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plural+ trajeto. identidade. arquitetura.


trajeto. identidade. arquitetura.

plural+ POR: IARA NUNES CARDOSO

ORIENTADOR: DR. CÉSAR ROCHA MUNIZ

CENTRO UNIVERSITÁRIO BARÃO DE MAUÁ Lisboa, 2021


Esta pesquisa é dedicada a Deus, causa primordial de todas as coisas, e aos meus pais, por terem sempre me incentivado a correr atrás dos meus grandes e pequenos objetivos, e por continuarem apoiando meus sonhos pelo mundo afora.


sumário INTRODUÇÃO Teoria Objetivos Justificativa Problemática

PROJETO BÁSICO

PROPOSTA PROJETUAL Referências Conceito Local

01 17

Memorial Estrutura Implantação Plantas e Cortes Interiores

24

CONSIDERAÇÕES FINAIS Encerramento Agradecimentos Bibliografia

46


uma redação em primeira pessoa Um projeto científico não deve ser considerado somente um projeto monográfico, mas sim parte de um estudo complexo em que o pesquisador esboça seus experimentos, através de um plano de estudos, o qual descreve todo o processo da pesquisa, desde as fundamentações do tema, as etapas de desenvolvimento do projeto, chegando até as conclusões do assunto, as quais são defendidas e argumentadas a partir de uma extensa elaboração de contextual e referencial.

introdu ção

O projeto também segue como um instrumento sistemático pela busca das descobertas cientificas, uma vez que ele se desenvolve a partir de um problema ou oportunidade para que o pesquisador possa adquirir com clareza e eficiência o objetivo que pretende-se com a abordagem do assunto e sua possível execução. A escrita cientifica apresenta diversas particularidades especificas que buscam transmitir informações e conhecimentos com objetividade, exatidão, imparcialidade e ética, para que desta forma possa ser compreendido por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e não somente para participantes do assunto, mas também para o público em geral, contribuindo para o progresso do meio cientifico e desenvolvimento da sociedade e seus conhecimentos (PONTE, GOUGEL e LOPES, 2021). Para que as particularidades de desenvolvimento do projeto possam ser respeitadas há uma necessidade de cumprimentos de normas e regras

defendidas e orientadas pela ABNT, criada em 1940, dado que a mesma delimita normas e regras para que um projeto cientifico, que tem como base uma pesquisa monográfica, deve ser construída e ilustrada de acordo com seus procedimentos e sistematização. A normalização de processos no desenvolvimento de um projeto é de extrema importância para que haja uniformidade e padronização nas avaliações e modo de orientar as inúmeras abordagens e também assegura as originalidades cientificas. Entre diversas orientações para a construção de uma redação científica, o tempo verbal é um dos tópicos em que ainda há uma divergência de opiniões entre os pesquisadores entre uma redação pessoal ou impessoal para o texto cientifico, posto que a ABNT e outras associações de normas técnicas internacionais não exigem com exatidão o uso da primeira pessoa. Atualmente existe uma utilização tradicional, o qual é defendida por meio do desenvolvimento do sistema impessoal nas redações, visando uma suposta imparcialidade, ou seja, as conclusões e resultados do projeto são baseados e referenciados a partir de outros autores.


Entretanto, há defensores do uso da primeira pessoa que alegam que os pesquisadores devem e tem o direito de apropriar-se das suas próprias conclusões e razões. Alguns autores relatam a maneira de ser impessoal como: “(...) retomar a uma ciência já ultrapassada que assumia que o conhecimento é objetivo porque as conclusões são determinadas por dados objetivos, que não dependem da vontade do cientista.” (KAHLMEYER-MERTENS, FUMANGA, et al., 2007).

Por certo, atualmente, há uma tendência para o uso da primeira pessoa em documentos científicos publicados em revistas de alto impacto, justamente para que haja uma discussão sobre o assunto, o qual não tem ainda uma definição de certo ou errado e na maioria das plataformas de publicação não exigem regras sobre este sentido da linguagem (KAHLMEYER-MERTENS, FUMANGA, et al., 2007). A verdade é que a leitura de outros periódicos ajuda que outros autores definam suas preferências e utilizem de acordo com seu estilo e sua razão. Assim, o meu desígnio não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão, mas apenas mostrar de que maneira me esforcei por conduzir a minha. Os que se metem a dar preceitos devem considerar-se mais hábeis do que aqueles a quem as dão; e, se falham na menor coisa, são por isso censuráveis. Mas, não propondo este escrito senão como uma história, ou, se o preferirdes, como uma fábula, na qual, entre alguns exemplos que se podem imitar, se encontrarão talvez também muitos outros que se terá razão de não seguir, espero que ele será útil a alguns, sem ser nocivo a ninguém, e que todos me serão gratos por minha franqueza. (LEBRUN, GUINSBURG e JUNIR, 1973, p. 4).

De acordo com a estrutura de linguagem nos documentos científicos considerada padrão, o qual é citada anteriormente como um modelo objetivo e imparcial, é possível discutir e desenvolver um assunto sem introduzir a subjetividade? Existe a possibilidade de uma escrita verdadeiramente e inteiramente objetiva e neutra, desvinculada totalmente do sujeito e do contexto social e cultural no qual ele está inserido? (OLIVEIRA, 2017). A adoção de um procedimento e posicionamento pessoal realmente é um real obstáculo à dissertação argumentativa? Em outras palavras, a subjetividade é fundamentada pelo exercício da língua, uma vez que cada locutor apropria-se de forma como sujeito, isso revela que mesmo com a ausência de marcas pessoais não representa a inexistência de subjetividade em um discurso (OLIVEIRA, 2017). Essas definições visam eu e tu como uma categoria da linguagem e se relacionam com a sua posição na linguagem. [...] e pouco importa que essas formas devam figurar explicitamente no discurso ou possam aí permanecer implícitas. (ÉMILE, 1995, p. 279).

Desta maneira, todas as formas e as funções linguísticas, mesmo sendo elas no parecer totalmente objetivas, imparciais e neutras, como o sujeito indeterminado, estão completamente submetidas ao sentido adotado pelo autor em relação aquilo que discute e elabora, portanto, são plenas de subjetividade (OLIVEIRA, 2017).

Diante do exposto e considerando o caráter subjetivo de uma pesquisa fortemente baseada nas experiências individuais do pesquisador durante o período de intercâmbio, a caracterização do trabalho somente se eleva a partir da utilização dessa linguagem. Desta forma, os assuntos discutidos seguem uma coerência, uma vez que tornam-se mais significativos, sendo fortemente originados da experiência pessoal, entretendo, sendo elas fundamentadas e referenciadas.


contexto da investigação Setembro de 2019 é marcado pelo início de uma busca pela diversidade cultural, visto que naquele período iniciei uma busca de experiências intensas em diferentes países. Tudo começa por meio de um intercâmbio de graduação em Portugal, uma vez que a partir desse processo em explorar um novo país com clima distinto, lugares e espaços com referenciais históricos, pessoas com outros hábitos e costumes, fomente a vontade de ir mais além no sentido espacial e cultural. A maneira como novos caminhos geográficos se abrem, através de oportunidades de viagens para outros países dentro do continente Europeu, o desejo em conhecer e experimentar lugares de diferentes identidades espaciais é intensificado a ponto de realizar um percurso geográfico intenso e longo entre vários países da Europa de uma só vez. Durante vinte e cinco dias, nós passamos a conhecer, interagir e experimentar lugares distintos, os quais envolveram-me de maneira a questionar sobre os espaços e suas principais características e valores. Porém, mais do que isso, há um termo no qual sentimos a necessidade de refletir e querer explorar seu significado que é a identidade do lugar. De que maneira o lugar pode influenciar o indivíduo? Qual a intensidade desta influência? Quais as formas de interagir com o espaço e qual, para nossa perspectiva pessoal, é a melhor forma?

Quais são os sentimentos e emoções que os lugares proporcionam no indivíduo e por quê? Aos nossos sentidos, como apreciadores dos lugares em cada país que estivemos, a integração representa-se de maneira a divulgar culturas e suas identidades, faz com que também crie oportunidades para novas ideias e novas soluções cientificas, tecnológicas, sociais e culturais. Diante disso, este trabalho surge como forma de provocação sobre a relação do homem com o espaço envolvente, uma vez que toda a interação entre os homens é marcada pelo contexto espacial através do qual ela se exprime (BARRACHO e DIAS, 2010). Também a reflexão sobre emoções e comportamentos espaciais que o homem manifesta ao criar seu mundo circundante (BARRACHO e DIAS, 2010). O mesmo também envolve a subjetividade e a afetividade em interagir com diferentes espaços de maneiras diversas de observar, expressar e conectar, seja a relação entre espaço – indivíduo; espaço – objeto; indivíduo – objeto. O lugar pode ser considerado como um elemento importante na compreensão cultural de cada lugar, contudo, ele não é apreciado em si mesmo, mas em função das atividades sociais que ele proporciona ou não.


O lugar também é pensado a partir do conjunto indissociável de sistemas de objetos naturais ou fabricados e de sistemas de ações, deliberadas ou não (CAMPOS, 2008). Portanto, é o lugar material que possibilita um sistema objetivo de influência dos mais variados fatores sociais, também um sistema de objetos que podem ser considerados como um conjunto de coisas, as quais estão entrelaçadas de alguma forma, resultando em um sistema coerente e uma unidade completa entre ações e construções físicas no espaço (CAMPOS, 2008). O lugar existe por aquilo que o ocupa (BARRACHO e DIAS, 2010). A forma como o indivíduo compreende o espaço em que ele está inserido, depende também de sua própria maneira de experimentar as representações físicas e culturais do lugar, do seu ponto de vista pessoal ou coletivo, os quais atribuem significado e afetividade (SÁ, 2014). Por exemplo, em Lisboa passei por uma rua chamada Rua Garrett, sendo uma das ruas mais importantes do bairro do Chiado no centro histórico da cidade. Nesta rua, há diversos cafés, livrarias e lojas. Todas as vezes que caminhei por ela, consegui apreciar as interações humanas existentes naquele único lugar, que por sinal eram muitos e de diferentes formas. Ao caminhar por esta rua e lugares próximos a ela, consegui capturar cenas diversas, como: pessoas sentadas as esplanadas dos cafés, ou até mesmo tendo encontros importantes; pessoas interessadas em compras, entrando e saindo de lojas; pessoas sentadas nas escadas da Basílica

de Nossa Senhora dos Mártires a vender seus artesanatos; grupo de pessoas explorando o lugar de forma mais livre, brincando com malabares, bambolês no meio da rua; pessoas tocando violão e cantando músicas em busca de um “trocado”; pessoas sentadas lendo jornais entre outras situações. Há um misto de experimentações em um só lugar através de suas representações físicas existentes ali, sejam elas as escadas, os bancos das esplanadas, o meio da rua como forma livre para experimentação, dentro de lojas, livrarias etc. Cada pessoa se identifica e explora o lugar com base em sua perspectiva pessoal e/ou coletiva, porém da forma que mais lhe convém. Essa interação pode ser promovida por um sistema de estímulos que pode produzir, facilitar ou dificultar um determinado comportamento. Desta maneira, a arquitetura e a arte se relacionam segundo uma compreensão do espaço que não resulta somente de sua materialidade, mas também da sua percepção e a maneira como o indivíduo se posiciona como participante deste cenário entre espaço e objeto, seja por meio de movimentos do indivíduo, por meio de sua presença ali ou através de sua própria capacidade de integração (RAPOSO, 2016).


Ou seja, a relação que há entre a Rua Garrett e as representações físicas existentes ali, por exemplo, os cafés, as lojas, as esplanadas, as escadas, as esquinas e praças, só se consolidam e fazem parte das características do lugar, quando há a participação do homem, como ele se movimenta naquele determinado lugar, como ele se relaciona e se interage, fazendo parte do cenário entre o lugar e os objetos ali presentes. Os objetos podem ser reconhecidos como os elementos físicos que compõe os cenários, dando valores e características ao mesmo. Também desenvolvem o papel de ser o elemento material que pode ser percebida pelos sentidos, sendo ele o coadjuvante do espaço geográfico, consoante uma percepção inteiramente pessoal. Ao final deste trabalho, um objeto nascerá como forma de transcender o sentido de ser somente uma coisa material sem significado e passará a ser reconhecido como um “instrumento” arquitetônico significante, o qual permite uma interação direta ou indireta entre o indivíduo e o espaço físico.


objetivos

justificativa

Projetar uma instalação arquitetônica a fim de colaborar com a integração entre as pessoas e os lugares, promovendo aproximação e contato entre diferentes aspectos da identidade do lugar.

O território Europeu apresenta um cenário abundante em relação a diversidade cultural e de valores espaciais, por motivo de que os países participativos deste continente são relativamente menores do que os países do resto do mundo e também por uma evolução histórica entre eles.

Também criar assim um percurso de intervenções efêmeras analógicas entre diferentes culturas que fazem parte do continente europeu, com a intenção de explorar e ressaltar a identidade do lugar e seu contexto. A integração entre as pessoas e os lugares contribui para minimizar a dificuldade em aproximar culturas distintas, isto é, a instalação arquitetônica implantada no meio social urbano, dependendo de suas configurações estruturais e conceituais, pode interagir com o indivíduo por formas diferentes ou por um conjunto delas. Essas formas podem contribuir para que o indivíduo produza um estímulo de sensações emoções ao interagir com o espaço e seus objetos inseridos no mesmo (OLIVEIRA e HERNÁNDEZ, 2011). Além do sensorial, também facilita a interpretação da identidade do lugar. O percurso de intervenções efêmeras analógicas, enaltece a ideia de que cada lugar, apesar de ser um diferente do outro, estão parcialmente ligados e coesos através da instalação, isto é, contribui para que haja um diálogo entre diferentes lugares, desconstruindo barreiras conflituosas entre culturas.

Suas leis e acordos favorecem uma mobilidade com menos restrições, ou seja, há uma forte ligação entre países vizinhos e que fazem parte deste mesmo acordo continental. Além das ligações harmoniosas, há também ligações que apresentam certos conflitos territoriais e de competitividade entre eles, tanto em questões sociais, arquitetônicas e artísticas, visto que isso pode causar uma forte dificuldade em explorar e aproximar os lugares e suas identidades. Sendo assim, cria-se uma oportunidade em relacionar características e valores de cada lugar, uma vez que o trabalho favorece e contribui para uma maior conexão e associação entre eles. Essa relação entre territórios, proporciona uma maior movimentação entre pessoas e culturas, segundo a nossa experiência pessoal. A integração que observamos ao longo de todo este percurso de viagem, é a chave para compreender a identidade espacial de cada lugar. Ao descobrir o efeito da integração espacial com o indivíduo, a seguinte questão é observada:

Para que o reconhecimento da identidade do lugar é importante? Quais são suas funções e suas qualidades dentro do sistema social urbano? A transformação e produção do lugar pode ser compreendida a partir de uma consequente intervenção do homem no espaço natural, uma vez que ele adapta o espaço a si criando configurações, sobretudo levando em consideração três elementos: forma, estrutura e função. Desta forma, as três categorias conseguem de maneira segura interpretar o espaço, através de seus vários objetos geográficos cristalizados nele (SANTOS, 2009). É neste quadro que o presente trabalho se desenvolve para manifestar esta compreensão do espaço e sua identidade, através dos elementos citados acima. O conceito de identidade de lugar pode ser vista como uma categoria social, sendo um significado socialmente elaborado, dependendo do seu contexto geográfico (OLIVEIRA e HERNÁNDEZ, 2011), através da arquitetura como forma de intensificar a relação humana com o espaço e suas características.


metodologia A problemática analisada nesse contexto é a complexidade em reconhecer e identificar as características, valores e as relações entre um lugar e outro. Quando se experimenta e vivencia os lugares, qual a maneira que achamos de reconhecer cada lugar e suas relações com o homem?

através de forma teórica, como leituras sobre lugares seus valores e memórias.

A discussão parte de interrogativas a respeito dessa complexidade. O sentir o lugar, reconhecer o lugar de acordo com suas composições físicas e de acordo as interações e movimentações humanas possíveis a serem executadas nele. A experiência do percurso citada no início do texto, além de fazer-nos questionar a respeito dessas interações e experiência do homem nos lugares como assunto a ser problematizado, também proporciona uma grande oportunidade em debater a importância da troca entre as composições dos lugares e seus valores.

A noção do que é e como funciona o espaço é de extrema importância para o desenvolvimento do trabalho devido à forte relação com os lugares. Portanto é necessário que possamos entender e compreender como o espaço se constrói ao longo do tempo e seus momentos, uma vez que é mediante ao lugar que as relações temporais, como passado, presente e futuro se cristalizam (CAMPOS, 2008). O espaço também é relacionado a uma compreensão de um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e presente e que são manifestadas através dos processos e funções (SAQUET e SILVA, 2008).

Para que ocorra todo o desenvolvimento da instalação arquitetônica efêmera, cujo contexto é diretamente referente ao lugar e sua identidade, é de extrema importância a fundamentação com pesquisas teóricas e empíricas, de acordo com os assuntos a serem discutidos no projeto. O embasamento parte de uma busca por explorar diversas formas de interagir com os espaços, pessoas e culturas diferentes, sejam elas através das atividades práticas, como por exemplo, viagens, entrevistas com pessoas de outras nacionalidades nas ruas de Lisboa e também

É evidente que o lugar faz parte da existência e têm seu conceito definido a partir de algo que é considerado mais do que somente uma localização abstrata. Sua definição é pensada em uma totalidade constituída por coisas concretas que possuem substância material, forma, textura e cor, as quais juntas concretizam a essência do lugar. Também é considerado suas características imateriais, as quais consolidam o lugar de acordo com seu acontecimentos, valores sociais e suas representações físicas que condicionam a identidade do lugar. (SCHULZ, 1976).

Os principais fundamentos teóricos a serem abordados e que irão contribuir para o desenvolvimento do trabalho segue subdivididos em categorias, cada qual em um parágrafo.

Além da importância de compreender a noção dos espaços, também é indispensável a discussão do espaço em relação ao homem, ou seja, o lugar é onde ocorre as relações sociais humanas, as transformações emocionais do homem (SANTOS, 2009), uma vez que o espaço cria as condições para que tenhamos as referências para dar significado ao lugar e seguir traçando maneiras mais afetivas para valorização do mesmo. (BARRACHO e DIAS, 2010). O lugar como possibilidade de construção da identidade e pertencimento é um espaço construído como resultado da vida diária das pessoas que vivem ali, como trabalham, como produzem, como se alimentam e expressam suas memórias e seus sentimentos (CALLAI, 2004). Também resultado da vida de determinados grupos sociais que ocupam um determinado espaço em um tempo específico (SÁ, 2014). A memória é enraizada no concreto, no espaço, no gesto, na imagem e no objeto. A história somente se liga às continuidades temporais, às evoluções e ás relações das coisas (NORA, 1993). A dimensão espacial está associado por definição a uma identidade, que se dá ao lugar e podem ser considerados tanto os espaços pequenos como rua ou um bairro, mas também a uma cidade ou mesmo um país. E até que ponto esta dimensão espacial determina fenômenos psicológicos diferenciados aos individuos. (OLIVEIRA e HERNÁNDEZ, 2011)


O patrimônio é considerado um elemento fundamental na construção da identidade social e cultural do lugar e simultaneamente, é a própria materialização da identidade de um grupo ou sociedade (DONIZETE).

A pesquisa de campo é fundamental para que conseguimos perceber as movimentações das pessoas no espaço e como elas manifestam-se e movimentam-se de acordo com as configurações e características espaciais.

A arquitetura é definida como lugar ou como criadora de lugares para viver, e o lugar para viver é uma interpretação sociofísica em que entrecruzam de maneira simultânea o falar e o habitar, o meio físico e o meio social, o conceitualizar e o figurar (SALCEDO, CHAMMA, et al., 2015). As premissas conceituais do espaço arquitetônico estão relacionadas diretamente com o significado do objeto artístico inserido no mesmo, é através de suas características e suas linguagens estéticas, formais e funcionais que condicionam a ligação entre espaço e arquitetura (RAPOSO, 2016).

O contato direto é em lugares com grandes fluxos culturais, centros urbanos europeus, os quais carregam uma intensa bagagem entre relações humanas e espaciais. Por exemplo, uma cidade que é o principal campo de experimentação para o desenvolvimento do trabalho, é a cidade de Lisboa, capital de Portugal. Também, capitais como: Madri, Espanha; Roma, Itália, entre outras fazem parte do estudo direto.

A fim de colaborar com o processo conceitual de percurso arquitetônico, relações entre espaço e indivíduo, identidade espacial e valores do lugar, serão utilizados projetos exemplares para a realização deste trabalho, os quais destacam-se fatores importantes e significativos dentre os assuntos citados anteriormente. Para uma pesquisa empírica sobre o tema central do projeto, é necessário que possamos visitar lugares capazes de possibilitar novas sensações e sentimentos, resinificando o conceito que havia daquele lugar. Também reformular e mobilizar as ideias sobre os lugares já visitados, os quais fizeram parte da motivação do projeto.

Os instrumentos para levantamentos de dados, serão: fotografias tiradas durante o período de viagem nos últimos tempos; entrevistas com viajantes; pesquisas sobre, quais são as fotografias que as pessoas mais tiram durante um percurso de viagem e o que chamam atenção na cultura dos viajantes; tempo de observação do espaço, enquetes sobre quais os sentidos e significados o espaço pode proporcionar e por quê?


quadro de referências Em consideração a reflexão de que todos os atos e acontecimentos têm lugar, não existe imaginar um acontecimento ou fato sem uma referência da sua localização, no qual ocorreu e fez aquilo tornar-se existente de alguma maneira. O conceito de lugar faz parte da existência e o mesmo pode ser pensado a partir de uma totalidade constituída de coisas concretas que possuem substância material, forma, cor, textura, uma vez que juntas, formam e determinam uma qualidade ambiental, o qual pode ser chamada de essência do lugar (SCHULZ, 1976). A estrutura do lugar pode ser classificada como “paisagem” e “assentamento” e pode ser analisada através de duas categorias como “espaço” e “caráter”. O “espaço” indica a estrutura tridimensional dos elementos que formam um lugar. O “caráter” designa a “atmosfera” geral que é a propriedade mais genérica de um lugar (SCHULZ, 1976). Ao invés da distinção entre espaço e caráter, a estrutura do lugar reforça a ideia de um conceito amplo, como o de “espaço vivido”, ou seja, uma delimitação geográfica, com formas e elementos concretos que definem o espaço, na qual existe uma atmosfera geral e abrangente que dá significado e valor ao espaço. Para que o lugar possa ser reconhecido e sentido na sua verdade, os indivíduos devem experimentar o espaço para saber como se movimentar nele,

como trabalhar e produzir, o que significa reproduzir-se também a si próprio, como sujeito (CALLAI, 2004). A partir da experimentação com cada lugar e suas configurações, pode gerar diferentes estímulos correspondente a capacidade de organização dos indivíduos (ALVES, 2017). Isto tudo permite que cada lugar construa sua própria identidade, também a relação de afetividade e de bem estar dos que vivem ali. A ideia do espirito do lugar é identificada como o potencial da arquitetura tendo a capacidade de dar significado ao ambiente mediante a criação de lugares específicos (SCHULZ, 1976). A arquitetura torna clara a localização da existência dos homens, sendo essa localização forma concreta e existente do lugar e suas características. Características essas que são resultantes da integração humana com o espaço, sendo elas cheio de histórias e marcas que cada indivíduo libera ao seu redor. Um lugar que é o espaço vivido, de experiências sempre renovadas, uma vez que permite a consideração do contexto passado e vislumbre o futuro, isso sendo compreendido de forma a resgatar os sentimentos de identidade e de pertencimento (CALLAI, 2004). Uma característica importante na relação entre indivíduo e o lugar é exatamente a construção de significados e sentidos que faz com que ocorra a possibilidade de transformação de espaços em

lugares, de acordo com o tema anterior discutido (A configuração do lugar). Na percepção de que a identidade é a imagem que uma pessoa adquire ao longo da vida referente a ela própria (PEDROSO, 2019), pode-se concluir que o sentido de identidade refere-se a um processo que se constrói com o passar do tempo. Assim como os indivíduos, os lugares também são portadores de uma identidade (PEDROSO, 2019). A identidade encontra-se inteiramente relacionada com a história da sociedade e com os acontecimentos que ocorreram no passado, que são reconhecidos e ganham valor ao passar dos anos, sendo esses resultantes de interações e trocas. Essas interações e trocas são originadas a partir de uma teia complexa formada por cada indivíduo através de seu posicionamento estabelecido no espaço (ALVES, 2017). O ponto de interação entre pessoas e bens materiais, que utilizam e delimitam o lugar está associado a definição e característica do lugar. Também entende-se como simbologia que permite unificar e identificar valores históricos e sociais (PEDROSO, 2019).


O lugar, no entanto, tem mais substância do que nos sugere a palavra localização: ele é uma entidade única, um conjunto “especial” que tem história e significado. O lugar encarna as experiências e aspirações das pessoas. O lugar não é só um fato a ser explicado na ampla estrutura do espaço, ele é a realidade a ser esclarecida e compreendida sob a perspectiva das pessoas que lhe dão significado. (TUAN, 1980, p. 387).

O lugar que é considerado um espaço que agrega a experiência da vida dos indivíduos, se manifesta através da personalidade e da história de cada um em relação ao espaço (ALVES, 2017), o que configura, a partir dessa troca, um núcleo de significados compartilhados entre os que participam do espaço, resultando desta forma, a atribuição de uma identidade aos lugares. Espaço se constitui lugar, quando é produto da experiência humana, que produz significados, os quais são construídos por referências afetivas desenvolvidas ao longo da vida, por meio da convivência. A experiência, nessa perspectiva, expressa a capacidade de aprender a partir da própria vivência; significa aprender, atuar sobre o dado e criar a partir dele. O lugar, então, atinge a realidade concreta quando a experiência do sujeito com ele é total. A realidade passível de conhecimento é aquela que é um constructo da experiência, uma criação de sentimento e pensamento. Assim, o conteúdo dos lugares é produzido pela consciência humana e por sua relação subjetiva com as coisas e com os demais seres humanos com os quais se relaciona. (LEITE, 2012, p. 29).

A construção da identidade do lugar está inteiramente ligada à medida em que o espaço começa adquirir definição e significado, ou seja, a transformação do sentido espaço para o lugar ocorre de maneira simultânea a formação da sua

identidade, uma vez que um conceito de identidade pode ser considerado um instrumento de transformação para de espaço para lugar. O espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significado. [...] A distância é um conceito espacial inexpressivo separado da ideia de objetivo ou lugar. No entanto, é possível descrever o lugar sem introduzir explicitamente conceitos espaciais. (TUAN, 1983, p. 151)

O patrimônio cultural é considerada um conjunto de bens, materiais e imateriais, que são considerados de interesse coletivo, relevantes a reprodução no tempo (DONIZETE). De acordo com essa ideia, a formação da identidade do lugar está fortemente relacionada ao sentido de tempo. Ou seja, ao longo do tempo há uma intensa troca e integrações entre indivíduos e o espaço, difundindo assim o lugar, entretanto, é indissociável a ligação entre o histórico do lugar e a memória do lugar, uma vez que é através dos acontecimentos passados que dão origem a memória atual. O patrimônio faz recordar o passado, o qual é uma manifestação, um testemunho, uma convocação do passado. Tem uma função poderosa de (re)memorar acontecimentos importantes (DONIZETE), assim cria a relação do conceito da memória do lugar, uma vez que a memória dá significado ao espaço, resultando assim na identidade do lugar. A formação da memória pode ser caracterizada pela valorização do patrimônio histórico do lugar em questão, dado que o patrimônio possui a capacidade de estimular a memória dos

indivíduos historicamente (ROCHA, 2012).

vinculadas

a

ele

O patrimônio cultural, está inteiramente ligado aos conceitos de memória e identidade, uma vez que o mesmo pode ser entendido como um lugar privilegiado, onde as memórias e as identidades adquirem materialidade. Isto é, as noções de patrimônio estão vinculadas ás lembranças e elas são fundamentais no que diz respeito as ações patrimonialistas, dado que os bens patrimoniais são preservados de maneira a valorizar e manter as identidades culturais do lugar (ROCHA, 2012). A expressão do Patrimônio expressa a identidade e as vivências de um povo (DONIZETE), cultura e lugar. A preservação do patrimônio é inteiramente relacionada a preservação da identidade do lugar, uma vez que o mesmo pode ser considerado como um conjunto de símbolos sacralizados para determinado povo ou lugar. A associação da arquitetura patrimonial como um instrumento de caracterização da identidade do lugar pode ser reconhecida a partir da relação de uso dada pelo indivíduo social e histórico, vivenciada no estado presente, é desta forma que a arquitetura se realiza enquanto lugar (SALCEDO, CHAMMA, et al., 2015), possibilitando novas narrativas históricas sobre a memória da experiência vivenciada naquele determinado lugar


m virtude disso, a arquitetura é avaliada e validada na discussão a ser o objeto de memória dentro da configuração do lugar, posto que é dessa forma que reflete e reconhece o real valor da arquitetura como objeto social e histórico que representa as narrativas dos acontecimentos passados a partir de novas experiências (SALCEDO, CHAMMA, et al., 2015).. O percurso no qual obtivemos inspiração para desenvolvimento do trabalho foi realizado a partir de um passagem sem pausa em oito países do território europeu, sendo eles já citados anteriormente na contextualização do trabalho, os quais serão identificados a seguir e discutidos em relação as suas identidades. Os primeiros dias dessa experiência aconteceu na capital de Portugal, um lugar que contempla uma vida urbana movimentada, mas ao mesmo tempo contempla lugares a natureza para refúgio e descanso, como por exemplo o Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian o qual é definido por um espaço expositivo integrado ao um jardim, onde a luz natural, a ligação com a natureza e a água são exploradas de forma intensa, resultando em uma sensação de quietude e paz. Lisboa, uma cidade cheia de memórias, histórias e em cada canto uma mensagem deixada por Fernando Pessoa ou Camões, sendo mais uma vez ilustrada o fundamento de que o lugar é caraterizado por sua identidade. E a identidade é construída a partir das relações históricas e valores entre os seus indivíduos no passado e que dão significado atual no lugar (LEITE, 2012).


Além de existir todo o conceito literário sobre o poeta Fernando Pessoa, o lugar também se torna instrumento e alvo de representação material sobre a importância que o poeta teve para sua nação e para humanidade. Ou seja, a arquitetura também resgata e intensifica a ideia de que a memória é de extrema importância para construção da identidade do lugar e suas caraterísticas. Ao andar pelas ruas mais antigas de Lisboa, os prédios, ruas e os cantos entre vielas e avenidas mostram marcas passadas, sejam essas marcas encantadoras ou assustadoras, são suas marcas, as quais fazem parte de suas memórias e de seus valores. A região da Mouraria (Figura 67), por exemplo, é um dos bairros mais tradicionais de Lisboa devido ser uma região formada estruturalmente por uma forte influência islâmica-mediterrânica, uma vez que os becos constitui o miolo da forma urbana, dão origem a uma multiplicidade de apropriações, como a fina, uma extensão da casa para o espaço público, ou o sabat, que surge da união de duas fina (ALMEIDA, 2016). A fina é definida pelo espaço imediatamente em frente à entrada da casa (Figura 78), o qual funciona como uma antecâmara, que pode ser fechada quando em contato com o beco. E na maioria das vezes, a fina leva à construção do sabat (Figura 89) e (Figura 910), o fechamento da rua nos níveis superiores a esta, com vista a usar o espaço aéreo através de uma construção que une dois lados opostos da via (ALMEIDA, 2016).


trajeto e arquitetura A integração entre as pessoas e os lugares contribui para minimizar a dificuldade em aproximar culturas distintas, isto é, a instalação arquitetônica implantada no meio social urbano, dependendo de suas configurações estruturais e conceituais, pode interagir com o indivíduo por formas diferentes ou por um conjunto delas. Essas formas podem contribuir para que o indivíduo produza um estímulo de sensações emoções ao interagir com o espaço e seus objetos inseridos no mesmo (OLIVEIRA e HERNÁNDEZ, 2011). Além do sensorial, também facilita a interpretação da identidade do lugar. O percurso de intervenções efêmeras analógicas, enaltece a ideia de que cada lugar, apesar de ser um diferente do outro, estão parcialmente ligados e coesos através da instalação, isto é, contribui para que haja um diálogo entre diferentes lugares, desconstruindo barreiras conflituosas entre culturas.

objetiv os


diversidade cultural O território Europeu apresenta um cenário abundante em relação a diversidade cultural e de valores espaciais, por motivo de que os países participativos deste continente são relativamente menores do que os países do resto do mundo e também por uma evolução histórica entre eles. Suas leis e acordos favorecem uma mobilidade com menos restrições, ou seja, há uma forte ligação entre países vizinhos e que fazem parte deste mesmo acordo continental. Além das ligações harmoniosas, há também ligações que apresentam certos conflitos territoriais e de competitividade entre eles, tanto em questões sociais, arquitetônicas e artísticas, visto que isso pode causar uma forte dificuldade em explorar e aproximar os lugares e trocas de identidades. Sendo assim, cria-se uma oportunidade em relacionar características e valores de cada lugar, uma vez que o trabalho favorece e contribui para uma maior conexão e associação entre eles. Essa relação entre territórios, proporciona uma maior movimentação entre pessoas e culturas, segundo a nossa experiência pessoal. A integração que observamos ao longo de todo este percurso de viagem, é a chave para compreender a identidade espacial de cada lugar. Ao descobrir o efeito da integração espacial com o indivíduo, a seguinte questão é observada: Para que o reconhecimento da identidade do lugar é importante? Quais são suas funções e suas qualidades dentro do sistema social urbano?

A transformação e produção do lugar pode ser compreendida a partir de uma consequente intervenção do homem no espaço natural, uma vez que ele adapta o espaço a si criando configurações, sobretudo levando em consideração três elementos: forma, estrutura e função. Desta forma, as três categorias conseguem de maneira segura interpretar o espaço, através de seus vários objetos geográficos cristalizados nele (SANTOS, 2009). É neste quadro que o presente trabalho se desenvolve para manifestar esta compreensão do espaço e sua identidade, através dos elementos citados acima. O conceito de identidade de lugar pode ser vista como uma categoria social, sendo um significado socialmente elaborado, dependendo do seu contexto geográfico (OLIVEIRA e HERNÁNDEZ, 2011), através da arquitetura como forma de intensificar a relação humana com o espaço e suas características.

justific ativa


problem ática

sentir o lugar

percuso

A problemática analisada nesse contexto é a complexidade em reconhecer e identificar as características, valores e as relações entre um lugar e outro. Quando se experimenta e vivencia os lugares, qual a maneira que achamos de reconhecer cada lugar e suas relações com o homem? A discussão parte de interrogativas a respeito dessa complexidade.

Setembro de 2019 é marcado pelo início de uma busca pela diversidade cultural.

O sentir o lugar, reconhecer o lugar de acordo com suas composições físicas e de acordo as interações e movimentações humanas possíveis a serem executadas nele. A experiência do percurso citada no início do texto, além de fazer-nos questionar a respeito dessas interações e experiência do homem nos lugares como assunto a ser problematizado, também proporciona uma grande oportunidade em debater a importância da troca entre as composições dos lugares e seus valores.

multiculturalismo À medida em que você vai conhecendo a Europa, saboreando lentamente seus vinhos, queijos e as qualidades peculiares dos diferentes países, começa a perceber que o determinante mais importante de qualquer cultura é, no fim de tudo, o espírito do lugar. (SCHULZ, 1976).

Tudo começa por meio de um intercâmbio de graduação em Portugal, uma vez que a partir desse processo em explorar um novo país com clima distinto, lugares e espaços com referenciais históricos, pessoas com outros hábitos e costumes, fomente a vontade de vivenciar novos lugares e culturas europeias. A maneira como novos caminhos geográficos se abrem, através de oportunidades de viagens para outros países dentro do continente Europeu, o desejo em visitar novos lugares de diferentes identidades é intensificado a ponto de realizar um percurso geográfico intenso e longo entre vários países da Europa de uma só vez. Durante vinte e cinco dias, passei a conhecer, interagir e experimentar lugares distintos, os quais envolveram-me de maneira a questionar sobre os espaços, suas principais características e valores. Porém, mais do que isso, há um termo no qual sentimos a necessidade de refletir e querer explorar seu significado que é a identidade do lugar.


Quais são as condicionantes para que o lugar possa ser considerado tal como um instrumento de compreensão de valores ao homem? Sejam esses valores artísticos, históricos, culturais, poéticos entre outros. De que maneira o lugar pode influenciar o indivíduo? Qual a intensidade desta influência? Quais as formas de interagir com o espaço e qual, para nossa perspectiva pessoal, é a melhor forma? Quais são os sentimentos e emoções que os lugares proporcionam no indivíduo e por quê? O quanto disto está ligado a identidade do lugar? O primeiro lugar a ser considerado como um uma oportunidade é o centro histórico de Lisboa, sendo o mesmo entendido como um cenário para se observar. A imensidão da praça do Comércio que amplia aos olhos e é referência dessa concepção. O segundo lugar que pode ser considerado como uma oportunidade é o centro histórico de Madrid, um cenário que me reflete a expressão. Em cada lugar foi reconhecido através da arte, por músicas locais, luta através das pinturas, cartazes, exposições em museus e pelas ruas, pinturas, esculturas e grandes arquiteturas patrimoniais. O terceiro lugar que pode ser considerado como uma oportunidade é o centro histórico de Roma. Um cenário que me reflete a conexão entre passado e presente, lugares constituídos por seus significados e simbologias históricas, culturais e artísticas.

Quais as percepções que esses lugares podem transmitir ao indivíduo? Quais as formas de reconhecer essas percepções? Será que pode considerar essas formas como um caminho para compreender os acontecimentos ao longo da história? Através dessa compreensão, há um regaste na valorização da memória do lugar, libertando sua identidade.


proposta projetual


conceitualização O percurso evidencia a noção de movimento e transitoriedade, uma vez que o significado de lugar é revelado pela noção de local onde se está ou deveria estar, ou seja, se o trabalho consiste em desenvolver um percurso o qual possibilita paradas em diferentes lugares na intenção de ressaltar a identidade do lugar, resgatar sua memória e essência, a arquitetura ganha força por ela partir do mesmo conceito, a efemeridade. Efêmero tem seu significado como algo de pouca duração, passageiro ou transitório, de acordo com o dicionário português. Uma obra efêmera é caracterizada por desde o seu início obter a anuência que precisa ser desmontada. Mesmo sendo essas obras desmontadas ou demolidas, existem cicatrizes que permanecem no ideário coletivo (SCÓZ, 2009). Da mesma forma acontece no contexto do lugar. A única diferença entre as estruturas permanentes e temporárias é o tempo, e sendo, por mais que sua estrutura seja temporária, o seu significado tornase permanente no lugar, dado que na maioria das vezes a edificação permanece, porém seu significado não (KRONENBURG, 2003).


O projeto de instalação arquitetônica em Lisboa, denominado PLURAL+ consiste em promover sensações originadas a partir dos lugares vivenciados em Madrid e Roma. A localização da instalação é pensada na região de Belém às margens do Rio Tejo, uma localização na qual existe uma forte existência de monumentalidade histórica da cidade de Lisboa, como por exemplo, Mosteiros dos Jerónimos, o Centro Cultural de Belém, a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos, o Palácio e Museu da Presidência da República Portuguesa e também o edifício MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. O lugar envolvente para implantação da instalação EXCON é analisado como muitas formas de debate, descobertas, pensamentos críticos e de diálogo internacional às áreas relacionadas a arte, arquitetura e história, justamente devido a existência de muitos edifícios históricos, os quais carregam arquivos, documentos acervos materiais referente aos acontecimentos passados dos portugueses e da cultura da cidade de Lisboa. O projeto se baseia em disseminar o sentido expressivo reconhecido em Madrid e o sentido de conexão reconhecido em Roma, dentro do contexto cultural e histórico da cidade de Lisboa. Isto significa que a instalação arquitetônica é para servir como um espaço livre para arte – em referência a expressão em Madrid – e como um átrio para exposições – em referência a conexão em Roma.


A instalação arquitetônica é pensada em referência ao modelo de configuração de um átrio romano, uma vez que o termo átrio surge para designar o pátio central das casas romanas, também no sentido de aproximar o significado de centralidade e conexão, devido existir um espaço que faz a ligação total do projeto. A instalação também parte de um referência ao modelo de corredores que configuram os Museus de arte de Madrid, por exemplo, os corredores do Museu do Prado, os quais são apesentados em seu interior as obras de arte mais importantes do mundo, ressaltando a ligação com sentido de expressividade através das obras de arte. A intenção também é relacionar a verticalidade na composição da forma, dado que uma das características mais interessantes da localização é a vista que o lugar tem para a Ponte 25 de Abril um elemento estrutural muito valorizado pelos portugueses, devido seu significado histórico, o qual rememora a Revolução de 25 de Abril, conhecida pela luta ao movimento político e social, ocorrido em 1974 contra o regime ditatorial.

“Todas as formas se mudam, decaem e perecem ou se transformam, são todas efêmeras e caducas, no passo que a ideia ou substância é sempre viva, verde e eternal.” (RIBEIRO, 1905).


localização

ASÍLIA AV. BR

PORTO

O

J RIO TE

Porto de Belém, Lisboa - Portugal Área: 4.257 m2




memorial Assim como as ondas dos oceanos, que nos separam e nos conectam, que levam os grãos de areia de uma praia a outra, e percorrem os caminhos de norte a sul, se envolvendo e se misturando em turbilhão de águas profundas, é a CULTURA como a conhecemos.Uma infinita troca de conceitos, de ideias e de aprendizados emaranhando-se desde o começo das civilizações. É a partir deste conceito de mutabilidade da própria identidade que surge o PLURAL+, um espaço voltado para a interconectividade de usuários e nações.

O PLURAL+ é uma instalação efêmera de estrutura metálica e modular, adaptável aos espaços de implantação. Neste estudo, o local de implantação do objeto é o Porto de Belém, em Lisboa. Neste espaço, caracterizado pelos elementos históricos do coração de Portugal, propõe-se a instalação de espaços que reflitam a cultura portuguesa e a cultura de suas nações irmãs, tendo em vista os fortes laços que as unem: Itália e Espanha.

Os espaços têm como objetivo proporcionar aos usuários uma experiência imersiva, compreendendo desde exposições expositivas e artísticas, até salas sensoriais que agucem o paladar, o tato, o olfato e a audição. As salas sensoriais são equipadas de projetores 3D, dispensadores de odores, fechamento acústico e equipamentos de som e superfícies texturizadas, que potencializam a imersão do usuário em elementos da cultura em exposição.


estrutura

pisos

Para a escolha da materialidade e composição estrutural da instalação, considerou-se como ponto chave a facilidade de transporte e de montagem, que caracteriza a efemeridade da instalação.

Para os pisos, serão utilizadas placas de policarbonato, parafusadas à chapa metálica de suporte, responsável pela distribuição das cargas incidentes sobre o piso às vigas e pilares.

A estrutura é composta por pilares e vigas metálicos, com perfil circular, dispostos em malha geométrica modular.

As placas possuem recortes nas extremidades para encaixe sobre as peças de junção, e cavidades circulares para encaixe da iluminação de piso.

Os pilares são conectados às vigas por peças de junção com encaixe vertical, horizontal e transversal, sem a necessidade de soldagem.

escadas

Os tubos de cabeamento elétrico são acoplados junto aos pilares, e as vigas sustentam os projetores e holofotes.

fechamentos Os fechamentos são similares às peças de piso, com dimensão de 2,5 M x 4,15 M, com adição de peças metálicas de contraventamento¹. ¹ – Nos lances sem fechamento, as peças de contraventamento serão dispostas de maneira que não prejudiquem o fluxo de percuso.

guarda-corpos

Os guarda-corpos são estruturas metálicas independentes, fixados ao piso por chapas nas extremidades, parafusadas.

As escadas, assim como os guarda-corpos, são estruturas metálicas independentes, fixadas aos pisos por placas parafusadas. Para auxiliar na distribuição de carga e sustentação das escadas, optou-se pela adição de cabos de aço conectados às vigas.

plataforma elevatória Para garantir a acessibilidade da instalação, os blocos de acesso serão compostos pela escada e por duas plataformas elevatórias (com capacidade para 352 KG até uma altura máxima de 4 M).


malha estrutural e distribuição dos pilares


malha estrutural e distribuição dos pilares

PEÇA DE JUNÇÃO JUNTO AO PILAR PEÇA DE JUNÇÃO PEÇA DE JUNÇÃO DE EXTREMIDADE


detalhe das junções entre pilares e vigas

VIGA PEÇA DE JUNÇÃO

PILAR


detalhe das peças de piso


detalhe das peças de fechamento


implantação da instalação no ponto de escolha ESCALA REPRESENTATIVA


planta dos pavimentos PAVIMENTO 01

ESCALA REPRESENTATIVA

AREA: 584,55 M2 FLUXO DE PERCUSO

PAINÉIS EXPOSITIVOS

PAINÉIS EXPOSITIVOS

PAINÉIS EXPOSITIVOS

PLATAFORMA ELEVATÓRIA

PAINÉIS EXPOSITIVOS

PAINÉIS EXPOSITIVOS

PAINÉIS EXPOSITIVOS

ACESSO VERTICAL


planta dos pavimentos PAVIMENTO 02

ESCALA REPRESENTATIVA

AREA: 584,55 M2 FLUXO DE PERCUSO

SALA SENSORIAL (MADRID)

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

SALA SENSORIAL (MADRID)

PLATAFORMA ELEVATÓRIA

LINGUAGEM

ACESSO VERTICAL

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

SALA SENSORIAL (MADRID)

SALA SENSORIAL (MADRID)


planta dos pavimentos PAVIMENTO 03

ESCALA REPRESENTATIVA

AREA: 974,25 M2 FLUXO DE PERCUSO

SALA SENSORIAL (LISBOA)

SALA SENSORIAL (LISBOA)

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

LINGUAGEM

PLATAFORMA ELEVATÓRIA

SALA SENSORIAL (LISBOA)

ACESSO VERTICAL

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

SALA SENSORIAL (LISBOA)

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA


planta dos pavimentos PAVIMENTO 04

ESCALA REPRESENTATIVA

AREA: 649,50 M2 FLUXO DE PERCUSO

SALA SENSORIAL (ROMA)

SALA SENSORIAL (ROMA)

LINGUAGEM

PLATAFORMA ELEVATÓRIA

ACESSO VERTICAL

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

SALA SENSORIAL (ROMA)

SALA SENSORIAL (ROMA)

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA


planta dos pavimentos PAVIMENTO 05

ESCALA REPRESENTATIVA

AREA: 649,50 M2 FLUXO DE PERCUSO

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

PAINÉIS EXPOSITIVOS

PAINÉIS EXPOSITIVOS

PLATAFORMA ELEVATÓRIA

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

ACESSO VERTICAL

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA


planta dos pavimentos PAVIMENTO 06

ESCALA REPRESENTATIVA

AREA: 584,75 M2 FLUXO DE PERCUSO

PLATAFORMA ELEVATÓRIA

ÁREAS DE PERMANÊNCIA

ACESSO VERTICAL


vistas frontal da instalação


corte A-A da instalação


vista lateral da instalação


corte lateral da instalação


ambientação dos espaços interiores

vínculo

Com o uso de painéis expositivos, esses espaços relatam, através de imagens, som e vídeos interativos (transcritos também em texto), a história da fundação da cidade e da expansão da malha urbana, atentando-se para histórias e lugares de significância afetiva aos indivíduos que viveram ali por toda sua vida, e, dessa forma, destacando o aspecto humano da região, deixando o caráter turístico em segundo plano.

linguagem

Utilizando-se dos mesmos painéis, os espaços de linguagem destacam as diferenças inusitadas e semelhanças escondidas entre o dialeto das três nações, originados da mesma fonte.

exposição artística

Esses espaços são destinados a celebração da arte contemporânea de cada país, através da exposição de variados projetos artísticos – pinturas, fotografias, arte digital, esculturas, músicas e canto – de artistas regionais.


ambientação dos espaços interiores

salas sensoriais Aqui, os usuários experienciarão as culturas através dos sentidos. No espaço Roma, os projetores 3D revestem as paredes da própria Roma, onde o piso recebe revestimento especial de pedra, assim como as das ruas da cidade, enquanto os dispersores de odor preenchem o espaço com o aroma dos vinhedos romanos e as paredes reverberam a sintonia de instrumentos tocados no começo de sua história. Neste espaço de contemplação, os usuários sentam-se nos bancos de concreto romano, enquanto se deixam levar pelas ruas romanas. No espaço Madrid, dançarinos projetados flutuam pelas paredes, ao som do animado flamenco, em um turbilhão de tecidos e cores que envolvem os usuários, junto a combinação de odores que remetem às praias dos portos espanhóis. No espaço Lisboa, os usuários são recebidos pelo sensível fado português, que os embala pelas paisagens da terra portuguesa, como se vista do alto de suas torres, enquanto são tentados pelos odores das iguarias portuguesas.


ambientação dos espaços interiores

área de permanência No último andar, com vista para todo o entorno que os cerca, os usuários têm a oportunidade de se conectarem e se relacionarem nos espaços de permanência, apreciando a paisagem, servindo-se das deliciosas massas italianas, dos vinhos espanhóis e dos queijos portugueses, finalizando uma experiência completa que contempla todos os sentidos, como uma viagem de bolso às três nações irmãs.



encerramento Por se tratar de uma estrutura efêmera, cujo cerne é a celebração da cultura, da individualidade e da coletividade, o projeto pode ser aplicado em diversos outros locais espalhados pelo mundo, objetivando a exposição de características multiculturais , onde o indivíduo consiga experienciar conhecer e se aventurar por terras ainda não tocadas, sem sair do lugar.

consider ações finais

A implantação de tal projeto proporciona aos visitantes e moradores locais a possibilidade de aprender e vivenciar tradições de outros povos, democratizando o acesso à cultura e aflorando o sentimento de pertencer a um coletivo Durante o processo de elaboração de toda essa pesquisa, é inevitável refletir sobre como um lugar pode influenciar tanto na vivência de um indivíduo e de suas experiências. Os lugares são vivos, pulsantes, momentos no emaranhar do tempo, e, como momentos, também se vão. Os espaços esquecidos, desertos de vida - aqueles que não mais conhecem o andar demorado de um casal apaixonado, ou os passos apressados de crianças ao brincar -, não possuem razão de estar. E diante de tantos lugares pelos quais passei, os quais experimentei e levam em si um pedacinho de mim, apesar de tão distintos, tem sempre uma coisa em comum: o próprio ser humano.

Apesar de ter enfrentado vários desafios durante esse processo, das horas e horas martelando soluções conceituais e espaciais, levarei comigo a importância das relações humanas e como a arquitetura - sempre presente e constante -, é um reflexo das sensações e experiências humanas, e a expectativa de que tal pesquisa, a qual tanto me dediquei, consiga expressar o que aprendi.


agradecimentos Agradeço a Deus, primeiramente, por me proporcionar perseverança durante toda a minha vida. Aos meus pais Renato Cardoso e Virleia Cardoso, pelo apoio e incentivo que serviram de alicerce para as minhas realizações. Ao meu coordenador orientador Dr. César Rocha Muniz, pelas valiosas contribuições dadas durante todo o processo. A minha grande e fiel amiga Giovana Gléria, por toda ajuda e apoio. As minhas amigas Beatriz Barillari e Maria Luisa Debrunner, pela amizade e atenção dedicada quando sempre precisei. A todos os meus amigos do curso de graduação que compartilharam dos inúmeros desafios que enfrentamos, sempre com o espírito colaborativo. E por fim, à Universidade Centro Universitário Barão de Mauá e o seu corpo docente que demonstrou estar comprometido com a qualidade e excelência do ensino.

"Trata de saborear a vida; e fica sabendo, que a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas. O ofício delas é não parar nunca; acomoda-te com a lei, e trata de aproveitála." Machado de Assis, trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas.


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