Cantares - N. Comentario

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CANTARES DE SALOMÃO Introdução Plano do livro Capítulo 1 Capítulo 3 Capítulo 2 Capítulo 4

Capítulo 5 Capítulo 6

Capítulo 7 Capítulo 8

INTRODUÇÃO No volume sagrado que nos transmite a mensagem que incendeia a esperança do amor de Deus, Cantares de Salomão é o único livro que tem o amor como seu tema exclusivo. O assunto é manuseado com grande habilidade e introspecção, numa série de dramáticos cânticos, centralizada num único casal e ligada pelo aparecimento e reaparecimento de grupos subordinados, tais como "as filhas de Jerusalém" (1.5; 2.7; 5.8; 16), e "os guardas" (3.3; 5.7), bem como pela repetição de estribilhos significativos (por exemplo, 2.7; 3.5; 8.4; 2.17; 4.6; 2.16; 6.3; 7.10). Os cânticos são embelezados pela rica imaginação oriental, e contêm lindas descrições de cenas naturais. I. AUTORIA O título pode significar ou que os Cantares foram compostos por Salomão ou a respeito dele. A tradição uniformemente favorece a primeira interpretação. Alguns eruditos modernos, entretanto, têm mantido que o grande número de vocábulos estrangeiros, encontrados no poema, não ocorreriam na literatura de Israel antes do período pósexílico. Outros pensam, com Driver, que os contactos generalizados de Israel com nações estrangeiras, durante o reinado de Salomão, explicariam suficientemente a presença dessas palavras no livro. Se esse ponto de vista for aceito, e se for suposto que existem apenas dois personagens principais nos Cantares, parece não haver qualquer motivo substancial para pôr de lado o ponto de vista tradicional sobre a autoria.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 2 Mas, se seguirmos Ewald, o qual afirmava que existe um pastor amante em adição (ver abaixo), a crença na autoria de Salomão dificilmente pode ser mantida, e é impossível dizer quem foi o autor do livro. II. INTERPRETAÇÃO Judeus devotos desde o primeiro século de nossa era têm considerado os Cantares como uma alegoria que representa as relações de Jeová com Israel. No segundo século A. D., o rabino Akiba afirmou que esse livro era um presente de inestimável valor para Israel e o mais santo de todos os escritos sagrados. A exegese cristã, desde os dias de Orígenes, tem visto nas cenas do livro a representação do amor de Cristo para com Sua Igreja. Delitzsch mantinha que os Cantares são um diálogo dramático em que Salomão e a sulamita são os personagens principais. Seu amor tipifica o amor de Cristo e da Igreja. Ewald, conforme foi indicado acima, tomou uma diferente linha de interpretação. Ele interpretou "o amado" como um pastor amante de quem a jovem estava noiva, antes de ser capturada e trazida para o palácio por um dos servos de Salomão. Depois dela ter resistido com sucesso a todas as tentativas do rei para conquistar sua afeição, ela é libertada e se reúne a seu amante, com quem ela aparece na cena final. Aqueles que adotam esta interpretação vêem em Salomão um tipo do mundo, e vêem no pastor um tipo de Cristo. A jovem representa a alma fiel que lealmente preserva a sua fé, seu amor e sua obediência, a despeito da pressão da tentação, resistindo a tudo como se visse o invisível. Quanto a este ponto de vista, as diversas seções de Cantares podem ser entendidas como segue: 1.1-2.7. A jovem relembra seu amado, no palácio onde Salomão promete adorná-la de jóias. 2.8-3.5. A jovem relembra uma visita feita certa ocasião por seu amado e um sonho que se seguiu a isso. 3.6-4.7. A jovem é novamente visitada e louvada por Salomão.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 3 4.8-5.1. Imperturbável, a jovem relembra as palavras de seu amado e antecipa seu dia de casamento com ele. 5.2-6.3. A jovem relata um sonho e descreve seu amado. 6.4-7.9. A jovem recebe mais uma visita de Salomão, que faz nova tentativa de conquistar sua afeição. 7.10-8.3. A jovem, mantendo sua lealdade a seu amado ausente, anseia por sua companhia. 8.4-14. A jovem retorna para casa com seu amado, e declara-lhe sua fidelidade. Quanto a um estudo mais profundo sobre esta interpretação alternativa, os leitores poderão examinar o esboço, as anotações e as perguntas contidas no Curso de Estudo Bíblico, Search the Scriptures, págs. 234 e segs. Têm sido feitas tentativas para mostrar a existência de um coro nos Cantares, mas não conseguem convencer devido a ausência de indicações sobre isso no próprio livro. A teoria de que os Cantares são uma coleção de cânticos que eram cantados por ocasião das celebrações de casamento, apesar de poder lançar alguma luz sobre a estrutura de certas porções do poema, divide o relato por causa da evidente unidade do livro. Este comentário assume o ponto de vista de que há apenas dois personagens principais no livro e, conseqüentemente, o divide de conformidade com a análise dada abaixo: PLANO DO LIVRO Este comentário assume o ponto de vista de que há apenas dois personagens principais no livro e, conseqüentemente, o divide de conformidade com a análise dada abaixo:


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) I. O DESEJO E A SATISFAÇÃO DA SULAMITA - 1.1-2.7

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II. A VISITA DO AMADO E O SONHO DA SULAMITA - 2.8-3.6 III A PROCISSÃO E OS CÂNTICOS DE SALOMÃO - 3.6-5.1 IV. A TARDIA RECEPÇÃO DA SULAMITA E A BUSCA PROLONGADA - 5.2-8.3 V. A SULAMITA E O AMADO CONVERSAM - 8.4-14

COMENTÁRIO

Cantares 1 I. O DESEJO E A SATISFAÇÃO DA SULAMITA 1.1-2.7 a) O título (1.1) Cântico de cânticos, que é de Salomão (1). Quanto a "cântico de cânticos", cf. "santo dos santos", "vaidade de vaidades". Tal expressão significa o mais excelente dos cânticos. Salomão compôs 1.005 cânticos (1Rs 4.32). Stuart supõe que os cinco que ultrapassam os mil cânticos, são as cinco divisões de Cantares de Salomão, ponto de vista que ele adota. Durham considera que o título significa o melhor cântico das Escrituras; e Bernard observa sobre Cantares: "Somente a experiência pode aprendê-lo". O emprego de uma forma diferente do pronome relativo, aqui, que não segue o resto do livro, tem levado alguns a conjeturarem que o título talvez tenha sido escrito por uma mão posterior. Entretanto, não é necessário apelar para essa explicação. A distinção entre o título e o restante do livro pode ser uma razão suficiente.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 5 b)A sulamita relembra o encanto de seu Amado, e sua própria falta de atrativos (1.2-6) Ele (2). Não nomeado, como no caso de uma pessoa ou coisa de que a mente e o coração estão tomados. Cf. Jo 20.15; 2Tm 1.12. Vinho (2). Cf. Sl 104.15; Pv 31.6, onde é considerado como transmissor de alegria e de reavivamento; ver também Sl 4.7. O amor de Cristo é melhor do que aquilo que é mais satisfatório e animador. No desejo da sulamita podemos ver uma oração solicitando um novo conhecimento e uma nova experiência do amor de Cristo. A Igreja, já tendo recebido evidência de sua influência de soerguimento e alegria, é encorajada, pela lembrança das bondades passadas, a rogar mais favores. Cf. Sl 63.1-5. Para cheirar são bons os teus ungüentos (3). No hebraico há um jogo de palavras sobre os ungüentos e teu nome. Cf. Ec 7.1. Ungüentos (3). Ungüentos ou perfumes eram especialmente valiosos no oriente devido ao calor. Eram usados particularmente na unção dos sacerdotes (Êx 30.23-25) e na recepção dos hóspedes (Sl 23.5; Lc 7.38). O uso de ungüento muito precioso nesta última conexão, era sinal de estima incomum (cf. Jo 12.3). Os reis recolhiam e usavam perfumes de rara composição e fragrância. Ver 3.6 e cf. 2Rs 20.13. Nome (3). O nome relembra o que ele é. A lembrança tem um efeito sobre o espírito semelhante ao de um fragrante perfume sobre os sentidos. O azeite da unção, nos dias do Antigo Testamento, tipificava a obra do Espírito Santo, que foi dado a Cristo sem limitações. Conhecer a Cristo é comparado por Paulo a um perfume (ver 2Co 2.14). Virgens (3). Auxiliares da noiva. Misticamente, representam os regenerados e santificados. Cf. Mt 25.1; 2Co 11.2; Ap 14.4. Leva-me (4). No verso 2 ela expressou o desejo que seu amado viesse até ela; agora seu desejo é que ele a levasse após si. Cf. Sl 63.8; Jr 31.3; Jo 6.44. Me introduziu (4). Uma memória sobre um favor passado. Cf. Sl 45.14; Jo 10.16.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 6 Filhas de Jerusalém (5). O reaparecimento desse grupo, em 2.7; 3.10; 5.8,16 é uma das provas da unidade de Cantares. Trata-se de observadores interessadas. De conformidade com a interpretação alegórica, representam os que buscam a Cristo (Stuart). Sou morena (5). Diz-se que as mulheres beduínas continuam a contrastar-se dessa maneira com as habitantes das cidades. A sulamita compara a cor morena de sua pele com as tendas escuras de pele de cabra ou de pelo de camelo dos filhos de Ismael, mas assemelha seus atrativos às cortinas multicoloridas de Salomão. O versículo seguinte explica o motivo dessa coloração amorenada, que é temporária. A vinha que me pertence (6). Isto é, sua aparência. A linguagem sugere o pecado, o sofrimento e a tristeza que algumas vezes enegrece a porção da Igreja ou da alma crente, ainda que continuem atrativas à vista de Deus, por causa da justiça imputada e da operação interna da graça. A solicitação pedindo bênção não merecida é apropriadamente acompanhada pelo reconhecimento da própria indignidade e fracasso. c) A sulamita requer e recebe orientação (1.7-8) Dize-me (7). Este versículo introduz o quadro pastoril freqüentemente empregado no livro. A pastora era uma figura familiar no oriente (cf. Raquel, Zípora). Não satisfeita em esperar até à noite, ela deseja encontrar-se com ele por ocasião do repouso do meio dia. Como a que erra ao pé dos rebanhos (7). É difícil dar uma significação apropriada para a palavra aqui traduzida como erra. A tradução de Aglen como "alguém velada" é talvez a melhor. Se tu o não sabes (8). Essas palavras foram provavelmente proferidas pelas companheiras da sulamita. Aqueles que querem encontrar-se freqüentemente com Cristo devem procurá-Lo nos bem usados caminhos da fé, da obediência, do serviço e da adoração.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 7 d) O Amado declara sua admiração e promete presentes (1.9-11) Amiga (9). Ra'yah é palavra encontrada somente neste livro e em Jz 11.37. A Cambridge Bible compara o uso francês de ami entre amantes. Éguas dos carros (9). Esta forma feminina pode ter o sentido que aqui é dado, ou significar uma forma coletiva - um grupo de cavalos, por exemplo. Mas, visto que noutras porções são feitas comparações com uma forma coletiva (exemplo, 10,12), parece melhor traduzir conforme a última possibilidade: grupo de cavalos. Nos tempos de Salomão os cavalos egípcios eram muito procurados para uso dos reis (ver 1Rs 10.28-29). A própria comparação, embora não siga o gosto ocidental, é comum entre os árabes, que criam raças particularmente graciosas de cavalos. Enfeites (10). "Tranças com laços" (Moffatt). Provavelmente a comparação com os cavalos das carruagens está em segundo plano, visto que as cabeças dos cavalos egípcios eram adornadas com moedas e ornamentos de prata. A moda referida, pode parecer-se, porém, com a que era usada pelas mulheres egípcias, que dividiam os cabelos em numerosas tranças, soltas nas costas, e com pequenas orlas dotadas de ornamentos de ouro ou prata. As damas persas usavam enfeites de cabeça formados por duas ou três fileiras de pérolas, que passavam da cabeça e ficavam dependuradas defronte das bochechas. Colares (10). Moffatt traduz "fileiras de jóias". Thomson, em The Land and the Book, comenta sobre o gosto das mulheres por uma "interminável variedade" de colares "entre outras jóias". Enfeites de ouro (11). Enfeites é a mesma palavra que aparece no verso 10. Jordan traduz como: "círculos de ouro com pontos de prata". Por mais graça que a Igreja tenha recebido e possa exibir, Cristo tem mais ainda para outorgar, para torná-la aceitável para Si mesmo.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 8 e)A sulamita expressa sua satisfação com seu Amado (1.12-14) Assentado à sua mesa (12). "Jaz em seu divã" (Moffatt). Nardo (12). Um caríssimo perfume, preparado pelo ressecamento de um felpudo talo de uma planta da Índia, que antigamente era importada para a Palestina. Ramalhete de mirra (13). A mirra era obtida em uma árvore baixa e espinhenta, parecida com a acácia, e que se encontrava na Arábia Félix. Um fluido branco exudava da casca, quando esta era furada, e que endurecida e era vendida como a mirra comercial. Supõe-se que tivesse propriedades desinfetantes e poderes tonificantes, e algumas vezes era transportada numa pequena ampola ou saquinho, suspenso pelo pescoço e usado dia e noite. Cf. Sl 45.8. Cacho de Chipre (14). "Flores de hena". A hena é um pequeno arbusto, que produz florescimentos brancos e amarelos dotados de rica fragrância. Era encontrada na Palestina, em En-Gedi, próximo do mar Morto. Era usada para dar uma delicada coloração às mãos e aos pés. f) O Amado louva os encantos da sulamita (1.15) Teus olhos são como os das pombas (15). Melhor ainda: "como pombas". A espécie de pássaro referido aqui e freqüentemente no livro é a pomba das rochas. As idéias sugeridas são a constância, a graciosidade e a ternura. Cf. Mt 10.16. g) A sulamita expressa seu prazer no Amado e em seu ambiente (1.16-17) Nosso leito é viçoso (16). "A relva verde" (Moffatt). Trevas (17). Esta palavra não se encontra em outro lugar qualquer, e sua significação é incerta. A Septuaginta dá: "tetos forrados". Cedros e ciprestes são mencionados noutras porções, juntos, como emblemas de majestade (cf. Is 37.24; Ez 31.8). Provavelmente deve-se


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 9 imaginar um caramanchão num bosque, e não o interior de um palácio. A viçosa fragrância de seu lugar de descanso sugere o prazer e o proveito de sua comunhão. Cf. Sl 23.2-3. Assim como a sulamita sentia satisfação nas palavras e na presença de seu Amado, semelhantemente a Igreja encontra encorajamento na aprovação e nas promessas feitas por Cristo. Ele se revelará mais plenamente quando ela o busca diligentemente, e a percepção de Sua presença e graça estimulará sua fé, seu amor e sua lealdade.

Cantares 2 h) O Amado compara a si mesmo e à sulamita com flores, uma sugestão de beleza e de graça (2.1-2) Eu sou a rosa de Sarom (1). Os primeiros pais da Igreja, as antigas Bíblias inglesas, as Bíblias francesas, italianas e portuguesas, e a maioria dos mais antigos comentários, reputavam essas palavras como tendo sido proferidas pelo Amado. Eruditos de épocas mais recentes estão acordes que elas foram proferidas pela sulamita. É difícil decidir entre as duas opiniões, mas, considerando o todo, o primeiro ponto de vista parece mais provável. "Sarom" é melhor compreendido como um nome próprio. Cf. Is 35.2. Um lugar que tem esse nome e é famoso devido à planta mencionada, fica ao sul do monte Carmelo, na costa do Mediterrâneo. A palavra traduzida como "rosa", devido a sua derivação, parece denotar uma planta bulbosa. O narciso de perfume adocicado, que é um dos favoritos dos orientais, provavelmente é preferível às outras plantas sugeridas. A Septuaginta e a Vulgata traduzem simplesmente "flor", enquanto Moffatt lê "um botão". Lírio (1). A palavra assim traduzida ocorre sete vezes no livro. Os árabes aplicam-na para qualquer flor brilhantemente colorida. Em 5.13 os lábios são comparados a lírios, e a maioria dos comentaristas interpretam a referência como sendo a anêmona escarlate. Cf. Mt 6.29.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 10 Vales (1). Stuart pensa que aqui é referido um lugar definido, perto de Sarom, onde o gado real era levado para pastar. Cf. 1Cr 27.29. Nestes versículos, segundo a opinião mais antiga, Cristo se apresenta como um objeto de admiração e deleite. Entre os espinhos (2). Os espinhos, dos quais a anêmona não infreqüentemente é rodeada, servem para destacar a beleza da flor. Essa é a finalidade do contraste. i) A sulamita fala de seu deleite na comunhão com o Amado (2.3-6) A macieira (3). Atualmente a macieira não floresce na Palestina, ao sul do Líbano. Cf. todavia, o artigo pelo Dr. Law no Dictionary of the Bible de Hasting. Muitos comentaristas salientam que a agradável aparência, a sombra satisfatória e o doce fruto, sugeridos no contexto, correspondem todos ao abricó. Aqui mais uma vez, contudo, como Masterman diz (Dictionary of the Bible, de Hasting, edição de um volume), a época de sua importação da China é incerta. Quando Cristo olha para a humanidade, entre muitos dos que se esquecem de Deus, a Igreja, comprada por Seu próprio sangue, justificada pela fé, habitada pelo Espírito Santo e esforçando-se para servi-Lo, é especialmente deleitável para Ele. Por outro lado, a verdadeira Igreja não estima ninguém como mais excelente que seu Senhor divino, devido ao esplendor de Seu caráter, à suficiência de Sua salvação e à satisfação de Sua amizade. Sala do banquete (4). Lit. "casa de vinho", que pode descrever qualquer lugar onde vinho e alimento são servidos aos viajantes. A tradução que aqui é dada sugere o interior de um palácio. Estas palavras, sem dúvida, são uma figura a respeito do desfrutamento do amor. Segundo a interpretação alegórica elas dão a tender as ordenanças públicas, e a Mesa do Senhor em particular. Para a Igreja, o lugar


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 11 honrado pela presença do Senhor e de sua graciosa auto-revelação, por palavra ou sacramento, se torna uma casa de banquete espiritual. Estandarte (4). Uma variedade de explicações é oferecida. Fausset observa: "Amor é o nome de Deus. Foi revelado na cruz. Esse estandarte concentra em torno de nós as forças da onipotência". Passas (5). "Bolos de passas", segundo algumas anotações à margem. Alguns supõem que bolos feitos de farinha de trigo amassada com suco de uvas, que fermentava por ocasião de ser assado, são referidos aqui. Cf. Jr 7.18; 44.19. Algumas versões traduzem: "jarras de vinho", como também em Os 3.1 e 2Sm 6.19, seguindo os comentaristas rabínicos. Desfaleço de amor (5). Stuart cita o caso de John Welch, dos tempos do Concerto, o qual, durante sua última enfermidade, "estava tão dominado pelo sensível desfrutamento de Deus" que algumas vezes se ouvia ele dizer em oração: "Senhor, sustenta tua mão; é bastante; teu servo é apenas um vaso de barro e não agüenta mais". Sua mão esquerda (6). Os intérpretes mais antigos distinguiam a mão esquerda como a mão da providência, e a mão direita como a da graça. j) A repetida incumbência às filhas de Jerusalém (2.7) Gazelas e cervas (7) são típicas, na poesia oriental, da beleza feminina. Tais animais são conhecidos por sua timidez. Que não acordeis nem desperteis o meu amor (7). Os intérpretes alegóricos entendem essa advertência como se significasse: "Não entristeçais o Espírito". Até que queira (7). Morgan comenta que essas palavras deveriam ser escritas em letras de ouro em cada salão onde se congregam os jovens. Esse estribilho ocorre novamente em 3.5 e 8.4, marcando uma pausa em Cantares, e deixando juntos o feliz par, em cada ocasião, tal como aqui.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 12 II. A VISITA DO AMADO E O SONHO DA SULAMITA - 2.8-3.5 a) O Amado é ouvido e visto (2.8-9) No início deste cântico o Amado toma a iniciativa. Os vv. 8-17 contam-se entre os mais belos do livro. Em mérito literário se equiparam com a melhor poesia amorosa do mundo. Após meses invernosos, vazios de vida nova e crescimento, segue-se, repentinamente, com as primeiras chuvas, a excitante primavera síria. A terra rapidamente se reveste de um manto de verde brilhante, mesclado com as variadas cores de inúmeras flores. Os prados, recentemente revestidos de verdura, despertam entre cânticos, em meio aos quais se pode discernir a nota melancólica da rola. Então é que a voz do Amado é ouvida. O quadro inteiro sugere um período de reavivamento espiritual. A voz (8). Quanto a esse pensamento cf. Jo 10.4; 5.28. Nossa parede (9). Alegoricamente, a parede tem sido variadamente explicada como representando o pecado, a lei ou nossa condição de mortais. Reluzindo (9). O original significa: "fazendo-se parecer brilhante". A beleza do Amado é vista apenas imperfeitamente. Dessa forma ele é descrito como próximo, mas apenas parcialmente revelado. b) O convite do Amado (2.10-15) Inverno (11). À estação chuvosa e cheia de nuvens. Chuva (11). Em heb., geshem. Trata-se da chuva pesada de inverno, em contraste com a malkosh, a chuva mais tardia e mais leve, que continua por mais seis semanas. As flores (12). A súbita aparição das flores da primavera, na Palestina, tem sido freqüentemente comentada. Cantar (12). No princípio da primavera os rouxinóis e outros passarinhos da mesma espécie enchem os bosques com seu doce canto. Rola (12). Trata-se da rola que migra para a Palestina, aparecendo em grandes bandos pela


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 13 segunda metade de abril, a derramar notas melancólicas desde a alvorada até o pôr do sol. Os comentaristas alegóricos comparam a conclamação de João Batista para que o povo se arrependesse com essa manifestação, antes da voz do Noivo ser ouvida. Cf. também Jr 8.7. Já deu (13). A forma árabe da palavra significa "avermelhou". Os figos referidos permanecem verdes, na figueira, durante o inverno, mas amadurecem rapidamente na primavera, desenvolvendo-se antes das folhas nas figueiras velhas. Cf. Mt 21.19. As vides em flor exalam o seu aroma (13). Os rabinos dizem que a palavra significa a uva tenra, quando ela aparece pela primeira vez. Em abril, no entanto, dificilmente aparece qualquer uva. Mas "florescem" é outro sentido da mesma palavra, e fica melhor aqui. Pomba (14). A pomba das rochas, que sempre seleciona altos penedos e profundas ravinas como lugar de descanso. Cf. Jr 48.28. Fendas das penhas (14). A palavra, segundo parece em comparação com o árabe, significa um lugar de refúgio. Raposas (15), ou chacais, ambos os quais animais destroem os vinhedos. Os intérpretes alegóricos explicam essa referência como apontar para os pecados sutis, geralmente em evidência em ocasiões de reavivamento ou progresso espiritual. c) A declaração e o desejo da sulamita (2.16-17) Ele apascenta o seu rebanho entre os lírios (16). Essas palavras também podem significar: "o pastor entre os lírios". Antes que refresque o dia (17). Alguns entendem isso como o "amanhecer" e outros como o "anoitecer". Beter (17). Seguindo a Septuaginta, isso seria um nome próprio, e alguns identificam-no com Bitrom, uma região a leste do Jordão. Cf. 2Sm 2.29. A palavra ocorre em Gn 15.10 e Jr 34.18-19, no sentido de animais divididos por ocasião do estabelecimento de uma aliança. Algumas versões traduzem o termo


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 14 como "montanhas de separação". Qualquer dessas duas traduções é preferível a outras conjeturas.

Cantares 3 d) O Amado é perdido, procurado e encontrado (3.1-5) Muitos comentaristas compreendem esses versículos como a descrição de um sonho. De noite (1). Moffatt traduz: "noite após noite". Lit., "às noites". Samuel Rutherford, citado por Aglen (Ellicott's Commentary), diz: "Assim como noites e dias são melhores para as flores que o sol contínuo, semelhantemente a ausência de Cristo, ocasionalmente, dá seiva à humildade e dá oportunidade à fome, fornecendo um campo próprio para a fé mostrar-se". Praças (2). Havia espaços largos nos cruzamentos e nos portões, nas ruas estreitas. Guardas (3). Os guardas da cidade moviam-se silenciosamente pelas ruas, interrogando e tratando de pessoas suspeitas. Na Bíblia essa palavra às vezes quer dizer profetas ou pastores. Cf. Is 62.6; Jr 6.17. Um pouco (4). Como regra geral, Cristo é encontrado próximo dos meios de graça. Casa de minha mãe (4). Isso implica em confessálo abertamente. "Mãe" tem sido interpretada de diversas maneiras, como, por exemplo, a Igreja, a nação, os judeus, a humanidade. Quanto à incumbência do versículo 5 ver a anotação sobre 2.7, acima. III. PROCISSÃO E CÂNTICOS DE SALOMÃO - 3.6-5.1 a) Aproximação de Salomão, com uma descrição de seu palanquim (3.6-11) Nesta seção central, o Amado é por duas vezes nomeado como o rei Salomão, e a sulamita é por seis vezes chamada de esposa. Nenhum


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 15 desses modos de referência aparece em outras porções do livro. A descrição da procissão pode indicar que o rei esteja a caminho da casa da sulamita, para conduzi-la ou para o noivado ou para o casamento. Com a questão, no verso 6, cf. Sl 24.8,10; Is 63.1. Somos lembrados sobre Jesus a retornar no poder do Espírito depois da tentação no deserto, a fim de tornar Sua voz ouvida como a voz do noivo. Quem é esta? (6). O pronome é feminino neutro e se refere à "liteira" (7; ver nota abaixo). Cf. Gn 33.8, Lit., "Quem é todo esse campo?" Deserto (6). Significa espaços abertos bem vastos, com ou sem pastagem, em distinção à terra cultivada. Os comentaristas mais antigos atribuem essas palavras à aproximação de Israel da terra de Canaã. Colunas de fumo (6). O incenso era queimado à frente das procissões importantes. Fausset encontra aqui uma sugestão sobre a expiação e a intercessão de Cristo. Perfumada de mirra... (6). Essas palavras descrevem os mais ricos perfumes que o oriente podia fornecer. O incenso é a goma de uma árvore indiana, obtida mediante cortes feitos em sua casca. Eis que é a liteira (7). Moffatt traduz: "Este é o palanquim". Valentes (7). Cf. 2Sm 23.8. Palanquim (9). A Septuaginta tem thoreion, "palanquim" mas é uma palavra diferente da que é usada no verso 7. A sua derivação é incerta. Madeira do Líbano (9). Seria, então, cedro ou cipreste. Colunas (10). Os suportes do pálio. Assento (10). Moffatt traduz como "costa" e essa sua tradução é apoiada pelas versões grega e latina. Púrpura (10). Melhor, "vermelho"; algumas vezes, "vermelho escuro". Revestido (10). Moffatt adota outro texto e traduz: "incrustado de ébano". Esta versão segue de perto a Cambridge Bible, que diz: "trabalhando como um mosaico do amor, da parte das filhas de Jerusalém". Coroa (11). Custosas coroas eram usadas por ocasião dos casamentos. O costume foi abolido na época de Vespasiano. Este versículo provavelmente foi entoado pelas companheiras da noiva, que


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 16 iam ao encontro da procissão nupcial. No dia do seu desposório (11). Aquele mesmo dia ou algum dia passado; provavelmente esta última alternativa. Historicamente, as filhas de Jerusalém, ou Sião, viram Cristo coroado de espinhos, indiretamente pela vontade da raça judaica, da qual Ele se originou, no que respeita à Sua natureza humana. Mas no dia melhor e mais brilhante, a congregação judaica voltar-se-á para o Senhor, unindo-se a todos os santos, dando-Lhe glória como Redentor.

Cantares 4 b) O primeiro canto de Salomão (4.1-7) Este é um cântico, segundo o modelo do "cântico de matrimônio", geralmente usado até hoje nos matrimônios na Síria. Algumas vezes era imitado, onde apenas um cântico de amor era tencionado. Trata-se do tipo de descrição apreciado no oriente, embora não possa ser recomendado em todos os respeitos à susceptibilidade e ao gosto ocidentais. Olhos... como os das pombas entre as tuas tranças (1). Melhor: "teus olhos são como pombas por detrás do véu". A pomba é um emblema da inocência e da pureza. Jordan supõe que o véu se referia a uma venda para os olhos, que brilhavam através dela. Rebanho de cabras (1). A cor das cabras é usualmente negra. Que pastam no monte de Gileade (1). A palavra traduzida como "pastam" é de sentido duvidoso. O sentido é a semelhança entre as massas de cabelo negro que estava dependurado, provavelmente na forma de tranças, e os rebanhos de cabras a descer pela colina. Gileade era o nome da serra montanhosa, a leste do Jordão, entre o extremo norte do mar Morto e o mar da Galiléia. Era uma região onde havia muitos terrenos de boa pastagem, especialmente no sul. Teus dentes são como o rebanho (2). Cf. 6.6. O importante da comparação é a aparência branca do rebanho há pouco lavado e


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 17 tosquiado. Os dentes são brancos, correspondem perfeitamente nos maxilares superior e inferior, e são completos em número. Como um fio de escarlate (3); ou corante; isto é, lábios vermelhos finos. Tua fronte é qual pedaço de romã (3). Ambas as têmporas e as bochechas provavelmente são incluídas neste termo. A romã é usada pelo poeta oriental para propósitos de comparação, da mesma maneira que um poeta ocidental usaria a maçã. A torre de Davi (4). O edifício aqui referido não pode ser identificado. A palavra traduzida "para pendurar armas" é difícil. Cheyne, alterando o texto, traduz como "escudo". Margoliouth a considera um nome próprio e traduz como: "edificada para as bandas de Talpiote", uma vila na planície de Damasco. Moffatt tem: "adornada com troféus". As muitas jóias no pescoço são consideradas como os troféus dependurados nas paredes da torre. Antes que refresque o dia (6). Cf. 2.17 e segs. Monte da mirra (6). Nenhum lugar particular pode ser identificado, mas as palavras podem significar "um jardim de especiarias em terreno alto". c) Segundo canto de Salomão (4.8-15) Vem comigo (8). A Septuaginta, a Vulgata, e Lutero, lendo uma alteração nos pontos vocálicos, traduzem: "para mim". As descrições sugerem lugares perigosos. Olha desde (8) provavelmente fica melhor traduzido como "partir desde", neste contexto. Amana (8) é o Abana (cf. 2Rs 5.12); isto é, ou o Amanus, um prolongamento do Taurus, ou o distrito pelo qual fluía o rio Amana. Senir (8) é um dos três picos do Hermom. Os amorreus chamavam-no de Senir, e os sidônios de Sirion. Cf. Dt 3.9; 1Cr 5.23; Sl 42.6. Favos de mel (11). O mel, caindo por si mesmo, representa aqui a fala agradável. Cf. Pv 15.24. O cheiro do Líbano (11). Arbustos fragrantes e aromáticos são abundantes na região do Líbano.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 18 Jardim fechado (12). Uma metáfora comum na poesia oriental. Cf. Pv 5.15-21. "Fechado", no original, é uma palavra forte, significando "fechado e trancado". Manancial fechado, fonte selada (12). A fonte é a origem da corrente. As figuras sugerem a exclusiva reivindicação de Cristo ao supremo lugar nas afeições da vida. Teus renovos (13). Comparações com árvores e frutos são freqüentes nos "cânticos de matrimônios". Pomar (13). A palavra heb., pardes, ocorre apenas aqui e em Ne 2.8 e Ec 2.5. A Septuaginta traduz como Paradeisos. Por alguns isso é considerado como um sinal da composição posterior deste livro. A palavra parece ter origem persa. Açafrão (14). Esta palavra ocorre somente aqui, mas o árabe torna claro sua significação. Aqui é referido o Crocus saturus. O açafrão é obtido pelo ressecamento do pistilo a do estigma da flor, no sol, e então transformando-os num pó, que é então usado como condimento. Cálamo e canela (14). O primeiro é uma cana aromática encontrada na Índia e na Arábia Felix. A segunda é produzida quando a camada interna de uma árvore, da família do louro, é separada da casca externa e secada no sol. É uma planta nativa do Ceilão. Aloés (14). Esse caríssimo perfume tem um odor aromático quando queimado. É obtido de madeira de águia, que atinge uma altura de 40 metros. O "habitat" dessa árvore é no norte da Índia e na Cochinchina. Nas canções populares as alusões são, em regra geral, sem ornatos, enquanto que as árvores, nesse paraíso, são exóticas. Os frutos do Espírito também não são nativos ao coração pecaminoso. A fonte dos jardins (15). A tradução de Budde: "a fonte de meu jardim é um poço de água viva", é sustentada pela Septuaginta. A Cambridge Bible traduz: "Tu és a fonte de meu jardim". Ela era o motivo de seu deleite e refrigério. Cristo se agrada nas graças da Igreja e, quando finalmente, Ele a apresentar a Si mesmo, ela será uma Igreja gloriosa sem mancha nem ruga.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) d) O apelo da sulamita (4.16)

19

É a noiva quem diz todas estas palavras. O vento norte é o vento frio, e o vento sul é o vento quente. A influência de ambos é necessária, cada qual por sua vez. As atividades algumas vezes contrárias, do Espírito Santo, na alma, são sugeridas aqui. Contribuem para a mesma finalidade, frutificação e fragrância.

Cantares 5 e) A resposta de Salomão (5.1) Comei, amigos (1). Alguns intérpretes entendem que isso significa um convite para o casamento: outros o consideram como um apelo para que simpatize com o regozijo do casal de recém-casados. Stuart, porém, diz que a festa aqui referida não é a festa de casamento, mas a festa de noivado. IV. A RECEPÇÃO TARDIA DA SULAMITA E A BUSCA PROLONGADA - 5.2-7.3 a) A inesperada visita do Amado e sua partida (5.2-6) Eu dormia, mas o meu coração velava (2). Cf. Mt 26.40-41; 25.5. Minha cabeça esta cheia de orvalho (2). O orvalho, na Palestina, usualmente cai com grande intensidade. Quanto à descrição completa do apelo por admissão, cf. Ap 3.14 e segs. Vestidos (3). A Septuaginta tem chiton, isto é, a veste usada sobre a pele. Tal como o homem que chegou à meia-noite, o Amado chegara numa hora inesperada e um tanto inconveniente. Mas as desculpas são superficiais. O quadro é de sono, cansaço e autocomplacência. Pela fresta (4). Nas casas orientais havia uma abertura acima da fechadura, para a inserção da chave, e que era suficientemente grande


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 20 para admitir a mão. Talvez também houvesse uma abertura para permitir ao ocupante de uma sala olhar por ela e falar. Entranhas (4). Diríamos "coração". A idéia é de profunda compaixão ou intenso desejo. Destilavam mirra (5). A mirra que escorria naturalmente da árvore, sem qualquer incisão, era a mais preciosa. Provavelmente aqui temos uma indicação de boas vindas. Quando ele falara (6). Stuart traduz: "por causa de sua palavra". Ewald sugere: "quando ele se voltou". b) A sulamita busca e descobre seu Amado (5.7-16) Guardas (7). Cf. 3.3 e segs. Ela foi vítima de incompreensão e, em lugar de ajudarem-na, espancaram-na. Conjuro-vos (8). Stuart comenta que uma alma que busca a Cristo pode encontrá-lo antes que um crente desviado descubra a comunhão restaurada. Que é o teu amado...? (9), isto é, "Que espécie de amado?" A pergunta ocasiona a descrição que se segue. O meditar nas excelências de Cristo é um dos meios de despertar a fé e o amor. Cândido e rubicundo (10). Cf. 1Sm 16.12; Lm 4.7. Traz a bandeira (10), isto é, é proeminente. Pomba (12). A pupila e a íris dos olhos, rodeadas pelo branco formam o ponto de comparação. Postos em engaste (12). Lit., "engastados em plenitude". A alusão é provavelmente aos olhos bem redondos que os orientais tanto admiram. Suas faces são como um canteiro de bálsamo (13). A barba é perfumada. Cf. Sl 133.2. No oriente, a barba é um sinal de vigor e honra. Lírios (13). Uma flor vermelha. Cf. 2.1 e segs. Suas mãos são como anéis de ouro... (14). Moffatt traduz: "Seus dedos são cones de ouro encimados por topázio róseo", isto é, os dedos são delicadamente arredondados e têm belas unhas. Outros tradutores, entretanto, preferem: "suas mãos têm anéis de ouro...". Turquesas (14). Heb., tarshish, uma pedra de Társis; ou o topázio ou o crisólito,


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 21 encontrado em Tartessus, antiga cidade da Espanha, entre as bocas do rio Guadalquivir. Cf. Êx 39.13. Ventre (14). Melhor, "corpo". Alvo marfim (14). O marfim, tratado pelos escultores, se assemelhava de perto, quanto à cor, com a pele dos orientais. O pescoço, o peito e os braços, as porções não cobertas pelo manto, são referidos aqui. Literalmente as palavras significam: "uma obra de marfim" ou "marfim trabalhado". Cf. Hb 10.5. Safiras (14). Alguns consideram que as veias azuis, aparecendo por debaixo da pele, foi a base dessa descrição. Outros comentaristas são da opinião que é referido um cinto incrustado de jóias. Cf. Ap 1.13. A safira, nas Escrituras, sugerem o céu. Cf. Êx 24.10. Colunas de mármore (15). O mármore tratado com azeite, conforme era algumas vezes, tomava uma coloração de carne. A imagem transmitida é de força. Seu parecer como o Líbano... (15), isto é, seu aspecto é, majestoso e nobre. Seu falar (16). Cf. Pv 16.21; Sl 45.2. Ele é totalmente desejável (16). A tradução literal diz: "todo ele é desejável". Cristo, revelado pelo Espírito Santo, é totalmente atrativo para a alma graciosa. A Century Bible cita um "cântico de matrimônio" da coleção de Dalman, que mostra muita semelhança, na linguagem, com esta seção de Cantares.

Cantares 6 c) A sulamita interrogada sobre a moradia de seu Amado, replica e reivindica-o para si mesma (6.1-3) Uma impressão tinha sido produzida nas filhas de Jerusalém mediante a descrição do noivo. Desejam reunir-se na busca (1), mas ela declara que suas aflições são exclusivamente suas. Ela fala confiadamente, embora ele continue ausente. O fato que ela sabe para onde ele foi dá apoio à sugestão que, em 5.2-8, ela estava relatando um sonho.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 22 d) O Amado se dirige à sulamita em palavras de louvor comum (6.4-10) Tirza (4). Essa cidade era lugar de importância e muito linda. Era a sede de um príncipe cananeu (Js 12.24). Jeroboão I fez dela sua capital (1Rs 14.17; cf. 15.33). Deixou de ser a capital quando Onri, no sexto ano de seu reinado, edificou Samaria (1Rs 16.23-24). A referência dessa cidade, juntamente com Jerusalém, tem sido indicada por alguns como uma indicação de uma data posterior para a composição do poema, ou durante o período em que Tirza era a capital, ou quando, após a restauração dos exilados, o ódio contra Samaria impediu que ela fosse selecionada. Mas, tudo quanto é requerido é uma cidade notável por seu poder e beleza. Jerusalém (4). Cf. Lm 2.15. A sulamita é freqüentemente comparada com localidades (ver 7.4-5). Contrastar com Is 47.1 e Ap 21.9. Como um exército com bandeiras (4). Lit., "uma hoste embandeirada". A Septuaginta traduz "um terror como uma falange enfileirada". Quanto ao pensamento cf. Êx 17.15; Sl 48.2-4. Me perturbam (5). A palavra só se encontra também em Sl 138.3. O significado usual teria referência ao poder enfeitiçador dos olhos. A Septuaginta traduz: "me agita", enquanto o sentido "tornar vivaz" é sugerido. Os olhares da fé e do amor prevalecem com Cristo. Os vv. 5-7 repetem, com pequena variação, a descrição da beleza da noiva, dada em 4.1 e segs., sobre o que ver anotações. Sessenta são as rainhas... (8). A referência entre linhas é às práticas de poligamia dos reis e pessoas ricas. Nenhuma significação especial deve ser esperada do número mencionado. Alguns têm considerado que o grupo representa diversos graus de fé na Igreja única; outros, com maiores probabilidades, vêem aqui uma referência aos poderes mundanos. Mas uma é a minha pomba (9). O Rei da glória tem apenas uma noiva, embora números incontáveis de remidos componham a Igreja.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 23 Como a alva do dia (10), isto é, amável e cheia de promessas. A luz da lua é mais clara que a luz da alva; a luz do sol mais esplêndida que todas. e) A sulamita relata sua recente experiência (6.11-13) Nogueiras (11). Comumente crescem ao norte da Palestina. Alegoricamente, o jardim das nogueiras tem sido considerado como a Palavra de Deus, que produz suas doçuras para aqueles que a usam diligentemente, regada com oração. Minha alma nos carros do meu povo excelente (12). Talvez seja melhor traduzir "dos companheiros de um príncipe", Budde compreende que a referência é "à carruagem nupcial", e traduz: "Enquanto eu vagueava... Quase sem consciência de meu mais profundo sentimento, meu príncipe veio e me pôs na carruagem nupcial". Julga-se que esse versículo seja o mais obscuro de Cantares, mas a sugestão espiritual de um súbito soerguimento espiritual ou de uma súbita experiência de luz e favor divinos é suficientemente evidente. Aqui, provavelmente, temos o clímax da indagação iniciada no verso 7 do capítulo anterior. Ó sulamita (13). A Septuaginta traduz "jovem de Suném". Nos nomes da Palestina algumas vezes há uma troca entre o "n" e o "l". Suném era um lugar que ficava nos declives da extremidade oriental do pequeno Hermom. Alguns pensam haver uma referência a Abisai como tipo de beleza, ou ao lar da noiva. Considerar isso como "filha da paz" parece preferível. As fileiras de dois exércitos (13). "Como sobre a dança de Maanaim", dizem algumas versões. Cf. Gn 32.2. Maanaim, uma fortaleza no norte de Gileade, por algum tempo foi capital de Is-Bosete. Talvez haja uma alusão à visão de Jacó. A Century Bible traduz: "uma dança de duas companhias", e Moffatt traduz: "a dança da espada". Stuart traduz: "o conflito de Maanaim", e considera que a significação de "o conflito de dois exércitos" como a luta entre a carne e o Espírito. Por


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 24 "dois exércitos" Durham entende "um excelente exército". Cheyne altera o texto para que leia: "um lírio dos vales". No todo, a tradução dada por esta versão é a preferível, e a suposta referência à "dança da espada", comum nos casamentos orientais, é improvável.

Cantares 7 f) O Amado a louva como uma filha de príncipe (7.1-9) Quão formosos (1). Cf. Is 52.7; Lc 15.22; Ef 6.15. As palavras sugerem a nobreza do novo nascimento e enriquecimento resultante de caráter. Voltas (1). A Cambridge Bible traduz: "tuas coxas arredondadas". O ponto alvejado, pois, pode ser uma comparação entre os movimentos graciosos e algum ornamento em forma de pêndulo. Mas, adotando certas versões, que dizem: "as juntas", em lugar de "as voltas", temos, mediante um ponto de vista alegórico, uma notável descrição sobre a unidade da Igreja produzida pelo Espírito Santo. Cf. Ef 4.16. Umbigo (2). A palavra assim traduzida usualmente significa a porção inferior do corpo. Stuart a traduz como: "fecho do cinto". Julgase que uma taça se torne mais bonita quando cheia de licor. Monte de trigo (2). Montes de trigo, decorados com flores, eram colocados em fileiras paralelas nas eiras orientais. A cor do trigo pensava-se ser a cor mais bonita que o corpo poderia ter. A referência, contudo, pode ser aos bordados do vestido. Cf. Sl 14.13-14. Torre de marfim (4). Decorada com marfim. Cf. Sl 45.8. As idéias sugeridas são liberdade e beleza. Viveiros (4). Esta versão segue de perto a Vulgata, mas não é sustentada pelo original hebraico. É melhor "tanques". Hesbom (4) era a antiga capital de Sião. Mais tarde pertenceu à tribo de Rúben, mas, nos dias de Isaías, estava nas mãos dos moabitas. Muitos reservatórios foram encontrados entre suas ruínas. A comparação parece apontar para a profundidade e à clareza. BeteArabim (4). Lit., "filha de multidões", indicando o número que passava por seus portões.


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 25 Torre do Líbano (4). Uma bem conhecida torre de vigia sem dúvida é referida aqui. A palavra nariz também pode significar rosto. Portanto, a descrição pode referir-se a uma feição corajosa. Carmelo (5). Parece melhor conservar o nome próprio do que traduzir "carmesim", como fazem algumas versões. Essa montanha fica situada no norte, e de longe é vista muito acima da paisagem circundante, em solitária grandeza, e é um apropriado símbolo de majestade. Cabelos (5). Os cabelos negros algumas vezes têm uma tonalidade azulada. Cf. 3.10 e segs. O rei está preso pelas suas tranças (5). Uma tradução alternativa diz: "um rei apanhado e seguro por teus cachos", e outra diz: "O rei está seguro nas traves". Quanto a "traves", cf. 1.17 e segs. A figura de um amante preso pelas tranças da amada é comum na poesia oriental, e se encontra até mesmo na literatura inglesa. Palmeira (7). Tamar, a palavra hebraica para palmeira, era um nome feminino comum, pois essa alta e graciosa árvore era considerada um tipo da beleza feminina. Mas também é um tipo da Igreja, ou do crente. Cf. Sl 92.12. Maçãs (8). A fragrância da maçã é altamente apreciada no oriente. O teu paladar (9). A referência é provavelmente à fala. O vinho reaviva o desmaiado. O evangelho proclamado pela Igreja revivifica os mortos e restaura os vivos. g) A sulamita o convida para acompanhá-la até o campo aberto (7.10-8.3) Saiamos ao campo (11). É reiniciada a linguagem pastoril, e a sulamita agora é quem fala. As palavras do pedido têm sido consideradas alegoricamente como a sugerir o desejo da Igreja em sair pelos caminhos e valados, a buscar os perdidos, negando-se a si mesma, em companhia do Filho do Homem, que veio para buscar e salvar o perdido. Mas, por enquanto ela não se esquecerá do desenvolvimento da graça dentro de


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 26 seu seio. Se o serviço tiver de ser sustentado e frutífero, deve ser acompanhado com a devida proporção de oração e auto-exame. Mandrágoras (13). Pertencem à família das batatas, e têm uma flor em forma de taça, de cor purpúrea. O fruto se parece com a ameixa, tem uma fragrância peculiar e segundo se suponha era remédio que evitava a esterilidade (cf. Gn 30.14 e segs.). Sua presença fixa o tempo como o mês de maio. As nossas portas (13). A alusão é à fruta guardada em prateleiras. Cf. Jo 15.8.

Cantares 8 Ah! quem me dera que foras meu irmão (8.1). Somente um irmão que tivesse a mesma mãe e um filho de um irmão do pai tinham o direito de beijar uma jovem entre os beduínos. Cf. Gn 29.11. O desejo expresso é um reconhecimento público do amor entre ambos. Na casa de minha mãe (2). Ela desejava trazê-lo para sua casa. Prestam bom serviço a Cristo aqueles que O apresentam aos seus parentes e voluntariamente O reconhecem em sua vida familiar. Tu me ensinarias (2). Melhor que "que me ensinaria". Mosto das minhas romãs (2). Refresco feito de suco de romãs é uma bebida popular no oriente. Sua mão esquerda (3). O desejo por comunhão íntima com o Amado, expresso neste versículo, parece cumprir-se no verso seguinte, em que a incumbência às filhas de Jerusalém ocorre novamente (ver 2.7; 3.5). Compare-se quão freqüentemente, nos salmos, a bênção espiritual desejada é apresentada como já realizada. V. A SULAMITA E O AMADO CONVERSAM - 8.4-14 a) Com o Amado a seu lado, a sulamita declara seu amor, fidelidade e resolução (8.4-12) Quem é esta...? (5). Perguntas são empregadas em Cantares para atrair a atenção e para apresentar algum quadro importante. Cf. 3.6. As


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 27 palavras relembram Israel. O amor sustenta e leva ao descanso. Também somos relembrados sobre a Igreja e sobre o crente. Da parte desses existe uma dependência e um progresso em direção ao céu. Te (5). No original, "te" e "tua" são masculinos, mas muitos comentaristas seguem o siríaco, o que torna essas palavras femininas. Alguns intérpretes alegóricos, seguindo certas versões, têm visto uma referência ao serviço prestado a Jesus, na cruz, de onde Seu corpo morto foi tirado, por discípulos secretos, e levado à sepultura. Talvez seja melhor, entretanto, considerar esses pronomes realmente como femininos. A descrição, nesse caso, apontaria para o lugar onde ela fora inspirada com amor. Põe-me... (6). Esse versículo pode ser considerado como uma das mais lindas descrições de amor que jamais foram escritas. Selo (6). Cf. Jr 22.24; Ag 2.23. O selo, usado no pescoço por um cordão, ou na forma de bracelete, era um símbolo de algo querido. A forma mais antiga, encontrada na Babilônia, era cilíndrica. O selo lembraria a ele ou a ela, mesmo quando ele estivesse ausente dela. Cf. Is 49.16. O amor é forte como a morte (6). A morte não pode dominá-lo, embora tão poderosa para conquistar e destruir. Não conseguiu derrubar o amor de Cristo e dos mártires. A vitória, no caso de cada crente legítimo, está com o amor, mas um amor sustentado por Cristo. Duro como a sepultura o ciúme (6). A sepultura devora tudo; semelhantemente o ciúme, que não tolera rival. A Igreja e o crente deveriam ter ciúmes da honra de Cristo. Ele tem ciúme por Seus próprios direitos. Brasas de fogo (6). Lit., "uma chama de Deus". Este é o único lugar onde o nome de Deus ocorre neste livro. Certamente a desprezariam (7). Não pode haver substituto para o amor. Somente o amor de Cristo pode satisfazer a alma. Tal amor atinge Seu povo mediante o sacrifício da cruz. E Ele não pode ficar satisfeito com nada menos que o amor deles, em retribuição. Temos uma irmã pequena (8). Alguns eruditos aceitam esta declaração como se relembrasse as palavras dos irmãos, nos dias


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 28 passados, referindo-se à própria sulamita. Os defensores da escola alegórica entendem-nas como uma alusão profética à Igreja gentia, que no tempo devido haveria de compartilhar de todos os privilégios que anteriormente tinham estado reservados aos judeus. Se ela for um muro (9). O muro e a porta, por alguns intérpretes são considerados como a significar a castidade e seu oposto. O significado, pois, seria que, se ela se mostrasse virtuosa eles lhe proveriam um matrimônio digno; doutra maneira, eles tomariam as maiores precauções. Os alegoristas, entretanto, compreendem que a referência diz respeito à aceitação, por parte da congregação judaica, a chamada de Deus aos gentios, edificando-os como um templo vivo e abrindo para eles a porta da fé. Eu sou um muro (10). Esta é uma declaração da própria sulamita, quanto ao seu caráter virtuoso e sua maturidade. Segundo o ponto de vista alegórico isso é visto como um reconhecimento, por parte da Igreja gentia, da bondade de Deus para com ela, preparando-a para a recepção do evangelho. Teve Salomão uma vinha (11). Se Salomão, aqui, é um tipo do Messias, a interpretação desta seção é vista como nas parábolas de Is 5.1 e segs. e Mc 12.1 e segs. Baal-Hamom (11). O lugar não tem sido identificado. Deve ter sido notório devido a sua fertilidade. Aglen traduz: "um vinhedo foi para Salomão como Senhor de uma multidão". Mil peças de prata (11). Aqui são referidos os siclos. Cf. Gn 20.16. Não era incomum que os vinhedos fossem alugados em porções. Cf. Is 7.23. Os alegoristas salientam que essa barganha não foi cumprida pela congregação judaica, e vêem no versículo seguinte a transferência do vinhedo para os gentios. A Igreja gentia, apesar de considerar isso como sua esfera de trabalho, também deve ter a devida consideração para com o fato que aquele é o vinhedo do Senhor. As palavras são uma


Cantares (Novo Comentário da Bíblia) 29 declaração de que, dali por diante, aquilo que interessa a Ele terá proeminência no serviço prestado por ela. b) O Amado, prestes a partir, solicita para ouvir a voz da sulamita (8.13) Tu que habitas nos jardins (13). Palavras essas proferidas pelo Amado. A oração a Cristo não deve ser restringida, enquanto a Igreja se ocupa no serviço entre os homens. c) A sulamita deseja que a volta do Amado se apresse (8.14) Os montes dos aromas (14). Essas palavras sugerem os lugares celestiais, onde Jesus está ocupado a interceder por nós, baseado em sua obra consumada na cruz. A oração deste versículo relembra as palavras que encerram o livro de Apocalipse: "Ora vem, Senhor Jesus". W. J. Cameron


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