Jornal O Duque #20

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Eu assino embaixo

Ano III - novembro - nº 20 www.oduque.com.br

A SOCIEDADE BRASILEIRA PRECISA SABER O QUE É "SER INDÍGENA" e mais

EXPERIÊNCIAS GLOBAIS CADA VEZ MAIS PRÓXIMAS

Três exemplos que saíram do interior do Estado para conhecer outras terras, países e pessoas pág 10

PERDIDOS NA TRADUÇÃO

Luana Bernardes foi conhecer os riscos que os tradutores enfrentam pág 15

A ATUALIDADE DE IGNÁCIO LOYOLA BRANDÃO

Estela Santos investiga o romance "Não verás país nenhum", do escritor paulista pág 18


expresso

Eu assino embaixo

CONSELHO EDITORIAL Edição nº 20 / Ano III CEO

EDITORA

Miguel Fernando

Luana Bernardes

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

MKT E RELACIONAMENTO

Gabriela Camargo Leal Gustavo Hermsdorff REVISOR

Zé Flauzino

ARTISTA DO MÊS

Tadeu dos Santos

Capa

DESIGN EDITORIAL

COLABORADORES Gus Hermsdorff - Especial (páginas 04 a 08) Leonardo Schenato - Fotografia (página 13) Luana Bernardes - Reportagem (página 15) Tânia Verri - Arquitetura (páginas 16 e 17) Aníbal Verri - Arquitetura (páginas 16 e 17) Estela Santos - Literatura (página 18) Cibele Chacon - Cinema (página 21) Cínthia Carla - Mundo Livre (página 22) Marco Cremasco, Larissa Guizelini e Fernanda Ferdinandi - IndiQue (página 23)

FILIADO

Matéria de capa

Um olhar sobre a alteridade a sociedade brasileira precisa saber o que é "ser indígena" Gus Hermsdorff foi conhecer a história da desterritorialização dos Kaingang do vale do Ivaí para explicar a atual situação dos indígenas, as vindas para a cidade e a necessidade de uma descolonização permanente do pensamento (Páginas 04 a 08)

Experiências globais cada vez mais próximas Três exemplos de pessoas que saíram do interior do Estado para trabalhar, estudar e conhecer novas oportunidades (Páginas 10 e 11)

Gustavo Hermsdorff

Cineflix

AS MATÉRIAS DA EDIÇÃO EM 5 MINUTOS

FOMENTADO POR

Perdidos na tradução Quais os riscos, cuidados e desasfios que os tradutores enfrentam na hora de encarar o processo de tradução de uma obra (Página 15)

Reconhecimento profissional, gentileza e gratidão Os arquitetos e professores Tânia Verri e Aníbal Verri intermediam uma conversa entre Ricardo Matiello e José Carlos Belluci (Páginas 16 e 17)

A atualidade de Ignácio Loyola Brandão Estela Santos investiga a precisão e atualidade do romance "Não verás país nenhum", do escritor paulista (Página 19)

As colocações expostas por convidados ou entrevistados são de responsabilidade exclusiva dos mesmos.

charges

Impressão: Editora Central Tiragem: 3.000 exemplares 24 Páginas / Tablóide Americano

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as Kainru se casaram com os Kamé, dando início ao povo Kaingang. "Nosso pensamento era esse: vamos fazer o povo paranaense entender por que o povo Kaingang está aqui até hoje, depois da colonização até agora", explica Alexandre. O mito do nascimento, a lógica da evolução baseada em aspectos naturais e a tradição oral são elementos observados na raiz de todas as culturas. O registro dessa ciência nativa entre os Kaingang, porém, começa a dar seus passos e ocupar um espaço entre as prateleiras. "Precisamos registrar essa história, passar para os alunos, tanto indígenas quanto não indígenas, e mostrar que o povo Kaingang tem uma cultura importante", completa. Segundo o último levantamento feito pelo IBGE, hoje no Brasil são mais de 300 povos indígenas que falam quase 200 idiomas diferentes. É uma riqueza cultural e científica, praticamente, esmagada por durante boa parte da colonização e que agora busca sua afirmação por diferentes meios. Um dos grandes exemplos brasileiros é o paraense Daniel Mundruku, pertencente à etnia Mundruku, graduado em filosofia, história e psicologia, mestre em antropologia social e doutor em educação, ambas titulações pela USP. Em seu nome já estão catalogados na Biblioteca Nacional mais de 40 títulos (dois traduzidos para o inglês). Uma enciclopédia contendo verbetes nativos ganhou o a Prêmio Jabuti. Mundruku esteve no lançamento de "Nossas belas histórias" e conversou com indígenas e não indígenas presentes sobre a importância da literatura no reforço da cultura nativa como ciência própria e autêntica, capaz de aproximar os diferentes povos por meio do conhecimento. A assimilação comentada por Mundruku faz-se fundamental não só para reconhecermos a cultura indígena como horizontal à nossa, mas sobretudo para entendermos que essa mesma cultura é dinâmica, se adapta às mudanças sociais e se apropria do que elas trazem - assim como qualquer outra. Nas próximas páginas deste especial, você vai conhecer como o processo de desterritorialização forçada e a criação das terras indígenas alterou o modo de vida que eles têm hoje e como eles se adaptaram à essas transformações históricas, mantendo hábitos e tradições que ganharam um novo significado ao longo dos anos.

Um olhar sobre a alteridade a sociedade brasileira precisa entender o que é "ser indígena"

Entre os estandes de editoras e suas centenas de títulos, homenagens aos contadores de histórias que circulam o país e conversas com Pratas, Mautners e Loyolas, a programação da 2ª Festa Literária de Maringá reservou espaço para um lançamento de extrema importância para mais de 25 mil paranaenses. Na tenda dos escritores, localizada no terceiro corredor à esquerda, os pequenos Kaingangs brincavam nos pufs coloridos enquanto os adultos, orgulhosos, exibiam os exemplares empilhados do livro "Ẽg jykre sĩnvĩ: Nossas belas histórias", um livreto fino e colorido com 16 páginas e centenas de anos de história. Escrito à várias mãos "Ẽg jykre sĩnvĩ" é o primeiro de uma série de três adaptações de mitos indígenas que serão transformados em livros e distribuídos no Paraná. "São histórias que nossos antepassados contavam, contavam e contavam, mas não eram registradas. Agora, os nossos velhinhos já estão indo... então, nosso pensamento é o de registrar como o povo Kaingang surgiu dentro desse contexto histórico", conta Alexandre Krenkag, professor Kaingang que fez parte da produção do livro. O primeiro volume, lançado na última semana de outubro durante a Festa Literária, narra e ilustra a história do surgimento dos Kaingang, nascidos da união entre os povos Kaimé e Kainru. De acordo com a história, uma grande chuva alagou todas as terras e os grupos se afogaram, mas suas almas foram para dentro do monte Crinjijimbé. "Depois de um tempo eles ressurgiam e, pela manhã, ao ouvir as saracuras cantando, souberam que a terra já era firme". Ao sair do monte, cada grupo escolheu um lado. Os Kainru saíram pela direção oeste, onde havia terra plana e macia, por isso são ágeis e seus pés são pequenos. Já os Kamé saíram pela direção leste, por uma terra dura e cheia de pedras, por isso são lentos e seus pés se tornaram grandes e fortes. Aos poucos, Kaimé e Kainru reconstruíram tudo que a água havia levado. As Kamé se casaram com os Kainru e

Gus Hermsdorff

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Precisamos registrar essa história, passar para os alunos, tanto indígenas quanto não indígenas, e mostrar que o povo Kaingang tem uma cultura importante Alexandre Krenkag, professor Kaingang

A desterritorializaç ão dos Kaingang do vale do Ivaí Imagine você fazer parte de um povoado que habita determinado ambiente por mais de 2.500 anos, desenvolvendo, durante as gerações, hábitos de alimentação, convívio e organização intrinsecamente ligados a cada elemento que o ambiente lhe oferece. Imagine também que, nas idas desses dois milênios e meio, toda sua cultura esteja plantada nas terras férteis que margeiam um grande rio, não só a que você conhece por ter ouvido dos mais velhos, mas daquelas memórias impressas no trato com o solo, nas trilhas feitas entre os povos e no cuidado com as águas que sempre banharam os seus. Não há iminência de perder essas terras e as derrotas pontuais acontecem vez ou outra por ocasiões naturais, durante a caça, doença ou eventuais disputas entre grupos, questões que os antigos sempre enfrentaram e você também é criado para enfrentar. Agora imagine também que, depois de tanto tempo, outras pessoas invadam essa terra sob o pretexto de te ensinar a viver da "forma correta". Eles deitam sua mata, destroem suas casas e ocupam suas margens às custas da vida de muitos dos seus. Por verem seu povo como primitivo, inferior e incapaz de sobreviver por conta própria, passam a ensinar a religião deles, a forma que se vestem, o que comem, como se portam e como se organizam em sociedade. Mais uma vez - e sempre - à base da força, dedicam-se a anular tudo aquilo que seu povo construiu, seja material ou imaterial. O que aprendemos nos livros de história decorando eufemismos clássicos como "colonização", "pioneiros" e "desbravamento" é nada menos do que a conquista armada de um povo sobre outro, nesse caso contra os Guaranis,

Xetás, Kaingangs e outros povos indígenas que sempre habitaram as terras paranaenses. Em específico, sobre aqueles que viviam no Vale do Ivaí. O processo de desterritorialização e o resultado geográfico e cultural dessa tomada estão registrados no livro "Os Kaingang do vale do Ivaí: histórias e relações interculturais" escrito por Lúcio Tadeu Mota e Éder da Silva Novak, publicado em 2008 pela Eduem (Editora da Universidade Estadual de Maringá). Pós-doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro, Lúcio Tadeu Mota é professor adjunto do Departamento de História da Uem e recebeu a equipe do Jornal O Duque na chamada Tulha, construção de madeira preservada no campus e que abriga as pesquisas sobre os povos indígenas desenvolvidas na universidade. "Há cem anos, por exemplo, você tinha vários grupos vivendo ao longo do rio Ivaí. Tinham aldeias organizadas, eles faziam a gestão de um território muito grande", conta Lúcio. "Houve um processo muito rápido de ocupação por parte da população não indígena e eles foram colocados numa terra onde não conseguiam viver como antigamente", completa. De acordo com o livro, muitas foram as ideias e as práticas de como tratar os índios no período do Paraná provincial. "O gradiente de propostas ia desde a guerra (...), passava pelas propostas de branqueamento, por meio da miscigenação com as populações brancas, pela catequese e civilização nos aldeamentos religiosos até a manutenção dos índios com a sua cultura e terra preservadas". Entre as opções, criaram os aldeamentos sem prever que os


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Nos depoimentos dos estudantes indígenas, percebemos a dificuldade por eles enfrentada na adaptação e permanência nas cidades durante o curso. Por esse motivo é de grande importância que possa contar com condições não só de moradia, mas de sustento e apoio durante o curso Sheilla Souza, Assindi Mapa atual da concentração das Terras Indígenas no Estado do Paraná índios optariam por uma política própria em relação a isso: utilizar e aproveitar os recursos enquanto rejeitavam o modo de vida e a religião do branco. A estratégia dos governantes não se alterou, mesmo com a proclamação da República em 1889. Continuava o pensamento de agrupar os índios em aldeamentos, civilizá-los por meio do trabalho e da catequese e, consequentemente, apropriar-se dos territórios ocupados por eles. A resistência indígena prosseguiu. Nas décadas a seguir, após novas pressões e novas iniciativas do governo estadual, novos decretos foram elaborados, incorporando às companhias de colonização novas extensões do território Kaingang no Vale do Ivaí. Com a justificativa de "reestruturar as áreas indígenas" foi firmado um acordo em 1949 que expropriou grande parte dos territórios Kaingang demarcados em decretos anteriores. "Nesse processo de afunilamento do povo indígena, em terras cada vez menores, nós fomos restringindo a possibilidade de eles continuarem a viver como viviam, caçando, pescando e comendo. Em contrapartida nós oferecemos a civilização", conta o professor Lúcio Tadeu Mota. "Deixem de

ser índios e passem a ser civilizados, passem a fazer parte dessa civilização com todo o estoque cultural que nós temos", complementa. Nesse processo de enquadramento dos indígenas, através dos dispositivos legais, foi oferecido 100 hectares para cada família de cinco indígenas, pois - na conta dos "novos donos da terra" - essa medida era o suficiente para plantarem e sobreviverem. O regime de novos hábitos impostos aos indígenas, a partir desse decreto, levou-os a uma mudança estrutural ao longo dos anos. Plantar, colher e sobreviver em um espaço menor e longe dos rios os forçou a adotarem os nossos hábitos de plantio e, cada vez mais, os nossos costumes. Hoje são mais de 25 mil pessoas que se declaram indígenas, sendo que apenas 11 mil moram em terras indígenas. Cerca de 14 mil estão hoje em espaços urbanos. Apesar da resistência, o crescimento vegetativo da população é três vezes maior do que a do povo não indígena, 4,5% contra 1,5% (IBGE Indígena). "Hoje existem muito mais indígenas do que antes, porque eles sobrevivem, eles se adaptam, retomam sua autoestima e enfrentam essa nova realidade", comenta Lúcio Tadeu Mota.

Das terras indígenas para as cidades, um processo de resistência Apesar de as várias mudanças impostas a eles, é possível ver hoje diversos aspectos da cultura indígena que foram preservados e mantidos durante todo esse tempo. A existência de 11 mil pessoas morando em terras indígenas é um exemplo dessa resistência, assim como não é difícil hoje encontrarmos famílias que frequentam as ruas, feiras e bosques de Maringá em determinados dias do mês. "Essas visitas que eles fazem à cidade pode significar, mais ou menos, que eles faziam antigamente que é caçar e coletar coisas", explica Lúcio. Como não há mais uma terra completamente aberta para coletarem frutos e mel, como antigamente, hoje eles vêm para a cidade coletar outras coisas. "Pode ser dinheiro, pode ser carrinho de bebê, roupas... é o ato que eles faziam há cem, duzentos anos, hoje num processo de coleta ressignificada", completa. Um segundo motivo, muito comum, que justifica a vinda das famílias para a cidade são os atritos internos que acabam acontecendo dentro da terra indígena. Como em qualquer outra organização social, vez ou outra, eles se desentendem e escolhem passar alguns dias distantes para esfriar a cabeça. Além disso, algumas famílias também escolhem sair das suas terras e passar um tempo na cidade como uma espécie de férias. Lúcio complementa "É muito difícil ficar em um só lugar a vida toda, ainda mais pra eles. Como nós, que vivemos em Maringá e passamos as férias em outro local, eles também agem assim". A falta de acesso às formas de lazer, seja pela questão financeira ou cultural, reduzem as suas visitas às ruas, feiras e bosques da cidade. "Então você acha que eles preferem ficar nos semáforos? Se pudessem eles

Essas visitas que eles fazem à cidade pode significar mais ou menos o que eles faziam antigamente que é a coleta, caçar e coletar coisas. (...) Pode ser dinheiro, pode ser carrinho de bebê, roupas... é o ato que eles faziam há cem, duzentos anos, hoje num processo de coleta ressignificada" Prof. Lúcio Tadeu Mota

estariam nos shoppings, no cinema, nos supermercados. É que eles não têm alternativa", questiona o professor. Políticas públicas como a aposentadoria dos idosos e o bolsa-família, apesar de chegarem à população indígena, não oferecem uma renda suficiente e aqueles que procuram emprego na cidade enfrentam toda a sorte de restrições para contratação. Segundo Lúcio, a criação da lei que obriga as instituições de ensino superior a reservarem vagas para estudantes indígenas foi um grande avanço nesse processo de inclusão. "Agora que estão se formando os primeiros indígenas, eles estão voltando para as aldeias para usar esse conhecimento e isso vai refletir nos próximos anos", finaliza. De acordo com o site da Assindi (Associação Indigenista de Maringá), dez estudantes indígenas já concluíram o ensino superior na Universidade Estadual de Maringá, optando pelos cursos de Direito, Enfermagem, Pedagogia e Ciências Sociais, sendo que todos atuam profissionalmente nas terras indígenas que foram criados. Outros sete acadêmicos estão com a formação universitária em andamento. Para facilitar o acesso destes estudantes às universidades, a Assindi tem em suas dependências cinco casas universitárias onde eles moram até concluir a graduação. Segundo a professora e voluntária da Assindi, Sheilla Souza, a construção dessas moradias para estudantes foi fundamental para incentivar os jovens que moram em terras indígenas, por vezes afastadas dos centros universitários, a apostarem na carreira acadêmica. "Nos depoimentos dos estudantes indígenas, percebemos a dificuldade por eles enfrentada na adaptação e permanência nas cidades durante o curso. Por esse motivo, é de grande importância que possa contar com condições não só de moradia, mas de sustento e apoio durante o curso", completa.

ASSINDI: Associação indigenísta de Maringá

Eriberfe rsperro eum que voluptae. Nam am quia cum alit omniendita inis rem dolore ium si dus, omnimporro blaborem aliquia seque pelestis volum ea eveliae provitibus ma qui doluptae. Um, quia quiaecus inctur, quate idendelitiis sed quae. Itaspis conecullit, officabor sus. Ossimpo restore ssinciendi cullest fugia qui beatus doluptatem es explaut quiatisciis et unti iur alis ipsa nonestiis illique nectior porecernam fuga. Lut et imillorumet quo blacea que repra aut hitatem quidus re reri aut hitisqu atemporem venias et quo tem is doluptas descipiet moloria acest, ulliqui reriae nestibust officipsum dolupta tiatiat magnihiciet landele strumen imagnis resedit eum eum, cora ducimodiatem veraten imagnitat. Ommo volum que rentibus, sit am, te est liquatu ritincte pe maio. Icienis des antur? Aditioria nosa comnit dolectem est, qui dus. Ut harumen ditatiae delles etur sit ero blabo. Ita ad mosa voloremodi cus, ut ut imaxim ullabo. Nam volores dolestrum quam conecul lacipieni alit ut prem quam id que pro cus es pro moluptatin porempelis molupta testiis nossim nisinvent, quia velibus quia corepra cumquas asperit facipsa conempo ssecum, ullorrum lant eiume solupta quam, odis aceature prate num ut ent vid quodissima et dolestet ipsaeptam hillo blaborere de pariam estiatur? Usdae preptatem atiorer eremqua tiossi tectotassit es doluptatio. Ut unt ut la dolent volor sim sequiam doles aut hil ma alitionem excea velic tem sus es aliquo beatecte ad evenis imaximpel et rerchici dolupta tationsequi cupid quibus quid eosam net, vollupta comnis moluptatur, conserrum atur, qui volupicimet quam imagnienis debit, aut lit quate videro volo tem doluptate et as arum ab illorestium sequam, totati temquatet vid maximpo rrunti non experitatur alistrum aspid molupta temquiatus soles qui idus non reperatem rate debis eatet porit, volorerspit, enimin pa volentis adit fugiat estincid modione optatiatur, nos eiciliquodit denist eossitat venimus apedis et quaeperum quis et plignieni bea poressit, serupta tibus, volum quo doles ma evelit evelestiusa volorepedis doluptatum et fugiam etum, idit quas doluptat molupti dolupta tumquam qui volut hiliciet qui voluptat as comniet pos ni dolore od ut velest a iduci rehende rovitiam, omnihitia atur as acestiis nos rae pre perfernam rem. Faccull ignimol orersped unti tem qui dolorepro optatum incid quibus.


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Alteridade:

o risco da tolerância e a descolonizaç ão permanente do pensamento "O índio do museu não existe mais", enfatiza o professor Lúcio Tadeu Mota. "Hoje eles estão nas universidades, usam celulares e querem ter acesso a todo tipo de tecnologia que nós também temos", completa, explicando que não é o fato de eles serem povos indígenas, que moram em terras reservadas, que os fazem alheios às tecnologias que surgem. Nessa perspectiva, a questão "ser indígena" ganha um aspecto muito mais particular do que estético: o indígena é indígena, indiferente do meio que esteja, da função que desenvolva ou da roupa que use. Há no pensamento de muitos não-indígenas, ainda segundo o professor, uma dúvida sobre como lidar quando se encontra uma família vendendo artesanato nos semáforos da cidade: ou eles são julgados por estarem naquele local e não trabalhando, cuidando de casas como qualquer família "correta" e "civilizada", ou são encarados com lástima por estarem naquela situação. As duas formas, no entanto, falam muito mais sobre nós do que sobre eles. "É o nosso costume eterno de querer enquadrar os povos indígenas dentro do nosso modo de vida, acreditando que é o único que oferece conforto e vida digna", completa Lúcio. No livro "Metafísicas Canibais", lançado em agosto desse ano, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro - ícone brasileiro na área - relaciona essa nossa visão sempre externa ao problema do relativismo cultural. Para ele, o relativismo cultural é meramente a ideia de que existem várias opiniões sobre o mundo, o universo ou a "realidade", mas que esta "coisa lá fora" (o mundo) é uma só. "Entre essas várias opiniões, há uma certa — a nossa, ou melhor, aquela que acreditamos ser a verdade científica. O resto é 'cultura',

superstição ou visões exóticas de gente que vive fora da realidade", escreve. O relativismo cultural, portanto, apesar de se propor a realizar um estudo ou observação sem nenhum preconceito, também nos ensina a tolerar as demais visões de mundo não como explicações que se relacionam de forma horizontal à nossa, mas como "ornamentos pitorescos para os fenômenos reais". O risco dessa tolerância é claro: toleramos porque somos superiores e reconhecemos o direito que eles têm de ser diferentes - mas nunca por serem iguais. Esse distanciamento sintomático é o que nos faz categorizar os indígenas ou na figura parada no tempo do museu, ou naquela que só vive em aldeias e não têm interesse no mundo externo. "A postura que devemos ter é muito simples: respeitar, dar espaço, apoio e ferramentas para que eles possam viver e conviver da forma que quiserem", conclui o professor da Uem Lucio Tadeu Mota. "Não é muito mais simples?". O que Viveiros de Castro propõe em "Metafísicas Canibais" é o que ele chama de descolonização permanente do pensamento, ou seja, tomar o discurso, as escolhas e o modo de viver dos indígenas como interlocutores tão importantes quanto o nosso discurso, as nossas escolhas e o nosso modo de vida. "O que a antropologia estuda são sempre outras antropologias, a antropologia dos outros, que articulam conceitos radicalmente diversos dos nossos sobre o que é o humano e o que é o conhecimento". Só invertendo gradualmente o processo de colonização historicamente imposto conseguiremos, ao longo dos anos, alcançar aquilo que deveria ter sido feito na época do primeiro contato: o respeito.

O que a antropologia estuda são sempre outras antropologias, a antropologia dos outros, que articulam conceitos radicalmente diversos dos nossos sobre o que é o humano e o que é o conhecimento Viveiros de Castro


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#Confraria / Novembro de 2015

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Graduação na França

Experiências globais,

cada vez mais próximas Equaeseque eici ut resed quibus ati ditatum quident quam fugiaeprerem dolor rem. Nam, quia sunt officaes sum aut fugit adi omnimagnatem endus, vel eatio. Voluptas veliquis aped erum eossi qui dolore as andit q Vinicius Faria Toná é desenvolvedor, Laura Cecílio é acadêmica de Comunicação e Halisson Júnior é professor. Mesmo morando grande parte de suas vidas na região de Maringá, eles têm a experiência fora do país como um ponto em comum. Os destinos e os motivos é que são bem diferentes. Natural de Maringá, Vinicius sempre estudou em escolas públicas da região norte da cidade. Até trocar o endereço que tinha, no final da avenida Tuiuti, pela Boulevard Saint Laurent em Montreal, Quebec, em julho desse ano, o único contato que possuía com o inglês era por meio das aulas que ocupavam suas manhãs de sábado - dedicação que foi fundamental na disputa pela bolsa de estágio. "Os prérequisitos do programa eram: ser graduando, pós-graduando ou formado em até dois anos, ter de 18 a 30 anos de idade e possuir Inglês ou espanhol avançado", explica. O programa em questão é o “Talentos Globais”, modalidade de intercâmbio

profissional oferecido pela Aiesec (Associação Internacional de Estudantes em Ciências Econômicas e Comerciais), que, apesar da sigla, atende alunos das mais diversas áreas. Nele, o intercambista escolhe um país para trabalhar, vivenciando a realidade de uma empresa que também está inserida numa cultura diferente. Segundo Vinicius, a questão organizacional foi uma das suas principais preocupações antes de embarcar para o voo de dez horas rumo ao Canadá. "Você só tem uma breve ideia de como as pessoas são nas conversas durante o processo seletivo e a última coisa que você espera é ter que aturar um chefe chato durante uma experiência que deveria ser divertida", completa. No intercâmbio profissional, os gastos, a princípio, se resumem à moradia e despesas básicas como água, luz, aquecimento e internet, além da alimentação e passeios. "Hoje, por conta da situação econômica, temos visto muita procura por experiências em países como Austrália e Canadá, em que se trabalha com

uma outra cotação de dólar, mais barata", conta Marcelo Leme, organizador da 1ª FUI (Feira do Universo Intercambista), realizada no Shopping Catuaí de Maringá. "Outra opção para quem procura intercâmbio para estudos - conta ele também são as escolas públicas de segundo grau ou as bolsas de estudo por mérito, currículo ou por esporte". Durante a feira, que em três dias atendeu cerca de mil pessoas, os interessados tiveram acesso às mais diferentes modalidades de intercâmbio oferecidas por empresas brasileiras e instituições internacionais: dos cursos rápidos de duas semanas à graduações em universidades. Pela primeira vez em Maringá, a consultora canadense Dani _______, da Bodwell High School disse ter ficado impressionada com o contingente de estudantes da cidade e com o potencial de troca que há entre as cidades. "A decisão pelo intercâmbio exige um pouco mais de tempo, mas eu vejo que aqui as pessoas estão se atentando ao preparo que é necessário".

Quando foi aprovada para cursar Comunicação e Multimeios no vestibular da Uem de 2013, Laura Mariane Cecílio destacou entre as disciplinas aquela que mais chamara sua atenção: cinema. Apesar de não encontrar, na região, uma oportunidade de curso específico na área, a graduação oferecida pela Universidade seria uma introdução à linguagem cinematográfica, mas acabou sendo muito mais. Por meio de um programa de intercâmbio a acadêmica trocou Maringá por Rennes para cursar cinema por cinco meses na Université de Rennes 2. "Eu nunca tinha saído da casa dos meus pais e jamais teria viajado para fora do país sem eles, portanto, pude ver, com as minhas próprias burradas, como é viver por conta própria, arcar com as responsabilidades, sem nem saber como fritar um ovo", explica Laura. De volta a Maringá, ela conta que o crescimento pessoal propiciado pelas circunstâncias é imensurável. "De todos os meus ganhos por lá, que foram milhares, o melhor foi poder me descobrir um dia de cada vez, enxergar as minhas habilidades, minhas oportunidades, minhas ansiedades e minhas dificuldades", completa. Para Laura, a aprovação para a bolsa de cinema em Rennes foi simples e não precisou de prova alguma. A seleção acontece semestralmente e requer apenas a avaliação do currículo com base nas atividades curriculares e extracurriculares já desenvolvida pelo acadêmico. Segundo Pedro Lunardelli, consultor da empresa "Daqui pra lá", agência especializada em assessoria a universitários para intercâmbios, que também esteve na 1ª FUI, sai na frente na disputa pelas vagas fora do país o aluno que, ainda no ensino fundamental e médio, se dedica e aproveita as oportunidades. "Os processos seletivos levam em conta todo seu histórico escolar e as suas experiências, então, não é um preparo feito de um ano para o outro", conta, explicando que a questão do idioma nem sempre é o principal obstáculo. "Hoje em dia o pessoal aprende rapidamente uma língua nova, então, está muito mais acessível".

"Eu nunca tinha saído da casa dos meus pais e jamais teria viajado para fora do país sem eles, portanto, pude ver, com as minhas próprias burradas, como é viver por conta própria, arcar com as responsabilidades, sem nem saber como fritar um ovo"

Doutorado em Portugal Antes de chegar na cidade histórica de Coimbra, em Portugal, a única experiência do pesquisador e professor Halisson Júnior, morando fora de Sarandi, era a (quase) vizinha, Londrina, onde cursou mestrado por dois anos. "Morei em Sarandi grande parte da minha vida, ininterruptamente entre 1990 e 2010. Nos dois anos seguintes morei em Londrina em razão do meu mestrado. Em abril de 2013 voltei a Sarandi e continuei por lá até ser aprovado". A aprovação em questão veio esse ano no programa da Capes para Doutorado Pleno no Exterior para estudar Arte Contemporânea, mais precisamente "o interstício entre a dimensão projetual e representacional da linguagem do desenho", como ele mesmo diz. O processo, no entanto, não foi dos mais fáceis e só foi possível depois de um diálogo permanente com a Universidade de Coimbra e a Capes. "No meu caso, o processo todo levou dois anos, pois não obtive sucesso na minha primeira candidatura", completa. Uma das universidades mais antigas ainda em atividade, a Universidade de Coimbra foi criada em 1290 por D. Dinis e até hoje mantém tradições acadêmicas como os trajes ao estilo Harry Potter e os rituais de iniciação dos calouros. "Não chegou a ser um choque [a mudança de cultura entre Brasil e Portugal], foi uma espécie de estranhamento positivo. Hoje em dia, Coimbra é uma cidade pequena com pouco mais de 100 mil habitantes, mas ainda assim possui uma verve cultural muito forte que constituem o atrativo cultural característico de Coimbra", finaliza.


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curitiba empoderada

Altivas sempre serão por Leonardo Schenato Ainda que possa soar estranho aos não familiarizados, o título deste texto faz referência ao hino da capital paranaense, onde vivem as personagens do ensaio apresentado. Ao mesmo tempo, as palavras que o compõem estabelecem uma breve relação de assonância com um dito que costumeiramente se ouve ou lê em expressões de coletivos feministas: “machistas não passarão”. Mesmo que não tenham pretensão alguma de representar a voz do feminismo, os registros presentes nesta página buscam, de fato, retratar histórias de mulheres que, lutando suas próprias batalhas, aplicam em suas realidades o conceito de empoderamento, definido por Paulo Freire como “a capacidade do indivíduo realizar, por si mesmo, as mudanças necessárias para evoluir e se fortalecer”. Mudanças empreendidas por estas protagonistas, seja nas ruas em que passam, no corpo que habitam ou na forma como são vistas. “Preciso deixar tudo exatamente no lugar em que eu quero”, comenta sobre sua “classuda” máquina de escrever Rheinmetall ao rascunhar alguns versos, referindo-se ao defeito que ela apresenta na definição de linhas e margens. Mas, apesar de sua preocupação pontual, Giovanna Lima – ou simplesmente “GL” – não é do tipo que acredita em um lugar certo para registrar sua arte. Ainda que flerte com os livros, é nos muros, paredes e escombros de locais abandonados que encontra palco para expor a expressão máxima do seu talento: as poesias. Para ela, tomar esta iniciativa foi uma forma de obter representatividade social enquanto mulher e, na mesma medida, dar sua contribuição para que a arte tome as ruas, sobretudo as de Curitiba. Certa feita, foi acusada de “roubar protagonismo dos verdadeiros pichadores”. Uma acusação injusta, pois, apesar de versar por vezes sobre a luta feminista e a liberdade artística, é em seus sentimentos, profundos e verdadeiros, que busca inspiração para a maior parte de seus poemas. “Pichador é quem picha. Artista é quem faz arte”, alega em sua defesa. Dessa forma, temos um veredicto: GL não é protagonista de história alguma, que não a da sua própria. Quando questionada acerca do fato de já ter sido considerada uma vândala pelos agentes da lei, responde com uma de suas obras: “vandalismo é não falar de amor”.


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ENTREVISTA

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Um café e um livro, por favor? Rae pedit, odi tecabo. Tem que est milla sum venim resent volor ressequiatem volorum rerferu ptiscium harum, ese ea volupta quas dolute prore vide su Localizada em frente à igreja matriz no centro de Sarandi, atrás de uma pequena porta, cappuccinos e cafés expressos dividem espaço com violões, recitais, histórias, apresentações, livros abertos por todos os lados e uma baita vontade de fazer sempre mais. Mãe e filho tocam juntos a Café Com Livros, que, diferentemente do que o nome possa sugerir, não se trata de uma livraria, mas sim de uma charmosa cafeteria. Além das bebidas cafeinadas, ela oferece espaço para que seus consumidores leiam à vontade. A ideia é que, ao tomar o café, o cliente sinta-se a gosto para colocar a leitura em dia ou então escolher qualquer um dos títulos disponíveis no local. A iniciativa partiu do filho, Reinaldo Jr, 22, que, ao retornar a Sarandi após visita a Concordia-SC, se deu conta que sua cidade ainda não contava com a típica cafeteria que, em terras catarinenses, fez brilhar seus olhos. “Sempre quis frequentar uma cafeteria dessas bem

tradicionais que a gente vê em filmes, lê em livros, era fantástica, eu sempre quis frequentar uma dessas, mas daí me veio na cabeça que aqui na cidade não tinha isso. Voltei de viagem e apresentei a ideia”. Com apoio da família e da namorada, as ideias e apoio financeiro tomaram forma e a Café Com Livros nasceu há dois anos, conta. Não raro, os proprietários promovem shows acústicos ou plugados na cafeteria, onde músicos autorais sempre são bemvindos como também bandas de MPB, Bossa Nova e Rock n’ Roll ou, como também ocorrem, os recitais de violão. Os visitantes não se intimidam com o tamanho do local e costumam se apertar nos dias de apresentação. Contação de histórias e festas temáticas atraem o público infantil que também se sente acolhido pelo lugar. (Confira as fotos dos eventos nas redes sociais da Café). Se os tempos são de dedicação e criatividade, esse pessoal os tem de sobra.

Mga Park

Perdidos na tradução Livro sobre a história esquecida do Circo Paranaense terá pré-lançamento em agosto Luana Bernardes

Quem não se lembra de um título de filme que ao ser adaptado para o português ficou irreconhecível? A lista é grande, mas aqui vão alguns clássicos: “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” é na verdade “Annie Hall”; “A Noviça Rebelde” é “The Sound of Music”, “Um corpo que cai” (entregando o plot twist da trama) se chama originalmente “Vertigo”. A culpa não é dos tradutores. Tais títulos, bem como todos os outros, são assim escolhidos por questões mercadológicas e (parece que) os tradutores não passam nem perto das escolhas feitas nessas horas. Entretanto, eles são fundamentais para que a gente possa ir ao cinema sem que seja preciso conhecer um segundo idioma. O papel do tradutor aplicado à literatura é tão ou ainda mais importante. Quem nunca leu “A Bela e a Fera”, “Rapunzel” ou “Os três porquinhos” que atire a primeira pedra, afinal, os contos de fadas costumam ser nosso primeiro contato com a literatura. Só para se ter uma ideia, os primeiros contos datam do final do século XVII, na França Medieval, quando Charles Perrault publicou a primeira coletânea de contos populares adaptados da tradição oral. Tentemos imaginar, portanto, por quantas traduções e adaptações Chapeuzinho Vermelho e companhia têm passado desde então. Segundo a professora de Literatura da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e escritora Thays Pretty, a "boa tradução" pode tornar a obra acessível para quem não domina a língua original do autor sem perder a estética da obra, como foi o caso das traduções de Edgar Allan Poe feitas por Clarice Lispector. Thays ainda acrescenta que um bom tradutor é quase tão importante quanto um bom autor “Não acho necessário ler no original quando se trata de best seller, porque o foco acaba sendo muito mais no enredo do

que na linguagem, na estrutura textual. Mas, no caso de literatura 'mais artística', é sempre melhor o original. Nem sempre dá, é óbvio, porque você teria que saber muitas línguas", completa. A youtuber Tamlym Ghannam, criadora do canal no Youtube LiteraTamy e estudante de Letras da USP, conta que tem muito orgulho da língua portuguesa e por isso mantém suas preferências em autores nacionais. Justamente por reconhecer que nossa língua materna é composta por símbolos e expressões intraduzíveis é que Tamlym defende a leitura em outros idiomas. “Recentemente, tive a oportunidade de ler o livro norte-americano The Adventures of Tom Sawyer de Mark Twain. Como na história são descritas experiências de um garoto travesso em uma pequena cidade próxima ao rio Mississipi do século XIX, a leitura em inglês me proporcionou o contato com expressões idiomáticas características da época e da região, além de uma proximidade maior com a realidade dos personagens. ” Tamy conta que começou a se preocupar com a qualidade das traduções durante a faculdade. “Quando um autor competente se propõe a escrever qualquer texto que seja, há uma busca constante por palavras que melhor representem suas intenções.”, diz ela, afirmando que muitas vezes o tradutor leva em consideração seus atributos sensoriais, seus diversos significados e até mesmo sua raiz linguística. “Portanto, uma boa tradução deve prezar por todos esses aspectos, procurando manter o máximo possível de semelhança semântica entre as palavras do original e da tradução, de modo a não prejudicar o leitor e a capacidade descritiva do autor.”, explica. Existem ainda as “traduções das traduções", ou seja, aquele título que antes de chegar até o leitor final,

foi traduzido mais de uma vez: do idioma original para um idioma intermediário e a partir desse, traduzido para o português, por exemplo. De tradução em tradução, a obra original vai sendo reconstruída. Pode ser que se perca um ritmo de leitura ou uma rima (na tradução de poemas, fato que fica mais evidente) ou até mesmo alguma intenção subentendida do autor que, depois de tantas traduções, já nem imaginamos que poderiam existir. Ao mesmo tempo em que ler obras em seu idioma original requer tempo, atenção e estudo prévio, por outro lado, esse exercício pode funcionar também para treinar afluência em outro idioma já assimilada, porém que jaz enferrujada. Já na tradução de poemas, a preocupação com a qualidade da tradução parece ser ainda maior. O poeta e tradutor Gilmar Leal Santos, em sua coluna d’O Duque de Abril de 2014, defende que há tantos aspectos a considerar no momento da tradução que diz não acreditar numa espécie de "vitória do tradutor". "É preciso levar em conta o conteúdo; o contexto; a forma; a rima; as expressões idiomáticas; o duplo sentido das palavras; o ritmo; a contemporaneidade implícita e, principalmente, a mensagem que o autor quis transmitir, é fundamental", complementa o autor, que recentemente finalizou a tradução da obra "The Waste Land", do inglês TS Eliot. Gilmar se refere à tradução como ferramenta para compreensão do autor e se vale do termo “transcriar”, cunhado por Haroldo de Campos (1929 – 2003), para o qual, em linhas gerais, a tradução de poemas, vai além da tradução literal de cada signo, sendo necessário sua recriação para que não perca, ou perca o mínimo, o sentido original proposto pelo autor. “Traduzir poemas é perder alguma coisa. Sempre! Já que todas essas características, juntas, são impossíveis de se conseguir numa tradução.”, finaliza.


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Arquitetura //

Arquitetura //

De: José Carlos Bellucci Para: Aníbal Verri Júnior Assunto: Foto divulgada da Catedral de Maringá

30 . julho . 2015

Olá Aníbal, Como vão vocês? Sempre surge um novo motivo para entrarmos em contato. Desta vez é a foto da Catedral que foi mostrada hoje no site da UOL- seção de FOTOS- do Ricardo Matiello (não sei se ele mora em Maringá) mostrando uma das mais belas fotos que já vi da Catedral. Ela mostra um fato de difícil divulgação pois foi sempre difícil para meu pai e para todos nós que vivemos com o pé no chão - andando daqui pra lá e de lá para cá - buscando o melhor foco da igreja, que é o alcance e o significado espiritual de sua arquitetura. Gostaria muito de felicitar o Ricardo. Mas não encontrei formas via e-mail pois não tenho Facebook. Se v. puder me passar uma dica, agradeço. Mesmo que seja para escrever a ele por via postal. A foto é magnífica. Merece divulgação. Parabéns para vcs. todos da cidade pois é mais um elemento que entrará em vossa história. Continue me mandando notícias suas, da família, na Faculdade que, por motivos de ordem médica não pude comparecer àquele encontro do ano passado. Um forte abraço a todos Bellucci

De: Ricardo Matiello Para: José Carlos Bellucci

09 . agosto . 2015

Prezado José Carlos,

Reconhecimento profissional, gentileza e gratidão Tânia Verri

Heniet re id molore perepe nonsequiam, qui omnientus, volor simpeli busapedita cullupt atusam re, idus alique eariatias assum esto volupid esecti volupie nissero voloreperia eos

Anibal Verri

Primeiramente, me desculpe pela demora em lhe responder. Ao receber seu e-mail, confesso que fiquei bastante emocionado, e até o presente momento não havia encontrado as palavras certas para agradecê-lo. Não o conheço pessoalmente, porém digo de imediato que passei a admirálo ainda mais, não somente pela obra imortalizada como a principal identidade de nossa cidade (Maringá), mas também por ter escrito estas belas palavras direcionadas à minha pessoa. Acredite, mais significativo do que as publicações sobre a foto nos maiores jornais do mundo (CNN, BBC, Le Monde, etc), foi ler o seu e-mail. Nunca imaginei que um dia poderia receber as felicitações de quem, na verdade, deveria ser o grande homenageado, pois nada se compara à grandiosidade que é a Catedral de Maringá, seja como ícone da arquitetura, seja como símbolo religioso, ou “simplesmente” como um dos maiores cartões postais do nosso País. Como forma de agradecimento estou lhe enviando uma foto que fiz hoje pela manhã, dedicada especialmente à você e à sua família. E na busca do ângulo que tentei mostrar a mais perfeita simetria de sua criação, aí está a forma como o seu Pai deve estar olhando, lá do alto, uma de suas maiores obras. Sinta-se abraçado por todos nós Maringaenses, que amam esta cidade e que carregam no coração um imenso orgulho em poder dizer que moram em um lugar onde foi erguido um dos mais belos monumentos já esculpidos pela mão do homem. Tenham uma semana abençoada e mais uma vez MUITO OBRIGADO!

Arquitetos e professores

09 . Agosto . Dia dos Pais . publicada na página do Facebook do Matiello

Talvez o prezado leitor esteja se perguntando, nesses tempos de brutalidades e agressões, onde vamos chegar? Será anacrônico? Não. Vamos apenas registrar com fidelidade as mensagens trocadas entre dois cidadãos em agosto de 2015, portanto fato recente. Um é paulista; o outro, paranaense. Ambos nunca se encontraram. O que os uniu foi a admiração, o respeito pelos trabalhos um do outro e uma cordial relação. O estabelecimento de trocas das mensagens entre os dois desconhecidos foi desencadeado por duas imagens muito fortes. De um lado, a expressão arquitetônica máxima de Maringá, a Catedral, projetada em 1959 pelo paulistano José Augusto Bellucci (1907-1998). Ele a desenhou a pedido da Igreja Católica, na pessoa de Dom Jaime Luiz Coelho (1916-2013), o 1º bispo da diocese de Maringá e eminente figura religiosa da cidade. O trabalho, durante seu

desenvolvimento, contou, com a colaboração de José Carlos Bellucci (1934), também arquiteto pela FAUUSP (1958) e filho de José Augusto. Em conversas com o José Carlos, ele nos revela que a preocupação de seu pai com relação ao desenho da catedral, religioso que era e exímio arquiteto, sempre foi o significado espiritual. Não só atingiu seu objetivo, como também concebeu o espaço monumental central da cidade, sem sombra de dúvida, o mais importante edifício de Maringá. De outro lado, a premiada foto de Ricardo Matiello, o paranaense vencedor de um concurso internacional, que registrou o topo da Catedral Nossa Senhora da Glória de Maringá. A foto foi a campeã do concurso internacional de fotografias aéreas com drones (da National Geographic), por isso, correu e conquistou o mundo, vencendo em duas categorias: “Lugares” e “A mais curtida pelo público”, num universo

de mais de cinco mil imagens enviadas. O registro foi feito a, aproximadamente, 90 metros de altura em junho de 2015. Matiello percebeu – e essa percepção talvez seja a maior significação e a acuidade do ato, a delicadeza da percepção, a natureza do olhar cuidadoso e sublime – que uma densa neblina encobria parte do cone. Agiu impulsivamente, sacou o equipamento e fez a imagem conhecida como “above the mist” (acima da névoa). Ter sido a vencedora na categoria “Lugares” representa admirável emoção, pois, lugar, além de delimitar o território físico e geográfico, põe juntos, espaço e cidadãos em sintonia, identidade e afinidade. Pessoas se encontram nos lugares, e a catedral é o lugar mais legível da cidade, é marco, é centralidade. Ao ver a foto em site de ampla divulgação, José Carlos, que reside em São Paulo, solicitou-nos o contato com o fotógrafo para cumprimentá-lo. Aqui começa essa história...

Fiz esta foto agora há pouco, mostrando a Catedral de Maringá de um ângulo que poucos imaginavam vê-la. Talvez apenas alguns arquitetos, e justamente por isso, gostaria de dedicar esta imagem ao Sr. José Augusto Bellucci (in memoriam), arquiteto que idealizou o símbolo maior da nossa cidade. Durante esta semana, tive a emoção única de receber um e-mail do seu filho (José Carlos Bellucci), parabenizando pela foto vencedora do concurso e por termos conseguido mostrar ao mundo parte de sua grande obra. O José Carlos (hoje com aproximadamente 80 anos) ajudou seu Pai a construir este que é um dos mais imponentes monumentos religiosos do planeta. E como forma de agradecimento pelas palavras da família Bellucci, compartilho aqui esta imagem, que deve ser a forma como o Sr. José Augusto Bellucci deve estar vendo hoje uma de suas maiores criações: lá do alto! Ricardo Matiello 12 de agosto, publicada na página do Matiello no Facebook E se alguém pudesse sentar em uma nuvem, montar seu cavalete e pintar um quadro da imagem que estivesse enxergando? Como seria um quadro da Catedral? Este seria um possível resultado! E com esta imagem, encerro minha série de fotos da Catedral de Maringá (pelo menos por enquanto.) Ricardo Matiello

Em momentos de relações truculentas que passamos com essa mídia de massa insistindo em bombardear violência, descompromisso e inverdades, agarramo-nos nas iniciativas de beleza e humanidade. A troca de textos revela que Bellucci e Matiello inserem suas porções de beleza nas nossas vidas, cada qual fazendo uso de suas ferramentas, mas ambos se utilizando da emoção. Há luz, natural e abundante, no magnífico cone da catedral, na densa névoa que a envolve e dialeticamente faz os cem metros de concreto flutuarem, e no túnel que nossa sociedade vem transitando! Obrigada Bellucci e Matiello! Com seus reconhecimentos profissionais, gentilezas e gratidões vocês fazem nossos dias melhores! Tânia e Aníbal Verri Junior Arquitetos e professores


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Literatura // e ficaram despencados; há os sem dentes; os sem nariz e aqueles com furos nas mãos. Existe, ainda, um medo generalizado, entre a que se pode considerar "classe média", de serem vítimas, por parte dos miseráveis, de invasões e de assassinatos. Os pobres, menos favorecidos, são transferidos para os chamados Acampamentos Paupérrimos, onde vivem em condições desumanas. Os personagens de Não verás país nenhum, sobretudo Souza, vivem em um universo caótico, ditado pelo dinheiro, em busca da sobrevivência digna para se ter, ao menos, os direitos básicos de todo ser humano. Brandão nos apresenta uma sociedade brasileira em um tempo desvairado no qual os seres humanos perdem o sentido na própria existência, no cotidiano dominado e permeado pela violência constante e cruel. Além disso, apresenta críticas, não de forma explícita, às consequências de um governo repressivo e opressor, de uma sociedade que vive o absurdo da violência todos os dias como se isso fosse comum, incorporado à normalidade. Nos Cadernos de Literatura Brasileira: Ignácio de Loyola Brandão, publicado em 2001, Não verás é classificado como narrativa que apresenta situações anômalas, de degeneração e degradação das situações reais de um presente que assistimos enquanto é concretizado ou que se concretizará em um futuro muito próximo. E vale destacar que o romance, lançado há mais de quarenta anos, continua sendo lido e relido constantemente. Por que será? O que há de tão impressionante na obra? Embora Não verás tenha um caráter surreal, situações e momentos existentes na sociedade brasileira atualmente são muito semelhantes a algumas passagens e momentos da narrativa, por exemplo, quando não podemos ter acesso a determinados locais em função da nossa classe social ou situação financeira. Além disso, há o fato da escassez de água, pois já se faz necessário o racionamento e, no caso específico de São Paulo, atualmente, a água já é tão escassa em algumas regiões que muitos habitantes só têm água à noite em suas casas.

A atualidade de "Não verás país nenhum", de Ignácio

LOYOLA BRANDÃO por Estela Santos

Recentemente, na 2ª Festa Literária de Maringá (FLIM), o escritor brasileiro Ignácio de Loyola Brandão mencionou que sua obra Não verás país nenhum, publicada em 1974, representa um futuro muito próximo ao momento que estamos vivendo. Esta obra, quando lançada, causou certo estranhamento e desconforto em seus leitores pelo fato de a narrativa tratar “sobre o que poderá vir a ser”, de um possível futuro caótico e desesperador. Em Não verás país nenhum temos um narrador e personagem, Souza, o qual conta o que é São Paulo, sugerindo um futuro caótico. Trata-se de uma cidade tomada pela poluição, na qual, após a morte dos rios, das plantas e dos animais, as pessoas fazem de tudo para sobreviver, inclusive o uso da violência. Não só São Paulo, mas também o país é tomado pelo chamado Esquema e seus Civiltares, uma espécie de força ditatorial muito semelhante àquela de 64. Há fichas para água, que poucos têm acesso, pois para isto é necessária uma condição financeira razoável e há, inclusive, um museu de água de rios, o que evidencia que a água passou a ser um “objeto de consumo” não acessível a todos e é tratada como uma preciosidade, uma coisa rara; há fichas de circulação, pois não se pode mais circular por todo canto, cada um só pode pegar um ônibus predeterminado; os carros não são mais usados e as comidas são todas feitas em laboratório. Neste romance, o narrador, Souza, ex-professor de História afastado do cargo, conta que a história, nos livros, é sempre reescrita, de acordo com as ordens e critérios do Esquema. Após experiências em laboratórios e explosões nucleares, pessoas se tornaram doentes; as mulheres são estéreis e as crianças quase não existem mais. De todo lado surgem pessoas estranhas, fugindo do forte sol que aniquila qualquer vida. Muitas têm uma aparência assustadora: há os carecas que estão descascando; pessoas que perdem as unhas; sujeitos sofrem de ossos amolecidos; há os que ficaram cegos ou que os olhos saltaram

Outra questão a ser mencionada é o fato de vivermos em um momento político em que já se pensa na proibição de protestos nas ruas, isto é, um momento opressor no qual os cidadãos não têm o direito de lutar por mudanças que julgam necessárias. No romance, todo ambiente é tomado pela opressão do Esquema e seus Civiltares, os sujeitos não têm autonomia e qualquer comportamento “inadequado” fará com que sofram graves e violentas consequências. Vale mencionar que, semelhantes aos Civiltares no romance, nossos militares, em nome da ordem e da organização, as quais julgam como ideais e corretas, usam toda forma de violência possível em função do poder que têm, muitas vezes, partindo de um julgamento supérfluo, devido à cor da pele, da vestimenta ou do local que frequentam determinadas pessoas. Outras passagens do texto idênticas à nossa realidade são quando pessoas têm de trabalhar loucamente pela mínima condição de vida e chegam a fazer uso da violência física para disputarem terras, comida e água nas regiões mais carentes, ou seja, para conseguirem ter aquilo que deveria ser um direito básico de todo cidadão brasileiro. Embora apresentados de forma resumida, estes elementos acima, além de outros não mencionados, confirmam a fala de Ignácio de Loyola Brandão na 2ª FLIM. O romance representa um futuro que é bastante próximo da realidade brasileira atual, um momento em que certas situações caóticas são vistas como acontecimentos normais do cotidiano do país. E, desse modo, mais uma vez a literatura representa as questões sociais por meio da arte da palavra. *Estela Santos é acadêmica do curso de Letras (UEM), coeditora e colunista do site Homo Literatus e editora da Revista Pluriversos. Estuda literatura brasileira em suas pesquisas e é apaixonada por filosofia e cinema.


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Cinema //

a 1 feira de artes de maringá chegou para valorizar as obras dos artistas da região. a

...que a cuca vem pegar Jornalista

nãomais informações: perca! facebook.com/feiraartesania http://feiraartesania.art.br/

rtesanía madeira grill av. são paulo, 1700 maringá - pr

Apesar de a expectativa ser sempre um problema do espectador e não do filme, os gêneros de suspense e terror têm decepcionado bastante por trazerem, quase sempre, mais do mesmo. Mas o ano passado foi responsável por dois exemplares de destaque e que tiveram a paciência de construir a tensão mais pela sugestão do que pela imagem clara. Um deles é o Senhor Babadook, longa australiano que investe na ambientação inquietante e não se utiliza do susto fácil, permitindo que a interpretação do que é realmente o monstro, que dá nome ao filme, seja construída por quem assiste. Jennifer Kurt estreia no roteiro e direção trazendo esse terror psicológico que conta a história de Amelia, viúva há seis anos e com dificuldade de se relacionar com o filho, Samuel. O garoto sempre sonha com um monstro e, ao encontrar um livro chamado “The Babadook” (anagrama para “bad book” ou “livro mau”), reconhece imediatamente seu pesadelo e crê que o personagem quer matálo. O longa funciona como uma espécie de essência mitológica por trás do bicho-papão, que toma a forma dos mais profundos medos do menino e, logo depois, também de sua mãe. O monstro é uma presença invisível durante boa parte do filme, mas depois ganha formas e rosto de um ser assustador. Embora misturar o lado negro de contos infantis com

personagens isolados em uma casa não seja novidade, o filme trabalha a necessidade de expurgar os traumas, olhar para os próprios reflexos e questionar a sanidade. Assim como a protagonista, o público começa a se questionar se o Babadook pode realmente existir. Neste caso, o terror não vem de algo explícito na tela, mas da inquietação causada pela dúvida e também por trazer à tona a ideia de que todos alimentam o monstro do medo e da instabilidade emocional, e ele é do tamanho que se quer. Seguindo a premissa do terror psicológico com base na relação mães e filhos, o longa austríaco Boa Noite, Mamãe, dirigido por Severin Fiala e Veronika Franz, conta a história de dois irmãos gêmeos, Lukas e Elias. Eles se deparam com a mãe toda enfaixada por conta de uma plástica facial e passam a desconfiar que aquela pessoa não é realmente quem ela diz ser. Fugindo um pouco dos padrões americanos, o filme aposta no ritmo lento e se desenvolve sem pressa, não deixando de lado os momentos de tensão por apresentar o ambiente e a matriarca pelos olhos das crianças: sempre de maneira hostil. O rosto da mãe, ainda que não apareça por completo, domina planos abertos e fechados, ganhando contornos de mistério e temeridade. Mas, como o enfoque está nas crianças, a direção evidencia a maneira com

Cibele Chacon

que elas enxergam a realidade, ou seja, tudo conspira contra a figura materna. Ainda que pistas sejam jogadas de maneira descarada para o espectador, o filme não perde a força e não desqualifica o ar de mistério. O que é considerado proposital, não significa que seja necessariamente previsível, principalmente, por trazer temas que vão além dessas questões iniciais. Boa Noite, Mamãe, assim como Senhor Babadook, é um filme sobre perdas que ataduras físicas não conseguem cicatrizar. A grande questão deixa de ser a mãe como impostora e passa a ser como a configuração familiar conflituosa e nada saudável chegou àquele ponto. O longa mostra como gritos de socorro podem ser silenciosos e os ambientes podem parecer longínquos e vazios, dependendo da realidade que se quer viver. A manipulação de volume da trilha sonora e o uso certeiro das cenas mais acinzentadas, construindo um clima extremamente incômodo, ajuda. Os dois filmes são certeiros para causar inquietação e angústia, mas sem cair nos clichês do gênero. Não abusam dos sustos, não apelam para cortes rápidos e ruídos altos. O espectador não vai pular da cadeira e nem colocar as mãos na frente dos olhos. Mas uma coisa é fato, vai se deparar com a construção gradativa da tensão, uma das características mais em falta atualmente.


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Mundo Livre //

Sons de atitude fazem o mundo mais livre Jornalista e locutora da Rádio Mundo Livre FM

A Mundo Livre, sem dúvidas, já invadiu as ondas sonoras maringaenses e, mais que isso, encheu essa cidade de atitude: nos rádios e nas ruas. Porém, nossa maior missão é (e seguirá sendo) tocar música da melhor qualidade com a programação dividida entre clássicos e tendências do rock, valorizando os grandes sons que marcaram a história da música e aqueles que ainda irão marcar. Pensando nisso, nossa grade de programação contempla vários programas feitos para todas as tribos que curtem sons de atitude, destacando os diferentes ritmos que têm tudo a ver com a rádio e com o público que curte a Mundo Livre todos os dias. Por isso, a rádio tem sua “Faixa Especial”, que rola de segunda à sexta-feira, das 22h às 23h, trazendo, a cada dia da semana, um segmento diferente da música para as noites maringaenses. Isso é, sem dúvidas, seguir o que a gente acredita e defende todos os dias: ter um mundo mais livre. Livre de mais do mesmo, livre de padrões... Afinal, nada melhor que poder curtir o seu som, a sua vibe, do seu jeito, mesmo que ele não seja o que todo mundo ouve por aí. Então, se liga aqui que a gente vai te contar um pouquinho do que rola no dia-a-dia da programação da rádio de atitude: - Radio Blues: toda segunda, os sons mais finos do blues ganham espaço na grade da rádio. Dos que marcaram história às novidades do gênero. O Chico Ferreira capricha na produção e locução do Radio Blues. Guitarras afinadas e

vozes marcantes embalam as noites de segunda. - Legião 80: se tem nostalgia, tem Legião 80! O programa traz o cenário musical pós-punk no Brasil e no mundo com muita New Wave, New Romantic, Pop Rock, Synth Pop e outros estilos musicais do Legião. Edson Jansen traz também muita informação sobre as bandas e suas obras no Legião 80 com a invasão do pós-punk no rádio toda terça na Mundo Livre. - Reggae Time: quer mergulhar no universo do reggae? Então, cola no rádio toda quarta que tem Reggae Time com os melhores intérpretes do reggae mundial e nacional com Nizio Jr. #bless - Central do Brasil: quinta-feira é dia de som brazuka na 102,5. Com o Central do Brasil, você viaja pela história da música brasileira e descobre o que tem de novidade rolando no cenário nacional. Produzido por Everton Liberto e apresentando pela Cínthia Carla, o programa é totalmente para Maringá! Viaje pelos ritmos nacionais no Central. - Rock n’ Roll All Nigth: toda a história que o rock’n’roll traçou em mais de 60 anos de existência é traduzida no Rock n’ Roll All Night. O programa, produzido por Harley Andrich e apresentado pela Larissa Serafim, traz as curiosidades e as grandes obras dos maiores ícones do rock! As histórias, os rifes e toda a atitude do rock, toda sexta, na rádio de atitude. Curtiu? Então cola o ouvido na programação e encha sua vida de atitude também!

Cínthia Carla

Jukebox Seu som de atitude também rola na Mundo Livre! Todos os finais de semana, das 12h às 13h, o seu pedido musical é atendido na programação da rádio através do Jukebox. É mega fácil participar: acesse o nosso site, www. mundolivrefm.com.br/maringa clique na Jukebox e deixe seu som que ele certamente invadirá nossas ondas sonoras.


Eu assino


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