

Henrique Torres FOTOPINTURAS
FOTOPINTURA
Nos anos da pandemia, por força do isolamento social, fui rever meu arquivo fotográfico e experimentei interferir manualmente sobre as imagens. A princípio, o propósito era apenas corrigir um detalhe ou outro em cianótipos ou calítipos, com pastel seco. Logo passei a incluir imagens digitais e, também, a usar grafite e carvão.
A fotopintura, entendida como a aplicação manual de pigmentos sobre uma imagem fotográfica (normalmente monocromática), é uma prática que acompanha a fotografia desde os seus primórdios, mantendo-se como o processo mais acessível para a obtenção de imagens fotográficas coloridas até o advento dos filmes a cores comerciais, já na década de 1930.
No Brasil, especialmente no Nordeste, alcançou grande popularidade a forma em que as imagens, quase sempre retratos, são modificadas com o acréscimo de cor e adereços, deslocando os retratados para um contexto mais favorável. O processo que uso passa ao largo desse papel social, pois não envolve primordialmente retratos. Também não atuo exclusivamente colorindo imagens monocromáticas; trabalho também sobre imagens coloridas e monocromáticas sem lhes dar cor.
As imagens assim tratadas sofrem uma modificação na sua atmosfera, com características que remontam ao Pictorialismo, embora conceitualmente distinto dele, pois as questões defendidas e pretendidas pelo movimento iniciado no final do século 19 estão há muito superadas.
É evidente que as interferências manuais podem extrapolar a ponto de quase tirar a imagem dos domínios da fotografia – pelo menos no seu aspecto formal. Sou fotógrafo e não me atribuo a condição de desenhista ou pintor, mas acredito que o processo da fotopintura (ou fotodesenho) é capaz, sim, de levar a fotografia a um um outro patamar na arte das imagens.
Henrique Torres
SOLARIZADOS
Trabalho selecionado para o Painel da Fotografia Cearense Contemporânea/2020, são flagrantes de vendedores anônimos que atuam em semáforos, sob o sol inclemente de Fortaleza.
Inicialmente pensadas para receberem efeito de solarização emulado digitalmente, as imagens, captadas em telefone celular, acabaram constituindo o meu primeiro trabalho realizado e apresentado como fotopintura.
O meio básico é o carvão.








CATEDRAL
Série composta em goma bicromatada, tendo como tema a catedral de Fortaleza.
Aqui a fotopintura veio complementar ou auxiliar um processo fotográfico histórico, dando maior uniformidade ao conjunto de imagens, sem afastálas muito das tonalidades originais.





PARQUE DO COCÓ
Imagens selecionadas entre as muitas que venho fazendo há anos na área de mangue do rio Cocó, em Fortaleza. Mostrando a paisagem do mangue, procuro valorizar a preservação desse importante ecossistema. A fotopintura, com ou sem acréscimo de cor, foi aplicada sobre fotos analógicas ou digitais, de câmeras ou de celulares. Os meios utilizados foram pastel seco, carvão e grafite - normalmente, uma combinação destes.







ÁRVORES
Por questões logísticas, costumo trabalhar com pequenos formatos. Aqui uso fotos de árvores em formato panorâmico para criar originais de dimensões maiores. Os meios empregados são grafite e carvão.





VIDEODANÇA
Ensaio de 2017, consiste de fotos de espetáculos de dança captados da tela de tv com aplicativo de smartphone para simular longas exposições, de até 1 segundo.
Assim, cada imagem é como um pequeno vídeo condensado em um só quadro.
Os efeitos de desfoque e distorção não são resultado da interferência manual, mas sim produzidas pelo próprio aplicativo. As imagens foram tratadas com pastel seco.






O CIRCO
Trabalho que explora aspectos pictoriais do circo, criado numa época em que ainda nem imaginava praticar fotopintura. Os efeitos sobre as fotografias originais são resultantes de aplicativos de smartphone. A fotopintura a pastel seco é para dar textura, saturação e resistência ao desbotamento.




ABSTRATO
É o trabalho em que pela primeira vez faço fotografias apenas para receberem fotopintura.
O efeito de desfoque é causado por uma lente de aproximação usada propositalmente fora de suas funções.
O pastel seco, com que tratei as imagens, intensifica o estranhamento e quase abstração causados pela não identificação imediata dos objetos fotografados.





ONDAS
De toda a minha produção de fotopinturas, esta série é a que mais se mantém próxima dos originais fotográficos, quase nada tendo de pintura ou desenho. São fotografias de ondas e surfistas feitas da tela de tv, com mínimo pós-tratamento. Delas foram feitos negativos para a produção de imagens em cianotipia, processo de adequação quase óbvia ao tema.






Henrique Torres
Nasceu em Recife em 1951, e reside em Fortaleza desde 1961. Quando estudante de Medicina interessou-se pela fotografia, mas a prática então precariamente iniciada teve que ser interrompida por mais de vinte anos.
A partir dos anos 2.000, tem participado de várias exposições coletivas, como Salão de Abril (2005), Unifor Plástica (2007, 2009), deVERcidade (2005, 2006, 2007 e 2010) e Encontros de Agosto (2015). Exposições individuais: “Noturno”(2003), “Fortaleza Noturna” (2007), “Nas esquinas” (2010) e “Além da Foto” (2023).
Ganhador do Prêmio Chico Albuquerque de Fotografia, da Secretaria de Cultura do Ceará em 2005, com o ensaio “Fortaleza Noturna”, é membro fundador e ex-presidente do Instituto da Fotografia – Ifoto.
Seu trabalho situa-se na fronteira entre o documental e a abstração, tendo por foco a relação entre o homem e as forças da natureza. Desde o início vem estudando e praticando processos fotográficos históricos, aliados à tecnologia digital.
Mais recentemente passou a usar materiais tradicionalmente ligados ao desenho e à pintura no trato de imagens fotográficas, o que vem se constituindo atualmente o núcleo principal de seu trabalho. Dedica-se ocasionalmente à produção de livros artesanais e tem várias publicações eletrônicas, hospedadas na plataforma Issuu (http://issuu.com/henrit/). Amostras de sua produção também podem ser vistas no Instagram (@henriqat/) ou no seu site pessoal, www.htorresfoto.com.br.
Notas Finais
• Todas as imagens são digitalizações dos originais. Para fins de reprodução no pequeno formato deste livro, as figuras foram escaneadas num modo diferente do utilizado para as tiragens finais postas à venda;
• Os originais têm tamanhos variados; a maioria é no tamanho A4 (21x29,5 cm), um pouco maior ou menor;
• Estão à venda prints em fine art, em tamanhos à escolha, assinados, datados e numerados. Assumo o compromisso de elevar o preço a cada cópia vendida, assim determinando uma limitação natural à quantidade de peças em circulação.
Edição de Ademar Assaoka
Fortaleza - Ceará - Brasil
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