TFG Henrique Fontana | 2018

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INTERVENÇÃO EM GALPÕES NO JAGUARÉ

de espaço abandonado ao lugar da educação, cultura e lazer



INTERVENÇÃO EM GALPÕES NO JAGUARÉ

de espaço abandonado ao lugar da educação, cultura e lazer Henrique Fontana Boeira da Silva Orientador: Oreste Bortolli Jr.


Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo 2018 Caderno impresso em papel alta alvura 120g, com capa em couché 300g.


Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP

INTERVENÇÃO EM GALPÕES NO JAGUARÉ de espaço abandonado ao lugar da educação, cultura e lazer

Banca examinadora Orientador Professor Doutor Oreste Bortolli Jr. Convidados Professora Doutora Helena Aparecida Ayoub Silva Professor Doutor Antonio Carlos Barossi

Henrique Fontana Boeira da Silva São Paulo, dezembro de 2018


AGRADECIMENTOS


À minha família, com muito carinho. À minha mãe, por ter me ensinado determinação, e sempre me apoiar e incentivar a ir mais longe e sempre se fazer presente. Ao meu pai, por todo o suporte, carinho e torcida. Ao meu irmão Rodolfo, por ser meu companheiro e melhor amigo. Obrigado por todo o amor e por acreditarem em mim. Ao meu amigo de longa data Luiz, por permanecer ao meu lado por tanto tempo. Aos meus queridos amigos Ana Luiza, Arthur, Matheus e Renan pela amizade e apoio. Obrigado a Irianna, Francesca, João, Agnes, e todas as outras pessoas fantásticas que a FAU me permitiu conhecer. À Louise, pela parceria certeira e duradoura desde o princípio. À Patrícia, por me entender tão bem e sempre querer o meu melhor. Obrigado pelas mudanças de paradigma, pelas melhores histórias, pelos conselhos, pelos incentivos e pela companhia, especialmente no fim desta etapa, em que a nostalgia falou tão alto. Uma ponte de bambu e linha nunca rendeu tanta coisa maravilhosa. À Júlia, pelas boas risadas e momentos partilhados. Ao Pedro, pelo jeito único e por ter facilitado tanto essa jornada. À Cibele, por me inspirar tanto e ter um dos maiores corações. Ao Lucas, pelos momentos de reflexões, por toda doçura e amizade. Obrigado por terem me acompanhado ao longo desta trajetória e termos construído memórias tão gostosas e amizades sinceras. Vocês foram importantíssimos. Encerrar este ciclo ao lado de quem sempre esteve comigo é muito gratificante. Não poderia deixar de agradecer aos meus companheiros de FAU-POLI Fernando, Fabiana, Vanessa, André e Marianna. Sem vocês este período teria sido infinitamente mais doloroso, então sou muito grato por toda a vivência, experiência, amizade e companheirismo. Agradeço às pessoas incríveis que foram minha família no intercâmbio e ajudaram a tornar dias cinzentos, chuvosos e tristes em verdadeiras alegrias. Agradeço especialmente à Jéssica Schaffner, Jéssica Bose e Íris, por se manterem presentes e cultivarem esta amizade. Aos que não estão mais aqui, mas que tiveram papéis fundamentais em meu caminho, meu muito obrigado. Tenho certeza que vocês estariam orgulhosos. Ao Renan, pelo carinho, companhia e força. Obrigado por acreditar tanto em mim e por ter sido tão presente mesmo estando tão longe. Ao meu orientador, Oreste Bortolli Jr., por sua atenção e interesse constante durante todo o processo. Aos professores da banca, por aceitarem o convite de avaliar meu trabalho. Por fim, agradeço a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para minha formação enquanto arquiteto e ser humano.


RESUMO Metrópoles como São Paulo possuem diversos espaços subutilizados ou simplesmente não utilizados pulverizados pela cidade. Muitos deles situam-se em localizações de interesse, como o centro ou outras regiões carentes de equipamentos públicos. Ao longo dos últimos anos, percebeu-se um movimento de retomada de diversos espaços pela população, seja de maneira efêmera, através de eventos pontuais, ou contínua, através de projetos de intervenção, reforçando seu potencial. Este trabalho constitui-se em um exercício projetual de intervenção em edifícios abandonados, especialmente galpões, para os quais é proposto um novo uso: um centro de educação, lazer e cultura, que irradie para o bairro e para a cidade. Conta-se o histórico do Jaguaré, onde está inserida a área de intervenção, e as transformações que a levaram ao estado atual, passando por uma importante peça neste processo: a Cooperativa Agrícola de Cotia. A ideia é propor a retomada de espaços abandonados e devolvê-los para a popupalção através de um projeto de mudança de uso, baseado nas necessidades verificadas, com foco e desenvolvimento da proposta de um Centro Cultural no galpão principal.

PALAVRAS-CHAVE: Intervenção; Abandonados; Galpões; Jaguaré; Cooperativa Agrícola de Cotia; Mudança de uso.


ABSTRACT Large cities like SĂŁo Paulo have several underutilized or simply unused spaces spread across the city. Many of them are located in areas of interest, such as the city center or other areas lacking public facilities. Over the last few years, there has been a movement of reclaiming of various spaces by the population, either in an ephemeral way, through punctual events, or in a continuous way, through intervention design proposals, reinforcing their potential. This work constitutes a design exercise of intervention in abandoned buildings, especially sheds, for which a new use is proposed: a center for education, leisure and culture that radiates to the neighborhood and to the city. It will be told the history of JaguarĂŠ, where the intervention area is inserted, and the transformations that have brought it to the present state, passing through an important piece in this process: the Cotia Agricultural Cooperative. The idea is to reclaim abandoned spaces and give them back to the popupaltion through a design proposal of change of use, based on the needs verified, with focus and development of the proposal of a Cultural Center in the main shed.

KEYWORDS: Intervention; Abandoned; Sheds; JaguarĂŠ; Cotia Agricultural Cooperative; Change of use.


SUMÁRIO


1. APRESENTAÇÃO

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4. REFERÊNCIAS DE PROJETO

47

HALLE PAJOL

50

PAVILLION DE L’ARSENAL

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2. JUSTIFICATIVA DO TEMA

11

SESC POMPEIA

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3. O SÍTIO

12

5. O PROJETO

60

BREVE HISTÓRICO DO JAGUARÉ

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PREMISSAS

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COOPERATIVA AGRÍCOLA DE COTIA - CAC

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ESTUDO DE ADEQUABILIDADE DE PROGRAMA

61

ÁREA DE INTERVENÇÃO

31

PROSPECÇÃO E REDESENHO

71

LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E ZONEAMENTO

43

O PROGRAMA

78

INTERVENÇÕES EM EDIFICAÇÕES EXISTENTES

45

PROJETO DE INTERVENÇÃO

81

CENTRO CULTURAL

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6. BIBLIOGRAFIA

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1. APRESENTAÇÃO O presente trabalho constitui-se em um exercício projetual de intervenção em edifícios abandonados, especialmente galpões, com uma mudança de uso, tomando por base um programa amplo e variado com a proposta de um centro cultural, esportivo e de lazer. O intuito é contar brevemente o histórico do Jaguaré, bairro no qual está inserida a área de intervenção escolhida, e as transformações que a levaram ao estado atual, bem como das edificações nele contidas, passando ainda por uma importante peça neste processo: a Cooperativa Agrícola de Cotia, que foi quem deu vida à maior parte dos edifícios que são objeto deste trabalho. Esse levantamento teórico serve para o entendimento da evolução do terreno e dos acontecimentos que o trouxeram à situação atual, e permeia os usos dados a estes espaços. Propõe-se então uma intervenção para todo o terreno escolhido, por meio de diretrizes de projeto, com foco e desenvolvimento da proposta de Centro Cultural para o galpão principal, antigo entreposto comercial e seção de ovos da CAC no Jaguaré.

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1. 1957 - Parte das instalações da Cooperativa Agrícola de Cotia no Centro Industrial do Jaguaré – Fonte: História da Cooperativa Agrícola de Cotia, (1957), p. 18-19

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2 e 3. Dekmantel Showcase, Setembro de 2017. Fonte: http:// monkeybuzz.com.br/artigos/24878/cobertura-dekmantel-showcasesao-paulo/.

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2. JUSTIFICATIVA DO TEMA O tema proposto surgiu de algumas motivações pessoais, relacionadas, em um primeiro momento, a uma identificação com movimentos de retomada dos espaços públicos pela população, dos quais são exemplos o Centro Aberto e o SP Na Rua. Em adição a isso, pode-se considerar que existem muitos espaços subutilizados ou simplesmente não utilizados espalhados pela cidade, alguns atingindo o estado de completo abandono. Muitos desses espaços estão situados em locais de interesse, como o centro, por exemplo, ou então em regiões carentes de equipamentos públicos esportivos ou culturais. A ideia então é propor a retomada de um espaço abandonado e devolvê-lo para a população através de uma mudança em seu uso, baseada nas necessidades verificadas. Ao cursar o Programa de Duplo Diploma FAUPOLI, questionamentos foram sendo feitos e ao mesmo tempo sanados com o conhecimento adquirido. A técnica complementa o processo criativo e amplia suas possibilidades, além de as fundamentar. O objeto deste trabalho é então reconhecido como fruto dos estudos desenvolvidos na Escola Politécnica e na FAU, que instigaram um tema que amalgamasse saberes da trajetória pessoal tanto na Engenharia Civil quanto na Arquitetura e Urbanismo.

O objetivo foi utilizar os saberes obtidos relacionados à gestão e planejamento de obras, concepção estrutural, técnicas construtivas, logística e execução de obras, em conjunto com a criação e desenvolvimento de um 1 partido de projeto arquitetônico, desde o início, passando por questões de cunho urbanístico, para que finalmente culminasse em um anteprojeto e diretrizes de projeto bem fundamentados e que refletissem o caminho percorrido ao longo da graduação.

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1. SP na Rua. Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/sp-na-rua_caos-otico_1508424907.jpeg 2. Centro Aberto - Largo São Bento. Fonte: https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/projetos-urbanos/centro-aberto/ 3. SP na Rua. Fonte: https://musicnonstop.uol.com.br/sp-na-rua-2017-enquanto-tem-gente-falando-que-a-noite-acabou-a-rua-mostrou-que-o-roleta-so-comecando/

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3. O SÍTIO BREVE HISTÓRICO DO JAGUARÉ GEOGRAFIA O Jaguaré é um distrito da Zona Oeste da cidade de São Paulo, com uma população de mais de 41.000 habitantes e IDH de 0,849 – acima do nacional, de 0,754. Está subordinado à subprefeitura da Lapa e faz divisa com os distritos de Alto de Pinheiros, Butantã, Rio Pequeno e Vila Leopoldina, bem como com o município de Osasco. O distrito contém os bairros Centro Industrial Jaguaré, Conjunto Butantã, Jaguaré, Parque Continental, Vila Graziela, Vila Jaguaré e Vila Lageado.

Mapa dos distritos do município de São Paulo destacando o recorte da área de estudo. Elaborado pelo autor com a base de distritos disponível em http://cesadweb.fau.usp.br/. Sem escala

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Recorte mostrando Distrito do JaguarĂŠ. Fonte: GeoSampa Sem escala

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Recorte mostrando Subprefeituras. Fonte: GeoSampa Sem escala

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DEMOGRAFIA

Recorte mostrando Densidade Demogrรกfica. Fonte: GeoSampa Sem Escala

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Recorte mostrando Densidade Demogrรกfica. Fonte: GeoSampa Sem escala

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INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES

Recorte mostrando oferta de transportes. Fonte: GeoSampa Sem escala

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USO E OCUPAÇÃO DO SOLO O bairro possui basicamente usos industrial e residencial atualmente, sendo estes divididos em subcategorias de acordo com a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo vigente.

Fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2016/03/Lapa.pdf

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HIDROGRAFIA No bairro está localizado o Córrego Jaguaré, que define a Bacia Hidrográfica homônima. O Córrego tem nascente localizada próxima da divisão de São Paulo com Taboão da Serra, desembocando no Rio Pinheiros por baixo da Avenida Escola Politécnica.

Bacia do Córrego Jaguaré e Subprefeituras. Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/ obras/upload/arquivos/jaguare.pdf

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Bacia Hidrográfica do Córrego Jaguaré e Subprefeituras. Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/ secretarias/obras/upload/arquivos/jaguare.pdf

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Hidrografia Principal da Bacia do Córrego Jaguaré. Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/obras/upload/arquivos/jaguare.pdf


Hidrografia Principal da Bacia do Córrego Jaguaré. Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/obras/upload/arquivos/jaguare.pdf

Hidrografia Principal da Bacia do Córrego Jaguaré. Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/obras/upload/arquivos/jaguare.pdf

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O DISTRITO INDUSTRIAL DO JAGUARÉ

Antiga Ponte do Jaguaré em 1940 e o Rio Pinheiros canalizado até ela

A história do distrito remonta às primeiras décadas do século XX, quando a cidade começou a sofrer uma explosão demográfica e um crescimento de seu parque industrial. Os arredores do distrito, ocupados por imigrantes europeus, eram constituídos de fazendas, sítios e chácaras, em meados da década de 20. A área do Jaguaré propriamente dita era ocupada por uma fazenda da Companhia Suburbana Paulista, fundada por Ramos de Azevedo, e só viria a se tornar o distrito no ano de 1935, quando foi projetado e construído pelo engenheiro Henrique Dumont Villares, proprietário da Sociedade Imobiliária Jaguaré. O empresário dividiu a região em áreas residenciais, comerciais e industriais, incentivando a sua ocupação, que, porém, só foi consolidada após a construção da ponte do Jaguaré, que determinou ligações importantes entre os bairros separados pelo Rio Pinheiros, como Vila Leopoldina e Lapa.

Diversas fábricas se instalaram na região nas décadas seguintes, e o distrito se tornou um dos mais industrializados da cidade. Em 1968 contava com 82 indústrias, sendo que muitas delas exerciam apenas a função de depósito. Metade das serrarias existentes tinham esta função e também os galpões da Cooperativa Agrícola de Cotia – CAC, que em verdade era um enorme depósito e entreposto comercial. Cerca de 26% do total dos estabelecimentos eram apenas depósitos. (ARIZONO et al., 1974)

“O espaço urbano, embora previamente organizado, teve uma ocupação caótica. As avenidas Jaguaré e Presidente Altino foram os primeiros centros irradiadores da população” (ARIZONO et al., 1974, p. 27) Anúncio publicado no jornal Correio Paulistano em 26/02/1939

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I II III IV V VI VII VII

Ramo Industrial Nº de Estabelecimentos Mecânica e metalúrgica 11 Materiais de construção 8 Serrarias 20 Ind. alimentícias 8 Ind. Têxteis 2 Ind. Químicas 7 Ind. de Papel e Papelão 3 Ind. Eletrônicas 2

Quantidade por tipologia de estabelecimentos presentes no Jaguaré em 1974. Fonte: ARIZONO et al., 1974, p. 22


Dentre os muitos depósitos localizados no Jaguaré foram notórios os da CAC, que possuía diversos terrenos pela região, e cuja atividade relacionava-se à agricultura, com sede no bairro de Pinheiros.

“Para a distribuição, a batata é selecionada de acôrdo [sic] com os padrões estabelecidos pela Sociedade [CAC], em cujos armazéns é recebida, padronizada e classificada. Isso facilita a rapidez da distribuição, mesmo quando se trate de grandes partidas. (HISTÓRIA..., 1957 p. 23) Na década de 1970 também se instalaram na região outras importantes indústrias alimentícias, como Antárctica, Sambra, Moinho Água Branca, entre outras. A instalação do CEAGESP (antigo CEASA) do outro lado do Rio Pinheiros acabou aproximando ainda mais as duas margens em termos econômicos, pelo ramo alimentício. Essa pujança não ficou imune aos efeitos da recessão econômica da década de 1980, a qual fez com que muitas empresas fechassem as portas ou deixassem a região. Henrique Dumont também doou à prefeitura uma área que deveria ter sido destinada ao lazer, mas que nunca Planta do Centro Industrial do Jaguaré. Fonte: Acrópole Nº 93, janeiro de 1946.

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o foi de fato. Em seu lugar instalou-se entre 1960 e 1970, devido ao aumento da migração para a cidade, a favela Vila Nova Jaguaré, uma das maiores em área contínua do município de São Paulo, com mais de 12 mil habitantes. Em 1974 contava com mais de 370 famílias. (ARIZONO et al., 1974) A palavra Jaguaré vem do tupi e significa “lugar onde existem onças”, e também tem relação com um córrego da região, que nascia em Osasco e seguia para desaguar no Rio Pinheiros. Em seu ponto mais alto está um dos símbolos do distrito, um mirante de 28 metros de altura conhecido como Farol do Jaguaré. Inaugurado em 1943, constitui-se em um ponto de referência para os moradores e aqueles que conhecem a região. O Jaguaré conseguiu manter sua relevância no cenário industrial, mesmo com todos os problemas enfrentados desde sua criação, contando nos anos 2000 com mais de 150 indústrias, respondendo por mais de 8500 empregos diretos.

Mirante do Jaguaré em 1943. Fonte: www.saopauloantiga.com.br/mirantedojaguare

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“Mais tarde, a presença do CEASA e o afastamento das Avenidas foram responsáveis por uma enorme valorização dos terrenos e um surto de edificações residenciais e comerciais.” (ARIZONO et al., 1974, p. 29)

Verificou-se um crescimento do setor terciário registrado pela inauguração do Shopping Continental em 1975, e nos últimos anos ocorreram investimentos do setor imobiliário na região, o que vem, aos poucos, descaracterizando o distrito, que vem deixando de ser predominantemente industrial e se tornando de uso residencial. Nota-se, ademais, uma verticalização da região, pois os bairros eram majoritariamente formados por casas térreas e sobrados. Esses fatores evidenciam a sujeição do distrito a uma crescente especulação imobiliária, facilitada pela presença de grandes terrenos de empresas já falidas ou desativadas.

“As possibilidades de diversão são poucas. Não há sequer cinema. Convém destacar o Serviço Assistencial do Sesi, que dispõe de praça de esportes, utilizados [sic] pelos numerosos clubes de futebol, que não tem [sic] campo nem sede.” (ARIZONO et al., 1974, p. 30) Este trecho evidencia que a falta de equipamentos culturais, de esporte e lazer não é um fato atual, mas sim um problema antigo da região do Jaguaré.


COOPERATIVA AGRÍCOLA DE COTIA - CAC CRIAÇÃO

IMPORTÂNCIA E AUGE

Em 1923 o poder público construiu diversas estradas nas imediações do município de São Paulo, à margem das quais se desenvolveram prósperas culturas. A produção de batata aumentou consideravelmente e o mercado de Pinheiros não conseguia mais absorvê-la, o que culminou em uma exploração dos produtores por parte dos comerciantes, com alguns inclusive abandonando o cultivo. Timidamente, a organização de bataticultores teve seu início oficial em abril de 1927, a partir de um movimento cooperativista de 83 lavradores japoneses, moradores de Moinho Velho, no município de Cotia, impulsionados pela necessidade de estocagem da volumosa produção agrícola e também de uma maior força competitiva e independência no mercado.

A CAC foi pioneira no que se refere ao cooperativismo agrícola no Brasil, devido ao entusiasmo que pairava sobre os primeiros imigrantes japoneses instalados no país. Seu nome inicial era “Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada dos Produtores de Batata em Cotia S/A”, e seu primeiro presidente escolhido foi Kenkiti Simomoto, que foi quem trouxe as ideias e o modelo cooperativista do Japão em uma visita a sua terra natal, e posteriormente as implantou na Aldeia de Cotia. Quando da criação da CAC, em 1927, não havia legislação específica sobre cooperativas, de modo que a organização foi chamada de “Sociedade Anônima”. Apenas em 1932 foi promulgada a primeira lei sobre o cooperativismo no Brasil. No mesmo ano, em Assembleia Geral, os estatutos da entidade foram reformados, alterando a sua denominação para Cooperativa Agrícola de Cotia e a enquadrando na nova lei. (HISTÓRIA..., 1957 p. 8) A circunstância de alguns elementos vinculados à Sociedade terem hipotecado suas propriedades a fim de proporcionar à organização meios para enfrentar eventuais crises diz bem da obstinação com que se perseguia o objetivo: a defesa da produção, a própria subsistência e a

“Em poucas palavras, o vertiginoso progresso da capital e do Estado de São Paulo na primeira metade dêste [sic] século [XX] condicionou o nascimento e o crescimento rápido e extraordinário da CAC.” (ANDO, 1961, p. 11)

Instalações da Cooperativa Agrícola de Cotia no Jaguaré. Revista Coopercotia - Janeiro de 1971, pág. 22.

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correção de desvantagens sociais e econômicas através de verdadeira fraternização, pois o cooperativismo procura, acima de tudo, o bem-estar do indivíduo, da família e da pátria. (HISTÓRIA..., 1957 p. 9) Também alterou a sua área de jurisdição para “o município de São Paulo e municípios vizinhos”, além de retirar de seu nome os termos “produtores de batata”, a fim de permitir que produtores de outros tipos de alimentos e advindos de outras localidades pudessem fazer parte do quadro de cooperados. Desta maneira, em 1938, contava com 1507 sócios, em contraposição aos 83 de quando foi fundada. (ANDO, 1961) Incorporou então outros produtores e estendeu sua área de atuação para 18 municípios ao redor da capital, agregando, ademais, diversos produtos, com destaque para dois: ovos e tomates. Com o crescimento das suas atividades, construiu, ao lado de seu depósito em Pinheiros, no Largo da Batata, um sobrado de 700 metros quadrados, que serviria de sede para a CAC em São Paulo. Este edifício foi simbólico para os cooperados, representando o êxito de trabalhadores imigrantes explorados, os quais individualmente não possuíam força, mas conseguiram alcançar um patamar de poder devido à união, materializada na organização Sede da Cooperativa Agrícola de Cotia no bairro de Pinheiros, São Paulo, década de 1930. Fonte: Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil. (TANIGUTI, 2015, p. 64)

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chamada cooperativa. (ANDO, 1961) Após a crise de 1929, a CAC entrou em fase de desenvolvimento e conseguiu estabilizar a sua estrutura, aumentando seu poder, o que gerou um movimento restritivo por parte dos compradores. Em face disso, a Cooperativa planejou seu próprio serviço de distribuição, direta, sem intermediários. Em adição ao momento próspero, a organização buscou diversificar ainda mais sua produção, a fim de não basear sua estabilidade somente em um tipo de produto, com especial destaque para a horticultura e a avicultura. “Era o início do hoje chamado Cinturão Verde” (HISTÓRIA..., 1957 p. 10). Foram organizadas então seções de aves e ovos, para permitir o sucesso do empreendimento, que só se viria em conjunto e não individualmente.

Primeiras instalações da CAC em Pinheiros. Imagem extraída de HISTÓRIA da Cooperativa Agrícola de Cotia (1957), p. 17

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1927 1928 1929 1930 1931 1932 1933 1934 1935 1936 1937 1938

Número de associados 83 110 210 224 241 242 371 561 932 1.181 1.303 1.507

Quotas partes 2.900 3.071 3.612 3.470 3.488 3.489 3.485 3.670 4.069 6.450 10.294 13.936

Crescimento da CAC em seus 10 primeiros anos de existência. Fonte: ANDO, 1961, p. 87

Batata ...................... 659 Horticultura .............. 574 Algodão ................... 24 Arroz ....................... 12 Diversos .................. 182 Produção da CAC em 1961. Fonte: ANDO, 1961, p. 88

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Com o intuito de amenizar as adversidades da vida rural, a CAC implantou e desenvolveu serviços de compras, de crédito, de transporte, assistência médica, engenharia, mecânica, beneficiamento, fábrica de adubos e rações balanceadas, granjas reprodutoras, incubação, estação experimental, mecanização agrícola, carpintaria, serralheria, escolas, clube esportivo, cinema e muitos outros serviços de interesse social. (HISTÓRIA..., 1957 p. 11) Como o quadro social da CAC apenas aumentou desde o início da Segunda Guerra Mundial, alcançando 3 mil cooperados em meados de 1940, surgiu a necessidade de ampliar seus terrenos e instalações. Foram então adquiridos depósitos em Mogi das Cruzes, Vargem Grande, Campinas, Pindamonhangaba, Suzano, Santos, entre outras localidades, e também em outras regiões de São Paulo, com destaque para o Jaguaré. Em 1957 o número de depósitos regionais atingia 44 unidades, dispostas em centros de maior densidade demográfica de associados. A ideia era que estes tivessem acesso, em escala proporcional, a todos os serviços da sede no depósito mais próximo a sua localidade. (HISTÓRIA..., 1957 p. 15) No Jaguaré, compraram, entre 1940 e 1947, diversos terrenos, totalizando mais de 130.000 m2, destes sendo mais de 40% construídos. (ARIZONO et al., 1974, p. 24)

1956 1957 1958 1959 1960

Número total de cooperados 4964 5165 5846 6881 7342

Cooperados presentes 1338 2867 2221 2984 3926

Porcentagem da presença 26,9 55,5 37,9 43,3 53,35

Participação dos associados na administração da Cooperativa e presença de cooperados nas assembleias gerais ordinárias, de 1956 a 1960. Fonte: SAITO, (1964), p.72

Assembleia de Cooperados onde foi eleito o Conselho Fiscal para 1964/65. Revista Coopercotia - Janeiro de 1971, pág. 24.


“Funcionava no Jaguaré em 1963: Depósito, de produtos agrícolas, depósitos de rações e adubos, marcenaria que fabrica caixotes para embalagem e também móveis para atender às necessidades dos cooperadores, um laboratório para análise de solos, e máquinas selecionadoras de batatas, misturadores de ração, etc.” (ARIZONO et al., 1974, p. 24-25) Este panorama também permitiu uma ampliação dos serviços internos da CAC. Em 1944 foi criado o Departamento de Engenharia, a fim de que a própria organização realizasse suas obras de construção e engenharia. “Entre as obras, a de maiores dimensões é a fábrica de adubos e rações de Jaquaré cuja construção foi iniciada em 1947. A primeira fase da obra, de 3800 metros quadrados foi inaugurada em 1950, e a segunda fase, de igual área, em 1953. A fábrica de rações ali construída é a maior da América do Sul.” (ANDO, 1961, p. 107)

1957 - Parte das instalações da Cooperativa Agrícola de Cotia no Centro Industrial do Jaguaré – Fonte: História da Cooperativa Agrícola de Cotia, (1957), p. 18-19

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Quantidade Batata Ovos Tomate Café Arroz Chá

sc dz cx sc sc kg

1.571.368 12.289.667 1.465.197 75.530 60.309 664.900

Importância (em milhares de cruzeiros) 1.130.659 668.865 478.585 152.447 93.357 69.215

Principais produtos de cooperados da CAC entre 1959 e 1960. Fonte: SAITO, (1964), p.74

Revista Coopercotia - Janeiro de 1971, pág. 23.

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O crescimento da CAC foi expressivo e em 1973, já expandia suas atividades com cooperados em outros estados como Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, explorando o cerrado brasileiro, atingindo, na década de 1980, mais de 14 mil cooperados.

DECLÍNIO Na década de 1980 a organização, que chegou a figurar entre as maiores empresas do Brasil, enfrentou grave crise financeira, mergulhando em expressiva dívida, originadas em meados da década anterior. Tentou se salvar por meio de empréstimos, principalmente do Banco Nacional de Crédito Cooperativo – BNCC. Entretanto, o crescente endividamento, somado a uma falta de incentivo público à agricultura, foram responsáveis por sua derrocada, acumulando déficit que se aproximava da casa dos 800 milhões de dólares. Após muitas turbulências na diretoria e presidência, realizou-se então, em 30 de setembro de 1994, com a participação de cerca de 150 pessoas, uma assembleia final, na qual foi votado o encerramento das atividades da quase septuagenária Cooperativa. (TANIGUTI, 2015, p. 288) Nos anos seguintes houve um progressivo desmonte dos bens da cooperativa para fazer frente ao seu estrondoso passivo, Iniciando-se o processo de leilão de seus ativos no ano de 2003.


ÁREA DE INTERVENÇÃO O terreno escolhido para intervenção projetual servia de entreposto comercial e armazém da CAC, e compunha parte de suas instalações no Jaguaré. Passou por diversas modificações ao longo do tempo, com a construção de um edifício comercial que destoava da linguagem de galpões dos demais, e que abrigou instalações a Editora Globo por alguns anos, até mudar-se majoritariamente para a Avenida 9 de Julho em 2015. Os proprietários, sem sucesso, tentaram alugá-lo novamente para fins comerciais. Até 2017 algumas instalações eram alugadas para receber eventos, como festivais de música eletrônica e outros eventos.

ÁREA DE INTERVENÇÃO

31 0

100

200

500


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3

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O restante do terreno acabou ficando subutilizado, servindo de estacionamento e garagens de manutenção para ônibus fretados, ou mesmo inutilizado. Esta situação mudou no início de 2018 quando o estacionamento lá instalado encerrou suas atividades, relegando os edifícios ao abandono. A condição de abandono permite que as edificações estejam mais suscetíveis aos fatores pelos quais se deterioram, como condições naturais, de uso, culturais, técnicas, vibrações devidas ao tráfego, alto custo de manutenção, intervenções clandestinas, etc. (KUTTER, 1999, p. 8) Devido a grande cobertura de áreas pavimentadas, a taxa de impermeabilidade do solo já está no nível máximo admitido (75100), prevendo-se então também uma melhoria desta condição.

Esquerda: 1 e 4. LEEDS - A Conexão. Março de 2017. Fonte: https://sala28.com/leeds-1; 2. Skol Beats Tower, Agosto de 2017. Fonte: http://beatforbeat.com.br/site/skol-beatstower-review/; 3. Dekmantel Showcase, Setembro de 2017. Fonte: http://monkeybuzz. com.br/artigos/24878/cobertura-dekmantel-showcase-sao-paulo/. Direita: 5, 7 e 8. 2º X-Treme Low Brasil. Junho de 2017. Fonte: https://www.xtremelow. com.br/vencedores2edicao; 6. Anúncio de antiga sede da Editora Globo no Jaguaré em site de imobiliária. Fonte: https://www.jorgesimoveis.com.br/edifcio-editora-globo

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4

8


EVOLUÇÃO DO ENTORNO

Mapeamento 1930 - Sara. Fonte: GeoSampa

Fotografias aéreas 1958. Fonte: GeoPortal

Ortofoto 2004. Fonte: MDC.

Mapeamento 1954 – Vasp Cruzeiro Nesta imagem é possível notar linhas férreas menores que faziam ligação de indústrias e armazéns com as linhas principais. Fonte: GeoSampa

Publicação 1988 - Vegetação. Fonte: GeoSampa.

Imagem de satélite 2018. Fonte: Google.

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VILA NOVA JAGUARÉ

ESTAÇÃO CPTM

ÁREA DE INTERVENÇÃO

SUBESTAÇÃO DE ENERGIA

CEU JAGUARÉ

PARQUE VILLA LOBOS

UNIP ANTIGA SEDE DA CAC JAGUARÉ

34 USP 0

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200

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O terreno possui 56.578,00 m2 de área sendo 40.293,66 m2 construídos, distribuídos entre 7 edificações claramente destacadas das demais e um grande aglomerado de galpões que foram sucessivamente construídos e acoplados entre si, além de uma estrutura de caixa d’água.

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27

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56.578,00 m2

Material produzido pelo autor com base em imagens do Google

35 0

50

100

300

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Percebe-se então a grande mudança de uso no tempo do terreno e das edificações nele contidas, passando por entreposto comercial, até o encerramento das atividades da CAC, à subutilização como estacionamento e atual abandono. Sabe-se que houve a intenção de construir um shopping center no terreno, mas devido à falta de interesse comercial, o projeto não vingou e as edificações encontram-se muito deterioradas, algumas inclusive em início de processo de demolição.

Planta de Situação do terreno com antigos usos. Levantamento para regularização recente. Sem escala. Fonte: https://www.jorgesimoveis. com.br/edifcio-editora-globo

Quadro de áreas do empreendimento. Fonte: https://www.jorgesimoveis. com.br/edifcio-editora-globo

Esquerda: Fotografias produzidas pelo autor. Abril de 2018


EQUIPAMENTOS Os mapas abaixo evidenciam uma baixa concentração de equipamentos culturais e de educação no Jaguaré, em comparação a outros distritos da SubPrefeitura da Lapa.

Fonte: http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br

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LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO LADO A Avenida Jaguaré

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Material produzido pelo autor com base em imagens do Google

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LEVANTAMENTO FOTOGRĂ FICO

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LADO B Avenida Torres de Oliveira

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Material produzido pelo autor com base em imagens do Google

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LEVANTAMENTO FOTOGRĂ FICO LADO C Avenida General Vidal

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Material produzido pelo autor com base em imagens do Google

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LEVANTAMENTO FOTOGRĂ FICO

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LADO D Avenida Torres de Oliveira

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Material produzido pelo autor com base em imagens do Google

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LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO IMAGENS AÉREAS Entorno Imediato

ÁREA DE INTERVENÇÃO

Fonte: Google Earth 2018.

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LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E ZONEAMENTO O terreno escolhido encontra-se em uma área de zoneamento ZDE-2 (Zona de Desenvolvimento Econômico 2 = Áreas que apresentam atividades produtivas de grande porte e vocação para a instalação de novas atividades produtivas de alta intensidade de conhecimento e tecnologia, além de usos residenciais e comerciais), que é considerado um território de qualificação, conformo disposto na Lei Municipal nº 16.402, de 22 de março de 2016. Segundo o Plano Diretor Estratégico, esses tipos de zonas constituem-se em “porções do território com predominância de uso industrial, destinadas à manutenção, incentivo e modernização desses usos, às atividades produtivas de alta intensidade em conhecimento e tecnologia e aos centros de pesquisa aplicada e desenvolvimento tecnológico, entre outras atividades econômicas onde não deverão ser permitidos os empreendimentos imobiliários para uso residencial. Essa é uma nova zona que foi proposta pelo PDE, com o objetivo de viabilizar polos produtivos relacionados à indústria de alta tecnologia. Tal zona foi demarcada não só em territórios com grandes lotes e quadras, mas também em territórios de urbanização consolidada em que existe atividade industrial integrada aos bairros. Para manter o vigor das atividades produtivas e também os usos

residenciais existentes (de modo a aproximar emprego da moradia), os usos mistos serão admitidos nestes territórios” Analisando o disposto no PDE, pode-se conferir

parâmetros permitidos e verificar se não há interferências com o que será proposto e também incorporar diretrizes ao projeto.

ÁREA DE INTERVENÇÃO

0 0,25 0,75

1,5km Uso e Ocupação do Solo - Recorte. Material produzido pelo autor com base em mapas disponíveis no portal GeoSampa.

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Esquerda: Quadro 3 referente à Lei Municipal Nº 16.402 - Parâmetros De Ocupação, Exceto De Quota Ambiental. Direita: Quadro 4 referente à Lei Municipal Nº 16.402 - Parâmetros De Ocupação, Exceto De Quota Ambiental. Fonte: GestãoUrbanaSP.

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INTERVENÇÕES EM EDIFICAÇÕES EXISTENTES

“Ainda não encontramos nos dicionários brasileiros da língua portuguesa o galicismo RECONVERSÃO, que tem, em francês, o significado mais amplo de uma reciclagem com adaptação a novas condições de uso. Fora do Brasil, na América ou na Europa, tratar de projetos arquitetônicos de reconversão é, para os arquitetos, inevitável. No nosso país, porém, vivemos ainda a obsessão da arquitetura pelo ‘exnovo’: para a maior parte dos arquitetos brasileiros a arquitetura nasce, parte e se inicia em terreno livre e desimpedido.” (FAGGIN, 1994, p. 57) Para intervir em edificações existentes, podem ser adotados variados métodos, como a restauração, a reabilitação, ou então a reciclagem. Todos estes dizem respeito à conservação, mas são diferentes em sua conceituação. (SALCEDO, 2007) É preciso esclarecer as terminologias para identificar o tipo de intervenção a ser realizada:

Intervenção: Qualquer tipo de atuação específica em um edifício. Constitui uma atividade técnica previamente normalizada.

Reabilitação: Intervenção em um bem ou conjunto patrimonial protegido total ou parcialmente, caso não seja possível nem conveniente seu restauro. Inclui um conjunto de intervenções específicas de adequação e renovação com o objetivo de recuperar as características arquitetônicas globais e suas condições de estabilidade, uso e habitabilidade. Reciclagem: Revitalização e/ou transformação de componentes espaço-funcionais, através da realização de uma intervenção física, para um novo ciclo de vida útil. Restauração: Intervenção em um bem patrimonial protegido, que permite devolver seus elementos constitutivos ao estado original. Revitalização: Conjunto de medidas que visam a criar nova vitalidade, a dar novo grau de eficiência a um edifício ou conjunto urbanístico. (KUTTER, 1999, p. XII) Como os edifícios escolhidos não são bens tombados em nenhuma esfera, não se trata de uma

reabilitação, mas sim de uma reciclagem, que é quando se dá adapta o edifício a um uso diferente do original, através de transformações de seus elementos. (SALCEDO, 2007) Todavia, preferiu-se adotar o termo “intervenção”, pois é o vocábulo de significado mais amplo e que faz referência aos projetos estudados que mais motivaram as decisões tomadas. Apesar de não se tratar exatamente de um projeto de restauração, é preciso observar a situação atual da discussão sobre este assunto, além dos documentos históricos que ajudaram a construir as teorias vigentes. Seguindo o preconizado por uma das vertentes da teoria de Restauração, leva-se em conta três princípios fundamentais:

- Distinguibilidade: pois a restauração (que é vinculada às ciências históricas) não propõe o tempo como reversível e não pode induzir o observador ao engano de confundir a intervenção ou eventuais acréscimos com o que existia anteriormente, além de dever documentar a si própria. - Reversibilidade: pois a restauração não deve impedir, tem, antes, de facilitar qualquer intervenção futura; portanto, não pode alterar a obra em sua

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substância, devendo-se inserir com propriedade e de modo respeitoso em relação ao pré-existente. - Mínima intervenção: pois a restauração não pode desnaturar o documento histórico nem a obra como imagem figurada. (KÜHL, 2005, p. 59) Não se deve, também, concretizar um processo de perda de identidade do bairro, devido às mudanças que sofreu ao longo de sua história. (KUTTER, 1999, p. 7) Desta maneira, o projeto de intervenção não deve permitir uma total descaracterização do passado e presente industrial do bairro do Jaguaré, nem abrir mão da configuração arquitetônica dos edifícios que são instrumento de estudo.

O fato de a Carta [de Veneza] preconizar o respeito pelas várias fases e pela configuração da obra não significa que o bem não possa ser alterado ou que remoções não possam ser feitas. Ao contrário, a restauração implica, de fato, transformações, [...], e exige esforço de interpretação caso a caso. Interpretação que tem por objetivo indagar de modo meticuloso o edifício em seus aspectos materiais, formais e históricos para restaurá-lo, respeitando seus elementos caracterizadores. Por

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vezes a restauração pode comportar transformações significativas, mas é a análise do edifício que vai determinar os parâmetros dentro dos quais é lícito fazê-las. Ademais, a avaliação visa também fazer com que os usos propostos sejam compatíveis com as características da edificação, e não que ela seja adulterada para receber um novo uso que não permite que suas particularidades sejam respeitadas. (KÜHL, 2005, p. 31) Com a verificação de uma necessidade, que não é recente, propõe-se a criação de um novo programa de ocupação, que leva em conta aspectos sociais, históricos e técnicos, passando por explorações de possibilidades estéticas que forneçam uma opção de educação, cultura e lazer para os moradores da região, não apenas reformando espaços para que se tornem meros objetos de observação de transeuntes e curiosos.

Para realizar essas obras de conservação, os edifícios ‘salvos’ do desaparecimento são condenados a usos passivos ou neutros. Esses usos transformam os objetos arquitetônicos em grandiosas naturezas

mortas cuja única função passa ser então a de serem pateticamente observados por uns poucos interessados e curiosos. São os sempre crescentes museus, no sentido paquidérmico desse termo. Hoje em dia até mesmo os museus têm procurado desvencilhar-se dessa semelhança com observatórios passivos e procurado incorporar atividades dinâmicas sem as quais, já se percebeu, os museus permaneceriam vazios para sempre. (FAGGIN, 1994, p. 57) Portanto, para a elaboração de um programa de necessidades atrelado às condições físicas do objeto, é preciso pensar e desenvolver usos dinâmicos e variados, e também observar alguns critérios básicos, como a influência da intervenção no entorno e também no futuro da edificação, bem como a adequabilidade dos espaços existentes ao programa proposto, e todas as possibilidades de sua implantação na reutilização. (KUTTER, 1999 , p. 163) Tudo o que foi discutido influencia as premissas de projeto, que envolvem a elaboração de um quadro de necessidades, baseado no que a região carece, e, utilizando o potencial do terreno e das edificações, do entorno e da oferta de transportes, culminar em uma intervenção que reflita sobre as condições físicas existentes e o processo histórico pelo qual a área passou.


4. REFERÊNCIAS DE PROJETO As referências relacionadas a seguir abordam temas de interesse ao projeto proposto, e não exatamente foram selecionadas por uma semelhança de programa. Os principais temas são: projetos de reabilitação de edificações abandonadas, tombadas em alguma esfera (municipal, estadual ou federal) ou não, executados ou não; edificações abandonadas que passaram por uma perda ou mudança de uso ao longo do tempo e que têm sido palcos do processo de retomada destes espaços pela população. Também estão listadas referências que guiaram as decisões de programa de necessidades. Dentro deste conjunto de referências de projeto, serão expandidas 3 principais para o desenvolvimento deste trabalho.

Halle Pajol Jourda Architectes Paris 2013

Teatro Oficina Lina Bo Bardi/Edson Elito São Paulo 1994

Pavillon de l’Arsenal Reichen et Robert & Associés Paris 1988

Solar do Unhão Lina Bo Bardi Salvador 1963

SESC Pompeia Lina Bo Bardi São Paulo 1982

Tate Modern Herzog & de Meuron Londres 2000

Residência de Maria Luíza Corrêa Maria Luíza Corrêa São Paulo 2002

Hays Galleria Twigg Brown Architects Londres 1987

Palais de Tokyo Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal Paris 2002 e 2012

Cine Joia Marcos Paulo Caldeira São Paulo 2011

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Casa das Caldeiras Marcos Carrilho e Victor Hugo Mori São Paulo 1999 Mirante 9 de Julho MM18 Arquitetura São Paulo 2015 Moinho Matarazzo São Paulo Fabriketa (Fábrica do Brás/ Fábrica Abandonada) (Espaço abandonado hoje abriga diversos eventos) São Paulo Vila dos Galpões São Paulo Reformas em 1960 Nos Trilhos (Local de restauração de trens que abriga diversos eventos) São Paulo

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Galpão Gamboa Rio de Janeiro 2006 “Funilaria do Armênia” São Paulo Warehouse São Paulo MOSI – Museum of Science and Industry Manchester 1983 Gasômetro Porto Alegre 3C Arquitetura + Kiefer Arquitetos Porto Alegre Em obras Gasômetro São Paulo Pedro Mendes da Rocha São Paulo Obras interrompidas

High Line Park James Corner Field Operations, Diller Scofidio + Renfro e Piet Oudolf Nova York 2010 Escritório da Companhia Melhoramentos (Retrofit) Studio Guilherme Torres São Paulo 2018 Crystal Forest Office Except Integrated Sustainability Amsterdã 2013 (Projeto) Fábrica de Sal Rafael Antonio Cunha Perrone e Márcio do Amaral Ribeirão Pires 2003 Shopping Center Punta Carretas Juan Carlos López e Associados Montevidéu 1993


Sede da Cinemateca Brasileira Lúcio G. Machado e Eduardo Rodrigues São Paulo 1994

Shopping Light – Edifício Akexandre Mackenzie Carlos Faggin São Paulo 1994

Exchange Quarter (Antigo Corn Exchange) Alsop & Lyall Leeds, UK 1990

Cintra - Centro Integrado do Rio Anil Fabrício Pedroza São Luis (Maranhão) 1994

Palácio das Indústrias Lina Bo Bardi São Paulo 1992

Musée d’Orsay ACT Architecture (R. Bardon, P. Colboc, Jean-Paul Philippon) Paris 1986

Antiga Fábrica da Bhering (Ocupação pelas pessoas através de diversas atividades) Rio de Janeiro

Tokyo SP MM18 Arquitetura São Paulo 2018

Puerto Madero Equipe Multidisciplinar Buenos Aires 1991 Pinacoteca do Estado de São Paulo Paulo Mendes da Rocha e Eduardo Colonelli São Paulo 1998

Centro Cultural dos Correios de São Paulo – CCCSP Una Arquitetos São Paulo 1997 Centro Cultural São Paulo Eurico Prado Lopes e Luiz Telles São Paulo 1979

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HALLE PAJOL Jourda Architectes Paris 2013 Reabilitação de Halle Pajol: construção de um hostel, uma biblioteca, um auditório, instalações comerciais e um jardim público.

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Material produzido pelo autor com base em imagens do Google e fotografias do projeto

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BREVE DESCRIÇÃO A complexidade da mistura do programa (hostel, atividades, biblioteca e jardim) é complementada pela reabilitação do Halle, integrante do patrimônio industrial do século XIX. Os principais elementos do partido arquitetônico são: 1. O “Salão”: Envelope de proteção do edifício, destacadas em contraste com as novas formas puras em madeira; 2. Os edifícios: Em contraste com o salão, são volumes puros como paralelepípedos construídos em madeira, e construídos sobre fundações independentes. Edifícios compactos buscando poucas perdas de energia. 3. O Jardim: Entre o corredor e os trilhos de trem, os jardins estendem-se de norte a sul, na maior dimensão do local. 4. A Pegada Ecológica do Edifício: O projeto destina-se a ser um projeto piloto para a cidade de Paris, minimizando o impacto ecológico do edifício. Para alcançar tudo isso, teve-se em mente: A. Flexibilidade, desmontagem, desconstrução; B. Um edifício com energia positiva; C. Economia e boa gestão dos recursos, no ar, na água, no material; D. Conforto luminoso; E. Preservação da biodiversidade; F. Local da construção; G. Manutenção preventiva e corretiva; H. Construção de um “diário de bordo técnico”; I. Comunicação e pedagogia.

Vista externa do Halle Pajol. Fonte: http://www.jourda-architectes.com

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Plantas, Cortes e Fotografias de Halle Pajol. Fonte: http://www.jourda-architectes.com

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PAVILLON DE L’ARSENAL Reichen et Robert & AssociÊs Paris 1988

Fonte: http://www.pavillon-arsenal.com/en/

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Material produzido pelo autor com base em imagens do Google e fotografias do projeto

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Material produzido pelo autor.

Fonte: http://www.pavillon-arsenal.com/en/


BREVE DESCRIÇÃO Reconversão de um armazém em espaços de exposição, biblioteca e escritórios para a direção da arquitetura da cidade de Paris. No total são 4.160 m² dos quais 1.600 m² de exposições e 1.660 m² de escritórios. Funciona como um centro e museu para a arquitetura de Paris, inserido no meio da cidade. Conta com 800m2 de exposições permanentes sobre arquitetura parisiense e como a cidade evoluiu, e mais três espaços adicionais de exposição. O programa se distribui em térreo, mezanino atirantado e pavimento superior. Além disso realiza conferências e abriga livraria dedicada à arquitetura e centro de documentação com uma fototeca de mais de 70 mil fotos desde 1940 até o presente.

Fonte: http://www.pavillon-arsenal.com/en/infos-pratiques/10259prepare-your-visit.html

Acima: Imagens internas do pavilhão. Fonte: https://www.reichen-robert. fr/fr/projet/pavillon-de-larsenal Direita: Imagens internas de eventos no pavilhão. Fonte: http://www. pavillon-arsenal.com/en/infos-pratiques/10259-prepare-your-visit.html


SESC POMPEIA Lina Bo Bardi SĂŁo Paulo 1982

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Material produzido pelo autor com base em imagens do Google e fotografias do projeto

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500 Acesso a galeria elevada. Imagem interna dos galpĂľes. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sesc-pompeia slash-lina-bo-bardi


BREVE DESCRIÇÃO Situada na Água Branca, a estrutura original da antiga fábrica de tambores da década de 1930 foi mantida no projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi para abrigar o programa. O centro de cultura e lazer, contempla um programa extenso: teatro, espaços de exposições, espaços de convivência, espaços para jogos de salão, espetáculos, biblioteca de lazer, lajes abertas de leitura, videoteca, ateliês, quadras esportivas, piscina, restaurante e choperia, além de infraestrutura auxiliar e espaços administrativos. O programa todo foi pensado de modo a manter os usos que a população já dava para o local, e a ideia era fortalecer a recreação, e não a competição, enxergada como negativa pela arquiteta, o que culminou em um programa compreensivo e inclusivo. A primeira parte, referente à intervenção nos galpões antigos, foi inaugurada em 1982, e em 1986 foi a vez do bloco esportivo, representado pelos volumes de concreto ao fundo do lote.

Acima: Bloco Esportivo e Espaço de Leitura; Direita: Deck de madeira sobre Córrego do Água Preta - área non aedificandi. Fonte: https://www.archdaily. com.br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sesc-pompeia-slash-lina-bo-bardi

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Esquerda: Foyer do Auditório e Espaços de Leitura. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sesc-pompeia-slashlina-bo-bardi Acima: Elevação Rua Barão do Bananal. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sesc-pompeia-slash-lina-bobardi; Planta de Situação do Conjunto. Fonte: SESC Fábrica da Pompeia. São Paulo: Ed. SESC SP, 2015.


Abaixo: Croqui de Lina Bo Bardi. Fonte: SESC Fábrica da Pompeia. São Paulo: Ed. SESC SP, 2015. Centro: Elevação, Corte e Planta do Bloco Esportivo. Fonte: https://www. archdaily.com.br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sesc-pompeiaslash-lina-bo-bardi. Direita: Espaço do Estar e Espaço de Leitura. Fonte: SESC Fábrica da Pompeia. São Paulo: Ed. SESC SP, 2015.


5. O PROJETO PREMISSAS Com base nas referências levantadas, o projeto busca então um programa variado de modo a atender um público igualmente diversificado, algo reconhecido como saudável para o uso de espaços públicos - ou não - pelo autor. O objetivo seria criar condições para que o projeto fosse agregado ao cotidiano dos moradores da região e também que fosse capaz de atrair usuários advindos de outras localidades, constituindo-se em uma intervenção de certa forma pontual, mas que irradiasse para o entorno. A ideia é que a criação e ampliação das opções de cultura, esporte e lazer transforme o local em uma referência de convivência, além de estimular uma requalificação do entorno. Em paralelo a esta intervenção pontual nas edificações, o projeto prevê a melhoria da permeabilidade do solo e aumento da disponibilidade de áreas verdes, priorizando pedestres e ciclistas. O trabalho consiste na elaboração de diretrizes de projeto para o terreno todo, com foco e desenvolvimento de anteprojeto para intervenção em um dos galpões.

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As premissas de projeto adotadas, assim, foram as seguintes:

- Intervenção com estruturas metálicas para destaque entre antigo e novo; - Abertura para a cidade por meio de derrubamento de muros e portões; - Relação com os outros edifícios/ criação de ruas e caminhos internos; - Trabalhar em níveis dentro do galpão principal, utilizando-o como invólucro; - Projeto de intervenção combinado com extensão de estruturas existentes; - Expor estruturas dos edifícios pré-existentes para reafirmar suas características e diferenciá-las da intervenção; - Introduzir materiais novos que não estavam no edifício original; - Manutenção de edificações arquitetonicamente interessantes e em bom estado de conservação; - Demolição das edificações em péssimo estado de conservação.


ESTUDO DE ADEQUABILIDADE DE PROGRAMA

“Function creates form, but what is to be done with the form once the function has disappeared? Can the existing form accommodate the new function? The whole business of working with existing buildings turns upon the form/function dialectic: a conversion only succeeds when there is a good match between new function and existing form. It is therefore necessary to analyse the nature of the existing built fabric before one can suggest a new use [...]. (ROBERT, 1989, p. 9) “Função cria forma, mas o que deve ser feito com a forma a partir do momento que a função desaparece? A forma existente pode acomodar a nova função? Todo o conceito de trabalhar com edifiícios existentes gira em torno da dialética forma/ função: a conversão só é bem-sucedida quando existe uma boa correspondência entre a nova função e a forma existente. Portanto, é necessário analisar a natureza do tecido construído existente antes que alguém possa sugerir um novo uso [...]. (Tradução livre pelo autor. Com base nas referências de projeto, bibliográficas e no estudo desenvolvido ao longo do período de elaboração deste trabalho sobre a área de intervenção, suas edificações

e seu entorno, estudou-se a adequabilidade de programa às edificações, e a proposta é um programa misto, constituindose de um centro cultural, de esportes e de lazer. Busca-se uma variedade de atividades e usos, a fim de dinamizar os espaços e inseri-los na vivência dos moradores de maneira amigável.

Analisando os espaços disponíveis, sua envoltória, sua tipologia, implantação e dimensões, foram estudadas possibilidades de usos que se adaptassem a estas condições preexistentes, a fim de otimizar a relação entre o novo programa e a forma definida. Alguns edifícios, como foi verificado no estudo realizado, estão muito deteriorados, e propõe-se a sua demolição.

GALPÃO B

DEMOLIR PRESERVAR

EDIFÍCIO A

CAIXA D’ÁGUA DEMAIS EDIFICAÇÕES

GUARITA DE ACESSO GALPÃO A

Material produzido pelo autor com base em imagens do Google.

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GALPÃO A DESCRIÇÃO - Estrutura em concreto, em forma de arcos sucessivos com alternância de altura formando sheds - Pé-direito máximo 12,5 metros e pé-direito mínimo 8,5 metros - Dimensões aproximadas em planta: 43 m x 72 m ADEQUABILIDADE DE PROGRAMA - Espaços expositivos - Espaços de leitura - Espaços de estudo - Midiateca - Espaços multiuso - Espaços de estar - Espaços para eventos como shows e festas

Material produzido pelo autor com base em imagens do Google.

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Esquerda: 1 e 2: 2ยบ X-Treme Low Brasil. Junho de 2017. Fonte: https://www.xtremelow.com.br/vencedores2edicao; 3 e 4: Dekmantel Showcase, Setembro de 2017. Fonte: http://monkeybuzz.com.br/artigos/24878/cobertura-dekmantel-showcase-sao-paulo/. Acima: Imagens internas do Galpรฃo. Marรงo de 2017. Fonte: Google.

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GALPÃO B DESCRIÇÃO - Estrutura em concreto pré-moldado, formando pórticos sucessivos e cobertura com telhas comuns de fibrocimento - Pé-direito máximo 9,0 metros e pé-direito mínimo 7,0 metros - Dimensões aproximadas em planta: 26 m x 90 m ADEQUABILIDADE DE PROGRAMA - Piscina de comprimento olímpico coberta - Piscina de hidroginástica coberta

Material produzido pelo autor com base em imagens do Google.

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Primeira linha: Fotografias produzidas pelo autor. Demais: 2ยบ X-Treme Low Brasil. Junho de 2017. Fonte: https://www.xtremelow.com.br/vencedores2edicao.

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EDIFÍCIO A DESCRIÇÃO - Estrutura em concreto armado, modular em um grid de 5m x 5m, com vãos entre pilares de ate 10 m e laje nervurada em uma direção - Subsolo enterrado + térreo com mezanino + 6 pavimentos tipo + 2 pavimentos na cobertura - Core centralizado com 4 elevadores e banheiros - 2 Escadas de emergência nas laterais do edifício - Fachada com janelas tipo teto ao chão - Pavimentos tipo de 1600 m2 divididos em dois conjuntos - Típico edifício comercial - Pé-direito de aproximadamente 3,0 metros - Dimensões aproximadas em planta: 30 m x 60 m - Altura de aproximadamente 40 metros ADEQUABILIDADE DE PROGRAMA - Salas multiuso - Estúdios de dança e ginástica - Escritórios / Espaços de coworking - Almoxarifado e salas de manutenção - Hostel - Administração geral do centro - Restaurante/bar com funcionamento noturno (terraço)

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Primeira linha: Fotografias produzidas pelo autor. Segunda linha: 2ยบ X-Treme Low Brasil. Junho de 2017. Fonte: https://www.xtremelow.com.br/vencedores2edicao. Terceira linha: Antigos escritรณrios da Editora Globo. Fonte: https://foursquare.com/v/editora-globo/4b0a9900f964a5207a2523e3/photos

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CAIXA D’ÁGUA DESCRIÇÃO - Estrutura em concreto armado - Diâmetro da base aproximado de 3,5 metros - Altura de aproximadamente 30 metros ADEQUABILIDADE DE PROGRAMA - Mirante - Elemento responsável pela memória do local

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Acima: Fotografias produzidas pelo autor. Abaixo: Vistas da Avenida JaguarĂŠ. Fonte: Google Street View.

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DEMAIS EDIFICAÇÕES - DEMOLIÇÕES PREVISTAS DESCRIÇÃO - Área aproximada de 20.420 m2 - Altura média de 8 metros ADEQUABILIDADE DE PROGRAMA - Quadras Poliesportivas - Estacionamento de veículos - Piscinas externas (semiolímpica, recreativa e infantil) - Pavilhões multiuso - Espelho d’água - Parque integrado

70


PROSPECÇÃO E REDESENHO Como os galpões estavam em processo de demolição, não foi possível acessar o terreno para realizar um levantamento de medidas in loco. Tampouco foi possível acessar os desenhos técnicos dos edifícios, o que dificultou ainda mais o processo. Entretanto, foi encontrado muito material na internet referente a eventos realizados nos espaços de intervenção. Então foi necessário um novo trabalho de levantamento fotográfico, que mostrasse os diversos possíveis ângulos de todos os edifícios escolhidos para serem mantidos. Além de fotografias, foram encontrados também vídeos de eventos realizados nos espaços de interesse, que permitiram, através de proporções, estimar medidas reais. Foi realizado um extenso trabalho de prospecção através da análise do material levantado. O processo então foi partir de medidas conhecidas, como a altura padrão de uma porta, por exemplo, e, por meio de proporções com o auxílio de desenhos à mão ou softwares como Photoshop ou AutoCAD, reproduzir os desenhos dos edifícios. Com este material conseguiu-se desenhar no AutoCAD plantas e cortes das edificações, que auxiliaram na elaboração de um modelo 3D, e que serviram de base para finalmente pensar o projeto de intervenção.

Pimeira imagem acima: Estudos feitos à mão pelo autor. Acima: Plantas Pavimentos Tipo. Fonte: https://www.jorgesimoveis.com. br/edifcio-editora-globo.

Segunda imagem acima: Anúncio de antiga sede da Editora Globo no Jaguaré em site de imobiliária - Pavimento Tipo. Fonte: https://www. jorgesimoveis.com.br/edifcio-editora-globo.

71


ALTURA PORTA: 2,10 M

ALTURA EXTINTOR: 0,50 M

ALTURA PORTA: 2,10 M

ALTURA PORTA: 2,10 M

Acima: Estudos feitos à mão pelo autor. Esquerda: Estudos feitos pelo autor com base em fotografias encontradas em anúncio de antiga sede da Editora Globo no Jaguaré em site de imobiliária. Fonte: https://www.jorgesimoveis.com.br/edifcio-editora-globo.

ESPAÇAMENTO DE VIGAS


C

B

A

A

C

B

Planta Pavimento Tipo. Produzida pelo autor.

Corte BB. Produzido pelo autor.

EDIFĂ?CIO A

0 2 Corte AA. Produzido pelo autor.

5

10

Corte CC. Produzido pelo autor.

73


ALTURA DA PORTA: 2,60 M

ALTURA MÉDIA DE MULHERES: 1,60 M

ALTURA ABERTURA: 4,60 M

ALTURA MÉDIA DE HOMENS: 1,70 M

ALTURA MÉDIA DE HOMENS: 1,70 M

ALTURA MÉDIA DE MULHERES: 1,60 M

Acima: Estudos feitos à mão pelo autor. Esquerda: 2º X-Treme Low Brasil. Junho de 2017. Fonte: https://www.xtremelow.com.br/vencedores2edicao.


C

B A

A

Corte BB. Produzido pelo autor.

C

B

Corte CC. Produzido pelo autor.

Planta. Produzida pelo autor.

GALPĂƒO A 0 2

5

10

Corte AA. Produzido pelo autor.

75


ALTURA ATÉ CURVA NO PILAR: 6,00 M

ALTURA MÉDIA DE HOMENS: 1,70 M

ALTURA MÉDIA DE MULHERES: 1,60 M

B

A

B

ALTURA CAMARO: 1,35 M

A

Planta. Produzida pelo autor.

Corte AA. Produzido pelo autor.

Corte BB. Produzido pelo autor. GALPÃO B

ALTURA MÁXIMA: 9,00 M ALTURA ATÉ CURVA NO PILAR: 6,00 M

Acima: Estudos feitos à mão pelo autor. Esquerda: 2º X-Treme Low Brasil. Junho de 2017. Fonte: https://www.xtremelow.com.br/vencedores2edicao.

0 2

5

10


ALTURA: 3,30 M

CAIXA D’ÁGUA 0

ALTURA MURO: 1,80 M ALTURA MÉDIA DE MULHERES: 1,60 M

2

5

10

77


O PROGRAMA Conforme os estudos e análises realizados, propõem-se novos usos para o terreno através de um programa diversificado. A partir do que foi levantado, considerando a adequabilidade dos espaços disponíveis, chegou-se a um programa de 4 grandes grupos de usos:

ESTACIONAMENTO DESCANSO/LAZER ESPORTE/LAZER MOLHADO

ESPORTE/LAZER SECO

USOS MAIS RUIDOSOS

Esporte: Piscinas com dimensões olímpicas e semi-olímpicas para treinos e quadras poli-esportivas; Lazer: Piscinas recrativas para adultos, crianças e bebês, piscina de hidroginástica, restaurante, pavilhões multiuso com churrasqueiras e espaços livres interligando todo o conjunto;

USOS MAIS SILENCIOSOS TRABALHO/ HOSPEDAGEM

CULTURA/ATIVIDADES

ESPAÇOS LIVRES

78

Cultura: A proposta é um centro cultural, com espaços expositivos flexíveis, de estudos e leitura, midiateca, um pequeno auditório e sala de projeção, café, jardim com esculturas e anfiteatro multiuso externo;

ACESSO PEDESTRES E CICLISTAS

Trabalho: Tendo em vista a proximidade com universidades, verifica-se a importância de espaços de trabalho e reuniões, bem como de estadia temporária. Nas imediações há um hotel apenas. Então propõe-se a utilização do edifício comercial (Edifício A) para abrigar espaços de coworking, hostel e restaurante/bar no terraço, oferecendo opção de lazer noturno.


EDIFÍCIOS MANTIDOS

ÁREA DE EDIFÍCIOS DEMOLIDOS

79


0

100

200

500


PROJETO DE INTERVENÇÃO O projeto consiste em uma proposta de novo uso para todo o terreno, na forma de diretrizes, com foco no projeto de intervenção para o Galpão A, o qual receberá o programa de Centro Cultural. Para o Edifício A, o programa pensado é o de alguns pavimentos de coworking, outros de hostel, com térreo e mezanino para espaços de convívio, e restaurante e ;bar no terraço. O Galpão B abrigará duas piscinas cobertas, uma de comprimento de piscina olímpica, com menos raias, e outra de hidroginástica, integrantes do conjunto de piscinas a céu aberto. O restante do terreno, onde foram previstas as demolições, abrigará os pavilhões multiuso, um restaurante, quadras poliesportivas com infraestrutura de apoio, espaços livres de uso público e estacionamento para 120 veículos.

PARTIDOS DE PROJETO

Intervenção em Galpão A Intervenção em Galpão A como foco, mas elaboração de plano de intervenção e diretrizes de projeto para todo o terreno no qual ele está inserido.

Permeabilidade Urbana Adoção de eixos estruturadores, aumentando a permeabilidade urbana através da abertura para a cidade com o derrubamento de muros e portões, tendo em mente a segurança dos edifícios, e aumento de áreas verdes.

81


Estruturas independentes Galpão de concreto como invólucro para intervenção, cuja estrutura é independente da preexistência.

82

Extensões Intervenção combinada com extensão de estruturas existentes, mantendo a diferenciação entre a adição e o existente, respeitando suas relações.

Introdução de novos materiais Respeitando o preconizado pela Carta de Veneza, buscou-se uma intervenção de materialidade distinta dos edifícios existentes, expondo sua estrutura original de concreto como contraponto à intervenção. Os novos materiais são metal na cor preta, madeiras claras e abobadilhas cerâmicas.


Modulação original como base Modulação para estruturas da intervenção ditada pela da estrutura existente, mantendo o mesmo ritmo dos arcos do galpão.

Trabalhar em Níveis Tirar poveito da alternância longitudinal e variação transversal de alturas dos arcos para elaborar intervenção. Variação de dimensões de pavimentos e pés-direitos, para permitir diferentes visuais dos espaços e diferentes interações.

Volumetria Original Preservação, reafirmação e diferenciação da volumetria original, como preservação da memória do edifício e do local, e recuperação das estruturas e caixilharia existente.

83


AVENIDA GENERAL VIDAL

6

6

6

1. Galpão A 2. Edifício A 3. Galpão B 4. Caixa d’Água 5. Guarita de Acesso 6. Demais Edificações 20

6

1

6

6 4 50

100

6 5

AVENIDA JAGUARÉ

AVENIDA GONÇALO MADEIRA

6

2

IMPLANTAÇÃO ATUAL

0

3

AVENIDA ONÓFRIO MILANO

AVENIDA TORRES DE OLIVEIRA

6


AVENIDA GENERAL VIDAL

12

7

11 9 10

0

20

50

13

2

1 4

16 100

15

AVENIDA JAGUARÉ

3

14

AVENIDA GONÇALO MADEIRA

1. Centro Cultural 2. Jardim com Esculturas 3. Anfiteatro Multiuso Externo 4. Coworking e Hostel 5. Piscinas Cobertas 6. Piscinas a Céu Aberto 7. Vestiários e Acesso Piscina 8. Espelho d’Água 9. Quadras Poliesportivas 10. Vestiários e Banheiros 11. Pavilhões Multiuso 12. Plano Inclinado Gramado 13. Restaurante 14. Horta Comunitária 15. Esplanada de Acesso 16. Caixa d’Água

6 5

AVENIDA ONÓFRIO MILANO

IMPLANTAÇÃO DO PROJETO

AVENIDA TORRES DE OLIVEIRA

8


PISCINAS A CÉU ABERTO

PISCINAS COBERTAS O galpão abriga duas piscinas cobertas, uma de comprimento olímpico, porém com menos raias do que o exigido; e outra de menores dimensões para hidroginástica.

ESTACIONAMENTO COBERTO: ACESSO

Piscina semi-olímpica, piscina para crianças e piscina para bebês, integradas por um deck de madeira, que é mais extenso entre as duas últimas para facilitar a atenção dos pais.

CENTRO CULTURAL Intervenção com estruturas metálicas independentes da estrutura original RESTAURANTE

CAIXA D’ÁGUA Elemento de manutenção da memória do local.

HORTA COMUNITÁRIA

ANFITEATRO MULTIUSO EXTERNO

ESPLANADA DE ACESSO JARDIM COM ESCULTURAS

Funciona como um prolongamento ao ao livre do programa do Centro Cultural. Local destinado a receber eventos de apresentações musicais ou teatrais por exemplo.


HOSTEL E COWORKING

VESTIÁRIOS E ACESSO PISCINAS

ESPELHO D’ÁGUA QUADRAS POLIESPORTIVAS PLANO INCLINADO GRAMADO VESTIÁRIOS E SANITÁRIOS

PAVILHÕES MULTIUSO Pavilhões de diferentes áreas, com churrasqueiras e fornos, para abrigar grupos de até 10, 20 ou 40 pessoas, localizados em região sombreada e mais isolada do terreno.

Como cobertura do estacionamento tem-se um plano inclinado gramado, que funciona como aumento de drenagem de água da chuva e também como mais um espaço contemplativo, de estar e convívio. Voltandose para a Avenida Jaguaré, é possível ter diversas visuais do terreno.

Eixo estruturador do projeto, tem início dentro do Galpão A e atravessa o terreno, permitindo um outro acesso de pedestres pela Avenida General Vidal, perfurando o plano inclinado gramado.

De acordo com a adequabilidade de programa aos espaços disponíveis, estabeleceu-se que o térreo e o mezanino serão áreas de estar e convivência; os três primeiros pavimentos coworking, e os outros três, hostel; o terraço abrigará restaurante e bar com funcionamento noturno; cobertura e subsolo destinados a áreas técnicas. RESTAURANTE E BAR HOSTEL COWORKING ESTAR E CONVIVÊNCIA ÁREA TÉCNICA


C

D

AVENIDA GENERAL VIDAL

12

7

11 9 10 8

20

50

2

3

B

14

AVENIDA GONÇALO MADEIRA

4

AVENIDA ONÓFRIO MILANO

13

B 1

A 16

A

15

AVENIDA JAGUARÉ

100

C

0

6

5

D

1. Centro Cultural 2. Jardim com Esculturas 3. Anfiteatro Multiuso Externo 4. Coworking e Hostel 5. Piscinas Cobertas 6. Piscinas a Céu Aberto 7. Vestiários e Acesso Piscina 8. Espelho d’Água 9. Quadras Poliesportivas 10. Vestiários e Banheiros 11. Pavilhões Multiuso 12. Estacionamento Coberto 13. Restaurante 14. Horta Comunitária 15. Esplanada de Acesso 16. Caixa d’Água

AVENIDA TORRES DE OLIVEIRA

IMPLANTAÇÃO DO PROJETO NÍVEL TÉRREO


PREEXISTÊNCIA: HOSTEL, COWORKING, RESTAURANTE E BAR.

AVENIDA TORRES DE OLIVEIRA

ESPAÇOS LIVRES COM BANCOS

PREEXISTÊNCIA: CENTRO CULTURAL

HORTA COMUNITÁRIA

PARQUE INTEGRADO AVENIDA ONÓFRIO MILANO

CORTE AA 0

10

20

50


C

D

AVENIDA GENERAL VIDAL

12

7

11 9 10 8

20

50

2

3

B

14

AVENIDA GONÇALO MADEIRA

4

AVENIDA ONÓFRIO MILANO

13

B 1

A 16

A

15

AVENIDA JAGUARÉ

100

C

0

6

5

D

1. Centro Cultural 2. Jardim com Esculturas 3. Anfiteatro Multiuso Externo 4. Coworking e Hostel 5. Piscinas Cobertas 6. Piscinas a Céu Aberto 7. Vestiários e Acesso Piscina 8. Espelho d’Água 9. Quadras Poliesportivas 10. Vestiários e Banheiros 11. Pavilhões Multiuso 12. Estacionamento Coberto 13. Restaurante 14. Horta Comunitária 15. Esplanada de Acesso 16. Caixa d’Água

AVENIDA TORRES DE OLIVEIRA

IMPLANTAÇÃO DO PROJETO NÍVEL TÉRREO


PREEXISTÊNCIA: HOSTEL, COWORKING, RESTAURANTE E BAR.

AVENIDA TORRES DE OLIVEIRA

PREEXISTÊNCIA: CENTRO CULTURAL

HORTA COMUNITÁRIA

ÁREA TÉCNICA

JARDIM COM ESCULTURAS ESPAÇO EXPOSITIVO

RESTAURANTE E BAR HOSTEL HOSTEL

ESPAÇO EXPOSITIVO

COWORKING COWORKING COWORKING ESTAR E CONVIVÊNCIA ESTAR E CONVIVÊNCIA ÁREA TÉCNICA

CORTE BB 10

20

AVENIDA ONÓFRIO MILANO

ESPAÇO DE LEITURA E ESTUDOS

HOSTEL

0

ESCADARIA

GUARDA-VOLUMES E RECEPÇÃO MIDIATECA

50

AUDITÓRIO MULTIUSO EXTERNO PRAÇA ENTERRADA


C

D

AVENIDA GENERAL VIDAL

12

7

11 9 10 8

20

50

2

3

B

14

AVENIDA GONÇALO MADEIRA

4

AVENIDA ONÓFRIO MILANO

13

B 1

A 16

A

15

AVENIDA JAGUARÉ

100

C

0

6

5

D

1. Centro Cultural 2. Jardim com Esculturas 3. Anfiteatro Multiuso Externo 4. Coworking e Hostel 5. Piscinas Cobertas 6. Piscinas a Céu Aberto 7. Vestiários e Acesso Piscina 8. Espelho d’Água 9. Quadras Poliesportivas 10. Vestiários e Banheiros 11. Pavilhões Multiuso 12. Estacionamento Coberto 13. Restaurante 14. Horta Comunitária 15. Esplanada de Acesso 16. Caixa d’Água

AVENIDA TORRES DE OLIVEIRA

IMPLANTAÇÃO DO PROJETO NÍVEL TÉRREO


PREEXISTÊNCIA: HOSTEL, COWORKING, RESTAURANTE E BAR. CANTEIRO CENTRAL CICLOVIA AV. JAGUARÉ CENTRO

AV. JAGUARÉ BAIRRO

PREEXISTÊNCIA: CENTRO CULTURAL

PREEXISTÊNCIA: CAIXA D’ÁGUA

PREEXISTÊNCIA: PISCINAS DE TREINO E DE HIDROGINÁSTICA COBERTAS

ESTACIONAMENTO COBERTO ESPAÇOS LIVRES

AV. GENERAL VIDAL

ESPAÇO DE LEITURA E ESTUDOS ESPAÇOS EXPOSITIVOS ESPLANADA DE ACESSO

FOYER AUDITÓRIO

CORTE CC 0

10

20

50

VESTIÁRIOS FUNCIONÁRIOS DESCANSO FUNCIONÁRIOS COPA FUNCIONÁRIOS

PLANO INCLINADO GRAMADO


C

D

AVENIDA GENERAL VIDAL

12

7

11 9 10 8

20

50

2

3

B

14

AVENIDA GONÇALO MADEIRA

4

AVENIDA ONÓFRIO MILANO

13

B 1

A 16

A

15

AVENIDA JAGUARÉ

100

C

0

6

5

D

1. Centro Cultural 2. Jardim com Esculturas 3. Anfiteatro Multiuso Externo 4. Coworking e Hostel 5. Piscinas Cobertas 6. Piscinas a Céu Aberto 7. Vestiários e Acesso Piscina 8. Espelho d’Água 9. Quadras Poliesportivas 10. Vestiários e Banheiros 11. Pavilhões Multiuso 12. Estacionamento Coberto 13. Restaurante 14. Horta Comunitária 15. Esplanada de Acesso 16. Caixa d’Água

AVENIDA TORRES DE OLIVEIRA

IMPLANTAÇÃO DO PROJETO NÍVEL TÉRREO


PREEXISTÊNCIA: HOSTEL, COWORKING, RESTAURANTE E BAR. CANTEIRO CENTRAL CICLOVIA AV. JAGUARÉ CENTRO

PREEXISTÊNCIA: PISCINAS DE TREINO E DE HIDROGINÁSTICA COBERTAS

AV. JAGUARÉ BAIRRO

ÁREA TÉCNICA RESTAURANTE E BAR HOSTEL

ESPLANADA DE ACESSO

HOSTEL HOSTEL COWORKING COWORKING COWORKING ESTAR E CONVIVÊNCIA ESTAR E CONVIVÊNCIA ÁREA TÉCNICA

CORTE DD 0

10

20

ESTACIONAMENTO COBERTO

50

PISCINA INFANTIL

PISCINA SEMI-OLÍMPICA DECK DE MADEIRA

DECK DE MADEIRA

AV. GENERAL VIDAL

PISCINA PARA BEBÊS ACESSO E EDIFÍCIOS DE APOIO PARA PISCINAS

PLANO INCLINADO GRAMADO



RUFO METÁLICO

GUARDA-CORPO METÁLICO

PLANO INCLINADO GRAMADO CHAPAS DE FIXAÇÃO APARAFUSADAS VEGETAÇÃO SUBSTRATO FILTRO DRENAGEM PROTEÇÃO MECÂNICA MEMBRANA ANTIRRAIZ IMPERMEABILIZAÇÃO

LAJE DE CONCRETO TIPO COGUMELO

DETALHE CONSTRUTIVO

PLANO INCLINADO GRAMADO CORTE 0

2

5

10


CENTRO CULTURAL CONDICIONANTES AMBIENTAIS: PREEXISTÊNCIAS O posicionamento do galpão é desfavorável em termos de insolação, recebendo grande parte da irradiação pelos sheds. Como se trata de uma preexistência, e alinhado ao pensamento da mínima intervenção, propõe-se a troca de telhas metálicas simpels por telhas metálicas sanduíche, com preenchimento em poliuretano (PUR), a fim de melhorar o desempenho térmico da edificação. No entanto, a fachada principal do galpão, voltada para Sudeste, está perpendicular à direção dos ventos predominantes. Desta maneira, propõe-se a instalação de portas industriais de aço vazadas, típicas de estacionamentos, como fechamentos principais. Esta solução permite tirar máximo proveito da perpendicularidade aos ventos incidentes, e, juntamente da caixilharia existente recuperada, contribuir para amenizar os efeitos da implantação desfavorável, com ganhos para o conforto dos usuários.

98

VENTOS PREDOMINANTES: SE


VENTOS PREDOMINANTES: SE

Caixilharia recuperada facilitando ventilação natural

Portas industriais vazadas para facilitar ventilação natural


PROGRAMA O antigo galpão da Cooperativa Agrícola de Cotia abrigará um centro cultural, cujo programa está destribuído em térreo mais dois pavimentos. De forma a permitir uma maior versatilidade, os espaços expositivos localizam-se no térreo, onde é possível receber exposições de obras maiores, como esculturas grandes, tendo em vista o pé-direito elevado. O térreo também conta com balcão de informações e guarda-volumes, sanitários, e anexos que abrigam instalações técnicas como central de monitoramento e segurança e administração geral do centro, além de instalações para funcionários. Através de uma escadaria de leitura que se volta para o espelho d’água, chega-se ao primeiro pavimento, onde localizam-se um café, foyer e auditório, e também um espaço de leitura e estudos. Já o segundo e último pavimento abriga uma midiateca. A intervenção é realizada com estruturas metálicas e cria diferentes pés-direitos dentro do galpão para dinamizar os espaços e promover vistas e interações entre eles. O centro cultural se expande para o exterior através de um jardim com esculturas. Caminha-se por um piso um pouco elevado, seguindo a altura do piso do galpão, até uma escadaria que se transforma em um auditório externo, que possibilita receber apresentações musicais e teatrais.

100


Recuperação de cobertura existente, caixilhos e troca de telhas metálicas simples por telhas metálicas sanduiíche, para melhoraria de desempenho térmico

Circulação vertical como percurso e elevadores panorâmicos para permitir uma maior interação entre os espaços Midiateca

Auditório e sala de projeção para 100 pessoas Café e foyer Espaços de leitura e estudos Espelho d’água: eixo estruturador Anexos para abrigar instalações de funcionários e técnicas, como sala de monitoramento e segurança e administração geral do centro Espaços expositivos no térreo, com variação de pé-direito Recuperação e destaque da estrutura existente, caixilhos e derrubamento de alvenarias Jardim com esculturas Auditório multiuso externo


I

H

G 6

3

3

9

10 7

8 F

7 F

PLANTA 2o 7

1

1. Saguão de entrada 2. Guarda-volumes e recepção 3. Espaços expositivos 4. Espelho d’Água 5. Jardim com esculturas 6. Espaço expositivo interativo 7. Circulação vertical 8. Sanitários e DML 9. Central de monitoramento 10. Administração geral do centro 11. Vestiários funcionários 12. Descanso funcionários 13. Copa funcionários 0

2

5

4

2

CENTRO CULTURAL PLANTA TÉRREO

8 E

12 3

3

5

10

11

13

E

I

H

G


Central de monitoramento e administração geral do centro

Espelho d’água: eixo estruturador Painéis expositivos interativos Copa funcionários Descanso funcionários Vestiários funcionários Espaços expositivos no térreo, com variação de pé-direito Sanitários e DML Guarda-volumes e recepção

Jardim com esculturas Escadaria Auditório multiuso externo

103


I

H

G

8

7 F

8 F

PLANTA 2o 8 1

2

CENTRO CULTURAL PLANTA 1º PAVIMENTO

3 E

4

7

5

6

7

3

1. Escadaria de leitura 2. Espaço de leitura e estudos 3. Café 4. Foyer 5. Anfiteatro 6. Sala técnica 7. Sanitários 8. Circulação vertical 0

2

5

10

E

I

H

G


Circulação vertical Sala técnica Auditório Sanitários Foyer Café Espaços de leitura e estudos Escadaria de leitura Sanitários e DML

105


F

I

H

G

3

2

3 F

PLANTA 2o 3

1

E

E

CENTRO CULTURAL PLANTA 2º PAVIMENTO 1. Midiateca 2. Sanitários e DML 3. Circulação vertical 0

2

5

10

I

H

G


Circulação vertical Sanitários e DML Midiateca

107


1

1

2

PLANTA 2o 3

CENTRO CULTURAL PLANTA ร REA EXTERNA

4

1. Espaรงos expositivos 2. Jardim com esculturas 3. Piso elevado 4. Escadarias 5. Elevadores 6. Anfiteatro multiuso externo 0

2

5

10

5

6


Espelho d’água: eixo estruturador Espaço expositivo interativo

Espaços expositivos no térreo, com variação de pé-direito Sanitários e DML Guarda-volumes e recepção

Jardim com esculturas Escadaria Auditório multiuso externo

109


VENTOS PREDOMINANTES: SE

CENTRO CULTURAL ESQUEMA VENTILAÇÃO 0

2

5

10


CENTRO CULTURAL CORTE EE 0

2

5

10


CENTRO CULTURAL CORTE FF 0

2

5

10


CENTRO CULTURAL CORTE GG 0

2

5

10


CENTRO CULTURAL CORTE HH 0

2

5

10


CENTRO CULTURAL CORTE II 0

2

5

10



PREENCHIMENTO EM CONCRETO

PAINEL WALL VIGOTA METÁLICA SEÇÃO I ESTRUTURA

ABOBADILHA DE BLOCOS CERÂMICOS

Para diferenciação da materialidade da estrutura existente, optou-se por realizar a intervenção em estrutura metálica, na cor preta, de forma independente da original. O galpão de concreto como invólucro, de formas curvas, é contraposto às adições metálicas, ortogonais. Tomando como partido a máxima altura permitida pelos arcos mais baixos do galpão, foram criados mais dois pavimentos, além do térreo. A estrutura é do tipo pilar, viga e laje. É composta por pilares de seção H, vigas principais do tipo caixão e vigotas secundárias de seção I, de menores dimensões. A laje é formada por abobadilhas cerâmicas, preenchimento de concreto e painéis wall para os pisos.

VIGA METÁLICA SEÇÃO CAIXÃO

PILAR METÁLICO SEÇÃO H

117










6. BIBLIOGRAFIA ANDO, Z. Pioneirismo e Cooperativismo: História da Cooperativa Agrícola de Cotia. Tradução de José Yamashiro. São Paulo: Editôra Sociologia e Política, Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1961. ARIZONO, M. et al. O distrito Industrial do Jaguaré. 1974. 62 f. Trabalho apresentado como requisite parcial para aprovação na disciplina Introdução ao Planejamento, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1974. BARDI, LINA BO, RODRIGUES DOS SANTOS, CECÍLIABARDI, LINA BO et al. Centro de Lazer, SESC, Fábrica Pompéia - [Lina Bo Bard]. Lisboa: Editorial Blau, 1998. ______. SESC Fábrica da Pompeia. São Paulo: Ed. SESC SP, 2015. ______. Teatro Oficina. São Paulo: Ed. SESC SP, 2015. DE MENDONÇA, G. K. B. Infraestrutura Urbana: Uma Investigação sobre pontes em São Paulo. 2012. 76 f. Trabalho Final de Graduação (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. FAGGIN, Carlos Augusto Mattei. Arquitetura de reconversão. São Paulo: Associação Viva o Centro, 1994. FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE HIDRÁULICA. Caderno de bacia hidrográfica: córrego Jaguaré. São Paulo: SIURB/FCTH, 2016. HISTÓRIA da Cooperativa Agrícola de Cotia. São Paulo: CAC, 1957. KÜHL, B. M. Preservação da arquitetura industrial em São Paulo: Questões teóricas. São Paulo, FAUUSP, Relatório Científico de auxílio à pesquisa FAPESP, 2005. KUTTER, V. P. Modelo de Abordagem para Edificações em Situações de Reciclagem. 1999. 200 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.

126


MOORE, ROWANRYAN, RAYMUND. Building Tate Modern. London: Tate Gallery, 2000. ROBERT, P. Reconversions. Paris: Éditions du Moniteur, 1989. SAITO, Hiroshi. Cooperativa Agrícola de Cotia, do Brasil. In: ROSSI, A. et al. Las cooperativas como método de desarrollo de regiones y comunidades. [s.n.] Washington D.C.: 1964. II, p. 45-86. SUÁREZ, M. B. F. Intervenção em edificações preexistentes: O projeto de Lina Bo Bardi para o Sesc Fábrica da Pompeia. 2016. 117 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. TANIGUTI, G. T. Cotia: imigração, política e cultura. 2015. 345 f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. ZAMBELLI, Matteo. La High Line di New York: un parco nel cielo. Milano: Mimesis, cop 2002.

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