Muito Prazer
Redação
Há quem diga que o hábito de ler está cada vez mais instantâneo e impaciente. Há quem diga que grandes textos já não cativam mais as pessoas como antigamente. Há quem diga que o impresso vai acabar. Viemos para provar o contrário, que é possível unir informação, provocação e uma pitada de irreverência tornando um texto agradável, mesmo que extenso. E claro, unir analógico com digital. A revista “Minha Gente” surge em um contexto de transição (não sabemos para onde) no jornalismo. Não iremos reinventar nada, não somos gênios. Mas juntamos os melhores dentro do que fazem para sermos dignos dessa gente. De nossa gente. Ou melhor, da “Minha Gente”! Assim como no jornalismo, a sociedade brasileira vive uma transição. E traremos de tudo um pouco sobre essa nova configuração do nosso país, sobre o que melhora, o que piora, oportunidades, lazer... Falaremos de política, mas também de cultura. Escrevemos sobre economia e educação, e também sobre futebol. Enfim, há de tudo um pouco nas quatro editorias e nessas páginas que preparamos com carinho para você! Estaremos no impresso, mas também convidamos vocês a visitar nossa página na internet. “Minha Gente” é moderno também! Ou melhor, “Minha Gente” é atual, e esse é o nosso objetivo: uma revista diversificada sobre atualidades. Pedimos licença para entrar em sua humilde residência para proporcionar um banho de cultura. Leiam, riam, questionem e reclamem, estamos de braços abertos! E queremos que vocês estejam de páginas abertas, lendo a “Minha Gente”! Parafraseando Sérgio Sampaio e sua música, (assim como já fizemos no início) “queremos botar nossa revista na rua!” Sejam bem vindos, e esperamos que gostem!
EDIÇÃO GERAL Henrique Cézar e Tiago Pátaro Pavini DIAGRAMAÇÃO Henrique Cézar REPORTAGENS Agnes Sofia Guimarães Cruz, Henrique Cézar, Laís Bianquini Elias, Michele Arcanjo de Matos, Natalia Pinhabel, Thales Valeriani, Tiago Pátaro Pavini e Vitor Augusto Rodrigues Fávero.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Reitor: Julio Cezar Durigan Vice-Reitora: Marilza Vieira Cunha Rudge FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO - FAAC Diretor: Dr. Nilson Ghirardello Vice-diretor: Dr. Marcelo Carbone Carneiro DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Chefe: Dr. Juarez Tadeu de Paula Xavier Vice-chefe: Dr. Angelo Sottovia Aranha CURSO DE JORNALISMO Coordenador: Dr. Francisco Rolfsen Belda Vice-coordenadora: Dra. Suely Maciel JORNALISMO IMPRESSO III Professor e Jornalista Responsável: Dr. Mauro de Souza Ventura PLANEJAMENTO GRÁFICO EDITORIAL III Professora: Dra. Jaqueline Esther Schiavoni 6º Termo Jornalismo Noturno Abril de 2015
minhaGENTE Foto: Henrique Cézar
oportunidades 06 COMPRAS COLETIVAS Sites ganham mercado e confiança dos clientes 09 UNIVERSIDADE Prouni: mocinho ou vilão da educação brasileira? 12 INTERCÂMBIO Viajar para outro país está mais fácil, e ajuda currículo
COMPORTAMENTO 54 FUTEBOL O futebol está sendo elitizado, e você não está sendo incluído. Ainda dá para ir aos estádios? 67 INFERNO ASTRAL Como os astros podem influenciar sua vida 72 É FESTA DE RODEIO A rotina de um jovem salva vida de rodeios
DESAFIOS 30 SEGURANÇA Quem realmente está atrás das grades nos dias de hoje? 36 EDUCAÇÃO Escolas privadas estão cada vez mais acessíveis 40 ECONOMIA Veja como diminuir os efeitos da crise em sua casa
DOMINGO
42 Vai faltar água
de novo?
Participe de nossa próxima edição. Envie sua sugestão e comentário sobre a 1ª edição de MinhaGente. Em nosso site você também confere conteúdos exclusivos. www.revistaminhagente.com.br facebook.com/revistaminhagente
76 FUNK Os desafios do funk na música brasileira 80 TURISMO O charme histórico das cidades de São Paulo 88 TV E CULINÁRIA Como o MasterChef conquistou o Brasil
SEÇÕES 28 Bom pra quem? 39 Você sabia? 53 Bem estar 63 Gor de bico 71 Chef 75 Playlist 92 PERFIL - Neymar Jr
OPORTUNIDADES
Sites de compras investem no serviço de promoções bombásticas e vale-compras viciantes que realizam sonho de internautas e atraem bilhões
Compre mais e seja fisgado! Agnes Sofia Guimarães
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onhecida por fazer parte do famoso Circuito das Águas de Minas Gerais, a cidade de São Lourenço, com menos de cinquenta mil habitantes, possui mais de sessenta hoteis e um dos índices mais elevados de valorização de imóveis do país. Para a carioca Cláudia Roque Santiago, professora de Teresópolis/RJ, a viagem para o oásis mineiro seria praticamente impossível, não fosse uma promoção que ela encontrou no site Hotel Urbano, em 2013. Para garantir a viagem, bastou a compra de cupons promocionais solicitados por uma quantia de pessoas interessadas pelo desconto. “Paguei 5 dias com o valor que seria o equivalente a uma diária”, lembra. De acordo com o grupo de pesquisa Phocus Whright, 60% das compras de viagens, nos Estados Unidos, são realizadas pela internet. No Brasil, a taxa gira em torno de 20%. Com quatro anos no mercado, a agência de viagens online Hotel Urbano pertence aos irmãos e empresários João Ricardo e José Eduardo Mendes e perde apenas para o site Decolar quando se trata em quantidade de clientes: atual-
mente, são dezoito milhões de cadastros. Em 2015, a estimativa é que o site consiga ultrapassar a receita anual de R$ 1 bilhão de reais. A agência faz parte de um seleto grupo de startups online- nome para empresas que começam com um pequeno grupo de pessoas, dentro de um cenário de incertezas, quase sempre sem planejamentos a longo prazo - que entre 2010 e 2011, surgiram para acompanhar um fenômeno iniciado em 2008 nos Estados Unidos, com o lançamento do site Groupon: os serviços de compras coletivas.
Caça aos cupons O sistema era muito simples:
e procura acompanhar, diariamente, todos os sites que atendem ofertas no Rio de Janeiro, onde mora. Para ela, o sistema faz com que ela tenha vontade de conhecer novos estabelecimentos que não frequentava antes devido à distância: “Se a promoção for muito boa, vou em busca dela em outros bairros sem problemas, e conheci muitas cidades com o Hotel Urbano”, comemora. Mas se o sistema de compras coletivas fez a alegria de todos no começo, a lua-de-mel não demorou a ruir: filas nas lojas, lentidão no sistema, produtos que estavam aquém do desejado e outros problemas passaram a estressar os consumidores e a tirar o sono dos proprietários dos sites. Diante das denúncias recebidas pelo Procon, o futuro incerto que faz parte da história de toda startup que se preze passou a ser uma longa noite de pesadelo sem um amanhã. No Brasil, o site Peixe Urbano foi o primeiro site a oferecer o serviço, em 2010. Quatro anos depois, o site disponibilizava uma oferta para retirar a promoção diretamen- é ainda a maior empresa brasileipara um produto, e caso uma quan- te na loja. Caso o número mínimo ra no setor e foi a primeira latinotidade específica de internautas se de pedidos estipulado pelo site não -americana a ser eleita a “melhor interessasse dentro do intervalo de fosse alcançado, a oferta seria can- startup internacional do ano” pelo Crunchies Awards, uma espécie de tempo estipulado pelo site (geral- celada. mente, um dia), os consumidores A administradora Caroline Nas- Oscar para startups da área de Inreceberiam o cupom por e-mail, cimento utiliza há anos o sistema, ternet e tecnologia. minhaGENTE Abril de 2015 7
OPORTUNIDADES
Letícia Leite é Diretora Corporativa de Comunicação do site e para ela, os efeitos colaterais das compras coletivas se reverteram na evolução do Peixe Urbano, que a partir de 2013, abandonou o sistema: “Percebemos que o que era mais importante era ter um numero máximo para garantir a qualidade e um fluxo constante e controlado de novos clientes para os nossos parceiros, em vez de um enorme volume em pouco tempo”, explica. Depois da mudança, o Peixe Urbano se tornou um shopping virtual de ofertas: as promoções não dependem mais de uma quantidade de consumidores determinada pelo site, e permanecem por mais tempo no site. Além disso, com o avanço dos aplicativos e dos smartphones, a tecnologia ajudou a salvar o casamento entre o consumidor e a oferta. Agora, quase todos os sites possuem um site de buscas com mais opções, para que o internauta possa filtrar seus interesses. Dessa for8
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compras. Além disso, aplicativos disponíveis para celulares permitem que buscam sejam realizadas, e que as ofertas sejam usufruídas no momento da compra, o que não acontecia com o sistema de compras coletivas. “Atualmente, mais de 20% das compras são feitas pelo celular e cerca de 25% das ofertas que são compradas pelo aplicativo, já são utilizadas no mesmo dia. Por isso, estamos aumentando cada vez mais o numero de ofertas instantâneas, que podem ser utilizadas sem agendamento e sem a necessidade do cupom impresso.”, explica Letícia. Segundo ela, grande parte do público está entre as mulheres com menos de 30 anos. Em 2014, o site foi comprado pela empresa chinesa Baidu, famosa pelo seu site de buscas e uma das dez maiores empresas de internet do mundo. O valor da transação não foi divulgado, mas desde então as compras ma, ele terá mais acesso a ofertas no Peixe Urbano aumentaram em que façam parte do seu perfil de mais de 45%.
Cresce o número de alunos cursando universidades, mas a grande maioria ainda tem como alternativa o setor privado
Prouni: símbolo de prosperidade ou de privatização do ensino? Laís Bianquini
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e acordo com os dados do Censo da Educação Superior divulgados pelo Ministério da Educação, o Brasil teve mais de sete milhões de matrículas em cursos de graduação na educação superior. Esse dado representa uma marca muito significante ao país, que é ainda apresenta altos índices de desertores no ensino fundamental e médio e elevado número de analfabetos. O crescimento foi de 3,8%, sendo que, deste total de estudantes, apenas 1,9% é representado pelos estudantes de universidades públicas e 4,5% (representam 5,3 milhões de alunos) pelos da rede privada. Os alunos matriculados em cursos de graduação no Brasil estão distribuídos em 31.866 cursos, oferecidos por 2.391 instituições. A maior parte formada por universidades e faculdades particulares, 2.090 e o restante são instituições públicas (301). A concentração de alunos em
universidades particulares reflete a criação de programas de ensino como o Prouni, que surgiu exatamente como uma tentativa de mudar o quadro de ensino do país. Como o número de jovens que conquistam o diploma superior sempre foi muito pequeno no país, o programa se torna uma chance para quem não teria conseguido entrar uma universidade pública e nem condições de pagar uma mensalidade em uma faculdade particular.
Questões a serem analisadas Porém, depois de mais de dez anos do programa, muitos questionamentos ainda são levantados sobre a validade e eficácia desse programa. Um dos pontos mais discutidos é o porquê deste investimento estar relacionado a instituições pagas e pouco se fala de melhorias no ensino público que possibilitassem a entrada de novos
alunos no ensino superior público e não no privado. Como a maioria dos vestibulares de Universidades Federais, Estaduais e Municipais é mais elaborada e requer um nível de educação mais elevado, a presença de alunos vindos da rede pública ainda é diminuta. O surgimento do Prouni foi muito bem visto pelas Universidades particulares, pois permitiu que alunos carentes estudassem com bolsas integrais ou parciais. Em troca, essas instituições ganham incentivos fiscais do Governo, que se trata, na verdade, de uma justificativa para transferência de recursos para o ensino privado. Para a pedagoga e especialista minhaGENTE Abril de 2015 9
OPORTUNIDADES Foto: Lais Bianquini
Para muitos estudantes, o Prouni pode ser uma das poucas alternativas de se cursar o ensino superior
em políticas públicas do ensino superior, Ana Carolina Barbosa, o problema da ausência de grande parte da juventude no ensino superior deve ser resolvido através da garantia de direito amplo e irrestrito à educação em todos os seus níveis tendo com a expansão da rede pública. “O direito ao ensino deve ser garantido de forma gratuita”, critica Ana. O governo “promove propaganda enganosa” quando afirma que o Prouni visa apenas regulamentar melhor as compensações das instituições que já concedem bolsas em troca de isenções fiscais. “Hoje são muitas instituições que se favorecem por essa isenção. Grande parte desse dinheiro que não é cobrado poderia ser voltado ao melhoramento da educação pública”, com10
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plementa Ana Carolina. Outro problema detectado é a tendência da maioria das universidades privadas diminuírem o número de bolsas oferecidas. Já que, para elas, é mais vantajoso manter somente aquelas que são vinculadas ao programa, e não as que já vinham sendo concedidas. Muitos exemplos disso já foram observados e algumas importantes universidades já foram alvos de denúncias sobre a redução nas bolsas para o patamar exigido apenas pelo Prouni. O programa foi criado com um discurso que visa garantir a inclusão socioeducativa. Porém, apesar de importantes, estas políticas de inclusão social ligadas apenas aos processos seletivos atuais para o ingresso no ensino superior são
insuficientes para resolver o problema de exclusão dos jovens vindos de escolas públicas. “Na minha opinião, nem há inclusão social. Apenas se regulariza a exclusão social. A inclusão seria dar acesso aos menos favorecidos a uma educação básica de qualidade para que não precisassem de condições especiais para ingressar nas universidades. O Prouni apenas remedia uma situação para se disfarçar a falta de solução”, comenta a docente e criadora do grupo de estudo: inclusão, acessibilidade e diversidade social, Fabiana Meira. A exclusão no ensino público superior já começa antes mesmo do processo seletivo dos candidatos para os cursos de graduação. Os próprios exames avaliativos já são excludentes, pois apenas a minoria
dos vestibulandos é aprovada. Outro fato que se deve ser questionado é a inversão ocorrida na proporção de alunos vindos de colégios públicos e particulares para as Universidades públicas. Cerca de 70% vieram de escolas privadas e apenas 30% de instituições públicas. “Essa inversão ocorre porque a grande massa de estudantes que concluem o ensino médio em escolas públicas nem consideram estudar em faculdades públicas, pois são desestimulados e sabem que tem pouca ou nenhuma chance de conseguir uma aprovação”, afirma Fabiana.
situação se tornou cada vez mais difícil de resolver, pois, ainda era preciso encarar: a falta de recursos públicos para ser aplicada na educação básica, e no ensino superior, a necessidade de mão-de-obra qualificada para ser introduzida no mercado, que estava praticamente estagnado devido ao baixo percentual de trabalhadores com ensino superior. Por isso, era necessário que se criasse alguma alternativa para solucionar estes problemas. Por esse motivo não cabe olhar apenas por um lado da situação quando se trata de um assunto tão abrangente quanto o Prouni. Em muitos casos, como para Leandro Scarpino, esO outro lado tudante bolsista de Publicidade e Se pararmos para analisar o con- Propaganda na Faculdade Barão de texto histórico em que o Prouni foi Mauá, na cidade de Ribeirão Precriado, é possível que se entenda o to – SP, o Prouni pode ser uma das que ele significou para os diversos poucas alternativas de se cursar o setores. O Brasil, há tempos, vinha ensino superior. “Eu não consegui sofrendo as consequências de um passar em nenhuma universidade governo neoliberal, que gerou o federal e o Prouni me abriu as porsucateamento das universidades tas. Se não fosse ele, eu iria precisar públicas e escolas técnicas federais, esperar o próximo ano para tentar e, ao mesmo tempo, uma expansão novamente”, Conta Leandro. Para descontrolada de instituições de Michel Matos, o programa também ensino superior, acarretando em foi muito importante para sua formação: “Eu sabia que não poderia um excesso de vagas ociosas. Esse quadro gerou complicações pagar minha faculdade e, se não e afetou diversos setores do país. A fosse essa possibilidade, eu não te-
O QUE É? Programa Universidade para Todos, é um programa do Ministério da Educação (MEC) e foi criado em 2004 pelo Governo Federal. Ele concede bolsas de estudo integrais e parciais (50%) em instituições privadas de ensino superior a estudantes brasileiros, sem diplomas universitários em cursos de graduação e sequenciais de formações específicas.
ria nenhum lugar para recorrer.” Ele se formou em 2011 na Universidade Metodista de Piracicaba, no curso de Engenharia Mecânica e hoje, é diretor do seu setor em uma Metalúrgica da cidade. Ainda assim, é possível se enxergar diversas falhas e dificuldades enfrentadas pelos estudantes bolsistas. “O programa poderia ser menos burocrático e mais abrangente para dar mais oportunidades. É difícil conseguir e mesmo depois é necessário prestar esclarecimentos e ficar atento com prazos e etc, mas foi uma grande oportunidade, mesmo sendo burocrática” finaliza o estudante de Publicidade e Propaganda. Além de toda burocracia e dúvidas na hora da inscrição, eles ainda enfrentam outros problemas. Há alguns casos em que esses estudantes se deparam com: exclusão social ou preconceito por parte dos alunos pagantes e dificuldades em acompanhar os conteúdos dados em sala de aula, devido às deficiências na sua formação, fato que pode levar a desmotivação em concluir o curso. Muitos, ainda sofrem com a falta de estímulo da família e de tempo para estudar e conciliar os horários de estudo com o de trabalho.
QUEM PODE PARTICIPAR? O programa é direcionado exclusivamente aos estudantes que frequentaram o ensino médio na rede pública ou na rede particular na condição de bolsista integral da própria escola. O candidato deve comprovar renda familiar bruta mensal, por pessoa, de até um salário mínimo e meio. Já para as bolsas parciais (50%), a renda familiar bruta mensal deve ser de até três salários mínimos por pessoa. Além de ter participado do Enem e alcançado no mínimo 450 pontos na média das notas do Exame e, ainda, ter obtido nota acima de zero na redação. minhaGENTE Abril de 2015 11
OPORTUNIDADES
Com preços mais acessíveis, a cereja do bolo de um currículo se torna uma realidade para mais pessoas
Intercâmbio: um sonho cada vez mais próximo Thales Valeriani
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intercâmbio se populariza cada vez mais entre os jovens. O sonho de morar no exterior, ter contato com outro idioma, conhecer novas pessoas e ampliar horizontes enche os olhos de quem está prestes a entrar na universidade, a está cursando ou é recém-formado. No Brasil, ele se popularizou com o programa Ciências Sem Fronteiras do Governo Federal que objetiva alcançar a marca de 100 mil bolsistas antes de 2020. Além do programa, há diversas escolas de intercâmbios no mercado. Mas nem tudo é um sonho. O primeiro empecilho para uma parcela considerável é o valor dos programas- geralmente entre 10 e 15 mil reais para ficar 3 meses nos Estados 12
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Foto: Thales Valeriani
A Itália é um dos destinos mais procurados pelos bolsistas do Ciências Sem Fronteira. Local: Veneza
Unidos, por exemplo- ou ter de estar cursando uma universidade pública, as mais contempladas pelos programas. Porém, existem programas sem vínculos
acadêmicos que permitem uma experiência no exterior a preços mais acessíveis. São programas os quais o interessado vai para trabalhar e aprender o idioma. Ele trabalha,
aprende o idioma sem pagar uma taxa ou curso e em troca ganha moradia, alimentação e, às vezes, uma ajuda financeira. São os intercâmbios nos quais o aluno vai tra-
balhar de babá, funcionário de hostels- espécie de hotéis populares-, em fazendas orgânicas e outros. Petrus Diniz, 21 anos, trancou sua universidade de Relações Internacionais para ingressar em um programa e trabalhar em uma fazenda orgânica no interior da Inglaterra. Segundo o estudante, sua motivação foi “a oportunidade de melhorar meu inglês e conhecer novas pessoas e vários lugares”. Ele também opina sobre a partir de quando a experiência se torna válida. “Quanto mais tempo ela durar mais válida ela será, mas acredito que o tempo de dois meses é o mínimo para começar a ver a realidade como morador”, afirma. A estudante Adriane Sauer, 20 anos, aluna do terceiro ano do curso de Relações Internacionais já fez dois intercâmbios. O primeiro quando tinha 15 anos para os Estados Unidos e o segundo está fazendo agora, com vínculo acadêmico, na Universidade de Coimbra, Portugal. Segundo a universitária, “o tempo necessário para validar a experiência depende dos objetivos do intercâmbio, se for aprender uma nova língua precisará de mais tempo”. E emenda, “até mesmo um intercâmbio de duas semanas terá coisas incríveis à oferecer ao
Foto: Thales Valeriani
O intercâmbio cultural é uma dos principais atrativos da experiência no exterior. Local: Florença, Itália
indivíduo. A experiência se torna válida a partir da coragem de buscar o diferente”, opina. Há outras dicas dadas por especialistas e pessoas que já fizeram intercâmbio na hora de escolher o destino e o tempo da viagem. Primeiro, de-
fina o objetivo da viagem esqueça de ficar atento a - se é aprender algum cotação da moeda. idioma, se profissionaliTambém acesse sizar, conhecer lugares ou tes de viagens, consulte outros- ; segundo, calcule agências e pesquise muios gastos. Entre em blogs to bem o preço das pase sites do local de destino sagens de avião um dos e procure o preço do custo maiores custos de todo o de vida como supermer- intercâmbio são as passacado e aluguel. Não se gens aéreas. minhaGENTE Abril de 2015 13
OPORTUNIDADES
Trabalhadores autônomos crescem no Brasil
Conheça seu próximo chefe:
COLE AQ U SUA FOT I O
Tiago Pátaro Pavini
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m janeiro deste ano, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou uma pesquisa mostrando um aumento de 144 mil pessoas trabalhando por conta própria no Brasil. O trabalho autônomo pode ser uma alternativa para quem está desempregado, auxiliado pelo seguro desemprego, ou até mesmo um projeto paralelo com a atual profissão para o futuro. De acordo com o economista Reinaldo Cafeo, a situação econômica atual do país não deve ser fator determinante. “O olhar do empreendedor está na análise do risco e retorno. A economia brasi-
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leira terá que passar por transformações. Os juros cairão. Portanto, maiores retornos poderão vir das atividades empreendedoras”, comenta. Na economia nacional, os trabalhadores autônomos possuem relevância. Os pequenos negócios respondem por cerca de 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. “São fundamentais como alternativa de geração de emprego formal, e também na geração de renda”, diz Cafeo. Uma das alternativas é se tornar Microempreendedor Individual (MEI), podendo atuar em mais de 400 atividades permitidas pelo segmento. Atualmente, o número de MEI ativos é
de aproximadamente 4,8 milhões em todo o Brasil, de acordo com o Instituo Brasileiro de Planejamento e Tributação. Em estudo realizado pelo SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) no ano de 2013, as principais atividades eram no comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios, cabeleireiros e obras de alvenaria. A maioria dos empreendedores possuem entre 30 e 39 anos e ensino médio ou técnico completo. O número de empreendedores que não possuem ensino fundamental completo O MEI é a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno empresário. Atra-
vés de condições especiais para que o trabalhador informal possa se tornar um MEI, ele se regulariza e os benefícios são muitos. O Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) pode ser realizado pela internet*, e facilita a abertura de conta bancária, pedido de empréstimo e emissão de notas fiscais. Além disso, terá acesso a benefícios como auxílio maternidade, auxílio doença e aposentadoria. Paulo Milreu é empreendedor e oferece trabalhos de mentoria para quem está começando um negócio próprio. “O primeiro passo é começar regularizado”, fala Milreu. Mesmo que seja um negócio no quintal da própria residência, necessita de autorização prévia da prefeitura. É necessário conhecer a regras municipais para saber se existe ou não restrição para exercer sua atividade no local. Todo mês, é necessário o preenchimento de um relatório das receitas que obteve. “O que te leva a chegar e atender os objetivos não é o dinheiro, mas sim o propósito. é algo que define aonde você vai chegar com essa vontade de empreender”. Segundo ele, é melhor iniciar com algum sócio que tenha a mesma afinidade, mesmos valores e estar claro suas crenças sobre a vida. “Para onde você vai e com quem você vai, é necessário ser transparente”.
Investimento a longo prazo
Foto: Tiago Pátaro Pavini
O empreendedor é um agente transformador. E pode trazer maiores oportunidades
No entanto, é necessário ter cuidado, pois o empreendedorismo é um trabalho a longo prazo. “O imediatismo pode atrapalhar. Precisa ter o conhecimento de que o retorno financeiro pode demorar a chegar”, pontua Milreu. Também é necessário ter cuidados no momento de iniciar as atividades. Cafeo faz um alerta. “A maioria tem uma boa ideia, é bom operacionalmente, mas desconhecem a dimensão dos negócios. O planejamento é essencial”. Para se ter sucesso nesse ramo é necessário muito esforço. Milreu
diz que você empreende enquanto os outros dormem. “Você não empreende no horário comercial, você empreende depois das 18 horas, aos finais de semana. Você não vai trabalhar oito horas, vai trabalhar muito mais. Enquanto outros estão no lazer, você estará trabalhando”. Uma das grandes falhas é a acomodação do empreendedor. Ele precisa estar em constante estudo e aprendizagem. Porém, a recompensa é gratificante. “Você não é mais refém da empresa ou do chefe, você é dono do seu tempo, pode fazer o que você quer e na hora que você quer”, pontua Milreu.
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OPORTUNIDADES
Para quem está pensando em começar no ramo de empreendedorismo, não inicie através de dívidas. “Esta é a pior forma. Saber a necessidade de capital de giro e ter uma reserva para os primeiros meses do negócio garantem vida longo ao empreendimento. Se não tiver recursos próprios, deve buscar linhas de longo prazo”, afirma Cafeo. Existem algumas oportunidades de financiamento e auxílios. O Programa de geração de Emprego e Renda (PROGER) é um conjunto de linhas de créditos a longo prazo para interessados na modernização ou recursos para custeio de seu negócio. Interessados devem procurar agência bancária ca-
dastradas no programa, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Existe também a instituição financeira do governo do estado “Desenvolve SP – Agência de Desenvolvimento Paulista”, promovendo operações de créditos de longo prazo para pequenas e médias empresas. O SEBRAE oferece orientação e consultoria, ou seja, mostram o caminho que se deve seguir. Existe também as mentorias, que são empreendedores que utilizam de suas vivências dentro do ramo para auxiliar quem está necessitando.
DEFINIR QUAL É O NEGÓCIO
TER UM PLANO DE NEGÓCIOS
* http://www.portaldoempreendedor.gov.br/
Busque informações no mercado e identifique Não esqueça três pontos importantes: autoavalque oportunidades são viáveis. A escolha da área iação, a razão de existir do negócio e a viabilidade onde se quer atuar precisa combinar com suas car- econômica-financeira. Levantar o investimento acterísticas pessoais. inicial. Saiba quanto irá gastar na abertura e quais serão os custos fixos mensais. Considere o capital de GOSTAR DO QUE FAZ risco e as despesas pessoais, vai ser preciso apertar Ninguém vai pra frente sem paixão pela ativi- os cintos. dade que exerce. Conheça bem o ramo em que pretende investir, Estude a concorrência, leia artigos de TER OU NÃO TER SÓCIOS especialistas, faça cursos, vá a eventos e feiras. É bom avaliar se você está disposto a encarar o desafio sozinho. Um sócio ajuda a levantar o dinheiSABER SE É VIÁVEL ro necessário para o investimento inicial. E as espeO futuro empresário precisa avaliar se o negócio cialidades de cada um podem ser complementares. que pretende abrir é viável. Procure especialistas e orientações para as decisões. ELABORAR UM PLANO DE NEGÓCIO O plano de negócio é o instrumento ideal para ENCONTRAR O LUGAR traçar um retrato fiel do mercado. O plano irá orienO bom lugar para sua empresa ficar é onde o seu tá-lo na busca de informações detalhadas sobre o cliente está. Entretanto, outras análises devem ser setor. Ele ajudará a responder a seguinte questão: feitas, a depender do negócio que se pretende abrir. “Vale a pena abrir, manter ou ampliar o negócio?” 16
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“Persistir sempre, desistir jamais”
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ilvane José de Oliveira e Vanessa Alves são casados e tem dois filhos. Gil, como costuma ser chamado, era empregado de um restaurante, onde trabalhava como churrasqueiro. Porém, teve um acidente com o dedo, e o seu chefe o mandou embora. Ele precisava sustentar sua família, a mulher não tinha emprego. Um amigo lhe falou sobre uma pessoa que havia conquistado mais de um milhão de reais começando com a venda de balas e doces. Inspirado pela história, Gil teve a ideia de vender espetinhos durante a Virada Cultural na cidade de Bauru em 2013. Ele e sua mulher pediram R$250,00 emprestados a um amigo e deram início ao “novo negócio”. Deu certo, e começaram a investir nisso. Venderam espetinho por alguns bairros da cidade. Certa vez, voltando de Jaú após fazer “bico” de carreto, Gil passou em frente à UNESP e teve uma ideia. “Passamos lá e só tinha lanche sendo vendido”. Começou então a vender espetinho em frente à universidade. Mas não foi tão fácil. “A dona de uma lanchonete aqui perto quis nos tirar daqui. Mas persistimos.
Foto: Tiago Pátaro Pavini
Vanessa e Gil preparandos os espetos para os clientes em frente à Unesp
Persistir sempre, desistir jamais”, diz Gil. Atualmente, Gilvane e Vanessa, auxiliados pelo filho mais velho, Pedro Henrique (13 anos), vendem cerca de 100 espetos diariamente e conseguem se sustentar com o trabalho. Os espetos são de fabricação própria. Recentemente, compraram um trailer de R$22.000,00 com o lucro dos espetinhos. “Ele é todo de inox. Vamos começar a vender também pasteis e churros”, fala Vanessa com um sorriso na boca.
O “Espetinho Gilvane Gil” também está presente nas redes sociais, e sempre faz promoções para chamar os clientes, principalmente os alunos. “Fazemos brincadeiras, o primeiro que aparecer aqui com um lápis de tabuada ganha um espeto e um suco”. Mas os clientes não se restringem apenas à universidade. “Temos clientes de fora também. Alguns vêm até aqui, e também aceitamos encomendas com mais de 10 espetos”, afirma Gil, enquanto atende um clien-
te.
Hoje, Gilvane e Vanessa possuem casa própria, e conseguem sustentar a família através da venda de espetinhos. A meta deles é virar tradição e expandir o negócio para além de Bauru. Contam com orgulho que sempre procuram melhorar o ate-ndimento e dão muito valor às opiniões dos clientes. “Nas franquias, os clientes não são ouvidos como aqui. É um dos nossos diferenciais, sempre aceitamos sugestões e críticas”, afirma Gil.
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OPORTUNIDADES
Além de economizar, é importante ganhar mais dinheiro.
Novas fontes de renda podem ajudar o seu final de mês Thales Valeriani
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final do mês chega e com ele vem a pergunta: onde economizar mês que vem? Ninguém quer fechar as contas no vermelho e ficar com o ‘nome sujo na praça’, como diz a expressão sobre quem deve mas não paga. Economizar é uma ação importante para quem não quer ficar devendo. Mas, é importante ter em mente que ganhar mais dinheiro é melhor do que economizar. Por isso, separamos algumas dicas de como aumentar a renda trabalhando algumas horas por dia em sua própria casa, antes ou depois do expediente.
Mas nunca se esqueça: não importa a alternativa que escolher, ela vai precisar que você invista tempo, dinheiro e se dedique. Trabalhe com prazos e metas, faça planilhas 18
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sobre os gastos e ganhos para manter o controle sobre o dinheiro e saiba que os frutos são, muitas vezes, colhidos com o tempo, não é de um mês para o outro.
O SEBRAE oferece cursos de administração e auxilia pequenos empreendedores. Se for o caso, não pense duas vezes em procurar ajuda.
DESAFIOS
Para especialistas, crescimento dos planos de saúde ameaçam a garantia do acesso à saúde para todos
Melhor com o SUS, pior sem ele? Agnes Sofia Guimarães
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m Bauru, cidade do interior do Estado de São Paulo, o Hospital Base é conhecido por suas longas filas de espera e altos índices de mortalidade. Em 2013, no ápice das manifestações desencadeadas pelo mês de junho daquele ano, protestantes ocuparam a Secretaria da Saúde insatisfeitos com a situação de calamidade pública anunciada pela cidade, ocasionada pela falta de leitos e a mortes de pacientes na fila de espera nos principais postos de atendimento da cidade, em especial no Hospital de Base. À época, o Ministério Público realizou um levantamento e constatou que 581 morreram na fila de espera entre os anos de 2009 e 2013. Na cidade, o começo do mês de abril é marcado pela mudança da estação, após as chuvas de março, que causa enchentes e aumentam os números dos casos de dengue. Enquanto os dias permanecem quentes e secos, a temperatura cai durante as noites, e a mudança repentina que ocorre com o clima durante esses meses aumentam os casos de gripe entre a população.
Dei entrada no hospital às onze horas da noite. Levei apenas meu RG, documento suficiente para que a recepcionista localizasse o meu cadastro no Sistema Universal de Saúde (SUS), realizado em outra cidade. Dados encontrados, recebi a senha. Após meia hora de espera, a pré-consulta: enfermeiras mediram a minha pressão e o estado corpóreo do meu corpo. Mais quarenta minutos de espera, e sou atendida pelo médico. Após examinar minha garganta: o diagnóstico: estado avançado de gripe e início de infecção na região examinada. Ele solicita o uso de xarope e antibiótico. E a aplicação, no hospital, de um soro que “me ajude a dormir”. Reclamo de falta de ar e de dores
corpóreas, mas ele atribui esses sintomas ao stress e vou para a fila da enfermaria, pronta para o soro. Meia hora depois, sou atendida, e a aplicação leva uma hora para ser concluída. Ao todo, foram quase três horas no hospital, mas não posso reclamar. Enquanto eu esperava, uma dona-de-casa acompanhava o pai de oitenta anos, que estava com um quadro de suspeita de pneumonia e aguardava o atendimento desde às sete horas da noite.
Ninguém quer esperar
credenciados, segundo dados do Ministério da Saúde. No entanto, casos como os de O Sistema Universal de Saúde Bauru são cada vez mais frequen(SUS) chegou com a Constituição Universal de 1988, e é um dos maio- tes. A pedido do Conselho Federal res programas de saúde pública do de Medicina, durante as últimas mundo. Ele atende a mais de 200 eleições o Instituto Datafolha remilhões de brasileiros, sendo que alizou uma pesquisa para saber o 152 milhões ainda dependem, ex- nível de satisfação dos brasileiros clusivamente, do sistema. Em todo com o sistema. Para 93% dos eleio país, há mais de 40 milhões de tores, os serviços públicos e privaequipes médicas em Unidades Bá- dos de saúde no país são regulares, sicas de Saúde, em 2020 unidades, ruins ou péssimos. O Sistema Único além de quase seis mil hospitais de Saúde (SUS) recebeu avaliação Foto: Agnes Sofia Guimarães
Para Santos, a aprovação de serviços de saúde estrangeiros no país podem esvaziar a luta pelo direito à saúde garantido pela Constituição
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Desafios negativa de 87% da população. Entre os motivos apontados pela insatisfação, estão os problemas encontrados no Hospital Base: a fila de espera e a falta de leitos. Isso talvez explicaria a adesão, cada vez mais frequente, dos planos de saúde privados: atualmente, 50 milhões de brasileiros possuem um plano individual, ou seja, um programa adquirido de forma desatrelada aos benefícios de saúde garantidos por empresas ou instituições nas quais o trabalhador possui algum vínculo profissional. Entretanto, boa parte dos serviços particulares formam um sistema mix com o SUS, algo garantido pela Constituição de 1988. Segundo a professora da Universidade Estadual Santa Cruz Ana Carolina Lavigna, a iniciativa privada, hoje, atua como um complemento à pública em casos de extrema necessidade: “O termo complementar se refere a serviços em que o setor público não dispõe e necessita da complementação dos serviços privados para
Foto: Agnes Sofia Guimarães
Para muitos especialistas, o sistema mix Sus-particular é um caminho para a privatização da saúde pública
garantir a assistência à saúde da população. Por isso, vários pesquisadores se referem ao SUS como uma intricada rede pública e privada na qual o setor público subsidia o privado ao mesmo tempo em que Foto: Agnes Sofia Guimarães
Os planos de saúde passam por um momento de grande adesão da população, preocupada com os problemas da saúde pública 22
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investe pouco no setor como um todo.”, explica.
Não há escapatória A estudante de letras Julia Saees estava atrasada para a faculdade quando escorregou da escada de casa, batendo o calcanhar no corrimão. O que era uma pequena mancha dolorida, ao longo do dia, virou um inchaço, e a estudante não teve alternativas a não ser ir ao pronto-socorro do Hospitalç Beneficência Portuguesa de Bauru. Cliente de um Plano de Saúde e dentro de um Hospital particular, a estudante, ainda assim, passou quase oito horas até sair com a perna engessada: “foram cinco horas de espera para o atendimento e três horas para o resultado do exame e o engessamento da perna. Não vejo mais vantagens em ter um programa particular dessa forma”, reclama. Para a cientista social Isabela Soares Santos, a procura pelo sistema privado não ajuda o beneficiário a pensar no futuro, e quando chega a
aposentadoria, a necessidade por um sistema gratuito fala mais alto: “O problema é que quando pagamos pelo plano privado, deixamos de brigar para melhorar o SUS (e aí caímos na armadilha do público-privado no setor de saúde). E olhe que todos nós pagamos já que o SUS é financiado pelos tributos, é um direito de cidadania, para todos independentemente de raça, renda, escolaridade, moradia ou condição de saúde. Se fosse só isso, não tinha problema, apenas uma certa confusão sobre o que se paga e para quê. E confusão também sobre onde o Estado deveria centrar os esforços para melhorar, se o SUS ou se os planos ou se os dois. Mas a armadilha é sorrateira,
vejam só: (1) quando nos aposentamos nossa renda cai e nesse momento já estamos mais velhos, precisando de mais serviços de saúde, bem quando o plano de saúde fica mais”. caro ainda e; (2) quando ficamos desempregados, não temos renda para pagar o plano. Nesses dois momentos é quando mais precisamos do SUS.”, reclama. Para ela, o Sistema Universal de Saúde ainda apresenta muitos problemas, mas ainda garante o básico para a população: o direito universal ao atendimento, algo que a adesão cada vez maior dos planos de saúde não pode proporcionar: “O problema disso é que sem um sistema público de alta qualidade o país investe menos nas condições
de saúde da população, gerando não só os problemas reais de saúde para as pessoas, mas também maiores gastos de saúde com problemas que poderiam ser evitados e uma população menos saudável. Esse tipo de política de baixo investimento em políticas que são para todos “é um tiro no pé”, pois afeta inclusive a capacidade de desenvolvimento econômico do país, tanto a atual como a futura, ou alguém acha que as crianças que crescem com menor desenvolvimento vão ser tão capazes de ter contribuir par a alta produção do país com grandes empregos e assim contribuir para o sistema de aposentadorias, para a poupança do país, para gerar mais riqueza?”, questiona. Foto: Agnes Sofia Guimarães
O Hospital Base, na cidade de Bauru sofre dos principais problemas das instalações do SUS, como leitos insuficientes e longas esperas
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Desafios
AfInal, que diabos é o
crack?
O
que exatamente é o crack? Se alguém se dirigisse a você hoje e fizesse uma pergunta como essa, como se sairia? Você até pode ter alguma ideia sobre as características de um usuário, mas o que sabemos sobre a droga em si? Do que é feita? De onde ela vem? Quais são os seus reais efeitos? Para um julgamento mais sóbrio e menos preconceituoso, é importante ter informações cruciais como essas que nos ajudam a entender o porquê de uma droga tão perigosa ser tão popular.
coca), planta nativa dos Andes. Em suas folhas está presente uma molécula conhecida mundialmente como cocaína, que em um processo envolvendo diversos compostos químicos como o querosene e o ácido sulfúrico, dá origem a uma substância pastosa, conhecida como pasta-base de cocaína. A partir daí, os traficantes escolhem no que essa pasta irá se transformar: pó ou crack. Na primeira opção, a pasta-base é diluída em acetona e misturada em uma solução de éter e ácido clorídrico. O resultado é um sal branco – o cloridrato de cocaína (COC+), que por sua vez é insolúvel em acetona e se acumula no fundo do pote. Quando filtrado e seco, o Origens resultado é a sétima droga mais Tudo começa com um inofensi- usada no mundo: a cocaína em pó. No segundo caso, a pasta-base vo arbusto de coca (Erythroxylum 24
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é misturada com água e soda cáustica. Quando a mistura é aquecida, forma-se uma camada de água e outra com a pasta-base (COC°) liquefeita. Ao esfriar a mistura, a cocaína líquida volta ao estado sólido e, quando partido em pequenas partes, dá origem à cocaína em forma de pedra – a famosa pedra de crack. Apesar de gozarem do mesmo princípio ativo, a cocaína em pó e a pedra de crack são bastante diferentes. Seus efeitos, apesar de
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serem os mesmos em ambos os casos – prazer, mais autoconfiança, euforismo, perda de apetite, agressividade e etc –, chegam até o usuário de formas completamente diferentes. No caso do pó, usando a droga de forma intranasal, o indivíduo sente seus efeitos em média a partir de 3 minutos. Este, por sua vez, costuma durar de 60 a 90 minutos. Já para um usuário de crack, os efeitos são sentidos em uma média de 5 a 10 segundos e têm seu
pico dali a 5 minutos. Essa grande diferença na percepção do efeito da droga, segundo o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), se deve ao fato de a superfície pulmonar ser muito maior que a superfície da mucosa nasal. A diferença básica de um usuário de pedra para um de pó é o fato de que a cocaína fumada traz a euforia com a mesma rapidez que a leva embora. Passados os efeitos,
ainda segundo Dartiu, o usuário fica apático, deprimido e por vezes procurando por mais uma dose. Um estudo de 2004 identificou sinais de dependência entre 5% a 12% dos que cheiram cocaína em uma média de tempo de dois anos. Entre os usuários de crack, a dependência era duas ou três vezes maior. O Brasil, com 2,8 milhões de usuários, é o segundo maior consumidor de derivados de cocaína do mundo, atrás apenas dos EUA, com 4,1 milhões de usuários. minhaGENTE Abril de 2015 25
Desafios
Os primeiros registros sobre o crack aconteceram nos EUA, na década de 1970. Porém, só nos anos 80 ela se popularizou em grandes cidades americanas como Nova Iorque, Miami e Los Angeles e, correndo o mundo, chegou também ao Brasil, mais especificamente a São Paulo (onde teve seu primeiro relato de uso feito em 1989). Com um custo extremamente baixo e efeitos fortes, o crack rapidamente se espalhou principalmente pelas camadas mais pobres. As classes governantes, ao invés de procurar compreender as intenções de uma população miserável que busca prazer em um narcótico, preferiu fechar os olhos e atacar os alvos errados. Internação compulsória, guerra ao tráfico e o não diálogo com o usuário foram só algumas das medidas tomadas Brasil adentro. Todas falharam. *** Segundo Carl Hart, primeiro negro a ocupar o posto de professor titular de neurociência da Universidade de Colum26
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bia, nos EUA, o tema das drogas se relaciona mais com a quantidade de oportunidades que uma pessoa recebe que com o seu vício propriamente dito. Com os seus cabelos dreadlock, Carl Hart lidera uma pesquisa com usuários de crack que não desejam largar o vício. Sua dinâmica é relativamente simples: ele analisa o poder de decisão desses usuários de acordo com as suas escolhas. Em uma mesa está a droga em que são viciados, em outra, uma determinada quantidade de dinheiro. O usuário então deve ter total independência para fazer sua escolha e lidar com suas consequências. Concluiu-se que nem sempre o usuário opta pela droga. Para os mais céticos, antes dessa, outra pesquisa com camundongos também já havia sido feita por Carl Hart. Nela, constatou-se que quando era oferecido aos animais apenas drogas, eles se viciavam e muitos morriam pelo consumo excessivo. Já nos casos em que a droga era oferecida junto com outras opções – uma roda de exercícios ou um parceiro sexual receptivo
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O consumo de cocaína no Brasil dobrou em 10 anos
-, os camundongos mostravam as mesmas respostas humanas e nem sempre optavam pelos entorpecentes. De tudo isso, Carl Hart, nascido em uma favela e ex-traficante de drogas, pôde concluir em entrevista ao jornalista da Folha de S. Paulo, Bruno Torturra, que o problema não são as drogas, mas as oportunidades econômicas que a sociedade dá para cada um. “A população precisa entender que apenas 20% dos usuários de crack são dependentes. De onde eu vim, existe muito mais gente inteligente, até mais do que eu, e que infelizmen-
te não vai chegar até onde eu cheguei por ter morrido antes”, conta. Segundo ele, se o governo diz que o responsável por criar uma situação caótica nas favelas é o crack/cocaína, ele está afirmando que antes do surgimento dessa droga tudo ia bem, e isso, obviamente, não é verdade. *** Carl Hart continua seus trabalhos junto a uma frente de especialistas que seguem estudando o tema. Este, por sua vez, continua dando muita dor de cabeça à classe política brasileira.
HENRIQUE CÉZAR
Impeachment?
bom pra quem?
D
esde que Dilma Rousseff foi reeleita presidente do Brasil, o mesmo clima tenso vivido durante a campanha eleitoral em 2014 foi crescendo na política brasileira. Após o início de seu segundo mandato, Dilma tomou decisões que resultaram, por exemplo, no aumento da gasolina e em novas regras para receber o seguro desemprego, entre outras. Além disso, o atual momento de dificuldades
econômicas e o escândalo de corrupção na Petrobras têm aumentando a revolta de parte dos brasileiros com
o atual governo. Mas isso tudo seria motivo para o impeachment da presidente Dilma?
Mas afinal, o que é impeachment?
O tão falado impeachment nada mais é do que o processo de cassação do mandato de um chefe do poder executivo, ou seja, do Presidente da República, de Governadores de Estado, ou ainda de Prefeitos Municipais.
E o impeachment da Dilma, sai ou não?
O que para muitos tem tornado-se bordão em protestos contra o governo pode não ser tão simples de acontecer. De acordo com a Constituição Federal, apenas quando o Presidente comete um crime, seja um roubo, um homicídio ou ainda uma irresponsabilidade no cargo de presidente, e com provas de seu envolvimento, é que ele poderá ser vítima de um processo de impeachment. Nem de longe, até o momento, esse é o caso de Dilma.
Se tiver apoio no Congresso, Dilma fica
Caso apareçam provas do envolvimento da Presidente em algum caso de corrupção, qualquer indivíduo da sociedade pode apresentar uma denúncia à Câmara dos Deputados. A partir daí, o Presidente da Câmara decide se a denúncia deve ou não ser votada pelos deputados. Se a denúncia for aprovada, é instaurado um processo de investigação no Senado Federal, que decidirá se o presidente perde ou não o mandato. Caso o Presidente da Câmara dos Deputados decida colocar em votação a aceitação ou não de abertura do processo de impeachment, no mínimo 342 deputados, dos 513, deverão votar a favor, caso contrário à denúncia será arquivada. Isso significa que se o PT, partido da presidente, e mais alguns deputados que apoiam o governo votarem contra, o sonho do impeachment acabou.
Quem assume se Dilma sofrer o impeachment? Para a tristeza de muitos, não será Aécio Neves (PSDB/MG) o presidente do Brasil caso Dilma sofra um impeachment. Segundo a Constituição Federal, assume o vice-presidente, Michel Temer (PMDB/SP). Em outra hipótese, caso o vice Temer também sofra um processo de impeachment antes da metade do mandato (até janeiro de 2017), deve ser convocada uma nova eleição. Já se Dilma e Temer perderem seus cargos depois da metade do mandato, a eleição deverá ser indireta, ou seja, o novo presidente será escolhido entre os membros do Congresso Nacional.
Se Dilma e Temer forem cassados, até que um novo presidente seja escolhido, quem assume a presidência é, na ordem, Eduardo Cunha (Presidente da Câmara dos Deputados), Renan Calheiros (Presidente do Senado) e, por último, Ricardo Lewandowski (Presidente do Supremo Tribunal Federal) Nos palcos de Brasílias
Deputado Tiririca (PR/SP) tem sido fiel ao governo e pode votar contra o impeachment, mas o deputado Sérgio Reis (PRB/SP) já disse ser a favor da perda de mandato da presidente.
RELEMBRE
O impeachment do Collor
Fotos: Divulgação
- Uma CPI apontou que Paulo César Farias era testa de ferro do Presidente Collor e recebia propinas em nome do Presidente. - O pedido de abertura do processo de impeachment do presidente foi aprovado por 441 deputados. Collor foi eleito sem apoio político e seu partido na época, o PRN, tinha menos de 40 deputados. - Collor chegou a se afastar da presidência para responder às investigações. - Na véspera do julgamento de Collor no Senado, o então presidente renunciou ao seu mandato. - O ato de Collor não evitou sua cassação. Os senadores aprovam seu impeachment por 76 votos contra apenas 3 contrários. - Itamar Franco, vice de Collor, assumiu em definitivo a presidência. minhaGENTE Abril de 2015 29
Desafios
Mercado da segurança privada está crescendo, e polícia não está preparada
Quem realmente está na prisão? Tiago Pátaro Pavini
V
iver com medo ou trancado dentro de casa é algo que incomoda. Condomínios fechados são cada vez mais comuns, e podemos nos indagar quem de fato está em uma prisão: o cidadão de bem ou quem infringe a lei? Mas é um problema que vem sendo enfrentado pela população do estado de São Paulo. “Quando meus filhos saem de casa de noite e voltam de madrugada, não consigo dormir direito. Ás vezes não deixo eles saírem. Eu, por exemplo, já fiquei em casa por medo de acontecer algo”, diz Antonia Gusmão, de 58 anos, moradora de Campinas e mãe de gêmeos com 20 anos. O coordenador do Observatório da Violência da Universidade Paulista, Sérgio Kodato, fala que as pessoas estão ficando cada vez mais em casa. “Entendemos esse fenômeno como o ‘Imaginável do medo’, onde a mídia veicula violência 24 horas por dia”, diz. Segundo ele, as notícias divulgadas pela mídia não abordam, por exemplo, ações positivas de combate ao crime, pois dão maior espaço para 30
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corrupção dentro das corporações e a falta de estrutura delas. “Isso faz a população ter a sensação de que a violência esta aumentando”, pontua. A consequência, segundo Kodato, é um comportamento de fuga do espaço público e a diminuição dos rituais comunitários. Além disso, existe o crescimento do mercado da segurança privada. “O recado que a população recebe é que a segurança é algo privado, depende de cada um. Deixa de ser algo coletivo. Nesse cenário, temos o crescimento das empresas de segurança, alarmes, trancas”, analisa. (veja mais no box) Segundado dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, em 2014 o estado registrou a menor quantidade de furto e homicídio dos últimos anos. Porém, o número de roubo e furto/ roubo de veículos aumentou. “Esses números indicam que existe um fenômeno de migração. Quando não da certo em um lugar, vai para o outro. Diminui roubos de casas, mas mudou para carros, caixas eletrônicos”, fala Kodato.
A polícia está preparada?
Mercado seguro
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Há quem comemore esse quadro de insegurança. A previsão é de que as empresas de segurança privada brasileiras faturem até R$3,7 bilhões em 2017. A pesquisa foi realizada pela Security Industry Association (SIA). Em 2011, o lucro das empresas desse setor foi de R$1,2 bilhões. Bernardo Ometto é dono de um estabelecimento na cidade de Jaú, interior de São Paulo. Ele instalou câmeras, alarme e cerca elétrica no local, onde também é sua casa. “Entraram aqui três vezes. Gastei um bom dinheiro com a instalação, mas agora me sinto mais seguro”, diz.
nomo, havia pequenos grupos. De alguns anos para cá o crime organiSegundo dados do Centro de zado cresceu. Os policiais não tem Inteligência e da Corregedoria da armamento suficiente para conter Polícia Militar de São Paulo, foram os bandidos”. O descrédito da ins926 civis mortos em 2014 no estado. tituição também prejudica. ”As insÉ o maior número dos últimos dez tituições tomam forma do mal que anos. Em contrapartida, 75 policias se quer combater. A polícia toma foram mortos no estado. “É um pro- forma da bandidagem, por exemblema de formação e treinamento. plo”, alerta Kodato. A polícia é treinada para operações de guerra. Deveria ser uma polícia mais comunitária, mais preventi- Tem como melhorar va”, comenta Kodato. Segundo ele, a polícia não acompanhou a moderA questão da violência tem a ver nização das organizações crimino- com a crise do processo civilizatósas e enfrenta problemas de infra- rio, implica em degradação tanto estrutura, que refletem na atuação. da vida grupal como das institui“Antigamente o bandido era autô- ções que deveriam funcionar para
combater e coibir esse tipo de violência. Mas é possível ser otimista. No nível individual, não se deve apenas se curvar diante da situação, isso aumenta o nível de neurose, problemas de saúde mental. No nível grupal, fomentar a vida de grupo. A violência e o medo nós enfrentamos coletivamente. “Em casos de invasão, por exemplo, quem pode nos socorrer é o vizinho”, pontua Kodato. E no nível institucional, elas precisam funcionar. No caso da polícia, uma possível união entre elas seria uma solução. “A polícia que prende não é a mesma que investiga. A polícia é esquizofrênica, pois não se conversa e não articula ações”, comenta Kodato. minhaGENTE Abril de 2015 31
Desafios
Arte: Henrique CĂŠzar
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Especialistas indicam que medidas como a redução da maioridade penal podem agravar ainda mais esse quadro
Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo Vitor Rodrigues
Foto: Divulgação
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m meados do ano de 2012, um levantamento feito pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU determinou que o Brasil tinha a 4ª maior população carcerária do mundo. Atrás somente de Estados Unidos, China e Rússia, o país entrava em alerta para tratar da questão da superlotação. Três anos depois, a notícia é ainda pior: o Brasil acaba de superar a Rússia e agora ocupa o posto de 3ª maior população carcerária do mundo.
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Desafios Com 715 mil detentos (147 mil em regime domiciliar) instalados em um sistema precário onde só caberiam, na teoria, 357 mil, o governo tem um déficit nacional de mais de 210 mil vagas. Se levar em conta os presos em regime domiciliar, esse número chega a 358 mil. Segundo Julita Lemgruber, 55, ex-diretora do DESIPE (Departamento do Sistema Carcerário do Rio de Janeiro), o problema em se ter um sistema carcerário sucateado é o fato de que ele logo estará dominado por facções. “Aconteceu com o Comando Vermelho, com o PCC e vai seguir acontecendo. O Estado não tem verbas pra trazer material básico de higiene para dentro dos presídios, as facções têm”. Segundo ela, seja pelo acesso a materiais de higiene ou por segurança pessoal, a convivência de um detento torna-se complicada se ele não fizer parte de uma facção depois que entrou em um presídio. “O presídio tem um código de honra próprio, singular. Quando chegam novos detentos, eles precisam firmar alianças se quiserem um mínimo de segurança”, finaliza ela. “O que faz da prisão brasileira um lugar pouco efetivo, chamada medieval pelo próprio Ministro da Justiça, é a falta de inteligência que a envolve na questão política”, afirma Gilvaldo Passarela, 52, advogado. Segundo ele, a ninguém interessa um sistema carceráro superlotado e falho, mas a classe política não se dedica o quanto deveria ao assunto. “Ao invés de pensar o problema, estão discutindo agora a hipótese da redução da maioridade penal, isso só vai piorar a situação”. Segundo ele, não é à toa que a polícia prende cada vez mais e o cidadão se sente cada vez menos seguro. “Jogar menores de idade em uma cela com bandidos rodados, 34
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ligados a facções não soa inteligen- reais referidos porque os infratores envolvidos nesses furtos foram pute”, finaliza ele. nidos com longas penas de prisão.” Em uma discussão sobre penas Penas alternativas alternativas, já como ex-diretora “Você pagaria R$ 30 mil por um do Desipe, ela conta ter levado dois galo de briga, ou R$ 20 mil por dois pacotes de fralda em uma reunião pacotes de fraldas descartáveis, ou com Renan Calheiros a fim de convencer o então Ministro da Justiça R$ 7 mil por 12 pés de alface?” É assim que a também socióloga a dar mais atenção a esse tipo de Julita Lemgruber começa um capí- punição. Ela argumenta que um tulo sobre penas alternativas em país com tantas dificuldades como seu livro “A dona das chaves”, feito o Brasil, não pode se dar ao luxo de em parceria com a escritora Anabe- prender tanta gente. “Existem pesla Paiva. Depois, para justificar as soas que cometem pequenas infraperguntas, explica que esses são os ções e são jogadas em um sistema valores gastos pelo Estado com in- dominado por facções perigosas. frações “pouco significativas”, como Por exemplo, pessoas entram por o furto dos artigos citados (fraldas, usar maconha e saem homicidas galo de briga e pé de alface): “No graduados”, conta ela. Julita, mesentanto, o furto do galo, das fraldas mo depois de sair do DESIPE, mane dos pés de alface acabou por cus- tem papel importante na defesa tar ao contribuinte os milhares de dos Direitos Humanos nas prisões. Foto: Divulgação
Julita Lemgruber, ex-diretora do DESIPE-RJ em uma palestra sobre violência e criminalidade
Desafios
O ensino público não é mais suficiente para a classe C
A escalada em busca de uma educação de qualidade
O Laís Bianquini
cenário que estamos acostumados a ver, com crianças de baixa renda aglomeradas em colégios públicos de estruturas precárias está começando a se dissipar. Um dos motivos para essa situação se tornar possível é o aumento da renda dos brasileiros e a ascensão social da chamada “nova classe média”. Com a melhoria no salário, as classes C, D e E passaram a investir em itens tecnológicos, casa própria e também na educação, que passa a ser vista não mais como uma questão de luxo, mas como um investimento. No Brasil, os últimos cinco anos mostram essa mudança. Cerca de 8,6 milhões de alunos estão matriculados no ensino privado, gerando um aumento de 13,9%, enquanto o setor público encolheu 5,8%, chegando a 41,4 milhões no país. As crianças e adolescentes de até 14 anos, vindas das classes C, D e E representam a grande maioria de matriculados, de acordo com informações da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad). Com o bolso um pouco menos apertado, tornou-se possível que as famílias dessa nova classe média começassem a se preocupar com a melhoria no ensino de suas crianças. Pelo menos na educação 36
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Foto: Laís Bianquini
O ensino básico particular já apresenta saturação de alunos
básica, o mercado educacional das redes privadas já anda saturado por esse público. “Hoje, o número de nossos alunos já dobrou, e precisamos abrir novas turmas, mas nem sempre temos professores disponíveis e as salas acabam lotadas”, comenta Adriano Donizzete, diretor do Colégio Viva, do interior de São Paulo. Essa predominância exemplifica as mudanças sociais e econômicas que levaram ao aumento de poder das classes mais baixas e também mostram uma modifi-
cação de pensamento – passam a perceber que colégios particulares podem oferecer condições melhores e mais assistência para atender seus estudantes.
Cenário de insegurança Outro fator que tem contribuído com essa mudança é a precariedade de recursos que presenciamos no setor de ensino público. Como consequência disso, as escolas públicas ganharam uma imagem de
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local com violência e pouco estudo. Há diversos casos em que esses colégios passam por dificuldades, como faltas frequentes de professores, pouca disciplina e escassez de materiais básicos para o aprendizado. De acordo com a psicopedagoga Betina Serson, sem incentivo nenhum e expostas a esse ambiente de violência, muitas crianças se sentem desmotivadas a continuarem frequentando as aulas. “Não é a toa que as notas desses alunos, em geral, são muito baixas. Havendo casos até que, por passar por circunstâncias como essas, ótimos estudantes param de se destacar e tendem a se nivelar na média”, explica Betina. Outro déficit incluso nesta situação é a má preparação dos educadores. Segundo Bettina, eles possuem salários muito baixos, pouquíssimo reconhecimento e auxílio, e acabam ficando sem saída dentro das salas de aulas. Esses profissionais, muitas vezes, não são bem treinados ou não estão capacitados para dar determinadas disciplinas, mas, pelo quadro de professores da maioria desses colé-
“H
oje, o número de nossos alunos já dobrou, e precisamos abrir novas turmas, mas nem sempre temos professores disponíveis e as salas acabam lotadas”. Adriano Donizzete Diretor do Colégio Viva Foto: Acervo Pessoal
aumentar o nível de educação da população de baixa renda, a escola privada representa também, uma melhoria na qualidade de vida dessas crianças no futuro. “Além de considerarem o ensino público de péssima qualidade, os pais querem dar uma oportunidade aos filhos de terem uma melhor educação e uma maior chance de entrar no mercado de trabalho. Além disso, eles querem muito ver os filhos se formando em uma faculdade”, explica o diretor Adriano. A salvação do ensino Os sonhos dessa parcela do país Encarada como solução para vão muito além do que os de anos atrás, hoje, os pais não esperam apenas que seus filhos terminem o segundo grau, eles querem vês pais devem se -los entrando em uma Universidainteressar pelo dia a de. Vemos essas mudanças acontecerem com mais frequência nos dia de seus filhos na últimos tempos, como é o caso de escola e disponibilizar em casa Roseane Machado de Oliveira, que um lugar calmo e tranquilo para sempre foi dona de casa e agora a execução das tarefas. Além começou um trabalho autônomo disso, ajudá-los a criar uma para ajudar nas despesas. Ela acabou de matricular o segundo filho rotina de estudos é em uma escola particular. Mário, o fundamental”. mais velho, já está na oitava série e Pedro, o caçula, acaba de entrar no Ana Paula Magosso Cavaggioni primário. Roseane se orgulha da Piscóloga e diretor da Clínica Psicologia situação: “É muito bom ver meus e Educação dois filhos estudando, eu posso figios serem reduzidos, eles acabam assumindo muitas matérias, sendo algumas delas diferentes das de sua formação. “Por não terem domínio absoluto dos conteúdos, esses docentes não conseguem passá-lo totalmente adiante e as aulas acabam presas a teorias pedagógicas genéricas, não havendo aprofundamento nenhum e nem sendo atrativo aos olhares dos alunos”, alerta a psicopedagoga.
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Desafios car tranquila enquanto trabalho, pois sei onde eles estão e sei que é seguro. Hoje em dia, eu já até imagino o Mário se formando, e antes eu tinha medo dele nem terminar o ensino fundamental”. Casos como o de Roseane se repetem no lar de muitas famílias brasileiras agora. A inserção dessas mães/mulheres no mercado de trabalho é outro fator considerável para tornar essa situação possível. Hoje, a mulher participa da composição da renda familiar, tanto que cerca de 30% dos domicílios do país são chefiados por elas. Porém, o perfil das instituições privadas precisou, e ainda precisa sofrer adaptações para receber seu novo público. Normalmente, essas escolas são de pequeno porte, oferecem descontos em suas mensalidades, que costumam variam entre R$200,00 e R$700,00 e, muitas delas, até oferecem processo seletivo para distribuir bolsas de estudos para alunos muito carentes. “Essas escolas estão localizadas em bairros, onde as famílias mais pobres já moram, e facilitam o acesso das crianças. Por serem familiarizadas pelo público que recebem, esses colégios já estão acostumados com as situações mais precárias dos pais e estão prontos para negociar e até relevar atrasos nos pagamentos das mensalidades, por exemplo.”, completa Betina.
Empecilhos no meio do caminho Apesar dos indicadores de qualidade em educação serem elevados, muitos problemas podem ser percebidos com o deslocamento ocorrido da rede pública para o ensino privado. Por virem de escolas com ensino insatisfatório, os estudantes podem sofrer dificuldade na hora de acompanhar o novo ritmo de 38
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Foto: Laís Bianquini
Integração de alunos do ensino básico no Colégio Viva
aprendizado. “A maioria destes alunos sofre principalmente dificuldade de adaptação pedagógica, que pode impactar na adaptação social, uma vez que a criança pode sentir-se exposta devido a sua defasagem de aprendizagem, podendo ocorrer dificuldade em inserir-se em grupos de estudos ou trabalhos.”, alerta Ana Paula Magosso Cavaggioni, psicóloga e diretora da Clínica Psicologia e Educação. A dificuldade de aprendizado dessas crianças está totalmente ligada à defasagem escolar e estimulação precária que viviam anteriormente e isso gera preocupação dentre os educadores. “Tentamos ficar de olho nessas crianças e no modo como nossos alunos mais antigos recebem os novos coleguinhas. O que não queremos é que elas se sintam inferiores ou sofram algum tipo de preconceito ou bullying.”, afirma o diretor Adriano Donizzete.“Sem dúvida, se há uma situação de exclusão ou preconceito vivido dentro da escola, esta criança poderá ter ainda mais dificuldades de se adaptar ao ambiente e desenvolver-se cognitivamente. E isso é uma preocupação nossa, é a escola que precisa lidar com
essa questão. Aqui no Colégio Viva contamos com a presença de uma psicóloga que está pronta para conversar com os alunos, sempre que eles precisarem”, finaliza Adriano. A participação ativa dos pais na vida escolar das crianças é fator fundamental para superar qualquer tipo de problema que os filhos possam encontrar nessa nova etapa. “Ao perceberem que o filho tem uma dificuldade que sozinho não está conseguindo superar, devem buscar ajuda profissional o mais rápido possível”, alerta Ana Paula. Mas, os contratempos não param por ai. Além das questões sociais, a saturação de alunos na esfera privada, acarreta em dificuldades no setor financeiro desses colégios. Para conseguirem atender toda a sua demanda, está acontecendo uma elevação gradativa dos preços das mensalidades, o que, somados com o aumento da inflação, dificulta a permanência dessas crianças nestas escolas. O marketing positivo que essas escolas privadas recebem, muitas vezes, nem corresponde com a realidade, pois elas também estão enfrentando crises para manter um ensino de qualidade.
MICHELE MATOS Aquilo que você jamais poderia imaginar sobre transporte
você sabia?
A bicicleta foi inventada há quase 200 anos. De início, ela se chamava celerífero. Com o passar dos anos, a bicicleta teve várias inovações em sua composição. Atualmente a maioria dos modelos possui marcha, retrovisor e olho-de-gato.
pode ocasionar de 200 até 400 metros de engarrafamento.
O menor carro do mundo com licença para rodar, segundo o Guinness Book, é o inglês Wind UP. Ele possui dimensões de 104 centímetros de altura, 129 centímetros de comprimento, 66 A primeira corrida de automóveis centímetros de largura e pode chegar a do mundo aconteceu em Paris, na 60 km/h. França, no ano de 1894. O regulamento dessa prova exigia que os carros não ulA Ferrari produz, no máximo, 14 trapassassem a média de 12,5 km/h. carros por dia. Já a Toyota produz diariamente 13 mil unidades, sendo a marca O primeiro acidente de automóvel mais adquirida do mundo. ocorreu em 1769, em Paris. O responsável foi o francês Nicolas Cugnot. O Em 1906, o francês Alfred Faucher então oficial de artilharia da França inventou o espelho retrovisor. Ele tamdava uma volta em seu veículo de três bém criou a luz de freio e o pisca-pisca rodas movido a vapor quando colidiu de direção. com uma árvore. Implantado em 1908, o primeiro O trem mais antigo do METRÔ serviço de ônibus no Brasil ligava a está operando desde 1972 e, até o mo- Praça Mauá ao Passeio Público, no Rio mento, percorreu aproximadamente de Janeiro. 2.400.000 km. Ele já passou por revisões e opera normalmente. Em 1893, Henrique Santos Dumont, irmão de Alberto, trouxe o Se um carro quebrar em uma aveni- primeiro carro para o Brasil. Era um da, dependendo do volume do tráfego, Daimler a vapor. Foto: Divulgação
Wind UP , o menor carro do mundo com licença para rodar
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Desafios
Pequenas mudanças de hábito trazem alívio para a renda no final do mês
Crise econômica? Descubra como driblá-la em seu dia a dia Thales Valeriani
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reços subindo, dólar em alta, aumento de impostos e cortes no orçamento do governo. Em resumo, essas são as principais notícias sobre a economia do Brasil em 2015. Ao menos
até o momento. Mas como isso pode afetar as nossas vidas? Há saídas? Sim, há. Realmente, o ano de 2015 não promete ser um ano de boas novas para a economia. A previsão de crescimento do país está um pouco
acima de 1%, a alta dos preços não deve dar tréguas e a previsão é que o desemprego aumente. Isso significa que a carne, o ovo, pão e leite, por exemplo, devem ficar ainda mais caros até o final do ano. A produção de toda a riqueza Foto: Divulgação
Joaquim Levy é o atual ministro da Fazenda e comanda o chamado ajuste fiscal elaborado pelo governo; o objetivo é aumentar a arrecadação e cortar gastos, mas quem pagará essa conta? 40
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Compras Saia de casa com uma lista do que precisa em mãos. Assim não perderá o foco quando estiver comprando. Anote os preços e vá em mais de um estabelecimento. Compare os preços e não se esqueça que em pequenos comércios, às vezes, é possível pedir um desconto. Se tiver o hábito de ir em redes de mercados e supermercados, fique atento as promoções da semana. passado? Pensando nisso, produzimos uma lista de dicas sobre economia familiar com sugestões de especialistas da área e pessoas comuns:
Transporte
Se mora perto da onde trabalha ou estuda, reflita se não compensa ir a pé ou de bicicleta, além de ecoque país produz ao longo nomizar, faz bem à saúde. Se este do ano, o chama- do Produto Energia não for o caso, converse com o pesInterno Bruto (PIB), deve ser cerca soal da empresa e veja se não vale Evite deixar carregadores e ou- a pena pegar caronas com colegas e de 1% maior que a do ano passado. Neste caso, a indústria, agrone- tros aparelhos conectados na to- dividir o preço do combustível. gócio e outros setores da economia, mada se não estiverem em uso. O E também não se esqueça de como o comércio, por exemplo, de- micro-ondas que fica na tomada fazer o planejamento do mês. Faça vem produzir ou vender como em sem estar sendo usado, o carrega- uma planilha com todos os ga2014. Portanto, não há necessidade dor do notebook e do celular que nhos e gastos da família. Sabendo de contratarem novos funcionários. não saem da tomada são alguns quanto de renda vai para cada área E como o governo fez cortes nos or- exemplos de consumo de energia -moradia, alimentação, transporte, çamentos, algumas contratações desnecessário. Também evite ba- saúde, educação, lazer e outros- fica devem ser canceladas ou adiadas. nhos com mais de 5 ou 10 minutos mais fácil manter o controle. Daí a previsão de alta do desem- de duração. E atenção com as lâmTambém se deve trabalhar com padas acessas pela casa. prego. metas e prazos. Por exemplo, gastar Isso acontece porque nos últiuma quantia determinada no mermos anos o Brasil gastou mais do Água cado ao invés de outra ou estipular que arrecadou. E como a economia um valor máximo para as contas de de uma família, quando se gasta Assim como para economia de água e luz. Estabeleça metas reais, mais do que se ganha por certo energia, um banho rápido também que possam ser alcançadas. tempo, tem que fazer alguns ajus- ajuda na hora de economizar água. Com esta mudança de hábitos, tes. Na hora de lavar louça, feche a tor- o mesmo orçamento será melhor Mas, até que as contas fiquem neira enquanto ensaboa a louça. aproveitado. Sem grandes cortes em dia, como fazer para não ter que Depois de lavar roupa, reutilize a ou mudanças se terá mais dinheiro trocar a carne pelo ovo, como suge- água da máquina ou do tanquinho ao final do mês e não ao contrário, riu o secretário do Ministério da Fa- para lavar banheiro, garagem ou como diz o famoso jargão “sobra zenda, Márcio Holland em outubro varanda, por exemplo. mês no final do salário”. minhaGENTE Abril de 2015 41 Foto: Reprodução
A população do Estado de São Paulo nem se recuperou da maior crise hídrica enfrentada nos últimos 30 anos e o medo da falta de água já volta a assombrar os paulistas. Com o período de chuvas desde o final do ano passado, represas e reservatórios ganharam sobrevida e o caos da falta de abastecimento para milhões de pessoas caiu no esquecimento, principalmente da grande mídia. Entretanto, com o início da época de seca no mês de maio, em que os índices de chuva despencam, o sinal de alerta volta a ser acionado. O Governo de São Paulo, como fez durante toda a crise, ignora o problema e a principal obra contra a falta de água na região metropolitana da capital, que fará a ligação do Sistema Rio Grande para socorrer o Sistema Alto Tietê, está atrasada. Segundo o governador Geraldo Alckmin (PSDB), a ligação já estaria funcionando em maio de 2015, mas com o final de abril as obras nem foram iniciadas ainda. Para fechar, as chuvas até o momento não foram suficientes para recuperar os níveis normais dos principais reservatórios. Será que vai começar tudo de novo?
Foto: Henrique Cézar
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REPORTAGEM ESPECIAL
AGORA É SÉRIO
SE NÃO SOUBER USAR, VAI ACABAR Henrique Cézar
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20 milhões de paulistas ficam sem água e querem saber: de quem é a culpa, São Pedro ou Alckmin? Foto: contadagua.org
Moradores de diversas regiões se sentiram enganados; enquanto o governo afirmava que não havia racionamento, torneiras ficavam secas por horas ou até dias
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andeiras, gritos de ordem, cartazes e megafones. Pais com crianças no colo, jovens e idosos. Os 20 mil manifestantes que protestaram em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo de São Paulo, na capital paulista, na última quinta-feira do mês de fevereiro não pediam o fim da corrupção e nem gritavam, “fora Dilma”. Eles estavam ali pedindo água. Em 2014, cerca de 20 milhões de moradores de São Paulo e cidades da região metropolitana ficaram sem água potável em suas casas, esta-
belecimentos comerciais e empresas, um cenário assustador que ainda está longe de acabar e promete mudar a relação entre a população e a água. Os principais reservatórios que abastecem a população do maior estado do país simplesmente secaram ao longo de 2014 e não devem se recuperar tão logo. “Os casos mais graves são dos sistemas Cantareira e Alto Tietê, ambos operando com o chamado volume morto. Eles certamente não recuperarão neste ano”, afirma Alexandre Oliveira, professor de Geografia formado
pela Unesp de Rio Claro. O sistema Cantareira, responsável por abastecer 9 milhões de pessoas na grande São Paulo, chegou a funcionar com apenas 5,2% de sua capacidade, obrigando o governo e a SABESP a utilizarem o volume morto, ou seja, a água localizada abaixo das turbinas onde ocorre a captação. Os manifestantes que foram até o Palácio dos Bandeirantes, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), não acreditam que a falta de chuvas é a única responsável pela crise que deixa centenas de famílias sem água na maior parte do dia em bair-
ros de São Paulo. Durante a campanha eleitoral no ano passado, o então candidato a reeleição Geraldo Alckmin (PSDB) garantiu que não faltaria água em São Paulo e que não existia risco de racionamento. Quatro meses após ser reeleito, Alckmin admitiu o racionamento, ou a diminuição drástica da pressão nos pontos de distribuição que interrompe o abastecimento de água. Para Alexandre Oliveira, planejamento e a realização de algumas obras por parte do governo do Estado de São Paulo teriam amenizado a atual situação. Um dos problemas apontado é o alto índice de perda,
que gira em torno de 30% de toda água tratada. “Uma das razões que explicam essa situação são os canos de distribuição antigos, que frequentemente apresentam problemas de vazamento, além das ligações clandestinas”. A construção de um novo reservatório no Vale do Ribeira também é discutida. Além disso, de acordo com documentos divulgados pelo Ministério Público, desde 2004 a Sabesp recebe alertas da Agência Nacional da Água para encontrar novas fontes de captação de água para abastecer os 364 municípios do Estado pelos quais é responsável. Foto: Rádio ABC
Volume morto
Parte da água da represa que fica abaixo do ponto de captação e precisa de bombas para ser usada
Um dos principais Sistemas que abastecem São Paulo, o Cantareira teve queda em seu nível pela primeira vez em mais de 80 dias, na última terça-feira, 28 de abril
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“População é 100% responsável por essa crise”, afirma ambientalista
Falta de água também preocupa interior
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ara quem pensa que a crise da falta de água está restrita à região metropolitana de São Paulo vai um alerta: “a crise não é exclusividade da região metropolitana”, afirma o professor Alexandre. Em Itu, região metropolitana de Sorocaba, ocorreram saques a caminhões pipas e em Amparo, localizada no Circuito das Águas Paulista, também foi necessária a contratação de caminhões para garantir o abastecimento. Poços e nascentes também secaram na última estiagem e muitos bairros da zona rural no oeste paulista tiveram problema de abastecimento. Empresas tiveram que aprofundar seus poços artesianos para continuarem funcionando. “Ou seja, aquele futuro que nós ambientalistas sempre falamos que podia acontecer, só acabou de começar e pode se agravar a cada ano se a postura do estado e dos cidadãos não mudar drasticamente”. A declaração é do ambientalista João
Gabriel, integrantes da ONG Copaíba, que também culpa a população pela atual crise. “A população é 100% responsável por esta crise, pois é a única que altera o ambiente para consumir seus recursos. Porém, o estado tem muita responsabilidade quando não compartilha essa consciência de forma efetiva em toda a sociedade”, ressalta. Outra possível causa que pode ter impactado na atual crise hídrica é o desmatamento das áreas de mananciais. Além disso, nascentes assoreadas e com baixo volume resultam em um menor volume dos rios e, consequentemente, na capacidade de reposição dos sistemas de abastecimentos. “A vegetação garante a infiltração de água nos lençóis freáticos, responsáveis pela manutenção das nascentes. Quando a chuva cai e não passa por este caminho, que por sua vez levam a maioria desta água para outras regiões e não recompõem os mananciais”, explica o ambientalista.
Foto: Arquivo pessoal
Ainda dá tempo? Esperar soluções mágicas neste momento para salvar a população do colapso da falta de água não parece a melhor alternativa. Os especialistas acreditam na sensibilização da população diante da atual crise para uma mudança de comportamento, além de medidas práticas, mesmo que demorem em acusarem resultado. Uma dessas ações seria se atentar ao alto consumo de água por parte da agropecuária e da indústria, que consomem juntas, segundo João Gabriel, 80% dos recursos hídricos. Professor Alexandre aponta uma possível solução. “Acredito muito em trabalhos de conscientização dos proprietários rurais para o reflorestamento
de áreas de nascentes. Há várias experiências de sucesso nesse sentido, como em Goiás, onde muitas minas que haviam secado voltaram a ter água pouco tempo após os plantios”, afirma. Outra medida que levaria certo tempo, mas que precisa de um primeiro passo é a recuperação dos mananciais. A conclusão é de que algo está ocorrendo com o clima e independentemente da velocidade em que a situação pode se agravar, é necessária uma atitude. “Particularmente sou a favor de um grande e persistente trabalho que procure conscientizar e mudar a forma equivocada com que grande parte da população insiste em lidar com o mais precioso e um dos mais ameaçados recursos naturais,a água”,
Professor Alexandre Oliveira acredita no debate e na conscientização da população
finaliza o professor.
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Há 15 anos chuvas estão diminuindo no estado de São Paulo
Diminuição de chuvas mantém estado em alerta
O
cenário é assustador. A afirmação é do meteorologista do IPMET, André Mendonça de Decco, ao ser perguntado sobre a expectativa em relação à situação hídrica, principalmente na região do sistema Cantareira, a partir dos próximos meses. “Tem pouca reserva de água, a situação está crítica, o cenário demanda bastante atenção”, afirma. Trabalhando especificamente nas previsões da Região de Bauru, cidade em que o Instituto de Pesquisas Meteorológicas da Unesp
(IPMET) funciona, André Decco participou recentemente de uma reunião em São José dos Campos, do Grupo de Trabalho em Previsão Climática Sazonal, na qual foi discutido o cenário de chuvas para os próximos meses diante da crise hídrica no estado. A recuperação dos níveis dos reservatórios, como o sistema Cantareira, Vale do Paraíba, ou ainda outros reservatórios na região de São José dos Campos, podem levar dois, três, quatro ou mais anos, aponta o meteorologista. Ele nega um cenário catastrófico, mas afirma ser “fato que está Foto: Henrique Cézar
Recuperação de reservatórios deve levar anos com menos chuvas
chovendo pouco pelo menos há 15 anos”. Decco descarta fazer previsões, mas garante que o cenário para os próximos anos não é favorável, tendo em vista o aumento da população e o histórico dos últimos anos. Segundo dados do CPTEC/INPE, desde 1999 chove abaixo da média histórica na região da Grande São Paulo e litoral nos meses de mais
chuva, dezembro, janeiro e fevereiro. Os números não são diferentes se analisada a região de Bauru. De acordo com dados do IPMET, desde 2000 chove abaixo da média histórica anual na cidade e região. Os números aumentam a preocupação para os próximos meses, já que a partir de abril as chuvas devem diminuir consideravelmente, retornando apenas em outubro.
As previsões para abril e maio, por exemplo, indicam chuvas abaixo da média na Grande São Paulo, dificultando ainda mais a recuperação dos reservatórios e deixando a população e autoridades em alertas com novas crises de abastecimento. “Esquece de torcer para o Corinthians, para o Palmeiras, para o Flamengo, esquece, agora é torcer para chover”, brincou Decco.
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COMPORTAMENTO
Tire suas dúvidas sobre o orgasmo feminino
Mulher também goza! Laís Bianquini
N
em sempre quantidade quer dizer qualidade. É o que revela um estudo realizado recentemente pela Durex Global Sex Survey, onde pelo menos metade dos brasileiros (56% mulheres e 51% homens) se declara insatisfeita com a vida sexual, mesmo que a prática seja realizada pelo menos três vezes por semana. A falta de comunicação e a dificuldade de reconhecer disfunções sexuais entre os casais são as causas mais aparentes para essa infelicidade. Especialistas acreditam que isso ocorre em função do comportamento sexual dos homens e mulheres no Brasil, ainda mediado por tabus que dificultam a satisfação sexual entre parceiros. “Acredito que é necessário maior conhecimento da própria sexualidade, principalmente entre as mulheres, assim como o diálogo entre o casal sobre a vida a dois”, revela a sexóloga Fabiane Dell’ Antônio. A profissional ainda acredita que as mulheres fazem parte do público que mais se mostra insatisfeito em relação ao desempenho sexual do parceiro, isso porque, reclamam da falta de conhecimento no estímulo que os homens desempenham durante a relação sexual, fatores que acabam gerando problemas físicos e emocionais entre as mulheres. “Em contra partida, o público feminino também precisa se dedicar mais ao mundo das descobertas íntimas, explo-
rando pontos erógenos, e assim, encontrarem seu prazer pessoal, já que há grande diversidade entre as mulheres em relação ao prazer. Isto irá aumentar muito o desejo das mulheres, e consequentemente a relação a dois irá esquentar”, completa a sexóloga. Por fim, outra medida que pode ser adotada para a retomada do prazer a dois é inovar durante a relação sexual com adereços como géis aromatizantes, que promovem mudanças de temperatura na área, lubrificantes que facilitam o orgasmo e até mesmo fantasias sensuais e temáticas, que hoje servem para estimular e esquentar a relação e assim quebrar os tabus e dúvidas que possam existir entre os casais.
Foto: Divulgação
Chega de confusões
A uroginecologista da Clínica Berenstein de Atendimento à Mulher, Annic Texeira de Carvalho explica tudo que você sempre quis saber:
As respostas para melhorar sua vida íntima O que pode dificultar o alcance do orgasmo? Annic: Em primeiro lugar, ansiedade, preocupações excessivas e baixa autoestima. Traumas sexuais prejudicam (e muito!) o prazer em ambos os sexos. Problemas vasculares, depressão e o uso de certos medicamentos também podem atrapalhar o alcance do prazer durante a transa. Todas as mulheres são capazes de atingir o orgasmo? Sim. Para isso, é fundamental relaxar durante
tir prazer? A falta de conhecimento do próprio corpo aliada à rapidez no ato sexual pode ser uma das causas da dificuldade em se atingir o orgasmo, uma vez As mulheres ejaculam? que a mulher precisa de Não. As mulheres pos- um tempo para relaxar e suem glândulas na vagina se excitar. Existem tamque liberam um líquido bém problemas físicos lubrificante que facilita a como fibrose vaginal, vapenetração. Quando ela ginismo, cistos, infecções está muito excitada, esse urinárias, entre outros, líquido pode ser liberado que podem acarretar dor em grandes quantidades, durante a relação e atradeixando-a excessiva- palhar o alcance do pramente “molhada”. zer. Por que muitas mulheres têm dificuldade em sen- Dá para ter mais de um as preliminares e se soltar durante o ato sexual. Uma dica é deixar os problemas do dia a dia de lado e se concentrar no momento que está vivendo.
orgasmo na mesma transa? Sim, é chamado de orgasmo múltiplo. Para que isso ocorra, é necessário que haja um forte desejo sexual e que a sintonia entre o casal esteja bastante alinhada. Não há necessidade de se cobrar (e nem de cobrar o parceiro) caso isso não aconteça. Para tentar obter mais de um orgasmo durante a mesma relação, ambos devem estar dispostos a dar e sentir prazer, sem ter pressa durante a transa, inclusive depois do primeiro orgasmo.
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COMPORTAMENTO
mulher pode receber * Aestímulos sexuais nas mais
diversas partes do corpo, sendo o clitóris um dos pontos de maior prazer.
aspecto importante para uma Problemas psicológicos, * Um relação sexual prazerosa é a lubri- * hormonais e na relação com ficação vaginal, que ocorre a partir da excitação com os estímulos adequados para cada mulher.
o parceiro podem dificultar a lubrificação. Procure um médico.
as mulheres têm dificuldade de ter prazer somente com a penetração, devendo, durante a * “Geralmente, relação, ocorrer um conjunto de carícias e estímulos para que ocorra o orgasmo”, aponta a médica. Como abordar a falta de prazer com o parceiro? O casal deve buscar o prazer em conjunto, assim, a melhor opção é investir no diálogo e abrir o jogo quando algo estiver atrapalhando. Uma conversa sincera será capaz de indicar novas possibilidades para o alcance do orgasmo, pois você terá a chance de revelar seus pontos erógenos e o que mais lhe agrada na cama. O que fazer para prolongar o orgasmo? O orgasmo é uma consequência do desejo e da excitação. Quanto maior o estímulo, maior será o prazer. O simples fato de transar com quem se ama ou deseja produz um envolvimento que pode levar ao prazer. O casal deve sempre conversar a respeito do relacionamento para construir um erotismo prazeroso e duradouro. O que é ponto G? O ponto G é a região mais 52
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sensível do corpo da mulher. Ele fica a aproximadamente 5cm da entrada da vagina, possui o formato de uma moeda e textura diferenciada. Para explorá-lo, coloque o dedo dentro do órgão e tateie a parede vaginal na parte da frente. Existe mais de um tipo de orgasmo feminino? Sim. A mulher pode ter orgasmo clitoriano (após a estimulação do clitóris, sem que haja necessidade de penetração) ou orgasmo vaginal (que acontece durante a penetração). O alcance do prazer também pode ocorrer pela estimulação oral ou anal. Por que algumas mulheres não sentem prazer na juventude? Na juventude, a mulher pode ter vergonha de conversar com o parceiro sobre o que lhe desagrada na cama e correr o risco de parecer inexperiente. Assim como nas outras
-lo? A intensidade do orgasmo está relacionada ao conhecimento do próprio corpo. Na primeira relação sexual, ansiedade Por que quando a mulher e inexperiência podem conhece seu corpo fica influenciar no reconhemais fácil ter prazer? cimento da sensação orA mulher conhece seu gástica. Com o tempo a corpo através de carícias, mulher pode intensificar pela masturbação ou pela esse prazer e ter orgasparticipação do parcei- mos pela estimulação do ro em preliminares mais clitóris, ânus ou penetraprolongadas. O orgasmo ção vaginal. é uma consequência e a sexualidade é muito mais O que acontece com o ampla do que a penetra- corpo da mulher quando ção. ela está excitada? O corpo feminino fica a O que fazer para se soltar todo vapor quando a muna hora H? lher está excitada. Nessa Apesar dos inúmeros hora, o útero se acomoda avanços na discussão da para receber o pênis e as sexualidade, a inibição é trompas iniciam movimuito comum. A primeira mentos regulares em didica é se conhecer melhor, reção à cavidade abdomitentando descobrir quais nal. Ocorre para facilitar partes de seu corpo, ao se- a chegada do sêmen ao rem tocadas, aumentam útero, permitindo a feo seu prazer. cundação. Há ainda contrações dos músculos da É possível algumas mu- vagina e um aumento das lheres terem orgasmo e batidas do coração e da não saberem identificá- temperatura corporal. áreas da vida, a imaturidade proporciona menos segurança para encarar os problemas, inclusive os de caráter sexual.
LAÍS BIANQUINI CUIDADOS NA CAMINHADA Essa atividade física é muito democrática, já que pode ser praticada por pessoas de qualquer idade. Porém, para evitar problemas, é bom tomar alguns cuidados importantes durante a prática. Caminhar sem estar bem alimentado não é ideal, já que os alimentos fornecerão a energia necessária para o exercício. O melhor é ingerir alimentos leves antes de praticar o exercício. Outra dica importante é levar uma garrafinha de água para repor os líquidos perdidos na atividade. Além disso, é importante usar roupas confortáveis, e um tênis que reduza os impactos das passadas.
O PODER DA LARANJA
bem estar
Essa fruta, além de deliciosa, é conhecida por conter vitamina C e proteger contra gripes e resfriados. Já se sabe também que a laranja tem mais benefícios para o corpo: possui cálcio, magnésio e outras substâncias importantes para o nosso organismo, além de ser rica em fibras, que ajudam a melhorar o trânsito intestinal. Outra característica é que a laranja tem ação antioxidante, o que ajuda a reduzir o risco de desenvolver alguns tipos de câncer, problemas do coração e outras doenças.
VARIZES São vasos sanguíneos dilatados que surgem com mais frequência nas pernas. Muita gente se incomoda com esse problema por motivos estéticos. Mas, as varizes também podem causar dores e sensação de peso. Para preveni-las, o ideal é ficar com as pernas para o alto em alguns momentos do dia, evitar passar muito tempo em pé, praticar atividades físicas e manter o peso adequado, já que a obesidade pode piorar a situação. A meia compressora também pode ajudar no controle das varizes, pois melhora a circulação do sangue. Mas é melhor consultar um médico antes de adquiri-la para saber o tamanho ideal para cada corpo. Além disso, as mulheres devem tomar cuidado com o salto alto. Se ele tiver mais de sete centímetros e for usado por muito tempo, pode provocar o incômodo. Agora, se as varizes são muitas e já atrapalham a sua qualidade de vida, a solução pode ser a cirurgia, desde que recomendada pelo médico.
O PODER DA BERINJELA Ela é pouco calórica, pois possui aproximadamente 20kcal a cada 100g. O legume é rico em vitaminas A, B1, B2, B5 e C, importantes para a imunidade do corpo. Além disso, possui minerais, cálcio, fósforo, ferro, potássio e magnésio, que fortalecem os ossos, auxiliam na memória e desintoxicam o organismo. A antocianina é o pigmento responsável pela coloração roxa da casca da berinjela e está associada à redução dos níveis de colesterol, à prevenção do câncer e de infecções do trato urinário. Na sua casca também são encontradas fibras, que auxiliam na digestão, ajudando na prevenção de doenças gastrointestinais. minhaGENTE Abril de 2015 53
COMPORTAMENTO
ESTテ.IO
Foto: Tiago Pテ。taro Pavini
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É LUGAR DE
TORCEDOR Tiago Pátaro Pavini
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s estádios são conhecidos historicamente por ser um espaço democrático de união de diferentes classes sociais. A emoção e a atmsofera contagiante de rojões e sinalizadores faziam parte dos domingos de futebol. Faziam, pois esse cenário está se alterando. Junto com a Copa do Mundo, vieram as arenas. Junto com as arenas, vieram os altos preços. Será que as arquibancadas estão ficando realmente frias e sem emoção? É preferível assistir futebol na televisão? Está acontecendo a elitização do futebol brasileiro? Veja nas próximas páginas se ainda há espaço para foguetes e bandeiras no atual cenário do futebol brasileiro, ou se agora é a vez de desfrutar o conforto e o lazer das arenas.
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COMPORTAMENTO
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r ao estádio é uma experiência gratificante. A torcida faz diferença nos jogos. Seja ela positiva ou negativa. “O jogador se sente mais a vontade. Mas pode ser também um incentivo ao adversário, ao ver aquele estádio cheio”, pontua Zeca Marques, líder do Grupo de Estudos em Comunicação Esportiva e Futebol. Já Flávio Gomes, jornalista do canal por assinatura Foxsports, diz que é fundamental frequentar os jogos ao vivo. “É no estádio que se conhece o futebol de verdade. Não levo muito a sério
quem diz que torce para um time e não vai vê-lo jogar, fica estirado no sofá e se vangloria de ter o melhor pacote de pay-per-view da Net”, provoca. Os novos estádios vêm se alterando. Antigamente, existia o conceito de “Estádio Olímpico”, onde poderiam ser praticados diferentes esportes no local, como atletismo. Já as novas arenas são diferentes. Hoje, as arenas priorizam a obtenção de lucros, visando utilizar o espaço para eventos e shows. As partidas de futebol estão se tornando
eventos. Nelas, estão presentes restaurantes, lojas e outras opções de lazer para o torcedor desfrutar. O ambiente se tornou mais familiar e mais organizado, com cadeiras demarcadas. Seria uma elitização do futebol? “Os assentos demarcados permitem que o torcedor vá com a família e tenha mais sossego. Se isso é elitizar, acho interessante. Mas a elitização não tem a ver com a questão do local demarcado, mas sim com o valor dos ingressos”, comenta Zeca. Já Flávio Gomes diz que o perfil Foto: Tiago Pátaro Pavini
Torcedores do Guarani empurram o time contra o Catanduvense pela séria A2 do paulista 56
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do torcedor está se modificando. “O público de hoje caminha perigosamente para se transformar numa plateia que se acha no direito de cobrar por grandes espetáculos e de reclamar que a almofadinha da cadeira não é macia”, afirma. Na Europa, o termo “espetáculo” é frequentemente utilizado. As arquibancadas do Velho Continente estão carentes de emoção. “O conceito de espetáculo é tratar bem o espectador. Em muitos lugares da Europa ele vai apenas pra ver o jogo, e não para torcer. É como se fosse uma peça de teatro”, comenta Zeca. Mas Zeca indaga se os estádios estão realmente frios. “Será que os estádios ficaram mais frios ou será que houve reconfigurações isoladas? Por exemplo, o novo estádio do Palmeiras se tornou um caldeirão que o velho Parque Antártica nunca proporcionou pela acústica”, questiona.
Foto: Tiago Pátaro Pavini
Garoto aprende desde cedo à ir no campo
As rendas originadas das chamadas Novas Arenas são cada vez maiores. A causa desse fenômeno é o alto preço dos ingressos (veja tabelas). A arena do Corinthians, exemplo, é dividida em sete Segregação nas Novas Are- por setores, sendo que quatro são renas e lucros servados a preços caros, um interFoto: Tiago Pátaro Pavini
mediário e apenas dois acessíveis. “Antigamente havia o setor da geral, espaço até folclórico onde o preço era baixíssimo. O que se perdeu hoje com o os estádios novos foi esse ingresso mais barato que permitia o acesso do cidadão com menos recursos financeiros”, diz Zeca Marques. Os torcedores estão cada vez mais separados. Antigamente, havia apenas a divisão entre torcedores locais e visitantes. Hoje, existe divisão pelo poder aquisitivo dentro da própria torcida. “O estádio é, ou era, o maior exemplo de espaço democrático de convivência. Hoje não é mais, o esforço de todos parece ser no sentido de segregar camadas sociais”, diz Flávio. Mas Zeca vê as Arenas com otimismo. “A elitização tem a ver com o valor dos ingressos. Podem ser inclusivos e abrigar torcedores de diferentes classes sociais, com preços acessíveis. O grande erro aqui no Brasil é não ser inclusivo nos novos espaços”, fala.
A tristeza ao final da partida....
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COMPORTAMENTO Foto: Tiago Pátaro Pavini
Torcedores fazem fila para entrar no estádio de futebol Foto: Acervo XV de Jaú
.... contrasta com a alegria no início em jogo do XV de Jaú 58
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Foto: Tiago Pátaro Pavini
A bandeira do time serve como um manto ao torcedor
Brasil é vanguarda na alta dos ingressos no continente sul-americano “A própria dinâmica do futebol faz com que a torcida tenha um papel fundamental no decorrer do jogo”. É o que pensa Matias Pinto, produtor do programa radiofônico “O som das torcidas”, na rádio Central 3, e sócio torcedor do Chacarita Juniors, da Argentina. Ainda segundo ele, a globalização faz com que as torcidas de todo o mundo atuem de forma cada vez mais semelhante. No Brasil, a Copa do Mundo teve contribuição fundamental
para a mudança no modo de torcer. Matias diz que o padrão FIFA está sendo vendido como único meio de progresso, e há uma tendência em se domesticar torcedor. “E não é de hoje, visto que as primeiras restrições começaram em 1995, após a famigerada ‘Batalha do Pacaembu’’’, conta, relembrando o jogo entre São Paulo x Palmeiras pela decisão da Copa São Paulo de Futebol Junior, onde uma briga generalizada entre as duas torcidas ganhou destaque pela violência protagoniza-
da. Quando o assunto é o preço dos ingressos, Matias conta que o Brasil foi vanguarda no continente. ‘’Muito se deve pela Copa do Mundo, mas os vizinhos Chile e Argentina já estão sentindo esse efeito’’. E ainda pontua as causas para jovens brasileiros escolherem times estrangeiros para torcer. ‘’Influencia da mídia e falta de politicas de acesso aos estádio para jovens, principalmente das camadas mais pobres’’, diz.
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COMPORTAMENTO
Não seja torcedor de sofá de 64 e do título de campeão brasileiro em 78, em cima do São Paulo. Mas sempre acompanha o time, sentado na arquibancada com seu radinho de pilha pendurado no pescoço. Esteja o Guarani em boa ou má fase. Trocaria as arquibancadas pelo sofá? “Não troco isso aqui por televisão nem que me paguem. Aqui a emoção é muito melhor”, fala apontando para a torcida que lotou um dos setores do estádio na vitória contra o Catanduvense por 1x0. O jogo era válido pela segunda divisão do campeonato paulista. Alexandre Rodrigues, de 38 anos, também é torcedor do Guarani. É frequentador de arquibancada desde pequeno. “Venho ao estádio desde os cinco anos de idade, meu
Foto: Tiago Pátaro Pavini
Existem diferenças em acompanhar um jogo pela televisão e dentro do estádio. A emoção, e vibração são diferentes. O aposentado Hailton Paulo tem 68 anos e é torcedor do Guarani, da cidade de Campinas. Ele começou a ir ao estádio quando criança. “A primeira vez que fui a um estádio eu tinha 12 anos. Foi na cidade de Jaú, pra assistir o XV de Jaú”, diz. Hailton se mudou de Jaú para Campinas, e se apaixonou pelo Bugre. “A primeira vez que eu fui ao Estádio Brinco de Ouro foi em 1963. Eu era sócio do clube social do Guarani, frequentava sempre. Aí acabei me apaixonando pelo time”, fala. Para ele, antigamente o time era melhor e a torcida era mais presente. Hailton sente saudades do time
Alexandre Rodrigues leva a família para assistir aos jogos do Guarani 60
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pai quem me trazia. Agora sou eu quem sempre trago meus filhos”, fala com orgulho. Alexandre também prefere acompanhar os jogos no Brinco de Ouro. “No estádio é totalmente diferente, é melhor. Tem uma melhor visão de jogo, você sente o calor da torcida. Vale a pena”, comenta. Em algumas situações, o hábito de ir aos estádios veio junto com o nascimento. “Meu primeiro jogo eu não lembro porque meu pai me levou no estádio cinco dias após eu nascer. Minha mãe conta que ela ficou louca quando soube”, conta Wagner Vieira, calçadista e torcedor do XV de Jaú. Ele já foi em mais de 40 cidades diferentes para acompanhar o Galo da Comarca, mas teve um jogo que o marcou bastante. “O XV perdia de 1x0 para o Santo André até os 45 do segundo tempo. Empatamos e logo em seguida o Niltinho virou o jogo. Foi uma loucura nas arquibancadas, e fomos para a final”, relembra. Para ele, a televisão ajuda muito no futebol, mas não troca o conforto dos estádios pelo conforto do sofá. “É uma maravilha. Mas nada se compara a estar no estádio vendo seu time de coração. Sou muito mais o estádio”, afirma.
JOGO RÁPIDO
com o jornalista Flavio Gomes Fávio Gomes é jornalista, apresentador e comentarista na Foxsports e torcedor da Portuguesa.
Foto: Acervo Pessoal
Qual foi a primeira vez que foi assistir jogo no estádio? Em 1971, com meu pai, meu irmão mais velho e meu avô. Pacaembu, Portuguesa x Palmeiras. Eles ganharam de 1 x 0 mas saí apaixonado por aquela gente que vestia verde e vermelho, cercada de carcamanos por todos os lados. Qual a frequência que vai aos estádios assistir jogos atualmente? Vou a todos os jogos da Portuguesa em São Paulo e a muitos fora, também. Meus filhos são meus parceiros nessa. Minha namorada, também. Mas ela é corintiana, coitada. Torcida ganha jogo? Algumas ganham, outras não. Mas estar no estádio é fundamental para compreender a essência do futebol, que é muito mais do que esquemas táticos e fofoquinhas sobre quem vai jogar onde. É no
estádio que se conhece o futebol de verdade. Não levo muito a sério quem diz que torce para um time e não vai vê-lo jogar, fica estirado no sofá e se vangloria de ter o melhor pacote de pay-per-view da Net.
numa plateia que se acha no direito de cobrar por grandes espetáculos e de reclamar que a almofadinha da cadeira não é macia. Futebol bom é aquele que se sente na pele, é o jogo ruim, a arquibancada dura, tomar chuva na cabeça ou sol na testa. Quem acha que público de futebol é hoje caminha teatro está totalmenperigosate equivomente para se transfor- cado e não mar numa plateia que e n t e n d e se acha no direito de nada.
Antigamente era mais gostoso de se torcer, as festas eram mais bonitas? Ou é apenas saucobrar por grandes esdosismo? petáculos e de reclamar O que faClaro que zer para que a almofadinha da sim. É sauatrair cadeira não é macia. dosismo mais púafirmar blico aos que os esestádios, tádios viviam cheios, que principalmente nos tias torcidas levavam ban- mes do interior? deiras e instrumentos, A resposta seria longa que faziam uma verda- demais. Resumidamente, deira festa nas arquiban- quem cuida do futebol, cadas? O público de hoje confederação e federacaminha perigosamen- ções, deve fomentar o te para se transformar esporte, e não assistir
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com algum prazer sádico à morte da maior parte dos clubes brasileiros em nome de uma elitização besta. O futebol brasileiro só foi forte, inclusive internacionalmente, quando o interior e os Estados fora do eixo Rio/SP/Porto Alegre/BH tinham times temíveis, fortes, formadores de jogadores. As cidades se envolviam mais. Hoje, no interior, ou em outros Estados, neguinho torce para quem aparece mais na TV. Tem até torcedor do Barcelona e do Chelsea, o que é deprimente. Hoje existe uma tendência das crianças torcerem para times europeus ao invés de times brasileiros, infelizmente. Por que acha que isso acontece? Como disse, acho deprimente. Porque os pais têm medo ou preguiça de levar as crianças aos estádios. Preferem que elas se transformem em torce-
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COMPORTAMENTO Foto: Acervo Pessoal
dores de sofá, engrossando a geração PlayStation. A realização da Copa do Mundo no Brasil interferiu na alteração do modo de torcer aqui no Brasil? Um pouco, nesses novos estádios. Mas o público de Copa não é o mesmo que costuma ir a estádios sempre. Aquele foi ver um evento. Este vai ver seu time. Espero que os torcedores não se dobrem a esse luxo cafona que querem impor a quem frequenta estádios.
Acredita que as novas arenas e os altos preços dos ingressos prejudicam a cultura do torcedor, ou apenas modifica? Flavio Gomes leva a família para ver o jogo da Portuguesa no Canindé Prejudicam, claro. O torcedor de verdade não tem mais dinheiro para ver querendo domesticar o futebol vendo jogos pela futebol no estádio. É uma torcedor brasileiro? TV. Quanto aos ingressacanagem. Estádio é, ou Sim, outra estupidez. sos, acho que tinham de era, o maior exemplo de Como se a violência es- ser muito baratos, muito espaço democrático de tivesse numa bandeira. mesmo, reservando peconvivência. Hoje não é Nunca soube de alguém quenos espaços nos esstádio é, ou mais, o esforço de todos morto por um bambu. tádios para quem quer era, o maior parece ser no sentido de comer coxinha e tomar exemplo de segregar camadas sociais. Acredita que a violência uísque ruim. O que acontece no Brasil espaço democrático de seja a responsável por hoje é ridículo. convivência. Hoje não é afastar torcedores do es- Qual a importância das torcidas organizadas nos mais, o esforço de todos tádio? O preço está alto, mas o Tem de tudo um pouco, jogos de futebol? parece ser no sentido futebol não está melhor. mas a violência não está Hoje elas são formadas de segregar camadas dentro dos estádios, e por gangues. Torcem para É uma contradição né? Exato, cobra-se mais para sociais. O que acontece sim fora. Horários, claro elas mesmas, não pelos ver a mesma m**** de no Brasil hoje é ridículo”. que interferem – jogos às times. No passado, até os sempre, revestida com 22h são uma aberração. anos 80, 90, talvez, elas uma embalagem que não Mas tem também o fato embelezavam o espetácorresponde ao que tem de ter muito futebol na culo. Mas sua natureza se dentro da caixa. TV hoje. Os preguiçosos perdeu, se distorceu, hoje preferem ficar vendo em são formadas, em sua Não se pode mais utilizar casa. E em casa o futebol maioria, por gente que sinalizador, nem bandeinão é o mesmo, é impos- não deveria nem frequenras com mastro. Estão sível se apaixonar por tar estádios.
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TIAGO PÁTARO PAVINI A onde deixamos nossa alma?
GOR DE BICO
O futebol está sendo elitizado, mas a festa popular das arquibancadas precisa resistir Próximo dos anos 1900, o prefeito carioca Pereira de Passos tentou trazer um modelo europeu para a cidade. Há quem diga que as favelas surgiram nessa época, pois os populares foram jogados para a marginalidade. Culturas populares eram vistas como atraso, algo que devia ser banido. Talvez faltasse aos responsáveis algum dicionário para conhecer o que significa atraso. E, ao que tudo indica, esse processo de europeização continua atuante, mas agora com o esporte mais popular do Brasil: o futebol. O campeonato paulista de 2015 nos mostrou a tendência de elitizar os estádios, tais quais os do Velho Continente. O valor mínimo do ingresso é R$40,00. Os clubes do interior estão com médias baxíssimas de público. Festa popular? Acho que precisamos redefinir o que é ser popular... A verdade é que estão transformando o futebol em algo restrito e sem alma. Ele conquistou as multidões exatamente pela sua atmosfera, pelas torcidas apaixonadas, pessoas loucas torcendo e chorando na arquibancada pelo seu time, algo surreal. É como imergir em outro mundo por algum tempo. Ou por 90 minutos. Mas vivemos em um capitalismo selvagem, e nem a mais pura das emoções é poupada. Se ela pode ser utilizada para ser revertida em lucro, será. Quer algo mais emocional do que o futebol? Mas tudo tem limite. Quem frequentava as arquibancadas antigamente já não pode mais. Ou pelo menos não com a mesma frequência. Ir ao estádio deixou de ser um hábito, e virou um evento, um espetáculo. Mas o mundo é um moinho, não é verdade? Dá voltas. Exatamente essa ânsia de querer extrair até o último centavo dos torcedores pode ser a
derrocada do novo modelo elitista. O futebol já não tem a mesma atmosfera de antigamente, salvo algumas resistências. Não haverá mais festa, já não existem mais bandeiras e nem fogos de artifício. Estão tentando retirar a emoção e a alma dos estádios. A festa popular está sendo olhada novamente como algo ruim. É vista como um empecilho para a modernização e europeização, que aguarda sua vez ansiosa, com o ticket (ingresso é muito povão né) na mão, enquanto desfruta de toda a mordomia sentada num camarote de alguma Arena Moderna, com ar condicionado. E claro, com grande apoio da mídia. Afinal, que emissora deseja ter a sua imagem “full hd 3D” prejudicada pela fumaça dos sinalizadores, ou pelos barulhos ensurdecedores de bumbos e cornetas? Mas chegará o momento em que o capitalismo vai perceber que o futebol só pode ser explorado pelo simples fato de envolver emoções. Quando a emoção for retirada dele, a exploração não será mais viável. Infelizmente, temo pelo dia em que a música abaixo não faça o mínimo sentido para os torcedores (ou seriam clientes?) de futebol: “Domingo vou na paz sem confusão, torcer pro time do meu coração. Vou levar foguetes e bandeiras, não vai ser brincadeira, ele vai ser campeão. Não vou de cadeira numerada, vou ficar na arquibancada pra sentir mais emoção” Emoção? Fico imaginando que emoção seria em um estádio rodeado de concreto frio. Perdão, me enganei, estamos no padrão FIFA. Corrigindo: rodeado de cadeiras frias. Talvez tirar uma “selfie” no estádio para colocar nas redes sociais seja a maior emoção. Uma pena. minhaGENTE Abril de 2015 63
COMPORTAMENTO
3 provas de que a internet mudou completamente a sua vida sem que você percebesse
Revolução em curso Vitor Augusto
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ocê certamente já ouviu alguma pessoa mais velha se queixando das praticidades do século 21. Bradando coisas como “Hoje em dia tudo é muito fácil!” ou “No meu tempo não era assim!”, ela reforça sua crença de que nos dias atuais, com tudo a um clique de distância, qualquer um pode chegar onde quiser. Apesar de ser obviamente um exagero, alguém que pense coisas semelhantes a essas não está louco. É claro que os dias de hoje trazem seus próprios desafios, além de novas dificuldades, mas o fato de tudo estar interligado e ao alcance de uma tela, facilita muito a nossa vida em vários aspectos. Um desses aspectos é o consumo. Com a popularização da internet, que hoje chega às casas de 85,9 milhões de brasileiros segundo estudo da Cetic.br, a prática do e-commerce vem se tornando mais comum a cada dia. Apesar de ainda ser um termo estranho para muitas pessoas, e-commerce nada mais é que comércio eletrônico, lojas virtuais que, assim como já indica o termo, não existem em um espaço físico. 64
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Foto: Arquivo pessoal
dade, os modos que você encontra, dentro das suas limitações, de levar uma boa experiência ao cliente.”. Com um mercado que cresceu 24% em 2014, faturando nada menos que R$ 35 bilhões, o e-commerce atrai diversos perfis de empresários que não pretendem ter um investimento inicial muito caro. “É um segmento muito forte e atrativo. Forte porque chegamos a mais de 100 milhões de pedidos em 2014; Atrativo pois o empresário não precisa gastar um mar de diEmpresário Lucas Fernandes nheiro, reduzindo o risco de perdas Lucas Fernandes, 24, fundador significativas” afirma Jamil Ramos, da “Kodo Acessórios Man”, loja vir- empresário de 50 anos. tual especializada em acessórios Agora você, com uma feição desmasculinos, explica que a grande confiada, deve estar se perguntandificuldade no comércio eletrônico do: “Tudo bem, legal que milhares é a falta de vendas. “Você pode in- de empreendedores estejam convestir em produtos de qualidade, seguindo solidificar uma economia atendimento e tudo mais, mas se eletrônica e ganhando dinheiro esquecer de pensar em uma forma com isso, mas o que isso tem a ver criativa de trazer as pessoas ao seu comigo, que não sou e não tenho a site, não vai dar certo. A concor- menor pretensão de ser um emprerência é muito grande.”. Segundo sário?”. ele, que já era dono de uma loja de O que isso quer dizer é que os acessórios femininos, o que menos consumidores ganham tanto quanimporta nesse mercado são os pro- to empresários. Claro que, nesse dutos em si: “Todas as boas lojas caso, não estou falando necessavirtuais têm um produto de qua- riamente de dinheiro, mas de pralidade. O diferencial é sua criativi- ticidade, comodidade e segurança.
Um atendimento personalizado, rapidez de entrega e bons descontos certamente estão garantidos em um mundo com uma economia online solidificada na qual milhares de empresas competem pela sua atenção.
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om a popularização da internet, que hoje chega às casas de 85,9 milhões de brasileiros segundo estudo da Cetic.br, a prática do e-commerce vem se tornando mais comum a cada dia.
Educação Foto: Divulgação
49. Enquanto a garotinha brinca de lego no tapete da sala, ela me conta algumas histórias engraçadas sobre a filha. Em uma delas, com um ar de espanto no rosto, me diz sobre o dia em que a filha não aceitou um presente do pai pelo motivo mais improvável. “Eu estava sentada aqui e ela aí no chão. Ele (o pai) chegou do trabalho com uma casinha de bonecas enorme e colocou do lado dela. Quando a Júlia viu, olhou pra ele e disse que não era bem aquilo que ela gostaria de ganhar, mas um tablet.”. O pequeno gesto da garota certamente nos mostra o quanto as crianças criam intimidade com a tecnologia cada vez mais cedo. Segundo a professora Cláudia Buzzulini, 40, se uma escola não pretende ficar para trás, ela precisa se atualizar e aplicar novos méOs dispositivos eletrônicos ajudam na compreensão dos conteúdos todos. “O intercâmbio tecnológico nas escolas já acontece há muito A internet chega para despadrotempo. Por mais que na rede públinizar o comportamento vigente em e uma escola não ca isso se camufle e quase não seja salas de aula. Se anteriormente as pretende ficar para visível, em redes particulares os carteiras eram todas dispostas em trás, ela precisa se pais e as próprias crianças exigem linhas perfeitas, sem exceção, e o novas ferramentas para facilitar o professor era o portador exclusivo atualizar e aplicar novos aprendizado e fazer com que estedo conhecimento, isso está mudanmétodos. jam um grau acima”, conta ela. do com uma velocidade consideApesar de ainda ser um tabu rável. Com crianças cada vez mais Professora Cláudia Buzzulini considerado perigoso por boa parte curiosas e com acesso às novas da população, o uso da tecnologia tecnologias cada vez mais cedo, a na educação de crianças e adolesindústria da educação se vê obrigada a inovar para cumprir demandas estou sentado em um sofá espaço- centes está cada vez mais presente so junto à Lúcia Helena, 48, mãe de nos ambientes escolares e ainda que antes não existiam. Em uma casa de classe média, Júlia, 3, e esposa de Márcio Antônio, não mostra sinais de estagnação.
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COMPORTAMENTO
Relacionamentos Foto: Divulgação
A internet divide opiniões de especialistas sobre o seu real impacto nos relacionamentos
Por último, mas não menos significativo, os relacionamentos sofreram uma revolução com a chegada da internet. As redes sociais se popularizando, permitiram que milhões de pessoas ao redor do mundo interagissem entre si. O resultado, obviamente, é o surgimento de diversos relacionamentos que nascem em plataforma digital e evoluem posteriormente, chegando à vida real. Com aplicativos como o Tinder, que permite com que pessoas antes desconhecidas marquem um “encontro romântico” (como era chamado por nossos avós), ou o todo poderoso Facebook, as pessoas se relacionam cada vez mais – seja esse relacionamento amoroso ou não. Mas nem tudo são flores. Apesar de incentivar o conhecimento, o intercâmbio de valores humanos e amenizar a solidão de quem se sente sozinho, uma parcela de profis66
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s redes sociais chegam para melhorar a qualidade de vida, mas confunde o cérebro humano ao dar poder demais a ele”. Fabiano Roque Pinheiro Psicólogo
cuidado na dosagem mundo real x mundo virtual: “Muitas pessoas se deslumbram com o universo virtual e esquecem da vida real. Com as facilidades da internet, como jogar, flertar e debater estando protegido por uma tela, dá para entender que o indivíduo não queira mais se desprender daquele mundo”, finaliza.
Sugestão para interação online
E você, possui alguma história engraçada relacionada à internet? Se a resposta for sim, não espere sionais da psicologia advertem que e nos mande um email contando. as redes sociais, quando usadas ex- Você pode estar no espaço do leitor cessivamente, podem potencializar da próxima edição. a superficialidade e narcisismo humanos. Segundo Fabiano Roque Pinheiro, psicólogo de 42 anos, “as redes sociais chegam para melhorar a qualidade de vida, mas confunde o cérebro humano ao dar poder demais a ele”. Segundo ele, é preciso
Entenda como o inferno astral pode influenciar a sua vida
Do inferno ao paraíso Michele Matos
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abe aqueles dias em que tudo parece dar errado? Você perde hora, o congestionamento se torna maior do que em qualquer outro dia, o chefe pega no seu pé, você acerta o dedinho do pé na quina da mesa... Quando tudo está indo para trás, repare: você pode estar no seu inferno astral. Ao longo de um ano, o Sol percorre as 12 casas astrais do nosso signo. Ele faz seu trajeto completo e volta ao ponto exato em que estava no momento de nosso nascimento. De acordo com a astróloga Vitória Fernandes, quando o Sol está na última casa Zodiacal, antes da entrada em nosso signo solar – ou seja, aproximadamente 30 dias antes de nosso aniversário -- é o que chamamos de inferno astral. “Nessa época, o Sol atravessa a casa 12, antecedendo o ingresso para a casa 1, que indica uma fase de renascimento. Assim, representa um momento de ajuste de contas com o que não pode continuar deficiente”. Tudo o que está relacionado aos assuntos ocultos e ao inconsciente tendem a vir à tona nessa fase. Mas, se pararmos para pensar, estamos falando da finalização de um ciclo para o começo de outro,
Foto: Divulgação
não é? E, como todo final, pode ser uma fase desgastante, às vezes triste, outras vezes cheia de ansiedade. “Um exemplo de final de ciclo é a fase tensa antes do fechamento de uma grande empresa, o tedioso ou difícil período que precede o fim de um namoro. São finais e, ao mesmo tempo, fases preparatórias para o recomeço. Toda fase preparatória é difícil, pois estamos aprendendo a lidar com coisas ainda latentes que vão se apresentando à nossa
consciência para serem trabalhadas”. Isso explica o fato de muitas pessoas sentirem certa diferença na época imediatamente anterior ao aniversário. Nesses casos Vitoria aconselha a não desistir: “É necessário enfrentar com coragem e otimismo essa época de transição para que a fase seguinte seja bem aproveitada. É um momento de profunda reflexão e de encarar os desafios pessoais rumo ao aprendizado”, explica. minhaGENTE Abril de 2015 67
COMPORTAMENTO
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O Lado Negro O período denominado Inferno Astral é uma fase bastante difícil para algumas pessoas. Quando estamos desequilibrados, desmotivados e até mesmo com medo, é comum que usemos certas atitudes infelizes como mecanismo de defesa. Responder ao que acreditamos ser “injustiças do universo” pode vir acompanhada, muitas vezes, de comportamentos que, em nossa lucidez, são indesejados, mas que pertencem a nossa natureza. Os defeitos de cada signo, ou o lado negro de cada um de nós, são frequentemente expostos, mesmo que de forma inconsciente. A astróloga explica: “Todos temos defeitos. Dependendo do momento em que se passa na vida, uns são mais evidenciados do que outros, mas isso não confere a ninguém ser uma pessoa ruim. Somos assim porque essa é a nossa essência, e ela aparece sem percebermos”. “Quando estamos em alguma situação de limite, como instinto, torna-se natural que essas características venham à tona. O que precisamos fazer para sair dessa sem nos prejudicar e nem ao próximo, é ter paciência e ponderar as nossas atitudes”, finaliza Vitória. Conheça os defeitos mais fortes do seu signo e tente driblá-los:
ÁRIES
O ariano pode-se mostrar individualista e ansioso ao extremo. Quando deseja, pode usar a honestidade de tal maneira que chega a aborrecer e magoar aqueles com quem convive, por não usar qualquer tipo de filtro antes de falar com alguém. Considera-se um líder nato e quer ter tudo do seu jeito. Dica: Use mais a diplomacia em seu dia a dia. Pratique exercícios para fugir do estresse.
TOURO
Os taurinos possuem características marcantes, são materialistas e trabalham para conquistar a independência. Podem se tornar consumistas, vaidosos e sentem ciúme exagerado das pessoas que amam, o que pode se tornar um grande problema se não for controlado. Dica: Libere sua energia criando obras artísticas e desapegue-se do que é material.
GÊMEOS
O geminiano fala até demais e não seleciona a narrativa: diz tudo o que vem em mente, não importa a ocasião ou o assunto e, por isso, são os reis da fofoca. Mostram-se ansiosos e seu humor varia muito, assim como suas opiniões. Costumam ser insensíveis e demoram a entender os sentimentos. Dica: Faça leituras e atividades culturais que estimulem a criatividade para melhorar o seu humor.
CÂNCER
São perfeccionistas e cuidadosos com aqueles que amam, chegando a sufocá-los. Também se deixam levar pelos hábitos de comportamento e o comodismo. O nativo de câncer pode se tornar uma pessoa complicada de se lidar, por conta do seu apego com o passado. Dica: Encontre a medida correta para lidar com o seu passado sem ficar nostálgico demais. minhaGENTE Abril de 2015 69
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LEÃO
SAGITÁRIO
VIRGEM
CAPRICÓRNIO
LIBRA
AQUÁRIO
O maior defeito dos leoninos é a vaidade. Podem se mostrar prepotentes, egoístas e adoram chamar a atenção. O orgulho também está presente nas características desse signo, que gostam de resolver seus problemas sozinhos e muitas vezes não aceitam ajuda dos mais próximos. Dica: Cuide das pessoas que você gosta para te deixar mais flexível em relação ao egoísmo. Os virginianos são observadores e detalhistas e, do Zodíaco, são os mais perfeccionistas por natureza. Gostam de observar tudo nos mínimos detalhes e costumam criticar as diversas opiniões, inclusive as de pessoas próximas. São trabalhadores compulsivos e gostam de alcançar a perfeição em tudo que fazem. Dica: Encontre o prazer nas atividades cotidianas. Critique menos e faça mais gestos prestativos. Os nativos desse signo costumam colocar todas as decisões na balança, pois se acham equilibrados, idealistas e justos. Por conta disso, ficam em cima do muro muitas vezes e não sabem qual caminho seguir. São carinhosos e prestativos e, por isso, acabam agradando pessoas que não merecem atenção. Dica: Pratique exercícios individuais e tente tomar decisões por impulso, ouvindo a voz do seu coração.
ESCORPIÃO
O defeito que mais se destaca nos escorpianos é a vingança. Costumam amar com facilidade, mas também odeiam com a mesma intensidade. São rancorosos, orgulhosos e ignorantes, sem nem mesmo perceber. Deixam de aproveitar incríveis oportunidades, pois desconfiam de tudo e de todos. Dica: Tente confiar mais nas pessoas e nas relações. Dê uma oportunidade para a vida.
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O exagero é a palavra que define os sagitarianos. Eles são otimistas, vaidosos, fortes e entusiasmados, mas tudo isso ao extremo pode causar alguns problemas de convivência. Também são teimosos: não gostam de ouvir outras opiniões e acham que sempre estão com a razão. Dica: Seja menos exigente e impulsivo. Confie nas opiniões alheias. Pessoas desse signo são limitados quando relacionamentos entram em questão, por causa da timidez. Não conseguem entender os sentimentos e preferem ficar na solidão. São conservadores, sérios, ambiciosos ao extremo e politicamente corretos, o que pode assustar algumas pessoas. Dica: Tente se divertir! Arrume métodos para se descontrair e aproxime-se mais das pessoas. Eles gostam de discordar com as pessoas e sempre são os “do contra”. A dedicação ao extremo pode afastá-los dos amigos e da família. A dificuldade de se relacionar com as pessoas é uma das principais características dos nativos de Aquário. Gostam da liberdade e geralmente são egoístas. Dica: Tente manter uma conversa sem discordar de todos os assuntos e dê mais atenção aos parentes e amigos para não perder as pessoas que ama.
PEIXES
Piscianos costumam se achar mais inteligentes que os outros signos do zodíaco, isso faz com que sejam arrogantes. São sensíveis ao extremo, dramáticos, sentimentais e melancólicos. Gostam de chamar e ter todas as atenções. Quando cismam com alguém, podem cometer grandes injustiças. Dica: Dedique-se a projetos artísticos para expressar suas emoções.
THALES VALERIANI Tortinhas doces para vender O fato dos doces serem muito saborosos e uma tentação não é novidade. Mas pode ser uma novidade você fazer doces deliciosos e ainda ganhar um dinheiro extra por conta disso. Já pensou em fazer aquela sobremesa para o almoço de domingo, mas com mais ingredientes para render mais e vender o que sobrar? Pois é! A dica da seção de gastronomia deste mês são doces fáceis e baratos de fazer e vender. Dão água na boca e todos desejam! A minitorta de brigadeiro preto e branco custa R$ 4,00 a unidade e pode ser vendida por até R$ 18 cada. A receita rende 12 porções: Massa: 1 e 3/4 de xícara de farinha de trigo; 1 ovo; 1/2 xícara de margarina; 1 colher de açúcar; Calda de chocolate para derreter. Recheio: 1 lata de leite condensado; 4 colheres de chocolate em pó; 1 colher de manteiga; 1 caixa de 200g de creme de leite. Brigadeiro: 2 latas de leite condensado; 2 colheres de margarina; 3 colheres de chocolate branco ralado; 2 colheres de chocolate em pó; chocolate granulado e granulado branco para enrolar. Preparo: misture todos os ingredientes da massa em uma tigela até fi-
car homogêneo. Embrulhe em um filme plástico e deixe descansar na geladeira por 30 minutos. Depois, pegue um rolo e abra a massa entre duas folhas plásticas. Com um cortador de biscoitos, corte círculos médios e os coloque em forminhas individuais para torta. Coloque todos em uma forma e leve ao forno médio, preaquecido, por 5 minutos (até dourar). Retire e deixe esfriar. Para o recheio, leve uma panela ao fogo médio com o leite condensado, o chocolate em pó e a manteiga, mexendo até engrossar. Desligue, adicione o creme de leite e divida entre as massinhas das tortas. Para o brigadeiro branco, leve em uma panela em fogo médio o leite condensado, a margarina e o chocolate branco. Mexa até desgrudar do fundo. Retire, coloque em um prato e deixe esfriar. Modele minibrigadeiros, passe no granulado branco e reserve. Para o brigadeiro preto, repita o processo substituindo o chocolate branco pelo chocolate em pó e enrolando no chocolate granulado. Cubra as tortinhas com os minibrigadeiros brancos e pretos. Leve à geladeira por 2 horas. Decore com calda de chocolate. Embale, sirva e venda!
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Foto: Divulgação
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O dia a dia de um jovem salva vidas nas festas de peão
Em festa de rodeio Michele Matos
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ão 6h da manhã em Rio das Pedras, cidade localizada no interior de São Paulo. Para Felipe França, o dia já começou há meia hora. Acostumado a levantar todos os dias às 5h30, o jovem de apenas 19 anos leva uma vida pacata de cidade do interior. O porquê de ele levantar tão cedo? Felipe tem um sonho desde garoto: ser peão de rodeio. Quando pequeno, o jovem seguia o pai em festas de peão onde Seu Carlos montava em touros e cavalos para ganhar prêmios nos finais das temporadas. Há muitos anos, o cowboy conseguiu arrematar uma moto, usada até hoje pela família. Agora com 54 anos, com quatro filhos para criar, incluindo Felipe, Sr. Carlos já não monta mais. “Tive que parar porque a vida de quem frequenta rodeio é muito incerta. Sou pai de família agora, estou velho já, preciso criar meus filhos”, conta o atual trabalhador agrícola de uma usina sucroalcooleira da região. A vida de Seu Carlos influenciou a do filho. Felipe, inspirado pelo pai, quis tentar a vida como peão também, montando em cavalos. Mas o talento não foi herdado. “Eu não consigo montar não, é muito difícil. O bicho pula demais, quando você 72
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Foto: Acervo pessoal
Felipe e outros amigos enquanto trabalham em festa de peão
“E
m época de rodeios, Felipe entra em cena com um trabalho um tanto quanto perigoso: ele é o salva vidas das montarias.”
vê, já tá no chão”. Mas, por que mesmo o menino levanta da cama junto com o cantar do galo? Como a vida não foi generosa com o garoto, herdando-lhe o talento de seu pai, Felipe optou por seguir outros caminhos, mas que
envolvesse sua grande paixão: cavalo e rodeio. O jovem cowboy vai todos os dias pela manhã no Clube dos Cavaleiros de Rio das Pedras, local em que são criados cavalos e bois para os rodeios da região. Mas não para por aí: em outra parte da grande fazenda, há a criação de vacas e galinhas. E é aí que Felipe entra em cena. Ele e mais três jovens são os responsáveis por tirar o leite todos os dias e também ajudam a cuidar dos animais. “O serviço lá não é muito pesado não. A gente chega cedo, tira os leites, cuida das galinhas, depois vai ver o pessoal montar nos cavalos. Queria eu conseguir, mas não deu pra mim, né? ’’, conta Felipe. Mas o contato com o mundo das festas de peão não parou por aí.
Amante de rodeio, mas sem montar em cavalos e bois para participar dos torneios, o jovem deu um jeito de ficar próximo da sua paixão. Em época de rodeios, Felipe entra em cena com um trabalho um tanto quanto perigoso: ele é o salva vidas das montarias. “Começou há três anos, quando eu tentava montar em boi. Foi numa brincadeira, tentava subir nos bichos e caía. Aí resolvi só ajudar mesmo”. “Meu trabalho é livrar os peões dos perigos. Quando ele monta e cai de um boi perigoso, ele fica numa situação de apuro. E é aí que eu entro e mostro meu serviço, que é chamar a atenção do boi e tirar o peão de lá”. O jovem trabalha durante o
ro tomar uma pisada, diz não ter medo da profissão: “Ah, eu não tenho medo não. Acho que se a gente omo usar a faz as coisas com atenção não tem o paixão para que dar errado”. salvar vidas” Outra dificuldade que o rapaz diz existir, que ele acredita ser até maior do que os perigos físicos de quem lida com os touros e cavalos, rodeio. No final das temporadas, são as máfias existentes em roquando volta das cidades por onde deios: “As panelinhas que têm no passou, Felipe trabalha somente no meio do rodeio, muito povo combinado, é ruim encontrar oportunidaClube. Felipe diz que o seu trabalho de”, conta. E a discriminação, existe? Nespode ser perigoso, mas para quem não tem experiência: “Tem que ser se ponto, o jovem é enfático: “Tem ligeiro, né? Se não for ligeiro, o bi- muitas pessoas com preconceito cho te pega e aí não tem jeito, fica bobo pra gente que é peão. Uns acham que nós maltratamos anidifícil”. Ele, que já quase foi chifrado por mais, mas isso não tem nada a ver. um boi, mas já viu um companhei- É só estar acompanhando mesmo
“C
Foto: Acervo pessoal
O jovem diz que apesar do perigo, seu trabalho é gratificante
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COMPORTAMENTO pra ver que não é isso. A gente cuida deles com todo amor do mundo, como que vai maltratar uns bichinhos inocentes desses?”. Quanto ao seu estilo, o jovem sente o mesmo olhar diferente das pessoas: “O pessoal acha a gente brega, caipirão. Eu não ligo não. Gosto do meu jeito assim. Uma calça, uma camisa, uma bota no pé e pronto, já tá feito. Claro, não pode faltar o chapéu também, né?”, conta, aos risos. Ao ser questionado sobre quais atividades ele gosta de fazer em suas horas livres, o garoto diz que não é muito diferente do que faz diariamente: “As minhas horas de lazer são no meio dos cavalos também. Eu amo isso daqui. É minha vida. Acho que essas coisas de trabalhar em escritório, de terno,
Foto: Acervo pessoal
Antes de começar o rodeio, os peões rezam em pedido de proteção
gravata, no meio do ar condiciona- va um sítio só pra mim”, revela. do não é pra mim não. Eu gosto do “A única diferença assim é quanmato, da roça. Se pudesse, compra- do o pessoal resolve se juntar pra beber, né? Aí rola até um sonzinho, Foto: Acervo pessoal uma moda de viola”, conta ele, aos risos. Felipe, que é fã do cantor Leonardo, toca violão e canta as músicas mais antigas da antiga dupla Leandro e Leonardo. “Eu canto pra minha mãe, às vezes. Ela que é maior fã e passou pra mim esse gosto. Os olhinhos dela até brilham quando me vê chegando com o violão. Ela adora!”, revela, com um sorriso estampado no rosto. O jovem termina suas atividades às 15 horas. Vai para a casa, passa na creche pegar a irmã mais nova a pedido da mãe. Chegando a casa, é o mesmo ritual todos os dias: tira as botas, “bate a terra lá fora que é pra mãe não brigar” e vai tomar o café da tarde. Logo depois, o pai já chegou. Uma hora de prosa, já já a novela começa. Quando não está com os amigos, Felipe fica em casa com os pais, janta, assiste às novelas e vai se deitar. Mais um dia chegou ao fim para o rapaz. Felipe tentando acalmar um dos touros da festa do peão 74
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NATALIA PINHABEL
PLAYLIST
Beyoncé e o feminismo
O feminismo vem tomando forças a cada dia que passa. As pessoas estão começando a entender sobre o que se trata e muitas mulheres estão perdendo a vergonha de se assumirem feministas. O ano de 2014 foi cheio de acontecimentos importantes na luta dos direitos das mulheres. E a Beyoncé não ficou fora dessa. Em agosto do ano passado, a cantora “saiu do armário” como feminista em sua apresentação no VMA (Video Music Awards). A Queen B fez uma performance da música “Flawless”, com um trecho da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie sobre feminismo. O momento marcante repercutiu na imprensa e nas redes sociais por dias: a foto da silhueta da cantora delimitada pelo brilho das letras enormes da palavra “Feminist” estava em todos os lugares. Aí vieram algumas pessoas, inclusive outras feministas, e questionaram: “mas até ontem a Beyoncé não era feminista”. Ainda bem que hoje é! Que ótimo seria se a mulherada toda virasse feminista de um dia para o outro. A cantora é um dos maiores ícones do pop, considerada a maior artista dos últimos tempos por muitos – inclusive pelo maridão, tem fãs por todo o mundo e prega igualdade de gênero. É para aplaudir de pé! É claro que podemos problematizar. Afinal, ela usa seu corpo e sua sexua-
Foto: Divulgação
lidade (além das músicas, claro) para ganhar milhões de dólares. Podemos problematizar o fato de que o corpo da mulher é objetificado e para conseguir reconhecimento no meio musical, não basta só a voz e o talento. Mas quanto à Beyoncé, o corpo e a sexualidade são dela, portanto... Isso mesmo, ela faz o que quiser com eles. Não existe feminista perfeita. Estamos em um constate processo. Tudo começa quando passamos a concordar com ideias do feminismo e admirar as mulheres que lutam pela igualdade. Depois, chegamos à conclusão de que somos feministas, mas com certo receio de falar por causa da encheção de saco que isso pode gerar. E por fim, a maravilhosa sensação de não se importar com isso e perceber que se posicionar é bem mais importante do que qualquer opinião sem noção. Após a representatividade que a Beyoncé criou no feminismo – inclusive no feminismo negro, mulheres estão se juntando à luta. Até mesmo outras “divas”. Mas a relação das cantoras do pop com o feminismo ainda é cheia de nuances e muitas vezes não assume uma postura coerente. Por outro lado, o pop tem um poder de influência. Ver essas artistas se assumindo como feministas, mesmo que de maneira tímida ou indiretamente (através das letras das músicas), é um passo importante. minhaGENTE Abril de 2015 75
DOMINGO
Foto: Divulgação
No local do pega pega eu esculacho tua mina (...) Ai que homem gostoso, vem que vem, quero de novo Gaiola das Popozudas agora fala pra você Se elas brincam com a xaninha, eu faço o homem enlouquecer VALESCA, QUANDO INTEGRANTE DO GRUPO GAIOLA DAS POPOZUDAS
O ritmo que tenta firmar espaço na mídia há anos
A constante luta do funk contra o preconceito Natalia Pinhabel
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funk é um ritmo muito popular no Brasil. Originado nas favelas do Rio de Janeiro na década de 80, ele tem quebrado barreiras sociais e culturais com seu ritmo contagiante. As letras retratam desde a realidade da vida na favela à ostentação de bens, da violência ao amor, da sexualidade às críticas sobre a sociedade e o governo. É uma maneira das pessoas expressarem o que sentem através da música. As músicas possuem um ritmo forte e marcado, agradan-
do aos que gostam de dançar. Esse estilo sempre foi marginalizado e sofre muito preconceito. Mas isso vem mudando aos poucos. Hoje, as rádios tradicionais tocam funk, as baladas frequentadas por jovens de alto poder aquisitivo também e a TV aberta está dando espaço para o ritmo. O funk explodiu entre os anos
de 2007 e 2008, chegando a movimentar por volta de R$ 10 milhões ao mês no Estado do Rio de Janeiro. Mas durante esses anos ele passou por diversas modificações. As músicas nascidas nas comunidades cariocas passaram a atingir um público amplo. O Funk Melô, com características melódicas, mais românticas e com letras mais tímidas, ganhou o gosto do público. Nesta época, cantores como Claudinho e Bochecha ganharam espaço nas mídias.
Funk Ostentação Nos dias atuais, o que está fazendo a cabeça dos adolescentes é o Funk Ostentação. E quem representa esse novo estilo são os mcs mirins. Mc Gui, Mc Pet, Mc Brinquedo, Mc Dudu, Mc Du Conventi – todos com menos de 18 anos, fazendo sucesso com músicas sobre ostentação, com videoclipes regados a carrões, fotos com correntes de ouro e às vezes falam até de mulheres. Outro artista que está no auge da carreira é o Mc Guimé. Com 22 anos, ele é convidado para participar de diversos programas na TV e cobra um cachê de R$ 15 mil por show – são cerca de 40 shows por mês. Sua música “País do Futebol”, em parceria com o rapper Emicida, foi um fenômeno em 2014 - tocada durante todos os eventos da Copa. O clipe da música, que conta com a participação de Neymar, alcançou 1 milhão de acessos em 24 horas de lançamento no YouTube. “País do Futebol” foi tema de abertura da novela das sete da Rede Globo, “Geração Brasil’.
A adaptação das letras O funk é uma representação cultural que engloba toda uma gama de experiências sociais, mas muitas vezes, para ser aceito pela sociedade em geral, ele passa por censuras. E mais além, ele passa por transformações drásticas, como foi o caso da Valesca Popozuda. Valesca foi vocalista do grupo feminino de funk Gaiola das Popozudas de 2000 até meados de 2013. Ela é considerada uma das pessoas responsáveis por tornar o funk carioca co-
nhecido por todo o Brasil. Em 2013, ela deixou o grupo e começou sua carreira solo com o sucesso “Beijinho no Ombro”. Hoje considerada Rainha do Funk, a Popozuda segue um estilo bem diferente do seu começo de carreira. As letras das músicas da Gaiola das Popozudas contêm muitos palavrões, falam de sexo explicitamente, sem pudor algum. Já as de Valesca são mais tímidas, mais “leves”, mas continuam poderosas. Seus hits atuais tocam em todas as rádios e até mesmo os mais novos adoram. A funkeira costuma postar diversos vídeos de crianças cantando e dançando suas músicas em
Foto: Divulgação
Beijinho no ombro pro recalque passar longe Beijinho no ombro só pras invejosas de plantão Beijinho no ombro só quem fecha com o bonde Beijinho no ombro pra quem tem disposição VALESCA POPOZUDA EM CARREIRA SOLO
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“N
a cama faço de tudo Sou eu que te dou prazer Sou profissional do sexo E vou te mostrar por que Minha buceta é o poder”
GAIOLA DAS POPOZUDAS
“E
u já falei que eu sou top Que eu sou poderosa Veja o que eu vou te falar Eu sou a diva que você quer copiar” VALESCA POPOZUDA
sua conta no Instagram. Valesca também canta em programas de TV, o que não acontecia na época da Gaiola. Recentemente, ela esteve no Programa da Fátima, da Rede Globo. Ela foi entrevistada e falou sobre amor, sexo e família e cantou “Beijinho no Ombro” e “Eu Sou a Diva que Você Quer Copiar” – música que faz parte do clipe dos produtos de limpeza da marca Veja, com direito a vídeo de propaganda com a diva. Valesca também perdeu alguns quilos, cortou os cabelos e mudou suas roupas, criando uma aparência mais requintada aos olhos do povo. O Mc Thomaz JP, de 23 anos, comenta sobre a mudança que Valesca sofreu para se adequar aos padrões comerciais. “Acho muito interessante essa mudança. Jamais gostaria de ver minha filha de 3 anos deixar de se divertir com ‘Beijinho no Ombro’ para dançar ao som das músicas que ela cantava antes.” 78
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O outro lado da história A forma como a mídia tradicional aborda o funk costuma refletir o olhar em geral preconceituoso da sociedade sobre as favelas. De fato alguns sucessos acabam chegando às ruas e consequentemente aos canais de televisão. Mas para isso acontecer, as músicas precisam passar por um filtro que as aprovam ou rejeitam. O que vende e está dentro de alguns padrões midiáticos chega ao púplico. O produtor musical de funkeiros e rappers, Vinão, comenta sobre o assunto. “Fora do baile funk, tirando as pessoas que vivem e conhecem aquela realidade, o povo só conhece o que faz sucesso. Só o que passa na TV que é funk para as pessoas”. Ele conta que existe uma grande dificuldade em trabalhar com mcs. Eles são, na grande maioria, garotos e o produtor alega falta de maturidade. “O menino faz uma letra, canta da maneira dele e já acha que é mc, ele acha que é músico. Então, quando ele quer alguma coisa, ele é todo bonzinho. Depois que consegue as coisas começa a mudar, ainda mais quando colocam ele no palco.” Vinão diz que acreditou muito no funk, mas que se decepcionou e hoje em dia acha melhor trabalhar com rap. “Eu achava que no Alguns alegam que esse processo de “suavização” do funk desmereça o movimento. Outros acham que é uma forma de incluí-lo na sociedade. No caso de Valesca, seus fãs da época da Gaiola da Popozuda ainda são fiéis a ela e com seu
meio de dez adolescentes que queriam ser funkeiros, eu conseguiria colocar uns dois no mercado. Eu ia sair ganhando e os meninos também. Mas a verdade é que tive que pagar para eles.” “Minhas raízes são do rap, mas eu quis dar um tempo e investir no funk. Eu achei que o funk entraria no lugar do rap, mas me enganei. Esse estilo encontra um preconceito muito grande. As pessoas discriminam a putaria”, afirma. Além de não aprovar o comportamento dos mcs em geral, Vinão diz que ninguém quer investir no funk. “Está difícil achar patrocínio. Ninguém quer dar dinheiro para o funk. E se você não tem capital, você não sobe na carreira”, finaliza o produtor. Apesar das dificuldades, muito além do pancadão, o funk traz toda uma história consigo. E a mídia, na maioria das vezes, se recusa a encarar e compreender as camadas sociais que o produzem. O funk é mais do que uma cultura, ele é um diário, um jornal das favelas. A realidade de uma comunidade toda é representada nos trechos das músicas. Por ora, o cenário do funk vem sendo mudado lentamente no Brasil. Ainda falta muito debate, assim como representatividade e voz. novo estilo, milhares fãs surgiram. “O que os funkeiros precisam colocar na cabeça é que muitas crianças e adolescentes se inspiram em nós. O que eles veem e pensam agora pode definir o que eles farão e serão no futuro”, complementa Thomaz.
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O discreto charme do passado Agnes Sofia Guimarães Cruz
Foto: Agnes Sofia Guimarães Cruz
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No centro de São Paulo, uma série de edifícios históricos funcionam como museus e estão abertos ao público de forma gratuita, como o Pateo do Collegio, edifício idealizado pelo padre Manuel da Nóbrega no século XVI e que foi o ponto de partida para a fundação da cidade.
Cidades de São Paulo com grande potencial para o turismo histórico encontram dificuldades para serem descobertas, mas algumas iniciativas começam a atrair turistas
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odos os sábados, o Piratininga Tênis Clube recebe centenas de ônibus para os bailes que começam no meio da tarde, e vão até o final da noite, quase invadindo a madrugada. Boa parte dos passageiros são idosos, mas quando eles chegam, são recebidos por pessoas de todas as faixas etárias: os bailes do clube se tornaram a principal opção de lazer dos habitantes de Piratininga, cidade do interior do estado de São Paulo com Segundo o secretário João Oja Neto, a maior referência turística da cidade, no entanto, continua sendo as águas quentes do Thermas de Piratininga, que assim como o clube, recebe centenas de caravanas durante os finais-de-semana. Boa parte dos turistas são idosos. “Os dois únicos hoteis que nós temos e que oferecem alguma atividade turística estão localizados na estrada, antes da cidade. Logo, você não vê um turismo que movimenta a economia daqui, porque as famílias não encontram necessidade de visitar o centro ou de conhecer uma pizzaria”, explica o secretário. No entanto, os bailes do Piratininga Tênis Clube ainda oferecem uma possibilidade para que os turistas conheçam a cidade, devido à sua localização. Atualmente, apenas três cidades paulistas fazem parte da PAC
Foto: Agnes Sofia Guimarães Cruz
O Porto de Santos data de 1892, durante o boom do café. No Centro histórico, a malha ferroviária que chega ao cais é uma das paisagens do passeio do Bonde
Cidades históricas: Iguape, Vila de Paranapiacaba e São Luiz do Paraitinga. O projeto do governo federal que investe na preservação de espaços urbanos com um acervo arquitetônico com grande riqueza historiográfica. No artigo “Turismo Cultural e Arqueologia nos espaços urbanos: caminhos para a preservação do patrimônio cultural”, a pesquisadora em Turismo Histórico Karoliny Diniz Carvalho explica que a memória de uma cidade não pertence apenas aos moradores locais, mas aos turistas: “A memória atua no nível intersubjetivo como um quadro de referências que permite aos indivíduos perceberem nos marcos citadinos, na arquitetura e na paisagem urbana, os elementos construtores e constituintes de uma tra-
ma social comum, de uma história coletiva, cujos ecos do passado e da cultura compartilhada formam a memória social, e tem ressonância nas redes de relacionamento em geral, e nas vivências cotidianas de cada indivíduo em particular”, conclui. Segundo Oja, Piratininga está em processo de tombamento dos principais edifícios históricos da cidade, e que atualmente são propriedades privadas (fazendas e mansões) ou são sedes de secretarias e outros departamentos da prefeitura. Enquanto isso, cidades como Santos, no interior paulista, e a própria capital paulista já oferecem um turismo histórico que integram o passado com o presente, e de forma acessível. minhaGENTE Abril de 2015 81
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1 1 - Os bondes funcionaram durante a década de vinte, e atualmente um deles pode ser encontrado no centro de Santos. Ele percorre os principais pontos históricos da cidade. 2 - Enquanto os pontos histórico de Piratininga não se tornam pontos turísticos, o Piratininga Tênis Clube segue como a principal opção de lazer da cidade, ao lado das Águas Quentes das Thermas. 3 - Com pouco mais de 12 mil habitantes, a cidade de Piratiniga foi nomeada em homenagem à capital paulistana, devido à semelhança entre o traçado original dos centros das duas cidades. 4 - Por dois séculos, a cidade de Santos manteve a mesma estrutura urbana, até a chegada do café em São Paulo, em meados do século XIX, que trouxe o crescimento econômico para a cidade.
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Como curtir o mesmo estilo de lazer em cidades diferentes
Onde tem rolê? Michele Matos
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rock, tanto internacional, quanto nacional, é um dos estilos musicais mais ouvidos pelas pessoas em todo o mundo. Influenciado pelos gêneros rockabilly, rock and roll e vertentes que vinham do blues, jazz e country, o rock surgiu na década de 50, se desenvolveu e, com o passar dos anos, criou outros subgêneros musicais, como o heavy metal, o rock progressivo e o punk rock. Desde então, muitos outros gêneros foram criados, que são os principais motivos para a mobilização em massa de diversas pessoas a fim de prestigiar show, eventos e festivais que apresentem esse estilo musical. Uma pesquisa divulgada pelo IBOPE em 2013 mostrou que, cerca de 30% dos jovens das clas84
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Foto: Raphael Zanelato
tima edição Rock in Rio, festival de Rock que traz diversos ícones do rock nacional e internacional e é realizado anualmente no Rio de Janeiro: 85 mil pessoas passaram diariamente nos sete dias de evento. Mas, não é todo mundo que consegue realizar viagens longas para curtir a sua banda preferida em grandes festivais desse tipo. E é por isso que precisam procurar em suas próprias cidades opções de lazer que atendam a seus gostos musicais. Convidamos três jovens da mesma faixa etária e escolaridade para nos contar sobre suas experiências e histórias quando saem à noite com a finalidade de enconJovens amantes do rock buscam por diversão em trarem lazer. Cada um é suas cidades de uma cidade diferente ses A e B que ligam o rá- dessa vertente musical é e contam como o lugar dio diariamente escutam a quantidade de pessoas onde vivem oferece o tipo rock. Prova do sucesso que participaram da úl- de lazer que buscam.
Rock na veia
Na cidade grande Rafael Rodrigues, 24 anos, é estudante de Publicidade e mora em São Paulo. Amante nato de Heavy metal sinfônico, um estilo que mistura raízes do rock com elementos sinfônicos emprestados da música clássica, ele costuma ir ao centro da cidade para apreciar esse gênero. “Geralmente, em barzinhos ali na Augusta e tal, eu consigo ver umas bandas bem legais e que são muito boas. Quase todo final de semana eu frequento esses roles e nunca fui decepcionado.”, comenta o estudante. Rafael costuma usar o seu carro para se deslocar e
“O
grande leque de variedades pra quem quer se divertir”
acredita que, para ir até um determinado destino, a cidade oferece meios de transporte eficientes, mas o problema aparece na hora de voltar: “Uso meu carro. Para ir de ônibus, metrô ou até trem, não tem problema. O problema eu acho que é a volta, já que não temos opções suficientes de horários. O metrô fecha de madrugada e quem for depender dele, tem que esperar amanhecer. Quando não ia de carro, acabei muitas vezes tendo que optar por um táxi”. O publicitário ainda frisa que existem outros fatores que também atra-
palham a diversão nos finais de semana: “A segurança é a base de tudo. Quando acontece de eu ir em shows de rock em locais públicos, como em paços das prefeituras, por exemplo, me sinto muito vulnerável, pois ficamos sujeitos a qualquer coisa: roubo, brigas, enfim... E nenhum posto de segurança móvel por perto. Realmente a segurança deixa muito a desejar”. Para Rafael, a cidade sai na vantagem de oferecer vários tipos de opções para o lazer e o entretenimento, mas acredita que é preciso algumas modificações e investimen-
tos dos órgãos públicos: “Eu vou nesses roles, mas eu consigo pagar. Ainda bem, porque não são todas as pessoas que tem poder aquisitivo pra pagar um evento desse porte todos finais de semana. Se investissem mais em eventos para esse público [do rock], facilitassem os meios de locomoção pra ninguém ter que ficar até de manhã esperando os metrôs e ônibus voltarem a funcionar para ir embora e, principalmente, aumentassem a segurança para as festas públicas, com certeza, todo mundo ficaria muito mais feliz”, finaliza. Foto: Rafael Rodrigues
Rua Augusta e seu leque de opções para os mais diversos gostos.
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DOMINGO Raphael Zanelato
Raphael e seus amigos na praça central da cidade, uma das poucas alternativas de lazer.
À 400 km de lá Lá em Igarapava, cidadezinha localizada há 400 km de São de Paulo e que possui 25 mil habitantes e que possui 25 mil habitantes, mora o que fazer historiador Raphael Zanelato. Ele que, como seu quando as chará, também gosta de opções são um bom rock, precisa se poucas, mas a vontade adaptar para garantir o de se divertir, não. lazer do final de semana: “Saímos aos sábados aqui na cidade, na Praça Rui Barbosa, onde nos encontramos para ouvir música, conversar sobre bandas e beber. Essa turma tem de 5 a 20 pessoas”, conta Raphael. O historiador acredita ce opções para seu gosto que a cidade não ofere- musical e isso também
“O
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se deve pela cultura local. “Acho que, pelo fato de historicamente os estilos de música que aprecio serem apontados por muitos pesquisadores como um “estilo marginalizado”, tanto pela indústria quanto pela sociedade e, pela cultura musical no interior do Brasil se concentrar no gênero sertanejo, a cidade que moro acaba por seguir este tipo de prática oferecendo em raras ocasiões um evento voltado para o rock”, aponta Raphael. Para se locomover, o jovem e seus amigos combinam caronas entre si ou até mesmo optam por
irem a pé: ”Acabo optando pela carona oferecida pelos meus amigos ou até, dependendo do clima, posso escolher o deslocamento a pé até a Praça Rui Barbosa.”, comenta. Mas como a cidade dele poderia, enfim, ter mais eventos que estimulassem os jovens a irem nesses locais? Raphael tem a resposta: “Para que um dia seja possível o acontecimento de eventos ligados não só ao rock, mas ao samba, ao Sertanejo e tantos outros gêneros é preciso um debate entre a comunidade sobre a preservação do patrimônio público, investimentos na proteção e no planejamento dos espaços e, ainda uma discussão mais ampla sobre cultura pelos órgãos públicos responsáveis”. E ainda acrescenta: “Seria ideal um lugar apropriado para esses encontros. Aqui em Igarapava já existem esses espaços, como praças de eventos, porém os usuários insistem em infringirem leis de transito e depredarem o patrimônio. Em consequência disso, esses espaços acabam sendo interditados”, finaliza.
Foto: divulgação
Jack Music Pub, bar que oferece várias possibilidades de diversão, agradando a vários gostos
No meio termo Em Bauru, cidade também localizada há 400km de São Paulo, entretanto com mais de 100 mil habitantes, mora João Magalhães. Ele, que é estudante de engenharia de produção também é grande fã do rock and roll. O jovem, que também toca em uma banda da cidade, dizque se diverte fazendo o próprio som e que a cidade não oferece opções
suficientes para todos os gostos: “Eu geralmente ensaio com os meus amigos em um estúdio perto de casa. Quando quero ver um show, vou a um barzinho famoso da cidade, mas também é um dos únicos”. Para se locomover, o estudante costuma usar o próprio veículo, mas garante que o transporte oferecido pela cidade dá
o suporte necessário para outras pessoas: “Passa ônibus sempre, acho que a galera não tem maiores problemas com isso. O único problema é a hora de voltar, mas aí cada um se vira, né? Tem a carona dos amigos, o taxi que é mais barato e a galera divide as contas, aqui não tem essa não!”, confirma. Quando questionado sobre as mudanças que
ele considera importantes para a cidade, João afirma: “Tem que investir mais na cultura da cidade de Bauru. Aqui tem uns sons legais, umas bandas legais, mas falta investimento. Temos que ir sempre a um único barzinho que oferece essa opção de lazer pra gente e isso acaba monopolizando o role todo. O jeito é investir e investir”.
ROQUEANDO A cultura do rock está presente em pessoas das mais diferentes regiões e realidades. Apesar das diferenças dos gostos pessoais de cada um, é preciso, sem dúvida, que os órgãos públicos responsáveis olhem mais para a cultura e as opções de lazer em suas cidades. E não é só isso: transporte e segurança, por
exemplo, também são assuntos a serem discutidos pelas prefeituras. Só assim, pessoas como Rafael Rodrigues, Raphael Zanelato e João Magalhães conseguirão aproveitar com muito mais rock and roll os seus roles favoritos. minhaGENTE Abril de 2015 87
DOMINGO
O programa que conquistou o telespectador brasileiro e superou as expectativas de audiência
MasterChef: um novo tipo de entretenimento da TV brasileira Foto: Divulgação
Natalia Pinhabel
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Equipe Masterchef: Ana Paula Padrão, Henrique Fogaça, Erick Jacquin e Paola Carosella
os últimos anos, o interesse das pessoas em culinária cresceu. Programas de televisão que antes eram voltados apenas para donas de casa, hoje tomam espaço no horário nobre e tem a audiência de homens e mulheres de diferentes idades. Mas, apesar dessas mudanças, esses programas ainda se restringiam às TVs pagas. Até que o canal aberto 88
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Bandeirantes resolveu arriscar em uma nova programação. O MasterChef foi criado por Franc Roddam em 1990 no Reino Unido e re-lançado pelo canal britânico BBC (British Broadcasting Corporation) no começo de 2005. Seu formato foi exportado para diversos países e em 2014 chegou ao Brasil. A versão brasileira estreou no dia 2 de setembro e passava toda
terça-feira às dez e meia da noite. Apresentado pela jornalista Ana Paula Padrão, o reality show contava com três chefs como jurados, Henrique Fogaça, Erick Jacquin e Paola Carosella. O intuito é transformar um cozinheiro amador em um chef profissional, julgando os pratos preparados pelos 16 candidatos e eliminando uma pessoa por episódio. Como os brasileiros estão cada
vez mais ligados em gastronomia, além de invadir os canais de TV, o apreço pela comida também gerou os Food Trucks, e incentivou o sucesso de canais de receitas no YouTube e a maior frequência em restaurantes requintados, tudo isso muitas vezes conhecido como “rolê gourmet” pelos mais jovens. “O interesse do público aumentou. Talvez pelo número de bons restaurantes abertos, por todo o glamour que envolve a gastronomia, sendo nos pratos ou simplesmente por status de frequentar bons restaurantes e por mais pessoas se interessarem no bem estar promovido pela boa alimentação”, constata Thiago Araujo, chef do restaurante La Terasse Café & Bistrô. A aposta da Band deu certo. De acordo com o IBOPE, o programa começou com 3,6 pontos de audiência e o episódio final obteve 7,8 – muito acima da média dos pontos da rede. Além disso, o reality foi assunto em todas as redes sociais. A hashtag principal #MasterChefBR invadiu o Facebook, Twitter e Instagram. Com o passar dos episódios, novas hashtags foram sendo criadas, como as que diziam a preferencia do povo sobre os participantes, #Fica ou #Sai. Apesar de o público não ter aceitado muito bem a participação da Ana Paula Padrão no programa – muitos dizem que ela é irrelevante, os três jurados conquistaram o coração do povo brasileiro. Eles sempre tinham críticas duras aos participantes, mas também sabiam dar direcionamento e as broncas na medida certa. Jacquin (francês) e Carosella (argentina) falavam o Português com forte sotaque, o que deixava tudo mais engraçado e descontraído. As falas de Jacquin eram quase todas legendadas e suas caras e bocas viraram memes na internet. Paola encantou a todos e
Foto: Divulgação
Elisa Fernandes, campeã da primeira edição do programa brasileiro
Fogaça, apesar de se fazer de durão, deixava escapar algumas lágrimas e sorrisos. Não foram só os leigos que se interessaram pelo reality, chefs renomados também viraram telespectadores assíduos, apesar de não se identificarem com todas as cenas Thiago conta que elas não são totalmente fiéis à realidade do dia a dia da cozinha. “Alguns pratos estavam perfeitos em preparação, mas o tempo de preparo mostrado não é bem aquele. E a correria, tanto em eventos como em restaurantes são mais intensos na vida real e, em alguns casos, melhores organizadas”, afirma. Além disso, o MasterChef inspirou as pessoas a cozinharem, disponibilizando diversas receitas que foram mostradas em seu site oficial. Isso também gerou maior interação com o público, que não só viam as receitas na página, mas também vídeos do programa e teasers do episódio que estaria por vir. Ele também trouxe novas ideias, técnicas e combinações para os
chefs profissionais. “Esses programas são fontes inesgotáveis de conhecimento. Do que fazer e do que nunca fazer”, comenta o chef. A segunda temporada do MasterChef Brasil está prevista para ir ao ar em maio deste ano e conta com mais de dois mil inscritos – o dobro da primeira temporada. Tudo indica que Ana Paula Padrão, Jacquin, Fogaça e Carosella renovarão seus contratos. O programa foi um dos mais vistos da emissora e ganhou o prêmio de Programa do Ano da F5 – premiação da Folha de S.Paulo. Entrevistamos a participante da primeira edição do programa, Isabella Britto.
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DOMINGO Foto: Divulgação
Quando surgiu seu interesse pela gastronomia? Você já pensava em se tornar uma chef antes do programa? Eu sempre fui muito ligada em comida. A minha família tem tradição de grandes e boas refeições, minha avó cozinhava muito bem e a minha mãe cozinha muito bem. E tudo de forma muito intuitiva, pela percepção de aromas, sabores, elaboramos as nossas próprias combinações. Eu não sou uma chef! Mas estar na cozinha é a melhor parte do meu dia, quando chego em casa de um dia cansativo, abro a geladeira e penso no que farei para o jantar. Cozinhar de forma despretensiosa, relaxada, ouvindo música e sendo feliz. O que mudou e ainda tem mudado em sua vida após o Masterchef ? Eu me mudei do Brasil assim que as gravações terminaram. Antes de entrar no programa eu já estava com planos de mudança, mas acabei postergando por causa do Masterchef. Mas algo mudou em muito a minha vida: as pessoas que conheci. Fiz amizades lindas, que vou levar para o resto da vida. Pessoas que dividem a mesma paixão pela comida.
Participante Isabella
Eu acho que a gastronomia nunca vai cair de moda! Apenas os ingredientes irão mudar ou ficar em evidência de alguma maneira. Afinal, comida é uma necessidade básica. Eu acredito que o programa seja diferente porque reúne um pouco de tudo que as pessoas gostam: desafios, diferentes personagens, moO MasterChef Brasil foi mentos de estresse e de um sucesso. Na sua opi- pressão. Tudo que uma nião, o que fez crescer o pessoa normal vive no cointeresse das pessoas em tidiano de trabalho, num ambiente de comida. gastronomia? 90
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O meio gastronômico ainda é dominado por homens? Quais são as dificuldades que você encontra neste campo? Eu acredito a gastronomia ser um meio dominado por homens é uma regra que está caindo a cada dia. Ainda existem algumas pessoas mais tradicionais que acham que grandes cozinheiros são homens ou que a cozinha é um ambiente muito hostil para mulheres. As mulheres irão dominar o mundo! Além de todas
as características que os homens possuem, temos alguns segredos a mais, aquele toque e charme feminino e a confiança e aceitação da intuição que ainda é difícil encontrar em muitos homens. Eu amo cozinhar e canalizar meu amor e criatividade em cada ingrediente que coloco nos pratos. Eu acho que é um ato de amor e reúne as pessoas de uma forma muito leve e alegre por um desejo em comum: comer bem e socializar.
VITOR AUGUSTO
O Performático Neymar da Silva Santos Júnior parece ter nascido para o mundo que está agora. Carros caros, mulheres por todos os lados, muito samba e um futebol de arrepiar. Talentoso segundo alguns, abençoado segundo ele. Nascido em 1992, já era dado como craque antes dos 15, quando os dirigentes do Santos perceberam que tinham uma jóia rara nas categorias de base. Apesar de ter origem humilde, Neymar Jr. obviamente não sabe o que é ter uma vida difícil. Sondado por times como Real Madrid e Barcelona, já aos 12 anos ganhava salário de jogador profissional para que pudesse permanecer no clube da baixada santisa.
O carisma do garoto impressiona. Sempre com um sorriso no rosto, bonés coloridos e cabelo moicano, Neymar Jr. tornou-se obsessão de jornalistas e modelo para muitos garotos com o sonho de um dia jogar profissionalmente e, claro, ter a vida que o jogador leva. O salário é de mais de 8 milhões de euros, a ex-namorada é a Bruna Marquezine e seu Iate custa 15 milhões de reais (e tem o nome da mãe, Nadine). Assim fica difícil não querer levar a vida que ele leva. Mas nem tudo são flores para o jogador brasileiro. Chamado de monstro por Renê Simões, ele é responsável por algumas polêmicas, como quando
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foi acusado pelo técnico Antônio Lopes de ter dito a um outro jogador que era milionário e por isso podia tudo. Algum tempo depois a imprensa noticiou que Neymar, junto a Robinho e Paulo Henrique Ganso, não doariam ovos de páscoa junto do restante dos atletas santistas pois a instituição que estava por trás do ato tinha caráter espírita. Superado tudo isso, o astro agora está envolvido em uma transação que pode tirar o Barcelona, um dos maiores e mais poderosos clubes do mundo, do campeonato espanhol. Supostamente envolvidos em um esquema de sonegação de alguns milhões de euros, o pai e também empresário de Neymar Jr. e o Barcelona tentam agora a todo custo provar que estão limpos nessa história. Caso não consigam, a punição poderá ser dura para o time catalão. Apaixonado pelo filho Davi Lucca, Neymar é conhecido por sua entrega em tudo que faz. No fatídico jogo contra a Alemanha, que ficará marcado para sempre como os 7x1, ele estava contundido e via a partida junto a alguns amigos na sala de sua casa em Santos. Assim que o Brasil levou o quarto gol, segundo uma das pessoas presentes, Neymar teria desligado a TV e ordenado: “Vamos jogar poker”. Para o bem ou para o mal, o garoto é a esperança do futebol brasileiro para um futuro menos escuro. Fora dos campos, ele é só garoto propaganda de mais de 10 marcas famosíssimas no mercado. Quem quer ser Neymar Jr.?
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O craque coleciona gols e polêmicas ao longo da carreira
minhaGENTE Abril de 2015 93