ambiente de cultivo pode ser manipulado para se tornar desfavorável às pragas, e isso pode ser alcançado mediante adoção de práticas que reduzam as chances de localização e colonização da planta hospedeira, promovam a dispersão dos indivíduos e afetem a reprodução e a sobrevivência dos insetos e ácaros-praga na área cultivada. Assim, recomenda-se a adoção planejada e preventiva das seguintes medidas: 1. Escolher uma área adequada para a implantação do cultivo: a área deve ser, preferencialmente, isolada de outros cultivos de hortaliças para evitar a infestação por pragas. 2. Utilizar, quando disponível, variedades resistentes às principais pragas da cultura. 3. Evitar o escalonamento de semeadura ou o transplantio da cultura, de forma a não permitir que as pragas migrem de cultivos mais velhos para cultivos mais novos. 4. Utilizar cultivares adaptadas às condições climáticas da região onde a cultura será implantada.
5. Eliminar plantas espontâneas e hospedeiras alternativas de pragas. 6. Implantar barreiras vivas (crotalária, sorgo, milho, milheto, etc.), para atuarem como quebravento e barreiras físicas, evitando que os insetos em dispersão pelo vento alcancem a área do cultivo. 7. Utilizar armadilhas adesivas, armadilhas contendo atrativo alimentar ou feromônio sexual sintético, visando ao controle das pragas. 8. Utilizar plantas-iscas associadas a um agrotóxico químico ou biológico (técnica do atrai-mata). 9. Utilizar plantas repelentes. 10. Realizar análises de solo para manejar corretamente a nutrição das plantas, a fim de evitar deficiência e/ou excesso de nutrientes na adubação, principalmente de nitrogênio, que tornam as plantas mais suscetíveis à ação de insetos sugadores. 11. Irrigar adequadamente as plantas, pois a oferta de água determinará o grau de desenvolvimento da planta, interferindo na suscetibilidade das plantas às pragas. 12. Eliminar plantas infestadas por pragas e que apresentem sintomas de viroses. 13. Associar, nas bordaduras do cultivo, a cultura principal com plantas que produzem flores, de forma que forneçam pólen e néctar para os inimigos naturais das pragas. 14. Coletar e destruir frutos atacados por pragas e os caídos sob as plantas. 15. Realizar sucessão e rotação de culturas com plantas não hospedeiras das principais pragas que ocorrem no cultivo. 16. Coletar e destruir restos de cultura. 17. Realizar manutenção de faixas de vegetação nativa nas proximidades das áreas de cultivo, de modo a atuarem como áreas de refúgio e reprodução de inimigos naturais e de espécimes de pragas suscetíveis a agrotóxicos.
Controle químico Consiste na utilização de produtos químicos (agrotóxicos) que, aplicados direta ou indiretamente sobre os insetos ou ácaros-praga, respeitando as recomendações de uso, provocam sua morte. Tem sido o principal método utilizado no controle de pragas de diversas hortaliças devido à facilidade de aquisição e de uso do produto, à facilidade de estabelecimento da relação causa-efeito, ao baixo custo inicial, à boa eficiência, etc. Entretanto, os agrotóxicos apresentam as desvantagens de não serem específicos, de terem custo elevado em longo prazo e de apresentarem-se tóxicos à espécie humana e a outros animais. Muitos agrotóxicos, porém, principalmente os mais recentemente lançados no mercado e pertencentes a novos grupos químicos, apresentam baixa persistência e, portanto, baixo risco à saúde humana e ao ambiente, desde que utilizados corretamente. Assim, quando da definição de uso do método químico no controle de pragas, alguns critérios importantes devem ser considerados na escolha e na utilização do produto, e envolvem aspectos técnicos, econômicos e ecotoxicológicos, tais como proteção do aplicador, toxicidade ao homem e ao ambiente, toxicidade às plantas cultivadas, eficiência, custo, seletividade aos organismos benéficos (inimigos naturais, polinizadores, decompositores, etc.), horário de aplicação, dosagem utilizada, período de carência,
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rotação de produtos quanto ao seu modo de ação, etc. Algumas recomendações gerais descritas a seguir devem ser consideradas quando da escolha do método químico no controle de artrópodes-praga. 1. Somente utilizar agrotóxicos registrados para o controle da praga na cultura específica. 2. Utilizar equipamentos de proteção individual (EPIs). 3. Evitar o uso de agrotóxicos de amplo espectro de ação, tais como organofosforados e piretroides. 4. Dar preferência à utilização de agrotóxicos que apresentem baixa toxicidade à espécie humana e menor impacto ambiental. 5. Dar preferência, sempre que possível, a agrotóxicos reconhecidamente seletivos a organismos benéficos. 6. Evitar a aplicação de mistura de agrotóxicos. 7. Utilizar a dosagem recomendada pelo fabricante. 8. Utilizar espalhante adesivo. 9. Utilizar agrotóxicos que não apresentem fitotoxicidez à cultura. 10. Respeitar o período de carência de cada agrotóxico. 11. Utilizar, de forma alternada, inseticidas, acaricidas ou fungicidas de diferentes grupos químicos, levando-se em consideração o modo de ação de cada produto, o estádio/estágio de desenvolvimento da praga e a fase fenológica da cultura, de modo a evitar o desenvolvimento de resistência das pragas aos agrotóxicos. Ressalta-se que o uso intensivo e indiscriminado de agrotóxicos no controle de pragas prejudica a ação dos agentes biológicos de controle, inclusive causando problemas como ressurgência de pragaschave, explosões populacionais de pragas, erupções de pragas secundárias, seleção de populações de pragas resistentes aos compostos, entre outros aspectos. Isso ocorre porque muitos agrotóxicos são mais tóxicos aos inimigos naturais do que às próprias pragas. Nesse sentido, deve-se objetivar o uso racional desses compostos e utilizá-los somente de forma emergencial, quando as populações das pragas atingirem seus respectivos níveis de controle (NC), informação esta que será obtida por meio da realização de monitoramentos periódicos dos cultivos.
Resistência de plantas a insetos A utilização de plantas resistentes é considerada uma tática ideal de manejo de pragas devido a facilidade em sua adoção, especificidade, persistência, efeito cumulativo, baixo custo, relativa harmonia com o ambiente e possibilidade de compatibilização com outros métodos de controle. Consiste na seleção e no uso de espécies, subespécies, variedades ou acessos de plantas que, devido às suas características genéticas, são menos danificadas que outras em igualdade de condições. As causas da resistência de plantas a insetos e ácaros-praga podem ser físicas, químicas e morfológicas. As causas físicas encontram-se relacionadas com diferenças no espectro de reflexão de luz pelas plantas. Já as causas morfológicas interferem mecanicamente na seleção do hospedeiro, na alimentação, na digestão e na oviposição do artrópode e manifestam-se em forma de tricomas (glandulares e não glandulares), devido à espessura da cutícula, pela presença de cera na superfície
foliar, pela presença de sílica nos tecidos vegetais, pela disposição dos órgãos nas plantas, entre outras características. As causas químicas de resistência, por sua vez, podem atuar de duas maneiras sobre os artrópodes-praga, ou seja, influenciando seu comportamento ou alterando sua fisiologia. Os fatores que interferem no comportamento das pragas podem ser atraentes, arrestantes, estimulantes ou deterrentes. Outros compostos da planta também podem atuar como inibidores de processos fisiológicos dos insetos, bem como causar-lhes intoxicação. Os mecanismos apresentados pelas plantas e que as tornam resistentes a artrópodes-praga são antibiose, antixenose (não preferência) e tolerância, as quais são descritas a seguir. a) Antibiose: nesse mecanismo de resistência, as plantas exercem efeitos adversos na biologia dos artrópodes-praga, tais como redução no peso corporal, alterações no desenvolvimento, reduções na viabilidade, na fecundidade e prolongamento do ciclo de vida. b) Antixenose: nesse caso, os artrópodes-praga apresentam menor preferência de alimentação, oviposição ou abrigo pelas plantas resistentes. c) Tolerância: para esse mecanismo de resistência, as plantas sofrem o ataque da praga, semelhantemente ao que ocorre com plantas suscetíveis (não tolerantes). Entretanto, as plantas tolerantes possuem a capacidade de suportar o ataque da praga e compensar as injúrias sofridas, sem que ocorra redução em sua produção ou alterações na biologia da praga.
Fórum Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e participe do fórum do capítulo 6 sobre pragas e métodos de controle. Neste fórum, você terá a oportunidade de trocar experiências com colegas e de contribuir com informações sobre métodos de controle utilizados por você.
6.7 Considerações finais Neste capítulo, você aprendeu sobre o MIP (Manejo Integrado de Pragas) e pode ver que, para que haja um sistema de controle de pragas eficaz e que respeite os princípios de qualidade (segurança alimentar, aparência, sabor, e proteção ao trabalhador e ao ambiente), são necessários planejamento e monitoramento constantes, conforme os princípios do MIP: 1. Reconhecimento das pragas e de suas injúrias. 2. Reconhecimento dos inimigos naturais. 3. Vistoria periódica do cultivo. 4. Momento de controlar a praga (tomada de decisão). 5. Seleção e uso planejado dos métodos (táticas) de controle. No próximo capítulo, você conhecerá mais a respeito do manejo integrado de doenças.
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Pesquise e aprenda mais! Para aprofundar seus conhecimentos, consulte os materiais de referência existentes no material de apoio e no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem). Como sugestão, responda as seguintes perguntas direcionadoras.
Questão Direcionadora
Material de Referência
Como uma praga se torna resistente a agrotóxicos? Como realizar o manejo da resistência da mosca -branca B. tabaci a inseticidas em hortaliças?
MOURA, A. P.; FILHO, M. M.; GUIMARÃES, J. A. Manejo da resistência da mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae) a agrotóxicos utilizados em hortaliças. Brasília, DF: Embrapa, 2013. (Embrapa. Circular Técnica, 114).
O que é transição agroecológica? Quais os cuidados com o manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica?
FILHO, M. M. et al. Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica. Brasília, DF: Embrapa, 2013. (Embrapa. Circular Técnica, 119).
Descreva métodos alterativos para o controle de pragas em hortaliças.
Métodos alternativos de controle de pragas em hortaliças http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2007/metodos-alternativos-de-controle-de-pragas-em-hortalicas Vídeos no material de apoio: • MetAlternContPragasHortaliças1 • MetAlternContPragasHortaliças2
Por que e quando usar os sistemas de cultivo protegido?
Cultivo protegido de hortaliças http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2003/cultivo-protegido-de-hortalicas/?searchterm=pragas Vídeo no material de apoio: • CultivoProtegidoHortaliças
Como determinadas bactérias podem ser utilizadas no combate a lagartas?
Combate a lagartas em culturas agrícolas http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programacao/2009/combate=-a-lagartas-em-culturas-agricolas/?searchtermpragas Vídeos no material de apoio: • CombateLagartasEmCulturasAgrícolas_1 • CombateLagartasEmCulturasAgrícolas_2
Quais são os benefícios dos defensivos alternativos? Quais formulações biológicas podem ser utilizadas para o controle de pragas?
Biofertilizantes e defensivos naturais para controle de pragas. http://hotsites.sct.embrapa.br/diacampo/programação/2011/biofertilizantes-e-defensivos-naturais-paracontrole-de-pragas/?searchterm+pragas
Atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) http://capacitacao.sede.embrapa.br/ Acesse o ambiente virtual de aprendizagem e responda as atividades propostas para este capítulo.
Capítulo
Ricardo Borges Pereira Jadir Borges Pinheiro Foto: Ricardo Borges Pereira
6 7
Manejo Integrado de Doenças
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • Identificar as principais doenças fúngicas em hortaliças. • Aplicar técnicas para a prevenção e o manejo da ocorrência de doenças fúngicas em hortaliças. • Identificar os nematoides quanto a morfologia, biologia, danos e sintomas em hortaliças. • Aplicar técnicas de manejo de nematoides presentes em culturas de hortaliças.
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7.1 Ciclo de doenças nas plantas As doenças são entendidas como alterações no funcionamento de células e tecidos das plantas hospedeiras, que resultam da irritação contínua por um agente patogênico (fungos, bactérias, vírus ou nematoides) ou por fatores ambientais (estresse hídrico, temperatura, vento, ferimento, etc.), que ocasionam o desenvolvimento de sintomas. Contudo, para que uma determinada doença ocorra, é necessária a presença do patógeno, do hospedeiro suscetível e de condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento desse patógeno (Figura 1).
Figura 1. Componentes do triângulo das doenças em plantas.
As doenças em plantas são diagnosticadas pelos sintomas aparentes e pelos sinais do patógeno presente no hospedeiro (micélio, esporos e demais estruturas). Há situações em que os sintomas da doença aparentes são suficientes para a identificação do agente causal. Em outros casos, os sintomas não são característicos a nenhuma doença em particular, podendo ser associados a diferentes causas. É o caso, por exemplo, de murchas, cancros, cloroses, podridões e necroses, que podem ser causados por diferentes patógenos. Nessa situação, é necessário um exame detalhado da planta doente, bem como outras informações sobre a cultivar e as condições de cultivo. Observações ao microscópio do material doente, na busca de estruturas do patógeno (sinais) são complementares ao diagnóstico da doença. Dependendo do tipo de sintoma apresentado nas plantas, os patógenos podem ser classificados, de modo geral, em: • Patógenos de parte aérea – fungos e bactérias causadores de manchas foliares e podridões de frutos e viroses. Exemplos: Alternaria spp., Septoria spp., Cercospora spp., Corynespora spp., Oidium spp., Xanthomonas spp., Peronospora destructor, Pseudoperonospora cubensis, Colletotrichum spp., Bremia lactucae, entre muitos outros. • Patógenos de solo – fungos e bactérias causadores de murchas, tombamento e podridões; fungos e nematoides causadores de podridões de raízes; e nematoides causadores de galhas. Exemplos: Phytophthora spp., Pythium spp., Rhizoctonia, Sclerotinia sclerotiorum, Sclerotium spp., Verticillium spp., Fusarium spp., Stemphylium spp., Pyrenochaeta terrestris, Septoria spp., Dydimella bryoniae, Plasmodiophora brassicae, Ralstonia solanacearum, Clavibacter michiganensis, Pectobacteria spp., entre muitos outros.
O desenvolvimento de doenças contempla uma série de eventos sucessivos e ordenados, incluindo sobrevivência, disseminação, infecção, colonização e reprodução dos patógenos, e é conhecido como ciclo das relações patógeno-hospedeiro, ou simplesmente ciclo da doença (Figura 2). Doenças causadas por patógenos de solo apresentam somente o ciclo primário e são denominadas doenças monocíclicas, enquanto doenças causadas por patógenos de parte área, com exceção dos carvões, apresentam o ciclo primário e, na sequência, vários ciclos secundários, denominadas doenças policíclicas.
Figura 2. Fases do ciclo das relações patógeno-hospedeiro.
Para entender melhor como as doenças policíclicas ocorrem, segue o ciclo da pinta preto do tomateiro (Figura 3).
Figura 3. Ciclo de vida de Alternaria sp., agente causal da mancha-de-Alternaria em tomateiro.
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Foto: Ailton Reis
A sobreposição de ciclos de infecção como o desenvolvimento de várias gerações do patógeno é denominada epidemia. O início da epidemia no campo é marcado pelo aparecimento da primeira lesão em uma planta hospedeira. Os eventos envolvidos na produção dessa primeira lesão representam o ciclo primário, e o primeiro processo desse ciclo corresponde à sobrevivência do inóculo em um determinado local, este designado fonte de inóculo. Assim, para que uma doença não se estabeleça na lavoura, é necessário eliminar todas as possíveis fontes de inóculo.
Figura 4. Sintomas de Antracnose em frutos de morango causados pelo fungo Colletotrichum sp.
Epidemia: sobreposição de ciclos de infecção com o desenvolvimento de várias gerações do patógeno.
O inóculo, por vezes, pode estar presente no solo, em restos de plantas cultivadas no campo, em sementes e em órgãos de propagação vegetativa (ramas, tubérculos e mudas, etc.). Outras vezes, pode estar presente em fontes externas, como lavouras próximas ou localizadas a alguns quilômetros de distância. Plantas daninhas dentro e nos arredores da área de cultivo também podem hospedar patógenos entre uma estação de cultivo e outra. Fungos, bactérias e nematoides podem produzir seu inóculo sobre a superfície de plantas infectadas ou no interior destas (Figura 4). Já os vírus produzem seu inóculo no interior das plantas e podem ser transmitidos, de uma planta a outras, por meio de insetos e ácaros vetores ou de enxertias.
Inóculo é o patógeno ou são partes deste capazes de causar infecção quando em contato com o hospedeiro. Exemplo: esporos e hifas de fungos, células bacterianas, partículas virais, ovos, juvenis ou nematoides adultos.
Desafio Você sabe responder às seguintes perguntas? • Quais são as medidas de proteção contra doenças antes e durante o plantio? • Quais as principais técnicas para o controle de doenças presentes em hortaliças? • Qual a relevância dos nematoides para o cultivo de hortaliças? • Quais são as principais técnicas para o manejo de nematoides? Encontre estas ou outras respostas ao longo deste capítulo.
7.2 Métodos de controle cultural de doenças A primeira e fundamental medida de controle consiste em impedir ou retardar a entrada dos patógenos na área. Sempre que possível, optar por áreas livres de patógenos, principalmente no solo. Uma vez infestado, é quase impossível sua erradicação. Os patógenos, quando ainda não estão presentes nas áreas de cultivo no solo ou em restos culturais (fontes de inóculo), podem ser introduzidos de forma negligente por meio de: • Máquinas e ferramentas utilizadas em solos contaminados. • Sementes/mudas contaminadas. • Água utilizada na irrigação, quando contaminada pelo escoamento de enxurradas oriundas de áreas infestadas. • Vento e insetos vetores de viroses. Assim, antes de iniciar o cultivo de hortaliças, é essencial obter informações sobre o histórico de doenças que ocorreram na área em anos anteriores e sobre os riscos de introdução de patógenos durante a implantação e o cultivo de hortaliças. Muitos patógenos podem sobreviver no solo por anos mesmo na ausência do hospedeiro, vindo a causar prejuízos em plantios futuros. Portanto, para ter sucesso no cultivo de hortaliças, é imprescindível fazer o planejamento de cada etapa do processo de produção, visto que a prevenção é a melhor e mais eficiente forma de controle de doenças. Assim, o primeiro passo é a escolha da cultura.
O que plantar? Ao decidir que hortaliça plantar, o agricultor deve se informar previamente sobre quais as principais doenças que ocorrem na cultura e acerca de qual a possibilidade de que essas ocorram no seu plantio, levando em conta o histórico da área. Além disso, o agricultor deve buscar informações sobre a forma de transmissão, disseminação e quais as condições favoráveis às doenças que põem em risco sua produção. Essas informações podem ser obtidas com a experiência do agricultor, por meio de um técnico especialista ou na literatura.
Atenção! Obter informações de fontes confiáveis e recomendadas é fundamental para orientá-lo no momento da escolha da cultura a ser plantada.
Quando plantar? A maioria das doenças foliares e de solo ocorre no período chuvoso, visto que fungos e bactérias necessitam de molhamento foliar para germinar e penetrar nos tecidos do hospedeiro, respectivamente. Plantios realizados no período chuvoso ou irrigados de forma excessiva estão mais sujeitos ao ataque de patógenos causadores de manchas foliares e podridões de fruto, flores e raízes (Figuras 5 e 6). Os patógenos de modo geral sobrevivem e se reproduzem de forma rápida na presença de umida-
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Foto: Ricardo B. Pereira
de, seja nos tecidos do hospedeiro, em restos culturais ou no solo. Dessa forma, algumas hortaliças, durante o período chuvoso, são cultivadas em ambientes protegidos (estufas), o que desfavorece a ocorrências de algumas doenças. Foto: Ricardo B. Pereira
Figura 5. Sintomas da mancha-de-Alternaria em tomateiro."
Figura 6. Sintomas de cercosporiose em alface.
Por outro lado, plantios realizados no período seco ou em ambientes protegidos podem favorecer a ocorrência de outras doenças, como o oídio em solanáceas (tomate e pimentão) e cucurbitáceas (melão) (Figura 7). Fotos: Ricardo B. Pereira
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Figura 7. Sintomas de oídio em tomateiro (A e C), pimentão (B) e em meloeiro (D).
Onde plantar? Locais onde há possibilidade de acúmulo de umidade e ventos fortes e constantes são mais propensos à ocorrência de doenças fúngicas e bacterianas. Em geral, patógenos de solo são favorecidos pelo acúmulo de umidade no solo, como Phytophthora capsici, agente causal da podridão de raízes em abóbora, pimentão e pimentas. Outros, como Phytophthora infestans, agente causal da requeima em tomate (Figura 8) e batata, são favorecidos pela alta umidade relativa ao ar ou à neblina formada em áreas de baixada.
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Figura 8. Sintomas de podridão de fitóftora em frutos de abóbora (A) e da murcha-de-Verticílio (B) e requeima do tomateiro (C).
Plantios realizados próximos a lavouras velhas estão sujeitos a maior ocorrência de doenças, visto que muitos patógenos são comuns a determinadas culturas, podendo ser disseminados através do vento ou por insetos vetores, atingindo plantios próximos. Uma alternativa para evitar a entrada de patógeno na área é isolá-la com barreiras vegetais. Esse sistema é muito utilizado por agricultores orgânicos.
Barreiras vegetais
Fotos: Ricardo B. Pereira
O plantio de barreiras vegetais ao redor da área de cultivo propicia o isolamento da área contra insetos e ácaros transmissores de viroses, e dificulta a disseminação de patógenos por meio do vento. As barreiras podem ser formadas com o plantio de algumas gramíneas de maior porte, como milho e sorgo, cana-de-açúcar, mandioca, bananeiras, capim-colonião, árvores e arbustos (Figura 9).
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Figura 9. Barreiras vegetais utilizadas para o isolamento da área de produção contra a entrada de patógenos e vetores.
O que fazer se o solo já estiver contaminado com patógenos? Em áreas infestadas, a rotação de culturas e a destruição e a incorporação dos restos culturais são indicadas para a redução do inóculo inicial de patógenos de solo e de parte aérea causadores de manchas foliares e viroses. A solarização e o controle biológico com microrganismos antagonistas são indicados para a redução do inóculo inicial de patógenos de solo, causadores de murchas, tombamento e podridão de raízes.
Rotação de culturas Consiste em alternar, anualmente, espécies vegetais, numa mesma área agrícola (Figura 10). Primeiramente, é necessário identificar o patógeno presente na área para a recomendação de uma
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Fotos: Ricardo B. Pereira
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Fotos: Ricardo B. Pereira
cultura que não seja hospedeira. Em geral, gramíneas como milho, sorgo, milheto e arroz são boas opções para a rotação. Dependendo do patógeno, tal como a bactéria Ralstonia solanacearum, para ter uma redução satisfatória do inóculo, são necessários de dois a cinco anos de rotação com plantas não hospedeiras. Nos casos de patógenos de solo que formam estruturas de resistência, como os fungos Verticillium spp. (microescleródios), Fusarium spp. (clamidósporos), Sclerotinia spp. e Sclerotium spp. (microescleródios), são necessários maiores períodos de rotação, pois, na ausência de plantas hospedeiras, esses patógenos podem permanecer viáveis no solo por mais de 10 anos.
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Figura 10. Rotações de cultura em casa-de-vegetação com couve-flor (A) e, em campo, com milheto (B).
BIBLIOTECA - Veja na biblioteca do capítulo 7, (no material de apoio ou no AVA): • Áudio – Rotação de culturas (arquivo rotacao_culturas. mp3). Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/programacao/2006/manejo-da-cultura-do-guarana/?searchterm=rota%C3%A7%C3%A3o%20culturas
Destruição e incorporação de restos de cultura Muitos patógenos permanecem viáveis em restos de cultura (Figura 11), servindo como fonte de inóculo para os próximos cultivos. Assim, a destruição e a incorporação desses resíduos logo após a colheita com grade ou arado são estratégias simples e relevantes para a redução do inóculo. A limpeza dos arredores da lavoura também é importante, pois visa eliminar possíveis fontes de inóculo presentes em restos de culturas e plantas daninhas hospedeiras de patógenos. Quanto maior for o grau de infestação, mais prolongado deve ser o período de rotação. Fotos: Ricardo B. Pereira
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Figura 11. Restos culturais dos cultivos de pimentão em ambiente protegido (A) e cenoura em campo (B).
Solarização do solo É indicada para pequenas áreas, principalmente em regiões quentes e de alta radiação solar para o controle de patógenos de solo (Fusarium spp., Sclerotinia spp., Sclerotium spp., Verticillium spp., Phytophthora spp., Pythium spp., Rhizoctonia solani e nematoides), pragas e plantas infestantes por meio do aquecimento do solo via uso da energia solar, podendo ser utilizada tanto em campo como em cultivo protegido. Essa prática consiste em cobrir o solo úmido com uma camada de lona transparente, geralmente de polietileno (50 a 100 µm), permitindo a entrada dos raios solares que promovem o aquecimento do solo nas camadas mais superficiais (Figura 12).
Foto: Marco A. Lucini
A eficiência e a temperatura do solo reduzem com a profundidade, mas efeitos positivos são obtidos com a cobertura do solo por um período de três a oito semanas, condições em que chega a atingir de 35 a 50°C até os 30 centímetros de profundidade, dependendo do tipo de solo. Em geral, 40 dias de sol são suficientes.
ºC
100 Eliminação de vírus mais tolerantes 90
80
Eliminação da maioria dos vírus, insetos e bactérias mais tolerantes
70 Eliminação da maioria dos fungos e bactérias 60
50
Eliminação de esporos de Phytophthora e Pythium
40
Figura 12. Solarização do solo em áreas de produção de alho contaminadas com Sclerotium cepivorum.
A solarização também é empregada na desinfestação de substratos para a produção de mudas. Para essa finalidade, foi desenvolvido um coletor solar que consiste, basicamente, de uma caixa de madeira com tubos metálicos de 15 cm de diâmetro (geralmente, tubos de irrigação de alumínio) e uma cobertura de plástico transparente, que permite a entrada dos raios solares. O solo é colocado nos tubos pela abertura superior e, após o tratamento, retirado pela abertura inferior (Figura 13). Os coletores devem ser instalados com exposição na face norte e um ângulo de inclinação semelhante à latitude local acrescida de 10°.
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Alguns patógenos habitantes do solo podem ser inativados no coletor em algumas horas de tratamento, em razão das altas temperaturas atingidas (70 a 80 °C), porém recomenda-se o tratamento por um ou dois dias de radiação plena. Diferentemente da solarização do solo, o coletor solar pode ser utilizado durante todas as épocas do ano, exceto em dias chuvosos.
Figura 13. Coletor solar para a esterilização de substrato para a formação de mudas.
BIBLIOTECA: Veja na biblioteca do capítulo 7, (no material de apoio ou no AVA): • Documento - GHINI, Raquel. Coletor Solar para Desinfestação de Substratos para Produção de Mudas Sadias. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2004. 5 p. Circular Técnica 04. (arquivo ct_04.pdf).
Eliminação de tigueras e plantas daninhas hospedeiras Assim como os restos de cultura, as tigueras e as plantas daninhas também podem hospedar patógenos comuns à cultura e servir como fontes de inóculo para cultivos sucessivos. Portanto, recomenda-se a eliminação dessas plantas por meio de arranquio e destruição, no caso de patógenos de solo, ou por meio da incorporação dessas plantas ao solo, no caso de doenças foliares.
Tigueras Plantas da cultura que nascem e se desenvolvem de forma involuntária no campo.
Uso de sementes, mudas e substratos livres de patógenos A utilização de sementes e mudas sadias é essencial, visto que muitos patógenos podem estar associados a estas, vindo a causar prejuízos futuros com a infestação de novas áreas e aumento do inóculo inicial em áreas já infestadas. Assim como as sementes e mudas, os substratos e matérias-primas para sua formulação devem ser de boa qualidade e livres de patógenos, adquiridos sempre de empresas idôneas. Cascas de arroz poderão ser utilizadas somente na forma carbonizada, para evitar a contaminação do substrato. As bandejas e as bancadas utilizadas na produção de mudas devem ser lavadas e desinfestadas com solução de hipoclorito de sódio a 2,0% ou com sulfato de cobre na concentração de 0,5%, para evitar a contaminação das mudas.
Adubação equilibrada A adubação equilibrada de mudas e plantas adultas contribui para a sanidade destas, pois uma planta equilibrada nutricionalmente apresenta maior resistência a doenças, devido à capacidade de resposta à infecção pelos patógenos (teoria da trofobiose). No caso da adubação orgânica, podem-se
utilizar diferentes fontes, ou mesmo realizar a compostagem de resíduos orgânicos, o que contribui para a eliminação de eventuais contaminações do substrato por patógenos, pragas e plantas daninhas. Em geral, aplicações de fósforo, cálcio e potássio predispõem a planta à maior tolerância ao ataque de patógenos. Por outro lado, aplicações excessivas de nitrogênio podem favorecer a incidência de doenças fúngicas e bacterianas.
Na adubação orgânica, podem-se utilizar diferentes fontes, ou mesmo realizar a compostagem de resíduos orgânicos.
Densidade de plantio adequada Em geral, maiores espaçamentos entre linhas e entre plantas promovem a aeração da cultura, tornando o ambiente menos favorável à ocorrência de doenças. Além disso, o maior espaçamento pode dificultar a disseminação de fungos e bactérias entre as plantas.
Cobertura do solo com palhada A cobertura do solo contribui para a redução da disseminação das doenças, pois evita que respingos da chuva ou irrigação carreguem patógenos de solo para a parte aérea da planta. Além de promover o solo úmido por mais tempo e minimizar a amplitude térmica do solo entre o dia e a noite.
Cultivo sucessivo e consorciado, e o policultivo de espécies vegetais A sucessão de culturas consiste no plantio de uma cultura logo após a outra na mesma área e ano, enquanto a consorciação de culturas retrata O policultivo dificultará um sistema intermediário entre a monocultura e as condições de vegetaa disseminação do patógeno na área e ção natural, na qual coabitam duas ou mais espécies numa mesma área, evitará a ocorrência de por um determinado período de tempo. O policultivo é definido como epidemias nas culturas. o cultivo de duas ou mais espécies simultaneamente na mesma área, com a intensificação do manejo de ambas nos mesmos tempo e espaço. No policultivo, há competição entre as espécies durante uma parte ou todo o período de cultivo. Os sistemas de policultivo de hortaliças apresentam vantagens produtivas ao agricultor quando bem planejados e manejados. Ao escolher as espécies a serem cultivadas, o produtor deve optar por culturas que não sejam hospedeiras dos mesmos patógenos. Dessa forma, o policultivo dificultará a disseminação do patógeno na área e evitará a ocorrência de epidemias nas culturas.
Para refletir e anotar! Reflita e responda as questões abaixo, destacando suas respostas nos parágrafos anteriores.
1. Quais das medidas de prevenção de doenças citadas você já observou na sua região? 2. Quais das práticas apresentada podem ser aplicadas a curto, médio e longo prazo na sua região?
Manejo adequado da irrigação A água é essencial para o estabelecimento dos patógenos na cultura. Quando há a formação de um filme de água sobre a superfície da folha e aumenta a umidade relativa do ar, cria-se a condição
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ideal para o estabelecimento da maioria dos patógenos. Dessa forma, as irrigações subsuperficial ou localizada, como o gotejamento, muitas vezes são mais recomendáveis que a aspersão. A irrigação por aspersão pode contribuir para a disseminação de fungos e bactérias para plantas vizinhas ou para outras partes da planta, através de respingos e aumento da umidade relativa dentro da cultura. Contudo, em culturas nas quais ocorre grande incidência de oídios, a aspersão pode contribuir para o controle da doença, pois promove a remoção do fungo e seus esporos da superfície da folha. No caso de outros fungos de parte aérea e bactérias, recomenda-se que as irrigações sejam realizadas preferencialmente pela manhã, com lâminas mais pesadas e menos frequentes, o que permite a completa secagem da folhagem antes do período noturno.
Fotos: Daniel B. Zandonadi
A irrigação por sulco também pode ser utilizada. No entanto, quando há patógenos do solo, como Ralstonia solanacearum, Pectobacteria spp., Rhizoctonia solani, Fusarium spp., Verticillium spp., Phytophthora spp., Pythium spp., nematoides, entre outros, esta deve ser evitada, pois promove a disseminação dos patógenos na lavoura (Figura 14).
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Figura 14. Sistema de irrigação por sulco (A) e aspersão (B).
A irrigação, quando praticada em excesso, também é maléfica, pois determina o encharcamento do solo e cria um ambiente mais favorável à ocorrência de fungos de solo capazes de causar o tombamento das plantas (damping-off) e as podridões de raízes e do colo. Míldios, oídios e podridões causadas por Botrytis sp. também estão diretamente relacionados com o aumento da umidade relativa e a presença de água livre nos tecidos vegetais, oriundas do manejo incorreto do sistema de irrigação (Figura 15). Fotos: Ricardo B. Pereira
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Figura 15. Plantas de tomateiro infectadas com Ralstonia solanacearum (A) e plantas de abóbora infectadas com Phytophthora capsici.
Eliminação de insetos e ácaros vetores de viroses Alguns insetos, como mosca-branca, tripes e pulgões, e ácaros, podem transmitir viroses às culturas, constituindo uma importante fonte de inóculo. Assim, além de se fazer o controle dos vetores, é importante eliminar as plantas com sintomas de viroses dentro da lavoura.
Práticas culturais que podem disseminar patógenos O manejo cultural das hortaliças, se realizado de forma inadequada, pode promover a disseminação de patógenos na área e de doenças para outras plantas. Ao utilizar ferramentas ou implementos agrícolas em diferentes áreas, recomenda-se a lavagem e a desinfestação destes para evitar a disseminação de nematoides, bactérias e fungos de solo, de uma área contaminada para outra não contaminada. Patógenos causadores de murchas vasculares e viroses podem ser eficientemente transmitidos de uma planta para outra mediante ferramentas de corte utilizadas nas operações de poda, desbrota, amarração e colheita. Nesse caso, recomenda-se a desinfestação das ferramentas agrícolas, especialmente facas e tesouras de poda, com solução de hipoclorito de sódio (1,0 a 1,5%). Se a doença ocorrer, mesmo com a adoção de todas as medidas sugeridas anteriormente, restam as medidas emergenciais de controle, que devem ser praticadas logo após a ocorrência da doença, ou seja, após a observação dos primeiros sintomas. Contudo, para maior eficiência de controle, fazse necessária a correta identificação da doença. Se constatados incidência de murchas, tombamento de plantas, podridão de raízes e viroses, recomenda-se como controle emergencial a retirada e a eliminação das plantas doentes da área de cultivo (roguing) para evitar a disseminação do patógeno e o seu estabelecimento em outras plantas. Caso ocorram doenças foliares, recomenda-se a aplicação de calda bordalesa e calda sulfocálcica. Em determinadas situações, quando as doenças são constantemente observadas na área, deve ser realizar novas aplicações, a depender do patógeno e da cultura, para evitar que as doenças atinjam o nível de dano econômico. O intervalo de aplicação pode ser determinado pelo produtor, mediante o monitoramento da doença no campo. Quando a doença ocorre com frequência em determinadas épocas e fases da cultura, pode-se fazer a aplicação de forma preventiva. Nível de dano econômico – É a densidade populacional de um patógeno, capaz de causar um prejuízo (dano econômico) de igual valor ao seu custo de controle. Essa densidade pode ser determinada pela quantificação da doença na cultura.
Eliminação de plantas doentes (roguing) A eliminação de mudas, plantas ou partes de plantas doentes da área de produção consiste numa medida importante para a redução do inóculo e a disseminação de doenças, principalmente para fungos e bactérias de solo. Ao remover as plantas doentes, sempre utilizar sacos plásticos para evitar que o patógeno se espalhe pela área. Além disso, estas devem ser queimadas ou enterradas. O mesmo procedimento deve ser feito com plantas daninhas que venham a apresentar sintomas da doença. Plantas infectadas por viroses, cultivadas ou infestantes, constituem importantes fontes de inóculo de vírus para a cultura, o qual pode ser transmitido e disseminado por insetos e ácaros (Figura 16).
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Figura 16. Plantas de tomateiro infectadas com Ralstonia solanacearum (A) e viroses (B).
Controle biológico O controle biológico de patógenos pode ser utilizado no manejo integrado de doenças com o uso de outros microrganismos. Atualmente, estão disponíveis no mercado diversos microrganismos antagonistas e competidores. Dentro do contexto da integração dos métodos de prevenção e controle, o controle biológico deve ser sempre considerado como alternativa, respeitando suas limitações e exigências, como o equilíbrio entre todos os organismos presentes no ambiente e suas inter-relações. O estabelecimento de antagonistas no solo pode constituir o caminho final para tornar o solo supressivo e, dessa forma, diminuir a população de patógenos.
Patógenos de solo e do sistema radicular podem ser controlados após o estabelecimento de microrganismos antagonistas e competidores que atuam na destruição dos propágulos de fungos; na prevenção do estabelecimento do inóculo no solo ou na destruição do inóculo presente em resíduos infestados, com a redução do vigor e da virulência dos patógenos.
Para que a aplicação de um ou mais antagonistas ou competidoAtenção! res tenha eficiência na redução, é necessário que esse processo se dê Plante os antagonistas e comantes do início do ciclo da doença e com tempo suficiente para que petidores com antecedência! o antagonista ou competidor se estabeleça no solo. O manejo de Assim, quando o ciclo da doenpráticas agrícolas, tais como enterro de resíduos culturais, rotação de ça se iniciar, os mesmos estarão culturas, época e profundidade de semeadura, manejo da fertilizadesenvolvidos para atuar contra a doença. ção e da irrigação, podem favorecer o controle biológico pela criação de um nicho ótimo para os agentes de controle biológico e ruim para os patógenos, com aumento da resistência da planta e redução do inóculo presente no solo.
Fórum Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e participe do fórum do capítulo 7 para saber quais são os principais produtos de controle biológico utilizados na sua região.
Na produção de mudas de hortaliças os antagonistas podem ser misturados ao substrato antes do plantio. Em canteiros ou covas os microrganismos podem ser incorporados ao solo ou aplicados em pulverização ou rega durante o preparo da área de transplantio. Também podem ser usados no tratamento de sementes ou aplicados via pulverização no sulco de plantio. Pode ser ainda aplicados via fertirrigação em diversos cultivos, ou via irrigação por pivô.
No Brasil, diversos produtos têm sido recomendados para o controle de patógenos, que incluem Fusarium spp., Pythium spp., Rhizoctonia solani, Sclerotinia sclerotiorum, Sclerotium rolfsii e Botrytis cinerea nas culturas de morango, tomate, cebola, alho, etc. A grande maioria dos produtos comercializados são a base do fungo Trichoderma spp., podendo ser empregados de várias maneiras, dependendo da cultura e dos patógenos.
Controle Genético
Fotos: Ricardo B. Pereira
A aquisição de cultivares resistentes ou tolerantes a doenças, quando possível, é uma das formas mais eficientes de controle de doenças, por ser mais viável economicamente e não contaminar o meio ambiente com produtos químicos. Algumas hortaliças não possuem cultivares resistentes ou tolerantes disponíveis comercialmente, porém, outras, como cenoura (Figura 17), tomate, pimentão, pimentas, melão, abóboras, batata, já possuem cultivares disponíveis no mercado contra vários patógenos.
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Figura 17. Plantas de cenoura suscetíveis e resistentes à queima-das-folhas (A) e plantas de cebola suscetíveis e resistentes à mancha-púrpura (B).
Considerando que: Suscetibilidade: a incapacidade de uma planta para resistir ao efeito de um agente patogênico. Resistência: a capacidade de um organismo de excluir ou superar, completamente ou em determinado grau, o efeito de um agente patogênico. Tolerância: a capacidade de uma planta suportar os efeitos de uma doença sem morrer ou sofrer lesões graves, ou perda da produtividade.
Controle químico
Atenção!
O controle químico pode ser realizado de forma preventiva com a aplicação de calda bordalesa, calda sulfocálcica, cúpricos, enxofre e fungicidas protetores, e de forma curativa, com a aplicação de fungicidas sistêmicos. A solução de leite de vaca cru de 5,0 a 10,0% pode ser utilizada no controle de oídios em pepino e abobrinha.
Para doenças de solo, não se recomenda a aplicação de fungicidas, uma vez que não apresentam controle satisfatório e não são viáveis economicamente.
Os fungicidas, de modo geral, são utilizados para o controle de doenças foliares, podridão de frutos, oídios, míldios, ferrugens e no tratamento de sementes. Os fungicidas cúpricos também são indicados para o controle de bactérias causadoras de manchas foliares. Apenas produtos registrados, tanto para a doença quando para a cultura, podem ser recomendados para a aplicação, lembrando
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que devem ser aplicados conforme as recomendações do fabricante, que constam na bula dos produtos. Em hortaliças, existe poucos fungicidas registrados, o que torna o controle cultural, apresentado acima, de extrema importância. BIBLIOTECA: - Veja na biblioteca do capítulo 7, (no material de apoio ou no AVA). • Documento - Leite de Vaca Cru para o Controle de Oídio (arquivo comunicado_14.pdf).
Calda bordalesa É um excelente fungicida utilizado no controle de várias doenças fúngicas (míldio, ferrugem, requeima, pinta preta, cercosporiose, antracnose, manchas foliares, podridões, entre outras) em diversas culturas, com efeito secundário contra bacterioses. Tem também efeito repelente contra alguns insetos, tais como: cigarrinha verde, cochonilhas, tripes e pulgões. Recomenda-se a aplicação preventiva da calda bordalesa, ou seja, antes da ocorrência da doença ou logo após a verificação dos primeiros sintomas. A calda é pouco tóxica, contudo recomenda-se utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) para a aplicação. As aplicações devem ser repetidas conforme o progresso da doença, tomando-se cuidado para não intoxicar a planta. As pulverizações devem ser realizadas nas horas mais frescas do dia, como início da manhã e final da tarde. Em plantas novas, ou em brotação ou floração, recomenda-se diluir a calda bordalesa para a concentração de 0,5% para evitar riscos de intoxicação. Em tomateiro, recomendam-se aplicações quinzenais para o controle da mancha bacteriana e de outras doenças foliares. Se houver dúvida, recomenda-se aplicar a calda bordalesa em pequenas áreas da cultura que será tratada como teste para verificar se ocorre ou não fitotoxidade. BIBLIOTECA: veja na biblioteca do capítulo 7, (no material de apoio ou no AVA): • Áudio - Alternativas caseiras para o controle de pragas e doenças das hortaliças (arquivo alternativas_caseiras_controle_pragas_doencas_hortalicas.mp3). Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/programacao/2014/cultivo-de-hortalicas-com-irrigacao-por-gotejamento-e-fertirrigacao/?searchterm=gotejamento
• Documento – Como Fazer: Calda bordalesa (arquivos C6_CF_01a.pdf e C6_CF_01b.pdf)
Calda sulfocálcica É um excelente fungicida à base de enxofre em pó e cal virgem, utilizado para o controle de ferrugens em alho e cebola, oídios e antracnoses. As aplicações devem ser realizadas preventivamente nas horas mais frescas do dia, como início da manhã e final da tarde. Deve-se evitar a aplicação durante a florada e em dias muito quentes ou abafados, pois pode queimar as plantas. Para controlar a ferrugem do alho e da cebola, e do oídio em quiabo, utiliza-se 1,0 litro de calda pronta em 50 litros de água. A pulverização pode ser realizada em intervalos de 10 a 15 dias após o plantio. Não se recomenda a aplicação da sulfocálcica em curcubitáceas (abóbora, pepino, melancia e melão), pois são muito sensíveis ao enxofre. BIBLIOTECA: veja na biblioteca do capítulo 7, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Como Fazer: Calda Sulfocálcica (arquivo C6_CF_02.pdf).
Fungicidas cúpricos, protetores ou de contato São aplicados antes do aparecimento da doença ou quando constatados os primeiros sintomas desta. Esses são efetivos somente se aplicados antes da penetração do patógeno nos tecidos do hospedeiro, e atuam impedindo ou reduzindo as chances de ocorrência da doença. Quando são aplicados à superfície dos órgãos vegetais, exercem uma barreira tóxica, prevenindo a penetração de fungos pela inibição do processo da germinação dos esporos. Em geral, os fungicidas protetores são aplicados em menores intervalos, e utilizados em maiores concentrações. As principais características desses fungicidas são: • Agem em vários pontos do metabolismo celular dos patógenos, afetando um grande número de processos vitais. • Não penetram nem atuam sistematicamente dentro das plantas. • Apresentam baixa estabilidade; são passíveis de lixiviação pela chuva ou irrigação por aspersão. • Apresentam menores riscos de seleção de patógenos resistentes.
Fungicidas sistêmicos ou curativos São aplicados após o aparecimento da doença. As principais características desses fungicidas são: • Agem de maneira específica, inibindo preferencialmente um ou poucos processos vitais do patógeno. • São absorvidos localmente no órgão tratado, a maioria pelo xilema e outros pelo floema, e atuam sobre o patógeno já estabelecido. • São mais seletivos e restritos a um determinado grupo de patógenos. • Apresentam reduzida perda por lixiviação. Em geral, os fungicidas sistêmicos são aplicados em maiores intervalos de aplicação e utilizados em menores concentrações. Como desvantagem, apresentam risco de seleção de patógenos resistentes. Contudo, esse risco pode ser minimizado com a aplicação de fungicidas de diferentes modos de ação, o que também é indicado para os fungicidas protetores. Para aumentar a eficiência de controle das doenças, é importante observar alguns pontos: • Inspecionar regularmente a lavoura, a fim de determinar o momento adequado de intervenção no controle das doenças. Para isso, é importante fazer o monitoramento da plantação e atentar ao limiar de dano econômico. • Considerar o manejo integrado de doenças. Os diferentes métodos de controle devem ser adotados de forma concomitante, a fim de se obter melhor eficiência desse controle. • Calibrar adequadamente os equipamentos de aplicação de fungicidas. • Definir o alvo biológico e as partes da planta a serem protegidas. • Optar por produtos de menor toxicidade. • Aplicar os fungicidas nas horas mais frescas do dia e na ausência de ventos.
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Para refletir e anotar! Reflita e responda as questões abaixo.
3. Quais das medidas de prevenção de doenças durante o plantio você já observou na sua região? 4. Você conhece outras medidas que não foram citadas?
7.3 Nematoides
Foto: Jadir B. Pinheiro
Foto: Jadir B. Pinheiro
As hortaliças, quando cultivadas na mesma área sem que medidas de manejo sejam utilizadas, muitas vezes não sobrevivem ao intenso ataque da maioria das espécies dos nematoides, resultando em até 100 % de perdas, dependendo da infestação da área e da cultivar plantada (Figuras 18 e 19).
Figura 18. Perdas totais em cultivos de cenoura devido à infestação pelo nematoide-das-galhas (Meloidogyne sp.) na região de Cristalina, Estado de Goiás.
Figura 19. Sintomas em cultivos de cenoura devido à infestação pelo nematoide-das-galhas (Meloidogyne sp.) na região de Cristalina, Estado de Goiás.
7.3.1 O que são nematoides?
Foto: Jadir B. Pinheiro
Os nematoides são organismos microscópios presentes geralmente no solo, e que parasitam as raízes das plantas. Consequentemente, a absorção de água e de nutrientes pelas raízes das plantas é afetada resultando em baixa qualidade e quantidade do produto colhido (Figura 20 e 21). Foto: Jadir B. Pinheiro
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Figura 20. Nematoides vistos ao microscópio. Ovos, juvenis e adultos de Pratylenchus sp.
Figura 21. Nematoides visto ao microscópio. Ovos e juvenis de Meloidogyne sp.
7.3.2 Sua importância no cultivo de hortaliças Os problemas causados por nematoides em hortaliças apresentam importância especial pelo cultivo intensivo em grandes áreas, pelo reduzido número de técnicos treinados em nematologia quando comparados com outras áreas que tratam de patógenos como fungos, bactérias e vírus e, principalmente, pela carência de cultivares resistentes no segmento de hortaliças. Sendo assim, é fundamental conhecer quais são os principais gêneros/espécies de nematoides, como diagnosticá-los e, principalmente, como utilizar as melhores práticas de controle e prevenção para manter a área de cultivo livre desses patógenos.
7.3.3 Perdas e danos provocados pelos nematoides em hortaliças A quantidade de danos causados pelos nematoides depende de uma série de fatores. Provavelmente, o mais importante seja a espécie de nematoide presente em determinada área de cultivo. Porém, outros fatores também influenciam os prejuízos causados, como nível populacional de nematoides na área plantada, temperatura e textura de solo, fertilidade, culturas anteriores ao plantio de hortaliças e as práticas agrícolas adotadas pelos produtores. Os nematoides causam danos severos à quantidade e também à qualidade do produto colhido.
7.3.4 Principais espécies de nematoides de importância para hortaliças Tabela 1. Principais gêneros/espécies de nematoides importantes em hortaliças no Brasil
Nome comum
Espécies
Hortaliças
Nematoide-das-galhas
M. enterolobii, M. incognita, M. javanica, M. arenaria
Alface, cenoura, batata-doce, beterraba, cucurbitáceas (abóboras, abobrinhas, melão, morangas, pepino), solanáceas (batata, pimentas, pimentão, jiló, berinjela, tomate), beterraba, cebola.
Nematoide-das-lesões-radiculares
Pratylenchus brachyurus, Pratylenchus penetrans, Pratylenchus coffeae
Batata, mandioquinha-salsa, inhame Outras: cenoura, quiabo, jiló, tomate, pimentão.
Nematoide-do-Amarelão-do-Alho
Ditylenchus dipsaci
Alho Outras: cebola
Nematoide-Reniforme
Rotylenchulus reniformis
Coentro, melão Outras: alaface, batata-doce
Nematoide-da-casca-preta-do Inhame
Scutellonema
Inhame, cará e mandioquinha-salsa
Nematoide-Espiralado
Helicotylenchus dihystera
Cenoura
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7.3.5 Amostragem para identificação e diagnose de nematoides O correto diagnóstico da espécie de nematoide envolvida é feito pela análise de amostras de solo e raízes em laboratório especializado, visando conhecer as densidades populacionais desses organismos no solo, na fase de pré-plantio e em fases posteriores de desenvolvimento da cultura. Com isso, pode-se preventivamente reduzir os prejuízos antes do plantio, bem como amenizar as perdas em caso do nematoide já estar disseminado na lavoura. Na coleta de amostras para análise, pequenas porções de solo, em torno de 500 g, e algumas raízes, deverão compor cada amostra simples. Recomenda-se coletar em torno de 15-20 amostras simples (subamostras) por hectare. À medida que se caminha em zig-zag pela área suspeita, as subamostras de solo deverão ser coletadas em profundidade de 20-30 cm ao redor das plantas, posteriormente homogeneizadas (Figura 22). Em seguida, a amostra composta é formada adicionando-se em saco plástico cerca de 400-500g de solo homogeneizado e 200-300 gramas de raízes coletadas aleatoriamente. A amostra composta deve ser identificada e enviada para um laboratório especializado. Para áreas extensas e irregulares, é recomendável sua divisão em quadrantes e retirar-se uma amostra composta por quadrante. Caso não seja possível enviar as amostras no mesmo dia, estas devem ser armazenadas e mantidas em temperaturas entre 10 e 15 °C, ou deixadas à sombra para que não ocorra o ressecamento, que dificulta o correto diagnóstico em laboratório.
Figura 22. Esquema de amostragem em áreas cultivadas com tomate suspeitas de contaminação por fitonematoides. Arte: Ricardo Borges Pereira
Figura 23. Deformações causadas pelo nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.) em cenoura. Fotos: Jadir B. Pinheiro
O principal sintoma da infestação de nematoides em hortaliças, no caso do nematoide-das-galhas, é a presença de galhas que são resultantes do aumento no tamanho e na quantidade das células das raízes das plantas parasitadas (Figura 23). Essas deformações ocorrem ao longo de todo sistema radicular. Dessa maneira, as plantas se desenvolvem menos, apresentando, como sintomas, galhas nas raízes, manchas, rachaduras, bifurcações e, até mesmo, apodrecimento em tubérculos, túberas e em outras raízes comestíveis (Figura 24).
Foto: Jadir B. Pinheiro
7.3.6 Sintomatologia
Figura 24. Sintomas devido à infestação por nematoides em diferentes hortaliças cultivadas.
Vale ressaltar que a sintomatologia varia em função do gênero e da espécie de nematoide presente. Já na parte aérea, ocorre amarelecimento, nanismo, murcha, falha no estande dos canteiros, dentre outros sintomas.
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7.3.7 Manejo Integrado de Nematoides No manejo sustentável de nematoides, a prevenção é a melhor forma de controle. A prevenção mantém a área de cultivo livre desses patógenos, uma vez que, introduzidos na propriedade, o produtor terá que conviver com o problema, já que sua eliminação total é praticamente impossível. O plantio de mudas livres de nematoides fitoparasitas em solos não contaminados é essencial para manter esse grupo de patógenos fora da área de cultivo, pois é reduzida drasticamente a possibilidade de se introduzir esses organismos na área de plantio. Além da utilização de mudas livres de nematoides, deve-se ter o cuidado de desinfestar máquinas e implementos agrícolas, como enxadas, pás, carrinhos de mão e outros utensílios utilizados, capazes de disseminar nematoides juntamente com partículas de solo aderidas a estes para áreas de cultivo não contaminadas. Dessa forma, os métodos usuais de controle têm como objetivo principal reduzir ou manter as densidades populacionais dos nematoides em níveis baixos, que não causem perdas econômicas. Outras formas de eliminação destes organismos incluem: Tabela 2. Programa de manejo integrado de nematoides em hortaliças – Medidas de manejo
Programa de manejo integrado de nematoides em hortaliças: medidas de manejo Mudas e substratos
Utilização de mudas sadias e substratos sem contaminação por nematoides.
Plantas Daninhas
Eliminação de plantas daninhas que podem ser potenciais hospedeiras de algumas espécies de nematoides. Algumas espécies de plantas daninhas hospedeiras: Mariapretinha (Solanum americanum), arrebenta cavalo (S. aculeatissimum), melão de São Caetano (Momordica charantia), caruru (Amaranthus hybridus var. patulus) dentre outras.
Máquinas e implementos agrícolas
Desinfestação de máquinas e implementos agrícolas que podem carregar partículas de solo aderidas a elas com ovos e juvenis de nematoide. Contribuindo dessa maneira para a disseminação de nematoide de uma área para outra.
Alqueive
Consiste em deixar a área sem vegetação (cultura ou plantas daninhas) por um período prolongado, um ou dois anos, para que a população de nematoides reduza a níveis abaixo do limite de dano econômico com revolvimento periódico do solo para exposição dos nematoides à dessecação pelos raios solares.
Solarização
Consiste em promover o aquecimento do solo nas camadas mais superficiais (45-50°C), com a cobertura do solo úmido com uma camada de lona transparente, geralmente de polietileno (50 a 100 µm), que permite a entrada dos raios solares. Esse aquecimento reduz significativamente a população dos nematoides.
Rotação de culturas
Consiste na rotação de culturas com espécies não hospedeiras de determinado nematoide com a finalidade de eliminar estes organismos pela subtração do seu alimento. Exemplo: em áreas infestadas pelo nematoide-das-galhas sugere-se a rotação com algumas cultivares de milho, milheto e sorgo resistentes, além de adubos verdes como as crotalarias (Crotalaria spectabilis, Crotalaria juncea). Continua
Continuação tabela 2
Utilização de plantas antagonistas
Consiste na utilização de plantas antagonistas como Crotalarias, cravo-de-defunto e mucunas para redução e controle dos níveis populacionais de nematoides em diferentes culturas.
Materiais orgânicos
Consiste na utilização de materiais orgânicos como esterco de gado ou de galinha, palha de café, bagaço de cana, resíduos de brássicas (repolho, couve-flor, brócolis) e torta de mamona para favorecer o crescimento vigoroso das plantas, possibilitando maior tolerância em relação ao ataque dos nematoides. A matéria orgânica estimula também o aumento da população de microrganismos de solo, em especial de inimigos naturais dos nematoides. Também podem liberar substâncias tóxicas com sua decomposição que contribuem para a mortalidade dos nematoides. Exemplos de substâncias ativas presentes em compostos orgânicos com ação nematicida: Resíduos Brássicas (Isotiocianato), Sorgo (Glicosídeos Cianogênicos), Nim (Limonoides), Mucuna (L-Dopa, 1-Triacontanol e Triacontil Tetraconsanato), Bagaço da Cana e Palha de Café (Furfural), Mamona (Ricina), Feijão de Porco (Concavalina), Tagetes (Alfatertienil e derivados), Esterco Bovino (Ácidos Húmicos).
Utilização de Manipueira
Utilização da Manipueira (resíduo da produção de farinha de mandioca, usada como fertilizante e defensivo agrícola natural, no combate a fungos, nematoides e outras pragas).
Remoção e destruição de restos culturais
Consiste na remoção das raízes infectadas da área logo após a colheita para a redução dos nematoides na área, antes do próximo plantio. Os restos de raízes devem ser amontoados e secos para finalmente serem queimados. Não é recomendada a manutenção e a incorporação de restos de raízes infectadas por nematoides na área cultivada, por inviabilizar os métodos usuais de controle, considerando que os nematoides permanecem alojados e sobrevivem em tecidos dos restos culturais.
Uso de cultivares resistentes
Consiste na utilização de cultivares tolerantes ou resistentes, quando disponíveis, para o controle eficaz de nematoides.
É importante salientar que o diagnóstico da espécie de nematoide envolvida é feito pela análise de amostras de solo e raízes em laboratório especializado, visando conhecer a quantidade desses organismos no solo, antes de adotar medidas de controle, principalmente no que tange a rotação de culturas, para saber qual a cultura ideal a ser utilizada ou que tipo de planta antagonista deverá ser plantada. Algumas medidas preventivas específicas também se fazem necessárias para evitarmos a ocorrência de nematoides como Ditylenchus dipsaci, nematoide de importância para a cultura do alho e da cebola:
A. Tratamento dos bulbilhos 1. Deixar em água corrente por 4 horas. 2. Fazer a imersão dos bulbilhos em solução de hipoclorito de sódio a 1% por 4 a 5 horas. 3. Lavar os bulbilhos em água corrente por 15 minutos ou mais.
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B.
Tratamento dos bulbilhos
1. Imersão dos bulbilhos em água por 4 horas. 2. Imersão dos bulbilhos de alho em solução de Abamectin (Vertimec) na dosagem de 250ml/100 litros de água. É certo que a utilização de apenas uma medida de controle dificilmente trará resultados satisfatórios. Assim a importância de se integrar diferentes práticas no manejo correto e sustentável de nematoides que certamente levará à obtenção de hortaliças com qualidade e com vantagens econômicas. BIBLIOTECA: Veja na biblioteca do capítulo 7, (no material de apoio ou no AVA). • Áudio – Controle de Nematoides em hortaliças (arquivo controle_nematoides_hortalicas.mp3). Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/programacao/2008/controle-de-nematoides-em-hortalicas-3/?searchterm=rota%C3%A7%C3%A3o%20culturas
7.4 Considerações finais Neste capítulo, você conheceu mais sobre as doenças fúngicas mais comuns em hortaliças, e como manejá-las de forma adequada e sustentável. Observou também o que são nematoides, sua importância no cultivo de hortaliças e as principais técnicas para manejá-los, já que a presença dos mesmos é constante e praticamente impossível de ser erradicada totalmente.
Pesquise e aprenda mais! Para aprofundar seus conhecimentos sobre os tipos de doenças em hortaliças e o manejo dessas, consulte os materiais de referência existentes no material de apoio e no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem). Como sugestão, responda às seguintes perguntas direcionadoras.
Material de Referência
Questão Direcionadora
(disponíveis na Biblioteca do material de apoio e do AVA)
Como se dá a ocorrência e o manejo de nematoides em apiáceas (cenoura, aipo, salsa)?
PINHEIRO, J. B.; FERREIRA, A. D. Ocorrência e manejo de nematoides em apiáceas. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2011. (Embrapa. Circular Técnica, 103).
Como manejar a ocorrência de nematoides em culturas de batata-doce?
PINHEIRO, J. B.; RODRIGUES, C. S; CARVALHO, A. D. F.; PEREIRA, R. B. Nematoides na cultura de batata-doce. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2011. (Embrapa. Circular Técnica, 105).
Atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) http://capacitacao.sede.embrapa.br/ Acesse o ambiente virtual de aprendizagem e responda as atividades propostas para este capítulo.
Capítulo
Rita de Fátima Alves Luengo Marcelo Mikio Hanashiro
Iriani Rodrigues Maldonade
Foto: Mette Finderup/freeimages
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Pós-colheita e comercialização
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • Adotar ações que aumentem a qualidade e a eficiência durante a pós-colheita e a comercialização de hortaliças. • Manusear adequadamente os produtos durante toda a pós-colheita, de forma a manter a eficiência do processo e a qualidade e a higiene destes produtos. • Identificar melhores práticas para a comercialização de hortaliças.
Após a produção segura e criteriosa dos alimentos, inicia-se uma fase não menos importante: a pós-colheita (Figura 1). É nesse momento que ocorre a maioria dos problemas associados ao desperdício de alimentos. Conhecer, portanto, as tecnologias mais adequadas para o correto manuseio pós-colheita de hortaliças é extremamente desejável, pois possibilita ao produtor a redução do desperdício e, consequentemente, uma maior geração de renda.
Foto: Henrique Carvalho
8.1 Qualidade na pós-colheita
Figura 1. Colheita de tomate. Foto: Henrique Carvalho
Pós-colheita e comercialização
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A qualidade de uma hortaliça (Figura 2) não pode ser melhorada após a colheita. As práticas de manuseio e armazenamento após a colheita podem, no máximo, manter a qualidade inicial dos produtos pelo maior tempo possível. Assim, a boa qualidade do produto após a colheita está diretamente relacionada com as condições de cultivo. Figura 2. Tomate pós-colheita.
Desafio Você sabe responder as seguintes perguntas? • Quais são os cuidados, os acessórios e as técnicas a serem considerados na pós-colheita? • Como realizar o armazenamento e a distribuição das hortaliças de forma adequada? • Que técnicas podem ser usadas para o processamento de hortaliças? • Como transportar adequadamente as hortaliças? • Como garantir a segurança alimentar? • Como obter melhores resultados na comercialização das hortaliças? Encontre estas e outras respostas ao longo deste capítulo.
8.2 Colheita 8.2.1 Cuidados na colheita São três os cuidados mais importantes na colheita: • Colher os produtos nas horas mais frescas do dia. • Colher os produtos no ponto de colheita ideal para o uso da hortaliça. • Manusear cuidadosamente os produtos, para evitar ferimentos e amassamentos.
O melhor horário para colher hortaliças é no início da manhã ou no final da tarde, porque a temperatura está mais baixa e a umidade relativa está mais elevada (isso evita perda de água e frescor desses alimentos, que são ricos em água). Quando a área plantada é muito grande, a colheita ocorre durante o dia todo. Nesse caso, recomenda-se colocar os Figura 3. Colheita manual. produtos colhidos na sombra, seja ela de uma árvore, de uma construção de alvenaria, ou, ainda, de tendas espalhadas pela lavoura. O importante é deixar o produto colhido em um ambiente com temperatura baixa e umidade relativa alta. Deve-se ter cuidado especial durante a colheita e o manuseio do produto para evitar danos físicos aos mesmos. As seguintes situações devem ser evitadas: • Utilizar caixas de madeira ou outros recipientes com pregos salientes, cantos vivos e lascas. • Colocar quantidade excessiva de produtos nas caixas quando essas forem ser empilhadas. • Apertar o produto estando com unhas compridas ou anéis. • Deixar cair ou jogar o produto nas caixas. • Jogar, deixar cair ou manipular as caixas sem cuidado. • Atitudes que podem contaminar o produto nessa fase: a) Colocar o produto colhido diretamente no solo, especialmente se este estiver molhado. b) Utilizar caixas contaminadas com terra, resíduos vegetais e produtos em decomposição. c) Permitir que o produto entre em contato com substâncias como óleo, gasolina e outras substâncias químicas que não aquelas especificadas para tratamento pós-colheita. As normas básicas que devem ser consideradas com respeito à operação de colheita são as seguintes: • Colher nas horas mais frescas do dia, ou seja, no início da manhã ou no final da tarde. • Não colher o produto quando este estiver molhado, seja por chuva ou por orvalho. O produto úmido facilita o desenvolvimento de fungos e bactérias presentes no ambiente e, consequentemente, deteriora-se mais rapidamente; • Colocar o produto colhido em local sombreado o mais rapidamente possível. Produtos expostos diretamente à radiação solar se aquecem muito, e isso diminui sua conservação após a colheita.
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O objetivo é que as hortaliças cheguem ao consumidor final o mais próximo possível da maneira que estavam quando foram separadas da planta-mãe (Figura 3).
Foto: Obra Orfã
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Pós-colheita e comercialização
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Os produtos destinados a mercados locais podem ser colhidos no início da manhã. Quando se destinam a mercados mais distantes e há mão de obra e transporte disponíveis, é mais vantajoso colher à tarde, para que o transporte ocorra durante a noite. A colheita pode ser manual ou mecânica. A colheita manual (Figura 4) é a mais amplamente utilizada, principalmente nos países em desenvolvimento. Quando bem realizada, a colheita manual resulta em menores danos ao produto, e permite uma seleção mais acurada quanto ao ponto ideal de colheita, principalmente nas culturas em que é feita mais de uma colheita em uma mesma estação de cultivo. A colheita mecanizada é mais utilizada para produtos destinados à agroindústria, ou para raízes e tubérculos plantados em larga escala, como cenoura e batata, em que toda a lavoura pode ser colhida de uma só vez.
Para refletir e anotar! Aproveite e reflita sobre o seguinte caso: a) Um pequeno produtor orgânico de folhosas vende seus produtos para restaurantes localizados próximos à sua propriedade. Quais cuidados durante a colheita são recomendados para esse produtor?
Cura Um cuidado muito importante diz respeito ao procedimento de cura. O significado da palavra cura é relacionado aos procedimentos pós-colheita que melhoram a posterior capacidade de conservação de certas raízes, bulbos e tubérculos. Em bulbos de alho e cebola, a cura refere-se a tratamentos para assegurar a secagem das folhas ou das escamas superficiais, e a secagem do coleto. Os tecidos vivos do coleto devem, preferencialmente, estar secos no momento da toalete. Caso isso não seja possível, esses tecidos precisam ser rapidamente secos para que não sejam uma porta de entrada de microrganismos, como fungos e bactérias. Em regiões em que a colheita ocorre na época seca, a cura realizada deve ocorrer em galpões ventilados. Para isso, os bulbos são pendurados em tranças ou réstias, ou colocados a granel em
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prateleiras para que as ramas sequem. Em regiões em que a colheita ocorre na época das chuvas, é necessário o uso de secadores, preferencialmente antes da toalete. Nessas regiões, são usados, preferencialmente, secadores híbridos (solar/gás), que funcionam mesmo em dias nublados.
Melhores Práticas As condições de cura recomendadas para batata, batata-doce e inhame
Batata
A cura deve ser feita durante 3 a 4 dias, sob temperatura em torno de 20°C e umidade relativa elevada (>95%). Sob umidade relativa baixa, não ocorre a cicatrização dos ferimentos nem a formação da periderme protetora com várias camadas de células (multisseriada) suberizadas.
Batata-doce
A cura da batata-doce é obtida armazenando-se as raízes por 4 a 7 dias, sob umidade relativa alta (>90%), em temperatura de 15 a 20°C.
Inhame
A cura deve ser feita durante uma semana em ambiente úmido, entre 15 e 25 °C, o que possibilita a cicatrização dos ferimentos de colheita com a formação de uma periderme com deposição de lignina e compostos fenólicos.
8.2.2 Acessórios de colheita
A colheita do produto diretamente no recipiente em que será enviado ao mercado reduz os danos pela sua manipulação excessiva, e é uma prática que vem sendo cada vez mais adotada por agricultores mais especializados.
Foto: Rita Luengo
Os acessórios de colheita são caixas, sacolas, cestos, luvas, tesouras, veículo e utensílios empregados para agilizar a colheita e diminuir os danos mecânicos infringidos aos produtos. Dentre muitos acessórios, podem-se citar as sacolas de colheita para laranja, maçã e pera, que aceleram o processo, diminuem os estresses de impacto e mantêm a higiene do produto.
Figura 4. Caixas plásticas desenvolvidas pela Embrapa, para hortaliças.
Sacolas de colheita
Presas ao ombro ou à cintura, são fáceis de transportar e deixam as mãos livres. O fundo deve ser basculante de modo a transferir o produto para outro recipiente sem virar a sacola e sem danificar o produto.
Caixas plásticas (Figura 4)
São adequadas para a colheita de hortaliças que se amassam facilmente, desde que sejam lisas, não tenham bordas salientes nem cantos vivos.
As cestas de bambu, ou material semelhante, têm a vantagem do baixo custo e de serem construídas com material local. Entretanto, podem apresentar limitações como lascas e superfície irregular, que machucam o produto. Além disso, apresentam baixa resistência mecânica, e não suportam o empilhamento.
Transportador de embalagens
A Embrapa Hortaliças desenvolveu um transportador de embalagens para hortaliças e frutas (Figuras 5 e 6). É um carrinho de mão, de baixo custo, medindo 50 x 120 cm, construído com barras metálicas em L e com capacidade para transportar de 6 a 12 caixas plásticas. Foto: Rita Luengo
Cestas
Foto: Rita Luengo
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Figura 5. Transportador de embalagens para colheita de hortaliças e frutas.
Luvas
Figura 6. Transportador de embalagens com embalagens para colheita de tomate
As luvas são importantes para proteger as mãos do operador, seja de objetos cortantes, seja do contato com a terra, e também para evitar ferimentos na superfície do produto causados pelas unhas do operador. Quando as hortaliças colhidas são feridas durante o manuseio pós-colheita, é maior a probabilidade de apodrecimento e perda do alimento. Outra razão de se utilizar luvas é facilitar o uso de boas práticas agrícolas e diminuir a possibilidade de contaminação microbiológica dos produtos. Nesse sentido, o uso de cuidados sanitários, como a higienização frequente das mãos com álcool gel e a troca das luvas descartáveis, é muito importante para evitar as perigosas contaminações com microrganismos patogênicos para o homem.
8.2.3 Técnicas de colheita No caso da colheita manual (Figura 7), as facas ou tesouras usadas para separar frutos da plantamãe ou de folhosas do solo devem estar bem afiadas e serem higienizadas várias vezes durante a colheita para diminuir as probabilidades de contaminação dos produtos colhidos. Colocar a hortaliça colhida na embalagem final otimiza tempo, trabalho e colabora para a manutenção da qualidade da hortaliça após a colheita.
Colocar a hortaliça colhida na embalagem final otimiza tempo, trabalho e colabora para a manutenção da qualidade da hortaliça.
Foto: Rita Luengo
Foto: Alice Nagata
Quando a hortaliça tem um pedúnculo, como é o caso de pimentões e abóboras, por exemplo, a manutenção do pedúnculo ajuda a manter os frutos mais frescos e dificulta a entrada de fungos e bactérias. O corte deve ser feito com uma tesoura de poda afiada e limpa. Em plantios de grandes áreas comerciais, geralmente, usam-se máquinas para a colheita (Figura 8). Essas máquinas devem ter revestimentos emborrachados nas áreas que ficam em contato direto com o produto, para diminuir danos mecânicos, como cortes e amassamentos, e as perdas pós-colheita.
Figura 7. Colheita manual de tomate.
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Figura 8. Colheita mecanizada de tomate.
Para refletir e anotar! Aproveite e reflita sobre o seguinte caso: a) Que processo, técnica e equipamentos podem ser recomendados para um agricultor que precisar realizar a cura de alho e cebola em pequena escala?
8.2.4 Ponto de colheita de hortaliças O grupo das hortaliças tem muitas espécies, e cada espécie tem um ponto de colheita ideal. Esse ponto de colheita está diretamente relacionado à forma de consumo e à preferência do consumidor, e pode ocorrer que até o mesmo produto tenha pontos de colheita diferentes se os usos são diferentes. Por exemplo, o tomate. Se for usado para saladas, é colhido mais verde, e, se for usado para fazer molho, é colhido bem maduro. Existem hortaliças que são consumidas verdes do ponto de vista fisiológico, mas que estão no ponto ideal para o consumidor, porque apresentam sabor e consistência apreciados dessa forma. Um
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exemplo é o pepino, consumido principalmente na forma crua, em saladas, e que tem sabor e textura mais apreciados quando ainda estão verdes botanicamente. BIBLIOTECA – Veja na biblioteca do capítulo 8, (no material de apoio ou no AVA): • Documento – Ponto de colheita (arquivo ponto_de_colheita.pdf) e consulte indicações do ponto de colheita de algumas hortaliças.
8.2.5 Manuseio As hortaliças possuem grande quantidade de água. Isso significa que elas são frágeis e facilmente amassáveis. Então devem ser manuseadas com muito cuidado, para evitar-se bater ou machucar os produtos. Produtos danificados perdem valor comercial, são preteridos no momento da compra e ficam mais sujeitos à perda por apodrecimento, causado por fungos e bactérias. Os produtos hortícolas devem ser manuseados preferencialmente uma única vez, conforme são colhidos. Nesse momento, os tais produtos podem ser selecionados, acondicionados e embalados em uma única operação. O resfriamento, o transporte e a comercialização podem ser efetuados sem outro contato manual adicional. Essa é uma situação ideal sob o ponto de vista de higiene e de redução de danos mecânicos. No entanto, para viabilizar-se essa situação ideal, há necessidade de renovado esforço de pesquisa.
Os produtos hortícolas devem ser manuseados preferencialmente uma única vez.
Lavagem de hortaliças O ideal é que as hortaliças sejam lavadas imediatamente antes de seu consumo, já na casa do consumidor final, porque assim elas duram mais tempo. No entanto, hortaliças folhosas, como alface, às vezes são lavadas na lavoura para retirar o excesso de terra das folhas mais externas, assim como ocorre com aquelas que crescem debaixo da terra, como a batata. A utilização de cloro na água de lavagem contribui para a desinfestação de microrganismos. No campo, a dosagem recomendada é de 100 a 150 mg de cloro por litro, o que equivale a 100 ou 150 mL de cloro do produto comercial água sanitária (2% de cloro) diluído por metro cúbico de água. Água suja com materiais orgânicas, ou aciduladas, causa rápida diminuição da concentração do cloro. Por isso, é importante o uso de kits para avaliação do nível de cloro e do pH. A água clorada deve também ser trocada regularmente.
Injúrias mecânicas BIBLIOTECA – Ouça na biblioteca do capítulo 8, (no material de apoio ou no AVA): • Áudio - Injúrias mecânicas (arquivo audio_injurias_mecanicas.mp3) e aprenda mais sobre as injúrias mecânicas em hortaliças.
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A colheita é a etapa na qual ocorrem as injúrias mecânicas mais importantes para a maioria das frutas e hortaliças. Nessa fase, cuidados e medidas simples podem reduzir drasticamente a incidência de injúrias mecânicas, como destacar frutos e outras partes comestíveis das plantas com uma faca afiada ou tesoura de poda. As injúrias mecânicas que ocorrem após a colheita das frutas e hortaliças são, em geral, classificadas como injúrias de compressão, impacto e vibração. Dependendo da tecnologia e dos produtos considerados, a classificação de órgãos injuriados por cortes, por abrasões e por perfurações (Figura 9) também pode ser importante. Foto: Rita Luengo
As injúrias mecânicas podem causar perdas que são percebidas imediatamente em casos extremos, quando, por exemplo, ocorrem rachaduras de impacto em raízes tuberosas e tubérculos recém-colhidos e muito túrgidos, ou quando impactos e compressões fortes causam marcas, isto é, deformações visíveis permanentes, principalmente em produtos frágeis, como o morango, o figo e o tomate. A ação dos principais tipos de injúrias mecâ9. Injúria mecânica de perfuração causada por dano nicas, em geral, é cumulativa, e prejudica a Figura da embalagem. qualidade organoléptica dos produtos, muito além do que se pode avaliar por meio de uma visualização. Por essa razão, é comum que o consumidor se decepcione com a A ação dos principais tipos qualidade de frutos como banana e mamão, por exemplo, que, de injúrias mecânicas, em geral, é cumulativa. externamente, apresentam apenas pequenos danos e, internamente, apresentam extensivos volumes de tecido encharcado, por vezes, até escurecido.
Os estresses de compressão podem reduzir os volumes gasosos intercelulares a tal ponto que ocorra falta de O2 em concentrações suficientes
Foto: Rita Luengo
A deformação superficial de órgãos frágeis, em geral, é o sintoma primário mais facilmente visível, por exemplo, em frutos de tomate amassados no fundo de caixas profundas ou na base de pilhas muito altas (Figura 10). O estresse de compressão, no entanto, não se resume ao estresse primário, em geral, há estresses secundários induzidos pela compressão dos frutos, que são as causas mais comuns de perdas. Figura 10. Injúria mecânica por compressão dos frutos.
para manter a respiração das células no centro da região comprimida. A compressão em frutos de tomate, por exemplo: •
Reduz a concentração interna de O2.
•
Diminui a taxa de respiração.
•
Retarda o processo de amadurecimento.
•
Aumenta a possibilidade de deterioração.
Já na batata, o estresse de compressão, associado à desidratação do produto, pode causar escurecimentos internos no tubérculo ("coração negro"), que pode, de maneira similar, ser induzido por temperaturas acima de 30°C.
Vale lembrar que... Os frutos, raízes, bulbos e tubérculos podem ser submetidos a diversos tipos de injúrias mecânicas mesmo antes de serem colhidos. Algumas injúrias mecânicas de pré-colheita importantes são rachaduras, ferimentos e deformações. Rachaduras de crescimento podem ocorrer imediatamente após chuvas ou irrigações abundantes e após períodos de estresse hídrico moderado ou severo. É uma injúria mecânica que ocorre na maioria das frutas e hortaliças, e pode causar elevados prejuízos quando cultivares e variedades suscetíveis são sujeitos a manejo de irrigação inadequado. Assim, para frutos de tomate, por exemplo, há cultivares muito suscetíveis e outras de elevada tolerância à rachadura de crescimento.
Os sintomas de injúria de impacto podem ser variados e dependem da altura da queda e da firmeza do produto hortícola. Raízes de cenoura, de batatadoce ou tubérculos de batata submetidos a impactos de quedas superiores a 30 cm de altura podem sofrer rachaduras transversais. Conforme o valor de firmeza aumenta, a sensibilidade às rachaduras induzidas por impactos também aumenta. Em frutos com firmeza menor, especialmente quando estes dispõem de cavidade locular (Figura 11), sintomas internos, como a separação entre as sementes e a placenta, podem se tornar evidentes ao serem cortados. Associados a isso, também ocorrem distúrbios no amadurecimento e perda de aceitabilidade do produto. Por exemplo, em frutos de tomate, além da separação das sementes, da placenta e do internal bruising, os frutos se tornam amarelados e têm a aceitabilidade significativamente prejudicada, possivelmente pelos efeitos dos danos de impacto sobre a consistência, sabor e aroma desse fruto.
Foto: Henrique Carvalho
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Figura 11. Detalhe da cavidade lolucar íntegra de um tomate partido ao meio.
Hortaliças com volume intercelular elevado (>30%), como o jiló e a berinjela, e órgãos desidratados com firmeza medida por aplanação reduzida – com pressão de aplanação menor que 1 kg/cm2, em geral, são pouco sensíveis à injúria de impacto e, por serem órgãos macios, somente manifestam sintomas quando submetidos a impactos severos, equivalentes a quedas superiores a 70 cm de altura, aproximadamente.
As situações que causam injúria de impacto em frutas e hortaliças devem ser caracterizadas e reduzidas ao mínimo possível em cada etapa de manuseio. Assim, costumam merecer especial cuidado as seguintes etapas: Colheita
O uso de acessórios, como sacolas para colher pêssego e maçã, e cestos especiais para colher figo, podem acelerar a colheita e, principalmente, diminuir os impactos que ocorrem caso os frutos sejam jogados em caixas arrastadas no chão.
Beneficiamento
É comum a ocorrência de quedas na recepção do produto, nas cantoneiras e entre mesas de movimentação e seleção. Para esses tipos de injúrias de impacto, o uso de esfera instrumentada, um registrador de acelerações, tem sido útil, promovendo melhorias de operação em casas de embalagem, com a implementação de amortecimento desses impactos.
Reclassificação
Uma duplicação do beneficiamento, uma etapa que não deveria ocorrer, mas que é observada até mesmo em importantes entrepostos, como a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) no caso do tomate de mesa, por exemplo.
Movimentação de caixas
É manual, mas deveria ser mecanizada. Um problema que induz os trabalhadores a jogarem as caixas, por cansaço ou por falta de treinamento ou de instrução.
Despejo de embalagens sobre os balcões na comercialização
A caixa de transporte deveria também ser a caixa de exposição, de modo que se eliminasse uma etapa do manuseio e mais impactos de queda desnecessários para as frutas e as hortaliças.
Durante a execução de diversos tratos culturais, como capinas com enxadas e aplicação de agrotóxicos, é possível a ocorrência de vários tipos de ferimentos. Outra causa comum de ferimentos é o dano por insetos, muito visível em folhosas, raízes tuberosas e bulbos de hortaliças. Há, ainda, as deformações elásticas, que são aquelas reversíveis, independentemente de serem causadas por estresses como impacto ou compressão. Em outras palavras, os órgãos sujeitos a estresses elásticos recuperam a forma. Adicionalmente, no caso de estresse elástico, imagina-se também que não haja efeitos fisiológicos permanentes, o que tornaria a deformação um estresse plástico. Já as deformações plásticas são irreversíveis, de modo que o produto permanece deformado, conforme se pode aferir por medições de variação de volume gasoso ou por medições da variação da altura de pilhas de produto. Por essa natureza permanente, todas as deformações plásticas sofridas por frutas e hortaliças, como o tomate, por exemplo, são aditivas, independentemente de terem sido estresses ocorridos no manuseio, na classificação, no transporte ou na comercialização. As deformações plásticas sofridas por frutas e hortaliças, em geral, causam efeitos fisiológicos, como aceleração de amadurecimento, indução de brotação e facilitação ao desenvolvimento de podridões.
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8.3 Armazenamento Para refletir e anotar! Após a colheita, há maneiras simples e práticas de armazenar adequadamente as hortaliças, sem necessidade de grandes investimentos financeiros. Veja a seguir algumas dicas e, ao lado de cada uma, anote que ações seriam necessárias para a disseminação e a efetivação destas práticas.
Colher no ponto de colheita ideal.
Anote aqui!
Manter os produtos colhidos protegidos da insolação direta, isto é, na sombra, como sob árvores ou protetores construídos com material disponível na região.
Anote aqui!
Armazenar produtos em ambientes e embalagens limpos, a fim de reduzir a probabilidade de contaminação.
Anote aqui!
Armazenar somente produtos sadios, para evitar a contaminação dos demais.
Anote aqui!
Separar frutos maduros e imaturos, para evitar aceleração de maturação dos verdes devido ao etileno liberado pelos maduros.
Anote aqui!
Folhosas necessitam de elevada umidade relativa, devido à intensa perda de água.
Anote aqui!
Raízes e bulbos necessitam de menor umidade relativa, porque brotam facilmente quando a umidade relativa é elevada.
Anote aqui!
Manter batatas armazenadas no escuro, porque, na presença de luz, elas tornam-se esverdeadas (solanina) e prejudiciais à saúde humana.
Anote aqui!
À medida que se diminui o tempo entre a colheita e o consumo de uma hortaliça, muitos problemas são evitados. Quanto mais tempo a hortaliça é armazenada, maior é a deterioração em termos de qualidade e maior a chance de ocorrerem danos e perdas. Assim, melhorando o transporte e as instalações para comercialização, e reduzindo-se o número de intermediários entre o produtor e o consumidor, pode-se encurtar o período entre a colheita e o consumo.
O armazenamento refrigerado aumenta o tempo de conservação. Recomenda-se respeitar a faixa de temperatura e a umidade relativa de cada espécie para que um maior período de armazenamento seja possível.
Foto: Paulo Lanzetta
Cada espécie de hortaliça tem um tempo de conservação próprio. Normalmente, esse tempo é de alguns dias, porque, de modo geral, quanto maior a quantidade de água que a hortaliça tem, menor é seu período de armazenamento, e a maioria das hortaliças tem uma grande quantidade de água. Como exemplo, podemos citar a alface, que dura 2 dias, e o alho, que dura 3 meses.
Figura 12. Alho: pode ser conservado por até 3 meses.
Tabela 1. Recomendações de temperatura (T) e umidade relativa (UR) para o armazenamento comercial, ponto de congelamento superior (PC) e tempo de conservação de hortaliças.
Produto
T (°C)
UR (%)
PC (°C)
Conservação (Dias)
0
95 - 100
- 1,1
15 - 20
Aspargos
0-2
95 - 100
- 0,6
15 - 20
Aipo O
0-9
98 - 100
- 0,5
60 - 90
Alho
0
65 - 70
- 0,8
180 - 210
Alface
0
98 - 100
- 0,2
15 - 20
Abobrinha
5 - 10
95
- 0,5
10 - 15
Beterraba
0
98 - 100
- 0,9
120 - 180
Brócolis
0
95 - 100
- 0,6
10 - 15
Berinjela
8 - 12
90 - 95
- 0,8
5 - 10
Couve-flor
0
95 - 98
- 0,8
20 - 30
Couve
0
95 - 100
- 0,8
10 - 15
Cenoura
0
98 - 100
- 1,4
210 - 270
Cebola
0
95 - 100
- 0,9
20 - 30
Ervilha-verde
0
95 - 98
- 0,6
5 - 15
10 - 13
50 - 70
- 0,8
60 - 90
0
95 - 98
- 0,6
5 - 10
Pepino
10 - 13
95
- 0,5
10 - 15
Pimentão
9 - 13
90 - 95
- 0,7
15 - 20
Quiabo
7 - 10
90 - 95
- 1,8
5 - 10
Repolho precoce
0
98 - 100
- 0,9
20 - 40
Repolho tardio
0
98 - 100
- 0,9
150 - 180
Rabanete
0
95 - 100
-
30 - 60
Salsa
0
95 - 100
- 1,1
60 - 75
Tomate verde-maduro
13 - 21
90 - 95
- 0,6
5 - 20
Tomate maduro-firme
8 - 10
90 - 95
- 0,5
5 - 10
Alcachofra
Moranga Milho-doce
Fonte: Luengo e Calbo (2001). Adaptado de Herdenburg et al. (1986)
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8.4 Distribuição Para refletir e anotar! Leia os tópicos a seguir sobre transporte, uso de embalagens e sistema de páletes e esboce um fluxo para a distribuição de hortaliças.
Transporte Existem práticas simples que ajudam a manter as hortaliças em boas condições durante o transporte, como viajar nas horas mais frescas do dia e da noite; amarrar bem as caixas para evitar quedas e acidentes; deixar espaço interno para ventilação adequada e evitar acúmulo de calor e gases; distribuir o peso da carga equitativamente e na ordem inversa da descarga.
União dos produtores O produtor de hortaliças mais representativo, em termos numéricos, é o pequeno produtor, com área reduzida e que cultiva diferentes espécies. Uma maneira desses produtores atenderem aos desafios de distribuição de sua produção é organizando-se em cooperativas ou associações de produtores, a exemplo do que já ocorre em muitos casos para aquisição de insumos. Essa união para comercializar diferentes espécies de hortaliças possibilita a conquista de mercados regulares, aquisição de embalagens a preços menores devido ao maior conhecimento do mercado e ao volume de compra, ao compartilhamento de caminhões para transporte da produção e à rapidez no escoamento dos vegetais, o que é muito importante devido à perecibilidade das hortaliças.
Em países em desenvolvimento, o transporte de hortaliças é geralmente feito de maneira precária. Para isso, contribuem uma série de fatores, como falta de padrões estabelecidos para a comercialização, uso de embalagens inadequadas, estradas e rodovias precárias, veículos mal conservados, etc.. A condição ideal para o transporte é o acondicionamento dos produtos em associação com refrigeração. Mesmo que não se disponha dessas condições ideais, é possível reduzir parte dos problemas com medidas simples, como evitar a insolação direta dos produtos com uma cobertura; permitir uma ventilação adequada, de forma a diminuir a temperatura; usar embalagens limpas, de superfície lisa, recobertas com algum material que reduza a fricção do produto com a embalagem; evitar o transporte de hortaliças nas horas mais quentes do dia.
Embalagens O caminho atual das exigências setoriais são a entrega, já desde o produtor, de uma mercadoria uniforme, padronizada, convenientemente classificada, embalada e contendo todas as informações que atendam às demandas tanto do consumidor final quanto dos agentes do sistema de distribuição (transportadores, distribuidores atacadistas e varejistas).
Nesse contexto, a embalagem ideal deve observar não apenas as dimensões compatíveis com os processos de paletização e movimentação mecânica, mas também os aspectos de porcionamento (subunidades já previamente Figura 13. Grupo de caixas Embrapa (tecnologia de embalapreparadas de acordo com o volume adequado gens desenvolvida pela Embrapa). ao consumidor) e autopromoção (mediante projeto estrutural e gráfico das embalagens e impressões atrativas e convenientes). O que se busca, afinal, é a manipulação mínima dos produtos desde a zona de produção até o local de consumo final dos alimentos. A Embrapa desenvolveu uma tecnologia chamada "Grupo de caixas Embrapa" (Figura 13), composta de quatro modelos de embalagens, com indicação de uso para a maioria das espécies de hortaliças e frutas. As vantagens comparativas em relação a outras embalagens são: • Medidas externas paletizáveis: facilitam a carga e a descarga mecanizada de caminhões. Também atendem a legislação brasileira de embalagens para hortícolas. • Cantos arredondados e superfície interna lisa: evitam danos mecânicos à carga e consequentes perdas após a colheita. • Modelos desenvolvidos com base na resistência à compressão dos produtos, com o objetivo de evitar danos mecânicos. • Abertura lateral: permitem a visualização da carga empilhada sem necessidade de movimentá-la. Essa abertura também é útil para permitir troca de gases da respiração dos produtos e troca de calor, em ambiente refrigerado ou não. • Pouca profundidade, que comporta pequeno número de camadas de produtos: evita amassamento (um dos tipos de danos mecânicos) da carga. • Autoexpositiva: diretamente do campo para o ponto final de venda, o que evita troca de embalagens, danos mecânicos ao produto, retrabalho, e otimiza tempo de operação. • A quantidade de produto contida em cada caixa é entre 15 e 20 kg. Este peso atende a legislação de proteção ergométrica das costas do operador e otimiza o espaço da caixa, visando à economia de frete e carga. • Os quatro modelos do grupo são interencaixáveis, isto é, permitem a composição de páletes mistos, com vários produtos diferentes, o que é muito comum nos pontos finais de venda. Essa característica pode agilizar a distribuição logística dos alimentos, economizando tempo precioso para a qualidade dos perecíveis e organizando as entregas.
Pós-colheita e comercialização
A tendência é a adoção de embalagens mais adequadas às convenientes proteção e manutenção da qualidade dos produtos, em dimensões paletizáveis, confeccionadas em material preferencialmente descartável e reciclável, ou que permitam a sua reutilização no sistema de distribuição, desde que acompanhadas das competentes operações de higienização e desinfestação.
Foto: Rita Luengo
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A utilidade do "Grupo de caixas Embrapa" é: • Redução de perdas pós-colheita de hortaliças e frutas. • Diminuição do tempo para distribuição de hortaliças e frutas. • Aumento na preservação da qualidade física e nutricional de hortaliças e frutas. • Eliminação de retrabalho na logística de distribuição de hortaliças e frutas. • Atendimento da legislação brasileira de embalagens para hortícolas. • Atendimento da legislação de proteção ergonômica do trabalhador em relação ao peso carregado. BIBLIOTECA – Veja na biblioteca do capítulo 8, (no material de apoio ou no AVA): • Documento - Embalagens como meio de disseminação de patógenos causadores de doenças de pós-colheita em hortaliças. (arquivo ct_78.pdf).
Sistema de paletização Um pálete é uma base, de madeira ou plástico, com encaixe adequado para as pás de empilhadeiras, que serve como superfície para permitir a movimentação de cargas. O pálete padrão brasileiro mede 1 por 1,20 m. É interessante que embalagens tenham medidas externas submúltiplas do tamanho do pálete, para que haja otimização do uso de seu espaço e segurança na movimentação da carga.
Fique Atento! Enquanto o tempo médio de descarga e conferência manual chega a ser de 2 horas, quando a carga é paletizada, esse ciclo se reduz para 20 minutos por caminhão.
Os principais benefícios da implantação de um sistema de paletização são a redução do tempo médio de permanência do veículo na loja da mão de obra envolvida em descarga e conferência, do tempo de reposição de produtos nos pontos de venda e das avarias de produtos.
8.5 Logística e comercialização 8.5.1 Logística A logística é uma atividade que envolve alguns dos aspectos já citados anteriormente, tais como: • Movimentação. • Armazenagem. • Transporte de mercadorias. Tem por objetivo facilitar o fluxo de produtos e serviços, desde o ponto de aquisição de matérias-primas até o consumidor final. A logística consiste em fazer chegar, com quantidade e qualidade, determinadas mercadorias, ao destino, nos prazo e condições combinados, ao menor custo possível.
8.5.2 Comercialização O elemento principal de um sistema de comercialização é o mercado, ou seja, o local em que as forças da oferta e da demanda operam através de vendedores e compradores. Há diversas alternativas para comercialização de hortaliças:
Desafios da comercialização de hortaliças (BANCI, 2012) • Respeitar legislação (da saúde e trabalhista). • Perceber que há muita informalidade no mercado, e com exigência variável.
• O feirante.
• Baixa fidelidade entre os agentes da cadeia produtiva (mercado, comprador, produtor).
• O supermercadista.
• Desigualdade de forças na cadeia produtiva.
• As centrais de abastecimento.
• Gasto considerável de tempo e recursos do produtor.
• O atacadista. • O governo. • O mercado institucional, etc.. No pequeno varejo, a comercialização se dá em feiras livres, sacolões, quitandas, mercearias e mercadinhos. As feiras livres e os pequenos mercados comercializam produtos frescos, sem embalagem, naturais, que vêm de encontro às necessidades dos consumidores que procuram esses produtos para a refeição do dia ou do dia seguinte.
• Falta de padrões de qualidade de produtos em alguns casos. • Mão de obra desqualificada e com grande rotatividade. • Infraestrutura deficiente em máquinas, equipamentos, armazenagem e classificação. • Falta de informação técnica e gerencial. • Recursos financeiros sazonais e insuficientes. • Compradores às vezes procuram menor qualidade e menor preço.
A comercialização para grandes redes de supermercados é outra alternativa para comercialização. No entanto, os supermercados são exigentes quanto a padronização, classificação e qualidade do produto. O transporte geralmente fica por conta dos produtores, e a compra é realizada de forma centralizada. A assiduidade nas entregas é um fator muito importante, que deve ser considerado. Para comercializar melhor,agregando valor às hortaliças, segundo Buainain (2010), algumas ações merecem atenção: • Diferenciar o produto/serviço para atender às exigências dos mercados e/ou criar novos mercados. • Aumentar a produtividade no campo. • Classificar as hortaliças de acordo com uma norma estabelecida. • Utilizar-se de embalagens adequadas. • Minimizar as perdas através da industrialização ou do processamento mínimo da produção. • Desenvolver uma marca própria para o produto. • Criar uma identidade geográfica marcante (ex: café da Colômbia).
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Para comercializar bem, é fundamental, ainda, atrair o consumidor (Figura 14). Para isso, alguns fatores são importantes no tocante às hortaliças (BUAINAIN, 2010):
Foto: Mette Finderup/freeimages
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• Preço justo para todos. • Origem assegurada. • Ausência de resíduos que acarretem riscos à saúde. • Sabor. • Durabilidade. • Boa apresentação (cor, tamanho). • Sem grande impacto ambiental.
Figura 14. Hortaliças.
• Variedade de produtos. • Disponibilidade durante todo o ano. • Segurança dos alimentos.
Sugestões ao pequeno produtor O pequeno produtor tem que superar muitas barreiras para comercializar o seu produto (BANCI, 2012). • Organizar a produção e a comercialização (em nível de famílias, associações, cooperativas). • Cuidar da logística. • Estruturar um galpão de embalagens, melhorando colheita e pós-colheita. • Especialização (1 a 3 produtos por produtor, conforme sua aptidão e seus recursos). • Uso de tecnologia adequada (informática e custos contabilizados). • Ações de transferência de tecnologia e extensão rural mais efetivas. • Buscar produtos de valor agregado: embalados, produtos minimamente processados, diferenciados, orgânicos. • Gestão profissional da propriedade. • Obedecer às BPA (Boas Práticas Agrícolas). • Acessar melhores opções de crédito e financiamento. • Reconhecer e formalizar o "atravessador". • Buscar padrões de qualidade mais elevados e mercados mais especializados. • Verificar a possibilidade de realizar vendas governamentais. • Parcerias junto ao ensino e à pesquisa (melhor para todos os agentes).
REFERÊNCIAS • BANCI, C. A. Comercialização e organização de produtores: resultados de discussões e observações nos trabalhos realizados e junto a produtores, gestores e pessoal de mercado da COOTAQUARA Brasília: Curso de Pós-colheita de Hortaliças, 2012. Color. • BUAINAIN, A. M. Agregação de valor e o futuro do agronogócio. Brasília: Simpósio Sobre Agregação de Valores, 2010. Color.
Mercado de produtos orgânicos No Brasil, o mercado de produtos orgânicos é uma experiência consolidada que deu certo. Em pouco mais de dez anos, diversas experiências de sucesso para a comercialização de produtos orgânicos foram implantadas. Esses mercados são pequenos empreendimentos que ocupam uma determinada área e são geridos pelos próprios produtores e seus familiares. Em sistemas de cooperativas, estes podem viabilizar muitas ações para que uma iniciativa de mercado orgânico seja bem sucedida, como administração financeira, planejamento da produção, contratação de profissional para apoio aos produtores, compras em conjunto, identidade visual, etc.
Fórum Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e participe do fórum do capítulo 8. Nesse fórum, você poderá aprender e compartilhar sua experiência e seu conhecimento sobre os processos da pós-colheita, inclusive aspectos relacionados à comercialização de hortaliças. Esta pode ser uma oportunidade de unir forças com outros interessados neste negócio.
8.6 Considerações finais Neste capítulo, você aprendeu sobre diversos aspectos relacionados à pós-colheita e à sua importância para manter a qualidade dos produtos e fazer com que estes cheguem ao consumidor, minimizando as perdas e potencializando os benefícios para produtores e consumidores. Você está finalizando mais uma etapa no desenvolvimento da produção de hortaliças. Com este estudo, esperamos compartilhar a experiência que a Embrapa vem adquirindo ao longo dos anos e, assim, sinalizar caminhos que potencializem a produção agroecológica de hortaliças, respeitando o meio ambiente, a equidade social e a viabilidade econômica.
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Pesquise e aprenda mais! Para aprofundar seus conhecimentos, consulte os materiais de referência existentes no material de apoio e no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem). Como sugestão, responda as seguintes perguntas direcionadoras.
Questão direcionadora
Material de referência
(disponíveis na Biblioteca do material de apoio e do AVA)
Quais são os passos principais para a produção de hortaliças em conserva?
KROLOW, A. C. R. Hortaliças em conserva. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2006. (Agroindústria Familiar). Arquivo: familiar_hortalicas_em_conserva.pdf
Na pós-colheita, quais são os princípios relacionados à respiração: produção de etileno, alterações na composição, crescimento e desenvolvimento, transpiração e perda de água?
LUENGO, R. F. A.; et al. Pós-colheita de hortaliças. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2007. (Coleção Saber, 6). Arquivo: saber_pos_colheita.pdf
Que aspectos da pós-colheita influenciam na comercialização das hortaliças?
LUENGO, R. F. A.; CALBO, A. G. (editores técnicos). Pós-colheita de hortaliças: o produtor pergunta, a Embrapa responde. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2011. 251 p. (Coleção 500 perguntas, 500 respostas). Arquivo: colecao_500_pos_colheita.pdf
Quais são os passos para o feitio de farinha a partir do resíduo gerado na produção de mini beterrabas?
LOPES, S. B.; et al. Aproveitamento do resíduo gerado na produção de mini beterrabas para a produção de farinha. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2012, 5 p. (Comunicado Técnico 80). Arquivo: cot_80.pdf
Quais são os tipos de equipamentos para acondicionamento de hortaliças minimamente processadas? Como gerenciar a qualidade no processamento mínimo de hortaliças?
CELCI, S. A. coordenador. Processamento mínimo de frutas e hortaliças: tecnologia, qualidade e sistemas de embalagem. Rio de Janeiro: Embrapa Agroindústria de Alimentos, 2011. Arquivo: Processamento_minimo_frutas_e_hortalicas.pdf
Atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) http://capacitacao.sede.embrapa.br/ Acesse o ambiente virtual de aprendizagem e responda às atividades propostas para este capítulo.
Referências Capítulo 1 MAROUELLI, W. A.; SILVA, H. R. da; MADEIRA, N. R. Uso de água e produção de tomateiro para processamento em sistema de plantio direto com palhada. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 41, n. 9, p.1399-1404, set. 2006.
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RESENDE, F. V.; VIDAL, M. C. Organização da Propriedade no Sistema Orgânico de Produção. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2008. 12 p. (Circular Técnica 63).
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Capítulo 3
Capítulo 2 AVILA, V. S. de; SOARES, J. P. G. (Ed.). Produção de ovos em sistema orgânico. Seropédia: Embrapa Agrobiologia, 2010. 100 p. FIGUEIREDO, E. A. P. de; SOARES, J. P. G.. Sistemas orgânicos de produção animal: dimensões técnicas e econômicas. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 49, 2012, Brasília. A produção animal no mundo em transformação. Brasília: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2012. p.01 - 31. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/ bitstream/item/62752/1/CD411Joao- Paulo.pdf. RESENDE, F. V.; VIDAL, M. C. Organização da Propriedade no Sistema Orgânico de Produção. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2008. 12 p. (Circular Técnica 63). SAMINÊZ, T. C. O. et al. Legislação e os Mecanismos de Controle e Informação da Qualidade Orgânica no Brasil. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2008. 12 p. Circular Técnica 66. SOARES, J.P.G et al. Integração agroecológica de animais em sistemas orgânicos de produção vegetal. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2012. In Guedes, I.M.R.; Vidal, M.C. Curso Internacional sobre produção sustentável de hortaliças: Módulo 2, p.70-73 _____________; et al. Organic milk production in Brazil: Technologies for sustainable production. Icrof News, Tjele, v. 1, n. 1, p.6-9, 2012. Disponível em: http:// www. icrofs.org.
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Referências
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Referências
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BERKE, T. G. et al. Suggested cultural practices for sweet pepper. Tainan: AVRDC, 2003. 5p.
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Literatura complementar GUIMARÃES, J. A.; MOURA, A. P. de; OLIVEIRA, V. R. de. Biologia e manejo do pulgão Aphis gossypii em meloeiro. 2013. Comunicado Técnico 93. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_ documentos/publicacoes2013/cot_93.pdf
_____________; et al. Manejo integrado de pragas do tomateiro para processamento industrial. 2014. Circular Técnica 129. Disponível em: http://www.cnph. embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2014/ct_129.pdf _____________; et al. Recomendações técnicas para o manejo integrado de pragas da cultura do alho. 2013. Circular Técnica 118. Disponível em: <http:// www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2013/ct_118.pd
_____________; et al. Reconhecimento e manejo das principais pragas da cenoura. Comunicado Técnico 82. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2012/cot_82.pdf
Capítulo 7
_____________; et al. Ocorrência e danos do negrito da batata-doce Typophorus nigritus no Distrito Federal. 2014. Comunicado Técnico 97. Disponível em: <http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2014/cot_97.pdf
ÁVILA, A. C. de; REIS, A. Doenças do meloeiro (Cucumis melo) causadas por vírus. 2007. Circular Técnica 54. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2007/ct_54.pdf
MICHEREFF-FILHO, M.; GUIMARÃES, J. A.; MOURA, A. P. de. A traça-do-tomateiro no mundo. 2013. Documento 140. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2013/ doc_140.pdf. _____________; et al. Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica. 2013. Circular Técnica 119. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2013/ ct_119.pdf _____________; et al. Reconhecimento e controle de pragas da cebola. 2012. Circular Técnica 110. Disponível em: <http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_ documentos/publicacoes2012/ct_110.pdf _____________; et al. Recomendações técnicas para o controle de pragas do pepino. 2012. Circular Técnica 109. Disponível em: http://www.cnph.embrapa. br/paginas/serie_documentos/publicacoes2012/ct_109. pdf MOURA, A. P. de; MICHEREFF FILHO, M.; GUIMARÃES, J. A. Manejo da resistência da mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae) a agrotóxicos utilizados em hortaliças. 2013. Circular Técnica 114. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2013/ ct_114.pdf _____________; et al. Manejo integrado de pragas de pimentas do gênero Capsicum. 2013. Circular Técnica 115. Disponível em: <http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2013/ ct_115.pdf
Literatura complementar
FERNANDES, F. R.; DUSI, A. N. Viroses da batata-doce no Brasil. 2013. Circular Técnica 126. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2013/ct_126.pdf FERNANDES, F. R.; DUSI, A. N.; RESENDE, F. V. Viroses do alho no Brasil. 2012. Circular Técnica 122. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_ documentos/publicacoes2013/ct_122.pdf LOPES, C. A.; ROSSATO, M. Diagnóstico de Ralstonia solanacearum em tomateiro. 2013. Comunicado Técnico 92. Disponível em: http://www.cnph.embrapa. br/paginas/serie_documentos/publicacoes2013/cot_92. pdf LOPES, C. A. Murcha-bacteriana ou murchadeira – uma inimiga do tomateiro em climas quentes. 2009. Comunicado Técnico 67. Disponível em: http:// bbeletronica.cnph.embrapa.br/2009/cot/cot_67.pdf LOPES, C. A.; REIS, A. Doenças do tomateiro cultivado em ambiente protegido. 2011. Circular Técnica 100, 2ª edição. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/bbeletronica/2011/ct/ct_100.pdf PEREIRA, R. B. et al. Doenças e pragas do jiloeiro. 2012. Circular Técnica 106. Disponível em: http:// www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2012/ct_106.pdf CARVALHO, A. D. F. de; PINHEIRO, J. B. Recomendações para o manejo da septoriose em tomateiro. 2013. Comunicado Técnico 96. Disponível em: http:// www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2013/cot_96.pdf
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NAGATA, A. K. I.; ÁVILA, A. C.; BÔAS, G. L. V. Os Geminivírus em Sistema de Produção Integrada de Tomate Indústria. 2009. Circular Técnica 71. Disponível em: http://bbeletronica.cnph.embrapa.br/2009/ ct/ct_71.pdf
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Este livro foi impresso na cidade de São Paulo, com a Família Tipográfica Frutiger LT Std, corpo 11/16, impresso em papel off-set 75g. e capa cartão supremo 300g.