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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1
4 EDITORIAL A Meterologia 10 IDIOT MAG @ Havana
8 IDIOT MAG @ Day & Night 14 ACTUALIDADE Praias de Portugal
22 ACTUALIDADE Neopop Music Festival 34 ENTREVISTA This is Pacifica 46 MODA Joalharia 54 HOMO’GENIO Pink Budapest 64 ALINE FOURNIER From France with Love
28 PHOTOREPORT Boivão 44 MÚSICA Freshkitos 52 TABU Alcova + Review 56 INTERVENÇÃO Feminismo 78 HIPOCRISIAS
80 PROVOC’ARTE 84 NEWSLETTER Idiocracy, Gabinete de Design
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82 O ANTI IDIOTA Margarida Rebelo Pinto
Produção: Nuno Dias // João Cabral Idiocracy, Gabinete de Design® Chefe de Redacção: Mariana Ribeiro Textos: Mariana Ribeiro Rui de Noronha Ozório Melanie Antunes Carmo Pereira Telmo Fernandes Ana Anderson André Queirós Patrícia (Pseudónimo) Nuno Dias João Cabral Design: Nuno Dias João Cabral Ilustração: Tamara Alves Mesk Inês Peres André Ventura Capa: Nuno Dias Todos os conteúdos escritos e gráficos são da responsabilidade de: IDIOCRACY, Gabinete de Design ® www.idiocracydesign.com mag@idiocracydesign.com Info@Idiocracydesign.com Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico Agradecimentos: Gustavo Pereira, Pedro Filipe Rodrigues, Backstage, Maria Clara Cabral, João Paulo Cabral, Andrea Jardim, Flora Neves, Diana Fonseca, Nuno Branco
(*) NENHUMA ARVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!
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Mariana Ribeiro
ILUSTRAÇÃO MESK //
ESTE ARTISTA URBANO É UM DOS CONVIDADOS DA IDIOT MAG NO DAY & NIGHT, QUE A 22 DE SETEMBRO NO JARDIM DAS VIRTUDES VAI PINTAR AO VIVO UM MURAL CAPA DA IDIOT MAG 4 // www.IDIOTMAG.com
CARÍSSIMOS. HOJE DEI POR MIM A PENSAR EM COMO SETEMBRO PODE SER UM MÊS EXTREMAMENTE RADICAL PARA MUITA GENTE. DEPOIS DE TANTO CALOR, PRAIA OU CAMPO, OU SIMPLESMENTE CIDADE, MAS SEMPRE COM UMA SENSAÇÃO MAIS OU MENOS RECORRENTE DE FÉRIAS, É TEMPO DE PENSARMOS EM COISAS SÉRIAS. PARA MUITOS, AÍ VÊM AS AULAS, PARA OUTROS, O TRABALHO OU A PROCURA DELE. E COMO NOVAS TEMPORADAS TRAZEM SEMPRE NOVAS PERSPECTIVAS, APERCEBEMO-NOS SEMPRE DE QUE ALÉM DE PERSPECTIVAS, VÊM ADJACENTES AS RESPONSABILIDADES E A TÃO CONHECIDA ROTINA. ELEMENTOS COMO ESTES DEVEM SER SEMPRE LEVADOS COM UM SORRISO NA CARA, E, SABENDO QUE TEMPOS DIFÍCEIS VIRÃO, VAMOS CONSEGUIR MANTER-NOS POSITIVOS E ACREDITAR SEMPRE EM NÓS. O QUE É PRECISO AGORA DEIXAR PARA TRÁS, FICA. AQUILO QUE VALE A PENA RECORDAR DO VERÃO ESTÁ NA NOSSA IDIOT: O ESPECIAL NEOPOP MUSIC FESTIVAL OU O PHOTO REPORT A BOIVÃO PROMETEM DEIXAR UMA NOSTALGIA NO AR. PARA QUEM FICOU PELO PORTO, TAMBÉM VOS MOSTRAMOS AGORA O RESULTADO DO CONCURSO, ONDE OS NOSSOS LEITORES GANHARAM UMA SESSÃO FOTOGRÁFICA PELAS RUAS DA CIDADE. PROMETE SURPREENDER TUDO E TODOS. PARA ACABAR, E TAMBÉM PORQUE AGORA AS TEMPERATURAS DIMINUIRÃO, SUGERIMOS O FABULOSO E POLÉMICO ARTIGO “QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU? FEMINISMO: É ALTURA DE DIZER O QUE É, DE ONDE VÊM, QUANTOS SÃO E PORQUE HOMENS E MULHERES DEVEM TER ORGULHO EM SER FEMINISTAS”, DA NOSSA QUERIDA CARMO PEREIRA. QUER FAÇA FRIO OU CALOR, A IDIOT MAG ESTARÁ POR AQUI PARA VOS ACONCHEGAR OU PARA VOS SOPRAR À CARA, NESTA ÉPOCA DE TODAS AS MUDANÇAS. COISA DE IDIOTAS. P.S.: ENTRE A IDEIA, O PROJECTO DE CRIAÇÃO E A SUA CONSUMAÇÃO AO LONGO DESTES SETE MESES, FOI UM TEMPO ÁRDUO, MAS GRATIFICANTE TER CONTRIBUÍDO PARA QUE A IDIOT MAG SE CONSOLIDASSE COMO PROJECTO DE COMUNICAÇÃO. HOUVE COISAS BOAS E COISAS MENOS BOAS, COMO EM TODOS OS PROJECTOS. O RESULTADO É FRANCAMENTE POSITIVO. TODAVIA, PORQUE TENHO OUTROS DESAFIOS PROFISSIONAIS PELA FRENTE, CHEGOU A HORA DE PÔR UM PONTO FINAL NA MINHA PARTICIPAÇÃO NA IDIOT MAG. ESPERO QUE CONTINUE A TER O MESMO SUCESSO QUE ATÉ AQUI, COM QUEM FICA. QUANTO AO MAIS, FOI UM PRIVILÉGIO COMUNICAR COM TANTOS E BONS LEITORES. ATÉ BREVE, PORVENTURA NOUTRO LOCAL. MARIANA RIBEIRO. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 5
ILUSTRAÇÃO TAMARA ALVES //
ESTA ARTISTA URBANA É UMA DOS CONVIDADOS DA IDIOT MAG NO DAY & NIGHT, QUE A 22 DE SETEMBRO NO JARDIM DAS VIRTUDES VAI PINTAR AO VIVO UM MURAL CAPA DA IDIOT MAG 6 // www.IDIOTMAG.com
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DEPOIS DO SUCESSO DAS EDIÇÕES ANTERIORES, NO TELHADO DO METRO DA TRINDADE E NO JARDIM DAS VIRTUDES, O GARE, A SONICULTURE E A IDIOT MAG ASSOCIAM-SE PARA TE TRAZER O MAIOR EVENTO DO PORTO, ONDE VAIS PODER DESFRUTAR DE UMA DAS VISTAS MAIS EMBLEMÁTICAS DA CIDADE DO PORTO E DO ME-
LHOR DA MÚSICA ELECTRÓNICA EM FUSÃO COM A ARTE NO ESPAÇO PÚBLICO. VAMOS TER TAMBÉM DEMONSTRAÇÕES DE GRAFFITI E ARTE URBANA, FACEPAITING, EXPOSIÇÕES DE FOTOGRAFIA, ILUSTRAÇÃO, PINTURA, DESIGN GRÁFICO, INSTALAÇÕES E UMA FEIRA IDIOTA. COMPRA JÁ O TEU BILHETE! JARDIM DAS VIRTUDES 14:00H//22:00H Arte: Mesk // Grafitti, Arte Urbana Tamara Alves // Ilustração, Arte Urbana Fanzine VHS#17 // Exposição de fotografia, ilustração, pintura e design gráfico Música: Ellen Allien // Freshkitos //Think Freak // Manu //David Rodrigues Idiot Market: Roupa em segunda mão, artigos vintage, artesanato, bijuteria e muito mais. 8 // www.IDIOTMAG.com
GARE & TRAÇADINHO 22:00PM – ATÉ A SOLA DO SAPATO ESTAR GASTA. Música Ellen Allien // Expander // Lewis Fautzi // Ludovic // Yassine //L!
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Capitólio / Parque Central
Ediíficio Bacardi fotografias ® Mariana Ribeiro 10 // www.IDIOTMAG.com
Carro típico cubano
Aterrando em La Habana, a milhares de quilómetros do nosso país, mal saberia qual seria o meu destino. Ali, ainda dentro do aeroporto, à espera do visto de turista que me daria autorização de permanecer 30 dias dentro daquele país tropical a que deram o nome de Cuba, país sofrido, com muita história e com um povo singular, deparo-me logo com várias situações que nunca hei-de esquecer. Cuba é feito à sua medida e não pode nem deve ser comparado com mais nenhum outro sítio. Com as minhas necessidades básicas por satisfazer, entro na casa de banho, enquanto os outros esperam na fila, e vejo mulheres
polícias a fumar. Pergunto-lhes, estupefacta e na minha maior ingenuidade: “se puede fumar aqui?!”, respondem-me que não, não se pode fumar ali, como não se pode fumar em nenhuma casa-de-banho de aeroporto do mundo, mas que efectivamente se fuma ali, e fazem-me gestos de silêncio, como quem me diz “acende lá o teu cigarro, aqui somos todos cúmplices de um crime que nunca poderá ser punido, afinal de contas acabas de chegar ao país dos melhores tabacos do mundo e ainda não te deves ter apercebido disso”. Satisfeitas as necessidades básicas, faltava a parte em que deveria satisfazer a dos que nos serviam naquele país, coisa que me fui apercebendo desde o início. E CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 11
ou um engenheiro. Então quem são os ricos aqui, perguntava, ele dizia-me que não havia ricos em Cuba, mas que quem ganhava melhorzinho era a polícia, que não faltava em lado nenhum. É complicaassim foi, gorjeta para a empregada da casada a vida cá, dizia-lhe eu, é, de facto é, res-de-banho, e gorjeta para as mulheres polícia. pondia-me, mas sempre foi e sempre será Ainda não tinha pisado território cubano e já e por isso já não é surpresa nenhuma, dizia me começava a aperceber dos procedimende sorriso na cara. É claro que aquele sortos cubanos. Com um grande sorriso na cara riso não poderia ser um sorriso franco, mas e um visto na mão, dado por uma senhora era um sorriso de quem já se havia conforcom um grande buço, coisa que também mado que naquele país, cheio de recursos achei que poderia ser cultural ou tradicionaturais, não era possível alguém acumular nal da terra, saí daquele aeroporto imunriqueza, e estava tudo dito. Os cubanos são do e velho para Havana imunda e velha. assim, vivem mal, são desprovidos de algum Um calor descomunal. Uma cidade linda, tipo de qualidade de vida mínimo, mas consemas uma cidade muito traumatizada peguem ser de uma alegria imensa. E um povo los factos históricos que aqui se passacalorento também. Lá, as mentes estão muiram. Aqui tentam que todos sejam iguais. to à frente da sua política e economia. Toda a Iguais nos seus rendimentos e em habigente se cumprimenta na rua. Entre locais, entações, mas nunca iguais no seu íntimo, tão, são cumprimentos mais íntimos - uma palcoisa que nenhum ser, humano ou não, madita no rabo ou um beijinho mais sorrateiro. será em relação ao próximo. Com uma Nota especial para as manifestações de carinho arquitectura estupenda, Havana parou entre pessoas do mesmo sexo e para um conno tempo na década de 60, aquando os siderável número de travestis. Com os turistas, seus heróis da revolução, Che Guevahá que ter mais calma neste âmbito, e tudo se ra, Cienfuegos ou Castro, idealizavam fica por palavras, “de onde és?”, “queres taxi?”, uma sociedade mais justa. Mais nada “rum?”, “puros?”, “aulas de salsa?”, “una monedita foi mantido ali. Onde antes vivia uma que yo soy pobrecita” ou até mesmo um “queres família, agora vivem dez. Onde antes casar comigo?”, que eu achava que era uma brinnão faltava riqueza, agora falta em cadeira. Não era, falam mesmo a sério e só mais todo o lado. Para onde foi ela afinal? tarde me apercebi que também as hipóteses de Não foi certamente para o restauro este povo poder sair do país são tão raras que se dos edifícios ou os saneamentos. aproveitam de todos os turistas para os poderem Havana é podre, e como dizer que levar para fora dali. Quem fica umas horas na avealgo que está podre possa ser de nida central, percebe que a taxa de sucesso destas uma beleza tão grande? propostas é bastante positiva - nunca vi uma terra À conversa com Osmany, um emcom tantos casamentos! De resto, Havana é realpregado de hotel, este foi capaz mente aquilo que é, uma cidade histórica, uma capide me explicar várias coisas que tal traumatizada com os ideais de revolução e sociame falhavam: o facto de ele galismo que vieram assolar o país, e que assim o deixou, nhar tanto como um advogado parecendo esquecido no meio do Caribe. Além disso, existem duas vidas e economias paralelas, - a local e a turística - duas realidades que coexistem, e onde só com a segunda é que toda a comunidade local consegue sobreviver, e ser feliz, ou pelo menos tentar... Ah, isso nunca deixam de tentar. Mariana Ribeiro 12 // www.IDIOTMAG.com
Supermercado cubano CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 13
SETEMBRO É SINÓNIMO DE RENTRÉE, SEJA PARA A ESCOLA SEJA PARA O TRABALHO. CHEGA AO FIM O TEMPO DE ÓCIO E REGRESSA O TRÂNSITO, O STRESS, O MAU HUMOR, O MARTÍRIO DAS SEGUNDAS-FEIRAS E A LUFADA DE AR FRESCO DOS FINS-DE-SEMANA. PARA MUITOS SETEMBRO É UM REGRESSO À ROTINA, MAS PARA NÓS QUE SOMOS IDIOTAS E TEIMAMOS EM SER UMA CARTA FORA DO BARALHO, SETEMBRO É, AINDA, ÉPOCA DE FÉRIAS, CALOR, BOA DISPOSIÇÃO E PREGUIÇA. APESAR DO MÊS DE AGOSTO COMPELIR O POVO PORTUGUÊS A UM ATO MIGRATÓRIO SEMELHANTE AO DAS ANDORINHAS QUE VOAM ATÉ SUL PARA PASSAR OS MESES DE INVERNO, MUITAS PESSOAS PREFEREM ESPERAR ATÉ SETEMBRO PARA SE LIVRAREM DAS RESPONSABILIDADES E RUMAREM ATÉ DESTINOS MAIS QUENTES. DEPOIS DE AGUENTAREM, DURANTE UM MÊS, OS UPDATES INCANSÁVEIS DOS AMIGOS DO FACEBOOK COM FOTOS DE PRAIAS E BEBIDAS ESPIRITUOSAS TOMADAS AO PÔR-DO-SOL, CHEGA ALTURA DE DESFRUTAR AO MÁXIMO O TEMPO LIVRE, COM MAIS CALOR, MENOS GENTE E PREÇOS MAIS BAIXOS! APROVEITANDO O ÚLTIMO MÊS DE TEMPERATURAS ALTAS, A IDIOT MAG VOLTOU A VESTIR A SUNGA E DESTA VEZ PERCORREU ALGUNS LUGARES DE PORTUGAL ONDE NÃO FALTA ÁGUA, SOL E PAZ. 14 // www.IDIOTMAG.com IDIOTMAG
PARAÍSO DO SURF NA COSTA VICENTINA
O Alentejo está indubitavelmente associado a pequenas aldeias rurais, praticamente isoladas do mundo, a infindáveis hectares de campos agrícolas e ao calor abrasador. No entanto, na costa vicentina encontra-se um mundo totalmente diferente do que povoa o nosso imaginário sempre que pensamos naquela região. Na fronteira entre o Algarve e o Alentejo encontra-se Aljezur, uma pequena vila situada a poucos quilómetros de praias com vistas paradisíacas. A mais popular, a praia da Arrifana, encontra-se numa aldeia com poucas casas, situadas no meio de montes verdes. Para chegar ao areal é preciso descer até ao fundo de uma falésia, percorrer. Contudo, existe uma carrinha de 9 lugatarefa mais fácil quando comparada res, apelidada de shuttle, que faz a travessia entre com a viagem e regresso que intimida a estrada principal e a praia, gratuitamente. Na hora pelo caminho íngreme que se tem de de ponta é preciso esperar cerca de meia hora para conseguir lugar numa das travessias, mas a espera compensa quando a tralha a levar para a praia é demasiada. Uma vez no areal, as pranchas de surf e de bodyboard acumulam-se, assim como os turistas do norte da Europa, à espera das melhores condições para domar algumas ondas no mar. Em todas as praias encontram-se inúmeros surfistas independentes e escolas de surf em formação. Os fatos pretos e justos, as pranchas, a pele e o cabelo queimados pelo sol, são o cenário mais comum. Nos parque de estacionamento existem caravanas normais e outras improvisadas em carrinhas pão de forma e outros veículos mais antigos. Na escarpa em frente à praia encontram-se pequenas casas para aluguer de férias.
Praia da Manta Rota fotografias ® Melanie Antunes CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 15
Ameijoas Qualquer uma das praias da região contém um cenário idêntico, no entanto, todas têm características que as tornam distintas umas das outras. Na praia de Monte Clérigo também se encontram pequenas casas para aluguer junto à praia, embora com um aspecto mais típico da arquitetura alentejana. No topo da colina chama a atenção a pequena capela cor-de-rosa, rodeada por palmeiras, que mais parece saída de um postal de qualquer cidade cubana. cima de um prancha, remando até As praias multiplicam-se por toda ao mar. A beleza da praia do Amaa costa, mas as mais interessantes do e o facto de ser um local óptimo encontram-se afastadas da poputanto para surfar como para se balação. A cerca de 17 quilómetros nhar, sem ser atropelado por uma de Aljezur, no final de um caminho onda, confere-lhe o estatuto de de asfalto esburacado e empoeirauma das melhores praias da costa do, encontra-se a praia do Amado. vicentina. A praia da Carrapateira Na extremidade esquerda da praia também está longe da população, a Ribeira de Aljezur vai desaguar mas ao contrário da praia do Amado no Oceano Atlântico. Nesse local é mais propícia aos desportos radia água é mais quente, devido ao cais aquáticos do a qualquer outro cruzamento de correntes e é mais tipo de ócio. Se o mar estiver confácil nadar, especialmente para as gestionado de surfistas ou o vento crianças, devido à fraca corrente e soprar demasiado, o melhor será profundidade do rio. Durante a maré aproveitar o tempo para explorar baixa é possível atravessar o rio a as extremidades da praia, onde a pé até à margem oposta. Aí enconfalésia, esculpida pela força das tram-se milhares de caranguejos marés e do vento, contém pequeescondidos nas rochas, que podem nos afloramentos de rocha, coberser avistados facilmente. Naquele tos por mexilhão e caracóis e rodelocal a água da ribeira é límpida e ados por pequenas poças de água salgada e ideal para mergulhar e nacom pequenos peixes. dar, assim que a maré começa a enA par das praias Aljezur contém, cher. Alguns aventureiros percorrem ainda, alguns locais que vale a parte da ribeira numa canoa ou em pena visitar, como o forte da cidade, as lojas de recordações no centro da vila e no mercado e o Pont’a Pé, o único bar aberto até mais tarde, onde toda a gente se encontra para ouvir um pouco de música e descomprimir depois de um dia a tostar ao sol. Boas ondas, boa comida, descanso, isolamento... a costa vicentina é um pequeno paraíso que permite umas férias únicas e em modo 100% praia, Sushi Sardinha com um orçamento muito reduzido. 16 // www.IDIOTMAG.com
Casa na Costa Nova
OVOS MOLES E PRAIA
É certo que as melhores praias estão localizadas no sul do país, mas a norte também se encontram boas zonas costeiras, nas quais apenas se tem de vencer o medo da água fria. Na zona de Aveiro a escolha de praias é grande, a começar pela praia da Barra, que também é um sítio de eleição para a prática de surf e bodyboard. Contudo, os melhores locais encontram-se mais distantes da cidade e da confusão. Em Mira, para além de uma praia extensa, encontra-se uma pequena e simpática povoação, com um lago no centro e um parque de campismo agradável, para quem tiver o orçamento mais limitado. De manhã, na praia, é possível observar a recolha da redes dos pescadores, abrindo o apetite para um peixe grelhado. Existe um número razoável de restaurantes, todos eles com peixe fresco e preços
acessíveis. Quem não apreciar peixe pode sempre deslocar-se até à Praia da Vagueira e comer um hambúrguer gigante no restaurante O Alemão, ou escolher qualquer outra refeição XL. Para além da praia existem alguns locais na região, que vale a pena visitar. Costa Nova é uma aldeia com casas lindíssimas, com um estilo arquitetural típico da região, estando cobertas por listas brancas e de outra cor, na vertical ou horizontal. O centro de Aveiro é também um ponto de paragem, nem que seja apenas para comprar uns ovos moles ou comer uma tripa de chocolate. Por veze, aos domingos, acontece uma feira de velharias e antiguidades, que ocupa todas as ruas do centro histórico. Se a visita a Aveiro for durante a noite, o local ideal para ir é a zona onde se encontra o mercado do peixe, isto pela quantidade de bares que se encontram nas proximidades.
Praia de Mira CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 17
Albufeira do Vilar
BANHOS DE ÁGUA DOCE
Pequeno lago no rio Távora 18 // www.IDIOTMAG.com
A praia não é feita apenas de areia e água salgada, pois no interior do país também se encontram espaços ribeirinhos, onde é possível banhar-se; alguns deles têm mesmo vigilância como, por exemplo, a Praia da Congida, em Freixo de Espada à Cinta. Pelo rio Douro encontram-se várias praias fluviais, apesar de muitas delas não serem oficializadas como tal, nem vigiadas. Os locais mais belos encontram-se embrenhados na natureza, em afluentes do rio Douro, que atravessam as aldeias que vão surgindo pelos vales. Para descobri-los o melhor será recolher informações junto da população local, que conhece os melhores e mais seguros pontos de água. Nesses locais, além da vegetação abundante é de esperar encontrar vários insectos e águas repletas de pequenos peixes e, por vezes, inofensivas cobras de água. Não é apenas no Douro que se encontram estes locais de grande beleza, muitas vezes localizados em sítios recônditos e acessíveis apenas com um veículo 4x4 ou a pé. O rio Âncora, que nasce na Serra de Agra e desagua em
Vila Praia de Âncora (Caminha), proporciona vários locais para nadar, localizados em plena natureza, com pequenos lagos e cascatas naturais. Um dos locais mais populares é apelidado Pinchos e localiza-se na freguesia de Montaria (Viana do Castelo). A zona do Gerês também é rica em sítios utilizados como praia fluvial. Para além da paisagem única e quase celestial, estas praias de água doce têm a vantagem de estar localizadas em regiões onde existem outros atrativos como a gastronomia, os preços baixos e a convivência fácil com os
Rio Távora seus habitantes. Existem muitas outras praias e destinos com paisagens únicas, localizações privilegiadas e que não requerem um orçamento elevado. Portugal tem a vantagem de ser um país costeiro, o que proporciona condições óptimas para o veraneantes poderem descansar. As ondas podem não ser tão grandes como o Havai e a água pode não ser tão quente como no México, mas as paisagens são lindíssimas, a comida é deliciosa e o acolhimento do povo português continua ser algo que mais nenhum país consegue igualar. Melanie Antunes Rio Douro
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TARDES NO PARQUE
SÁBADO
O CHEF CONVIDA
DOMINGO
01/09 Dj Filipe Fernandes
02/09 Chef João Pimentel (Patuá)
08/09 Tarde JAM (compotas e jam session)
09/09 Chef Francisco Meireles (Sessenta Setenta)
15/09 Piafinos (concerto)
23/09 Sushiman Eduardo Daniel (Kyoto)
22/09 Dj João Dinis 29/09 Tarde dos 3 R’s (reduzir, reutilizar, reciclar)
30/09 Chef Cirilo Varela (Patuá/pastelaria)
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fotografia © Tiago Saraiva // Backstage 22 // www.IDIOTMAG.com
Chegando ao Forte de Santiago da Barra na bonita Viana do Castelo, percebe-se que quem aparece por lá só o faz porque gosta mesmo. Para alguns, torna-se uma passagem imprescindível - talvez sejam esses os verdadeiros amantes da música electrónica. Afinal de contas, quem pode vir com tanta vontade para um festival onde os concertos, como os estamos habituados a ver, sejam substituídos pelos CDJ’s e os vinyls, e que, através do poderosíssimo sistema de som, emana a todos os festivaleiros as melhores sonoridades do deep, ao tecnho e do techno ao minimal? Já para não falar da noite de abertura, que teve a ousadia de receber os melhores do drum and bass e dubstep. Aqui não há mesmo dúvidas: aqui há amor pela música, há o amor pelo dancefloor ao ar livre, carregado de “dancers” de toda a estirpe - do melhor ao pior - ninguém quer saber. Preferem pensar que a uns metros deles estão os melhores artistas a dar o seu melhor. “Parece um sonho”, dizia-se por lá quando Richie Hawtin entrou em acção. “Parece mentira”, dizia-se da actuação de Carl
Craig. E na verdade, sonho ou mentira, quem lá esteve sabe como foi, o melhor festival de música electrónica não desiludiu ninguém e manteve-se, mais uma vez, fiel aos seus princípios fortes e com uma personalidade cada vez mais vincada, o Neopop orgulha-se de não participar no núcleo duro de festivais comerciais que decorreram durante todo o verão. Este festival conta já com um público fiel e bem estruturado, fazendo deste evento um autêntico lugar de peregrinação para os amantes da electrónica. Com noites marcadas pelos ritmos quentes e extasiantes e oferecendo manhãs de tonalidades ácidas e tons marcantes, o festival de Viana do Castelo conta ainda com um sunset durante todas as tardes do festival e um autêntico cardápio de after hours. É complicado descansar aqui, ninguém consegue parar com o programa festeiro elevado ao rubro com o sistema de som pronto para entrar nos ouvidos. Da frontline até às imediações ninguém fica indiferente a este “bichinho” musical, que, tal como o próprio slogan do festival o pede “feed it good”! E por todas estas razões a Idiot Mag apoia o Neopop Music Festival e deixamos em aberto uma ideia: fabricantes de óculos de sol, patrocinem este festival! Mariana Ribeiro
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fotografia © Idiot Mag
fotografia © Idiot Mag 24 // www.IDIOTMAG.com
LOUNGE AREA IDIOT MAG
Não sendo nós imunes às coisas boas da vida, decidimos aceitar o desafio de estarmos presentes do Neopop Music Festival. E como o iríamos fazer? Depois de tanto pensarmos, encontramos a solução ideal para todos: uma lounge area, uma instalação no espaço, a carrinha da Idiot, sofás e a colaboração de Luio Onassis. Que resultado daria isto? Um ponto de encontro para os amigos, um lugar de descanso, de convívio, de relax num lounge cheio de imaginação, com uma instalação feita com muito amor. Tudo isto, enquanto ao longe se ouviam os melhores artistas até de manhã! Deu que fazer, mas podemos assegurar-vos que valeu realmente a pena. E o Luio, onde entra? Entra pela carrinha mais famosa do festival - a carrinha da Idiot Mag - e pinta-a, à confiança, criando assim uma obra artística móvel, que tanto pode fazer parte da paisagem muralística do Neopop - tam-
bém composta pelo artista - como ser de muitos outros ambientes. Mais que isto? Só mesmo os chapéus que estavam à venda no nosso lounge, compostos também por Onassis (ver caixa 2). Quando em todo o festival milhares de pessoas percorriam o recinto com uma felicidade constante, encontravam o lounge da Idiot Mag e juntos faziam a festa ao som da melhor música. Bebia-se uma cervejinha e fumava-se um cigarro. Aqui os festivaleiros também precisam de um tempo de pausa: a luta que o festival oferece é enorme. Aqui fizeram-se amigos para toda a vida. E tal como este festival se tornará inesquecível, também esta lounge area da Idiot Mag ficará para a história. Como tudo o que fazemos, gostamos de o fazer bem. E cada vez melhor.
fotografia © Tiago Saraiva // Backstage
fotografia © Tiago Saraiva // Backstage CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 25
BONÉS LUIO ONASSIS
À parte de todas estas coisas, Luio enfrentou um novo desafio. Foi-lhe proposto dar nome e “cara” aos bonés que estiveram à venda na lounge area da Idiot Mag. E haviam de ver o sucesso que estes fizeram. Com o logótipo do artista e as iniciais XXX, os bonés, pretos ou vermelhos, acompanharam a cabeça dos muitos festivaleiros, criando assim uma onda de estilo com muita descontração. Por 20€ mais uma dose de grande diversão no espaco da Idiot Mag, era também dada a conhecer àqueles (poucos) que ainda não conheciam o nosso conceito. Fica aqui em aberto aos leitores da Idiot Mag que enviem sugestões para as próximas vendas no lounge mais famoso de Portugal! Instalações: Nuno Dias e João Cabral // Idiot Mag Decoração - Inserralves jointventure - created by ID-L; Bicho Sete Cabeças and ByGG
fotografias © Idiot Mag 26 // www.IDIOTMAG.com
MURAL NEOPOP BY LUIO XXX
Quem entrava no recinto do festival dava logo conta da quantidade de cores que delimitavam o fim do festival. O que era? A “hall of fame”, como explica o artista Luio Onassis tinha reencarnado em forma de Luio XXX (leia-se Luio triple X). Esta variante de Luio era formada pela componente streetart do artista, que explica que ao longo de três anos, este é o segundo, quis compor um mural que realmente valesse a pena. No primeiro ano cores e mais cores e formas abstractas, este ano era a vez do lettering, composto pelo nome do festival, onde o artista tentou desmembrá-lo para fazer coincidir, não só com o estilo de música electrónica, mas também com o público que ali deambulava. Para o ano, a terceira e última parte será concluída. Até lá vamos imaginando como poderá ser...
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THIS IS PACIFICA, O COLECTIVO DE DESIGNERS DO PORTO COMPOSTO POR PEDRO SERRÃO, FILIPE MESQUITA E PEDRO MESQUITA JUNTO A DUAS MASCOTES, DÁ LARGAMENTE QUE FALAR NO MUNDO DO DESIGN PORTUGUÊS. O NOME, POR MUITO SUGESTIVO QUE SEJA, TEM A SUA EXPLICAÇÃO. PACIFICA É MAIS QUE TUDO UMA SENSAÇÃO. UMA SENSAÇÃO DE MUITO TRABALHO, MAS COM UMA COMPONENTE DE DESCONTRAÇÃO MUITO FORTE E IMPORTANTE PARA A INSPIRAÇÃO. PACÍFICA, COMO SEMPRE, MAS COM MUITA FORÇA! Nuno Dias CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 35
Capa e miolo da Belio Magazine
PROCURÁVAMOS UM NOME QUE MAIS DO QUE UMA AFIRMAÇÃO OU IDENTIFICAÇÃO, FOSSE OU CRIASSE UMA SENSAÇÃO. PACIFICA É UM NOME EMOCIONAL, PORTUGUÊS E INTERNACIONAL. De onde surge o nome This Is Pacifica? O nome This is Pacifica, surgiu por necessidade mas também por intuição. Procurávamos um nome que mais do que uma afirmação ou identificação, fosse ou criasse uma sensação. Pacifica é um nome emocional, português e internacional. 36 // www.IDIOTMAG.com
A trabalhar no projecto “La Boheme”
TEMOS IDEIAS QUE SERVEM ESTRATÉGIAS. SÃO IDEIAS QUE RESULTAM DO NOSSO INSTINTO, DA NOSSA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL E DAS NOSSA EMOÇÕES. SÃO IDEIAS QUE SUSTENTAM MENSAGENS. São tres no gabinete. Sempre foi assim? como começou o This Is Pacifica? A Pacifica reúne desde o seu inicio 3 pessoas que partilham o mesmo ideal, a mesma amizade e a mesma visão. Hoje a Pacifica além do seus fundadores, tem uma equipa que varia de acordo com a necessidade dos projetos que desenvolve. O mais importante em todo o caso é que a sintonia e ambição de dar corpo a projetos seja sempre a mesma.
O vosso trabalho é um misto de técnicas diferente: carimbos, derrame de tintas, desmaterialização de materiais, composiçoes geometricas... Como é o vosso método de trabalho? Em que ponto é que o computador entra como ferramenta de trabalho? Temos ideias que servem estratégias. São ideias que resultam do nosso instinto, da nossa experiência profissional e das nossa emoções. São ideias que sustentam mensagens. Concentramo-nos em boas ideias sem nos condicionarmos por fórmulas ou ferramentas em particular. O propósito de cada projeto acaba por ditar uma abordagem que consideramos ajustada, obviamente que a diferenciação existe na materialização e na forma como contamos a história de cada marca ou projeto.
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“CONTINUAMOS A TRABALHAR O LADO DIGITAL DA BELIO, QUE É MAIS BARATO DE MANTER. PODÍAMOS TER DITO: FECHAMOS! MAS DECIDIMOS CONTINUAR A IR PARA A FRENTE...”
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Projecto “vintevintevinte”
This is? branding, open house, editorial, friendship, eco, sea, communication, playful, green, graphic space, sunny, motion, family, digital, ideas, analog, inspiration,overview, network, mags, olivetree, details, picnics, pictures, icecream, problems, solutions, cards, meetings, skate, toasts, challenges, packaging, sand, wine, music, opinions, style, rain, people,newmedia, everywhere, you. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 39
“FITEI”
Trabalham em Portugal e além fronteiras. Como surgiu essa internacionalização? A internacionalização, surge como uma extensão natural do nosso trabalho. na realidade não altera nada. A forma como abordamos projetos, quer sejam estes locais, nacionais ou internacionais, parte sempre da mesma inquietude, da mesma natureza. A internacionalização existe também na forma como acolhemos pessoas que vêm trabalhar conosco em regime de estágio, neste momento na Pacifica temos o Marian Jo (Esloveno) e o Yilmaz (Turco), já tivemos Franceses, Espanhóis, Itailianos, vamos ter Alemães e esperamos ainda diversificar mais. Consideramos que o input que toda esta diversidade dá ao estúdio um patrimonio valioso e enriquecedor na forma como encaramos cada projeto, cada desafio. 40 // www.IDIOTMAG.com
Já figuram trabalhos vossos em livros como o Logology 2. Como se sentem quando veem o vosso trabalho reconhecido? A forma como o trabalho é reconhecido, por meio de edições (só este ano vamos constar em 14 livros de design), prémios (nos 5 anos de existência são mais de 30) ou mesmo convites para figurar como jurís internacionais (Cannes Lions, El Ojo IbéroAmericano, European Art directors Club) revela que o nosso trabalho mais do que reconhecido, ganha expressão e notoriedade. Não sendo essencial na relação que temos com cada projeto, é importante na afirmação da Pacifica como uma solução credível e competente na resolução de projetos criativos, nacional ou internacionalmente. Crise. Sentem-se afectados de alguma maneira? A Crise é uma palavra feia, usada muitas vezes para justificar a falta de ousadia, de ética e de moral. Não nos identificamos com a crise. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 41
“Porto Hub”
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Hoje em dia quem têm como clientes? Alguns dos clientes com quem trabalhamos: FITEI, Optimus, TEDx, OODA, Ramos Pinto, Goin’ Porto, Red Bull, Exceed, La Bohème, Ricon group, Transdev, JCC, FAA, Monseo, Rise and Flow, Zilian, RAAD, Loopa, Ever Jets, Lagar de Darei… entre outros.
A trabalhar no projecto “La Boheme”
Agora para fomentar a discussão que temos criado entre os designers com quem falamos, o design, é arte, ou não? O Design tem como pressuposto a existência de um briefing, logo de uma necessidade, de um problema, de uma solução. É a resposta pessoal a uma questão não pessoal. Arte não exige respostas, exige perguntas, reflexão. É a resposta pessoal a uma questão pessoal, é uma inquietude íntima. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 43
O que quer dizer Freshkitos e como surgiu a dupla? Freshkitos foi apenas um nome que saiu na altura e que não tinha nenhum significado importante, na altura umas fãs espanholas que tinham uma marca de roupa de nome “Freskitas” deram o mote . Por um lado viamos o nome como piroso , mas também nos riamos com ele e talvez pela sua frontalidade seguimos em frente pois a ideia era refrescar o conceito de djing e o nome era apenas um nome mas já dizia alguma coisa. A dupla surgiu de forma natural, já partilhavamos a cabine mas anunciados individualmente. Depois apareceram os frescos. Inicialmente o nosso setup era composto por 3 gira-discos, 3 leitores de CD’s e uma mesa de mistura - todo este equipamento profissional, claro - no entanto e face a consecutivas falhas no cumprimento das questões técnicas por parte de alguns promotores e clubes passamos depois a utilizar o hardware e software Serato. Hoje em dia o Traktor Scratch. Tocaram em todas as edições da evolução do Neopop. Falem-nos da ligação que têm com este festival. O Neopop é o nosso festival. A ideia do festival partiu de nós em conversa há oito anos atrás, tornou-se realidade e é com muito orgulho que somos residentes e uma das bandeiras do festival. Ali sentimo-nos em casa e vemos a música electrónica ser celebrada com pés e cabeça. 44 // IDIOTMAG www.IDIOTMAG.com
Para além do Neopop sabemos que andaram a pôr o país a dançar de norte e sul. Contem-nos como foi. Queremos também saber uma das vossas mocas! Uiiiiii.... A nossa tourneé de Verão! Infelizmente também tivemos dois festivais cancelados, o Freshweekend na Corunha e o Balaton na Hungria mas os que fomos superaram as expectativas e temos boas experiências para contar e recordar. Não só de festivais se compôs o nosso Verão, pelo meio tivemos tempo de percorrer muitos bares e discotecas pelo pais fora. SBSR 2012 foi o primeiro , seguindo-se o Boom Festival, Sudoeste, Neopop, Surf At Night entre outros muitos eventos... Foram todos muito fortes pois apesar de termos públicos diferentes mexemos com eles e ainda tivemos a sorte de estar entre amigos tais como o Expander que nos proporcionou momentos hilariantes no SW2012 ou ouvir o Rui Vargas e o André Cascais no SBSR2012 a dar música com pés e cabeça. Pelo meio toda a nossa crew foi importantissima para nós e enumero a Maria, o Né, o Rui Silva, Paula Dias, Jaakko, Juan Prieto, Flora, Vânia, Catarina, Bé, Pescas, Mila, Luio, Mendez, Yassine, Wailers, Tero, e muitos outros (que nos perdoem os que ficaram de fora.. Vocês sabem que estão sempre conosco). No Boom tivemos uma tarde épica e dura junto ao lago e mesmo dentro dele...
Em 2008 abriram o Gare Clube, já galardoado com vários prémios no mundo da música electrónica, e seguramente um dos clubes com melhor programação do País. O que é que nos querem contar desta grande aventura da vossa vida? Foi uma grande aventura e continua a ser apesar do Gustavo estar agora apenas dedicado ao Neopop e a outros grandes eventos. Continuamos juntos nesta aventura e pelo aspecto da coisa ainda está para durar. O Gare clube foi o concretizar dos nossos sonhos, um clube para os dj’s, ou neste caso, para os artistas em geral, um clube para toda a gente, um clube para se venerar a música e um clube para conhecer música. Ali o que conta é o feeling da cena e com que fizemos o clube e trouxemos uma parte de todo o mundo ao túnel. A música é o centro das atenções sendo que é importante recriar todo um ambiente envolvente e coerente com o que ali se passa. Diziamos que o Neopop é o nosso festival, o Gare é o nosso Clube.
Apoiaram-nos desde o início do nosso projecto. Consideram-se uns grandes Idiotas? Completamente, ou não tinhamos demorado duas semanas para responder a este interrogatório de meia tijela! :) FORÇA IDIOTAS! Tocam regularmente com os melhores dj’s do mundo. Há alguma história engraçada que queiram partilhar? Bem, há muitas, mas por uma questão de ética profissional não podemos partilhar convosco pelo menos na totalidade. já tivemos um pouco de tudo, um dj que não comia nem deixava ninguem à volta dele comer ovos, um dj internacional a querer desligar-nos a música porque queria começar 15m antes da hora prevista, outros que tamanha era a moca que nem conseguiam tocar. Um dj internacional bem conhecido quando ia-se estrear no Gare, chegamos ao aeroporto para o ir buscar ligamos-lhe e ele estava a acordar em casa dele a pensar que não tinha nada para fazer, ou outro dj de uma banda conhecida que foi jantar bebeu uma garrafa de vinho e adormeceu e não tocou! Nuno Dias // João Cabral
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ESTE MÊS, A IDIOT MAG CONVERSOU COM MIGUEL SERENO. UM DESIGNER DE JOALHARIA DA NOSSA GERAÇÃO, ARRISCANDO-SE A CRAVAR A SUA MARCA “MIGUEL SERENO JOALHEIRO” NAS NOSSAS VIDAS. FOI TAMBÉM UM DOS ARTISTAS A EXPOR NA IDIOT ART 2, E, NESTA PEQUENA ENTREVISTA, RELATA A SUA VISÃO E PROCESSO ENQUANTO YOUNG DESIGNER: Como começou a marca Miguel Sereno Joalheiro? Sempre sonhei criar a minha marca. Quando acabei o curso não tinha grandes perspectivas de emprego, então decidi arriscar. Encontrei o atelier na Rua da Vilarinha no Porto, no qual pude desenvolver o meu trabalho. Vejo que és um designer com um conceito minimalista. O que te leva a esse registo? Tenho um gosto especial por formas simples e concretas, desde a básica figura geométrica à sensualidade das curvas orgânicas. Gosto de jogar com as duas até chegar ao equilíbrio.
Calendário para os próximos meses? Onde te podemos encontrar? De 19 a 23 de Setembro, vou estar na PortoJóia na Exponor com stand, associado ao colectivo de Designers LusaDesign. No primeiro dia apresento a colecção no meu primeiro desfile de novos criadores. De 9 a 14 de Outubro, parto para terras alfacinhas onde vou estar presente na Lisboa Design Show na FIL.
Como disseste é o teu primeiro desfile, um acontecimento importante na tua carreira. Como encaras este outro lado da produção e apresentação do teu trabalho? Tens um método de trabaSinceramente esta ideia lho definido? no início assustou me um Não tenho um método debocado. Contudo, sei que é finido. Geralmente, começo algo que não posso encarar por fazer uns esboços com a meio gás e que me devo as ideias que me surgem. Às entregar de pés e cabeça. vezes, recorro a maquetas Por isso, ao nível da produde forma a esquematizar o ção pensei desde a música processo de trabalho, até à maquilhagem e à criação porque, na joalharia, todo o do vestuário como pano de processo de construção se pode comparar a fundo que complementam e transmitem a um puzzle. identidade das peças. Os pormenores e o riAlgo que me dá grande gozo, por exemplo, é gor para mim são essenciais, tanto nas peças sentar-me na banca e começar a modelar o como em todo ambiente criado à volta delas. material. Nesse processo começam a surgir ideias, pela forma que o material se compor- Quais são as tuas perspectivas para a fase setou ou as texturas que surgiram, que muitas guinte? vezes se revela a ferramenta da criatividade. Fala-se muito da crise, mas mantenho-me optimista quanto ao futuro, penso que essa Certamente encomendam-te peças, algumas deve ser a chave para não perder a garra. Concom um valor sentimental acrescido. É difícil as- tinuar a desenvolver o meu trabalho, talhansociar a visão do cliente à tua? do um caminho e nunca fugir à minha própria Nada melhor que dialogar, deixando-o expor identidade. Investir cada vez mais na minha os seus desejos, gostos ou imposições. A par- formação, tanto a nível prático como teórico, tir daí apresento as minhas ideias indo ao en- mantendo-me em constante actualização. contro do objectivo pretendido, ou seja, o seu Espero com estes próximos eventos conseadorno tão especial, nunca deixando a minha guir mostrar e consolidar a marca, inicialmenidentidade de fora. te no mercado nacional e quiçá no futuro, fora de portas… 46 // www.IDIOTMAG.com
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M O C . G A M T O I D .I
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ILUSTRAÇÃO INÊS PERES//
JÁ NOS ILUSTROU A CAPA DE JUNHO, JÁ EXPÔS NUMA IDIOT ART, AGORA VOLTA À IDIOTISSE, DESTA VEZ EM FORMATO COLECTIVO - VHS#17 - NUMA EXPOSIÇÃO INTIMISTA NO JARDIM DAS VIRTUDES, DIA 22 DE SETEMBRO 50 // www.IDIOTMAG.com
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*aviso antes de ler, a pedido do editor, nesta crónica pululam obscenidades e relatos para maiores de 18… tabuísmos… “preconceito [prikusajtu]. s. m. (Do fr. pre- + conceito). Ideia ou conceito previamente formado que interfere no comportamento do indíviduo. Os preconceitos racias conduzem à segregação. in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001
Fazia este Setembro dois anos que Patrícia tinha iniciado uma das histórias que mais a tinha desafiado, uma história longa de tempo passado a falar num entendimento estranho entre linguagens diferentes. Uma história cuja curta concretização valeu, mais que pelas fodas e noites passadas em tremer, pela surpresa da capacidade de nos relacionarmos-nos uns com os outros, seja qual seja o nosso mundo e história de vida, difira a nossa educação e discurso, relembrando que entre dois seres humanos impera o respeito e a admiração mútua. Acabou ao mostrar que os preconceitos do outro são muitas vezes o nosso limite. Patrícia, por muito plebeia que pudesse parecer, era uma burguesinha, bem criada, arranjada e letrada. Gostava de boa música, programas refinados e cinema europeu. Nesse Setembro, mudou-se de casa para o centro do Porto. Para um daqueles bairros entre a má fama e a conveniência da centralidade, perigoso para uns e demasiado familiar para outros. Embora se sentisse a dar nas vistas, ali sentia-se bem, no meio dos seus (tão quanto ela) desajustados, dos ligeiramente esquecidos e dos burgueses boémios falidos, como ela. Foi aí q G. apareceu, trocaram olhares e sentiu algo a faiscar. Presa a uma relação e rejeitando o insólito da atracção, olhou nos olhos e seguiu caminho, ignorando o boné bem clássico e a sapatilhinha de mola. G. era um chunga, um mitra, um guna. E Patrícia ainda é uma marquesinha. Não paravam de se encontrar e com um Setembro mais quente que o verão que tinha passado, cada vez que vinha à janela deparava-se com a vista. G. de t-shirt tirada a despejar lixo e suar. Tão primário que não percebia o porquê daquilo a atrair. Afinal o seu estilo eram senhores… nunca tinham sido nem feios, nem porcos, nem maus. Ele olhava-a bem, a única amiga que soube cedo da atracção dizia que era com devoção. E a partir da primeira conversa, em que Patrícia lhe perguntou o porquê da santinha tatuada criou-se uma corrente magnética inquebrável. Começaram a falar a partir daí e durante nove meses passearam a saber que não se podiam tocar e a falar mais do que algum dia seria esperado que se permitissem. G. era um homem bom, com uma vida tremendamente dificil, Patricia era uma boa menina, com uma vida em que tudo lhe tinha sido facilitado. E caraças, o homem sabia o que era uma utopia. E tinha-lhe muito respeito porque a sabia tomada. Acompanhava-a em longos passeios, levou-a a tomar um chá à Ribeira, enquanto bebia as suas supers e levantava a camisola para expor o peito peludo ao sol. E os dois controlavam aquela tusa mútua que os mortificava e 52 // www.IDIOTMAG.com
lhes dava mais uma razão para se encontrarem. Ficaram-se a conhecer, confessaram-se um ao outro, os sonhos, planos, anseios e passados. E era tudo tão diferente, mas ambos se aceitavam. E nas noites de futebol ela via o animal, animado, ao de longe, e nos afters ele via-a solta, descontrolada, à janela. Até ao dia de uma revolução, em que ele estava preso a ela e ela livre de mais ninguem, e na mesma janela de onde ela o via, nos meses anteriores a pavonear-se de um lado para o outro ao seu olhar, fugiram do magote que se juntava na sala dela e fizeram a derradeira confissão. Patrícia sentiu-lhe o tesão nas calças e ele enfiou a mão nas dela surpreso e deliciado ao não encontrar mais nada senão o seu sexo a pulsar, sumarento e aberto, doce e preparado para o que estava a encontrar. Comeu-a com os dedos enquanto os outros bebiam cerveja na divisão do lado, fizeram desgraças de amor naquela janela, expostos e aterrados com a quimica com que estavam a deparar. Nessa noite, expulsos os revolucionários de casa, houve a sua realização, a conquista do que os dois esperavam. E aquele homem tão bruto era, nas mãos de Patrícia, pão com manteiga, de uma doçura vinda do fundo do sorriso de a tomar. De tão intenso que cada vez que dormitavam recomeçavam o enroscar, de gemidos bons (e Deus!, diz Patrícia, que gemer docinho tinha aquele homem entre as suas pernas) e de um riso baixinho da marquesita de cada vez que abria os olhos e via na sua cama o anómalo e explosivo. Uma volta de prata, a tatuagem do futebol, a religiao nas costas e o crucifixo no peito. Na cama de Patrícia, onde andavam dandies e doutores, o estranho corpo de G. e o prazer extraordinário de se terem. Por mais umas semanas, as visitas dele continuaram. E chegava à sua cama e dizia “hoje sou rei”. E Patrícia contorcia-se em cima dele de prazer, montava-o e era ela muito mais a besta e o animal, sorvia todo o desejo enquanto agarrava com firmeza no pau do devotado. E com vidas tão diferentes, deu por si a chegar do bar chique e parar uma luta de rua, sabendo que a sua mão, acontecesse o que acontecesse, o acalmava. Levou-o para casa coberto de sangue dos outros, deixou-o chorar no seu colo. E soube que nos braços de uma mulher, um homem é tantas vezes um menino. A história era linda e Patricia sabia-se livre, dizia-lhe de antemão que não só com ele se encontrava, precavendo a saúde e segurança dos outros amantes, dizia-lhe que queria ter muitos, homens, mulheres e filhos, mais tarde, e no meio de tanta diferença, conseguia ver na mesma um futuro com aquele homem pelo qual aos poucos também se apaixonava. Mas um dia algo se partiu, a crença que todas as diferenças eram superáveis. Porque o que G. aceitava a Patrícia, e a ela tudo aceitava, não era regra para os outros. E no dia em que Patrícia o atirou para a cama e fodeu com uma violência desmedida, à luz do sol e meio do dia, outra razão se iluminava. Fodeu-o a ver se se calava, porque de repente já não aguentava, tinha começado a dizer basbaquices homofóbicas e por muito que Patrícia quisesse, ali nada se explicava. Assim entendeu, a tolerância dela ali terminava, no preconceito inamovível dele. Quando G. já não passava do que vivia, quando G. não pensava.
Ilustração: André Ventura
Com Setembro a trazer de volta o regresso às aulas e aos penosos trabalhos, abandonando para trás os dias relaxados de verão, espraiados na praia ao sabor de mimos, sugere-se este mês uma ferramenta disciplinadora. Forrada a veludinho rosa e decorada com um coração negro, esta palmatória dá-nos vontade de por uns momentos sermos todos maus e más meninos e meninas, imediatamente pondo-nos a jeito para o castigo. Numa altura em que se fala de BDSM e livros com um veio kinky bem presente se tornam bestsellers, já deveriam saber que Carmo da Maleta vos recomenda há muito que deixem de ser baunilha (os poucos que aindam são). Com a pressão certa e a mão firme deixa um formigueiro bom e uma vermelhidão convidativa a uma festinha e beijinho à espera do próximo tau-tau. A Love Paddle é para iniciar as artes do spanking, alternando e poupando a mão, surtindo outro efeito. Aconselha-se a procurar carnes para o impacto. E então, este Setembro, dá-se a mão à palmatória, ou o rabo? Encontram-se estes e outros úteis acessórios em reuniões d’A Maleta Vermelha, através de Carmo da Maleta. “LOVE PADDLE” – 9.90€
carmodamaleta@gmail.com // +351 932 275 029
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fotografias 速Telmo Fernandes Budapeste 2012 54////www.IDIOTMAG.com IDIOTMAG 54
A IdiotMag aproveitou os descontos fajutos de Verão e decidiu embalar a trouxa e viajar até… Budapeste! A capital da Hungria, palco de histó-nada-te-vai-acontecer. Ou seja, desde rias sangrentas e de ditaduras violentas (nazis e que não se declare, pareça, manifeste ou comunistas) ao longo do último século, tornouse exprima enquanto tal, uma pessoa LGB -se agora uma cidade vibrante, repleta de surou T não terá problemas. Contudo, o cepresas e pronta para mergulhar no futuro, sem nário muda se se tentar ser mais explícito, contudo perder a sua identidade (risco real que ou, o que vai dar ao mesmo, se se romper correm todos os destinos turísticos de grande de alguma forma com os códigos restritos afluência). Decidimos tentar perceber como do género e da heteronormatividade. A é ser LGBT nestas belas margens do Danúbio. lei sanciona a discriminação com base na Com a ajuda de amigos, colaboradores de uma orientação sexual e identidade de género das principais associações húngaras – a Hatter (no trabalho e no acesso a bens e serviços), Suport Society – tivemos o privilégio de atraidentifica crimes de ódio com base nestes vessar aquela difícil fronteira que separa o simcritérios e é possível estabelecer uma união ples turista do gajo que realmente experimenta civil entre duas pessoas do mesmo sexo viver (ok, por uma semanita) numa outra reali(algo semelhante ao nosso regime de unidade. Com os nossos anfitriões ficamos a saões de facto). Mas o relativo secretismo que ber que ser activista neste contexto pode trarodeia ainda muitas das actividades (activiszer alguns dissabores: a marcha pride de 2008 tas, lúdicas e outros serviços de apoio), lefoi atacada por grupos extremistas e desde vanta sérias dúvidas relativamente ao grau então o evento realiza-se sob algum sigilo e de aceitação e integração. Em julho foi orgacom protecção policial reforçada. nizado o evento EuroGames, cuja localização Como muitas outras cidades europeias, Bufoi mantida em segredo até à última da hora dapeste dispõe de um pequeno roteiro de para prevenir ataques. Algumas pessoas rebares, discotecas e clubes, maioritariamente latam mesmo um recrudescimento recente concentradas na parte de Peste. São muito de atitudes homofóbicas e transfóbicas, que concorridos os eventos LGBT organizados tem tido como consequência a inibição da licom regularidade em espaços ‘straight’, o que vre expressão das identidades LGBT. contribui para uma mistura de públicos que é Conhecer outras realidades é uma das mede saudar e de incentivar noutros locais. Para lhores formas de compreender a nossa próalém destes espaços, existem os lendários pria realidade. Permite-nos alargar as nosbanhos termais e saunas temáticas, como sas referências de pensamento, flexibilizar a Magnum, para um público exclusivamente as nossas reflexões e, com isso, esperemos, masculino. As lésbicas, também aqui, estão identificar melhor as alavancas de intervenmuito ausentes do espaço público. ção e… pôr mãos à obra para a construção da Aproveitámos para visitar alguns bares, com diversidade (da qual, by the way, tod@s fazeum grupo verdadeiramente internacional mos parte). Telmo Fernandes (composto, entre outros, por húngaros, checos, iranianos e espanhóis), seguindo depois Contactos úteis: para a celebrada noite do clube Alterego. As Associação Hatter (Budapeste): http://www. impressões foram muito positivas: um púhatter.hu/ blico heterogéneo, com casais de todas as Projeto Porto Arco-Íris/Associação ILGA Portucores e um equilíbrio de género raro neste gal: porto@ilga-portugal.pt contexto (de resto, música muito simpática, infelizmente com a esmagadora e normativa hegemonia anglo-saxónica). O que é ser LGBT na Hungria?, perguntamos. Parece prevalecer o registo, demasiado familiar, do não-levantes-ondas-queCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 55
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ILUSTRAÇÃO MESK //
ESTE ARTISTA URBANO É UM DOS CONVIDADOS DA IDIOT MAG NO DAY & NIGHT, QUE A 22 DE SETEMBRO NO JARDIM DAS VIRTUDES VAI PINTAR AO VIVO UM MURAL CAPA DA IDIOT MAG
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QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU? FEMINISMO: RÁPIDA RESENHA HISTÓRICA, DESMONTAR DE ALGUNS MITOS E PORQUE HOMENS, MULHERES, TRANS E TODAS AS OUTRAS IDENTIFICAÇÕES DE GÉNERO DEVEM TER ORGULHO EM SER FEMINISTAS.
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fotografia © Sarah Maple
Quando era novinha, desde o momento que aprendi o abc, quando não sabia o significado de algo, a resposta comum era: “Vai ao dicionário!”. E assim aprendi o queria dizer samaritano e inexorável. E me tornei curiosa e desenrascada. Mas depois há sempre aqueles bichos maus, que sem sabermos bem o que é, sabemos que não queremos ser, as palavras que os media e a sociedade nos ensinaram a ver como perigosas, extremas, carregadas de sinónimos tão antónimos do que são, como ovelhas em pele de lobos. Parece-me que dois deles ainda imperam. Os anarquistas, ai os perigosos anarquistas (um dia destes lá iremos, também.) e as extremistas feministas! Primeiro, não são as feministas, são os feministas, as feministas, xs feministas! Não é cláusula sine qua non ser portadora de vagina para ter uma ideologia feminista, parece-me muitas vezes que a única cláusula neste caso é o mínimo de bom senso... E do que nos lembramos quando pensamos
em feminismo, das sufragistas que lutaram pelo voto das mulheres, dos movimentos que lutaram pelos direitos laborais nos anos 40, de tipas de pelo na venta, e debaixo dos braços, de outras que condenaram a pornografia e os meios de comunicação pela objectificação da mulher e, claro, daquelas loucas que queimam sutiãs e odeiam homens! História, história, parcialidade e distorção, distorção. Efectivamente, o primeiro movimento feminista, é um movimento pela igualdade de direitos de uma minoria de direitos. Lutou-se, e conseguiu-se a cada luta, voto e igualdade legislada para ambos os géneros, a par com lutas contra a segregação racial e escravatura, ao qual as primeiras feministas sempre estiveram ligadas. Em 1792, Mary Whollstonecraft, escreve “A Vindication of the Rights of Woman: with Strictures on Political and Moral Subjects (1792)” que defende não apenas o direito à educação como afirma que, da igualdade na formação de ambos os géneros, depende o progresso CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 59
da sociedade como um todo. Seguem-se as sufragistas com a luta pelo acesso ao voto e existência legal. Nos anos 60, 70 surgem movimentos de liberação feminina iniciados vê como as definições essenciaque lutam pela igualdade legal e so- listas da feminilidade, questiona o cial para as mulheres, surge o mote porquê da heroínas libertadas te“o pessoal é político” que chama à rem tudo, carreira, poder e continuluz desigualdades culturais e po- arem à espera do principe que as líticas das mulheres como ligadas liberte, defende a autodeterminainexoravelmente, e encorajava mu- ção sexual e aos direitos do próprio lheres a compreenderem aspectos corpo. Mais recentemente surgem das suas vidas pessoas como sendo as Slutwalks contra a cultura de profundamente politizados, refle- violação. Ao mesmo tempo o femitindo as estruturas de poder sexis- nismo alia-se à luta pelos direitos tas. Surgem termos como patriarcal lgbt e a movimentos de direitos de e Simone de Beauvoir entoa “On ne animais, surge também o ecofeminaît pas femme : on le devient.”, na nismo. obra de referência O Segundo Sexo. Em todos os movimentos há nuComeça uma era onde se pensa o ances, defesas de direitos diferentes, posições contrárias, há género mais como genital, cultural. O feminismo nos anos 90/ 2000 muitos feminismos, lutas de privisa desafiar ou evitar aquilo que meiro e terceiro mundo. Em todos eles uma constante, a igualdade e a defesa das minorias. Étnicas, sexuais, de género, raciais, de direitos.
Janeiro 2008, Tyra Banks e membros da audiência do “Tyra Banks Show” manifestam-se nas ruas de Nova Iorque
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GUIA RÁPIDO PARA NÃO METER A PATA NA POÇA FEMINISMO Defesa da igualdade de direitos entre todos os seres humanos, sem distinção. Quando necessário, através da discriminação positiva da mulher. MACHISMO Falsa superioridade do homem sobre a mulher. Provoca discriminação e violência física e verbal. MISOGINIA Ódio a qualquer elemento ou representação do género feminino. MARIANISMO OU MÍSTICA FEMININA Falsa superioridade da mulher sobre o homem. Provoca discriminação e violência física e verbal.
O MITO DAS MULHERES QUE QUEIMAM SOUTIÃS. Anos 60, mulheres queimam soutiãs em revolta contra a estrutura opressora. Uma declaração poderosa, simbolicamente declarando o desejo das mulheres pelo seu poder feminino para estourar as restrições patriarcais e de afirmarem livres, não mais confinadas pelas rendas e spandex da moral social tradicional. O QUE ACONTECEU NA VERDADE Nunca aconteceu, tanto quanto qualquer um pode dizer. Mulheres em Nova Yorque protestaram contra o concurso Miss America 1968
atirando vários itens numa lata de lixo, incluindo sutiãs, cintas, sapatos de salto alto e revistas femininas, rotulando-os de “instrumentos de tortura”. Mas o fogo não estava envolvido, nem as mulheres realmente removeram os seus sutiãs no protesto, inexplicavelmente optando por reunir os sutiãs de antemão, e permanecem completamente vestidas. Como estavamos no rescaldo dos protestos contra a guerra do Vietname, onde era comum a queima das cartas de chamada ao exército como forma de protesto, confundiu-se tudo. Afinal, todos perigosos terroristas são amantes da paz e igualdade, não é?
Cartaz “Feminism is far more complex than Rosie the Riveter.”
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Cheris Kramarae Paula Treichier
PORQUE É QUE EU PRECISO DO FEMINISMO?
Porque o meu género não pode ser justificação para pagamentos mais baixos, nem discriminação no acesso a cargos decisórios. Porque quero que mais mulheres cresçam com exemplos de mulheres em cargos políticos de poder, com heroínas ficcionais como a Lisbeth Salander, que não precisa de homem nenhum para se salvar, mas se salva a si mesma. Porque nunca a minha beleza deverá, desde criança, ser priorizada em relação a outras qualidades como a criatividade, inteligência e indepêndencia. Porque o facto de ser mulher não pode servir para me minorarem num meio científico, como aconteceu Ben Barres, neurocientista trans, antes a já conceituada Barbara Barres, e que no primeiro seminário que dá como homem já, ouve comentários como “O trabalho do Professor Barres é bastante superior ao da sua irmã Barbara.” (grande gafe, não é? – ver http://online. wsj.com/article/SB115274744775305134. html para mais informação). Porque tipos como o Todd Akin, congressista norte-americano, continuam a dizer barbáries como que uma violação legítima nunca dá origem a uma gravidez. (http://www.newyorker. com/online/blogs/closeread/2012/08/whatdoes-todd-akin-think-legitimate-rape-is.html). 62 // www.IDIOTMAG.com
Aconselho também a leitura deste artigo: https:// womenriseupnow.wordpress.com/2012/08/20/ todd-akin-has-figured-out-my-secret/ Porque me ajudou a tornar mais atenta a uma série de comentários paternalistas destinados a minar a minha autoconfiança. Porque tenho direito ao pleno livre-arbritio do meu corpo e não existem tais coisas como comportamentos de senhora. (http://slutwalkporto. wordpress.com/manifesto/) Porque a minha função neste mundo não é ser personagem secundária na história de um qualquer herói, como a maioria das ficções e filmes me quer ensinar. Porque o facto de estar grávida não pode ser justificação quer para o não acesso a um trabalho, quer para despedimento. (http://www.lavanguardia.com/sucesos/20120531/54302054539/ mango-despide-empleada-quedarse-embarazada.html) Porque existem homens, mulheres e trans vitímas de violência doméstica. Porque não só no terceiro mundo, mas também no primeiro ainda existe muito porque lutar. Porque como eu, muitos outros acreditam na igualdade e sabem o nome disso. Feminismo. Por tantas outras razões. Visitem: http://quemprecisadofeminismo. tumblr.com/ e http://whoneedsfeminism.tumblr.com e descubram as vossas razões também! Carmo Pereira
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ESTA SESSÃO FOTOGRÁFICA É O RESULTADO DO PASSATEMPO “IDIOT MAG // LA FOINOGRAPHE”. OBRIGADO ALINE! fotografia © Aline Fournier http://www.lafouinographe.com/ modelo: Carlota Vasconcelos 74 // www.IDIOTMAG.com
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Passar em frente a uma smart shop quer seja numa as ruas da baixa portuense ou no Bairro Alto e saber que ali eram comercializadas drogas legais sempre despertou em mim uma enorme curiosidade. Perceber como, e o porquê de aquele espaço comercial ter obtido licenciamento das entidades publicas para a comercialização de substancias psicoactivas de forma legal, em contraste com outras leis proibicionistas praticadas em Portugal e na Europa, fizeram com que formulasse algumas questões na minha mente para as quais tentei encontrar resposta: como é possivel eu aceder a uma smart shop e comprar canabinoides sintéticos de forma legal, se não posso cultivar uma planta de canábis, sendo que esta é um bem natural que a mãe natureza coloca perante nós? como é possível o estado português gastar milhões de euros no combate ao tráfico e consumo de drogas por um lado e por outro licenciar estes espaços? trata-se ou não de uma questão de saúde pública? estando estas lo78 // www.IDIOTMAG.com
jas devidamente licenciadas e não se conhecendo as suas propriedades, quem se responsabiliza pelos possíveis problemas causados na saúde das pessoas? Se por um lado a canábis continua a ser a substância ilegal mais consumida no mundo, onde os milhares de anos de utilização ainda chocam na hipocrisia das leis proibicionistas, em Portugal, com a descriminalização, criou-se uma mudança na perspectiva em relação ao consumidor de drogas. Este passou de criminoso a doente, do tribunal para a comissão de dissuasão da toxicodependência ou, em última instância, da prisão para a coima. A canábis é de facto uma droga “singular”. Sendo a droga ilegal mais consumida no mundo, o seu consumo, quando comparado com o de outras drogas legais como o álcool ou o tabaco, não justifica a sua proibição. Se num passado razoavelmente recente a ignorância derivada da pouca informação, ou mesmo da desinformação, oriunda de mitos e preconceitos serviram para justificar a sua proibição, actualmente estes motivos já não colhem junto da maioria das pessoas que tem ou tiveram um contacto mínimo com esta droga. Existe, em modo geral, três modelos de enquadramento legal da canábis: o holandês, o norte-americano e o espanhol. O primeiro e mais conhecido, é aquele no qual a canábis é comercializada em coffe-shops, o norte-americano que disponibiliza a canábis enquanto medicamento para o tratamento das mais variadas patologias, e, por fim, o espanhol, que permite o cultivo da canábis para consumo próprio e que, consequentemente, tem levado ao aumento de clubes sociais de canábis - uma espécie de cooperativa de cultivo para consumo da planta. Com o fenómeno de aparecimento das
novas drogas, estes estabelecimentos vendem substâncias com conhecidos efeitos psicoactivos e as autoridades encontram dificuldades em perceber as propriedades dos produtos já que estes são vendidos como fertilizantes e impróprios ao consumo humano. Neste País de IDIOTAS onde a hipocrisia politica e legislativa vive lado a lado com a hipocrisia social faz com que cada vez mais se procure dar uma alternativa legal para o consumo de substâncias ilegais. Nem tudo são questões negativas: se a falta de informação sobre produtos e consequências físicas e psicológicas destes nas pessoas por um lado é preocupante, por outro existe algo de positivo no aparecimento destes estabelecimentos comerciais. A partir daqui começa a dar a cara quem vende e dá a cara, quem compra o que poderá levar ao desaparecimento de quem ilicitamente enriquece. E o Estado começa a receber os impostos da comercialização destes produtos que até agora circulavam de forma ilegal na economia paralela. Devemos caminhar para uma sociedade mais justa e equilibrada sem descurar que cada vez mais, devido aos avanços da tecnologia e da ciência, somos confrontados com novas realidades às quais nos devemos adaptar. Menos hipocrisia por parte dos governantes e das entidades publicas é fundamental para que existam sinergias capazes de evitar problemas para as populações e sobretudo para os jovens. Na minha opinião, todos os produtos comercializados deveriam ser analisados pelo Infarmed para obter licença de comercialização, pois trata-se de uma questão de saúde publica que pode ser grave e para a qual não existe fiscalização nem prevenção e para qual não existira responsáveis no caso de aparecimento de problemas nos consumidores. André Queiros CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 79
Acordei tarde e ainda tenho de fazer a mochila para a praia: Toalha, bronzeador não vá o encarnado encarnar, havaianas, garrafa de água e duas maçãs para me sentir saudável ao lado dos veraneantes mais despreocupados. Mas o mais importante não pode ser esquecido: Verso e Prosa, de Mário de Sá-Carneiro, uma edição da Assírio & Alvim organizada pelo Professor Fernando Cabral Martins. Este livro anda sempre comigo pelo meio da areia e só não o levo para o mar porque correria o risco que a água salgada se agitasse, encapelasse e me devorasse a leitura bem mais rápido que eu e com um efeito sem retorno da obra à vista. O Mar tem este efeito consumidor nos li80 // www.IDIOTMAG.com
vros, devora-os e acolhe a Literatura e a Poesia dentro de todo o mistério da profundidade, mas de vez em quando ainda vemos uma folha ou outra a passear em cima das ondas onde conseguimos ler vestígios de algum poema disperso: “Perdi-me dentro de mim/ porque eu era labirinto,/ e hoje, quando me sinto/ é com saudades de mim…” And what about us? E os livros que nós não devoramos mas que deveríamos devorar? Porque achamos que ficamos menos morenos se dedicarmos um pouco do tempo da praia à leitura? O Sol está lá… queima e bronzeia na mesma! Mas não… temos de estar como o bacalhau, a demolhar ao sol bem salgados e adormecidos junto ao mar por-
que estas praias com iodo diz que fazem bem à saúde e o moreno permanece mais tempo. A praia surge então como uma espécie de intervalo para nos sentirmos abjectos, mas felizes. A leitura cansa o corpo, a literatura desgasta o espírito em cada linha impressa. Ainda se for uma revista do social para as tias comentarem os vestidos das amigas que nunca viram, ainda se fosse um jornal desportivo para os tios a meio duma cerveja discutirem a razão do Sporting não ter ganho o campeonato mais uma vez. Os hábitos de leitura têm relegado os mais habituais a uma sensação de solidão porque ler, ao que parece, também cansa! Mas esse cansaço pode mudar se um dia nos lembrarmos de carregar um livro na mochila da praia: Um dia de sol onde podemos nadar, mergulhar, jogar à bola, raquetes de praia, esculpir um castelo na areia e até demolhar o corpo bem por baixo dos raios ultravioleta. E no fim desse dia, sair da praia, sentar na esplanada, pedir uma caipirinha, duas ou três, e poder
ler um poema “Na sensação de estar polindo as minhas unhas, súbita sensação inexplicável de ternura…” Os hábitos parecem atitudes de rotina e o nosso maior hábito é não ler ou ler pouquinho. Como no dia em que nos apaixonámos pela primeira vez, lembram-se do trabalho que deu conquistar o coração de quem gostámos, o tempo que nos tirou a pensar como haveríamos de dizer o quão amávamos. E que poetas que fomos todos nessa altura, quando pensávamos nas palavras que nos saiam da alma assim com rapidez alucinante. Um livro também é assim, uma paixão, um amor imenso que mal começamos a namorar tem sempre uma ideia maravilhosa que se encaixa, que fica embutida e nos consome de prazer, de espanto. Quantas vezes já namorei com páginas de livros e lhes passava a língua nas margens para namorar mais ainda… É um hábito poligâmico, apaixonante e deliciosamente idiota! Quando fizerem as mochilas para a praia lembrem-se: Juntem um Livro e bom Engate… Rui de Noronha Ozorio CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 81
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Serve esta crónica para falar e pensar na nossa próxima Nobel da Literatura Margarida Rebelo Pinto e comentar aquilo que dá pelo nome de “o estado a que isto chegou”. Ora esse estado é, exactamente, tudo aquilo que qualquer gaja boa que escreva meia dúzia de linhas sem erros ortográficos tenta esconder… As Ossadas! Sendo que o osso precisa de revestimento de carne, também as linhas escritas precisam de se ver envolvidas num certo ambiente carnal que aqueça e, sobretudo, alimente o ego de quem as lê. Com a nossa Magra Margarida que tem nome de flor, mas cuja raiz secou há muito, o problema agrava-se pela falta de descrição com que passeia o seu esqueleto pelas ruas lisboetas e pelas páginas dos livros pontifícios que escreve. A Margarida é uma pessoa do género “Gugui, o Dragão Azul”, indefinível a olho nu. Sabemos que escreve grandes obras da literatura portuguesa que, quem sabe, um dia mais tarde serão estudadas nas faculdades de letras pelo universo inteiro e, como bem sabemos, “Não há coincidências”. Estamos, pois, perante um vulto tão imenso da cultura lusitana que quase lhe poderíamos chamar Margarida Mello Breyner, ou Margarida Vaz de Camões, ou então poderíamos elevar os maiores a uma graça ainda mais substancial… e teríamos um José Saramago Rebelo Pinto ou um Fernando Pessoa Rebelo Pinto. Mas ainda há quem a critique, quem pense que a Margarida não tem qualidade, que a Margarida é uma tentativa de escritora que nunca chegará a fazer parte da história. Calúnia: A Margarida é percursora de Cesariny, de Breton, de Hemingway,
de Baudelaire, de Shakespeare só que nasceu depois. Toda a gente sabe disso! Todos sabemos que não há melhor livro que “A rapariga que perdeu o coração” e que não existe no mundo das letras obra de tamanha qualidade como “I’m in love with a Pop Star”. Mas a Margarida tem um problema com as outras. Poderíamos pensar que ela estava num lugar de pedestal, mas não: Ela tem um sério estigma com as “Gordinhas”. Quando nova, porque a pele já não estica mais, cai e já se nota, a Margarida sofria de Bullying. Pobre jovem escritora, mártir de toda uma civilização cultural que eleva as “Gordinhas” ao cânone de intocabilidade. A Margarida perdeu entrevistas de trabalho por ser magra, era olhada na rua por não ser gorda, foi posta de lado porque não comia e a sua imagem foi enviada para a Somália por acharem que tinha vindo tingida de branco por engano. Oh Margarida como eu rezo por ti todas as noites para que a justiça seja feita à tua magreza! Com o passar dos anos, a Margarida tentou ficar gorda, tradicional porque já não se sentia bem. Sabia que não podia cuspir para o chão, coçar o esquerdo, fazer um xixi de pé, consumir cerveja e até uns charrinhos… tudo coisas destinadas às outras, acções próprias de todas as mulheres que se querem gordas, decentes e bem enquadradas na sociedade. Estudou as “Nazarenas e Matrioskas”, tudo tentou para nunca escrever o diário da sua própria ausência. Margarida estou contigo, não ligues ao que de ti dizem, o problema é das outras porque tu és Margarida e olha… “Sei Lá!”. Rui de Noronha Ozorio
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