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O Direito do Futuro: a inovação em uma abordagem macro
O Direito do Futuro:
a inovação em uma abordagem macro
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Aline Rodrigues e Steinwascher Head of Legal na Pag! ex-Diretora Jurídica da Koin
alinebfrodrigues@gmail.com
Estamos vivendo a chamada Revolução Digital. De bancos a imobiliárias, a forma como consumimos bens e serviços está sendo cada vez mais impactada por esta nova realidade. E o universo jurídico, como fica neste processo de transformação?
Desde a máquina de escrever o mundo do Direito mudou pouco. As petições que antes eram datilografadas hoje são digitadas. O mundo já fala de uso da inteligência artificial e suas infinitas possibilidades de aplicação desde meados dos anos 80 e nós usamos todo esta evolução aplicando o CTRLC+CTRLV. Peças cada vez mais longas, recheadas de jurisprudências, mais e mais padronizadas (para não dizer copiadas). O volume de textos (que já era bem alto) com certeza aumentou. Será que alguém está lendo tudo isso? Será que todo este volume está agregando valor ao nosso trabalho?
Partindo destas reflexões iniciais podemos ver que há muitas oportunidades para aprimorarmos a forma como vemos e praticamos o Direito. Um ponto crucial para a compreensão de toda a revolução jurídica é sem dúvidas a multidisciplinaridade. O profissional jurídico do futuro precisa estar atento aos conhecimentos de outras áreas e como estes conhecimentos podem evoluir suas próprias entregas. Tornando esta ideia mais palpável, hoje já temos grandes pilares de intersecção do Direito com:
• Design: o conhecimento de metodologias como o design thinking podem melhorar a relação entre o Direito e as pessoas. Essa abordagem tem como principal objetivo transformar a experiência das pessoas para que elas possam efetivamente entender o conteúdo jurídico sem precisar de um tradutor de juriquês (advogado) para tanto. Com isso, além de aumentar o conhecimento das pessoas sobre seus direitos e deveres, ainda é possível ampliar o acesso delas à justiça (que ouvimos muito falar mas infelizmente vemos pouco acontecer).
• Ciência de Dados: uma abordagem do universo jurídico sob o ponto de vista de banco de dados organizado permite criar indicadores de performance do nosso trabalho (os famosos KPIs), além de traçar estratégias baseadas na observação e organização destes dados. Quais são as principais dúvidas dos clientes? Por quais motivos eles processam mais uma empresa? Quanto tempo demoramos para negociar e fechar um contrato? Todas essas perguntas podem trazer respostas valiosas para o negócio como um todo e podem ser respondidas por meio de uma base de dados organizada dentro do jurídico. • Tecnologia: desde a criação de sistemas experts (que podem guiar as pessoas por um universo de conteúdos jurídicos pré-organizados à medida que esta pessoa responde determinadas perguntas), passando por sistemas que poderão ajudar na análise e organização de documentos (ou automatizar a produção de documentos), poderemos também contar com máquinas inteligentes o suficiente para fazer predições sobre as chances de êxito de determinada demanda ou tese.
• Operações: a visão do jurídico como uma área com seus processos e fluxos operacionais pode evoluir a forma como organizamos e gerimos nosso trabalho. Desde as negociações com parceiros externos até o gerenciamento do conhecimento de um time, a criação de uma área de operações jurídica é a resposta que muitas empresas estão dando para que cada vez mais o jurídico possa ter fluxos e processos organizados, aumentando assim a eficiência das suas entregas.
Estes pilares são sem dúvidas bases importantes para a construção do Futuro do Direito. Cada um deles exige que nós estejamos dispostos a conhecer de outras áreas, tendo uma atuação multidisciplinar. Saber mais sobre tecnologia, design e ciência de dados é sim crucial para atuar no futuro; precisamos estar prontos para esta imersão.
Trabalhar com conhecimentos diferentes também significa trabalhar em conjunto com outras pessoas, especialistas em outros assuntos, que poderão trazer uma contribuição valiosa ao nosso universo - não seremos advogados de dados, nem advogados desenvolvedores - precisamos ter as bases para entender como estes saberes funcionam para então contar com seus especialistas na construção da revolução jurídica que precisamos tanto ver acontecer.
É interessante ver como, apesar de ser uma das ciências mais antigas de que temos notícia, a ciência jurídica ainda é aplicada da mesma forma quase que desde sempre. O advogado trabalha de forma semiartesanal, com pouca visão do seu trabalho como uma série de etapas e processos que podem sim ser feitas de outro jeito. Entender que precisamos melhorar é parte fundamental neste processo e cabe a nós, juristas, abraçar esta causa e torná-la uma realidade.