UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA-UNESP FACULDADE DE ARTES, ARQUITETURA E COMUNICAÇÃO- FAAC DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL- DCSO
Relatório final de pesquisa Jornalismo Hiperlocal: inovação e cultura digital
Orientador: Juliano Maurício de Carvalho Co-orientador: Giovani Vieira Miranda Orientando: Henrique Cézar Coutinho da Rocha
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica- PIBIC
Bauru Agosto 2015
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Índice
1 APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
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Objetivos
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Metodologia
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Cronograma
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Fontes consultadas
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2 RESULTADOS OBTIDOS
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Novo paradigma da tecnologia da informação
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Revolução tecnológica em números
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Domicílios brasileiros com acesso
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Pesquisa Brasileira de Mídia 2015
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Novo consumidor de notícias
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Da Convergência à Cultura digital
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Convergência das Mídias
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Cultura Participativa
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Inteligência Coletiva
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Cultura Digital
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O novo cenário do jornalismo
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Financiamento
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Produção Local
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O processo de glocalização
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Jornalismo local
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Jornalismo Hiperlocal
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Desafios do jornalismo hiperlocal
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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4 REFERÊNCIAS
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5 PARTICIPAÇÃO E APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS EM EVENTOS
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6 ANEXOS
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Resumo: Identificar as causas e diagnosticar as primeiras consequências de uma revolução é tarefa desafiadora para qualquer pesquisador. Esse desafio se torna ainda maior quando a revolução da qual falamos é a nova era do jornalismo. Diante de um cenário enigmático, de muitas hipóteses e poucas teses concretas, a única certeza é que a disseminação de novas tecnologias e o surgimento de uma cultura digital já alterou drasticamente os processos de produção e consumo de conteúdos informativos, colocando em dúvida os modelos de negócio das empresas jornalísticas até então vigentes e desafiando o profissional da informação a atuar com eficiência em meio as transformações. Assumindo as dificuldades em claramente apontar as inquietações acima levantadas, como causas e consequências, ou ainda novos modelos de negócio e técnicas de produção, preferimos primeiramente contextualizar a evolução dos processos de produção jornalística até chegar às transformações que estão em curso e ainda devem continuar alterando o cenário por mais algum tempo.
Palavras-chave: jornalismo hiperlocal; cultura digital; jornalismo digital;
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1 APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
A adoção de novas técnicas e tecnologias de comunicação provocou mudanças, sobretudo ao longo do século XX, nos modos de produção, distribuição e consumo da informação, seja ela jornalística, de entretenimento e publicidade. O atual processo de convergência das mídias, com a disseminação de novas ferramentas e plataformas tecnológicas, trouxe novidades para o desenvolvimento das mídias tradicionais. A informatização inicial dos aparatos de produção de conteúdos em diversos meios, e pouco depois o surgimento da rede, provocou no universo dos meios e da cultura comunicativa um ciclo longo de transição tecnológica: há mais de décadas que perdura a conjunção de obsolescência de estruturas técnicas produtivas e de modelos negócios, que alimenta crises mercadológicas e profissionais, enquanto registra uma imensa expansão do mercado de canais e de dispositivos de comunicação. Na prática, as tecnologias atuais derivam dos ajustes estruturais do liberalismo global e alimentam transformações que incidem diretamente sobre os meios de produção e sobre os modos de trabalho material e simbólico. Elas afetam também as relações econômicas, a cultura e as sociabilidades cotidianas, sejam individuais ou coletivas. Sobretudo, são tecnologias sociais e culturais que mudam radicalmente as atividades comunicativas cotidianas, os veículos e os padrões informativos disseminados em larga escala desde o princípio da Modernidade, como eficientes instrumentos “civilizadores” e indutores de novos modos produtivos, criadores de mercados e de novas necessidades ou de hábitos sociais modernos. Também se acredita que a possibilidade de alteração de determinados padrões de produção e consumo seja derivada, principalmente, do fato dos consumidores passarem a dispor dos recursos tecnológicos para interferir nos produtos de comunicação midiática. O desenvolvimento de diversas ferramentas de interatividade permitiu a criação de um movimento crescente de usuários ativos, que passaram a rejeitar a condição de consumidores passivos de conteúdos midiáticos, alterado dessa forma, um ecossistema já traçado até então. Assim, surgiu um contexto no qual parcelas crescentes do público realizam intervenções criativas e alteram os produtos que recebem em seus dispositivos, um fator que dificulta para as indústrias criativas a preservação da integridade dos sentidos de seus conteúdos originais. Dessa forma, o movimento de constante inovação tecnológica dos meios e recursos de comunicação faz com que aumentem
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no território virtual do ciberespaço as intervenções não autorizadas dos usuários em produtos comerciais, assim como as manifestações e produções culturais, autorais ou coletivas. Em um momento quando há uma tendência de homogeneização das identidades globais, de mundialização das culturais e da intensificação dos fluxos informacionais, surge o contraponto, a valorização do local, como se o cidadão, frente a tanta diversidade cultural e de valores, buscasse uma ancoragem na qual possa se referenciar e se identificar. Hall analisa que a “globalização caminha em paralelo com um reforço das entidades locais, embora isso ainda esteja dentro da lógica da compreensão espaço-tempo” (2006, p. 80). Neste contexto que fala ao mesmo tempo em local e em universal, a cidadania ganha novos recortes e surgem novas formas de como abordá-la na vivência jornalística. “Essas dicotomías não recortam apenas os limites espaciais, mas se revestem de um valor simbólico. O movimento da globalização as associa aos pares universal/particular, cosmopolita/provinciano” (ORTIZ, 2003, p. 202). Sendo assim, “uma cultura mundializada não implica o iniquilamento das outras manifestações culturais, ela coabita e se alimenta delas” (ORTIZ, 2003, p. 27). Hall reforça a noção de que concomitante à tendência a homogeneização global, há também a valorização do local em toda a sua riqueza e diversidade Por sua vez, as cidades e a vida urbana apresentam esta diversidade e esta riqueza de culturas, embora não sejam puras, pois “é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural” (HALL, 2006, p. 74).
Objetivos
São objetivos desta pesquisa:
Compreender os atuais processos de produção e consumo de conteúdos informativos em âmbito local tendo como referencial teórico os novos paradigmas sociais, econômicos e tecnológicos consequentes do presente cenário de inovação de plataformas, conteúdos e linguagens.
Levantar e analisar a literatura sobre o tema, incluindo uma análise específica de trabalhos que objetivaram a definição do conceito de jornalismo hiperlocal com interfaces nos modelos digitais;
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Formar literatura de referência e matrizes de análise em Jornalismo Local e suas interfaces nos modelos de organização local;
Inferir, a partir das análises obtidas, os possíveis efeitos das atuais formas de organização e gestão dos veículos de comunicação em um cenário local e regional.
Esboçar cenários para a nova cadeia produtiva dos meios de comunicação locais
Metodologia
A metodologia da presente pesquisa se constituirá na pesquisa bibliográfica e documental, levando-se em conta tanto os documentos primários quanto secundários. Portanto, na mesma perspectiva de Cellard (2008) “(...) ‘documento’ em questão, aqui, consiste em todo escrito, manuscrito ou impresso, registrado em papel. Mais precisamente, consideraremos fontes primárias ou secundárias, que, por definição, são exploradas – e não criadas – no contexto de um procedimento de pesquisa.” (p.297). A valorização do jornalismo local apresenta-se como tendência mundial, na qual comunidades podem se expressar e criar laços de identidade em contraponto à cultura mundializada e à padronização das produções culturais e jornalísticas, em particular. Ao mesmo tempo, o jornalismo hiperlocal é potencializado por meio das plataformas multimídias digitais. Sendo assim, a pesquisa tem a pretensão de analisar as principais transformações nos conceitos de estrutura e supraestrutura dos processos de produção e consumo de conteúdos informativos jornalísticos tendo como referencial teórico os novos paradigmas sociais, econômicos e tecnológicos consequentes do atual cenário de reconfiguração das plataformas, conteúdos e linguagens. Para tanto, busca-se compreender as possíveis alterações no macroecossistema de produção jornalística a partir dos processos de inovações tecnológicas e suas interferências e potencialidades em um contexto local. A revisão bibliográfica aprofundada na literatura nacional e internacional sobre o tema central da pesquisa se constitui de fundamental importância para dar conta das discussões que esta questão tem suscitado e para construir um marco analítico interpretativo dos dados que forem levantados. Ademais, no decorrer deste estudo, será dada atenção especia l ao modo como se propõem e articulam os fluxos de produção informativa em um contexto multimídia e colaborativo na esfera local. Nesta perspectiva, as etapas consistirão em:
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1ª etapa – Seleção de produções científicas, tais como teses, dissertações, publicações em periódicos que realizam um panorama conceitual sobre os processos de reconfiguração da produção jornalística mediante as inovações e inserções tecnológicas; 2ª etapa - Seleção de produções científicas, tais como teses, dissertações, publicações e m periódicos que produzam conteúdo científico de análise do denominado Jornalismo Hiperlocal em níveis internacionais e nacionais, com foco e destaque para os estudos que evidenciem os casos do Estado de São Paulo; 3ª etapa – Análise do material obtido na 1ª e 2ª etapas a fim de compreender as mudanças produzidas no fluxo informativo; 4ª etapa – Análise das tendências de produção jornalística local em um contexto de produção multimídia; 5ª etapa – A partir da quarta etapa, verificar os desdobramentos de um Jornalismo Hiperlocal para a manutenção de um fluxo cognitivo em âmbito local, observando, principalmente, a articulação dos recentes processos tecnológicos com o fluxo de produção local; 6ª etapa – A partir da etapa 5º, contextualizar a pesquisa com casos que demonstrem como está a associação dos processos multimídias com a produção informativo em âmbito local no Estado de São Paulo e, principalmente, na cidade de Bauru, interior de São Paulo; 7ª etapa - Elaboração do relatório final de pesquisa, traçando um panorama sobre os •processos de produção e consumo de conteúdos informativos em âmbito local tendo como referencial teórico os novos paradigmas sociais, econômicos e tecnológicos consequentes do presente cenário de inovação de plataformas, conteúdos e linguagens.
Cronograma
O cronograma inicial proposto para o desenvolvimento da presente pesquisa neste primeiro semestre foi o seguinte:
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Para a próxima etapa da pesquisa, o cronograma será atualizado para se adequar as necessidades. Além do proposto no cronograma acima, serão priorizadas as atividades referentes a exploração das transformações práticas na produção jornalística e a análise de produtos que atualmente aplicam recursos compatíveis com as novas tendências, encerrando com uma contribuição das perspectivas futuras para o setor.
Fontes Consultadas
Para a busca de referências bibliográficas utilizou-se sistemas de busca de artigos acadêmicos, livros e dissertações em repositórios online, além dos sites de órgãos públicos que abordam a temática, sendo os seguintes: Scielo; Portal de Periódicos Capes; Google Acadêmico; Biblioteca Digital da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Biblioteca Digital da Universidade de São Paulo (USP); Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Os resultados encontrados e utilizados até o momento e ncontram-se no item 4 deste relatório, em referência bibliográficas.
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2 RESULTADOS OBTIDOS
O primeiro passo da pesquisa será uma busca com o intuito de sintetizar o processo que ficou conhecido como Revolução da Tecnologia da Informação. Porém, antes de resgatar as transformações ocorridas a partir de meados do século XX, é bom ressaltar que não é nossa intenção, muito menos objetivo, retratar com profundidade, principalmente do ponto de vista técnico e específico, as inovações conquistadas com a revo lução da tecnologia da informação. Não podemos perder nosso ponto de chegada, que é entender as alterações nos processos de produção e consumo de informação nos dias de hoje. De todo modo, faz-se necessário retratar aspectos que foram decisivos para mudar o comportamento não apenas das pessoas, mas sim de toda uma sociedade. Além disso, como Castells diz, desde a produção de seu livro, A sociedade em rede, ao qual vamos recorrer, até a leitura do mesmo, novas tecnologias devem ter surgido e alterado novamente o cenário tecnológico. O mesmo deve acontecer com nossa pesquisa. Ressalvas feitas, podemos avançar. Vivemos atualmente num mundo em constantes mudanças no qual o tempo é escasso e a dinâmica é extremamente acelerada. De forma quase imperceptível, a tecnologia tomou conta do homem e hoje atua como personagem central em uma sociedade cada vez mais inovadora. Entender como chegamos ao atual cenário nos remete a meados dos anos de 1970, quando as novas tecnologias da informação começaram a se difundir pelo planeta. Diferentemente de outras revoluções da história da humanidade, ela disseminou-se em um curto espaço de tempo, cerca de duas décadas, com uma lógica distinta: a mente humana passou a ser força direta de produção ao apropriar-se da tecnologia, aplicando-a imediatamente em seu próprio desenvolvimento. (CASTELLS, 1999) As transformações são tão intensas que Castells (1999) sugere o surgimento de um novo paradigma tecnológico, apontando para uma transformação da cultura material da soc iedade, tendo como base a tecnologia da informação. Estabelecendo um paralelo, a sociedade passa a ser digital, a informação é produzida, armazenada, resgatada e transmitida. O cerne da transformação que estamos vivento na revolução atual refere-se às tecnologias da informação, processamento e comunicação. A tecnologia da informação é para esta revolução o que as novas fontes de energia foram para as revoluções industriais sucessivas, do motor a vapor à eletricidade, aos combustíveis fósseis e até mesmo à energia nuclear, visto que a geração e
10 distribuição de energia foi o elemento principal na base da sociedade industrial. (CASTELLS, 1999, p. 68)
O desenvolvimento da microeletrônica, fator fundamental para desencadear as transformações na tecnologia da informação, começou por volta de 1876 com a invenção do telefone, por Bell, passando pelo surgimento do rádio, em 1898, por Marconi. Já em 1940, entretanto, nos Estados Unidos da América e na Grã- Bretanha, surgiam os primeiros planejamentos de computadores do mundo. O processo evolutivo, contudo, se deu a partir da Segunda Guerra Mundial com as grandes descobertas eletrônicas, o primeiro computador programável, depois o primeiro computador pessoal, grande avanço tecnológico responsável por alavancar o mercado empresarial, acelerando o desenvolvimento da máquina. (ASA BRIGGS & PETER BURKE, 2002). Castells (1999, p. 76) defende, contudo, que “só na década de 1970 as novas tecnologias da informação difundiram-se amplamente, acelerando seu desenvolvimento sinérgico e convergindo em um novo paradigma”. Embora a história da tecnologia não seja o único elemento na história da mídia da segunda metade do século XX, os computadores devem vir em primeiro lugar em qualquer análise histórica, pois logo que deixaram de ser considerados simples máquinas de calcular ou úteis acessórios de escritório — e isso só aconteceu no começo da década de 1970 —, eles passaram a fazer com que todos os tipos de serviços, e não somente os de comunicações, tomassem novas formas. (ASA BRIGGS & PETER BURKE, 2002, p. 273).
Outro aspecto mais que relevante na curta, porém intensa, história da revolução da tecnologia da informação é a criação da internet. Seu desenvolvimento se deu principalmente por necessidades militares, quando a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA) elaborou um sistema de comunicação invulnerável a ataques nucleares. Mais tarde, a tecnologia digital evoluiu o sistema e permitiu o empacotamento de diversas mensagens (texto, áudio, imagem), dando possibilidade para a comunicação global. (CASTELLS, 1999, p. 82).A partir daí, o modelo elaborado pela ARPA, denominado ARPANET, que passou a funcionar entre universidades em 1969, foi evoluindo para atender as demandas que começavam a surgir. Ainda na década de 1980, a rede das redes que fora formada passou a se chamar Internet.Um novo salto tecnológico ocorreu no início da década de 1990 com um novo aplicativo capaz de superar as limitações de transmissão de informação. O Word Wibe Web (WWW) passou a organizar o conteúdo
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disponível nas redes por informação e não mais localização, facilitando as buscas e abrindo de vez as portas da internet para toda a sociedade, até então restrita aos bancos das universidades. Novo paradigma da tecnologia da informação
Para caminharmos em direção a um entendimento amplo a respeito da transformação tecnológica pela qual passamos, faz-se necessário apresentar os cinco aspectos principais do paradigma da tecnologia da informação, também de acordo com Castells (1999). A primeira característica é a informação como matéria prima do paradigma, sendo tecnologias para agir sobre a informação. O segundo aspecto faz referência a penetração das novas tecnologias nas vidas das pessoas, tendo em vista a essência humana que carece d e informação e acaba por ser moldada pelo novo meio. A terceira diz respeito à integração das várias redes existentes, enquanto a quarta característica trata dos sistemas de redes, capazes de influenciar organizações e estimular suas respectivas reorganizações. Por fim, o quinto e último aspecto trata da convergência das tecnologias específicas, viabilizando um sistema altamente integrado. Utilizando os conceitos de Freeman (1998), Castells aponta que a mudança contemporânea de paradigmas pode ser vista como uma transferência de uma tecnologia baseada principalmente em insumos baratos de energia para uma outra que se baseia predominantemente em insumos baratos de informação derivados do avanço da tecnologia em microeletrônica e telecomunicações. (Freeman, apud CASTELLS, 1999, p. 77)
Em meados da década de 1960, o desenvolvimento de tecnologias para suprir as carências por comunicação então existentes ainda encontravam-se em estágio experimental de laboratório, embora a teoria estivesse bem avançada. Durante a década de 1980, quando possibilidades passaram a surgir e serem testadas, o sentimento de dúvida a respeito do sucesso que a tecnologia faria ainda persistia (ASA BRIGGS & PETER BURKE, 2002). O fato é que a tecnologia digital prevaleceu definitivamente na maioria dos ramos das comunicações, emergindo uma nova Era. As últimas considerações de Manuel Castells que nos interessam nesse momento apontam para a concretização de suas expectativas. Já no final da década de 1990, a computação se difundiu e começou a dar origem a diversos dispositivos, vários deles móveis, que foram aumentando as
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possibilidades de conexão. O aprimoramento dos processadores e os novos softwares permitiram ampliar a ideia de redes e possibilitar o acesso em todos os locais com conexão disponíveis. Embora o novo sistema ainda estivesse em processo de formação enquanto eu escrevia este livro, os usuários já tinham acesso à rede com uma série de aparelhos especializados, de finalidade única, distribuídos em todos os setores da vida e das atividades em casa, no trabalho, em centros de compras e de entretenimentos, em veículos de transporte público e, por fim, em qualquer lugar. Esses dispositivos, muitos deles portáteis, comunicam-se entre si, sem necessidade de sistema operacional próprio. (CASTELLS, 1999, p. 89)
De certa forma, a Revolução Tecnológica da Informação é diferente das revoluções tecnológicas anteriores porque autoaplica imediatamente a tecnologia e o conhecimento gerado no desenvolvimento contínuo dos sistemas informacionais de conexão mundial (CASTELLS, 1999). Nesse novo cenário em consolidação, com destaque para a formação de um novo público agente, o rádio e a televisão, por exemplo, duas das principais mídias em termos de penetração e alcance, não escaparão dos rituais coletivos do ciberespaço, até porque o projeto de digitalização dos dois veículos demorou demais e deu tempo suficiente para a internet se consolidar como meio essencialmente interativo, mais abrangente, portátil e popular, a cada dia que passa. Os internautas reeditam conteúdos, modificam ferramentas, reeditam ambientes virtuais e conteúdos publicados, reelaboram as interfaces entre pessoas e dispositivos e sempre reivindicam recursos mais eficientes e amigáveis para a interatividade e a comunicação multilateral. Agem em movimentos coletivos ou ações individuais, e com distintos intentos, que vão modificando os formatos, a linguagem e até a forma de recepção dos antigos meios. Dessa forma, o púb lico atual experimenta e valoriza cada vez mais, a liberdade de escolha e de fruição que adquiriu com os meios interativos e não lineares. Sendo assim, o usuário dispõe de conteúdos em muitos formatos e linguagens, que estão armazenados em variadas plataformas atendidas por ferramentas bastante amigáveis, que ele pode utilizar conforme suas necessidades ou disponibilidade de tempo para fruição. Com isso, “pode optar por tempo real ou diferido, não tem mais que aceitar as regras da periodicidade típica da comunicação impressa ou das grades lineares de programação do rádio e da televisão” (MAGNONI, 2010, p. 07).
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Sendo assim, no Jornalismo, a ideia de mudanças é um processo multidimensional que afeta os âmbitos tecnológicos, empresarial, profissional e editorial dos meios de comunicação, propiciando a integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente independentes, de forma que os jornalistas passem a elaborar conteúdos que sejam distribuídos em múltiplas plataformas, com formatos e linguagens apropriadas para cada uma delas (GARCÍA AVILÉS; SALAVERRÍA; MASSIP, 2008, apud BARBOSA, 2009). Ramon Salaverría e Samuel Negredo (2008) destacam que a integração das redações é apenas o elemento mais tangível do processo de convergência no jornalismo, mas que esse é mais complexo. O modelo vai além da reestruturação de cargos e redução de equipe: a rotina e o fazer jornalístico é que se tornam a questão central. Aventurar-se em um processo de convergência exige uma reestruturação geral de toda a empresa. (...) Limitar o processo a fusões de redações sem ter realizado outras mudanças estruturais parece, portanto, um erro estratégico grave. Quando isso acontece, a integração serve apenas para um objetivo a curto prazo de redução de custos e aumento da produtividade, por mais que se tente afirmar o contrário (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 16, tradução do autor).
Diante desse cenário, há uma percepção recorrente de que o futuro de inúmeros modelos de negócio, inclusive o jornalístico, está nas mãos daqueles que se dispõem a entender como tecnologias funcionam (BRIGGS, 2010; ROYAL, 2010) e assim não é novidade que desde os primórdios da evolução tecnológica, a atividade jornalística tem sido impactada constantemente pelas introduções de novas formas de produção e distribuição de conteúdo de relevância social. Contudo, no campo do jornalismo, somente agora, existe uma percepção da importância de entender como as tecnologias modificam ou modificarão os modos do fazer e consumir jornalismo. (LIMA JUNIOR, 2011, p. 47)
Salaverría (2003) sintetiza as quatro dimensões centrais da convergência jornalística: a empresarial, a tecnológica, a profissional e a comunicativa. As reconfigurações em redações de empresas jornalísticas, a partir da noção de integração entre essas duas produções, iniciaram em países nórdicos e com experiências pontuais nos Estados Unidos. Dessa forma, em seu passo de estruturação, a convergência tecnológica acabará por promover mudanças significativas nos mais variados modelos de produção e negócio, incluindo o jornalístico. Logo,
14 como a convergência jornalística é um processo em evolução contínua, de aspecto complexo, o desenvolvimento de pesquisas que estudem casos distintos, de regiões diferentes para conhecer as rotinas de produção em redações integradas, permitirá esclarecer a(s) forma(s) configuradora(s) da convergência jornalística no Brasil, seus modelos, como é o desenvolvimento e implantação das ações relativas às distintas áreas da convergência jornalística e o grau de convergência existente (BARBOSA, 2009, p. 51).
Dessa forma, o fazer jornalístico em cenários de macroanálise passa por mutações profundas no início do século 21 e as empresas sinalizam que estão revendo suas estratégias editoriais e os seus tradicionais modelos de negócios. No dossiê “Jornalismo Pós-Industrial: Adaptação aos novos tempos” (“Post-Industrial Journalismo: adapting to the present”, 2012), C.W. Aderson, Emily Bell e Clay Shirky, membros do Tow Center for Digital Journalism da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, fazem importantes análises sobre o cenário atual do jornalismo norte-americano e são apontados importantes aspectos que auxiliam a compreender essa nova realidade.
Revolução tecnológica em números
Atualmente, cerca de três bilhões de pessoas, ou cerca de 40% da população mundial, possuem acesso a internet, de acordo com relatório da UIT (União Internacional de Telecomunicações), agência especial da ONU para assuntos de telecomunicações. Os dados do estudo mostram um forte crescimento dos usuários, com os índices chegando a dobrar nos últimos 5 anos, com elevações principalmente em países em desenvolvimento. Quando o assunto é a plataforma utilizada para acessar o serviço, os números também impressionam. Dados do estudo GlobalWebIndex, de 2014, apontam que 65% dos usuários de internet, cerca de 944 milhões de pessoas, utilizam o celular para acessar a web, enquanto outros 29% de usuários, ou 450 milhões de pessoas, acessam via tablet. Segundo projeção realizada pela consultoria Britânica Enders, em 2014, o número de smartphones no mundo esteve muito próximo de superar os de computadores. Enquanto no mundo estima-se que existam 1,5 bilhão de máquinas, o ano passado teria fechado com 1,4 bilhão de smartphones, com grande possibilidade de ultrapassar os tradicionais computadores, devido a curva ascendente dos apararelhos móveis. Outra empresa especializada, a eMarketer, também
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divulgou estudo 1 em 2014, porém mais otimista. Já em 2014 teríamos 1,75 bilhão de dispositivos móveis, atingindo a marca de 3 bilhões de aparelhos acessando a internet em 2017. No mercado de tablets, um relatório recente novamente da eMarketer, projetou que neste ano de 2015 o mundo deve possuir mais de 1 milhão de usuários da plataforma.
Domicílios brasileiros com acesso
Uma pesquisa sobre o uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil (TIC Domicílio 2011), do Comitê Gestor da Internet (CGI) no Brasil, aponta que quase metade dos domicílios do país tem computador, passando de 35% em 2010 para 45% em 2011. Paralelamente, o acesso à internet, em domicílio ou outros meios, como as lan houses, também teve um amento de 11 pontos percentuais e atingiu a marca de 38% da população no mesmo período. Os dados da pesquisa, que entrevistou 25 domicílios em 317 cidades do país, revelam que o acesso à internet ainda é baixo, no entanto as conexões rápidas por banda larga estão presentes em 68% dos domicílios com acesso, sendo 18% em banda larga móvel, percentual que pela primeira vez ultrapassou o acesso discado. Uma possível justificativa para a baixa disseminação da internet nos lares brasileiros seja o preço da banda larga. O estudo TIC Domicílios 2011 traz que 22% dos domicílios com acesso à rede pagam até 40 reais por mês pelo serviço. Nesse sentido, a pesquisa confirma que a proporção de domicílios com acesso à internet está diretamente relacionada ao nível socioeconômico, uma que 96% dos pertencentes à classe A e 76% da classe C disseram ter internet em casa, frente a 35% e 5% nas classes C e D/E respectivamente. Uma pesquisa da ‘boo-box: Tecnologia de Publicidade & Mídias Sociais’ indica que as lan houses são o principal ponto de acesso para 3% dos internautas da Geração Digital com maior concentração nas “classes” D e E, camadas mais pobres que ainda não dispõem de computador e de conexão em casa. A pesquisa ainda aponta que 8% dos jovens da classe E usa a internet via celular, enquanto na classe B esse número cai para 2%. A TIC Domicílios 2011 apontou que, embora o número de computadores sem acesso à internet no Brasil ainda seja considerável, as lan houses perdem espaço. Em um espaço de quatro anos, o acesso da população nessas localidades
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Estudo divulgado através de reportagem disponível em: http://idgnow.com.br/blog/circuito/2014/01/16/2014 -o-anoem-que-teremos-mais-smartphones-que-pcs-no-mundo/
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passou de 49% para 28%, no entanto 60% dos internautas das classes D e E veem as lan houses como principal local de conexão, frente a 6% que utilizam os telecentros, locais com acesso gratuito.
FIGURA 1 - Proporção De Domicílios Com Acesso À Internet Em 2011/2012
Fonte: NIC.br - nov 2011 / jan 2012 1 Exclu indo-se o acesso via telefone celular no do micílio. 2 Base: 25 000 do micílios.
Em sintonia, os resultados da primeira pesquisa TIC Kids Online Brasil de 2011 revelou que os jovens constituem um dos principais grupos sociais que têm utilizado os recursos da Internet. Em números, 47% dos jovens entre 9 e 16 anos usam a Internet todos os dias ou quase todos os dias. O local de acesso mais citado foi a escola (42%), 40% afirmaram que utilizam a Internet na sala de casa ou outro ambiente coletivo do domicílio, 35% na lan house e 18% pelo celular. Entre as atividades realizadas na Internet pela faixa etária analisada, 82% dos entrevistados citaram fazer trabalho escolar, 68% visitam uma rede social, 66% assistem a vídeos
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no YouTube e 54% jogam online e usam mensagens instantâneas. Ainda segundo os Dados da TIC Domicílios 2011, 57% dos jovens de 10 a 15 anos dizem acessar a internet diariamente, número elevando quando comparado ao percentual de 66% levantado em âmbito nacional do total de entrevistados. Números ainda mais surpreendentes quando consideramos a faixa de 16 a 24 anos e seu percentual de 66% que diz acessar a rede diariamente. Esses são números que surpreendem os pertencentes a outras gerações. Mesmo anunciados como um grupo importante para as pesquisas sobre as relações pessoais, os integrantes da Geração Y, nesse início de século, estão cada vez mais associados às novas formas de comunicar na sociedade contemporânea, e a internet tem um importante papel nesse aspecto. Comunicar por meio dos recursos da “Net” deixou de ser apenas um hábito ou tendência, alcançando o nível de uma realidade já estabelecida. Os dados percentuais apontados pela TIC Kids Online Brasil de 2011, juntamente com os dados da TIC Domícilos 2011, permitem deduzir que a utilização da internet pela Geração Digital objetiva a busca de atividades que proporcionam lazer e entretenimento. Dos entrevistados pela TIC Domicílios 2011, 90% dos jovens de 10 a 15 anos confirmaram utilizar a internet para o lazer e 89% na faixa etária de 16 a 24 anos, percentuais acima dos registros no total da pesquisa (85%). Das atividades de lazer citadas na faixa de 10 a 15 anos, em primeiro lugar aparecem aqueles que utilizam a internet para jogar games on-line (73%), seguido por aqueles que assistem filmes ou vídeos (63%) e pelos que fazem download de músicas (47%). De 16 a 24 anos, em primeiro lugar, com 67%, aparecem aqueles que dizem utilizar a internet para assistir a filmes ou vídeos, seguidos pelos que fazem download de músicas (64%) e pelos que jogam conectados (46%). Entre as atividades de lazer e entretenimento, também foram citados ler jornais e revistas; ouvir rádio; baixar filmes; assistir à televisão em tempo integral; baixar softwares, divulgar vídeos em sites como o Youtube; fazer atualizações de blogs de fotografias e participar de ambientes de realidade virtual. No entanto, a internet é citada como principal canal para a busca de informações e serviços on- line por 88% dos entrevistados pela TIC Domicílios 2011 na faixa etária de 10 a 15 anos, percentual que sobe para 88% caso condiremos os jovens entre 16 e 24 anos pertencentes à geração em análise. A pesquisa da ‘boo-box: Tecnologia de Publicidade & Mídias Sociais’ também aponta que a Internet é a fonte de informação mais utilizada por jovens entre 18 e 25 anos da classe A, sendo que 53% deles se informam por meio de blogues e sites de notícias. O
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relatório também informa que os jovens passam em média 31 horas conectados à Internet por semana e o acesso é feito em casa por 74%, seguido pelo acesso no trabalho por 20% dos entrevistados pela pesquisa. Nesse sentido, não podemos nos esquecer que o ambiente da internet potencializa a características multitarefa dos jovens da Geração Y. Ao mesmo tempo em que os usuários se informam em uma página, janelas estão abertas simultaneamente para garantir os momentos de entretenimento e lazer; pluralidade de ações que eles estão acostumados a conviver.
Pesquisa brasileira de Mídia 2015
Outro estudo interessante e divulgado em janeiro de 2015 foi a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 2 (PBM 2015), encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e realizada pelo Ibope em novembro de 2014. Os dados evidenciam um aumento na frequência em que o brasileiro utiliza a internet, ficando, em média, 4h59 por dia durante a semana e 4h24 nos finais de semana. Um dos indicadores mais relevantes mostra um crescimento no percentual de pessoas que acessam a internet todos os dias, passando de 26%, no levantamento anterior, para 37%. A plataforma utilizada para o acesso a internet também está sofrendo alterações, de acordo com a PBM 2015. O número de usuários que acessam a rede pelo celular saltou de 40% em 2014 para 66%, ocorrendo também queda entre aqueles que utilizam o computador – passando de 84% para 71%. Os internautas que preferem o tablet ainda são minoria, variando de 8% para 7% em 2015. As redes sociais, por sua vez, influenciam consideravelmente os números de acessos, sendo que 92% dos internautas estão conectados principalmente no Facebook (83%), no Whatsapp (58%) e no Youtube (17%).
Novo consumidor de notícias
Com tantas informações a respeito de transformações tecnológicas e surgimento de novas tecnologias, o que podemos assimilar de imediato é que passamos não apenas por uma mudança dos meios de comunicação. O que Castells (1999) chama de novo paradigma da tec nologia da informação, que se evidenciam com os números de usuários de dispositivos integrantes das novas
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Pesquisa acessada em 02/ 03/ 2015 e d isponível em: https://drive.google.com/ file/d/0B1DvCsJBzfMTUllvZlptOUVUemc/view?usp=sharing
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tecnologias, aponta para uma sociedade que se transformou, alterando completamente o comportamento de seus integrantes. Entender esse novo comportamento é fundamental para conseguirmos prosseguir com nossa pesquisa, tento em vista que é exatamente para esse consumidor que teremos que produzir notícias, de acordo com seus interesses e seus dispositivos, adequando linguagem, texto, recursos gráficos e audiovisuais. E antes de nos aprofundarmos nesse aspecto, que é sem dúvida o ponto alto de nossa pesquisa, só podemos afirmar que atender esse ‘ciberleitor’ de notícia é extremamente diferente do fiel leitor de jornal, que por anos foi nosso assinante e aguardava todas as manhas para ficar informado. Jenkins (2008) interpreta essa emergência dos consumidores midiáticos como um momento de renegociação e reconfiguração dos papéis e das relações de poder entre produtores e consumidores. A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras (JENKINS, 2008, p. 30)
Para o autor, cada vez mais o consumidor participa ativamente na cultura de mídia, a medida que aprende a utilizar as ferramentas digitais e estabelece contato com outros consumidores por meio de fóruns de discussão e comunidades virtuais. Assim, o consumidor experimenta novas formas de sociabilidade e exerce uma participação politicamente ativa dos indivíduos. O poder dos consumidores midiáticos não se limita a capacidade adquirida de eliminar um concorrente de um reality show ou de circular na internet uma paródia de um seriado favorito feita entre os amigos, por exemplo. Para Jenkins, a cultura participativa permite ao indivíduo que ele desenvolva sua habilidade de tomar decisões e de aumentar sua consciência social. O poder da participação vem não de destruir a cultura comercial, mas de reescrevê-la, modificá-la, corrigi-la, expandi-la, adicionando maior diversidade de pontos de vista, e então circulando-a novamente, de volta às mídias comerciais. Interpretada nestes termos, a participação torna-se um importante direito político... O surgimento de novas tecnologias sustenta um impulso democrático para permitir que mais pessoas criem e circulem mídia. Às vezes a mídia é planejada para responder aos conteúdos dos meios de massa – positiva ou negativamente – e às vezes a criatividade alternativa chega a lugares que
20 ninguém na indústria da mídia poderia imaginar (JENKINS, 2008, p. 326).
Nas possibilidades de novas interações possíveis no ambiente online, a identificação dos jovens com os recursos oferecidos é cada vez mais ampliada e específica em determinados campos de busca.
Da Convergência à Cultura digital
Henry Jenkins (2001, 2004 e 2009) destaca que o processo de convergência das mídias é mais do que uma mudança tecnológica e apresenta uma abordagem cultural, daí sua concepção ser denominada de Cultura da Convergência. Para o autor, a convergência significa a convivência das mídias emergentes com as anteriores, e das empresas voltadas para a produção de conteúdo com seus públicos. A novidade está na inclusão da audiência como um fator decisivo para compreender a convergência, além não da interrelação das mídias digitais e analógicas:
a convergência está ocorrendo dentro dos mesmos aparelhos, dentro das mesmas franquias, dentro das mesmas empresas, dentro do cérebro do consumidor e dentro do mesmo grupo de fãs. A convergência envolve uma transformação tanto na forma de produzir quanto na forma de consumir os meios de comunicação (JENKINS, 2009, p. 44)
Em sua abordagem, Jenkys define convergência como sendo a “palavra que define mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias circulam em nossa cultura” (JENKINS, 2009, p. 377) e destaca que algumas das ideias comuns expressas por este termo incluem o fluxo de conteúdos através de vários suportes midiáticos, a cooperação entre as múltiplas indústrias midiáticas, a busca de novas estruturas de financiamento de mídias, e o comportamento migratório da audiênc ia, que vai a quase qualquer lugar em busca das experiências de entretenimento que deseja. Talvez, num conceito mais amplo, a convergência se refira a uma situação em que múltiplos sistemas midiáticos coexistem e em que o conteúdo passa por ele fluidamente. Convergência é entendida aqui como um processo contínuo ou uma série contínua de interstícios entre diferentes sistemas midiáticos, não uma relação fixa (JENKINS, 2009, p. 377).
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No processo de convergência, os meios de comunicação não são apenas sistemas de distribuição e de tecnologia, mas são sistemas culturais. Assim a convergência de mídia ultrapassa a barreira tecnológica e altera a relação existente entre mercado, gêneros, públicos e tecnologias. Em um sentido mais amplo, a convergência vai além de qualquer aparato tecnológico e afeta, essencialmente, as interações sociais de cada consumidor. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembrem-se disso: a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final (JENKINS, 2009, p. 30)
Desse modo, a convergência passa a ser um fenômeno não fragmentado e compreende um processo interligado pelas dimensões tecnológica, econômica, social, orgânica, cultural e global. A convergência tecnológica se refere à digitalização dos tipos de mídias como um processo capaz de “expandir o relacionamento potencial entre elas e capacitá- las para o fluxo por meio de plataformas” (JENKINS, 2001, p. 91). A convergência econômica compreende a integração não oligopolizada da indústria de mídia, de modo a desencadear uma reformulação na cadeia simbólica de produção e promover novas estratégias sinérgicas e de experiências transmidiáticas, ou seja, com o uso de diversas plataformas de mídias. Já a concepção social ou orgânica ressalta o perfil do público, como a concepção da multitarefa como um hábito quase que inerente às próximas gerações. A convergência cultural compreende “a explosão de novas formas de criatividade na intersecção de várias tecnologias de mídias, indústrias e consumidores”, o que resulta na denominada cultura participativa e no na possibilidade de geração de conteúdos por meio de múltiplas plataformas. Por fim, a convergência global resultante da “hibridização cultural” e está vinculada à circulação em níveis macros do conteúdo midiático prod uzindo, provendo, dessa forma, novas formas de cidadania (JENKIS, 2001). Na abordagem de Jenkins (2009), três aspectos são integrantes da concepção da Cultura da Convergência: (1) convergência das mídias; (2) cultura participativa; e (3) inteligência coletiva.
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Conve rgência das Mídias
A convergência das mídias pode ser entendida como a junção entre os diferentes sistemas midiáticos e a dinâmica entre os produtores e consumidores de mídia. O autor estabelece que essa é uma dinâmica imprevista devido ao papel mais ativo que o consumidor assume, também podendo ser considerando um potencial produtor.
A convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembrem-se disso: a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final. Não haverá uma caixa preta que controlará o fluxo midiático para dentro de nossas casas. Graças à proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática e telecomunicações, estamos entrando numa era em que haverá mídias em todos os lugares. A convergência não é algo que vai acontecer um dia, quando tivermos banda larga suficiente ou quando descobrirmos a configuração correta dos aparelhos. Prontos ou não, já estamos vivendo numa cultura da convergência (JENKINS, 2009, p. 43)
Em meio à importância dos avanços tecnológicos e das corporações, Jenkins (2009) ressalta a importância do público; um importante elemento para a concepção da convergência das mídias. “A convergência, como podemos ver, é tanto um processo corporativo, de c ima para baixo, quanto um processo de consumidor, de baixo para cima. A convergência corporativa coexiste com a convergência alternativa” (JENKINS, 2009, p. 46). Nesse sentido, a convergência corporativa faz parte do conjunto de estratégias e ações de cooperação entre empresas de informação e entretenimento, fusões e diversificação midiática para a produção e distribuição do conteúdo por meio de diversas plataformas. Já a convergência alternativa é o “fluxo informal e às vezes não autorizado de conteúdos midiáticos quando se tornam fácil aos consumidores arquivar, comentar os conteúdos, apropriar-se deles e colocá- los de volta em circulação” (JENKINS, 2009, p. 37). A convergência alternativa pode ser observada nas criações coletivas livres e improvisadas, q ue são bem comuns na produção amadora e no compartilhamento pela internet, de vídeos, de músicas, de livros e de jogos eletrônicos. É um hábito corriqueiro de internautas, que que se proliferou com a expansão da rede e das comunidades virtuais, é um processo criativo aberto que ocorre quase sempre sem o consentimento dos autores.
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Em alguns casos
a convergência corporativa e a convergência alternativa se fortalecem mutuamente, criando relações mais próximas e mais gratificantes entre produtores e consumidores de mídias. Às vezes, essas duas forças entram em guerra, e essas batalhas irão redefinir a face da cultura popular americana (JENKINS, 2009, p. 46).
Para Jenkins (2004), diante desse novo cenário é preciso repensar as relações entre os produtores e os consumidores de mídia, incluir estratégias de busca de feedback do público e reconhecer a importância de um relacionamento produtivo como fator de mudança nos planos de negócios. Os processos de convergência, que atingem as mais variadas mídias, acabam por estabelecer um novo ecossistema norteado por novos arranjos produtivos e de negócios.
Cultura Participativa
O fenômeno da convergência não é viabilizado apenas pela presença de aparelhos sofisticados, mas sim por meio das interações sociais dos consumidores individuais dos conteúdos das mídias, ou seja, faz parte do comportamento desse consumidor receptor e emissor, relação quase sem pontos de limites. No entanto, ao invés de se pensar em um total desligamento da mídia alternativa emergente da tradicional mídia corporativa, faz se necessário repensar o fluxo existente entre as duas de modo que esse não fique limitado a uma relação de domínio e subordinação e, de certo modo, em algum ponto, claro, haverá convergência. Uma caixa. Uma tela. Você vai checar os emails, fazer comprar e verificar a lição de seu filho na mesma tela. Este talvez seja o momento mais perigoso para o movimento democrático que está desabrochando – o momento em que as corporações e os anunciantes ameaçarão cooptar e corroer a ética democrática on-line. O futuro talvez dependa do que irá exercer maior domínio sobre essa caixa: as regras da velha radiodifusão ou o poder popular da internet. (JENKINS, 2009, p. 292)
Nesse aspecto, a convergência dos meios de comunicação proporcionada pelas novas tecnologias cria uma nova relação entre o público e os produtores de conteúdo:
24 a expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo. Nem todos os participantes são criados iguais. Corporações – e mesmo indivíduos dentro de corporações de mídia – ainda exercem maior poder do que qualquer consumidor individual, ou mesmo um conjunto de consumidores. E alguns consumidores têm mais habilidades para participar dessa cultura emergente. A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. (JENKINS, 2009, p. 30)
Esses pontos, em paralelo à discussão da cultura convergente, estão relacionados ao que o autor denomina cultura participativa em que “fãs e outros consumidores são convidados a participar ativamente da criação e da circulação de novos conteúdos” (JENKINS, 2009, p. 378). Se o ambiente digital era marcado pela expansão das possibilidades de ações das atividades dos indivíduos e amplia o seu alcance, hoje o ambiente da convergência permite reforçar um sistema de interatividade e de significados mediante a multiplicação das ferramentas de busca e de produção, tudo isso, claro, graças a uma gama de ferramentas e uma liberdade jamais antes visualizada. Com isso, podemos afirmar que a convergência dos meios acaba por criar um mercado de nicho no qual a disponibilidade de conteúdo cresce rapidamente. De acordo com o autor, a cultura participativa compreende as cooperações feitas pelo público a partir de estratégias promovidas pela mídia, como seções destinadas à colaboração do internauta, como as ações desvinculadas das empresas, tais como as paródias amadoras de filmes, vídeos de música e programas de televisão. Um processo que foi potencializado e pulverizado pela concepção do ambiente virtual. Destacam-se nesse processo os denominados fãs que contribuem tanto para a promoção de um fluxo comunicativo diverso daquele das mídias massivas, quanto para a interação entre os grupos e comunidades, além da promoção de ações por meio de corporações de mesmo fim simbólico: embora a nova cultura participativa tenha raízes em práticas que, no século XX, ocorriam logo abaixo do radar da indústria das mídias, a web empurrou essa camada oculta de atividade cultural para primeiro plano, obrigando as indústrias a enfrentar as implicações em seus interesses comerciais. Permitir aos consumidores interagir com as mídias sob circunstâncias controladas é uma
25 coisa; permitir que participem na produção e distribuição de bens culturais – seguindo as próprias regras – é totalmente outra (JENKINS, 2009, p. 190).
O movimento dos fãs em uma rede conectada acaba por criar um novo espaço de interação e de criação conjunta, de modo que os agentes passivos característicos dos movimentos midiáticos tradicionais fiquem à margem para destacar um sujeito cada vez mais ativo coletivamente: O culto dos fãs cresceu nas últimas décadas por meio da organização de convenções, das revistas underground e do comércio de vídeos caseiros. A internet acelerou esse crescimento ao oferecer um meio no qual os fãs podem conversar – trocando mensagens escritas – uns com os outros e, muitas vezes, com os produtores, escritores e astros das séries em exibição. A internet acelerou esse crescimento ao oferecer um meio no qual os fãs podem conversar – trocando mensagens escritas – uns com os outros e, muitas vezes, com os produtores, escritores e astros das séries em exibição ( MURRAY, 2006, p. 52).
No cenário midiático contemporâneo, os fãs têm ocupado um papel conflituoso e contraditório. Estudiosos, profissionais e pesquisadores de comunicação estão ao mesmo te mpo fascinados, otimistas, amendrontados, curiosos e inquietos em relação a esse novo tipo de consumidor midiático. A princípio, ocupantes do fim da cadeia produtiva, coadjuvantes passivos no processo de comunicação e objetos de manipulações, os consumidores passam então, a adquirir caráter ativo, criativo, produtivo e sociabilizado, pondo um fim em hierarquias e fronteiras que antes eram estabelecidas entre produtores e consumidores. Nesse sentido metodológico, é preciso lembrar que a comunicação de massa é sinérgica e se molda transferindo linguagens e também conteúdos de um veículo para outro, assim como repassa entre diversos meios, as matrizes técnicas e conceituais, os gêneros e os formatos, os hábitos e procedimentos operacionais e de trabalho. Para ele, os estrategistas e os profissionais vão manejando pragmaticamente os modelos produtivos e as ferramentas de cada meio, de acordo com as necessidades técnicas, econômicas, publicitárias, de recursos humanos e de hábitos editoriais. Tanto os profissionais, quanto o público ativo das redes do ciberespaço estimulam com ações cotidianas práticas ou empíricas, a convergência e a hibridização de técnicas e tecnologias, assim como o sincretismo de linguagens e de hábitos culturais tão imanentes aos sistemas digitais de comunicação.
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O consumidor desafia e questiona concepções de propriedade intelectual a medida que faz circular material midiático comercial em redes de compartilhamento, principalmente quando os bens culturais distribuídos são resultado da apropriação e da alteração do conteúdo midiático comercial, como no caso das fanfictions, dos fanfilms ou das fanzines. Em comunidades presenciais ou virtuais, os consumidores defendem seus desejos e pontos de vista acerca do conteúdo midiático, e através de votações e enquetes, a própria mídia comercial transfere autoridade para o consumidor e o convida a interferir em seu conteúdo. Dessa forma, “a inteligência coletiva refere-se a essa capacidade das comunidades virtuais de alavancar a expertise combinada de seus membros. O que não podemos saber ou fazer sozinhos, agora podemos fazer coletivamente”. (JENKINS, 2009, p.56) Ainda nessa ideia, o processo de convergência e suas inúmeras possibilidades é um ambiente atrativo por propiciar formas fáceis de comunicação e o surgimento de redes de interações e sociabilidade. Cada vez mais, esse é um território gerador de relações com a presença significativa de códigos e estruturas. Essa geração nem sempre é inédita, mas adaptada às condições de espaço e tempo virtuais da convergência. Essa multiplicação dos canais faz com que os conteúdos elaborados, produzidos e divulgados não se limitem em etapas impostas de cima para baixo, mas por um novo paradigma democrático e compartilhado. A cultura da convergência provoca mudanças na mídia e, ao mesmo tempo, expande as oportunidades para os chamados grupos alternativos: a convergência não depende de qualquer mecanismo de distribuição especifico. A convergência representa uma mudança de paradigma – um deslocamento de conteúdo midiático específico em direção a um conteúdo que flui por vários canais, em relação a uma elevada interdependência de sistemas de comunicação, em direção a múltiplos modos de acesso a conteúdos midiáticos e em direção a relações cada vez mais complexas entre a mídia corporativa, de cima para baixo, e da cultura participativa, de baixo para cima. (JENKINS, 2009, p. 325)
Com base nessa perspectiva, a cultura participativa ganha nova dimensão diante do ciberespaço 2.0, também chamada de internet aberta por O'Reilly (2005), de computação social por Lemos e Lévy (2010) ou, ainda, de meios sociais por Igarza (2008). Os blogs são exemplos desse emaranhado de novas possibilidades características da Web 2.0, permitindo que o já mencionado fã, o amador ou qualquer pessoa tenha a sua página virtual. Os blogs também oferecem espaço para comentários e, assim, diálogo entre blogueiros e leitores, e leitores entre si.
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O papel ativo da nova audiência é resultante de todo um processo que interferiu, inclusive, na consolidação de uma nova arena pública, na qual as ilimitadas ações colaborativas possíveis nos canais multilaterais do ciberespaço fizeram do receptor clássico, além de um potencial produtor, um revisor e, também, um reemissor de conteúdos com diversos sentidos, finalidades e padrões de linguagem. Nesse novo e promissor ambiente, cada internauta conhecedor dos múltiplos recursos ciberespaciais dispõe de autonomia para selecionar, em diversas fontes online, as informações que lhe interessam. Ele pode comentar, questionar, denunciar suas discordâncias e reenviá-las simultaneamente para o emissor, e ainda replicar imediatamente suas considerações para uma imensa lista de contatos. A antiga e invisível opinião pública passou a dispor de meios como a interatividade, ferramentas de edição e de emissão e a comunicação multilateral para manifestar suas opiniões, de maneira bem visível, abrangente e incisiva. (MAGNONI, 2013, p. 05)
Essa nova esfera pública digital não é recortada mais por territórios geográficos (os seus cortes relevantes correspondem antes às línguas, às culturas e aos centros de interesses), mas diretamente mundial. Em sentido mais amplo, tais possibilidades comunicativas e expressivas resultantes do processo de convergência têm contribuído para ampliar os papéis e funções do público, que já não aceita a mera condição de consumidor passivo de conteúdos midiáticos. Os valores e os modos de ação trazidos pela nova esfera pública são a abertura, as relações entre pares e a colaboração. Enquanto as mídias de massa, desde a tipografia até a televisão, funcionavam a partir de um centro emissor para uma multiplicidade receptora na periferia, os novos meios de comunicação social interativos funcionam de muitos para muitos em um espaço descentralizado. Em vez de ser enquadrado pelas mídias (jornais, revistas, emissões de rádios ou de televisão), a nova comunicação pública é polarizada por pessoas que fornecem, ao mesmo tempo, os conteúdos, a crítica, a filtragem e se organizam, elas mesmas, em redes de troca e de colaboração (LEMOS; LEVY, 2010, p. 13).
É necessário reiterar que, no contexto do ecossistema aqui relatado, o uso social da internet, e também as formas de apropriação coletiva dos dispositivos e ferramentas digitais, tem evoluído praticamente em paralelo aos objetivos de desenvolvimento, inovação e ampliação dos sistemas informatizados comerciais.
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Inteligência Coletiva
O conceito de inteligência coletiva já tinha sido abordado de forma sistemática nos estudos de Pierre Lévy em meados dos anos noventa, principalmente por meio da discussão sobre as denominadas tecnologias da inteligência. Para a confirmação de uma teoria, Lévy partiu do pressuposto que “se os outros são fontes de conhecimentos, a recíproca é imediata” (LÉVY, 2007, p. 28), definindo a inteligência coletiva como sendo “distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada e mobilizada em tempo real” (2007, p. 30). O resultado desse movimento seria a contribuição particular de cada agente como fator de impacto em um processo realizado como um todo: É uma inteligência repartida em todas as partes, valorizada constantemente, coordenada em tempo real, que conduz a uma mobilização efetiva das competências. Agregamos a nossa definição esta ideia indispensável: o fundamento e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuos das pessoas, e não o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas (LÉVY, 2005, p. 20)
De acordo com o teórico, “ninguém sabe tudo, todos sabem alguma coisa” (LÉVY, 2005, p. 28). O ciberespaço é o ambiente propício e decisivo para que ocorram as trocas de informações e ideias entre os integrantes das comunidades virtuais de forma desterritorializada (LÉVY, 2005). Nesse sentido, a inteligência coletiva está diretamente relacionada com “essa capacidade das comunidades virtuais de alavancar a expertise combinada de seus membros” (JENKINS, 2008, p. 54).
os efeitos políticos dessas comunidades de fãs surgem não apenas da produção e circulação de novas ideias (a leitura crítica de textos favoritos), mas também pelo acesso a novas estruturas sociais (inteligência coletiva) e novos modelos de produção cultural (cultura participativa) (JENKINS, 2008, p. 329). Nesse ínterim, é justamente o relacional, que não pode ser uma tarefa atribuída às maquinas, é o que mantém economicamente o ciberespaço e que “o ideal da inteligência coletiva implica a valorização técnica, econômica, jurídica e humana de uma inteligência distribuída por
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toda parte, a fim de desencadear uma dinâmica positiva de reconhecimento e mobilização de competências” (LEVY, 2007, p. 30). O público da internet experimenta e valoriza, cada vez mais, a liberdade de escolha que ganhou com a possibilidade de comunicação interativa e não linear. Afinal, o usuário dispõe de conteúdos em muitos formatos e linguagens, que estão armazenados várias plataformas atendidas por ferramentas bastante amigáveis, que ele pode utilizar conforme suas necessidades ou disponibilidade de tempo para fruição. Cada internauta pode optar por tempo real ou diferido, não tem mais que aceitar as regras arbitrárias de periodicidade da comunicação impressa ou de grades lineares para difusão, em tempo real, de programações de rádio e de televisão. A mudança da mediação cultural não implica no desaparecimento da mediação tradicional. “Podemos dizer que não é o fim da mediação, mas a emergência de uma nova mediação feita pelos próprios produtores de informação, pelos leitores através de mecanismos de reputação e votação” (LEMOS; LÉVY, 2010, p, 95). Talvez seja pela crescente transversalidade da internet em relação aos demais meios e sistemas de informação e de comunicação, que as pessoas de extratos sociais, culturas e idades diferentes aprendam tão rapidamente a usar as plataformas de comunicação, cujas interfaces usuário-dispositivo, são a cada dia, mais intuitivas e amigáveis. E todas sentem prazer em selecionar os assuntos e em organizar agendas com informações ou entretenimento de interesse individual. Agindo assim, elas se transformam em donas dos espaços de audiência e começam a rejeitar, em seus aparatos de recepção, até as inserções obrigatórias de publicidade. Afinal, a prática comercial invasiva persiste nos antigos e novos meios informativos como o tributo a ser pago pela “gratuidade” dos conteúdos abertos, a única forma encontrada pelos donos da mídia para “monetizar” os altos custos de suas atividades de comunicação.
Cultura Digital
Um dos primeiros que se aventuram a definir o ambiente da cultura digital, não a definir, mas a caracterizar a cultura digital, é novamente Manuel Castells. Em dossiê publicado na revista Telos, mantida pela Fundação Telefônica, ele procura caracterizar a Cultura Digital através de seis tópicos. A tradução encontra-se no portal Cultura Digital.BR, portal concebido como uma
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plataforma pública de blogs e ligado ao grupo que debate desde 2009 políticas de cultura digital junto ao Ministério da Cultura. 1. Habilidade para comunicar ou mesclar qualquer produto baseado em uma linguagem comum digital; 2. Habilidade para comunicar desde o local até o global em tempo real e, vice-versa, para poder diluir o processo de interação; 3. Existência de múltiplas modalidades de comunicação; 4. Interconexão de todas as redes digitalizadas de bases de dados ou a realização do sonho do hipertexto de Nelson com o sistema de armazenamento e recuperação de dados, batizado como Xanadú, em 1965; 5. Capacidade de reconfigurar todas as configurações criando um novo sentido nas diferentes camadas dos processo de comunicação; 6. Constituição gradual da mente coletiva pelo trabalho em rede, mediante um conjunto de cérebros sem limite algum. Neste ponto, me refiro às conexões entre cérebros em rede e a mente coletiva. (CASTELLS, 2008)
A cultura digital diz respeito a interação entre a sociedade e as novas tecnologias, mas, diferentemente de quando surgiu o rádio ou a televisão, em que as pessoas passaram a ter mais uma fonte de informação ou entretenimento, as mudanças trazidas pela revolução das tecnologias da informação são extremamente mais amplas e profundas, causando uma real alteração no comportamento das pessoas e da sociedade do ponto de vista econômico e organizacional. Sergio Amadeu da Silveira e Bianca Santana, pesquisadores na Faculdade Cásper Líbero, em 2007, produziram um material para o Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural e construíram uma reflexão a respeito da Cultura digital: Reunindo ciência e cultura, antes separadas pela dinâmica das sociedades industriais, centrada na digitalização crescente de toda a produção simbólica da humanidade, forjada na relação ambivalente entre o espaço e o ciberespaço, na alta velocidade das redes informacionais, no ideal de interatividade e de liberdade recombinante, nas práticas de simulação, na obra inacabada e em inteligências coletivas, a cultura digital é uma realidade de uma mudança de era. Como toda mudança, seu sentido está em disputa, sua aparência caótica não pode esconder seu sistema, mas seus processos, cada vez mais auto-organizados e emergentes, horizontalizados, formados como descontinuídades articuladas, podem ser assumidos pelas comunidades locais, em seu caminho de virtualização, para ampliar sua fala, seus costumes e seus interesses. A cultura digital é a cultura da contemporaneidade. (SILVEIRA; SANTANA, p. 1, 2007)
Aproveitando as contribuições de Gilberto Gil, ex- ministro da cultura, cantor e compositor brasileiro, vale destacar que seu pensamento a respeito da cultura digital segue a mesma linha de pensamento de Sergio Amadeu e Bianca Santana, influenciando nossa pesquisa.
31 A cultura digital é a cultura da contemporaneidade. Como lembrei em 2004, em uma aula magna na USP, "cultura digital é um conceito novo. Parte da idéia de que a revolução das tecnologias digitais é, em essência, cultural. O que está implicado aqui é que o uso de tecnologia digital muda os comportamentos. O uso pleno da Internet e do software livre cria fantásticas possibilidades de democratizar os acessos à informação e ao conhecimento, maximizar os potenciais dos bens e serviços culturais, amplificar os valores que formam o nosso repertório comum e, portanto, a nossa cultura, e potencializar também a produção cultural, criando inclusive novas formas de arte." Esas minhas palavras poderiam ser traduzidas pela expressão “diversidade cultural”. (GIL, p. 2, 2006).
A partir do momento em que mídias como discos perdem o monopólio do armazenamento de conteúdo, há uma profunda transformação na relação produção - distribuição de bens culturais. Agora disponíveis na rede, os bens culturais podem estabelecer um novo fluxo, o que significa objetivamente uma abertura na cadeia cultural nacional, permitindo a inclusão de novos atores e ampliando a pluralidade. “As manifestações e as expressões livres e libertadoras da cultura digital constituem recursos indispensáveis e essenciais para assegurar a diversidade geral das expressões culturais de nossas sociedades”, afirma Gilberto Gil. As tecnologias são novas, o cenário é novo e o comportamento das pessoas também é novo. Temo uma nova cultura, a cultura digital, que nos oferece uma infinidade imensa de oportunidades para inovarmos na produção jornalística. A partir de agora, tentaremos descobrir de que forma isso pode se dar.
O novo cenário do jornalis mo
O futuro já chegou para o jornalismo e profundas mudanças ocorreram nos últimos anos em velocidade tão considerável que nem mesmo os especialistas garantem ser possível mensurar todas as ferramentas e alternativas possíveis em tempo real. Um estudo da Universidade de Columbia e traduzido para a Revista de Jornalismo da ESPM 3 no Brasil aponta que tais transformações alteraram drasticamente o que se conhecia por indústria jornalística, sendo que o advento das já conhecidas novas tecnologias provocou uma fragilização no mercado, expandindo a competitividade e comprometendo a qualidade da produção jornalística, no caso, nos EUA, objeto de análise do dossiê.
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Acessado em 02/03/2015 no endereço http://www.espm.br/download/2012_ revista_jornalis mo/Revista_de_Jornalismo_ESPM_5/
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Os autores, C. W. Anderson, Emily Bell e Clay Shirky, defendem que a prática jornalística é essencial e se coloca ao lado da sociedade. Expõe a corrupção, denuncia, cobra, agiliza e aproxima a sociedade das decisões que norteiam o dia-a-dia das pessoas, desde as posições políticas até as de comportamento. Contudo, a crise estabelecida no presente momento indica um cenário pessimista, no qual não será, de acordo com o relatório, reestabelecer o jornalismo praticado ao longo dos últimos 50 anos. Na prática, isso significa transformações profundas não apenas no modo de produção da notícia, mas também nas estratégias utilizadas pelos veículos de comunicação. As grandes redações, com funções segmentadas em que havia tempo e relativa tranquilidade para a apuração dá lugar há um cenário cada vez mais dinâmico, de equipes enxutas e profissionais multifuncionais capazes de desempenhar as funções que antes eram realizadas por dois, três ou mais profissionais. O tempo de dar a notícia também é outro. As diversas plataformas exigem a atualização em tempo real. Por outro lado, o estudo reforça a necessidade de se encontrar um modelo capaz de evitar a transformação do jornalismo em atividade de defesa de interesses pessoais, ponderando que a produção de hoje em dia tende misturar jornalismo ao entretenimento, citando inclusive Lord Northcliffe - “Notícia é algo que alguém, em algum lugar não quer ver publicado. Todo o resto é publicidade”. Os autores defendem que o jornalista, e sua essência, não pode ser colocado em segundo plano e substituído por outros meios sociais. Apenas o jornalista seria capaz de apurar a notícia, contextualizá- la e difundi- la ao passo que repercuta na sociedade, ou seja, um profissional capaz de se sobrepor à máquina e estabelecer relações diretas com a sociedade. Diante do cenário, é possível considerar que as tendências são globais e reafirmar um pensamento pessimista, sendo que a produção jornalística tende a piorar mais em sua qualidade nos próximos anos. Entretanto, novamente baseado no estudo do Jornalismo Pós-industrial, é possível corrigir tais fragilidades que afetaram o ecossistema da notícia. Os autores definem cinco convicções a partir disso: o jornalismo é essencial; o bom jornalismo sempre foi subsidiado; a internet acaba com o subsídio da publicidade; a reestruturação se faz, portanto, obrigatória; há novas maneiras de fazer um bom trabalho de novas maneiras.
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Financiamento
Uma das maiores evidências das transformações impostas pelo atual momento vivido pelo jornalismo é percebida por meio da crise no tradicional modelo de financiamento da produção jornalística. Desde sempre, o bom jornalismo sempre foi praticado por meio do subsídio privado através da publicidade, e os novos meios estariam colocando em risco tal modelo. A publicidade, principal receita desde 1830, está desaparecendo. Com a internet paga-se pela infraestrutura que é utilizada por todos e chega ao fim o ciclo vertical até então dominante. Pondera-se que a internet trouxe, sim, novas categorias de anúncios, entretanto, que ainda estão longe de subsidiar integralmente a produção de conteúdo. O fato levantando é que a velha publicidade sempre teve um controle absoluto dos meios, o que se inverteu com a internet, efervescendo o marketing flexível direto, incapaz de sustentar as mesmas margens de lucro dos meios tradicionais. A conclusão preocupante de C. W. Anderson, Emily Bell e Clay Shirky sobre o futuro da publicidade é de que em um período de três a cinco anos nenhuma outra plataforma deve compensar o colapso da receita publicitária, fortalecendo o cenário negativo e concluindo que o custo de produção de notícias precisa cair e essa redução necessita ser acompanhada de uma reestruturação organizacional. O jornalismo pós- industrial considera que as instituições atuais irão perder receita e participação de mercado e para sobreviver terão que mergulhar nos novos métodos de trabalho através das mídias digitais. A abertura e participação do público na economia colaborativa abre espaço para novos formatos de negócios em áreas como a do jornalismo local. Durante anos deter um meio de comunicação de massa como os jornais impressos era um negócio com lucratividade garantida. Philip Meyer (2007) classifica o antigo dono de jornal impresso como alguém com o poder de absorver um imposto de vendas. Como qualquer produto, o jornal impresso oferecia uma margem de lucro ao seu dono, que dependendo da rotatividade do produto e da margem de investimento, carregava gerações e gerações de toda uma família detentora dos jornais. Os custos dos meios de comunicação, assim como de qualquer empresa, se dividem em custo fixo e variável, onde para se obter um lucro ou ao menos se sustentar como negócio, o produto final deve cobrir os custos e ainda ser atrativo ao consumidor. As empresas jornalísticas são mais complicadas, pois vendem duas coisas: jornais aos leitores – geralmente sem recuperar todos os custos variáveis - e espaço
34 publicitário, que cobre a contribuição para os custos fixos e o lucro, fazendo tudo valer a pena. No jornal típico, os custos variáveis de papel-jornal, tinta e distribuição eram 25% do custo total. Um jornal não consegue crescer sem aumentar esses custos. Uma estação de rádio ou TV, por outro lado, pode emitir o mesmo sinal para mais e mais pessoas num mercado em expansão sem aumentar seus custos de produção e distribuição. (MEYER, 2007, p. 221).
A flexibilização financeira dos meios de comunicação começa a partir da mídia digital e da economia colaborativa. A redução dos lucros dos outros meios de comunicação já estava limitada pelo seu alto custo financeiro e a limitação da participação do público consumidor em seus produtos. Embora sua combinação de palavras e imagens lembre a mídia impressa na tela, embora ela possa virar uma folha de papel impressa na sua mão se você quiser, ela é mais parecida com o broadcasting do que com a imprensa. Essencialmente, o proprietário não tem custos variáveis. Se o cliente quiser a informação em papel e tinta, ele mesmo as providenciará. Os jornais pararam de crescer não só porque o público se cansou deles e prefere os novos substitutos eletrônicos. Os jornais já tinham um limite natural de crescimento, imposto pela estrutura de custos variáveis altos. A nova competição esta livre dessa restrição, e o resultado é uma grande flexibilidade financeira. (MEYER, 2007, p. 221)
A busca pela captação de recursos para que se tenha uma sustentabilidade no jornalismo ganha força a medida que o cenário de mídia se transforma. As mutações e a crise dos modelos de negócio no jornalismo contemporâneo geram iniciativas para obtenção de um modelo que possa se estabelecer como um formato de recursos financeiros para o jornalismo.
Produção Local
Em outro dossiê também publicado no Brasil pela Revista de Jornalismo da ESPM, intitulado ‘O Futuro da Mídia’ 4 , o cenário de mudanças do jornalismo é aprofundado com o apontamento de práticas que estão emergindo no mercado. Stephen B. Shepard aponta que não é mais possível ao jornalismo oferecer tudo para todos, apontando que a sobrevivência dos jornais estaria ligada à especialização da segmentação da produção, como uma cobertura forte de fatos locais e a oferta de conteúdo inteligente e exclusivo construído com bons textos e análises. Uma 4
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nova estratégia estaria na união de forças direta com as comunidades locais, estabelecendo parcerias com blogs e até emissoras de radiodifusão comunitárias, ampliando os conteúdos a serem disponibilizados nos sites dos veículos. “Ou que tal criar um site hiperlocal? E nós mesmos podemos achar esse público, com base em informações sobre hábitos de leitura e interesses”, afirma Shepard. Criando nichos de públicos, o veículo também teria a oportunidade de fidelizar leitores, ou ciberleitores, permitindo a venda de publicidade e produtos específicos para esses públicos. Todo o conteúdo apontado por Stephen B. Shepard no dossiê O Futuro da Mídia estaria acompanhado de produções transmídias, com a imersão de áudios, vídeos e integração de plataformas.
O processo de glocalização
A profusão dessas novas tecnologias associadas aos processos intensificados nas últimas décadas, como a convergência midiática e a assimilação por parte da sociedade de uma cultura digital, reforçaram sobremaneira a ideia da globalização. O novo paradigma (Castells, 2012) permite um reforço à concepção da “aldeia global” de McLuhan (1977) e ampliou, principalmente no Brasil a partir dos anos de 1990, a investigação e o acompanhamento das transformações econômicas, políticas, sociais e culturais que ocorriam devido à movimentação dos países de polo-dinâmico. Para o teórico brasileiro da comunicação Muniz Sodré (2012), globalização remeteria a uma ideia de nivelamento, a partir da etimologia grega plakso. Global mesmo é a medida da velocidade de deslocamentos de capitais e informações, tornadas possíveis pelas tele tecnologias – globalização é, portanto, outro nome para ‘teledistribuição’ mundial de um determinado padrão de pessoas, coisas e, principalmente, informações. (SODRÉ, 2012, p.23).
Já Hall (2000) entende que o processo de globalização tende a interferir na questão da identidade cultural, tendo em vista o esforço na construção de uma identidade cultural nacional unificada que desconsidera as particularidades locais. Ainda no campo cultural, pode-se observar uma primeira reação ao processo de homogeneização das culturas nacionais, com uma maior valorização das realidades locais, tendo em vista o protagonismo das relações de proximidade na formação, ou seja, “é no local onde pulsa a vida” (ROCHA, 2014, p. 155).
36 É no local que as identidades são criadas e fortalecidas pelos laços, por vezes familiares, por vezes, afetivos e culturais de determinada comunidade; seja na família, primeira célula social, seja na sociedade, no clube, associação de moradores, na padaria da esquina; no bate papo da roda de amigos, sobre amenidades, no bar, onde se reúnem rotineiramente para discutir o mundo, nem sempre, reduzido ao território de vizinhança. (ROCHA, 2014, p. 155).
Por mais contraditória que pareça, a relação entre global e local possibilita o surgimento do glocal, ou seja, uma interação de diálogo entre o próximo e o distante. O sociólogo Roland Robertson constrói a perspectiva de global- local na mesma direção de universal e particular, propondo inclusive a substituição de globalização por glocalização. (ROCHA, 2014). O local reforça seu papel de espaço privilegiado onde são articuladas relações formadoras da socialização e do cotidiano. Enquanto o global preserva o aspecto desterritorializado, o local estabelece uma ordem em que reterritorializa, ou seja, reúne diversos elementos. Isso culmina numa interação direta entre local e global, o que resulta numa globalização com características locais. (BARBOSA, 2002) Glocal é um neologismo usado para indicar a superposição de um conceito global a uma realidade local, a partir de um meio de comunicação, prioritariamente (mas não exclusivamente) operando em tempo real. No ambiente glocalizado, o sujeito se vê em um contexto simultaneamente local (o espaço físico do acesso, mas também o seu meio cultural) e global (o espaço mediático da tela e da rede, convertido em experiência subordinativa da realidade). Sem o fenômeno da glocalização, suporte comunicacional das trocas em escala global, a derrubada das fronteiras para a circulação de produtos, serviços, formas políticas e ideias estaria prejudicadas ou impossibilitadas. (COZELATO, 2007, p.49).
Castells aponta para uma nova valorização do local diante do novo paradigma que se torna presente, mostrando que as mudanças em nosso tempo (onde as instituições perdem força) estão fazendo com que a busca da identidade se torne fonte básica de significado social. As novas tecnologias da informação estão integrando o mundo em redes globais de instrumentalidade. A comunicação mediada por computadores gera uma gama enorme de comunidades virtuais. Mas a tendência social e política característica da década de 90 era a construção da ação social e das políticas em torno de identidades primárias- ou atribuídas, enraizadas na história e geografia, ou recém construídas, em uma busca ansiosa por significado e espiritualidade. Os primeiros passos históricos das sociedades informacionais parecem caracteriza-las pela preeminência da identidade como seu princípio organizacional. (CASTELLS, 1999, p. 57)
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A relação entre local e mídia é muito importante no contexto da cibercultura, uma vez que a visão que nós temos de nós mesmo que influenciada pelas mídias de massa e, agora, pelo o que produzimos e compartilhamos na internet. Jornalismo local
De acordo com Peruzzo (2005), a mídia local sempre esteve presente nos veículos de comunicação, tendo em vista que se baseia na informação de proximidade e os surgimentos de empreendimentos no passado sempre estavam limitados a uma determinada abrangência, local ou regional. A partir da década de 1960, com o advento de novas tecnologias, os veículos de massa, que até então conservavam características de cobertura local, como o rádio, por exemplo, começaram a desenvolver a concepção de uma produção nacional, por meio da formação de redes. A intensificação dos processos de globalização chegou “a pressupor o fim da comunicação local, para em seguida se constatar o contrário: a revalorização da mesma, sua emergência ou consolidação em diferentes contextos e sob múltiplas formas”. (PERUZZO, 2005, p. 70). Mesmo com o contexto histórico do desenvolvimento das comunicações no Brasil, que se deu nos grandes centros urbanos, muito em virtude da política de integração nacional implantada pela ditadura militar (1964-1985), é possível, segundo Peruzzo (2005), identificar que a produção local, e também regional, nunca fora deixada de lado pelos veículos de comunicação de massa. Essa realidade pode ser observada ainda hoje, por exemplo, na própria Rede Globo, que destina cerca de duas horas de sua programação diária a produção local, através de suas afiliadas, como é o caso da TV Tem, em Bauru. Ainda no caso da TV Tem na região de Bauru, a emissora abrange um total de 100 cidades, reunindo um público superior a 2 milhões de pessoas. Nesse sentido, o pequeno tempo disponível para a cobertura local, a padronização nacional, a equipe limitadas, entre outros aspectos, impede uma cobertura local que satisfaça o espectador. É comum, por exemplo, no noticiário da TV Tem em Bauru, verificar uma exposição intensa de fatos de Bauru, Marília, Assis e Botucatu, enquanto mais de 90 cidades acabam sendo destaques apenas quando fatos extraordinários acabam atendendo ao valor notícia da emissora. Porém, o formato tradicional de cobertura jornalística local começa a se transformar com as novas tecnologias. García (2008) entende que a informação local do novo século deve prezar pela qualidade, pluralidade, participação e criatividade, explicando o que de fato acontece no
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âmbito onde está sediado o veículo. “A informação local do terceiro milênio deve promover a experimentação e converter os cenários de proximidade em lugares de comunicação eficiente e lugares de onde possam ser exportadas novas linguagens e formatos para a comunicação mundial”. (LÓPEZ GARCÍA, 2008, p. 34)
Jornalismo Hiperlocal
Essa lógica retratada nos veículos de massa, principalmente na TV, abre espaço para a caracterização de um cenário emergente e cheio de possibilidades posterior ao jornalismo pósindustrial que presenciamos na última década, principalmente a partir do ponto alto da internet, ofertando conteúdo segmentado e por demanda, atendendo às exigências de diversificação midiática e com acesso individualizado (MAGNONI, 2014). Diante desse cenário Carvalho e Carvalho (2014) aponta que o momento é de transição da informação de grande alcance (em tempo real) para a necessidade de adaptação de conteúdo destinado a públicos locais. Nasce, assim, o conceito de hiperlocal. De modo geral, o hiperlocal atua em duas frentes: uma editorial e outra comercial. Na primeira, com o surgimento da necessidade do leitor de encontrar aquilo que realmente interessa com facilidade, em uma navegação cada vez mais direcionada (favoritos, RSS, Twitter...), os veículos que destacam o trânsito, a segurança ou o time de uma cidade, bairro ou rua, têm chance maior de sucesso. No quesito comercial, o oferecimento de produtos que tenham o foco definido, com potencialidades de criar um relacionamento estreito com o leitor, é um grande atrativo para o anunciante. A oferta de espaços comerciais cresce, mas também cresce o investimento em mídia, cada vez mais selecionado, segmentado. (CARVALHO; BRONOSKY, 2014, p. 73).
Buscando uma definição mais pragmática, o jornalismo hiperlocal pode ser considerado uma prática jornalística que se dedica à cobertura de uma restrita localidade, como uma pequena cidade, um bairro, um distrito ou mesmo uma rua, utilizando-se de práticas colaborativas junto à comunidade em questão, ou seja, com a população atuando diretamente na produção de conteúdo, a partir das novas tecnologias disponíveis. Para André Lemos, o jornalismo hiperlocal permite ao usuário obter informações precisas de sua localidade de interesse a partir de um processo de cruzamento de informações divulgadas na imprensa tradicional, blogs, twitter, prefeitura, polícia, além de uma das principais
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características da dimensão hiperlocal, ou seja, a possibilidade de qualquer integrante da comunidade ser um produtor de informação. “Essa é uma das tendências atuais do jornalismo: vinculação de notícias cruzando diversas fontes, oficiais, profissionais e cidadãs à geolocalização”. (LEMOS, 2009, p.12). O jornalismo hiperlocal também possibilita o fomento de um novo espaço conversacional, com blogs, portais, redes sociais, colaborativismo, a partir de uma conjunção de funções massivas e pós- massiva. De acordo com Lemos, podemos entender função massiva como um fluxo centralizado de informação em que grandes veículos possuem total controle editorial e atuam em um território geográfico abrangente, sendo que seu conteúdo está sempre direcionado a massa, sem a preservação das características particulares e também a possibilidade de interação. Já as mídias de função pós- massiva, por sua vez, segundo o mesmo autor, parte do princípio que qualquer um é capaz de produzir informação, acabando com o controle editorial por um único polo, no caso o de emissão. “As mídias de função pós- massiva agem por nichos, criando o que Chris Anderson (2006) chamou de longa cauda, ou seja, a possibilidade de oferta de inúmeros produtos que são para poucos, mas que, pela estrutura mesma da rede, se mantêm disponíveis ”. (LEMOS, 2009, p.5). Neste sentido, a prática do jornalismo hiperlocal está diretamente associada às chamadas mídias locativas que compreendem “uma tecnologia em que a mobilidade é determinante para as suas funcionalidades” (GOMES; VIEIRA, 2012, p.2). Isso acontece quando moradores da própria comunidade produzem algum tipo de conteúdo por meio de seus smartphones, por exemplo, como uma foto de um buraco da rua ou um vídeo de um acidente de trânsito, e enviam a um portal hiperlocal do bairro. O fluxo também se dá através de postagem em redes sociais informando atividades na comunidade, problemas de responsabilidade do poder público, como falta de vaga na creche do bairro ou ainda um assalto ocorrido. Para esse processo, segundo Lemos, o jornalismo hiperlocal se utiliza das chamadas mídias locativas, que são serviços baseados em localização, como mapas e celulares com GPS, para disponibilizar ao cidadão informações hiperlocalizadas. Segundo definição do próprio Lemos, mídia locativa se resume a Um conjunto de tecnologias e processos info-comunicacionais cujo conteúdo informacional vincula-se a um lugar específico. Locativo é uma categoria gramatical que exprime lugar, como “em”, “ao lado de”, indicando a localização final ou o momento de uma ação. As mídias locativas são dispositivos
40 informacionais digitais cujo conteúdo da informação está diretamente ligado a uma localidade. Trata-se de processos de emissão e recepção de informação a partir de um determinado local. Isso implica uma relação entre lugares e dispositivos móveis digitais até então inédita. (LEMOS, 2007, p. 01)
Em meio à crise do modelo de negócio vivenciada pelo jornalismo pós- industrial, o surgimento do jornalismo hiperlocal é visto como possível alternativa para a salvação em um tempo que o público perde interesse pelo noticiário geral. (CASTILHO, 2011). Carvalho e Carvalho (2014) vislumbram a possibilidade do jornalista se tornar um empreendedor ao utilizar as possibilidades proporcionadas pelas novas mídias, como blogs, microblogs, redes sociais, sites, para se aproximar do público através de uma cobertura local. A velha máxima de que minha casa é o meu mundo se materializa em experiências exitosas e se apresentam como alternativas para o jornalismo recuperar sua audiência e, mesmo a confiança delas. (BALDESSAR; DELLAGNELLO, 2013, p. 55). O hiperlocal pode oferecer uma granularidade tanto geográfica como de conteúdo, ou seja, a capacidade de concentrar em uma localização específica ou um produto específico. Ao unir o local com o online, as empresas podem satisfazer as necessidades dos clientes rapidamente, pois estas também conseguem dimensionar a demanda em tempo real. (BELDRAN, 2010, apud BRONOSKY; CARVALHO, 2014, p. 74).
O jornalismo hiperlocal também apresenta uma nova esfera de trabalho e atuação ao resgatar o chamado jornalismo comunitário ou colaborativo, tendo em vista que a participação do leitor é não só imprescindível como determinante ao passo que todos, em posse de mídias locativas, desejam protagonizar notícias e noticiar acontecimentos protagonizados por seus familiares, vizinhos ou de si próprio em uma velocidade jamais imaginável. Isso se fortalece pelo fato dos veículos de informação, inclusive os locais, possuir cada vez equipes mais reduzidas, inviabilizando o deslocamento de profissionais para todo o tipo de cobertura. Assim, o próprio morador pode enviar as primeiras informações de uma enchente e começar a alimentar a rede de informações que posteriormente será editada e aprofundada pelo profissional do jornalismo. Cada vez mais esse processo se torna comum e diversos casos evidenciam que coberturas feitas pela população via twitter acabam sendo mais eficientes que o trabalho de tradicionais veículos, como aconteceu na grande enchente em Salvador em 2009. Cabe, a partir disso, ao “jornalista
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empreendedor” capitalizar as melhores condições e viabilizar em determinada localidade uma plataforma dinâmica e disposta a dialogar abertamente com a comunidade. A insistência no controle é um obstáculo que inviabiliza a colaboração e participação porque transforma os membros da comunidade em virtuais empregados do jornal. Com isto a agenda da empresa tende a se sobrepor a agenda comunitária, masacrando a realidade local e dificultando a conversão do conhecimento tácito em explícito. É um comportamento que precisa ser alterado. (CASTILHO, 2009 apud GOMES; VIEIRA, 2012, p. 9)
Talvez essa participação da comunidade signifique a grande transformação no processo de produção jornalística a partir do jornalismo hiperlocal, principal inquietação dessa pesquisa. Contar com a participação e colaboração de determinada população exige por parte do projeto a capacidade de assumir o desafio de realmente proporcionar a participação do colaborador no processo de produção jornalística. Isso significa reforçar o posicionamento do jornalismo em favor da sociedade, superando as relações de interferências, políticas e empresarias, e transformando os problemas da comunidade em reivindicações constantes junto aos poderes competentes. A partir disso, o veículo hiperlocal passa a ter papel relevante na localidade, adquire a confiança, e passa a contar com seu apoio. Ao contrário das iniciativas da década passada, os meios hiperlocais atuais têm a possibilidade de serem sustentados pela própria audiência e o oferecimento de dispositivos tecnológicos capazes de alavancar um novo modelo de negócios. Além de contribuir para a pluralidade de uma agenda informativa global – mesmo que condicionada a publicidade local e que não interessa às grandes corporações. (BALDESSAR; DELLAGNELLO, 2013, p. 59)
Uma das primeiras experiências de jornalismo hiperlocal observada foi o The Local, criado em 2009 pelo jornal The New York Times em parceria com a Escola Graduação em Jornalismo City University of New York (CUNY). O projeto surgiu com o objetivo de realizar cobertura jornalística colaborativa em duas comunidades no Brooklyn, Fort Greene e Clinton Hill, e três de New Jersey, Maplewood, Millburn e South Orange. Os conteúdos produzidos pelos moradores dos bairros passavam pela supervisão de editores do jornal e a ideia ganhou destaque principalmente pela aposta do renomado jornal norte-americano que prometia ampliar a experiência para mais 20 bairros de Nova York. Entretanto, entre o final de 2012 e início de
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2013, o projeto foi encerrado por parte do The New York Times e os blogs existentes foram reaproveitados em outros projetos jornalísticos independentes. No Brasil, observa-se nos últimos tempos um movimento de empresas jornalísticas tradicionais inaugurando ferramentas consideradas hiperlocais no intuito de ampliar a fidelização dos leitores e também reduzir custos com a produção de conteúdo, explorando dispositivos que estimulam as pessoas a enviar materiais como fotos, vídeos e textos sobre acontecimento ao longo do dia. Uma experiência de maior amplitude ocorreu com o tradic ional jornal carioca O Globo, que em 2008 lançou o portal Bairros.com. Sistematizando a editoria de bairros, o jornal passou a criar blogs para abordar o cotidiano de comunidades cariocas por meio de cobertura colaborativa de moradores com a participação de repórteres do jornal. Entretanto, após alguns anos de experiências, o formato já fora alterado e hoje a participação do leitor continua ocorrendo apenas por meio do envio de material para a redação através do canal Eu-repórter. Outra ferramenta que vem sendo bastante utilizada diz respeito aos mapas colaborativos, que podem complementar reportagens ou mesmo transmitir a informação por si só. De acordo com Yuri Almeida (2009), o mapa colaborativo como narrativa jornalística torna-se sem sentido se não for utilizado para fins comunitários. Pequenas situações como buracos nas ruas de um bairro ou até mesmo desastres ambientais são exemplos de como os mapas colaborativos hiperlocais poder ser úteis. Um exemplo foi produzido pelo Jornal Folha de S. Paulo para cobrir a crise hídrica na região metropolitana em São Paulo. Por meio de seu site, o jornal convidava moradores que estavam sofrendo com a falta de água em suas casas ou trabalho para relatarem suas histórias em até 200 caracteres, identificando a localização para constar no mapa. O serviço teve grande participação e continua ativo. Outras experiências tímidas estão sendo observadas por grupos como RBS e Zero Hora no sul do país. As experiências de jornalismo hiperlocal – seja via redes sociais como o Twitter, blogs ou através de jornais online, que privilegiam a cobertura noticiosa de determinado espaço geográfico – cidade, região e mesmo uma rua, são exitosas e estão tendo a capacidade de desafiar os filtros editorias e econômicos das corporações de comunicação – a comprovação dessa capilaridade está na criação de espaços idênticos dentro dessas corporações. Por outro lado, a convergência das mídias, tanto no sentido tecnológico quanto cultural, ajuda a superar barreiras de acesso e de participação do público. (BALDESSAR; DELLAGNELLO, 2013, p. 54-55)
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Desafios do jornalis mo hiperlocal
Apesar da expectativa positiva no protagonismo o qual o jornalismo hiperlocal pode assumir neste período de incertezas para o mercado editorial, atuando como grande possibilidade de atuação para jornalistas, são inúmeros os desafios ainda enfrentando para a consolidação dessa prática de jornalismo. A primeira e mais determinante ainda é a ausência de um modelo de financiamento cristalizado que seja capaz de garantir a sustentação da atividade. É bem verdade que, a partir das ideias de Chris Anderson (2006), a exploração do mercado de nichos pode possibilitar uma infinidade de oportunidades de interação comercial com a localidade. Um portal hiperlocal, além da comercialização de espaço publicitário, pode criar novos produtos como aplicativos, lojas de e-commerce e acessórios que por meio da relação de localidade podem garantir uma nova frente de arrecadação. Outra estratégia que tem sido utilizada é a produção de conteúdos editoriais especiais, para os quais são criadas campanhas de arrecadação. Livros, documentários, revistas ou mesmo grandes reportagens que investiguem de formas mais aprofundada realidades locais ou se dediquem a compilar momentos históricos da referida região. De acordo com uma pesquisa 5 conduzida pelas universidades Cardiff, Westminster e Birmingham, do Reino Unido, resultou em um relatório detalhado sobre os sites de jornalismo hiperlocal do país. Cerca de um terço dos sites observados, de um total de 183, tem lucro, mas baixo: 12% rendem menos de £100 mensais (algo em torno de R$ 330,00), mas outros 13% lucram mais de £500 mensais (em torno de R$ 1.650,00). A publicidade é a principal geradora de renda, mas outros métodos são utilizados, como patrocínios e editais. A maioria, entretanto, financia suas atividades com seu próprio bolso. Boa parte dos jornalistas hiperlocais trabalha meio período em seus veículos, com 57% trabalhando até 10 horas por semana. Se não existissem restrições de tempo ou de dinheiro, os principais investimentos dos veículos seria m: resolver assuntos técnicos dos sites; envolver a audiência nas redes sociais; vender anúncios e gerar renda; cultivar uma comunidade ativa de assinantes. Infelizmente, três quartos dos entrevistados citam a falta de tempo como um obstáculo para expansões. Seis de cada dez dizem que gostariam de ajuda e aconselhamento para gerar uma renda sustentável e aumentar o número de leitores.
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BARNETT, Steven et al. The state of UK hyperlocal community news: findings from a survey of practitioners. 2014. Disponível em <<http://orca.cf.ac.uk/68425/>>. Acesso em jun. 2015
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Mesmo com o índice reduzido de veículos financeiramente bem-sucedidos, o cenário ainda é de esperanças. Nove em cada dez jornalistas entrevistados acreditam que seu veículo irá conseguir se sustentar no próximo ano, e oito em dez possuem ambição de expandir seus sites. Muitas também são as experiências de financiamento através de editais governamentais ou fundações e instituições da iniciativa privada. Vários projetos de comunicação voltados à nichos específicos, como a agência de jornalismo investigativo A Pública, sobrevivem através de financiamento de fundações que patrocinam projetos de interesse social e recebem deduções de impostos. Por fim, uma alternativa totalmente emergente no meio do jornalismo cidadão é o financiamento coletivo, ou crowdfunding, que arrecada valores a partir da apresentação de um projeto de interesse coletivo e a mobilização de pessoas interessadas em contribuir para a realização do mesmo. Contudo, o modelo de financiamento não é o único desafio do jornalismo hiperlocal, que também sofre de dificuldades presentes no jornalismo local tradicional, como aponta Peruzzo (2005). Normalmente com orçamentos restritos, esses veículos acabam possuindo pequenas estruturas com poucos profissionais, o que resulta em uma cobertura limitada, mesmo que local. Também acontece uma espécie de viciação na seleção de fontes e muitas vezes a reportagem acaba se limitando às instituições oficias, estreitando laços perigosos, perdendo nesse sentido o potencial de explorar “a informação isenta e atender a todos os setores que perfilam a vida de uma comunidade. Perde, assim, uma oportunidade de mercado, a de trabalhar com competência a informação de proximidade, que é a razão de ser da imprensa local”. (PERUZZO, 2005, p. 81). Ainda no que se refere às fontes, a produção colaborativa prevista pelo jornalismo hiperlocal impõe alguns cuidados. De acordo com Oliveira e Holanda (2010), ao servirem de fontes, os agentes hiperlocais incorporam um sentimento de pertença a comunidade, “buscando melhorá- las e ampliar a sua relação com o espaço urbano e com os outros cidadãos”. Ou seja, na construção da notícia hiperlocal, o jornalista deve se atentar ainda mais a credibilidade, posicionamento e interesses de sua fonte, garantindo que tal personagem esteja de fato atuando junto a comunidade.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS As mudanças tecnológicas estabelecidas no final do século XX mudaram o ecossistema dos meios de comunicação e tocam, nesse início do século XXI, todos os domínios da vida humana. A “redescoberta” da informação no bairro ou numa região ou a hiperlocalidade acontece não somente pela possibilidade que as tecnologias desenvolveram com o incremento das interações, elas fizeram muito mais ao possibilitarem que a construção de conteúdo venha se tornando verticalizada e, as empresas de comunicação, começam a perceber que não são mais as únicas vozes prósperas nesse meio. Com o jornalismo não foi diferente. A alteração do papel do jornalista, o uso massivo de redes sociais e o crescimento de coberturas colaborativas questionam o modelo industrial de jornalismo que se consolidou no século passado. Além da mudança no processo, as empresas jornalísticas passaram a sofrer para se manterem sustentáveis financeiramente. A valorização da cobertura de âmbito local pode oferecer alguma esperança nesse momento de incerteza do jornalismo. Embora algumas dúvidas se mostrem, o enfoque no hiperlocal pode proporcionar um maior envolvimento da audiência. O Jornalismo nesse cenário cresce contando cada vez mais com a ajuda dos colaboradores que assumem aos poucos um papel muito importante na construção e na condução dessa informação. Porém, o que pode parecer um avanço no processo de democratização da informação através da potencialidade das tecnologias, pode ao mesmo tempo ameaçar a segurança desta com, o que aos poucos vêm sendo o treinamento de usuários para atuarem como colaboradores de algumas instituições jornalísticas. É inegável a capacidade de transformações e oportunidades apresentadas pelo jornalismo hiperlocal. Como ponto de partida neste novo cenário, temos a certeza que os veículos que se dedicam a cobertura de proximidade encontram-se numa encruzilhada (GARCÍA, 1999) que carece de novas estratégias empresariais e editoriais para conquistar o futuro, o que pode ser encontrado no jornalismo hiperlocal. Também deve ficar claro que a prática desse formato só tem a perspectiva de êxito com a garantia de participação da comunidade em todo o processo de produção de conteúdo, desde a elaboração da pauta, passando pela construção da notícia e fechando o ciclo com a efetiva interação a partir da reação do público. O instrumento colaborativo é mais que o envio de uma foto ou vídeo por parte do cidadão para o portal hiperlocal. A ideia condutora é que um veículo
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hiperlocal se utilize dos incrementos proporcionados pelas novas tecnologias, se utilizando de produção audiovisual, fotografias, infográficos, mapas interativos, blogs, Twitter, YouTube, Facebook e outras redes sociais, para evidenciar através da cobertura jornalística a realidade de uma comunidade que não existe para o veículos de mídia tradicionais, ou seja, mostrar o cotidiano de determinada localidade no sentido de cumprir um papel fundamental da imprensa que é levar ao conhecimento da população, e principalmente da autoridades, demandas essenciais não atendidas pelo poder público como também registrar os aspectos subjetivos e culturais históricos de um determinado povo. É importante também ressaltar que as novas tecnologias, e principalmente a internet, são fundamentais para esse processo ocorrer. Enquanto construção da notícia, o jornalista tem a sua disposição mais dados e informações que permitem aprimorar a apuração e levar um material de maior qualidade ao consumidor. Na internet também é reforçado o papel de protagonista da comunidade, tendo em vista que a rede cria seu próprio habitat e não exige mais a mediação exercida pelos veículos tradicionais. É neste sentido que podemos identificar a internet, por meio do ciberespaço, como uma nova esfera pública, o que de certo modo potencializa o trabalho desenvolvido pelo jornalismo hiperlocal. As possibilidades proporcionadas pelo jornalismo hiperlocal provam, a partir dos dados e cenários analisados durante a presente pesquisa, que o jornalismo não está em crise, mas sim seu modelo de negócio. É evidente que a profusão das novas tecnologias exige do profissional do jornalismo uma nova postura, assim como também exigirá daqui em diante cada ve z mais uma leitura mais ampla de todo o processo, não se restringindo ao exercício da reportagem. As faculdades de jornalismo devem prezar por uma formação que proporcione ao profissional noções de empreender, conhecer e analisar modelos de negócios e gerir um empreendimento jornalístico diante do agitado mercado. Ao mesmo tempo, isso não significa um afrouxamento dos preceitos editorais. Como já exposto, a interação colaborativa de determinada localidade está diretamente atrelada a capacidade do veículo em exercer o bom jornalismo, aquele que se coloca ao lado da sociedade, expõe os problemas, mas também reverencia as peculiaridades de cada comunidade, sempre livre de preconceitos. Com essa postura, plural e democrática, o jornalismo hiperlocal pode começar a atingir seu grande potencial, mobilizando a comunidade, criando engajamento nas pessoas e estimulando a participação política. Ao sentir que está sendo respeitada e que pode ser parte do processo de
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construção da notícia, o cidadão começa a acreditar nos efeitos de se envolver nos processos de decisão e amplia suas possibilidades de atuação. Essa pesquisa conclui que o mercado ainda carece de experiências comerciais mais exitosas, mas entende o jornalismo hiperlocal como real alternativa a crise do modelo de negócio dos veículos tradicionais e instrumento altamente capaz de politizar mais nossos cidadãos através da informação e das novas tecnologias.
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5 PARTICIPAÇÃO E APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS EM EVENTOS 5.1 Trabalho enviado e aprovado no Eixo 2 – Mídia e Tecnologias Digitais - IV Jornada Científica de Comunicação Social – Comunicação e Mobilidade: Vínculos e Rupturas, uma realização Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP, de 14 a 16 de abril de 2015.
5.2 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho da V Conferência Sul- Americana e X Conferência Brasileira de Mídia Cidadã, realizada na Unesp de Bauru de 22 a 24 de abril de 2015.
5.3 Trabalho apresentado no Intercom Junior no XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, realizado de 19 a 21 de junho de 2015, em Uberlândia-MG. 5.4 Trabalho enviado e aprovado na XVII Jornada Multidisciplinar – VIII Encontro de Direitos Humanos da Unesp de Bauru, realizada pelo Departamento de Ciências Humanas e ocorrido entre os dias 11 e 13 de agosto de 2015. Trabalho
5.5 Painel apresentado no XXVII Congresso de Iniciação Científica da UNESP - CIC 2015, 1ª fase, etapa realizada em Bauru nos dias 16 e 17 de setembro de 2015.
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6 ANEXOS 6.1 Resumo do artigo ‘Jornalis mo Pós-Industrial: Adaptação aos novos tempos’
Introdução Transformação do jornalismo norte-americano é inevitável
O estudo apresentado parte do princípio de que o futuro já chegou para o jornalismo e que profundas mudanças ocorreram nos últimos anos, alterando drasticamente o que se conhecia por indústria jornalística. Com o advento das já conhecidas novas tecnologias, o mercado se fragilizou e a competitividade se expandiu, comprometendo a qualidade da produção jornalística nos EUA. Aliás, o ao traçar tal cenário norte-americano, os autores destacam que as tendências são globais e reafirmam um pensamento pessimista, sendo que a produção jornalística tende a piorar mais em sua qualidade nos próximos anos. Entretanto, destacam que é possível corrigir tais fragilidades que afetaram o ecossistema da notícia. Para isso, definem cinco convicções: ● O jornalismo é essencial; ● O bom jornalismo sempre foi subsidiado; ● A internet acaba com o subsídio da publicidade; ● A restruturação se faz, portanto, obrigatória; ● Há novas maneiras de fazer um bom trabalho de novas maneiras;
O jornalismo é essencial A prática jornalística é essencial e se coloca ao lado da sociedade. Expõe a corrupção, denuncia, cobra, agiliza e aproxima a sociedade das decisões que norteiam sua vida, desde as posições políticas até as de comportamento. Contudo, a crise estabelecida no presente momento leva a duas convicções: Não será possível reestabelecer o jornalismo praticado ao longo dos últimos 50 anos e se faz necessária uma busca por um jornalismo que evite a transformação do jornalismo em atividade de defesa de interesses pessoais. Ponderando a produção de hoje em dia, que tende misturar jornalismo ao entretenimento, citando inclusive Lord Northcliffe - “Notícia é algo que alguém, em algum lugar não quer ver publicado. Todo o resto é publicidade” - os autores defendem que o jornalista, e sua essência, não pode ser colocado em segundo plano e substituído por outros meios sociais. Apenas o jornalista
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seria capaz de apurar a notícia, contextualizá- la e difundi- la ao passo que repercuta na sociedade, ou seja, um profissional capaz de se sobrepor à máquina e estabelecer relações diretas com a sociedade.
O bom jornalis mo sempre foi subsidiado Seguindo na linhas das convicções, o alerta é para o risco pelo qual corre o tradicional modelo de financiamento da produção jornalística. Desde sempre, o bom jornalismo sempre foi praticado através do subsídio privado através da publicidade, e os novos meios estariam colocando em risco tal modelo.
A internet acaba com o subsídio da publicidade A constatação de que as quedas drásticas na captação de receitas nos veículos, principalmente impressos, seria um indicador tardio em um cenário de mudança já concretizado. A publicidade, principal receita desde 1830, está desaparecendo. Com a internet paga-se pela infraestrutura que usada por todos e chega ao fim o ciclo vertical até então dominante. Pondera-se que a internet trouxe, sim, novas categorias de anúncios, entretanto, que ainda estão longe de subsidiar a produção de conteúdo. O fato levantando é que a velha publicidade sempre teve um controle absoluto dos meios, o que se inverteu com a internet, efervescendo o marketing flexível direto, incapaz de sustentar as mesmas margens de lucro dos meios tradicionais. Outra observação importante é de que o poder dos meios de comunicação sobre anunciantes está diminuindo. Com a web houve uma grande migração, de meios para anunciantes, do valor líquido de cada dólar investido em publicidade, sendo que a tendência é de intensificação do fenômeno, ao invés de reversão.
A reestruturação é obrigatória A conclusão preocupante do futuro da publicidade é de que em um período de três a cinco anos nenhuma outra plataforma deve compensar o colapso da receita publicitária, fortalecendo o cenário negativo e concluindo que o custo de produção de notícias precisa cair e essa redução necessita ser acompanhada de uma reestruturação organizacional
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É nesse período do estudo que aparece o termo jornalismo pós- industrial, originalmente empregado em 2001 pelo jornalista Doc Searls para sugerir um “jornalismo que já não é organizado de acordo com as regras da proximidade do maquinário de produção”. O jornalismo pós-industrial considera que as instituições atuais irão perder receita e participação de mercado e para sobreviver terão que mergulhar nos novos métodos de trabalho através das mídias digitais. Serão mudanças delicadas e até “sofridas”, ampliando as parcerias e recursos para indivíduos e a infraestrutura para produção. Os autores reafirmam não existir outra solução, que mantenha os padrões tradicionais.
Há muitas oportunidades de fazer um bom trabalho de novas maneiras Finalmente uma perspectiva otimista é introduzida ao estudo, garantindo que a única maneira de garantir a sobrevivência do jornalismo de que a sociedade necessita é mergulhar nas novas formas de colaboração, novas ferramentas e novas maneiras de comunicação com o público. O que é “público”, o que é “audiência” – e o caso especial do New York Times Antes de avançar ao relatório do estudo, os autores definem os conceitos de público e audiência. Fazendo referência a James Carey, define “público” como grupo de pessoas para o qual se produzem notícias, sendo “termo divino”. Os interesses do público deveriam ser inseridos no ecossistema jornalístico. Já o termo audiência, segundo os autores, também é igualmente problemático. Quando o mundo da comunicação estava dividido em meios (impressos, radiodifusão) e comunicação (telégrafo, telefone), o conceito de audiência era igualmente claro: significava a massa de indivíduos que recebia conteúdo produzido e distribuído por meios. Entretanto, como parte das transformações que norteiam o estudo, os membros da audiência evoluíram e passaram de passivos consumidores de notícias para criadores, editores, juízes e veículos da informação. Por fim, os autores afirmam que o jornal New York Times não se enquadra em modelo a ser estudado e seguido como muitos segmentos do setor afirmam. A constatação é de que o jornal tem, evidentemente, relevância, mas se individualizou, especializou-se no campo cultural, e é palco de grandes experimentos, que em muitos casos só se aplicam a ele mesmo, não estendendo aos demais, justificando não ser um modelo a delimitar o estudo.
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Parte I - Jornalistas
Passando ao segundo eixo do estudo, os autores iniciam por um relato a respeito da cobertura da mídia americana sobre a decisão da Suprema Corte dos EUA em relação a obrigatoriedade de contratação de plano de saúde privado por todo cidadão do país. Neste contexto, emergiu um blog chamado SCOTUSblog, provando que o jornalismo pode ser exercido de fora de uma redação tradicional por gente livre das pressões comerciais e protocolares típicas do ofício. Constituído por advogados, e não jornalistas, o veículo acrescentou mais a cobertura do que veículos tradicionais como CNN, indicado que cada vez mais novos atores podem participar da produção jornalística especializada, agregando mais que os “velhos jornalistas”. Entretanto, ressaltam que se há jornalistas, é porque o público precisa saber o que aconteceu e os motivos e que a melhor forma desse canal se dá através de gente especializada e capacitada para isso, os jornalistas. Dentro do novo ecossistema jornalístico, o futuro do jornalista estaria atrelado a duas questões: o que novos atores podem fazer, hoje, melhor do que jornalistas no velho modelo? E que papel o jornalista pode desempenhar melhor do que ninguém?
Quando mídias sociais são melhores: amadores O advento das mídias sociais não acaba com o trabalho jornalístico, mas altera sua função. Com ferramentas como Facebook, Twitter e outras, cada vez mais o primeiro relato, a primeira foto e o primeiro vídeo de um fato vem de um cidadão comum conectado, e nãos mais de um jornalista. Entretanto, grande parte do setor não assimilou essa nova oportunidade. Destaca-se também que em muitos casos, os aspectos mais importantes do trabalho jornalístico individual seguem sendo o que sempre foram em sua melhor encarnação: entrevistar, observar em primeira mão, analisar documentos.
Quando mídias sociais são melhores: multidões Reforça-se a ideia de que o trabalho do jornalista não foi diminuído. A disponibilidade de recursos, como fotos tiradas pelo cidadão comum e postadas em Facebook, Twitter e outros não
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elimina a necessidade do jornalismo, mas altera sua função. Com esse novo fluxo, após a primeira foto do internauta, o jornalista deve contextualizar o fato, confirmar informações, filtrar as fontes e assim informar o internauta, mesmo aquele que postou a foto.
Quando a máquina é melhor A máquina é mais eficiente que o homem na coleta ágil de dados e essa tendência deve aumentar para derrubar os custos das produções. Um projeto como a Narrative Science, por exemplo, conta com dois terços de engenheiros em sua equipe, e apenas um terço de jornalistas. A automação dos processos de conteúdo é o território mais subaproveitado para derrubar o custo do jornalismo e melhorar a produção editorial. De acordo com Hammond, as máquinas que sua equipe criam devem “pensar como um jornalista”, esmiuçando o que o jornalista faz e, em seguida, reproduzindo a atividade com a programação.
Quando o jornalista é melhor Os autores introduzem o texto fazendo uma analogia com os artesãos, antes da chegada da máquina a vapor e afirmam que hoje ocorre uma mudança correlata no jornalismo: a automatização da coleta e da disseminação de fatos, e até análise básica. Isso obviamente mexe com as relações, mas permitem a veículos tradicionais uma nova abordagem, de coleta e investigação, que só os jornalistas realmente podem fazer. O lugar ocupado pelo jornalista no ecossistema tem a ver, portanto, com a humanização dos dados, não com o processo de mecanização. A adaptação a esse mundo é um desafio para o jornalista que aprendeu a trabalhar em redações cujo produto exigia, antes de tudo, exatidão e certeza, e onde havia unidade e clareza em torno de um pequeno conjunto de processos: apuração, redação, edição.
O que um jornalista precisa saber Os autores tocam rapidamente no espírito “empreendedor” do jornalista, fazendo referência ao casal Laura e C hris Amico que trocaram a Califórnia por Washington e fundaram um site para cobrir homicídios na cidade.
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Embora a reportagem seja o pilar do jornalismo, o Homicide Watch mostra que ferramentas de reportagem podem ser usadas das mais variadas formas. Um banco de dados que converte cada detalhe apurado pelo repórter em informação estruturada com o intuito de produzir mais conteúdo é um bom exemplo disso. “Soft skills” do jornalis mo A primeira referência importante que os autores fazem é em relação ao desejo, do jornalista, em fazer um jornalismo melhor, alterando os padrões de organização pré-definidos, ao invés de reproduzir os tradicionais modelos. É importante recrutar e formar profissionais que saibam lidar com um estado permanente de mudança, seja qual for sua área de especialização, todo jornalista deve encarar a experimentação voltada à inovação como algo a praticar. Hoje, o jornalista que quiser ter acesso a fontes sigilosas deve ser capaz de proteger a informação o suficiente para impedir que as dita s fontes sejam identificadas por ferrenhos inimigos, do poder público ou não. Entender como o conteúdo jornalístico é recebido, saber o que torna algo viral e poder conferir o que é lido, ouvido ou visto (e por quem) são coisas importantes para o jornalismo; Outro ponto importante é saber como o público consome a informação e se sua produção está chegando ao destinatário. O jornalismo tem duas grandes barreiras de linguagem a transpor: uma é a da estatística e a da capacidade de interpretar dados, a outra é a da competência técnica – ou seja, o jornalista precisa aprender a escrever código. Bagagem concreta, ou “hard skills” Conhecimento especializado: O jornalista generalista está cada vez mais exposto. Com a entrada de outros profissionais, é cada vez mais necessário que o jornalista busque a especialização. Dados estatísticos: É importante para o jornalista ter a capacidade de traduzir dados, números e gráficos em informação clara e objetiva. Compreensão de indicadores e públicos: Deve haver um monitoramento de como a notícia produzida é recebida pelo leitores.
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Programação: Além de interpretar os dados, o jornalista precisa dominar, nem que de forma elementar, os códigos e saber utilizá- los de acordo com o público. Narração: O jornalista deve estar preparado para incorporar as novas tecnologias a suas tarefas básicas, inclusive na narração, agregando novos recursos. Gestão de projetos: Por fim, o jornalista não deve estar restrito mais exclusivamente a produção da redão. Ele deve pensar a produção como um todo estar preparado para atuar em todo o processo de produção.
A síndrome do hamste r e Flat Earth News O processo pelo qual passa o jornalista é tamanho que não se limita mais as relações de indústria e não indústria na produção e organização de sua carreira. As principais diferenças são: - Prazos e formatos de produção de conteúdo já não são delimitados; - Localização no mapa perde relevância na coleta de informações e na criação e consumo do conteúdo jornalístico; - Transmissão de dados em tempo real e atividades em redes sociais produzem informações em estado bruto; - Feedback em tempo real influencia matérias; - Indivíduos ganham mais importância do que marca; Neste sentido, reciclar comunicados de imprensa e produzir mais com menos sem nenhuma mudança fundamental em processos, são, sabidamente, práticas inimigas do bom jornalismo. Os autores colocam, no entanto, que o jornalismo do futuro dificilmente seguirá esse modelo, pois pagar jornalistas para produzir informações de baixo valor é insustentável. A próxima fase da evolução se basearia na genialidade e no empreendedorismo individuais em novas áreas – como visualização, criação de dados, partilha, agregação. As redações já não encaram blogs, Twitter ou coberturas ao vivo com o mesmo receio e incompreensão do passado.
Como vai mudar o trabalho do jornalista? Ao final, os autores destacam que é difícil saber qual será o resultado de redações mais enxutas, mas que é possível afirmar que mudanças acontecerão. O jornalista seguirá atuando em
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um ambiente de alta imersão, adaptando sua rotina de trabalho a um mundo de conversação e informação contínuas, em tempo real – o que pode causar tanto cansaço quanto dispersão. Uma óbvia consequência da automação da redação é a diminuição do valor e da utilidade do papel de editores. Visionários no alto das organizações seguirão dando o tom e ditando o rumo editorial de seus veículos, e talvez cada assunto venha a ter um editor especializado. O tempo poupado com a organização e a edição automatizada de textos, no entanto, reduz drasticamente a necessidade de editores para supervisionar toda etapa do processo. Uma redação já não pode arcar com gente em altos cargos que não produza conteúdo.
ANDERSON, C. W., BELL, Emily; SHIRKY, Clay. Jornalismo Pós-Industrial: Adaptação aos novos tempos. Revista de Jornalismo da ESPM. Abril, Maio, Junho 2013, págs 30 – 89.
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6.2 Artigo: A evolução do jornalis mo ao longo da história
Baseado em referências bibliográficas utilizadas a respeito da evolução dos processos de produção jornalística.
A necessidade dos homens em se comunicar é pré-histórica. Se recorremos aos livros de história vamos identificar que os primeiros registros de comunicação foram através da arte rupestre, em paredes de cavernas. Com o surgimento dos primeiros alfabetos e consequentemente a escrita, mensagens passaram a ser reproduzidas em pedras, cerâmicas e posteriormente no papiro. Na sequência, com a invenção do papel pelos chineses, a reprodução de livros ou a produção de documentos tornou-se mais eficiente, abrindo caminho para o protagonismo do papel como primeiro grande meio de transmissão de informação. Em 1447 acontece o evento considerado o marco do início da imprensa no mundo. O alemão Johann Gutenberg inventa a prensa e permite a reprod ução em larga escala de livros e outras publicações, barateando os custos e agilizando a reprodução. É bem verdade que antes mesmo da invenção da prensa, resquícios do que viria a ser chamado de jornalismo já eram encontrados em algumas civilizações. O imperador romano Caio Julio Cesar, por exemplo, é considerado o fundador do primeiro jornal do mundo, o Acta Diurna, em 69 a. C., responsável por divulgar notícias à população a respeitos de fatos políticos do império, agenda de eventos, julgamentos e execuções. Neste período, são considerados os primeiros profissionais do jornalismo os chamados correspondentes imperiais. Com habilidades para a produção de textos, eles buscavam contar acontecimentos do império, mas sempre acontecimentos positivos. Já um dos primeiros modelos de negócios ocorreu em 1556, quando o governo veneziano publicou o Notizie Scritte, pelo qual os leitores pagavam uma moeda, chamada “gazetta”, popularizando o título. De acordo com Nilson Lage (2001), os jornais começaram a se difundir a p artir de 1600 em centros de comércio ligados à burguesia, sendo que os então jornalistas eram encarregados de divulgar ideias burguesas, servindo mais tarde às publicações aristocratas, que focam os conteúdos em casamentos, viagens da corte e festas. Foi nesse contexto que a profissão fixou sua imagem mais antiga e renitente: a do publicismo. Por muitas décadas, o jornalista foi essencialmente um publicista,
62 de quem se esperavam orientações e interpretações políticas. os jornais publicavam, então, fatos de interesse comercial e político, como chegada e partida de navios, tempestades, atos de pirataria, de guerra ou revolução; mas isso era visto como atração secundária, já que o que importava mesmo era o artigo de fundo, geralmente editorial, isto é, escrito pelo editor - homem que fazia o jornal praticamente sozinho. (LAGE, 2001, p.10)
Avançando um pouco, a revolução industrial provocou um novo cenário e a postura do jornalismo começava a se alterar com os séculos XVIII e XIX. A falência do sistema feudal levou milhares de famílias do campo para a cidade. Às famílias se juntaram técnicos e especialistas que trabalhariam nas fábricas, alfabetizados, e com isso a tiragem dos jornais disparou. Os novos leitores eram mais objetivos e sem as aristocracias não havia mais motivos para mater o jornalismo publicista. Segundo Nelson Lage (2001, p. 14), “o jornalismo dessa época pode ser considerado, de um lado educador, de outro, sensacionalista”. Na medida em que a nova população não conhecia os trâmites da cidade, o jornalismo passou a prestar serviços, indicando o comportamento da sociedade. Por outro lado, para atrair esse leitor, já que os custos da produção havia aumentado e os impressos passavam a disputar anúncios, utilizava-se de altas doses de sentimentalismo e aventura. O fato é que o século seguinte continuou sendo de desenvolvimento gradativo no jornalismo. Na medida em que os jornais necessitavam aumentar suas receitas com publicidade, os jornalistas tinham que tornar o produto mais atraente, sempre recorrendo ao sensacionalismo. Por sua vez, a cada nova edição ou publicação, o leitor ficava mais exigente, abrindo caminho para o surgimento da reportagem. De acordo com Nilson Lage (2001, p. 15), “escritores de folhetins e jornalistas obrigaram-se a reformar a modalidade escrita da língua, aproximando-a dos usos orais ou cultivando figuras de estilo espetaculares, ora exagerando no sentimentalismo, ora incorporando a invenção léxica e gramatical das ruas”. Com o surgimento da reportagem, essência do jornalismo para muitos, a sociedade começava a ser levemente alterada, problemas até então desconhecidos começam a ser ‘notícia’ e também os profissionais do jornalismo, os novos repórteres, começam a identificar seu papel, separar o individual do coletivo e controlar a vaidade. É neste período que as empresas jornalísticas passam a se cristalizar através de um modelo de negócio predominante. É o que observa Nelson Werneck Sodré, em ‘A História da Imprensa no Brasil’, contextualizando um período um pouco mais a frente, no pós- guerra.
63 Os pequenos jornais, de estrutura simples, as folhas tipográficas, cedem lugar às empresas jornalísticas, com estrutura específica, dotadas de equipamento gráfico necessário ao exercício de sua função. Se é assim afetado o plano da produção, o da circulação também o é, alterando-se as relações do jornal com o anunciante, com a política, com os leitores. Essa transição começara antes do fim do século, naturalmente, quando se esboçara, mas fica bem marcada quando se abre a nova centúria. Está naturalmente ligada às transformações do país, em seu conjunto, e, nele, à ascensão burguesa, ao avanço das relações capitalistas: a transformação na imprensa é um dos aspectos desse avanço; o jornal será, daí por diante, empresa capitalista, de maior ou menor porte. (SODRÉ, 1994, p. 275)
As técnicas do jornalis mo Em meio a busca por leitores e anunciantes, o jornalismo do final do século XIX e do início do século XX era o mais sensacionalista até então já visto, principalmente nos Estados Unidos. A busca pela ‘notícia’ exclusiva modificou a relação ética entre jornalistas e fontes e o que se assistia era uma guerra na qual podia se pagar qualquer preço para ter o furo, e consequentemente o leitor. A atuação dos profissionais indicava uma realidade não diferente à outras profissões:ao surgir primeiro que os cursos específicos, a profissão de jornalista necessitava de parâmetros. Neste cenário preocupante começam a surgir os primeiros cursos de jornalismo pelo mundo. A primeira faculdade de jornalismo do mundo foi a Washington College, fundada em 1869, nos Estados Unidos, influenciando outros países pelo mundo. O primeiro curso de jornalismo da Inglaterra nasceu apenas em 1920, na Universidade de Londres, enquanto o Brasil teve sua primeira faculdade em 1947, com a Fundação Cásper Líbero. Liderados pelos norte-americanos, começou-se a construir um conjunto de regras para a produção de conteúdo jornalístico. As informações mais importantes de um fato (as mesmas que respondessem as perguntas: o que, quando, quem, como, porque e onde) deveriam estar logo no primeiro parágrafo da texto jornalístico, também conhecido como lead. Para confirmar a veracidade de uma informação, antes que ela virasse notícia, seria necessário fazer uso da lei das três fontes, ou seja, confrontar com uma segunda e terceira fonte os dados informados pela primeira. A ideia era garantir voz as duas partes do ocorrido. A linguagem empregada também deveria ser alterada. Ao invés da retórica, a ética era o fator principal para a construção da linguagem jornalística.
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É erro crasso exagerar o papel do jornalismo como ditador da opinião pública, mas tornou-se axioma do ofício - algo que nós, jornalistas, consideramos autoevidente - a convicção de que ele contribui positivamente quando exercido de maneira correta. Isto significa que o jornalismo progressista não é aquele que seleciona apenas discursos tidos como avançados em dado momento, mas o que registra com amplitude e honestidade fatos e ideias de seu tempo. ( LAGE, 2001, p. 19)
Considerado o conjunto de técnicas mais adequado para a produção jornalística, os princípios norte-americanos se disseminaram pelo mundo e ditaram as redações por décadas. Apesar de elaborado a partir principalmente do referencial do jornalismo impresso, o conjunto de técnicas norte-americano influenciou também as produções do radiojornalismo e do telejornalismo, como veremos na sequência. Quanto ao jornalismo digital, veremos mais a frente.
A revolução do rádio e da televisão no jornalis mo O jornalismo até o século XIX não dispunha de um meio de comunicação de massa para ser difundido. Por maiores que fossem as tiragens dos grandes jornais, as dificuldades com logística e interesse pela leitura por parte da população menos escolarizada impediam o potencial de difusão dos veículos impressos. É com o surgimento do rádio que essa história começa a mudar, por volta de 1920. Até o século XIX, os meios de comunicação existentes, responsáveis por levar a informação à população, não podiam ser considerados de massa. Só após a entrada do rádio, na década de 1920; da televisão, na década de 1950; e da internet, na década de 1990, no Brasil, é que os meios de comunicação de massa passaram a estar presentes na vida das pessoas (BRONOSKY; CARVALHO, 2014, p. 72)
Segundo Luiz Arthur Ferraretto (2010, p.. 27 e 28) “o rádio passa a aparecer como o canal mais abrangente e fácil para atingir, primeiro, a classe média ascendente, e depois, de modo amplo, o restante da população”. No início das transmissões, os radiojornais iam ao ar com a leitura das notícias publicadas pelos veículos impressos, mas a partir de 1941, com a estreia do Repórter Esso, pela Radio Nacional do Rio de Janeiro, a produção começa a mudar. O jornalístico, que posteriormente se tornaria um dos mais famosos da história do rádio brasileiro,
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era um formato americano e uma agência, a United Press International (UPI), abastecia o radiojornal com notícias enviadas via telégrafo. O jornalismo esteve presente no rádio desde as primeiras experiências de exploração da radiodifusão. As emissoras, de maneira geral, são inauguradas transmitindo algum evento ou, ao menos, informando sobre sua própria existência. Primeiro meio de comunicação eletrônico, operado na velocidade do som, o rádio já nasceu glocal, termo cunhado recentemente em função das tecnologias hoje disponíveis: tanto contava os fatos do mundo como os da casa do vizinho. (ORTRIWANO, 2002/2003, p. 67)
Mesmo sofrendo forte influência da produção impressa, ao longo dos anos as rádios foram evoluindo no que se refere a produção jornalística. Com a criação de departamentos de jornalismo - Heron Domingues implantou o primeiro em 1948 na Rádio Nacional, e o desenvolvimento da teoria por estudiosos, a produção para o rádio foi ganhando traços próprios, prezando pela linguagem simples, objetiva, próxima da oral. Também descobriu-se o grande potencial da notícia ao vivo, com repórteres nas ruas e prestação de serviço em tempo real.Enquanto os jornalistas ainda estavam descobrindo as novas possibilidades com o rádio, a TV surge por volta de 1940 e amplia a revolução. Agora com imagem, transmitir um acontecimento tornava-se muito mais atrativo ao público.O fato é que o jornalismo já passa va por uma grande transformação de plataforma e isso alterava drasticamente o processo de produção. Fazer uma reportagem para TV era completamente diferente do que produzir para um jornal impresso, o qual o leitor teria tempo para ler e reler o texto. Na TV a situação era diferente. A instantaneidade e o imediatismo passava a exigir do texto características que permitam ao telespectador capturar a informação de uma só vez.
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6.3 Resenha: A Sociedade em Rede: do Conhecimento à Política, de Manuel Castells
Compreender a Transformação Social O autor inicia o capítulo afirmando que o mundo está em plena transformação desde há duas décadas e que tal processo fora intensificado devido ao novo paradigma estabelecido pelas tecnologias da comunicação e informação, disseminadas a partir da década de 1960. Na sequência, Castells apresenta sua primeira ideia articuladora, afirmando que não concorda com a terminologia sociedade de informação, ou ainda sociedade do conhecimento, ambas aplicadas a atual sociedade emergente. Nessa defesa, reconhece claramente o papel protagonista da informação no contexto social, porém não restrito a atualidade, mas desde o início das civilizações. A novidade agora seria o fato de serem de base microeletrônica, dando novas possibilidades a antigas formas de organização social: as redes. No aspecto histórico, as organizações em rede seriam mais restritas a vida privada, por serem mais flexíveis e encontrarem dificuldades em cristalizar algo. Já a sociedade civil, a da produção e do poder, era controlada por instituições mais coesas, através da autoridade. Com a comunicação digital, a sociedade em rede ganha novas possibilidade e permite importantes avanços, como livres debates. Além disso, a “nova” sociedade em rede é global, e assim transcende fronteiras e chega a países de todo o mundo. O autor também faz um importante alerta. Após colocar que estamos acostumados ao processo evolutivo, da sobrevivência das sociedades rurais a sociedade pós-industrial, ele faz ressalvas apontando os holocaustos Nazi e Estalinista como testemunhas do potencial destrutivo da Era Industrial, estando a revolução tecnológica ligada ao processo autodestrutivo do aquecimento global. Não basta ofertar a tecnologia, é preciso se atentar onde, quem e para quê são ut ilizadas as tecnologias de informação.
A Sociedade em Rede para lá dos Mitos: As Descobertas da Investigação Académica Neste item, o autor relata a insatisfação com as lideranças da sociedade em discutir a sociedade da informação como se ela estivesse por vir, no futuro, e não como se já tivesse acontecendo.
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Intelectuais tradicionais enxergam apenas os pontos negativos, como se países de 3º mundo não necessitassem de tecnologia. Sociedade em rede é em termo simples estrutura social baseada em redes ope radas por tecnologias de informação e comunicação fundamentadas na microeletrônica e em redes digitais de computadores de distribuem conhecimento/conteúdo por nós compartilhados. Economia em rede: aumento representativo da produtividade norte-americana e demais países que a adotaram. O tripé que sustentaria esses índices seria: geração e difusão de tecnologia eletrônica e de informação, transformação do trabalho e difusão da organização em rede. Castells aponta 5 pontos capazes de evidenciar as transformação do trabalho e emprego:
Ampliação das ofertas de trabalho. Apesar de excluir algumas funções, diversas outras são criadas. Não se beneficiam profissionais incapazes de se atualizar;
Profissional proativo;
Fragilidades na organização dos trabalhadores genéricos e aumento do corte das empresas neste segmento;
Manipulação por parte das empresas da capacidade inovadora dos trabalhadores;
Novo papel dos sindicatos; Entrando em aspectos mais práticos da tecnologia na vida das pessoas, o texto afirma que
há uma conexão direta entre a realidade virtual e virtualidade real, discordando de que as pessoas que passam tempo na internet se isolam do mundo sociável. Porém, chama atenção para a emergência do individualismo em rede e garante que o Sistema de Comunicação é definido por 3 grandes sistemas:
Simultaneamente global e local;
Menos centralizadora, mais interativa;
Comunicação de Massa autocomandada; Seu pensamento é finalizado com uma reflexão das instituições políticas na sociedade em
rede, refutando que de acordo com cada estratégia a participação ajuda a construir hegemonia ou contra-hegemonia política.
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Aspectos Políticos-Chave na Sociedade em Rede Para o autor, a sociedade em rede está posta e não há o que fazer para impedi- la ou ainda pensar nela como algo futuro. Resta aos órgãos institucionais competentes elaborar planos para melhor conviver e permitir o desenvolvimento dentro da sociedade em rede. Neste sentido, ele aponta os pontos chaves:
Atualização do setor público;
Educação para estimular a criatividade e a inovação;
Políticas para impedir a exclusão social;
Criatividade e Inovação;
Dilemas do Nosso Tempo: Criatividade versus Capitalis mo de Rendimentos; Democracia da Comunicação vers us Controlo Político O autor finaliza dizendo que estamos em uma encruzilhada na qual são perceptíveis as vantagens da participação humana nos processos digitais, ocorrendo, contudo, uma limitação do processo criativo pelos sistemas vigentes atuais. Em sentido oposto, o capita lismo do rendimento também estaria frágil frente a novos negócios. Por fim, admitir a plena sociedade em rede ainda seria um desafio às instituições de comando, já que isso, na prática, significaria uma considerável abertura ao debate, o que não parece ainda ser preferência nesse meio. O desafio estaria em encontrar o meio termo entre o pragmatismo e as oportunidades para a sociedade em rede.
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6.4 Resenha do livro ‘Jornalis mo e Convergência’
Jornalismo e convergência: superar desafios e aproveitar as oportunidades Compreender o profundo e controverso cenário do jornalismo nos dias de hoje tem sido o grande desafio de profissionais e pesquisadores da área. Há quem acredite em uma crise específica no tradicional modelo de negócio que por décadas financiou a produção de conteúdo informativo e hoje já não mais consegue atender as novas demandas. Por outro lado, também há quem identifique uma acentuada crise na produção jornalística, o que culminaria na necessidade de um diagnóstico mais profundo. Consenso mesmo é a certeza que o desencadeamento da revolução das tecnologias de informação e a consolidação dos processos de convergência na área da comunicação transformaram completamente as formas de produção, difusão e consumo de conteúdos informativos, sejam eles de caráter jornalístico, publicitário ou ainda de entretenimento. Mergulhando nesse debate, Jornalismo e Convergência: reflexões sobre o futuro do jornalismo, coletânea organizada pelos professores Marcelo Engel Bronosky e Juliano Maurício de Carvalho, e publicada pela Editora Cultura Acadêmica em 2014, apresenta discussões acerca das implicações e repercussões das tecnologias digitais, em especial as determinadas pela internet, no exercício do jornalismo. Ao todo são 12 capítulos assinados por pesquisadores da área do jornalismo de duas renomadas universidades, a Universidade Estadual Paulista (Unesp), por meio do curso de jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, e a Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR, por meio do curso de mestrado em jornalismo. Os capítulos foram divididos em duas seções intituladas “Transformações do jornalismo no cenário de convergência” e “Situações de convergência no jornalismo brasileiro” e o prefácio ficou por conta de Carlos Soria, do Innovation Media Consulting. Na primeira parte da coletânea observa-se um trabalho no sentido de conceituar-se termos emergentes no novo mundo das tecnologias da informação ao mesmo tempo em que se esforça para refletir as consequências e perspectivas futuras das mudanças que estão ocorrendo no jornalismo. O artigo que abre a primeira seção é “Desafios Comerciais no Ciberjornalismo: exame de modelos baseados em comércio eletrônico”, de autoria do professor Francisco Rolfsen Belda. O conteúdo corresponde a uma das mais debatidas questões atualmente no setor, trazendo reflexões a respeito de como sites de notícias têm se organizado para distribuir conteúdo e ao mesmo tempo criar novas
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possibilidades comerciais, atendendo novos modelos de negócio. São analisados para isso os casos dos jornais Folha de S. Paulo (Brasil) e El País (Espanha) e observações interessantes são identificadas, como a falência do tradicional modelo que subsidiava veículos de informação através da publicidade e o fato de ainda não se conhecer uma estratégia adequada para o financiamento do jornalismo pós-industrial. Os possíveis novos modelos são contestados com a possibilidade de se obter lucro a partir do sepultamento da prática jornalística. Na sequência, a coletânea parte para uma contextualização histórica mais profunda das transformações da tecnologia da informação, a partir do artigo “Dilemas do jornalismo na era das redes digitais e da globalização”, de autoria de Antonio Francisco Magnoni. Ele aponta como os veículos não estavam preparados para as transformações advindas da internet e como o enfrentamento do cenário é duplamente árduo para esses veículos tradicionais, tendo em vista as profundas mudanças “de mentalidades e dos comportamentos coletivos, que vão alterando diuturnamente os modelos sociais, os processos criativos, produtivos e também os espaços culturais e as estruturas dos poderes econômicos e de representação jurídica e política”. Aproveitando gancho deixado por Magnoni a respeito das vantagens da segmentação na internet, o artigo “Do Hiperlocal aos insumos criativos: as mutações do jornalismo na contemporaneidade”, de Juliano Maurício de Carvalho e Angela Maria Grossi de Carvalho traz uma nova perspectiva para o jornalismo por meio da exploração das novas tecnologias e das chamadas indústrias criativas. Partindo da evolução dos meios ele chega ao que Jenkins definiu como convergência, ou seja, a fusão de conteúdo em diversas plataformas e uma necessidade cada vez maior pela audiência, agora oriunda dos tablets e smarthphones. Esse cenário, de acordo com os autores, estimula o surgimento do jornalismo hiperlocal. O jornalismo passa por uma transformação que transita entre a circulação da informação em tempo real, dinâmica e de grande alcance e a necessidade de adaptar a produção de conteúdo para os públicos locais. Nasce, assim, o conceito de hiperlocal. De modo geral, o hiperlocal atua em duas frentes: uma editorial e outra comercial. Na primeira, com o surgimento da necessidade do leitor de encontrar aquilo que realmente interessa com facilidade, em uma navegação cada vez mais direcionada (favoritos, RSS, Twitter...), os veículos que destacam o trânsito, a segurança ou o time de uma cidade, bairro ou rua Têm maior chance de sucesso. No quesito comercial, o oferecimento de produtos que tenham o foco definido, com potencialidades de criar um relacionamento estreito com o leitor, é um grande atrativo para o anunciante. A oferta de espaços comerciais cresce, mas também cresce o investimento em mídia, cada vez mais selecionado, segmentado.
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Os autores ainda apostam no jornalismo hiperlocal como um caminho para os profissionais da comunicação, tendo as indústrias criativas como mote. “Cenário de convergência desafia a formação de jornalistas”, de Angelo Sottovia Aranha, busca proble matizar o novo cenário de convergência e cultura participativa na formação do jornalista, destacando sem imprescindível a atuação do profissional especializado, cuja formação deve prezar pelas mudanças de cenário, com noções de empreendedorismo no jornalis mo, mas também reforce a capacidade de dominar noções mínimas sobre os sistemas políticos e econômicos, bem como um repertório conceitual capaz de lhe garantir credibilidade. “A formação da opinião pública em tempos de cultura da convergência”, de Carlos Willians Jaques Morais e Sérgio Luiz Gadini, discute a formação da opinião pública tendo em vista a era da cultura da convergência, apontando para os desafios de estudiosos e movimentos sociais em garantir a pluralidade nas produções jornalísticas. Juarez Tadeu de Paula Xavier encerra a primeira parte da coletânea com o artigo “Redações desterritorializadas e as possibilidades de modelagem de narrativas objetivas, concretas e factuais”, contextualizando as transformações pelas quais as redações passaram, as novas possibilidades de disputa de vozes na esfera pública, através das novas redações, desterritorializadas e capazes de viabilizar a experimentação do bom jornalismo. Na segunda seção, “Situações de convergência no jornalismo brasileiro”, o leitor poderá observar resultados práticos da aplicação das novas tecnologias na sociedade atual, principalmente em veículos de informação. O artigo que abre a seção, de autoria das professoras Cíntia Xavier e Karina Janz Woitowicz, problematiza a necessidade de uma formação interdisciplinar do jornalista em tempos de convergência e apresenta a experiência do projeto Portal Comunitário, um jornal laboratório on- line do curso de jornalismo da UEPG. É possível observar, na prática, como o exercício de um jornalismo mais local e desenvolvido junto à comunidade pode significar um importante fator na luta pela inclusão digital cidadã. “Entre a convergência e a divergência: o ‘jornalismo cidadão’ do mídia ninja”, de Denis Porto Renó e Andressa Kikuti Dancosky, aprofunda a d iscussão iniciada por Cíntia e Karina e reforça a pluralidade de opinião e a divergência cultural e tecnológica entre jornalismo cidadão e o jornalismo tradicional, destacando a importância de ambos. O trabalho é extremamente enriquecido ao analisar o papel do Mídia Ninja na cobertura dos protestos de junho de 2013,
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mostrando como de fato o grupo conseguiu não apenas pautar, mas entrar na mídia tradicional a partir da ausência dos velhos veículos em determinados espaços ocupados pela sociedade. As narrativas fotojornalísticas também ganham um capítulo com Eliza Bachega Casadei, com o artigo “Experiências fotojornalísticas em um cenário de convergência midiática: os novos espaços de autoria”. Nele é possível acompanhar as transformações que estimulam um novo posicionamento do fotógrafo profissional, bem como a legitimação das fotografias amadoras. O capítulo “A convergência de mídia e suas repercussões no processo de produção de um jornal regional”, de Paula Melani Rocha e Gisele Barão da Silva problematiza muito bem os desafios de veículos de informação, principalmente de abrangência regional ou local, de se adaptarem a era da convergência. Analisando o caso do Diário dos Campos (DC), jornal mais antigo de Ponta Grossa, as autoras afirmam ser necessário “repensar o funcionamento da estrutura interna em função das novas tecnologias” para conseguir melhor aproveitamento das novas tecnologias, o que exige um novo comportamento de profissionais, como o editor, que deve estar preparado para atuar, por exemplo, em um trabalho específico de edição de mídias sociais. No penúltimo capítulo, Marcelo Engel Bronosky e Luciane Justus dos Santos apresentam “Jornalismo e interatividade: os desafios das novas ambiências”, analisam o comportamento de leitores e o posicionamento dos veículos Jornal da Manhã (JM) e Diário dos Campos (DC), ambos da cidade de Ponta Grossa, a partir das novas possibilidades de participação do público. No último capítulo, “Convergência e multimidialidade: desafios da Agência Estadual de Notícias do Paraná na plataforma web”, Hebe Maria Gonçalves de oliveira e Marcio Ronaldo Santos Fernandes, autores, apontam como a convergência digital ampliou o trabalho da Agência Estadual de Notícias (AEN) e de que forma essa ferramenta influencia o jornalismo praticado no interior do estado, destacando ainda fragilidades quanto às possibilidades de convergência de plataformas. É possível perceber ao longo da coletânea o esforço dos autores na busca, de forma contemporânea, por um retrato atual e ao mesmo tempo otimista da aplicação da convergência midiática no jornalismo. Se por um lado ainda percebe-se diversos pontos de resistências, como a ausência de um modelo de negócio consagrado para a internet ou ainda as carências que temos na formação de nossos profissionais, observa-se por outro lado uma possibilidade absurda de novas formas de jornalismo a partir das realidades locais e das novas tecnologias, por exemplo. Jornalismo e Convergência ilustra um pouco como o caminho parece árduo, mas pode garantir
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um futuro próspero aos produtores, do ponto de vista de sobrevivência profissional, e consumidores, quanto a maior participação, de informação, garantindo consequentemente mais pluralidade e cidadania em nossa sociedade. BRONOSKY, M.E.; CARVALHO, J.M. (Org). Jornalismo e Convergência. São Paulo: Cultura Acadêmica,
2014.
Disponível
em
<http://www.culturaacademica.com.br/catalogodetalhe.asp?ctl_id=436> Acesso em 01/07/2015.
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6.5 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho da V Conferência Sul-Ame ricana e X Conferência Brasileira de Mídia Cidadã Jornalismo Hiperlocal: inovação e cultura digital
RESUMO O presente trabalho busca evidenciar como a revolução das novas tecnologias e o surgimento de uma cultura digital alteraram os processos de produção e consumo de conteúdos informativos, colocando em dúvida os modelos de negócio das empresas jornalísticas até então vigentes e desafiando o profissional da informação a atuar com eficiência e inovação. Com a expansão da cultura da convergência e a cada vez mais emergente oferta de plataformas para o acesso à informação, surge a possibilidade do jornalismo hiperlocal, aproximando-se das comunidades e fazendo com que seus integrantes atuem como consumidores ativos, permitindo novas formas para o bom jornalismo. PALAVRAS-CHAVE: jornalismo hiperlocal; cultura digital; cultura participativa; jornalismo cidadão; INTRODUÇÃO A adoção de novas tecnologias de comunicação provocou mudanças, sobretudo ao longo do século XX, nos modos de produção, distribuição e consumo da informação, seja ela jornalística, de entretenimento ou publicidade. O atual processo de convergência das mídias, com a disseminação de novas ferramentas e plataformas tecnológicas, trouxe novidades para o desenvolvimento das mídias tradicionais, então preocupadas com o futuro diante de quedas significativas de audiência em todos os veículos tradicionais, como rádio, televisão e principalmente os impressos. O presente trabalho é um relato do projeto de pesquisa intitulado ‘Jorna lismo Hiperlocal: inovação e cultural digital’, desenvolvido junto ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e patrocinado pelo CNPQ. Diante do cenário resumidamente exposto acima, busca compreender os atuais processos de produção e consumo de conteúdos informativos em âmbito local, tendo como referencial teórico os novos paradigmas sociais, econômicos e tecnológicos consequentes do presente cenário de inovação de plataformas, conteúdos e linguagens.
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A partir dos resultados obtidos até o presente momento, tentamos inferir alguns dos possíveis efeitos das atuais formas de organização e gestão dos veículos de comunicação em um cenário local e regional, influenciados pelo hiperlocal, e arriscamos esboçar os primeiros cenários para a nova cadeia produtiva dos meios de comunicação locais, mostrando que o cenário do jornalismo, mesmo que pessimista devido à lógica do mercado, pode ser promissor caso explorado, por parte dos profissionais, com inovação e criatividade junto à uma cultura participativa das comunidades.
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS A metodologia foi baseada na pesquisa bibliográfica e documental, levando-se em conta tanto os documentos primários quanto secundários. A revisão bibliográfica aprofundada na literatura nacional e internacional sobre o tema central da pesquisa foi de fundamental importância para dar conta das discussões encontradas e ampliadas. Para a pesquisa foi estabelecido um cronograma com sete etapas, com início em agosto de 2014 e término em julho de 2015. Atualmente, os trabalhos estão em processo de conclusão da 4ª etapa, sendo que as seguintes já foram iniciadas, mas não concluídas, como segue: 1ª etapa – Seleção de produções científicas relevantes para a pesquisa, tais como teses, dissertações e publicações em periódicos que realizaram um panorama conceitual sobre os processos de reconfiguração da produção jornalística mediante as inovações e inserções tecnológicas; 2ª etapa - Seleção de produções científicas, tais como teses, dissertações e publicações em periódicos que produziram conteúdo científico de análise do denominado Jornalismo Hiperlocal; 3ª etapa – Análise do material obtido na 1ª e 2ª etapas; 4ª etapa – Análise das tendências de produção jornalística local em um contexto de produção multimídia; 5ª etapa – verificar os desdobramentos de um Jornalismo Hiperlocal para a manutenção de um fluxo cognitivo em âmbito local; 6ª etapa –contextualizar a pesquisa com casos que demonstrem como está a associação dos processos multimídias com a produção informativa em âmbito local no Estado de São Paulo e, principalmente, na cidade de Bauru, interior de São Paulo; 7ª etapa Elaboração do relatório final da pesquisa, traçando um panorama sobre os processos de produção e consumo de conteúdos informativos em âmbito local tendo como referencial teórico os novos
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paradigmas sociais, econômicos e tecnológicos consequentes do presente cenário de inovação de plataformas, conteúdos e linguagens.
DESCRIÇÃO DO PROCESSO/EXPERIÊNCIA Um estudo da Universidade de Columbia e traduzido para a Revista de Jornalismo da 6
ESPM no Brasil aponta que as transformações ocorridas no mercado de empresas jornalísticas nos últimos anos alteraram drasticamente o que se conhecia por indústria jornalística, sendo que o advento das já conhecidas novas tecnologias provocou uma fragilização no mercado, expandindo a competitividade e comprometendo a qualidade da produção jornalística, no caso, nos EUA, objeto de análise do dossiê, mas se aplicando também a outras localidades, como o Brasil. As mudanças ocorridas, e que ainda então em curso, estão diretamente ligadas ao processo de convergência, que Henry Jenkins aponta como sendo a “palavra que define mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias circulam em nossa cultura” (JENKINS, 2009, p. 377) e destaca que algumas das ideias comuns expressas por este termo incluem o fluxo de conteúdos através de vários suportes midiáticos, a cooperação entre as múltiplas indústrias midiáticas, a busca de novas estruturas de financiamento de mídias, e o comportamento migratório da audiência, que vai a quase qualquer lugar em busca das experiências de entretenimento que deseja. Talvez, num conceito mais amplo, a convergência se refira a uma situação em que múltiplos sistemas midiáticos coexistem e em que o conteúdo passa por ele fluidamente. Convergência é entendida aqui como um processo contínuo ou uma série contínua de interstícios entre diferentes sistemas midiáticos, não uma relação fixa (JENKINS, 2009, p. 377).
Dessa forma, podemos afirmar que, no processo de convergência, os meios de comunicação não são apenas sistemas de distribuição de conteúdo e de tecnologia em diversas plataformas, mas são sistemas culturais. A convergência vai além de qualquer aparato tecnológico e afeta, essencialmente, as interações sociais de cada consumidor.
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Acessado em 02/03/2015 no endereço http://www.espm.br/download/2012_revista_jornalismo/ Revista_de_Jornalismo_ESPM_5/
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Jenkins (2008) interpreta essa emergência dos consumidores midiáticos como um momento de renegociação e reconfiguração dos papéis e das relações de poder entre produtores e consumidores. A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras (JENKINS, 2008, p. 30)
Todas as possibilidades proporcionadas pela cultura da convergência, desde o novo comportamento das pessoas, desejando cada vez mais serem participantes ativos no processo de produção e distribuição do conteúdo com o qual terão contato, até a explosão da oferta de conteúdo informativo em tablets, smartphones, games, televisões conectadas a internet, entre outras plataformas, estimulam o surgimento do jornalismo hiperloca l (BRONOSKY; CARVALHO, 2014, p. 73). Em ‘A Cauda Longa’, Chris Anderson (2006) já chamava a atenção para o fato de a tecnologia converter o mercado de massa em milhões de nichos, e é nessa segmentação que o jornalismo hiperlocal pega carona. O hiperlocal pode oferecer uma granularidade tanto geográfica como de conteúdo, ou seja, a capacidade de se concentrar em uma localização específica ou um produto específico. Ao unir o local com o online, as empresas podem satisfazer as necessidades dos clientes rapidamente, pois estas também conseguem dimensionar a demanda em tempo real. (BELDRAN, 2010).
Diante do dilema do alto volume de informação de grande alcance em tempo real e a necessidade de produção jornalística local (BRONOSKY; CARVALHO, 2014, p. 73), o jornalismo hiperlocal proporciona novas oportunidades profissionais, como blogs, portais de notícias, páginas em redes sociais, sempre destinadas a informar a respeito das comunidades em que estão diretamente inseridos. Como todos os empreendimentos dependentes do mercado, são identificadas nos últimos anos experiências exitosas e casos de fracasso no jornalismo hiperlocal, sendo interessante observar as principais dificuldades nesse processo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em um cenário onde o profissional do jornalismo está cada vez mais acanhado, diante das condições desfavoráveis do mercado e das reações do público, as possibilidades que o jornalismo hiperlocal proporciona são inúmeras. Não é apenas uma oportunidade para empreender, mas é
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fundamentalmente uma alternativa para se praticar o bom jornalismo, tão sepultado no dia a dia das grandes empresas jornalísticas. O fazer jornalismo não morreu e as notícias continuam acontecendo. O grande desafio é ser capaz de inovar na cobertura, unir-se aos moradores, e fazer com que o cidadão se interesse pelo seu próprio cotidiano. O hiperlocal nos permite voltar ao passado e resgatar técnicas do jornalismo comunitário e aperfeiçoá- las com as novas tecnologias disponíveis, integrando a comunidade através da cultura participativa e promovendo um grande avanço nas relações de cidadania, estimulando o engajamento da população nos mais diversos temas. A produção jornalística sofre transformações na medida em que a comunidade é parte central do novo empreendimento, seja em relação às suas exigências como audiência, seja como colaborador ativo no processo de produção. Estar atento às transformações, saber os caminhos que o mercado vem seguindo, se preparar para as dificuldades e acreditar nas possibilidades é praticamente crucial para a sobrevivência do jornalista, sendo também o objetivo desse trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. 1ª ed. São Paulo: Elsevier, 2006. ANDERSON, C. W., BELL, Emily; SHIRKY, Clay. Jornalismo Pós-Industrial: Adaptação aos novos tempos. Revista de Jornalismo da ESPM. Abril, Maio, Junho 2013, págs 30 – 89. BELDRAN, D. Geolocate.now: startups e o buzz do (hiper)local. 2010. Disponível em: <http://webholic.com.br>. Acesso em 19 mar. 2015. BRONOSKY, Marcelo Engel; CARVALHO, Juliano Maurício de (Orgs.). Jornalismo e Convergência. 1ª ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede . 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2007.
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6.6 Trabalho apresentado no Eixo 2 – Mídia e Tecnologias Digitais - IV Jornada Científica de Comunicação Social – Comunicação e Mobilidade: Vínculos e Rupturas, uma realização Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP, de 14 a 16 de abril de 2015.
Jornalismo Hiperlocal: inovação e cultura digital
PALAVRAS-CHAVE: jornalismo hiperlocal; cultura digital; jornalismo digital;
INTRODUÇÃO A adoção de novas tecnologias de comunicação provocou mudanças, sobretudo ao longo do século XX, nos modos de produção, distribuição e consumo da informação, seja ela jornalística, de entretenimento ou publicidade. O presente trabalho é um relato do projeto de pesquisa intitulado ‘Jornalismo Hiperlocal: inovação e cultural digital’, desenvolvido junto ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e patrocinado pelo CNPQ. Diante do cenário resumidamente exposto acima, busca compreender os atuais processos de produção e consumo de conteúdos informativos em âmbito local, tendo como referencial teórico os novos paradigmas sociais, econômicos e tecnológicos consequentes do presente cenário de inovação de plataformas, conteúdos e linguagens.
RELEVÂNCIA Além de compreender os processos de transformação os quais o jornalismo atravessa, o trabalho busca mostrar como o jornalismo hiperlocal pode ser uma alternativa ao decadente mercado jornalístico, tanto para os profissionais como também para a comunidade que passa a ser protagonista através da cultura participativa, sendo estimulada a aprimorar os processos de cidadania.
METODOLOGIA A metodologia do presente trabalho foi constituída na pesquisa bibliográfica e documental. Para a pesquisa foi estabelecido um cronograma com sete etapas, com início em agosto de 2014 e término em julho de 2015. Atualmente, os trabalhos estão em processo de
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conclusão da 4ª etapa, sendo que as seguintes já foram iniciadas, mas não concluídas, como segue: 1ª e 2ª: Seleção de produções científicas relevantes para a pesquisa, tais como teses, dissertações e publicações em periódicos sobre conceituação os processos de reconfiguração da produção jornalística e Jornalismo Hiperlocal; 3ª e 4ª: Análise do material obtido na 1ª e 2ª etapas e das tendências de produção jornalística local; 5ª: verificar os desdobramentos de um Jornalismo Hiperlocal; 6ª: contextualizar a pesquisa com casos no Estado de São Paulo e, principalmente, na cidade de Bauru; 7ª: traçar um panorama sobre os processos de produção e consumo de conteúdos informativos em âmbito local;
PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA (4500) O futuro já chegou para o jornalismo. Um estudo da Universidade de Columbia e traduzido para a Revista de Jornalismo da ESPM 7 no Brasil aponta que as transformações ocorridas no mercado de empresas jornalísticas nos últimos anos alteraram drasticamente o que se conhecia por indústria jornalística, sendo que o advento das já conhecidas novas tecnologias provocou uma fragilização no mercado, expandindo a competitividade e comprometendo a qualidade da produção jornalística, no caso, nos EUA, objeto de análise do dossiê, mas se aplicando também a outras localidades, como o Brasil. Os reflexos dessas transformações estão na maneira como a sociedade vem se relacionando com as novas tecnologias. Aliás, como Castells aponta uma revolução das tecnologias da informação, atualmente vivemos uma revolução dos números acerca das novas mídias, marcando claramente uma profunda ruptura no processo de produção jornalística. Hoje, cerca de 3 bilhões de pessoas possuem acesso a internet, de acordo com relatório da UIT (União Internacional de
Telecomunicações),
agência
especial da
ONU
para
assuntos
de
telecomunicações. Dados do estudo GlobalWebIndex, de 2014, apontam que 65% dos usuários de internet, cerca de 944 milhões de pessoas, utilizam o celular para acessar a web, enquanto outros 29% de usuários, ou 450 milhões de pessoas, acessam via tablet. O novo comportamento está diretamente ligado ao processo de convergência, que Henry Jenkins aponta como sendo a “palavra que define mudanças tecnológicas, industriais, culturais e
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Acessado em 02/03/2015 no endereço http://www.espm.br/download/2012_ revista_jornalis mo/Revista_de_Jornalismo_ESPM_5/
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sociais no modo como as mídias circulam em nossa cultura” (JENKINS, 2009, p. 377) e destaca que
algumas das ideias comuns expressas por este termo incluem o fluxo de conteúdos através de vários suportes midiáticos, a cooperação entre as múltiplas indústrias midiáticas, a busca de novas estruturas de financiamento de mídias, e o comportamento migratório da audiência, que vai a quase qualquer lugar em busca das experiências de entretenimento que deseja. Talvez, num conceito mais amplo, a convergência se refira a uma situação em que múltiplos sistemas midiáticos coexistem e em que o conteúdo passa por ele fluidamente. Convergência é entendida aqui como um processo contínuo ou uma série contínua de interstícios entre diferentes sistemas midiáticos, não uma relação fixa (JENKINS, 2009, p. 377). Dessa forma, podemos afirmar que, no processo de convergência, os meios de comunicação não são apenas sistemas de distribuição de conteúdo e de tecnologia em diversas plataformas, mas são sistemas culturais. A convergência vai além de qualquer aparato tecnológico e afeta, essencialmente, as interações sociais de cada consumidor. Neste sentido, todas as possibilidades proporcionadas pela cultura da convergência, desde o novo comportamento das pessoas, desejando cada vez mais serem participantes ativos no processo de produção e distribuição do conteúdo com o qual terão contato, até a explosão da oferta de conteúdo informativo em tablets, smartphones, games, televisões conectadas a internet, entre outras plataformas, estimulam o surgimento do jornalismo hiperlocal (BRON OSKY; CARVALHO, 2014, p. 73). Em ‘A Cauda Longa’, Chris Anderson já chamava a atenção para o fato de a tecnologia converter o mercado de massa em milhões de nichos, e é nessa segmentação que o jornalismo hiperlocal pega carona.
O hiperlocal pode oferecer uma granularidade tanto geográfica como de conteúdo, ou seja, a capacidade de se concentrar em uma localização específica ou um produto específico. Ao unir o local com o online, as empresas podem satisfazer as necessidades dos clientes rapidamente, pois estas também conseguem dimensionar a demanda em tempo real. (BELDRAN, 2010).
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Diante do dilema do alto volume de informação de grande alcance em tempo real e a necessidade de produção jornalística local (BRONOSKY; CARVALHO, 2014, p. 73), o jornalismo hiperlocal proporciona novas oportunidades profissionais, como blogs, portais de notícias, páginas em redes sociais, sempre destinadas a informar a respeito das comunidades em que estão diretamente inseridos. Como todos os empreendimentos dependentes do mercado, são identificadas nos últimos anos experiências exitosas e casos de fracasso no jornalismo hiperlocal, sendo interessante observar as principais dificuldades nesse processo.
CONCLUSÃO Os processos provocados pela cultura da convergência e já refletidos no comportamento da sociedade registraram uma ruptura na forma de se fazer jornalismo. Neste cenário, no qual o profissional está cada vez mais acanhado, diante das condições desfavoráveis do mercado e das reações do público, as possibilidades que o jornalismo hiperlocal nos proporciona são inúmeras. Não é apenas uma oportunidade para empreender, mas é fundamentalmente uma alternativa para se praticar o bom jornalismo, tão sepultado no dia a dia das grandes empresas jornalísticas. O fazer jornalismo não morreu e as notícias continuam acontecendo. O grande desafio é ser capaz de inovar na cobertura, unir-se aos moradores, e fazer com que o cidadão se interesse pelo seu próprio cotidiano. E nesse sentido também são diversas as maneiras de estabelecer uma relação direta entre o jornalismo hiperlocal e a comunidade na qual ele atua. O novo consumidor quer ser participativo, não quer apenas consumir o que outros dizem a respeito de seu meio e nem serem meros declarantes de suas realidades. Com seus smartphones e tablets, a comunidade pode ser inserida como integrante do processo de produção, enviar relatos, fotos, vídeos, denúncias, sugere debates. Do mesmo modo, recebem tais informações que são enviadas por outros membros e aprimoradas por editores. Criam-se vínculos. Essa dinâmica envolve a comunidade e permite um grande avanço nas relações de cidadania, estimulando o engajamento da população nos mais diversos temas. A produção jornalística sofre transformações na medida em que a comunidade é parte central do novo empreendimento, seja em relação às suas exigências como audiência, seja como colaborador ativo no processo de produção. Estar atento às transformações, saber os caminhos que o mercado vem seguindo, se preparar para as dificuldades e acreditar nas poss ibilidades é praticamente crucial para a sobrevivência do jornalista, sendo também o objetivo desse trabalho.
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REFERÊNCIAS (2000)
ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. 1ª ed. São Paulo: Elsevier, 2006.
ANDERSON, C. W., BELL, Emily; SHIRKY, Clay. Jornalismo Pós-Industrial: Adaptação aos novos tempos. Revista de Jornalismo da ESPM. Abril, Maio, Junho 2013, págs 30 – 89.
_______________. O Futuro da Mídia (até segunda ordem). Revista de Jornalismo da ESPM. Janeiro, fevereiro, Março 2013, págs 26 – 57.
BELDRAN, D. Geolocate.now: startups e o buzz do (hiper)local. 2010. Disponível em: <http://webholic.com.br>. Acesso em 19 mar. 2015.
BRONOSKY, Marcelo Engel; CARVALHO, Juliano Maurício de (Orgs.). Jornalis mo e Conve rgência. 1ª ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009.
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2007.
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6.7 Trabalho apresentado no XX Intercom Sudeste – Uberlândia 2015 A Produção Jornalística Hiperlocal Diante Das Transformações Tecnológicas
RESUMO O presente trabalho busca evidenciar como a revolução das novas tecnologias e o surgimento de uma concepção digital alteraram os processos de produção e consumo de conteúdos informativos. As análises servirão de preâmbulo para a discussão sobre o novo cenário no qual está inserido o processo de construção do Jornalismo com direção para novos panoramas no meio digital e suas implicações em nível local.
Palavras-Chave:
Jornalismo;
Jornalismo
Digital;
Jornalismo
Hiperlocal;
Revolução
Tecnológica.
INTRODUÇÃO Vivemos atualmente num mundo em constantes mudanças no qual o tempo é escasso e a dinâmica é extremamente acelerada. De forma quase imperceptível, a tecnologia tomou conta do homem e hoje atua como personagem central em uma sociedade cada vez mais inovadora. Entender como chegamos ao atual cenário nos remete a meados dos anos de 1970, quando as novas tecnologias da informação começaram a se difundir pelo planeta. Diferentemente de outras revoluções da história da humanidade, ela disseminou-se em um curto espaço de tempo, cerca de duas décadas, com uma lógica distinta: a mente humana passou a ser força direta de produção ao apropriar-se da tecnologia, aplicando-a imediatamente em seu próprio desenvolvimento. (CASTELLS, 1999) As transformações são tão intensas que Castells (1999) sugere o surgimento de um novo paradigma tecnológico, apontando para uma transformação da cultura material da sociedade, tendo como base a tecnologia da informação. Estabelecendo um paralelo, a sociedade passa a ser digital, a informação é produzida, armazenada, resgatada e transmitida. O cerne da transformação que estamos vivento na revolução atual refere-se às tecnologias da informação, processamento e comunicação. A tecnologia da informação é para esta revolução o que as novas fontes de energia foram para as revoluções industriais sucessivas, do motor a vapor à eletricidade, aos combustíveis fósseis e até mesmo à energia nuclear, visto que a geração e
85 distribuição de energia foi o elemento principal na base da sociedade industrial. (CASTELLS, 1999, p. 68)
O desenvolvimento da microeletrônica, fator fundamental para desencadear as transformações na tecnologia da informação, começou por volta de 1876 com a invenção do telefone, por Bell, passando pelo surgimento do rádio, em 1898, por Marconi. Já em 1940, entretanto, nos Estados Unidos da América e na Grã- Bretanha, surgiam os primeiros planejamentos de computadores do mundo. O processo evolutivo, contudo, se deu a partir da Segunda Guerra Mundial com as grandes descobertas eletrônicas, o primeiro computador programável, depois o primeiro computador pessoal, grande avanço tecnológico responsável por alavancar o mercado empresarial, acelerando o desenvolvimento da máquina. (ASA BRIGGS & PETER BURKE, 2002). Castells (1999, p. 76) defende, contudo, que “só na década de 1970 as novas tecnologias da informação difundiram-se amplamente, acelerando seu desenvolvimento sinérgico e convergindo em um novo paradigma”. Embora a história da tecnologia não seja o único elemento na história da mídia da segunda metade do século XX, os computadores devem vir em primeiro lugar em qualquer análise histórica, pois logo que deixaram de ser considerados simples máquinas de calcular ou úteis acessórios de escritório — e isso só aconteceu no começo da década de 1970 —, eles passaram a fazer com que todos os tipos de serviços, e não somente os de comunicações, tomassem novas formas. (ASA BRIGGS & PETER BURKE, 2002, p. 273).
Outro aspecto mais que relevante na curta, porém intensa, história da revolução da tecnologia da informação é a criação da internet. Seu desenvolvimento se deu principalmente por necessidades militares, quando a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA) elaborou um sistema de comunicação invulnerável a ataques nucleares. Mais tarde, a tecnologia digital evoluiu o sistema e permitiu o empacotamento de diversas mensagens (texto, áudio, imagem), dando possibilidade para a comunicação global. (CASTELLS, 1999, p. 82).A partir daí, o modelo elaborado pela ARPA, denominado ARPANET, que passou a funcionar entre universidades em 1969, foi evoluindo para atender as demandas que começavam a surgir. Ainda na década de 1980, a rede das redes que fora formada passou a se chamar Internet.Um novo salto tecnológico ocorreu no início da década de 1990 com um novo aplicativo capaz de superar as limitações de transmissão de informação. O Word Wibe Web (WWW) passou a organizar o conteúdo
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disponível nas redes por informação e não mais localização, facilitando as buscas e abrindo de vez as portas da internet para toda a sociedade, até então restrita aos bancos das universidades.
NOVO PARADIGMA DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Para caminharmos em direção a um entendimento amplo a respeito da transformação tecnológica pela qual passamos, faz-se necessário apresentar os cinco aspectos principais do paradigma da tecnologia da informação, também de acordo com Castells (1999). A primeira característica é a informação como matéria prima do paradigma, sendo tecnologias para agir sobre a informação. O segundo aspecto faz referência a penetração das novas tecnologias nas vidas das pessoas, tendo em vista a essência humana que carece de informação e acaba por ser moldada pelo novo meio. A terceira diz respeito à integração das várias redes existentes, enquanto a quarta característica trata dos sistemas de redes, capazes de influenciar organizações e estimular suas respectivas reorganizações. Por fim, o quinto e último aspecto trata da convergência das tecnologias específicas, viabilizando um sistema altamente integrado. Utilizando os conceitos de Freeman (1998), Castells aponta que a mudança contemporânea de paradigmas pode ser vista como uma transferência de uma tecnologia baseada principalmente em insumos baratos de energia para uma outra que se baseia predominantemente em insumos baratos de informação derivados do avanço da tecnologia em microeletrônica e telecomunicações. (Freeman, apud CASTELLS, 1999, p. 77)
Em meados da década de 1960, o desenvolvimento de tecnologias para suprir as carências por comunicação então existentes ainda encontravam-se em estágio experimental de laboratório, embora a teoria estivesse bem avançada. Durante a década de 1980, quando possibilidades passaram a surgir e serem testadas, o sentimento de dúvida a respeito do sucesso que a tecnologia faria ainda persistia (ASA BRIGGS & PETER BURKE, 2002). O fato é que a tecnologia digital prevaleceu definitivamente na maioria dos ramos das comunicações, emergindo uma nova Era. As últimas considerações de Manuel Castells que nos interessam nesse momento apontam para a concretização de suas expectativas. Já no final da década de 1990, a computação se difundiu e começou a dar origem a diversos dispositivos, vários deles móveis, que foram aumentando as possibilidades de conexão. O aprimoramento dos processadores e os novos softwares permitiram ampliar a ideia de redes e possibilitar o acesso em todos os locais com conexão disponíveis.
87 Embora o novo sistema ainda estivesse em processo de formação enquanto eu escrevia este livro, os usuários já tinham acesso à rede com uma série de aparelhos especializados, de finalidade única, distribuídos em todos os setores da vida e das atividades em casa, no trabalho, em centros de compras e de entretenimentos, em veículos de transporte público e, por fim, em qualquer lugar. Esses dispositivos, muitos deles portáteis, comunicam-se entre si, sem necessidade de sistema operacional próprio. (CASTELLS, 1999, p. 89)
De certa forma, a Revolução Tecnológica da Informação é diferente das revoluções tecnológicas anteriores porque autoaplica imediatamente a tecnologia e o conhecimento gerado no desenvolvimento contínuo dos sistemas informacionais de conexão mundial (CASTELLS, 1999). Nesse novo cenário em consolidação, com destaque para a formação de um novo público agente, o rádio e a televisão, por exemplo, duas das principais mídias em termos de penetração e alcance, não escaparão dos rituais coletivos do ciberespaço, até porque o projeto de digitalização dos dois veículos demorou demais e deu tempo suficiente para a internet se consolidar como meio essencialmente interativo, mais abrangente, portátil e popular, a cada dia que passa. Os internautas reeditam conteúdos, modificam ferramentas, reeditam ambientes virtuais e conteúdos publicados, reelaboram as interfaces entre pessoas e dispositivos e
sempre
reivindicam recursos mais eficientes e amigáveis para a interatividade e a comunicação multilateral. Agem em movimentos coletivos ou ações individuais, e com distintos intentos, que vão modificando os formatos, a linguagem e até a forma de recepção dos antigos meios. Dessa forma, o público atual experimenta e valoriza cada vez mais, a liberdade de escolha e de fruição que adquiriu com os meios interativos e não lineares. Sendo assim, o usuário dispõe de conteúdos em muitos formatos e linguagens, que estão armazenados em variadas plataformas atendidas por ferramentas bastante amigáveis, que ele pode utilizar conforme suas necessidades ou disponibilidade de tempo para fruição. Com isso, “pode optar por tempo real ou diferido, não tem mais que aceitar as regras da periodicidade típica da comunicação impressa ou das grades lineares de programação do rádio e da televisão” (MAGNONI, 2010, p. 07).
Sendo assim, no Jornalismo, a ideia de mudanças é um processo multidimensional que afeta os âmbitos tecnológicos, empresarial, profissional e editorial dos meios de comunicação, propiciando a integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente independentes, de forma que os jornalistas passem a elaborar conteúdos que sejam
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distribuídos em múltiplas plataformas, com formatos e linguagens apropriadas para cada uma delas (GARCÍA AVILÉS; SALAVERRÍA; MASSIP, 2008, apud BARBOSA, 2009). Ramon Salaverría e Samuel Negredo (2008) destacam que a integração das redações é apenas o elemento mais tangível do processo de convergência no jornalismo, mas que esse é mais complexo. O modelo vai além da reestruturação de cargos e redução de equipe: a rotina e o fazer jornalístico é que se tornam a questão central.
Aventurar-se em um processo de convergência exige uma reestruturação geral de toda a empresa. (...) Limitar o processo a fusões de redações sem ter realizado outras mudanças estruturais parece, portanto, um erro estratégico grave. Quando isso acontece, a integração serve apenas para um objetivo a curto prazo de redução de custos e aumento da produtividade, por mais que se tente afirmar o contrário (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 16, tradução do autor).
Diante desse cenário, há uma percepção recorrente de que o futuro de inúmeros modelos de negócio, inclusive o jornalístico, está nas mãos daqueles que se dispõem a entender como tecnologias funcionam (BRIGGS, 2010; ROYAL, 2010) e assim não é novidade que desde os primórdios da evolução tecnológica, a atividade jornalística tem sido impactada constantemente pelas introduções de novas formas de produção e distribuição de conteúdo de relevância social. Contudo, no campo do jornalismo, somente agora, existe uma percepção da importância de entender como as tecnologias modificam ou modificarão os modos do fazer e consumir jornalismo. (LIMA JUNIOR, 2011, p. 47) Salaverría (2003) sintetiza as quatro dimensões centrais da convergência jornalística: a empresarial, a tecnológica, a profissional e a comunicativa. As reconfigurações em redações de empresas jornalísticas, a partir da noção de integração entre essas duas produções, iniciaram em países nórdicos e com experiências pontuais nos Estados Unidos. Dessa forma, em seu passo de estruturação, a convergência tecnológica acabará por promover mudanças significativas nos mais variados modelos de produção e negócio, incluindo o jornalístico. Logo, como a convergência jornalística é um processo em evolução contínua, de aspecto complexo, o desenvolvimento de pesquisas que estudem casos distintos, de regiões diferentes para conhecer as rotinas de produção em redações integradas, permitirá esclarecer a(s) forma(s) configuradora(s) da convergência jornalística no Brasil, seus modelos, como é o desenvolvimento e implantação das ações relativas às distintas áreas da convergência jornalística e o grau de convergência existente (BARBOSA, 2009, p. 51).
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Dessa forma, o fazer jornalístico em cenários de macroanálise passa por mutações profundas no início do século 21 e as empresas sinalizam que estão revendo suas estratégias editoriais e os seus tradicionais modelos de negócios. No dossiê “Jornalismo Pós-Industrial: Adaptação aos novos tempos” (“Post-Industrial Journalismo: adapting to the present”, 2012), C.W. Aderson, Emily Bell e Clay Shirky, membros do Tow Center for Digital Journalism da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, fazem importantes análises sobre o cenário atual do jornalismo norte-americano e são apontados importantes aspectos que auxiliam a compreender essa nova realidade.
REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA EM NÚMEROS Atualmente, cerca de 3 bilhões de pessoas, ou cerca de 40% da população mundial, possuem acesso a internet, de acordo com relatório da UIT (União Internacional de Telecomunicações), agência especial da ONU para assuntos de telecomunicações. Os dados do estudo mostram um forte crescimento dos usuários, com os índices chegando a dobrar nos últimos cinco anos, com elevações principalmente em países em desenvolvimento. Quando o assunto é a plataforma utilizada para acessar o serviço, os números também impressionam. Dados do estudo GlobalWebIndex, de 2014, apontam que 65% dos usuários de internet, cerca de 944 milhões de pessoas, utilizam o celular para acessar a web, enquanto outros 29% de usuários, ou 450 milhões de pessoas, acessam via tablet. Para se ter uma ideia da dimensão das transformações da relação entre pessoas e tecnologia, segundo projeção realizada pela consultoria Britânica Enders, em 2014, o número de smartphones no mundo esteve muito próximo de superar os de computadores. Enquanto no mundo estima-se que existam 1,5 bilhão de máquinas, o ano passado teria fechado com 1,4 bilhão de smartphones, com grande possibilidade de ultrapassar os tradicionais computadores, devido a curva ascendente dos apararelhos móveis. Outra empresa especializada, a eMarketer, também divulgou estudo5 em 2014, porém mais otimista. Já em 2014 teríamos 1,75 bilhão de dispositivos móveis, atingindo a marca de 3 bilhões de aparelhos acessando a internet em 2017. No mercado de tablets, um relatório recente novamente da eMarketer, projetou que neste ano de 2015 o mundo deve possuir mais de 1 milhão de usuários da plataforma.
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O NOVO CENÁRIO DO JORNALISMO O futuro já chegou para o jornalismo e profundas mudanças ocorreram nos últimos anos em velocidade tão considerável que bem mesmo os especialistas garantem ser possível mensurar todas as ferramentas e alternativas possíveis em tempo real. Um estudo da Universidade de Columbia e traduzido para a Revista de Jornalismo da ESPM6 no Brasil aponta que tais transformações alteraram drasticamente o que se conhecia por indústria jornalística, sendo que o advento das já conhecidas novas tecnologias provocou uma fragilização no mercado, expandindo a competitividade e comprometendo a qualidade da produção jornalística, no caso, nos EUA, objeto de análise do dossiê. Os autores, C. W. Anderson, Emily Bell e Clay Shirky, defendem que a prática jornalística é essencial e se coloca ao lado da sociedade. Expõe a corrupção, denuncia, cobra, agiliza e aproxima a sociedade das decisões que norteiam o dia-a-dia das pessoas, desde as posições políticas até as de comportamento. Contudo, a crise estabelecida no presente momento indica um cenário pessimista, no qual não será, de acordo com o relatório, reestabelecer o jornalismo praticado ao longo dos últimos 50 anos. Na prática, isso significa transformações profundas não apenas no modo de produção da notícia, mas também nas estratégias utilizadas pelos veículos de comunicação. As grandes redações, com funções segmentadas em que havia tempo e relativa tranquilidade para a apuração dá lugar há um cenário cada vez mais dinâmico, de equipes enxutas e profissionais multifuncionais capazes de desempenhar as funções que antes eram realizadas por dois, três ou mais profissionais. O tempo de dar a notícia também é outro. As diversas plataformas exigem a atualização em tempo real. Por outro lado, o estudo reforça a necessidade de se encontrar um modelo capaz de evitar a transformação do jornalismo em atividade de defesa de interesses pessoais, ponderando que a produção de hoje em dia tende misturar jornalismo ao entretenimento, citando inclusive Lord Northcliffe - “Notícia é algo que alguém, em algum lugar não quer ver publicado. Todo o resto é publicidade”. Os autores defendem que o jornalista, e sua essência, não pode ser colocado em segundo plano e substituído por outros meios sociais. Apenas o jornalista seria capaz de apurar a notícia, contextualizá- la e difundi- la ao passo que repercuta na sociedade, ou seja, um profissional capaz de se sobrepor à máquina e estabelecer relações diretas com a sociedade. Diante do cenário, é possível considerar que as tendências são globais e reafirmar um pensamento pessimista, sendo que a produção jornalística tende a piorar mais em sua qualidade
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nos próximos anos. Entretanto, novamente baseado no estudo do Jornalismo Pós-industrial, é possível corrigir tais fragilidades que afetaram o ecossistema da notícia. Os autores definem cinco convicções a partir disso: o jornalismo é essencial; o bom jornalismo sempre foi subsidiado; a internet acaba com o subsídio da publicidade; a reestruturação se faz, portanto, obrigatória; há novas maneiras de fazer um bom trabalho de novas maneiras.
FINANCIAMENTO DIANTE DAS MUDANÇAS Uma das maiores evidências das transformações impostas pelo atual momento vivido pelo jornalismo é percebida através da crise no tradicional modelo de financiamento da produção jornalística. Desde sempre, o bom jornalismo sempre foi praticado através do subsídio privado através da publicidade, e os novos meios estariam colocando em risco tal modelo. A publicidade, principal receita desde 1830, está desaparecendo. Com a internet paga-se pela infraestrutura que é utilizada por todos e chega ao fim o ciclo vertical até então dominante. Pondera-se que a internet trouxe, sim, novas categorias de anúncios, entretanto, que ainda estão longe de subsidiar integralmente a produção de conteúdo. O fato levantando é que a velha publicidade sempre teve um controle absoluto dos meios, o que se inverteu com a internet, efervescendo o marketing flexível direto, incapaz de sustentar as mesmas margens de lucro dos meios tradicionais. A conclusão preocupante de C. W. Anderson, Emily Bell e Clay Shirky sobre o futuro da publicidade é de que em um período de três a cinco anos nenhuma outra plataforma deve compensar o colapso da receita publicitária, fortalecendo o cenário negativo e concluindo que o custo de produção de notícias precisa cair e essa redução necessita ser acompanhada de uma reestruturação organizacional. O jornalismo pós- industrial considera que as instituições atuais irão perder receita e participação de mercado e para sobreviver terão que mergulhar nos novos métodos de trabalho através das mídias digitais. PRODUÇÃO LOCAL Em outro dossiê também publicado no Brasil pela Revista de Jornalismo da ESPM, intitulado ‘O Futuro da Mídia’7, o cenário de mudanças do jornalismo é aprofundado com o apontamento de práticas que estão emergindo no mercado. Stephen B. Shepard aponta que não é mais possível ao jornalismo oferecer tudo para todos, apontando que a sobre vivência dos jornais estaria ligada à especialização da segmentação da produção, como uma cobertura forte de fatos locais e a oferta de conteúdo inteligente e exclusivo construído com bons textos e análises. Uma
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nova estratégia estaria na união de forças d ireta com as comunidades locais, estabelecendo parcerias com blogs e até emissoras de radiodifusão comunitárias, ampliando os conteúdos a serem disponibilizados nos sites dos veículos. “Ou que tal criar um site hiperlocal? E nós mesmos podemos achar esse público, com base em informações sobre hábitos de leitura e interesses”, afirma Shepard. Criando nichos de públicos, o veículo também teria a oportunidade de fidelizar leitores, ou ciberleitores, permitindo a venda de publicidade e produtos específicos para esses públicos. Todo o conteúdo apontado por Stephen B. Shepard no dossiê O Futuro da Mídia estaria acompanhado de produções transmídia, com a imersão de áudios, vídeos e integração de plataformas.
NOVO CONSUMIDOR DE NOTÍCIAS Com tantas informações a respeito de transformações tecnológicas e surgimento de novas tecnologias, o que podemos assimilar de imediato é que passamos não apenas por uma mudança dos meios de comunicação. O que Castells chama de novo paradigma da tecnologia da informação, que se evidenciam com os números de usuários de dispositivos integrantes das novas tecnologias, aponta para uma sociedade que se transformou, alterando completamente o comportamento de seus integrantes. Entender esse novo comportamento é fundamental para conseguirmos prosseguir com nossa pesquisa, tento em vista que é exatamente para esse consumidor que teremos que produzir notícias, de acordo com seus interesses e seus dispositivos, adequando linguagem, texto, recursos gráficos e audiovisuais. E antes de nos apro fundarmos nesse aspecto, que é sem dúvida o ponto alto de nossa pesquisa, só podemos afirmar que atender esse ‘ciberleitor’ de notícia é extremamente diferente do fiel leitor de jornal, que por anos foi nosso assinante e aguardava todas as manhas para ficar informado. Jenkins (2008) interpreta essa emergência dos consumidores midiáticos como um momento de renegociação e reconfiguração dos papéis e das relações de poder entre produtores e consumidores. A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras (JENKINS, 2008, p. 30)
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Para o autor, cada vez mais o consumidor participa ativamente na cultura de mídia, a medida que aprende a utilizar as ferramentas digitais e estabelece contato com outros consumidores por meio de fóruns de discussão e comunidades virtuais. Assim, o consumidor experimenta novas formas de sociabilidade e exerce uma participação politicamente ativa dos indivíduos. O poder dos consumidores midiáticos não se limita a capacidade adquirida de eliminar um concorrente de um reality show ou de circular na internet uma paródia de um seriado favorito feito entre os amigos, por exemplo. Para Jenkins, a cultura participativa permite ao indivíduo que ele desenvolva sua habilidade de tomar decisões e de aumentar sua consciência social. O poder da participação vem não de destruir a cultura comercial, mas de reescrevê-la, modificá-la, corrigi-la, expandi-la, adicionando maior diversidade de pontos de vista, e então circulando-a novamente, de volta às mídias comerciais. Interpretada nestes termos, a participação torna-se um importante direito político... O surgimento de novas tecnologias sustenta um impulso democrático para permitir que mais pessoas criem e circulem mídia. Às vezes a mídia é planejada para responder aos conteúdos dos meios de massa – positiva ou negativamente – e às vezes a criatividade alternativa chega a lugares que ninguém na indústria da mídia poderia imaginar (JENKINS, 2008, p. 326).
Nas possibilidades de novas interações possíveis no ambiente online, a identificação dos jovens com os recursos oferecidos é cada vez mais ampliada e específica em determinados campos de busca.
CONSIDERAÇÕES No presente artigo, optou-se por fazer um preâmbulo sobre as mudanças advindas com a chamada Revolução Tecnológica. Essa contextualização permitiu uma consideração interessante: a atual mudança se difere das demais transformações no que se refere ao jornalismo devido a profunda alteração de comportamento que provocou na sociedade. Aproveitamos também para levantar questões que implicam diretamente nos novos paradigmas sociais, econômicos e tecnológicos consequentes do presente cenário de inovação de plataformas, conteúdos e linguagens, aspectos que também integravam os objetivos iniciais.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, C. W.; BELL, E.; SHIRKY, C. Post-Industrial Journalism: Adaptingto the Present. 2013. Disponível em: <http://towcenter.org/research/post- industrial- journalism>. Acesso em jan. 2013 BARBOSA, Suzana. Convergência jornalística em curso: as iniciativas para a integração de redações no Brasil. In: RODRIGUES, Carla (org.). Jornalismo online: modos de fazer. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Editora Sulina, 2009, p. 35-55. ______. Convergência jornalística em curso: as iniciativas para a integração de redações no Brasil. In: RODRIGUES, Carla (org.). Jornalismo online: modos de fazer. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Editora Sulina, 2009, p. 35-55 BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia:de Gutenberg à internet. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. JENKINS, Henry. Transmedia education: the seven principles revisited, 2010. Disponível em: <http://tinyurl.com/2dc6kxv>. Acesso em: jun. 2013. ______. Cultura da Convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. ______. Convergence? I Diverge. In: Technology Review. Cambridge: MIT, Junho, 2001. Disponível em: <http://www.technologyreview.com/business/12434>. Acesso em: out. 2013. MAGNONI, A. F. Estudo Comparativo Do Processo De Implantação Da Televisão Digital Terrestre No Brasil E Na Argentina. Relatório de atividades apresentado à Pró-Reitoria de Pesquisa da Unesp, de estágio de pós-doutoramento realizado na Universidad Nacional de Quilmes, Argentina, 2010 ______; MIRANDA, G. V. Perspectivas e Desafios para o Rádio na Era Digital. In Orbis, Venezuela, v . 8, n. 21, p. 82 - 96, jan. 2012
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6.8 Trabalho enviado a XX Jornada M ultidisciplinar O presente trabalho é resultado da Pesquisa de Iniciação Científica intitulada ‘Jornalismo hiperlocal: inovação e cultura digital’, que conta com o apoio do Cnpq.
Objetivos Entre os objetivos do presente trabalho está a compreensão dos atuais processos de produção, consumo e difusão de conteúdos jornalísticos. Também se buscou inferir os possíveis efeitos das atuais formas de organização e gestão dos veículos de comunicação em um cenário local e regional e esboçar cenários para a nova cadeia produtiva dos meios de comunicação locais.
Material e métodos A metodologia foi baseada na pesquisa bibliográfica e documental, levando-se em conta tanto os documentos primários quanto secundários. A revisão bibliográfica na literatura nacional e internacional sobre o tema central da pesquisa foi de fundamental importância para dar conta das discussões encontradas e ampliadas. Para a pesquisa foi estabelecido um cronograma com sete etapas, com início em agosto de 2014 e término em julho de 2015.
Resultados e discussões Estudos recentes apontam que as transformações ocorridas no mercado de empresas jornalísticas nos últimos anos alteraram drasticamente o que se conhecia por indústria jornalística. O novo comportamento está diretamente ligado ao processo de convergência, que Henry Jenkins aponta como sendo a “palavra que define mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias circulam em nossa cultura” (JENKINS, 2009, p. 377). Neste sentido, todas as possibilidades proporcionadas pela cultura da convergência estimulam o surgimento do jornalismo hiperlocal (BRONOSKY; CARVALHO, 2014, p. 73). O hiperlocal pode oferecer uma granularidade tanto geográfica como de conteúdo, ou seja, a capacidade de se concentrar em uma localização específica ou um produto específico. Ao unir o local com o online, as empresas podem
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Considerações finais Em um cenário pessimista para o profissional do jornalismo, as possibilidades que o jornalismo hiperlocal proporciona são inúmeras. Não é apenas uma oportunidade para empreender, mas é fundamentalmente uma alternativa para se praticar o bom jornalismo, tão sepultado no dia a dia das grandes empresas jornalísticas. Além disso, ao captar as características do jornalismo cidadão e fundir com as novas tecnologias podemos também considerar o jornalismo hiperlocal como alternativa para enfrentar a desproporcional cobertura da mídia em relação a temas fundamentais como gênero, sexualidade, diversidades, ataques aos direitos das minorias, entre outros. O hiperlocal, apoiado nas indústrias criativas, nos permite através da cultura participativa promover um grande avanço na comunicação democrática, ampliando a diversidade cultural e garantindo diversidade na produção jornalística. O jornalismo hiperlocal vem dar à comunidade a oportunidade de expressar e criar laços de identidade, em contraponto à cultura mundializada e à padronização das produções jornalísticas.
Referências bibliográficas ANDERSON, C. W., BELL, Emily; SHIRKY, Clay. Jornalismo Pós-Industrial: Adaptação aos novos tempos. Revista de Jornalismo da ESPM. Abril, Maio, Junho 2013, págs 30 – 89. BELDRAN, D. Geolocate.now: startups e o buzz do (hiper)local. 2010. Disponível em: <http://webholic.com.br>. Acesso em 19 mar. 2015. BRONOSKY, Marcelo Engel; CARVALHO, Juliano Maurício de (Orgs.). Jorna lismo e Convergência. 1ª ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2007.
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6.9 Trabalho enviado e aprovado ao XX Congresso de Iniciação Científica da Unesp de Bauru As novas possibilidades para o Jornalismo em um cenário hiperlocal
Henrique Cézar Coutinho da Rocha, Juliano Maurício de Carvalho, Giovani Vieira Miranda, Bauru,
Faculdade
de
Arquitetura,
Artes
e
Comunicação
(FAAC),
Jornalismo,
h.cezar@hotmail.com, PIBIC. Palavras Chave: jornalismo hiperlocal, jornalismo digital, cultura digital.
Introdução Atualmente, tornou-se quase imperceptível a influência da tecnologia em nosso cotidiano. Entender como chegamos ao atual cenário nos remete a meados dos anos de 1970, quando as novas tecnologias da informação começaram a se difundir em um curto espaço de tempo e com uma lógica um pouco diferenciada: a mente humana passou a ser força direta de produção ao apropriar-se da tecnologia, aplicando-a imediatamente em seu próprio desenvolvimento (CASTELLS, 1999). Nesse panorama, desenvolvem-se alterações comunicacionais com a consolidação do jornalismo e de suas potencialidades digitais, permitindo a conquista do seu espaço entre os media tradicionais. Paralelamente, mesmo em um mundo pautado pelo fenômeno da globalização, emerge um crescente interesse pela informação de proximidade, que ganha uma nova ambiência no mundo digital. Objetivos Compreender os atuais processos de produção, consumo e difusão de conteúdos jornalísticos. Inferir os possíveis efeitos das atuais formas de organização e gestão dos veículos de comunicação em um cenário local e regional diante dos processos de inovação propiciados pela consolidação do meio digital. Material e Métodos A metodologia foi baseada na pesquisa bibliográfica e documental, levando-se em conta tanto os documentos primários quanto secundários. A revisão bibliográfica na literatura nacional e internacional sobre o tema central da pesquisa foi de fundamental importância para a ampliação
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das discussões problematizadas. Para a pesquisa foi estabelecido um cronograma com sete etapas, com início em agosto de 2014 e término em julho de 2015. Resultados e Discussão O novo comportamento dos consumidores de conteúdos, influenciados pela revolução da tecnologia da informação, está diretamente ligado ao processo de convergência, que define “mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias circulam em nossa cultura” (JENKINS, 2009, p. 377). As possibilidades proporcionadas pela cultura da convergência estimulam o surgime nto do denominado Jornalismo Hiperlocal (CARVALHO, Juliano M.; CARVALHO; A.M.G., 2014, p. 73). Essa nova prática é resultado da necessidade dos novos consumidores e das possibilidades provocadas pelo jornalismo pós- industrial, ou seja, a exploração de ferramentas para a produção de conteúdo local e colaborativo. Para Lemos (2009, p.12), o jornalismo hiperlocal poderia ser definido como “uma conjunção de funções pós- massivas e massivas, em que o usuário pode ter informações mais precisas sobre o seu local de interesse a partir de um cruzamento de notícias dos jornais, dos blogs, do Twitter, da polícia, da Prefeitura, etc”. Conclusões As mudanças advindas da chamada Revolução Tecnológica atingem diretamente o Jornalismo devido a profunda alteração de comportamento que provocou na sociedade. Em um cenário de mudanças para a atuação do profissional, as possibilidades que o jornalismo hiperlocal proporciona são inúmeras, principalmente se considerados os novos paradigmas sociais, econômicos e tecnológicos consequentes do presente cenário de inovação de plataformas, conteúdos e linguagens. Com a mudança do papel do jornalista e o crescimento das coberturas colaborativas, além da luta de empresas de informação para sobreviverem, o jornalismo hiperlocal pode proporcionar um estreitamento de laços de identidade com as comunidades, quebrando a lógica da cultura mundializada e padronizada, conquistando novas audiências e trazendo esperança para o mercado jornalístico. Agradecimentos Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã (LECOTEC), CNPQ e Pró-Reitoria de Pesquisa da Unesp.
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___________________ ANDERSON, C. W., BELL, Emily; SHIRKY, Clay. Jornalis mo Pós-Industrial: Adaptação aos novos tempos. Revista de Jornalismo da ESPM. Abril, Maio, Junho 2013, págs 30 – 89. CARVALHO, Juliano M.; CARVALHO; A.M.G. Do hiperlocal aos insumos criativos: as mutações do jornalismo na contemporaneidade. In: CARVALHO,J.M; BRONOSKY (Org.) Jornalismo e Convergência. São Paulo, Cultura Acadêmica. 2014. p. 69-87CASTELLS, M.. A Sociedade em Rede. 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. JENKINS, H. Cultura da Convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. LEMOS, André. Nova esfera Conversacional, in Dimas A. Künsch, D.A, da Silveira, S.A., et al, Esfera pública, redes e jornalismo., Rio de Janeiro, Ed. E-Papers, 2009.