CULTURA // TENDÊNCIAS URBANAS #00 FEV.2012
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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1
roteiro índice
editorial
Mi Casa Es Tu Casa
entrevista
José Bartolo e a Auto-publicação 2 // IDIOTMAG
internet
Memes
o mundo é dos loucos
intervenção
Leitores
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Idiocracy Design
tabu?
A Alcova de Patrícia intervenção urbana
MaisMenos
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Mariana Ribeiro
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“Para que queres fazer uma revista? Já há tantas…” E tantas, tantas e tantas. Milhares. Carradas. “Ainda para mais uma revista de idiotas!”. Com muitas ideias idiotas. Feita por idiotas para leitores – idiotas ou não. E é por isto que, com muita dedicação e amor, a Idiot Mag é lançada hoje, para que toda a gente, seja como e quem for, possa entrar na nossa casa, bem como possa sair se quiser. Não vai ser fácil… Tentamos fazer uma publicação simples, sem rodeios, com várias ideias que se possam aplicar ao dia-a-dia dos leitores mortais, com as mais diversas opções. Idiot Mag tenciona entrar no mundo louco das imagens frenéticas e dos textos brilhantes com a vontade de vos informar, de entreter e de fazer parte deste universo, associado a vocês e com umas gotinhas picantes que vos façam querer mais! Este é o espaço da mais recente publicação de uma cidade que espero que nos faça frente, que nos acompanhe ou que simplesmente coexista connosco da maneira que souber, mas que consiga dar-nos aquilo que pretendemos passar-vos: um roteiro com algumas sugestões nossas, reportagens com os melhores artistas – nacionais ou lá de fora; temas muito concretos que façam parte da nossa actualidade em constante mutação, a secção dos leitores idiotas e leito res não idiotas, uma entrevista sobre a intervenção social de um determinado artista que se expresse através da tinta, da fotografia ou da montagem e uma secção com muita vida própria que vos irá mostrar tudo aquilo que o tabu desempenhe (ainda que não saiba!) nesta nossa cidade. Garanto-vos que vão ficar corados… Comprometemo-nos convosco à nossa transparência mais limpa, à realidade a cores e às fantasias mais inspiradoras. O resto descubram vocês (ajam também!) e não escrevo mais que já pareço uma propagandista política. Eu, que sou só uma idiota… CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 5
GERAÇÕES @ PORTO A Idiot Mag quis saber o que de novo abriu pela cidade e foi visitar o novo espaço Gerações, antigo restaurante Babel, onde fomos muito bem recebidos e ainda aprendemos várias curiosidades. Quando se fala em negócios familiares muito nos pode surgir da relação que os pratos caseiros tem com o lar. E a família Meireles sabe-o bem. Fruto desta união nasce o restaurante Gerações que nos promete aguçar o apetite num ambiente descontraído com um
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toque de criatividade em todos os pratos. A culpa é do chef Pico Meireles que toma agora conta das delícias gastronómicas que se fazem por lá. A escolha é difícil, entre os pratos tradicionais portugueses e a cozinha internacional, aprendizagem de quem já andou pela Índia, Brasil, Angola, Moçambique e Londres, a fusão tende a ser tentadora. E nada melhor que esse mundo fora para trazer para
este restaurante as melhores ementas, com a melhor escolha de ingredientes. A selecção de vinhos também não foi negligenciada, fazendo frente aos pratos mais apetitosos. O melhor mesmo é ir lá espreitar. Rua São Bartolomeu, 20na Foz Velha. Com zona de fumadores. Preço médio 20€, com menus de almoço a 11€. Encerra domingo ao jantar e segunda todo o dia.
DESTAQUE CARNAVAL @ BAZAR PARIS A conhecida loja de brinquedos e fantasias fundada em 1903 nem sempre foi especializada nesta área. Criada por uma família italiana, vendia originalmente louças e perfumes. Hoje não é assim. As temáticas são constantes: os brinquedos no Natal, os acessórios de São João, as pinturas do Halloween e, com o Carnaval à porta, o nosso roteiro não podia deixar de mencionar o Bazar mais conhecido das redondezas. Aqui, a época que ninguém leva a mal transforma este espaço num verdadeiro rebuliço de miúdos e graúdos. Sim, porque este caso de sucesso tem mais de 200 disfarces à escolha, para todas as idades. Rua Sá da Bandeira 192 e Avenida da Boavista 731.
FATBOY SLIM @ LUX / PACHA O conhecido artista britânico de música electrónica, autor de 8 albúns e vencedor de 10 discos de platina, regressa ao nosso país com o que de melhor sabe fazer prometendo ao público ritmos poderosos e uma festa marcante. 9/2 no Lux Frágil em Lisboa e 10/2 no Pacha de Ofir. 20€.
GUANO APES @ COLISEU DO PORTO A banda alemã de rock alternativo volta em força a Portugal, após o cancelamento em Outubro do ano passado. A Bel Air tour promete agradar aos fãs da banda, que lança álbum com o mesmo nome em Abril. 16/2 em Lisboa e a 17 no Coliseu do Porto. 25 a 30€ às 22h.
“AFEGANISTÃO” @ CPF O fotojornalista João Silva que perdeu as pernas ao serviço da New York Times no país que dá nome à exposição centrada nesta aventura marcante da sua vida. De 7/1 a 18/3 no Centro Português de Fotografia, no Campo Mártires da Pátria. Entrada livre.
“É COMO DIZ O OUTRO” @ COLISEU DO PORTO Miguel Guilherme e Bruno Nogueira regressam ao Coliseu do Porto com uma comédia que relata o dia-a-dia de dois amigos que trabalham juntos. De 8/2 a 12/2 no Coliseu do Porto. 10 a 22€.
MAIS @ PORTO Exposições: Nadir Afonso até 12/2 @ TNSJ // Salão Erótico do Porto de 9/2 a 12/2 @ Multiusos de Gondomar // “O Mundo dos Dinossauros” de 14/1 a 18/3 @ Pavilhão Rosa Mota // Instalação “Walls to the People” de João Paulo Feliciano de 28/1 a 3/6 @ Casa de Serralves // “Outra Vez Não” de Eduardo Batarda @ Museu de Serralves Teatro: “Exactamente Antunes” de Jacinto Lucas Pires de 13/1 a 12/2 @ TECA Música: dEUS 3/2 @ TSB // “Tiago na Toca” com Tiago Bettencourt 4/2 @ Hard Club // TC @ Gare 10/2 // Maceo Plex @ Gare 11/2 // Xutos & Pontapés 24/2 @ Dragão Caixa CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 7
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José Bartolo é professor coordenador e presidente do conselho científico da ESAD, Matosinhos. É doutorado em ciências da comunicação pela UNL, com dissertação intitulada “O Corpo Tecnológico: Uma Abordagem Intersemiótica”. Licenciado em Filosofia em 1994 e mestrado em estética em 1999 na UNL. É investigador e membro do Conselho Científico do CECL/UNL e colaborador do CEUA/ FAUP. É professor no Curso de Doutoramento da Faculdade de Arquitectura na UP. É investigador, crítico, professor e curador nas áreas da arte e design desde 1998. Colabora, entre outras instituições, com o IADE, FEUP, Experimentadesign, CEMES e British Council. Foi Director Artístico da Casa d’Os Dias da Água (Lisboa) e curador convidado do London Design Festival em 2008. Publica regularmente sobre semiótica, arte e design contemporâneo. É colaborador das revistas ArteCapital e Artes&Leilões; autor do blogue Reactor e membro do conselho editorial das revistas Resdomus e Revista de Comunicação e Linguagens. É o autor dos livros Corpo e Sentido (Livros Labcom, 2007) e Design (Relógio d’Água, 2010). Actualmente é co-editor da Revista da ESAD PLI / arte e design.
-Como é que o seu percurso profissional o levou a enveredar por um lado mais teórico do design?
- Como curador e crítico de design, como acha que o design em Portugal se irá desenvolver?
Qualquer resposta sobre o futuro parece, actualmente, condicionada Quando comecei a trabalhar na área, a pelo contexto de crise em que vivemeio dos anos 90, a cultura do design mos e continuaremos a viver. Colegas em Portugal era muito fechada. Falmeus das Belas Artes de Lisboa estão tavam espaços e situações onde os a organizar, no início do mês, uma designers pudessem apresentar o seu conferência sobre Design e Crise. Esta trabalho. Eu tinha estado em Reading situação coloca diversas dificuldades à e regressei com vontade de ajudar a empregabilidade de jovens designers, criar condições para se realizarem no ao desenvolvimento de novos projecnosso país exposições, conferências tos e, de um modo geral, ao crescie workshops de design. Começar a mento da nossa cultura do design. escrever sobre design foi uma conse- Mas acredito que o design tem comquência desse interesse e motivação. petência para reagir à crise e propor A partir de 1998 comecei a dar aulas novas soluções. Pessoalmente estou de Teoria e Metodologia do Design envolvido em vários projectos (uma no IADE e, mais tarde, na ESAD e fui nova incubadora de projectos, uma asprocurando tornar a teoria uma forma sociação ligada ao empreendedorismo de pensamento e questionamento cultural, projectos editoriais entre capaz de tornar a prática do design outros) e procuro renovar, diariamente, mais crítica. a minha motivação para fazer coisas. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 9
- É editor da nova revista de artes e design Pli. Qual é a importância que dá à auto-publicação e como acha que esta se pode insurgir perante a crise actual? A auto-produção torna-se um processo cada vez mais decisivo para, nas condições actuais, os designers desenvolverem o seu trabalho, promoverem o seu trabalho, ajudarem a promover o trabalho de outros, criarem um contexto de produção/circulação/venda alternativo ao contexto tradicional que está absolutamente saturado. Os jovens designers devem assumir como auto-produtores. 10 // IDIOTMAG
- O seu blog é um espaço de informação previligiada sobre o design nacional. Considera esta plataforma uma espécie de auto-publicação?
“Many Stuff Internacional Graphic Design Session“, Moscovo, Charlotte Cheetham
Sim. É um projecto que é gerido unicamente por mim. A Web 2.0 deu-nos ferramentas muito democráticas que nos vieram ajudar a desenvolver processos de auto-produção e, em particular, de auto-publicação. Recentemente convidei a Charlotte Cheetham do Manystuff para dar uma conferência na ESAD. Ela tem 28 anos e um conjunto vasto de projectos ligados ao self-publishing que a tornam já uma autora de referência. - Para si, até onde vai a influência reactiva do seu blog dentro do mundo da internet? O Reactor tem já alguns anos. Hoje tenho uma noção do meu universo de leitores, dos seus interesses e pontos de vista. Falta-me apenas tempo para alimentar o blog com a regularidade necessária. - Como é que consegue ser curador e crítico, escrever no seu blog, dedicar-se à organização de eventos culturais, à publicação de livros e edição de revistas e ainda dar aulas? Tem tempo para tudo isso?
REACTOR é o blogue da responsabilidade de José Bartolo. Sobre cultura e sobre as tendências do design actual, José Bartolo usa-o como transmissor de ideias e de informações sobre o que melhor se faz (ou não) no mundo do design.
http://reactor-reactor. blogspot.com/
Há várias razões para conseguir conciliar muitas coisas: dormir pouco; trabalhar muito; e sobretudo gostar e acreditar no que faço. O facto dos projectos que já concretizei serem uma minoria das ideias faz com que tenha, sempre, vontade de continuar a fazer coisas. Nesse percurso tenho encontrado pessoas igualmente motivadas e excelentes profissionais que tornam esse trabalho mais fácil. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 11
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Definir meme como conceito vai muito mais para além da significação que hoje lhe damos. Os bonequinhos com caras estúpidas, a que apetece ver só mais um, que tem a piada que lhe quisermos dar, mas que muitas vezes se identificam com situações reais do dia-a-dia e que nos enchem de cumplicidade pelas suas ideias. Os memes irritam, como irritam muitos anúncios ou as músicas que achamos tão estúpidas que nos ficam na cabeça e que quando reparamos estamos a cantá-las o dia inteiro. É este fenómeno, como fenómenos parecidos que nos foram acompanhando ao longo da nossa existência, que se atravessa hoje no nosso contemporâneo mundo das imagens frenéticas, sem o qual já não poderíamos viver.
UMA DIVERSÃO OU UM CONSOLO OU SIMPLESMENTE UMA SECA.
para passar o tempo que os memes existem. Na verdade, estes memes já foram muito utilizados na divulgação de serviços ou produtos, como forma de marketing. Outra das maiores particularidades que estes memes possuem, hoje em dia, é a utilização de figuras conhecidas publicamente para parodiar situações ou até a eles próprios. Jackie Chan, Obama, Freddy Mercury,… Os memes são tão específicos que hoje podemos encontrar os mais variados personagens, com caras e características próprias associadas a cada situação e contextos em que se encontram. Hoje existe o Poker Face, o Forever Alone, Troll Face, entre muitos outros bonecos/situações que prometem ficar e adaptar-se às mais específicas situações de cada um de nós!
Os memes também já comportam espaços dedicados a si próprios. Exemplo disso é o meOs memes da Internet são utilizados há algum mebase.com, totalmente centrado nestes ou outros variadíssimos blogs que se encontram tempo e com uma pesquisa mais aprofuncom uma simples busca na internet, muitas dada padecem de algumas explicações que vezes de língua inglesa e português do Brasil. nos levam a crer que ainda não estão no Um espaço com especial destaque onde esta complexo imaginativo de todos. Uma ideia realidade ficcionada foi tão difundida é no que se propaga pela Internet. Uma ideia que já tão conhecido site 9gag, completamente utiliza letras, imagens, hiperligações, onde dedicado ao humor e às curiosidades da vida. as palavras muitas vezes são trocadas propOra, sabendo que os memes da internet são ositadamente e que possuem características hoje um grande instrumento de diversão, é que, para os mais atentos, se denotará logo obvio que aqui são estrelas do canal. No 9gag à partida que estamos perante um meme da todos podem comentar (com possibilidade de Internet. São facilmente difundidos pelas partilha para o Facebook) e enviar os seus nossas redes sociais, correio electrónico ou em sites próprios utilizados como um meio de próprios memes, frases ou fotografias - um autêntico espaço de revolução comunicacional diversão, imaginação ou de fuga à realidade elevada ao extremo da ironia. durante uns minutos, ou até mesmo horas. Actualmente existem mesmo bandas desenhadas com situações caricatas que deliciam o Em campo português também podemos contar com os memes e com piadas bem portuguedia que vivemos. sas. Basta ver, por exemplo no facebook/serUma diversão ou um consolo ou simplesmente portugues, as montagens que por lá se fazem e que qualquer um pode enviar. Aqui, qualquer uma seca. Opiniões divergem. Mas não é só CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 13
um se ri com as ideias que por aqui passam é sem dúvida um retrato muito fiel do típico português que vale a pena ser visto. Pelas faculdades que nos rodeiam também é possível assistir ao aumento deste fenómeno. Aqui ataca-se essencialmente os professores. Alunos sempre se uniram para criticar características dos seus mestres, e aqui encontra-se espaço aberto para a partilha. Basta ver os novos memes da Academia do Porto, ESAD ou do ISMAI. Mesmo não percebendo as piadas que lá se partilham, é fácil denotar que o ambiente é cúmplice. Memes da internet estão definitivamente na moda, gostando ou não deles, é impossível não haver algum tipo de contacto com estes desenhos. Quem navega pela internet sabe bem porquê. E enquanto alguns continuarem a achar graça não há quem os demova...
Jackie Chan é a personagem escolhida em situações de levar as mãos à cabeça.
A personagem Barney da série Norte Americana How I Meet Your Mother encara o meme “True Story”, geralmente usado para relatar ironicamente situações reais. 14 // IDIOTMAG
O meme de Obama, conhecido como o Not Bad, surge a partir de uma foto tirada na visita do Presidente e da Primeira Dama dos Estados Unidos da América à Rainha de Inglaterra no Palácio de Buckingham. Este meme é usada como expressão de aprovação. Esta original expressão deu vida a um dos mais famosos memes actuais.
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O cosmos está em constante tabu. É o tudo ou nada mais delicado que existe. Tabu é provocação, brutidão e crime. Esperamos partilhar com o mais íntimo público as susceptibilidades mais picantes, mas também as mais reais e, por isso, nem sempre prazerosas. Como comunicadores natos, queremos levar-vos às situações mais controversas e delicadas que vos vão fazer querer mais. E mais e mais e mais...
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“tabu, tabo (Vernác. P. Us) [tabú], [tábu]. s. m. (Do ingl. taboo, do tonganês tabu ‘ proibido’). 1. Crença supersticiosa que proíbe que se olhe ou que se toque numa pessoa, animal ou objecto, que se entre num lugar, que se ingira certo alimento, que se faça uma coisa ou se fale dela... 2. Pessoa, animal, coisa ou lugar cujo contacto é proibido em função do seu carácter sagrado. 3. Proibição assente em valores de ordem social, cultural. Os tabus que existem em torno do sexo só lentamente vão desaparecendo. (...) 4. O que não pode ser referido ou não pode ser tocado. (...)” in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001
A Patrícia é vadia, fala de si na 3ª pessoa e atende uma linha erótica em nome próprio. A Patrícia é livre e tem uma cama queen size, detesta que lhe chamem princesa e é voyeur por natureza. Parece uma rapariga de respeito, não bebe álcool e não sai à noite, dança sozinha em casa e brinca em cima dos amantes. E inspira devoção, uns rezam-lhe pais nossos á cabeceira a ver se passa a tesão, outros olham-na como santa ou mãe. A Patrícia é tabu, então. E joga com toda a proibição. Joga com palavras e leva o corpo a sério. Cada movimento bem pensado. Costuma falar baixinho e berrar de prazer. Arrisca tudo menos os princípios. E descobriu que também isso é tabu. Ri-se com a facilidade de se cometerem acções e evitar Numa mesma definição associa-se sexo e as palavras. Tem 24 anos e experiência em sagrado, mais uma que junta o proibido, o de- relações, longas, curtas e one night stands. sejado e o prazer. Tabu não é sexo, são todos Podia licenciar-se em ralações também, não os limites que ultrapassamos, é esse limiar só de licenciosa a rapariga. Dedinho mindinho entre o pornográfico e erótico, entre a ofensa para a confusão e jeito para a coisa. A cada e o êxtase, entre a chamada paga que pede mês, por aqui, vai abrir estes tais profanos para empinarmos o rabinho e o mesmo dito ao livros de orações, contar amiúde telefonemas ouvido por quem queremos que sussurre de e sensações, e divertir-se, muito, com todas prazer. Tabu é viver no meio dos cruzamenestas convenções. Tabu também implica lugar, tos, é ser livre. É ser profano com a boca e e que lugares são esses tão perigosos, que religioso com as pernas. No meio das pernas, práticas e contactos são tabu ou costume? levar com seriedade essa promessa de prazer. Onde é que cada um delineia essas linhas, e Confunde assim tanto, tomar a sério o corpo, com que linhas nos andamos a coser? e usar a cabeça para ganhar dinheiro? E onde Este mês ficam perguntas, nos próximos virão está o sexo, ou o tabu, na carne ou na cabeça? histórias e quem sabe uma ou outra solução! 22 // IDIOTMAG
Quando recebi pela primeira vez o Tenga 3D, prontinho para pôr na mala e evangelizar, não contive um ar de espanto e contentamento, e embora haja instrumentos impossíveis de acoplar, e por muito que se queira, seja difícil a uma rapariga imaginar sensações num pénis de carne e osso (osso, salvo seja) que não tem, o Tenda 3D tem muito bom aspecto. É inegável. E depois de acompanhar durante anos, bem anteriores à minha entrada n’A Maleta Vermelha, comentários dos amigos em relação às Lanterninhas (a clássica fleshlight, masturbador afamado, embora de aspecto duvidoso), experiências de texturas diversas caseiras nas descobertas e desenvolvimento sexual, percebemos que realmente com a Tenga a indústria de brinquedos para meninos deu um salto brutal, ao evocar três palavras chave: qualidade, descrição e prazer, no masculino. A sleeve Tenga 3D Spiral é feita de elastómero antibacteriano, sem ftalatos, tão seguro e lavável quanto silicone, mas muito, muito, mais maleável. O único senão é que como material poroso não deverá ser partilhado. Parece uma peça de arte, vem, vende-se com um design que passaria incólume numa galeria e que, se deixado ao acaso ou ocaso, faz um brilharete na sala/quarto de um homem com bom gosto. Para se usar, revira-se a textura para dentro, aplicase uma boa quantidade de lubrificante à base de água ou de silicone (para uma menor absorção) e desfruta-se. O interior espiralado, com pequenos sulcos num padrão apertadinho, permite uma estimulação mais longa com sensações suaves e bastante agradáveis. Para uma estimulação mais intensa aconselha-se uso de lubrificante
com bastante moderação. Deve-se dizer que os barulhinhos de squash, shpock, e afins (comuns em manguinhas de masturbação), neste, segundo dizem, não existem. Quanto ao tamanho ajusta-se bem a qualquer pénis, talvez os rapazes mais modestos, mas bem, bem abaixo da média, se sintam mais confortáveis com outro produto da Tenga, o ovo. Uma vez satisfeito o usuário, vira-se de novo o brinquedo para lavar direitinho e deixa-se a secar ao ar no seu suporte. Após seco, cobre-se de novo com a sua cúpula de acrílico. Quando mostrado a uma série de amigos, as respostas à primeira vista foram promissoras: o design cativa, o aspecto promete e a utilização é logo sugerida, a promessa de efeito desperta curiosidade. Vendido por 36.95€ por Carmo da Maleta em reuniões d’A Maleta Vermelha. *Como acessório e para maior prazer poderá adquirir o Lubrificante Seda Silicone (19.95€) e o Warmer Tenga, aquecedor para os masturbadores Tenga (9.95€).
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“O meu lado da cidade O meu lado da cidade tem casas velhas e lojas fechadas, ruas estreitas, irregulares, passeios descuidados e fiscais da Câmara acoitados nas esquinas, perversos, à espera que transborde o tempo do parquímetro, dois minutos ou três, e já está!, mais um grampo e um reboque e umas dezenas de euros que voam, não que eu tenha razão de queixa, que já sei que sou de azares e, por isso, a moeda sempre a tempo nos dias, que são poucos, em que não ponho na garagem do Bonjardim. O meu lado da cidade tem cafés razoáveis e outros que são maus, eu prefiro os que são maus, não só porque estão mais perto, mas porque a gente habitua-se a ir onde é mais perto, onde as empregadas nos tratam por meninos e por meninas, quando não é Olá môr, o que vai ser?, e um sorriso, e até podemos ficar a dever, coisa que me acontece muito porque ando sempre sem dinheiro e depois vai lá a Dulce pagar. E entram os empregados das mercearias vizinhas, e as vizinhas das lojas do lado, e somos todos conhecidos e trocamos os jornais do dia e uma conversa ligeira, que eu estou sempre a acelerar, não porque tenha menos tempo que os outros, mas porque trato pior o tempo, coisa que nem sempre se percebe, mas é mesmo assim. Trato-o pior. E não me peçam para explicar, porque então isto deixava de ser um post e passava a ser uma dissertação, coisa que, como já perceberam, não joga muito comigo, sobretudo quando me ancoro no meu lado da cidade. Neste lado onde vejo vendedoras esporádicas de hortaliças, de peixe, de meias e do que calha, olho na banca e outro na polícia, gente de ar cansado, dia mau no Bolhão (penso sempre), quase da idade dos prédios devolutos, e também há o pedinte, que vem pouco, que não fala, mas que faz um silvo que honestamente me irrita, até porque o ouço mesmo quando estou no escritório e ele se planta na entrada. Há muito menos pessoas na rua do que há uns anos, garante o Sr. Fernando, e ele sabe, porque a coisa reflectese no que avia o café, e as prostitutas de rua do Bonjardim, logo ao lado, também sabem, o que as faz mais afoitas, imaginem lá que em tantos anos nunca me abordaram e são sempre tão simpáticas e educadas, nunca foram além de me pedirem um cigarro e um dia destes uma novata disse-me Então, querido, vamos p’ra pensão? e eu olhei-a e ri-me com um riso que não era sobranceiro era apenas de distância e ela percebeu e ofereci-lhe um cigarro que ela aceitou e acendi-lho e fui andando, a pasta castanha bamboleante, os passos firmes até ao carro, o cabelo que não abunda a agitar-se. E eu a amainar. O telemóvel ligado ao auricular, os telefonemas para a família e para os amigos, o trânsito que já está 26 // IDIOTMAG
menos porque saio tarde. Atravesso a cidade para o outro lado. Para o lado onde os anúncios são mais neon e as ruas mais bem tratadas e os doutores usam fatos mais formais e onde os prédios são mais vistosos e espelhados e onde as prostitutas são menos visíveis e parece que são mais caras e não se plantam nas ruas, é coisa mais sofisticada e de recato, coisas que nem sequer se imaginam, é o que me dizem, que eu não sei, porque elas são menos visíveis e eu sou um bocado distraído e não me meto na vida dos outros. Quando ando mais descontraído e o dia é de rotinas, faço o trajecto da rotunda Boavista normalmente, rumo à Ponte da Arrábida, direitinho, o que não é assim tão simples quando ando em stress, porque aí, é sagrado que dou duas ou três voltas à rotunda até que desperto e sei que o caminho é aquele para o meu subúrbio de Gaia-mesmo-na-ponta-da-Afurada, que a outra nem conheço, mas devia, eu sei que devia, por todas as razões entre as quais porque a nossa terra é também aquela que nos acolhe, como me acolheu o Porto adolescente e depois Coimbra e depois o Porto e depois a Póvoa de Varzim e depois Gaia, como se eu fosse um cigano-oriundo-do-Marco-comum-pé-no-Marco, porque um gajo como eu não se esquece de onde é. E não se deslumbra, é como é - assim.” Coutinho Ribeiro, Porto
Espaço de criticas, desabafos e opinião dos leitores. Conta-nos o que te vai na cabeça, envia-nos os teus pensamentos para mag@idiocracydesign.com Visto ser a edição #00, estas cartas foram recolhidas através dos nossos seguidores no facebook.
“A verdade das verdades? O senso comum faz-nos acreditar que tudo o que aprendemos na escola é na verdade uma realidade. Pois eu não concordo inteiramente com isso, penso que o facto da grande percentagem das pessoas não testar opiniões e com isso poderem ser ridicularizadas saindo do senso comum é algo mais poderoso do que a outra opção, ou seja terem sempre uma segunda visão sobre as coisas. Digo tudo isto para finalmente me explicar, recentemente acompanhei um conjunto de documentários do canal História (Ancient Aliens) com os quais eu me identifico totalmente. Entre muitos temas que poderia abordar, escolhi falar sobre a mais famosa das pirâmides do Mundo, a de Gisé. Acho impensável as pessoas não colocarem sequer dúvidas em relação à sua construção. De acordo com o canal História esta foi construída em apenas 22 anos, ou seja, 2 milhões de pedra foram cortadas e colocadas com tão poucos conhecimentos. Estou de acordo com o que aprendi e tento aqui partilhar a maior estrutura construída até surgir a Torre Eifel. Este milagre da engenharia, a meu ver, ainda está por explicar. Despertou o interesse de engenheiros conceituados pois isto não poderia ser feito apenas em 22 anos, e que se tal acontecesse no passado, sem máquinas, teriam que colocar uma pedra a cada 9 segundos. Isto faz-me pensar que o senso comum nem sempre é tão linear.” Tiago Pimenta, Porto
“Porque não permitir o estacionamento à esquerda na Rua António José da Costa? Se está um automóvel estacionado do lado direito e se se permitir estacionar do lado esquerdo, ainda passa uma fila de trânsito no meio. Não compreendo como durante anos houve carros estacionados do lado esquerdo e agora, apesar de estar consignado na lei a proibição de estacionar à esquerda numa via de sentido único, colocaram um “novo” sinal a proibir algo que era pacífico quando o que deviam ter posto era um sinal de permissão.” Anónimo, Porto
“Caridade à custa dos outros. É a caridade mais fácil de praticar. Gosto quando uma senhora na recepção de uma clínica veterinária, diz que vai chamar a ASAE porque “ouviu dizer”, nem sabe bem onde nem de quem, que nós (leia-se, médicos veterinários), temos obrigação LEGAL de recolher animais de rua. Força, minha senhora, e de caminho faça queixa dos médicos que não recolhem os sem-abrigo...” Helena Braga, Porto “Ao andarmos pelas ruas do Porto reparamos que cada vez é maior o número de pessoas a pedir ajuda. Velhos, novos, crianças. Com a crise económica/social aumenta o número de familias carenciadas, desempregadas, e com fome. Retratar esses rostos talvez seja uma forma de abrir os olhos de todos nós para o mundo em que estamos a viver. Não podemos ser indiferentes. Façamos a diferença.” Olga Marvão, Porto
“Vou fazer uma breve reflexão sobre taxas moderadores. É consensual que vivemos numa sociedade de consumo; há consumismo nos bens de supermercado; há consumismo de brinquedos; de vestuário. Toda a gente tem mais do que o que precisa. E isto reflecte-se também na área da saúde. Há consumismo de actos médicos. Vai-se ao médico por qualquer razão; às x’s resolvia-se com bom senso. Então surgem as taxas moderadoras. É justo? Vai moderar? Para aqueles que num mês vão duas vezes ao médico porque agora acabou uma caixa e a seguir acabou outra. É bom que se modere. E se estes ficam isentos? No outro extremo temos os doentes oncológicos que dariam tudo para não frequentar o IPO ou o Hospital. Mas se a sua incapacidade não atingir 60% vão ter que pagar. Alguma coisa deve ser feita; mas atingir o equilíbrio não é fácil.” Anónima, Porto CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 27
Fotografias: ± 28 // IDIOTMAG
Quando um estudante finalista de Design de Comunicação da Faculdade de Belas Artes do Porto se pergunta qual deve ser o sentido profissional que deve dar à sua vida e o estudante se chama Miguel Januário, a resposta parece simples: não deve ser, sem dúvida, um “agente maquilhador” da sociedade de consumo que continua a mentir aos seus públicos. E assim surge o projecto MaisMenos que inunda Porto e Lisboa com o símbolo ± - nulidade matemática interpretada pelo artista (também já se tornou activista, inerentemente) que, na ironia de uma utopia, visa tornar neutro o processo de comunicação que nos invade através dos media todos os dias de forma tão rápida e desordenada. O MaisMenos é um manifesto à consciência pessoal e humana, através do excitamento próprio da publicidade, criticando-a. Isto coloca em crise a sociedade de consumo, o capitalismo e a falta de noção social.
pensar por ela própria, fazendo ainda assim, parte do sistema onde nos inserimos. “Os designers, como os que fazem parte desta elite, têm margem de manobra para operar mudanças sociais. Acredito que a arte pode ajudar o mundo.”, diz Miguel Januário. E é com esta convicção que este caso sério de identidade corporativa até possui os seus eventos próprios. Foi exemplo disso o dia em que o artista propôs a substituição do brasão da bandeira portuguesa pelo símbolo do MaisMenos. Tudo isto vai de acordo com a dívida pública e os pedidos de ajuda externa, “ora mais, ora menos”... À moda portuguesa, também foi a acção Ego Sum Panis Vivus, onde Miguel não perdeu a oportunidade de ir jogar golfe usando pães como bolas (outros dos alvos de crítica feroz) para as escadarias da Assembleia da República no dia da demissão de José Sócrates.
É inevitável, hoje em dia, andarmos pelas ruas e não termos referências mais menos. “Em Portugal existe pouca intervenção”, afirma Miguel. Várias são as manifestações do artista: sejam símbolos espalhados em cartazes, stencils ou autocolantes ou ideias e frases que se tornam a identidade da marca ou anti marca, dependendo da perspectiva de cada um. O que é certo é que todos são dotados de um sarcasmo controverso. Este explica que o projecto acaba por se tornar no próprio produto e que por esta razão, o mercado acaba por acatar este mesmo produto que é completamente contra o mercado. Confuso? Não é. É apenas a arte urbana com personalidade própria que quer fazer a sociedade
Writter conhecido no mundo da arte urbana, denota influências de artistas como Bansky, Obey e toda a sua conjuntura humana, bem como o projecto português Underdogs. O que é inquestionável é que este projecto possui uma dinâmica muito própria, com uma imagem forte que cria no público o reconhecimento visual ou até mesmo emotivo. É a provocação que suscita o interesse. A IdiotMag conseguiu falar com o Miguel, que, apesar de muito atarefado com novos projectos (aconselho-vos a estarem atentos), se prontificou de imediato a colaborar connosco e a responder-nos a todas as perguntas que queríamos ver respondidas.
Intervenção urbana aplicada no Porto e Lisboa que visa a crítica social, entre outras, através do grafitti, do stencil e autocolante. MaisMenos é igual a zero e representa a neutralidade e a transparência na comunicação. O projecto é idealizado por Miguel Januário na sua tese de final de licenciatura. Grande feedback por parte do público com ironia associativa forte e directa que objectiva o pensamento individual, ao invés da cultura massificada a que hoje se assiste.
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- Conta-nos sobre como tudo isto surgiu, e quais as tuas referências para este projecto. O MaisMenos surge num contexto académico, quando no final do curso de Design de Comunicação (na fbaup) me questionei sobre o papel do design na sociedade de consumo e do meu papel como ‘maquilhador’ dessa sociedade. Como já tinha um background ligado ao graffiti e à streetart, a minha vontade foi criar um projecto que tivesse uma componente teórica e prática forte, sendo a teoria baseada na pesquisa e na observação da sociedade actual (em termos económicos, sociais e políticos) e o mote conceptual para o lado prático, que se iria sustentar na intervenção continuada na rua. Assim, depois de muita reflexão, surge o ±, uma marca que considera que as marcas são a energia da sociedade de consumo (+ - como os pólos das pilhas) que pretende anular (+ - = 0), de uma forma utópica, a comunicação e as restantes marcas, considerandoas o motor para todas as diferenças sociais (uns com + e outros com -). No fundo será o ‘No logo’, cujo livro da Naomi Klein com o mesmo título foi uma das grandes inspirações para este projecto. Outros autores como o Noam Chomsky também contribuiram de uma forma muito intensa para a inspiração e criação do maismenos. 30 // IDIOTMAG
- As mensagens que passas para o publico são muito fortes. Capitalismo, sociedade de consumo, a democracia exercida no mundo ocidental são temas abordados por ti. De onde e como surgem estas ideias? E como é que as trabalhas até chegares a fase final em que a intertextualidade associada a ironia faz destas mensagens algo tão concreto como isto? É um trabalho de pesquisa contínuo, de informação, de observação. Penso que também terá a ver com o meu espírito e a forma como observo a realidade em que vivemos. Depois são conceitos que vou pensando, umas vezes durante muito tempo, outras vezes surgem como ideias instantâneas num qualquer momento. Normalmente quando tenho uma ideia, aponto-a e depois vou pensando sobre ela durante algum tempo. Quando surge a oportunidade ponho-a em prática ou por vezes de imediato. Algumas morrem na praia e nunca são executadas, porque quando as vejo de novo sinto que já não fazem sentido.
- Achas que o MaisMenos choca as pessoas? De que maneira? Poderá eventualmente chocar pessoas menos preparadas para a frontalidade e para o pensamento crítico. Para as restantes espero que seja inspirador e que estimule, precisamente, esse pensamento crítico. Isso é o mais importante. E que ao mesmo tempo demonstre que devemos sair e mostrar aquilo que pensamos, que temos essa possibilidade: a de contestar, de pensar, de saber e de sermos livres pensadores. Além disso, que estamos atentos.
- Em todo o percurso deste projecto nunca tiveste chatices a mais e apoios a menos? Nunca tive chatices, por estranho que possa parecer. Como pinto graffiti há muitos anos, já aprendi a estar e a fazê-las! Não sei o dia de amanhã e pode correr menos bem um dia, mas isso não me preocupa. A ideia de ser preso ou ter problemas com a justiça parece-me aliciante, pois poderá trazer mediatismo ou curriculo, o que é bom para o projecto! Hoje faço tanta intervenção de dia como de noite, sem receios. Cada vez penso que quanto mais à vontade fazemos as coisas, melhor elas correm. Quanto a apoios, sou eu próprio, com o meu trabalho do dia a dia (sim, porque eu continuo a ser designer, realizador, etc, e a trabalhar para o inimigo!), que invisto no MaisMenos. Eventualmente quando vendo peças de exposições, mas não é isso que procuro quando o faço. Nunca vou para uma exposição com a preocupação de vender, mas sim de mostrar. - Há algum projecto interventivo em que devíamos andar de olho? Estou neste momento a começar a planear 2012. Estou com algum trabalho, o que não me permitiu ainda planificar o ano, apesar de já ter coisas pensadas e marcadas. Está para muito breve o momento de introspecção e de execução. Os tempos que vivemos são estimulantes e, para a intervenção, os mais apropriados.
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- O que pensas de toda a arte urbana que hoje se faz? Achas que deve haver uma distinção entre arte e rabiscos? Eu vejo o graffiti/streetart/intervenção/pichagem/etc como um movimento generalizado com diversas vertentes. Vejo esse movimento como uma forma de acção, seja ela mais ou menos (!) figurativa, seja mais ou menos técnico, mais ou menos conceptual. Vejo-o como uma forma que as pessoas encontraram para mostrar os seus sentimentos, pensamentos, etc. Num mundo de comunicação e informação, onde só aqueles que têm poder podem bombardear o espaço com imagens, a pessoa comum adaptou-se a esse paradigma e faz as suas imagens. Uns com melhor execução, outros menos, uns mais pensados, outros sem noção nenhuma do que estão a fazer. Mas não será tão legítimo se somos influenciados, mesmo inconscientemente, por esse meio tão poderoso que é o da imagem? E não será também este movimento uma forma de reclamar o espaço público, que cada vez menos nos pertence? Claro que se me perguntares se há graffitis ou expressões mais complexas que outras, eu direi que sim. Mais interessantes, importantes e marcantes? Sim, mas todo o movimento poderá ser artístico, é actual e tem um contexto, tem uma raiz e um motivo, o que faz no seu conjunto, com que tudo isso seja uma forma de expressão artística contemporânea. 32 // IDIOTMAG
Convicções sociais, económicos ou políticas? O que é certo é que mensagens direccionadas à sociedade de consumo globalizado a que hoje assistimos e fazemos parte pode facilmente por-se à prova. Assim, sem mais nem menos. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 33
Dia 1 de Abril, Pedro Passos Coelho, o nosso Primeiro Ministro, explicou aos portugueses que não ia cortar o subsídio de Natal. Toda a gente sabe que dia 25 de Dezembro é Natal, mas nem todos sabem que 1 de Abril é o dia das mentiras. Entretanto, no dia em que já não era o das mentiras, o mesmo PM explicou que o que Orçamento de 2012 elimina os subsídios de ferias e de Natal para todos, os vencimentos dos funcionários da administração pública e das empresas públicas acima de mil euros por mês. Conclusão: mentiu duas vezes, uma, vá, era dia das mentiras, sempre se tem uma desculpa maiorzita para o confronto com a situação. Não bastava dizer que não ia mexer nos subsídios de Natal, agora mexe e também no Verão … A conclusão é que não
podemos ir de férias como o ano passado, a menos que sejamos o presidente da EDP, que ganha mais que o presidente da Microsoft e da Apple. Não é difícil perceber que deve ir sempre para a China todo o mês de Agosto… E nós sem luz ao fundo do túnel. Sim, porque agora que a luz subiu, os gastos têm de ser bem geridos. Deve ser por isso que um sem abrigo tentou furtar seis chocolates no Lidl e o seu julgamento terá mais custos que o valor do crime (14,34€), que, vistas bem as coisas, não chega para pagar a luz numa casa de tipologia familiar comum. Se este sem abrigo tivesse tido educação desde pequenino, saberia que em vez de andarmos a pagar os seus custos de tribunal deviamos apoiar a compra de alcatifas anti fogo de modesta
*Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência 34 // IDIOTMAG
quantia de 7312,50 mil euros para o Município de Oeiras e para os jantares que por aqui se fazem a 18025 mil euros. E como comer é dos maiores prazeres da vida, sejam chocolates ou jantares de luxo, também as relações humanas nos podem fazer felizes. Duas pessoas juntas, unidas pelo amor que sentem e pela partilha dos melhores e dos piores momentos da vida. Noutro dia, a respeito das relações homosexuais, disse o Pastor Doctor Martin Ssempa, presidente da “National Task Force Against Homosexuality in Uganda” que estes são pessoas que na privacidade do seu quarto comem os excrementos uns dos outros, pela partilha do melhor e do pior… Mas ainda bem que o Pastor nos esclarece, já agora, também ando baralhado: as mulheres na Arábia Saudita podem conduzir um carro? A lei diz que não... Deve ser do cromossoma Y, será também isso que lhes dá o direito exclusivo
Casados 72 dias Divorciaram-se
Juntos há 8 anos Agora podem casar
Casados 14 meses Divorciaram-se
de serem apedrejadas se cometerem adultério? Exclusivo, porque aos estudantes duma Universidade dos EU só lhes foi concedido gás pimenta nos olhos em troca duma manifestação pacífica em apoio ao Occupy WSt. Mais pacífica foi a punição de Isaltino Morais e o esforço adicional de austeridade ter sido poupado aos antigos titulares de cargos políticos, que passaram de boys a meninos grandes! É, o mundo está todo ao contrário, em vez das mulheres quererem conduzir, os gays
terem direito seja ao que for na privacidade do seu lar e de fazermos jantares com alcatifas anti fogo, devíamos era ser solidários com o nosso Presidente da República pois o que ele ganha não lhe dá para as despesas. Eu, como cidadão que gosta da sua Nação, faço já a minha parte e deixo um convite. Senhor Presidente da República, quando precisar e estiver apertadinho ao fim do mês pode passar lá em casa para comer uma cabidela bem temperada com vinagre…
“Aqueles que são loucos o suficiente para pensar que podem mudar o Mundo, são aqueles que o fazem.” Steve Jobs Ajudar com um click: http://www.weday.com/ http://www.theanimalrescuesite.com CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 35
Idiocracy, Gabinete de Design
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Logótipo Principal
Logótipo Secundário
Restaurant & Cocktail Bar Vinil para Montra
O Portvcale Lounge é um restanurante/bar situado em Bath, Inglaterra. Aberto desde Novembro de 2011 pelo portugês António Bustorff, conta com a identidade gráfica da responsabilidade da Idiocracy, Gabinete de Design. Logótipo, papel de carta, cartões de visita. Além destas peças normais numa empresa em inicio de actividade, a Idiocracy desenvolveu: menús, cartazes, panfletos, uniformes (jalecas e pólos para os empregados), convites, vinís para montras e peças de merchandising, desde canetas, isqueiros e bases para copos.. Idiocracy, Gabinete de Design Rua de Cedofeita, 455, 5º sala 49 Porto, Portugal info@idiocracydesign.com 222 083 373 // 914 112 981
Fotografias: Antonio Bustorff CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 37
Produção: Idiocracy Design Chefe de Redacção: Mariana Ribeiro Design: Nuno Dias, João Cabral Ilustração: André Ventura Capa: Pen Work: André Ventura Concept: Idiocracy Design Cronica Tabu?: Patrícia da Alcova Review Tabu?: Carmo da Maleta
Todos os conteúdos escritos e gráficos são da responsabilidade de: IDIOCRACY, Gabinete de Design ® www.idiocracydesign.com mag@idiocracydesign.com Info@Idiocracydesign.com
Agradecimentos: Mª Luisa Marvão; Ass. Animais de Rua; José Bartolo; Coutinho Ribeiro; Mª Clara Santos; Miguel Januário; António Bustorff; Diogo Ozorio; Helena Soares; Olga Marvão; João Paulo Cabral; Fernando B. Dias; Luis Cabral
(*) Nenhuma árvore foi derrubada na impressão desta magazine! 38 // IDIOTMAG