4 minute read

Jardins da China

Next Article
Portugal global

Portugal global

Cláudia Ribeiro

(Continuação da edição anterior) foram parques muito extensos para lazer e caça mandados construir pela aristocracia da antiguidade. Registos posteriores, da dinastia Han (206 a.C. - 220 d.C.), informam acerca de um interesse emergente na posse de plantas e animais raros. A associação entre rochas e as montanhas dos Imortais já imperava então.

Advertisement

Os primeiros jardins imperiais, isto é, pertença do imperador, têm origem nos parques de caça da nobreza da antiguidade e serviam ainda como demonstração de prestígio e poder. Foi este um dos propósitos cimeiros do primeiro imperador, Qinshi Huangdi, ao mandar construir o 上林 Shanglin (Bosque Supremo), com cento e quarenta edifícios, montanhas e cursos de água e abrigando colecções de plantas e animais raros. Com o imperador Han de construção e cenários provenientes de todo o império. Além disso, elementos vindos do Ocidente, requerendo a colaboração de padres jesuítas, foram igualmente incorporados alguns dos jardins.

Combinando jardins luxuriantes com esplendorosos palácios imperiais, os jardins imperiais eram de uma vastidão impressionante, mesmo os de menores dimensões. Abarcavam vastos cenários com diferentes características, alguns deles tirando proveito da natureza local, outros criados artificialmente. Dada a vastidão, materializavam a concepção muito chinesa de 园 中园 yuanzhongyuan, “jardins por dentro de jardins”, que se manteve até ao final do séc. XIX. Criavam-se complexos de jardins dentro de jardins através de divisórias como pátios, muros ou portas, caminhos empedrados e pontes, que iam bloqueando ou desimpedindo a visão. E, para além dos jardins, espraiavam-se campos para cultivar amoreiras e criar bichos-da-seda.

•Figura 31. Recriação de uma rua comercial de Suzhou no Palácio de Verão, Pequim. By Reinhold Möller, CC BY-SA 4.0, https:// commons.wikimedia.org/w/index. php?curid=116170239

(1115-1234 d. C.) transformaram o pântano num lago e mandaram construir no centro uma ilha artificial, a Ilha da Flor de Jade, além de ergueram na área o Grande Palácio da Tranquilidade. Os governantes da dinastia mongol Yuan (1279–1368 d.C.) construíram a sua capital em redor desse Palácio, mas acrescentaram muralhas, renovaram o lago e renomearam-no Lago Tai Ye.

Wudi foram criados os modelos para as composições rochosas dos jardins posteriores. As classes superiores da dinastia Han também já mandavam construir jardins. Ficaram então formados os princípios básicos, como o par montanha e água, a arquitectura e o cânone tradicional de árvores e plantas.

Mas a grande época dos jardins imperiais foi a última dinastia chinesa, a Qing. O imperador Qianlong, em particular, foi um verdadeiro fou des jardins, chegando mesmo a inventar os parques temáticos. Os projectos dos Qing seguiam de perto o tratado clássico acerca da arte dos jardins, o Yuan Ye de Ji Cheng. E davam ênfase à concepção do jardim como microcosmos do império, ao adoptar técnicas

Entre as estruturas arquitectónicas podiam encontrar-se locais para receber a corte, templos para venerar os antepassados e o Buda, óperas, plataformas ou pavilhões para contemplar espectáculos de fogo de artifício, ruas comerciais, edifícios para receber hóspedes e para habitação, para ler e para entreter, etc.

O Palácio de Verão 颐和 园Yiheyuan, em Pequim, foi construído em 1750, mas destruído em 1860. Foi mandado reconstruir pela imperatriz Cixi. É um microcosmos do império em duzentos e noventa hectares. Grande parte da inspiração provém da cidade de Hangzhou e do Lago Oeste, assim como de Suzhou e dos jardins junto ao lago Tai. Ostenta uma cópia do Jardim Jichang na montanha Huishan, o Jardim da Alegria Harmoniosa (Xiequ yuan). Na área por trás do lago desenrola-se uma rua que imita as ruas comerciais de Suzhou e Nanquim.

Para além disto, o jardim do Palácio de Verão recorre à acima mencionada técnica jie jing, pedir de empréstimo a paisagem em redor, avistando-se as montanhas do oeste e a colina Yuquan reflectindo-se no lago Kunming. Além disso, este lago apresenta três ilhas artificiais no centro a evocarem Yingzhou, Penglai e Fangzhang. A estrutura principal é o templo budista da Grande Gratidão e da Longevidade, mandado construído para celebrar o aniversário da imperatriz Cixi. Mas o centro do jardim, sobre a mais alta plataforma, é ocupado pelo pavilhão octogonal Foxiang (Pavilhão do Incenso de Buda). Entre vários pavilhões vêem-se repuxos de água que foram criados à semelhança dos pavilhões de Versailles pelo jesuíta Benoît.

•Figura 33. O Grande Corredor no Palácio de Verão, Pequim. By d'n'c - The Long Long Corridor [Summer Palace (Yiheyuan) / Beijing], CC BY-SA 2.0, https:// commons.wikimedia.org/w/index. php?curid=39196805 php?curid=53673160 php?curid=128475979 php?curid=97913895

Não muito longe, situam-se obras-primas da engenharia civil, a Ponte do Cinturão de Jade e a Ponte de Dezassete Arcos.

Quando decidiram mudar a capital para Pequim em 1421, os governantes Ming (1368-1644 d.C.), porém, instalaram-se numa nova Cidade Proibida. O lago Taiye foi de novo renovado e acrescentaram-lhe vários elementos artificiais. O Parque Beihai tornou-se no jardim mais importante da cidade. Os Qing acrescentaram muitos elementos arquitectónicos e acrescentaram-lhe mais área.

O Parque Beihai combina a grandiosidade dos jardins do norte com o requinte dos jardins do sul e exibe uma conjugação perfeita de palácios imperiais e de construções religiosas.

Na Ilha da Flor de Jade ergue-se a sua imagem de marca, o Dagoba Branco de trinta e sete metros de altura. Construído em 1651 no antigo local do Palácio na Lua, foi ali que Kublai Khan recebeu Marco Polo. O Dagoba Branco foi destruído por um terremoto e reconstruído duas vezes. Actualmente, apoia-se numa base de pedra e serve de miradouro com uma bela vista de todo o cenário.

•Figura 32. O pavilhão octogonal Foxiang sobranceiro ao Lago Kunming no Palácio de Verão, Pequim. By Pavel Špindler, CC BY 3.0, https:// commons.wikimedia.org/w/index.

No sopé sul da colina da Longevidade, é possível percorrer os setecentos e vinte e oito metros do Grande Corredor e apreciar as suas mais de oito mil pinturas.

•Cima: Figura 34. A Ponte do Cinturão de Jade no Palácio de Verão, Pequim. By Colin Capelle - https:// www.flickr.com/photos/51252776@ N04/8082529196/, CC BY 2.0, https:// commons.wikimedia.org/w/index.

•Baixo: Figura 35. A Ponte de Dezassete Arcos no Palácio de Verão, Pequim. By N509FZOwn work, CC BY-SA 4.0, https:// commons.wikimedia.org/w/index.

O Parque Beihai 北海公园, em Pequim, conta com uma área de mais de sessenta e nove hectares com um lago que cobre mais de metade. Ergue-se sobre o que foi outrora uma área pantanosa com ligação ao rio Gaoliang. Os governantes da dinastia Jin https://commons.wikimedia.org/w/ index.php?curid=22602015

This article is from: