Dr mino

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Dr. mĂŠdico e de Louco, todo cartunista tem um De

pouco!



CRM - 1944 Conselho de Risoterapia MINOritária

RECEITUÁRIO

Dr.

De médico e louco, todo cartunista tem um pouco


Hermínio Macedo Castelo Branco “MINO” cartunista cearense. Dr. MINO é a seleção de cartuns publicados na seção semanal do Diário do Nordeste (THE MINO TIMES) e em RIVISTA, publicação mensal da mino@secrel.com.br



O presente livro é dedicado aos amigos médicos: Dr. Pompeuzinho Dr. Ocelo Pinheiro Dr. José Maranhão Filho Dr. Chagas Oliveira Dr. Haroldo Juaçaba Dr. Augusto Soares Dr. Ciríaco Dr. Galba Araújo Dr. Alberto Studart Dr. Sylvio Leal

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Rir, um santo remédio Rir é um estado de graça. Ria, portanto, quando puder, quando der, mesmo sem saber de quê; ria dos outros ou de você. Não é impróprio rir de si próprio. Creio até que ri melhor, quem sabe rir de si. O riso já foi pesquisado, e segundo a pesquisa, mesmo o riso forçado é benéfico, o que equivale dizer que é colorido o sorriso amarelo. Podemos rir de tudo, pois rir é o melhor remédio. E,

sendo assim, significa saúde, que é o melhor negócio. Cuidado devemos ter é com o tédio, ficar sem fazer nada; com o ócio, que segundo a tradição, é o anzol do cão. Sorrir, cientificamente falando, é liberar hormonios benéficos para a mente em forma de mensagens positivas, além de exercitar a musculatura facial sem criar rugas, como acontece quando franzimos a testa preocupados. Portanto, ria. Depois, se der, ache graça. O importante é rir à toa. Não é assim que o rico ri? Logo, rir é uma boa. Tome um certo cuidado com o antirriso e contra sorriso, criados pelo sistema vigente nessa era das comunicações. Você vê como faz a TV? Ela anda por aí catando vulcões, tsunamis, furacões, homicídios, rebeliões em presídios, CPIs intermináveis e outras coisas mais, cujo objetivo é apenas fazer você franzir


a testa e sentir-se impotente diante da massa negativa de informações. Evidentemente que o mundo não é cor de rosa. Que me perdoe La Vie En Rose, mas é bem verdade que estão carregando no preto mais do que se devia. Apesar desses urubus empaletozados e desses corvos engravatados jogando bombas nas terras dos outros e ganhando dinheiro com a política, fazendo a nossa vida cara de viver, nem tudo está perdido. Há muita gente fazendo coisa boa por aí. Portanto, meu querido, ria. O riso hoje é que revela o siso, o juízo, que nos torna probos, pródigos e sophos, nos levando ou mesmo nos arrastando adiante. Até porque o sorriso, pai ou avô do riso, não sei bem, mesmo quando é tímido ou triste, ilumina qualquer semblante.

Ha! Ha! Ha! O que é isso, doutor? O senhor me fazendo cócegas?

Rir, minha senhora, é o melhor remédio!


O doutô diche que o meu remédio é só me alimentá mió!

O que ele diche mêrmo é qui tu num vai miorá nunca.

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Vamos aproveitar e dar uma paradinha tambĂŠm no seu tratamento.

Pois Ê, doutor... aqui estou, liso e desempregado, sem lenço e sem documento, despedido sem justa causa, separado da mulher e sem um lugar para morar.

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Você devia ter complexo por ser feio e não por ser baixinho. Em relação ao complexo de culpa, a culpa é sua. E sobre a síndrome de pânico, é só não se olhar no espelho.

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HI! HI! HI! HA! HA!HI!

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Doutor, fale-me um pouco sobre a tal depend锚ncia psicol贸gica

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Se eu bebo? Bem, na verdade, bebo socialmente. Aqui, acolรก, um uisquizinho, um vinhozinho, uma cachacinha, um conhaquezinho...

Ok! Vou botar aqui: alcoolatrazinho.

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Sem exagero Seja insistente e persistente; desistente, jamais! Mas não exagere. Às vezes, a persistência não é muito inteligente. E voltar atrás, muitas vezes, é o caminho mais certo a seguir quando se quer ir em frente.

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Seja audacioso, acredite e faça, desbrave, avance e inove, fuja do comum, mas não exagere. Às vezes, é cauteloso o homem que o mundo move, alavancado no apoio da filosofal prudência, quando ela é o caminho, por onde anda a inteligência.


Seja prudente e tudo faça medido, pesado e contado. Mas não exagere. Muitas vezes, é o arrojado quem marcha à frente, deixando atrás mundos conquistados.

Seja um guerreiro, forte e valente, corajoso, impecável. Mas não exagere. Seja também um monge, consciente e maleável, que busca a luz e a paz e reconhece os pecados.

Nesse caso, preste atenção: - Não é a prudência nem o cuidado, muito menos o risco calculado, quem toma a certa decisão. Mas, sim, quem corre o risco, sem medo, desassombrado, iluminado pela intuição.

Às vezes, ele é quem nos faz devagar chegar ao longe. Portanto, segue também o monge, no caminhar do guerreiro. Eis o caminho do meio e o caminhar perfeito. Com inteligência e prudência, unindo a mente e o coração, tudo faça com amor e cuidado, arrojo, audácia e esmero. Mas tudo faça, meu amigo, meu caminhante companheiro, tudo faça sem exagero.

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Puxa vida! Esqueci meus problemas!

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DR. Mino


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É um absurdo, doutor! Só porque sou baixinho assim, vivem botando mil apelidos em mim.

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Pode enumerar alguns?


Porteiro de gaiola, enfermeiro dos sete anões, salva-vida de aquário, toco de amarrar onça, tamborete de forró, brinco de pulga, tampinha...

OK, SR. CAGABACHIM. JÁ TEMOS O SUFICIENTE PARA O INÍCIO DE SUA MINÚSCULA ANÁLISE.

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Vontade A força de vontade, essa tal força imensa, que muita gente pensa ter, não existe, na verdade, segundo meu conceito. Fazer ou não fazer, qualquer coisa, de qualquer jeito, tal como mudar um hábito ou largar um vício, por mais que seja difícil, não é virtude nem ofício de quem tal força pensa ter.

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Na verdade, veja como é: tudo fica bem fácil quando de verdade se quer deixar de fumar, parar de engordar, de mentir, de beber, pois você só conseguirá se apenas a vontade tiver. Pois, muitas vezes, pensamos que alguma coisa dese-


jamos quando realmente não queremos. E aí está o segredo escondido no querer. Nem sempre é a nossa vontade, mas uma obrigatoriedade que nos leva tais coisas fazer. Se quer mesmo realizar qualquer coisa pra valer, parar de fumar, de engordar ou de beber, procure apenas saber onde está a verdade, e se há mesmo vontade naquilo que vai tentar deixar ou não de fazer.

Por isso, e para isso, consulte o seu querer ou transforme em vontade aquilo que não deseja. Só assim a vontade enseja realizar qualquer proeza, o que quer que seja. Pois preste bem atenção, com os dois ouvidos me ouça: Sua vontade é que tem força. Quem é forte não é você.

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Por que o doutor acha que eu sou um cara do contra?

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Como? Ninguém presta atenção no que eu digo.

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- Meu pai me batia toda vez que bebia. Minha mãe o deixou e foi ser prostituta. Minha mulher me traiu com meu melhor amigo. Minha filha é garota de programa e meu filho me confessou que é gay.

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Você veio aqui fazer análise ou falar mal da sua família?


- Doutor, não sei me expressar bem, não consigo levar um papo, não aguento falar em público, detesto blá-blá-blá, fico sempre mudo diante das situações constrangedoras, não sei me explicar na hora de me defender e quando me emociono, a emoção embarga a minha voz, além de ser um pouco gago e levemente fanhoso. Nas poucas vezes que começo a falar, nunca me deixam terminar uma fra...

– Basta! Você é um tagarela enrustido.

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A coisa certa Faça tudo o de que gosta, gostando de tudo que faz, sem temor e sem medo. Vem, daí, deliciosa paz e do sucesso, o segredo. Trabalhar de coração alegre e mente aberta é fazer a coisa certa. Toda manhã, agradeça a Deus por mais um dia. Viva assim intensamente, e ao coração obedeça. O que foi ruim, esqueça-se. Só dê lugar para a alegria. Viver o hoje, certamente, é fazer a coisa certa.

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Se o ideal desejado ainda não foi atingido, não fique acabrunhado. Tudo é questão de tempo ou de mais esforço exigido pra atingir a sua meta. Insista e persista, recomece e não desista de fazer a coisa certa. Se o que lhe foi proposto foi andar meia milha, ande a mais milha e meia sem fazer cara feia, e, pelo contrário, disposto. Ficar sempre alerta pra superar a si próprio é fazer a coisa certa.


Se perdoar a ofensa ou esquecer a afronta parecer coisa difícil ou impossível de ser feita, não responda a desfeita com a mesma moeda. Peça ao Pai em oração, a grandeza do perdão, que desfaz o grilhão do mal que nos afeta. Rezar é o que é certo, pra quem deseja fazer a coisa certa.

Trilhando qualquer caminho, cuida de ser verdadeiro, polido, justo e honrado. O caminho do guerreiro é estreito e apertado. Difícil é ser cristão. Mas quem reto caminha, acerta, pois o caminho da perfeição é fazer a coisa certa.

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Muito bem! Agora que vocĂŞ acabou com essa bobagem de achar que ĂŠ o Tarzan, pode ir para casa, trocar essa roupa e ter uma vida normal. Obrigado, doutor!

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Na inf창ncia, sofreu algum tipo de abuso sexual?

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Na inf창ncia, n찾o. Mas n찾o vou mentir para o doutor. Dia desses transei tanto que fiquei meio abusado.


Agressivo? Eu? Pois repita isso, se for homem.

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Regime ideal Por Dr. Mino

Em relação a ser gordo ou magro, pense direito sobre tal quadro. O regime que você faz o satisfaz? A dieta que lhe recomendaram o faz feliz? Então, coma tudo. Apenas coma pouco, mas comendo de um tudo. Ou melhor, coma bem. Coma feliz, satisfeito, almoce e jante em paz. Um pouquinho disso, um tiquinho daquilo, tudo comendo devagarinho, quieto e tranquilo, comendo assim não há de engordar. Só tenha cuidado com as conversas que se tem na mesa. Não engula problemas nem reclamações. E se a mensalidade do co-

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légio ou a prestação disso ou daquilo ainda não foi paga, não deixe que ninguém lembre tal coisa nessa hora sagrada, que é a refeição, a razão de ser do seu trabalho. Isso sim, engorda. Pequenas raivas, sustos, conversas tristes... tudo vira toxinas. Desligue a TV, inclusive. O Iraque, os palestinos, os furacões não são importantes no momento. Notícias más e más conversações fazem você mastigar depressa, engolir apressado, enchendo o bucho, inchando a pança, sem o satisfazer, fazendo você cada vez mais comer e engordar.


Segundo os orientais, você é aquilo que come.

Quer dizer que tu é eu?

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O que diz a chapa do meu pulmão, doutor?

Chapa? Isso aqui parece mais é com um diploma da Souza Cruz.

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Põe na Consul. O que faço, doutor? Minha mulher é tão fria.

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Ela s贸 v锚 os meus defeitos.

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O estranho caso do Dr. Keise Miro em minha telescópica lupa o universo infinito. E fico aflito. Tal grandeza só me faz, comigo mesmo, entrar em conflito.

Dr. Keise estudava a origem da vida na ânsia de compreender o sentido da existência. Diante do fato incontestável da impermanência, debruçou-se sobre o porquê de tudo, sem encontrar a causalidade ancestral.

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Tempo e espaço, para ele, passaram a ser coadjuvantes nessa peça em que o ser e o não ser resumiam a essência da questão. O dr. Keise, cético e frio, reputava o acaso como autor da criação e a explosão do começo como responsável pelo universo em expansão. Mais na frente, Keise encontrou mais razões para aceitar a teoria do cosmo pulsante, segundo a qual todos esses sistemas formados por estrelas e planetas contraem-se e dilatam-se como um imenso coração. Dr. Keise era um cientista investigativo, um Sherlock Holmes da ciência, e todas as suas deduções deveriam basear-se em fatos e na comprovação laboratorial das teorias. Provado, é certo. Errado e inconsistente, improvável. Nesse laboratório virtual de sua vida, Kei-

se desprezou a possibilidade da improbalidade e relegou a fonte mística e a ciência como meros atores e dançarinos que não podem representar e dançar no mesmo palco. Perdido no caos gerador da ordem, na ordem desfeita em nome da nova ordem e no círculo da construção e destruição de tudo que se renova, desistiu do caso no meio da investigação. Apenas chegou à conclusão de que a morte tem causa, visto que tudo, ao morrer, tem causa mortis. Mas a vida, assombrou-se Keise, mesmo oriunda do acaso, como pensava, não é casual. E concluiu, atônito e sem certezas, a investigação, em seu filosófico-científico laudo pericial: - Morre-se porque vive-se. Viver é que é fatal.

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Aquele paciente com complexo de passarinho jรก foi embora, doutor?

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NĂŁo tenho complexo por ser baixinho, mas viro bicho quando alguĂŠm senta em cima de mim.

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E o seu tempo acabou. Ninguém tem tempo pra mim. Minha mulher não me ouve, meus filhos não me escutam, meus amigos me evitam, meu chefe me ignora...

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Doutor, estou numa crise de identidade.

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Bobagem! TambĂŠm jĂĄ perdi minha carteira com todos os documentos.


Eu jรก estava ficando bom, mas, quando sua conta chegou, o estresse voltou.

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Analista, navios e segredos Fui ao analista, fui me analisar. Cheguei lá e comecei a falar, a desabafar, a dizer tudo o que sentia, a contar os meus segredos, a chorar as minhas mágoas, percorrendo, ora sem medo, ora amedrontado, os caminhos do passado que me tornaram inseguro, os traumas da infância, os percalços da adolescência, passando por outros tempos e conferindo atos e atitudes, numa revisão de limpeza

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e ordenamento do meu interior. Abri para o analista o livro da minha vida, cujo título, se um dia publicá-lo, poderá ser “Eu, segundo eu mesmo”, ou “Eu por mim mesmo”. Mas, não contei o segredo maior, aquele, o mais escondido. Aquele, que pede pra sair, mas não dá as caras. Afinal, o que fui, o que fiz de pior, qual a vergonha maior e o trauma primeiro? Esse mundo pertence ao tempo presente, que rápido vira passado e ansioso, vira futuro. O mundo interior é como as fotos de antigamente, que se revelavam no escuro. E trazer o íntimo para a luz do sol é a catarse. Você continua o mesmo, embora sendo agora, uma nova pessoa. Assim fiz e me analisei. Descobri que sou mesmo humorista, um ser peralta. E como o preço da consulta subiu, não tive dúvidas: me dei alta.

CORREM AS ÁGUAS, MAS FICAM OS RIOS. DEIXEI MEU ANALISTA, CHEIO DE SEGREDOS, A VER NAVIOS.

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No coração e nos pulmões, ele não tem nada.

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Nem na barriga, doutô. faz dias que nós num come...


Ninguém paga a ninguém nesse país. É por isso que nada vai pra frente. O sr. nem imagina o quanto estão me devendo...

Por falar nisso, há três meses o sr. não paga a consulta.

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Você sente dificuldade na mastigação? Mas os seus dentes estão ótimos!

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Não é nos dentes não, doutor. É no salário. O que eu ganho, não dá pra comer.


Doutor, minha vida é um livro aberto.

O prefácio é de quem?

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Doutor, essa linha contínua do meu desenho seria o traço marcante da minha personalidade?

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Não quero correr o risco traçando um esboço do seu quadro psicológico.


Consegui esse fortificante para você. Tome-o após as principais refeições e logo se sentirá disposto.

Doutor, será que não dá para conseguir as principais refeições?

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Bom pra cachorro Desde a hora em que o vi descer do caminhão da transportadora, alegre e saltitante, sem coleira nem pedigree, amarrado numa corda e balançando a cauda com aquela expressão feliz dos vira-latas, eu senti que ali estava um problema em forma de cachorro. O novo vizinho trouxera em sua mudança, um elemento que transformaria nossas noites seguintes. O miserável pulguento latia toda noite sem intervalo comercial. Não foi problema de adaptação à nova casa, como chegamos a supor, pois na semana seguinte

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latia mais ainda. E o pior: só latia de noite. Não sei como era possível um cão tão fulerage como aquele, magro véi, rabo torto, orelha quebrada, latir tão alto e tão estridente daquele jeito. O novo vizinho, seu infeliz dono, trabalhava à noite e não ouvia os latidos. E durante o dia, quando estava em casa, o filho duma égua do cachorro não latia. Pior ainda: o novo vizinho só parava em casa nos finais de semana e promovia uma feijoada que começava na manhã do sábado, emendava no domingo e só parava na madrugada da segunda. O cheiro de fumo se misturava aos outros miasmas da festa. Rolava forró, pagode e axé music. Os homens berravam, as mulheres gritavam e o cachorro latia. Era tudo o que eu não precisava, justamente na minha fase mais estressada, no auge de uma dessas crises, coincidentemente na mesma época em que iniciava a análise com o meu paciente psiquia-


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tra, surgia aquele cão gasguito fazendo seu mísero latido imperar em nossas noites. Foi então que tive uma luminosa ideia: peguei um comprimido ansiolítico que meu analista passara pra mim (e que eu ainda não tomara) e o coloquei num pedaço de pão bem amanteigado e molhado no leite. Subi no muro e pude ver o endiabrado animal, que ao me ver, passou a latir mais ainda.Eu sei que odiar é pecado. Guardar rancor também. Desejar mal aos outros, nem pensar. Mas naquele momento em que eu olhava para o cachorro, no meu mundo só havia Hitler e nenhuma Tereza de Calcutá. Antes de jogar o pão, dividi o comprimido e tomei a metade pra passar a raiva e a ansiedade que sentia naquele momento. Sem falar no medo que também sentia de alguém me ver representando um papel daquele, dando “bola” pra um cachorro. Mas, vejam só... funcionou! O abestado latiu ainda mais meia hora, mas depois parou. Parou tanto que cheguei a temer que ti-

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vesse morrido. Fiquei com pena do miserável e meio arrependido. Quando cheguei em casa no dia seguinte, fiquei aliviadamente alegre ao ouvi-lo novamente latindo. Cautelosamente, subi no muro e repeti a operação. Metade pra ele, metade pra mim. Com o tempo, terminei fazendo amizade com o fulerage, que quando me via chegando sorrateiro no muro, balançava o rabo e pinotava numa alegria doida e já nem mais latia. Assim mesmo, o comprimido eu dividia, metade pra ele, metade pra mim. Meu analista me analisou e disse que eu estava bem menos ansioso e mais tranquilo, mas tinha uma ressalva a fazer: eu estava consumindo muito o tal remedinho, pela quantidade de receitas que eu vivia pedindo. – O que há com você? Perguntou-me. – Não estará criando uma certa dependência? – Posso até tá, doutor, não vou negar. Mas é que esse remedinho é bom pra cachorro.


O meu tambĂŠm. Doutor, o meu maior problema ĂŠ a falta de dinheiro.

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Qual o motivo de tanta raiva contra sua mulher?

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Falta de respeito, doutor. Ela me chamou de palhaรงo.


Dona Gilda, esse paciente pagarรก o dobro. Trata-se de um caso de dupla personalidade.

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Gra巽as ao seu tratamento, doutor, descobri que n達o sou Napole達o. Mas, por favor, n達o diga isso aos meus soldados.

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Égua, doutor! Que exame tão demorado!

Seja paciente, minha filha!

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E passa mesmo. A sua consulta, por exemplo, terminou. Às vezes, tenho a sensação, doutor, de que o tempo passa tão depressa!

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Tomar complexo B? Mas doutor, eu jรก sou um cara tรฃo complexado...

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Complexo de igualdade Tudo bem, meritíssimo? Como é que vai, macho véi? Como é que tá a vara desse grande juiz? E as gatas lá do tribunal?

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O cara tinha um complexo nunca visto: o de igualdade. Não se julgava inferior nem superior a ninguém. Não nutria megalomanias não cultivava depressões ou fossas; não se julgava além ou aquém de ninguém. Seu único problema era a intimidade. Chamava o governador de colega, o juiz de meu chapa e abraçava efusivamente qualquer general ou outra patente que encontrasse pela frente.

Aconselhado a fazer uma análise para curar o raro complexo, não se fez de rogado. Foi parar no divã do psicanalista. Mas seu modo de ser continuou o mesmo, tratando todos sempre de igual para igual. E o analista logo lhe deu alta, por considerar uma séria afronta, um paciente cobrar do próprio médico, tornando assim igual, a relação médico-paciente.

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Doutor, n茫o consigo dormir com ins么nia.

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N茫o se aflija! Anormal seria dormir com ins么nia!


Doutor, não tenho dinheiro no banco, nem carro do ano, nem celular, nem casa própria, mas me considero um cara feliz.

Tem que se tratar. Ser débil mental não é tudo.

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VocĂŞ estava indo bem. O que teria feito o estresse voltar?

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A sua secretĂĄria. Vive telefonando, me cobrando.


Criatura, se tu não consegue viver em paz traindo o teu marido, por que não vai a um analista?

Tô indo, mulher! É justamente com ele que tô tendo um caso.

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Quando se sentir impotente e pequeno, coisas que o pensar negativo sentir nos faz, pense na pequenez do vĂ­rus e lembre-se das grandes gripes que ele traz.

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Doutô, o que façu? Não çei mas o qui é serto nen u qui é erradu.

Vamos começar pelo português.


1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33...

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Eu pedi pra vocĂŞ dizer apenas 33.


O que eu faรงo doutor? Sou louco pelo homem-aranha e ele nem liga pra mim.

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Você é dólar, por acaso? Doutor, afinal, quando terei alta?

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Tive alta, doutor?

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N達o tenho mais complexo de inferioridade, doutor. Descobri que sou inferior mesmo.

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Estou com mania de perseguição, doutor. A onde chego vem um menino me pedir trocado, alguém me pede esmola, um marmanjo diz que toma conta do meu carro, um guarda pede pra ver minha carteira, um assaltante toma todo meu dinheiro, o síndico do prédio me cobra uma taxa extra, meu empregado vive pedindo aumento e minha mulher, pra completar, ainda diz que sou sovina.

Não é mania não. É perseguição mesmo.

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BRASIL CASEIRO O REMÉDIO O Brasil, meu amigo, nasce em casa, nesse pequeno território em que a gente almoça, janta, dorme e toma café. Aí está o berço da Nação. A família, disse, salvo engano, Coelho Neto, “é o núcleo e o gérmen da sociedade”. Se somos democratas ou não, é na família que provamos isso.

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É nela que se manifesta a arbitrariedade ou o compartilhamento; que se inscreve nas mentes novas e nascentes os princípios certos ou os errados; que se pode vivenciar o relacionamento sadio, que tem a verdade como centro; que são criados os laços perniciosos das irmandades corrompidas. A educação de casa vai à praça, afirmavam nossos avós. Se somos limpos e asseados, cordiais e amigos como irmãos, respeitosos com os mais velhos e os subalternos, é assim que seremos lá fora, no colégio, no trabalho, na faculdade, na casa dos outros e nos lugares públicos. A economia certa nasce aí também, quando o modelo adotado é o da partilha, da divisão justa, do fortalecimento do caráter, do trato com o dinheiro, do respeito ao alheio,


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dos limites em relação ao consumo, todas as atitudes que ajudarão a formar em cada um de nós o que chamamos de cidadania. Isso foi o que aprendi, o que me ensinaram. Foi a visão que incutiram em mim e na minha geração acerca do Brasil como país do futuro, oriundo justamente dessa célula mater que é a família, a escola que é a nossa casa, o verdadeiro ensino fundamental. Mas, o Brasil não parece ser um país familiar. A corrupção cresceu ao ponto de ultrapassar a realidade prevista por Rui Barbosa, quando afirmou que chegaria o dia em que o brasileiro teria vergonha de dizer que é honesto. Virou cultura. Virou mania. Encontra-se em todos os escalões da atividade pública. É aceita. É natural. Não é ilegal, não é imoral e não engorda.

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Sim. Continuo acreditando que é na família em que nasce o país. O problema é que esse Brasil caseiro é como chá de camomila pra acalmar os nervos ou chá de limão para afastar a gripe, quando o remédio contra essa doença nacional, que grassa no polo dominante, carece de antibiótico pesado. Mas ninguém conhece um de tão amplo espectro capaz de controlar esses desmandos da política brasileira. O que nos cabe é cuidar da família, pois, como afirmou genialmente Millôr Fernandes, “a vida pública no Brasil é uma extensão da privada”. O nosso país, portanto, precisa ter famílias melhores como base. Essa é a profilaxia. Cuidando desse Brasil caseiro é que poderemos chegar a ser, como o Cruzeiro do Sul está aí para nos garantir, com presença em nossa bandeira, um país cinco estrelas.


AUTOANÁLISE

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Por tudo quanto é buraco Pobre ser o humano, o homem, um ser viciado, de vícios e manias cercado por todos os lados. O homem é puro vício. O vício entra nele e dele sai por todo orifício. Pois logo ao nascer, vejam só,

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passam lavanda e talco no bebê e nasce daí, como podem ver, segundo um sr. japonês, salvo engano Toshiro Mifume, o primeiro dos vícios: o perfume, o vício primeiro que começa pelo cheiro. Comecemos pela boca. Não se conta a quantidade de vícios que entram e saem por ela. Primeiro, a chupeta. Tempos depois, o cigarro. Em seguida, a bebida, difícil de ser largada, por ser um vício social. Todo mundo não mente dizendo que bebe apenas socialmente? E pelo nariz? Lembro-me do vovô, cheirando rapé.


Conheci um cara que cheirava sapato, viciado em chulé. Quem não se lembra do lança-perfume, dos carnavais de outrora? Nem vamos citar a cocaína, o crack, dos tempos de agora. Descendo um pouco mais, vamos ao sexo. Somos todos nele viciados, esse vício que tem dois lados e dois orifícios, que não podem ser aqui citados. E nos olhos? Onde está o vício? Conhece alguém viciado em colírio? Mas, há o olhar viciado, o vício do voyeur,

o brecheiro afrancesado. Ouvidos atentos: nem as orelhas escapam. As mulheres as furam para o uso dos brincos, um de cada lado, nesse vício de parelha. Zildete, por exemplo, viciada em cotonete, que veve a cutucar suas zureias. Ia esquecendo-me dos dentes, em seu vício macomunado com as unhas. Um viciado que se diz valente, mas que dificilmente tal vício vai largando, mesmo com unhas e dentes lutando.

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Mas, se há um vício perigoso, que tem milhões de viciados, cada vez mais aumentando, é o vício da língua. Outro que tá dentro da boca e que ao lado dos ouvidos, tal encantadora sereia, leva o povo a escutar e a falar mal, da sagrada, mas nem sempre respeitada vida alheia.

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Ô vício feio, Manuel! Pensei que você tinha parado de cheirar coca.

Pergunta difícil: qual o mais forte: você ou o vício?


Quer dizer que o traço marcante da minha personalidade Ê a minha infantilidade?

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Eu queria uns comprimidos de tetraclarecitina com butanzol acĂ­lico contendo ciclopan, indicado para quem tem fimatosecidalgia aguda.

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Serve.

Tá faltando. O que temos é o tetraclorafenicol acilicida composto contendo cicialina hexaflorizada, muito bom para quem sofre de businofalgia aloprada crônica.

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Brigaterapia Sua vaca! Vagabunda! Ninfomaníaca! Chofer de fogão! Ser inferior! Fábrica de celulite! Rapariga! Empório das rugas! Consumista!

Durma bem, querida!

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Sonhe com os anjos, amor!

Corno!Tarado! Bicha! Aeroporto de chifre! Gigolô! Bicho réi! Cretino! Corrupto! Baitolão!

O que foi, pessoal? Nunca ouviram falar em brigaterapia? É uma das receitas do dr. Mino.


Você escreveu uma carta para si mesmo? E o que diz a carta?

Não sei, ainda não a recebi.

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ZILDETE, a brega star

Ela saiu do interior, mas o interior não saiu dela.

Alô! Moço, é da farmácia? Me diga uma coisa... o sinhô tem aí algum remédio pra espinhela?

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Cuma? Não, né no figo não... Nem no estombo. É na espinhela mesmo.

A espinhela? Fica aqui assim, em riba dos quarto, perto do mucumbuco.


É uma dor atravessada que dá nas costas e responde na titela. Titela! Num sabe onde é não?

E me diga uma coisa... O sinhô tem alguma coisa aí pra tripa gaiteira? Pois mande um pra cá, por favor... Onde fica aqui? Num sei o nome da rua não. Eu trabalho aqui no seu Artur.

Arre égua, macho véi! Tu num sabe onde é a titela? A titela fica perto da espinhela...

Eu sou nova aqui, moço! Seu Artur me trouxe do Quixeré pro mode eu trabaiá com ele e a famia dele. Alô! Cuma? Ir pra onde?

Dor de cabeça? Sinto não! Eu só sinto essa dor inviezada, que sobe do mucumbuco até o pé da cacuruta.

LAIVAI!

O home zangou-se!

93


ZILDETE

A radical brega vai ao médico. Ela saiu do interior, mas o interior não saiu dela.

O que é que a senhora sente?

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Tem pra mim, doutô, que eu tô cum a ispinhela caída. Sinto uma dor atravessada, que vai do peito até chegar no mucumbuco.

Mas num isbarra aí não. Vai até o anel da ruela, ardendo, como se o ôi da goiaba tivesse cheio de carrapicho.


Tem uma durmença na boca do istombo, que vai descendo pela titela até a tripa gaiteira, como se ela estivesse toda ingiada. E é um furmigamento mais medonho do mundo, no corpo todo, parecendo cantiga de grilo, qui num acaba nunca.

Passo o dia todo com a piriquita queimada, e quando me deito, pru mode dormir, lá vem aquele nó no juízo que deixa friviando o coco da cabeça.

Sobe inviezado até o cangote, passa por riba da pá do ombro, desce pipilando no curcuvinho do bucho. E é aí, Doutô, quando eu solto os arrôto mais fêi desse mundo!

Num vou dizer o que sinto no buraco do umbigo nem a coceira nos caroço dos peito, pois o doutô é bem capaz de pensar que eu tô é acoitando doença.

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Essa dor no seu corpo e tudo mais que a senhora tá sentindo foi causado pelo Aedes Egipty.

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Realmente, eu saí com um cara chamado Aécio num sei o quê; mas juro que não sabia que o fí-duma-égua era tão reimoso e tão conhecido assim.


Isso tem cura, doutor?

Tem. É só parar de falar da vida alheia.

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Quando sua mulher diz que você é um filho duma égua, ela está apenas usando uma força de expressão, tentando dar um basta nas suas costumeiras cavalices. Talvez até, se pensarmos positivamente, esteja dizendo que você é um garanhão, referindo-se aos seus atributos na cama.

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O que me preocupa é o fato de você viver emburrado dando coices em todo mundo. Sem dúvida, é uma dose cavalar de falta de educação. Relinchar, nem tanto, acho normal. Trata-se apenas de um falsete vocal.


Mas em relação a essa mania que você diz ter de ir fazer cooper no Jóquei Clube, realmente é preocupante. Pode tratar-se de um surto crônico e galopante.

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Não diga isso, homem invisível.

Ninguém vê minhas qualidades.

100


Doutor, e esse suor frio que sempre sinto ĂŠ grave?

Suar frio ĂŠ normal. Grave seria se o suor fosse quente.

101


Desculpe, amigo, mas as coisas que você diz não têm pé nem cabeça...

102


ImpotĂŞncia, doutor.

Levante a cabeça, homem!

103


O Médico e o monstro Em todos nós há um médico e um monstro. Não dizem que de médico e de louco, todos nós temos um pouco? Por só enxergarmos o médico, que é o nosso lado claro, nos diagnosticamos como bonzinhos e só damos atenção a essa face conhecida e cor-de-rosa de nossa personalidade. E, por não querermos ver o monstro que há em nós escondido, o deixamos desprezado pelos cantos escuros da nossa mente e da nossa alma.

104


E, nas sombras do desprezo, na escuridão da falta do autoconhecimento, ele cresce. E quando menos sabemos, esperamos ou queremos, lá surge ele, gritando, urrando, enraivecido pelo desprezo que lhe damos. O monstro dentro de nós cresce pela falta de carinho. Até as plantas murcham pela falta de atenção. Portanto, fique de olho no seu lado mau. Ilumine as trevas dentro de você e passe a enxergar os seus defeitos. Essa é a terceira visão. Madre Tereza de Calcutá dizia que resolveu mudar sua vida quando descobriu que dentro dela havia um Hitler. E assim ficou sã, curada e santa. Santidade não é ser bom. Bom, só Deus. Santidade é saber que podemos fazer coisas boas e optar por elas, lutando todo dia contra o monstro que há em nós.

Mas, que não haja espanto quando, após iluminado o interior do nosso ser, a gente passar a ver, com a terceira visão de um novo olhar, nesse recôndito lugar, apenas uma criança, esse menor abandonado em nosso coração. Quer ver? Faça o seguinte: consiga um retrato do Hitler, do Mao, do Stalin ou mesmo do Fidel quando meninos. Nos seus olhares você verá o ser puro, inocente, doce e cristalino que habitava o interior de cada um. A criança que, infelizmente, seja por qual motivo, nenhum deles conseguiu carregar para o futuro.

105


É impressionante como tudo me impressiona!

106


É impressionante, doutor! Ninguém me ouve, me escuta nem leva a sério o que eu digo.

Desculpe, pode repetir? Não ouvi direito.

107


Eis a conta com as despesas totais do seu tratamento.

108

TambĂŠm vou cobrar-lhe por ter me analisado, se nĂŁo se importa.


Trauma de infância? Essa não, doutor! Já sou velho demais pra isso.

109


Diz-me o que sentes e te direi o que tens Pois é, entendo perfeitamente o que você ultimamente vem sentindo. Falta de ânimo, desinteresse, nervosismo... Não quer mais nem sair de casa, não é isso?

Anda sentindo uma pressão sobre o peito, uma dorzinha fina e atravessada no coração. Já pensou até em marcar uma hora no cardiologista. Correto?

Outras vezes é um nó na garganta, um sufoco, uma coisa apertando, um gosto de cabo de vassoura na boca o tempo todo.


Aí você entra numa depressão imensa, vai para o fundo do poço, acha que não tem amigos, que todo mundo é falso, a humanidade bárbara e o seu assunto preferido passa a ser a terceira guerra mundial. Tô errado?

Você sabe o que é isso, meu amigo?

Dores de Cabeça, suor frio, taquicardia, enxaqueca começam a ser frequentes.

Às vezes, é atacado por uma irritação incontrolável, briga por qualquer coisa, xinga a mãe de todo mundo, acha que o Brasil não tem jeito, que nenhum político presta e que ninguém vai mudar nada.

É falta de dinheiro. Miadeira. Quebradeira. Liseira. Só isso.


Socorro, doutor! Aquelas alucinaçþes voltaram.

112


O quĂŞ? Um caso simples de megalomania? O sr. estĂĄ enganado, doutor! Minha megalomania ĂŠ a maior do mundo em todos os tempos.

113


Seus empregados têm razão: você não tem coração.

114


Minha mulher tĂĄ me traindo. Digo isso sem a menor sombra de dĂşvida.

115


Minha mulher estava tendo um caso com um cara parecido com o Tom Cruise e rico que nem o Bill Gates. Mas quando eu disse: “Ou ele ou eu!”, ela me escolheu.

116

Vamos marcar uma consulta também para ela. O caso dela realmente é grave.


Ela me chamou de linguarudo, boc達o e desdentado.

Ora, ora! Aposto como foi tudo da boca pra fora.

117


Receita para ser feliz Pense sempre nas coisas boas, pense sempre. Pense sempre que tudo vai dar certo, pense sempre. Pense sempre que tudo o que você sonha e deseja está bem perto. E a tudo que for novo, esteja aberto.

118

Pense sempre. que pensar sempre assim é pensar bem. O positivo é o bem ativo, força e poder do querer em ação. E não se esqueça que o infinito vive e habita em seu coração. PENSE SEMPRE!


O seu mal, sr. Alexandre, ĂŠ nĂŁo saber pensar grande.

119


VocĂŞ foi ao mĂŠdico? O que ele disse? Ele disse que eu suspendesse o cigarro e a bebida.

120


Chego em casa, doutor, minha família toda está na frente da televisão, assistindo à novela, show do milhão etc. Ignoram-me completamente! E tem mais...

121


Quando eu mandar você latir, você lata, viu, Lulu? E lata bem alto para o doutor não pensar que você é uma lata e que eu sou doido, e acabar não me dando alta.

122


Afinal, baixinho, o seu complexo de inferioridade é devido a quê? À sua pequenez, à sua sua feiura ou à sua burrice?

123


O Mal do Homem O mal do homem é o bem que ele não faz.

O mal do homem é a importância que não o satisfaz.

O mal do homem é a preocupação que lhe rouba a paz.

O mal do homem é querer tudo pra si e desejar sempre mais.

O mal do homem é a felicidade que o dinheiro não traz.

O mal do homem é não saber que o amor nunca é demais.

O mal do homem é o poder, que ele quer sempre mais.

124


Minha mulher tem um amante, meu filho é gay, minha filha é lésbica, meu patrão é injusto e cruel, meu carro é velho, nunca fui ao exterior, não tenho celular e meus amigos me chamam de bicha.

Sorria! Você será o tema da tese do meu mestrado!

125


Doutor, acho que estou viciado em internet Passo o tempo todo assim.

126

O seu e-mail, por favor! Vou enviar-lhe uma mensagem linda que recebi ontem.


Procuro o autoconhecimento, pois nĂŁo sei quem sou.

Espero que saiba, pelo menos, se tem plano de saĂşde para cobrir essa procura.

127


As receitas simples do Doutor Mino Adoro bebê! E sou um excelente profissional, uma babá completamente confiável. Meu único defeito é beber.

128

Hum!... Adora bebê e beber? Você é uma babá quase perfeita.


O que faรงo parar de fumar?

Deixe o cigarro!

129


Deixe-me ver a sua ficha. Ah! Aqui estรก! Cleptomania.

130


131


Doutor, essa tal de injeção de minocilina a gente não encontra em farmácia nenhuma.

132

Claro que não! minocilina é uma injeção de bom humor do Mino.


Vou receitar-lhe um bom livro de alta ajuda.


Doutor, acho que essa regressĂŁo tĂĄ indo longedemais.

134


Ridículo! De que adianta ter complexo? Ser baixo e feio não é o bastante?

135


Receita de amor

Ele foi ao médico, e o doutor falou: – Seu mal tem cura. O remédio é amor. Então, ele procurou a farmácia e entrou na primeira que encontrou. –Aqui tem esse remédio? Ao atendente perguntou. O rapaz leu a receita mas não decifrou a letra mal feita do enigmático doutor. E sem querer fazer desfeita, perguntou:

136


– Diga-me, por favor, que remédio foi esse que o doutor passou? Por acaso, lembra do que ele falou? – Pelo que estou lembrado, ele me disse, que por não viver enamorado, um estranho mal me atacou. E frisou bem, lembro-me também, que eu deveria arranjar alguém, a quem quisesse bem e por quem tivesse amor. – Amor? O doutor receitou amor? Salvo engano, se enganado não estou, deve ser um genérico recentemente lançado e que por aqui ainda não chegou. O outro atendente que estava ali ao lado, entrando na conversa, um palpite arriscou: – Não seria um preservativo? Ou, talvez, um princípio ativo, anti-hipocondríaco, quem sabe, um afrodisíaco, quiçá também

um antidepressivo, que lhe faça algum bem contra o mal que você tem? – Não me lembro direito do início da história. Por ter fraca memória, recordo-me apenas que procurei o doutor. E ele me disse que o remédio era amor. – Talvez seja um lançamento de algum novo laboratório. Volte lá no consultório e pergunte de novo. A balconista bonita que estava também ao lado, com pena do pobre homem que já estava encabulado, tomou a iniciativa para resolver a questão. – Cavalheiro - disse ela - me tornei sua fã. Adoro homem romântico assim como o senhor. Que coragem! Que audácia! Procurar numa farmácia um remédio chamado amor. Por favor, volte amanhã, pois eu mesma procurarei.

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E eu mesma o tomarei também, se acaso o encontrar. O homem, por conseguinte, na manhã mesmo do dia seguinte, à tal farmácia voltou. E o que encontrou? A mocinha dormindo lá no canto do depósito. Sem dúvida, um sono pesado, pois passou a noite em claro, cumprindo o propósito de encontrar esse remédio raro. Ele então, é claro, por ela se apaixonou. Sobre ela se curvou e beijou a face amiga. Que nem a bela adormecida, a bela jovem despertou, com a face enrubecida porque o homem a beijou. – Desculpe-me querida, não me processe por assédio, pois você é o tal remédio que o doutor me passou. Esse seu gesto belo, de passar a noite em claro, procurando um remédio raro, que me foi receitado por um inusitado doutor, foi o que me tocou.

138

E dessa forma termino, a todos recomendando, o que a mim próprio determino: para qualquer mal nessa vida só há de curar a ferida, se o remédio for amor. Receita do MINO, humorista fino, que também se denomina, cartunista e doutor.


Doutor, minha mulher confessou que me acha feio, burro, barrigudo e narigudo.

Sinta-se feliz pela mulher que tem. A sinceridade ĂŠ uma virtude.

139


Ter duas caras não é nada. Duro é ouvir minha mulher dizer que sou um cara falso e que tenho duas palavras.

140


O sr. poderia nos dizer qual ĂŠ o segredo de uma vida longa? NĂŁo morrer cedo.

141


Costumo dar calotes nas pessoas, nunca pago as contas, sempre atraso minhas obrigaçþes...

142

Considere-se curado, pois iniciaremos o seu tratamento com pagamento adiantado.


Alguma coisa te fez mal. Teria sido comida? Fui, doutor.

143


Receitas do Dr. Mino Honestidade. Excelente remédio para os dias de hoje. Sem contraindicação, pode ser mantida ao alcance das crianças e tem excelentes efeitos colaterais. Pode ser tomada antes, durante e após as refeições. Combate a ansiedade e a falta de sono,

144

tonifica a mente, revitaliza o ser e engrandece a alma. Não precisa de receita médica nem de ida à farmácia. Pode-se tomar em grandes doses, quando necessário, e recomenda-se o uso de forma homeopática e de maneira holística


Aparentemente rara nos dias atuais, pode ser encontrada com facilidade. EstĂĄ em vocĂŞ. E depende do seu querer.

145


Pela manhã, ao acordar, diga: ha! ha! ha! E à noite, quando for dormir, não se esqueça de rir.

146


Doutor, acabei com o meu complexo de inferioridade. Descobri que sou mesmo inferior.

147


É verdade. Todos mentimos.

Metira Fashion Cuidado com essa pulga que você diz ter atrás da orelha. Desconfiar dos outros, dr. Mino não aconselha. Não jogue pedra na casa do vizinho nem lama na vida alheia, se na sua casa tem vidro nas janelas e teto de telhas. Se a memória não me falha, no fundo de sua recôndita personalidade, não há, por acaso, um rabo de palha?

148

Uma fofoca está à sua espera bem ali na esquina? Passe para o outro lado da calçada ou mude de rua. É melhor viver alheio, no mundo da lua, do que sobre o viver dos outros ser bem informado. De que vale saber dos amigos as falsidades, se não sabe você as próprias verdades que são suas? Milhões de vezes melhor do que uma mentira glamorosa, light, fa- shion, é uma simples verdade nua e crua.


Duas coisas que não faço: mentir e roubar

Saiu da política?

149


Coração de pedra Mágoas, raivas e ódios, às vezes, são inevitáveis. Mas, com certeza, não foram feitos para serem guardados nem usados assim, sem mais nem menos, nesse nosso mundo pequeno, tão grande em confusões. Não fomos nós, humanos seres, programados para guardar e transportar tão pesadas cargas nesse nosso dia a dia, tão cheio e tão carregado pelo ser ou não ser das questões. Se assim fosse pra ser, fiquemos sabendo, a natureza sábia nos teria dado, ao invés de um, dois corações.

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Um para viver as alegrias memoráveis e os senões suportáveis, que equilibrados, nos fazem crer na insustentável leveza da felicidade, suportando, até mesmo, como já o vem fazendo, algumas porções venenosas das mágoas, raivas passageiras e ódios ocasionais. E o outro, talvez de aço ou pedra, feito especialmente para suportar essas terríveis e infernais funções, deixando o nosso coraçãozinho tão nobre, mas feito de carne, bater tranquilo dentro do peito, livre e sem medo, das cardíacas operações.


151


Só existe uma regra a ser seguida por quem deseja ter uma saúde perfeita:

não adoeça.

152


O melhor remédio Deusimar Queiroz

Doutor Mino é a prova inegável e escrita de que um dos grandes remédios da humanidade é mesmo o riso. Essa saudável qualidade humana, induzida pela alegria, pela felicidade, agregada ao bom humor, já é cientificamente comprovada como o melhor caminho para a perfeita saúde do corpo e da mente. Mas, afinal, onde reside o humor? Seu berço é a alegria ou a ironia? O sarcasmo ou a inteligência agudos, capazes de perceber em coisas simples e pequenas, o engraçado que há na vida? Nem só de Millor e de Jô, de o Gordo e o Magro ou Carlitos, vive o humor. Às vezes, segundo o próprio dr. Mino, é numa piada tola e mal contada,

numa bobagem qualquer nossa ou de um amigo, que está a coisa mais engraçada. O livro Doutor Mino leva e eleva o riso para o andar supe-rior do humor. É uma leitura amena, profundamente sadia, que ajuda a nos analisarmos também. Acredito que seja a própria autoanálise bem-humorada do próprio Mino. Portanto, enquanto a farmacologia não nos fornece tal remédio, oferecemos a vocês, nas prateleiras de nossas farmácias Pague Menos, a boa pílula do humor. Não deixe por menos. Veja e leia o dr. MINO.

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Pensamentos do Dr. Mino

Minha auto-análise revelou, que o forte da minha personalidade são os meus pontos fracos.

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Os planos de saúde São como alguns lençóis. Quando cobrem em cima, Descobrem em baixo.


Exame de consciência Não se faz em laboratórios.

Evite doenças! Não há nada pior Para a sua saúde.

Receita de mulher: Excite bastante antes de usar.

Era um político que considerava a saúde realmente uma prioridade. Tinha horror a gripe.

Doença adora gente que Adora falar em doença.

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Copyright © 2014 Todos os direitos reservados Organizador Revisores Projeto Gráfico e Capa Harry Carvalho

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

1.

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Enfim, Bonfim, sua anรกlise chegou ao fim.

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Dr.

CRM - 1944 Conselho de Risoterapia MINOritรกria

Atesto, para os devidos fins, que o sr. (a):

esteve no lanรงamento deste livro,

Dr. Risoterapeuta e humoropata

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RIDE BULA Esta publicação contém Minocilina concentrada. Deve ser tomada antes, durante e após as principais refeições. Pode ficar ao alcance das crianças e não há contraindicações. Sua ação bem-humorada e prolongada gera saudáveis reações e interessantíssimos efeitos colaterais. Não passando os sintomas da sisudez, não precisa procurar o médico; basta reler seu conteúdo. Após ler e reler, passe adiante ou colecione. Mas não esqueça de guardá-la em um ambiente fresco.

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