Aurata - Elegia

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// salvador, 13 de junho de dois mil e quinze elegia, meu até então primeiro "disco" sobre o pseudônimo aurata, dialoga com o bairro em que nasci e vivo até hoje. ele é um poema sobre as ruas em que cresci, sobre as pessoas com quem convivo. é uma espécie de presente de mim para alguns de meus amados, tanto quanto puerpério. lembranças de infância, sabe? em atmosfera. é engraçado lidar com pequenas questões, pequenos detalhes de minha solitude infantil até os dias que seguem, que sucedem a percepção de meu processo. durante todo o tempo em que trabalhei nas faixas a seguir, pude perceber e ressignificar diversas coisas em mim, em minha vida, em tudo que me rodeia. uma espécie de trabalho de pesquisa e imersão em mim mesmo, em minha casa, em minha rua, minha família. uma não-resistência à certas coisas que anteriormente teimei em negar, ou tentar não ver. desde referenciais distantes à influências diretas. não sei bem, ainda me é nebuloso, eu já não tento entender. minha "elegia", como o próprio nome já diz, é um relicário, um retorno à fonte, à essa atmosfera que tenho buscado desde o começo do quer que seja meu fazer artístico. eu nunca soube muito bem o que dizer sobre o que faço, porque é uma extensão perfeita e direta de mim mesmo, é quase impossível para mim limitar qualquer limiar entre o que penso que sou, o que pensam que sou e o que devo ser de fato. juro, não entendo bem o que faço, mas percebo a relevância de fazê-lo, se não para os outros, mas para mim. além de tudo, elegia é um presente de mim para mim mesmo, da forma mais umbiguinho possível, sem me importar nenhum pouco com a recepção, apenas com a atmosfera que busquei criar, gerar, manter. um retrato das garrafas de vinho barato, dos cigarros mal apagados, das tardes de sol na rua direita aos fins de tarde de sol na rua direita, de subir a rua de minha casa com um suco de maracujá do travessa's. ofereço o disco a meu avô, o que não tive a oportunidade de conhecer, mas que inevitavelmente me influenciou como nenhum outro foi capaz até hoje. oferto a todos os meus amores, do mais novo ao mais velho, e a todos os que não ainda conheci. uma nova persona à cada percepção de si mesma; agradeço a chance, ramon gonçalves.


// produzido por ramon gonçalves. fotografias no projeto visual por: jade prado, joão cruz, joão ieroque, júlio mato grosso e ramon gonçalves. capa por ramon gonçalves.

agradecimentos a: cairo melo e ana cláudia, maicon charles, matheus patriarcha, pedro oliveira barbosa, andrea may e junix costa, juliana bestetti, edbrass brasil, joão ieroque, jade prado, joão cruz, felipe rezende, igor mendes, tiago sansou, théo charles, casedey pablo, bruno de moura, rodolfo leite, carlos eduardo alves, ciro mascarenhas, júlio mato grosso, onival ribeiro, ana amélia e luci mascarenhas,




"onde estarĂĄ vocĂŞ?" no meio da noite a pergunta invade o meu quarto meu pensamento de quase sonho tenho medo,

// plano inclinado do pilar





// rua dos carvões você vai dizer que eu não sei de nada eu bem sei ai de mim se baixar a cabeça ai de ti se eu bater de frente vai por mim vai doer,

ciro, rodolfo, cabeça abre aí vim te ver minha tia quanto tempo faz? deixa eu subir, vamos ver o mar lá de cima pôr do sol, lá de cima

// rua direita







te juro, poderia te cantar mas você encobriu a canção com a boca cheia de nada com a cabeça cheia de nada com o peito, meu peito cheio de mágoa como sempre não te vi passar por meu portão mas sei que veio que esteve aqui pra me provocar "sem querer" não pago pra ver acho até que te ouvi rir lá de trás, no meio de toda gente a vítima não sou eu, não me despeço

// rua dos perdões


// travessa dos perdões

em cima da mesa um santo enorme vela o sono de minha vó sete dias a chama laranja mal salpica o corredor

com pedras cristais o incenso de minha mãe me faz lembrar do mar me tem como rota me toca, invade o meu nariz

quase morri, eu quase morri só por vezes demais o assovio me diz é certo, minha tia chega herdou de meu avô o que eu não conheci o aviso, a chegada segredo de família até pra mim prelúdio, coral e fuga

eu sempre tive medo o chão, o assoalho manchou meus sete anos com marcas de sapato




// elegia (ou lua em oposição à vênus) respiro re expiro inspiro ambivalência o ar se condensa em argumentos não ditos maldita seja a saudade maldita seja a solidão mal digo o amor que sinto me faz querer morrer sempre é demasiado intenso eu não sei lidar com as pessoas nem com o mundo

muito menos com meu amor amar eu amo ou acredito amar mas temo pela postura conduta variável incógnitas em demasia reprimem a felicidade de se manifestar como disse antes eu não sei lidar não fico ou me sinto bem nem junto nem só nem nada não sei se tenho jeito mas acredito, ainda assim, que o caminho, reitero, o caminho está em mim

em me encontrar e me conectar comigo mesmo de novo de novo de novo e de novo faz tanto tempo que não me vejo que nem lembro mais nem minha cara nem meu sexo não sei de minha arte ou como devo prosseguir mas sei que devo procurar a mim me perdi não quero pensar em ego é tudo armadilha a armadilha está em mim também mas nessa devo me deixar pegar para entender quem sabe explicar não a quem pergunta mas a quem quiser se arriscar em meu amor








//ladeira do boqueirão

e o que vou fazer? o quer quer que eu faça porque não me quer? não adianta, vou subir a ladeira pedra por pedra, pé por pé, pra não te encontrar eu não quero falar tanto eu não quero falar tanto, mas eu não quero falar tanto mais








//baluarte

// carmo sigo atento tentando não antecipar mais nada nada faz o que quiser afasto tudo que afasta de mim a postura eu não vou lembrar mas nem apagar o que me foi dito só vou,

com o tempo você não vai mais lembrar de mim eu sei não vou passar de umas fotos eu te amo ainda que tudo isso tenha tomado conta nublado meu pensar sinto saudade todo santo dia desde quando eu acordo até quando eu vou deitar algo cá dentro ainda te espera sempre vai esperar





elegia

01. chegada (00:16) 02. Plano Inclinado do Pilar (04:58) 03. Rua dos Carvões (04:29) 04. Rua Direita (06:00) 05. Rua dos Ossos // Olívia (07:58) 06. O Espelho (00:48) 07. Rua dos Perdões (02:12) 08. Marchantes, nº 14 (05:05) 09. Travessa dos Perdões (07:12) 10. Elegia (Ou Lua em Oposição à Vênus) (02:07) 11. Quinze Mistérios (03:14) 12. Ladeira do Boqueirão (04:38) 13. Carmo (04:28) 14. Baluarte (07:52) 15. Largo de Santo Antônio (09:39)


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