Jornal O Duque #02

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EDIÇÃO ESPECIAL

R$ 2

O jornal da cultura de Maringá e região

Ano I - Nº 2 - Setembro de 2013

e mais

CIDADE MENINA

A cultura cafeeira de Maringá como pano de fundo de peça pág 10

MEU CLOWN

O GRAFITE, O MURO E A ESTÉTICA DA LIBERDADE

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e o poder de transformar qualquer situação complicada em delicada comédia

pág 12

SYLVIA PLATH e a poesia interrompida apresentada por Gilmar Leal Santos, na coluna #Sarau pág 15

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Artigo

O jornal da cultura de Maringá e região CNPJ: 76.123.397/0001-70

CONSELHO EDITORIAL Setembro / Edição nº 02 / Ano I

EDITOR-CHEFE Miguel Fernando

CO-EDITORA Luana Bernardes

JOR. RESPONSAVEL Elton Telles

REVISÃO Zé Flauzino

COLABORADORES Rachel Coelho - Artigo (página 02) Zé Flauzino - Crítica Literária (página 07) Cibele Chacon - Crítica de Cinema (página 09) Gilmar Leal Santos- #Sarau (página 12)

REDAÇÃO

DESIGN EDITORIAL

Cibele Chacon Elton Telles

Gustavo Hermsdorff

ILUSTRAÇÕES Nuno Skor

As colocações expostas por convidados ou entrevistados é de responsabilidade exclusiva dos mesmos.

EDIÇÃO ESPECIAL

Críticas, dúvidas ou sugestões contato@oduque.com.br Departamento Comercial jcastro@oduque.com.br Departamento de Marketing marketing@oduque.com.br Assine O Duque assinaturas@oduque.com.br

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HIP-HOP RESGATA A

arte e a cultura são capazes de transformar vidas. É por acreditar nisso que, há 12 anos, um grupo de amigos resolveu criar a Organização do Hip Hop Maringaense – OH2M. Leandro Rodrigues, 27 e José Augusto Ramos, 34, mais conhecido como Nugget, são dois dos idealizadores que ainda permanecem nessa luta. Eles se conheceram ainda moleques, na rua. Na época, eles já haviam reconhecido na música e na dança, respectivamente, formas de se expressarem livremente. Ambos receberam conselhos de uma assistente social para usar o hip hop como forma de resgatar crianças das ruas e evitar que entrassem para o mundo das drogas e da violência. Daí o nome dos primeiros eventos, “Hip Hop Resgata”. Organizaram-se informalmente. Leandro é MC e Nugget é b.boy e por isso achavam que faltava espaço para os artistas amadores e profissionais representarem os quatro elementos da cultura Hip Hop: o break, os MCs, o grafite e os DJs. Assim surgiu o Hip Hop na Praça, evento que sempre teve apoio da Secretaria Municipal de Cultura, que cede um ônibus-palco para as atrações. O evento quase sempre é realizado na praça Renato Celidônio e já trouxe nomes como SNJ, DBS e a quadrilha, Facção Central, entre outros nomes representativos do movimento. Também foram organizadas rodas de break, ligas de MCs, batalhas de freestyles, palestras, tudo sem muitos recursos financeiros, contando apenas com o incentivo direto de empresários locais que acreditam na causa. A limitação, porém, impossibilita ampliar os horizontes e realizar o trabalho da forma como eles sonham.

Rachel Coelho

Após um período de desânimo diante das dificuldades, os atuais membros retomaram as rédeas da organização e partiram para uma nova fase. Querem se profissionalizar, constituir uma associação com CNPJ para ter acesso aos editais. O objetivo é oferecer mais atividades e realizar mais eventos ou, como diz o slogan que adotaram para si, “movimentar o Movimento”. Para tanto, reúnem-se semanalmente e estão em contato direto com entidades bem sucedidas na área, buscando orientação e ajuda para resolver as questões burocráticas. O grande sonho é constituir uma casa do hip hop que ofereça espaço para cursos, oficinas, exposições, apresentações, palestras e debates. Entre os objetivos previstos em estatuto, estão: contribuir para a formação cultural, social e política dos militantes do movimento hip hop e da comunidade em geral; fortalecer a autoestima e os valores éticos e morais, principalmente das crianças e adolescentes; lutar pela profissionalização dos integrantes do movimento, promovendo ações de qualificação e requalificação técnica, visando a geração de trabalho e renda; combater o preconceito e a discriminação que existe com o movimento; representar os membros do movimento perante os órgãos públicos e privados; manter e promover intercâmbio sócio-cultural com entidades congêneres do Brasil e do exterior e contribuir, por meio da cultura Hip Hop, com a transformação da sociedade através de ações baseadas na solidariedade, no trabalho coletivo, no humanismo e na democracia participativa. Acima de tudo, praticar a cultura da paz, da solidariedade, do amor e da nãoviolência.


MARINGÁ

TAMBÉM

TEM COR? Q

uantas vezes ao andarmos por nossa cidade nos deparamos com desenhos em construções largadas ao abandono? É um pouco de vida que insiste em ganhar o espaço do ambiente cinza e cru que nos rodeia. Essas cores, traços e letras formando desenhos muitas vezes abstratos ao olhar sem treino, são o resultado da criação e visão de mundo de artistas que teimam espalhar mais cor pela cidade: os grafiteiros. Fomos às ruas e conversamos com esses artistas sobre o seu trabalho e suas vidas. Há uma riqueza ímpar e uma profusão de cores sem fim em suas obras, como você pode conferir na capa que Nuno Skor fez exclusivamente para essa edição. Nas páginas da matéria principal você também acompanha a conversa que ele teve com a gente, explicando como ainda, não pouco, tem o seu trabalho rebaixado ao vandalismo e à pixação. E quanta arte de rua existe em Maringá! A Organização do Hip-Hop Maringaense (OH2M) é mais uma prova viva de como é possível levar a arte para jovens dos bairros mais carentes de Maringá. Quem conta sobre a história do grupo é Rachel Coelho, na página 02. Ainda nessa edição, batemos um papo muito bacana com o pessoal da troupe Meu Clown, Se você ainda não conhece, vale a pena. Essa galera faz graça das nossas tragédias cotidianas por meio de personagens inocentes e singelos... e se eu falar mais entrego a matéria inteira, que foi escrita em primeira pessoa pela jornalista Cibele Chacon. Falando em espetáculo, esse mês tem estreia da peça “Cidade Menina”, uma justa homenagem aos nossos pioneiros escrita por Rogério Carniato

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e dirigida por Márcio Alex Pereira. Entre cafezais e muita luta, a peça conta a história de como a “Cidade Menina”, se transformou em “Maringá”. Quem acompanhou de perto os ensaios foi o jornalista Elton Telles, que teve a oportunidade de conversar com toda a equipe e sentir um gostinho de café em três atos. Telles ainda entrevistou Paulo Petrini, veterano produtor cultural dessa cidade que agora lança seu livro, “Hermeto Pascoal, musicalmente falando”. Petrini ao longo de sua jornada enfrentou muitos entraves às suas iniciativas e também com muitos amigos, assim como você poderá ler na página 15. Se acharam que esta edição se fecharia sem uma crítica de cinema, ledo engano, a jornalista Cibele Chacon também nos brindou com a crítica de Elena, o delicado documentário que foi exibido no FestCine Maringá. Aos que ainda não puderam prestigiar, na crítica Chacon faz mais do que um convite. Finalizamos essa edição, com um toque de melancolia, nem por isso menos bela, posto que escolhemos “Sylvia Plath e a Poesia Interrompida”, de Gilmar Leal Santos para coroar o nosso sarau literário. Para além de sua morte trágica, Plath nos deixou um legado de ouro, que vale a pena um olhar mais atento, assim como pode ser conferido pelo poema de Sylvia que deixamos em nossa última página. Esperamos que curtam a segunda edição tanto quanto curtimos deixá-la pronta. Com carinho, Luana Bernardes. Co- editora

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Mais! Adorei o Duque: Efusivos cumprimentos!! Gente, só que eu li tudo de uma vez e... acabou! Mais mais maaaaais por favor! Juliana Fontanella

Referência! Quero parabenizá-los pela FANTÁSTICA ideia e desejar todo o sucesso do mundo, para que esse jornal seja referência em toda a cidade/estado e quem sabe pelo Brasil. É bom saber que ainda há pessoas interessadas em repassar conteúdos com substâncias e valores, ao contrário das demais mídias. Priscilla Oliveira

Maringá merece! Amei o jornal O Duque. Maringá merece um jornal sobre cultura. Está lindo em tudo, diagramação, críticas, conteúdo, imagens... Parabéns. Eloiza Elena Silva

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Nuno Skor

Especial

O GRAFITE,

O MURO E

A ESTÉTICA DA LIBERDADE Cibele Chacon

Jornalista

cibelechacon@vilaopera.com.br

Antes mesmo de começar a falar em grafite, tenho certeza que algumas – espero que poucas – pessoas vão soltar algo como “são vagabundos”, “eles vandalizam o patrimônio público”, “vou chamar a polícia”. Mas vale lembrar que, do mesmo jeito que rabiscos na parede são diferentes de quadros no museu, as pichações que incomodam tantos olhares também são bem diferentes da arte de colorir cenas da vida urbana, o grafite. Uma pena que, mesmo utilizando traços e técnicas diferentes, esse preconceito ainda exista. A boa notícia, no entanto, é que o grafite, apesar de tudo isso, está se fortalecendo aos poucos no mundo artístico por aqueles que trabalham na área ou por quem apenas brinca um pouco de colorir. A história não é tão antiga assim. Começou logo ali, na década de 1970, em Nova Iorque. Foi uma maneira bastante diferente de expressar a realidade das ruas, principalmente, das camadas mais pobres da população. Aqui no Brasil, poucos anos depois, e até hoje, é muito comum olhar para viadutos, paredes, muros e perceber que estão conversando com você. Sim, conversando mesmo. Os desenhos podem carregar discursos políticos,

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sociais, econômicos, ecológicos ou mesmo pessoais, que de alguma forma, nos traços e cores dos grafiteiros conseguimos ouvir a voz das comunidades mais oprimidas e marginalizadas. Com isso, é de se perguntar: onde esses artistas conseguem dinheiro para criar tantos trabalhos? A resposta é bem simples: colocando em prática o jeitinho brasileiro e desenhando com diversos materiais e misturas de tinta, não apenas os famosos e caros sprays. Por falar nas soluções criativas que só acontecem mesmo no Brasil, até o grafiteiro Angolano Nuno veio parar em terras tupiniquins. Vinte anos após deixar o país natal, de onde fugiu por conta da guerra civil e com a família morou alguns anos na Suíça, o grafite brasileiro o conquistou. Foi aqui que decidiu transformar o hobby em profissão e mostrar os traços em outras formas diferentes das coberturas dos bolos, que confeitava trabalhando em uma padaria. Agora sim, os pensamentos e ideias de Nuno podem ser vistas em diversos lugares do país. Mesmo que as pessoas não entendam muito bem a mensagem, não importa. O que vale é sentir e criar a própria compreensão. O desenho começa sendo dele, mas depois pertence a todo mundo.


Nuno Skor

É claro que viver de arte nunca foi - e continua não sendo - fácil. Por mais que o grafite ganhe espaço, é uma arte de rua e a essência não sobreviveria em galerias e museus, Então, não é tão simples transformá-la em dinheiro. Mas, estando em todos os cantos da cidade, não há pedestre, por menos curioso que seja, que não pare e observe atentamente. É isso que os grafiteiros mais querem. É claro que muitos deles – ou a maioria – aproveitam o espaço para uma abordagem mais crítica, como é o caso de Felipe Tomazella, que tenta levantar uma bandeira mais social na mensagem. Por isso desenha imagens mais fáceis de serem decifradas, atingindo o maior número de pessoas. Uma pena que, vez ou outra, alguns desaforos são disparados por quem pensa que as paredes estão sendo meramente sujadas, mas faz parte do processo. Para Nuno, esse pensamento está mudando e, aos poucos, as pessoas entendem mais o grafite. Não é a toa que sempre é contratado para pintar painéis e muros de casas e empresas, valorizando a originalidade de cada traço. Enquanto para alguns a arte pode estar à venda, para outros, não. Marcelo Sepulvida é do time que defende o grafite como maneira de livre expressão, sem poder precificá-lo, principalmente quando pedem para que ele reproduza algum desenho. “Eu desenho o que sinto. Dinheiro corrompe. O grafite é arte de rua, não é cópia ou xerox”, acredita. Independente da relação com o grafite, um pensamento é unânime: realizar intervenções artísticas é uma maneira de levar alegria a diversos locais e, também, aliviar pesos negativos em ambientes sem vida. Mesmo que o desenho não sobreviva muito tempo no local escolhido, o que importa é ter feito parte da história daquele ambiente por uma época. Quando pensamos o lado das ofensas e do preconceito, Marcelo já está escaldado, mesmo desenhando apenas com autorização, em casas abandonadas e viadutos. Ele teve problemas com a polícia por conta de pessoas desavisadas que o confundiram com um vândalo e fizeram e o denunciaram sem ao menos falar com ele. Entretanto, para surpresa de quase todos, o proprietário do imóvel havia concordado com o desenho e tudo se resolveu, ficando apenas o constrangimento pela situação. Essa realidade não é diferente da que o grafiteiro Brejo vive. Ainda assim, mesmo com algumas pessoas não entendendo muito bem a arte, ele não se sente incomodado e não deixa de sair pela cidade em busca de espaços para deixar a marca, mas nesse caso troca as figuras por letras.

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Brejo

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Falta de apoio Infelizmente, não há muito interesse do Poder Público quando se trata do grafite. Para o grafiteiro Nuno falta maior interação entre a Prefeitura e os artistas e não é por falta de pedidos. Existe público para todas as formas de expressão, mas para que o trabalho seja realizado e apresentado um programa de incentivo seria bastante importante, porque assim se estabeleceria um diálogo entre grafiteiros, governo e comunidade. O apoio não deve ser apenas financeiro. Deve-se, também, favorecer a criação de debates sobre os caminhos a serem dados ao grafite e a valorizar uma arte espontânea e livre. De qualquer maneira, com ou sem apoio da prefeitura, o que importa é a união dos próprios artistas, como sempre defendeu Brejo. Essa é a maneira de levar o grafite para o maior número de pessoas e conquistar mais e mais espaço. Essa também é a linha de pensamento do artista Felipe Tomazella que, mesmo não se denominando grafiteiro e sim alguém que brinca com a arte, começou a ler e entender mais sobre o assunto. Assim levou a discussão para dentro da universidade, rompendo um pouco com a resistência de quem não conhece essa forma de expressão das ruas.

Color + City “Mais cor, por favor”, é com esse pedido que a mais nova ferramenta do Google trabalha. Buscando colorir e transformar as paisagens urbanas o Color + City permite que pessoas do país inteiro doem espaços nos muros e paredes para grafiteiros, que tenham interesse em deixar a marca. Basta acessar o site, fazer o login com a conta do Google, marcar o local disponível no mapa e enviar algumas fotos. Feito isso, é só aguardar o interesse de algum artista também cadastrado na ferramenta.

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Felipe Tomazella


// Crítica Literária

O EQUÍVOCO COMO MOTOR Equivocar-se é humano. Nada mais verossímil, pois não, são as personagens do livro “O evangelho segundo Hitler”, romance do maringaense Marcos Peres, vencedor do Prêmio SESC de Literatura 2012/2013 que de equívoco em equívoco conduz o leitor por um contexto inusitado dos bastidores da História. Os fatos têm versões – equivocadas ou não – que a própria realidade desconhece. De como o ditador alemão Adolf Hitler concebeu seu plano de poder e fez o que fez é o tema principal do livro de Marcos. Por chocar, de pronto, o título do livro parece um equívoco. Ele sugere que Hitler, que passou para o ideário

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como o anticristo, esteve às voltas com os evangelhos, textos que apresentam Jesus como o Messias, filho de Deus e salvador da humanidade. De anticristo para anticristo, o evangelho abordado no livro será o apócrifo de Judas, que por entregar Jesus aos romanos é considerado, por muitos, o primeiro anticristo. Nele se defende a atitude de Judas, pois dele dependeu a divinização de Jesus, ou seja, Judas transmitiu a verdadeira vontade de Deus. Ele foi o mal para que triunfasse o bem. Judas pecou para nos salvar. No livro, o autor fará esta tese se encontrar com Hitler, justificando, por sua vez, as atrocidades cometidas pelo nazismo. Título nos remete a nome. O ícone da literatura argentina e universal nasceu Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo, porém é mais conhecido pelo breve nome de Jorge Luis Borges. No livro há este e mais um Jorge Luis Bor-

ges, o protagonista. Como se o nome não bastasse ele é argentino e escritor também. Vive à sombra do outro, invejoso e frustrado em suas aspirações literárias. A existência de homônimos deflagra a série de equívocos. O nascimento do Borges obscuro vem de um equívoco. Na resolução de um crime a polícia se equivoca. Para impressionar a mulher amada, Borges a conduz a um equívoco se fazendo passar pelo Borges famoso. Esta mentira o fará se envolver com uma seita, que se equivoca ao elegê-lo profeta, culminando com o mais insano dos equívocos: o extermínio de judeus. Uma das temáticas da literatura do consagrado Jorge Luis Borges é a presença de um “outro”, um espelho, que divide a protagonização. No “Evangelho” se explora a ideia sem confundir os Borges, são distintos, não há um gêmeo sobrenatural, logo, a narrativa

Zé Flauzino zeflau@gmail.com

não é fantástica como gênero, nem de cunho puramente psicológico já que é narrado em primeira pessoa. Tem tons de mistério no início, parte para um melodrama, ganha ares detetivescos e acaba por configurar-se em drama no todo. Por expor personagens bíblicos e dar outras versões para fatos ocorridos com eles é impossível não lembrar o “Código Da Vinci”, livro de Dan Brown. A analogia procede e tem, por assim dizer, aval do próprio Marcos, que no capítulo 60 de seu livro, destaca uma citação ao escritor norte-americano. Vencido o equívoco que na capa se insinua ganhará o leitor, pois não ocupará o texto com uma reserva de conceitos, não recusará a matéria da sua criação e nem negará a revelação de seu enigma. Não o preverá mais. Esquecerá, enfim, que leu o livro antes de começar a lê-lo. Como humano que é será digno de perdão.

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Foto: Leonardo Biazini

Três atos de café, por favor

A cultura cafeeira da Maringá dos anos 1940 é pano de fundo para o triângulo amoroso narrado na peça “Cidade Menina”

Segundo constam nos arquivos, os primeiros registros da colonização na região de Maringá data do início da década de 1930, com a vinda de produtores rurais em busca de terras férteis para expandir a área de cultivo do café. Movido, principalmente, pela comercialização de terras por fazendeiros e trabalhadores que viriam a calejar as mãos nas futuras lavouras, a formação e povoamento daquele espaço eram prósperos e caminhava a passos largos de vilarejo para ganhar formas de município. Em 1947, com o planejamento urbano já finalizado, Maringá surgiria no mapa. O atual cognome “Cidade Canção” só viria a ganhar voz mais de 50 anos após a fundação do município, sendo no início apelidado de vários nomes, entre eles “Cidade Menina”, título que batiza a nova peça maringaense da Carniato & Carniato Produções Artísticas. No palco, fatos históricos e dramaturgia se abraçam para narrar o romance de três jovens, cada um deles levemente inspirados em personagens da nossa história e do nosso folclore. A mocinha é baseada na lendária Maria do Ingá, “a cabocla que mais dava o que falá”, como escrevia Joubert de Carvalho; enquanto Cícero é gerente da companhia colonizadora que vendia os lotes da região – uma alusão à

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Companhia de Terras Norte do Paraná. Para além dos cinco ensaios por semana em dois meses, a ajuda do elenco para representar e atribuir o tom correto aos personagens veio de fotos e livros de história. Os primeiros encontros do grupo foram também para definir a caracterização de cada integrante, afinal, “o ritmo de quem viveu nos anos 40 é totalmente diferente do nosso”, afirma o diretor, Marcio Alex Pereira. Por conta da diferença, o papo democrático entre os envolvidos atentou para a preparação dos atores em empregarem o tempo apropriado daquela época, incluindo a postura, o comportamento, o modo de falar, andar e as pausas entre as respirações, tudo para se adequar ao período remoto. “Fomos estudar até como peneira o café, porque todo mundo aqui foi criado na cidade.” Mas a reprodução temporal não foi a única preocupação dos envolvidos de “Cidade Menina”. “Mesmo em uma história de amor, a gente precisa fazer com que o público reflita sobre paradigmas e conceitos que foram historicamente e socialmente construídos”, comenta Pereira. Além de resvalar no machismo e na relação de poder entre diferentes classes sociais, a montagem também alfineta o comodismo das atuais gerações familiares dos pioneiros, que desfrutam dos ben-

efícios sem sequer buscar conhecer a que custo tudo foi conquistado. Afinal, se o fazendeiro acordava todo dia uma hora antes para empurrar a cerquinha dele um pouco pra lá, isso também deve ser trazido à tona e servir como matéria de reflexão. Retratando episódios pontuais da história, como as negociações nos escritórios da CTNP e a trágica geada negra de 1975, o autor do texto, Rogério Carniato escreveu “Cidade Menina” em homenagem aos seus avós, os pioneiros Arthur Carniatto (in memorian) e Euda Carniatto, que também cultivavam o tal “ouro verde” em uma região da cidade até perder a plantação em decorrência de uma geada imperdoável. “Meus avós me contavam, com tristeza, que quando levantaram de manhã e abriram a porta, além do frio que cortava o rosto, não enxergaram nenhum pé de café”, recorda. “Cidade Menina” promete ser um espetáculo intimista, pois revive a nostalgia daquele tempo com humor e doses de romance, sem com isso recorrer ao didatismo para contextualizar a trama. Desde as belezas e dificuldades que nossos pioneiros se depararam, o amadurecimento da cidade é visível e hoje já pode ser considerada uma mulher de verdade.

Elton Telles Jornalista

eltontelles@vilaopera.com.br

“Passei minha infância ouvindo as histórias dessa época, por isso, ela vive no meu imaginário. Acho que a maior beleza que nossa cidade tem é seu passado, que é muito recente.” Rogério Carniato,

autor da peça “Cidade Menina”


// Crítica de Cinema

VOCÊ SABE QUEM É ELENA? Documentário exibido no Festival de Cinema de Maringá emociona por ser poético e delicado "Elena, sonhei com você essa noite." Palavras de Petra Costa ao mergulhar em suas memórias, desvendando a si mesma através da busca pelos caminhos da irmã, Elena. Em um documentário extremamente pessoal, a cineasta nos guia por meio de sua voz em uma trilha estreita de lembranças dolorosas e perguntas deixadas na gaveta que são, agora, inevitáveis para compor um retrato delicado sobre perda, saudade e (re)descobrimento. Elena tinha 15 anos quando os pais se separaram e, talvez, isso a tenha afetado profundamente, já que não há demonstrações de tristeza, apenas um afastamento da família, mesmo que por um inconsciente de preservação. Ela se muda de país e decide, então, viver como sempre quis, atuando. No meio da busca

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desse sonho, Elena não consegue mais sustentar toda aquela alegria, mostrando um vazio imensurável. Esse sentimento a tornou incapaz de fazer arte, e não conseguindo fazêla, preferia a morte. Petra tinha apenas sete anos de idade quando Elena morreu, mas sempre teve o desejo do reencontro aparentemente impossível com a irmã, reaproximando-se dela ao refazer seus passos em Nova York e ao fazer escolhas semelhantes na vida. Mostrando essa trajetória, a irmã e diretora não constrói um filme apenas para si. Consegue expandi-lo para além das recordações, universalizando os sentimentos de quando o espaço ocupado por alguém começa a se tornar vazio. De quando a presença se torna ausência e o que resta é escavar as lembranças.

Cibele chacon Jornalista

Quando a vida é interrompida de maneira voluntária, é mais do que natural uma pergunta de quem ficou para quem se foi, mesmo que a resposta seja fragmentada ou, até mesmo, impossível. E o caminho percorrido pela cineasta para que possamos conhecer quem foi – e ainda é – Elena traz inúmeras imagens registradas em VHS pela família, desde quando Petra era uma menininha até quando se deparou com o significado da morte e precisou carregá-lo consigo. Nesse misto de arquivos guardados e de imagens atuais, a jovem diretora demonstra imensa segurança e senso estético. A delicadeza para narrar a relação com a primogênita é fruto de um belíssimo roteiro escrito por ela em parceria com Carolina Ziskind e conta com o auxilio de uma trilha sonora pontual e cuidadosamente escolhida. O filme Elena se utiliza de buscas detalhadas, revelando desejos e emoções contidas por meio de diversos planos fechados que conseguem aproximar o universo das irmãs – também de sua mãe – e de todos que o assiste. Com a câmera percorrendo as ruas em busca do

passado de Elena e do presente de Petra, as duas voltam a se encontrar, mesmo que apenas uma possa viver o futuro. Nesse sentido, o documentário não é apenas sobre a personagem-título, mas também sobre a cineasta, que carrega as lágrimas e o sorriso na voz e nos permite visitar seus pesadelos, dores e fragilidades, tanto quanto os de Elena. O longa é a criação de aura quase onírica, ao mesmo tempo sensível e angustiante, mostrando como as marcas, mesmo que nem sempre tão visíveis, continuam lá, assim como as dores. As feridas deixadas pela partida precoce de Elena são claras nos olhos e nas vozes de todos que dividem as lembranças ao longo do filme, principalmente sua mãe. Nesse aspecto, é importante dizer que o documentário é um relato também de coragem, tanto de quem escolhe viver quanto de quem desiste da vida. E fica bastante claro que, independente da morte, cada fragmento das lembranças sobre Elena nunca abandonaram Petra e, agora, também a todos que a conheceram por meio dessa homenagem e resgate. Elena é como se fosse a irmã que nunca tivemos.

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ç a d a é a l h e a p s s a e u

Cibele Chacon Jornalista

cibelechacon@vilaopera.com.br

Num lado pouco movimentado da UEM, em plena segunda à noite, o som do vento sussurrando pelas árvores tornaria o lugar vazio, não fossem vozes vindas de uma das salas ali cravadas. Mesmo sem saber o que acontece lá dentro, os agudos e o tom maquiavélico me lembram histórias infantis contadas pela mãe, na qual a bruxa sempre era imaginada gritando de maneira exagerada. Subindo as escadas o som aumenta, algumas pausas e comentários também começam a ser ouvidos e, claro, várias risadas, afinal, o grupo Meu Clown tem talento para transformar qualquer situação complicada ou delicada em comédia. Dizem que é mais difícil arrancar risadas do que lágrimas, mas isso não é verdade para essa trupe. Os atores, de cara limpa e com roupas confortáveis, já conseguem mostrar a composição onde a vilã, a serviçal e os mocinhos nascem sob o olhar atento do diretor Marcelo Colavitto

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que anota algumas observações. Eu, como único corpo estranho sentado em meio a outros membros do grupo, tenho o privilégio de rir de algo novo, ao contrário de todos que já sabiam o que esperar do diálogo seguinte. Uma pena já estarem nos minutos finais. Interrompendo o ensaio, deixando de lado as vozes e trejeitos dos personagens em questão de segundos, o grupo se preocupa em dizer que ser um clown não é fazer graça o tempo todo, e sim estar sempre em contato com a essência. É poder se aceitar e encontrar o risível nas próprias fragilidades e contradições, afinal, se rir é o melhor remédio - como diz o famoso ditado popular - o grupo Meu Clown é uma bela receita para levar a alegria. E nesse encontro de artistas, a busca pela poesia na comédia é o que garante um misto de sentimentos, seja em Maringá ou em qualquer outro lugar do mundo. Durante a conversa, eles revelam ainda mais essa sensibilidade cômica, contando como atravessaram o Atlântico para conquistar o público em diversos países da Europa. E para quem pensa que a língua foi

um obstáculo, está mais do que enganado. Para esses artistas, as pessoas conseguem se identificar com as situações apresentadas, principalmente quando existe a combinação entre tragédia e comédia. Os clowns conseguem mostrar o que é trágico na vida, ao mesmo tempo em que assumem as fraquezas e a humanidade, e é daí que extraem o humor. Eles representam seres ingênuos e ridículos que mostram descomprometimento e aparente ingenuidade, o que dá poder de zombar de tudo e todos impunemente em benefício da alegria. Terminado o bate-papo, deixo o grupo continuar com o ensaio, afinal, cada riso arrancado da plateia é feito com bastante seriedade e dedicação. Descendo as escadas os sons vão diminuindo, mas agora, não ouço apenas o vento. Passo pela guarita em que fica um dos guardas do campus e identifico a música de abertura da novela. Talvez o mundo nem faça ideia de como muitas pessoas trabalham querendo apenas uma coisa: transformar a realidade das pessoas em risos e sorrisos. Transformaram a minha. Ao menos naquela noite.


“O homem desligado à cultura está aquém da própria descoberta” Paulo Petrini

Elton Telles

Figura de extrema importância para a cultura maringaense, o jornalista Paulo Petrini, com amplo conhecimento e experiência no campo da música e do cinema, agora se aventura na Literatura com o lançamento de seu novo livro, que retrata a obra influente do artista Hermeto Pascoal. Ao O Duque, ele concede entrevista sobre seu legado na cidade Como era o cenário cultural de Maringá no início dos anos 80, quando você chegou aqui? Quando cheguei a Maringá, havia eventos na cidade que depois simplesmente desapareceram. Lembro-me do festival de teatro amador; grupos regionais que atuavam com MPB de raiz; o coral de jovens da UEM; cineclubes e a cidade estava na rota dos grandes nomes de MPB. Então vinham pra cá Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Alceu Valença... O preço dos ingressos era acessível, e o Chico Neto estava sempre lotado em dias de show, a fila dobrava a esquina e se chegasse atrasado, não conseguia entrar. Hoje em dia, a gente já não vê isso com frequência.

Por quê? Pra mim é difícil falar com precisão porque não estou vivendo tanto a cidade. Sei que temos eventos interessantes no nosso calendário cultural, mas antes havia mais opções. Houve um tempo em que Maringá estava também na rota do teatro interessante, porque é diferente assistir a espetáculos de Paulo Autran e Gianfrancesco Guarnieri dos de Sergio Mallandro, por exemplo. Com o tempo, Maringá foi se distanciando, mas isso foi um fenômeno que atingiu a todos os lugares por conta do domínio total da cultura de mercado que se mantém soberana até hoje.

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Você acha isso é um retrocesso? Não sei se pode ser chamado de retrocesso, pois depende da corrente de análise. Há autores que consideram todos curtirem a mesma coisa algo positivo, já que reúne pessoas de todas as instâncias sociais e quebram barreiras impostas. Eu acho que se o indivíduo gosta disso, vai fundo. Quem não gosta e quer se livrar da massificação deve buscar e pesquisar até encontrar algo que case com a sua própria personalidade, pois vamos nos formatando enquanto sujeito e criamos uma identidade. Se depender das coisas que chegam de graça para nós, não sairemos do lugar.

Qual a sua visão de cultura e como pode mudar a vida de uma pessoa? Antigamente, eu pensava a cultura como desenvolvimento do sujeito. Você quer estar próximo das artes para provocar uma revolução na sociedade em seus aspectos imaginários e políticos. Mas... e se as pessoas não quiserem isso? E se a felicidade de muitas delas não dependem disso, e sim do último modelo de carro que foi lançado? E se elas se preocupam com os bens materiais e não com os aspectos simbólicos da vida? Ué, bom também, desde que sejam felizes. A questão é que se o sujeito fica refém somente do que lhe é oferecido pelo sistema de comunicação de massa, estará aquém da sua própria descoberta.

Nós podemos alcançar essa revolução hoje em dia? Pouco provável. Por isso, eu vejo a cultura exclusivamente para a satisfação pessoal, intelectual e espiritual, um bem-estar que a pessoa alcança por meio do prazer com a leitura, música, cinema, etc. A revolução a gente não pode fazer por esse caminho, mas eu acredito no sujeito enquanto participante, que ele possa agregar diferencial em seu meio de convívio.

De 1984 a 1990, você comandou as discussões do Cinematógrapho Clube de Cinema. Como funcionava a dinâmica do encontro? O cineclubismo representava um sonho do jovem engajado da época que era promover as mudanças sociais. O Cinematógrapho era gratuito. Surgiu com um grupo de universitários da UEM e era uma forma de levar debate para as pessoas que não tinham acesso. Naquela época, se você quisesse ver um filme artístico, tinha que buscá-lo em um centro cultural ou na embaixada do país. As sessões eram quase todas improvisadas, feitas em praça pública, em uma sala de aula. Projetava-se um filme de 16 mm na parede de uma igreja de bairro, etc. O mais importante era fomentar o debate ao término do filme.

Você atua como apresentador do programa radiofônico Jazz & Companhia há 21 anos. Imagino que não tenha sido fácil mantê-lo no ar por tanto tempo. Quando o Jazz & Companhia veio de três emissoras comerciais e se instalou na rádio da UEM (onde está até hoje), não era mais necessária a luta de se manter um programa, porque antes havia a necessidade de resistir à alta pressão das rádios comerciais, tanto no aspecto econômico, que era levantar re-

Jornalista

eltontelles@vilaopera.com.br

cursos, quanto ideológico, a busca pela audiência. Essa é a cruel lógica do mercado. Hoje, na UEM, não há mais essa loucura. É mais confortável e mais delicioso de se fazer, sem falar que dediquei mais tempo para outras atividades e foi justamente nessa época que desenvolvi um lado de produção cultural do programa.

E a partir dessa iniciativa, quais músicos você trouxe para tocar em Maringá? Eram apresentações em formatos diferentes, variando de recital a concerto. Fizemos a fase blues com vários artistas do Brasil, como Blues Etílicos, André Christovam e Irmandades do Blues. Paralelamente, realizei shows de grupos instrumentais: Paulo Moura, Márvio Ciribelli, Pascoal Meirelles, José Boldrini, Saul Trompet, Banda Mantiqueira, Hermeto Pascoal, dentre outros. Ao todo, foram uns 15 shows em oito anos.

Por falar em Hermeto Pascoal, você recentemente lançou seu primeiro livro, Hermeto Pascoal, musicamente falando..., sobre a obra do artista. Como foi o processo de escrita? Durante a fase de produção do Jazz e Companhia, sempre tive vontade de trazer o Hermeto para tocar em Maringá e quando aconteceu decidi fazer um projeto para estudar a sua obra e sua representatividade no universo instrumental brasileiro. Iniciei as pesquisas e comecei a fazer entrevistas com músicos para coletar material, e então iniciei o livro em 2002. Depois de um tempo, suspendi o projeto por motivos pessoais, mas comecei a rever esse material no ano passado e dentro do que já havia rascunhado vi a possibilidade de publicar as entrevistas. O segundo volume será publicado em breve.

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# SARAU

Gilmar Leal Santos

Sylvia Plath

e a poesia interrompida Fiquei com uma danada de uma dúvida sobre o primeiro tema desta coluna. Sabia que escreveria sobre um poeta, mas quem? Poeta brasileiro ou estrangeiro? Resolvi da maneira mais simples: já que estava lendo Sylvia Plath, escolha natural e bacana. Sylvia é considerada uma das grandes poetisas estadunidenses. O espaço é pequeno, desta maneira escolhi salpicar algumas passagens importantes de sua vida curta. Sylvia Plath suicidou-se em 1963 aos trinta anos de idade; como naquela música do Vinícius: "... ligou o gás, o coitado, o último gás do botijão...". Pudera, com dois filhos, doente, quebrada financeiramente, morando em um cubículo de apartamento em Londres após um casamento fracassado. Foi a sua trágica escolha. Não foi uma surpresa, Sylvia já tinha tentado o suicídio aos oito quando seu pai morreu devido à diabetes. A experiência foi descrita em seu único romance e pseudobiografia "The Bell Jar", no Brasil: "A Redoma de Vidro". Nascida em Massachussets, foi uma aluna notável. Publicou o seu primeiro poema também aos oito anos de idade. Ganhou uma bolsa de estudos e foi estudar em Cambridge, Inglaterra. Lá conheceu, em uma festa, seu marido, o também poeta Ted Hughes. Em uma de suas memórias de diário, Sylvia escreveu: "É como se minha vida fosse magicamente comandada por duas correntes elétricas: alegre positivo e desesperada negativo, aquela que, no momento, estiver no comando, domina a mina vida, inundando-a.". Esta é uma bela descrição do transtorno bipolar, que naquela época não tinha nenhum remédio efetivo. Parece que as dificuldades de sua vida reforçavam a sua necessidade de escrever e, geralmente, Sylvia trabalhava durante a madrugada, enquanto seus filhos dormiam. Às vezes conseguia terminar um poema por dia. Sylvia pode ser considerada como parte da escola de poesia confessional, juntamente com Robert Lowell e Anne Sexton; ganhou um prêmio Pulitzer e, como disse Woody Allen no filme Annie Hall: "Plath foi uma poetisa interessante cujo seu trágico suicídio foi mal interpretado como romântico.". Abaixo a tradução que fiz de um poema de Sylvia Plath: The sleepers, publicado em 1959.

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Os adormecidos

The Sleepers

Nenhum mapa marca a rua Onde aqueles dois adormecidos estão. Nós perdemos a pista deles. Eles repousam como fosse sob a água Em uma estática luz azul, E a janela francesa entreaberta

No map traces the street Where those two sleepers are. We have lost track of it. They lie as if under water In a blue, unchanging light, The French window ajar

Com cortinas de laços amarelos. Através da fresta estreita Sobe o cheiro da terra molhada. A lesma deixa um rastro prateado; Cercas-vivas escuras protegem a casa. Nós damos uma olhadela para trás.

Curtained with yellow lace. Through the narrow crack Odors of wet earth rise. The snail leaves a silver track; Dark thickets hedge the house. We take a backward look.

Entre pétalas pálidas como a morte E folhas de formas constantes Eles dormem, boca com boca. Uma bruma branca sobe. As pequenas narinas verdes respiram, E eles revolvem em seus sonos.

Among petals pale as death And leaves steadfast in shape They sleep on, mouth to mouth. A white mist is going up. The small green nostrils breathe, And they turn in their sleep.

Expulsos daquela cama quente Nós somos um sonho que eles sonham. Suas pálpebras mantêm o escuro. Nenhum mal pode alcançá-los. Nós trocamos nossas peles e deslizamos Para outro tempo.

Ousted from that warm bed We are a dream they dream. Their eyelids keep up the shade. No harm can come to them. We cast our skins and slide Into another time.


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