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6 7
testamento do velho 6
vida ĂŠ vigĂlia 44
gentileza 58
borbulhantes 68
xingu 80
fofoca da foca 88
ilustres poesias 96
palavrologia 120
ficções 140
bichos 152
luto da palavra 168
inhotim 194
criança do futuro 204
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um diálogo de fábula entre Guilherme Zarvos e Sergio Cohn
primeira conversa (4 de outubro de 2016)
[Zarvos] Pois foi... 60 anos... ufa... Já não sei contar passado... Futuro... Lima Barreto e a Semana de 22... Beat Generation... A questão era 50, 60, 70... Depois o neoliberalismo, agora o desmonte do Brasil liderança da América do Sul. Dando as costas para a América hispânica e para a África... Nossa língua terá que se mesclar com o espanhol... Via Buenos Aires, você fala bastante do México, está aí em frente... Mas a decisão agora é fechar, com o apoio da população brasileira conservadora, e daqui a dez anos, meus 70... E o país na mesma. Em 1990, Collor e o surgimento do CEP 20.000... Nos conhecemos faz 20 anos... Sua responsabilidade de estar nos 40, com o filho, o Leo, e os seus livros, poesias, a Azougue e a Índica... Já dá para fazer um balanço... Dentro desse balanço, o garoto que sempre digo para você que vi com 16 ou 17 anos correndo por uma rua de São Paulo... [Sergio] Antes de tudo, acho importante ressaltar que embora haja uma diferença de idade, me sinto completamente seu contemporâneo. Acredito que o contemporâneo não é cronológico, mas de encontro, afinidade, afeto e efeito. E é importante perceber que o que vivemos em diferentes momentos se repete também na geração que está chegando à vida adulta hoje, 20 anos mais nova do que eu. Os
mesmos desafios. E alguns mais, que também enfrentamos, porque estamos vivos e atuantes. E assim o ser contemporâneo, o pertencer a um tempo, não tem a ver com data de nascimento ou com experiências específicas, mas com os ânimos, os desejos e interesses. “O que não muda é a vontade de mudar”, como dizia Charles Olson. [Zarvos] É verdade, eu acho que você atualmente representa o ápice de nossa geração. Claro que me incluo, que incluo o Ericson Pires, que continua vivo, Ana Kiffer, Laura Lima, Cecília Palmeiro, Pedro Rocha, Jarbas Lopes, André Dahmer, Viviane Mosé, Renato Rezende, Vitor Paiva, Domingos Guimaraens e Santiago Perlingeiro... Esta viagem Ericson Pires, segundo poeta carioca que você publicou aqui do Rio de Janeiro, na Azougue, e isto é que forma uma geração, que ultrapassa meu sentimento para com o CEP 20.000... Mesmo que no futuro continue atuando na organização do CEP, para lá de Chacal, com os jovens e não tão jovens que comandaram o CEP, e aí incluo Michel Melamed, Leprevost, Botika... Pois ninguém pode se propor dono do CEP... O evento iniciou-se com mil reais por mês, que ia para o Chacal que estava com mais dificuldades, e chegou em 2006, quando a prefeitura disse que eu não poderia participar recebendo recursos para a organização, a oito mil reais por mês. E agora Chacal, com habilidade e perseverança, faz o CEP com algumas dezenas de milhares por mês... Este diálogo de fábulas é um testamento para que os jovens que lerão daqui a 20, 30 anos, como fala você, saibam que o mesmo projeto pode ser feito a partir do praticamente nada até dialogar com os grandes grupos que fazem interface com os recursos subsidiados dos go
vernos. Mas o que importa para mim é um sentimento de pertencimento para com o Pensamento e para com a poesia... Sinto-me atemporal nos meus 60 anos, pois a minha real geração é a sua... [Sergio] O tempo. Tenho pensado muito sobre o tempo. Acredito que a grande mudança que presenciamos na nossa vida foi a aceleração do tempo, a possibilidade de uma velocidade da informação que se aproxima do corpo humano. Antes, só tínhamos a possibilidade de mídias que reduziam o tempo da informação. Hoje, temos diferentes tempos possíveis, até o simultâneo. E portanto temos uma nova possibilidade nas nossas mãos, que talvez não fosse tão radical em outros momentos da humanidade, que é a de escolher qual tempo, qual velocidade queremos ter. Esse é um novo desafio. Ao escolher o livro, como fiz, estou elegendo o meio mais lento da palavra escrita. O jornal e a revista são meios intermediários, o digital é o mais rápido, quase simultâneo. Tão rápido que muitas vezes impede a percepção e a recepção da informação. Os livros são objetos pacientes, podem esperar 20, 50, 100 anos para serem abertos, sem perder suas potências, sem se tornarem apenas testemunhos de outro tempo. História. Você escolheu o livro também. Ao reler esses dias o Ensaio do Povo Novo, feito mais de 20 anos atrás, ele é atual, potente, como se escrito hoje. O Ericson escolheu o livro, mas também escolheu a instantaneidade do instante, o Hapax. Para ele, talvez mais do que para nós, interessava o colapso. [Zarvos] Realmente, a morte do Ericson foi um baque na nossa vida, e sabemos como ele faz falta... Ando pelas ruas-fuligens do
Rio atual lembrando dele. Contrasto com a sobrevivência do Mário Bortolotto, que resistiu a três tiros no peito dentro de um bar de um teatro paulista e recuperado abre a sensacional sede do Cemitério dos Automóveis... Mas quando leio os autores de São Paulo, parece-me que estão muito distante desta ligação que falo entre Lima Barreto, um gênio popular, admirado pelos eruditos modernistas... Seu último lançamento sobre a cultura paulista, Outras Margens, mostra que a cidade e mesmo o estado tem um enorme caldo cultural... Mas fica devendo... O que estou tentando lhe dizer, aos 60 anos, e sei que é difícil de compreender para alguém na casa dos 40, que está no auge da sua potência, é que a Semana de 22 não teve repercussão inicial alguma no Rio de Janeiro... Aqui o que o jornal falava é da semana industrial tipo Paris, que apresentou o rádio pela primeira vez... Sei lá... Se é velhice compreender completamente 100 anos atrás e você falando dessas oportunidades todas de um mundo conectado, eu tenho perspectivas sombrias do que será daqui a 30 anos... Fala-se tanto de desastres, controle, robótica... Mas sempre com poetas, e quem sabe, daqui a 100... [Sergio] Aqui temos um comum. Ericson, Bortolotto, eu, você, todos tentamos a vida inteira gerar ambientes propícios aos encontros, à convivência, à criação e ao diálogo. Sejam presenciais, como o CEP 20.000, o Cemitério dos Automóveis ou a Índica, ou virtuais através da palavra escrita. Isso é muito importante, central em todas as nossas trajetórias. O desejo de compartilhar as experiências, de discutir abertamente as ideias, de influenciarmos uns aos outros. Mas somos anfíbios. Estamos vivendo num mundo em transformação. Eu
e você trazemos afetos, queremos lutar também pela permanência do que consideramos marcos civilizatórios. Como dizia o Italo Calvino, tentar reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, abrir espaço para que exista e resista. Creio que o Ericson, por lugar e experiência de vida, estava menos vinculado ao que é passado e mais aberto ao simplesmente novo. Disposto a apostar tudo em novas possibilidades. Nós lutamos em dois francos: em preservar e também em superar. Outro tipo de tragédia. [Zarvos] Concordando absolutamente, fico pensando que o Leo, seu filho, agora tem 11 anos... Imagina ele aos 20... E imagina que você lançou a Azougue em 1994, ou seja, há mais de 20 anos... Que para nós dois foi ontem... Você nesse tempo se reinventou no Rio de Janeiro, já que veio de São Paulo como poeta e virou editor aqui, mesmo já tendo em São Paulo feito publicações... Aqui no Rio já publicou mais de 300 autores, mapeando sua visão do moderno, da criação no Brasil, e ampliando, como é a sua enorme admiração pela poesia Beat, que respondia a questões dos EUA, libertários e alguns deles extremamente nacionalistas... E aqui publicando até os novos autores de 20 anos de idade num país que de certa forma faz lembrar a frase do Darcy Ribeiro que diz seus fracassos: a educação pública, os povos indígenas, o povo novo, o novo brasileiro do socialismo moreno... Insisto em como você está pensando desde seu filho aos 11 aos poetas de 20 anos, e essa curiosidade e normalidade robótica e os futuros chips implantados nas crianças das escolas para vigiar, por exemplo, a utilização de drogas... Mas não parará aí, até as emoções serão mapeadas... Claro que não se
saberá o que uma criança está pensando... Mas o mapeamento do chip mostrará como as regiões do cérebro estudadas estão sendo ativadas... Fico pensando neste mundo robótico no que os jovens de 20 anos já imaginam um cruzamento genético entre homens e máquinas e nós poetas que sempre resistiremos frente ao mundo totalitário que aparece como aparecia no desejo da expulsão dos poetas na República de Platão... [Sergio] O poeta é um hacker. O digital é uma linguagem, e é a linguagem que cria da rede aos robôs. Hoje, uma linguagem binária, no futuro pode ser quântica ou algo que nem sabemos ainda, muito mais complexo. Mas ainda será uma linguagem. E a poesia é a subversão da linguagem. É preciso poetizar as novas tecnologias, abrir possibilidades de se quebrar esses padrões e produzir outras potências. Neste sentido é que eu falo, no meu novo livro, de que a poesia é a linguagem não-comunitária. Porque não é a linguagem já estabelecida como relação comum, é desvio, erro. E portanto a abertura de novas possibilidades. O que precisamos é de tempo livre para nossas crianças aprenderem a poesia. Não só o que foi e é a poesia, mas o que pode ser. A poesia como ato, como ética, como possibilidade de libertação. Creio que seremos sempre uma mínima parcela da sociedade, mas uma parcela potente, indomável. E continuaremos existindo pelo tempo. Não há humanidade sem poesia, porque não há humanidade sem esse desejo de mudança, de construção de novas relações. Por isso, um evento como o CEP 20.000 é mais importante para um jovem do que todos os seus anos de ensino formal. E é essa subversão que temos que trazer à
tona. Mesmo que fracassemos, assim como Darcy, a vida segue e o ato-fracasso será uma cartografia, um mapa, um plano de fuga. [Zarvos] Fico pensando nos 300 autores que você publicou e eu os li... Fico pensando da Europa envelhecida às Américas com quase um bilhão de pessoas, sendo que apenas uns 100 milhões de ricos... Por outro lado, mesmo com essas tecnologias, ficaremos conversando como herdeiros da Grécia, como herdeiros das etnias indígenas das Américas e, no futuro, traremos para o cânone nacional os povos de origem africana e sua comunicação em quilombos ou mostrando-os como autores que se identificam com a origem africana e a superação escravocrata. Daí um futuro com diálogo solidário para poetas de etnias tão diferentes e populosas do que chamamos África e Oriente Médio, indo do saber da inicial escrita aos impasses do norte da África para com a chamada África negra panteísta, que desde a introdução do islamismo tanta confusão enfrentou. Você acredita que um poeta desta invenção chamada Ocidente dialogará com os três bilhões de chineses e indianos que até hoje não nos mostraram sua poesia contemporânea? [Sergio] Aqui nos vemos novamente em um período de transição (uma idade média?). Vivemos a possiblidade, mas não usufruímos a troca sem mediação no hemisfério sul. A tão falada troca sul-sul. Uma vez, no México com a Angélica Freitas, entramos numa livraria. De repente, tive o estranho sentimento de estar no Brasil, e não lá. Foi como uma tontura. Sentei, pedi um café e fiquei pensando por que havia ocorrido aquele estranho fenômeno de percepção,
aquele deslocamento espacial. E aos poucos fui entendendo: naquela livraria, os autores e as capas eram os mesmos que eu encontrava no Brasil. Os mesmos escritores japoneses, sul-africanos, argentinos. E daí percebi que embora a rede digital possibilite que possamos acessar sem intermediários a literatura desses países, com barreiras maiores ou menores de língua, e perceber quem desses autores mais dialogam com nossas inquietações ou criam outras possibilidades existenciais e expressivas, continuávamos filtrando os autores que líamos pelas feiras europeias, como no século XX. Ou seja, o filtro editorial que os levava para Frankfurt, com uma escolha que passa muitas vezes mais pelo mercado do que pela relevância no debate sociocultural, para nos trazer até aqui. O diálogo entre essas culturas era feito com a mediação do norte, como sempre foi. Portanto, há a impressão que não existe realmente o desejo de se libertar desse lugar de colônia. Só teremos diálogos com chineses e indianos, diálogos realmente fortes e efetivos, se conseguirmos quebrar com essa dependência de filtros exteriores. [Zarvos] É, eu senti essa força indo em 1987 tanto para a Índia como para a China, e olhando de lá como nós ocidentais éramos tão menores... Mas para além do tamanho, claro que minha admiração do grande e do pequeno, vem da linhagem do Darcy, que imaginava poder o Brasil e a América do Sul serem potências culturais industrializadas, formando um espaço, como diz o Castanheira, uma zona quente de expansão de saberes, de produtos, sem armas atômicas, verde, contrastando com uma chamada de atenção que você me deu não faz muito tempo para, por exemplo,
os grandes projetos energéticos na Amazônia e a relação perversa com a enorme força das diferentes culturas e etnias dos povos aqui presentes antes de 1500... Só fui entender isto quando fui ao Xingu para o Kuarup do Darcy... Entendi como a cultura de um povo que em cada junção com duas dezenas de habitantes podia ser tão forte como um país de duzentos milhões... Como foi sua entrada, já que você foi o primeiro teórico a incluir numa antologia brasileira os cantos, as poesias indígenas, com os chamados ameríndios, se a ânsia de consumo ditada pelos países industrializados está se mostrando inviável e destruidora? [Sergio] A minha primeira entrada na cultura ameríndia foi através do Roberto Piva, que possuía um grande interesse assistemático pelos cantos ameríndios. Piva percebia a potência, e a traduzia de forma livre nos seus poemas. Como ele dizia, o xamanismo tem como base a poesia e não a teologia. Por outro lado, a minha irmã, Clarice Cohn, é uma antropóloga que se relaciona faz mais de 20 anos com os Xikrins, uma das etnias mais afetadas por Belo Monte. Em 2013, ela trouxe para São Paulo um jovem Xikrin, o Mukuka, uma das lideranças da ocupação das obras da usina que estava acontecendo naquele momento. Ele começou a contar os horrores da obra e como estava afetando o seu povo. Crianças morrendo. Velhos que trazem um conhecimento maior do que toda uma biblioteca morrendo. E tudo o mais. Certa hora, comentei que aqueles relatos eram tão duros que davam dor de cabeça. Ele respondeu: “tem dias que meu corpo inteiro dói”. Estamos interrompendo fluxos muitos antigos do mundo. A Amazônia é uma linda invenção
que está sendo destruída. Suas cobras grandes centenárias sendo expulsas dos seus abrigos e mortas. E esses cantos ameríndios não são apenas fluxos desses outros mundos, mas também um testemunho importante do que não pode ser perdido. A luta também é aqui – ao trazer visibilidade, podemos também impedir o desaparecimento. [Zarvos] É uma beleza esta citação, Cobra Norato, mas não foi só aí que sua antologia, Poesia.br, que tem a natureza iluminista, já que abarca mais de 500 anos de poesia no Brasil, travou mudanças críticas, como por exemplo colocar Gerardo de Mello Mourão como um escritor modernista e não especificamente dos anos 40. E muito bem separar os autores que estavam inclusos no belo trabalho, na antologia de Heloísa Buarque de Hollanda, marcando claramente que ela falhou ao não diferenciar os poetas dos anos 60, como Piva e Torquato, e dos anos 70, os marginais... Isto lhe causou problemas? [Sergio] A antologia foi extremamente ambiciosa. E eu não sou um acadêmico, sou um poeta. E portanto posso correr o risco de criar uma nova visão que pode ser torta ou não dos canônicos nacionais. E decidi encarar, até por ser um ato político naquele momento em que o Ministério da Cultura declarou que a poesia não interessava. Mas as leituras críticas sobre a antologia acabaram sendo positivas. Não houve nenhuma crítica realmente contundente em relação aos textos de apresentação, à história da poesia brasileira que escrevi, a não ser questões pontuais. Mas é claro que é uma
obra em progresso, e cada vez mais gostaria de ampliá-la. Corrigir alguns pontos, trazer outros. Não consegui resolver, por exemplo, a questão da poesia da periferia que está acontecendo desde a virada do milênio, dos saraus e da poesia maloqueirista, por exemplo. Isso só corrijo no livro que estou publicando agora, de entrevistas sobre cultura paulista atual, que você citou acima. Mas na Poesia. br eu não sabia como fazer, porque teria que se pensar um ente coletivo para realmente expressar esse novo momento poético e a minha antologia está centrada em autores individuais dentro de cada período. Não vi muito sentido em eleger apenas um ou dois autores como representante de um movimento tão plural e ao mesmo tempo coletivo como a poesia periférica. Mas estou também já publicando um belo ensaio sobre isso, de uma autora argentina chamada Lucia Teninna. O mais importante, que tentei trazer para a antologia, é a percepção de que o Brasil tem uma poesia vital em seus diversos momentos, sem ser necessário eleger algum em detrimento de outros. É possível uma crítica afetuosa e não eletiva. [Zarvos] Assim, você se encaixa na linha entre poetas, tradutores e teóricos não-acadêmicos, como Manuel Bandeira, Borges na Argentina e Octavio Paz no México, Gide na França, Maiakóvski na Rússia e Ferlinghetti nos EUA. E vários outros. Essa dedicação é de uma generosidade enorme, pois ainda mais sendo editor, cerceia o número de poesias que você poderia estar escrevendo, no lugar deste caminho maior... Li seu último livro, Um Contraprograma, e conclui que você está conseguindo como estes grandes autores conseguiram. Rilke lembra que você só deve ser poeta se
não conseguir fazer nada mais do que ser poeta. Toda a sua articulação com a poesia é obra poética sua, pessoal. Esta necessidade de abarcar tal quantidade de informação e processá-la até a atualidade lhe traz frustração como criador da sua própria poesia ou você se entende poeta, para além do sentido que Rilke falou, na necessidade desta ação maior? [Sergio] Kaváfis era funcionário público, e dizia que cada vez que carimbava um documento era um poema que se perdia. Eu penso o contrário, até porque a minha atividade é o tempo todo criativa e não burocrática. A poesia está em campo expandido. E a poesia, conforme falei antes, também é uma forma para criar ambientes para diálogos e convivências. A poesia é um meio, não um fim em si. Um convite. Então, ao criar antologias, dialogar com autores, editar seus livros, me sinto realmente fazendo poesia. Em contrapartida, penso que os poemas me interessam também como pensamento. Renato Rezende tem batido nesta tecla, de que no Brasil não se aceita a poesia como formulação de pensamentos, como exposição de uma ideia, e que temos que reverter isso. É preciso colocar a poesia como uma forma absolutamente fundamental de conhecimento. Então, o estar aberto para todas essas trocas e diferentes suportes de pensamentos, o que a editora possibilita, informa a minha poesia. Se escrevo menos poemas por conta do pouco tempo para elaboração, creio que escrevo cada vez mais o que é essencial. Canto por não poder calar, como diz a música. Sou feliz, muito feliz, com o que faço.
segunda conversa –
12 de outubro de 2016
[Sergio] Guilherme, na conversa da semana passada, falamos sobre a velocidade da informação se aproximando do corpo – não é equivalente, porque a informação virtual é fracionada, e há na presença do corpo uma soma de elementos – tom de voz, cheiro, gestual, olhar e outros, inclusive o campo morfogenético – que fazem a comunicação muito mais plena. Gostaria que você contasse como vê a questão da presença do corpo na poesia e nos encontros que você tem realizado desde o início da década de 1990... [Zarvos] De 1990 para cá, a questão do corpo humano propriamente, que é trabalhada desde 68 na França, dentre outros lugares, tem no Ericson Pires, que vinha lendo os pensadores contemporâneos em seu mestrado da PUC, o indultor de vários de nós para a leitura e o pensamento do corpo. O corpo que Ericson pensava na atuação do instante, mesmo com o seu fim trágico, talvez diante da dicotomia de um corpo que teria que ser transformado para uma realidade de controle, mudou. E muito rápido, se pensarmos nas questões atuais tanto na neurologia quanto na robótica. Sabemos que o cérebro e o resto do corpo serão mapeados, vão se criar parâmetros e desde cedo haverá um histórico das zonas mais afetadas, das zonas quentes, que estão potencializadas fora do comum. Mas o que está realmente codificado no humano dentro deste mapeamento demorará ainda muito para ser entendido, e como fala João Cabral lá para os 17 anos todo humano tem vontade de cantar... Espero portanto que os indutores para que o pensamento e as
emoções não sejam questionadoras não venham afetar o futuro do canto. A nossa função, tanto agora como no ensinamento para filhos e netos, é questionar se e como podemos nos opor ao fio condutor que leva para a distopia orwelliana. [Sergio] Um dos pontos para isso é a construção de espaços imediatos de convívio, ou seja, que não passem por instrumentos, dispositivos, tecnologias que podem ser utilizados para controle externo. Penso que criar lugares de encontros é um ato político urgente. Por exemplo, um centro de referência da poesia brasileira, com elementos históricos e abertura para o presente e o futuro. [Zarvos] É isso mesmo... Vejo agora na nossa nova empreitada de criar um aplicativo-jornal dos acontecimentos culturais autônomos, Agulha, como uma dessas maneiras de utilizar o mesmo sistema que massifica para agitadores culturais e pensadores que individualizam. [Sergio] É importante aumentar a visibilidade e o acesso, sempre mantendo a identidade dos acontecimentos. A questão de tamanho, alcance, é fundamental hoje. Não precisamos mais de eventos de massa, mas sim de processos livres, de prazos mais longos e lento crescimento. [Zarvos] A massa será controlada, principalmente dentro da democracia liberal, a partir do anseio da própria sociedade que se deseja escrava. Não há dúvida que muito mais se lê livros, pois a inter
net e seus controles trazem inconfiabilidade para os jovens. Muitos acessam sem cronologia fatos e autores históricos, formando um bric-a-brac que de início é libertador, pois qualquer um pode criar as suas referências. Mas vejo que a partir da um momento de criação mais segura, ou seja, de dar vazão aos seus pensamentos e cânticos, mais do que nos anos 1990, hoje os poetas fazem questão de publicar livros. É um contraste, pois você como editor diz que pelo número de inéditos que recebe, se cada um desses jovens autores fosse também leitores, pegando emprestado ou comprando o objeto livro, este seria viável economicamente. Penso que nosso desejo de criar uma biblioteca de poesia de referência, de fácil acesso, como você já lembrou, será um dos caminhos e um dos pontos que se interligarão dentro do macro de criação de uma rede de iniciativas culturais, autônomas e aparecerão outras dezenas de poetas que devem escrever bem, ou desenhar bem, e acima de tudo ter conteúdo. [Sergio] Um dos pontos que considero fundamentais surgidos junto com a internet é o fim das figuras estanques de criadores e receptores. Atualmente, a juventude só se interessa por aquilo onde ela pode se ver como participante ativa. Ainda bem. O livro só será mais presente se for como forma de difusão e recepção de conteúdos. Não adianta criar iniciativas para levar conteúdos culturais aos lugares, se não existir no projeto a abertura para os conteúdos culturais criados nesses lugares também. Não é possível mais uma via de uma só mão. Esse ponto é importante, porque é o que você sempre fez no CEP, ao trazer poetas de referência e igualmente
abrir espaço para a poesia dos jovens que estavam frequentando o evento. E é por isso que fico muito feliz de ser membro da Associação CEP 20.000, e prometo que lutarei para a permanência do evento por mais 26 anos... [Zarvos] Realmente, não entendo por que a facilidade visual, o acesso ao material audiovisual em rede é tão forte e direto, e ainda não haver a facilidade de encontramos centenas de milhares de livros que já estão livres para uso, dentro de uma plataforma com a facilidade do Youtube. Por outro lado esse engajamento solidário e de percepção aparentemente individual da juventude faz com que mesmo um poeta fundamental como Carlos Drummond já não tenha a significação e a obrigação de leitura básica para jovens poetas, que talvez prefiram ler o Piva ou Lautreamónt, passando pela Beat Generation e algo da poesia marginal, passando por um mítico-místico que, aí sim, pode causar uma confusão por não se ater a esta história inventada que tanto eu como você nos detemos desde criança. O básico da leitura icônica para posterior questionamento e as maravilhosas revisões e achados que vão se dando no processo de reler e de escrever. Muitos dos jovens acham que lendo a Wikipedia e três poemas de qualquer poeta lhes dá segurança para a afirmação do conhecimento sobre a obra deste autor. Daí, no Branco sobre Branco, eu colocar a primeira página como chamativo de vários escritores que gosto, com os desenhos propriamente das capas das edições, como se ao olhar o livro de alguma maneira essa memória coletiva enorme criasse uma força antes desta leitura mínima. Acreditando que ao olhar a capa
de clássicos como Macunaíma, Vidas Secas ou o Febeapá, estas palavras-visões que foram tão lidas se encontram marcadas nas palavras do título do livro. Algo como a geração molecular de conhecimento, ou magia. [Sergio] Interessante esse ponto. Tenho pensado muito sobre a importância do projeto visual dos livros de poesia para informação sobre seus textos. O Brasil, ainda mais do que outros países, não tem uma preocupação em preservar os projetos originais dos livros. É espantoso ver como a leitura de um Martim Cererê do Cassiano Ricardo é diferente com as iluminuras feitas por Di Cavalcanti na belíssima primeira edição. Ao retirar isso, está sendo feito uma operação de limpeza que acaba subtraindo compreensão e intenção do texto. E mostra como há um exercício de apagamento das relações entre artes e artistas. Como se o escritor só valesse pela palavra, sem importar seu contexto de relações e colaborações. [Zarvos] Isto é dos mais gravosos erros, pois dentro do moderno realmente se desejou a morte do autor não-manipulado, mas todos importam em sua biografia, e aqui citamos um livro lindo do Brasil, que propositadamente inseriu tanto no desenho como na capa seus iguais, na eleição do gosto poético para o fazer das artes visuais. Os poetas e os livros ficam mutilados quando uma nova editora resolve equalizar o funcionamento das fontes, das imagens, retirando desenhos ou juntando, como no Água Viva, da Clarice, o que era separado. Este descaso para com o que o artista que nós denominamos torto, os que não querem respeitar o estabelecido,
como voltando ao Orwell, vai se apagando e se limpando tantos escritores ou artistas visuais, como foi o caso por muito tempo de Hélio Oiticica, Lygia Clark e Vlademir Dias-Pino. [Sergio] O interessante é que falamos do moderno, mas esses encontros acontecem ciclicamente na nossa cultura. Há uma volta nos anos 1950, com os concretos e neoconcretos, nos anos 1960 com a poesia processo e nos anos 1970, com os marginais. Todos tendendo, cada um de uma forma, a romper com algumas estruturas estabelecidas do objeto livro. Seja em construção, seja em difusão, seja em estrutura, seja em autoria. Isto parece estar ocorrendo, ainda timidamente, novamente agora. O que considero interessante é que em todos os casos isso foi consequência de um convívio vital entre os artistas de diversas áreas, do diálogo e da amizade. De conversas, interesses em comum. Não foram invenções que vieram verticalmente, a partir de demandas editorais ou de mercado. [Zarvos] Não há dúvida que é total absurdo, como já li, um livro do William Blake apenas com suas poesias e sem seus desenhos. Ou, como no caso de uma reunião de poesias do Chacal, onde sua excelente prosa, que é prosa poética, é separada das imagens e colocada na frieza da sequência das poesias, perdendo tanto o lado das artes visuais como o da mistura de gêneros. Hoje, há uma enorme vontade de escrever, mas também de desenhar a vida. E daí vermos tantas artistas visuais entrando na poesia com desenhos, como vi no início do milênio na Argentina, no movimento
Beleza e Felicidade. Tem uma belíssimo livro de Cecília Palmeiro sobre esse movimento, que inicialmente era baseado nos livros de nossos cordelistas e suas xilogravuras... Que conclui numa visão feminista que “nós mulheres queremos ser felizes”. Cabe a quem tem o valor de uso desses materiais não cair na boca do leão, que não tem dentes, mas que é forte e engole. Que são as imposições das grandes editoras para facilitar a venda para escolas ou para leigos. Vende-se o nome do artista, mas não coloca-se corretamente como e porque o artista faz. E aqui no Brasil, no modernismo, no concretismo, na poesia processo, na poesia marginal e agora no imbricamento entre palavras desenhadas e textos, temos coisas maravilhosas... Até mesmo em relação com a esdrúxula caixa de sabão de Andy Warhol. Através destes textos, assim como os da Beleza e Felicidade, pois a Argentina é muito avançada nesta mistura, acaba-se por não aceitar o fácil, pois um desenho bonito com um texto sem conteúdo é deformante como a palavra escrita é negativamente deformada quando bem falada e não lida. [Sergio] É neste período do convívio com a produção argentina, no começo do milênio, que você começa os seus exercícios de união de palavra e desenho. Os primeiros esboços disso estão em Zombar, e vão se multiplicar nos livros seguintes. Como você tem visto este trabalho? [Zarvos] Tive três insights dentro dos meus livros preferidos. No Ensaio do Povo Novo, eu estava sendo praticamente obrigado dentro do CEP a produzir o gênero poesia. Minha resposta foi a tentar
ir além, misturando o gênero ensaio, mesmo que só com pitadas, com a poesia propriamente dita. Depois, nós tivemos o período, que foi exacerbado com os blogs, da entrada do eu, totalmente arrebatada, algo que não era possível entre os escritores consagrados até os anos 1970. Foram você e Ericson que mostraram-me que o Morrer, que eu estava com muita vergonha de parecer piegas, estava dentro das necessidades daquele início do século, que é abalroado com impacto das quedas das Torres Gêmeas em 2001. Depois, o eu expande-se nos blogs e nas redes sociais de maneira ingênua e torna-se farsa. E a minha convivência durante os anos 1990 no CEP me deu a possibilidade de um enorme contato com os artistas visuais da geração do final daquela década. Após Morrer, já não me cabia morrer em vida, e sim viver gerando alegria ou tristeza, mas entrando no que Benjamin falava sobre uma escrita mágica. Uma escrita mágica, quando dificultada, faz com que você escreva para um grupo de decifradores, que produzirão para outros decifradores. Se antes, seja em Pound e Elliot ou mesmo em Dante, dentro de cada frase havia citações literárias que esperavam pelo leitor ideal, agora esse leitor ideal, como você bem lembrou antes, dentro de um mundo com um sem fim de sinapses, é melhor transmitir mantendo o potencial transgressor com as palavras escritas e as palavras-figuras. Tenho sempre procurado olhar para trás e me surpreendo como quando você recentemente me apresentou a Maura Lopes Cançado e levei um susto, pois era como a sequência que defendo do início do moderno em Lima Barreto chegasse ao limite da palavra, a não-palavra, a repetição, o silêncio, que esta enorme autora conseguiu transmitir antes de ser apagada pelo
sistema manicomial. Também, após a nossa última conversa, peguei o livro de Yi Sán, um coreano que só escreveu pouco tempo, tal a autora mineira, e teve um final infeliz, já que morreu sendo torturado em Tóquio (lembrando que de 1910 até 1945 a Coréia foi dominada pelo Japão). Escrever no limite, quando as palavras e objetos confundem-se, parece-me assim uma escrita universal. Como se o gaguejar coreano, brasileiro ou francês (aqui pensando em Artaud, e também poderíamos falar de outro suicidado que era o germano Reich, mesmo que em seus livros mais importantes não dão a categoria de ficção, ou é claro, o Nietzsche), em qualquer língua, essa escrita pânica antes da destruição completa das possibilidades de articulações verbais, se apresente tanto no Ocidente quanto no Oriente. Um Oriente nada Confunciano, nada oficial. E com as mesmas dores, mesmo que desenhadas em ideogramas, que nossas frases curtas. Aí me incluo na linha da Maura, do Mautner, do Piva, e lá para trás do Lima Barreto e do Oswald e de Mário. [Sergio] Essa sua escrita pânica cresce em Lições Educacionais para Tintum, mas realmente explode no Olho do Lince, quando as construções formais são misturadas e algumas vezes eliminadas num poema de largo fôlego. [Zarvos] Essa escrita apareceu em 2002 e se fortaleceu em 2012, ano que Ericson faleceu. Eu decidi mudar para Maricá sem computador, voltando a escrever à mão, o que na verdade nunca deixei de fazê-lo. Já agora, neste novo livro, quis me afastar da descrença, fazendo um balanço de 60 anos de vida e voltando para uma escri
ta linear que desembocará no A-roubo, próximo livro, que como no Ensaio do Povo Novo corteja o gênero ensaio, portanto voltando a certa forma para uma escrita de mais fôlego. [Sergio] Neste novo livro, há também a explicitação do elemento de um humor muito peculiar. Esse humor também se filia a uma tradição subterrânea da poesia brasileira, que não trabalha exatamente com a ironia ou o sarcasmo, e sim com o estranhamento da língua e do mundo. Vejo ele em diversos autores, alguns já citados, como o Piva, outros ainda não, como o Leonardo Fróes. Como você pensa o humor na sua escrita? [Zarvos] No processo de doutoramento, a minha orientadora Marília Rothier fez o desenlace dessa questão ao mostrar que utilizo humor para iluminar fatos morais. Levei um susto quando ela escreveu e reli e realmente concordo. O bobo da corte quando municiado com o poder do saber e a naturalidade do convívio com outros artistas, ironiza, faz rir, provoca engulhos, movimentando necessariamente para além do cérebro o corpo desejante. Você, em sua poesia, me parece trabalhar com a procura lógica e agora entrando para o grandioso místico. As frases surpreendem, mas elas não se dão apenas como uma frase poética. Como se dá para você esse processo? [Sergio] Eu sou profundamente fundado no humor. Talvez isso venha da cultura judaica do meu pai. A autoironia, que outro dia brinquei não saber dizer se está rindo do oprimido ou do opressor,
faz parte do meu cotidiano. Vejo isso também no meu filho – tanto o desejo do humor como forma de comunicação, empatia e prazer, como também o gosto pelos anti-heróis, por aqueles que não são grandiosos, mas lidam com o mundo através das pequenas falhas humanas. Mas, estranhamente, não consigo traduzir esse humor em poesia. Ele se apresenta nas conversas, nas escritas prosaicas, mas quase nunca em verso. A minha poesia nasce de inquietações profundas, de questões que surgem e passo algumas vezes anos trabalhando internamente, até que encontram alguma forma de resposta (não conclusiva, mas derivada) no poema. De certa forma, creio que tenho muita dificuldade em tomar as rédeas de minha poesia. Ela se apresenta como quer. [Zarvos] Voltando aos seus 16, 17 anos, você convivia com Piva, acreditando naquele universo mágico que você o tem até hoje, mas escolheu filosofia da USP como faculdade que posteriormente abandonou. Penso que é desta juventude de um questionamento da ordem da relação significante-significado que até hoje tem permanecido tanto na sua atuação política, aí incluindo a defesa da beleza do saber indígena, como na angústia de mais do que o seu humor cotidiano, são definições e um olhar apurado que clareia as contradições e elas saem com uma perfeita precisão poética que gosto muito, lembrando que realmente ela vem do seu natural... Não tem o hermetismo exagerado dos autores do alto modernismo e jovens bons escritores paulistas, mas faz com que o leitor queira ir para além da poesia. Ela chama para a definição.
[Sergio] Este é um ponto interessante. Outro dia mostrei um poema novo para o Fabio Weintraub, que é também poeta e editou meu primeiro livro. O Fabio falou que gostou do poema mas não do seu fim, que ele dizia que trazia uma conclusão muito direta, uma afirmativa. Recomendou que eu retirasse esses versos finais. Eu respondi que me interessava a conclusão como estava. Realmente, há um caminhar para a definição na minha poesia. E os autores que me interessam são aqueles onde eu vejo a poesia trabalhada não apenas no sensível, mas também como pensamento. [Zarvos] É aí que vejo o contemporâneo da sua escrita. Quando pegamos o último livro sobre Artaud da Ana Kiffer, vemos que o pensamento da autora escorrega positivamente para a escrita poética. Penso ser altamente positivo que o pensamento estruturado se dê nas áreas científicas, seja na sociologia, da filosofia ou da história das artes. Mas é claro que gosto do imbricamento ensaístico vindo para a poesia e no seu caso o ensaístico e o filosófico, sem argumentações morais, que não é o seu caso, como fazem muitos autores engajados, pois é realmente uma necessidade do poeta e não do pensador que quer fazer uma poesia. O questionamento vem antes, não há julgamento moral, claro que pontadas de ironia sim, mas é o livre pensar que todo filosofo deve ter extraindo da significação que muitos podem entender, sem se esconder, e produzindo uma das vertentes necessárias para a poesia contemporânea. Como outras vertentes, que vão continuar a serem necessárias, se escritas sem condicionamentos... Ainda temos espaços para uma poesia de pensamento ou uma poesia de longas linhas. O que se apresenta de
modo mais frágil são longas linhas diretas e isto se dá principalmente nos romances, em que histórias frágeis são rodeadas por detalhes frágeis e inúmeros, formulando livros longos, entendendo que muita gente deve lê-los, mas que pouco acrescentam. É o que já foi escrito pela humanidade, principalmente o que se conhece desde o romantismo alemão. O resto é a indústria best seller, boa para entretenimento, ruim para ensinamento para poetas. [Sergio] Alguns pontos aqui são importantes para a compreensão da sua trajetória. O primeiro: vejo em você o mesmo que o Leonardo Fróes fala sobre si, a fuga do eu para algo próximo da fábula. O texto pode parecer de primeira vista como autobiográfico, mas foge da escrita de si. É algo que você mesmo pontua em outras conversas. E também a sua ida para a poesia e o ensaísmo, depois de começar com a prosa, não me parece apenas uma imposição externa, como você algumas vezes coloca, da convivência com os poetas do CEP. Vejo também como uma forma de lidar com as complexidades do contemporâneo sem ter que abarcá-las em estruturas rígidas. A narrativa hoje talvez seja a arte que mais está enfrentando dificuldades para encontrar suas potências. [Zarvos] Claro que temos grandes narradores vivos, como, por idade, Dalton, Silviano Santiago, que lançou agora o maravilhoso “Machado”, Mautner, Noll, Fausto Fawcett, Carlos Emílio Correia Lima... [Sergio] Alguns deles, ou quase todos, com obras que se contaminam fortemente da estrutura poética...
[Zarvos] Certamente. Existem nomes excelentes, como Marcelino Freire. Mas leio um sem-número de bons escritores oriundos da chamada geração 90, de prosa, principalmente de São Paulo, como Bernardo de Carvalho, Milton Hatoum, Daniel Galera e Joca Terron, que não conseguem alcançar uma literatura potente, pois se amansam para um fácil mercadológico. E são por isso mesmo cultuados. Aproximando-se, como falei antes, do entretenimento. E nesta conta fico melhor com Jorge Amado ou até mesmo um Machado. [Sergio] Importante ver como o mercado é mais cruel na prosa do que na poesia. Atualmente, existem artifícios que se repetem de escrita criativa e de possibilidade de adaptação dos textos para o audiovisual, que acabam impondo limites para a criação. Mas, o que mais me incomoda na obra desses autores é a acomodação dos seus livros para estruturas sociais conservadoras. Os livros parecem feitos, assim como os filmes norte-americanos da sessão da tarde, para ensinar o público de como se adequar ao mundo que o cerca. Penso que a potência literária está, como dissemos acima, exatamente no contrário. [Zarvos] É realmente muito engraçado que no mundo em que se diz que ninguém mais lê tantos filmes de sessão tarde apresentam como protagonista um escritor de best seller em crise. E no final, numa estrutura de cerne fascista de mercado, eles acabam por emplacar mais uma obra vendida às centenas de milhares. Somado aos livros globalizados, seja da Índia, da China ou do Afeganistão,
que mais parecem ajeitados por editores de Frankfurt ou Nova York. Sem contar que é impressionante a falta de educação, nesses filmes, de como os norte-americanos fazem uma destruição proposital do Faulkner e outros escritores desviantes da forma forma. [Sergio] Importante pensar que estamos falando de países, como Brasil, China, Afeganistão, em intenso movimento, conflitos de todas as naturezas e grandes inquietações. Se a literatura europeia se autoacusa de perder potência por falta de temas relevantes, é estranho que aqui, onde do microcosmo existencial ao macropolítico tudo ainda está para ser feito, haja a repetição do vazio. [Zarvos] Assim, uma escrita afegã ou norueguesa que deveria ter suas particularidades, fica ligada ao tema exótico, mas a forma continua normopática. Seja uma moça que foge, um garoto que vê o bombardeio ou que ganha na loteria... Mas as frases acomodam o quase-impensado, o inumano desejante... Um corpo com órgãos reconstruídos, desorganizados, visando um corpo-máquina calculado. [Sergio] E aí voltamos para a questão da poesia. Ao ser uma arte de difícil domesticação, não permitir a restrição por normas, especialmente após as rupturas modernas e contemporâneas – o que não impede que exista a escolha de certas estruturas ou vozes pelo mercado – se torna mais potente e capaz de responder às inquietações atuais.
[Zarvos] Você sabe que estou num período suave. E vai com admiração esta crítica. Melhor ler um livro para o comum do que não ler. Só não entendo que nós aqui no Brasil, que temos o Jorge Amado, Érico Veríssimo, Ariano Suassuna, entre outros, não partirmos para muito além... E sorrio suave quando os escritores e leitores desses enormes best sellers falam-me que não entendem poesia... Sorrio com suavidade para não dizer que poesia é de fácil leitura para quem não tem medo de sonhar. terceira conversa –
18 de outubro de 2016
[Zarvos] Para não entrar em desespero completo aos 60 anos, ver destruída uma possibilidade de uma nação sul-americana, incluindo com total respeito todas as etnias e culturas, trocar o velho país do futuro para o país que tem de sempre recomeçar e lutar contra a escravidão introjetada do mais rico ao mais pobre. A falta de solidariedade, a descrença que todos os homens são iguais e já aqui onde a mão alcança este imbróglio que estamos conversando que é a aceitação da sociedade de controle. Todo livro e principalmente um que quer marcar uma data deve possuir algumas características do oracular, da tentativa de não ficar preso a mais um golpe terrível, consolidando os militares em 1964, agora, pela meritocracia do judiciário conservador e altamente abusivo contra as liberdades individuais. Sei lá, será que duro mais 20 anos? Vamos ter mais uma conversa quando você passar dos 60... E rever nossas conversas de 2007, de 2013 e esta?
[Sergio] Tem duas coisas que muito me impressionam sobre o cenário atual. As duas abrem possibilidades, não são puramente negativas. Embora no momento estejam nos levando a uma situação bastante complicada. De um lado, assusta perceber como a esquerda que acreditou em algum momento que poderia mudar as estruturas por dentro não concebeu estratégias complexas para isso. A aposta no executivo, deixando os dois outros poderes, o judiciário e legislativo, na mão das forças mais conservadoras, demonstra uma incapacidade dessa esquerda de entender o tamanho dos desafios que teria que enfrentar. Se ficarmos no caso da cultura, por exemplo, e o mesmo se repete para a educação, aconteceram projetos e programas importantíssimos nos últimos tempos, especialmente nos anos do governo Lula, entre 2003 e 2010. Mas o principal para a manutenção e a invenção nessas áreas, que era a consolidação de orçamentos a partir de leis que os assegurassem, a proposta de um ou dois por cento para a cultura e dez por cento para a educação, obrigatórios no orçamento da União, não foi levado à frente. Não teve uma mobilização real, seja do governo ou da sociedade, para isso. Ou seja, todas as conquistas hoje estão sendo destruídas em velocidade recorde... [Zarvos] O Brasil cordial que Sergio Buarque escreveu tem duas leituras. Uma, ele como liberal exaltava, pelo Brasil não produzir guerras internas tão mortais e claras como foi o caso da guerra da secessão dos EUA, a Revolução Mexicana, a Revolução Russa, a Revolução Chinesa, dentre outras. A gente viu o Brasil dizer que iria necessitar de centenas de milhares de engenheiros do mundo
inteiro para o projeto popular de Lula, e poucos anos depois este mesmo país não ter emprego para engenheiros. Mesmo os já pagos para estudar fora, advindos do FIES. É claro que nenhum dos lados pode estar com a razão numa situação destas, mas você tem toda a verdade que o cerne, seja político, cultural ou educacional, não foi trabalhado nesse projeto de 13 anos, e daí ser o seu maior defeito. O Brasil cresceu de renda e aumentou a brutalidade de 60 mil assassinados nada cordiais por ano. Sem levantes. Os assassinatos comezinhos que é a cordial bestialidade aprovada agora, em 2016, pelas urnas deste povo que não se ama. E para além disso, nada pode ser dito se após 12 anos uma ignorante chamar de Pátria Educadora um país em que não há ensino médio público de mínima qualidade e onde 500 mil estudantes tiram zero em redação num exame de qualificação, o ENEM. Praticamente um terço dos alunos. [Sergio] Sim. Sem contar o peso retrógrado e autoritário do termo “pátria educadora”. Antes de ir para o outro ponto, gostaria de expor uma ideia maluca. Creio que existem duas forças estruturais não-europeias no Brasil: o cafuné dos africanos e a peia dos ameríndios. O cafuné é o tempo do ócio, o carinho desinteressado. O tempo morto que, como lembra Pucheu, aviva os outros tempos. E é também aquilo que estimula o corpo como um todo pelo contato. A peia é a surra emocional, a catarse autocrítica, de terrível viés purificador, que o ayuhasca gera em quem o toma. A dureza profunda da floresta, a moral implacável da floresta. Assim sendo, gostaria de defender que o governo Lula foi um período de cafuné no Brasil, onde se estimulou diferentes partes do seu corpo, criando
zonas quentes e amor próprio. Os Pontos de Cultura são um exemplo disso, mas há outros. Já o governo subsequente, embora incapaz de lidar nas outras esferas com a floresta, com o selvagem, foi a peia, teve como base a surra moral para adequação a valores, que na maior parte das vezes nem poderiam ser chamados de valores de esquerda. Um governo que tem como uma das primeiras ações uma “faxina ética”... Se de um lado houve uma certa permissividade, do outro houve a perda das potencialidades de diferenças. O slogan de governo da Dilma expõe essa estranha contradição, já clarificada brilhantemente pelo Alex Antunes: se Lula era um governo de natureza feminina, uma fátria, capaz de lidar com diferentes forças da sociedade, Dilma fez um governo essencialmente masculino, valorizando a pátria, a centralidade e a autoridade. [Zarvos] E esta esperança no refazimento da nação... que na realidade nunca aconteceu, é tomada de assalto por políticos velhos, corruptos, machistas e antipopulares. É só olhar a composição do ministério Temer que escancara a subserviência e a maldade humana. [Sergio] Tocqueville dizia que a revolução é feita por aqueles que estão melhorando de vida e de repente vêem essa melhora se perdendo. Não por aqueles que estão imobilizados em um estado de pobreza, mas os que vêem novos obstáculos para uma transição em curso. Creio que o levante de Junho de 2013 tem muito a ver com isso, mas não apenas em relação a riquezas e melhoras materiais. O governo Lula teve muitos erros, mas criou de forma inédita trocas e diálogos com diferentes áreas da sociedade. Durante o go
verno Dilma, esse diálogo foi interrompido, de forma traumática. Quem viveu em Brasília conta do esvaziamento do Palácio do Planalto, sempre cheio de gente durante o Lula. Creio que foi a reação à perda de um diálogo que começava a se estabelecer entre Estado e sociedade o motivo principal para um levante de tal amplitude. [Zarvos] Parece-me, pelas revoluções que conhecemos, que as grandes transformações se dão no vácuo, quando não existe um poder. No caso da Rússia e da China foram a primeira e a segunda Guerras Mundiais. Não é o caso aqui. As perdas momentâneas parecem levar mais para um golpe ou uma ditadura do que para uma transformação estrutural. [Sergio] Aí entra o segundo ponto que citei acima: creio que o que aconteceu no Brasil, talvez desde a redemocratização, com a Anistia no final dos anos 70, mas acentuadamente a partir de 2002, com a vitória de Lula na eleição para presidente, foi o delírio de poder por parte da esquerda. A ideia de que se poderia transformar a sociedade por dentro das estruturas de poder. [Zarvos] Fico perplexo mas atento quando pensadores humanistas começam a acreditar na proposta atual norte-americana, representada na total conservadora Hillary Clinton, em expor nos seus e-mails vazados que deseja as Américas com livre comércio e moeda única. Um pensador de um Brasil que nestas condições apenas será mais um estado dos Estados Unidos da América naturalizar este encontro esquecendo-se que na Europa não vem fun
cionando e que mesmo os EUA latinizados e portanto melhores pretenderão continuar o que Negri denominou de Império, não se justifica. Para um norte-americano esclarecido, é sabido que a língua inglesa será insuficiente para as Américas. Mas o modelo de produção de conteúdo e de consumo será dado pela minoria WASP que atenta toda a nossa cultura, ainda sonhada, de ser igualitária. Os WASPs tem um projeto falido de afirmação da minoria racial branca, mas estão dispostos a destruir o mundo e criar um muro contra a entrada latina, por exemplo, pelo México. Estes desalmados através de uma leitura absurda do Exodus estão dispostos a morrer e matar pela causa sem sentido. [Sergio] Ao mesmo tempo, fico pensando o quanto que se conseguiu de conquistas sociais, comportamentais e até estéticas a partir do contrapoder. Contrapoder, ou contracultura, que foi e ainda é muito forte nos EUA e em outros lugares, e atingiu de forma positiva a vida de bilhões de pessoas. A começar pelo imenso legado que foi o respeito com as diferenças, com a a natureza, o inumano, e especialmente a luta pela igualdade de gênero, e pela transitoriedade de gênero, além da liberdade de uso da consciência e do corpo. [Zarvos] Os EUA com distribuição de renda do Brasil serão comidos por dentro... O que eles chamam de lutas raciais, de conflitos raciais, na verdade são conflitos de distribuição de renda. Porém com viés ideológico de separação e de estamento de diferenças raciais de controle... Podemos ver claramente que a Alemanha Ocidental absorveu a Alemanha Oriental sem maiores problemas. E
os EUA são incapazes de tornar o México um país de renda média que se aproxime dos países ricos. O Brasil não tem mais crescimento populacional. Ficaremos nestes 200 milhões. O Japão e a Rússia, que foram grandes potências, estão perdendo população. E o meu medo é que estas minorias político-raciais e acumuladoras não entendam e nem desejam uma economia do não-consumo, claramente mostrada pelos povos indígenas e pelas matizes africanas. Criar um país em que se recicle e que o poder seja realmente descentralizado, e não maquilado pela indústria cultural de massa ideologicamente produzida pelo país mais rico. [Sergio] Sim, esse para mim é o ponto. Quando falei do contrapoder, é da capacidade de contaminação e subsequente transformação criada por fora das estruturas de poder. Creio que após o delírio de poder dos últimos anos, haverá uma volta, com bastante força, da contracultura. No sentido de iniciativas autônomas, descentralizadas, que busquem o respeito às diversas formas de vida, sabendo como Michael McClure que um homem que não saiba que é um animal é menos e não mais que um animal, e radicalizar propostas para um corpo livre na sociedade. Como lembrou Pucheu, os últimos anos tiveram como uma das palavras centrais na política, na cultura, a “narrativa”. A “construção de narrativas”. Agora é hora de trocar a narrativa pela poesia. [Zarvos] É claro que nós dois, humanistas, sabemos que toda criação de identidade é falsa... O mundo nunca foi humanista... O mundo sempre foi inumano nas relações de poder, após o
surgimento das sociedades de classe. Até meu falecimento, fingirei, como fingi até os 60 anos, acreditar na contracultura e no homem novo. Fingir e sonhar é a mesma coisa, para um velho ou para uma criança. quarta conversa –
19 de novembro de 2016
[Zarvos] Hoje já não é tempo de uma conversa mais longa. Tudo é urgente. Neste um mês e meio de conversa, aparece o inominável como certeza... A formulação norte-americana da palavra NÃOVERDADE, que não é literária, é cognitiva, disciplinada e abusada como o Fim do Mundo. A Inglaterra saiu da União Europeia, os franceses dispersam os imigrantes e nos EUA um facínora com nome de hotel toma o poder e indica famosos racistas que jamais poderia imaginar vir a acontecer na cúpula do poder norte-americano. Espero que o isolacionismo deste grupo de supremacia branca não exploda o planeta. Mais do que nunca, querido amigo e poeta, é daqui, de onde estamos, que responderemos de nosso modo a todas essas agressões. [Sergio] Creio que um dos fatores que nos levou à situação atual foi não aceitação da possibilidade da perda. Há aquele ditado mineiro, de que numa negociação quem não pode perder já perdeu. E ao se recusar a ter a ideia da perda, ao centrar as atenções na eleição e não na gestão, no processo de governo, a esquerda acabou tendo que negociar mais do que deveria. A perda é parte de todo processo. É uma arte, como lembra Elizabeth Bishop. E ao aceitarmos que
as coisas são cíclicas e não lineares, que os avanços e recuos acontecem transitoriamente, podemos aceitar a perda momentânea e vê-la como forma de arrumar o caminho, repensar as propostas e avançar para conquista e consolidação de um mundo mais justo, livre e solidário. Não faz mais sentido pensar em progresso linear, ou em um projeto baseado no desenvolvimentismo. E mesmo o tempo não é uma trajetória, uma via, mas um campo, um feixe de possibilidades. Alterando a perspectiva, podemos alterar profundamente o futuro. Imagino que era isso que o Olson estava dizendo, quando declarou que precisávamos fazer o experimento alquímico de transformar o tempo em espaço para, ao se mover dentro dele, evitarmos a tragédia que se aproxima. Ou o William Carlos Williams, quando disse que um novo mundo é apenas um novo olhar. A vida segue e com vigor.
viv er ĂŠv igĂ
lia
Pousou no meu braço descoberto E cravou picada verde Suei verde Que te quero ver-te Uma febre tornou-me verde Qual a cor do suor O final triste seria o coração ver-te E parar humana morte verde Chamei o pajé da mata atlântica DIsse-me pode pajé Trouxe um melado da mata Super atlântica cor verde Super saber pajé ciência da mata camuflada Ainda aqui esperança verde para contar Estória
MATA ATLÂNTICA Nesta tela Há janela Verde marrom amarela Beija flores de várias cores Olhar vários olhos castanhos Como doce Olhar em seguida Novamente olhar Esquecer e assistir a surpresa Está na Janela O verde marrom e amarelo E hoje tem gotas de chuva
O ENCANTADOR DE BORBOLETAS Num dia azul de setembro Uma borboleta que planava Com agilidade e suas asas brancas e azuis Mas era da borboleta vermelha que o oráculo elucidou De início soprou para além da poeira Suas asas ao soprar em tempo de sol Precedendo a morte certa Tempo de sol ainda asas delirantes em vida E aqui sumiu? azul? amanheceu seca Já pousada sobre uma página do Bandeira Pensei que estava morta e nada Muda sobrevoou-me e pousou no ombro esquerdo As cores da casa abriram-se e mais ainda as janelas Ambas despedindo-se com caudas de pavão Afinal batalhar e dormir numa hora De final de tarde de Setembro
O ENCANTADOR DE BORBOLETAS 2 A piscina translúcida de azul setembro Brilha mais que brilhava outrém Como uma borboleta que piscava azul gelado Mas era vermelha e preta mengão Pousou quase grudada ao chão Encantado pela borboleta Seu sopro de troca cuidadosa Apesar do calor meio-dia Aprendemos que podemos movimento Das cores das asas vermelho aberto Do buraco do cu peido azul Ambos com cauda de pavões Fedendo cor de beijo íntimo
Manter o cerne na carne Estar no cérebro no coração Que flutuam são 2 Sair doce bravata inconsequente
Apenas a lua minguante anotando Trepar desmilinguindo o iniciado Enrolando grama o escuro e tal beijo Com toques arredios do que não sabe Fingindo eterno é somente rompante
2 Viver é Vigília no coletivo asno Esconder que foi picado pelo bicho Esporrou já lambido pelo ser Afirmar que o amor dolorido não se
Esquece Lampeduza rasga dedo sobra ouro Crematório despido de local Cúmplice compra-se o cupido Suicídio para língua que não beija
3 Dar até logo mãos lavadas Homem ménage tal idéia Faz brota escreve e não me toque Sábio coleciona azul para a caneta
Lembra velho coração suspenso
PARA SERGIO COHN É domingo estou num taxi para o aeroporto Deu rolé no Ibirapuera Correu De mãe velha de pai velho É dia do país Domingo almoço com família Olhando velhas fábricas abandonadas na Marginal Pinheiros Mais fábricas na frente de uma delas O moleque que foge do país Está entre paredes fritando em planeta Ovnis Desesperadamente com uma pasta e um livro Um enigma O mistério e a corrida Chamado Piva
PARA PAULO FITCHNER Capitão capitão Partiram-se naus Queimadas vitoriosas várias essências E levo-vos abrigadas novidades O mar púrpuro tem asas Descobriram que o planeta morreu Descobriram que mais 100 anos O homem e suas naus viajarão para o futuro Quando a Terra estiver gélida Capitão capitão Grandes formas de coberturas aquecidas Implantadas como no seu quadro quarto E gerará luz e muitas muitas crianças Fique firme e aqueça coração
NA CONTRAÇÃO E AMPLIAÇÃO Do Ser Tudo em 2 Corpos que se gostam Buceta e pau Confortáveis Orgasmando Escreve o Poeta Leitor e peitos perfeitos Mas o tempo conspira Destino é a vida Apaixonar-se por Ele Apaixonar-se por Ela Amaciando Pau buceta cu Esta é a composição final
ge nt ile za
pa r
ae
dit
h
ou crencide
quem disse que bicho não é inteligente
A cachorrinha Edith Quando estou pelado fica esparramada No ar condicionado Quando ponho a toalha move-se pouco Sabe que vou ao banheiro Sabe tudo Até falar A Não ensino mais pois não quero pavloviar Quando coloco bermuda ou calça Iça ouriçada e espreguiça-se Sabe Q vai passear
Edith tem olhos de Jaboticaba Brilha qual bola caçapa 7 Não desliga por + de 1 hora Quer dormir + quando o dono dormir Atazanada obriga dono dormir Exagerada rejeita a leitura que diverte Suspira vira-lata neurótica Animal acostuma-se ao mando Afina-se ao proprietário e dispensa semelhantes Explicar à donzela das impossibilidades Ser humano mesmo que no futuro Tão igual no pó e no Universo Sofre quem lhe aplacar os desejos Se fosse humano exigiria o homem aos
Seus pés
Andar Paris e ver tiquinhos Cada dia luz país de pais Entrar museu sem Abrigado atemporal Passear Edith ter carinho Sena Cena ser feliz Casar numa igreja cachorrinho Colher outono cores palmas da mão Paris beleza gente e misturas Brasseries belas loucas comportadas tão francês Ir embora vai de jato não se olha Sobra a foto foi com ela que tirei
CACHORRINHA EDITH
She loves me And we do Walking in the land And not seeing just nous She had a voice Miracolo da Piaf Gigante de corpo mirrado Hispotizadora de algum
CARNAVAL 2016 – 59 ANOS
(1 POUCO + DE BARRIGA)
Ao lacrimejar sorrio sou rio A penas rio Do lado Edith cachorrinha transformer Saudade dos q não aparecem Bonecos do Circo Alguns fantasmas E aí vai batidas Bom tombo de surf Engolindo camarões enguias Cuspindo fumaça café mel Bufa estúpido larga o cigarro Constrangimento do corpo Mesmo idoso Velas valas valentia Vodka verdes passarinhos Edith tem olhos mel Tenho olhos mel
Olhar verde preto olhar de perto Pele mel Pelo mel Cérebro mel As abelhas sem ferrão Abrigadas em troncos Madeira antiga Cada qual nossa etnia O chá da tranquilidade Cheiro vento e molhado da chuva Energia elétrica caput Verter verduras esperar Logo volta Como parte porta porte q Cada solar volta só rindo Denomina-se solidão Aprecio novos cogumelos Cada risada da Edith Adora passeios de carro às manhãs
Que língua linda Calda como mão falando vem Saltita como raposa coelho e rã Que ainda não aprendeu que não pode Matar como pode as moscas varejeiras Como pode Fico penalizado no controle não Corre atrás de gato passarinho e de Gente bicicleta ela entende mas Considera tolhimento animal Como tal O resto o importante o + importante Q me saboreie Q me ame Como as cores que misturo Beijo de língua para você
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1 Ah, minha tia - Anátema Qual Joaquim e milhões + Cheirou o mijo dos porcos Debilitados pelos gordos sujos carcereiros 2 Para Arthur Ele está chipado Eu estou chupado
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Ela está chapada a Nós estamos chepados e Vamos tomar o choppe final E correr para o chuveiro o
3 Parei de beber Li rá Li rá Li ré Voltei a beber É necessário Bemsssstar
4 C.B. Sabia menos Sonhava mais Para ele ao menos A forma forma Desprezando os desiguais
5 Roubar Rimbaud é fácil Viver de areia só quem sabe
6 O cheiro dos Jacintos – já sinto Lembra o ópio expelido pelo Longo nariz da Edith As comidas do Eça – mais esta Que fome que gula Cidades e Serras provoca
7 Mon Tante Tantan Como tambor torto de circo Qual o trapezista Lula Flambante no vai lá E com elegância cai Salvo pelas cordas Novamente voa e no subir No descer é amparado decaído Tanto faz se nas nuvens ou no chão
8
O incrível perdeu-se no instante
A decoberta o significativo
É o encontro no impossível
9 Pã A falta de som Na falta de flauta ou TV Já foi som sem flauta Festa que falta Agora é ágora E som Que surgiu com falta Nunca falta de flauta de festa do som
10 Segurei o braço Com vestígio de areia Seu corpo bronze não era dos surfistas Era dos praieiros Quando olhei pra aquele cu aureleante De Marcelo Vainosbellos O meu pau ficou legal Mas a avó Do primo Bento Entrou na hora que eu estava pondo dentro Estragou o carnaval
11 Então tá bêbado ao nascer do sol e encara Sua mãe esquentando água – meu filho, vai comer ovinho – não mãe. Vc não entende, eu sou gay. A Parada, é a parada mãe Sobe a escada e vai para o atelier – filho, você estava tão bêbado ontem. Eu trouxe sopinha Levanta-se de cueca de oncinha e fala: – Vc é tão bonita. Não está entendendo quase nada do que eu digo
12 Dimenor O velhinho da maconha Conversando com seu bró Dimenor: – Let’s go finishing the hell
13 Sonho de Namorado Passo a mão manso como um gato Ela pousa sua cabeça nas minhas pernas Que em lotus vai se transformando em Ouro O dedo do anel vai ficando de Ouro Termino o namoro Ouro é mortal
14 D. Q. Não é a bebida é a Explosão Não é a comida é a Fome Para os Poetas
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Neném brinca com Urubu branco neném No laranja manhã Xingu de perto tão cedo pelas Flautas dois jovens fortes e Duas adolescentes demonstrando receio São meninas são mulheres Dançando na preparação do Kuarup e trazendo de bom De som de prana energia Xingu ontem e depois silêncio Via láctea exibe a U P E R
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Peixe e mandioca evocam fartura
Bebi Darcy Fumei Darcy Ví Darcy no pau da árvore frondosa Entre duas ocas De arquitetura oscárica Darcy apareceu 1 índio disse alto: – estamos faz 1000 anos aqui – estaremos mais 1000 anos aqui Disse-me Darcy
ASSASSINATO O 1Xingu falou-me Para ficar suave De tão suave começaram A borbulhar suavidade Q o 1xingu disse Q é o nome de felicidade Borbulho tanto Alma ferida Que desejo destruir Secar o espumante
Aritana Yawalapiti
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A FOC OF DA FOCA Da bola equilibrada Na ponta do nariz da foca Saída do mar pacífico gelado São Francisco atinge toda a Bola mundo imundo e os Noticiários da T quem V
De outro lado pode TV Mostrar o mundo imundo Tragédias horripilantes e Daí a necessidade de ligar TV com puta dor chips metais
Fofocas e fatos para além focas Bocas cinzas e mortes
Assassinato bombas na massa Queimando dilacerando carne Bocas cinzas de surpresa raiva Solidão frio fome túmulo comum
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AS PALAVRAS PARA J. P. SARTRE Repetem-se Como na escola Nas conversas Nas bocas dos assassinos Repetem-se Como nos escritores ruins Nos amantes fervorosos ou malandros Em todas as espécias de pregadores Somos feitos de palavras Os contemporâneos as transformam Em instante analogias visuais Pode ser até fotografia
Leitor de As Palavras Com raiva e desprezo por assassinos E suas matracas Calo-me ou faço mágica Converso com Edith – a cadelinha Viro outra página Muito longe das hordas dos vilões Digo para Edith – macaca: não me massacra
ET FLUTUANDO ET Flutuado
P.Q. durei tanto neste imundo Torto inquebrantável tonto O coração em pedra pedro já sem nome Cara caro corra casa corvo cunho Tudo na alta velocidade Desejo é ir do ser com honra Foi feito forja sem fácil farsa Ando sóbrio flutuando ET marciano Baby borboleta e flor se for Que flua todos fudidos de tantos partos Festas formatura e diplomação Repito: vida têm os outros tenho ouvido para ver poesia
ROSTO
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WILL . BR
Em lorópolis Bando de ladrões mandam No gás Nas gambiarras da tv Na taxa para motoqueiro Nos preitos com policiais Não é Pasárgada é o brasil Desfigurado como pato prato destroçado No jantar elegante internacional Para delicioso servido por trabalhador mal pago Cospe no prato Patrício de cada um dos poltrões Que querem o país da sonegação e de juros Longe da Solidariedade e Invenção Quanto tempo quem elege deputado corrupto Que não vale o voto de consideração Vendidos como roupa em promoção e Alardeando ideais de MALVADEZA BARÃO
BOIAR Estou no ar ar sem ar O país mostra sua cara Corruptos machistas sem educação Andar 10 anos e voltar 20 Não tenho tempo ou dinheiro Despejo cores e acalmo ciclones Ontem morreu Tunga Já sabia faz 15 dias que eram os últimos Quando soube os músculos viraram bigorna Coração e mente funcionando o resto O sentido da doença metal
Um rastaquera comete um abuso Hediondo uma criança quatro anos na minha rua Desejo vingança a forja do ódio Caio por favor traga-me algo A bigorna balança e necessita de compreensão Não posso ser metal no apocalipse Necessário sem exigir por demais Que os músculos esqueçam da pressão matérica E volte perdido aborroado a ser carne Mesmo tendo a certeza que é sem solução 60 anos de vida com mais Esperança que decepção Caio por favor encha a banheira morna Ou relaxo ou metal que pesa para respiração
O in curt trata mento da História Salvem-se nas suas edificações Tranquem-se o país é perigoso Os ricos mediocres e destemidos Ficam seguros pagando camburão
A nova classe média despolitizada As empresas e congresso corrupto É comprar fácil está na Promoção Rodar o tacho de mascavo Bananas fodas e folguedos Plantando-se tudo dá Mata-se índios e negros Faz 500 anos Compre entrangeiro e coloque 1 jagunço para
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VONTADE
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CAFÉ DA MANHÃ
O garnizé partiu voando Deixou 2 abandonadas Ciscando pela casa Feministas autônomas Colocaram ovos chocaram e nada nasceu Parecem estar felizes Guilherme é da raça dos q não voam Zé o garnizé era leve e voador Guilherme é pesadão e não pula a cerca Galos não são previsíveis Espero não ter Guilherme I e II Lembraria a história da AlemanhaAuge e tragédia Q tragédia Espanto GUILHERME VOOU TAMBÉM
ELEFANTECA Na fila de mangueiras e jacas São dezoito com metragem matemática Trovões explodem no meio do dilúvio Os humanos ajoelham-se abrigando-se Nos Deuses A manada parece divertir-se feliz Enquanto o vento solta mangas E as trombas bebem água da chuva No tempo em que habilmente catam Levando à boca mangas enormes rosas Verdes amarelas e cada elefante toma Banho esquecendo a secura da savana Embreando-se no verde plantado pelos Humanos horrorizados pelos trovões o Dilúvio e a manada – que brincadeira infeliz E os elefantes jogam água
Um no outro grandes e pequenos Fêmeas e machos destemperados na Arruaça do maior bicho da Terra Por um minuto esquece-se de baleias Das costas escorrem a terra encrostada Elefantes adoram rolar na terra seca As árvores balançam mas ficam incomodadas Elefantes deliciam-se coçando corpanzil Arrancando cascas derrubando pequenas Casas do povo que ora Dona Benta fecha o livro e Pedrinho Narizinho e a turma toda Incluo-me naturalmente equecendo do Medo do temporal segurando com força O livro da Benta e imaginando o JARDIM DOS ELEFANTES
O vizinho alugou seu sítiofesta para 1 Grande grupo evangélico do carnaval Era noite e a voz do pastor fortíssima Ajudada pelo microfone e caixas porém Gritava suando função pastoral Grupo carismático do louvado seja O auge foi quando gritou – quem está com o Espírito Santo – vc está com o Espírito Santo – acredita que está com o Espírito Santo A voz no microfone compartilhado – estou – repita – estou com o Espírito Santo – vc realmente acredita no Espírito Santo
– estou, balbuciou – mais alto – todos querem ouvir Empolgada a senhora vibrou – estou com o Espírito Santo Então anunciou cheio de pulmão o pastor – o Espírito Santo vai acabar com o
Ao mesmo tempo na na praia Quem V 1 documentário dos Bate-bolas No auge, again, em Marechal Hermes um Homenzarrão Q dizia ser de paz declarava É só não atrapalhar a brincadeira – uso muito perfume já que as penas de galinha que fazem parte da fantasia é forte estou suado perfumado cheirando muito mal
CTG Van gouche de Santana do Livramento Teve sua guria roubada Por outra (guria) guria E de +
KISS ME BABY
Casaram-se num CTG centro de tradições gauchas Na festa do segura potro Lenço vermelho e bombachas Bah gurias tanto gáudio Pavio curto foi na igreja E gritou: - se as gurias tão xavecando como niteamo beija o potro na boca
TCA Enquanto isto no mercadiho do mato Um senhor aposentado parece que fumou E conversava com a caixa: – ai a galinha entendeu? é surpreendente como ela é... A Humana suepreendeu-se Com o saber inteligente dos
E os bichos surpreenderam-se Com a burrice dos humanos
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polícia do destino
Se Ñ querem lutar P.Q. lutam? Soldado patriótico terra expansionista Texas do petróleo cowboys e cascavéis Voltar loucos balbuciando caipiras Sem destino manifesto e no money Destemidos recrutas orgulhosos Mortes de amigos matança desarvorada Uivando pelo q viu pelo q fez Ninguém tem pena do país américa do norte Moedas para a volta dos guerreiros depauperados WallStreet Impiedosa como sua estátua Streepers realities oscars grammys com o quê?
V.C. SE FUDEU Passo passo cambaleante desencontrado Q durmam os ingênuos com capitão américa
ọrọ O cara tá querendo vender sua alma ao diabo, coisa boa ou coisa ruim, mas tá querendo trato com o Demo - o nome Dele é Roseto - Jacobino - Cheio de dores e má consciência . Pobre Diabo que nem lembra dele A partilha do Se do Ser do Eu na atualidade está confunde Achar com naturalidade da ema saciedade das cidades marra Solidários Solidão atender mentes terceirizadas nas relações Familiares formolizadas pastichizadas móveis que yorubás S
A V A L
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RESILIENTE No país das farras - do boi dos cafagestes Dos corruptos e sonegadores dos sicários de índios Desmatadores perseguindo quilombolas e candomblé Empreiteiras destruídas Na terra do sou em quem fiz Deus é fiel Resiliente quer dizer suportar mentiras E esperança de mãe Mulheres gays trans escrachados Malditas mortes que machistas de merda repetem
EMPODERAMENTO Lembra galinhas plenas de ovos Prole até cercar ninhada Criada para enganar mulheres Utilizada por qualquer gênero Espelhada no ritual dos brucutus INTERESSANTE Palavra para não dar opinião Filha bastarda do pós moderno Conveniente para todos os sabidos Ao gosto de quem quer agradar ou di ss imular
JOVEM NAZISTA Nasceu marcado – pintinho lourinho Oposto de suas 2 irmãs morenas Sereias de Ipanema Espichou como sabugo que Se transformou seco no marrom do ódio E o fruto a cabeça loura como Marilyn Pois nada é falso Cisudo no colégio cercado de morenos Era líder da bagunça e da porrada Seus pais professores imaginavam que Mandando-o para a Alemanha com Louros alternativos ele brotaria Voltando sem cisma dando a volta Que aqui não imprimiu
2 Em Berlim dos 16 aos 18 juntou-se com Louros da antiga Berlim Oriental Todos com ódio do que não tem nome Marciais por falta de corpo amoroso Aprendeu a trepar e a esporrar e Vários corpos caras bucetas bundas O corpo rude não desmanchava Ato sem amor escondendo ódio Deram-lhe o livro Sião Caiu-lhe bem o antissemitismo Queria entrar para as forças armadas Partindo dois corações pais Suas irmãs balançavam na praia
3 Incrustado em sua vida escondida o Ódio de todos apresentava-se marcial Abriu seu negócio no Leblon e fez dinheiro Não necessitava dos pais e irmãs Amantes da felicidade do Rio e da praia Cortou seu cabelo e virou careca Com soco inglês sem piedade Espancou sangrando quem lhe fosse o outro Aplaudido por nanicos da alma do rancor
4 Chegou aos 30 e só havia lágrima O ódio envelheceu-lhe parecia mais Enforcou-se era seu destino de nazista Tinha tudo mas nada o tocava E seu toque ainda mais não dançava O corpo cremado foi dispensado no Arpoador Nazista seu fim foi o de todo chacineiro Disfarçado o mar pareceu acolhê-lo Homenagem às donzelas vestidas de branco Iemanjá cuspiu-lhe qual sua porra Esguichada quantidade de antes dos 30 Os peixes que manjaram seus restos Cagaram para todo mundo Final justo para mais 1 nazista sem amor
A BICHA DO AP 22 Morei num quarto e sala Por + de 2 décadas Na rua Rodrigo Otávio Ser jovem é suportar de tudo Viajens amores não correspondidos E aumentar Alegria O jardim do entornoI em argonauta era belo Muito belo P fazimento do Baixo Gávea Ou o erguimento do CEP 20.000 Anos 80 e 90 Cieps do Darcy Ribeiro Rock Brasil E a fala que fala CEP No ap fazer barulho e ouvir também Fumar beber e ser amigo das baratas E da lata fumar quem achou
Muito bom lançar latas com maconha Apitar contra policiais vergonhosos Estar com Pedrão, assassinado, em sua Barraca música gatinhas e gatões Arrombamento tiros roubos O sórdido rondava como sonda Junto com o muito feliz Rolava Sem saudade ou nostalgia Saltitei com centenas de flores Não suportaria o sórdido Se não sorrisse Sóbrio ou bêbado E minha grande timidez Encontrar nas cores no papel Para além das palavras No instante do instante do Pires Sou mar e oceano a ser conquistado
BABY Ontem como em transe de Drogas ME VI Com a boca inchada Com sangue no pescoço Tendo AIDS e sei que não Posso Sangrar Nem tudo brilhava E o garoto bonito Olhava com brilho Ele entendia-me Tive que afastar-me Não estava em condição
Ví sua cara de Cumplicidade Atração pode ser o NOME E através daquela figura SHINE Também achei lindo O sangue e a água A conversa piscina O vermelho proibido E a certeza de que HÁ MORE
O garoto tinha um bolo de dinheiro Amassado no bolso Pai que o ensinou Rico carregava um bolo de notas novas Orgulhava-se que pagava em dinheiro As vezes de longe fingia cheirar as notas Do bolo mostrando que eram limpíssimas Tal qual suas roupas e água de colônia A garota disse ao garoto que o apelido Dele era o garoto que saltava dinheiro Dos bolsos Ficou humilhado pois as notas amassadas Pela bebida saltavam ela tinha razão Ele não contou a razão pois a garota era Tesão e discutir sobre apelido com a mulher Com quem vc quer ficar é perder qualquer Possibilidade e ficar só com sua mão
As Vítimas os Vitoriosos De mãos separadas e morte Respira fundo faroto furado Segue em frente Qual linha que separa Humanos e futuro que foi Dureza transpor oceanos e Cílias Até ver que há 86 possibilidades Sempre levados de short sem camisa De 4 + 4 em casa Cada um dono e perdedor do futuro NÃO É CERTO
PLAGAS DO MOCORIPE – REMIX DE IRACEMA O sol a pino dardeja raios de fogo sobre as areias Maetais a natureza sofre a influência da irradiação tropical A dona da casa manda abrir o coco verde ou Preparar o creme delicioso de burití Para refrigerar o esposo cearense Na limpidez deste céu azul petróleo Raça alguma habita aí Que não inspire com o hálito vital Verdes mares verdes mares esmeralda do sol nascente Coqueiros serenai vaga impetuosa à flor das águas Onde vai jangada? Entre o maravilhoso das ondas
Refresca o vento Abre-se a imensidade foscas Asas sobre o abismo Enseada amiga Mares de leite Nasceu Iracema Virgem dos lábios de mel Cabelo graúna Quebrar ou não quebrar Espírito da honestida Flexa da paz
SERMÃO 1 Quando descobri o amor O que é mais importante que A falta de comida provida Pelo Senhor que é a comunhão Humana para alem da vida Carnal quando descobri o véu Que unirá seu sangue No sangue de outro que Possibilitará a vitória dos indivíduos E da coletividade o céu se abrirá e A corneta anunciadora da salvação Tocará ora frenética ora piano e Cada um emanará um ardente desejo Expandido do coração e a Terra se Tornará o paraíso dos que foram pecadores
Pecar no passado pecar no futuro Porém ouvindo o canto celestial naquele Tempo exato de comunhão humana Impostas mais do que o racionalismo Todos somos filhos do sonho que Possibilita o sonho e nesse Sermão Apenas anseio que nossa mente se torne Turva que nossos olhos se encham de Esperança e de lagrimas pois a risada e O choro são as razões que nos fazem iguais A cada um que ofendi por não ser tolerante A cada um que me ofendeu por não ter entendido Peço que penetrem meus elétrons que vagueiam no Espaço e recordem-se que só o amor tornará O humano para além do demasiado humano AMEM
SERMÃO 2 Quero inventar mais nada Basta-me o comum de sabonete desodorante Tonteado por tantas novidades Dos novos sistemas pós-capitalistas Vejo é melhor através dos olhos Novidadeiros da adolescente aflita da fita Retratando a salvação da chegada do Exército Vermelho Já não era o campo morto da Polônia O cheiro morto dos corpos famintos Não era o indizível do abominável Nem delírio o que a menina enxergava Era o florido e uma banda cigana Eram dançarinas de cabarets e seus partners O sol da liberdade era e seus olhos viram
Inventar mais coisa alguma Caíram mais dois dentes esta manhã e Na boca de um nino se recriaram Esticou-se minha pele que já sobra E no corpo de duas crianças se acomodaram Quero olhar antes que os olhos se tornem vidro Então contar antes que já não tenho ouvido
N H Então o Brasil e o Ocidente Sem potência Niteamo Com os devaneios do Poeta Q N H N H Sinto falta de um campo Q perdi Q N foi Q N H + Aos 60 ir para o campo Beijando gengiva Com vergonha de beijos Outro ser com ou 100 sem Gengiv ar ah HÁ Mais fácil fechar os olhos e
Respirar Esperar Até que N S veja ou sinta
+
Deixar vagar a escrita Como um mundo Artaudiano Como um comando Zarvoleta Pululantes Já morre já sabe já morre já sabe já morre já sabe
ø 60 anos morto E vivo Dos maiores prazeres É o beijo íntimo Passar a língua pela gengiva
Dos dentes molares que já não HÁ E assim é melhor Só pin HÁ Escrever no fluxo com fewtragem consciente E olhar 50 anos atrás Deitar na grama na cama Na grana que N HÁ AR AR AR AH AH AH HÁ HA HÁ
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Inhotim 1
Inhotim 2
Inhotim 1
Inhotim 1
Perdi o maço tabaco Isqueiro Too To Decisão do duende Doente lelé legal Corri de carrinhos - Inhotins elétricos Educados porém fora da ordem excesso de pagou ou não pagou Camisa manga longa contra mosquito Condutores gentis mostre a pulseira Pequenas grosserias no Parque da Paz Desconfiança do Velho que de carro em Carro foi lá sei lá Sabia deveria estar no guarda-volumes Na entrada Era o sonho que mais desejava Achar o maço e deitar-me na chaise longue Veja Hugo que conforto Porém sem o fálico cigarrette e fumaça
Impedia-me de ir de Encontro até a saída O filme Pedro das Selvas E esquilos olhavam-me solidários Fique esqueça cigarro Gato mico o casal que se beijava Em outro manto da França Os mais ousados eram aqueles Que no trabalho de árvore sinuosa Na ponta que balança Giravam foto a foto suas línguas Na calda da cobra esculpida por Hugo Um senhor cismou em procurar papagaio E o momento Noiva Tal qual em outros lindos jardins Fim de take Voltar ao início para do início Eterno retorno filmar
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Este texto é para crianças do futuro. Quando tudo estiver sem inocência e ainda mais sem esperança. Vai ser lido como livro engraçado. Pode ser lido com grupos. Declamado em rodas. E todos no escárnio: - Pobre desgraçado! E um poderá dizer: - Bicha louca! Vai outro em seguida: - Vagabunda! Ouve-se uma exclamação: - Velho escroto!
Eu gosto de escrever. É melhor que droga. É melhor que sexo. É melhor que rock and roll. É tão bom quanto o mato. Com a felicidade de não ter mosquito. De não ter formiga. Mas tem de pensar. Não é escrita automática. É proposta científica. É pintura. Tem partitura. Até quantos anos pode se empanturrar de biscoitos de chocolate?
Eu sou um garoto de 7 anos. Minha mãe não me dá atenção. Meu pai não mora no Brasil. Gosto da escola. Não sou bom no desenho. Sou bom na escrita. É como um descarrego. Uma macumba. A babá me bate. Quase todos os dias. Meu irmão me bate. Eu brigo com minhas irmãs. Mas gosto delas.
Estou ficando torto. Meus braços, é na articulação, se movimentam com deficiência. Tem pontos no pescoço, nas costas, nas costelas que doem. Respiro com dificuldade. Estou desarrumado, numa casa suja, cheia cheia de papéis, livros, lixo, sacos plásticos de supermercado. Tudo vai mal. Tenho poucos amigos. Uma enorme preguiça. Estou ficando maluco. Estou sem dinheiro. Bebo muito. Diminuí os remédios psiquiátricos. Malditas buzinas. O meu apartamento está cercado por barulho. Estou ouvindo atentamente.
A idade mental declina. Continuam dizendo que sou inteligente. Incapaz de aprender uma língua, usar computador, ligar um DVD. Minha ansiedade está alta. Tenho que lançar meu livro. Só acredito que gente ligada à literatura gosta dele. É deprimenteFalar sobre a morte. Todo dia penso que vou ficar sem dinheiro e vou me suicidar. Ou vou ficar com cirrose ou câncer.
Já tive um cachorro. Minha mãe mandou ele embora. Achou que fazia barulho demais. Me deu uma tartaruga. O bicho é burro. Para me comunicar com ele tenho que dar pedacinhos de tomate. Aí ela tira a língua para fora da cabeça esquisita. Ela mostra as gengivas rosadas e dá um mastigadão. É um bicho pré-histórico, mas eu gosto dela. Minha Totoca.
Um dia ela fugiu. Seis meses depois apareceu no vizinho. Uma clínica de coração. Vinte anos depois de ter me mudado da casa em que tinha Tococa - ela foi paraSão Paulo - eu fui com um amigo, pulei a mureta, e dormi no jardim. Um jardim pequeno, para quando eu já era grande. Um jardim gostoso, eu e Totoca na 5 de Julho.
A Terra está morrendo. Todos nós vamos morrer. Vamos rir de tudo isto - tudo é questão de ponyo de vista. Nasceu e morreu. Por que tanto drama? Eu quero centros de eutánisa. Morte assistida e sem dor. Todo mundo que não gostar da vida vai morrer. É só entrar numa cozinha e pedir umas pétalas da morte. Tudo de graça.
O Brasil ia ser bom. Se fosse comunista eu e meu pai, que era fazendeiro, íamos para o paredõn. Meu irmão, que era comunista, ameaçava. Se eu fizesse qualquer coisa que ele não gostasse ele dizia que eu iria para o paredõn. Meu pai gostava da Amazônia e do progresso. Dizia que os amigos da minha mãe eram da esquerda festiva. Já tinha favela mas não tinha Comando Vermelho. Tinha ditadura militar.
Pobre no Brasil sempre apanhou. Antes era escravo. Agora mora em favela e na periferia. O Brasil ia ser rico. Rico não tinha medo de pobre. A polícia era quem mandava. A polícia está com medo do bandido. Quase todos têm muito medo dos bandidos. A bomba atômica vai devorar a humanidade. Só vai sobrar ratos e baratas.
O herói já foi educado. Agora é sanguinário. As crianças são boas mas vão ficar cada vez mais cruéis quando o exército de andróides tomar o poder. Se a bomba atômica não acabar com o mundo antes. A violência está desenfreada. É ruim ser adulto nesse mundo.
Criança gosta de brincar. Deixa a criança brincar. Não dá uma granada na mão de criança de 11 anos. Dá comida, carinho, ensino, brincadeira e esperança para criança. Se criança quer ler este livro cheio de maldade é porque ela gosta. Ou alguém durão vai querer que criança fique de castigo lendo este livro e com medo da bruxa.
A bruxa é má. Existe bruxa demais. Existe tarado. Existe gente boa. Criança já não gosta de palhaço? Os filhos do meu melhor amigo foram crianças boazinhas. Será que criança do futuro vai ser má e não vai ter medo da bruxa? Vai querer bater na bruxa. Furar o olho da bruxa. Na África e em toodos os lugares têm doenças horrorozas como AIDS e a diarréia.
Por que não pode ter um mundo bom? Dá uma raiva danada. É tudo mentira. Eu sou um mentiroso. Eu não sirvo para nada. Eu falo mentira para as criancinhas. O mundo é bom. Não tem desgraça. O futuro é bom. Vamos apostar uma corrida? Quem cair primeiro e ralar os joelhos ganha!
Quando meu pai voltou ele disse que eu parecia um mariquinhas. Eu não entendia direito. Meus irmãos riam. Eu queria que me meu pai não me chamasse de mariquinhas. Ele achava que era para o meu próprio bem. Eu sou maruquinhas. Às vezes eu não sou mariquinhas. Deve ser tão bom ser mariquinhas e ninguém te dizer que você é mariquinhas.
Agora é hora da cartilha: quando eu tinha 8 anos, gostava de política. Política é pensar no conjunto da sociedade. O que eu quero para mim. O que eu quero para todo mundo. Isto é justo? Isto é injusto? Como fazer que o que eu quero para cada um dê certo. Eu aprendia discutindo com meus pais. Meu pai gostava da economia e do progresso. Minha mãe das liberdades humanas.
Eu concordava com os dois. Eu gostva das idéias de meu pai do Brasil ser um gigante de produção. Gostava das ideias de minha mãe que o mundo poderia ser bom e justo. Naquela época parecia que não dava para juntar os dois. Quem gostava do progresso não se interessava com a pobreza. O que fazer com os pobres. Era 1965.
1965 + 35 = 2.000. Passaram-se 35 anos e tem cada vez mais miséria. Você sabe que 35 anos é muito tempo? Imagina se eu tenho 8 anos. Meu pai tem 35. Eu vou crescer até a idade do meu pai e todo mundo vai estar mais pobre. Tem gente que não tem um brinquedo. Tem gente que morre porque não tem remédio. Você liga para o pobre ou o pobre é que tem de resolver os seus problemas.
Criança brinca e beija. Mas tudo é tão esquisito. E se um dia não for esquisito. Dá uma vergonha namorar. Tem garota que não tem vergonha de namorar. Tem garotos que não tem vergonha de namorar. Tem historias de amor na televisão. É bom quando eu estou feliz. Hoje eu estou. Dormi bem e estou escrevendo para crianças.
Eu sou um anjo. Eu sou bonzinho. Eu queria dizer para a criança do futuro que ela é má. Que é egoísta. Que não liga para machucar os outros. Mas eu fico com pena. Me sinto um bruto. Tirando a inocência de crianças de 8 anos. Este livro não deve ser lido por menores de 8 anos. Com 8 anos a criança já é má. E vai morrer de rir de saber a verdade.
Com 8 anos criança já bate forte. Briga forte. Tem criança que mata animais. Que gosta de bater no gato. Tacar pedra no sapo. Se é que vai ver sapo na vida. Criança de cidade grande não vê sapo. Vê televisão cheia de violência. Brinca de video-game cheio de violência. Vai ler este livro na roda e todo mundo rindo. Como no teatro da bruxa má.
Por que é que estou escrevendo este livro? O que quero falar para as crianças do futuro? O que quero falar para as crianças mais do futuro? E as crianças boas? Vai ter criança boa no futuro? O que é uma criança má? O que é uma criança boa? Eu sou tão mau como o inspetor do colégio? Como a babá que me bate? Quem é que pode explicar isto?
É, eu sou mais eu. É, eu sou bom. O meu é melhor que o teu. O meu é maior do que o seu. Eu sou o mais bonito. Eu sou o mais forte. Meu sorvete é o melhor. Minha roupa é mais nova. Meu sapato é mais bonito. Vou ter 10 cavalos. Vou ter 20 carros. Vou ser o mais rico do mundo. Vou ser o melhor aluno do colégio. Vou ter 1000 amigos.
O que tem a noite que a gente tem que dormir? Tem de acordar cedo. Criança do futuro vai dormir que horas? Hora que ela quiser? Hora do jornal da televisão? Hora que a família mandar? Eu quero ficar acordado para saber o mistério da noite. Vou pegar um despertador e ficar com ele nas mãos e ver todas as horas da madrugada. Até o dia nascer.
Com 8 anos criança já sabe de tudo. Sabe até de onde vêm os bebês. Já sabe fazer amigos. Discutir as possibilidades. As brigas da mãe com o pai. O pai com o sócio do pai. Não entende direito por que tanta morte. Nem sabe o que é morte. Sabe o que é vida. Criança do futuro vai saber da morte? Vai saber da vida?
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