Revista Keyboard Brasil número 21

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Revista

Keyboard ANO 3 :: 2015 :: nº 21 ::

:: Seu canal de comunicação com a boa música!

Brasil www.keyboard.art.br

Moog: Sintetizador Moog Pioneirismo revolucionário para os grandes tecladistas!

Dica técnica: Não seja escravo das cifras!

Ponto de Vista: Talento não é tudo... nem mesmo para Mozart!

Música Clássica: Clássica: Música Os erros nossos de cada dia!

Salut Salon Unindo a música e o humor em um concerto grandioso!

Opinião: Por que não basta ter um Nord™ para reproduzir com fidelidade o teclado de Ray Manzarek?

Pedro Pelotas As teclas da Banda

Cachorro Grande




Índice

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SUAS COMPRAS: Cds, DVDs e Livros

MATÉRIA DE CAPA: Pedro Pelotas

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PIONEIRISMO: Robert Moog e seu sintetizador, por Amyr Cantusio Jr.

CULTURA: A conexão musical entre o popular e o erudito nas apresentações de Marília Vargas e André Mehmari

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POR DENTRO: Música Clássica - Os erros nossos de cada dia, por maestro Osvaldo Colarusso

PONTO DE VISTA: Talento não é tudo!

TOQUE E APRENDA: Parte 15, por maestro Marcelo Fagundes

38 PONTO DE ENCONTRO: Vaias! Para todos nós?, por Luiz Bersou

Foto: Davi Cardoso

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42 PERFIL: Herbert Medeiros: Quando o prazer pela música vira profissão!

44 OPINIÃO: Por que não basta ter um Nord™ para reproduzir com fidelidade o teclado de RAY MANZAREK?, por Thomas Garcia Carmona

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54 SOBRE OS SONS: Salut Salon - o quarteto sexy, divertido e virtuoso!

DICA TÉCNICA: Escravos das Cifras, por Daniel Baaran

Revista

Expediente

Abril / 2015

Keyboard www.keyboard.art.br

Brasil

Editora Musical

Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical. Diretor e Editor executivo: maestro Marcelo D. Fagundes / Chefe de Redação e Design: Heloísa C. G. Fagundes Caricaturas: André Luíz Silva da Costa / Foto da Capa: Gustavo Vara / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / Envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 / Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte. Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical. 04 / Revista Keyboard Brasil


Espaço do Leitor A matéria sobre os Tecladistas da Bahia ficou linda. Parabéns Fabinho Scooby Vaccarezza, Billy Rasec, Fabinho Carmo e Juliano Valle! Vocês arrebentaram. Espero um dia passar o Carnaval com vocês e sacar um pouco dessa experiência toda. Abrasom! E já estamos com mais de 75.000 downloads! Mateus Schanoski – via facebook. Li a matéria sobre Tecladistas da Bahia. Muito bom assistir de perto o sucesso e o respeito que Juliano Valle é retratado como profissional. Edson Luiz Jesus – via facebook.

Ótima pauta sobre matéria de Amyr Cantusio Jr.. Sem dúvida um grande músico. Priscylla Almeida – via facebook. Top... Parabéns à Revista e à Editora Keyboard! Parabéns Daniel Baaran pela matéria sobre iPad e os tecladistas! Rafael Santana – via facebook. Revista Keyboard Brasil: Cada edição é sempre melhor do que a anterior! Luiz Bersou – via Facebook

Muito bacana a Revista! Parabéns pela matéria, maestro Bozzini! Renata Farache – via facebook. Amei!!! Bela entrevista maestro Osvaldo Colarusso!! Ana Lucia Vieira Santos – via facebook. Heloísa Fagundes, responsável pela Revista Keyboard foi extremamente perspicaz em sua pesquisa a respeito de minha pessoa, e me deu carta branca para falar sobre a crise da OSB. Se todas as publicações musicais fossem assim... Maestro Osvaldo Colarusso – via facebook. Linda matéria. É um orgulho ser amiga do maestro Osvaldo Colarusso. Vou compartilhar! Mônica Ohnstein Ehrlich – via facebook. Justa homenagem ao maestro Osvaldo Colarusso! Parabéns! Thomas Korontai – via facebook. 2020? Está feio o negócio... Isso se a Dilma fizer algo útil (sobre a matéria de Luiz Bersou na edição nº 20 “Projeções para 2015 e 2016”). Matheus Santos – via facebook. Muito obrigado à Editora Keyboard por essa oportunidade de mostrar e homenagear o nosso Axé! Billy Rasec – via facebook. Achei incrível a iniciativa de Mateus Schanoski (sobre a matéria Tocando no Mar) e, principalmente, a matéria... SENSACIONAL! Adriana Schanoski – via facebook. Muito legal a matéria sobre os Tecladistas da Bahia! Parabéns ao amigo Fabinho Scooby Vaccarezza e obrigado pela citação! Alexandre Côrtes – via facebook.

Editorial Heloísa Fagundes - Publisher

É com grande alegria que começo nossa conversa dizendo que a edição anterior da Revista Keyboard Brasil - pioneira em abordar o mundo das teclas no Brasil - foi um sucesso de acessos e comentários! São conquistas que conseguimos através de muito trabalho, dedicação e seriedade. Como resultado, com o passar do tempo, passamos a ter o privilégio da colaboração de pessoas talentosas que partilham do mesmo objetivo de nossa publicação: levar conteúdo de qualidade, num país que carece de publicações do gênero. Obrigada aos colaboradores, a toda equipe e aos anunciantes, fundamentais para continuarmos levando qualidade a vocês, leitores músicos ou apreciadores dessa bela arte que é a MÚSICA! E, lembrem-se: curtam, compartilhem, mas não deixem de comentar nossas matérias e façam parte da próxima edição, na seção: Espaço dos Leitores! E músicos: continuem enviando seu material e sejam vistos por mais de 250 mil leitores! Excelente leitura e fiquem com Deus! Revista Keyboard Brasil / 05


Suas compras

Rock in Rio

A história do maior festival de música do mundo Autor: Luiz Felipe Carneiro Miranda Editora: Globo Páginas: 384

Livro revela episódios mais marcantes que rolaram no palco e nos bastidores das três edições do Rock in Rio realizadas no Brasil.

Setembro de 1984. Desanimado com as obras do que viria a ser a Cidade do Rock, em Jacarepaguá, o empresário e idealizador do Rock in Rio convocou uma reunião urgente para cancelar o evento. No caminho em direção ao carro, de onde seguiria para o encontro na Artplan, Medina foi interceptado por três jovens que armaram uma algazarra, entre elogios e abraços, exaltando o festival que traria no verão seguinte algumas das mais aguardadas atrações musicais do Brasil e do exterior como, por exemplo: Queen, AC/DC, Ozzy Osbourne, Rod Stewart, Iron Maiden, B-52´s, Scorpions, James Taylor, Nina Hagen, Whitesnake, Yes, Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, Erasmo Carlos, Ney Matogrosso, Moraes Moreira, Elba Ramalho, entre muitos outros e, assim, salvaram a primeira edição do Rock in Rio – evento que ajudou a inserir o país na rota das turnês dos astros internacionais que raramente passavam por aqui. Esse e outros episódios são relatados em Rock in Rio – A história do maior festival de música do mundo, do jornalista Luiz Felipe Carneiro. Por meio de um amplo trabalho de pesquisa que incluiu a leitura de mais de dois mil artigos e entrevistas com dezenas de artistas, críticos de música e organizadores, Carneiro aquece a memória daqueles que frequentaram uma – ou, por que não? – as três edições do Rock in Rio realizadas no Brasil em 1985, 1991 e 2001, compila as histórias mais marcantes e inusitadas para aqueles que nunca foram, mas ouviram histórias a respeito, ao mesmo tempo em que oferece um aperitivo para quem vai ao Rock in Rio 2015, nos dias 23, 24, 25 e 29, 30 de setembro e 1 e 2 de outubro. Ilustrado com mais de 200 fotos e depoimentos de nomes como Brian May, Evandro Mesquita, Charles Gavin, Leo Jaime, Tony Belloto entre outros. 06 / Revista Keyboard Brasil


Serial Funkers

Porque Funk é coisa séria Porque Funk é Coisa Séria é o nome do primeiro álbum da banda paulistana Serial Funkers! O disco reúne 10 faixas inéditas mesclando estilos como o Funk americano, o Soul, o samba, o R&B e o Pop, coroando toda uma história já consagrada nos palcos do Brasil (em renomadas casas de shows como o Bourbon Street, em São Paulo) e em grandes festivais. Os responsáveis por esse trabalho são os músicos Luguta (baterista), Herbert Medeiros (teclados), Regis Paulino (vocais) e Luciano Ribeiro (no contrabaixo).

Fotos: Divulgação

Gravadora: Independente

Contato para shows: Lucas Shows lucasshows.com.br (11) 5539-7452

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MatĂŠria de Capa

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Pedro Pelotas As As teclas teclas da da banda banda Cachorro Cachorro Grande Grande

O PIANO ERA SÓ UM MÓVEL BARULHENTO ESQUECIDO NUM CANTO DA CASA PARA O GAROTO PEDRO PELOTAS. MAL PODIA IMAGINAR QUE AS TECLAS SE TORNARIAM SUA PROFISSÃO! * Mateus Schanoski

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A

vontade de aprender piano começou de maneira inusitada para Pedro Pelotas, 31, tecladista da banda Cachorro Grande. “Minha mãe começou a estudar piano quando era criança, no final dos anos 50. Em seu aniversário de 15 anos, ganhou um Petrof de armário mas acabou largando os estudos musicais para cursar medicina. Quando era criança, esse piano para mim, era só um móvel barulhento porque apesar das minhas duas irmãs mais velhas também terem estudado esse instrumento, quando nasci ninguém mais tocava nada. Até que, um dia, minha irmã mais velha trouxe para casa um namorado que sentou no piano e tocou a música tema do filme Golpe de Mestre com Paul Newman e Robert Redford. Aquilo foi uma espécie de momento iluminado onde tudo pareceu fazer um sentido cósmico. Eu praticamente tive a certeza de que era aquilo que eu ia fazer para o resto da vida, apesar de ter apenas 5 para 6 anos. Eu não deixei o cara ir embora sem me ensinar aquela música, o que 10 / Revista Keyboard Brasil

Foto: Pedro Tesch

Pelotas: “Nunca estudei muito do jeito convencional. Acho que o meu estudo é ouvir e tirar música. Nunca fiz nenhum tipo de exercício musical regular. Não fico muito tempo sem tocar porque não quero, mas não fico me policiando e pode acontecer até de eu ficar duas semanas sem tocar piano. Também não tenho nenhum tipo de preparação antes do show, fora tomar uma cerveja para relaxar”.

ele de fato conseguiu, sem muita dificuldade”. E, cercado por pessoas com vontade de ensinar, Pelotas foi aprendendo na prática, não do jeito convencional mas, de ouvir e tirar música: “No decorrer da minha infância, aprendi muitas músicas, sempre nessa onda: tinha um vizinho que sabia Rendez-Vous, do Jean Michel Jarre, um colega que sabia Carruagens de Fogo, uma amiga da minha mãe que sabia o tango La Comparsita, meu tio Zeca – um gênio – que tocava vários instrumentos, me ensinou umas quantas, meu avô também tocava gaita!” Na ânsia em aprender cada vez mais, buscou pelo acervo dos pais, onde encontrou Beatles: “Primeiro, eu ouvia só o Please Please-me, depois só o With the Beatles e, assim, fui desbravando cronologicamente aquele universo maravilhoso. Mas, quando cheguei no Revolver fiquei embasbacado porque era um salto muito grande do Beatles for Sale, para o Revolver. Aquele som psicodélico, influenciado por drogas lisérgicas


não foi fácil de entender, mas foi revelador”. Na adolescência, deixou o piano de lado para aprender violão e guitarra. E, ao descobrir a escala pentatônica de Fá com um vizinho, vibrou com a possibilidade de improvisar. Foi quando seu primeiro professor mostrou uma gravação que ensinou uma coisa importantíssima: uma mulher tentando cantar e um guitarrista que não parava de solar o tempo todo. E o aconselhou: “Velho, olha esse cara! Ele tá atrapalhando a música! O que é mais importante? O cara mostrar tudo que sabe ou o cara fazer o que é melhor para a música?” Mesmo demorando para ser digerido, o aprendizado foi fundamental. Ao mesmo tempo em que ouvia Rock (Rolling Stones, Beatles, Pink Floyd, Led Zeppelin... e um pouco de Rock Gaúcho) ouvia, também, muita Bossa Nova e música brasileira, discos que seus pais tinham desde a época do vinil e, depois com o surgimento dos CDs. Ao ganhar alguns songbooks (Almir Chediak, Tom Jobim, Chico, Caetano...) percebeu a dificuldade de tocar aqueles acordes cheios de notas para quem estava acostumado apenas com as revistinhas de violão das bancas. Mas foi persistente! Por volta dos 15 anos, Pelotas passou a ter aulas de guitarra com Rafael Raposo: “Foi a única pessoa que conseguiu me ensinar um pouco de teoria: escalas, modos, campos harmônicos, entre outras, que eu apliquei no piano mais tarde, quando o instrumento voltou a ser o protagonista!” E, assim, vários estilos passaram a fazer parte de seus estudos, principalmente Rock, Blues e um pouco de Jazz.

Nessa época, Pelotas começou a tocar guitarra em bandas amadoras fazendo pequenos shows em festas e casas de amigos. Foi quando, aos 16, conheceu Beto e Gross (que trabalhavam numa loja de instrumentos musicais e estavam formando a Cachorro Grande): “Os dois só falavam de Rock'n Roll e eu, imediatamente, decidi que só queria andar com eles e aprender tudo o que eu pudesse com esses caras. Virei fã da Cachorro Grande e ia em todos os shows que eu podia. Isso antes do primeiro disco. Comecei gravando um piano em uma música na demo do primeiro trabalho, depois no próprio disco gravei 3 músicas. E, veio o segundo disco, onde quase todas as músicas tinham piano, e assim, as teclas voltaram a ser o meu principal instrumento e a banda virou minha profissão e minha segunda família.” Após anos de dedicação à música, o tecladista Pelotas traz em sua bagagem, uma vasta lista de influências: Tom Jobim, Arnaldo Batista, Wagner Tiso (Clube da Esquina), Maurício Barros (Barão Vermelho), Manito (Os Incríveis e O Som Nosso de Cada Dia), Mú Carvalho (A Cor do Som), Henrique Portugal (Skank), João Fera (Paralamas), Paolo Casarin, Leonardo Boff (Ultraman), Luciano Leães e Astronauta Pinguin. Sobre Arnaldo Batista, diz: “Acho o Arnaldo Batista um dos tecladistas com mais personalidade do mundo. Ele trouxe elementos do samba e da música erudita para o Rock”. Porém, é preciso sair do Brasil para falar de suas maiores: “O cara que eu mais tentei imitar o estilo de tocar na minha vida foi Nicky Hopkins, que foi o maior pianista de estúdio dos anos 60/70, o cara tocou simplesmente com todo mundo: Revista Keyboard Brasil / 11


A banda de Rock gaĂşcha Cachorro Grande, formada em 1999, ĂŠ composta por Beto Bruno (vocal), Marcelo Gross (guitarra), Rodolfo Krieger (baixo), Pedro Pelotas (teclado) e Gabriel Azambuja (bateria).

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Beatles, Rolling Stones, The Kinks e The Who só para citar os principais. Esse cara tocou em muitos discos que eu amo. Sou fã, claro, dos pais do piano no Rock, Jerry Lee Lewis, Little Richards e Johnnie Johnson (que tocava com Chuck Berry). Eu adoro o estilo característico e, às vezes minimalista, de gente como John Lennon, Paul McCartney, Bob Dylan, Neil Young, Pete Townshend e David Bowie que acabaram se desenvolvendo nas teclas, talvez por não ser o seu principal instrumento; também amo gente virtuosa como Ray Charles, Billy Preston, Stevie Wonder, Sly Stone. John Paul Jones (do Led Zeppelin) é um monstro. Ian McLagan (dos Small Faces) é o principal tecladista mod do mundo. Stevie Winwood (do Traffic) é um gênio sagrado, que transita maravilhosamente por todas as áreas das teclas: piano, órgão e synth. Canta como Ray Charles e, ainda, toca guitarra tão bem quanto Eric Clapton (na minha opinião). Richard Wright (do Pink Floyd) mora no meu coração, Ian Stuart (dos Stones), Alan Price (dos Animals), Rod Argent (dos Zoombies), Chick Churchill (do Ten Years After), Bobby Whitlock (dos Derek and The Dominoes), Jack Nitzsche (que tocou com o Neil Young), Ray Manzarek (dos Doors)... Isso só nos anos sessenta. Claro que eu curto o Jon Lord (do Purple), a turma do progressivo, Tony Kaye, Rick Wakeman, Keith Emerson escutei menos mas também curto, Brian Eno (do Roxy Music), curto Kraftwerk, chapo nos Chemical Brothers, me amarro nos franceses Daft Punk e Air. Dos anos 90 a 2000, Rob Coombes (do Supergrass) foi o que mais me influenciou, mas gosto do Damon Albarn (do Blur) tocando também, Jay Darlington (do Kula Shaker) e Oasis. Além de um monte de bandas que não 14 / Revista Keyboard Brasil

tem tecladistas mas que eu escuto, adoro e sofro influência, de um modo ou de outro, como Sex Pistols, The Clash, The Stooges, Television, The Police, AC/DC, Black Sabbath… Enfim, não vai ser fácil encerrar essa lista de influências sem deixar um pessoal de fora!”

Sobre a banda... Há 15 anos na estrada e com sete discos lançados, a banda Cachorro Grande inova ao buscar novas referências e novos conceitos, procurando não se repetir e não se prender a nenhuma fórmula, a cada lançamento. Pelotas diz que, da criação das músicas à produção de cada disco, não existe uma fórmula ou um processo de composição. E, completa: “Já houve casos em que músicas foram compostas pelo telefone. Outras vezes, sob encomenda! Outras, sob pressão de prazo!”

Sobre os timbres ‘‘vintages’’ nas músicas da banda e dos setups utilizados em cada disco... “No primeiro disco da banda gravei somente piano acústico de parede em 3 músicas, mas fiz a tour com um Rhodes Mark II 54. No segundo, gravei metade com o meu Petrof de parede e metade com um Rhodes Mark II 73 que eu tinha comprado. Na época, não queria usar timbres de emuladores de órgão, nem de piano, pois eram muito ruins ou, pelo menos, não conhecia ou não tinha acesso aos bons. Então, para os shows era só o Rhodes, que fazia uma função meio de guitarra base. Eu ligava um phase 90 e um drive, para fazer uns arranjos diferentes. Os dois primeiros discos nós gravamos em Porto Alegre com os poucos


Sobre o Costa do Marfim - lançado em 2014... ‘‘Vínhamos flertando com a música

Ouça as músicas do recente trabalho Costa do Marfim, da banda Cachorro Grande

Mesmo com suas raízes no Rock clássico dos anos 60, a banda Cachorro Grande se reinventa a cada disco. E, em seu mais recente trabalho, com produção de Edu K, novamente sua sonoridade surpreendente.

Foto: Divulgação

recursos que tínhamos mas, a partir do terceiro disco, começamos a ter mais estrutura, o Pista Livre gravamos no Rio de Janeiro. Foi o primeiro que usei Hammond em duas músicas, e sintetizador em outras duas. Gravei os acústicos com um Yamaha de cauda preto que tinha sido usado por Tom Jobim em várias gravações. Aí comprei um Korg CX-3 para o som de órgão nos shows e para gravar as demos, e também adquiri meu primeiro Synth, um Yamaha CS-5 monofônico de um só oscilador, e junto com um Rhodes Mark I 73. Esse era meu set na tour do Pista Livre. A partir do quarto disco, comecei a alternar entre Rhodes e Wurlitzer nas gravações e adquiri outros synths. No quinto usei, pela primeira vez, um plug-in de Mellotron além de clavinete em uma música. Já tinha comprado um Nord Electro 2, mas insistia em levar o Rhodes nos shows, ele ficava ali em cima do CX caso desse algum problema no Rhodes (sempre dava). No sexto disco, começamos nos envolver mais com música eletrônica, e gravamos no estúdio da Trama, em São Paulo, que é o paraíso dos sintetizadores. E, no último disco, usei synths analógicos e híbridos análogo/digital, Plug-ins de synth, plug-in de piano acústico, arpegiadores, e até aplicativos de celular da Moog. Ou seja, já tive muito a necessidade do vintage e do analógico, mas hoje é fácil o acesso a bons emuladores, e a tecnologia dos plug-ins evoluiu bastante. Portanto, seria burro de ignorar esses recursos!”

eletrônica há algum tempo, mais nitidamente a partir do terceiro disco e, aos poucos, foi ficando mais evidente. Começamos a ouvir os discos solo do Ian Brown e Primal Scream, Happy Mondays e as bandas que a gente curte dos 90, como Oasis, Blur e Supergrass, que sempre fizeram remixes com a turma do eletrônico que a gente chapava, depois veio o Kasabian que é rock eletrônico. Tínhamos uma ideia de dar umas músicas nossas para o produtor Edu K fazer os remixes, mas daí veio a questão: – Para que remixar o que já foi feito se a gente pode fazer um disco novo de Rock Eletrônico? Assim, pela primeira vez, graças ao Edu K, fizemos um disco de Rock Eletrônico como manda o figurino! Pode parecer que o disco foi mais trabalhoso mas, na verdade, foi o que conseguimos resultados rapidamente. Rolou uma fluência com todo mundo. Apesar de termos experimentado bastante, o nosso trabalho foi mais ameno. E, apesar de o som ter dado uma guinada violenta para o lado da música eletrônica experimental no último disco, os shows estão indo muito bem.’’

Sobre os próximos projetos... “Temos planos de fazer uma Trilogia com o Edu K, mergulhando cada vez mais no experimentalismo eletrônico. Aguardem!”

* Mateus Schanoski é graduado em Piano Erudito (Conservatório Bandeirantes), Piano Popular (CLAM e ULM), Teclado e Tecnologia (IT&T). É tecladista, pianista, organista, sideman, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 15


Pioneirismo

Amyr Cantusio Jr. pesquisador incansável do universo musical.

ROBERT MOOG SINTETIZADOR

ROBERT MOOG FOI UM PERSONAGEM DE GRANDE IMPORTÂNCIA NA MÚSICA MODERNA. ATRAVÉS DOS EQUIPAMENTOS QUE DESENVOLVEU, REVOLUCIONOU O SOM E O PAPEL D O S T E C L A D I S TA S . SEUS INVENTOS MUDARAM O CURSO DA HISTÓRIA DA MÚSICA E PERMITIRAM QUE O SINTETIZADOR E A MÚSICA ELETRÔNICA ASSUMISSEM UM I M P O RTA N T E PA P E L NA MÚSICA ATUAL. *Amyr Cantusio Jr.

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Fotos: Divulgação

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Os primeiros contatos de Robert Moog com a música vieram desde a infância, quando estudou piano. Na adolescência, passou a construir Theremins. Em 1957, graduou-se Bacharel em Física no Queens College, Bacharel em Engenharia Elétrica na Universidade de Columbia e PhD. em Engenharia Física na Universidade Cornell. Em 1954, Moog fundou a R. A. Moog Company projetando e construindo, junto com sua esposa, instrumentos eletrônicos num pequeno apartamento. A empresa cresceu, vindo a tornar-se um negócio lucrativo no ano de 1964, quando lançou no mercado uma linha de equipamentos de síntese sonora.

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ascido em 23 de maio de 1934, na cidade de Nova Iorque, o inventor, músico e engenheiro norte-americano

Robert Moog começou a desenvolver um instrumento – que mais tarde daria o nome de sintetizador – a partir de peças de equipamentos eletrônicos ainda quando adolescente. Após escrever um artigo sobre o instrumento, em 1954, abriu uma empresa

de montagem e venda de theremins¹, primeiro instrumento "eletrônico" criado pelo russo Lev Theremin, cujos tons são controlados por movimentos aéreos das mãos. Vide Jimmy Page, integrante do Led Zeppelin tocando theremin na música Whole Lotta Love no show datado de 1975 onde, passando as mãos por cima do aparelho, trava um duelo com a voz de Plant.

¹ O THEREMIN foi criado em 1928 na Russia, por Léon Theremin. A confusão surgiu porque a Moog Corporation incluiu uma fabricação e distribuição deste instrumento posteriormente veiculada ao Robert Moog. 18 / Revista Keyboard Brasil


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Em 1964, juntamente com o compositor Herbert Deutsch, Robert Moog apresentou a invenção em um congresso, transformando o sintetizador no primeiro instrumento eletrônico a ser utilizado em larga escala na música. Atualmente, modelos digitais substituíram quase por completamente o modelo analógico criado por ele. Os primeiros músicos que utilizaram o Moog foram compositores de universidades e conservatórios de música. A maioria das pessoas pensava que a música feita com sintetizadores era uma pesquisa de vanguarda, de pouca relação com os valores musicais tradicionais. Os músicos da época

chegavam a achar que o meio eletrônico e os sintetizadores não tinham lugar na produção de música de alta qualidade. Entretanto, alguns pioneiros começaram a discordar dessa visão, passando a apostar na técnica e na persistência para tentar superar as limitações que o meio eletrônico apresentava até então. Assim, em New York, Jean Jacques Perrey e Gershon Kingsley realizaram o LP “The in Sound from Way Out”. Esse álbum demonstrou que era possível fazer música Pop de qualidade com o sintetizador Moog. A partir de então, o som do Moog invadiu o mundo da 20 / Revista Keyboard Brasil

A utilização mais famosa do Theremin no rock deu-se pela banda LED ZEPPELIN.

música, anunciando uma sonoridade futu-

rista e cheia de novos timbres, antes nunca ouvidos. Além de imitar os instrumentos existentes, o Moog ainda realizava sons que nenhum outro instrumento acústico poderia realizar. Sua popularidade despertou, além da atenção da indústria fonográfica da época (que interessou-se em lançar mais LPs de versões de músicas consagradas tocadas com os sons dos sintetizadores Moog), a curiosidade de diversos músicos. Com a criação do revolucionário instrumento de teclados, o Rock nunca mais foi o mesmo. Citemos as primeiras aparições com


Wendy Carlos é considerada a pioneira em fazer a ponte entre a música clássica e os sintetizados ao lançar, em 1968, “Switched-On Bach”, tornando-se o primeiro álbum erudito a vender 500 mil cópias (disco de platina). Por este álbum, em 1969, Wendy ganhou o Grammy em três categorias. Posteriormente, Wendy compôs as trilhas para os filmes Laranja Mecânica (filme de Stanley Kubrick) e Tron, Uma Odisseia Eletrônica (da Disney).

George Harrison no álbum Electronic Sounds, lançado no final dos anos 60. Obviamente, o lado “B” do Abbey Road (Beatles) foi todo alimentado pelo instrumento. Frank Zappa e as alemãs Popol Vuh, Faust, Amon Duul II, além de Tangerine Dream, Klaus Schulze e Kraftwerk, posteriormente, também fariam seus derradeiros vôos no instrumento. Um detalhe é que, apesar da nacionalidade de Moog (U.S.A.), foram as bandas e músicos alemães os que mais se utilizaram deste instrumento (Kraut Rock) em larga escala nos anos 70. Keith Emerson (ELP) testaria um dos Moogs mais complexos feito sob encomenda por Robert Moog. Usou vastamente a complexidade analógica do teclado, principalmente em LPs como

Brain Salad Surgery, Trilogy, Tarkus, e no palco ao vivo pela primeira vez em Pictures At An Exibhition Live, entre outros.

Diversos teclados já foram criados a partir do Moog e usados pela maioria dos artistas do cenário da música mundial como Pink Floyd, Genesis, Yes, Kitaro, Jean Michel Jarre, Triumvirat, Vangelis, Isao Tomita (que faria uma vasta obra neste instrumento, altamente indicado no Japão), etc... Enfim, quase todos os grupos progressivos, vanguardistas e psicodélicos dos finais dos 60 e 70. No Brasil, os Mutantes, o grupo Módulo 1000 e o Tellah (todos setentistas) utilizaram espetacularmente os efeitos dos sintetizadores para criar músicas maravilhosas. A banda Pato Fu – que Revista Keyboard Brasil / 21


Sofá Minimoog da Bob Moog Foundation, na Namm Show 2014 do programa Dr. Bob's SoundSchool, que ensina a mais de 1.000 estudantes a física do som usando instrumentos musicais acústicos e eletrônicos, tais como o theremin e os osciloscópios.

recicla claramente os Mutantes – utiliza muito o moog no álbum Ruído Rosa. Walter Carlos (norte americano que, no final da década de 1960, mudou o nome para Wendy Carlos passando a fazer muito sucesso) tornou-se um dos pioneiros dos LPs calcados no Moog. Hoje em dia, há o renascimento da inserção do sintetizador no Rock em geral como vemos, por exemplo, no gothic metal, black metal e no metal melódico em bandas como Paradise Lost, Depeche Mode, HIM, Muse, Crematory, entre outras. O Moog mudou o Rock para sempre e entrou de sola nos finais dos 60, arrebentando de vez nos 70. Sua flexibi-

lidade para longos e viajantes solos duelando com guitarras, texturas e efeitos sonoros são simplesmente incríveis! Eu mesmo utilizei amplamente os recursos deste sintetizador no meu projeto Alpha III, em especial no primeiro LP Mar de Cristal, no ano de 1983, Sombras, de 1986 e Agartha, em 1987, além de mais de 20 CDS atuais.

Deixo, a seguir, músicos (grupos) que valem ser revisitados em suas obras e que usam largamente o Moog!

Ouça Tangerine Dream, ao vivo em Conventry Cathedral, 1975.

Assista Oxygene IV, de 1976.

Assista ao E L & P tocando ao vivo Request Denied, no Moogfest 2012.

Ouça Raptor Alien Frequency do álbum ALPHA III.

Ouça Klaus Schulze & Pete Namlook no álbum The Evolution Of The Dark Side Of The Moog.

Ouça Nucleogenesis (Parte 1) do álbum Albedo.

*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental e historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp. 22 / Revista Keyboard Brasil

Ouça o álbum Switched on rock Electric Samurai de Isao Tomita, com grandes músicas em versão eletrônica japonesa, utilizando um sintetizador Moog.

O uso do sintetizador torna Dreams Like Yesterday grandioso. Além de outros instrumentos, Kitaro utilizou os sintetizadores Korg, Roland e Mini Moog.


! E D A D I V O N


Cultura A CONEXÃO MUSICAL entre o popular e o erudito nas apresentações de

Marília Vargas e André Mehmari

DESDE O ANO PASSADO, O DUO COMPOSTO PELA CANTORA LÍRICA PARANAENSE MARÍLIA VARGAS E PELO PIANISTA (MULTIINSTRUMENTISTA), COMPOSITOR E ARRANJADOR FLUMINENSE ANDRÉ MEHMARI PERCORRE O PAÍS COM O RECITAL DE LANÇAMENTO DO CD ENGENHO NOVO. Heloísa G. Fagundes

Os artistas

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aranaense de Ponta Grossa, mas radicada há alguns anos na Suíça, a cantora erudita Marília Vargas é uma das soprano-líricas mais aplaudidas do mundo. Introduzida no mundo da ópera e 24 / Revista Keyboard Brasil

da música clássica aos 12 anos, Vargas aperfeiçoou seu talento em algumas das instituições mais respeitadas da Europa, como a Schola Cantorum Brasiliensis em Basel e a Musikhochschule Zurich em Zurique.


CD Engenho Novo - uma produção caprichada! No CD Engenho Novo, a dupla Marília Vargas e André Mehmari apresenta a mistura de melodias imortais – canções clássicas, populares e cantigas folclóricas compostas por Villa-Lobos, Waldemar Henrique, Chiquinha Gonzaga,

Vinícius de Moraes entre outros – que ganham um novo impulso não só através de harmonias muitas vezes inusitadas, mas com citações que estabelecem um diálogo entre diversos setores da nossa música.

Dona de um timbre de voz caracterizado pela homogeneidade interpretativa, a cantora já participou de inúmeras e marcantes apresentações ao lado de grandes orquestras (como a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), Orquestra Sinfônica do Paraná e as estrangeiras Orchestra of the Age of the Enlightement e Zurcher Kammerorchester) e de grupos de música antiga e de câmara. Pianista (multiinstrumentista), arranjador e compositor fluminense, André Mehmari é considerado um dos melhores pianistas brasileiros da atuadade.

Ouça a músi do CD Eng ca Se essa rua fosse min ha, adaptação: enho Novo M eh m a ri – voz: Va . rgas.

Mehmari iniciou seus estudos musicais aos cinco anos de idade. Aos oito ingressou num conservatório musical. Tocou em bailes de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, onde passou sua infância e adolescência. Mudou-se para São Paulo, a fim de estudar na USP. Desde então, tem se destacado em várias vertentes, conseguindo passear pela música erudita, MPB, música de teatro e jazz com igual precisão. Mehmari possui diversos CDs gravados e um currículo recheado de premiações nacionais e internacionais, além de protagonizar grandes apresentações.

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Por dentro

Música Clássica:

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OS ERROS NOSSOS DE CADA DIA

CHOPIN, MOZART, BACH, HAYDN E BEETHOVEN. O QUE ESTES GRANDES COMPOSITORES TÊM EM COMUM? ** Maestro Osvaldo Colarusso 26 / Revista Keyboard Brasil


E

xistem certos títulos, ou termos, usados por qualquer um que toca ou escuta música clássica, que são profundamente incorretos. Por mais

incorretos que sejam continuam e, infelizmente, continuarão a ser utilizados. Mas, vale a pena ver o monte de besteiras que se tornaram falsas verdades. Eis uma pequena lista:

Foto: Arquivo pessoal

Os nomes falsos das Suítes para cravo de Bach

mesma época, foram batizadas postumamente de Suítes francesas. Mais uma besteira do senhor Forkel: as Suítes francesas utilizam uma textura que se distancia muito das obras francesas que Bach tanto amou. Enfim, essas obras

primas mereceriam nomes mais precisos.

O nome errado da mais popular sinfonia de Mozart

Todo pianista ou cravista, estudante ou profissional, costuma dizer que está estudando uma Suíte inglesa ou uma Suíte francesa de Bach. Creio que até o

A Sinfonia em sol menor, catalogada por Ludwig Köchel com número 550, é comumente chamada de Sinfonia número 40, e tornou-se a mais conhecida do mestre. Este número, e das demais sinfonias de Mozart, é mais um título

próprio Bach ficaria surpreso com estes títulos. As chamadas Suítes

errado, mas que deverá se perpetuar. Há décadas se sabe que as Sinfonias

inglesas, escritas por volta de 1720, só ganharam este título algumas décadas depois da morte do compositor. Quem fez a besteira foi um senhor chamado Johann Nikolaus Forkel (1749-1718). O estranho é que estas Seis Suítes são a obra mais francesa que Bach escreveu para cravo, e o próprio compositor colocou longas instruções em francês na partitura! Em resumo, chamar estas obras de forte sotaque francês e italiano de “Suítes inglesas” é um absurdo. Para diferenciá-las, as outras seis suítes de Bach para cravo, escritas na

2, 3 11 e 37 não são obras de Mozart, e sim, respectivamente, de Leopold Mozart, Carl Friedrich Abel, Carl Ditters von Dittersdorf e Michael Haydn. Quem diria: a Sinfonia mais popular de Mozart é na verdade a 36ª que o compositor escreveu.

Em resumo, o total de sinfonias para orquestra de Mozart está inflacionado. Ele compôs apenas 37, e não 41.

O ‘‘milagre’’ errado de Haydn O compositor austríaco Joseph Haydn adorava que suas sinfonias ganhassem apelidos. Isso as tornava mais populares. Isto explica os nomes muitas

Maestro Osvaldo Colarusso: colunista da Revista Keyboard Brasil e incansável pesquisador musical! Revista Keyboard Brasil / 27


Ouça Sinfonia nº 96 n. “Milagre” de Hayd

Ouça Sinfon ia em Si bemol nº 102 Maior, de Haydn.

vezes curiosos: “Surpresa”, “O relógio”, “Oxford”, etc. Uma Sinfonia de Haydn, a de número 96 tem o apelido de “Milagre”. Este tal de “Milagre” realmente aconteceu. No Hanover Square Rooms, teatro em que eram apresentadas as Sinfonias de Haydn em Londres no final do século XVIII, houve um acidente na estreia de uma destas sinfonias: o lustre despencou! Por um “milagre” ninguém se feriu. Apesar de a Sinfonia Nº 96 em ré maior ficar com o apelido, na noite em que o lustre caiu a sinfonia estreada, na verdade, foi a de número 102 em si bemol maior. A incorreção se deve ao

próprio Haydn, que pensava que ninguém iria dar muita atenção para sua sinfonia Nº 96. Atribuiu-lhe, então, o tal do “milagre”.

Os falsos nomes das sonatas de Beethoven É muito comum chamarmos a Sonata opus 27 Nº 2 de Beethoven de

“Sonata ao luar”. Este meloso título foi colocado na obra muito depois da morte do autor por um certo Senhor Ludwig Rellstab (1799-1860), falando a besteira que a lua refletindo as águas do lago de Lucerna teriam inspirado o compositor.

Beethoven nunca esteve em Lucerna! Beethoven teria aprovado os títulos “Patética” e “Apassionata”, mas chamar a Sonata em dó maior opus 53 de “Aurora” é de chorar. Se é para dar um apelido a esta obra prima é melhor chamá-la de “Waldstein”, nome daquele para quem a obra foi dedicada.

Chopin Creio que, por razões de ordem comercial e sentimental, Chopin é

meio o campeão dos apelidos apócrifos de péssimo gosto. Daí surgiram o “Prelúdio da gota d'agua” (em ré bemol maior Opus 28 Nº 15) e os estudos chamados de “Ventos de Inverno” (em lá menor Opus 25 N°11), “Revolucionário” (Opus 10 Nº12), “A queda d'agua” (opus 10 Nº 1) e o pior de todos “Tristesse” (Opus 10 Nº 2). Bobagens que, infelizmente, se perpetuam.

* Texto retirado do Blog Falando de Música, do Jornal paranaense Gazeta do Povo. Conheça o blog clicando em http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/ ** Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). No passado, esteve à frente de grandes orquestras como a do Coral Lírico do Teatro Municipal de São Paulo e a Orquestra Sinfônica do Paraná, além de ter atuado como solista. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver, paralelamente, atividades como professor, produtor e apresentador de programas de Música Clássica na Emissora Estadual do Paraná. Desde 2011, é responsável por um dos blogs mais importantes de música clássica no Brasil, o Falando de Música, do jornal paranaense Gazeta do Povo e, como colaborador da Revista Keyboard Brasil, desde 2014. 28 / Revista Keyboard Brasil


SAIBA MAIS:


Ponto de Vista

Talento não é

tudo!

MESMO POSSUINDO CERTO DOM QUE O DISTINGUIA DOS DEMAIS SEM MUITO ESFORÇO, MOZART NÃO NASCEU UM GÊNIO MUSICAL... PORÉM ERA DEDICADO! Carol Dantas

30 / Revista Keyboard Brasil


uitos músicos têm seu estilo e capacidade artística atribuídos apenas a um talento natural, mas o esforço e treino exercem um papel fundamental no desenvolvimento dos grandes gênios. É o caso de Wolfgang Amadeus Mozart – sem dúvidas, um dos melhores compositores da História. Mozart nasceu em 27 de janeiro de 1756 e, o que nem todo mundo sabe, é que começou a estudar música aos três anos de idade com seu pai, Leopold, que era professor e compositor, apesar de não ser muito famoso. Aos quatro anos aprendeu a tocar clavicórdio, predecessor do piano e, aos cinco, já começava a escrever algumas pequenas composições com a ajuda e estímulo de seu pai. Aos oito anos, escreveu sua primeira sinfonia com a ajuda da irmã mais velha, Anna Maria. Porém, não fica claro nos registros históricos se o pai também ajudou nessa composição, corrigindo alguns detalhes ou escrevendo alguma parte.

Um fato que gera dúvidas sobre um suposto “empurrãozinho” do pai é que Leopold estava organizando apresentações nas quais anunciava suas crianças como prodígios musicais. Por isso, havia um interesse a mais em chamar atenção para o talento dos filhos. Eles viajavam pela Europa e tocavam para os nobres. Então, faz sentido que o pai quisesse impressionar a plateia retocando ou influenciando a composição do jovem Wolfgang. Tomando todas as informações em consideração, o que parece mais lógico? Será que uma criança de cinco anos de idade comporia sinfonias ou o pequeno Mozart teria recebido um pouco de “influência” de seu pai, um músico formado e professor, que fez dinheiro com o talento de seus filhos? Faz sentido não?

‘ ‘

M

não há nenhum grande gênio sem uma mistura de loucura!

– aristóteles (filósofo grego)

Revista Keyboard Brasil / 31 47


Anna Maria Walburga Ignatia Mozart, conhecida como ‘‘Nannerl’’ era irmã mais velha de Mozart e também aprendeu piano com o pai Johann Georg Leopold Mozart. 32 / Revista Keyboard Brasil


treino e reconhecimento

Isso não quer dizer que Mozart não era um gênio. Ele era, e muito. Ele só não nasceu assim. É o que diz Geoffrey Colvin, autor do livro Talent Is Overrated, onde argumenta que Mozart era extremamente talentoso, em grande parte, por causa do treinamento recebido. “As aulas diárias com seu pai, desde os 3 anos, as apresentações para a nobreza e as viagens durante sua juventude o tornaram um músico brilhante”. Em 1770, então com 14 anos, Mozart escreveu sua primeira ópera e, neste mesmo ano, foi aceito em uma instituição para o ensino de música, a renomada Academia Filarmônica em Bolonha, na Itália. Porém, é importante citar que com esta idade ele já estava estudando, durante algum tempo, com professores profissionais e conheceu muitos compositores famosos durante as viagens com o pai como, por exemplo, Johann Christian Bach, uma de suas influências! Aos 17 anos, Mozart conseguiu um emprego como músico da corte com o Príncipe-Arcebispo de Salzburgo e, a partir daí, só cresceu para se consagrar como um dos melhores compositores de todos os tempos. Tudo fruto de seu trabalho árduo e treino constante desde a infância.

Talento talvez tenha alguma influência no processo, além do dom natural, mas apenas isso não cria um gênio. O treino constante, o esforço durante toda a vida, o trabalho, a prática e a autocrítica severa sobre suas

obras (e que são resumidos numa palavra: dedicação), foram os fatores que realmente levaram Wolfgang Amadeus Mozart a ser lembrado e venerado como é hoje.

4 Passos para Mozart ter se tornado um gênio

1. Iniciativa e esforço. Talento sem ação não gera realização. Pessoas talentosas assumem a responsabilidade pela sua própria vida, pois não tem preguiça. 2. Foco e execução. Para a grande maioria das pessoas, sob todos os aspectos, ter foco não é algo natural e de fácil execução. No campo emocional, poucos são os que têm o foco nas coisas de forma positiva e acreditam verdadeiramente que podem dar certo. 3. Responsabilidade. A irresponsabilidade acaba com qualquer carreira e não sustenta o sucesso a longo prazo. 4. Aprendizado permanente. A pessoa verdadeiramente talentosa compreende que precisa estar sempre em constante estudo, se lapidando. E você, leitor, concorda ou não? Mande sua opinião para contato@keyboard.art.br

FONTES: The Careful Construction of a Child Prodigy, in: NY TIMES. TYSON, ALAN. Mozart: Studies of the Autograph Scores. Harvard University Press, 1990, 391 pgs. COLVIN, GEOFFREY. Talent Is Overrated. Portfolio, 2008, 252 pgs. Revista Keyboard Brasil / 33


15

Toque e Aprenda

- continuação...

APRENDA OU MELHORE SEU DESEMPENHO NAS TÉCNICAS DO

JAZZ-BLUES

* Maestro Marcelo Fagundes

ACORDES com NONA - C (Acordes com 5 sons) O termo ‘‘acorde de nona’’ às vezes é usado para descrever os acordes de cinco partes em que a nota mais alta ou a extensão é o nono grau acima da raiz. Os acordes de cinco partes mais comumente utilizados no Jazz - Blues são:

Menor com Sétima Menor e Nona Maior) MAIOR com 7 Menor e 9 = C7(9) (Dó maior com Sétima Menor e Nona Maior) MAIOR com 7 Menor e 9 dominante suspenso = Csus 7(9) (Dó Sus 4 com Sétima Menor e Nona Maior).

MAIOR com 7 e 9 = C7(9) (Dó Maior com Sétima Maior e Nona Maior) Menor com 7 e 9 dominante = Cm7(9) (Dó

Os exemplos estão todos feitos sobre o acorde de Dó. Observe a seguir.

Observe que estes Acordes com 5 sons podem ser formados nos acordes já estudados de 4 sons, adicionando apenas a NONA (9) Maior a eles: Acordes de: Maior 7, menor 7, 7 dominante (sétima dominante suspenso) e adicionando um intervalo de Nona Maior para cada um. Podemos analisar os intervalos em cada uma destas cifras de cinco partes como se segue :

C7M(9) = Fundamental, Terça Maior, Quinta Justa, Sétima Maior e Nona Maior. Cm7(9) = Fundamental, Terça menor, Quinta Justa, Sétima menor e Nona Maior. C7(9) = Fundamental, Terça Maior, Quinta Justa, Sétima menor e Nona Maior. Csus7(9 )= Fundamental, Quarta Justa, Quinta Justa, Sétima menor e Nona Maior.

34 / Revista Keyboard Brasil

Também é possível alterar a NONA baixando ou elevando-o de 1 SEMITOM,


isto se limita aos acordes aos Acordes Dominantes na música ocidental convencional. Ou seja, não se altera as NONAS nos Acordes Menores. Esta nona alterada pode, então, ser

combinada com a QUINTA ALTERADA. A seguir, estão as combinações mais comuns de alterações de acordes dominantes em Jazz - Blues:

Monte estes acordes a partir de todas as notas. Toque-os com as duas mãos distribuindo as notas. Com a partitura da música Dexterity, de Charlie Parker Quintet - a

seguir monte os acordes e estude este excelente exemplo harmônico de Acordes com Sétimas e Nonas. Bons estudos e até a próxima!

Dexterity Música: Charlie Parker Transcrição: Maestro Marcelo Fagundes

Fast Bop

Revista Keyboard Brasil / 35


Obtenha a partitura completa através do e-mail: contato@keyboard.art.br

* Marcelo Dantas Fagundes é músico, maestro, arranjador, compositor, pesquisador musical, escritor, professor, editor e membro da ABEMÚSICA (Associação Brasileira de Música). 36 / Revista Keyboard Brasil



Ponto de Encontro

(da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor, Prazer e Negócios)

VAIAS!

Foto: Arquivo pessoal

Para nós mesmos?

38 / Revista Keyboard Brasil


VOCÊ SABE O SIGNIFICADO DA PALAVRA MAGISTRADO? QUER CONTINUAR VIVENDO NUMA ILHA DA FANTASIA OU ACORDAR PARA O SUCESSO DE NOSSA PÁTRIA? A ESCOLHA É SUA!

C

* Luiz Bersou

ontinuam na mídia os comentários desairosos sobre a figura da Presidente (com e) da República. Irritação coletiva, desilusão, cansaço psicológico levam a esse tipo de manifestação. A percepção de que

mais uma vez o Brasil fez as escolhas para o caminho do fracasso gera grandes frustrações. Aprendi na escola antiga que nos Regimes Republicanos, aqueles que são eleitos para a defesa da causa pública são considerados Magistrados. Magistrados fazem a interação da sociedade com o conjunto de leis e valores que sustentam o tecido social e a qualidade de vida. Aprendemos, também, na escola antiga que Magistrados não podem mentir. Trata-se de um fundamento universal. Aplicável a todos os países. Se eles mentem toda estrutura que é sustentada por eles entra em colapso de confiança. Sem confiança não há socie-

dade que possa evoluir em direção ao sucesso. Elegemos quem mente. Sabíamos o tempo todo do nível de mentira a que se chegou para sustentar a permanência no poder a qualquer custo. Querem nos impingir um cenário de ilha da fantasia – onde tudo é mentira. Querem culpar o mundo pelos nossos Revista Keyboard Brasil / 39 51


Getúlio somos uma sociedade que sempre buscou soluções que levaram ao fracasso.

Nós somos a razão do nosso fracasso, somos produtos de nós mesmos. O

‘ ‘

‘ ‘

Países fracassam porque seus líderes são gananciosos e egoístas que ignoram a história!

- Jared Diamond é um biólogo evolucionário, fisio-

logista, biogeógrafo, autor de diversos livros, mais de duzentos artigos científicos e vencedor do Prêmio Pulitzer.

problemas. A oligarquia presente no poder, sempre no seu pressuposto típico de que a sociedade não tem capacidade para pensar, nos passa atestados de absoluta incompetência ao achar que podemos acreditar no que eles dizem. Começa a existir um clamor pelo afastamento da Presidente. Basta olhar para a linha de sucessores para percebermos que não há qualidade nesse quadro. Quem pode acreditar neles? Vamos trocar o muito ruim

pelo ainda pior. Está tudo estragado. Está tudo errado. Há alguns dias, estive em reunião com uma grande figura pública. Manifestou uma enorme frustração pela nossa incapacidade de criar o sucesso. Desde a época de 40 / Revista Keyboard Brasil

norte-americano Jared Diamond, em seu livro Colapso nos conta como as sociedades fazem escolhas que as levam para o caminho do sucesso ou do fracasso. Já provamos que somos especialistas em buscar o fracasso. Nessa questão da busca do fracasso, de imediato, constatamos que não temos projetos nacionais. A China, por exemplo, deu ao mundo uma fantástica demonstração de virar a mesa de sua miséria endêmica a partir de quatro projetos nacionais. Os resultados estão aí. Muito sucesso. Por outro lado, quem se lembra de que nos anos de 1968 a 1973 o Brasil cresceu a taxas médias de 10% ao ano? Nem a China conseguiu manter esse padrão de crescimento por tanto tempo. Diante dessa manifestação inequívoca de capacidade de crescimento, registre-se em seguida que o Brasil estava em uma escala de 1 a 10, com nota 2,8 em termos de liberdade econômica. Esse indicativo nos classifica em 97º entre 102 países analisados. Piorou, e muito, com a presença dessa oligarquia incompetente que aí está. O dirigismo da oligarquia que nos domina, interfere em tudo, algo tipicamente brasileiro. Preocupada com a permanência no poder, mediocrizou o nosso esforço e caímos, em seguida, em estagflação. Demos um tiro no pé. É o burocrata que nos domina e diz o que podemos então fazer.

Somos, ainda, uma sociedade em que a palavra Honra não tem


nenhum valor. Tudo é negociável, tudo é feito com a visão medíocre do curto prazo.

As vaias devem, então, ser antes para nós mesmos e, depois,

para aqueles que colocamos no poder. Não merecemos coisa melhor! A questão que se coloca é: quando vamos acordar?

* Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior.

Revista Keyboard Brasil informa:

Revista Keyboard Brasil / 41


Foto: Israel Freschi

Perfil

HERBERT MEDEIROS DESDE MUITO CEDO, HERBERT MEDEIROS É CERCADO PELA M Ú S I C A , T R A Z E N D O DA ORQUESTRA DA IGREJA, SUA INFLUÊNCIA GOSPEL, SEM DEIXAR DE LADO A MPB, A BOSSA NOVA E A MÚSICA NEGRA AMERICANA, ESTILOS TAMBÉM APRECIADOS PELO MÚSICO QUE FEZ DO AMOR PELA MÚSICA A SUA PROFISSÃO. 42 / Revista Keyboard Brasil

Mateus Schanoski & Heloísa Godoy Fagundes


Foto: Leonardo Vieira

P

Assista SERIAL FUNKERS - What a Fool Believes (Michael Mcdonalds) ensaio ao vivo.

Assista uma das músicas do primeiro disco do TRIED Instrumental em uma sessão de ensaio, ao vivo, em estúdio.

Assista RadioBounce (Roberta Flack Cover) - Feel Like Makin'Love.

1. 2. 3.

Facebook do TRIED Instrumental

4.

Conheça o trabalho de Herbert Medeiros clicando nos links. Contato para shows no e-mail: herkeys@hotmail.com

Site oficial e facebook do Serial Funkers

Facebook do RadioBounce

ianista, tecladista, produtor musical, compositor e arranjador, o paulistano Herbert Medeiros iniciou sua carreira aos nove anos de idade tocando na orquestra de sua Igreja. Com grande influência da música Gospel, música Brasileira (MPB, Bossa Nova) e da música negra americana (Jazz, Soul, R&B, Funk) decidiu se profissionalizar e, em 2002, ingressou na antiga ULM (Universidade Livre de Música Tom Jobim) nos cursos de Produção Musical e Harmonia e Improvisação. Também participou de diversas oficinas culturais de música em São Paulo. Hoje em dia, agrega um vasto currículo de shows no Brasil, Europa e América do Sul e também participações em diversos programas de TV com artistas de vários segmentos musicais, entre eles: Negra Li, Vanessa Jackson, Lino Crizz, Dj Hum, Banda Black Rio, Serial Funkers, Ed Motta, Fábio Cadore, Gabriel Moura, Angélica Sansone, Thulla Mello, Maloka Chic, Mr. Dan, Patrícia Marx, Vanessa Hariel, Carlos da Fé, Silvera, E-Beilli, Filiph Neo, Sandra de Sá, Tony Garrido, Família Lima e Marina Lima. Também artistas internacionais como a Banda Britânica Incognito e o violinista Austríaco Rudi Berger.

Revista Keyboard Brasil / 43


OpiniĂŁo

44 / Revista Keyboard Brasil


Por que não basta ter um Nord™ para reproduzir com fidelidade o teclado de

Ray Manzarek? A UTILIZAÇÃO SUBLIME DO VOX CONTINENTAL, GIBSON G101 E FENDER RHODES PIANO BASS, EMPREGADOS POR RAY MANZAREK NO THE DOORS.

Foto: Dafne Komora Tambeiro

* Thomas Garcia Carmona

Thomas Garcia Carmona: engenheiro e tecladista amante da boa música! Revista Keyboard Brasil / 45


Ray Manzarek tocando o Fender Rhodes sobre o Vox Continental.

Fender Rhodes Piano Bass sobre o Gibson G101 e Vox Continental ao lado (instrumentos antológicos que ainda compunham o set de Ray Manzarek).

P

rimeiramente deixo claro que este artigo não procura denegrir ou desmerecer os instrumentos da marca Nord™ - que são algumas das melhores coisas que já foram produzidas pela humanidade - e deram fim à maioria das limitações dos instrumentos portáteis existentes até então. Essa empresa é um exemplo de seriedade, respeito pelo músico, esmero e alta engenharia aplicada e seu nome deve ser para sempre lembrado e enaltecido com todas as honras.

O objetivo aqui é debelar o mito que vem se difundindo de que basta ter um Nord™ para reproduzir com fidelidade os timbres empregados por Ray Manzarek no the Doors por que os instrumentos Nord™ reproduzem o som do órgão transistorizado 46 / Revista Keyboard Brasil

Ray Manzarek tocando o Fender Rhodes Piano Bass sobre o Gilbson G101.

Vox, órgão Hammond e dos pianos eletromecânicos Rhodes. Os aspectos técnicos de execução, staccatos, apogiaturas e inversões de acordes muito característicos não serão abordados pois, obviamente, devem ser dominados pelo executante para que o resultado seja satisfatório. O aclamado Vox Continental aparece ostensivamente nas gravações do primeiro disco (“the Doors”) e na faixa “When the Music is Over” do álbum seguinte “Strange Days”. Nos demais discos e gravações ao vivo, o timbre predominante é do instrumento Gibson G101 que não vem de fábrica com os instrumentos Nord™. Para reproduzi-lo, é necessário ter samples, amostras gravadas desse instrumento que podem ser compradas pela “internet”. As imagens a seguir, ilustram o aspecto visual do G101, do Vox Continentale, com o G101 em ação nas apresenta-


Fender Rhodes Piano Bass, Sparkle Top da década de 1960 nos acabamentos dourado e prateado, sendo o dourado o primeiro e mais frequentemente empregado por Ray.

ções ao vivo de Ray Manzarek. Clássicos ao vivo como o “Medley Alabama Song /Backdoorman/ Five to One” e a versão da MTV de “Love Me Two Times” ganham imensa fidelidade se reproduzidos com os timbres de G101, o que poderia ser feito com muitos e mais antigos instrumentos com tecnologia sample playback como fiz por mais de 15 anos com um Alesis QS7. Nessa época, tinha também timbres de Vox elaborados a partir de samples. A autocrítica é válida: o timbre conseguido não chegava aos pés da emolução proporcionada pela Nord™ pela qual sou muito agradecido... A faixa ‘‘Waiting for The Sun’’ é outro grande exemplo de utilização sublime do G101 na configuração ''todos botões brancos para baixo'' com tremolo e vibrato.

Acima, a capa do manual de utilização do colorido Gibson G101 (ao lado).

Além disso, em estúdio foram utilizados timbres com misturas de órgão, pianos, flauta, marimba e outros que precisam ser cuidadosamente elaborados pelo instrumentista, que pode e deve fazer também uso de filtros, chorus, fazers, tremolos, etc. Quanto ao baixo o lendário Fender Rhodes Piano Bass somente foi gravado em estúdio no primeiro disco (“the Doors”). Sempre foram contratados baixistas para acompanhar a banda em estúdio, embora as linhas de baixo sejam todas de autoria de Manzarek, mesmo as mais complexas e, não somente, as típicas baseadas em T 3 5 7. Ao vivo, sempre foi usado o Piano Bass. Então, seria lógico empregar o Piano Bass para as músicas do primeiro disco e versões nas quais se deseja uma sonoridade dos discos ao vivo, muito embora um Revista Keyboard Brasil / 47


48 / Revista Keyboard Brasil


Assista The Doors, com Jim Morrison cantando a mĂşsica Touch Me e Ray Manzarek empregando seu Fender Rhodes Piano Bass sobre seu Gibson G101, ao vivo - 1968. Revista Keyboard Brasil / 49


Ray Manzarek tocando seu Vox Continental em apresentação ao vivo.

M

anzarek nasceu em Chicago e foi um dos mais notáveis tecladistas da história do Rock. Porém, entre os anos de 1962 e 1965 – antes de fazer parte da banda The Doors – o músico estudou cinema na Universidade de Los Angeles. Foi exatamente em 1965 que conheceu o poeta e também estudante Jim Morrison, na praia (em Venice Beach, Los Angeles,). Depois de um encontro regado à psicodelia, fundaram, ainda neste mesmo ano, a banda The Doors, ao lado do guiarrista Robby Krieger e do baterista John Densmore. O quarteto formou uma das mais controversas bandas de Rock da década de 60 e, provavelmente, de todos os tempos. O trabalho de Manzarek com o instrumento na banda, na época em que a guitarra era dominante, adicionou um tom sombrio que se juntava bem à imagem de Jim Morrison. A banda se envolveu em diversas polêmicas e vendeu, até hoje, mais de 100 milhões de discos no mundo inteiro. O sucesso veio por causa de músicas como “Break on through to the other side”, “Hello, I love you”, “Light my fire”, “L.A. Woman”, “The End”, entre outras que traziam a união exata da psicodelia dos versos de Morrison e da ousadia dos teclados de Manzarek. Desde a morte de Morrison, em Paris, no ano de 1971, o tecladista foi um dos maiores responsáveis por manter o legado da banda e, principalmente, o aspecto mítico criado em torno deles naqueles loucos anos, além de tornar-se um autor bestseller e manter uma carreira solo razoavelmente ativa, principalmente durante os anos 70, com os discos The Golden Scarab e The Whole Thing Started With Rock & Roll Now It's Out of Control, de 1973 e 1974, e nos anos 2000. Em 2002, voltou a fazer uma turnê para fãs do Doors ao lado do parceiro Robby Krieger. Nos últimos sete anos, lançou três discos, os dois últimos ao lado de Roy Rogers (Ballads Before The Rain e Translucent Blues, em 2008 e 2011. Faleceu na Alemanha, em 2013, aos 74 anos.

50 / Revista Keyboard Brasil


Assista Ray Manzarek, Daryl Hall e Robby Krieger, em “Break On Through” – Jam session.

Revista Keyboard Brasil / 51


Fotos: Divulgação

Vocês, leitores, repararam que na foto ilustrando a matéria, Ray descansava seu braço em um Vox Continental?

baixista habilidoso possa – com bastante cuidado – se aproximar do timbre, dinâmica e duração característicos do Piano Bass.

Embora as observações desse texto possam ser de interesse ou despertar curiosidade para músicos tecladistas, não devem ser de grande valia a longo prazo, devido à sutileza dos fenômenos sonoros de que trata. Ainda que possa parecer que o visual de um Piano Bass "Sparkle Top" agregue muito em um palco, é difícil avaliar se haverá também olhos treinados para ver mais que a beleza do guitarrista cabeludo. Outras fontes de interesse sobre o assunto: h p://www.voxshowroom.com HOPKINS, JERRY & SUGERMAN, DANNY. No One Here Gets Out Alive. Warner Books, 1980, 396 pgs. h p://vintagekeyboardsounds.com h p://www.fenderrhodes.com

* Thomas Garcia Carmona é um amante da música. De 2006 a 2011, foi tecladista da banda Lizzard Doors Cover tendo feito apresentações em várias cidades do Brasil. Poeta, Divergente, 3º Dan de Aikido, Engenheiro Civil (FAAP 1999) e Mestre em Engenharia (POLI-USP 2005). e-mail: thomas@exataweb.com.br 52 / Revista Keyboard Brasil



Sobre os sons

salut salon

Virtuosas do clássico – Unindo a música

Fotos: Divulgação

e o humor em um concerto grandioso!

54 / Revista Keyboard Brasil


DIVERTIDO, EMPOLGANTE, SEXY E INTENSO! É ASSIM A DEFINIÇÃO DE MUITOS PARA O ESPETÁCULO DO QUARTETO DE CÂMARA FEMININO ALEMÃO SALUT SALON QUE ESTEVE NO PAÍS NO INÍCIO DESTE MÊS! Junior Rodrigues & Heloísa Godoy Fagundes

Revista Keyboard Brasil / 55


Assista Salut Salon em “We streit zu viert” | “Competitive Foursome”: Ao som de “O verão”, composta por Antonio Vivaldi, o quarteto cria uma competição musical de maneira acrobática e com um senso de humor especial.

Salut Salon no teatro: Um programa muito rico e intenso.

O quarteto acaba de lançar no Brasil seu mais recente trabalho, intitulado “Live”, através da Warner Classics.

O

divertido quarteto de câmara alemão Salut Salon composto por musicistas bem-humoradas e de verve teatral que se conheceram na infância, alcançaram fama a partir de seus vídeos virais no YouTube - um deles contabilizando quase 18 milhões de visualizações! Angelika Bachmann (violino), Iris Siegfried (violino e vocais), Anne-Monika von Twardowski (piano) e Sonja Lena Schmid (violoncelo) criaram uma maneira diferente de seduzir seu público: unindo teatro, altas doses de paixão, virtuosismo, acrobacias instrumentais,

56 / Revista Keyboard Brasil

fantoches, charme e um grande senso de humor às trilhas de filmes e composições clássicas – um verdadeiro espetáculo

artístico! Com mais de dez anos de carreira, o Quarteto cumpre uma agenda com mais de 120 concertos por ano. São turnês realizadas por toda a Europa, EUA, China, Canadá e América do Sul. No ínicío deste mês e, pela primeira vez, o quarteto desembarcou em terras tupiniquins. O público brasileiro pode prestigiar suas apresentações realizadas no Teatro Bradesco, em São Paulo e no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A seguir, conheça um pouco mais das integrantes do Salut Salon e do fantoche Oscar utilizado pelas musicistas para animar ainda mais o espetáculo.


Angelika Bachmann – nasceu em Hamburgo no ano de 1972. Prodígio violinista, já atuava – aos sete anos – como solista em concertos com o Hamburg Symphony. Angelika é detentora de inúmeros prêmios em competições para jovens músicos e, além de ter estudado Música, também formou-se em Filosofia e Alemão. Em outubro de 2011, foi premiada com a Cruz Federal de Mérito pelo seu envolvimento no trabalho musical com crianças e jovens.

Iris Siegfried – nasceu em Hamburgo no ano de 1972. Vencedora do prêmio para jovens músicos, Iris formou-se em Educação Musical, completando seus estudos na Hochschule für Musik und Theater, em Hamburgo, como gestora cultural. Também formou-se em Direito. Além disso, também foi premiada, em outubro de 2011, com a Cruz Federal de Mérito pelo seu envolvimento no trabalho musical com crianças e jovens.

Anne-Monika von Twardowski – nasceu em Durban (África do Sul) no ano de 1982. Mudou-se para a Alemanha, onde iniciou suas primeiras lições de piano aos seis anos de idade. Estudou na Musikhochschule Lübeck e, através do programa de intercâmbio Erasmus, estudou na Escola Superior de Música da Catalunha, Barcelona. Realizou seu mestrado na Musikhochschule Lübeck em “Master of Arts”. Atualmente é voluntária em trabalhos infantis utilizando a música.

Sonja Lena Schmid – nasceu em Tübingen, no ano de 1981. Estudou violoncelo e música de câmara nos conservatórios de Hamburgo, Amsterdã e Haia. Além de detentora de diversos prêmios, desde 2007 é membro dos ‘‘Ensemble integrales’’ para a música contemporânea.

O boneco Oscar nasceu em Hamburgo e cresceu em um ambiente artístico. Começou a tocar xilofone em uma idade ainda muito precoce. Mais tarde, aprendeu piano, violoncelo e violino. Estudou na famosa escola de circo suíça de Clown Dimitri, onde também aprendeu a arte do teatro de fantoches. Foi assim que ganhou o papel como homem de honra no Quarteto Salut Salon. Quando não está em turnê pelo mundo, ocupa seu tempo escrevendo suas memórias, que serão publicadas este ano, na Feira do Livro de Frankfurt, que acontecerá em Outono.

Assista Salut Salon “We'll Meet Again” – com o fantoche Oscar.

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Dica Técnica

Escravos das

CIFRAS!

58 / Revista Keyboard Brasil


ESTAMOS EM UMA GERAÇÃO DE DEPENDENTES DE CIFRAS. OU SEJA, AS PESSOAS TOCAM AS MÚSICAS SE TIVEREM UMA PASTA DE CIFRAS EM SUA FRENTE! HOJE, DEPOIS DE MUITOS PEDIDOS, RESOLVI DAR DICAS DE COMO BANIR ESSE PESO DESNECESSÁRIO!

Daniel Baaran: é músico autodidata, especialista de produtos da Roland e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

Daniel Baaran

Como músico autoditada, tive de me virar com o que eu tinha à minha disposição. Em 1998, ainda não tínhamos Cifra Club, tutoriais de como tocar na internet e tantas revistas ou songbooks com a música cifrada e um dicionário de acordes para tocar a mesma. Eu me lembro muito bem: pegava uma fita k7 e ouvia a música umas 30 vezes até ‘‘tocá-la de ouvido’’, perfeitamente.

Os tempos mudaram e, hoje, é tudo mais fácil: temos acesso a muita informação na internet e, gratuitamente. Isso foi bom por um lado porque mais pessoas conseguiram realizar seu sonho de tocar um instrumento e, não importa se você toca em uma igreja, profissionalmente ou, apenas, para curtir com seus amigos. Entretanto, com tudo mais fácil e disponível em sites como YouTube, Cifra Club, entre outros, foi criada uma geração de músicos um pouco preguiçosos, já que não existe muito trabalho para tirar uma música de ouvido. Não há nenhum

problema em ‘‘facilitar’’ o caminho. Porém, o grande problema é a dependência que isso gera. Estamos em uma geração de dependentes de ‘‘cifras’’. Vemos nas igrejas e shows várias pessoas que só tocam se tiver na sua frente uma pasta com todas as músicas cifradas. Hoje darei algumas dicas de como se livrar desse peso desnecessário. Primeiramente, você precisa ter um conhecimento mínimo em acordes e campo harmônico, pois passarei umas dicas sobre como formá-los. Sempre falo para os meus alunos que vou ensiná-los a fazer todo os acordes existentes em 5 minutos e, eles sempre duvidam! Mas veja meu raciocínio. Você vai ver como é fácil! Seguindo a tabela que eu criei, vou mostrar ‘‘como pescar e não te entregar o peixe na mão’’.

Revista Keyboard Brasil / 59


TABELA PARA FORMAÇÃO DE ACORDES

Graus

I

II

III

IV

V

VI

C

MI

SOL

C# D

DÓ# Mib

FÁ# SOL# Sib

MI

FÁ#

SOL

SI

DÓ#

Eb

Mib

SOL SOL#

Sib

E

MI

FÁ# SOL#

SI

DÓ#

Mib

F

SOL

Sib

MI

F#

FÁ# SOL#

Sib

SI

DÓ# Mib

G

SOL

SI

G# A Bb

SOL# Sib

B

VII+ SI DÓ

MI

FÁ#

DÓ# Mib

SOL

SI

DÓ#

MI

SOL#

Sib

Mib

SOL

DÓ#

Mib

SI

MI

FÁ# SOL# Sib

Se você observar, a primeira linha possui 7 graus em algarismos romanos. Eles servirão de guia para a formação dos acodes. Embaixo, temos todas as tonalidades, “C’’ é igual a dó, “C#’’ é igual a dó sustenido, “D’’ representa Ré e, assim por diante. Para entender melhor o que cada letra representa, escrevi uma por uma, no exemplo abaixo: A = Lá maior B = Si maior C = Dó maior D = Ré maior E = Mi maior F = Fá maior G = Sol maior Existem algumas notas que ficam entre as notas naturais, identificadas no piano por serem pretas, geralmente chamadas de acidentes ou notas “Enarmônicas”. São notas que tem um som característico, mas não tem nome... Mas, como vou identificá-las? Os acidentes levam sempre o nome do 60 / Revista Keyboard Brasil

vizinho somado a um símbolo indicando qual vizinho cedeu o nome. Estes símbolos são “#’’ (sustenido) ou “b” (bemol). Quando o vizinho, que fica um semitom abaixo sede o nome, usamos o “#”. Quando o vizinho está um semitom acima, usamos “b”. Entre mi e fá não existe nenhum acidente, assim como entre si e dó. Então, ficamos assim: A = Lá maior A#= Lá sustenido ou Bb= Si bemol maior B = Si maior C = Dó maior C#= Dó sustenido maior ou Db= Ré bemol D = Ré maior D#= Ré sustenido ou Eb= Mi bemol maior E = Mi maior F = Fá maior F#= Fá sustenido maior ou Gb= Sol bemol G = Sol maior G#= Sol sustenido maior ou Ab= Lá bemol Existem outros símbolos para dizer se o acorde é maior ou menor. Por exemplo: A = Lá maior ou Am= Lá menor


O “m” minúsculo vem com a função de mostrar que a terça do acorde será diminuída em um semitom. Se o “M’’ for maiúsculo, o acorde continua sendo maior mas, geralmente, não é usado! Vamos, agora, exemplificar todos os acordes com suas respectivas letras. Observe, também, como ficariam os acordes menores: Am = Lá menor A#m= Lá sustenido menor ou Bbm= Si bemol menor Bm = Si menor Cm = Dó menor C#m= Dó sustenido menor ou Dbm= Ré bemol menos Dm = Ré menor D#m= Ré sustenido menor ou Ebm= Mi bemol menor Em = Mi menor Fm = Fá menor F#m= Fá sustenido menor ou Gbm= Sol bemol menor Gm = Sol menor G#m= Sol sustenido menor ou Abm= Lá bemol menor Agora que já sabemos o nome de cada nota ou a letra que a representa, vamos à formação de acorde: Se você pegar o primeiro, terceiro e quinto graus você terá um acorde maior. Veja nos exemplos a seguir: I + III + V

C= Dó + Mi + Sol I + III + V G= Sol + Si + Ré Então, temos a nossa primeira tríade formada, esse é o princípio de tudo. O mesmo acontece com acordes menores. Porém, a diferença é que a terça será menor. Ou seja, meio tom atrás: se ela era “Mi’’, a nota vira “Mi bemol” ; se é “Fá’’ vira “Mi’’e, se é “Fá sustenido” vira “Fá’’. Veja como ficaria isso no acorde: I + IIIb + V Cm= Dó + Mib + Sol I + IIIb + V Gm= Sol + Sib + Ré

Agora vem a prova que você já sabe montar qualquer acorde do universo!!! Se a base é formada pelos acordes menores e maiores, você acrescenta a eles os demais graus que o acorde pede. Se o acorde é um “C7'’, ou seja, dó com sétima, você pega o acorde maior “C= Dó + Mi + Sol” e acrescenta uma sétima menor, ou seja, Si bemol que é meio tom abaixo do sétimo grau maior da tabela. Se o acorde for “C9'’, Dó com nona, você vai contar até nove na tabela que vai te levar de volta para o segundo grau. Então, o acorde fica assim: C9= Dó + Ré + Mi + Sol. Se o acorde tem algum grau menor como, por exemplo, “C5= Dó com quinta menor’’, do mesmo jeito que você voltou meio tom abaixo da terça, você também pode diminuir ou aumentar os outros graus, o acorde citado é um Dó com quinta menor e ficaria assim: C5= Dó + Mi + Fa#. Não importa qual acorde vai Revista Keyboard Brasil / 61


aparecer. Nesse momento, você já sabe montar todos. Bem, já falamos em nomenclatura e como formar acordes. Então, passemos ao que interessa: para se livrar das cifras, você precisa saber qual grau a nota é do campo harmônico. Então, vamos relembrar um pouco sobre campo harmônico. O campo harmônico é muito simples. A mesma tabela de formação de acordes serve para que possamos montar todos os campos. Quando você formava acorde você pegava cada nota para colocar na tríade. Agora, você vai usar as notas como acordes. Campo Harmônico: Graus= I + II + III + IV + V + VI + VII+ Regra = Maior+ menor+ menor+ Maior+ Maior+ menor+ meio diminuto! Seguindo a regra acima, podemos formar qualquer campo harmônico como nos exemplos abaixo: Dó = C + Dm + Em + F + G + Am + B0 Fa# = F# + G#m + Bbm + B + C# + Ebm + F0 Agora que aprendemos ou relembramos tudo sobre acordes, nomenclatura e campo harmônico vou contar para vocês como me livrei das pastas de cifras: sabendo qual grau eu estou no campo harmônico, independente da tonalidade, percebi que existia uma sequência que se repetia em várias músicas. Então, comecei a analizar as músicas que já tocava e percebi que uma eu usava o primeiro, quinto, sexto e quarto grau. Ou seja, se a tonalidade é Dó 62 / Revista Keyboard Brasil

ficaria “C , G , Am , F“. Comecei a notar que várias músicas usavam a mesma progressão harmônica e, com o tempo, já ouvia as músicas através dos graus. Cada dia analisava mais músicas e aplicava essa linha de raciocínio. Percebi, também, que determinados estilos sempre seguiam uma mesma progressão, como o sertanejo universitário, que usa muito a progressão “VI + IV + I + V’’. Se a tonalidade fosse Dó maior, ficaria assim: “Am + F + C + G’’. Experimente! Procure pegar alguma música desse seguimento. Você verá que essa progressão pode ser utilizada em várias músicas.

Para finalizar, escrevi tudo isso para explicar que simplesmente analisando qual progressão harmônica você já usa em suas músicas, é possível chegar a padrões harmônicos de um determinado estilo musical. E, não importa se é música gospel, sertanejo universitário ou Pop. Sempre existirá uma progressão harmônica. E, se você sabe a tonalidade, ficará muito mais fácil ‘‘tirar a música de ouvido’’, advinhar qual é a próxima nota, etc. Então, fica a dica! É muito mais fácil decorar progressões harmônicas que milhares de músicas diferentes! Agora, corre para o teclado e comece a identificar qual grau você está tocando e se esta progressão está presente em outras músicas que você conhece. Participem de minhas redes sociais e aguarde o lançamento do meu site com várias dicas! Tamu Junto!




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