Alunos da Associação Paradesportiva JR Ferraz
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Cada vez mais atuante, o mediador escolar é o profissional que acompanha crianças com necessidades especiais em um ambiente escolar regular, promovendo não só uma melhor adaptação, mas também permitindo que tenham um desenvolvimento mais pleno. Você conhece esse especialista que trabalha em busca de uma sociedade mais aberta e igualitária? Descubra o papel dele na educação dos pequenos especiais. –por helouise melo
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Todos juntos e misturados
Que nenhuma criança é igual a outra e que cada uma delas se desenvolve dentro do próprio ritmo, todo mundo sabe. O que talvez pouca gente se dê conta é que, mesmo com suas peculiaridades, elas devem estar incluídas em todas as esferas sociais, independentemente de suas características, habilidades ou necessidades. Porém, no caso de pequenos que apresentam algum desenvolvimento atípico e que, por isso, precisam de um tratamento diferenciado, a inclusão tem um peso muito maior, já que é por meio dela que dificuldades podem ser contornadas. A integração entre família, especialistas e escola é o princípio básico para que essa inclusão aconteça de forma plena. Principalmente nos dias de hoje, em que se recomenda — aliás, existe a garantia deste direito por lei — para grande parte das crianças com necessidades especiais a frequência em instituições que não sejam especializadas, permitindo, assim, que elas convivam em um ambiente no qual as diferenças sejam de fato respeitadas e superadas. Na opinião de Teresa Ruas, terapeuta ocupacional especialista em desenvolvimento infantil, a opção dos pais por uma escola regular, que possua orientação inclusiva, é a forma mais eficaz de combater atitudes discriminatórias e ajudar a construir uma sociedade mais acolhedora: — A lei é clara: toda criança tem o direito, preferencialmente, de frequentar a escola regular. Digo preferencialmente, pois existem aquelas que necessitam de um espaço de educação especial e/ ou que não podem permear os espaços de uma escola convencional. Aos pais cabe se informar com especialistas sobre o que é melhor para o caso do filho em particular. Nesse sentido, um profissional tem sido cada vez mais presente na inclusão dessas crianças em um ambiente escolar regular, onde estão distantes dos olhos dos pais e são submetidas a novos desafios todos os dias: o mediador escolar. É ele quem acompanha mais de perto a criança dentro da escola e em atividades extraclasse, minimizando dificuldades na comunicação, no relacionamento interpessoal, nas questões de comportamento e aprendizagem. O papel do mediador, que pode ser das áreas de pedagogia, fonoaudiologia, psicologia ou terapia ocupacional, é fundamental quando se trata de inclusão. Segundo Julia Milani, pedagoga e psicomotricista
O desenvolvimento “relâmpago” de Lucca Zamborlini, 7, que tem autismo, de acordo com o pai, Fabio Zamborlini, se deve ao trabalho da equipe do Centro Lumi, em São Paulo. A psicopedagoga Adriana Moral é a especialista do Centro que acompanha Lucca de perto. O menino frequenta, também, uma escola convencional e, para o pai, uma instituição está complementando o trabalho da outra, garantindo, assim, o desenvolvimento de habilidades e capacidades no filho: “Lucca está falando mais, interagindo com as pessoas, escrevendo e lendo perfeitamente. É o melhor aluno em inglês e informática”.
fotos: Divulgação da Associação Paradesportiva JR Ferraz (pág.56 e 58)
Fabio Zamborlini com o filho
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Lucca
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como uma tarefa formal, realizada por pais de pequenos especiais, escola e especialistas. Mas, sim, como parte do dia a dia de todas as famílias que pretendem formar filhos que não só estejam atentos à questão, como trabalhem para diminuir o abismo que a falta de informação e iniciativa podem causar. — Não devemos focar apenas na minimização de sequelas e na promoção do desempenho funcional das crianças, mas na conscientização de outras formas de expressão social. Vale refletir, por exemplo, se você já convidou o amigo do seu filho, com alguma necessidade especial, para a sua casa. Acredito num trabalho em conjunto e não naquele voltado somente para a criança, como se ela fosse o problema, — finaliza a pedagoga e psicomotricista Julia Milani. <<
Cristina Heitzmann com suas alunas de ginástica artística
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d Maior adequação comportamental, pois é papel do mediador orientar sobre o comportamento esperado e mais adequado a cada momento. d Maior possibilidade de interação com as outras crianças, pois é papel do mediador levar a criança para junto do grupo, auxiliando-a a brincar e a interagir com os amigos. d Melhor condição de comunicação, pois é papel do mediador intermediar as dificuldades de linguagem, proporcionando uma comunicação mais eficiente entre a criança e o meio escolar (professores, amigos, funcionários) e vice-versa. d Melhor aproveitamento pedagógico, pois é papel do mediador amenizar as dificuldades no momento da transmissão (professor – aluno), da solidificação (aluno – conteúdo) e da concretização dos conteúdos e conceitos (aluno – desempenho). Fonte: Aline Kabarite, fonoaudióloga, diretora do instituto Priorit.
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A presença do mediador escolar proporciona à criança com necessidades educacionais especiais:
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A técnica de natação e ginástica artística Cristina Heitzmann, da Associação Paradesportiva JR Ferraz, em São Paulo, é muito orgulhosa da atleta Gabriela Garcia, 27 anos, que tem síndrome de Down. Ela já participou de competições nas duas modalidades e trouxe várias medalhas pra casa: “Gabi tem uma garra muito grande e é um exemplo de que qualquer criança é capaz de desenvolver suas habilidades. A prática de esportes por si só já garante uma melhor qualidade de vida e desenvolve muito a autoestima da criança com necessidades especiais”, explica a professora.
do espaço Terceiro Passo, esse profissional realiza o importante papel de mediar a relação da criança com os demais integrantes do grupo, verbalizando, refletindo e adequando, atitudes que devem estar presentes em qualquer cotidiano escolar. Além da presença do mediador, outros fatores também são importantes para que ocorra a inclusão em um ambiente escolar regular. Na opinião da fonoaudióloga Aline Kabarite, diretora do instituto Priorit, esses fatores são: o número reduzido de alunos por sala, o tamanho adequado dos ambientes, ações de suporte e supervisão do corpo docente e o estudo contínuo sobre as dificuldades dos alunos. Ainda de acordo com a especialista é preciso que a escola compreenda que o aprendizado social que ela possibilita a uma criança com necessidade especial se estende para outras vivências: — O convívio diário com as outras crianças, a rotina escolar e as regras de convivência implícitas no dia a dia são fatores estruturantes, que vão organizar e sistematizar comportamentos, moldando atitudes e posturas não somente dentro da escola, mas, principalmente, na vida. Mas não é só isso. O papel de “mediar” relações em prol da inclusão não deve ser apenas encarado