Adriano Grineberg Um dos maiores nomes do Blues contemporâneo brasileiro!
Respiração: O combustível da voz e do canto!
Futebol e Música: Uma combinação perfeita!
II Festival Internacional do Acordeom 2014: Grandes mestres nacionais e internacionais!
NORD: A maravilhosa fábrica de teclados vermelhos!
Colunas: Exercícios para solos de Rock, Pop, Progressivo e Metal, com Mateus Schanoski Ponto de Encontro, com Luiz Bersou Técnicas do Jazz, com Marcelo Fagundes
Revista
Keyboard ANO 2 :: 2014 :: nº 11 ::
:: Seu canal de comunicação com a boa música!
Brasil
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PERFORMANCE: Respiração: o combustível da voz e do canto!
Suas Compras: Cds, DVDs e Livros
ANÁLISE: Coleção Piano Popular
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Índice DICA TÉCNICA: Parte 2 - Por Mateus Schanoski
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ACONTECEU: II Festival Internacional do Acordeom - 2014
TECNOLOGIA: A maravilhosa fábrica de teclados vermelhos!
MATÉRIA DE CAPA: Adriano Grineberg
TOQUE E APRENDA NAS TÉCNICAS DE JAZZ-BLUES Parte 8 Por Marcelo Fagundes
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ESPECIAL: Futebol e Música: uma combinação perfeita!
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DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS: É cravo ou piano?
FALANDO SOBRE NOSSA MÚSICA - Parte 10
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PONTO DE ENCONTRO - por Luiz Bersou
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REVISTA KEYBOARD BRASIL Baixe agora em seu tablet, celular ou iPAD!
03 / Junho / 2014
LIVRO: MÚSICA E RELIGIÃO NA ERA DO POP AUTOR: JOÊZER MENDONÇA EDITORA: APPRIS - 205 PÁGINAS
Em nossa época de entretenimento em escala industrial, a fé é um show e a religião-espetáculo não abdica da música. Nos tempos do triunfo do Pop, a música Gospel no Brasil demonstra uma forte interação com o mercado da música popular. Se a mentalidade religiosa ocidental mudou e a fé ajuda a alavancar o consumo, como isso repercute na prática musical dos cristãos? Essa relação entre o Gospel e o Pop se dá somente no campo da letra e do estilo da canção ou também está nas estratégias de marketing e na performance dos cantores gospel? Afinal, o Gospel é Pop? Foi com essas observações e perguntas na cabeça que Joêzer Mendonça, doutor em Musicologia e professor de História da Música na PUC-PR, escreveu o livro Música e Religião na Era do Pop – um estudo sobre a música, a cultura jovem e a religiosidade de um tempo em que se assiste a forte interação entre o fenômeno Gospel e a mídia Pop. Música e Religião na Era do Pop pode ser adquirido nos sites da Editora Appris ou das livrarias Saraiva e Cultura.
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Performance
RESPIRAÇÃO: O combustível da VOZ e do CANTO CANTAR É MAIS QUE UMA ARTE - É UM EXERCÍCIO CORPORAL E MENTAL QUE EXIGE CONCENTRAÇÃO E GASTO DE ENERGIA! * Ivani Rosa dos Santos & Marcelo D. Fagundes
A respiração é vital pois garante as trocas químicas entre o ar e o sangue. Neste caso, é um gesto inconsciente, instintivo, cujos movimentos são regulares, rítmicos, simétricos e sincrônicos.
Para o aprendiz de canto, os movimentos respiratórios devem ser conscientes e disciplinados, tornando-se ativos e eficazes. Ou seja, nosso corpo deve estar bem
preparado, pois precisamos de vários órgãos atuando juntos, para que sejam colocados a serviço da função vocal e da música. Por isso, aprender a cantar é, inicialmente, aprender a respirar. Entenda mais sobre a produção da voz e a importância da respiração para a produção do canto a seguir.
A PRODUÇÃO DA VOZ A voz humana é o instrumento mais antigo e mais natural por meio do qual é possível produzir música.
trem em ação conjuntamente, em um movimento harmônico e sincronizado. Mas como isso ocorre?
Para a voz ser produzida, é necessário que o aparelho respiratório – a laringe, as pregas vocais, os ressonadores, os articuladores (língua, lábios, céu da boca, palato mole, dentes e mandíbula) – en-
A produção da voz ocorre no momento em que estamos expirando o ar (expiração é a saída do ar dos pulmões). Esse ar passa pelas pregas vocais (conhecidas, erroneamente, como cordas vocais) e fazem-nas vibrar em uma
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frequência determinada. Neste momento, entram em ação os outros componentes do aparelho fonador, cuja função neste contexto, é levar o som para as cavidades de ressonância (nariz, crânio, tórax, boca e faringe). Então, os componentes do aparelho fonador são: 1) pulmões; 2) laringe (órgão que contém as pregas vocais); 3) cavidade nasal (narinas); 4) faringe; 5) cavidade oral (boca); e 6) cavidade craniana como um todo. Para cantar, você necessita que todos estes órgãos estejam em adequado estado de saúde e com um bom funcionamento. Quando há alguma alteração em algum destes componentes, o canto pode ficar comprometido. Além disso, temos momentos específicos na produção da voz que são: 1) respiração; 2) fonação (vibração das pregas vocais propriamente dita); 3) articulação; e 4) ressonância e projeção.
INSPIRAÇÃO
EXPIRAÇÃO Glote aberta
Glote fechada
Pulmões Diafragma
FISIOLOGIA DA VOZ Aparelho fonador - produção da voz
Faringe ARTICULAÇÃO
Nariz
Laringe
RESSONÂNCIA
Traqueia
FONAÇÃO RESPIRAÇÃO
Alvéolos
Brônquios
Pulmões
Diafragma
07 / Junho / 2014
Fotos: Divulgação
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A respiração é a base de toda a técnica do canto. A ela estão diretamente ligadas a afinação, a colocação do volume da voz e a resistência do cantor. Por isso, um dos maiores problemas é a FALTA DE TÉCNICA!
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– Ivani Rosa dos Santos, fonoaudióloga especializada em voz.
A RESPIRAÇÃO Quem respira bem, canta bem! O segredo do cantor está em ter uma boa e adequada respiração. E, controlar bem a respiração, significa ter melhor domínio da voz. Pois, com a respiração pode-se regular a afinação, a intensidade e a projeção vocal. A respiração é composta por dois momentos: a entrada e a saída do ar dos pulmões. A entrada do ar é a inspiração e a saída é a expiração. Os dois momentos são importantes para você que canta.
Existem 3 tipos de respiração: a clavicular - muito utilizada - onde há um declínio da voz. Esse tipo de respiração é responsável por trazer a rouquidão, fenda e 'calo' na voz. O segundo tipo é a respiração costal, que é a que utilizamos para falar com as pessoas. Não é fundamental para o cantor porque é uma respiração curta, não tem força para manter o trabalho vocal no momento do canto. O terceiro tipo é a diafragmática. Nela, todo o apoio vocal do cantor passa a ficar no diafragma.
A RESPIRAÇÃO CERTA PARA CANTAR MELHOR Cantar, mais que uma arte, é um exercício que exige concentração e gasto de energia. Você já notou que quando respiramos, costumamos erguer os ombros? Quando estamos muito cansados, nós inspiramos e expiramos erguendo e abai08 / Junho / 2014
xando os ombros. Faça você mesmo essa experiência: respire profundamente, erguendo os ombros e abaixando quando estiver soltando o ar, se preciso for, vá à frente de um espelho e observe, por alguns segundos, seus ombros. Essa respiração é muito comum, no
dia a dia, mas NÃO É A MELHOR RESPIRAÇÃO PARA O CANTO. Por que? Porque essa respiração preenche apenas parte dos nossos pulmões.
Para o cantor, a melhor respiração é aquela que possibilita seu pulmão inflar-se totalmente, for-
necendo bastante ar e que não há excessiva elevação de ombro. Para que isso ocorra, é necessário que a caixa torácica se expanda, o músculo diafragma se aplane e o abdomem se expanda levemente para frente.
ALGUNS EXERCÍCIOS PARA MELHORAR SUA RESPIRAÇÃO Os exercícios descritos a seguir, devem ser feitos de forma cuidadosa e com muito zelo, e caso tenha dúvidas de como realizá-los, não hesite em procurar ajuda especializada. O importante não é a quantidade de exercícios que você realiza, mas sim, a qualidade com que os realiza. 1.) Em primeiro lugar, boceje várias vezes, mesmo sem vontade, isso ajuda a descontração psicológica e muscular dos músculos faciais. Agora respire fundo, devagar, tranquilamente, faça esse exercício umas cinco vezes ou mais.
2.) Inspire o ar pelo nariz, sem elevar os ombros e depois faça uma pausa de 2 segundos. Após isso, solte o ar devagar produzindo um som contínuo de SSS. Repita 3 vezes, tentando controlar a saída do ar e sem forçar sua garganta.
3.) Emita um “AAA” surdo, como um bafo, sem som, fazendo a economia de ar, bem lentamente. Após a emissão contínua, coloque uma mão sobre o umbigo e sinta todos os movimentos respiratórios. Se colocar a outra mão nas costas, perceberá o aumento e a diminuição do volume do tórax. 4.) Pegue um balão e, em pé, encha-o com a boca. A inspiração deve ser feita pelo nariz (pois, pela boca, resseca o aparelho fonador). Entre as respiradas, segure a boca do balão com as mãos, sem pressa de enchê-lo. Depois de praticar esse exercício, deixe-o esvaziar sozinho. Faça isso várias vezes.
Existem vários outros exercícios. Aqui foi mostrado apenas alguns para demonstração.
* Ivani Rosa dos Santos: fonoaudióloga graduada pela UNESP com Especialização em voz pela USP. * Marcelo Dantas Fagundes: autor de diversos livros, professor, escritor, músico e maestro. FONTES: site: portaldamusicacatolica.com.br Livro: Aprendendo a Cantar - Método completo de canto popular. 09 / Junho / 2014
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PIANO POPULAR VOLUMES 1, 2, 3 e 4 AUTOR: PROF. maestro Marcelo Fagundes
Da Redação
Análise
Disponíveis no site: www.keyboard.art.br
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Para a Keyboard, é sempre tempo de ensinar, aprender e aperfeiçoar. É o que esperamos, com essa coleção: poder contribuir com vocês, estudantes de música. E esse é o caminho: um Brasil melhor e mais educado, pois investir em cultura é investir em educação, proporcionando às crianças e jovens caminhos longe da violência e do ócio.
Numa coleção completa em 4 volumes, todos com CD de áudio, o Método de Piano Popular - escrito pelo maestro Marcelo Fagundes, traz conceitos da escrita musical formal, utilizada internacionalmente. Você aprenderá, pela forma correta, a interpretação de partituras, ou seja, a interpretação pela qual os músicos de todo o mundo escrevem e lêem música. São dezenas de partituras, num repertório bastante variado e eclético, com arranjos para o piano (clave de sol e de fá). Fartamente ilustrado com esquemas explicativos e escrito numa linguagem extremamente dinâmica e de fácil compreensão. Nesta coleção, você encontrará um atalho para o seu desenvolvimento musical. Tudo o que é necessário saber para interpretar partituras cifradas e com duas claves está explanado da forma mais simples possível, além de muitos outros aspectos importantes como, por exemplo: escalas, intervalos, harmonia, formação de acordes e suas inversões, interpretação de cifras, improvisações, arranjos e etc. Com o apoio do CD de áudio, você poderá verificar a execução das lições práticas e, progressivamente, desenvolver sua habilidade musical.
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(maestro Marcelo Fagundes)
10 / Junho / 2014
Aconteceu
II Festival Internacional do Acordeom - 2014 O II FESTIVAL INTERNACIONAL DE ACORDEOM, REALIZADO EM BELO HORIZONTE, HOMENAGEOU SIVUCA E TROUXE GRANDES MESTRES DO INSTRUMENTO NACIONAIS E INTERNACIONAIS.
Carol Dantas Mantendo o número de atrações do ano passado e o ecletismo como característica principal da programação, a segunda edição do Festival Internacional de Acordeom (FIA) realizada de 8 a 11 de maio, em Belo Horizonte, contou com artistas nacionais e internacionais. Brasileiros, argentinos, italianos, franceses e norteamericanos passaram pelo palco do Sesc Palladium, deixando o encerramento para o Parque Municipal, onde um grande concerto gratuito reuniu a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e o acordeonista Toninho Ferragutti em torno da obra de Sivuca, o homenageado deste ano. Ao lado da produtora Rose Pidner, Célio Balona, diretor artístico do FIA e
Saiba mais sobre o evento, através de Célio Balona - diretor artístico e sobre os músicos brasileiros que participaram do evento de 2014.
também acordeonista, responde pela curadoria do festival, que ainda não conta com uma programação adicional de cursos, oficinas ou palestras, apenas shows. Entre os brasileiros, estiveram presentes no evento, além de Toninho Ferragutti e da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, o cearense Adelson Vieira, os gaúchos do Quinteto Persch e o jovem mineiro Léo Magalhães. O time de estrangeiros era composto pelo italiano Renzo Ruggieri, pelo americano Cory Pesaturo (que contou com a participação especial da violinista Mari Black), pelo francês Daniel Mille (que dividiu o palco com o violonista Yamandú Costa e o violinista Nicolas Krassik) e pelos argentinos do Dino Saluzzi Quinteto. Para o ano que vem, adianta Célio Balona, já está sendo cotada a vinda do acordeonista francês Richard Galliano, expoente mundial do instrumento, além de atrações que trabalhem com o acordeom e a música eletrônica, a exemplo do que fazem os grupos Gotan Project e Bajofondo. 11 / Junho / 2014
Matéria de Capa
Adriano Grineberg Quebrando barreiras e tendências!
ADRIANO GRINEBERG, UM DOS MAIORES TECLADISTAS DE BLUES E SIDEMAN DO BRASIL, É RESPONSÁVEL POR TOMAR A FRENTE DOS PALCOS, QUEBRANDO BARREIRAS E TENDÊNCIAS, TORNANDO-SE UM DOS PRIMEIROS TECLADISTAS FRONTMANS DO BRASIL, COLOCANDO NOSSO INSTRUMENTO EM EVIDÊNCIA E ALCANÇANDO NOVO PÚBLICO. EM SEU SEGUNDO CD SOLO, BLUES FOR AFRICA, GRINEBERG APRESENTA UM DISCO EMBLEMÁTICO COM CONTEXTO CULTURAL, HISTÓRICO ARTÍSTICO E SOCIAL, REUNINDO TRADIÇÃO, RENOVAÇÃO E RELEITURAS DE COMPOSIÇÕES, REVELANDO QUE O BLUES NÃO FOI ESQUECIDO PELOS BRASILEIROS. *Mateus Schanoski
Foto: Divulgação Foto: Divulgação Foto: Divulgação Foto: Débora Branco Foto: Porthus Junior / Agência RBS Foto: Javalim Blues
Pianista, organista, tecladista, cantor e compositor, com 25 anos de carreira, o paulistano Adriano Grineberg é um dos maiores nomes do Blues contemporâneo brasileiro, além de ser um dos raros músicos que se dedica ao órgão Hammond B3 no Brasil. Quando pequeno, via sua mãe tocando um piano que ficava na marcenaria de seu pai e logo interessou-se pelo instrumento. Aos cinco anos começou a fazer aulas e a tirar músicas de ouvido com muita facilidade. Aos doze aprendeu contrabaixo. Formou-se em música pela Escola Municipal de São Paulo. Estudou piano erudito e tocou na Orquestra Sinfônica Jovem do Estado até escolher definitivamente o Blues. Atualmente, Adriano Grineberg é o músico de Blues que mais participou de gravações do gênero no Brasil (mais de 40 álbuns), ao lado de artistas nacionais e internacionais como Magic Slim, André Christhovam, Irmandade do Blues, Blue Jeans, J.J. Jackson, Nasi, além de apresentações ao lado de Corey Harris, Big Time Sarah , Shirley King (filha de B.B. King), Deitra Farr, John Pizzarelli entre outros. Teve a oportunidade de abrir, em 3 momentos distintos, o show de B.B. King e toca frequentemente nos principais palcos e festivais de Jazz e Blues em todo o Brasil. Na música brasileira, já atuou com bandas e artistas das mais diversas gerações como Ira! (de 2004 à 2007), Ana Cañas, Filipe Catto, Wanderlea, Hyldon, Paralamas do Sucesso, Toni Garrido, Gilberto Gil, Arnaldo Antunes, Elba Ramalho e muitos outros. Já gravou com vários dos principais produtores da música brasileira como Liminha, Paul Ralphes e Ricky Bonadio. A seguir, uma entrevista exclusiva realizada por Mateus Schanoski e concedida à Revista Keyboard Brasil.
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Um dos músicos mais atuantes da história do Blues nacional! - Revista Keyboard Brasil
Entrevista
Revista Keyboard Brasil: Antes de tudo, como foi “sair do fundo do palco”, se tornar um frontman e começar a cantar também? Adriano Grineberg: Ser frontman ou sideman são experiências distintas. Na primeira, existe um grau maior de concentração no que diz respeito a ter o controle do show, observar o público e isso acaba exigindo maior atitude porque envolve a comunicação. Dividir o palco com grandes músicos e artistas foi a melhor escola que pude ter. Ver a atitude do Nasi nos palcos do Ira!, a irreverência de Ana Cañas ou a simplicidade e autenticidade de Magic Slim, entre outros foi uma escola e tanto. Sempre desenvolvi o canto de forma autodidata. Fazia backing vocals em todos os projetos em que atuei. Ser sideman envolve aspectos que são importantes para a formação de qualquer músico no que diz respeito à disciplina, respeito, autocontrole e comprometimento com um trabalho onde você não está liderando. Musicalmente é diferente. O fato de não estar tão concentrado no contexto geral do show permite que você “viaje” mais com a música várias vezes. Também adoro ser sideman e é algo que 14 / Junho / 2014
jamais deixarei de ser em projetos paralelos. Revista Keyboard Brasil: Conte como partiu a ideia de fazer o Blues For África. Adriano Grineberg: Embora eu tenha uma história reconhecida no cenário do Blues, sempre tive relação com diferentes estilos musicais como Rock, Reggae, Jazz, MPB e, principalmente, com a World Music. Sou pesquisador musical de lugares como a Índia e a África (locais onde estive em 3 oportunidades) e tenho, em parceria com o guitarrista Edu Gomes, 10 CDs de New Age e World Music gravados. Minha relação com a África foi se estreitando não só com a pesquisa e as viagens mas, também, com a convivência que tive tocando com o Corey Harris (guitarrista e pesquisador), em 2003 e também com o Marku Ribas, em 2012. A presença da África nas origens do Blues é algo incontestável e tem sido fruto de pesquisa para artistas em todos os cantos do mundo. No entanto, esse é um trabalho inédito no Brasil, um país privilegiado culturalmente por ser muito influenciado pelas culturas africana e norteamericana. Achei que poderia trazer uma
Fotos: Divulgação
Além de ser um dos melhores músicos de Blues brasileiro de todos os tempos, Adriano Grineberg é performático. A música corre em suas veias desde pequeno. Por isso, toca com grandes músicos, como B.B. King.
contribuição maior com esse projeto do que voltar a fazer um CD de Blues tradicional nos moldes do CD Key Blues!!! trabalho que ainda está em fase de expansão. Blues for Africa acaba sendo o ponto de partida para uma nova fase de minha carreira. Acho importante as pessoas entenderem que não se trata de uma fusão de estilos mas, sim, de um reencontro de várias expressões da África e suas extensões. Duas curiosidades que observei nas pesquisas: 1) a semelhança de divisões rítmicas de países como Zâmbia, África do Sul e Nigéria, com as levadas de New Orleans - muito presentes no CD até pela grande influência que tenho de Dr. John. 2) observar a similaridade das modulações do Blues com a música de países negros islâmicos como o Mali (de onde descendem os escravos que foram para a América do Norte). Sempre me incomodou um pouco a expressão: “o Blues origina das plantações de algodão do sul dos EUA com os escravos”. É preciso, além disso, conhecer nossas origens para poder olhar para o futuro. Não falamos de escravos, mas de um povo que foi escravizado e possui sua ancestralidade. Reconhecendo, claro, que o Blues como conhecemos teve influência também da música europeia nos EUA.
Revista Keyboard Brasil: Você produziu seus dois discos. Nessas produções, você as realizou da mesma forma ou de formas diferentes? Conte como foi o processo de criação, produção e gravação dos CDs: Adriano Grineberg: Os discos foram feitos de forma semelhante. O Key Blues!!! Trouxe um repertório de clássicos do Blues, nomes como B.B. King, Jimmy Rogers, John Lee Hocker em versões para banda e teclas, que já estavam na estrada há quase 10 anos nos shows do Adriano Grineberg Quarteto. O Blues for Africa foram quase 20 anos de pesquisas gradativas, onde o repertório foi tomando forma. Nos dois projetos investi bastante na pré-produção para poder gravar os instrumentos separados e com calma, dando margem para que ideias novas pudessem surgir no momento das gravações. Conto nos dois CDs com a presença e co-produção do parceiro e guitarrista Edu Gomes, do engenheiro de som Pedro Marin (ex-Milton Nascimento), além de Daniel Lanchinho, a partir do Blues for Africa. Revista Keyboard Brasil: Você tem várias participações especiais neste disco. Fale sobre essas participações. 15 / Junho / 2014
Adriano Grineberg: Ao contrário do Key Blues!!!, que não conta com convidados, o Blues for Africa é repleto de participações. A primeira delas é de meu amigo nigeriano e cantor Rex Thomas que participa e assina a composição de duas faixas do CD na língua “Igbo”, sua tribo de origem. Foi ele quem batizou o CD de Blues for Africa. Temos o Vasco Faé, parceiro de muitos anos e projetos cantando e tocando gaita na faixa “Three Little Birds”, de Bob Marley. Graça Cunha, cantora do programa Altas Horas participa de três faixas com seu timbre inconfundível que casou perfeitamente com o CD. Temos também o Fábio Sá que tocou comigo na Ana Cañas e de Filipe Catto no baixo acústico. O timbre desse instrumento fez a fusão rítmica dentro da linguagem africana sem que houvesse a necessidade de exagerar nos arranjos pontuais de percussão tocados por Michelle Abu, que conheci nos tempos de Ira!. Finalizando esse time de grandes convidados, o baterista Daniel Lanchinho que, além de co-produzir e mixar, toca em 3 faixas do CD: “Bonse Aba”, “Jikelele” e “Chimo”, todas com forte influência do Reggae, gênero do qual ele é um dos maiores conhecedores e pesquisadores do Brasil. Revista Keyboard Brasil: No Blues For África, existe uma grande mistura de ritmos, tessituras e línguas diferentes. 16 / Junho / 2014
Como foi juntar tudo isso? Adriano Grineberg: Engraçado que só percebi essa mistura quando vi o trabalho finalizado. Sempre gostei de trabalhos que tivessem uma unidade por maior que seja a diversidade dentro dele. Esse é um CD onde busquei e explorei - sem limites todas as minhas influências de ritmos, arranjos e sonoridades, sem a preocupação de seguir uma tendência ou estilo. Observei-me usando levadas de Punk Rock com tessituras de New Age como na faixa “Jingoloba”, ou de Blues do delta com escalas da música do norte da África como em “Tuareg Blues”. As línguas africanas e a maneira como são cantadas acabaram sendo o fio que ligou todas essas influências. Gravamos as vozes sempre de forma bem suave e com dobras para dar peso, mas sem perder a sutileza dos vocais africanos. Revista Keyboard Brasil: Quais instrumentos você usou neste disco e quais modelos? Adriano Grineberg: Procurei usar os timbres originais na gravação, ao contrário dos shows, por uma questão de praticidade e disponibilidade. Usei um piano de armário Fritz Dobert que tenho há mais de 30 anos e que foi “envenenado” pelo afinador Elias. Usei a escaleta Yamaha p37d em 4 faixas, um harmonium indiano feito por um artesão local e toquei também kalimba africana. Os instrumentos elétricos foram o órgão Hammond B3, o Rhodes Mark I 73 e o S90 da Yamaha ligado a um amplificador
Fender Pró Júnior para simular os timbres de Wurlitzer. Revista Keyboard Brasil: Além de ter tocado com muitos artistas e bandas de Blues, você acompanhou muitos outros de estilos diferentes. Como isso influencia na sua música? Adriano Grineberg: Não existe experiência musical que não venha a somar na sua carreira e formação como músico. Com relação à diversidade de estilos, me ajudou a ter uma visão mais ampla de música, a ouvir vários sons diferentes em fases diferentes da minha vida. Não sou contra os puristas, mas acredito que, em pleno século XXI, vivemos num verdadeiro caldeirão de linguagens e tendências que se intercalam em todas as áreas da arte. Difícil citar os artistas que mais me ensinaram, mas reconheço aqui o aprendizado que tive e ainda tenho com André Christovan, Nasi, Ricardo Gaspa (ex Ira!), Magic Slim, Irmandade do Blues, J.J. Jackson, Corey Harris, Marku Ribas, Hyldon, Wanderléa, Ana Cañas, Marina Lima, Elba Ramalho, B.B. King (que não toquei mas abri 3 shows) e os produtores Liminha e Paul Ralphes. Revista Keyboard Brasil: Na turnê do disco Blues For Africa, você está misturando músicas dos dois CDs. Como está sendo a receptividade do público nos seus shows? O público do Blues está gostando? Sentiu que agora atinge um público maior? Adriano Grineberg: Sim, estamos fazen-
zendo músicas dos dois CDs além de alguns clássicos de Ray Charles, Jerry Lee Lewis, Led Zeppelin e algumas citações a Tim Maia, Pixinguinha e Luiz Gonzaga. Nosso show mostra, na verdade, a forma como o Blues pode estar presente nas mais diversas formas de expressão musical. Confesso que tive certo receio em incluir as músicas africanas num show que estava tão amarrado e com tanta participação do público. Tivemos um resultado surpreendente. Quando tocamos essas músicas, as pessoas levantam das cadeiras e dançam com intensidade ainda maior do que o resto do repertório. Isso dá uma sensação de que estamos no caminho certo dentro daquilo que estamos buscando atingir. Sempre vi o Blues como uma expressão universal de alma e coração, algo que vai além de um país, época, cor de pele, chapéu, roupa ou topete. Tenho sentido, ao lado dos parceiros de banda, Sandro Grineberg (bateria), Edu Gomes (guitarra), Rodrigo Jofre (baixo) e Felipe Romano (percussão) um astral incrível nos shows. Acredito que o público de Blues que nos acompanha aprovou a mudança. Temos observado públicos de outros estilos como MPB, Reggae, Pop e até Eletrônico se aproximarem do nosso trabalho. Certamente estamos tendo uma expansão de perfil de público e retorno não só nos shows como, também, nas críticas positivas que estamos recebendo. Revista Keyboard Brasil: Nos anos 90, o Blues no Brasil era muito aceito pelo 17 / Junho / 2014
Foto: Rei Santos
De forma natural, o músico tem misturado o Blues e suas vertentes à World Music, fruto de suas viagens e pesquisas pela África e Índia nos últimos 20 anos! Clique e assista Adriano Grineberg Quarteto.
público em geral. No início do novo século, ele ficou esquecido, mas muitos artistas do Blues continuaram seu trabalho. Em contrapartida, o “Blues brasileiro” evoluiu, passando a ter uma identidade e reconhecimento internacional. Hoje, o Blues tornou-se novamente muito apreciado no Brasil. Porém, não tanto quanto antes. Você faz parte de tudo isso. Aí eu pergunto: acredita que o Blues no Brasil tende a crescer mais? Como e por quê? Adriano Grineberg: Vivemos muitas fases distintas desde o início dos anos 90. Tivemos um “boom” com o sucesso de André Christovan com o Blues Etílicos tocando nas rádios e encantando os fãs de Rock na época. Tínhamos grandes artistas como Cazuza, Alceu Valença e tantos outros fazendo menções ao Blues. A partir disso houve uma sede do público e dos músicos em reproduzir e viver o Blues de lendas como Buddy Guy, Steve Ray Vaugham, B.B. King, Eric Clapton, na íntegra, e isso imperou nos anos 90, onde o nível de performance se tornou cada vez mais alto. A decadência na década de 2000 ocorreu infelizmente pelo fato de não ter 18 / Junho / 2014
havido renovação por parte dos artistas, somado ao fato de que o público havia envelhecido e parado de frequentar casas de shows como antes. O início da década de 2000 foi muito difícil e, graças à perseverança dos artistas e bandas que sobreviveram, somado a novos talentos que chegaram com uma visão diferente possuindo muito talento e vontade ocorreu esse ressurgimento. Se ainda não temos a quantidade de público dos anos 90, por outro lado vivemos uma grande fase artística. Hoje, vejo o Blues nacional em seu melhor momento, pois há uma enorme diversidade de propostas e identidade. Vejam que temos desde bandas que seguem a linha tradicional, das mais diversas localidades dos EUA, como também artistas que estão mesclando e fundindo MPB, World Music, Soul e Funk com muito talento e originalidade. Acho importantíssimo por parte dos músicos conviverem e aceitarem essas diferenças com maturidade e inteligência para fazer a cena crescer. Revista Keyboard Brasil: Quais são seus próximos projetos? Adriano Grineberg: Sinto que o Blues for Africa tem um caminho para ser percorrido. Quero difundir e expandir ao máximo essas fronteiras e não sei quanto tempo isso irá levar. Lançamos o CD no finalzinho de 2013 e vejo tudo ainda numa fase embrionária. O Key Blues!!! é de 2010 e, mesmo tendo trabalhado muito bem o projeto, ainda daria para ficar mais um ano com ele na estrada. Atualmente,
sigo ampliando minhas pesquisas de World Music associadas à linguagem do Blues de forma cada vez mais profunda, pois vejo como uma fonte inesgotável de inspiração e certamente devemos continuar seguindo essa tendência. O show atual está com muito “prá cima” e bem equilibrado, pode ser que estejamos num bom momento para gravarmos um DVD. Revista Keyboard Brasil: O que você está ouvindo atualmente? Quais CDs ou trabalhos você indica para a galera dos teclados? Adriano Grineberg: Ouço música de vários estilos e épocas. No Rock, Blues e derivados tenho curtido muito Keb Mo, Taj Mahal, Paul Simon, Norah Jones, AC/DC e The Meters, além dos progressivos imortais ELP, Yes e Premiata Forneria Marconi. Para tecladistas, um trabalho curioso é a banda Ozric Tentacles (País de Gales) que trabalha com samplers e programações com muito critério e bom gosto. Hoje, a relação com a
Acima: CD Blues Of Africa e o Adriano Grineberg Quarteto.
World Music e a África tem me feito olhar com maior atenção aos artistas de lá como o Ali Karka Touré (Mali), o Habbib Loité (Mali), Bombino (Níger) e Corey Harris (EUA). Também ouço muito o cantor paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan. De brasileiros, tenho ouvido sempre o Eumir Deodato, Nelson Gonçalves, Jamelão, Wilson Simonal (principalmente na fase da parceria com o César Camargo Mariano), Uakti, Banda de Pífanos de Caruaru, Moda de Rock. Sempre ouvi música erudita e, nesses tempos, tenho ouvido com maior intensidade Eric Satié, Dvorák, Beethoven e Villa-Lobos. Percebam que nem todas essas referências são específicas para tecladistas. Procuro ouvir outros instrumentos para trazer isso para o som que eu estou fazendo no meu instrumento. É uma forma de nos tornarmos menos previsíveis e mais criativos. Pianistas, organistas e tecladistas que não estão citados acima, recomendo sempre Dr. John, Otis Span, Professor Longhair, Pinetop Perkins,
O álbum Blues for Africa, de Adriano Grineberg é inspirado nas raízes africanas do Blues cantado em 6 línguas de 9 países (África do Sul, Mali, Zâmbia, Quênia, Nigéria, Brasil, Jamaica e Estados Unidos) em releituras e composições que combinam elementos modernos às batidas tribais no Blues, Gospel, New Orleans, Mambo e Reggae, combinados à pluralidade de expressões da África e à forma como essa cultura se expandiu no mundo. Ao lado de sua banda, Adriano Grineberg faz uma apresentação com total interação com o público, transcendendo o Blues e o reverencian-
do como uma expressão universal numa viagem que vai além de um gênero musical, localidade ou época específica. Incluídos no repertório, estão os clássicos de referências como Ray Charles, B.B. King, Jerry Lee Lewis, Bob Marley e citações de mestres da música brasileira como Pixinguinha e Luíz Gonzaga. Formam a banda Adriano Grineberg Quarteto, além de Adriano (piano e voz), o guitarrista Edu Gomes (fundador da Irmandade do Blues), o baixista Rodrigo Jofre e o baterista e irmão Sandro Grineberg, formação que possui 14 anos e jamais foi alterada.
19 / Junho / 2014
EXERCÍCIO PARA A MÃO ESQUERDA
Jimmy Smith, Elton John, Lion Mays e, claro, Ray Charles. Revista Keyboard Brasil: Você tem um estudo diário para seu instrumento ou simplesmente toca? Faz algum aquecimento ou exercício antes do show? O que você faz para manter a sua técnica? Adriano Grineberg: Sempre faço um pequeno aquecimento que aprendi com minha fisioterapeuta quando tive princípio de tendinite aos 18 anos (nunca mais voltou). São movimentos muito suaves para alongar e relaxar os tendões. Veja que alongamento não é musculação! É importante estar relaxado e checar os movimentos e posição, desde a coluna vertebral até os pés. Hoje não tenho tanto tempo para estudar técnica. Por isso, aos que estão começando, aproveitem muito essa fase porque quando tornarem-se profissionais será cada vez mais difícil ter tempo para isso. Uma forma legal para manter a técnica é ter segurança nas frases, no estilo que você desenvolve. Com o tempo nos tornamos mais simples e efetivos no tocar.
20 / Junho / 2014
CONTATOS DE ADRIANO GRINEBERG: www.adrianogrineberg.com.br
Foto: Divulgação
Assista trechos do excelente show Blues for Africa
Revista Keyboard Brasil: Explique aqui o exercício do vídeo que você propôs. Adriano Grineberg: Uma das principais dificuldades dos pianistas de Blues é o fato de não terem certeza, muitas vezes, de como usar a mão esquerda. No exercício, mostro duas maneiras: a primeira é tocando a linha de baixo partindo ao invés da tônica, da quinta, passando pelas terças maior e menor e repousando na tônica. Esse tipo de linha permite que você possa tocar sem o baixo estar totalmente amarrado no arranjo e dar muito peso e groove na levada. A segunda parte é o acompanhamento simples de acordes para solo respeitando o encadeamento de acordes nas mudanças para quarto e quinto graus usando as tensões básicas como sétimas e nonas. Claro que isso pode ser intercalado de acordo com sua escolha. Grande abraço a todos!!!
* Mateus Schanoski é graduado em Piano Erudito (Conservatório Bandeirantes), Piano Popular (CLAM e ULM), Teclado e Tecnologia (IT&T). É tecladista, pianista, organista, sideman, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
Toque e Aprenda
Continuação
08 Aprenda ou melhore seu desempenho nas técnicas do Maestro Marcelo Fagundes
Jazz - Blues
Dando continuidade às formas de Jazz...
Estilo - Jazz - Rock / Fusion / Jazz Contemporâneo (1960-70 até a atualidade)
Nascido na virada dos anos 60 para os 70, o Jazz-Rock, ao fundir-se com os estilos Funk e Pop, nos anos 70 e 80, deu origem ao que chamamos de Fusion, um gênero de enorme sucesso comercial, porém bastante controverso entre os apreciadores de Jazz, especialmente entre os fãs mais apegados a uma concepção estrita de Jazz. Mais tarde, o estilo passou a incorporar elementos eletrônicos, samplers e sequenciadores utilizados à mistura do drum'n'bass e do techno, dando origem ao Jazz contemporâneo. Nos anos 70, o Jazz-Rock (então já rebatizado como Fusion) começou a efetuar um movimento de aproximação cada vez maior com o Rock; depois, nos 22 / Junho / 2014
anos 80, com a música Pop de caráter mais comercial. O som acústico cedeu quase que totalmente o lugar aos instrumentos eletrônicos. Em algum ponto desse percurso, o Jazz-Rock deixou de ser um terreno de experimentação radical e vital. Existem alguns indicadores estritamente musicais e perfeitamente objetivos dessa perda de identidade jazzística. Primeiro, o swing jazzístico se perdeu, dando lugar a ritmos mais “quadrados” e óbvios. As síncopas, quando existem, são relativamente rudimentares. As atuações de muitos (as) vocalistas do Fusion, com raríssimas exceções, são grosseiras. Todas as nuances na exposição de um tema, todos os matizes timbrísticos, todos os desenhos melódicos detalhados, toda a coerência
Estilo - Jazz - Rock / Fusion / Jazz Contemporâneo
na improvisação - tudo isso desapareceu. Não se pode negar que existiram inúmeros músicos da mais alta competência técnica no estilo Fusion, principalmente nos anos 70 (alguns dos quais ainda bastante ativos): Miles Davis, o grupo Free Spirits de Larry Coryell, o grupo do vibrafonista Gary Burton e também o Charles Lloyd Quartet (que incluía Keith Jarrett e Jack DeJohnette), o guitarrista John McLaughlin, que iria formar a Mahavishnu Orchestra; o pianista Chick Corea, que iria liderar as diversas formações do Return to Forever; o tecladista Joe Zawinul, que iria fundar o célebre Weather Report; e diversos músicos do primeiro time, como o saxofonista Wayne Shorter, o organista Larry Young, o baixista Dave Holland, os bateristas Jack DeJohnette e Tony Williams, e o tecladista Herbie Hancock entre outros. Além os citados acima, podemos citar ainda o guitarrista Pat Metheny, o violinista Jean-Luc Ponty, o baterista Billy Cobham, o tecladista George Duke, os baixistas Jaco Pastorius e Stanley Clarke, para ficar apenas nos mais conhecidos. Também é justo admitir que certos conjuntos eram verdadeiras máquinas instrumentais, em termos de energia, entrosamento e sofisticação. Porém, essa qualidade técnica raramente veio acompanhada de profundidade e coerência propriamente jazzísticas.
Já nos anos 80, é difícil evitar o diagnóstico segundo o qual o estilo Fusion entrou de vez em uma “fase degenerativa”. Grupos como Spyro Gyra e Yellowjackets transformaram-se em porta-vozes de um tipo de pseudo-Jazz, onde se faz uso farto de clichês, tanto melódicos como harmônicos e rítmicos. Enquanto isso, a Elektric Band de Chick Corea ainda procurava fazer uma música com muitos watts, mas com alguma substância musical, embora já longe do Jazz. (Curiosamente, Corea sempre levou uma espécie de “vida dupla”, com um pé no Fusion e outro no mainstream.) A retomada, nessa mesma década, do Hard Bop, do mainstream e do som acústico pelos chamados “young lions” capitaneados por Wynton Marsalis, reduziu apreciavelmente o espaço do estilo Fusion. Nos anos 90, o Fusion se reacomodou dentro de um espaço mais reduzido do que desfrutava nos anos 70, e voltou suas antenas na direção do Rap e do Hip-Hop. Representantes modernos incluem os DJs do Acid Jazz e grupos como o trio Medeski, Martin & Wood.
Expoentes Brasileiros Airto Moreira; Cuca Teixeira; Egberto Gismonti; Hermeto Pascoal; Michel Leme; Naná Vasconcelos e Nico Assumpção. (...Continua na próxima Revista Keyboard Brasil).
23 / Junho / 2014
Especial
Futebol e Música: uma combinação perfeita!
EM TEMPOS DE COPA DO MUNDO, NADA MELHOR DO QUE FALARMOS SOBRE DUAS PAIXÕES QUE MOVEM OS BRASILEIROS: A MÚSICA E O FUTEBOL! José Cunha ouvirem seus respectivos hinos nacionais? Além disso, quase todo clube ao redor do globo tem seu próprio hino e até a Copa do Mundo da FIFA tem a sua música oficial. O Mundial da África do Sul foi um dos motivos para o sucesso da canção Waka Waka, da cantora colombiana Shakira, por exemplo. Para comprovar essa estreita ligação, selecionamos algumas passagens bem interessantes. Confira a seguir:
Fotos: Divulgação
Existe uma estreita ligação entre o futebol e a música que funciona com perfeição. Afinal, os dois movem as pessoas como poucas outras coisas no planeta. Além disso, o que seria do momento de os atletas entrarem em campo ou da hora da comemoração de um gol sem a música? Qual a graça das torcidas sem as cantorias? Em jogos de seleções, o que poderia ser mais emocionante do que as equipes enfileiradas para
Assista ao vídeo de Shakira cantando ‘‘Waka Waka’’. Tema da Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul.
24 / Junho / 2014
Assista ao vídeo de Pitbull, Jennifer Lopez e Cláudia Leitte cantando ‘‘We Are One’’ (Ole, Ola). Tema da Copa do Mundo 2014 no Brasil.
A SELEÇÃO ALEMÃ E SUA HOMENAGEM AO PAÍS-SEDE A PRIMEIRA - 1978
Assista ao vídeo de Udo Jürgens cantando ‘‘Buenos Día, Argentina!’’ com os jogadores da seleção alemã, na Copa do Mundo de 1978.
Há algumas décadas, a seleção da Alemanha Ocidental criou uma tradição musical na Copa do Mundo da FIFA. A partir da Copa do Mundo de 1978, realizada na Argentina, os jogadores alemães formaram um coro durante o Mundial para cantar uma música em homenagem ao país-sede. E, na Argentina de
A ÚLTIMA - 1994
Assista ao vídeo da banda Village Peaple cantando ‘‘Far Away in America’’ com os jogadores da seleção alemã, na Copa do Mundo de 1994.
de 1978, cantaram Buenos días, Argentina; na Espanha de 1982, entoaram Olé, España; e, em 1986 no México, homenagearam o anfitrião com México, mi amor. Oito anos mais tarde (e, pela última vez até agora), nos Estados Unidos da América, os alemães cantaram Far Away in America juntamente com a banda Village People.
OS BRASILEIROS TAMBÉM CANTAM O TEMA FUTEBOL Aqui, no Brasil, diversas canções foram criadas para essa paixão nacional. Jorge Benjor é responsável por mais da metade desse repertório. Entre elas está Fio Maravilha. Uma das músicas cantadas até hoje foi feita para a Copa de 58, na Suécia (quando o Brasil ganhou pela primeira vez o campeonato) A Taça do Mundo é Nossa (“com o brasileiro, não há quem possa”) composta por Wagner Maugeri, Maugeri Sobrinho, Lauro Muller e Victor Dagô. Luiz Américo imortalizou a canção Camisa 10, de autoria de Luiz Vagner e Hélio Matheus. Lançada às vésperas da Copa de 74, era uma divertida crítica à duvidosa escalação daquela seleção: “Desculpe, seu Zagalo, mexe nesse time que está muito fraco...”.
Assista ao vídeo de Jorge Benjor cantando ‘‘Fio Maravilha’’.
Ouça a música ‘‘A Taça do Mundo é Nossa’’, com a Orquestra e Coro RGE em 1958.
Ouça a música ‘‘Camisa 10’’, de Luiz Américo.
25 / Junho / 2014
Ouça a música ‘‘Prá Frente Brasil’’, de Miguel Gustavo.
Ouça a música ‘‘Na Cadência do Samba’’, mais conhecida como ‘‘Que Bonito É’’, com Daniela Mercury.
Ouça a música ‘‘O Futebol’’, de Chico Buarque.
Ouça a música ‘‘Uma Partida de Futebol’’, com Skank.
Mas nada se compara à música Prá Frente Brasil, de Miguel Gustavo, “Noventa milhões em ação, prá frente, Brasil, no meu coração”. A música, gravada por Os Incríveis é considerada, por muitos, o maior “hino de futebol” de todos os tempos. A bonita Na Cadência do Samba mais conhecida como Que Bonito É, canção de Luís Bandeira, virou item obrigatório em qualquer evento futebolístico. Chico Buarque, um dos grandes apaixonados por futebol, criou uma linha de ataque e troca de passes dos sonhos com a sua O Futebol: “para Mané, para Didi, para Pagão, para Pelé...”. Há vinte anos Uma Partida de Futebol, parceria de Nando Reis com Samuel Rosa, sucesso com o grupo Skank, virou o hino do momento.
OS JOGADORES BRASILEIROS E A MÚSICA
Ouça a música ‘‘Abra a Porteira’’, cantada por Pelé e Jair Rodrigues.
Ouça a música ‘‘Cantos do Rio’’, cantada por Zico e Fagner.
Ouça a música ‘‘Povo Feliz’’, cantada por Júnior.
Jogadores de futebol também se lançaram na música – Pelé teve músicas gravadas por Sérgio Mendes, Moacyr Franco, Jair Rodrigues e Elis Regina. Às portas da Copa de 82, Zico – estrela maior daquela seleção – gravou um compacto em dueto com seu compadre Fagner. E, finalmente, Júnior, lateral-esquerdo do Flamengo e, da mesma seleção, gravou o samba Povo Feliz (“voa, canarinho, voa, faz lá na Espanha o que já sei”), um sucesso com mais de 600 mil cópias vendidas, fenômeno do mercado de discos da época – e de todas as épocas. NOTA: É claro que diversos outros exemplos foram cortados de nossa seleção. Que tal mandar a sua lista ? contato@keyboard.art.br de músicas para
Dica Técnica
Exercícios para Solos de Rock, Na aula da edição anterior, foram apresentados os vários tipos de escalas menores para o desenvolvimento dos nossos solos. Agora, apresentarei as variações rítmicas para o estudo destas escalas. O mais importante é você estudar essas escalas com essas variações, com o metrônomo ou um loop de bateria, de preferência um groove de um estilo que goste de tocar. Os grupos rítmicos principais a serem desenvolvidos são: colcheias, tercinas, semicolcheias e suas variações misturadas e pausas. Também é importante você acentuar a primeira nota de cada grupo, representado pelo sinal “>”. Para isso, sempre associo também esses grupos a palavras.
Para esse exercício, marque a pulsação com o pé, por exemplo, e diga as seguintes palavras várias vezes, sem sair do andamento do metrônomo: Colcheias: CA-SA, CA-SA, CA-SA. Tercinas: LÂM-PA-DA, LÂM-PA-DA. Semicolcheias: MAR-GA-RI-DA. Agora vamos aplicar essas rítmicas nas escalas menores. Coloquei como exemplo, a escala de Am, modo eólio. Mas você deve estudar em todas as escalas apresentadas na aula anterior, em seguida, várias vezes e em andamentos diferentes, como apresentado no vídeo a seguir. Treine bastante e na próxima aula faremos variações de acentos deste mesmo exercício.
Aula 2
28 / Junho / 2014
Mateus Schanoski
Foto: Divulgação
Pop, Metal e Progressivo - Parte 2 * Mateus Schanoski VEJA OS EXEMPLOS NOS VÍDEOS ABAIXO:
* Mateus Schanoski é graduado em Piano Erudito (Conservatório Bandeirantes), Piano Popular (CLAM e ULM), Teclado e Tecnologia (IT&T). É tecladista, pianista, organista, sideman, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil. CONTATOS DE MATEUS SCHANOSKI:
Até a próxima edição e ABRASOM! www.espacojam.com
23 / Maio / 2014
Fotos: Divulgação
Tecnologia
A maravilhosa fábrica de... TECLADOS VERMELHOS! 30 ANOS SE PASSARAM DESDE QUE HANS NORDELIUS CONSTRUIU SUA PRIMEIRA BATERIA ELETRÔNICA. EM SEGUIDA, COMEÇOU A FABRICAR KITS DE BATERIA DIGITAIS E TECLADOS. HOJE, 28 FUNCIONÁRIOS PARTICIPAM NA PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS CLAVIA. *Tradução e adaptação de um artigo feito para a revista sueca Musikermagasinet, por Jobert Michel Gaigher, músico e especialista da linha Nord para a Quanta Brasil. (Texto original: Sven Bornemark).
Provavelmente você já tenha visto os instrumentos vermelhos da Clavia e os nomes ‘‘Nord Stage’’ e ‘‘Electro’’ muitas vezes, em instrumentos de tecladistas profissionais nos maiores palcos do mundo. E é numa pequena fábrica localizada em Estocolmo, capital da Suécia, onde especialistas trabalham garantindo que produtos como os instrumentos Nord - sonho de consumo para muitos músicos (não apenas pelo seu som inigualável, com processadores
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de som e efeitos sofisticadíssimos mas, também, pela inteligente interface, que permite acesso direto e controle total a todos os parâmetros, sem necessidade de menus complicados) sejam espalhados amplamente ao redor do mundo. O fato de ser um instrumento fabricado artesanalmente e com componentes top, eleva o prazer de tocar a níveis incríveis, com direito a teclas balanceadas, roda de modulação em pedra lavada e pitch bend exclusivo de madeira.
empre construímos protótipos. Temos um deles aqui. S Ao testar o protótipo do modular tornou-se óbvio que os dedos do tecladista iriam obstruír os números no visor. Então, mudamos os botões um pouco para a direita no produto final. Pequenas coisas como esta acontecem o tempo todo, apesar de fabricarmos equi pamentos musicais há 30 anos”.
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(Tomas Johansson, especialista de produto da Clavia). 30 / Junho / 2014
O INÍCIO A história de Clavia iniciou-se em 1983, quando um kit de bateria eletrônica começou a chamar a atenção dos bateristas. Tudo começou quando Hans Nordelius e Mikael Carlsson estavam sentados no porão de casa, montando o que viria a ser a Digital Percussion Plate - primeira bateria digital do mundo. Um conjunto de botões na frente permitia ao usuário escolher entre vários samplings, onde os knobs ajustavam alguns parâmetros do som. Quando Hans e Mikael apresentaram seus produtos na feira de Frankfurt, perceberam que a cor negra de suas unidades dificilmente poderiam ser vistas entre todos os outros equipamentos. Foi, então, que decidiram fabricar a Digital Percussion Plate em vermelho e, desde então, mantiveram esta cor para todos os
seus produtos. Ao mesmo tempo, eles mudaram o nome da placa para ‘‘Ddrum’’. Em 1984, a Ddrum tornou-se um kit de bateria completo com caixa, tons e bumbo, e foi a espinha dorsal da empresa nos primeiros 10 anos. Inúmeros bateristas passaram a apreciar o kit de bateria compacto que possuía um som fantástico quando conectado ao PA. Equipamentos de digitalização de áudio eram escassos na época, então, até mesmo essa função tinha que ser realizada por equipamentos construídos artesanalmente no porão. A Clavia continuou produzindo os kits de bateria Ddrum até 2005, quando esta parte da empresa foi vendida para a fabricante americana Armadillo.
Funcionários da Nord em Estolcomo - Suécia.
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(1) Hans Nordelius, com um de seus primeiros sintetizadores análogos. (2) A empresa ocupa três andares em um edifício de tijolo industrial antigo. Uma vez que todos os itens de produção estão em um lugar a uma curta distância, todos os problemas são resolvidos rapidamente com uma comunicação fácil. Assim, é possível perceber e corrigir o problema no estágio inicial, ou seja, na fase de protótipo.
NORD LEAD Durante as apresentações como músico, Hans Nordelius usava uma configuração básica de instrumentos: um Hammond B3, um Rhodes e um Minimoog, tocando Blues e música progressiva. Esses instrumentos quebravam de vez em quando, e Hans foi se especializando em repará-los. Ele também construiu um clone do Hammond e vários sintetizadores durante esses primeiros anos. Isto deu a ele os insights sobre o que funcionava e o tipo de funções que deveriam ser incluídas. A tecnologia começou a atender os sonhos de desenvolvedores ao redor de 1993, quando o preço dos circuitos DSP começaram a cair de forma constante. Este foi o momento de tentar algo novo, ou seja, experimentar novas ideias. Hans e Peter Jubel (que se tornaria um dos fundadores da Propellerhead), elaboraram um rascunho das especificações para o que viria a ser o Nord Lead. Este instrumento pode ser considerado como um híbrido de um Minimoog e um Prophet-5, com a emulação digital de circuitos analógicos. O termo ‘‘analógico virtual’’ se encaixava perfeitamente. 32 / Junho / 2014
Inicialmente, o Nord Lead tinha quatro vozes de polifonia, mas podia ser estendido a 12 vozes. Modelos posteriores tinham 20 vozes. É essencialmente o mesmo sintetizador que ainda continua sendo fabricado nos dias atuais. O Nord Lead 3 foi produzido durante um breve período. Ele não era exatamente um desenvolvimento direto a partir do modelo 2 mas, sim, um ‘‘Nord Modular’’ com knobs de LED exclusivos e vários recursos adicionais. ‘‘Para ser honesto, a engenharia do Nord Lead 3 foi muito modificada, o que tornou o produto muito caro’’, afirma Tomas Johansson. ‘‘Além disso, vários componentes desapareceram do mercado, de modo que simplesmente tivemos de parar a produção desse modelo.’’ Uma das versões mais recentes, o Nord Lead 4, foi apresentado na feira de Frankfurt, em 2013. As melhorias incluem uma seção de efeitos, novos tipos de filtro, wavetables, soft sync, novos tipos de modulações e outras fontes para controlar o LFO e MIDI através de uma interface USB.
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(3) Os teclados são balanceados e testados um por um, e uma compensação eletrônica é utilizada para assegurar que a sensibilidade e ação das teclas sejam absolutamente precisas. (4) O protótipo do Nord Modular está guardado no primeiro andar do prédio. Os dedos do usuário obstruíam o display nesta versão, que é o tipo de coisa que você só percebe quando testa um modelo físico. A parte traseira da unidade mostra onde os botões foram finalmente colocados. (5) À direita, Hans Nordelius, fundador da Clavia com seu sócio e chefe de desenvolvimento de software Magnus Kjellander, à esquerda.
NORD MODULAR Uma visão por um sintetizador modular levou ao desenvolvimento do Nord Modular. Era possível conectar cabos virtuais entre unidades no domínio digital e brincar com as formas de onda do sinal, praticamente da mesma forma que no velho sintetizador modular Moog ou no ARP 2600. Um computador era necessário para tornar isso possível, uma vez que o sintetizador só possuía acesso a alguns dos knobs e botões mais importantes. O Nord Modular foi lançado em 1997. Tinha um teclado de duas oitavas, cerca de 20 botões e quase o mesmo número de botões endereçáveis. Vinha com um software que permitia ao usuário construir seus próprios sons. A ideia era de que as pessoas pudessem investir horas de trabalho em casa na construção de sons mais ou menos complexos, em
seguida, poderiam levar o sintetizador modular para o show, onde apenas um número limitado de funções poderia ser editado.
‘ ‘
Modular foi realmente o meu O primeiro contato com Clavia , e inclusive fui eu quem escrevi o manual. O primeiro modelo estava no mercado há seis anos, período em que o mercado mudou bastante. Hardwares novos e mais poderosos tornaram-se disponíveis, e o novo sistema operacional Apple OS X não funcionava com o nosso editor. Foi, então, que a Clavia decidiu dar o próximo passo. Este foi o Nord Modular G2, que foi fabricado até 2009.
‘ ‘ (Tomas Johansson, especialista de produto da Clavia).
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NORD ELECTRO O preço da memória caiu drasticamente por volta de 2001. Isso nos deu o hardware que precisávamos para a fabricação de um instrumento prático que pudesse substituir o equipamento que Hans Nordelius utilizava: Hammond, Rhodes e Minimoog. De repente, tornou-se possível incorporar um som de piano com uma alta qualidade de amostragem. O Nord Electro, além de oferecer um maravilhoso som de piano acústico, também especializou-se na amostragem de instrumentos eletro-mecânicos, e recolheu várias amostras de Rhodes, Wurlitzer, Clavinet Hohner e um modelo do órgão Hammond. ‘‘Lembro-me, em particular, que o Electro foi um dos primeiros instrumentos a disponibilizar uma porta USB. Isso tornou possível mover amostragens entre o instrumento e o computador de maneira muito mais rápida e eficaz do que com o tradicional protocolo MIDI’’, ressalta Tomas Johansson. A Clavia também desenvolveu uma solução exclusiva para o controle dos drawbars de órgãos, em forma de Led. Criações posteriores do Nord Electro trouxeram também simulações dos órgãos Farfisa e Vox, amostragens exclusivas do Mellotron, vários efeitos built-in e muitos outros teclados lendários como, por exemplo, DX7 e ARP. O Electro 3HP (onde o ‘‘HP’’ é uma abreviatura para ação de teclas pesadas -
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Hammer Portable) apresenta um novo tipo exclusivo de teclas. Uma inovação produzida pela Fatar, especialmente para a Nord, consegue oferecer uma sensibilidade espetacular das teclas de piano, mas pesa muitíssimo menos do que os teclados disponíveis no mercado. Porém, para que essa inovação funcione, é necessário que cada teclado seja devidamente balanceado em um delicado processo manual, e isso só é possível pois os teclados da Nord continuam sendo construídos artesanalmente. Os sintetizadores Nord são famosos também por seus controles de modulação especiais. Ao invés de usar duas rodas tradicionais de plástico como todos os sintetizadores, eles possuem um “luxuoso” disco redondo de pedra lavada para a modulação e, para pitch bend, foi utilizado um controle de madeira com uma mola dura que permite, inclusive, a execução de vibrato com o bend, de maneira muito precisa. Tomas Johansson ainda lembra ‘‘O pitch bend é a única coisa que patenteamos. Como muitas outras boas patentes, baseia-se em um desenho muito simples. Uma película de resistência conectada à vara de metal que mede o quanto a vara foi dobrada. Hans teve esta ideia depois de conversar com alguém que ‘conhecia alguém’ que havia projetado o joystick para o avião de caça JAS’’.
NORD STAGE
Após a venda da Ddrum para a Armadillo em 2005, toda a energia se voltou para o desenvolvimento do Nord Stage. Este instrumento contém um módulo de órgão, um módulo de piano (amostrados) e um módulo de sintetizador, além do banco de efeitos. Desde então, o Nord Stage e o Electro tornaram-se a espinha dorsal das operações da Clavia. Eles formam a base onde a história de sucesso da Clavia está sendo construída. A empresa fabrica instrumentos de alta qualidade que soam muito bem e possuem um conjunto de funções que agrada a muitos músicos. E, para a Clavia, essa maneira de pensar apelando às massas - é importante se você
Ouça a improvisação tocada no Nord Lead 2.
quiser atingir uma grande quantidade de consumidores. Fazer teclados tradicionais foi o jeito que a Clavia encontrou para sobreviver. E, mesmo sendo um sucesso enorme, isso não quer dizer que não lançarão modelos mais experimentais no futuro.
NORD C A decisão de lançar o Nord C foi tomada em 2007 e consistia em retirar a parte de órgãos do Electro e do Stage, produzindo um instrumento especializado. O Nord C1 foi o primeiro órgão dual-manual. O motor de órgão deste modelo é um pouco mais poderoso do que nos instrumentos single-manual. Foram adicionados mais detalhes para os órgãos C, como simulação de vazamento do tone wheel, simulação do clique das teclas, overdrive e leslie rotary speaker.
O C2 foi lançado alguns anos depois e incluía não apenas os modelos de órgão Hammond, Farfisa e Vox mas, também, um órgão de tubos amostrado. A seção de drawbars do Nord C2D oferecia dois conjuntos completos de drawbars físicos para cada mão. Também oferecia uma pedaleira de 27 pedais como acessório que podia ser comprado à parte. Este instrumento rapidamente chamou a atenção de músicos de Jazz e Gospel. 35 / Junho / 2014
NORD WAVE
O Nord Wave foi lançado no mesmo ano que o C1. ‘‘Você pode pensar que o Wave é semelhante ao Lead mas, na verdade, é um instrumento diferente. O Wave tem memória flash, para que os osciladores contenham também amostragens, além das formas de
ondas analógicas. Os filtros respondem um pouco diferente e o sistema, em geral, se parece como um lobo em pele de cordeiro. Pode ser tocado com muita sensibilidade e sentimento, mas recursos extras, como Osc Mod e Overdrive, permitem realmente esquentar a coisa’’, argumenta Tomas Johansson.
NORD DRUM Pouco mais de dois anos atrás, uma nova iniciativa foi tomada no campo das baterias digitais. O Nord Drum é um sintetizador de bateria que simula módulos de bateria analógicos. O Nord Drum pode ser tocado através de MIDI, usando pads de bateria conectados ou por uma interface trigger ligados a uma bateria acústica. Este modelo tem atraído críticas muito positivas, mas muitas pessoas acharam insatisfatório o fato de possuir apenas uma saída mono e ter apenas 4 triggers. Em 2013, a Nord lançou, então, o 36 / Junho / 2014
Nord Drum 2, que possui seis entradas de trigger e uma saída stereo. A Clavia fabrica também um pad de percussão com seis pads com o nome de ‘‘Nord Pad’’. Tomas Johansson lembra: "Fabricamos instrumentos musicais. Alguns dos sons que produzimos e nossos princípios podem ser considerados retrô, mas este não é o jeito que pensamos. É tudo uma questão de disponibilidade, como você se relaciona com as coisas e sobre tocar. Eu parei de usar LPs e CDs em casa. Tenho tudo no computador, pois isso torna as músicas disponíveis para mim. Fazemos instrumentos musicais em que todos os sons que são necessários estão disponíveis."
OS ORIGINAIS Em uma sala de aproximadamente 50 metros quadrados, estão abarrotados uma infinidade de teclados que temos venerado no decorrer dos tempos. Considerado um arquivo gigante de instrumentos originais lá estão, pelo menos, cinco Hammonds, vários Leslies empilhados, vários órgãos Vox, Philicorda e Farfisa, muitos Clavinets, Pianets, Wurlitzers e pianos Rhodes, juntamente com Simmons drums e vários amplificadores. "Os pianos Rhodes e Wurlitzer aqui são fontes de amostragem e é muito importante possuirmos esses instrumentos, pois podemos fazer ajustes e gravar amostras continuadamente", analisa Tomas Johansson. E, completa: ‘‘Os velhos sintetizadores analógicos estão aqui mais para inspiração. Se você quer construir um sintetizador virtual, tem que saber como um Minimoog ou um Prophet-5 funciona. Os instrumentos nesta sala são as nossas referências’’. Os órgãos Nord C1/C2 são modelados, ou seja, produzidos através de um
História: esta foto mostra uma fração dos instrumentos que a Nord coleciona ao longo dos anos.
motor de orgão digital que emula os componentes mecânicos dos instrumentos originais. É totalmente sem sentido amostrar tons de um Hammond com um Leslie e usar o arquivo wav em um sample-player, pois muita coisa acontece em tempo real. A maioria dos organistas Hammond ajustam os drawbars enquanto tocam. O Leslie é alterado entre lento e rápido, e o coro e a percussão são ligados e desligados. É por isso que o Nord simula todos os componentes de um órgão e recria um som complexo espetacular, utilizando o poder do processador. Isso também faz com que os sons de órgão não tenham um limite de polifonia.
A FÁBRICA Chegamos às instalações onde todos instrumentos da empresa são fabricados. “A Fatar envia os teclados para nossa oficina de metais em Motala e aqui recebemos os blocos de teclados já montados. Também recebemos as carcaças vermelhas com as placas
Um tour pela fábrica da Nord em Estolcomo
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de circuitos montados e testados. Apenas as placas de circuito são fabricadas na Ásia. O restante é feito aqui, na Suécia, artesanalmente", orgulha-se Tomas Johansson. Chegamos a uma sala com temperatura de 40 graus. ‘‘O calor é, na verdade, o pior inimigo dos componentes eletrônicos. Então, colocamos cada produto fabricado aqui para executarmos um programa de testes avançado durante 24 horas. Quando uma unidade não passa no teste, é removida, reparada e testada novamente’’, afirma Tomas Johansson.
TESTANDO, TESTANDO, TESTANDO...
38 / Junho / 2014
No departamento onde o teste final e calibração das teclas são realizadas vemos um Piano Nord sendo montado em uma plataforma de teste, com uma haste de metal pressionando todas as teclas com a mesma força. A pressão e as velocidades de respostas são exibidas em uma tela de computador. Vemos que a curva é um pouco irregular, porque mesmo os melhores teclados diferem ligeiramente de uma tecla para a outra. O programa de testes mede os desvios e estabelece a compensação eletronicamente nos circuitos de controle do teclado, tornando a curva de velocidade totalmente precisa. Além disso, cada tecla é balanceada com pequenos pesos de chumbo dando um equilíbrio perfeito na hora da execução. ‘‘Testamos todos os botões, knobs, contatos e teclas. Isso tudo é feito usando rotinas especiais de teste e o programa não permitirá que você prossiga até que todos os itens sejam testados. Não fazemos testes aleatórios de algumas unidades! Testamos cada um deles! Um por um! Todos! E, assim, terminamos nosso passeio por esta “maravilhosa fábrica de instrumentos vermelhos”, concluindo que a empresa é permeada por uma atitude positiva e tem obsessão por perfeição.
NO BRASIL No Brasil, os instrumentos Nord são distribuídos exclusivamente pela Quanta Brasil, através de suas revendas autorizadas. A Quanta também é a única autorizada no Brasil a prestar suporte e assistência técnica e conta com profissionais capacitados diretamente pela Nord. Assegure-se de comprar apenas equipamentos originais e evite o contrabando, que além de crime, pode ser uma
grande fria quando se trata de um instrumento feito à mão como o Nord. Imagine, por exemplo, se uma tecla quebra! Não será possível reparo por causa do balanceamento mecânico do teclado. Nestes casos a Nord envia um bloco novo que é trocado pelo pessoal da Quanta. São nessas horas que um instrumento ilegal pode se tornar uma enorme dor de cabeça.
*JOBERT MICHEL GAIGHER é músico pianista, tecladista, organista e coordenador do projeto de educação musical denominado e-SOM, da Quanta Educacional, empresa que desenvolve material de educação musical para o ensino básico e profissionalizante com o auxílio de ferramentas tecnológicas. A Quanta Educacional é uma das unidades do Grupo Quanta Brasil.
Jobert Michel Gaigher comenta sobre o Nord Electro 4.
Saiba mais sobre JOBERT MICHEL GAICHER: http://www.jobert.info blog http://gaigher.wordpress.com www.facebook.com/mrgaigher
Ouça J. S. Bach: Prelúdio e Fuga em Dó Maior (BWV 846) do Livro I de O Cravo Bem Temperado - com Sviatoslav Richter, ao piano.
É cravo ou PIANO? EXISTEM DIFERENÇAS SIGNIFICATIVAS ENTRE O CRAVO E O PIANO, APESAR DE AMBOS USAREM O TECLADO COMO MEIO DE PERFORMANCE.
Ouça J. S. Bach: Prelúdio e Fuga em Dó Maior (BWV 846) do Livro I de O Cravo Bem Temperado - com Ton Koopman, no cravo.
40 / Junho / 2014
Mas o que muda mesmo é a parte mecânica. Ou seja, o modo como as cordas são tocadas, num e noutro. Enquanto no piano, as cordas são percutidas com martelos, no cravo, as cordas não recebem impacto, elas são “beliscadas” ou “pinçadas”. Isso impede que o cravista mude a intensidade do som. Não adianta bater na tecla com mais força. O som é sempre o mesmo. Temos aqui dois exemplos musicais que lhe permitirão ouvir as diferenças sonoras entre o piano e o cravo. Nas duas gravações, as peças executadas são as mesmas. Preste atenção nas cordas marteladas do piano e nas cordas pinçadas do cravo. Num segundo momento, aprecie as soluções interpretativas que cada músico encontrou para a mesma peça em diferentes instrumentos.
mundoestranho.abril.com.br
eles. O piano possui cordas que vibram quando acionadas pelas teclas. É essa vibração que gera o som. Um sistema mecânico faz com que as cordas recebam o impacto de uma peça (martelo) toda vez
que o pianista toca uma tecla – e ele ainda pode controlar a força com a qual a corda é percutida. O piano possui 88 teclas e mais os pedais, que servem para prolongar, suavizar e até abafar a vibração das cordas. Externamente, o cravo difere do piano por não ter pedais e por ser menor - ele tem as teclas mais finas que o piano.
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O antepassado mais ilustre do piano é o cravo, cujas referências mais antigas datam do final do século XIV e início do XV. Este instrumento foi bastante utilizado até o final do século XVIII. Porém, no século seguinte caiu em esquecimento. Seu reflorescimento ocorreu no final do século XIX. As origens do piano, por sua vez, remontam ao início do século XVIII, mas o instrumento só se popularizou mesmo em meados daquele século. Uma série de evoluções posteriores no instrumento deram origem ao piano tal como o conhecemos hoje. O cravo e o piano são classificados como instrumentos de teclado, mas existem diferenças fundamentais entre
FONTES: estacaomusical.com.br
Diferenças e Semelhanças
Júnior Rodrigues
Falando sobre Nossa Música
Música Brasileira: Dos primórdios até os dias atuais - Parte 10 Heloísa C. G. Fagundes
O Movimento Música Viva e seus manifestos No período que se estende do final da década de 1930, passando pela década de 40 até o início de 1950, a música brasileira passou a viver movimentos de nacionalização e internacionalização. O Grupo Música Viva foi um grupo ou movimento musical brasileiro iniciado no Rio de Janeiro em 1939, sob liderança de Hans-Joachim Koellreutter e que durou até 1948. No início, o grupo foi integrado por figuras tradicionais do meio musical carioca, como Luiz Heitor e teve, como patrono, Villa-Lobos. Também foi integrado pelo jovem aluno de Koellreutter, Cláudio Santoro. O grupo organizou concertos, publicou partituras e editou o Boletim Música Viva.
A partir de 1944, com a entrada de novos alunos (Guerra Peixe, Eunice Katunda e Edino Krieger) o grupo foi assumindo um ar de modernidade radical, confrontando-se com as tradições estabelecidas no meio musical, ocasionando o primeiro manifesto do Música Viva. A partir daí, iniciou-se a música moderna no Brasil em contraposição à produção nacionalista de Villa-Lobos (de caráter populista). Dessa época, destacaram-se as primeiras composições atonais nacionais experimentais, o que desencadeou um processo renovador inédito no país, além de Koellreutter criar grandes polêmicas e discussões ao questionar o sistema de ensino musical. Em 1946, Cláudio Santoro, Guerra
Os alunos que confrontaram as ideias de Koellreutter: Guerra Peixe (1), Édino Krieger (2), Eunice Katunda (3) e Cláudio Santoro (4). Fotos: Divulgação
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O desaparecimento Em 1948, o grupo sofreu uma cisão, praticamente deixando de existir, por divergências políticas entre Koellreutter e os jovens compositores (Santoro, Guerra Peixe e Eunice Katunda) - que passaram a seguir a estética do realismo socialista, com a qual Koellreutter não concordava). Em 1950, ocorreu a maior polêmica em que Koellreutter esteve envolvido, quando Camargo Guarnieri publicou a Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil, criticando-o indiretamente, bem como sua pedagogia musical. Logo em seguida, Koellreutter voltou à Europa, só retornando ao Brasil em 1975.
Assista ‘‘Dança Brasileira’’ do compositor Mozart Camargo Guarnieria com a Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência do maestro Roberto Minczuk, realizada esse ano na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro.
Foto: Wilson Mello
Peixe, Eunice Katunda e Edino Krieger assinaram o manifesto de 1946, que teve o objetivo de recuperar o trabalho com a música popular brasileira, a partir das ferramentas fornecidas por Koellreuter.
Hans-Joachim Koellreutter (Freiburg, 2 de setembro de 1915 – São Paulo, 13 de setembro de 2005) foi um compositor erudito, maestro, flautista, crítico de arte, professor e musicólogo brasileiro de origem alemã. Mudou-se para o Brasil em 1937, tornando-se um dos nomes mais influentes da vida musical no país. Koellreuter fez um curso de extensão com Paul Hindemith e foi fortemente influenciado pelo regente Hermann Scherchen, que o levou à música moderna. Ainda jovem, já era conhecido e respeitado na Alemanha como flautista de concerto. Começava sua carreira de regente quando Adolf Hitler ascendeu ao poder. Ao ficar noivo de uma moça judia, desagradou sua família, que simpatizava com o nazismo, sendo denunciado à Gestapo. Exilou-se no Brasil onde foi morar no Rio de Janeiro. Tornou-se amigo de Heitor Villa-Lobos e Mário de Andrade. Em 1938, começou a ensinar música no Conservatório de Música do Rio de Janeiro. Tom Jobim esteve entre seus alunos mais ilustres. Em 1939, fundou o grupo Música Viva opondo-se ao nacionalismo identificado com a ditadura Vargas. Também foi o introdutor da música dodecafônica no Brasil. Naturalizou-se brasileiro em 1948. Ajudou a fundar a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Escola Livre de Música de São Paulo e a Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, em Salvador. Voltou à Europa com o fim da Segunda Guerra Mundial, mas retornou ao Brasil em 1975. Fixou-se desta vez em São Paulo. Foi diretor do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí, em São Paulo e professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP. Em 1981, a cidade do Rio de Janeiro lhe oferece o título de cidadão carioca. Nos últimos anos de sua vida morou na cidade de São Paulo, sofrendo de Alzheimer. Seu acervo está preservado na Fundação Koellreutter, da Universidade Federal de São João Del Rei, doado por sua esposa, a meio-soprano alemã Margarita Schack.
(Continua na próxima Revista Keyboard Brasil...)
info@aovivomusic.com.br
17 / Abril / 2014 19 / Abril / 2014
MÚSICA, NEGÓCIOS E
SUCESSO EMPRESARIAL COMO JÁ ESCREVEMOS EM ARTIGO ANTERIOR, MÚSICA É ALGO MARAVILHO QUE TAMBÉM PODE SER, COMO ACONTECE EM TANTOS PAÍSES, GRANDE SUCESSO EMPRESARIAL. CABE, ENTÃO, A QUESTÃO: COMO TANTOS EMPRESÁRIOS PODEM OBTER SUCESSO NO BRASIL EM NEGÓCIOS QUE ENVOLVEM A MÚSICA? POR QUAL RAZÃO ACONTECEM OS INSUCESSOS?
da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor,
Ponto de Encontro... Prazer e Negócios
* Luiz Bersou
QUAL A FORMA CORRETA DE ADMINISTRAR EMPRESAS NO BRASIL? A forma correta de se administrar uma empresa no Brasil não é exatamente igual ao que se faz em outros países, em particular, em relação aos países mais desenvolvidos. Quando é fácil obter financiamentos, é predominante o pensamento do crescer para lucrar, um dos fundamentos dos modelos de economia de escala.
Por outro lado, o Brasil é um país em que há uma severa escassez de recursos de financiamento. Os bancos emprestam a juros extremamente elevados e exigem, em contrapartida, uma enorme quantidade de garantias. A moral da história disso tudo é que não podemos pensar em ser empresários dependendo de empréstimos dos bancos. Como fazer então?
A NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO E O SEU DOMÍNIO Capital de giro é a quantidade de dinheiro que precisamos, para manter o ritmo dos negócios da nossa empresa. Quando vivemos em uma sociedade como a brasileira, em que não se pode contar com os recursos
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dos bancos, evidencia-se uma questão extremamente importante e que muitos não percebem: a dimensão da empresa, nesses casos, não pode ser maior do que a dimensão do capital de giro disponível. Aumentar o faturamento além das
fazer com que a empresa seja maior do que o capital de giro disponível para sustentar o negócio. O jogo que vale, então, não pode ser o jogo do “crescer para lucrar”, mas o jogo fundamental de “lucrar para crescer”. Para fazer o jogo do “lucrar para crescer” precisamos entender, a cada dia, a quantidade de capital de giro que estamos utilizando. Como essa quanti-
dade de capital é escassa, temos que aprender a fazer o melhor uso dos recursos escassos. Dominar a sua utilização, ter plena consciência do recurso que está senLuiz Bersou: colaborador do utilizado da Revista Keyboard Brasil. passa, então, a ser um passo muito importante na nossa capacidade de construir uma empresa rica.
SABEMOS VENDER? Temos, no Brasil, uma experiência comercial pela qual tudo acaba se resumindo em oferecer o preço mais baixo possível. Os argumentos de qualidade, serviço, assistência técnica e disponibilidade raramente estão presentes. Todo o jogo comercial se
resume em dar o menor preço. Quando observamos a história do comércio, encontramos uma teoria muito bem desenvolvida que é chamada de “Comércio por Relacionamentos”. Esse tipo de comércio tem, como base, a construção de alianças entre fornecedores e clientes, visando um futuro de parcerias e continuidade. Esse tipo de teoria criou a base de riqueza de nações. A riqueza no mundo se formou dessa forma.
Poucos se dão conta de que é mais importante vender bem do que produzir. A produção, o serviço seguem a boa venda. A má venda, gerando menos recursos, uma venda sem ritmo, contamina o ritmo da produção, contamina a estrutura de capital de giro da empresa, contamina a qualidade, contamina os relacionamentos e tudo entra em uma espiral negativa que leva ao prejuízo, ao cansaço, à perda da empresa. Comparando a nossa capacidade comercial com aquela que encontramos em outros países, nos damos conta das enormes possibilidades de melhorarmos o nosso desempenho comercial. O ponto principal a ser focado precisa passar pelas perguntas: quais são os nossos objetivos comerciais pelos quais estamos lutando? 45 / Junho / 2014
Foto: Arquivo Pessoal
possibilidades do capital de giro foi, com muita frequência, a causa maior de morte de muitas empresas. Nessas condições, quando tentamos crescer para lucrar, estamos cometendo um grave erro que é tentar
Qual é o desempenho da equipe comercial que trabalha para nós? E, a
pergunta fundamental: a venda que precisamos fazer é fácil ou difícil? Se ela está difícil, precisamos colocar mais inteligência nas nossas práticas comerciais.
Temos aqui, então, procedimentos básicos a seguir: medir a estrutura de capital de giro que estamos usando a cada instante, não tentar vender mais do que essa estrutura permite, saber vender com margens de lucro que financiem a nossa necessidade de capital de giro e dominar a inteligência que sustenta a nossa venda.
QUAL O INDICADOR MAIS IMPORTANTE A SEGUIR? Toda empresa é obrigada a fazer a sua contabilidade. É a base para o cálculo dos impostos a serem pagos. Há um fundamento a ser considerado, o princípio fundamental da contabilidade é a segurança dos lançamentos. Ou seja, a correção e coerência entre o que se paga e o que se recebe. Essa questão é extremamente importante. Não significa, entretanto, que estejamos usando no tempo os recursos de forma correta. O que nos
dá essa informação é a ferramenta Planejamento do Fluxo de Caixa. Todavia, o que mais vemos na prática é o fluxo de caixa sem planejamento nenhum. Passa a ser apenas uma soma dos compromissos a pagar e dos valores a receber. Esses compromissos a pagar e os valores a receber estão devidamente sincronizados no tempo? Há uma coerência entre origens de recursos e aplicações de recursos?
O QUE MAIS PEDE A GESTÃO FINANCEIRA? É muito comum encontramos empresários que alegam que não tem tempo para dar a devida atenção à gestão financeira. Outros, a consideram muito complicada.
Na prática, com disciplina e um mínimo de conhecimento e bom senso, podemos fazer a gestão do fluxo de caixa da maior parte das empresas. É tudo
uma questão de disciplina. Todos podem.
* Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participou ativamente em mais de 250 projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior. 46 / Junho / 2014