Idiot Mag ABR.12

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CULTURA // TENDÊNCIAS URBANAS #02 ABR.2012 www.IDIOTMAG.com

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1


editorial

Gratidão

14 entrevista

François Chalet design

índice

roteiro Porto + Especial IDIOT ART

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actualidade

Rádio Manobras Este mês, a capa da Idiot pertence ao portefólio riquíssimo do colectivo artístico Boa Mistura. Fiquem a par de tudo na página 34!

newsletter

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Idiocracy Design 2 // www.IDIOTMAG.com


à conversa com:

Cláudia Garrido

entrevista

Jamie Boy

+ idiota de rua moda

música

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28

27 tabu?

Alcova da Patrícia

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intervenção

PROVOC’ARTE

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Leitores

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Inky: Galeria de Arte Urbana

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Boa Mistura

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Mariana Ribeiro

4 // www.IDIOTMAG.com


Adormeço e fico quente: tenho sonhos da realidade que me envolve. Sonho que estou no meio da multidão sufocante, que ouço vozes e conversas mastigadas, que me vem ter cheiros aromáticos, corporais e de angústia. Que me apertam a garganta com nós duros e ásperos. Não quero isto e quero viver essa mesma realidade de forma forte e dolorosa. Por que é que os meus sonhos não são de magia e por que é que cada passo e acção tem pós brilhantes à minha volta? Esse brilhantismo cheira-me um cheiro que me põe tão bem... Está nos sonhos que eu quero e que não quero. Que eu não quero viver este ar frio desconfortável que me põe inquieta e me transtorna e que me arde e me adormece de cansaço. Ufa, estava a sonhar e não quero estar acordada... Num momento bom como este, só me resta agradecer em nome de toda a equipa da Idiot Mag os 3650 leitores que nos apoiam e que fazem com que este projecto cresça em comunidade. Estamos juntos, sempre. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 5


(!)

MAX

Restaurante/Bar Max é um dos novos restaurantes do momento da movida portuense situado no coração da Baixa. O antigo restaurante, que outrora funcionou na zona ribeirinha, junto à Alfândega do Porto quer ser um restaurante intimista, onde se possa jantar relaxadamente com

fotografia: Nuno Dias © 6 // www.IDIOTMAG.com

um grupo de amigos e prolongar a festa. O atendimento é eficaz, existe zona de fumadores e a carta de vinhos é simpática. Hoje, o Max conta com uma ementa que promete deliciar todos os gostos. Aqui não falta nada: as entradas de maçã com morcela crocante ou os bombons de alheira a juntar ao já conhecido

esparguete de tinta de choco com gambas ou às bochechinhas de porco preto com puré e uvas brancas não podem ficar indiferentes. Melhor, melhor, é acabar com uma mousse de chocolate com suspiros e depois falamos... Preço médio de 16 euros na Rua Conde Vizela, 68 no Porto. Aberto todos os dias.


(x)

New Bondaries / G-Sessions @ Guimarães Em Guimarães Sul, a poucos minutos do centro histórico da cidade, a antiga fábrica de lençóis renasce sob a forma de um conceito inovador. Novos quotidianos, ritmos e habitantes para um edifício emblemático da arquitectura industrial dos anos 60, agora reconvertido em comdomínio empresarial. Plataforma criativa, lugar de trocas, fusão e experiências, onde cada um participa na reinvenção do passado. Conta com actuações dos dj’s Josh Wink, Anja Schneider, Pan-Pot, Sebo K, Freshkitos, Dig & Nuno Carneiro, Friction, Breakage, Nuno Forte, Oder, entre outros. O Bilhete custa 7€50 em pré-venda. Fábrica ASA Covas - Polvoreira, Guimarães. “FUGA” @ COLISEU Depois de Lisboa é a vez do Porto entrar em Fuga, um divertido espectáculo com José Pedro Gomes e Maria Rueff à frente de um elenco que conta ainda com Jorge Mourato, Sónia Aragão e João Maria Pinto. De 27 a 29 de Abril, no Coliseu. Os preços variam entre 10€ a 22€.

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MAIS @ PORTO // via Facebook Para entrar nesta lista deverá enviar-nos os dados do evento até dia 20 do mês anterior para: MAG@IDIOCRACYDESIGN.COM Exposições: -”Fotografias que Falam por Si” de Juan Rodriguez, até 1 de Abril, grátis @ CPF - “Novos Valores da Fotografia Espanhola“ até 1 de Abril, grátis @ CPF - “Navegações/Divagações - Por Entre Escolhos e Baixios” de Artur Barrio, de 14 de Abril a 24 de Junho - “Territorio Animação”, até 15 de Abril @ Museu Soares dos Reis @ Museu de Serralves - “For Whom Who Keeps A Record”, de Mathieu Kleyebe Abonnenc, de 14 de Abril a 24 de Junho @ Museu de Serralves - “Crescimento e Cultura”, de Ricardo Valentim, de 14 de Abril a 24 de

Kuri Kuri Shop @ Rua do Rosário, Porto Kuri Kuri Shop é uma loja de comercialização de produtos japoneses e promotor da cultura nipónica onde se pode encontrar toda a cerâmica, bonecos, papelaria, alimentação, moda, chá ou livros do Japão. Além disto, a Kuri Kuri alarga o seu potencial com a organização de workshops de sushi, língua japonesa ou origamis e até da produção de kimonos! Rua do Rosário, 242, aberta de terça a sábado das 13.30 às 20h.

Mariza @ COLISEU A voz mais conceituada do fado da actualidade, Mariza, regressa aos palcos nacionais com um concerto no Coliseu do Porto, dia 20 Abril. O espectáculo serve também de comemoração dos 10 anos de carreira da fadista da humanidade, para dois concertos que vão passar por toda a sua carreira. Actua no Coliseu do Porto dia 20 de Abril e o preço dos bilhete varia entre os 18 e os 50€.

- “The King Story“, tributo ao Elvis, 8 de Abril, entre 27€ a 48€ @ Coliseu - Sheherazade - As Mil e Uma Noites, 14 de Abril, entre 15€ a 20€ @ Coliseu - Moonwalker Michael Jackson - O Teatro: - “Os 39 Degraus”, adaptação do Grande Tributo Musical, 16 de Abril, filme de Alfred Hitchcook, até 7 de entre 27€ a 48€ @ Coliseu Abril @ Rivoli - “A Verdadeira Hist. da Cigarra e For- Festas : miga”, produção de Carla Matadinho, - Fairmont, 5 de Abril @ Gare - Benny Page, DJ Oder, 6 de Abril até 7 de Abril @ Rivoli - “One (Her)Man Show, com Herman @ Villa - Z80’s, 6 de Abril @ Zoom José, 8 de Abril @ TSB - “Diz-lhes Que Não Falarei Nem Que - Freshkitos & Friends, 7 de Abril Me Matem”, entre 10 a 15€, 12 a 22 @ Gare - Gesaffelstein, 13 de Abril de Abril @ TECA @ Plano B - Gary Beck, 13 de Abril @ Loft Concertos: in Vila (Braga) - “Paixão Segundo São João“, por - Mathew Johnson, 14 de ESMAE, 5 e 6 de Abril Abril @ Gare @ Mosteiro São Bento da Vitória - Gaiser, 21 de Abril @ Gare - The Pulse, 3 de Abril, 7€ - Umek, 21 de Abril @ Swing Porto @ Hard Club - Pirex, 27 de Abril @ Zoom - David Fonseca, 5 de Abril, 15€ - Fred V & Grafix, 27 de Abril @ Gare @ Hard Club Junho @ Museu de Serralves -”Locus Solus”. Impressões de Raymond Roussel. até 1 de Julho @ Museu de Serralves

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(@)

Ancorados numa ilha paradisíaca, com muitos frutos que garantiram a nossa subsistência, onde fomos felizes e construímos muitas casas com o melhor que a Natureza nos pode oferecer, queremos agora construir uma ponte para o mundo. Sim, que ligue a nossa ilha ao vosso mundo e com isto, ganharmos todos, promover cultura de forma física, palpável e com cheiro e desfrutar dela convosco. Aproveitando a cidade Invicta que nos convida a oferecer-vos uma exposição onde não haja fronteiras: venham, observem, conheçam e deixem-se apaixonar, que a

Idiot Mag trata de tudo por vocês. A nossa experiência quer-se sensorial e dada, vinda de dentro de nós mesmos, com as colaborações de quem nos faz crescer. Por isso, a Idiot convida todos os seus leitores a vir conhecer a ponte, contemplar a nova construção e se se acharem capazes, a entrarem na ilha, que bem vindos serão...

“Auto- Publicação” // Exposição Alunos 3ºAno // ESAD Matosinhos

“Sons invisíveis” // Exposição de Fotografia Martinho Vides

Exposição de sensibilização à importancia da Auto Publicação como meio de transmissão de ideias e pensamentos, geralmente associado à ideologia de quem a produz e relatora de fenómenos culturais. PROFESSOR: José Bartolo

No dia 28 de Abril, a partir das 14h no Centro Comercial de Cefofeita, a IDIOT MAG convida-te a descobrir a arte com trabalhos de diferentes artistas e muita, muita dedicação.

Esta foto reportagem tem como objetivo fotografar uma típica tarde de primavera do quotidiano Portuense, onde os sons se misturam com os aromas e com as pessoas, sendo estes personificados na imagem dos já emblemáticos músicos que reavivam as ruas da invicta.

"ViolenTshirts" // Exposição de T-shirts “Cinemagraph” // Projecção Multimédia Alunos 1º9 AD // ESAD Matosinhos É uma exposição de sensibilização contra a vio- Alunos 1º Ano // ESAD Matosinhos lência doméstica, usando a t-shirt como suporte e meio de comunicação. Integra uma cole(c)ção de t-shirts, criadas por alunos do 1º ano, que experimentam conceitos, grafismos e materiais para comunicarem esta temática. PROFESSORES: Teresa Sarmento // Elias Marques // José Marques

Construção de imagens enfatizantes, partindo de dois suportes distintos: a fotografia e vídeo. PROFESSOR: Sérgio Correia

“Porcus Mortus“ // Projecção Multimédia

Luio Onassis

“Recorded by him self with several support of KABUL and ROLAM when the artist was living the next dream . Luio is just like this...”

"WEEKPHOTO" // Exposição de Fotografia Alunos 1.º Ano // ESAD Matosinhos “Os Idiotas“ // Apresentação "A composição deve ser uma das nossas preocupações constantes, até termos de tirar uma foto- Idiocracy, Gabinete de Design

Apresentação ao público dos Idiotas responsáveis grafia; então aí devemos dar lugar à sensibilidade”. pela IDIOT MAG, IDIOT ART e IDIOCRACY, Gabinete Henri Cartier-Bresson Integra uma sele(c)ção de registos de imagem, ela- de Design. borados por alunos do 1º ano, que experimentam enfatizar na composição de uma imagem vários (+) FEIRA VINTAGE conceitos e temáticas. PROFESSOR: Elias Marques CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 9


Numa democracia governada por idiotas para idiotas, sentimo-nos suficientemente idiotas para, através do design, incentivarmos a mudança no paradigma social, analisando-o, explicando-o e ao mesmo tempo revoltarmo-nos por aquilo em que acreditamos. Sendo o meio de comunicação que estudamos, amamos e vivemos, vamos utilizá-lo com um grito de revolta por todas as divergências, oposições e conflitos, um bocado por todo o mundo, sempre tendo em conta a responsabilidade que temos como designers para com a sociedade.

Comunicação // Web Design Intervenção // Ilustração

www.idiocracydesign.com info@idiocracydesign.com // 222 083 373 // 91 4 317 773 // Rua de Cedofeita, 455, 5º sala 49, Porto 10 // www.IDIOTMAG.com


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Desde Junho de 2009 a cidade do porto conta com um serviço inovador de entregas de conveniência no período nocturno. O Fora d’Horas leva até si os produtos que mais falta lhe fazem e a necessidade obriga! Para sua comodidade temos uma parceria com o restaurante Fonteluz e fazemos chegar até si os melhores pratos de carne, peixe e grill. Visite o site para conhecer todos os produtos disponíveis para si e experimente o nosso serviço de encomendas on-line rápido, prático e totalmente gratuito!

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Área de Entrega PORTO MATOSINHOS SENHORA DA HORA LEÇA DA PALMEIRA

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www.animaisderua.org

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LVQR by Franรงois Chalet 14 // www.IDIOTMAG.com


De Genebra da Suíça, estudante de artes gráficas da Bern School, ganhou vários prémios na Alemanha e Suíça pelos seus desenhos e filmes de animação. Começou a ser conhecido pelo seu filme promocional para a MTV Alemanha. Criou também os pacotes gráficos transmitidos durante a MTV European Music Awards de 2001. Também trabalhou para a imprensa, na Harper’s Bazaar, Annabelle e Allegra, bem como dirigiu vários filmes comerciais animados. Com o seu sentido de humor corrosivo, usa a imaginação bem como o seu nonsense para criar e recriar a sua fantasia através do 3D, fotografia, o desenho e cada técnica com um sentido muito apurado. Aqui segue a entrevista. MR // ND

Les Folies Criação de poster para festival cliente : Les Folies, Maubeuge, FRA

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“QUANDO ESTUDAVA (...) USAVA O DESIGN PARA MOSTRAR TODA A MINHA RAIVA”

Zurich Festival Instalação para a inauguração cliente: Theaterhaus Gessnerallee , CH Fotos: © Mareike Spalteholz Ano: 2010 16 // www.IDIOTMAG.com


Quais foram as suas influências como designer nos seus anos como aluno de design gráfico em Berna? A minha maior influência foi a Grapus, um colectivo de design gráfico de Paris. Entretanto os quatro membros separaram-se e criaram os seus próprios gabinetes. Um deles foi o “Nous travaillons ensemble”, onde passei três meses a estagiar em 1994. Gosto também do design (de cartazes) do oriente, especialmente de artistas como Henryk Thomaszewsky e Roman Cieslewicz, e de design político, como Staeck. Nos meus últimos anos de estudante fui também muito influenciado pelo trabalho do David Carson e dos Designers Republic.

Refere que para si o design gráfico é uma maneira de contar uma história, da maneira mais optimista possivel. Como acha que o design na situação económica actual da Europa se pode tornar num agente de escape, ou mesmo de impulso ao combate à crise? Um designer deve mostrar sempre o que sente e transmitir esses sentimentos e valores no seu trabalho. Quando ainda estudava era muito crítico perante a sociedade e usava o design para mostrar toda a minha raiva. Hoje em dia as minhas batalhas são mais sobre a diversidade e autoria no design. Não gosto deste design “mainstream” que nos enche de vazio.

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“TEM TUDO A VER COM CÍRCULOS, QUADRADOS E LINHAS (E CHARME!)”

Trabalha actualmente para grandes empresas como a E-Bay, MTV, Harper’s Bazaar e Computer Weekly. Como é trabalhar para empresas tão influentes, e o que acha que uma forte aposta num design marcante pode fazer para empresas desse calibre? Para mim é o mesmo criar postais de aniversário para amigos ou trabalhar para a MTV ou para o eBay. Uso o mesmo método de criação. Não sei exactamente o porquê de grande companhias me contactarem, geralmente há alguém lá, em posição de destaque, que viu algo que o tocou emocianalmente, e que decide chamar-me. Outra razão será provavelmente baseada no meu estilo ser simples e universal, tem tudo a ver com círculos, quadrados e linhas (e charme!).

imagens: © François Chalet 18 // www.IDIOTMAG.com


Sexymes Doze personagens para a MTV Latin America Cliente: MTV Latin America Agencia: Alejandro Abramovich Ano: 2008

Numa Europa em crise e num mercado saturado de designers, que mensagem ou conselho tem para estudantes recém licenciados na área? Encontra a tua própria originalidade. Não copies o que vês, porque ao fazê-lo já estarás desactualizado, inventa o que será o amanhã! E segue o que sentes.

Como vê o design gráfico daqui a 10 anos? Neste momento está a acontecer uma enorme revolução, estão a surgir novos campos graças à internet, aos tablets e aos smartphones... Daí novos postos de trabalho relacionados com o design irão surgir.

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A RÁDIO MANOBRAS AFIRMA-SE COMO UM MEIO DE EXPERIMENTAÇÃO SONORA, VOLTADO PARA A CIDADE E PRETENDE APROXIMAR-SE DAS PESSOAS E DAR-LHES ESPAÇO PARA PARTILHAREM AS SUAS HISTÓRIAS E FALAREM SOBRE A SUA CIDADE. Subimos quatro andares de escadas em caracol, protegidos por paredes grafitadas, atravessamos a porta cinzenta e seguimos até ao fundo do corredor, passando por múltiplas portas e alguns espaços ao ar livre. Aí, numa pequena sala, dentro de um local tão mítico como o Maus Hábitos, em pleno coração da Invicta, encontra-se o estúdio da Rádio Manobras, um espaço aberto à comunidade, uma antena livre, uma rádio dedicada à cidade do Porto, construída pelos sons e pelas pessoas que a povoam.

Programa (H)aircut N1 fotografia: Rádio Manobras ©

A partir da Rua Passos Manuel a Rádio Manobras transmite para a frequência 91.5 FM, chegando um pouco mais além do Porto cidade. A ambição não vai para além dos 50W, limite de radiodifusão permitido. O que se pretende é “fazer mais e cada vez melhor”, explica Hélder Sousa, responsável por este projeto. A Rádio Manobras surgiu em Setembro de 2011, a partir do projeto de intervenção cultural, artística e urbana no centro histórico da cidade, Manobras no Porto, sendo o porta-voz oficial de todas as suas iniciativas. Além disso, afirma-se como um meio de experimentação sonora, voltado para a cidade, e pretende aproximar-se das pessoas e dar-lhes espaço para partilharem as suas histórias e falarem sobre a sua cidade. Hélder Sousa transitou do mundo das artes performativas para a rádio, começando por constituir a equipa com Marisa Ferreira, ligada à cenografia, à qual se juntou Filipa Mora, da área das ciências da comunicação. Bernardino Guimarães, ligado à primeira rádio pirata do Porto, a Rádio Caos, completou o primeiro painel da Rádio Manobras, que é composta por muitas outras vozes que pontualmente invadem este espectro radiofónico. A grelha de programação é diversificaCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 21


Mural no Maus Habitos fotografia: Melanie Antunes © À direita: Manobras no Estúdio fotografia: Rádio Manobras ©

FREQUÊNCIA 91.5 FM.

A Rádio é... -a transmissão de sinais através de ondas electromagnéticas. -uma tecnologia que foi desenvolvida por Guglielmo Marconi e por Nikola Tesla, no final do século XIX. Facts... -Primeira transmissão radiofónica foi feita em 1906, nos Estados-Unidos, por Lee de Fores. -Emissões experimentais de janeiro de 1926 resultam na Rádio Porto. -Rádio Zero, transmitida apenas em Lisboa, é a irmã gémea da Rádio Manobras. -Apesar da Rádio Manobras ser a única rádio comunitária do país, este género de iniciativas é frequente noutros países, como é o caso do Brasil e de Inglaterra, onde a legislação em relação à rádio não é tão rígida. 22 // www.IDIOTMAG.com


PRÓXIMO OBJETIVO A CUMPRIR: “REUNIR OU CRIAR ENERGIAS NA CIDADE CAPAZES DE FAZER COM QUE AS PESSOAS OLHEM PARA A RÁDIO COMO UMA FORMA DE COMUNICAR ENTRE SI E COMUNICAR SOBRE SI COM OS OUTROS”.

da, o que resulta da abertura e da liberdade que esta rádio proporciona. A ausência de fronteiras da Rádio Manobras é o que mais a diferencia, além de outras mais-valias como “a informalidade da abordagem, o facto de estarmos completamente dedicados a assuntos locais, ao som da cidade, à voz das pessoas”, aponta Hélder Sousa. Esta é, de facto, a única rádio que funciona num modelo quase comunitário. No entanto, revela-se difícil conquistar o público mais próximo da comunidade, ao contrário da vertente mais artística, mais urbana e mais contemporânea. O próprio local onde a rádio se encontra facilita o acesso ao circuito cultural e artístico da cidade. Para chegar até à comunidade a Rádio Manobras teve CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 23


que sair do Maus Hábitos e percorrer as ruas do Porto, contactando com as pessoas, seduzindo-as e explicando-lhes que este é um espaço através do qual se podem fazer ouvir. Além da sintonia 91.5 FM a Rádio Manobras possui uma página de Facebook, com cerca de 800 likes, onde partilha alguns excertos dos seus programas. Mais tarde, vai existir uma versão online rádio, integrada no projeto de Gustavo Costa, Recolha do Património Sonoro do Porto. Este consiste num mapeamento sonoro da cidade através de recolha de sons em espaço público, cartografando essas sonoridades e disponibilizando-as posteriormente para que possam ser reutilizadas. Anatomia da Cidade é outro projeto so-

Estúdio da Rádio Manobras fotografia: Melanie Antunes ©

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noro, que engloba uma componente de vídeo, com o qual a Rádio Manobras colabora. João Cruz, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, desafiou os seus alunos a construírem retratos sonoros da cidade. As parcerias com instituições de relevo na cidade, como a Universidade do Porto, vão garantir o funcionamento da rádio e a sua sobrevivência, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista da produção de conteúdos. Neste momento, o próximo passo da Rádio Manobras é , segundo Hélder Sousa, “reunir ou criar energias na cidade capazes de fazer com que as pessoas olhem para a rádio como uma forma de comunicar entre si e comunicar sobre si com os outros”. MA


Em cima: Programa Futurónica com Miguel Carvalhais Em baixo: Programa DizNorte com Rui Gilman fotografias: Rádio Manobras ©

PROGRAMAS

CINEMA CONTOS AO MINUTO CONTRIBUINTE CONVERSAS CEGAS DIZNORTE

ENTARDECERES FUTURÓNICA (H)AIRCUT N1 MONÓLOGOS IDIOTAS NO ESCURO CONTEÚDOS RANDOM CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 25


Onde outrora saíam e entravam mercadorias, este fim-de-semana, entraram, conduzidos pela moda, alguns dos mais conceituados designers portugueses, jovens e futuros designers, imprensa, celebridades e followers. A Alfândega foi palco da 30ª edição do Portugal Fashion. Nomes como Luís Buchinho, Katty Xiomara, Storytailors, Miguel Vieira e Fátima Lopes, apresentaram as suas colecções Outono-Inverno 2012/13, com variados temas, que vão desde a calçada portuguesa, à menina com a estrela na cabeça. O espaço Bloom também brilhou: jovens criadores como Estelita Mendonça, Diana Matias, Susana Bettencourt e Cláudia Garrido mostraram um olhar mais recente sobre a passerelle, e provaram estar ao mesmo nível da competição e criatividade dos mais conhecidos.

Mário Calisto IDADE: 21 anos PROFISSÃO: Estudante de Moda/ Empregado de bar NOME:

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(∫)

Encontrámos o Mário perto da Alfândega a caminho do Portugal Fashion. Tem 21 anos, é estudante universitário no curso de Design de Moda e trabalha no restaurante Cometa, no Plano B e no Maus Hábitos. Um estilo próprio, como já era de esperar. Foi o casaco Cimarron que nos fez olhar duas vezes. Talvez por se enquadrar com a casaria amontoada de janela para o rio, para o ver passar (o rio ou o Mário, quem sabe?).

A Idiot Mag encontrou-se com a jovem promessa da moda, Cláudia Garrido. Mesmo antes de acabar o curso de Design de Moda na ESAD, as suas criações já desfilavam no Fashion TA e Litoral Fashion in Visual. Vencedora de concursos como Portuguese Fashion News 2011 e Gillete Venus Prémio Design 2011, numa conversa informal onde tivemos oportunidade de fazer algumas perguntas: AA Como começou o teu interesse pela moda masculina? As criações masculinas apareceram ainda quando eu estava na escola profissional, mas sempre numa vertente de colecções mistas. A reacção do público era sempre mais direccionada para os coordenados de homem. Depois trabalhei numa empresa em que eu e mais uma designer desenvolvíamos colecções mistas, e por preferência dela, ela fazia mulher e eu homem, como se fosse um pouco inevitável. Na realidade eu poderia desenvolver colecções mistas mas o desafio e o prazer que tenho em fazer homem é muito maior. Por isso é que depois de um ano a concorrer em concursos e ganhar o Portuguese Fashion News

com mulher eu decidi começar a aparecer no mercado e na passerelle como designer de roupa masculina. Onde vais buscar inspiração? Não vou, ela aparece a partir de pesquisas que vou fazendo, como se tratasse de uma snowball porque a ideia inicial está lá mas tomou direcções diferentes. Sabemos que já ganhaste alguns concursos e que na edição anterior ja apresentaste uma colecção, agora que vais na segunda qual é a sensação? A mesma da primeira, mas com mais responsabilidade! Os stresses, as inseguranças e as borboletas na barriga são sempre as mesmas. A maior diferença é a preocupação com o público e com as criticas.


(>) fotografia: Julie Leite ©

Como, quando e porquê começaste a tocar? Explica-nos um pouco do teu percurso até hoje. Tudo começou quando tinha cerca de 15 anos e ouvi o albúm de Dillinja My SOUNDS.Desde aí comecei a interessar-me por este género musical. Comecei a frequentar festas, a primeira festa a que fui foi no Porto Rio, era Friction e Mc Eksman. Após ter ido a várias festas com um grupo de amigos, comecei a pensar em comprar material de DJ para ver no que iria dar. Tive o apoio de um grande amigo, Ziggi (Hi Fidel Cartel), que comecei a a aprender a mixar. Comprei os meus primeiros pratos tinha eu 17 anos. Passados alguns meses, comecei a arranjar os primeiros gigs, para os quais ia a tremer com medo que tudo corresse mal. E, pronto, desde ai que tenho tocado, tive fases em que toquei com menos fequência e outras em que tocava mais assiduamente. Desde aí que tenho tocado e agora atravesso a melhor faze da minha carreira e desde já queria agradecer a todos que me apoiaram ao longo destes 7 anos. Quais são as tuas maiores influências? Desde muito cedo que me comecei a interessar por música. Ouvia desde Ramones a Beastie Boys, Prodigy a Kruder e Dorfmeister, muito, muito hip-hop. Mas penso que as minhas influências mais directas são de música electrónica mais actual dentro do drum’n’bass e dubstep, como por exemple Skream, Chase and Status, Sub Focus, Rusko e por aí fora. Uma lista interminável.

O que achas do público de hoje? O público de hoje em dia tem um papel fundamental na evolução deste genero músical, embora seja mais novo do que antigamente e em maior número. A quantidade de gente que conhece drum’n’bass nos dias de hoje, penso Jamie Boy, é, por assim dizer, um “boy” que agita a noite do que será no mínimo cinco vezes maior do que Porto. O seu drum’n’bass surge do coração e o seu estilo mais há uns 10 anos, e isso reflecte-se em toda a envolvente faz com que a sua actuação nas raves seja um indústria, que sofre uma evolução constante.

bom momento, para mais tarde recordar. Falámos com o jovem artista que nos explicou um pouco melhor como é que pas- Imaginas-te a tocar daqui a 10 anos? sou a trabalhar para o panorama nacional, que está em franco Sem dúvida que sim, isto é algo que quero facrescimento. Aqui, segue em conversa: MR // JC zer até não poder mais, até que algo me impeJamie Boy dj chart Abril 2012 1 Rusko- Somebody to Love (Skream remix) 2 Emalkay- Flesh and Bone (Delta Heavy remix) 3 Flinch-When I’m Gone feat. Dominique Porter 4 Zeds Dead - Hit Me 5 Skepta - Make Peace Not War (Stinkahbell remix) 6 Taiki and Nulight - Keep You Movin’ 7 Dj Fresh - Hot Right Now feat. Rita Ora (Camo and Crooked remix) 8 High Contrast - Emotional Vampire 9 Soap Dodgers - Belly 10 Downlink - Partyalarm

ça estarei nas cabines dos clubs a dar música e a fazer os ravers dançarem. Como achas que está o panorama nacional do drum’n’bass / dubstep? O panorama nacional está cada vez mais forte, existem cada vez mais novos produtores e djs com grandes perspectivas de evolução e com bastante qualidade, assim como a quantidade e qualidade dos eventos têm vindo a crescer. Penso que se estas condições se mantiverem a evolução positiva continuará. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 27


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“identidade [idetidádi]. s. f. (Do lat. identitas, -ãtis). 1. Característica do que é semelhante ou igual; qualidade do que é idêntico. ≈ CONCORDÂNCIA, PARIDADE, SEMELHANÇA, SIMILITUDE. ≠ ALTERIDADE, CONTRASTE, DIFERENÇA. 2. Conjunto de características, de dados próprios e exclusivos, que permitem o seu reconhecimento como tal, sem confusão com outra, nome, idade, naturalidade, estado cívil, filiação… Durante dez anos guardou segredo da sua verdadeira identidade. + falsa; reconhecera +; verificar a +; verificar a +; provar a +; ocultar a +. carteira+ de identidade, cartão+ de identidade. 3. Conjunto de características próprias de alguma coisa, que permitem não a confundir com outra. 4. Lóg. Relação entre dois termos idênticos. princípio+ da identidade dos indiscerníveis. princípio+ de identidade. 5. Mat. Relação de igualdade verificável para todos os valores das variáveis envolvidas. (…) 6. Psicol. Característica do que permanece igual a si próprio. A identidade do eu. 7. funç. adj. matriz+ identidade. transformação+ identidade.” in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001 Patrícia, lembro-vos de novo, é telefonista, atende uma linha erótica. Das cinco às nove, senta-se no espaço predestinado, de auscultadores e microfone colocados, ouve, provoca, alimenta todos os que a procuram à espera de serem consolados. Fá-lo com jeito e também com prazer. Por tal, e por considerar o que faz tão digno e honroso como outra façanha qualquer, nunca procurou escondê-lo de quem a rodeava fora do horário de trabalho. E quem a procurava, encontrava a mesma voz correspondente 30 // www.IDIOTMAG.com

ao que as fotos anunciavam. Tudo era transparente, real, dentro e fora do campo profissional. Espantava-a, portanto, as ideias feitas que dela faziam apenas por saberem aquilo que fazia e os equívocos originados por ser trabalhadora sexual, profissional do sexo… Categoria profissional não é identidade, como tantas outras coisas não o são. A vida sexual de Patrícia não era o seu trabalho (embora houvesse trocas e aprendizagens de parte a parte) e nunca pensou que para os outros o pudesse ser. Por isso, quando foi encostada a um muro por um pateta encantador, e o rapaz se atira de mãos na cabeça a uma parede temendo (ou regozijando) “ainda para mais tu és pró do sexo”, a gargalhada só levou a uma consciência tardia da caixa onde já andava há uns tempos enfiada. Sim, Patrícia é pró do sexo… no sentido de profissional do sexo, trabalhadora sexual. Quanto à vida pessoal, mais ou menos recatada, não é por certo condicionada pelo que faz, nem os encantos, desencantos ou ameaças deveriam vir daí. O trabalho é apenas assessório, da mesma forma que é bem mais galante elogiar o sorriso do que o mini-short. E por muito que nos sosseguem estas caixas em que pomos os outros, não será um pouco redutor? As identidades que atribuímos ao outro são isso: pequenos caixotes, e como todo o caixote, é sempre aproximado ao quadrado. E não é que há formas tão mais bonitas e libertas... vidas para além do quadrado... Na cama e caminhando para lá, joga-se a brinca-


deira das identidades e, entre o querer do outro e o nosso, procura-se sempre o mesmo, a semelhança e a alteridade. Procuramos saber a orientação para, mantendo a distância de segurança, e poder avançar; aberto o primeiro caixote, os gostos para saber por onde pegar. Darmos nomes às coisas, encaixotarmo-nos e aos outros também, dá-nos essa condução segura, reduz os riscos; mas se na nossa caixa fazemos tantos buracos até esta ao nosso corpo se moldar, não a poderemos fazer na dos outros? Gay, lésbica, bi, são caixas que reclamamos para nós e para nos podermos orientar, legítimas sempre quando reclamadas. Um passo à frente está homem, mulher. E o duro que é por estes nomes a rotular. Os, as, aqueles… Por que não reduzir este conjunto de características tão pequeno e significante, apenas para com a nossa pequenez nos descansar, a sermos seres humanos? Na cama volta-se à mesma história, e à Patrícia gelava-lhe o sangue as classificações e chamados, princesa, maluca, puta, santa, querida ou galdéria. Identificação por identificação o que lhe sabia mesmo bem era ter o nome gritado à boca cheia num momento de prazer. Identidade por identidade, mais vale a primeira que nos impomos ou as nomeadas que escolhemos. E destruídos os caixotes, pondo-os expostos e abertos a fazerem de colchão, aposto que o sexo se torna muito mais libertador e talvez assim encontremos uma mais que matemática igualdade.

Sexo e fogo desde há muito estão ligados. E cai-nos bem no gosto ouvir “és tão quente”, “fico fogo por dentro” ou “deixas-me em brasa” . E evitando o cheiro a pavio queimado e não deixando a brasa ser irrecuperável, chega-se à primavera e deixa-se o ambiente ficar mais perfumado. A vela de massagem LMR serve vários propósitos. Escolhendo o aroma de baunilha e canela ou o aroma tropical, acende-se a chama. Cria-se um clima, estendem-se os corpos na cama. E mais frutado ou adocicado, barram-se as costas do ser desejado. O óleo que a vela produz fica sempre morno e pode ser bem usado, sem restrições, sem deixar nada escapar. Num primeiro uso, até se pode aproveitar para por o moço, ou a moça, a fazer figura de urso! Acende-se a vela, prende-se o amado, brinca-se atrapalhadamente e sem avisar derrama-se nas zonas mais sensiveis como quem vai queimar. Passado o susto, nova surpresa, a cera não solidifica e é para massajar. E já se sabe, nada melhor para começar, acabar ou entremear um belo encontro como uma massagem. Cuidado para não pegar fogo aos cortinados, o indicado é acender novas paixões. Para uma maior descoberto e investimento aconselha-se a procura da Yoni e Linga Massage. Vendida por 17.95€ nos aromas “Tropical” ou “Baunilha e Canela” através de Carmo da Maleta em reuniões d’A Maleta Vermelha.

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“A Little Rebellion Now and Then Is A Good Thing” A Letter From Thomas Jefferson To James Madison

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“Já não há pachorra para este tempo! Vem um bocado de calor e é ver o povo todo a fazer os piqueniques junto aos rails da estrada da Circunvalação, mesmo à porta de minha casa. Não me chateio nada com os momentos de lazer e descontração dos outros.Mas, gente de Portugal, o civismo é algo que não se deve renegar e no fim arrumar e limpar o lixo dos piqueniques não custa nada e é uma questão de respeito pelos outros e pela sociedade onde vivemos com regras pré-determinadas. Além de que estamos no século XXI e estes parâmetros já não podem ser renegados.” Maria Pedro Santos

Espaço de criticas, desabafos e opinião dos leitores. Conta-nos o que te vai na cabeça, envia-nos os teus pensamentos para mag@idiocracydesign.com

“Mais e 90% dos 18 milhões infectados pela sida habitam nos países em vias de desenvolvimento. De 130 a 275 milhões de crianças, não tem acesso, respectivamente ao ensino primário e secundário em todo o mundo. Mais de 1,30 mil milhões de pessoas - mais de um terço da população mundial -, vive num estado de completa pobreza. Mais de 800 milhões de seres humanos passam FOME e mais de 500 milhões es...tão crónicamente subnutridos. Isto era assim até há bem pouco tempo. No tempo actual, compulsando dados do Banco Mundial (e repare-se que a tendência é sempre dar um impacto menor que a realidade) , os números são bem diferentes: em seis mil milhões de habitantes do planeta, quatro mil milhões vivem na extrema pobreza e sómente dois mil milhões podem despender mais de dois dólares por dia. Progresso? Não me parece. “Porque é óbvio que a ocupação do país pela Trói- As desigualdades agravam-se de ano para ano. ca germano-imperialista tem como única finalida- Como será em Portugal daqui a um ano?” de a de, com o servilismo dos partidos traidores Paulo Lemos no governo e do PS, obrigar o povo português a pagar a dívida que não contraiu, através de uma brutal exploração dos trabalhadores e a criação de todas as facilidades para os capitalistas, em “Introduzindo o factor de produção Trabalho à que se insere, entre outras medidas celeradas, o borla, Passos obtém igualmente um efeito multinovo código do t...rabalho. plicador, neste caso, multiplicador da pobreza, do Na luta contra este governo de traição nacional, desemprego, das falências, do incumprimento, da a classe operária e os trabalhadores saberão dis- infelicidade e da miséria de um modo geral. tinguir entre os que estão verdadeiramente do Passos Coelho: putativo Nobel da Economia? seu lado e os que se preparam para os apunhalar, Com a sua nova doutrina económica é um sério mendigando meia dúzia de cêntimos quando está candidato ao da Economia. Uma vez que a Acaem causa a sobrevivência do movimento operário demia Sueca vai-se ver aflita e vai votar nele e das gerações futuras..” por não ter percebido nada.” Rui Mateus Lara Ferraz “Boas Idiot Mag! Escrevo-vos para expressar a minha irritação com a nova medida que querem adoptar na Baixa do Porto, na qual os bares, cafés e esplanadas, bem como os estabelecimentos de “música ao vivo e amplificada” passem a ter que fechar às 4h da manhã. Sendo eu um frequentador da noite do Porto, acho que isto não faz qualquer sentido, pois limitar desta forma a noite que cada vez mais é conhecida e aclamada em várias partes do mundo não ajuda à vivência e desenvolvimento desta. Qualquer um que por lá passe sabe muito bem isto. É certo que há vários factores como o vandalismo, o barulho ou o lixo têm que ser resolvidos de forma mais eficaz, mas não acho que seja, definitivamente, este o caminho.” João Rebelo

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fotografia: Jorge Aguiar Š 34 // www.IDIOTMAG.com


A mistura que é boa - JaviPahg, Derko, Arkoh, Purone e Rdick -, o colectivo madrileno entusiasta que se junta para mudar o mundo em nome da arte. A mistura que é boa pega no graffiti, oferecendo-lhe um estilo muito próprio, adaptado ao contexto espacial em que é inserido e nós gostamosdisso. Juntando a esta mistura a pintura em mural, a ilustração e o design gráfico só poderia resultar daqui algo explosivo. A mistura ecléctica do colectivo que vale por si mesma, já expôs no Museo Nacional Reina Sofia e no DA2 de Salamanca. Hoje conta com um carteira de clientela distinta e invejável, como o Google, a Microsoft, a Sony Music ou a Adidas.

Colectivo Boa Mistura fotografias: Boa Mistura ©

Com uma vertente muito humana, factor essencial para se vencer no mundo artístico, a Boa Mistura explica-nos que é a força do grupo que vence aqui: “visões distintas que se complementam, influenciam e misturam para formar sempre algo melhor”. Amigos de longa data, afirmam que este é mesmo o melhor método do seu sucesso, por isso se afirmam como o coletivo composto por cinco cabeças, dez mãos, mas um só coração. É infinito o trabalho do grupo. Difícil escolher as peças para vos mostrar, sem dúvida, fomos falar com os espanhóis que fazem da mistura algo muito especial. MR

Die Umarmung, Berlim, Alemanha O projecto do abraço surge pelo 20º aniversário da queda do muro de Berlim e foi pintado em frente ao mesmo, no East Side Hotel. Aqui, duas figuras tatuadas retratam os dois lados alemães, que hoje se unem como dois amantes num hotel. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 35


Diamond Inside, Cidade do Cabo, África do Sul Mais uma vez com o lado humano em acção, a Boa Mistura realizou uma série de trabalhos no bairro do Woodstock, no centro da cidade. Aqui, cada trabalho centrou-se em assuntos específicos, mas todos relacionados com as causas humanitárias e que se põe em contacto com as pessoas que ali vivem, nunca esquecendo as influências africanas, que se pôem aqui em destaque. O projecto é composto pelos trabalhos Discover the Diamond Inside You, Fight for your Dream!, One Heart, One Love e We all Share the same Roots.

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Boa Mistura, parabéns pelo projecto que têm vindo a desenvolver na Brasilândia. Primam pela originalidade e têm um dos estilos mais marcantes que temos visto por aí. Como surgiu esta iniciativa? A ideia surgiu no lugar - Vila Brasilândia. No nosso processo criativo, é necessário uns dias prévios para perceber o local, cheirá-lo, tocá-lo, falar com os moradores para poder realizar uma intervenção especial e única para esse lugar. As vielas e os becos são onde se encontra a vida interna na favela. O acesso às casas e o contacto entre a parte baixa e a parte alta do morro fazem com que a sua morfologia seja muito completa, cheia de planos de distintos materiais. Por isso a nossa intervenção homogeniza todos esses materiais concentrando-se numa única cor. E aproveitando essa complexidade de planos, as palavras concentram-se de modo que só podem ser compreendidas desse mesmo único ponto. As palavras que utilizámos são muito inspiradoras para o dia a dia dos moradores. E o facto dos moradores nos ajudarem a pintar é muito importante, porque é o próprio morador que transforma a sua envolvência, sente-a, e deste modo torna-se ainda mais seu. Consideram-se uma boa mistura? Em que sentido? Antes de mais somos 5 amigos e trabalhamos há mais de 10 anos juntos. Cada um tem uma formação académica distinta: JaviPahg, em Arquitectura; Rdick, em Engenharia; Arkoh, em Design Gráfico; Derko, em Belas Artes e Purone em Publicidade. São 5 pontos de vista distintos que se complementam para um resultado único.

Com certeza têm uma área dentro do vosso trabalho que vos apaixonaona. Qual é? Dividem-se pela vocação que cada um tem dentro de um projecto? Amamos o nosso trabalho, criar, pintar, desenhar, estar juntos... É o que nos move a acordar com um sorriso todos os dias. Enfrentamos os projectos do mesmo modo, independentemente se são de pintura mural, design gráfico ou relacionados com Arquitectura. Essa diversidade é que cria um resultado especial. Não posso deixar de vos perguntar o porquê de usarem um nome português. Têm alguma ligação ao nosso país? O Porto apaixona-nos. É uma das cidades com mais encanto que já estivemos. Ir ao Café do Cais ou tomar um café no Guarany é uma delícia. Nas crews de graffiti é muito comum, à excepção de Espanha, utilizar nomes em inglês ou siglas. Queríamos marcar a diferença e decidimo-nos por Boa Mistura. Com os anos o nome foi sendo premonitório. E porque no dia de hoje não há melhor definição para nós. Acham que o graffiti e as pinturas na parede continuam a ter uma conotação negativa na nossa sociedade? O graffiti é um reflexo da nossa sociedade material e individualista. É certo que há uma vertente mais vandálica e que deteriora a cidade, mas há gente com imensa sensibilidade que trabalha nas ruas. Trabalhamos com vontade de melhorar, de inspirar e de contribuir com um pouco de cor ao nosso dia-adia. Como a sociedade tem os seus caminhos tão marcados, o sector conservador vê-nos como algo negativo. Porém, apesar de muitas vezes pintarmos de forma ilegal, assinamos sempre a obra, por entendermos que não estamos a fazer nada de mal.

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Porquê Purone e Rdick terem escolhido a arte, se as suas formações nada têm a ver com isto? Sempre o fizemos! Rdick, mal acabou o curso de Engenharia decidiu viajar durante quatro meses pela Índia. Voltou com um objectivo muito claro: queria viver a arte com toda a sua pujança. Com Purone acontece o mesmo, sempre teve um lápis na mão, desenhando sem parar. É o que sentimos nos nossos corações... São os melhores do país? Os melhores do país? Não, não somos, mas também não o pretendemos ser. Como somos felizes e com o nosso trabalho fazemos os outros felizes, é a melhor recompensa que podemos ter.

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Luz nas Vielas, São Paulo, Brasil. Luz nas Vielas faz parte da série Crossroads, um projecto de arte urbana que visa intervir junto das comunidades desfavorecidas de forma a usar a arte como forma de inspiração. Patrocinado pela Embaixada de Espanha no Brasil e com a participação dos habitantes da favela, o projecto conta com cinco conceitos: beleza, firmeza, amor, doçura e orgulho.

fotografias: Boa Mistura © CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 39


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Rua de Cedofeita, 455, 5º sala 49, Porto 40 // www.IDIOTMAG.com


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fotografia: Nuno Dias Š 42 // www.IDIOTMAG.com


André “Dub” Silveira sempre pintou, de há dez anos para cá no panorama portuense. Acarinhado pelas pessoas da área, começou a trabalhar num “emprego de secretária” num horário normal do mundo laboral. Porém, nunca deixou de pintar nas horas vagas e não-vagas para conseguir fazer aquilo que realmente sempre quis: pintar a cultura do graffiti com toda a força que podia. E daí surgiu a ideia de uma galeria de arte urbana, do streetart puro e duro, com o sustento de uma loja que disponibiliza todos os materiais para quem ama o graffiti. A loja, que fica ali de quem vai para os Poveiros, no Porto, convida-nos a entrar e a querer ver a quantidade de cor que de lá advém. Esta tenta centrar-se num conceito mais abran-

gente, para tocar um público mais alargado e fazendo a ponte entre o cliente / amante do streetart e o artista, pondo todos em contacto. É também segundo este registo que André pretende transformar a Inky num núcleo de apoio a toda a arte urbana que se faz na cidade. Além disso, a Inky vai passar a contar com workshops de graffiti para miúdos a partir dos 12 anos, mas também para graúdos. Além de ser a primeira galeria de arte urbana na cidade, esta pretende ir girando a panóplia de artistas que vai expondo na galeria / loja. A primeira amostra ficou a cargo de Hazul, e a segunda e actual pertence ao artista Anti. Vale a pena espreitar. De terça a domingo na Rua Coelho Neto, número 36, Porto. MR

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Escrever para uma revista de idiotas prevê-se um caminho difícil mas motivador. Difícil porque podemos não ser idiotas o suficiente, mas motivador porque poderá haver idiotas que leiam com tamanha idiotice as nossas ideias, por dentro e por fora delas, que nos deixem inchados de alegria. Por dentro das ideias porque muitos são os labirintos que nos encontram e desencontram, e também por fora delas porque puramente estéticas. A arte precisa de provocação, de se provocar e conseguir chegar ao choque público. Chocar é a causa do despertar, do tomar nota, do olhar, do ver, do sentir, do expelir em manifestações físicas o agrado ou o desagrado. A arte só vive se nos chegar perto e nos provocar tesão. Se vontade não houver para este tipo de pornografia intelectual e sensitiva, então tudo deixa de ter interesse e a arte morre por excesso de nada.

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Aqui queremos não crescer mais, não queremos ser adultos nem almejamos os rebanhos ordenados. Aqui pretendemos pensar sem medo, sem moral, sem o politicamente correcto das diplomacias instaladas. Vamos olhar para as artes como um eixo transversal, transmigrado, transsexualizado, transportado, atirado transformado para a fornalha vulcanizada do gosto… e que bom que ele não perdoa, e que bom que ele explode e atira o seu magma infinito para um mundo onde a única consequência é observar. Que maravilhoso poder provocar! Aqui, ser Idiota é ter ideias e saber o que elas provocam quando assumidas num corpo manifestamente corrosivo, alternativo, desviado do esteticamente instituído, do socialmente estabelecido, do artisticamente aceite. Não aceitamos, portanto, nada que provenha do normal andamento das coisas só porque, simplesmente, estamos habituados a comer e calar. Não aceitamos regras e estamos contra elas; Estamos fartos de mecenas que ditam os caminhos artísticos com que cada sociedade se deve reger, como aulas de preparação para carneiros. Quem quer um rebanho ordenado de cordeiros mecenáticos, onde o patrocínio declama poesias feitas por engenheiros técnicos e por administrativos que lambem a planta dos pés (muito pouco suada) de quem tem dinheiro? Lembro, aqui e agora, a memória de Raphael Bordalo Pinheiro e das suas caricaturas dos gordos burgueses todos em vara e bem sujos de honestidade. Assumimos aqui a vanguarda de Pessoa, Sá-Carneiro ou Almada Negreiros. É nosso desejo revelar e relevar todos os Designers, todos os artistas plásticos, todos os poetas e escritores, todos os encenadores e realizadores que não estejam contemplados pelo negócio da arte, aqueles que a visibilidade desfoca por falta de oportunidade e aqueles que

me esqueci de incluir neste texto; desejamos, também, assumir um papel inflamado de luta contra esta barroca e fútil intenção do provincianismo ornamentado dos empresários que se querem bajular e regozijar de tão apoiantes do estético. Onde está a nossa identidade, tão perdida pelos caminhos das maiorias, tão ditada pela mão pesada dos outros? Onde está cada um de nós e quem somos verdadeiramente? Um monte de carne para adornar os ossos? Embalados de comida vegetariana para enganar o sangue palpitante das entranhas artísticas? Seremos mais do que isso. Assumimos sempre o confronto das ideias, das perspectivas periféricas, isoladas, escondidas pela falta de oportunidade, apontamos os dedos todos ao negócio comercial enquanto promotor de carreiras, em detrimento das fontes inesgotáveis da criação estética e da arte no seu sentido totalmente absorvente. Prometemos, sem nos preocuparmos, não prometer absolutamente nada. Somos livres e bebemos vinho que inebria, fumamos a natureza toda porque bela, e pintamos, desenhamos, escrevemos, realizamos, encenamos toda a impiedosa provocação. Este é o objectivo desta coluna: Beber à falta de perdão da criatividade, das ideias, dos idiotas, aliado ao facto de que nos propomos, claramente, a não respeitar todos nem quaisquer poderes instituídos, nem as leis da república nem dos bons costumes, nem nada que fira a liberdade da criação. Neste espaço não existe ordem, come-se desordem, não existe poder, respira-se liberdade… Queremos, acima de tudo, ter uma consciência crítica e dize-la, manifestá-la num poema que sofre de amoralidade, num texto literário enjeitado pela semiótica mais rígida, numa crónica de maus costumes... Acima de tudo queremos PROVOC’ARTE. RNO

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Idiocracy, Gabinete de Design

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Idiocracy Design, o gabinete de design de comunicação da nossa Idiot é responsável pela organização e identidade do evento IDIOT ART, bem como por todas as instalações ali representadas. Todo o conceito e idealização do espaço foram pensadas e estruturadas de uma forma central e eficaz, onde os pormenores não são descurados e técnica apreciada nos mais diversos contextos. Dia 28 de Abril no Centro Comercial de Cedofeita, a arte é livre e espontânea.

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Produção: Idiocracy Design Chefe de Redacção: Mariana Ribeiro Textos: Mariana Ribeiro Rui de Noronha Ozório Melanie Antunes Carmo Pereira Ana Anderson Patrícia (Pseudónimo) Nuno Dias João Cabral Design: Nuno Dias João Cabral Ilustração: André Ventura Capa: Boa Mistura Todos os conteúdos escritos e gráficos são da responsabilidade de: IDIOCRACY, Gabinete de Design ® www.idiocracydesign.com www.idiotmag.com mag@idiocracydesign.com Info@Idiocracydesign.com

Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico Agradecimentos: Coutinho Ribeiro; Diogo Ozório; Elias Marques; Catarina Lima; Henrique Cabral; ESAD Matosinhos

(*) Nenhuma árvore foi derrubada na impressão desta magazine! 48 // www.IDIOTMAG.com


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