CENTRO UNIVERSITÁRIO BARÃO DE MAUÁ TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
UM PERCURSO ENTRE LUGARES A busca pela identidade
Iara Nunes Cardoso Orientador: Dr. César Muniz
RIBEIRÃO PRETO 2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO BARÃO DE MAUÁ TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
UM PERCURSO ENTRE LUGARES A busca pela identidade
Relatório Técnico de Desenvolvimento do Trabalho Final de Graduação apresentado ao Centro Universitário Barão de Ribeirão Preto como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Dr. César Muniz
RIBEIRÃO PRETO 2021
i
ii
SUMÁRIO Sumário ................................................................................................................................... ii 1
Lista de Figuras ............................................................................................................ iv
2
Introdução ..................................................................................................................... 1 2.1
Sobre uma redação em primeira pessoa .................................................................... 1
2.2
Contexto da investigação .......................................................................................... 3
2.3
Objetivos ................................................................................................................... 7
2.4
Justificativa................................................................................................................ 8
2.5
Procedimentos metodológicos gerais ........................................................................ 8
2.5.1
O problema do projeto....................................................................................... 8
2.5.2
Procedimentos metodológicos ........................................................................... 9
2.5.3
Pesquisa teórica ................................................................................................. 9
2.5.4
Pesquisa documental ....................................................................................... 10
2.5.5
Pesquisa empírica ............................................................................................ 11
3
Quadro de referência ................................................................................................... 12 3.1
A configuração do lugar .......................................................................................... 12
3.2
A construção da identidade ..................................................................................... 12
3.3
O sentido do Patrimônio em relação à Memória ..................................................... 14
3.4
As identidades durante o percurso........................................................................... 15
3.4.1
As marcas portuguesas .................................................................................... 15
3.4.2
O conceito histórico parisiense........................................................................ 19
3.4.3
Ás margens do rio Danúbio ............................................................................. 22
3.4.4
As simbologias romanas.................................................................................. 24
3.4.5
A expressividade espanhola ............................................................................ 26
3.5
Síntese da experiência ............................................................................................. 28
3.6
Oportunidades em uma relação entre lugares.......................................................... 30
4
Proposta projetual........................................................................................................ 34 4.1
Partido Arquitetônico .............................................................................................. 34
4.1.1
O cenário comportamental .............................................................................. 39
iii 4.1.2
As soluções tecnológicas ................................................................................. 44
Referências Bibliográficas .................................................................................................... 51
iv
1
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Mapa da Europa e suas divisões / Fonte: https://escolaeducacao.com.br/mapa-daeuropa/ ........................................................................................................................................... 4 Figura 2 Rua Garrett, Lisboa / Fonte: google Earth ............................................................... 6 Figura 3 Baixa-Chiado, Lisboa / Fonte: portugaldenorteasul.pt ............................................. 7 Figura 4 Jardim da fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa / Fonte: lisboasecreta.com ...... 15 Figura 5 Monumento em homenagem ao poeta Fernando Pessoa / Fonte:lisboasecreta.com ..................................................................................................................................................... 16 Figura 6 Bairro Mouraria - Beco do Jasmin / Fonte: lisboando.pt ....................................... 17 Figura 7 Sabat, Marrocos - Um exemplo de fina e um conjunto de sabat por Hakim / Fonte: biourbanism.org .......................................................................................................................... 17 Figura 8 Arco de Jesus, Alfama, Lisboa / Fonte: lisboasecreta.com .................................... 18 Figura 9 Escadinhas de São Cristóvão, Lisboa - Uma readaptação do sabat / Fonte: lisboasecreta.com ........................................................................................................................ 18 Figura 10 Amália Rodrigues, Rua do Capelão, Lisboa / Fonte: wandering-life.com ........... 19 Figura 11 Monumento do Fado, Mouraria / Fonte: lisboando.pt .......................................... 19 Figura
12
Paris,
França
-
imagem
do
espaço
2015
/
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:ISS-35_Night_image_of_Paris,_France.jpg ............ 20 Figura 13 Vista de dentro do Museu do Louvre / Fonte: arquivo pessoal ............................ 21 Figura
14
A
liberdade
guiando
o
povo,
Eugène
Delacroix
/
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Liberdade_guiando_o_povo .................................................... 21 Figura 15 Arco do Triunfo visto de cima / Fonte: historiailustrada.com.............................. 22 Figura 16 Arco do Triunfo, Paris / Fonte: arquivo pessoal................................................... 22 Figura 17 Rio Danúbio, Budapeste / Fonte: https://www.euston96.com/rio-danubio/......... 23 Figura 18 Castelo de Buda, Budapeste /Fonte: https://www.tudosobrebudapeste.com/historia ..................................................................................................................................................... 23 Figura 19 Parlamento de Budapeste / Fonte: https://tripseek.news ...................................... 24 Figura 20 Anfiteatro Coliseu, Roma / Fonte: arquivo pessoal.............................................. 25 Figura 21 Basílica de São Pedro, Roma / Fonte: arquivo pessoal ........................................ 25 Figura 22 Fontana di Trevi, Roma / Fonte: https://www.arteeblog.com/2015/11/a-fontana-ditrevi-suas-esculturas-sua.html ..................................................................................................... 26 Figura 23 Forúm Romano, Roma / Fonte: https://www.romapravoce.com/forum-romano . 26 Figura 24 Plaza Mayor, Madrid / Fonte:https://cronicaglobal.elespanol.com/vida/laaluminosis-del-madrid-de-los-austrias_43038_102.html ............................................................ 27 Figura 25 Arte de Rua, Madrid /Fonte: https://politicacomunicada.com/la-gran-diferenciaentre-las-grandes-ciudades-y-el-resto-de-los-territorios/ ............................................................ 27
v Figura 26 Região da Mouraria, Lisboa /Fonte: arquivo pessoal ........................................... 28 Figura 28 Cais das Colunas, Lisboa / Fonte: arquivo pessoal .............................................. 29 Figura 29 Coluna de Trajano, Roma / Fonte: arquivo pessoal ............................................. 30 Figura 30 Praça do Comércio, Lisboa / Fonte: arquivo pessoal ........................................... 32 Figura 32 Anfiteatro Coliseu, Roma /Fonte: arquivo pessoal............................................... 33 Figura
33
Projeto
NOOK
.
Place
for
nothing
/
Fonte:
https://www.archdaily.com.br/br/913527/nook-place-for-nothing-fahr02?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects....................................................... 34 Figura
34
Fotografia
do
projeto
NOOK
.
Place
for
nothing
/
Fonte:
https://www.archdaily.com.br/br/913527/nook-place-for-nothing-fahr02?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects....................................................... 35 Figura
35
Estrutura
do
projeto
NOOK
.
Place
for
nothing
/
Fonte:
https://www.archdaily.com.br/br/913527/nook-place-for-nothing-fahr02?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects....................................................... 35 Figura 36 Abertura em uma vértice do projeto NOOK . Place for nothinf / Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/913527/nook-place-for-nothing-fahr02?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects....................................................... 36 Figura 37 Museum of the Ancient Nilo / Fonte: http://www.arquideas.net/moan1117 ....... 37 Figura 38 Projeto MoAN1117 /Fonte: http://www.arquideas.net/moan1117 ...................... 38 Figura 40 Mapa Street View da região de Belém, Lisboa / Fonte: google earth .................. 40 Figura 42 Mapa Street View do lote, Belém, Lisboa / Fonte: google Earth ......................... 41 Figura 45 Organização do espaço projeto EXCON / Fonte: desenvolvimento pessoal ........ 43 Figura 46 Organização do espaço, projeto EXCON /Fonte: desenvolvimento pessoal ........ 43 Figura 47 Instalação EXCON / Fonte: desenvolvimento pessoal ......................................... 44 Figura 48 Ponte 25 de Abril, Lisboa / Fonte: google earth................................................... 44 Figura
50
Sistema
multidirecional
/
Fonte:
https://www.miratubos.pt/andaime-
multidirecional-adapt/ ................................................................................................................. 46 Figura
51
Instalación
Sava
-
estrutura
/
Fonte:
https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-sava-openact-architecture-plussara-palomar-studio ..................................................................................................................... 47 Figura 52 Projeto Sava / Fonte: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacionsava-openact-architecture-plus-sara-palomar-studio................................................................... 47 Figura
53
Projeto
Estrutural
Sava
/
Fonte:
https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-sava-openact-architecture-plussara-palomar-studio ..................................................................................................................... 48
vi Figura
54
Projeto
Estrutural
Sava
/
Fonte:
https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-sava-openact-architecture-plussara-palomar-studio ..................................................................................................................... 48 Figura
55
Projeto
Estrutural
Sava
/
Fonte:
https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-sava-openact-architecture-plussara-palomar-studio ..................................................................................................................... 49 Figura
56
Projeto
Estrutural
Sava
/
Fonte:
https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-sava-openact-architecture-plussara-palomar-studio ..................................................................................................................... 49
vii
1
2 2.1
INTRODUÇÃO
Sobre uma redação em primeira pessoa
Um projeto científico não deve ser considerado somente um projeto monográfico, mas sim parte de um estudo complexo em que o pesquisador esboça seus experimentos, através de um plano de estudos, o qual descreve todo o processo da pesquisa, desde as fundamentações do tema, as etapas de desenvolvimento do projeto, chegando até as conclusões do assunto, as quais são defendidas e argumentadas a partir de uma extensa elaboração de contextual e referencial. O projeto também segue como um instrumento sistemático pela busca das descobertas cientificas, uma vez que ele se desenvolve a partir de um problema ou oportunidade para que o pesquisador possa adquirir com clareza e eficiência o objetivo que pretende-se com a abordagem do assunto e sua possível execução. A escrita cientifica apresenta diversas particularidades especificas que buscam transmitir informações e conhecimentos com objetividade, exatidão, imparcialidade e ética, para que desta forma possa ser compreendido por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e não somente para participantes do assunto, mas também para o público em geral, contribuindo para o progresso do meio cientifico e desenvolvimento da sociedade e seus conhecimentos (PONTE, GOUGEL e LOPES, 2021). Para que as particularidades de desenvolvimento do projeto possam ser respeitadas há uma necessidade de cumprimentos de normas e regras defendidas e orientadas pela ABNT 1, criada em 1940, dado que a mesma delimita normas e regras para que um projeto cientifico, que tem como base uma pesquisa monográfica, deve ser construída e ilustrada de acordo com seus procedimentos e sistematização. A normalização de processos no desenvolvimento de um projeto é de extrema importância para que haja uniformidade e padronização nas avaliações e modo de orientar as inúmeras abordagens e também assegura as originalidades cientificas. Entre diversas orientações para a construção de uma redação científica, o tempo verbal é um dos tópicos em que ainda há uma divergência de opiniões entre os pesquisadores entre uma redação pessoal ou impessoal para o texto cientifico, posto que a ABNT e outras associações de normas técnicas internacionais não exigem com exatidão o uso da primeira pessoa. Atualmente existe uma utilização tradicional, o qual é defendida por meio do desenvolvimento do sistema impessoal nas redações, visando uma suposta imparcialidade, ou seja, as conclusões e resultados do projeto são baseados e referenciados a partir de outros autores.
1
ABNT é uma sigla que tem como significado Associação Brasileira de Normas Técnicas.
2 Entretanto, há defensores do uso da primeira pessoa que alegam que os pesquisadores devem e tem o direito de apropriar-se das suas próprias conclusões e razões. Alguns autores relatam a maneira de ser impessoal como “(...) retomar a uma ciência já ultrapassada que assumia que o conhecimento é objetivo porque as conclusões são determinadas por dados objetivos, que não dependem da vontade do cientista.” (KAHLMEYER-MERTENS, FUMANGA, et al., 2007).
E ainda, “(...) essa postura é prepotente, na medida em que supõe que a análise do autor é verdadeira: ‘conclui-se’ significa que todos concluirão a mesma coisa, pois independe
da pessoa que a expressa.”
(KAHLMEYER-MERTENS, FUMANGA, et al., 2007).
Por certo, atualmente, há uma tendência para o uso da primeira pessoa em documentos científicos publicados em revistas de alto impacto, justamente para que haja uma discussão sobre o assunto, o qual não tem ainda uma definição de certo ou errado e na maioria das plataformas de publicação não exigem regras sobre este sentido da linguagem (KAHLMEYER-MERTENS, FUMANGA, et al., 2007). A verdade é que a leitura de outros periódicos ajuda que outros autores definam suas preferências e utilizem de acordo com seu estilo e sua razão. Assim, o meu desígnio não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão, mas apenas mostrar de que maneira me esforcei por conduzir a minha. Os que se metem a dar preceitos devem considerar-se mais hábeis do que aqueles a quem as dão; e, se falham na menor coisa, são por isso censuráveis. Mas, não propondo este escrito senão como uma história, ou, se o preferirdes, como uma fábula, na qual, entre alguns exemplos que se podem imitar, se encontrarão talvez também muitos outros que se terá razão de não seguir, espero que ele será útil a alguns, sem ser nocivo a ninguém, e que todos me serão gratos por minha franqueza. (LEBRUN, GUINSBURG e JUNIR, 1973, p. 4).
De acordo com a estrutura de linguagem nos documentos científicos considerada padrão, o qual é citada anteriormente como um modelo objetivo e imparcial, é possível discutir e desenvolver um assunto sem introduzir a subjetividade? Existe a possibilidade de uma escrita verdadeiramente e inteiramente objetiva e neutra, desvinculada totalmente do sujeito e do contexto social e cultural no qual ele está inserido? (OLIVEIRA, 2017).
3 A adoção de um procedimento e posicionamento pessoal realmente é um real obstáculo à dissertação argumentativa? Em outras palavras, a subjetividade é fundamentada pelo exercício da língua, uma vez que cada locutor apropria-se de forma como sujeito, isso revela que mesmo com a ausência de marcas pessoais não representa a inexistência de subjetividade em um discurso (OLIVEIRA, 2017). Essas definições visam eu e tu como uma categoria da linguagem e se relacionam com a sua posição na linguagem. [...] e pouco importa que essas formas devam figurar explicitamente no discurso ou possam aí permanecer implícitas. (ÉMILE, 1995, p. 279).
Desta maneira, todas as formas e as funções linguísticas, mesmo sendo elas no parecer totalmente objetivas, imparciais e neutras, como o sujeito indeterminado, estão completamente submetidas ao sentido adotado pelo autor em relação aquilo que discute e elabora, portanto, são plenas de subjetividade (OLIVEIRA, 2017). Diante do exposto e considerando o caráter subjetivo de uma pesquisa fortemente baseada nas experiências individuais do pesquisador durante o período de intercâmbio, a caracterização do trabalho somente se eleva a partir da utilização dessa linguagem. Desta forma, os assuntos discutidos seguem uma coerência, uma vez que tornam-se mais significativos, sendo fortemente originados da experiência pessoal, entretendo, sendo elas fundamentadas e referenciadas.
2.2
Contexto da investigação
Setembro de 2019 é marcado pelo início de uma busca pela diversidade cultural, visto que naquele período iniciei uma busca de experiências intensas em diferentes países. Tudo começa por meio de um intercâmbio de graduação em Portugal, uma vez que a partir desse processo em explorar um novo país com clima distinto, lugares e espaços com referenciais históricos, pessoas com outros hábitos e costumes, fomente a vontade de ir mais além no sentido espacial e cultural. A maneira como novos caminhos geográficos se abrem, através de oportunidades de viagens para outros países dentro do continente Europeu, o desejo em conhecer e experimentar lugares de diferentes identidades espaciais é intensificado a ponto de realizar um percurso geográfico intenso e longo entre vários países da Europa de uma só vez. Durante vinte e cinco dias, nós passamos a conhecer, interagir e experimentar lugares distintos, os quais envolveram-me de maneira a questionar sobre os espaços e suas principais características e valores. Porém, mais do que isso, há um termo no qual sentimos a necessidade de refletir e querer explorar seu significado que é a identidade do lugar. De que maneira o lugar pode influenciar o indivíduo? Qual a intensidade desta influência? Quais as formas de interagir com o espaço e qual, para nossa perspectiva pessoal, é a melhor
4 forma? Quais são os sentimentos e emoções que os lugares proporcionam no indivíduo e por quê? O quanto disto está ligado a identidade do lugar? A experiência é descrita pela passagem e estadia em cada lugar, mesmo sendo por um curto período de tempo, o qual foi em média de três a cinco dias em grandes centros urbanos, sendo elas: Lisboa – Portugal; Paris – França; Praga – República Tcheca; Viena – Áustria; Bratislava – Eslováquia; Budapeste – Hungria; Liubliana – Eslovénia; Roma – Itália; Madrid – Espanha. À medida que você vai conhecendo a Europa, saboreando lentamente seus vinhos, queijos e as qualidades peculiares dos diferentes países, começa a perceber que o determinante mais importante de qualquer cultura é, no fim de tudo, o espírito do lugar. (SCHULZ, 1976).
Figura 1 Mapa da Europa e suas divisões / Fonte: https://escolaeducacao.com.br/mapa-da-europa/
Aos nossos sentidos, como apreciadores dos lugares em cada país que estivemos, a integração representa-se de maneira a divulgar culturas e suas identidades, faz com que também crie oportunidades para novas ideias e novas soluções cientificas, tecnológicas, sociais e culturais. Diante disso, este trabalho surge como forma de provocação sobre a relação do homem com o espaço envolvente, uma vez que toda a interação entre os homens é marcada pelo contexto espacial através do qual ela se exprime (BARRACHO e DIAS, 2010). Também a reflexão sobre emoções e comportamentos espaciais que o homem manifesta ao criar seu mundo circundante (BARRACHO e DIAS, 2010). O mesmo também envolve a subjetividade e a afetividade em interagir com diferentes espaços de maneiras diversas de observar, expressar e conectar, seja a relação entre espaço – indivíduo; espaço – objeto; indivíduo – objeto.
5 O lugar pode ser considerado como um elemento importante na compreensão cultural de cada lugar, contudo, ele não é apreciado em si mesmo, mas em função das atividades sociais que ele proporciona ou não. Neste sentido, o lugar pode ser definido por diversas maneiras, como um lugar específico, um ponto de referência mais ou menos delimitado onde há possibilidades de produzir acontecimentos, situar qualquer coisa ou desenvolver alguma atividade (BARRACHO e DIAS, 2010). O lugar também é pensado a partir do conjunto indissociável de sistemas de objetos naturais ou fabricados e de sistemas de ações, deliberadas ou não (CAMPOS, 2008). Portanto, é o lugar material que possibilita um sistema objetivo de influência dos mais variados fatores sociais, também um sistema de objetos que podem ser considerados como um conjunto de coisas, as quais estão entrelaçadas de alguma forma, resultando em um sistema coerente e uma unidade completa entre ações e construções físicas no espaço (CAMPOS, 2008). O lugar existe por aquilo que o ocupa (BARRACHO e DIAS, 2010). A forma como o indivíduo compreende o espaço em que ele está inserido, depende também de sua própria maneira de experimentar as representações físicas e culturais do lugar, do seu ponto de vista pessoal ou coletivo, os quais atribuem significado e afetividade (SÁ, 2014). Por exemplo, em Lisboa passei por uma rua chamada Rua Garrett (Figura 23), sendo uma das ruas mais importantes do bairro do Chiado no centro histórico da cidade. Nesta rua, há diversos cafés, livrarias e lojas. Todas as vezes que caminhei por ela, consegui apreciar as interações humanas existentes naquele único lugar, que por sinal eram muitos e de diferentes formas. Ao caminhar por esta rua e lugares próximos a ela, consegui capturar cenas diversas, como: pessoas sentadas as esplanadas dos cafés, ou até mesmo tendo encontros importantes; pessoas interessadas em compras, entrando e saindo de lojas; pessoas sentadas nas escadas da Basílica de Nossa Senhora dos Mártires a vender seus artesanatos; grupo de pessoas explorando o lugar de forma mais livre, brincando com malabares, bambolês no meio da rua; pessoas tocando violão e cantando músicas em busca de um “trocado”; pessoas sentadas lendo jornais entre outras situações.
6
Figura 2 Rua Garrett, Lisboa / Fonte: google Earth
Há um misto de experimentações em um só lugar através de suas representações físicas existentes ali, sejam elas as escadas, os bancos das esplanadas, o meio da rua como forma livre para experimentação, dentro de lojas, livrarias etc. Cada pessoa se identifica e explora o lugar com base em sua perspectiva pessoal e/ou coletiva, porém da forma que mais lhe convém. Essa interação pode ser promovida por um sistema de estímulos que pode produzir, facilitar ou dificultar um determinado comportamento. Desta maneira, a arquitetura e a arte se relacionam segundo uma compreensão do espaço que não resulta somente de sua materialidade, mas também da sua percepção e a maneira como o indivíduo se posiciona como participante deste cenário entre espaço e objeto, seja por meio de movimentos do indivíduo, por meio de sua presença ali ou através de sua própria capacidade de integração (RAPOSO, 2016). Ou seja, a relação que há entre a Rua Garrett (Figura 23) e as representações físicas existentes ali, por exemplo, os cafés, as lojas, as esplanadas, as escadas, as esquinas e praças (Figura 34), só se consolidam e fazem parte das características do lugar, quando há a participação do homem, como ele se movimenta naquele determinado lugar, como ele se relaciona e se interage, fazendo parte do cenário entre o lugar e os objetos ali presentes.
7
Figura 3 Baixa-Chiado, Lisboa / Fonte: portugaldenorteasul.pt
Os objetos podem ser reconhecidos como os elementos físicos que compõe os cenários, dando valores e características ao mesmo. Também desenvolvem o papel de ser o elemento material que pode ser percebida pelos sentidos, sendo ele o coadjuvante do espaço geográfico, consoante uma percepção inteiramente pessoal. Ao final deste trabalho, um objeto nascerá como forma de transcender o sentido de ser somente uma coisa material sem significado e passará a ser reconhecido como um “instrumento” arquitetônico significante, o qual permite uma interação direta ou indireta entre o indivíduo e o espaço físico.
2.3
Objetivos
Projetar uma instalação arquitetônica a fim de colaborar com a integração entre as pessoas e os lugares, promovendo aproximação e contato entre diferentes aspectos da identidade do lugar. Também criar assim um percurso de intervenções efêmeras analógicas entre diferentes culturas que fazem parte do continente europeu, com a intenção de explorar e ressaltar a identidade do lugar e seu contexto. A integração entre as pessoas e os lugares contribui para minimizar a dificuldade em aproximar culturas distintas, isto é, a instalação arquitetônica implantada no meio social urbano, dependendo de suas configurações estruturais e conceituais, pode interagir com o indivíduo por formas diferentes ou por um conjunto delas. Essas formas podem contribuir para que o indivíduo produza um estímulo de sensações emoções ao interagir com o espaço e seus objetos inseridos no mesmo (OLIVEIRA e HERNÁNDEZ, 2011). Além do sensorial, também facilita a interpretação da identidade do lugar. O percurso de intervenções efêmeras analógicas, enaltece a ideia de que cada lugar, apesar de ser um diferente do outro, estão parcialmente ligados e coesos através da instalação, isto é,
8 contribui para que haja um diálogo entre diferentes lugares, desconstruindo barreiras conflituosas entre culturas.
2.4
Justificativa
O território Europeu apresenta um cenário abundante em relação a diversidade cultural e de valores espaciais, por motivo de que os países participativos deste continente são relativamente menores do que os países do resto do mundo e também por uma evolução histórica entre eles. Suas leis e acordos favorecem uma mobilidade com menos restrições, ou seja, há uma forte ligação entre países vizinhos e que fazem parte deste mesmo acordo continental. Além das ligações harmoniosas, há também ligações que apresentam certos conflitos territoriais e de competitividade entre eles, tanto em questões sociais, arquitetônicas e artísticas, visto que isso pode causar uma forte dificuldade em explorar e aproximar os lugares e suas identidades. Sendo assim, cria-se uma oportunidade em relacionar características e valores de cada lugar, uma vez que o trabalho favorece e contribui para uma maior conexão e associação entre eles. Essa relação entre territórios, proporciona uma maior movimentação entre pessoas e culturas, segundo a nossa experiência pessoal. A integração que observamos ao longo de todo este percurso de viagem, é a chave para compreender a identidade espacial de cada lugar. Ao descobrir o efeito da integração espacial com o indivíduo, a seguinte questão é observada: Para que o reconhecimento da identidade do lugar é importante? Quais são suas funções e suas qualidades dentro do sistema social urbano? A transformação e produção do lugar pode ser compreendida a partir de uma consequente intervenção do homem no espaço natural, uma vez que ele adapta o espaço a si criando configurações, sobretudo levando em consideração três elementos: forma, estrutura e função. Desta forma, as três categorias conseguem de maneira segura interpretar o espaço, através de seus vários objetos geográficos cristalizados nele (SANTOS, 2009). É neste quadro que o presente trabalho se desenvolve para manifestar esta compreensão do espaço e sua identidade, através dos elementos citados acima. O conceito de identidade de lugar pode ser vista como uma categoria social, sendo um significado socialmente elaborado, dependendo do seu contexto geográfico (OLIVEIRA e HERNÁNDEZ, 2011), através da arquitetura como forma de intensificar a relação humana com o espaço e suas características.
2.5
Procedimentos metodológicos gerais 2.5.1 O problema do projeto
9 A problemática analisada nesse contexto é a complexidade em reconhecer e identificar as características, valores e as relações entre um lugar e outro. Quando se experimenta e vivencia os lugares, qual a maneira que achamos de reconhecer cada lugar e suas relações com o homem? A discussão parte de interrogativas a respeito dessa complexidade. O sentir o lugar, reconhecer o lugar de acordo com suas composições físicas e de acordo as interações e movimentações humanas possíveis a serem executadas nele. A experiência do percurso citada no início do texto, além de fazer-nos questionar a respeito dessas interações e experiência do homem nos lugares como assunto a ser problematizado, também proporciona uma grande oportunidade em debater a importância da troca entre as composições dos lugares e seus valores.
2.5.2 Procedimentos metodológicos Para que ocorra todo o desenvolvimento da instalação arquitetônica efêmera, cujo contexto é diretamente referente ao lugar e sua identidade, é de extrema importância a fundamentação com pesquisas teóricas e empíricas, de acordo com os assuntos a serem discutidos no projeto. O embasamento parte de uma busca por explorar diversas formas de interagir com os espaços, pessoas e culturas diferentes, sejam elas através das atividades práticas, como por exemplo, viagens, entrevistas com pessoas de outras nacionalidades nas ruas de Lisboa e também através de forma teórica, como leituras sobre lugares seus valores e memórias.
2.5.3 Pesquisa teórica Os principais fundamentos teóricos a serem abordados e que irão contribuir para o desenvolvimento do trabalho segue subdivididos em categorias, cada qual em um parágrafo. A noção do que é e como funciona o espaço é de extrema importância para o desenvolvimento do trabalho devido à forte relação com os lugares. Portanto é necessário que possamos entender e compreender como o espaço se constrói ao longo do tempo e seus momentos, uma vez que é mediante ao lugar que as relações temporais, como passado, presente e futuro se cristalizam (CAMPOS, 2008). O espaço também é relacionado a uma compreensão de um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e presente e que são manifestadas através dos processos e funções (SAQUET e SILVA, 2008). É evidente que o lugar faz parte da existência e têm seu conceito definido a partir de algo que é considerado mais do que somente uma localização abstrata. Sua definição é pensada em uma totalidade constituída por coisas concretas que possuem substância material, forma, textura e cor, as quais juntas conretizam a essência do lugar. Tamém é considerado suas características imateriais, as quais consolidam o lugar de acordo com seu acontecimentos, valores sociais e suas representações físicas que condicionam a identidade do lugar. (SCHULZ, 1976).
10 Além da importância de compreender a noção dos espaços, também é indispensável a discussão do espaço em relação ao homem, ou seja, o lugar é onde ocorre as relações sociais humanas, as transformações emocionais do homem (SANTOS, 2009), uma vez que o espaço cria as condições para que tenhamos as referências para dar significado ao lugar e seguir traçando maneiras mais afetivas para valorização do mesmo. (BARRACHO e DIAS, 2010). O lugar como possibilidade de construção da identidade e pertencimento é um espaço construído como resultado da vida diária das pessoas que vivem ali, como trabalham, como produzem, como se alimentam e expressam suas memórias e seus sentimentos (CALLAI, 2004). Também resultado da vida de determinados grupos sociais que ocupam um determinado espaço em um tempo específico (SÁ, 2014). A memória é enraizada no concreto, no espaço, no gesto, na imagem e no objeto. A história somente se liga às continuidades temporais, às evoluções e ás relações das coisas (NORA, 1993). A dimensão espacial está associado por definição a uma identidade, que se dá ao lugar e podem ser considerados tanto os espaços pequenos como rua ou um bairro, mas também a uma cidade ou mesmo um país. E até que ponto esta dimensão espacial determina fenômenos psicológicos diferenciados aos individuos. (OLIVEIRA e HERNÁNDEZ, 2011) Com a compreensão de significado do espaço e a relação com o homem, surge a definição de identidade espacial, o qual está associado a múltiplos fatores que traduzem expressões e narrativas locais do espaço e do tempo em que estão inseridos, também fatores históricos do lugar que proporciona uma preservação da memória e suas tradições. (SANTOS, 2017). O patrimônio é considerado um elemento fundamental na construção da identidade social e cultural do lugar e simultaneamente, é a própria materialização da identidade de um grupo ou sociedade (DONIZETE). A arquitetura é definida como lugar ou como criadora de lugares para viver, e o lugar para viver é uma interpretação sociofísica em que entrecruzam de maneira simultânea o falar e o habitar, o meio físico e o meio social, o conceitualizar e o figurar (SALCEDO, CHAMMA, et al., 2015). As premissas conceituais do espaço arquitetônico estão relacionadas diretamente com o significado do objeto artístico inserido no mesmo, é através de suas características e suas linguagens estéticas, formais e funcionais que condicionam a ligação entre espaço e arquitetura (RAPOSO, 2016).
2.5.4 Pesquisa documental A fim de colaborar com o processo conceitual de percurso arquitetônico, relações entre espaço e indivíduo, identidade espacial e valores do lugar, serão utilizados projetos exemplares para a realização deste trabalho, os quais destacam-se fatores importantes e significativos dentre os assuntos citados anteriormente.
11 Instalación
Sava
/
Openact
Architecture
+
Sara
Palomar
Studio
–
https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-sava-openact-architecture-plussara-palomar-studio ALL ALONG THE RIVERBANK – arquideas. http://www.arquideas.net/moan1117 Projeto de um edifício em explosão – issuu. https://issuu.com/fernandacarlovich/docs/tfg “Tu Reflexión” – archdaily. https://www.archdaily.com.br/br/770393/your-reflectionproposta-vencedora-do-yap-constructo-2015-guillermo-hevia-garcia-plus-nicolas-urzua-soler
2.5.5 Pesquisa empírica Para uma pesquisa empírica sobre o tema central do projeto, é necessário que possamos visitar lugares capazes de possibilitar novas sensações e sentimentos, resinificando o conceito que havia daquele lugar. Também reformular e mobilizar as ideias sobre os lugares já visitados, os quais fizeram parte da motivação do projeto. A pesquisa de campo é fundamental para que conseguimos perceber as movimentações das pessoas no espaço e como elas manifestam-se e movimentam-se de acordo com as configurações e características espaciais. O contato direto é em lugares com grandes fluxos culturais, centros urbanos europeus, os quais carregam uma intensa bagagem entre relações humanas e espaciais. Por exemplo, uma cidade que é o principal campo de experimentação para o desenvolvimento do trabalho, é a cidade de Lisboa, capital de Portugal. Também, capitais como: Madri, Espanha; Roma, Itália, entre outras fazem parte do estudo direto. Os instrumentos para levantamentos de dados, serão: fotografias tiradas durante o período de viagem nos últimos tempos; entrevistas com viajantes; pesquisas sobre, quais são as fotografias que as pessoas mais tiram durante um percurso de viagem e o que chamam atenção na cultura dos viajantes; tempo de observação do espaço, enquetes sobre quais os sentidos e significados o espaço pode proporcionar e por quê?
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3 3.1
QUADRO DE REFERÊNCIA
A configuração do lugar
Em consideração a reflexão de que todos os atos e acontecimentos têm lugar, não existe imaginar um acontecimento ou fato sem uma referência da sua localização, no qual ocorreu e fez aquilo tornar-se existente de alguma maneira. O conceito de lugar faz parte da existência e o mesmo pode ser pensado a partir de uma totalidade constituída de coisas concretas que possuem substância material, forma, cor, textura, uma vez que juntas, formam e determinam uma qualidade ambiental, o qual pode ser chamada de essência do lugar (SCHULZ, 1976). A estrutura do lugar pode ser classificada como “paisagem” e “assentamento” e pode ser analisada através de duas categorias como “espaço” e “caráter”. O “espaço” indica a estrutura tridimensional dos elementos que formam um lugar. O “caráter” designa a “atmosfera” geral que é a propriedade mais genérica de um lugar (SCHULZ, 1976). Ao invés da distinção entre espaço e caráter, a estrutura do lugar reforça a ideia de um conceito amplo, como o de “espaço vivido”, ou seja, uma delimitação geográfica, com formas e elementos concretos que definem o espaço, na qual existe uma atmosfera geral e abrangente que dá significado e valor ao espaço. Para que o lugar possa ser reconhecido e sentido na sua verdade, os indivíduos devem experimentar o espaço para saber como se movimentar nele, como trabalhar e produzir, o que significa reproduzir-se também a si próprio, como sujeito (CALLAI, 2004). A partir da experimentação com cada lugar e suas configurações, pode gerar diferentes estímulos correspondente a capacidade de organização dos indivíduos (ALVES, 2017). Isto tudo permite que cada lugar construa sua própria identidade, também a relação de afetividade e de bem estar dos que vivem ali. A ideia do espirito do lugar é identificada como o potencial da arquitetura tendo a capacidade de dar significado ao ambiente mediante a criação de lugares específicos (SCHULZ, 1976). A arquitetura torna clara a localização da existência dos homens, sendo essa localização forma concreta e existente do lugar e suas características. Características essas que são resultantes da integração humana com o espaço, sendo elas cheio de histórias e marcas que cada indivíduo libera ao seu redor. Um lugar que é o espaço vivido, de experiências sempre renovadas, uma vez que permite a consideração do contexto passado e vislumbre o futuro, isso sendo compreendido de forma a resgatar os sentimentos de identidade e de pertencimento (CALLAI, 2004).
3.2
A construção da identidade
13 Uma característica importante na relação entre indivíduo e o lugar é exatamente a construção de significados e sentidos que faz com que ocorra a possibilidade de transformação de espaços em lugares, de acordo com o tema anterior discutido (A configuração do lugar). Na percepção de que a identidade é a imagem que uma pessoa adquire ao longo da vida referente a ela própria (PEDROSO, 2019), pode-se concluir que o sentido de identidade refere-se a um processo que se constrói com o passar do tempo. Assim como os indivíduos, os lugares também são portadores de uma identidade (PEDROSO, 2019). A identidade encontra-se inteiramente relacionada com a história da sociedade e com os acontecimentos que ocorreram no passado, que são reconhecidos e ganham valor ao passar dos anos, sendo esses resultantes de interações e trocas. Essas interações e trocas são originadas a partir de uma teia complexa formada por cada indivíduo através de seu posicionamento estabelecido no espaço (ALVES, 2017). O ponto de interação entre pessoas e bens materiais, que utilizam e delimitam o lugar está associado a definição e característica do lugar. Também entende-se como simbologia que permite unificar e identificar valores históricos e sociais (PEDROSO, 2019). O lugar, no entanto, tem mais substância do que nos sugere a palavra localização: ele é uma entidade única, um conjunto “especial” que tem história e significado. O lugar encarna as experiências e aspirações das pessoas. O lugar não é só um fato a ser explicado na ampla estrutura do espaço, ele é a realidade a ser esclarecida e compreendida sob a perspectiva das pessoas que lhe dão significado. (TUAN, 1980, p. 387).
O lugar que é considerado um espaço que agrega a experiência da vida dos indivíduos, se manifesta através da personalidade e da história de cada um em relação ao espaço (ALVES, 2017), o que configura, a partir dessa troca, um núcleo de significados compartilhados entre os que participam do espaço, resultando desta forma, a atribuição de uma identidade aos lugares. Espaço se constitui lugar, quando é produto da experiência humana, que produz significados, os quais são construídos por referências afetivas desenvolvidas ao longo da vida, por meio da convivência. A experiência, nessa perspectiva, expressa a capacidade de aprender a partir da própria vivência; significa aprender, atuar sobre o dado e criar a partir dele. O lugar, então, atinge a realidade concreta quando a experiência do sujeito com ele é total. A realidade passível de conhecimento é aquela que é um constructo da experiência, uma criação de sentimento e pensamento. Assim, o conteúdo dos lugares é produzido pela consciência humana e por sua relação subjetiva com as
14 coisas e com os demais seres humanos com os quais se relaciona. (LEITE, 2012, p. 29).
A construção da identidade do lugar está inteiramente ligada à medida em que o espaço começa adquirir definição e significado, ou seja, a transformação do sentido espaço para o lugar ocorre de maneira simultânea a formação da sua identidade, uma vez que um conceito de identidade pode ser considerado um instrumento de transformação para de espaço para lugar. O espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significado. [...] A distância é um conceito espacial inexpressivo separado da ideia de objetivo ou lugar. No entanto, é possível descrever o lugar sem introduzir explicitamente conceitos espaciais. (TUAN, 1983, p. 151)
3.3
O sentido do Patrimônio em relação à Memória
O patrimônio cultural é considerada um conjunto de bens, materiais e imateriais, que são considerados de interesse coletivo, relevantes a reprodução no tempo (DONIZETE). De acordo com essa ideia, a formação da identidade do lugar está fortemente relacionada ao sentido de tempo. Ou seja, ao longo do tempo há uma intensa troca e integrações entre indivíduos e o espaço, difundindo assim o lugar, entretanto, é indissociável a ligação entre o histórico do lugar e a memória do lugar, uma vez que é através dos acontecimentos passados que dão origem a memória atual. O patrimônio faz recordar o passado, o qual é uma manifestação, um testemunho, uma convocação do passado. Tem uma função poderosa de (re)memorar acontecimentos importantes (DONIZETE), assim cria a relação do conceito da memória do lugar, uma vez que a memória dá significado ao espaço, resultando assim na identidade do lugar. A formação da memória pode ser caracterizada pela valorização do patrimônio histórico do lugar em questão, dado que o patrimônio possui a capacidade de estimular a memória dos indivíduos historicamente vinculadas a ele (ROCHA, 2012). O patrimônio cultural, está inteiramente ligado aos conceitos de memória e identidade, uma vez que o mesmo pode ser entendido como um lugar privilegiado, onde as memórias e as identidades adquirem materialidade. Isto é, as noções de patrimônio estão vinculadas ás lembranças e elas são fundamentais no que diz respeito as ações patrimonialistas, dado que os bens patrimoniais são preservados de maneira a valorizar e manter as identidades culturais do lugar (ROCHA, 2012). A expressão do Patrimônio expressa a identidade e as vivências de um povo (DONIZETE), cultura e lugar. A preservação do patrimônio é inteiramente relacionada a preservação da
15 identidade do lugar, uma vez que o mesmo pode ser considerado como um conjunto de símbolos sacralizados para determinado povo ou lugar. A associação da arquitetura patrimonial como um instrumento de caracterização da identidade do lugar pode ser reconhecida a partir da relação de uso dada pelo indivíduo social e histórico, vivenciada no estado presente, é desta forma que a arquitetura se realiza enquanto lugar (SALCEDO, CHAMMA, et al., 2015), possibilitando novas narrativas históricas sobre a memória da experiência vivenciada naquele determinado lugar. Em virtude disso, a arquitetura é avaliada e validada na discussão a ser o objeto de memória dentro da configuração do lugar, posto que é dessa forma que reflete e reconhece o real valor da arquitetura como objeto social e histórico que representa as narrativas dos acontecimentos passados a partir de novas experiências (SALCEDO, CHAMMA, et al., 2015).
3.4
As identidades durante o percurso
O percurso no qual obtivemos inspiração para desenvolvimento do trabalho foi realizado a partir de um passagem sem pausa em oito países do território europeu, sendo eles já citados anteriormente na contextualização do trabalho, os quais serão identificados a seguir e discutidos em relação as suas identidades.
3.4.1 As marcas portuguesas Os primeiros dias dessa experiência aconteceu na capital de Portugal, um lugar que contempla uma vida urbana movimentada, mas ao mesmo tempo contempla lugares a natureza para refúgio e descanso, como por exemplo o Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian (Figura 45) o qual é definido por um espaço expositivo integrado ao um jardim, onde a luz natural, a ligação com a natureza e a água são exploradas de forma intensa, resultando em uma sensação de quietude e paz.
Figura 4 Jardim da fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa / Fonte: lisboasecreta.com
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Lisboa, uma cidade cheia de memórias, histórias e em cada canto uma mensagem deixada por Fernando Pessoa ou Camões (Figura 56), sendo mais uma vez ilustrada o fundamento de que o lugar é caraterizado por sua identidade. E a identidade é construída a partir das relações históricas e valores entre os seus indivíduos no passado e que dão significado atual no lugar (LEITE, 2012). Além de existir todo o conceito literário sobre o poeta Fernando Pessoa, o lugar também se torna instrumento e alvo de representação material sobre a importância que o poeta teve para sua nação e para humanidade. Ou seja, a arquitetura também resgata e intensifica a ideia de que a memória é de extrema importância para construção da identidade do lugar e suas caraterísticas.
Figura 5 Monumento em homenagem ao poeta Fernando Pessoa / Fonte:lisboasecreta.com
Ao andar pelas ruas mais antigas de Lisboa, os prédios, ruas e os cantos entre vielas e avenidas mostram marcas passadas, sejam essas marcas encantadoras ou assustadoras, são suas marcas, as quais fazem parte de suas memórias e de seus valores.
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Figura 6 Bairro Mouraria - Beco do Jasmin / Fonte: lisboando.pt
A região da Mouraria (Figura 67), por exemplo, é um dos bairros mais tradicionais de Lisboa devido ser uma região formada estruturalmente por uma forte influência islâmica-mediterrânica, uma vez que os becos constitui o miolo da forma urbana, dão origem a uma multiplicidade de apropriações, como a fina, uma extensão da casa para o espaço público, ou o sabat, que surge da união de duas fina (ALMEIDA, 2016).
Figura 7 Sabat, Marrocos - Um exemplo de fina e um conjunto de sabat por Hakim / Fonte: biourbanism.org
A fina é definida pelo espaço imediatamente em frente à entrada da casa (Figura 78), o qual funciona como uma antecâmara, que pode ser fechada quando em contato com o beco. E na maioria das vezes, a fina leva à construção do sabat (Figura 89) e (Figura 910), o fechamento da rua nos níveis superiores a esta, com vista a usar o espaço aéreo através de uma construção que une dois lados opostos da via (ALMEIDA, 2016).
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Figura 8 Arco de Jesus, Alfama, Lisboa / Fonte: lisboasecreta.com
Figura 9 Escadinhas de São Cristóvão, Lisboa - Uma readaptação do sabat / Fonte: lisboasecreta.com
A região da Mouraria também é conhecida como o berço do Fado (Figura 1011), lugar onde se viveu a primeira fadista conhecida em Portugal no século XIX. O fado pode representar um hino ao sentimento e à cidade, posto que em suas canções estão presentes diálogos sobre a beleza, peculiaridade e as vivências da cidade de Lisboa e o Rio Tejo. O rio Tejo é celebrado com algum saudosismo através das velhas fragatas, das varinas e dos pregões de tempos passados. Também é lamentada a destruição da Mouraria, mas simultaneamente elogiada pelas magníficas vistas dos miradouros da cidade, pelos pitorescos elevadores e elétricos e os tradicionais azulejos.
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Figura 10 Amália Rodrigues, Rua do Capelão, Lisboa / Fonte: wandering-life.com
Desta forma, o fado é representação de um fenômeno cultural e histórico profundamente urbano e participativo na construção da identidade do lugar e na cultura lisboeta e em consequência a cultura portuguesa, visto que no lugar de origem deste fenômeno, são ilustrados e representados de maneira material, como sendo monumentos arquitetônicos e artísticos (Figura 1112), a fim de marcar e valorizar as composições históricas e que ajudaram na construção daquele lugar.
Figura 11 Monumento do Fado, Mouraria / Fonte: lisboando.pt
3.4.2 O conceito histórico parisiense Outro destino de muita influência para a investigação foi a capital francesa, sendo ela a considerada a cidade mais visitada do mundo devido seus grandes símbolos artísticos e históricos. Cidade da luz (Figura 1213), movimentada, barulhenta, restaurantes e bares cheios de pessoas,
20 ruas e avenidas agitadas. A arquitetura tem sua idade, obras que são referências na história da humanidade, museus e monumentos valiosos, conhecidos e estudados em toda parte do mundo.
Figura 12 Paris, França - imagem do espaço 2015 / Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:ISS35_Night_image_of_Paris,_France.jpg
Dentro da cronologia da história da arte e arquitetura, Paris é onde se concentra a maior parte dos materiais, monumentos e construções referentes ao repertório do patrimônio mundial. O Museu do Louvre (Figura 1314), por exemplo, foi o primeiro Museu a ser visitado, ele é considerado o maior museu de arte do mundo e é um monumento histórico em Paris, uma vez que lá se encontra grandes e honrosas obras dos artistas mais famosos da história da humanidade, como por exemplo A liberdade guiando o povo – Eugène Delacroix (Figura 1415); Mona Lisa – Leonardo da Vinci, entre outras. São aproximadamente 38 mil objetos, desde a pré-história até o século XXI, ou seja, é um repositório vasto de objetos valiosos que representam inúmeras identidades culturais e locais, por exemplo, coleções de antigas obras gregas, romanas, orientais entre outras. O Palácio do Louvre não somente carrega consigo os símbolos patrimoniais como também é parte da construção patrimonial histórica da identidade francesa. Ele foi construído como o Castelo do Louvre nos séculos XII e XIII durante o reinado de Filipe II.
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Figura 13 Vista de dentro do Museu do Louvre / Fonte: arquivo pessoal
Figura 14 A liberdade guiando o povo, Eugène Delacroix / Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Liberdade_guiando_o_povo
A identidade sempre reflete as marcas e os acontecimentos que deram origem ao cenário atual do lugar e suas características (SANTOS, 2017). No caso da pintura A liberdade guiando o povo – Eugène Delacroix (Figura 1415), há uma representação através da pintura em comemoração à Revolução Francesa de Julho de 1830, isto é, a construção de uma forte memória em busca de um significado cultural a partir de um acontecimento passado, visto que o significado cultural está totalmente ligado a identidade do lugar (COSTA e BUITONI, 2013). O Arco do Triunfo – Jean Chalgrin (Figura 1516), localizado na região La Défense, expressa de maneira legitima o conceito de centralidade e eixo urbano, uma vez que a obra é o ponto central da mais poderosa avenida da cidade, Champs-Elysées, onde se ramifica ruas e avenidas, também pode ser considerado o ponto de partida para uma experimentação da identidade francesa e suas características territoriais e culturais.
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Figura 15 Arco do Triunfo visto de cima / Fonte: historiailustrada.com
O Arco do Triunfo (Figura 1617) também é considerado um monumento de grande destaque, construído em 1806 e inaugurado em 1836, a fim comemorar ás vitórias militares do Napoleão Bonaparte. Esta obra é o perfeito exemplo de que as marcas passadas são representadas e ilustradas para que a busca pela memória aconteça e seja significativa para construção da identidade do lugar e a compreensão por sua cultura atual (COSTA e BUITONI, 2013).
Figura 16 Arco do Triunfo, Paris / Fonte: arquivo pessoal
3.4.3 Ás margens do rio Danúbio Uma identidade que surge da unificação de duas cidades distintas localizadas ás margens do Rio Danúbio (Figura 1718), na Hungria. Cada lado com suas próprias características físicas e culturais, porém são conectadas a partir de monumento arquitetônico o qual possibilita uma junção de valores e significados, dando origem a grande cidade Budapeste.
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Figura 17 Rio Danúbio, Budapeste / Fonte: https://www.euston96.com/rio-danubio/
De um lado fica Buda, que nasce como colônia romana no ano 14 a.C, é identificada pela parte montanhosa, também sendo a parte mais antiga com casarões e construções medievais originadas pela união de sete tribos magiares que após os romanos, colonizaram a região de Buda. O Castelo de Buda (Figura 1819) é considerado um monumento da realeza antiga, o qual tem grande importância para a construção da identidade da cidade como um todo, devido seus acontecimentos históricos existentes ali como marcas e vestígios dos povos Orientais e Ocidentais que já tomaram aquele lugar como seu. Após tantas lutas e domínios, o Castelo de Buda tem suas características barrocas.
Figura 18 Castelo de Buda, Budapeste /Fonte: https://www.tudosobrebudapeste.com/historia
De outro lado fica Peste, a parte plana da cidade, sendo sua formação mais recente durante o Império Austro-Húngaro, onde encontram-se os edifícios institucionais e que vive a maior parte da população de Budapeste. Além disso, o edifício-símbolo da parte de Peste é o famoso Parlamento Húngaro (Figura 1920).
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Figura 19 Parlamento de Budapeste / Fonte: https://tripseek.news
O Parlamento (Figura 1920) construído em uma arquitetura neogótica, ilustra toda ostentação de beleza e riqueza como as joias da coroa de São Estevão, o primeiro rei da Hungria.
3.4.4 As simbologias romanas Roma foi também um dos destinos dessa experiência e neste lugar busquei compreender e sentir os comportamentos das pessoas perante uma vasta referência histórica. A construção de sua identidade retrata uma posição clara de alcance de poder, através da história, identifica-se suas origens e a base de seus comportamentos no espaço, dando significado e valor ao lugar. O Coliseu (Figura 2021), localizado no centro da cidade, consegue até nos dias de hoje atrair pessoas de todos os lugares do mundo devido sua enorme potência construtiva, sendo um marco na história da Roma Imperial, era como um instrumento que propagava e difundia toda a filosofia da civilização Romana da época. Um Anfiteatro construído nos anos entre 70 – 90 d.C, retrata a ideia de grandeza do lugar, e seu poder, sendo considerado o maior símbolo da cidade de Roma e resgata também toda identidade da Roma Antiga e suas concepções arquitetônicas e culturais.
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Figura 20 Anfiteatro Coliseu, Roma / Fonte: arquivo pessoal
Monumentos de grande símbolo na construção da memória Romana e seus valores na arquitetura e engenharia, como por exemplo, A Basílica de São Pedro (Figura 2122), Fontana di Trevi (Figura 2223) e o Fórum Romano (Figura 2324) também são considerados marcas físicas e materiais da identidade Romana, uma vez que a memória é um processo de construção seletiva dos acontecimentos do passado.
Figura 21 Basílica de São Pedro, Roma / Fonte: arquivo pessoal
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Figura 22 Fontana di Trevi, Roma / Fonte: https://www.arteeblog.com/2015/11/a-fontana-di-trevi-suasesculturas-sua.html
Figura 23 Forúm Romano, Roma / Fonte: https://www.romapravoce.com/forum-romano
3.4.5 A expressividade espanhola Na busca pela compreensão das características no contexto cultural e físico da cidade de Madrid, é caracterizada pela vivência direta com os comportamentos diários que acontecem ali, onde a circulação dos indivíduos se faz intensa e se cruzam em diversos espaços e correspondendo a uma troca de convívio. Um lugar que releva a concepção de troca e expressividade da cultura espanhola é a Plaza Mayor (Figura 2425), situada no centro histórico da cidade, razão pela qual ela é identificada por ser uma praça retangular, rodeada de edifícios de três pisos, sendo sua entrada somente através de nove pórticos.
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Figura 24 Plaza Mayor, Madrid / Fonte:https://cronicaglobal.elespanol.com/vida/la-aluminosis-del-madrid-delos-austrias_43038_102.html
A cidade é extremamente marcada por expressões artísticas, culturais, arquitetônicas entre outras. Um exemplo disso são os murais, formas, fotografias e instalações urbanas que representam o desenvolvimento da “street art”, uma expressão dada para descrever os movimentos expressivos das pessoas locais que vivem naquele determinado lugar.
Figura 25 Arte de Rua, Madrid /Fonte: https://politicacomunicada.com/la-gran-diferencia-entre-las-grandesciudades-y-el-resto-de-los-territorios/
O bairro de Lavapiés, por sua vez é representada por ser uma das zonas mais ativas em relação ao cenário “underground” e onde se pode contemplar os muros artísticos de La Tabacalera, o qual é explorado de forma alternativa, como um espaço aberto ao público, em que se realizam exposições, concertos, palestras e debates sobre assuntos políticos, críticas e mensagens humorísticas.
28 A vida artística na capital da Espanha é um símbolo que retrata a identidade de sua cultura e seus valores. A busca por experimentações, expressões e criações são fortemente resgatados pelos espanhóis e seus espaços que dão liberdade e valor a esses conceitos.
3.5
Síntese da experiência
A identidade de lugar pode ser considerada como uma subestrutura da identidade pessoal constituída por cognições sobre o mundo material em que o ser individual habita. Tais cognições são representadas por memórias, ideias, valores, sentimentos, atitudes, significados e concepções de comportamento e experiência do indivíduo, os quais estão relacionados com a variedade e complexidade dos lugares físicos (PONTE, BOMFIM e PASCUAL, 2009). Desta forma, a identidade do lugar pode ser compreendida como uma construção pessoal, uma vez que as experiências diretas com o espaço físico a modificam (PONTE, BOMFIM e PASCUAL, 2009), transformando assim através dos processos cognitivos. É necessário salientar que para cada assunto discutido sobre os lugares, foram assuntos constituídos por uma visão pessoal, de acordo com minha experiência e minhas concepções vividas em cada lugar, ou seja, por mais que exista fundamentação teórica na abordagem dos conceitos discutidos sobre os lugares, não há como não resgatar o conhecimento e perspectiva pessoal do pesquisador, uma vez que cada indivíduo sente e compreende o lugar de sua própria forma. Por exemplo, em Lisboa, obtive um reconhecimento da identidade do lugar de maneira mais abstrata e poética, porém refletidas no espaço, o qual da origem ao lugar, uma vez que o lugar resgata as marcas passadas e assim reflete à construção da cultura e dos costumes. São essas influências passadas que deram sentido e valor ao bairro da Mouraria, por exemplo.
Figura 26 Região da Mouraria, Lisboa /Fonte: arquivo pessoal
29 A reflexão condiciona o “sentir” o lugar, como se a observação as ruas, casas, monumentos falasse por si só (Figura 26). Cada característica citada, retrata em minha concepção, o sentido da observação e do silêncio em estar no lugar, como se as escritas grafitadas pelos muros da Mouraria falassem (Figura 27), como se as pequenas ilustrações monumentais dissessem sobre o passado e como se os prédios, através de suas marcas, cantassem ao som das águas do Rio Tejo (Figura 28).
Figura 27 Muros da Mouraria, Lisboa / Fonte: arquivo pessoal
Figura 28 Cais das Colunas, Lisboa / Fonte: arquivo pessoal
Em Madrid, obtive um reconhecimento da identidade do lugar de maneira mais abstrata, porém mais artística (), ao ponto de entender as expressividades dos espanhóis através da arte e as
30 manifestações no espaço por meio dos grandes monumentos, contribuindo a construção da identidade do lugar. Em Roma, obtive um reconhecimento do lugar de forma mais física, uma vez que os lugares que explorei são lugares constituídos por estruturas muito antigas (Figura 29), ou seja, estar no mesmo espaço que uma estrutura construída há séculos é reviver aquele lugar como se fosse ainda ativo desde sua construção.
Figura 29 Coluna de Trajano, Roma / Fonte: arquivo pessoal
Foi a busca pela integração com os lugares, por meio da conexão entre pessoas de diferentes nacionalidades e a os monumentos de valores históricos muito significativos, dado que muitas pessoas se concentram no mesmo espaço para sentir seus elementos e suas mensagens, para compreender seus componentes físicos existentes ali que deram origem a identidade atual do lugar. Isto é, a busca pela compreensão da identidade do lugar, refere-se ao modo como o indivíduo explora seus espaços e compreende suas composições físicas ou abstratas existentes ali, através dos elementos que constituem o lugar, que podem ser monumentos, construções que refletem fatos passados sobre uma civilização ou Império ou até mesmo as influências físicas que deram origem e valor artístico, social a um bairro. Em conclusão a minha experiência, em específico, nesses três lugares, realizei de maneira pessoal a busca pela mensagem que cada lugar poderia me fazer entender e sentir. A síntese desse entendimento corresponde aos fatos descritos neste relatório.
3.6
Oportunidades em uma relação entre lugares
31 Em cada lugar experimentado obtive um sentimento especifico de acordo com as maneiras que percorremos os lugares e vivenciamos as oportunidades e desafios que neles existem e são consideradas a fim de cooperar para o reconhecimento da identidade e uma busca intensa para o próprio ser interior do homem, ou seja, através da investigação espacial, identificamos o mesmo como um instrumento funcional e um quadro simbólico, dado que, todo o espaço é um instrumento e um símbolo (BARRACHO e DIAS, 2010). A relação homem-lugar é carregada por diversos conceitos, são eles as características físicas do espaço, vistas como favoráveis ou desfavoráveis e também conceitos constituídos pelas condições psicossociais em que se encontram o sujeitos naquele espaço, o que leva a identificar os sentimentos, sensações e emoções ao viver aquele espaço (BARRACHO e DIAS, 2010). O que se passa naquele determinado lugar é uma das razões para que cada indivíduo tenha sua integração através de seus sentidos e sua perspectiva. O percurso revela muitas integrações com os lugares a fim de entender suas mensagens entre memórias e valores, revela também as particularidades de cada um deles, uma vez que ao vivenciar os lugares, busquei integrar-me em suas composições físicas e abstratas, já descritas anteriormente. A maneira que corresponde as integrações, releva um sentimento. Para cada sentimento, uma nova perspectiva sobre o lugar, para cada perspectiva, a expansão do reconhecer o que o lugar tem para transmitir. O que faz o indivíduo sentir o lugar daquela maneira que o sentiu? São seus componentes físicos? São as integrações entre pessoas no mesmo espaço? É a maneira como essas pessoas se relacionam em um determinado espaço? E de forma são essas integrações? Quais os motivos que fazem o indivíduo ter um determinado sentimento ao estar naquele lugar ou estar a fazer alguma ação naquele lugar? Seja de observação, expressão ou conexão. Quais são as condicionantes para que o lugar possa ser considerado tal como um instrumento de compreensão de valores ao homem? Sejam esses valores artísticos, históricos, culturais, poéticos entre outros. O primeiro lugar a ser considerado como um uma oportunidade é o centro histórico de Lisboa, sendo o mesmo entendido como um cenário para se observar. A imensidão da praça do Comércio (Figura 3027) que amplia aos olhos e é referência dessa concepção.
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Figura 30 Praça do Comércio, Lisboa / Fonte: arquivo pessoal
O segundo lugar que pode ser considerado como uma oportunidade é o centro histórico de Madrid, um cenário que me reflete a expressão. Em cada lugar foi reconhecido através da arte, por músicas locais, luta através das pinturas, cartazes, exposições em museus (Figura 31) e pelas ruas, pinturas, esculturas e grandes arquiteturas patrimoniais.
Figura 31 Exposição à luta feminista no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid / Fonte: arquivo pessoal
O terceiro lugar que pode ser considerado como uma oportunidade é o centro histórico de Roma. Um cenário que me reflete a conexão entre passado e presente, lugares constituídos por seus significados e simbologias históricas através dos monumentos (Figura 32).
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Figura 32 Anfiteatro Coliseu, Roma /Fonte: arquivo pessoal
Os lugares são todos muito conhecidos por serem carregados de valores históricos, culturais arquitetônicos e artísticos, uma vez que a discussão em torno das oportunidades sobre esses lugares busca compreender as maneiras de sentir e reconhecer esses valores. Quais as percepções que esses lugares podem transmitir ao indivíduo? Quais as formas de reconhecer essas percepções? Será que pode considerar essas formas como um caminho para compreender os acontecimentos ao longo da história? Através dessa compreensão, há um regaste na valorização da memória do lugar, libertando sua identidade.
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4 4.1
PROPOSTA PROJETUAL
Partido Arquitetônico
O percurso evidencia a noção de movimento e transitoriedade, uma vez que o significado de lugar é revelado pela noção de local onde se está ou deveria estar, ou seja, se o trabalho consiste em desenvolver um percurso o qual possibilita paradas em diferentes lugares na intenção de ressaltar a identidade do lugar, resgatar sua memória e essência, a arquitetura ganha força por ela partir do mesmo conceito, a efemeridade. Efêmero tem seu significado como algo de pouca duração, passageiro ou transitório, de acordo com o dicionário Aurélio. Ou seja, o partido arquitetônico é desenvolver um projeto efêmero que possibilita representar o conceito de movimento. “Todas as formas se mudam, decaem e perecem ou se transformam, são todas efêmeras e caducas, no passo que a ideia ou substância é sempre viva, verde e eternal.” (RIBEIRO, 1905). 2
O projeto NOOK Place for nothing é referência no partido efêmero e retrata uma intervenção
na antiga estação de trem desativada na cidade de Taitung, Taiwan (Figura 33). A ideia principal dessa instalação é transformar a estação em um espaço cultural, flexível e para todos.
Figura 33 Projeto NOOK . Place for nothing / Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/913527/nook-place-fornothing-fahr-02?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects
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NOOK . Place for nothing é um projeto de instalação arquitetônica desenvolvido pelo escritório FAHR 021.3 em Taitung, Taiwan em 2018 com área de 64 m².
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Figura 34 Fotografia do projeto NOOK . Place for nothing / Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/913527/nook-place-for-nothing-fahr02?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects
Os desenvolvedores apoiam a ideia de que esses tipos de vazios concentram em si a oportunidade de gerar novos usos e, atendendo ao sentido de apropriação dos habitantes locais sentiram a necessidade de desenhar um espaço livre e sem função, um espaço disponível para diversas formas de estar (Figura 34).
Figura 35 Estrutura do projeto NOOK . Place for nothing / Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/913527/nook-place-for-nothing-fahr02?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects
Esse projeto traduz a intenção da simplicidade em um enorme cubo branco translúcido (Figura 36) que apenas se desfaz em um vértice que se ergue no ar e assinala o momento de incursão ao interior (Figura 35).
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Figura 36 Abertura em uma vértice do projeto NOOK . Place for nothinf / Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/913527/nook-place-for-nothing-fahr02?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects
Uma obra efêmera é caracterizada por desde o seu início obter a anuência que precisa ser desmontada. Mesmo sendo essas obras desmontadas ou demolidas, existem cicatrizes que permanecem no ideário coletivo (SCÓZ, 2009). Da mesma forma acontece no contexto do lugar. A única diferença entre as estruturas permanentes e temporárias é o tempo, e sendo, por mais que sua estrutura seja temporária, o seu significado torna-se permanente no lugar, dado que na maioria das vezes a edificação permanece, porém seu significado não (KRONENBURG, 2003). 3
O projeto MoAN1117 (Figura 3729) também é referência em questão de que não importa se
o projeto é composto por uma estrutura permanente, o valor monumental e contextual ao lugar é o que dá significado a sua existência e sua implantação, mesmo que por tempo limitado.
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MoAN1117 é um projeto desenvolvido por quatro membros da Escola de Engenharia e Arquitetura da Universidade de Zaragoza na Espanha.
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Figura 37 Museum of the Ancient Nilo / Fonte: http://www.arquideas.net/moan1117
O MoAN1117 é caracterizado por uma instalação efêmera que exibe de maneira clara a imensa riqueza cultural e monumental presente nas margens do rio Nilo, dado que o projeto expõe a ideia de que toda essa riqueza somente pode ser compreendida através de um projeto integrado ao longo de toda a extensão do rio (Figura 38).
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Figura 38 Projeto MoAN1117 /Fonte: http://www.arquideas.net/moan1117
Em concordância aos lugares oportunos citados no tópico (Oportunidades em uma relação entre lugares) o projeto se desenvolve a fim de explorar as relações comportamentais do homem através da instalação arquitetônica como forma de ressaltar a identidade do lugar. A instalação, a qual pode ser considerada como o objeto do trabalho, é pensada a partir de três lugares analisados, sendo eles, Lisboa, Madrid e Roma. Desta forma, será pensada a fim de representar os sentidos obtidos nesses lugares, respectivamente sendo eles, observar, expressar e conectar. A fim de cooperar com a difusão das identidades reconhecidas através da experiência em cada lugar, o objeto de instalação revelará seus aspectos e valores, os quais foram apresentados neste trabalho. Cada lugar terá recordação de outro lugar por meio da arquitetura e seus espaços sensoriais, transferindo suas identidades. Em primeiro momento, o projeto proporciona uma associação das identidades reconhecidas em Madrid e Roma reverberada e materializada na cidade de Lisboa, a fim de contribuir para que
39 essas identidades possam ser sentidas e vivenciadas dentro de um outro contexto cultural e histórico. Esta integração e mistura entre lugares e suas identidades, busca disseminar a importância do reconhecimento das influências locais, os quais fizeram e fazem a construção daquele lugar e faz com que o lugar cria-se sua própria importância, dando significado aos sentimentos através do vivenciar o lugar. O plano de projeto também busca ressaltar que apesar dos conflitos entre culturas e o individualismo de cada um, há maneiras e possibilidades, apresentadas através da arquitetura que promovem a integração entre eles, disseminando suas raízes para que outras culturas posam entender seus conceitos e reconhecer as identidades de outros lugares, que são diferentes, mas que podem fazer parte de um mesmo plano de projeto. Para além de revelar as identidades dos lugares, o projeto também contribui com a ideia de que pode-se revelar a identidade de um lugar para outro lugar, totalmente diferente do qual o projeto está inserido. Ou seja, o projeto em Lisboa será sentido como ponte para reconhecer a identidade de Madrid e Roma. Uma identidade abstrata que foi construída a partir de uma experiência pessoal já descrita, entretanto que faz sentido aos seus fatos atuais e históricos.
4.1.1 O cenário comportamental Uma instalação arquitetônica não precisa necessariamente existir espaços concretos designados para atividades. Com base na ideia dos arquitetos que desenvolveram o projeto NOOK . Place for nothing conforme demonstrado na (pagina 34) um espaço para nada é na verdade um espaço onde tudo pode acontecer. Um espaço que promova reflexão e um novo início, um espaço de liberdade e sem código, um espaço individual ou um espaço coletivo, um espaço que se termina na relação que estabelece com qualquer um. O projeto de instalação arquitetônica em Lisboa, denominado EXCON 5 consiste em promover sensações semelhantes ao projeto NOOK . Place for nothing conforme demonstrado na (pagina 34), uma vez que ele corresponde aos sentidos proporcionados pelos lugares vivenciados por meio da experiência pessoal. A localização da instalação é pensada na região de Belém às margens do Rio Tejo (), uma localização na qual existe uma forte existência de monumentalidade histórica da cidade de Lisboa, como por exemplo, Mosteiros dos Jerónimos, o Centro Cultural de Belém, a Torre de Belém, o
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EXCON é o nome denominado para referir-se a instalação arquitetônica em Lisboa, a qual é a primeira proposta de intervenção deste trabalho.
40 Padrão dos Descobrimentos, o Palácio e Museu da Presidência da República Portuguesa e também o edifício MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia.
Figura 39 Mapa Satélite da região de Belém, Lisboa / Fonte: google earth
Figura 40 Mapa Street View da região de Belém, Lisboa / Fonte: google earth
O lugar envolvente para implantação da instalação EXCON é analisado como muitas formas de debate, descobertas, pensamentos críticos e de diálogo internacional às áreas relacionadas a arte, arquitetura e história, justamente devido a existência de muitos edifícios históricos, os quais carregam arquivos, documentos acervos materiais referente aos acontecimentos passados dos portugueses e da cultura da cidade de Lisboa.
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Figura 41 Planta de situação do lote escolhido / Fonte; desenvolvimento pessoal
Figura 42 Mapa Street View do lote, Belém, Lisboa / Fonte: google Earth
O projeto consiste em uma instalação efêmera, já relacionado no tópico 4.1 o qual tem seu objetivo disseminar o sentido expressivo reconhecido em Madrid e o sentido de conexão reconhecido em Roma, dentro do contexto cultural e histórico da cidade de Lisboa. Isto significa que a instalação arquitetônica está a ser pensada em consideração a um espaço no qual se relaciona duas formas distintas, sendo elas: as formas dos corredores – em referência aos museus em Madrid – e forma de átrio – em referência a conexão em Roma. Ambos os sentidos serão representados por meio da instalação efêmera. A configuração de um átrio romano (Figura 43), surge para designar o pátio central das casas romanas, também no sentido de aproximar o significado de centralidade e conexão, devido existir um espaço que faz a ligação total do projeto.
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Figura 43 Átrio da Basilica di Sant'Ambrogio, Milão / Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81trio_(arquitetura)
A instalação também parte de um referência ao modelo de corredores que configuram os Museus de arte de Madrid, por exemplo, os corredores do Museu do Prado (Figura 44), os quais são apesentados em seu interior as obras de arte mais importantes do mundo, ressaltando a ligação com sentido de expressividade através das obras de arte.
Figura 44 Corredor do Museu do Prado, Madrid / Fonte: https://taste-of-peru.com/best-museums-to-visit-whilein-lockdown/
Em razão disso, os desenhos de projeto são refletidos aos assuntos expostos anteriormente, como forma de orientar a concepção e as composições da organização espacial do projeto, sendo considerados os espaços internos a instalação, quanto aos espaços externos.
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Figura 45 Organização do espaço projeto EXCON / Fonte: desenvolvimento pessoal
O espaço no qual está representado em sólido preto (Figura 45), refere-se ao espaço externo do projeto, um espaço de circulação livre entre as pessoas, porém não deixa de fazer parte da instalação, visto que o mesmo está envolvente ao projeto, de forma de o indivíduo consegue chegar na parte central da instalação, na qual é o átrio, sem mesmo caminhar pelo percurso de instalação efêmero.
Figura 46 Organização do espaço, projeto EXCON /Fonte: desenvolvimento pessoal
Neste caso (Figura 46), o sólido preto representa a organização dos corredores, uma vez que sua integração para além do lote demarcado, é proposital ao sentido de representar um convite as pessoas que vivenciam o lugar. Também tem a finalidade de transpassar o conceito de percurso (Figura 47).
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Figura 47 Instalação EXCON / Fonte: desenvolvimento pessoal
A intenção também é relacionar a verticalidade na composição da forma, dado que uma das características mais interessantes da localização é a vista que o lugar tem para a Ponte 25 de Abril (Figura 48), um elemento estrutural muito valorizado pelos portugueses, devido seu significado histórico, o qual rememora a Revolução de 25 de Abril, conhecida pela luta ao movimento político e social, ocorrido em 1974 contra o regime ditatorial.
Figura 48 Ponte 25 de Abril, Lisboa / Fonte: google earth
Os desenhos mais detalhados sobre a instalação estão em processo de desenvolvimento...
4.1.2 As soluções tecnológicas A escolha pela utilização da solução tecnológica em estrutura em andaime é devido a busca pela coerência do projeto, uma vez que o conceito do projeto é definido pela movimentação entre lugares, sendo assim, há o sentido de temporariedade no desenvolvimento do assunto, dado que
45 foi referido o percurso multicultural pessoal o qual teve influência no desenvolvimento do trabalho. É importância salientar que o conceito se desenvolve a partir do percurso arquitetônico e o partido é configurado por meio do reconhecimento da identidade dos lugares. Diante disso, a solução tecnológica é explorada de acordo com essas duas definições desenvolvidas durante a fundamentação teórica. O sistema modular em andaime ressalta a ideia de ser considerado um sistema altamente flexível, atendendo as necessidades de adaptabilidade em diversos tipos de lugares, devido seus elementos estruturais oferecerem uma implantação básica e rápida, mesmo sendo uso quase exclusivamente de barras ortogonais. A estrutura em andaime também oferece uma resposta eficaz sobre a liberdade de criação de um número ilimitado de configurações espaciais, desde um grid tridimensional simples a volumetrias amórficas e balanços em diversas escalas (CAMPOLINA, 2018). Um exemplo para introduzir as potencialidades do sistema em andaime é o projeto Instalación Sava6
Figura 49 Instalación Sara / Fonte: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-sava-openactarchitecture-plus-sara-palomar-studio
O sistema que mais atende a necessidade do projeto é o sistema Multidirecional em andaime (Figura 49), o qual permite uma capacidade maior de fixação dos elementos estruturais que formam a modulação, como por exemplo, as travessas, longarinas e diagonais (Figura 50) sendo capaz de minimizar atrasos e erros na instalação.
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Instalación Sava é um projeto de um Centro Comunitário elaborado e executado pelo escritório Openact Architecture + Sara Palomar Studio na Zagreb, Croácia em 2019 com área de 2534 m².
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Figura 50 Sistema multidirecional / Fonte: https://www.miratubos.pt/andaime-multidirecional-adapt/
Neste sistema, os elementos citados acima são previamente soldados nos postes de aço, formando esperas mais resistentes, tornando o posto ato para receber outros componentes. Esses componentes, por sua vez, possuem suas extremidades adaptadas, com um sistema de estribos e pinças com chavetas auto basculantes que eliminam a necessidade de parafusos e porcas. A capacidade de garantir a “montagem lógica” da estrutura (Figura 51), sem riscos de distorções causada por desalinhamentos eventuais, é uma grande vantagem do sistema multidirecional (CAMPOLINA, 2018), desta forma faz garantir a execução exata dos ângulos dos componentes, evitando erros de execução (Figura 52).
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Figura 51 Instalación Sava - estrutura / Fonte: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacionsava-openact-architecture-plus-sara-palomar-studio
Figura 52 Projeto Sava / Fonte: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-sava-openactarchitecture-plus-sara-palomar-studio
O projeto POD Rebouças7 também foi um referencial na solução estrutural, devido o mesmo apresentar um partido com estrutura em andaime (Figura 53). Além desse sistema ser de grande valia nas questões de adaptabilidade, flexibilidade, rapidez nas montagens e desmontagens, ele também relaciona os aspectos geométricos do projeto, os quais servem para criar os volumes e assim estar diretamente ligado a aparência da instalação.
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POD Rebouças é um projeto de instalação arquitetônica em andaime projetado pelo escritório FGMF Arquitetos em São Paula em 2019 com uma área de 700 m².
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Figura 53 Projeto Estrutural Sava / Fonte: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-savaopenact-architecture-plus-sara-palomar-studio
A instalação em andaimes apresenta soluções em criar espaços livres e também com relação as variedades de escalas. No caso do projeto POD, o mesmo faz utilização de uma escala vertical (Figura 54), deixando livre o miolo da praça para circulação e aproveitamento das pessoas no espaço (Figura 55).
Figura 54 Projeto Estrutural Sava / Fonte: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-savaopenact-architecture-plus-sara-palomar-studio
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Figura 55 Projeto Estrutural Sava / Fonte: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-savaopenact-architecture-plus-sara-palomar-studio
O sistema de modulação também cria vínculos com a estrutura em andaime, pelo motivo de a composição estrutural ser composta somente por três elementos, já citados na página 44, ou seja, uma composição limitada e com capacidade de junção por diferentes ângulos e níveis, resulta em uma habilidade modular (Figura 56).
Figura 56 Projeto Estrutural Sava / Fonte: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/929517/instalacion-savaopenact-architecture-plus-sara-palomar-studio
Os desenhos mais detalhados sobre a estrutura estão em processo de desenvolvimento...
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