Gustavo Gabriel Engel A C o n s t r u รง รฃ o d o Va zi o
A C o n s t r u ç ã o d o Va z i o Reflexão sobre a apropriação dos espaços residuais do centro de São Paulo para habitação.
Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Gustavo Gabriel Engel Junho 2016
“Para entender a questão do tipo é entender a natureza do objeto arquitetónico hoje. Essa é uma questão que não pode ser evitada. O objeto arquitetónico não podem mais ser considerados como um evento isolado e único, pois é delimitado pelo mundo que o rodeia, bem como a sua história.“
Agradecimentos
Este trabalho é fruto não apenas do conhecimento adquirido em sala
de aula durante os anos de graduação, mas também do convívio e conversas com familiares, amigos e professores que me fizeram ampliar o olhar sobre o que é arquitetura e urbanismo.
Primeiramente gostaria de agradecer minha mãe, Wanda Gabriel
Pereira Engel; meu pai Alcides Aparecido Engel e irmão, Vinícius Gabriel Engel pelo apoio nos momentos difíceis, pela paciência e principalmente pelos ensinamentos que fazem de mim a pessoa que sou hoje.
Gostaria de agradecer aos queridos amigos que fiz durante os anos
de graduação que nunca deixaram de me incentivar e cujas conversas tanto me inspiraram.
Agradeço em especial meus queridos professores Lizete Rubano,
Bruno Silvestre, Carlos Heck e Edson Lucchini que tanto me ensinaram e cujo trabalho admiro profundamente.
Por fim, gostaria de agradecer profundamente minha querida orien-
tadora Viviane Manzione Rubio cujo trabalho e dedicação tornaram este trabalho possível e algo que tenho muito orgulho.
Sumário 1
Introdução - Vazios Urbanos
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1.1 TERRAIN VAGUE de Solá-Morales e as utopias urbanas
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O valor e utilidade do espaço público
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3 Espaço Habitável 37 4
As experiências de habitação (Londres e Berlim)
Habitação de renda mista do Pátio do Pari 5.1 Leitura urbana do Pátio do Pari
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5.2 Memorial de Projeto 62 6.
Considerações Finais
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7.
Bibliografia
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7.1 Bibliografia consultada
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1 - I n t r o d u ç ã o - Va z i o s u r b a n o s
A existência de espaços vazios dentro do território das cidades é
tema recorrente na discussão e na produção dos arquitetos e urbanistas. O interesse por estes locais da cidade, resultantes de intervenções várias e de fatores econômicos e políticos figura em inúmeras publicações e projetos. A principal característica destes espaços é a ausência de usos, tendo como principais consequências seu esvaziamento e estado de abandono.
Existem diversos tipos de vazios dentro do território da cidade. Den-
tre eles podemos destacar os vazios residuais, vazios de fronteiras e os vazios intersticiais.
Os vazios de fronteira definem-se como espaços sem qualidade ur-
bana, e localizam-se nos limites entre terreno e objeto. São estes vazios que definem a lógica dos espaços da cidade, delimitam ambientes internos e externos, o que está acima e abaixo articulando assim os objetos de seu entorno imediato. Já os vazios intersticiais, ou interstícios urbanos, são espaços não edificados resultantes da disposição e agregação da parcela construída. Também podem ser identificados como o negativo das cidades. Porém, este trabalho dedica-se a discutir a respeito dos vazios residuais. Os vazios residuais, diferentemente dos intersticiais e de fronteira, são formados principalmente pelo processo de urbanização e mudanças econômicas. Neste sentido, este trabalho dedica-se a investigar as diferentes características destes espaços, bem como suas diversas potencialidades, ainda incertas, buscando formas de reinserí-los a vida da cidade.
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1 . 1 - Te r r a i n v a g u e d e S o l á - M o r a l e s e as utopias urbanas
Solá-Morales (2002) desenvolve um conceito para estes locais que
tem como base a produção de fotógrafos como John Davies e David Plowden (imagens 2 e 3) que na década de 70 voltaram seu olhar para a condição e sensação de abandono de parcelas do território da cidade provocadas pela implantação de grandes infraestruturas urbanas como eixos viários, bem como das cicatrizes históricas, como as ruinas da guerra, inclusive as mudanças econômicas que provocaram o esvaziamentos de atividades de regiões inteiras como que as tem ocorrido nas antigas zonas industriais.
Para denominar estes vazios o autor utiliza a expressão em francês
Terrain Vague. Terrain em francês não significa apenas terreno, mas carrega em si um caráter de urbanidade 1 . A palavra evoca também um significado menos mensurável de território, referindo-se ao seu potencial de exploração. Já a palavra vague tem origens germânica e latina.
Para o alemão woge significa concha, aludindo a ideia de movimento,
instabilidade e oscilação. Já em latim a palavra possui dois significados, um deles descende de vaccus, vazio; não ocupado; livre e disponível, e o outro de vagus, indeterminado; impreciso; turvo e incerto. Estes significados para Solá-Morales não são necessariamente negativos. Em suas palavras:
A relação entre ausência de uso, atividade, e o senso
de liberdade, de expectativa, é fundamental para entender o potencial evocativo dos terrain vagues das cidades. Vazio e ausência, ainda também prometem espaço para a possibilidade e expectativa. (SOLÁ-MORALES, 2002)
Para Solá-Morales (2002) os Terrain Vagues são marcas no território
do estranhamento do homem diante do mundo e de si. Estes locais, onde a memória do passado se sobrepõe ao presente, não se encaixam mais a vida da cidade e não são mais identificados pelo homem como parte da paisagem urbana. Melhor dizendo, a condição de não ocupação daquele local em específico produz uma sensação negativa de abandono e inutilidade. Por outro lado, possui um caráter de expectativa, mudança e oportunidade a partir do ponto de vista do objeto arquitetônico e do projeto urbano. Entende-se por urbanidade o potencial construtivo de um terreno dentro do território da cidade. 1
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Nesta situação, o papel da arquitetura se faz inevi-
tavelmente problemático. Parece que todo o destino da arquitetura tem sido sempre o da colonização, pôr e impor limites, ordem, forma, introduzindo no espaço estranho os elementos de identidade necessários para fazê-lo reconhecível, idêntico e universal. Pertence à essência mesma da arquitetura sua condição de instrumento de organização, racionalização e de eficácia produtiva capaz e de transformar o inculto em cultivado, o baldio em produtivo e o vazio em edificado. (SOLÁ-MORALES, 2002) 1 - Parque Dom Pedro II - Centro Velho Fonte: static.panoramio.com/photos/ large/6947363 2 - John Davies, Stockport Viaduct, 1986 Fonte: sauer-thompson.com/con versations/archives/2014/01/ 3 - David Plowden Fonte:hdimagelib.com/60s+street+pho ography?image=351727366 4, 5 e 6 - Wim Wenders Fonte: Wings of Desire (1987)
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Analisando o desenvolvimento das cidades, notamos que cada trans-
formação em sua organização corresponde a uma mudança na forma de interação entre o homem e o lugar. Nas palavras de Park (in David Harvey, 2012) 2:
As cidades são o mais consistente, e em geral, e o mais
bem-sucedido esforço do homem em refazer o mundo em que ele vive de acordo com seu mais profundo desejo. Mas, se a cidade é o mundo que o homem criou, é também o mundo que ele está sentenciado a viver daqui em diante. Assim, indiretamente, e sem nenhum claro senso da natureza de sua tarefa, em fazendo a cidade o homem se refez.
Neste sentindo, podemos dizer que um dos produtos deste eterno entender-se do homem no mundo são as utopias urbanas.
Ao longo da história o homem produziu diversas utopias de cidade.
Da cidade renascentista Palmanova projetada por Vincenzo Scamozzi a cidade moderna de Le Corbusier. Porém as que se fazem relevantes para esta reflexão datam de um contexto pós Revolução Industrial, pois este momento marca não apenas uma importante mudança no processo de produção, mas também a aceleração das transformações em todos os âmbitos da vida humana, da ciência e tecnologia às dinâmicas sócio-econômicas, consequentemente transformando também a forma como o homem vive e constrói cidades.
No início do século XIX cidades como Londres e Paris já apresenta-
vam um nível de urbanização sem precedentes (figura 6), dessa forma, apresentando problemas que até então eram desconhecidos pelo homem, como poluição, acúmulo e disposição inadequada do lixo, epidemias, inadequação e insalubridade nas habitações, dificuldades de transporte, dentre outros.
Desta forma, diversas teorias e propostas foram desenvolvidas já com
uma consciência do desenvolvimento industrial muito clara, numa tentativa de transformar o território urbano em uma máquina eficiente que atendesse aos anseios do novo homem habitante das grandes cidades. Dentre elas podemos destacar a Cidade Jardim de Ebenezer Howard, os Falanstérios e Familistérios de Charles Fourier e Jean Baptista Godin e a Cidade Industrial de Tony Garnier. (imagens 7, 8, 9 e 10) 2
Palestra MIT – City Visions: Past and Future (18/07/2010)
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6 6 - Londres durante Revolução Industrial Fonte: http://www.britishmuseum.org/ 7 - Cidade Jardim - Ebenezer Howard Fonte: http://urbanidades.arq.br/2008/10/ ebenezer-howard-e-a-cidade-jardim/ 8 - Falanstério - Charles Fourier Fonte: http://www.historyguide.org/intelle ct/owen 9 - Familistério - Jean Baptista Godin Fonte: http://clioweb.canalblog.com/archi ves/2015/08/07/32455072.html 10 - Vila Operária - Robert Owen Fonte: https://classconnection.s3.amazo naws.com/618/flashcards/1220618/ jpg/1031336587755227.jpg
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Os acontecimentos, teorias e propostas do século XIX inevitavelmente
levaram a contestação da cidade tradicional no período pôs-Revolução Industrial. Este processo culminou no movimento moderno que influenciou o desenvolvimento das cidades durante todo o século XX.
O movimento moderno não deve ser resumido a apenas a uma série
de regras estilísticas e de projeto. Contudo, no âmbito do projeto urbano, a racionalização e a funcionalidade se tornaram regra, principalmente no período pós-guerra, levando inevitavelmente a um processo de setorização das atividades nas cidades. Esta lógica pode ser identificada quando observamos a proposta de Le Corbusier para Paris (imagem 11) e a utopia da cidade moderna de Frank Lloyd Wright (imagem 12). Salvo algumas exceções como Brasília de Lucio Costa ou Chandigarh de Le Corbusier, os ideais modernos, assim como as experiências do século XIX, foram traduzidas em intervenções aplicadas apenas em parcelas da cidade e não em sua totalidade o que provocou, de maneira geral, uma fragmentação do território.
Trazendo a discussão para o contexto latino americano, mais espe-
cificamente para a cidade de São Paulo, local de implantação do projeto desenvolvido ao longo dos dois últimos semestres e que é objeto desta pesquisa, pode-se afirmar que o pensamento moderno foi hegemônico em função do processo acelerado de urbanização ocorrido ao longo do século XX, período em que boa parte das cidades europeias já tinham grande parte
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Na cidade de São Paulo, o pensamento moderno levou a uma sobre-
posição de diversas estratégias que visavam estruturar e guiar o crescimento da cidade. Grandes eixos viários foram implantados nas áreas de várzea, os rios foram retificados e inúmeros elementos da cidade tradicional como: alinhamento dos edifícios, as calçadas e a proporção das quadras adaptadas para a escala do pedestre foram aos poucos substituídos. Este processo juntamente a um crescimento populacional de aproximadamente 4,5% por ano ao longo das primeiras cinco décadas do século XX 3, passando de 250 mil habitantes em 1900, para 2,5 milhões em 1950 chegando a 17 milhões nos anos 2000, gerou uma ocupação urbana desconexa, fragmentada e com inúmeros vazios.
Pode-se afirmar também que essas alterações morfológicas da
cidade provocaram uma mudança mais abstrata, que se traduz no comportamento das pessoas, no território urbano, na coletividade, na memória e na identidade dos cidadãos perante a paisagem urbana. Segundo Rossi (in, A arquitetura da cidade, 1966):
Pode-se dizer que a própria cidade é a memória coletiva de
seu povo e como a memória é associada a objetos e lugares, a cidade é o lugar da memória coletiva. Essa relação entre o lócus e os cidadãos torna-se a posteriori a imagem predominante da cidade, tanto da arquitetura como da paisagem e conforme certos artefatos se tornam parte de sua memória, novos emergem. Neste senso inteiramente positivo grandes ideias fluem através da história da cidade e dão forma a ela. (ROSSI at all, 1966)
Entende-se assim, que a medida que a cidade perde seus elementos
de identidade e memoria, os cidadãos perdem elementos que reconhecem e os conectam em um senso de coletividade. Estes elementos essenciais encontram-se principalmente nos artefatos, nos edifícios históricos, nos monumentos e na própria arquitetura cotidiana e especifica de cada cidade que conforma locais de uso público e coletivo. 3
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Dado extraído do portal de histórico demográfico do site da prefeitura de São Paulo.
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11 - Plano de Le Corbusier para Paris Fonte: http://i.imgur.com/8OBnh7d.jpg 12 - Utopia urbana de Frank Lloyd Wright Fonte: http://www.moma.org/ 13 - Fรกbrica demolida no Campos Eliseos Fonte: http://static.panoramio.com/pho os/large/18590183.jpg
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INSERIR IMAGEM PA G I N A I N T E I R A
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2 - O valor e utilização do espaço público
‘No capítulo anterior foi discutido que, por diversos motivos, a cidade
apresenta áreas esvaziadas de ocupação. Áreas segregadas em relação a vida urbana cujo esvaziamento traz consequências para a dinâmica da cidade e de seus habitantes, como insegurança, sensação de não pertencimento, abandono entre outros. Porém, o que Solá-Morales (2002) argumenta é que são exatamente esses locais, denominados por ele como “TERRAIN VAGUES”, que oferecem possibilidades para propostas que visam reincorporá-los ao tecido urbano. Neste sentido, questionamentos com relação a forma como estes espaços devem ser reinseridos no território, assim como a necessidade ou não do objeto arquitetônico, a natureza do local (público ou privado) e as atividades que serão inseridas, tornam-se essenciais.
Não podemos dizer que existe uma fórmula que especifique o que
deve ser feito com estes vazios pois cada cidade e cada local da cidade possui necessidades específicas. No caso de São Paulo a carência de áreas públicas de qualidade é uma realidade e tem impacto direto na forma como a população se identifica, reconhece e utiliza o espaço da cidade no cotidiano. Dessa forma, devemos levantar questionamentos para entender qual o valor do espaço público para a cidade e de que forma as pessoas o utilizam e quais características conferem qualidades e fomentam dinâmicas sociais.
Em primeiro lugar devemos entender que o conceito de espaço pú-
blico não deve ser resumido apenas a parcelas não edificadas do território. Diversos autores abordam a questão sob diferentes óticas. Para Jan Gehl (2013) o espaço público é o local onde a vida cotidiana acontece, é por onde as pessoas caminham, se encontram, permanecem e admiram as mais diferentes paisagens que a cidade proporciona. Afirma ainda que essas atividades ocorrem principalmente nas ruas, praças e parques, que são os principais elementos que compõe a cidade tradicional e que se repetem ao longo de todo o seu processo evolutivo. Este autor critica o modo como o movimento moderno rompe com estes elementos, que defende como básicos e essenciais, fazendo com que grande parte dessas atividades desapareçam ou passem a ocorrer de maneira muito reduzida.
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Sob o ponto de vista sócio político, Arendt (1958) define espaço pú-
blico como sendo o lugar da palavra e da ação baseado nos valores da liberdade pública e de participação democrática da Polis Grega e da República Romana. Segundo a antropologia o espaço público surge a partir do processo de evolução humana, que passa alterar o território em que vive e a estabelecer nele suas principais relações sociais e manifestações culturais
Para Gehl (2013) torna-se primordial basear suas reflexões a partir da
observação das mais diversas atividades que ocorrem no território, desde manifestações culturais e politicas até o simples caminhar, estabelecendo análises comparativas a fim de identificar características e elementos destes locais que fomentam tais atividades.
Quando espaços públicos forem bem-sucedidos […] eles
irão aumentar as possibilidades de atividades em comunidade. Essa comunhão ao ar livre alimenta o crescimento da vida pública, que é atrofiada pelo isolamento social nos guetos e periferias. Nos parques, praças, mercados, fontes e áreas naturais de nossas cidades, pessoas de diferentes grupos culturais podem se unir em um contexto de suporte de prazer mútuo. Com a repetição dessas experiências, espaços públicos se tornam vasos que carregam significados positivos de comunhão. (CARR, FRANCIS, RIVLIN and STONE, 1993, p. 344).
Para o autor diversos fatores são determinantes para que os espaços
públicos sejam o lócus principal da vida na cidade. Tendo Jacobs (1961) como base teórica para suas pesquisas, Gehl (2013) identifica uma correlação entre as características tipológicas da parcela construída e dos vazios que juntamente com determinadas condições econômicas e políticas, no que se refere ao uso do solo, potencializam a vida urbana. 5 Entende-se lócus como lugar ou local específico Gehl (2013) utiliza como principal indicador da qualidade destes espaços, em suas analises locais a presença e a forma de ocupação da população 4 5
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15 14 - Parada do orgulho LGBT São Paulo 2016 Fonte: http://vamosgay.com/ latin-america/brazil/sao -paulo/sao-paulo-lgbt-gay -pride-parade/ 15 - Parada do orgulho LGBT de Londres 2015 Fonte: https://civilservice.blog. gov.uk/2015/06/29/what -pride-means-to-me/ 16 e 17 - Parada Orgulho LGBT Lon dres 2015 Fonte: Fotos própria 18 - Espaço público Memorial da América Latina Fonte: http://www.sleepychaos. com.br/exploracoes/wpcontent/uploads/2014/0 1/Memorial-da-AmericaLatina.jpg 16
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A setorização das atividades da cidade, que propõe o movimento
moderno, e a implantação de grandes eixos viários abriram espaço para a invasão do automóvel. Além disso, no que diz respeito a tipologia das edificações, o afastamento do objeto arquitetônico em relação ao passeio deixa de conformar lugar e o limite entre o público e o privado se perde, o que adicionado as distâncias monumentais que a cidade moderna passou a construir, torna os tradicionais locais de encontro e circulação de pessoas estéreis e vazios.
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Estudando a Piazza del Campo (imagens 19, 20, 21 e 22) em Siena na
Itália, Gehl (2013) identificou 3 categorias de elementos que fazem daquele local um exemplo de espaço público bem sucedido: proteção, conforto e satisfação. Como proteção ele identificou na praça uma configuração que previne um conflito entre o fluxo de veículos e pessoas, proteção contra crime e violência, que será abordado mais adiante neste capítulo e proteção contra ventos fortes, chuva e poluição sonora. Com relação ao conforto ele observa na praça elementos que promovem atividades sociais, como conversar, observar, sentar-se e manifestar-se. Por fim, como satisfação, a praça possui dimensões e forma, que possibilita as pessoas, independente do local onde estiverem, possam observar todas as atividades que ali ocorrem e neste sentido beneficiar-se dos espaços ensolarados e sombreados dentro de uma unidade estética reconhecível.
19 19 - Planta de cobertura Piazza del Campo Fonte: fhttps://dspace.mit.edu/hadle/1721.1/6671421 20 - Piazza del Campo Fonte: http://www.italy24.ilsole24ore.com/art/panorama/2015-04-28/detour-sie 7na-121201.php?uuid=ABy0g4WD 21 - Piazza del Campo Fonte: https://www.fest300.com/magazine/il-palios-piazza-del-campo-the-worlds-beststage 22 - `Piazza del Campo Fonte: https://jesuevalle.wordpress.com/2014/09/14/
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Com relação a invasão dos automóveis na cidade, Gehl (2013) iden-
tifica uma alteração radical na forma como as pessoas se comportam no território urbano. Tendo Copenhagen, sua cidade natal, como local de estudo, ele observou que a partir de 1962, quando a prefeitura passou a limitar o acesso de veículos em determinadas ruas as pessoas voltaram gradativamente a reocupar a cidade e nela estabelecer dinâmicas sociais. Os gráficos abaixo (imagem 23) mostram a relação entre o número de ruas exclusivas para pedestres e o consequente aumento no número de pessoas nas ruas.
23 23 - Diagrama, ruas exclusivas ara pedestre e aumento das atividades e permanen cia das pessoas nas ruas Fonte: Cidade para as pessoas 24 e 25 - Graficos relaciinando diversidade de usos aos índices de criminalidade Fonte: Redução da criminalidade por meio da formulação do meio ambiente contruido através do Zoneamento: um estudo empírico de Los Angeles.
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Do ponto de vista político e econômico, a legislação que regulamen-
ta o zoneamento alterou a forma com que as diferentes funções eram distribuídas pelo território. Determinadas áreas passaram a centralizar funções como nos chamados centros financeiros, parques industriais e bairros residenciais com o objetivo de tornar a cidade mais funcional e produtiva.
Na década de 1960 Jacobs já havia identificado também que a aus-
ência de uso em determinados horários do dia nestes setores faria não apenas com que a cidade perdesse vitalidade, no que se refere às dinâmicas sociais, mas abriria também espaço para a violência e criminalidade pela falta do que ela chamou de “olhos na rua”.
Um estudo dirigido por McDonald em 2013 6, relacionou a taxa de
crimes ocorridos em ruas de determinados bairros de Los Angeles com suas características econômicas e leis de zoneamento. De acordo com este estudo, áreas exclusivamente comerciais apresentaram índices de criminalidade 45% mais altos se comparados a locais similares que incluíam residências. Os pesquisadores também concluíram que em bairros que passaram por uma mudança no zoneamento, com o objetivo de unir comercio, serviços e residências, apresentaram uma diminuição de até 7% nos índices de criminalidade.
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A partir deste estudo pode-se inferir que as áreas da cidade onde a
dinâmica diminui em determinados horários do dia são considerados mais inseguros que aqueles em que a dinâmica é constante. Melhor dizendo, nos locais onde o espaço público é de melhor qualidade e tem um uso definido, o tempo de permanência das pessoas é maior e portanto, são mais vivos e mais seguros, confirmando assim a teoria de Jacobs (1961). John McDonald era Diretor do departamento de criminalidade da Universidade da Pensilvânia. Estudo elaborado: Redução da criminalidade por meio da formulação do meio ambiente contruido através do Zoneamento: um estudo empírico de Los Angeles. 6
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26 - Espaço público sem diversidade de usos Fonte: Cidade para as pessoas 27 - Espaço público invadido por au tomóveis 28 - Diversidade de usos - Bairro gótico - Barcelona (2015) Fonte: Foto própria
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Apesar deste debate existir desde a década de 1960 e consider-
ando que o Brasil viveu sob a ditadura militar entre as décadas de 60 e 80, ele não chegou a ocorrer no pais, justificando assim a hegemonia do pensamento moderno na construção das cidades. Neste sentido, o novo Plano diretor Estratégico, aprovado pelo prefeito Fernando Haddad em 2014, empenha-se em reorganizar o território da cidade por meio de uma legislação que regulamenta a forma como os edifícios devem ser construídos em prol de um desenho urbano que requalifique o território e estimule dinâmicas sociais, com base nos valores das cidades pré-modernismo.
O plano diretor exige que empreendimentos acima de 20 mil
m2 doem 20% de sua área para a implantação de habitação de interesse social, limita a construção de muros nas fachadas, define centralidades onde a diversidade de usos do pavimento térreos será estimulada e cria um fundo municipal com o dinheiro recolhido de grandes empreendimentos, destinando-o a manutenção e criação de parques.
Além do novo plano diretor, observa-se na gestão do prefeito Fer-
nando Haddad, um amadurecimento na forma como o poder público lida com as novas relações sociais que se estabelecem na cidade, com destaque para a iniciativa de fechar a avenida Paulista aos domingos. Além disso, nota-se também um diálogo com os movimentos sociais que reivindicam o direito a determinados locais da cidade. Esses movimentos, denominados coletivos 7, surgem da insatisfação dos habitantes com a falta de áreas de uso público, passando, muitas vezes, a utilizar locais não convencionais da cidade e que permitam alguma forma de apropriação.
A exemplo do projeto do High Line (imagens 29 a 37) em Nova
York, a inciativa em transformar trecho de linha férrea em um parque suspenso surge de dois moradores que enxergaram na antiga estrutura da ferrovia uma nova possibilidade de uso, levando a questão primeiramente para os demais moradores de bairro através de assembleias para discutir a proposta e posteriormente para a academia e prefeitura. Em São Paulo diversos coletivos passaram a reivindicar o direito de áreas desocupadas da cidade onde a inciativa privada ainda não está presente para a implantação de alguma estrutura de caráter coletivo como parques e centro culturais a exemplo dos coletivos do Parque Augusta e do Parque Minhocão. Coletivos urbanos são movimentos sociais que passam a utilizar o espaço da metrópole como local de expressão e reivindicação. 7
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29 - High Line antes da implantação do parque Fonte: http://macaulay.cuny.edu/eportfolios/oce jospring14chelsea/fun-facts/the-high-line/ 30 - High Line após a implantação do parque Fonte: https://strategicrussdeveau.wordpress. com/ 31 - High Line antes da implantação do parque Fonte: http://www.dailytonic.com/new-york%C 2%B4s-high-line-turns-into-a-green-prom enade/ 32 - High Line após a implantação do parque Fonte: 33 - High Line antes da implantação do parque Fonte: http://palethrough.tumblr.com/post/26418 337291/joel-sternfeld-walking-the-highline-2000-2001 34 - High Line após a implantação do parque Fonte: http://www.nycgo.com/slideshows/highline-guide 35 - High Line antes da implantação do parque Fonte: http://nemeigh.weebly.com/blog/category/ art%20blog 36 - High Line após a implantação do parque Fonte: http://inhabitat.com/interview-architectjames-corner-on-the-design-of-high-line/ 37 - High Line após a implantação do parque Fonte: https://uk.pinterest.com/explore/high-line/
Apesar destes locais ainda não terem sido formalizados pelo poder público como locais de caráter público, a população já passou a se apropriar e estabelecer diversas atividades. No caso do parque Augusta (imagem 38 e 39) a ocupação se estabeleceu na forma de protesto para impedir que aquele local fosse entregue a construtoras. No Minhocão (imagens 40 e 41) o processo é muito semelhante ao que ocorreu no High Line, mas difere no fato da estrutura ainda ser utilizada para circulação de veículos, fechando apenas após as 21:00 horas e aos domingos, permitindo assim que a população ocupe o local.
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41 38 - Manifestação em prol da criação de um parque na rua Augusta em São Paulo Fonte: http://www.diariodocentrodomun do.com.br/wp-content/uploads /2013/12/parque3.jpg 39 - Ocupaçã do terreno pelo coletivo do Parque Augusta Fonte: http://sao-paulo.estadao.com.br/ blogs/diego-zanchetta/tag/parque-au gusta/ 40 e 41 - Apresentação de teatro em edificio em frente ao minhocão Fonte: http://www.saopaulo.com.br/wp-con tent/uploads/2014/02/esparrama janela.jpg
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3 - O espaço habitavel
No capítulo anterior discutimos a questão da possibilidade de uso e
ocupação das áreas remanescentes e dos vazios urbanos nas metrópoles para o uso público. Refletimos sobre a importância do espaço público sob diferentes óticas, identificamos os elementos que fomentam seu uso e apropriação e por fim os novos locais que a cidade do momento posterior ao movimento moderno passou a oferecer e que podem se tornar novos lugares de uso coletivo identificados principalmente por movimentos sociais.
Apesar dos espaços públicos serem uma das possibilidades para a
transformação dos vazios, eles não são a única alternativa. Cidades como São Paulo possuem inúmeras carências e incoerências territoriais como já pontuadas anteriormente, mas além da carência de equipamentos e espaços públicos podemos também mencionar a insuficiência de habitações e seu consequente impacto no território como um dos principais problemas das cidades brasileiras e latino americanas.
Em São Paulo o processo de urbanização se acentua, principalmente
na segunda metade do século XX, provocando uma expansão periférica exacerbada, onde a população passou a construir a cidade, sendo um dos principais motivos a incapacidade de atender a demanda por habitação pelo poder público, além do alto custo da terra.
Além disso, as inciativas do poder público em implantar conjuntos
habitacionais para atender tal demanda mostraram-se insuficientes e inadequadas diante do contexto social da cidade, tendo como um dos principais exemplos o conjunto habitacional de Cidade Tiradentes construído na década de 1980.
Conjuntos habitacionais como o de Cidade Tiradentes (imagem 42)
passaram a ser aplicados em larga escala como solução para a crescente população urbana. Porém, este modelo limitava-se a construção de habitação voltadas apenas para a população de baixa renda e com desenho urbano que não favorece os encontros e a troca de experiências. Como mencionado anteriormente a diversidade de renda da população dos bairros e principalmente a diversidade de usos são essenciais para promover o equilíbrio social. É importante ressaltar também que estes elementos não fazem parte das diretrizes de grande parte dos projetos habitacionais desenvolvidos no país. 37
Considerando que mais de 85% do território da cidade é composto
por moradia, entende-se o potencial de restruturação urbana que os projetos de habitação têm. Alem disso, pertence a natureza deste tipo de edificação ampliar a oferta de moradia consequentemente aumentando o número de residentes de determinado bairro, aumentando assim a demanda por comercio, equipamentos e serviços públicos. Portanto, existe uma nova população que necessita ser atendida e demanda um sistema sócio econômico que podemos chamar de “rede do morar”, que é constituída de diversos usos como serviços, comércios, escolas, hospitais, postos policiais assim como áreas de lazer.
Diferentemente de projetos de espaços públicos, os projetos de hab-
itação possuem um programa mais rígido e por se tratarem de unidades de moradia, requerem um tratamento que considere áreas de uso restrito aos moradores e uma implantação que respeite a privacidade das famílias que passarão a morar naquele determinado local. Por este motivo, devemos entender que não são todos os tipos de vazios urbanos ou espaços residuais que se configuram como espaço habitável 8 .
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Observando a imagem 43 conseguimos identificar no Pátio do Pari
(imagem 43) uma grande área vazia e residual, circundada e dividida por grandes infraestruturas de transporte. Por se tratar de uma área com mais de 100 mil metros quadrados, sendo 75 mil metros quadrados não possuem nenhum uso definido ou formalizado, o Pátio do Pari fornece área suficiente para a implantação de edifícios habitacionais considerando os usos preexistentes com o objetivo de reestruturar o território de seu entorno imediato bem como resgatar uma tipologia de cidade que promove dinâmicas sócio-econômicas sustentáveis. 41 - Fachada Sul edificio Copan Fonte: http://img.estadao.com.br/resourc es/jpg/1/2/1443554095921.jpg 42 - Conjunto habitacional de Cidade Tiradentes Fonte: https://staticcdns3.bidu.com.br/ja mal/uploads/2016/01/14181411/ Bairro-de-Cidade-Tiradentes.jpg 43 - Vista aérea do Patio do Pari Fonte: http://www.emailler.com.br/pim_ user/berkeleypim/images/60600 _r0027.jpg
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4 - As experiencias de habitação (Londres e Berlim)
Como mencionado no capítulo anterior, a maior parte do território ur-
bano é composto de habitação. Entende-se assim, que projetos de edifícios de moradia tem grande potencial de reestruturação do tecido urbano. Por este motivo este capítulo dedica-se a apresentar referencias relevantes de projetos habitacionais no que se refere a forma de inserção do projeto no território e sua tipologia.
Com relação a forma de inserção urbana, pela diversidade de usos
e por estar localizado em uma área central onde o valor da terra já era inacessível para grande parcela da sociedade, o Barbican Centre (imagens 44 a 48) em Londres coloca-se como exemplo de inciativa publica em reinserir um grande vazio, resíduo dos bombardeios alemães na capital inglesa na segunda guerra mundial (imagem 37), a vida da cidade por meio de um projeto que engloba habitação, centro cultural, comercio e serviços. Além disso, a City of London, bairro onde o projeto está inserido, já sofria um intenso processo de gentrificação no início do século passado, onde grande parte de seu território era ocupado por grandes empresas e poucos afortunados que podiam desembolsar grandes quantias para pagar o valor da terra e do custo de vida.
Desenvolvido pelo escritório Charberlin, Powell and Bon fundado em
1952 por Peter Charberlin, Geoffry Powell e Christoph Bon, formados na Kingston Polytecnic, atual escola de arquitetura da Kingston University London, o Barbican Centre é considerado um dos projetos habitacionais mais ambiciosos já construídos pela sua dimensão, complexidade programática e diversidade de usos. O complexo abriga três teatros, uma galeria de arte, três cinemas, uma biblioteca pública, restaurantes, sete salas de conferência, dois espaços de exposição além de mais de quatro mil apartamentos com mais de cem tipologias diferentes.
A proposta dos arquitetos consistia em incorporar o extenso progra-
ma distribuindo-o em um complexo de acessos, praças, jardins exclusivos dos moradores e grandes áreas de uso público conectadas através de circulações elevadas. A ideia era reinserir naquele local todos os elementos e usos necessários para a vida dos moradores compondo um sistema com uma lógica habitacional coerente com o contexto metropolitano de Londres. 41
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Apesar do projeto não seguir a tipologia dos edifícios de seu entorno, a estratégia utilizada para a elaboração da implantação propõe edifícios conformando diferentes espaços, desde jardins exclusivos aos moradores, o pátio onde localiza-se a escola para meninas e a igreja St. Gilles até a praça de suporte ao programa cultural.
Com relação as unidades habitacionais os arquitetos, considerando a
diversidade social da cidade, propuseram mais de cem tipologias de apartamentos atendendo assim todas as camadas da sociedade com o objetivo de reinserir naquele local uma comunidade socialmente diversa e economicamente sustentável.
Considerando que Londres vive hoje a pior crise habitacional de sua
história, o Barbican coloca-se como exemplo construído dentro da própria cidade de uma iniciativa ambiciosa e bem sucedida na tentativa de atender a grande demanda por moradia.
43
44 - Área bombardeada de Cripplegate na City of London (1953) onde futuramente foi inserido o Barbican Centre Fonte: http://i.imgur.com/EKCZm7m.jpg 45 - Corte perspectivado com detalhe da relação entre as habitações, garagem, acessos e es paço público Fonte: http://www.tomorrowsthoughtstoday. com/fast/wp-content/uploads/2009/0 4/barbicansection.jpg 46 - Implantação do Barbican Centre Fonte: https://static.dezeen.com/uploads/20 14/09/The_Barbican_dezeen_1.gif 47 - Vista aérea Barbican Centre Fonte: http://ddk82aqeuj01i.cloudfront.net /2012/April/NY697644_942long.jpg 48 - Corte Perspectivado - Detalhe teatro, ciscu lação, áreas públicas e edificio residencial Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-jDieOdmz 3U8/UsxwxT14rGI/AAAAAAAAAYQ/nn Tpa-IxcAM/s1600/tumblr_mc3pw4wB Vq1qm4bu8o1_1280.jpg
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Com relação a tipologia das edificações, a produção de Aldo Rossi
tem grande relevância para este trabalho, em especial o projeto da da Quartier Schützenstrasse (figuras 43 e 44) em Berlim. Nas palavras de Rubano (in Lizete Maria, 2014): Para Rossi o tipo é algo permanente e complexo, é um enunciado lógico e não uma forma. As articulações dos elementos deste enunciado que concebem a condição tipológica da cidade.
O projeto da Quartier Schützenstrasse (imagens 49 a 53) surge na
necessidade de reconstrução de parcelas do território da cidade destruídos e fragmentados pela segunda guerra mundial e guerra fria, com o objetivo de reinserir estes locais respeitando a estrutura urbana de Berlin através dos padrões de ruas, fachadas e espaços públicos.
Neste projeto Rossi encontra na estrutura urbana histórica da cidade,
que dividia seus blocos em pequenos lotes, o elemento para a concepção do projeto. Rossi ainda incorpora a tipologia típica da cidade, que se caracteriza por edifícios que conformam as quadras da cidade e definem os pátios internos a ela. Além disso o arquiteto coloca o projeto como uma forma de reflexão não apenas sobre a importância da tipologia como elemento que composição da estrutura urbana, mas também sobre o que conceito denominado por ele de fatos urbanos primários.
Para Rossi os fatos urbanos são aquilo que permanece como marca
física da temporalidade da cidade e é nessa temporalidade que se encontra a memória os elementos de identidade da paisagem urbana. Dessa forma, Rossi afirma que existem inúmeros tempos que se sobrepõe na composição da cidade, seja em sua tectônica; materialidade; tipologia e estética.
Na Quartier Schützenstrasse, concluída em 1998, Rossi não opta por
construir um edifício único que recupera a estrutura da quadra, ele a reconstrói sob a lógica do processo natural de crescimento da cidade onde os edifícios, construídos de forma independente e em diferentes períodos, unem-se uns aos outros conformando as quadras e os pátios internos compondo assim a diversidade temporal dos fatos urbanos que fornecem elementos de memória e identidade coletiva.
Pode-se dizer que tanto o projeto do Barbican como o da Quartier
Schützenstrasse colocam-se como experimentações, em diferentes escalas, na forma como projetos de edifícios habitacionais podem reincorporar os resíduos e fragmentos da cidade. 46
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49 - Planta pavimento térreo Fonte: http://www.arcspace.com/CropUp/-/ media/93312/Photo-7.gif 50 - Pátio interno Fonte: http://wikigrafie.de/storage/ cache/ images/000/027/QuartierSchuetzen strasse,large.1442467763.jpg 51 - Perspectiva da fachada Fonte: http://www.arcspace.com/Crop Up/-/media/93290/Photo-5.jpg 52 - Detalhe da passagem entre os pátios e a rua Fonte: http://www.japan-photo.de/emo-a40-05-quartier-schuetzenstr asse.htm 53 - Elevação em aquarela Fonte: https://s-media-cache-ak0.pinimg. com/736x/d6/e6/cd/d6e6cd3ea1d 6b3b4746ae74b5c5113d.jpg
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Habitação de renda mista - Pátio do Pari Em São Paulo, no decorrer dos últimos anos, diversos movimentos sociais
vêm reivindicando o direito do uso do espaço público da cidade, que em função de uma série de questões, não oferece a sua população, proporção adequada assim como espaços de qualidade para o lazer e a convivência, bem como unidades de habitação suficientes e equilibradas frente o contexto social e urbano da cidade.
O projeto desenvolvido ao longo do último ano acadêmico tem como ob-
jetivo não apenas colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos de graduação abrangendo as diferentes escalas do projeto arquitetônico e urbano, mas também trazer para a discussão acadêmica a questão dos espaços residuais, os vazios urbanos como incoerência territorial, porém com potencial de transformação da dinâmica da cidade em seus diferentes âmbitos.
Por fim, após reflexão estabelecida durante este trabalho, entende-se
que o uso habitacional, por ser um dos elementos estruturadores do território urbano, pode ser também implantado nos vazios residuais da cidade, onde a dinâmica socio-econômica pode ser potencializada.
Com base no texto de Sola Morales (2002) onde ele argumenta a respei-
to do conceito de TERRAIN VAGUE, os vazios das metrópoles são provocados pelo próprio processo de urbanização, alterações econômicas e políticas e em mudanças no estilo de vida do homem.
Em cidades cujas manchas urbanas já atingiram seu limite, a exemplo
de São Paulo, a inexistência de novos territórios coloca nos espaços residuais uma expectativa de recuperação de uma lógica urbana perdida. As reflexões estabelecidas com base nos textos de Jane Jacobs e Jan Gehl identificaram elementos essenciais para a qualidade urbana destacando-se principalmente: a diversidade de usos, relação entre cheios e vazios, limite claro entre público e privado, quadra como elemento de dimensão e organização urbana e a recuperação da escala do caminhar.
A escolha do Pátio do Pari como terreno para a elaboração do projeto
não se justifica apenas, por ser uma área vazia nas proximidades do centro da cidade, mas também por fazer parte da infraestrutura, a linha férrea Santos-Jundiaí, que guiou e estruturou o crescimento da metrópole, permitindo que ela viesse a se tornar o principal polo industrial do país. Além disso o entorno passou por diversos tipos de intervenções urbanas: a implantação da linha férrea, a retificação e canalização do Rio Tamanduateí e a implantação de grandes eixos 51
viários nas áreas de várzea como a Avenida do Estado, sendo assim uma marca territorial de todo o processo de urbanização que fragmentou a cidade e que futuramente fizeram com que aquele local entrasse em um processo de abandono e degradação, vindo assim a se tornar uma área residual, um vazio urbano. ou e estruturou o crescimento da metrópole, permitindo que ela viesse a se tornar o principal polo industrial do país. Além disso o entorno passou por diversos tipos de intervenções urbanas: a implantação da linha férrea, a retificação e canalização do Rio Tamanduateí e a implantação de grandes eixos viários nas áreas de várzea como a Avenida do Estado, sendo assim uma marca territorial de todo o processo de urbanização que fragmentou a cidade e que futuramente fizeram com que aquele local entrasse em um processo de abandono e degradação, vindo assim a se tornar uma área residual, um vazio urbano.
Por conta do processo de urbanização o local deixou de funcionar como
centro de manutenção e manobra de trens, e em função do contexto socioeconômico da cidade, o terreno, com localização privilegiada pela proximidade dos grandes centros de comércio como do Brás, do Bom Retiro e da região da 25 de Março, passou a ser ocupado por comerciantes em situação irregular, processo que culminou no que hoje conhecemos como Feira da Madrugada, que atrai pessoas de diversos lugares do país todos os dias, integrando o roteiro de compras da cidade.
Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, divulgados em 2013, esti-
ma-se que a Feira da Madrugada movimente aproximadamente R$ 40 milhões por dia, o que a torna no centro de compras mais lucrativo do país.
Além disso, o Pátio do Pari possui duas edificações tombadas como pat-
rimônio público da cidade por serem representantes da arquitetura fabril paulistana, e que atualmente abrigam uma feira de produtos alimentícios.
Apesar de hoje o terreno abrigar dois grandes polos centralizadores de
funções, Feira da Madrugada e a Feira de alimentos, estes usos ainda permanecem em uma condição não regular e ainda possuem grande parte de sua área sem uso formalizado.
Neste sentido o presente projeto propõe-se a dialogar com as pré-ex-
istências procurando formas de reincorporar este território ao tecido urbano tendo como principais diretrizes a recuperação da escala do pedestre, a transposição das barreiras físicas (linha férrea, avenida do Estado e rio Tamanduateí) e incentivar a diversidade de usos do solo e adensamento populacional. 52
55 - Fragmentação urba-
53
5.1
- Leitura urbana
Localizado no Brás, região Centro-Leste de São Paulo, o Pátio do
Pari conforma uma área de 152 mil metros quadrados, sendo que 33 encontram-se vazios e sem nenhum uso formalizado. Além disso o terreno está dentro da área da Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí – OUCBT, passando a ser uma zona mista de média densidade, prevendo assim a construção de moradias 9.
De acordo com as informações levantadas pelo Sistema Estadual de
Análise de Dados - SEADE a densidade populacional atual do Brás, distrito do terreno, é de 8.574,24 habitantes por km2, número muito inferior a bairros mais distantes do centro e que não possuem a mesma infraestrutura de transporte coletivo como é o caso de Cidade Ademar cuja densidade é de 22.554,72 habitantes por km2, o que não corresponde a uma estratégia urbana coerente e funcional. A tabela abaixo compara os números da densidade do distrito do Brás, com os da Santa Cecilia e Bela Vista, distritos também servidos de sistemas de transporte coletivo de grande capacidade.
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56, 57, 58 e 59 - Diagramas de Localização
A Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí (OUCBT) celebra com este nome um dos principais rios da cidade de São Paulo e os bairros que se desenvolveram ao longo de seu curso. Proposta que abrange quase a totalidade do setor Arco Tamanduateí, junto à Macroárea de Estruturação Metropolitana (MEM) definida pelo novo Plano Diretor do Município (PDE) – Lei 16.050/2014 (PMSP, 2014). Disponível em: http://gestaourbana.prefeitura. sp.gov.br/operacao-urbana-consorciada-bairros-do-tamanduatei-oucbt/ O Seade, fundação vinculada à Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado de São Paulo, é hoje um centro de referência nacional na produção e disseminação de análises e estatísticas socioeconômicas e demográficas. Para isso, realiza pesquisas diretas e levantamentos de informações produzidas por outras fontes, compondo um amplo acervo, disponibilizado gratuitamente, que permite a caracterização de diferentes aspectos da realidade socioeconômica do estado, de suas regiões e municípios e de sua evolução histórica. Disponível em: http://www.seade.gov.br/institucional/quem-somos/ 9
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RI
O
55
DISTRITO
DENSIDADE 2014 PROJEÇÂO DENSIDADE 2030 (hab./ km2) (hab./ km2)
Brás Santa Cecilia Bela Vista
8.504,24 22.726,14 25.806,16
9.683,66 23.256,72 26.462,68
Santa Cecília é considerado um distrito referência não apenas por ter uma densidade coerente com sua posição geográfica em relação ao centro da cidade e infraestrutura de transporte coletivo disponível, mas também pela forma de implantação e das tipologias de seus edifícios, as dimensões das quadras, variedade de renda de seus moradores e da diversidade de usos que compõe a rede do morar como: padarias, restaurantes, mercados, farmácias, bares e lojas.
Os diagramas (imagens 60 a 63) abaixo fazem uma análise comparCOSTA
SANTA
SANTA
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ativa entre quadras da Santa Cecilia e do Brás levando em consideração o MOTA
uso do pavimento térreo, configuração da quadra e presença de edifícios MARQUÊS
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60 e 61 - Diagrama de Cheios e Vazios dos bairros da Santa Cecília e Brás, respectivamente. 62 e 63 - Diagrama de uso do solo dos bairros da Santa Cecília e Brás, respectivamente. 64 - Rua das Palmeiras, Santa Cecília, São Paulo Fonte: Google Street View 65 - Rua Professor Eurípedes Simões de Paula, Brás, São Paulo Fonte: Google Street View
57
Outra questão pertinente a considerada para a elaboração do projeto
é a presença da linha férrea como barreira física a conexão entre os dois lados do bairro. Atualmente, o distrito do Brás possui apenas quatro pontos que permitem a passagem de pedestres: o trecho rebaixado da avenida do estado, viaduto do Gasômetro, passarela da Praça Agente Cicero e o Viaduto Maestro Alberto Marino, sendo que as três últimas ficam a menos de 100 metros uma da outra. Além disso, no ponto de travessia pela avenida do estado, a largura da calçada tem apenas 1,5 m de largura, fazendo com que o pedestre tenha que disputar espaço com os automóveis, implicando assim sua segurança.
66 66 - Diagrama representando os pontos de travessia da linha Férrea 67 - Trecho em trincheira da Avenida do Es tado Fonte: Foto própria 68 - Viaduto Maestro Alberto Marino Fonte: Google Street View 69 - Passarela entre viaduto do Gasömetro e Alber to Marino Fonte: Google Street View 70 - Viaduto do Gasömetro Fonte: Google Street View
58
A inexistência de vegetação e a excessiva impermeabilização do solo
fazem com que o bairro do Brás, ao lado do Pari e Belém, seja o local da cidade onde o fenómeno da Ilha de Calor é mais intenso, fazendo com que as temperaturas sejam até 4 graus mais altas do que em bairros onde a vegetação é mais presente como no Morumbi e Jardins de acordo com os dados da secretaria municipal de meio ambiente. Por este motivo, a questão microclimática do local também é de extrema importância e exerceu um impacto direto na proposta do projeto.
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5.2
- Memorial do projeto
Tendo em vista as questões especificas do bairro, assim como as relati-
vas a sua escala metropolitana mencionados anteriormente, este projeto apresenta-se como um questionamento sobre a forma como a cidade é construída e propõe um diálogo entre programas aparentemente incompatíveis.
A Feira da Madrugada e a Feira de alimentos são dois elementos cen-
tralizadores de atividades e que provocam um intenso fluxo de pessoas, caminhões e ônibus na região. Por outro lado, o Pátio do Pari, apesar de abrigar as duas feiras, ainda possui a maior parte de sua área esvaziada e sem qualquer uso formalizado na região central que dispõe de grande infraestrutura de transporte coletivo e abriga grande parte dos empregos da cidade. Neste sentido, considerando a baixa densidade populacional do distrito, a predominância de edificações exclusivamente voltadas ao comércio e o déficit de habitação da cidade, este projeto propõe a inserção de edificações de habitação de renda mista. Além disso, propõe-se a criação de um parque que conecta os dois lados da linha férrea, sobrepondo-a parcialmente, criando assim uma área de transição entre as feiras e as habitações que necessitam que mais privacidade.
Com relação aos pontos de transposição da linha férrea, este parque
surge também como elemento de conexão. Ela se dá através da elevação da topografia em 8 metros na parte central do terreno, com uma inclinação 4% confortável ao caminhar do pedestre, e que conforma uma praça elevada cobrindo parcialmente a linha do trem. Esta praça, além de permitir novas perspectivas para a cidade, principalmente para a colina histórica e para o eixo da linha férrea celebrando a metrópole e suas estruturas, abriga espaços para comercio e serviços que garantam a presença de pessoas em diferentes horários do dia, como bares, restaurantes, clinicas medicas e padarias.
A chegada do pedestre ao Pátio do Pari atualmente ainda é uma questão
muito problemática. A avenida do Estado apresenta-se como uma barreira física de acesso ao local. Os pontos de travessia são insuficientes e suas calçadas muito estreitas para o fluxo de pedestres da região. Ainda, no ponto de cruzamento com a linha férrea, a avenida rebaixa-se em trincheira, diminuindo ainda mais a largura das calçadas dificultando a circulação de pedestres. Em resposta a esta condição, propõe-se duas passarelas adicionais, de cada lado da linha do trem, transpondo a avenida do Estado e o rio Tamanduateí, aumenta-se a dimensão das calçadas no perímetro da avenida para 5 metros e prolonga-se o trecho em trincheira da avenida permitindo que a travessia do 62
pedestre que acessa o terreno pela avenida não tenha alteração de nível.
Com relação ao fluxo de caminhões que atendem a feira de alimentos,
cria-se uma rua entre os galpões e os edifícios da rua Mendes Caldeira limitando a circulação apenas na parcela sul do terreno. Na parcela norte é proposto a abertura de um canal que liga o rio a lagoa de contenção de enchentes localizada aos fundos dos galpões. Este canal se coloca como uma estrutura que guia a circulação de pedestres e estabelece uma transição entre as atividades que ocorrem nos galpões da feira de alimentos, as habitações e o parque.
A implantação dos edifícios também ajuda a compor uma estratégia co-
erente com as atuais pré-existências do terreno e procura recuperar a quadra como elemento que da dimensão e organiza os espaços da cidade. As quadras ainda exercem um papel de extrema importância para este projeto por elas não apenas retomarem algumas características da cidade tradicional definindo o espaço público como as ruas e praças, elas funcionam como elemento de limite entre o público e privado, abrindo espaços internos a quadra de uso exclusivos dos moradores.
Ainda entendendo a linha do trem como barreira entre os dois lados do
terreno, os dois edifícios mais próximos a linha do parque possuem os dois primeiros pavimentos de uso comercial, estabelecendo assim uma conexão entre a cota da rua e a cota da praça implantada sobre a linha do trem. Além disso, propõe-se escadarias que também conectam o nível da rua a praça elevada nos trechos juntos a linha férrea.
Considerando as reflexões estabelecidas a partir dos trabalhos de
Jacobs (1960) e Gehl (2013), todos os edifícios propostos neste projeto preveem diversidade de usos nos pavimentos térreos e apartamento de 35, 65 e 78 m2, abrangendo assim diferentes camadas sociais promovendo uma comunidade diversa, sustentável e economicamente equilibrada. Além das questões morfológicas e sociais atuais do terreno e de seu entorno, o bairro do Brás, pelo fato do desenvolvimento econômico ter se direcionado para a região da avenida paulista e posteriormente para a zona sul da cidade, ainda possui grandes exemplos da arquitetura fabril paulistana, abrigando assim um grande potencial de resgate da memória e identidade da arquitetura da cidade. Dessa forma, este projeto incorpora em sua materialidade os tijolos das fachadas das fábricas como uma celebração ao período industrial que transformou São Paulo.
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LEGENDA:
-7.00
1 - Rio Tamanduatei 2 - Avenida do Estado 3 - Passarela de pedestres 4 - Pavimentação para pedestre sobre Avenida do Estavo 5 - Galpóes Feira 6 - Área de cuporte para feira 7- Centro de Carga e Descarga Feira de Alimentos 8- Canal de ligação Rio - Lagoa de contenção 9 - Lagoa de Contenção 10 - Anfiteatru aberto 11- Elevação da topografia para superar barreira física (Linha Férrea) 12 - Praça Elevada 13 - Feira da Madrugada 14 - Area de suporte a feira da madrugada e futuro local de implantação do estacionamento. 15 - Lago - espelho d`agua 16 - Estacionamento de onibus 17 - Clareira
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metros IMPLANTAÇÃO
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Acesso edifício residencial Hall elevadores - edifício residencial Biscicletário Depósito Apartamento para idosos - 42 m2 Escrotórios Serviços Comércio
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Planta pavimento tipo
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PLANTA PAVIMENTO TIPO LEGENDA: 1 - Studio - 33m2 2 - Apartamento 2 dormitรณrios - 48m2 3 - Apartamento 3 dormitรณrios - 78 m2
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Planta 4º pavimento
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1 - Caixa d’água 2 - Espaços de convivência 3 - vistas para Colina Histórica e bairro do Pari
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Planta de cobertura
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INCLINAÇÃO 1%
INCLINAÇÃO 1%
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INCLINAÇÃO 1%
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Ampliação apartamentos
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1- Apartamento 3 dormitórios - 78 m2 2- Apartamento 2 dormitórios - 48m2 3- Studio - 33m2
Corte B1
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Corte B2
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Corte A1
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Corte A2
DETELHE 1.20
CORTE A2 ESC: 1.100
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Corte A3
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Elevação Leste
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Elevação Norte
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7 8
9
10
13
2,20
3,10
11 12 14 15
2,10
16 17
1,20
18
19 20 21 CORTE CORTE - ESC: 1.20 ELEVAÇÃO
1 - Manta mineral de revestimento térmico - 4cm 3 - Manta externa de isolamento termico e acústico - 2cm 5 - Tijolo de barro - 5cmX10cmX21cm 6 - Detalhe tijolo vazado 7 - Piso com revestimento anti derrapante - h 2cm 8 - Contrapiso 9 - Laje de concreto
2,70
,02 ,10 ,03 ,04 ,12
PLANTA - DETALHE CAIXILHO - ESC: 1.20
,02 ,10
14 - Vidro temperado translucido - 1cm 15 - Acabamento lateral do caixilho em alumino 16 - Acabamento inferior do caixilho em aluminio 17 - Inclinação de 1% do aparador de instalação do caixilho 18 - Pingadeira
1,30
,04 ,12
1,30
11 - Aparador para instalação do caixilho em concreto 12 - Suporte em aluminio para tilho do caixilho - 2cm
PLANTA - DETALHE TIJOLOS VAZADOS - ESC: 1.20
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72
71 - Perspectiva da Varanda para os edificios na Colina Histórica representando a entrada de luz através dos tijolos vazados 72 - Perspectiva externa - relações sociais possiveis do morador com o espaço público 73 - Desenho técnico fachada 74 - Imagem representando a materialidade da fachada 75 - Perspectiva externa da fachada vista do parque 83
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76 e 77 - Maquete de estudo volumĂŠtrico em gesso 78, 79, 80 e 81 - Maquete do masterplan para todo o PĂĄtio do Pari, destacando em branco os edifĂcios detalhados.
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6
- Considerações finais Ao longo de toda a graduação o interesse pelos aspectos sociais da
arquitetura foi se desenvolvendo. Por esse motivo este trabalho coloca-se como uma reflexão a respeito da importância do objeto arquitetônico como elemento que estrutura não apenas os espaços da cidade, mas também as dinâmicas sociais que nela ocorrem. Sendo assim entende-se a escolha da habitação como objeto de pesquisa e projeto.
Como foi possível observar ao longo deste presente trabalho, a pro-
jeto proposto não seque as diretrizes atuais regulamentadas pela prefeitura na forma de construção de habitações, ele estabelece uma crítica e sugere uma implantação que recupera os valores da cidade tradicional, redefinindo e reestruturando o território da cidade com o objetivo de torna-la mais humana, potencializar encontros, trocas de experiências e uma vida urbana dinâmica, saudável e economicamente sustentável.
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7
- Bibliografia
SOLA-MORALES, Ignasi de. Terrain Vague. Barcelona: Gustavo Gili, 2002 SOLA-MORALES, Ignasi de. Topographies of Contemporary Architecture: Writing Architecture series. 1997 MIT, Massachusetts Institute of Tecnology PARK, R., On Social Control and Collective Behavior. Chicago: Chicago University Press, 2008 HARVEY, David. Rebel Cities: From the Right to the City to the Urban Revolution, 2008 JACOBS, Jane. The death and life of great American cities. Vintage books edition, December 1992 ROSSI, Aldo. The architecture of the city.Oppositions books, 1984 GEHL, Jan. Cidade para as pessoas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva 2013 GEHL, Jan. Como estudar vida pública. 2. ed. São Paulo: Perspectiva 2013 ABRAHÃO, Sérgio Luís. Espaço Público, do urbano ao político. Annablume Editora, 2008
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7.1
- Bibliografia Consultada
WNDERS, Wim. A paisagem urbana. Revista do IPHAN Nº 23 ANO 1994 Arendt, H., 1958, The Human Condition, Chicago, University of Chicago Press; trad. en. 1997 CHOAY, Francoise. O urbanismo. Prefeitura de São Paulo: http://www.capital.sp.gov.br/portal/ Instituto brasileiro de geografia e estatística: http://www.ibge.gov.br/home/
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