Cidade Memória

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HENRIQUE TORRES

CIDADE MEMÓRIA



A memรณria nรฃo filma, a memรณria fotografa. Memory does not make films, it makes photographs. Milan Kundera


MEMORY CITY Though I’ve been living in Fortaleza for many years, having built strong personal, family and professional roots within this city, I keep an everlasting connection with Recife, the city where I was born and lived until I was nine years old. Maybe because our house was near downtown, my recollections from that time are all closely related to the city - its rivers, bridges, ancient buildings, the crowded streets and, especially, the calm mood of the nineteen fifties. In this long awaited essay, I walk through paths and places that were part of my life as a child, trying to depict the impressions felt by an adult who looks at icons that for a long time were kept only inside his memory - and also trying to show how those icons arrive at present time. Memory is unlike a straight line: it goes forward, backward, it skips years and it can see things over and over again. In this essay, the images are always in charge.


CIDADE MEMÓRIA Mesmo vivendo em Fortaleza há muito tempo, tendo criado fortes raízes pessoais, familiares e profissionais, conservo um vínculo atávico com a cidade do Recife, onde nasci e vivi até os nove anos de idade. Talvez por ter morado bem próximo à região central, minhas lembranças estão bastante ligadas à cidade – os rios, as pontes, as edificações antigas, o movimento das pessoas nas ruas e a atmosfera calma e serena de uma outra época. Neste ensaio, longamente planejado, refaço alguns caminhos e revisito locais marcantes de minha infância recifense, tentando transmitir sensações do adulto que revê signos há tempos guardados em sua memória – e como tais signos se transportam até os dias de hoje. A memória não é linear, ela vai, volta, salta anos, vê e revê. O que comanda são as imagens. Henrique Torres Dezembro/2019
























Este passeio foto-memorial pela cidade do Recife começa nas imediações da nossa casa na rua do Riachuelo, bem em frente à tradicional Faculdade de Direito. Dela nada resta, tendo sido substituída por um prédio comercial amorfo. Parte importante de minha infância recifense, o prédio e jardins da Faculdade aparecem compondo o cenário para várias imagens em que estou junto a familiares - pais, avô, tias. Para as fotos atuais, não pude sequer me aproximar do prédio, em reforma, isolado e cercado de tapumes. Isso, de certa forma, acabou acentuando a sensação de distanciamento entre o cenário de minha infância e o atual. Há imagens do parque Treze de Maio, logo atrás da Faculdade, onde eu ia brincar quase diariamente, e das ruas centrais da cidade, onde eu sempre passeava com minha mãe, avó e tias. Alguns de meus pontos de referencia de então, como sorveteria, confeitaria, cinemas, grandes lojas, não existem mais, mas a arquitetura geral da cidade em boa parte permanece. Na parte final do ensaio está a relação com o rio Capibaribe, cenário escolhido por meu pai para sua foto de recém-chegado ao Recife. Também com meu pai estou na ponte da Boa Vista, numa foto feita por um fotógrafo que ali estacionava, e da qual, ao contrário das outras em que apareço, me lembro perfeitamente. Outra ponte aparece numa das imagens finais, meio cartão postal da cidade, mas para mim uma visão corriqueira, embora eu então não percebesse a interferência de uma acentuada miopia, só corrigida pouco antes de nossa mudança para Fortaleza. H.T.



This photo-memorial tour over Recife city starts near our house at Riachuelo street, right in front of the city’s time-honored Law School. The old house in now gone, and has been replaced by a quite uninteresting commercial building. A place that became really part of my childhood, the building and gardens of the Law School appear in several of the family album pictures in which I’m shown with family members - mother, grandfather, aunts. To make the present day pictures I couldn’t even get near the building, which was under remodeling and surrounded by an isolating fence. That, in a certain way, reinforced the sense of distance between my childhood and present times. I took pictures of Treze de Maio park, where I used to play almost every day, and also of some central streets, where I used to walk with my family. Some of the reference points of those days, like ice cream shop, confectionery, movie theaters and big department stores are gone, but the general city architecture remains pretty much the same. The last part of the series refers to the relationship with Capibaribe river, the scenery chosen by my father to have his picture taken as he’d just arrived to make a living in the city. Also with my father I’m over the Boa Vista bridge, in a picture which, unlike all the others in the family album set, I can remember perfectly. Another bridge is shown in the penultimate image, kind of city postcard, but an ordinary view to me - although brurred by a so far unnoticed myopia.


CIDADE MEMÓRIA Fotografias (junho/2019): Henrique Torres Edição: Ademar Assaoka Imagens de época: fotógrafos desconhecidos torres.henrique@gmail.com Fortaleza - Ceará - Brasil Abril/2020




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