Idiot Mag JUN.12

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CULTURA // TENDÊNCIAS URBANAS #04 JUN.2012 www.IDIOTMAG.com

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1


editorial

Os Heróis

14 entrevista

Meikstudio índice

design

20

photoreport

4 anos de Gare

roteiro Porto + Especial IDIOT MAG @ QUEIMA IDIOT ART @ BAIXA

24 actualidade

Cinema no Porto Este mês, a capa da Idiot pertence à ilustradora Inês Peres. Esta artista, além de ser uma das ilustradoras de eleição da Idiot Mag, vai estar presente na segunda edição da Idiot Art, na Rua Conde de Vizela, a 30 de Junho.

30 música

DIG & Nuno Carneiro 2 // www.IDIOTMAG.com


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NEWSLETTER

54

idiota do mês

Miguel Relvas

52

PROVOC’ARTE

45

intervenção

34 A Gaveta de Serralves

O Futuro do Analógico

moda

+ idiota de rua

40

32 internet

Por Sítios nunca d’antes navegados

homo’geneo

38

Stonewall

tabu?

Alcova da Patrícia CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 3


Mariana Ribeiro

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O mundo está cheio de heróis. E de génios. E de actos heróicos. E de genialidades. Haverá alguns – heróis e génios – ainda que, na sua maioria, ou estejam já mortos ou ainda para nascerem. Se olharmos bem à nossa volta, vemos que muitos dos heróis e génios que por aí pululam são crianças pequenas, mimadas, birrentas, uma pequena coisa de nada, convictos de que são coisa de tudo. Heroísmo? Genialidade? Como meninos pequenos que são, não sabem o que isso é – limitam-se a pensar que sabem. Normalmente, lêem muito, mas pensam pouco. Falam das mesmas coisas, nem que seja para se contrariarem uns aos outros. Mas usam sempre mais as ideias alheias, dos seus autores de estimação, do que aquelas que conseguem germinar. Quando conseguem germinar alguma. Ora, as verdadeiras emoções, as que pertencem ao céu, à altura, estão acima deste tipo de crianças, que se veneram entre si, como deuses terrestres, que tanto se vangloriam dos feitos que nunca tiveram. Sejamos claros: até as crianças – porque são crianças – conseguem sentir, mesmo quando não alcançam a percepção do que sentem. Heróis? Génios? Muitos deles nem crianças são – talvez macacos, ou células mortas da natureza, que abrigam tudo e desdenham de tudo. Muitas vezes os seus actos de heroísmo ou de genialidade não aquecem nem arrefecem. Concedamos-lhes, pois, pouca atenção, sem espantos, sem nos aborrecermos muito, sem rodeios e com honestidade. São apenas macacos. Podiam viver num habitat natural, mas nem para isso têm coragem. Preferem a segurança do jardim zoológico e a comida posta em tijelas todos os dias, à mesma hora, pelo mesmo empregado. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 5


fotografia: Nuno Dias ©

ARTES EM PARTES O Artes em Partes dispensa apresentações! Artes em Partes é uma loja ampla, em regime “open space”, que ocupa todo o rés-do-chão de uma casa Arte Nova. Nasceu em 1998, situa-se na rua do Rosário e é , desde então, um lugar de visita obrigatória para os apreciadores do vintage e do retro. A escolha do nome não foi consensual e após serem auscultados mais de 20 jornalistas e amigos da proprietária, Marina Costa, prevaleceu a sugestão do jornalista Marcos Cruz. Actualmente, as Partes da Arte são: Arranha-Céus (espaço de decoração, mobiliário, objectos vintage, produtos de autor e produtos de inspiração vintage); Muzak (espaço de vinis e cd’s usados) Whoo! (espaço de roupa e adereços vintage)

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Madame Janvier (espaço de crafts, artesanato urbano e produtos de autor) Bling Bling (atelier de design e comunicação). Galeria Underground Artes em Partes. O diferencial da Artes em Partes resulta da simbiose entre o contemporâneo e o revivalismo, bem como na visão e dinamismo da sua proprietária, Marina Costa, que tem associado o espaço a vários projectos de animação de rua na Miguel Bombarda; organizou o evento Absolut Creative House em 2010 e tem vindo a promover parcerias com as galeria, patrocinadores e lojas. Melhor do que falar sobre ela , é visitar e apreciar a soma de todos os projectos da Artes em Partes. Rua do Rosário 274 Porto. de segunda a sábado das 14h30 às 20h. Mail: espacoartesempartes@gmail.com


Porto Restaurant Week @ Porto É uma iniciativa promovida pela “Sabor do Ano”, pela primeira vez do ano de 2012 de 24 de maio a 5 de Junho. Tem um objectivo solidária, tendo o preço fixo de 20 euros dos quais 1 euro reverte para instituições de solidariedade social. Os restaurantes aderentes no Porto são: Artemísia; Barão de Fladgate; Brasserie Irene Jardim; Bull & Bear ; Casa da Música; Clube da Gula; Costume Bistrô; DOP; Foz Velha; Góshò; Panorâmico Portucale; Pedro Lemos; Porto Novo - Sheraton Hotel; Pousada do Porto Freixo Palace Hotel; Praia da Luz; Salsa & Loureiro; Mesa; D. Pedro II; O Comercial

The Oporto show 2012 @ Alfândega do Porto De 14 a 17 de Junho vai decorrer a 4ª edição do evento de design e arquitectura que promete agitar o panorama do Design em Portugal. As últimas novidades do design de mobiliário de interiores estão prontas para subir ao palco em cenários criativos. http://www.oportoshow.com

“Idiot Art” @ Baixa do Porto Dia 30 de Junho a rua Conde de Vizela, no Porto recebe mais um conjunto de exposições da Idiot Mag. Vai decorrer em vários espaços, como o Tendinha dos Clérigos, Caipicompany, Bar 117, hostel Oporthouse e restaurantes Max e W de Wilson. Com diversas vertentes, como a pintura, fotografia, ilustração, joalharia de autor, multimédia e videomapping, conta também com uma conferência coordenada por José Bartolo e uma mostra de graffiti pela Dedicated. Com artistas como Luio Onassis, Sérgio Correia, Espaço Continuação, Ivo Teixeira, Inês Peres, entre outros. A entrada é livre e vai contar com animação na rua. A partir das 14h.

Feira do Livro 2012 @ Aliados, Porto A 82.ª Feira do Livro do Porto 2012, Vai ter lugar entre os dias 31 Maio a 17 Junho. O objectivo é comprar “Livros” ao melhor preço e encontrar novidades literárias, promoções aliciantes e títulos de todos os géneros e para todas as idades. Normalmente os expositores têm livros infantis, policiais, romances, fantasia, sobrenatural, científicos, técnicos, etc…

Festas de S. João 2012 @ Cidade do Porto De 23 para 24 de Junho, comemora-se a festa mais emblemática da invicta. Trata-se de uma festa cheia de tradições populares, das quais se destacam o lançamento de balões de ar quente, os martelos de plástico, os vasos de manjericos, e as fogueiras espalhadas pela cidade. Junto ao Rio Douro e à ponte Dom Luís I, o fogo de artifício à meia-noite, encanta milhares de residentes e visitantes que chegam de todo o mundo para assistir. A festa prolonga- se toda a noite, com vários arraiais populares, da Ribeira até á Foz, em bairros tradicionais como Fontainhas, Miragaia, Massarelos.

MAIS @ PORTO // via Facebook

Teatro: - “Canil”, de Valter Hugo Mãe, até Para entrar nesta 16 de junho @Teatro Bruto lista deverá enviar-nos os - “O Doente Imaginário”, de 07, até dados do evento até dia 20 de Junho @TNSJ do mês anterior para: - “Capital Fuck”, até ao final de MAG@IDIOCRACYDESIGN.COM Junho @ CACE Cultural - “Nióbio”, uma nova produção Exposições: das Visões Últei. dia 16 de Junho - “Circus“, de Alexandre Rola, até 15 @Teatro do Campo Alegre de Junho @ Galeria Itinerante Espa- “O Dia do Santo”, uma peça de Jonh ço t (Fafe) Whiting, dia 9de Junho@Auditório - “For Whom Who Keeps A Record”, Municipal de Gaia de Mathieu Kleyebe Abonnenc, até 24 de Junho @ Museu de Serralves Concertos: - “Crescimento e Cultura”, de Ricardo - Quadquartet, 5 de Junho, entre Valentim, até 24 de Junho @ Museu 6 a 8€, com jantar 25€ @ Coliseu de Serralves - Black Label Society, 14 de Junho, -”Locus Solus”. Impressões de 23€ @ Hard Club Raymond Roussel. até 1 de - She Whants Revenge, 15 de JuJulho @ Museu de Serralves nho, 23€ @ Hard Club - “E Ainda Vejo Os Seus Rostos. - Gallows, 16 de Junho, 22€ @ Fotografias De Judeus Polacos”, Hard Club até 3 de Junho @ CPF - Cannibal Corpse, 17 de Junho, desde 23€ @ Hard Club

- Bon Iver, 25 de Junho, de 25 a 35€ @ Coliseu - Rapariga Eléctrica, 29 de Junho @ Plano B Festas : - “Circus - Unleash the animal within” - 1 Junho @ Maus Hábitos - “Z80’s“, 1 de Junho @ Zoom - “Italian Business” com Roberto Capuano, 1 de Junho @ Gare - SERRALVES EM FESTA - 40h Non Stop, 2 e 3 de Junho, entrada livre @ Fundação Serralves - Locomotive 131 w/ Danny Daze, 2 de Junho @ Gare Porto - Freshkitos & Friends, 9 de Junho @ Gare Porto - Festival Gaia Positive Vibes c/ Natiruts, Patrice e Emir Kusturica @ Praia do Areinho - Oscar Mulero, 16 de Junho @ Gare Porto - “Pirex“ dia 29 de Junho @ Zoom CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 7


Os Idiotas fotografia 速 Isabel Barbosa 8 // www.IDIOTMAG.com


Eram 22h30 de sábado e já cheirava a Queima das Fitas na nossa bela Invicta. Na Baixa do Porto eram milhares as pessoas que por lá circundavam aos grupos, mais ou menos grandes, mas todos com uma só vontade. Vestidas as capas e batinas, as camisolas dos cursos ou faculdades ou simplesmente uma roupa que os pudesse acompanhar, do normal ao mais bonitinho, consoante o que quer que fosse que acontecesse mais logo (ou o que eles queriam que acontecesse!). Uma cidade aos berros, com muitas cervejas deambulantes nas mãos dos habitantes da cidade e um espírito comum. Faltava pouco para as noites quentes da Queima, onde todos se divertem em prol de vários objectivos cumpridos na vida. O espírito boémio entrava, então, em acção e era necessário que a Idiot Mag fosse também para a festa. Ai festa, que eu gosto tanto de ti…! E assim foi: logo na primeira noite perdemos o concerto, mas garantimos que nos divertimos. Depois disto, foi sempre a curtir pelas barracas de tudo e mais alguma coisa. É engraçado até reparar nos nomes, e nas pessoas que por ali circulam num mundo tão fugaz e, ao mesmo tempo, tão pessoal. Passa rápido a noite na Queima, mas fica para sempre na memória de quem lá vai, esporádica ou habitualmente. A Queima arrasta tantos públicos, que mais nenhuma festa neste país consegue tal façanha. É grande, é ao ar livre, tem muita música e tem álcool. Muito álcool. Álcool barato e negociável. Ao segundo dia estávamos mesmo muito mal, mas não esmorecemos. Afinal de contas, a Queima é só uma

vez por ano e nós precisávamos de saber tudo o que lá se passava. Então lá fomos nós pelo meio da multidão. Foi uma loucura! Todos os festeiros unidos e munidos de acessórios da Queima, as típicas orelhas de coelho, os chapéus de palha oferecidos pela tenda da Licor Beirão (bem engraçada, por sinal) e as marcas de guerra na cara. Na Queima não faz mal, ninguém leva a mal… Continuamos por lá a deambular, encontrámos amigos e dançamos na tenda electrónica o “puntz puntz” que sabia bem no fim da noite. Comemos pão com chouriço (negociado, claro!) e andamos nos carrinhos de choque. Devo dizer-vos que foi uma experiência bem louca… No fundo, a Queima das Fitas resume-se a situações idiossincráticas que só acontecem uma vez ao ano. As pessoas dão-se todas bem, mesmo quando não se cumprimentam durante todo o ano, o pessoal anda alegre, as miúdas entram em coma alcoólico e lá vai o INEM para o meio da multidão. As zangas acontecem, mas no dia seguinte resolvem-se e o pessoal vibra nos concertos, direcionado às multidões gritantes e carregadas de ânsia. Os putos choram, os outros acham piada e bebem todos juntos mais um shot. Aqui, bebe-se das coisas mais estranhas, com cores esquisitas lá dentro, mas ninguém se importa e também não há que importar. Na Queima tudo tem um sabor especial. Mesmo com tantos dias seguidos de festa, uma pessoa acha que não vai aguentar e depois lá se acorda com vontade de mais uma noite bem passada. E mais outra, e mais outra, e outra… Mariana Ribeiro CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 9


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Agora que as pontes estão construídas sobre o mundo que nos rodeia, somos obrigados a dar-vos o prémio pela vossa sobrevivência e mostrar-vos aquilo que andamos a fazer. E, por isso, é a 30 de Junho que nos entregam a chave do coração da Baixa para que ganhe uma nova vida com a primeira grande e alargada exposição da Idiot Art. Dos idiotas para os Idiotas, que tanto gostam da idiotice que é desfrutar da arte na sua concepção mais plena, é a ocasião perfeita para aparecer na Rua Conde de Vizela, junto à nossa Torre dos Clérigos e viver junto de quem mais se gosta as exposições que contarão com obras únicas de ilustração, joalharia, intervenção e as melhores instalações. A rua está aberta, as casas também e é aqui que vamos trazer a idiotice ao seu bom nome. Parece-nos a melhor opção. E a vocês? No dia 30 de Junho, a partir das 14h na Rua Conde de Vizerla, a IDIOT MAG convida-te a descobrir a arte com trabalhos de diferentes artistas e muita, muita dedicação.

(+) Conferência de design // moderador José Bártolo (+) Luio Onassis // Pintura (+) Sérgio Correia // Multimédia (+) Espaço Continuação // joalharia de autor (+) Ivo Teixeira // Instalações no espaço público (+) Tiago Vaz // Cadernos (+) Inês Peres // Ilustração (+) João Brandão // Ilustração (+) André Fonseca Carvalho // Ilustração (+) André Ventura // Ilustração (+) Patrícia Bandeira // Fotografia (+) Dedicated //Mostra de Graffiti (+) DIH6 // Video Mapping (+) Exposição alunos da ESAD Matosinhos

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www.animaisderua.org

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LVQR by BONSAI coffee Franรงois Chalet table 14 // www.IDIOTMAG.com


Dois adolescentes, amigos, que desenvolviam projectos no liceu assentes na mesma ideologia: para cada desafio apresentar uma solução única e criativa. Assim, nasce a Meikstudio: da vontade, da dinâmica e do trabalho de um jovem arquitecto e de um jovem designer. “A palavra MEIK surge da palavra inglesa “make” (fazer), que sofre o desdobramento para meik(faz) architecture, meik(faz) design, meik(faz) furniture, os diferentes desdobramentos da meikstudio!” Hoje deixamos a descoberto o trabalho apaixonante deste atelier multidisciplinar. Catarina Lima

Quando e como surgiu a Meikstudio? Meikstudio é liderada por dois grandes amigos, que desde a adolescência partilham a mesma ideologia. Conhecemo-nos ainda na escola secundária, eramos colegas de turma no curso de artes no Liceu de Viana do Castelo. Desde essa idade que a nossa curiosidade e forma de abordar os projectos era a mesma. Começamos a perceber isso quando desenvolvíamos trabalhos das diversas disciplinas técnicas do curso, apercebemo-nos que a abordagem criativa era pautada pela mesma ideologia. Na transição para o ensino superior, optamos por diferentes caminhos: o curso de design industrial e o da arquitectura. Mas fomos sempre desenvolvendo trabalhos em parceria, durante este período, o que nos possibilitou focar sobre o que realmente gostávamos de fazer. Finalizada a faculdade, optamos por

uma incursão no mercado de trabalho das respectivas áreas para melhor ficar a conhecer o mundo profissional. Isto possibilitou-nos conhecer e detectar nichos de mercado que a nosso ver estavam por explorar. Achamos por bem, depois deste tempo todo, criar um atelier multidisciplinar em que a arquitectura e o design fossem a base de trabalho. Assim nasce a Meikstudio, num dia de verão numa trivial conversa de café, onde nos encontrávamos a discutir o porquê de ainda não termos criado o nosso atelier. A Meikstudio caracteriza-se por ser uma equipa dinâmica e empreendedora, sempre pronta para enfrentar projectos de uma forma destacadamente criativa e única. A palavra MEIK surge baseada na palavra inglesa “make” (fazer), que sofre o desdobramento para meik(faz) architecture, meik(faz) design, meik(faz) furniture, os diferentes desdobramentos da Meikstudio. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 15


Quais são as vossas áreas de actuação preferenciais? Dentro das respectivas áreas da arquitectura e design, temos actuado em várias frentes. Da arquitectura ao interiorismo, passando pelo design do produto, oferecemos um serviço de excelência onde o detalhe será sempre levado ao extremo. De facto gostamos bastante quando temos a cargo projectos de chave na mão. Como, por exemplo, projectar uma moradia com mobiliário incluído; gostamos quando nos encarregam de todo o processo, desde o primeiro esquisso até mesmo á escolha do construtor. Sentimos que é neste tipo de serviço que podemos dar tudo de nós. No último ano, temos vindo a desenvolver a nossa própria linha de produ-

tos exclusivos, o desenvolvimento de peças decorativas (mobiliário de interior e peças de iluminação), onde nos destacamos pela nossa abordagem refrescante e original. Tem sido um desafio bastante interessante. Pessoalmente sentimo-nos deliciados a desenvolver este projecto da criação da própria marca de design exclusivo, o facto de termos no passado experiência no sector releva também agora alguma importância para essa sensação de conforto. Sentimos que é aqui que podemos exprimir o que realmente sentimos e a criação das nossas peças é mesmo isso: desenhar através da preocupação emocional. Queremos que as pessoas quando abordam as nossas peças sintam curiosidade, sintam o coração a palpitar...

“O DESIGN SEMPRE FOI UMA DISCIPLINA FUNDAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E RACIONAL DA SOCIEDADE”

Como vêem o design e que papel desempenha na sociedade contemporânea? O design sempre foi uma disciplina fundamental para o desenvolvimento sustentável e racional da sociedade. Nesta última década teve ainda mais ênfase, teve nestes últimos anos um crescimento exponencial em termos de valorização da imagem e do produto, sobretudo em Portugal. Vivemos num mundo de simbologias, e esta realidade é também um dos pilares de sustentação do design. Numa sociedade globalizada, adquire-se não apenas o objecto, mas o discurso 16 // www.IDIOTMAG.com

e o status do objecto. Nesta sociedade contemporânea em que estamos inseridos somos susceptíveis de diversas mudanças de valores culturais, económicos e ideológicos. Aquele que projecta, que estuda, e concebe ideias e soluções é fundamental numa sociedade que como nunca, necessita de clareza e rapidez para a compreensão das informações. O design de facto desempenha um papel expressivo na economia actual é impulsionador e gerador de empregos, incita a educação e a qualificação profissional e social.


Quando começaram a trabalhar nesta área, quais foram as maiores dificuldades encontradas? É uma pergunta bastante interessante e oportuna. Quando tomámos a decisão de criar o atelier, surgiram mil e uma dúvidas. Foi muito complicado arranjar informação correcta de como e qual seria a melhor forma de podermos ser empreendedores e criar o nosso próprio posto de trabalho. Os jovens empreendedores precisam de ir já para o mercado de trabalho, precisam que os apoiem e que acreditem neles. Existe muita burocracia num país que tem talentos prontos para debitar tra-

balho. Sentimos isso na pele. Foi um processo bastante demorado e burocrático, mas conseguimos suportá-lo e hoje só esperamos que para os que ainda vão surgir as condições sejam mais propícias. Outro dos problemas que detectamos foi a inércia empresarial que existe em Portugal. Muito por culpa da tão enfatizada crise, as empresas padecem de uma falta de auto-estima e vontade criativa para combater o problema da crise. Isso é bastante complicado para quem quer ir a luta e fazer crescer o seu negócio.

Quando o cliente entra num ambiente projectado por vocês, o que esperam que ele sinta? Quais as características comuns que encontramos nos vossos projectos? Gostamos de proporcionar experiências emocionais caracterizadas pela sua originalidade e toque luxuoso. Não queremos parecer arrogantes, mas lutamos para que qualquer pessoa que entre num espaço projectado por nós que veja alguma das nossas peças se Quinta da Força sinta única. Os nossos projectos, tanto a nível de arquitectura como de deResidence sign, são idealizados de forma a desafiar sensorialmente cada ser. Emoções únicas, intransmissíveis, apelativas ao diálogo e interpretação individual são indubitavelmente os denominadores comuns dos nossos projectos. Partimos de conceitos extravagantes para atin-

gir a contemporaneidade que desejamos nos nossos projectos, afastando-nos da área cinzenta da criatividade. Inspiramo-nos nos pragmatismos e dogmas da vida, em momentos, mas sempre com o papel de transformar esse conceito em algo mais, em algo diferente e emocionante. Temos como lema “love or hate”, podem amar ou detestar o que fazemos, mas claramente que as nossas peças não passam despercebidas. Gostamos quando um cliente nos procura pela originalidade, mas adoramos ainda mais quando no final conseguimos surpreender mais do que ele próprio esperava. É esse o nosso objectivo, marcar pela diferença e pela excelência dos nossos serviços. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 17


Origami Coffee Table

“A FORTE ATITUDE PERANTE OS DESAFIOS (...) PROPORCIONAM-NOS SEM DÚVIDA UM SORRISO NA NOSSA CARA, UMA SATISFAÇÃO ENORME, UMA FORÇA DE ACREDITAR NO NOSSO POTENCIAL”

Crisis Lamp 18 18 //// www.IDIOTMAG.com IDIOTMAG

Tendo em conta que actualmente, há muita oferta no sector em que actuam, que balanço fazem da “vida” do Meikstudio? Felizmente existe bastante oferta e bons produtos na área onde também nos integramos, mas sempre lutamos e continuaremos a lutar por estar na linha da frente, continuaremos a apresentar produtos únicos e exclusivos e a optar por projectos de forte base criativa e conceptual, estes factos farão sempre a diferença no produto final e no mercado. A Meikstudio está a começar a afirmar-se nos mercados e felizmente há ainda muito caminho para percorrer. Para já o balanço é muito positivo, criamos soluções, projectos e peças que nos dão prazer, desenvolvemos projectos que nos apaixonam e por si só já é para nós um triunfo. Gostamos do que fazemos e continuaremos a lutar com toda a nossa força. A nossa linha de produtos exclusivos é a que tem tido mais visibilidade e interesse nos mercados exteriores. Países como a Inglaterra, a Turquia e a Alemanha têm-se mostrado bastante interessados pelos nossos produtos, o que em apenas um ano de actividade é sem dúvida excelente e gratificante.


Opera Sideboard Phantom

Opera Sideboard Phantom

E projectos/perspectivas para o futuro? Neste momento é muito importante dar seguimento à criação da marca própria de produtos de decoração exclusivos. Vamos continuar a apresentar peças novas sempre que possível, com especial atenção ao pormenor e ao detalhe. Continuaremos a nossa conquista do mercado europeu e queremos a breve prazo ingressar nos mercados asiáticos e sul-americano. Consideramos que estes são mercados emergentes e abertos ao tipo de produto que criamos. A forte atitude perante os desafios com que nos deparamos e parcerias em projectos na área da arquitectura e design industrial proporcionam-nos sem dúvida um sorriso na nossa cara, uma satisfação enorme, uma força de acreditar no nosso potencial, capacidades para vencer o futuro e adversidades que possamos encontrar. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 19


Jeff Mills 20 // www.IDIOTMAG.com


Expander

Gustavo

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Freshkitos Father

Bruna e amigos

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Mariana e Jo達o

Nuno Effe, Lia, Marcelo, Ricardinho e Rui Rodrigues


Jeff Mills e Gustavo CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 23


Aniki B贸b贸 (1942) http://www.imdb.com/title/tt0034461/

Inquietude (1998) http://www.imdb.com/title/tt0120712/ 24 // www.IDIOTMAG.com


“O PORTO É A CIDADE DO CINEMA. O CINEMA EM PORTUGAL NASCEU PRATICAMENTE AQUI.” Era uma vez uma cidade que respirava cultura, onde as cores de qualquer tela eram mais vivas, o dedilhar das cordas de uma guitarra era mais forte e a poesia saía da boca dos boémios com a mesma facilidade que as lascas tendem a sobressair num móvel. Nessa época as gentes da cidade corriam para salas escuras, sentavam-se em cadeiras de veludo e deixavam de existir durante o tempo que ali estivessem. Com o cinema, viajavam, amavam, sonhavam. Hoje, as pequenas salas kitsch foram substituídas por espaços gigantes em grandes superfícies comerciais, infestados pelo cheiro a pipocas e violados pelo barulho desrespeitador do persistente mastigar e sussurrar e dos irritantes toques dos telemóveis daqueles que ainda não descobriram como colocar o aparelho em silêncio. No entanto, fora dos bastiões dos centros comerciais, persistem e começam a surgir novas iniciativas que mantêm acesa a chama, que o cinema tido como alternativo acende nos amantes da película. A área metropolitana do Porto é palco de alguns festivais já com renome internacional, como é o caso do Fantasporto, do Curtas de Vila do Conde e do Black & White. Para além dos certames, esta zona é também a casa de alguns cineclubes que vão surgindo quer no

seio académico, quer no da população em geral. Jaime Neves, fundador do Black & White, justifica a existência destas iniciativas com apenas uma frase: “O Porto é a cidade do cinema. O cinema em Portugal nasceu praticamente aqui.” CINEMA A PRETO E BRANCO “O preto e o branco transmitem-nos uma emoção que a cor não transmite. Dão uma outra liberdade ao espectador, pois um cinzento pode ser percepcionado como azul ou como verde, por pessoas diferentes. Ou seja, eu construo a cor na minha cabeça”. Esta é uma das principais razões que levam Jaime Neves a acreditar que o cinema a preto e branco é uma estética que veio para ficar, não fosse o grande vencedor dos Óscares de 2012 (O Artista) um filme a preto e branco. O fundador do festival Black & White vai mais longe ao dizer que é in ver-se um filme a preto e branco, o que explica o crescente sucesso do certame. Se antes este género de cinema era encarado como algo enfadonho, hoje é já considerado algo “super atual”, isto porque “é necessário criar algo novo para esta geração e cinema a preto e branco é realmente algo de novo para eles” - explicou Jaime Neves. A paixão deste professor da UniversiCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 25


dade Católica Portuguesa, no Porto, pelo cinema, começou quando tinha 16 anos. Nessa época surgiu o Cineclube de Vila do Conde, ao qual se associou, começando “a ver filmes diferentes”, indicou. As aulas do cineasta Lauro António e a cobertura jornalística do Curtas de Vila do Conde, enquanto trabalhava como locutor de rádio, deram a Jaime Neves a certeza de que o seu futuro teria de passar pelo mundo do cinema. Em 2004 criou o festival de cinema a preto e branco Black & White, que conta já com nove edições, sendo que a última aconteceu de 18 a 21 de abril. Uma grande parte das curtas-metragens presentes neste certame são trabalhos premiados, isto porque são escolhidas a partir de outros festivais. Logo na primeira edição, o Black & White exibiu o filme 7:35 de la mañana, realizado por Nacho Vigalondo, que foi nomeado para um Óscar na categoria de Melhor Curta-Metragem. As viagens de Jaime Neves e da equipa do Black & White a outros festivais, permitem perceber que este evento “está bem cotado, sobretudo por ser um festival diferente”, afirmou. Apesar de decorrer em pleno seio universitário o Black & White não é um festival académico, pois alcança já um estatuto internacional.

do cineFPCEUP, “o cinema sempre foi mágico e sempre teve a capacidade de mobilizar um elevado número de pessoas”. Se por um lado o cinema confere às pessoas uma sensação de pertença, de proximidade para com o outro, por outro lado, também potencia a troca de ideias e, em certos casos, pode levar a uma tomada consciência crítica e social. Ângela Santos acredita que “um cineclube universitário deve procurar o seu espaço no meio e ter um propósito educativo e de reflexão, para além do lúdico”. Esta premissa é seguida em todas as sessões do cine FPCEUP, durante as quais há sempre um tempo destinado à análise e reflexão sobre a película exibida. Fora do circuito académico, o Cineclube da Maia privilegia, também, um espaço aberto à discussão. Durante as sessões regulares, que decorrem no Cinema Venepor, no último sábado de cada mês, um artista convidado estrutura uma atuação, de qualquer género artístico, alicerçada no filme. Durante o intervalo do filme acontece um momento de tertúlia, no qual a discussão segue o seu próprio rumo, estruturada pelas diferentes participações. O Cineclube da Maia desenvolve, ainda, outro tipo de sessões: os Ciclos Pequenos, que consistem num conjunto de três filmes tematicamente relacionados, exibidos no Pequeno Auditório do Fórum da Maia e apresentados por uma personalidade relacionada com o tema em questão; o Cinema na Relva, um evento informal ao ar livre, que decorre durante o mês de julho; Cinema na Terra (cinema itinerante); Cinema nas Escolas. Este espaço dedicado ao cinema começou em Outubro de 2009, impulsionado pela vontade de “despertar um sentimento de comunidade, juntar pessoas que possam partilhar algo em comum, como a rotina difícil numa cidade com

“O PRETO E O BRANCO TRANSMITEM-NOS UMA EMOÇÃO QUE A COR NÃO TRANSMITE. DÃO UMA OUTRA LIBERDADE AO ESPECTADOR, POIS UM CINZENTO PODE SER PERCEPCIONADO COMO AZUL OU COMO VERDE, POR PESSOAS DIFERENTES. OU SEJA, EU CONSTRUO A COR NA MINHA CABEÇA”.

CINECLUBISMO Contudo, nem todas as iniciativas que surgem no meio académico são obsoletas. Algumas faculdades têm-se dedicado a atividades extracurriculares, que acabam por absorver um público fora do meio académico. É este o caso no cineFPCEUP, o cineclube da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, que surgiu há pouco mais de uma ano, impulsionado pela vontade de partilhar a paixão pela sétima arte. Para Ângela Santos, uma das responsáveis 26 // www.IDIOTMAG.com IDIOTMAG


população tão recente como a Maia”, explicou a direção do Cineclube da Maia. Com uma ambição mais curta surge, em 2010, a associação Milímetro, que tem o Cinema Passos Manuel, sala histórica da Invicta, como local de exibição de filmes de vários géneros, sejam clássicos, ficção, documentário, a preto e branco, etc. Os filmes são agrupados em ciclos temáticos, tal como acontece no cine FPCEUP. Em qualquer uma destas iniciativas dedicadas ao cinema a escolha do filme escolhido é sempre eclética e limitada pela escassez de formatos como o de 35mm e pelos constrangimentos financeiros. Tal como acontece nos festivais de cinema, o público dos cineclubes também tem aumentado. O Cineclube da Maia tem já uma audiência consolidada, nas sessões no Venepor e uma afluência e uma ambição ainda maiores para as outras atividades mais ligadas à comunidade sem grandes conhecimentos cinéfilos. Contudo, Daniel Marques Pinto, presidente da Milímetro, acredita que certos géneros como o documental e o experimental nunca serão totalmente acessíveis a uma grande parte do público. “O cinema experimental, uma vez que tenta (bem ou mal) explorar os limites da linguagem cinematográfica, terá sempre poucos espectadores.”, explicou. Além disso, para uma grande parte audiência ver um documentário continua a ser entendido como “pagar para assistir a uma aula”, exemplificou. Jaime Neves explica que a atual geração não se encontra ligada ao cinema independente, porque o desconhece. “Se não se mostra às pessoas, elas não sabem se gostam ou não”-explicou. Para além dos cineclubes começam a surgir outros pontos para onde conflui o cinema de qualidade, como acontece com o Espaço

1 e 2: Cineclube da Maia 3 e 4: Espaço Anémona

Festivais de cinema no Porto e arredores: Fantasporto 20 fevereiro a 4 Março 2012 Rivoli Teatro Municipal Festival Audiovisual Black & White 22 a 25 de Maio de 2013 Universidade Católica Portuguesa no Porto Festival de Curtas de Vila do Conde 7 a 15 e Julho de 2012 Teatro Municipal de Vila do Conde Festa do Cinema Italiano 10 a 13 de Maio de 2012 Passos Manuel Art & Tur – International Tourism Film Festival 24 a 27 de Outubro Barcelos CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 27


Anémona. Bar, galeria de arte, local de tertúlias, debates e música, e agora também sala de cinema, desde janeiro. A arte fermenta e fomenta-se neste espaço da Travessa de Cedofeita. “Do realismo poético francês ao expressionismo alemão, passando pelas novas vagas, pelo noir, pelos filmes independentes americanos e pelos documentários”- tudo passa pelo Espaço Anémona, explicou Cláudia Coimbra, programadora do ciclo de cinema. Tal como acontece nos cineclubes, os filmes, por vezes, são agrupados em ciclos dedicados a determinado tema ou personalidade. Em maio, por exemplo, decorreu um ciclo dedicado a revoluções. Cláudia Coimbra explica, ainda, que o cinema deve ser um exercício social, através da partilha de um filme com alguém e da discussão que emerge desse visionamento. “Há que respeitar a arte de fazer cinema e abolir a tendência geral para ver filmes sem sair de casa”, concluiu. 20 ANOS DE CURTAS Há 20 anos surgia aquele que viria a ser o maior festival de curtas-metragens, em Portugal. Contudo, o Curtas de Vila do Conde não se reduz a um acumulado de filmes de pequena duração, pois é, acima de tudo, um “festival internacional de cinema”, afirmou Mário Micaelo, diretor do evento. A programação é diversificada, pois “não nos restringimos a um género ou a

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uma fórmula e tentamos sempre trazer a produção mais recente e de cinema de autor”, explicou. Nesta edição serão transmitidas duas longas-metragens, elaboradas por autores de curtas, e documentários, também de longa duração. Entre mais de duas mil participações apenas cerca de meia centena serão escolhidas para serem exibidas na grande tela do Teatro Municipal de Vila do Conde. “A partir de setembro e outubro começamos a receber filmes de todo o mundo, com todo o género de durações”, afirmou Mário Micaelo. As películas escolhidas


podem competir nas categorias Nacional, In- se houvesse forma de fazer chegar ao Porto, ternacional, Experimental, Vídeos Musicais, com mais frequência, alguns filmes clássicos que já passaram em Lisboa deTake One (filmes produzidos Cineclubes e outros espaços zenas de vezes e que, por cá, em ambiente de escola) e dedicados ao cinema: raramente foram vistos”, afirCurtinhas (filmes destinados Cinema Milímetro mou Daniel Marques Pinto. Rua Passos Manuel, 61, Porto a um público mais jovem). Cineclube do Porto Mais do que a tomada de consPara comemorar o seu vigéRua do Rosário, nº5, 1º andar, Porto ciência de que o cinema é casimo aniversário, o festival Cine Clube da Maia paz de dinamizar a sociedade, desafiou quatro realizadoSala de cinema Venepor é necessário que o próprio res a criarem, cada um deles, Rua Simão Bolívar, Maia meio dinamize o estado atual Cineclube de Vila do Conde uma curta-metragem sobre Teatro Municipal de Vila do Conde do cinema, “abalando os alicero Curtas de Vila do Conde. Avenida Dr. João Canavarro ces de políticas incompreensíOs filmes de Thom AnderCineclube Octopus veis que em nada têm ajudado sen, Helvécio Marins, Sergei Auditório Municipal a impulsionar o amor à Sétima Loznitsa e Yann Gonzalez Rua D. Maria I, Póvoa de Varzim Arte num contexto de harmoCineclube de Joane terão estreia mundial na ediPequeno auditório, Casa das nia com os espaços urbanos”, ção de 2012 deste certame. Artes e Parque de Sinçães apelou Cláudia Coimbra. Ainda neste ambiente fesVila Nova de Famalicão Desde que a primeira bobine tivo vai decorrer uma homeCine FPCEUP começou a rodar que o cinema nagem ao realizador Stanley Faculdade de Psicologia e tem fascinado o ser humano. Ciências da Educação Kurbick, através da exposição Rua Alfredo Allen, Porto “Tem a capacidade de nos fa“2012: Odisseia no Espaço”, e Cineclube da FDUP zer rir, chorar, refletir”, referiu da exibição de algumas curFaculdade de Direito da Ângela Santos. Além disso, tas-metragens e de alguns Universidade do Porto funciona como uma espécie dos seus filmes mais conheRua dos Bragas, 223, Porto de espelho do mundo, pois o Espaço Anémona cidos como, por exemplo, The Travessa de Cedofeita, 62, Porto cinema “é um repositório do Shining e A Laranja Mecânica. Velha-a-Branca – que mais autêntico fazemos O Curtas de Vila do Conde Estaleiro Cultural com a nossa vida”, afirmou cresce desde há duas décaLargo da Senhora-a-Branca, Cláudia Coimbra. das e tende a continuar a au23, Braga Para Mário Micaelo o cinema já mentar o seu público, que se torna cada vez mais diversificado. O crescente não é algo para “mero consumo de um pequeinteresse pelo cinema por parte da audiência e no nicho intelectual de apreciadores de uma o facto de uma iniciativa deste género potenciar dada coisa esquisita, pois faz parte da nossa a economia local, trazendo visitantes à cidade, vida, das nossas vivências e das nossas fruisão factores que levam a crer que o Curtas de ções”. Pelo contrário, Daniel Marques Pinto Vila do Conde tem uma longa vida pela sua fren- apresenta o cinema como algo mais individuate. Os fãs do festival, que o acompanham desde lista e poético: “O cinema é uma boa desculpa para uma pessoa se sentar durante cerca de a primeira edição, agradecem. O Porto possui uma série de iniciativas ligadas uma hora e meia, muito quietinha numa sala ao cinema, contudo a capital é sempre apon- escura, sem que ninguém a incomode, entada como exemplo do nível que o cinema na quanto finge que vive outra vida, conduzindo Invicta poderia atingir. Enquanto em Lisboa uma carrinha em Los Angeles, subindo escaexistem várias salas de cinema independen- das duma pensão parisiense ou mostrando o te, o Porto luta por manter os poucos espaços retrato da noiva aos companheiros de trincheique ainda se encontram abertos. “Seria bom ra, durante a Grande Guerra.” Melanie Antunes CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 29


Da invicta para o Mundo nascem DIG & Nuno carneiro, naturais do Porto, apaixonados pela musica electrónica, cujas actuações primam pelo carácter conceptual, coerente e envolvente, que contagia quem os escuta. Uma cumplicidade que passa pela eleição musical mais alternativa, desde o tech-house ao minimal-techno. João Cabral Como, quando e porque começaram a tocar? E por quê a dupla? D// Começamos a tocar há cerca de 12/13 anos por amor à musica. Na altura, tinha um projecto a solo e o Nuno já tinha um projecto com um amigo, que durou uns bons anos. Em 2009 decidimos começar um projecto juntos, devido ao gosto musical ser idêntico, à relação pessoal que temos e a forma como nos entendemos, achamos que todos esses aspectos foram importantes para trabalharmos como dupla. Sempre toquei sozinho, e só abri excepção de começar um projecto novo, como dupla, porque era com o Nuno. Contem-nos qual foi uma das melhores noites que actuaram e porquê? N// Referir uma só noite seria injusto, houve muitas que nos surpreenderam pelos mais variados motivos, acho que temos um gosto comum e claro, tocar em casa (Gare), onde o público nos conhece bem, e toda a gente é nossa amiga... À parte disso qualquer sítio que tenha boas condições e um público activo é para nós uma noite memorável. Para quando um original de DIG & Nuno Carneiro? N// Estamos neste momento a trabalhar nisso, a montar as coisas, a ponderar que caminho vamos seguir, e, proximamente haverá noticias. Já são caras familiares do público do Porto. Como é quando tocam fora? N e D// Temos tido óptimas experiências quando tocamos fora do Porto. Somos bastante acarinhados na maioria dos sítios onde vamos, até porque já temos amigos um pouco por todo o lado, que nos recebem sempre com a maior das simpatias! Mas como já referimos antes, tocar em casa tem sido realmente gratificante. 30 // IDIOTMAG www.IDIOTMAG.com

Para além de dj’s, trabalham na empresa L!ve Prods. O que fazem, como é o dia-a-dia de trabalho? D// Trabalhar na L!VE Prods. foi sempre uma óptima escola! Todos os dias pensamos em muitas coisas novas relacionadas mais à produção de eventos e tentamos sempre fazer um trabalho coerente e sólido para podermos realizar os nossos sonhos juntamente com o publico magnífico que nos segue incansavelmente. O Bruno (nosso manager e dono da L!VE) tem sido das pessoas mais importantes no nosso crescimento, enquanto artistas e no crescimento da música electrónica no nosso país. Acho que como produtora de eventos, temos bastante força e o nosso maior objectivo desde inicio é dar a conhecer projectos internacionais, não tão conhecidos no nosso país. Apostamos sempre na novidade dentro do nosso estilo de música. Já lançamos nomes em Portugal que hoje em dia proporcionam lotação esgotada em qualquer sitio. O nosso dia-a-dia é música em vários ramos. O Nuno trabalha mais na área de pesquisa de novos talentos, na pesquisa de músicas novas para podermos apresentar coisas frescas em qualquer lado que formos tocar e ajuda-me por vezes nos Bookings, trabalho este, que comecei a desenvolver há sete anos. Acima de tudo, temos uma relação saudável e muito sólida, o que faz com que o nosso dia-a-dia seja excelente! Planos para o futuro? N e D// Os planos para futuro passam pela produção musical, como já referimos antes. Já este ano, contamos dar-vos muitas novidades. Além disto, contamos também desenvolver ainda mais a área de produção de eventos, alargando assim os nosso horizontes por outras freguesias! fotografias ® Lígia Claro


A Idiot Mag tem para oferecer quatro bilhetes, um para cada um dos quatro dias do NEOPOP Music Festival 2012. Para isso tens apenas de tirar uma fotografia em que apareça o nº do dia ao qual concorres e tens de estar com uma “perna às costas”! Envia a fotografia para MAG@idiocracydesign.com Regulamento: Para o voto ser válido, tens, primeiro, que gostar da nossa página; votas na foto escolhida no álbum “Passatempo NEOPOP Music Festival 2012”; os idiotas que obtiverem mais gostos válidos serão anunciados em www.idiotmag.com no dia 15 de Julho para poderem ir partir tudo!

De 8 a 11 de Agosto, Viana do Castelo volta a receber o mais importante festival de música electrónica. O NEOPOP MUSIC FESTIVAL regressa, como habitualmente, com uma imagem renovada e com um cartaz ambicioso onde figuram alguns dos maiores nomes das novas tendências da música de dança. Novidade este ano, é a parceria com a produtora Versus que, quarta-feira, dia 8, apresentará uma programação internacional onde o dubstep e drum & bass ocuparão palco e recinto do evento. Contaremos também com sunsets gratuitos todos os dias! Para dia 9, temos Maya Jane Coles, Nina Kraviz, James Holden, Ben Klock e 69 Live Show by Carl Craig. No dia 10, Richie Hawtin, Minilogue live e Planetary Assault System. A última noite deste festival, dia 11 de Agosto, voltará a ter curadoria assinada pela Red Bull Music Academy, onde contaremos com Cobblestone Jazz, Julio Bushmore, Moodyman e Scuba. Para encerrar o festival, Josh Wink na cabine! E como quando tudo acaba fica-nos sempre um “bichinho” para mais um pouco, temos after hours oficial, na Prosak, em Viana, em parceria com o Lotus. Estão preparados para partir tudo? CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 31


WE <3 RI Quando juntamos uma artista plástica e uma designer de interiores, o resultado será, no mínimo, surpreendente. A We “Ri”, que completou, em Fevereiro passado, um ano de existência, é um projecto agora liderado por Irina Coelho, uma jovem que somou à sua formação académica o seu gosto pela moda e actualidade e reinventou o conceito de bijuteria, conferindo-lhe um valor acrescentado. As peças que produz reflectem as suas influências urbanas e do mundo da moda. É impossível resistir quer às peças vintage “estilo parisiense“ (gargantilhas de pérolas e pedras pintadas à mão …), quer às peças de estilo casual e urbano (pendentes, porta-chaves, marcadores de livros)! Os preços são acessíveis, as peças chegam até nossa casa e a apresentação das mesmas é de excelência. Estes são motivos mais do que suficientes para que Irina Coelho se sinta orgulhosa do trabalho desenvolvido e faça um balanço mais do que positivo deste ano de vida. Para o futuro, aposta na expansão do mercado bem como na realização de novas parcerias que potenciem a marca! O sucesso está garantido! Catarina Lima http://www.facebook.com/WeRIDesign/

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ME7ADE DA LARANJA “Se não encontras a outra metade da laranja, procura a metade do limão. Junta-lhe gelo, açúcar e aguardente e sê feliz!” (Autor desconhecido) Crescer é sinónimo de responsabilidade e muitas das vezes de afastamento dos nossos amigos e família! Mas se o mundo é uma aldeia global, há quem “encurte” distâncias, construindo e mantendo uma “casa” online. É o caso das bloggers Lua Escondida, Maria Rita, Laranja Lima, Klau, Bunyssa, Nokas e Lila que, em 2009, criaram a Me7ade da Laranja, um sítio, que mais do que um blogue, é um diário de bordo das suas vidas. O nome inspirado no livro “ A Outra Metade da Laranja”, de Joana Miranda, traduz, precisamente, aquilo que elas procuraram com este projecto: estarem próximas das suas “metades” num período da vida em quer era necessário construir novos caminhos e tomar decisões. O que começou com o simples propósito de manter as amigas próximas, rapidamente se tornou num caso de sucesso. Contam já com 400 mil visitas e uma média diária de 700/900 leitores. Os leitores atentos e inspirados pelas suas crónicas seguem as suas sugestões e enviam, constantemente, e-mails a pedir dicas e conselhos sobre viagens, restaurantes, concertos ou sobre locais a visitar no Porto. Manter um blogue sempre actual e interessante não é uma tarefa fácil, mas com a ajuda das sete cujas vidas vão mudando de morada, estado civil e profissão, mas sempre com o mesmo sentido de amizade, vontade e sonhos, temos “Me7ade” garantida até serem os “gominhos” a assinar os textos da “Laranja”. Catarina Lima http://me7adedalaranja.blogspot.pt/

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Serralves em Festa realiza-se de 1 a 3 de junho e vai ter lugar no Aeroporto, no Centro Histórico de Porto e nos Jardins da fundação Serralves. O que tirar da gaveta? Ana Anderson

1.Durante a tarde no Centro Histórico do Porto escolhemos a música experimental, Não-Músicos Ensemble e/ou a música erudita Oh Brass on the Grass Alas, com sol a queimar, a obrigação são os óculos de sol. Como o tema é experimental, o formato, a cor das lentes e as inspirações são livres. Não tenham medo, arrisquem!

2. Mandingue, Guiné Cornakry, “Fotê Fore”. Na Clareira das Azinheiras, nos Jardins de Serralves, o tema é felicidade, emoção, pôr de lado os problemas. As cores garridas electrificam, com acrobacias e dança quem não fica com o formigueiro? Queremos uma explosão de cores. Calças, saias, t-shirts, sapatilhas, tops, vestidos, lenços na cabeça...tudo vale!

3. No Prado, The Crystal Ark, de Gavin Russon (conhecido como o feiticeiro dos sintetizadores) e LCD Sound Sistem, com inspiração em raves psicadélicas e sons latinos. Bons relógios de pulso para marcarem a hora que mais tarde entra o Dj set de Gavin Russon também no Prado.

4. Por último, o concerto de encerramento Nude de The Irrepresibles, um pop rock, com um toque de burlesco, multissensorial e teatral. Meninas e meninos, vamos lá, tirar a roupa preferida da gaveta, mais do que mostrar pele, mostrem sensualidade mental... 34 // www.IDIOTMAG.com


Encontrei a Rita a passear com o seu melhor amigo pela calçada de Cedofeita. Foi suficiente a liberdade que me transmitiu, para lhe pedir que me deixasse tirar uma foto. E com um ar surpreendido, mas cheio de simpatia disse que sim. A indumentária, essa, tem um sabor a punk (ou seja, liberdade), o” jeko” foi a cereja no enquadramento.

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*aviso antes de ler, a pedido do editor, nesta crónica pululam obscenidades e relatos para maiores de 18… tabuísmos…

“fetiche [fεti/í] s. m. (Do fr. fétiche) 1. Ser animado, objecto natural ou fabricado, ao qual se atribui um poder sobrenatural e se presta culto. ≈ FEITIÇO. 2. Objecto de uso pessoal ou doméstico a que se atribui um poder mágico e benéfico. ≈ AMULETO, FEITIÇO. 3. Objecto, peça de vestuário ou parte do corpo de uma pessoa que se converte em factor indispensável e suficiente de excitação sexual. (…) fetichista 1, feiticista (Vernác. P. Us.) [fεti/í/ta], [fajtisí/ta]. s. m. e f. (Do fr. fétichiste). 1. Que é relativo ao fetichismo, culto de objectos considerados detentores de poderes sobrenaturais ou virtudes mágicas. Entregava-se clandestinamente a práticas fetichistas. 2. Que revela apetência ao culto desses objectos. 3. Que é adepto do fetichismo, prática sexual que consiste na conversão de um objecto, peça de vestuário ou parte do corpo de uma pessoa em factor indispensável e suficiente de excitação sexual. 4. Med. Que é relativo a essa prática. fetichista2, feiticista (Vernác. P. Us.) [fεti/í/ta], [fajtisí/ta]. s. m. e f. (Do fr. fétichiste). 1. Pessoa que pratica o fetichismo ou feiticismo, culto de objectos a que se atribuem poderes sobrenaturais ou mágicos. 2. Pessoa obsessivamente fascinada por ideias, coisas ou pessoas. 3. Med. Pessoa adepta do fetichismo.” in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001

Entre conjuntos de fetos (plantas supõe-se…) e decomposições que exalam repugnância, encontra-se no dicionário fetiche e as suas linguísticas variantes. Pausamos por aqui. Patrícia pede, vão atrás e releiam (ou leiam se já têm por hábito saltar) as definições. Outra vez. Outra vez. Uma, duas, três. Foram meninos obedientes, ou vai-se buscar o chicote? Sendo assim, sem ainda saber se é em jeito de castigo ou recompensa, prosseguimos. Patrícia atende linhas eróticas (sim, lá vem outra vez esta história) e supõe-se que taras e manias é coisa que não falta num horário de trabalho. Desenganem-se, fora uns quantos telefonemas a alegrar os dias (as noites, no caso), com convites e confidências que desafiam mais preconceitos (num destes meses chegaremos lá) ou provocam gargalhadas (reprimidas num belo gemido fingido, trabalho é trabalho), o guião não varia muito… Vai de “és tão boa” a “venho-me todo por cima de ti”, passando por “rabinho de putinha”, “ai, cona apertadinha”, com reptos deste lado de “que grande”, “rebenta-me toda”, “chupo-te até aos colhões” e muito arfar, de um lado simulado, de outro sentido… Não é que Patrícia não goste de conversa porca, mas na vida pessoal são mais sussurros debochados, com mais sentimento e bem mais nível. Assim, quando pousava o auricular, Patrícia “entregava-se clandestinamente a práticas fetichistas.” E gostava era de saltar, reinventar novos scripts. Mas tinha passos, linhas de manuscritos, que, mais dia, 38 // www.IDIOTMAG.com


menos dia, lhe calhavam aos vários amantes. Muito gostava de ser presa. E de cintos, mmm, o sabor de couro na boca, quando, de fivela desapertada, os dentes ainda seguravam na outra ponta e com nariz empinado, e olhos postos em cima, perguntava, sem dizer nada, “sabes o que fazer agora, rapaz?”. Mas sexo nem sempre é cinema, e a maior parte das vezes calha mais para o género comédia (o que também é um encanto) e menos para o thriller palpitante… Por isso quando … quando… (a, b, c, d, e… vamos na quinta crónica, chamemos-lhe E.) quando E. lhe tirou o cinto da boca e no mesmo segundo lhe prendeu as mãos, Patrícia sorriu, molhou, de satisfação… É que, caramba, o homem fez tudo certinho, prendeu, mordeu, fê-la augar por tudo e mais alguma coisa. Ficou-se pelos peitos, conseguiu arrancar-lhe um grito e muito prazer. Patrícia, com tanta experiência, apesar da tenra idade, a dois, solo e ao telefone, nunca se tinha vindo só tocada nas mamas… Mas mais do que isso, nessa noite não se viu pila, e E. acabou a fodê-la vezes sem conta com as mãos. Ora, o falo, o pénis, a pila, “objecto de uso pessoal ou doméstico a que se atribui um poder mágico e benéfico”, quando nus um homem e uma mulher (ou dois homens, ou três, basta serem portadores de tal instrumento), torna-se de uso obrigatório e presença indispensável, quando não central, num script de cama, do mais privado à pornografia… Não vos parece que a penetração pénis-vagina, pénis-anus, pénis-boca, acabam por ser “prática(s) sexual(uais) que consiste(m) na conversão de (…) parte do corpo de uma pessoa em factor indispensável e suficiente de excitação sexual.” Falta de imaginação ou compulsão social? É que temos tanto corpo para explorar, que já chega a arquitectura citadina para lhe andar a prestar culto. E quanto a dizeres que sem lá tocar não se conseguem vir… meninos, um dia destes falamos em rabinhos. Caraças, talvez seja do trabalho e das histórias repetidas, mas comer pão com manteiga, por saboroso que seja, todos os dias, a vocês não vos cansa? E vêm os senhores da Medicina, dizer que fora isso não está bem… Fetichista… termo médico. E Patrícia, que obsessivamente não se dedica, nem disso faz depender o seu prazer, à mesma prática e parte do corpo… Mais vale amarrada que presa a ideias poeirentas, não acham? Além disso, as boas surpresas podem vir, de quando em quando, embrulhadas numa corda de shibari. Toca a ir acima e reler as definições. Então digam-me, afinal quem é a fetichista?

De 31 de Maio a 2 de Junho, decorre/ decorreu em Lisboa o primeiro “Lisbon Fetish Weekend”, organizado pela ConSenSual, “um projecto educativo de e para a comunidade BDSM portuguesa” (http:// www.consensual.org.pt/). Com exposições, conferências e uma kinky party, nunca BDSM e fetiches estiveram tanto na boca do mundo, ou pelo menos do nosso Portugal dos Pequeninos. Assim sendo, venho mostrar aqui como A Maleta Vermelha não é só para as meninas baunilha, nome dado a práticas ou pessoas que excluam qualquer elemento BDSM nas brincadeiras de cama, mas para quem quer um pouco de stractiatella ou hortelã pimenta na sua vida sexual. Na ampla escolha de algemas disponíveis, das clássicas cobertas de pelinho, feitas de plumas, organza ou pérolas, reservamos dois items especiais para os mais aventureiros: as algemas de velcro para mãos e pés e as algemas de velcro para tornozelos. Práticas, eficientes, ajustáveis, resistentes, kinky e, dentro do possivel quando completamente imobilizadas, confortáveis, sim, CON FOR TÁ VEIS. Comecemos pelas algemas de velcro para mãos e pés e os seus vários pontos a favor, primeiro, são de velcro, o que permite ajustarem-se a pulsos e tornozelos de vários tamanhos e feitios, o segundo, muito importante a meu ver, são acolchoadas de um vermelhinho delicioso que, além de acabar

com marquitas denunciadoras, as torna cómodas, diria até apraziveis a usos brutinhos, segue-se o arnés, que permite regular a distância entre os pulsos e os tornozelos, consentindo posições para além da sugestiva “ajoelhou, vai ter que rezar!”, podendo-se por o sujeito de quatro, amarrar uma das extremidades a uma peça de mobília e o mais que a imaginação mande. Quanto às algemas de velcro para tornozelos, poupam trabalhos a meninas e meninos mais preguiçosos. O ar entre acessório para escalada e complemento de sessão de tortura dão a ambas o elemento kinky. E se precisam de ajuda para idear o que fazer, leiam umas páginas de Sade, ou do romance “História de O”, sugestões não vos faltarão! Encontram-se estes e outros atrevidos acessórios em reuniões d’A Maleta Vermelha, através de Carmo da Maleta. “ALGEMAS DE VELCRO PARA MÃOS E PÉS” – 25.95€ e “ALGEMAS DE VELCRO PARA TORNOZELO” – 23.95€

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Há exatamente 43 anos, nesse quente junho de 1969, um colorido bando de proscritos fazia história. Na ressaca dos movimentos pelas liberdades civis e de todas as emancipações, do black power ao feminismo radical, passando pela revolução sexual e o clamor pela auto-determinação da juventude, lésbicas e gays e muitos transexuais eram ainda confinados a espaços onde a liberdade possível era vivida entre quatro paredes e interrompida por rusgas recorrentes por parte de forças policiais. A 22 de junho, morre Judy Garland, figura querida da comunidade gay, que se revia nas batalhas pessoais e no imaginário ‘camp’ da malograda estrela de “O Feiticeiro de Oz”. Com o recrudescimento de investidas anti-gay, na noite de 28 de junho, no concorrido bar “Stonewall”, em Nova Iorque, o ambiente não podia ser mais explosivo. E é com uma explosão de fúria que as pessoas presentes respondem a mais uma investida das forças policiais. Descrições da época relatam uma intensa batalha campal, com barricadas e figuras de vestidos e lantejoulas a investir com as armas de arremesso mais à mão: sapatos de salto alto! Imagino também perucas fora do sítio e faces desfiguradas pela maquilhagem manchada de lágrimas e gritos de revolta, que continham em si toda uma história de opressão e violência. Chegara a hora de dizer basta. Todos os anos, em torno do dia 28 de junho, se celebra Stonewall um pouco por todo o mundo democrático, com paradas cheias de cor e diversidade. São marchas do orgulho, de

quem, como todos os oprimidos da história, deixou de ter vergonha de ser quem era e que, sobretudo, quis tomar nas suas mãos o seu destino, com a sua voz e as suas próprias palavras, cores, roupas e atitudes. E as palavras passaram a ter outro significado: de insultos fizeram-se identidades e bandeiras. Com lantejoulas e salto alto ou simplesmente como se apresenta quem faz questão de ser verdadeiro e, sobretudo, contribuir para um mundo mais arco-íris. Não se iluda quem pensa que os direitos estão adquiridos: há um caminho feito, mas também países onde se pode ser morto e torturado por amar, milhares de jovens vítimas de bullying e sem esperança no futuro, há famílias a sofrer, pessoas a perder o seu emprego, vozes são censuradas, violência extrema e agressões invisíveis acontecem todos os dias a pessoas por causa da sua orientação sexual ou identidade de género. Este mês, espero encontrar-me convosco, para, juntos, ouvirmos o eco destas histórias e fazermos da tristeza uma revolta, e da revolta uma vontade de mudança, e da mudança uma alegria. Telmo Fernandes

Coisas a acontecer: 13ª Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa: 23 de junho de 2012 (Jardim do Príncipe Real) Arraial Pride de Lisboa: 30 de junho de 2012 (Terreiro do Paço) 7ª Marcha do Orgulho LGBT do Porto: 7 de julho de 2012 (Praça da República) Mais informações: porto@ilga-portugal.pt

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Há uns meses, fui convidado para fazer parte de uma conferência em Coimbra para falar do tema “O Futuro Do Analógico”. Até à altura, nunca tinha pensado em prever o que seria o formato nos próximos dez, vinte ou trinta anos - pura e simplesmente fotografava sem me preocupar com aquela marca que descontinuava uma série de negativos, acontecimento que deixava toda a gente com expressões de pesar no facebook e a comentar só com smiles tristes. Aceitei o convite, criando o desafio de ter uma opinião sobre o assunto e de finalmente me preocupar com o meio que me levou a gostar de fotografia. Não tive hipóteses em Coimbra de dizer um terço do que vou dizer a seguir e foi para ter essa oportunidade que pedi à equipa dos Idiotas para aceitarem este artigo. Espero que tenha valido a pena esperarem tanto tempo por isto. Na cultura “mainstream” há um mito de 44 //// www.IDIOTMAG.com IDIOTMAG 44

que as câmaras analógicas “acabaram” ou que são raras, que é difícil e caro arranjar filme x para a câmara y, que é um problema encontrar sítio para fazer revelações, que o digital compensa mais, que as câmaras de filme são “relíquias” e deviam ter o valor de relíquia (um fenómeno no mercado de leilões português, onde câmaras de 3 tostões são vendidas a 100€ porque “são para apreciadores”). Percebo perfeitamente a desinformação, dado que vivemos numa cultura da informação negativa, onde não é a boa notícia que dá mais likes e comentários e a nostalgia é perfeita para cravar comentários. Não vou negar que o analógico não é o que era - hoje em dia vive de quem é realmente apaixonado ou de quem tem necessidade de experimentar para além da rigidez do digital. Mas será que isso quer dizer que os produtores de meios analógicos vivem no prejuízo?


Em 2008 a Polaroid anunciou o fim da produção do seu famoso filme para série 600. Para muitos isto foi visto como o coup de grâce depois de oito anos de queda de vendas abruptas e esse mesmo coup de grâce foi interpretado como o derradeiro adeus do instantâneo. No Japão a notícia chegou com o mesmo pesar que chegou ao Ocidente, mas em vez de uma lágrima no canto do olho, os japoneses pura e simplesmente encolheram os ombros e continuaram com a vida. Porquê? Os japoneses são conhecidos por viver no futuro desde os anos 80, sempre associados a tudo o que é do mais hightech possível, desde aos transportes públicos à pornografia animada (ou não). A preocupação com o analó-

gico é coisa de ocidental ainda agarrado ao passado e a disciplina nipónica não nos permite perder tempo com trivialidades. Há muito que brincavam com aquela DSLR ou com o Bluray antes de as apresentarem como novidade aos primitivos europeus e americanos. Obviamente, que estou a exagerar. A verdade é que os japoneses tinham e ainda têm a Fujifilm e os seus filme Instax e FP, que já dominavam o mercado do instantâneo com fórmulas bem mais estáveis na altura em que as contas da Polaroid derrapavam,. Como se isso não chegasse, grande parte dos filmes de 135mm e 120mm são hoje em dia fabricados no continente asiático - mesmo os filmes da americana KODAK. É à custa disso que os japoneses têm a sorte de ter autênticos supermercados c h a m a d o s Yodobashi Camera, uma espécie de Pingo Doce da tecnologia com andares completamente dedicados a produtos de fotografia analógica a preços de tenda de marroquino.

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Yodobashi - isto faz-me chorar

Ao mesmo tempo, no velho continente o consumidor analógico europeu vê-se de joelhos a pedir forças face aos preços que por cá se praticam, enquanto, por trás, a cobra do digital sibila: “anda, prova esta maçã.jpeg comprimida num cartão SD! Não há nada mais prático... É só tirar, por no computador e mostrar aos amigos no Facebook.” Há uma série de factores que permitem este fenómeno por cá (o dos preços, não o da cobra que fala): desde o lojista que acha que é o único na cidade a vender aquele produto exótico e acha que pode fazer um preço infla46 // www.IDIOTMAG.com IDIOTMAG


cionado, talvez influenciado pelo distribuidor sem escrúpulos que se está a borrifar para o futuro do formato, até à burocracia das nossas fronteiras económicas que seguram importações durante meses e que ao fim taxam a encomenda por dias em que esteve à espera de ser processada. A verdade é que nunca pagamos os preços justos por determinados produtos – éramos ricos, dos mais ricos no mundo até há bem pouco tempo e não havia problemas em pagar preços inflacionados pelos consumíveis analógicos, tal como acontece hoje em dia no digital (na fotografia, nos electrodomésticos, nos gadgets, nos telemóveis...). Isto quer dizer que, enquanto o Ocidente chora e comenta com caras tristes nas notícias que falam do fim à vista daquelas empresas centenárias que nos ajudaram a guardar as memórias de infância, os asiáticos gastam negativos em câmaras com lentes de plástico, sem sequer se arrependerem e sem sequer se preocuparem com o fim do analógico, que está longe de ser uma realidade para eles. Parece um bocado sombrio para nós, não é? Em 2011 as receitas de venda de Vinyl aumentaram 39% (2.8 milhões de unidades em 2010, 3.9 milhões de unidades em 2011), a Kodak e a Fuji apresentaram novos filmes para Super8 e 16mm (actualizando fórmulas de filme) e 2012 viu o regresso do filme de 110. “E o principal consumo é feito a que nível?”, perguntam vocês. E muitos diriam: “só os profissionais é que mantêm o formato vivo - os djs, os realizadores, os fotógrafos... ”, mas eu respondo que esses muitos estão redondamente enganados. Na realidade a maior parte dos consumidores de vinyl compra para ouvir música em casa, os principais consumidores de filme são realizadores amadores ou malta que se deixa seduzir pelas câmaras encontradas no

sotão. E quanto aos utilizadores de filme fotográfico, podemos dizer que o fim dos loucos anos 10 (de 2000) viu um boom de consumo quando surgiram os novos fotógrafos analógicos graças a uma famosa marca austríaca vista pelos média como responsável pelo comeback da fotografia de filme, marca essa que fez de câmaras de plástico analógicas uns autênticos fenómenos de moda. Se são ou não os verdadeiros salvadores, não sei. Mas a verdade é que, por mais passageira que possa ser, a moda não deixa de ter o seu peso nas tendências do mercado. Muitos devem conhecer a iniciativa que surgiu por parte de antigos empregados da Polaroid em ressuscitar o lendário papel fotográfico, iniciativa essa chamada Impossible Project. E também devem saber que, quando se confirmou que a Kodak estava em risco de falência, a solução foi cortar completamente no mercado do digital e apostar no mercado do analógico. Ok, pode haver o argumento que o projecto IP é um projecto de amor com investidores milionários que não estão à espera de retorno, mas a Kodak tem uma equipa de analistas de mercado, e se o conselho foi o de manter a produção de negativos viva (por mais que nos custe ter demorado a decisão - demora essa que fez desaparecer o Kodachrome), é melhor estar num mercado de nicho do que não estar em nenhum mercado. Alguém na conferência perguntou: “O que diriam para convencer as pessoas que se converteram ao digital ou que sempre usaram digital a voltar para o analógico?” É obvio que o analógico não substitui hoje em dia a comodidade dos bytes e nunca mais voltará a ser o standard, mas não é por isso que não se podem complementar. O digital para uns fins mais “seguros” e o analógico para fins mais experimentais. Posso dar dois bons exemplos: CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 47


Kristian Jalonen é um fotógrafo sueco pelo qual a Analog Nights tem especial carinho. Tal como a maior parte dos fotógrafos, Kristian adora fotografar a natureza, retratos e paisagens, mas a grande diferença é que o faz usando rolos que levaram banhos de sopas químicas. O resultado são verdadeiras manifestações impressionistas.

As câmaras que usa não são, de forma alguma, especialmente adaptadas à sua técnica. Os negativos são apenas banhados durante dias (conforme o efeito que quer fazer) e deixados ao sol a secar para as câmaras não se estragarem. Depois sai à rua e dispara, umas vezes sem pensar muito, outras com alguma coisa em mente. Podem ver mais do seu trabalho no site www.analogueonly.com. 48 // www.IDIOTMAG.com

fotografia: Kristian Jalonen ©


Outro caso, é o do músico de Techno alemão Thomas Brinkmann que é conhecido pela sua técnica de composição. É assumidamente experimental, mas não deixa de ter resultados sólidos e dançáveis. O que ele faz, tanto no estúdio como ao vivo, é complementar analógico com tecnologia, pegando em vinys e num x-acto e ir riscando os vinys até ter um som que lhe agrada, som esse que grava no portátil onde faz loops e processa. Pode parecer que é apenas um monte de barulho, mas a verdade é que, ao fim de 10 minutos, só temos vontade de nos levantar da cadeira e dançar.

A conclusão é que o analógico viverá enquanto se descobrirem sempre novos propósitos para a sua utilização fora do seu uso convencional. E isto aplica-se ao áudio, como à fotografia e ao vídeo. Há características impossíveis de emular no digital, como o toque, os defeitos provocados pelo tempo e pelas condições onde é armazenado o registo (o caso dos Boards of Canada, que gravavam músicas em K7 e depois as enterravam num monte de terra público durante meses - o resultado eram flutuações na fita que davam aquele toque retro e gasto que caracteriza a sua música), ou até as próprias tonalidades de certos filmes. E quanto ao argumento que diz que “é muito caro” só tenho a dizer que é mentira: é um preço justo a pagar por tudo aquilo que nos permite fazer. Ludovic Analognights CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 49


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Meus amigos idiotas, que insistem em ler estas coisas que não me canso de escrever, venho este mês falar-vos de algo pouco artístico, à priori: Dinheiro! Contudo, devo admitir, porque não gosto de deixar nada de errado por emendar, que na edição anterior, ao escrever sobre o Cinema Cego, cometi um erro grosseiro de tamanha indigência que ainda hoje não me consigo perdoar. “Grande Idiota!”, pensei eu numa

e começarei com uma frase de ordem que vi escrita num muro da baixa lisboeta: “O Capitalismo não se reforma, destrói-se”. Grande chavão este, cheio de verdade e de vingança. Há que destruir todos os modos de vida que nos conseguem eliminar mesmo enquanto dormimos e sonhamos com uma vida mais calma e sem preocupações. Nunca podemos reformar algo que nasceu torto e que tem no seu comando os maiores artistas do furto. Artistas sim e muito bons artesãos

atitude relativamente autocrítica. Ao dar o exemplo do panóptico, referi Umberto Eco como o autor de uma teorização extensa sobre esta visão social, quando, na verdade, deveria ter dito Michel Foucault. Um erro imperdoável, negligente que me faz sentir uma espécie de confuso intelectual, já que a confusão se deu por um ter escrito o pêndulo do outro, criando aqui uma ligação inerente, mas quanto a este caso completamente despropositada. No entanto, não perderei mais tempo com isso, porque quando tentamos remediar com minuciosidade, o resultado pode ser catastrófico. Este mês, como já disse, falarei de dinheiro, mas como a crise tem afectado meio mundo (a outra metade dele vive à grande e à francesa, ou à angolana como agora parece moda), não me estenderei sobre o assunto

no que toca a esta suprema e antiga Arte de Roubar. Já no século 17, o Padre Manuel da Costa, numa obra barroca dedicada ao Príncipe Dom Teodósio e ao Rei Dom João IV intitulada “Arte de Furtar”, faz uma extensa catalogação das garras que infestam este mundo a que ele, concretamente, chama “Covil de Ladrões”. Hoje em dia, leigos de tudo o que nos impingem pela publicidade e consumismo, começamos a ter noção que estes roubos favorecem alguém que anda impune a todas as leis e costumes da boa conduta e da íntegra decência: A Banca! O processo de roubo resume-se ao seguinte esquema: Os Bancos Centrais fazem dinheiro a custo zero. De seguida emprestam aos Bancos e aos Estados a juros indecentes. Estes, tendo de pagar, no mínimo, o triplo do que pediram, criam créditos (dinheiro inexistente) e

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juros ainda mais aberrantes, aliciando como Lobos Maus, os pobres contribuintes ao consumo exacerbado para, assim, poderem os segundos pagar a dívida em relação aos primeiros que, como o Zeca Afonso cantava, “comem tudo e não deixam nada”. Andamos aqui a brincar à bolsa e à especulação que servem apenas para matar a capacidade de pagamento de uns e de outros porque, nas suas mentes criativas, a economia só tem pernas para andar se houver dívida e

economia à verdade, deixando de brincar à arte de furtar, deixando de usar dinheiro que não temos, obrigando a Banca a ser séria e a trabalhar apenas com dinheiro que existe, obrigando estes gordos burgueses, que mais não são do que Porcos de Bordalo Pinheiro, a jogar em pratos limpos e a reduzir os juros a taxas mínimas. Não chega sermos humanos, temos de ser, acima de tudo, humanizantes. Temos de respeitar o semelhante e o vindouro e destruir a arte que atenta contra a evo-

pobreza numa perspectiva selvagem de predador. Este sistema que governa o mundo ocidental, que Cesariny já havia catalogado de “monstruosidade” num seu belo poema, tem de terminar, caso contrário, e com a evolução do monstro capitalista, o destino será aquilo que Nietzsche chamou de “Guerra de todos contra todos”, estabelecendo aqui uma analogia com a imagem bíblica do Apocalipse. Como terminamos isto? Reconduzindo a

lução da espécie: O Capitalismo! Se existe arte no roubo, também existirá arte na devolução dos direitos naturais. Juntemos forças, decência, telas para pintar o homem como obra de respeito. Abaixo este monopólio de charlatães e assassinos que nos governam “as massas”, nos controlam as ideias e nos formatam o futuro em caixões sem “almofadas”. Se o texto mexeu contigo, então soube muito bem provoc’arte! Rui de Noronha Ozorio CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 53


Lembro-me de Miguel Relvas, em meados da década de 90, anódino deputado do PSD, que passava frequentemente pela Secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares, onde eu dei, durante uns tempos, uma pequena ajuda a Luís Filipe Menezes, no segundo governo de Cavaco Silva. Trocámos, por essa altura, algumas palavras de circunstância. Poucas. A conversa mais longa que tive com o futuro ministro Miguel Relvas – e ainda assim curta – foi, anos mais tarde, em Vilamoura, onde o encontrei com um amigo comum. Nessa conversa, Relvas felicitou-me por ter tido a coragem de ter sido candidato do PSD, em 2001, à Câmara Municipal de Marco de Canaveses, contra o “dinossauro” Avelino Ferreira Torres e também porque sabia que eu estava, enquanto vereador da oposição, a travar um combate difícil. Não voltei a ver Relvas nos anos seguintes. Mas tarde, porém, sofri uma decepção com o homem. Uma notícia do Correio da Manhã transcrevia uma escuta telefónica a entre ele (na qualidade de secretário de Estado do governo de Durão Barroso) e Valentim Loureiro (presidente da Câmara de Gondomar), onde dava conta ao Major de que o problema do “amigo” do Marco estava quase a ser resolvido. O problema do “amigo” do Marco – Ferreira Torres – era o deferimento do Plano de Reequilíbrio Financeiro da autarquia, que Ferreira Torres queria muito e contra o qual eu me batia. Isto é: na altura em que eu fazia oposição, o PSD no governo ajudava Ferreira Torres. Sim, eu sei que a política é assim. Mas eu não sou e fiquei decepcionado. Quando percebi que Miguel Relvas estava em crescendo no PSD já não fiquei muito surpreendido. O que me surpreendeu foi que o ex-anódino deputado por Santarém crescesse tanto, ao ponto de se tornar uma peça incontornável nas lutas pela conquista do poder dentro do PSD. E fiquei estupefacto quando, há uns meses, li que Relvas era considerado uma das pessoas

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mais influentes do país. Comecei a prestar mais atenção ao homem – entretanto licenciado não sei bem em quê – e fiquei a saber das suas ligações à maçonaria que conta e aos grandes grupos económicos e que tinha uma forte penetração no aparelho do PSD, essa máquina que endeusa com a mesma facilidade com que, mais tarde, tritura. Em pouco anos, Relvas tinha-se tornado, portanto, numa peça notável da máquina laranja, por quem passam as nomeações para os cargos importantes do aparelho de Estado. E fiquei também a saber que Relvas estende o seu poder ao Brasil e a Angola e a mais sabe-se lá aonde. Conta-me quem o conhece das suas andanças brasileiras que, por lá, o “Dr. Relvas” é um figurão que se dá com proeminentes figurões, ainda que, como relatava recentemente a Visão, nem todos sejam figurões recomendáveis, que é como quem diz, gente a quem se possa comprar um carro em segunda-mão. Com a vitória do PSD nas últimas legislativas, houve quem sugerisse que Relvas não devia ir para o governo e que devia manter-se como secretário-geral do partido. Outros, asseguravam que ele seria indispensável no governo para garantir a coordenação política de um executivo onde há muitos técnicos e poucos políticos. Venceu a segunda tese, no que terá pesado, também, a amizade pessoal que o liga a Pedro Passos Coelho. No entanto, não faltou quem previsse que Relvas iria ser, a prazo, o elo mais fraco do governo. Não porque lhe faltasse a experiência política, mas, precisamente, porque tinha experiência a mais no que poderia fragilizá-lo enquanto governante. Começando a sintetizar: Miguel Relvas chegou aonde chegou pela sua umbilical ligação à maçonaria do Grande Oriente Lusitano e pela teia que, a partir daí, foi criando no mundo empresarial. Aparentemente, tudo se conjugava para que Relvas fosse um intocável. No entanto, não


conseguiu prever que um conflito que não é dele – a “guerra entre Pinto Balsemão e a Ongoing de Nuno Vasconcelos pelo controlo da Impresa e também relativo à privatização da RTP – iria cair sobre a sua cabeça. As ligações à maçonaria e entre a maçonaria e os serviços secretos – via Silva Carvalho – e entre tudo isto e a Ongoing, esse fenómeno empresarial que ninguém percebe muito bem, envolveram Relvas numa bomba dificilmente controlável. E, ao que parece, o todo-poderoso ministro começou a perder o pé, quando confrontado com o explosivo material. Cada um por si, os problemas teriam solução.

fase de perfeita resignação e limitam-se a esboçar um esgar de dor quando o governo lhes dá com o bordão nas costas, porque, no fundo, todos temos consciência de que mais cedo ou mais tarde iríamos pagar o desvario dos últimos anos. O problema é que a resignação é sempre a prazo e há muito que venho dizendo que ela pode acabar se houver ao nível do governo um escândalo daqueles que levem as pessoas a pensar que enquanto uns penam, há quem se envolva em situações obscuras. Ora, sem perder de vista que Relvas seja totalmente inocente das suspeições, o certo é que, com o país como está, os rumores

Relvas é maçon? Não é especialmente grave. Tem amigos nas “secretas”? Nada que não se resolvesse. Relvas coagiu o Público e ameaçou uma jornalista com a divulgação de aspectos da sua vida privada? É grave, mas não seria determinante. Grave, é que os erros se sucederam em catadupa e ainda se lhes pode somar a suspeita – gravíssima – de que mentiu na Comissão Parlamentar de inquérito sobre as suas ligações às “secretas”. Tudo isto é tanto mais problemático atento o momento que o país atravessa. Sou dos que pensam que os portugueses estão naquela

podem bastar para “entornar o caldo”. Aqui chegados, atalhe-se para dizer o seguinte: muito dificilmente Passos Coelho conseguirá segurar o amigo no governo, sob pena de ele próprio ficar fragilizado, porque mais do que amigo, será visto como cúmplice e dará corpo à ideia de que quem verdadeiramente manda é Relvas. Passos tem, por isso, uma bota difícil de descalçar. Quanto a Relvas, que tão abundantemente demonstrou ter sido esperto ao longo da sua carreira política, aconteça o que acontecer, não se arrisca a ficar descalço. No fim de contas, ele só foi idiota neste mês. Coutinho Ribeiro

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Idiocracy, Gabinete de Design

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Idiocracy Design, o gabinete de design de comunicação da nossa Idiot foi o responsavel pela identidade do evento “Idiot Art“. Com mais uma aí à porta, fica aqui alguns dos materiais desenvolvidos

fotografias ® Lígia Claro CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 57


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Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico Agradecimentos: José Simões; Elias Marques; José Bartolo; Sérgio Correia; ESAD Matosinhos; Ligia Claro, Wailers; Gustavo Pereira 58 // www.IDIOTMAG.com


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