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Processo de Transformação da Advocacia
Pedro Cherem Pirajá Martins
Assessor Jurídico do SEBRAE/SC Presidente da Comissão de Inovação da OAB/SC
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pedro@pirajamartins.com.br
Em 2006, quando me formei em Direito pela Universidade CESUSC em Florianópolis, a maioria dos formandos, à época, já não queriam exercer a profissão de advogado. Ou estudavam para Concurso Público ou se preparavam para trabalhar em empresas familiares, sem esperança de entrar no mercado concorrido da Advocacia.
Naquela época, o percentual de admissão do Exame da Ordem dos Advogados girava em torno de10% dos participantes.
Felizmente, desde o início da Faculdade, tive a sorte de trabalhar, como estagiário, em um escritório de renome, sob o comando de uma das mais brilhantes mentes da advocacia, Doutora Solange Donner Pirajá Martins, de quem tenho o privilégio e orgulho de ser neto. Sem dúvida, o fato de, naquele momento, estar trabalhando e aprendendo o ofício de advogar com essa Mestra, preparou-me para enfrentar adequadamente a barreira do Exame da Ordem.
Quando passei no exame, pude constatar que a prática na advocacia valia mais do que anos de especialização, já que o ofício sobre o qual nos debruçamos não se aprende, somente, em salas de aula, mas sim atuando e exercendo a profissão.
Mesmo indo na contramão de meus colegas, foquei em praticar o direito nas suas mais diversas áreas e não me preocupei tanto com os títulos que a Academia oferecia. Os anos foram passando e, então, com o surgimento do processo de Transformação Digital e com a evolução da Indústria 4.0 a aposta que fizera no passado de me dedicar a trabalhar a amplitude do direito, parece ter feito mais sentido, já que com advento da tecnologia, passamos a obter informações sobre qualquer assunto de uma forma mais rápida e prática. Passamos a ter as informações necessárias, literalmente, na palma de nossas mãos, em nossos celulares, tablets e laptops ligados à rede mun
dial de computadores.
O avanço tecnológico expo- nencial causou uma revo- lução na forma de atuar de todos os profissionais ligados ao serviço. Todas aquelas ati- vidades consideradas repe- titivas e necessárias foram substituídas por automação das máquinas e restou ao profissional focar em atua- ções estratégicas, criativas, baseadas no pensamento crí- tico, na multidisciplinarieda- de e em muita empatia.
Mas como a Revolução da Indústria 4.0 obrigou a rein- venção do profissional do Direito? Quais seriam as di- retrizes para que a tecnologia não substituísse essa mão de obra especializada?
O processo de transformação da advocacia passa, agora, as- sim, por uma profunda mu- dança dividida em 3 pilares, quais sejam: a) Alteração do Sistema Educacional; b) Mu- dança na OAB; c) Reestrutu- ração dos Escritórios de Ad- vocacia e de Profissionais do Direito.
Inicialmente, devemos nos atentar com uma mudan- ça profunda das Faculdades de Direito no Brasil, se, de fato, estejamos planejando a transformação da advocacia.
Precisamos preparar o estu- dante dos cursos de Direito para esse mundo novo que ora se apresenta.
Neste sentido, faz-se ne- cessário promover junto às Universidades a alteração da grade curricular, focando e enfatizando temas como Gestão, Empreendedoris- mo, Informática, Inovação e metodologias ágeis para que o estudante chegue ao mer- cado de trabalho preparado para as demandas deste novo mundo que o permita en- frentar a nova realidade alia- do à tecnologia e à velocida- de exponencial de mudança. Um segundo aspecto funda- mental para a transformação diz respeito à profunda mu- dança que devemos imple- mentar na Instituição que nos representa, a OAB.
Refiro-me à mudança de cul- tura organizacional, aliada à tecnologia de modo que a entidade consiga realizar transformação digital, pau- tada com foco no cliente, congregando valores associa- tivos para que possa liderar a transformação dos advoga- dos, adquirindo o seu prota- gonismo, mantendo sua co- nexão e estabelecendo novos valores ligados à advocacia. vemos pensar em uma alte- ração organizacional dos Es- critórios de Advocacia que, atualmente, não se reconhe- cem como empresas e atuam sem a utilização de ferramen- tas básicas de Gestão, Plane- jamento, Marketing Jurídico, RH e Inovação.
E, para concluir, precisamos focar na formação do advo- gado, oferecendo possibili- dades de capacitações e trei- namentos, agregando a via do conhecimento, do Em- preendedorismo e da Inova- ção, promovendo o trabalho multidisciplinar, consultivo e estratégico, aliado à tecno- logia que destinará o traba- lho repetitivo às máquinas, permitindo que o profissio- nal seja mais criativo e tenha tempo de se dedicar, como se espera, a resolver problemas de maior complexidade per- tinentes à sua competência profissional.
Para que isso aconteça é ne- cessário o envolvimento de todos que se interessam pela importância da ciência do Direito, no seu sentido am- plo, e que, enfim, atenda às necessidades do mundo atu- al.
E então? Vamos embarcar neste movimento rumo à ad- vocacia do futuro?