Idiot Mag OUT.12

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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1


4 EDITORIAL Às Artes, Invicta 6 ROTEIRO Porto à noite 7 ACTUALIDADE Um Mês, Três Festivais 28 ENTREVISTA Alexandre Farto / VHIILS

40 MÚSICA Adducantur

20 PHOTOREPORT Jardim das Virtudes

38 MANIFESTO Para O Design Português

42 MODA Maria Gambina

46 ILUSTRAÇÃO Tamara Alves

54 HOMO’GENEO Familias Arco Iris

52 TABU A Alcova de Patrícia + review 58 INTERVENÇÃO Festival F.D.P.

62 FOTOGRAFIA La Fouinographe 70 PROVOC’ARTE Wake Up or Stay Asslep 74 O ANTI-IDIOTA 5 de Outubro

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Direcção: Nuno Dias // João Cabral Textos: Ana Anderson André Queiros Carmo Pereira Flora Neves João Cabral Melanie Antunes Nuno Dias Patrícia (Pseudónimo) Rui de Noronha Ozório Telmo Fernandes Tiago Moura Yassine Peixoto Design: Nuno Dias // João Cabral Idiocracy, Gabinete de Design® Capa: Tamara Alves Ilustração: Tamara Alves Fotografia: Aline Fournier Ina Spyra Video: Mariana Oliveira Todos os conteúdos gráficos são da responsabilidade de: IDIOCRACY, Gabinete de Design ® www.idiocracydesign.com Info@Idiocracydesign.com Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico Agradecimentos: Leonor Viegas, Mafalda Sistelo

(*) NENHUMA ARVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!

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Nuno Dias

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SÁBADO DE SOL, A MELHOR VISTA PARA UMA CIDADE, UM TANTO OU POUCO BUCOLICA, QUE HÁ TANTAS GERAÇÕES CONSIDERAMOS NOSSA. FOI ESTE O PANO DE FUNDO PARA MAIS UMA APRESENTAÇÃO DESTA IDIOT, CHEIA DE VIDA E IDEIAS. TROUXEMOS DE LISBOA A TAMARA ALVES, A ARTISTA QUE TÃO APAIXONADAMENTE ILUSTRA ESTA EDIÇÃO E JÁ ANDAVA NUM NAMORO PEGADO COM A IDIOT À UNS MESES. JUNTÁMOS-LHE O MESK, ARTISTA QUE ESTA PAISAGEM TÃO BEM CONHECE E, NO MEIO DA MULTIDÃO, ENTREGARAM-SE DE CORPO E ALMA E PINTARAM-NOS UMA TELA DE 3 METROS. AINDA LHES JUNTAMOS OS VHS#16, UMA FANZINE QUE TANTO GOSTAMOS E EXPÕS OS SEUS TRABALHOS NOS GRANITOS DO JARDIM DAS VIRTUDES. MAS NADA MELHOR QUE VER AS FOTOS, NO PHOTOREPORT DESTA BELA TARDE DE VERÃO! FALANDO EM VERÃO, MESMO JÁ PASSADO O MÊS DE AGOSTO, A IDIOT MAG NÃO DESISTE E VOLTA À CARGA, UM MÊS, TRÊS FESTIVAIS, AQUI TÃO PERTINHO. FALAMOS TAMBÉM COM O ALEXANDRE FARTO, UM DOS NOMES MAIS FORTES DA STREET ART EM PORTUGAL. SE AINDA NÃO CONHECES, VAIS-TE APAIXONAR. ENTRE MAIS UMAS AVENTURAS DE PATRÍCIA, DEMOS AINDA UM PEZINHO DE DANÇA COM OS ADDUCANTUR QUE NOS SURPREENDERAM COM O SEU ENRAIZADO DE CULTURAS MUSICAIS. A TÍTULO DE COMEMORAÇÃO, OS IDIOTAS DÃO AS BOAS VINDAS À ALINE, QUE VEIO DA SUIÇA PARA NOS GRAVAR COM A FOME DA SUA LENTE A SESSÃO FOTOGRAFICA DA EDIÇÃO ANTERIOR QUE NOS APAIXONOU. AGORA NÃO A VAMOS DEIXAR PARTIR. NUNCA MAIS! E VAI ASSINAR MENSALMENTE A NOVA SECÇÃO DE FOTOGRAFIA PELO MUNDO: “ LA FOUINOGRAPHE”. FICOU-NOS NO CORAÇÃO. PARAFERNÁLIA DE ARTES E DIVERSÃO À PARTE, DESCOBRE MAIS UMA IDIOT MAG, UMA QUE VEM DA MAIS PROFUNDA DA NOSSA IDIOTICE! CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 5


15 Outubro // 2º feira Aproveita a segunda para ir ao cinema que é mais barato Sugestão: 7 Dias em Havana // Drama UCI Arr·bida GET SET FESTIVAL // Até dia 7 1 dia 10€, 5 dias 30€ Cinema Trindade + The House + OPO’Lab Rua do Almada // Rua do Bolhão

2 Outubro // 3 º feira Concerto: The e Chargers Armazem do Ch á

3 Outubro // 4ºfeira “Senta te e ri - Clube de Comédia 2 // Aldo Lima+Bruno Nogueira+Eduardo Madeira + Francisco Menezes + Nilton + Oscar Branco Entre 8€ a 20€ Coliseu do Porto

4 Outubro // 5ºfeira Manobras Histórico do Porto o ntr Ce ita o desaSe estás pela Baixa, ace à festa e fio do Manobras.Junta -te para exerciaproveita o resto do dia enção. Sim tar boas práticas de interv porque amanha já é sexta.

5 de Outubro // 6ºfeira Festa de lançamento da BalconyTV Porto // Mocho, Dan Riverman, e Slimmy n DJ set. Plano B

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14 Outubro // Domingo Fica aqui o convite para ir ao maior show de transforismo da invicta Pride bar

12 Outubro // 6ºfeira Enter Porto // Richie Hawtin + Loco Dice + Hobo + Freshkitos das 22:00 até cair, entre 20€ 30€ Exponor // After no Gare

10 Outubro // 4º feira Hoje vamos zumbar nos canecos A entrada é livre e é obrigatório beber Lock bar

9 Ou Estr tubro / / 3ºf eias Às e Cas 21:00, France ira a +inf da Mú a partir sas s ow ww ica // S de 11€ a .cas ada la Sugg mus ica.c ia om

6 Outubro // sábado L!VE 3 Years // Monika Kruse + Rodriguez JR live Matiné Zoo 15:00 ·// Gare 00:05

13 Outubro // sádabo Urban Trail Night Race parPrepara as pernas e vem ada ticipar na corrida e caminh nocturda da invicta // Das 20h às 24h // 18€ Corrida com oferta de luz a frontal e t-shirts // Ribeir

11 Outubro // 5º feira Siga lá ao Tendinha beber um fino que ainda ganhas um bilhete para os melhores concertos: Noite De Sabor Autêntico // O Puto Tendinha Clérigos

8 Outubro // 2º feira Se não tiveste tempo nem memoria para contares as novidades do fim de semana aos teus amigo, convidaos a jantar no PIMMS! a partir de 13.50 por pessoa Rua do Infante Dom Henrique 95 - Porto

7 de Outubro // Domingo pontiaq // oOoOO(USA)+RA+IVVVO Os convidados para esta noite são Christopher Greenspan, mais conhecido por oOoOO, e que vem apresentar o seu disco “Our love is hurting us“, Ricardo Remédio, com o seu projecto a solo RA para mostrar o EP “Rancor” e, ainda, IVVVO, a fechar a noite com o seu primeiro LP “Occult“. Plano B


20 Outubro // sábado 1ª LINHA c/ The Black Mamba // João Dinis + Nuno Carneiro + Ratusfari + LuÌs Abreu Pitch

21 outubro // Domingo Keane 21h, entre 23 a 30€ Coliseu do Porto

26 Outubro // 6º feira Cuidado que os melómanos saem à rua. Começa hoje o Amplifest’12, com duração de 3dias 3 dias: 60€ Hoje: Passos Manuel

do e Domingo 27 e 28 Outubro // Sába Optimus Clubbing // // 17€ sábado: John Cale // 22h Canibal ria xu Lu o domingo: Adolf // 23h59 // 5€ Casa da Música

17 Outubro // 4º feira E bamus lá ao “Bibá Baixa” // Nuno Carneiro + Alternative Sound System + Ricardo Reis + Rafael Pinho Pitch

18 Outubro // 5º feira Às quintas o rock é puro e duro Pherrugem Bar

19 O L!VE utubro Fak Move // 6º fe i+S men ira t t & N eve Par // Len uno ker Gare Carneir + Dig Port o o

16 Ou tu Finos bro // 3º fe ira a 1€ / & Bon / Flesh es V5 ba r

22 Outubro // 2º fe ira Hoje eu parlo em fra ncês... Começa a 13ª Fest a do Cinema Francês no Porto Os preços variam de 1€ a 3,50€ Rivoli Teatro Munici pal // Fundação Serralve s // Biblioteca Municipal Almeida Garrett

25 Outubro // 5º feira Teengirl Fantasy (Live) Plano B

29 Outubro // 2º feira Maravilha!! Festa de Erasmus no Gare // académicos e entrada à pala para quem falar Inglês Gare Porto

23 Outubro // 3º feira Vamos lá comer o pato da D. Rosa Maria que Sr. José trata da bebida Rei dos Galos de Amarante

24 de Outubro // 4º feiras Se estás sem guito e com vontade de beber, vai à euro poupança da Dona Leonor. vodka e whisky 1,50€ Adega Leonor

ºfeira bro // 3 // u t u O m 30 e do So A Chav Violeta s Ornato 30€ € 25 a orto do P Coliseu

31 Outubro // 4º feira Gare909 // Surgeon + Freshkitos Gare Porto CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 7


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OS VH S A INT # CONVIDA EG RAM A ZINE! RAR A 3ª EDIÇÃ IDIOT MA ENCO G O MEND A-NO DA FANS JÁ A TUA!

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Numa altura em que a crise se encontra lapidada no país e se alastra tal como uma doença cancerígena num doente terminal, a cultura é uma área cujas esperanças se escassearam há muito. deixou de existir há muito e passamos Com falta de apoios, de iniciativa e de à ação, palavra que é intrínseca a todo preocupação por partes dos órgãos o bom portuense. Perante o anseio de governantes, a cultura é um espectro mais e melhor cultura alguns habitanque vai vagueando pelo país, alimen- tes da cidade nortenha arregaçaram tando-se da alma dos poucos que ain- as mangas e criaram iniciativas cultuda vão tendo fé no futuro deste culti- rais de grande importância e com um var das formas de expressão humana. potencial que tal como a maldita crise Mais do que ter fé é preciso agir, isto tende a crescer. porque a confiança cega em algo eté- O Porto fervilha... A cidade está em reo nunca trouxe resultados palpáveis, ebulição e se há muitas pessoas que a não ser à Virgem Maria (segundo di- vivem parasitando a sociedade, tamzem). Cá pela Invicta a beatificação já bém não falta gente com vontade de fazer e de acontecer. O resultado é um mês de outubro com três festivais exclusivamente dedicados à cultura, à arte e à cidade.

Praia da Manta Rota fotografias ® Melanie Antunes

Get Set Art Festival CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 11


GET SET ART FESTIVAL: REGENERAR A CIDADE ATRAVÉS DA ARTE O festival vai assumir um papel regeConferências, workshops, exposições e intervenções artísticas que cruzam disciplinas como a arquitetura, o design, o vídeo, a moda, os novos media, a multimédia e a música. O Get Set Art Festival tem tudo para constar nas nossas agendas para outubro. Nesta terceira edição, que vai decorrer entre os dias 1 e 7 de outubro, serão ocupados edifícios da cidade do Porto em declínio como, por exemplo, o Opo Lab (uma antiga garagem de automóveis), uma casa na Rua do Almada e o Cinema Trindade.

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nerador desses espaços abandonados, tendo como tema central a premissa “Decadent Beauty”, e fazendo um apelo à ação, mais do que incentivar ao aparecimento de novas perspetivas ou atitudes. Este evento surge, ainda, como um portfólio live do trabalho de diversos autores, estudantes e jovens profissionais. Além disso, pretende “promover a formação, a interação e a troca de conhecimentos entre elementos de diferentes áreas artísticas”, apontam Luís Fernandes e Luís Sousa, diretores do festival.


Dino dos Santos

Video Dub Connection

A PRATA DA CASA

Entre os artistas, todos eles convidados pela organização, encontram-se diversas especialidades, desde criativos a músicos e VJ’s. Contudo, interessa destacar o VHS#17 collective (que recentemente participou no último Gare Day & Night a convite da Idiot Mag), formado por artistas de diferentes áreas (fotografia, ilustração, design gráfico, vídeo, etc.), que reutilizam VHS como uma espécie de caixa de surpresas. Além de apresentarem o terceiro número da Fanzine, os VHS#17 collective convidaram a Idiot Mag a integrar a exposição. Os idiotas pretendem marcar presença através de uma instalação que antagoniza elementos tão diferentes como a beleza e a pureza da Madre Teresa de Calcutá e a luta entre o inconformismo e o consumismo, de onde brota a sujidade e a plasticidade.

Sushi Get Set Art Festival CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 13


O Get Set Art Festival surgiu em 2010, pela mão de Luís Fernandes e Luís Sousa, aos quais se juntaram Mariana Baldaia, Francisco Sendas, Francisco Cunha Ribeiro, Favo Studio (Gustavo Carreiro & Hugo Raposo) e uma série de voluntários. O tema da primeira edição, “High Tech / Low Cost”, serviu para analisar a Luís Fernandes e Luís Sousa. Em primeira década do século XXI, no- 2011, o tema “Don’t Panic, Be Orgameadamente “as transformações nic” serviu de mote para dar respossociais e culturais, a democratização ta a temas como a crise, a sustentados meios de comunicação e tecno- bilidade, a tecnologia e a eficiência. lógicos e fazer uma reflexão sobre Apesar o festival ser essencialmente a cidade do Porto 10 anos após ser dirigido a estudantes e jovens profiseleita capital da cultura”, explicam sionais das diferentes áreas criativas, este ano espera-se uma democratização do evento, uma vez que a utilização de espaços inusitados da cidade poderá captar o interesse da população em geral, pois esta será “uma oportunidade única de revisitar um Porto esquecido e de conhecer um outro desconhecido”, acreditam os diretores.

fotografia © Get Set Art Festival 14 // www.IDIOTMAG.com


O projeto Manobras no Porto começou em lhando apenas o facto de terem algo para 2011, tendo como principal objetivo a dina- dizer, uma história para contar, por mais mização do centro histórico do Porto, seja simples ou mirabolante que seja. potenciando atividades, As Manobras têm vindo a seja recolhendo estórias, invadir o centro da InvicMANOBRAS NO informações, sons ou ta. As fotografias do proimagens, que retratem jeto “Ai Maria”, patentes PORTO: CAIXINHA aquela zona e contribuna Estação de Metro do DE MEMÓRIAS, am para a criação de um Bolhão, são um exemplo espólio de memórias da desse trespasse. Esta reHISTÓRIAS baixa portuense. Desde a colha fotográfica caracE PARTILHAS sua criação foram-se deteriza a mulher, a “Maria”, senvolvendo iniciativas, que pode ter diferentes que serão agora apresentadas entre os dias idades, origens e histórias. O resultado 28 de setembro e 7 de outubro. final deste projeto será um documentário Debates, oficinas, intervenções de rua, con- que irá ilustrar as 24 horas de um dia da certos, movimentos concertados e objetos mulher. Peças de teatro de marionetas, arinsólitos, são apenas alguns resultados des- raiais, peregrinações e tardes de fado vate movimento cultural, que tem como voz a dio são algumas das atividades que aconRádio Manobras, que a partir da frequência tecem nas quatro praças de manobras (Sé, 91.5 FM, opera diariamente, dando voz a Vitória, Virtudes e Miragaia) e nas ruas e gente da cidade, amantes ou não da rádio, espaços que dali bifurcam. com ou sem experiência radiofónica, parti- Uma das manobras mais esperadas aconte-

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ce no dia 7 de outubro, quando cinco repositórios de memórias dos portuenses serão levados até ao rio Douro, para aí serem guardados durante cem anos. “A Barca da Memória para o ficando a conhecer um outro lado da Ano de 2112” é uma iniciativa que prehistória da Invicta. tende recolher todo o tipo de objetos Com uma filosofia semelhante à Barca (postais, fotografias, discos, recortes da Memória surge o “Outros Portos – O de jornal, desenhos, etc.) que constituMau Guia do Porto”, que explora uma am uma recordação para alguém. Qualaproximação poética à cidade. Sem ter quer pessoa poderá depositar as suas em conta os elementos turísticos típimemórias numa das quatro praças ou cos da cidade, este guia compila reprena estação de metro da Trindade. No sentações poéticas da cidade, através último dia de Manobras no Porto todas de entrevistas feitas a pessoas em jaras memórias serão levadas num cortedins, museus e no centro histórico, dujo até à Ribeira do Porto, de onde uma rante eventos das Manobras no Porto. barca partirá até alto mar, para depoEssas tentaram caracterizar a cidade e sitar as recordações, guardadas em a sua essência, fazendo referência aos cápsulas herméticas, no fundo do alto odores que dela emanam, aos sons, aos mar. Dali a cem anos, os herdeiros da paladares que sugere, às visões que cidade recuperarão essas memórias, proporciona e aos fantasmas que a habitam. Nessas interpelações foi, ainda, perguntado que elemento simbólico da cidade é que as pessoas gostariam de guardar numa cápsula do tempo.

Peregrinações Manobras 16 // www.IDIOTMAG.com


FUTUREPLACES:

UMA PÁGINA EM BRANCO À ESPERA DE SER PREENCHIDA

Nascido em 2008, no âmbito do programa UTAustin-Portugal e comissariado por Heitor Alvelos (Universidade do Porto), o futureplaces surgiu com a vontade de desvendar a forma como os buir para uma partilha cultural entre media digitais podem contribuir para o as pessoas presentes. desenvolvimento local, já que podem Nas últimas edições, o “Type the Fufazer tanto pela comunicação global. ture” foi das atividades que mais chaO resultado é uma série de exposições, maram a atenção. Na Praça dos Poveifilmes, performances, concertos, pales- ros foram colocadas letras gigantes tras, festas e workshops. em esferovite, com as quais qualquer Aos visitantes é pedido mais do que transeunte podia escrever frases ou um simples passeio ou olhar. Deles palavras, partilhando a sua mensagem esperam-se ideias, histórias, contribu- com o mundo. Palavras de descontentos, ações... Tudo o que possa contri- tamento e indignação, declarações de amor e assinaturas, foram os resultados mais frequentes nesta iniciativa realizada pelos artistas MaisMenos (±). Em Portugal Portefólio, os participan-

Citizen Lab: Type the Future, por Miguel Januário Fotografia © Luís Barbosa CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 17


tes fotografaram a cidade, transformando a imagem documental em imagem icónica, e em “Stories of Chairs” desenharam, pintaram, tiraram fotografias ou contaram histórias, tendo a cadeira como objecto de inspiração. Em colaboração com a Rádio Zero e, agora, a Rádio Manobras, surge a Rádio figuras de destaque na área dos noFutura, que transmite na frequência vos media, das artes e da cultura. Na 91.5 FM (e também com emissão onli- edição anterior marcaram presença os ne) durante os dias do festival. Esta rá- GANA, criadores do personagem Bruno dio também se encontra aberta à parti- Aleixo, assim como o cofundador do Picipação, e tal como a Rádio Manobras, rate Bay, Peter Sunde. não coloca barreiras à criatividade dos Para este ano já se encontram confirmados os Negativland e Philip Marshall. seus participantes. Sem limites, expectativas e com múl- Os primeiros são um grupo de música e tiplas linhas de orientação... Partici- multimédia experimental, que elabora par numa atividade do futureplaces colagens de som, e composições sonoé como pegar numa folha de papel ras que se posicionam como forma de e preenchê-la com o que nos apete- ativismo contra o copyright. Em 1991, cer, o que de outra maneira não faria os Negativland editaram um álbum sentido, pois o futuro é também uma com duas faixas elaboradas a partir de página em branco. Destas atividades músicas dos U2, transformadas num resulta uma forma do cidadão comum misto de paródia e composição abstrase expressar, artisticamente ou não, ta. A apropriação foi ainda mais longe, junto com outras pessoas que estão construindo uma capa onde aparecia U2 escrito em letras garrafais, o que ali para o mesmo propósito. levou a banda norte-americana a proPara além dos workshops, um dos momentos áureos do festival são as cessar estes artistas. conferências, que contam sempre com Philip Marshall é um designer do coletivo Rebels in Control, que também trabalha como freelancer com David Sylvian, Zang Tumb Tuum e Comme des Garçons. É membro do projeto audiovisual Touch, através do qual explorou o design de som. Em 2009 fundou a Tapeworm, uma celebração à cassete

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de áudio. Esta editora questiona a inevitabilidade do domínio digital, criando cassetes como “Tape Worm Comes Alive”, editada em 2010. Nos últimos anos a Invicta foi avassalada por um boom de turistas, diversão e movida noturnas, estudantes e espaços abertos ao público. Um pouco como consequência de toda esta matéria-prima acabaram por se despoletar uma série de atividades e eventos ligados ao meio artístico e criativo. Para Luís Fernandes e Luís Sousa esta explosão cultural não podia acontecer de outra forma, pois “o Porto é o maior polo universitário e politécnico do país, é a cidade que recebe anualmente maior número de estu-

dantes de Erasmus, é o polo nacional das industrias criativas, é uma cidade lindíssima com uma espetacular tradição cultural”. Por seu lado, as iniciativas culturais trazem apenas vantagens à cidade. O fator dinheiro constitui sempre o único entrave a este género de dinamizações. No entanto, já foi provado que com uma dose de trabalho, outra de boa vontade e duas de paixão, os encargos financeiros possam ser contornados. A crise não pode nem deve ser desculpa para tudo. A criatividade existe para ser extrapolada e não sorvida pelo nosso inconsciente. Há que criar, há que mostrar e mandar o génio cá para fora, há que agir Melanie Antunes

GET SET ART FESTIVAL

Datas: 1 a 7 de outubro Artistas: Alva Design, Anti VJ, Bungalow, Dvein, Eime, FAHR 021.3, Hvass & Hannibal, Iván Bravo, Maniaks, Moose & Yeti, Nuno Valentim, Pedro Serapicos, R2 Design, Ricardo Andrez, Roi de la Foret, Seshimo Architects, Shape your Head, Studio P52, Twopoints.net, Vasco Mendes, VHS#17 collective. Mais informação: http://getsetfestival.com

MANOBRAS NO PORTO

Datas: 28 de Setembro a 7 de outubro Mais informação: http://manobrasnoporto.com/

FUTUREPLACES

Datas: 17 a 20 de outubro Mais informação: http://futureplaces.org/

Future Places fotografia Melanie Antunes CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 19


Idiot Market, o mercado com a melhor vista do mundo

Ao sol é que se está bem 20 // www.IDIOTMAG.com


“Até choras!” Tamara e Mesk nas pinturas

www.facebook.com/SPYRART

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“Queres brincar comigo?”

Tamara, Inês Peres e a VHS#

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Capa Idiot Mag de Novembro

Capa Idiot Mag de Outubro

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Freshkitos

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As nossas Idiotas, sempre de copo na mão...

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Ellen Allien

VÊ O PHOTOREPORT COMPLETO EM: WWW.FACEBOOK.COM/IDIOTMAG CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 27


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“BRUTAL, COMPLEXA E INTENSAMENTE URBANA”, UMA DEFINIÇÃO PERFEITA PARA A POESIA VISUAL QUE ALEXANDRE FARTO, TAMBÉM CONHECIDO COMO VHILS, NOS PROPORCIONA. COMEÇOU PELO GRAFFITI AOS 13 ANOS, NO SEIXAL. HOJE DIVIDE-SE ENTRE LISBOA E LONDRES E PODEMOS ENCONTRAR TRABALHOS DELE DESDE MIAMI A BERLIM, FAZENDO ESCALA NOS AÇORES. JÁ FOI ARTIGO DE PRIMEIRA PÁGINA NO JORNAL “THE TIMES” E JÁ EXPÔS AO LADO DE BANKSY, HOJE ESTÁ AQUI CONNOSCO PELA IDIOT! DESFRUTEM: Nuno Dias CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 29


Los Angels, EUA Vihls ft. JR 30 // www.IDIOTMAG.com


Iniciaste-te no grafitti aos 13 anos. Como é que isso influenciou a tua carreira? Ainda conseguimos ver algumas influências no teu trabalho actual? Sim, muito do que faço ainda está ligado ao graffiti, quer em termos de conceito, quer em termos de ferramentas e processos abrasivos que uso, mesmo que não o pareça. A grande base técnica do meu trabalho é o stencil, que talvez seja mais visível nas peças em paredes, para as quais ainda traço as primeiras linhas a spray, por exemplo, e depois sigo um processo de remoção por camadas com base nesta técnica. Mas as restantes peças que tenho estado a desenvolver, seja nos aglomerados de cartazes, nas placas de metal ou nas peças gravadas em madeira têm todos essa mesma base técnica. Creio é ter levado as coisas um passo à frente, e por vezes essa ligação não é muito evidente para quem não vem do meio. Um dos maiores conceitos por detrás do meu trabalho é o de recorrer a processos brutais e destrutivos para criar, e isto vem dos conceitos de vandalismo estético do graffiti. Pode dizer-se que a minha verdadeira escola artística foi o graffiti e os anos que passei a pintar paredes, comboios...

Na tua terra natal, Seixal, vias os murais e propagandas da altura do 25 de abril serem tapadas por uma nova parafernália gráfica capitalista. Isso deu-te que pensar... Tanto no Seixal como no resto da Grande Lisboa, sobretudo nos subúrbios mais industriais onde a presença dos velhos murais era grande por razões óbvias. Quando era mais novo vivia fascinado com aquelas pinturas. Representavam uma era utópica única, e em termos estéticos e técnicos, alguns eram brilhantes produções colectivas. Nessa altura a maioria já estava plenamente decadente, esquecidos e com a chegada da publicidade em massa foram enterrados de vez. Essa sobreposição gerou um contraste tanto visual como ideológico que ainda hoje acho brutal. São linguagens e posições ideológicas diametralmente opostas. Despertou em mim interesse e respeito pela História. Uns anos mais tarde quando me deparei com o potencial em usar aglomerações de cartazes de rua para produzir peças, entendi que ao escavá-los trazia ao cimo fragmentos de cartazes mais velhos que representavam, à sua maneira, o passar da História recente. Exactamente o mesmo que tinha visto com os murais e a publicidade. Foi uma revelação que me deu uma base conceptual para trabalhar. Foi aí que nasceu o conceito das minhas escavações semi-arqueológicas.

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Foste, em 2007, estudar para Londres. Logo conheceste Tristan Manco, conhecido autor e curador de street art. Como foi este primeiro ano num panorama completamente diferente do nosso? Jรก tinha conhecido o Tristan Manco quando esteve em Lisboa na Red Bull Street Gallery nesse mesmo ano, e antes disso jรก estava em contacto com ele via internet, mas quando me mudei para Londres abriu-me muitas portas, uma vez que jรก conhecia o meu trabalho e gostava do que eu fazia. A mudanรงa para Londres foi muito interessante, foi algo que me estimulou bastante, sobretudo na altura que foi. Por um lado a universidade deu-me a opor32 // www.IDIOTMAG.com


tunidade de fazer muita pesquisa em termos de ferramentas, de técnicas. O ensino foi interessante, mas o melhor foi ter tempo para experimentar e pesquisar, ter um espaço para trabalhar. E por outro, os contactos que tinha foram abrindo portas e foram surgindo convites para participar em várias coisas, uma das quais o Cans Festival nos túneis de Waterloo, em que apresentei fora de Portugal a série Scratching the Surface pela primeira vez, cuja recepção não podia ter sido melhor. Londres ofereceu-me muitos contrastes face a Lisboa, estabeleci de imediato uma relação de amor/ódio, que continua até hoje. Com ambas as cidades, aliás.

TedEx, Aveiro fotografia: Smart Bastard CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 33


Em 2008 foste lançado, ao participares no Cans Festival, evento comissarido por Banksy; os media chamavam-te: “the next big thing”. Como foi viver isto tudo, com apenas 21 anos? Foi tranquilo. Por um lado já produzia trabalho há alguns anos, e já conhecia muita gente no meio. Por outro não é bem o mesmo do que ser catapultado para a fama em Hollywood ou assim. A maior parte do alvoroço e interesse encontra-se focado na obra, e é assim que deve ser. Em termos pessoais não sou conhecido, e não tenho interesse em sê-lo. Gosto obviamente que apreciem o que faço, mas prefiro que a atenção se concentre nas peças, não na pessoa. Não sou de idolatrias. Não mudou nada na minha vida pessoal, no modo como vejo o mundo. Viajo mais, produzo mais, tenho mais oportunidades em termos profissionais, e tudo isso é bom, mas continuo a ter os mesmos amigos e não me param na rua para pedir autógrafos... 34 // www.IDIOTMAG.com


“Walk n Talk”, Açores edited Rui Soares, Vhils CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 35


Dizes que a expressão poética do teu trabalho está intimamente ligada à brutalidade do processo em si. Como surge o uso de ácido, lixivia e de até um martelo pneumático no teu processo criativo? Podemos-te chamar o arqueologo da street art? Como referi acima, o gosto por usar esse tipo de ferramentas e técnicas abrasivas e destrutivas veio do graffiti. Quando pensamos em graffiti (de origem americana) o que nos vem à mente é a pintura a spray, mas na sua versão mais extremista esta prática baseada na inscrição do nome recorre a muitas outras ferramentas. Neste jogo tudo serve. Ao longo dos anos muitos writers de graffiti foram aperfeiçoando o uso de ferramentas muito abrasivas para inscrever tags em superfícies de forma duradoura, desde criar tintas permanentes com base em alcatrão ou óleo de travões que em superfícies porosas torna-se impossível de limpar, ao uso de ácido decapante para inscrever em

Visual Street Performance 2009, Lisboa 36 // www.IDIOTMAG.com

vidros etc. O meu conhecimento de muitas destas ferramentas vem daí, do uso que lhes dei quando praticava formas mais extremas de graffiti. O resto veio por associação, pelo gosto que tenho em experimentar materiais e técnicas novas, mas sempre com esse conceito por base. O uso da lixívia em paredes ou sobre tinta serigráfica, do ácido sobre metal e várias outras coisas são fruto dessa pesquisa, por exemplo. Quando os resultados são animadores, independentemente de serem esperados ou inesperados, perco tempo em explorá-los mais a fundo, até ao limite. Depois passo para outra coisa. As ideias vão surgindo umas das outras. Os martelos pneumáticos têm tudo a ver com isso também; por um lado são a ferramenta ideal para esculpir paredes, mas por outro também têm eles próprios uma carga simbólica que contribui para a peça como um todo. Técnicas, ferramentas, matéria-prima e conceito estão todos ligados aqui.


O teu uso e procura incessante de novos processos criativos deve-te criar grandes momentos de diversão e descoberta. Mas também te deve acontecer o contrário! Conta-nos umas boas e más experiencias com que já te deparaste. São muitas, mas quase sempre más experiências, como cortes em dedos e mutilações de vária ordem, problemas respiratórios, várias visitas a hospitais, a outros episódios menos dramáticos mas igualmente expressivos ou marcantes. Mas é sobretudo destas más experiências, de resultados inesperados em processos de pesquisa e experimentação que

A trabalhar no projecto “La Boheme”

surgem as ideias mais interessantes. Investigar o erro, lidar com o erro, aproveitar o erro é muito importante para mim, é aliás uma das maiores bases técnicas do meu trabalho, talvez até mais do que apostar em resultados positivos ou esperados. É o erro que levanta mais questões que merecem ser exploradas. Para terminar, tens algum conselho a dar aos jovens artistas nacionais? E a quem(supostamente) ajuda as artes em Portugal? Estar fora não quer dizer, hoje em dia, não estar dentro. Think global act local.

“Meeting of Styles”, Buenos Aires, Argentina CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 37


ESCRITO POR JOSÉ BARTOLO, UM PROFISSIONAL QUE OS IDIOTAS TÊM EM MUITA ESTIMA, SURGE O “MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS”. COMO O PRÓRPIO DIZ, “NÃO TÊM INTENÇÃO DE IMPOR PONTOS DE VISTAS, PRINCÍPIOS OU VALORES, VISA ANTES TORNAR O DEBATE SOBRE O DESIGN PORTUGUÊS MAIS CRÍTICO, ALARGADO E CONSEQUENTE. ELE REPRESENTA UM COMPROMISSO PÚBLICO DE UMA COMUNIDADE DE ACÇÃO.“ E A IDIOT MAG SUBSCREVE! Nós, abaixo assinados, somos designers, professores de design e críticos de design, que iniciaram a profissão depois do 25 de abril de 1974. Nós, que sempre trabalhámos num contexto politicamente democrático, culturalmente plural e economicamente liberal, defendemos que os valores da democracia participativa devem ser, de forma permanente e ativa, enunciados, renovados e praticados; que o pluralismo cultural nos obriga a respeitar a diferença e afirmar identidades; que o liberalismo económico pode e deve ser criticado e mediado de forma a ser sempre um meio e nunca um fim da cidadania.

Num momento em que a nossa autonomia enquanto estado-nação é atacada por uma insuportável ingerência externa, num contexto em que o país está preso a orientações de credores externos, na mesma altura em que a carga fiscal ultrapassa os 48% do PIB, em que o desemprego é de 16%, em que o descrédito nos políticos é total, em que o desalento e o pessimismo nos dominam, nós assumimos a nossa quota parte de responsabilidade na sensibilização, mediação e mobilização sociais; na construção crítica do presente; na procura de alternativas futuras.

Nós não nos revemos, identificamos ou conformamos com a atual situação cultural, social, política e económica do país; defendemos uma maior e mais efetiva responsabilização coletiva − dos governantes e dos governados – e defendemos a procura de formas alternativas de fazer política, de fazer cultura, de fazer negócios e de fazer design. O design é um processo ativo de transformação contextual; nós defendemos a consciencialização dos designers para uma compreensão do projeto enquanto realização de um ação socialmente eficaz.

Nós rejeitamos a ditadura do financeiro e defendemos a defesa de valores fundamentais, de respeito pelo trabalho, de equidade, de pluralismo, de participação, de liberdade. Nós defendemos a importância do papel do design na comunicação e construção de alternativas. Acreditamos que a democracia é o governo através da discussão. Defendemos o envolvimento dos designers no assegurar a amplitude e a qualidade da discussão, tornando-a o mais quotidiana e pragmática possível.

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Nós defendemos que o design deve ter uma agenda que resulte da discussão dos valores, da discussão acerca da utilidade e da eficácia da disciplina, conseguida de forma alargada e em mais do que um fórum: no movimento associativo; nas escolas; nas empresas de design; nos meios de comunicação social.

Nós defendemos que essa agenda seja capaz de posicionar o design português, de forma clara, objetiva e pragmática, perante questões sociais, políticas, culturais, económicas, tecnológicas e éticas que afetam o país e os cidadãos. Nós comprometemo-nos a criar um grupo de trabalho, aberto à participação de todos, capaz de desenvolver ações que garantam a prossecução das intenções do presente manifesto.

Nós defendemos que o design e os designers portugueses sejam valorizados, promovidos e defendidos; nós apelamos às associações e às escolas para assumirem a sua responsabilidade na defesa intransigente de uma proposta crítica e exigente para o design e a sua prática profissional. Nós apelamos a uma maior politização da prática do design, a uma maior interferência dos designers na programação cultural e social, a uma maior consciencialização dos designers do seu papel produtivo.

Nós acreditamos no design como uma forma de produção social, e não como ato isolado de criatividade. Nós defendemos uma prática do design centrada na prestação de serviços do designer a um cliente, envolvendo respeito mútuo, empenho na procura da melhor solução, de forma a que cada projeto contribua para a valorização da profissão e para a qualificação dos valores da cidade e da cidadania. Mas, também, defendemos a procura de práticas alternativas, autopropostas e autogeridas, sejam ou não pro bono. Defendemos a valorização dos designers, a sua liberdade autoral e condenamos a sua menorização e exploração; valorizamos a formação em design, a diversidade de formas, processos e manifestações de projeto; combatemos os estágios não remunerados, a precariedade profissional e quaisquer formas de descriminação que não se fundamentem em critérios qualitativos transparentes.

Vivemos tempos de urgência que exigem a nossa participação ativa. O presente manifesto comunica um conjunto de intenções, visa tornar público um compromisso para a construção de uma comunidade operativa constituída por cidadãos-designers que através da presente tomada de posição dão um passo para a construção de um grupo de trabalho com a coesão ou as ramificações necessárias a uma maior eficácia da sua ação. Nós, abaixo assinados, lutaremos para que o design português possa gerar narrativas fortes, que de forma pragmática e ideologicamente fundamentada, possam voltar a enunciar, de modo pertinente e efetivo, palavras como utopia, liberdade, igualdade ou revolução.

Redator: José Bártolo Subscritores: Alejandra Jaña // Ana Rainha // António Modesto // Aurelindo Jaime Ceia // Carlos Guerreiro // Eduardo Aires // Emanuel Barbosa // Joana Bertholo //João Alves Marrucho // João Bicker // João Martino // José Bártolo // José Carlos Mendes //Luís Alvoeiro //Luísa Barreto // Marco Balesteros // Marco Reixa // Mário Moura // Nuno Coelho // Pedro Marques // Sofia Gonçalves // Vera Tavares // Valdemar Lamego // Victor M. Almeida CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 39


“ADDUCANTUR É DO MUNDO E FAZ-SE COM AMOR ÀS SONORIDADES, UMAS LONGÍNQUAS E OUTRAS DE BEM PERTO E É ESSA SUGESTIVA FUSÃO QUE NOS LEVA EM VIAGENS...” É ASSIM QUE SE DESCREVE ESTE GRUPO MUSICAL, QUE NOS TRAZ MÚSICA DO MUNDO COM TODA A PAIXÃO, E É COM ESSA MESMA PAIXÃO QUE A IDIOT MAG FOI ASSISTIR A UM ENSAIO. FECHEM OS OLHOS OUÇAM, SONHEM E VIAGEM: João Cabral

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Como e quando surgiu a banda? Contem-nos também o que quer dizer Adducantur que estamos curiosos. Este projeto surge em inícios de 2007 e é com o nome “Elementos” que o Zé Correia e o Nuno Silva decidem agregar ideias musicais com um único objetivo, a experimentação, com recurso a vários instrumentos sobretudo étnicos, à eletrónica, que acompanha a recitação de textos. Vão lançar em breve um EP, falem-nos sobre isso. Surgem assim as primeiras composições e regis- Sim, é verdade, ainda este ano estará cá fora o pritos, com ambientes e sonoridades do mundo, pin- meiro EP, foi um trabalho árduo e bastante comceladas com uma contemporaneidade erudita. plexo, não só devido à natureza do Ensemble e às Desde então, foram convidados vários músicos composições dos temas selecionados, mas tama integrar a formação deste projeto e com mais bém devido a um conjunto de razões relacionadas maturidade e definição, as primeiras apresenta- com o processo de gravação, a saber, a captação, ções ao vivo surgem em 2009. edição e masterização. Entretanto, por diversas vezes a formação de Foi por isso um desafio para todos nós, encarado “Elementos” é renovada e se é com este nome com muita dedicação, com vista levar a público a que nos apresentamos, num golpe de ousadia essência honesta, que carateriza as nossas sonoricriativa afirmamo-nos recentemente como Addu- dades. Quem é que não gosta de um bom desafio? cantur, já agora…com Eloísa d´Ascensão na Voz; É um trabalho que estamos a preparar já há alJosé Correia na guitarra clássica, guitarra acústica gum tempo, estamos por isso curiosos e ansiofretless, duduk e flauta de bisel contralto; Luiza sos, em perceber as reações e estando já em Bragança no sintetizador/piano; Nuno Silva no fase de pormenores, estamos já a centrar a nossaz, santur persa, oud e bouzouki e Sérgio Henri- sa atenção num novo trabalho que será naturalque no tar, riq, darbuka e udu. mente o álbum. (risos) O nome Adducantur provém do Latim, significando intermediar, interposto, induzir…portanto, trans- Sabemos que foram tocar à Festa do Caldo de Quinpondo isto para a dimensão de Adducantur, pre- tandona, como correu? Quando vos poderemos ouvir tendemos induzir uma mensagem ou linguagem, a próxima vez? como uma espécie de intermediários de um mo- Analisando de uma forma geral, o concerto correu mento musical, para contemplação dos ouvintes. bem, os recursos humanos e técnicos disponibiliQue tipos de sonoridades explora?. A nossa sonoridade é densa e desenha fluidos fraseados. É uma sugestiva fusão entre a música erudita contemporânea Ocidental, com sonoridades oriundas de diferentes culturas, sobretudo do Mediterrâneo. Quais são as influências que vos movem? Sendo uma pergunta difícil de responder, uma vez que qualquer experiência de vida pode constituir uma influência no processo criativo, vamos tentar centrar isto num espetro musical. Este é sem dúvida um dos fatores mais relevantes deste Ensemble, quando se trata da produção de uma sonoridade personalizada, começando pela escolha tímbrica/instrumentos que cada um interpreta, como por exemplo o Santur Persa, Tar ou Duduk, passando também pela diferença natural que existe entre nós, no que diz respeito às experiências e influências/gostos musicais ou à simples formação como músicos.

zados, também ajudaram. Abrimos o festival como “cabeças de cartaz”, precisamente no palco principal e enfim apesar de estar um pouco frio, estamos certos que conseguimos aquecer algumas almas e despertar a curiosidade dos presentes. Em relação ao próximo concerto, este irá acontecer no Festival Etnias, que na edição deste ano organizará este festival em parceria com a organização do reconhecido Festival Ollin Kan. É caso para dizer que isto promete e por isso fica desde já o convite a todos, para deixarem o sofá e marcarem presença no próximo dia 15 de Dezembro, portanto sábado à noite, no Centro de Formação da ACARO, que é precisamente ao lado do Contagiarte, na Rua Álvares Cabral, na linda cidade do Porto. Têm alguma mensagem que queiram deixar aos fãs? Certamente. Gostaríamos antes de mais agradecer a todos aqueles que durante esta longa jornada, estiveram presentes física ou emocionalmente e enfim ouçam e sintam a nossa mensagem e que a repliquem por muitos mais e já agora não se esqueçam do EP. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 41


ESTE MÊS, SENDO A IDIOT UMA REVISTA ASSUMIDAMENTE DA INVICTA, E EM CONTRASTE COM SER O MÊS DA MODA LISBOA, DECIDIMOS ENTREVISTAR UMA ESTILISTA COM SANGUE NORTENHO MAS COM CARREIRA DO MUNDO: MARIA GAMBINA. JÁ COM VINTE ANOS DE CARREIRA, COM COLECÇÕES E PROJECTOS GALARDOADOS, COM ALUNOS ÀS COSTAS E COM A REABERTURA DA LOJA, QUISEMOS ENTRAR UM POUCO NO MUNDO ATAREFADO DESTA CARISMÁTICA MULHER. Ana Anderson Porquê Maria Gambina? Maria Gambina porque quando ia para a praia, no inicio do Verão, ficava vermelha que nem uma gamba. Três grandes amigos do liceu me baptizaram assim. No dia que tive que registar a minha marca, já havia uma Cristina Lopes. Nem pensei duas vezes, ficou Maria Gambina. Quando é que te apercebeste que queria ser designer de moda? Nunca. Aconteceu por acaso. Quando terminei o 12º ano não sabia se tinha média para entrar em pintura em Belas Artes, era o que eu queria seguir. Falaram-me no CITEX, que tinha professores de Belas Artes. Como não queria ficar parada um ano (caso não entrasse em pintura) decidi concorrer às duas, e entrei nas duas. Durante um ano fiz as duas, o Citex de dia e Belas Artes à noite. Ao fim de um ano optei pelo Citex, apenas porque era um curso de três anos e não de seis como o de pintura.

gamba. Fazia sentido aquele convite, fazia parte da história, de forma alguma foi uma provocação, foi genuíno. O que te entusiasma em dar aulas? Tudo, ensinar, despertar, construir. É quase o mesmo que sinto por ser mãe. Há um ano exposeste as “Saias da Maria”. O que definiram essas saias? Essa exposição foi-me proposta pela ESAD em parceria com a Câmara de Matosinhos. Na altura era para ser sobre todo o meu trabalho. Chegamos à conclusão que as “minhas” saias transmitiam-no de uma forma completa. São saias estampadas, saias inspiradas na música, saias com elementos streetwear, saias feitas com elásticos… São saias muito ricas, saias com materiais diferentes e muito actuais, são saias com muito ritmo.

Recentemente reabriste a tua loja no Porto (N.R: Qual é a tua maior inspiração? mais precisamente na Rua Fonte da Luz nº197). É Acho que hoje em dia é tudo o que me rodeia. um presente para ti própria, e um rebuçado de taTenho sempre muita vontade de partilhar o manho gigante para todos? meu “mundo” com os outros. Espero que venha a ser o meu negócio. Num dos teus desfiles o convite era um pacote de mortalhas. Decerteza que há uma historia engraçada atrás disso... Esse convite só surgiu porque a minha coleção era inspirada na música Dub. Foi a coleção de Verão 1997. Ao pesquisar esse som percebi que a essência vinha da Jamaica, na altura criei um estampado a brincar com o “Maria Gambina” em que de uma forma gráfica utilizava uma folha de marijuana e uma 42 // www.IDIOTMAG.com

Nesta 39ª edição do Moda Lisboa o que podemos esperar? Podes destapar um pouco o véu? Este ano não vou apresentar a minha coleção na Moda Lisboa. Ao fim de 20 anos de carreira percebi que o fazia para o meu umbigo. O investimento é enorme para tal. Acho que chegou a altura de direccionar esse investimento para rentabilizar a minha marca em volume de vendas, para esse 1º passo reabri a minha loja no Porto.


Otherness // Winter 12/13

Dub // Summer 97

Acho também desonesto, da minha parte, haver um investimento enorme da Moda Lisboa para com a minha marca para depois eu só vender aos meus amigos, que era o que acontecia porque não tinha um local de venda ao público. É certo que reabri a loja, mas para a “alimentar” não posso continuar a investir em calçado de tamanhos que só servem a ma-

nequins e em peças que vivem de imagem e que depois não há reprodução porque não existe uma máquina por trás. No dia em que eu tiver uma cadeia de distribuição da minha marca, faz sentido eu voltar. Para finalizar. Diz-nos algo sobre ti que nada tenha a ver com moda! Happiness.

“MARIA + GAMBA = MARIA GAMBINA” CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 43


Chegaram, mais uma vez, à nossa cidade uma vaga de estudantes estrangeiros. Encontrei uma data deles no encontro oficial de Erasmus que ocorreu na reitoria da Universidade do Porto. Entre bebidas e salgadinhos conheci o Edoardo Conti, estudante de Línguas Estrangeiras. Fiquei logo a perceber de onde vinha, Itália, mais precisamente de Turino, talvez pelo seu sentido de moda inato (que todo o Italiano tem), ou porque sempre que pensamos na “bota”, a mota vem atrás, neste caso estampadas na mala. 44 // www.IDIOTMAG.com


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fotografia Š Marco Rufino 46 // www.IDIOTMAG.com


“ Te l l ’ e m That Its Human Nature”

Das vísceras passa para o coração, do coração para as mãos e das mãos para o mundo. O engenho de Tamara Alves é, assim, um movimento não-editado das emoções brutas que nos consomem. Após participar, no passado dia 22 de setembro, no evento Gare Day & Night, no Jardim das Virtudes, no Porto, Tamara Alves é a artista convidada que dá a cara à edição de outubro da Idiot. Todos os meses, a Idiot convida um artista para fazer a ilustração dos seus conteúdos e, este mês, a escolha passou pela artista portuguesa, natural do Algarve, que mistura na sua obra elementos da ilustração e do graffiti, num resultado de cores e sentimentos contrastantes. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 47


“A Tigers Sleeping Under My Skin”

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“Girl Gone Wild”


Tamara Alves procurou desenvolver uma técnica que aproximasse a suavidade da tela da rugosidade bruta dos prédios citadinos – um mural privado, onde lhe é permitido sucumbir à obsessão pelo traço livre e que transmite, ao mesmo tempo, uma vontade de inscrever o que lhe é mais pessoal numa escala maior. A cidade é uma das principais fontes de inspiração para o seu trabalho, e com José Carvalho (com quem forma o projecto ColorBlind) a cidade tornou-se tam-

bém um espaço de criação. Juntos receberam convites para pintar um mural em Moledo e a entrada da Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa. O futuro para a jovem artista passa pelo amadurecimento de algumas ideias, a solo e em conjunto, em Portugal e no estrangeiro, e por um desejo de continuar a crescer enquanto criadora. Tiago Moura

www.tamaraalves.com www.facebook.com/tamaraalvesartwork CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 49


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*aviso antes de ler, a pedido do editor, nesta crónica pululam obscenidades e relatos para maiores de 18… tabuísmos… “prazer [prazér]. s. m. (Do lat. placere ‘agradar’). 1.Sensação agradável e perdurante relativa a um estado afectivo ou emocional de plena satisfação de uma necessidade vital e de uma predisposição física ou moral. 2.O que é agradável e proporciona estados de contentamento, euforia, júbilo e satisfação. + da mesa; + da caça, da pesca. 3.Volúpia ou deleite na satisfação sensual e sexual. 4. Psic. Princípios que interagem na actividade psíquica tendentes a procurar a satisfação e a evitar a dor. principio+ do prazer. a seu belo prazer, loc. adv. De boa vontade. Faz tudo a seu belo prazer… com muito prazer, fórmula de cortesia usada quando alguém nos é apresentado. Muito prazer em conhecê-lo! ter prazer em. 1. Experimentar uma sensação de satisfação no acto de praticar uma acção. Tenho muito prazer em ajudar! 2. Estar disposto a corresponder a um pedido ou manifestar a vontade de alguma coisa. Tenho muito prazer em recebê-los lá em casa.” in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001

A Patrícia punham-lhe questões difíceis, às vezes por estranheza, outras por preocupação, outras apenas porque se preocupavam em entender, outras porque temiam a banalização. A Patrícia contavam os medos, receios e dúvidas e esperavam respostas certeiras e a afirmação daquilo em que dizia acreditar. Patrícia tinha dúvidas, mas não eram as mesmas. Um familiar preocupado com a sua constante entrega a novos limites de saber, de saber testado de travo na boca, questionou-a se a contínua entrega ao impulso e cama não nos tornaria indistinguiveis dos animais. Na altura reiterou com a primeira baboseira que encontrou, riu-se e desviou o assunto, mas deixou-se a pensar nisso. Outro falou-lhe da paixão e comprometimento e nas razões lógicas (disparate que ainda não conseguiu alcançar) para isso acontecer. Uma paixão platónica, na mesa de café num domingo chuvoso, na necessidade de resguardar, na intimidade sagrada e longamente construida entre dois seres que, essa e apenas essa, tranforma a entrega numa sublimação que nos eleva a seres superiores, pensantes. O sexo e a entrega que a ele fazemos é, para Patrícia, a nossa maior humanidade. E lembra-se no mito grego do orgasmo que conta que este e o prazer é nossa fuga da dor imensa de sermos todos quebrados. Quebrados ou não, sexo é prazer e enquanto prazer é vontade, é concretização de livre arbítrio. É receber alguém no corpo e transformar cada quarto deste na nossa cada. É habitarmo-nos profundamente e uma das melhores formas de cortesia ao conhecer o cheiro, sabor e júbilo do outro, darmo-nos ao prazer juntos. E esses trejeitos, esses entreveres da descompustura de 52 // www.IDIOTMAG.com

volúpia que nada esconde, fascinavam Patrícia que os procurava na maneira entusiasmada como o rapazinho se agarrava à guitarra que adivinhava a boquinha caída, aberta e arfante que iria ter em cima dela já cansado, o lamber de lábios disfarçado que ela, contidamente gulosa, escondia atrás da mão arranjada no fim da tarde de limão, e que mais tarde iria ver entre as suas coxas, arredio num beijo selinho no joelho quando terminava de a comer. Gostava dos corpos suados a dançar e da forma como sentia o suor nas costas, que lhe prometia tanta mais testeosterona quanto a que quisesse absorver, da forma como limpavam a testa a meio de uma festa em sauna ou no fim de uma corrida ao parque. Nesses gestos procurava indícios do que mais tarde iria ver, sentir, receber, intuía os pedidos não ditos a satisfazer. Mas o improvável de conjecturar e o que lhe tirava sono e inquietava a ida à caça era o orgasmo, corolário máximo do prazer, nunca final, nem destino, mas caminho delicioso, deleite dos sentidos. Os seus eram-lhe fáceis, os que a elas provocava também nada de espantar, mas a queda e grande contentamento caía nas graças do género masculino. Adorava ver as expressões de um homem, rapaz ou mocinho a vir-se. Via-o simplesmente como delicioso. E as frases e expressões da disrupção, a descrição procurada para aquela intensa faisca da corrente criada. Á parte disso, e os silenciosos que perdoem Patrícia, mas um gemidinho é essencial. Mas a volúpia de um homem acabado de se vir e os ocasionais disparates que se seguiam eram geniais. E insubstituível aquele ar espantado. Além de uaus, ufas e que bons, lembra-se do primeiro comentário pós coital, de um amante há muitos anos, que com cara de parvo se saiu com um sincrético “que tantra”, disparatado dado o que tinha acabado de acontecer… Um rapaz novinho, com ar de estudante universitário de agronomia, tinha soltado na cama dela que o mundo e o tempo tinham parado. Elogiosos quanto baste, verdade, mas de quando em quando surgia uma perdição inquebrável, o bom amante que parou de respirar, qual artista de mergulho entrado em apneia e o amante em provas que soltou duas lágrimas de um olho e ficou espantado pelo chorar. Quanto a ela, já se tinham visto a vir, e uns quantos lhe contavam o sorriso que sentia perdurar na cara e a forma como se deleitava a cada segundo. Há, existem, pessoas predispostas a foder, são as mesmas que sabem amar, esquecer todas as dores e abraçar quem ali se encontra com a entrega máxima possível a cada vez. Porque ali estamos nús, ou pouco adornados e cada máscara que ali pusermos vai-nos tirar um pouco mais de prazer, perturba o usufruto da necessidade. E, com todas as cartas na mesa, o jogo vira volúpia e encanto, esquecendo o dia que vem e o amanha, e substituindo o pensamento pela satisfação, praticando a euforia, alimentando o corpo e o coração, nosso e de quem nos acompanhar. Chamem a Patrícia hedonista ou humanista, enrolem-se nos predicados conservadores ou egoístas, mas que outra forma de sublimar maior que temos, que o prazer da entrega mútua dos prazeres, ainda que por momentos, sem nunca esquecer o que podemos estar a dar, partilhar e receber?


Outubro aproxima-se cinzento e outonal. Promete frio, aquecedores ligados e uma escapatória aos dias de chuva passada entre os edredons. E mesmo que o tempo nos engane e venham aí dias de verão, as frutas da época já desapareceram e nada como saborear os sabores perdidos em junho. Assim a proposta deste mês se compõe. Um óleo íntimo, comestível, mais do que aplicável a todo corpo, centrado e genital. O sabor, cereja; os efeitos, aquecimento; a marca, Shunga. (A propósito lê-se/ diz-se não chunga, como em bom português o fariamos, mas Suíngá, a arte japonesa dos eróticos livros de cabeceira.) Uma poção que nos aquece

nestes dias mais quentes, inspirando uma lareira em cada alcova, num frasco mágico e de duração longa, de uma das marcas mais antigas e cuidadas de cosmética sexual. Umas gotas apenas, novos sabores e artes em sexo oral (incluímos fellatio, cunnilingus e rimming). A boca fica quente e luxuriosa, a lingua escorrega ao ritmo de cada curva e prova-se fruta… com fruta! A nivel genital sentimos também um quente diferente que se conjuga de forma excitante com a temperatura da boca e, claro, sejam criativos, com o sopro e respiração! E para quem não pensa que os amores e os momentos passados são como as cerejas, saboreando-se uns atrás

dos outros, há mais sabores para degustação (Chocolate, Framboesa, Laranja, Exótico, Menta, Uvas, Baunilha, Morango-Champagne), afinal não vai ser por todo o dia comer o mesmo prato que alguém se cansa! Encontram-se estes e outros úteis acessórios em reuniões de enxoval para o ócio adulto, através de Carmo da Maleta. “ÓLEO AFRODISÍACO – CEREJA - SHUNGA” – 21.50€

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C e nário matinal 1: R. acorda, com a voz suave mas assertiva do pai J., que lhe diz que está na hora de levantar. Enquanto nas várias divisões da casa começa, primeiro emperrada, a agitação diária, R. passa das mãos cuidadosas mas eficazes do pai J., que o ajuda a lavar-se e vestir-se, para a tutela segura mas doce do papá L., que já o espera na mesa com o pequeno-almoço. Depois vão todos sair, e passar primeiro pela escola do bairro, para deixar R., que vai começar outra jornada de aulas e traquinices (só mais tarde na vida irá perceber com qual delas aprendeu mais). O beijo de despedida, esse, foi dado em casa, longe de olhares perscrutadores. Ambos assumem a sua relação nos seus locais de trabalho e às suas famílias alargadas, mas querem proteger o filho de atitudes negativas de terceiros (esses que estão sempre prontos a dizer o que é natural e o que não é). Aprenderam isso da pior forma, da última vez que R. adoeceu; L. estava fora da cidade e J., cuja identidade de pai não está registada em nenhum documento, não teve alternativa senão pedinchar por um dia de férias para lhe dar cuidados e mimos. A sua chefe foi eloquente: “deixe isso para a família!” Cenário matinal 2: o autor destas linhas está em trânsito para o Porto e dá de caras com um grupo de cânticos guerreiros numa estação de Metro da capital. Ainda lhe ocorre que pudesse ser uma sequela das manifs do dia 15 de Setembro (diz que meio milhão de lisboetas foram para a rua, e ficaram bem na foto). Mas pelo tom, pela sincronia automatizada, percebo, sem os vislumbrar ainda, que se trata de um exemplo desse flagelo que assola os ajuntamentos urbanos portugueses deste início

d e milénio: a praxe universitária. O meu pânico (espaços fechados e cânticos de praxe são a minha visão do nono círculo do Inferno) cede lugar à perplexidade, e sinto uma contracção seca no estômago ao distinguir num dos urros a palavra: “paneleiros”. Tento perceber melhor, não fosse o meu preconceito enviesar a audição: “paneleiros”, repetem. Vou atrás do grupo, cego, puxo uma das batinas com força, insulto-a formalmente, e interrogo-a. Fico a saber a origem (Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa). Viro costas, ainda cego, enquanto a carneirada segue velozmente a sua cruzada bestial (de besta, pois tá claro). A mil, aponto num papel os dados, decidido a fazer uma denúncia. No tugalito de 2012, enquanto alguns “doutores” ocupam (literalmente) desta forma o espaço público, empobrecendo o nosso futuro, inúmeras famílias homoparentais cumprem os seus deveres, pagam os seus impostos, cuidam dos seus, são pais, mães, filhos, profissionais e cidadãos, lutam contra as adversidades, mas aprendem com isso e ficam mais resistentes, mais sábias. Temos tudo a aprender com elas, e nada a aprender com a alarvidade, o insulto e o preconceito. De 21 a 24 de novembro, o projeto Porto Arco-Íris, uma iniciativa da Associação ILGA Portugal, promove um ciclo de cinema dedicado às famílias arco-íris, com o mote “We Are Family”! Vai decorrer na sala Passos Manuel, no Porto e são tod@s benvind@s! Telmo Fernandes Para mais informações: Porto Arco-Íris porto@ilga-portugal / 92 7567666 Famílias Arco-Íris famílias@ilga-portugal.pt / http://familias. ilga-portugal.pt CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 55


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A HISTÓRIA SE NÃO SABEM, DEVIAM SABER. AS DUAS, TRÊS QUE SE ENTRELINHAM NUM PORTO CENSURADO ONDE AINDA SOBREVIVEM, VIVEM E FAZEM MUITO, COLECTIVOS E PESSOAS INDÓMITOS PERANTE A APATIA E CONDESCENDENCIA SOCIAL. Carmo Pereira 58 //// www.IDIOTMAG.com IDIOTMAG 58


A história se não sabem, deviam saber. As duas, três que se entrelinham num Porto censurado onde ainda sobrevivem, vivem e fazem muito, colectivos e pessoas indómitos perante a apatia e condescendencia social. Começa-se: a 19 de abril, uma expulsão / demonstração de violência No mesmo mês, e aproveitando a ree autoridade tão exagerada quanto significação e reinvenção deste tão despropositada, realiza detidos entre caro termo português, uns quantos os voluntários do Projecto Es.col.a, da juntam-se e decidem fazer o Festival Fontinha. (Se não sabem o que é a FDP (faz, discute e participa), de forEs.col.a... vá lá... ganhem juízo...e ver- ma angariar fundos para contas da gonha nessa cara absurdamente pou- Es.col.a pendentes e ajudar nas custas de tribunais dos detidos. co ligada ao que vos rodeia.) Primeiro era para ser no Campo de Em Agosto, um outro cidadão desta invicta(!) cidade, vai a tribunal, por Jogos da Associação ARCA, em Valongrafitar digitalmente “Rio és um FDP”, go, depois em Recarei com o apoio da num guia de distribuição gratuíta pelo Casa do Povo, acabou por ser entre a Casa Viva e o V5. qual era responsável. 22 bandas, workshops, teatro, muita coisa feita, discutida e participada. Quem passou por lá ( e eu pude passar um pouquinho) sabe que o saldo foi positivo. O resto, que vos contem e expliquem os FDPs em voz própria:

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Segundo percebemos no vosso site, este festival mudou três vezes de sítio, não por vontade dos anfitriões, mas questões relacionadas ao poder local. houve a cortesia de explicações ou a censura fui bruta e clara? A censura é sempre bruta, nem sempre clara. Na primeira situação, na associação ARCA de Valongo, percebemos que tinha existido alguma pressão política, apesar da associação ter negado tal facto. Segundo a sua direcção, foram as notícias veiculadas por alguns orgãos de comunicação social, onde estavam descritos os objectivos do festival e onde se comparava o seu nome com o episódio ocorrido entre um cidadão portuense e o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, que provocou em alguns sócios a repulsa em emprestar o espaço para a realização do FDP. A ARCA, escusando-se nos seus estatutos, que definem a não realização de eventos politicos nas suas instalações, decidiram da recusa da cedência do espaço. Ressalvamos, no entanto, que, desde o início dos contactos, foram transmitidos à direcção os objectivos essenciais do festival. Na segunda situação, na Casa do Povo de Recarei, a censura mostrou-se claríssima. Um telefonema efectuado por um acessor do Presidente da Câmara de Paredes, onde se ameaçava de despedimento, da própria Câmara, o presidente da Casa do Povo; a ameaça de envio de força policial de intervenção para fechar o festival; o envio de todas as multas possíveis e imaginárias para a Casa do Povo, provocou, mais uma vez, a mudança de espaço do FDP. Desta vez, a Casa do Povo de Recarei, sentiu-se revoltada com a pressão e censura politica exercidas. Todavia, entre os organizadores do festival e a Casa do Povo, foi decidido não realizar o festival e impedir, assim, que a Casa do Povo se envolve-se numa “guerra” para a qual não queríamos que se visse arrastada. 60 // www.IDIOTMAG.com

Capa do Contas feitas ao FDP, a missão foi“Guia cumde Restaurantes, prida, fez-se, discutiu-se e participou-se? Cafés & Bares” da Câmara do Porto (e conseguiram-se ajudar quem está com custas judiciais), isto é, também a angariação fou suficiente, mesmo estando tardiamente limitados a espaços com lotaçao mais pequena? Depois de duas vezes censurado, passamos a ter como objectivo primordial a realização do festival a todo o custo, contra todas as pressões e contrariedades. Só por isso, o objectivo foi cumprido. A angariação de fundos para a ajuda aos detidos do processo de despejo do projecto Es.Col.A. foi também conseguido.

Houve público a aderir às actividades mais diurnas, aos workshops, teatros e eventos na Casa ViVa? Sim, tivemos público em todas as actividades marcadas.


Durante os concertos transpareceu claramente a solidariedade de várias bandas relativamente ao ocorrido, como fizeram a selecção, escolha e convite às bandas e demais participantes? houve alguma chamada aberta? Houve uma chamada aberta a toda a gente, apelando à participação no festival. A proposta foi de tal forma bem recebida que, uma semana após o envio, foi necessário fechar o cartaz do festival porque, para conseguirmos pôr todas as bandas, que aceitaram o repto para participarem no festival, a tocar, precisávamos de uma semana inteira de concertos. Mesmo assim, participaram 22 bandas, as primeiras a responderem à proposta. De referir, também, que apesar dos membros das bandas não pagarem entrada nos dias em que não tocavam, foram várias as que, mesmo assim, quiseram contribuir financeiramente para o “benefit”. Mais do que as concretizações fisicas e visiveis, a Es.col.a tornou-se viral, na medida em que semeou uma ideia de uma forma que os mais recentes habitantes do porto (pelo menos os mais recentes) não se lembram de ter visto, mas teve o mérito de ser um projecto tanto dos activistas que para lá foram como da comunidade que vos

rodeava. Com o espaço onde a es.col.a estava a ser agora reconstruído e modernizado, há planos de continuídade? na mesma comunidade ou em comunidades diferentes? A organização do FDP não se pronuncia quanto ao projecto Es.Col.A. O seu objectivo foi o de criar um fundo capaz de ajudar os dois detidos do processo de despejo. Porventura, no futuro, poderá ser organizado outro festival para ajudar outras activistas que se vejam, noutros processos, noutras frentes de luta, confrontados com a criminalização que o Poder e a Autoridade decretam sempre que alguém procura alternativas ao sistema vigente. A sigla F.D.P alcançou nos últimos tempos um estatudo de aberto convite á criatividade no uso da linguagem. O que é então agora, após o festival, F.D.P.? Começou por ser o festival Faz, Discute e Participa, para se tornar no festival Feito Debaixo de Pressão. Cremos que, para os Fazedores De Promessas, Famintos De Poder e Fanáticos Dos Pópós, ficou demonstrado que as suas atitudes autoritárias, com laivos ditatoriais, podem pouco contra a Força Do Povo feita Festivais De Paixão. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 61


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Mélissa A. - 09.07.12 Ticino (Switzerland)

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Lucie S. - 17.05.12 Wallis (Switzerland)

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ESTE ESPAÇO


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Um dia acordei sobressaltado, como todos os dias costuma acontecer. Com um certo sono, ainda a envolver-se com a estranheza do contacto com a realidade do sonho não presente, abruptamente acordado pelos ponteiros do relógio que decidiram invadir os ouvidos, violentamente interrompido pelos raios de sol do mês de Setembro mas já em época avermelhada de quase-Outono. Só que esta manhã foi diferente. Tive a sensação medonha, assoladora de que tinha deixado de saber escrever. Parecia um pesadelo que me remexia as entranhas ao ponto de sentir um vazio, de escutar um eco mudo que me atirava a cabeça às dores infernais da inquietude ansiosa. Queria escrever uma linha e não conseguia. As ideias passavam mas não permaneciam, corriam em velocidade mas nunca me penetravam a sério. Sempre estive habituado a ter orgias com o alfabeto, a ter prazer na cama das ideias, a ter encontros com letras que, quando juntas, formavam palavras e frases únicas que humedeciam a líbido em poesia. 70 // www.IDIOTMAG.com

E, no entanto, tudo parecia ter terminado: Aqui jaz quem um dia escreveu. Saí para a rua, queria deambular à beira do mar e sentir as ondas a cuspir salitre na minha boca, passar a língua pela carne dos lábios e sentir aquele aroma salgado das sereias e das ninfas de outros tempos, das ilhas secretas, dos amores pungentes das epopeias. Deitei-me na areia molhada da praia de Matosinhos e, atrás de mim, choravam umas estátuas pelos maridos que se perdiam no alto mar na tarefa de sustentar uma casa. Aquela história de pescadores no fundo do oceano, derrotados pela força das ondas e pela bravura dos deuses marinhos fez-me cair numa ostra profunda, foi aí que tive um sonho… Sonhei com o Bill Hicks, o profeta americano que sabia dizer tantas verdades. Estava numa plateia e dizia assim: “The elite ruling class wants us asleep so we’ll remain a docile, apathetic, passive herd of consumers, and non-participants in the true agenda of our governments —- which is to keep us separate, and present an image of a world


filled with unresolvable problems, that they, and only they might one day, somewhere in the never-arriving future, be able to solve. Just stay asleep America, keep watching TV”. As suas palavras balearam-me em força. Apercebi-me que o capitalismo e a política tinham delatores, criminosos em série devidamente preparados para nos formatar em passividade com o objectivo de destruir o mundo e o homem. Apercebi-me bem disso uns dias depois, quando vi uma manifestação que juntou milhares de pessoas na Avenida dos Aliados para lutar contra a austeridade excessiva deste governo, milhares de pessoas a querer mudar o sistema para uma sociedade civil melhor e mais respeitadora, mas que no dia seguinte estavam sentados a ver o primeiro episódio da degradante Secret Story, como se no dia anterior não tivessem lutado por um mundo melhor! Voltei a acordar, mas desta vez não era dum sonho, nem pelas mamas nem pelos músculos que se passeavam na televisão a grunhir palavras sem sentido, e que ocupam grande parte da atenção diária de toda uma nação, que um dia antes tinha iludido o meu sonho de fénix renascida. Pensei: vou voltar a escrever, é agora, “é a

hora” como dizia o Fernando Pessoa, aquele filósofo de eleição que os académicos tomaram como poeta maior deste país. Não posso parar de escrever, os artistas não podem deixar de criar, as pessoas não podem deixar que o vazio penetre nelas de forma corrosiva e minguante. Estamos numa crise que as oligarquias criaram para todos nós, estamos num momento em que as elites dominantes querem passar o testemunho da culpa como se passassem a chama olímpica, estamos num mundo cujo futuro caminha para a eliminação da raça humana. Agora fui assaltado por variadíssimas imagens que Saramago me deu quando escreveu o “Ensaio sobre a cegueira”, e não foi nada bom ter remexido na merda dos meus companheiros “cegos” e moribundos. Depois de tudo isto, voltei a escrever. A passividade que me tomou foi um pesadelo sem exemplo. Não nos deixemos ficar, não nos deixemos engordar como aves de aviário, como robôs formatados, como marionetas comandadas e sem vontade. Mas, se por outro lado, querem fazer parte da vossa própria destruição, então: Just stay asleep Portugal, keep watching TV! Rui de Noronha Ozorio CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 71


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“A L I NHAS?” é uma associação desportiva juvenil, que surge como um desafio a novas aventuras. Surf, bodyboard, skimming, escalada, cicloturismo, rapel, montanhismo, assim como as muito em voga flash mobs, são algumas das atividades que esta associação organiza. O objetivo é proporcionar experiências gratuitas à sociedade em geral, que possibilitem a prática de desportos e a participação em iniciativas socioculturais. Uma vez que todas as atividades são gratuitas, o “Alinhas?” conta com o apoio de outras empresas, com as quais estabelecem parcerias. A equipa deste projeto integra 10 pessoas, com formações tão distintas como Engenharia, Direito, Gestão e Marketing. Os membros da equipa possuem, ainda, formação em socorrismo, gestão de conflitos, monitorização de jovens e liderança e organização de eventos. Com um leque de aventuras tão vasto e de borla, é difícil resistir ao “Alinhas?”

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Alinhas? Website: http://www.alinhas.pt/ Facebook: https://www.facebook.com/alinhas E-mail: geral@alinhas.pt Telefone: 914253574 Morada: Rua da Santana, 350 RC Dir., 4465-740 Leça do Balio

E m parceria com várias associações europeias e financiado pelo programa Europeu Youth in Action, o ALINHAS? tem já aprovados seis projetos internacionais para este ano, dos quais três serão desenvolvidos em território nacional e os restantes noutros países da U.E. No total iremos dar a oportunidade a 36 jovens portugueses de vivenciarem uma experiência multicultural permitindo a consciencialização da existência de realidades sociais e culturais diferentes das suas, para aprenderem uns com os outros e reforçar o seu sentido enquanto cidadãos Europeus.

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Dia 5 de Outubro, estão de volta os textos mais idiotas que andam a rolar pelo facebook a cascar meia dúzia de pessoas que por acaso algo em comum as liga… Nada disso, 5 de Outubro? Ah, é o dia da ilusionismo, muito se ria David Copperfield em casa a comer umas coxas do KFC e a beber uma Pepsi Light enquanto desfrutava das imagens que passavam na televisão que os seus pupilos espalharam por todo mundo, desde chapéus a desaparecer, bolsos a furar, bandeiras ao contrário sem que ninguém se aperceba do truque. Posto isto, e já por terras lusas, Sá Pinto é actualidade desportiva, e estava João Querido Manha , Jorge Goulão, Pedro Henriques e Luís Freitas Lobo a comer um belo de um leitão na Bairrada e a bater uns canecos de cerveja , pois sabiam, que tinham o T.P.C. feito para o Jornal da Noite. Quem não achou muito piada ao episódio por detrás desta situação foram os irmãos Romão e o Ben More que começavam então a sua ida a Fátima sentados num skate “Guedes” da empresa “Hélio” imaginário. 74 // www.IDIOTMAG.com


Pela Invicta, Rato do Balas contratava a Rata do Bolas uma striptease de 1.90 que tem fama de levar comandos Meo para as sessões privadas. O negócio também envolvia Luio Onassis, que assim preparava o teaser do seu filme que já tinha argumento à mais de 6 anos de nome “Não Me Inclines Muito As Costas”. Rato era a personagem principal, mas não nos vamos estender mais sobre este assunto porque vem do forno interno do Pedro dos frangos segundo Jorge Jesus. Mudando de direcção mas aproveitando uma palavra usada nas frases anteriores, “estender” , sinónimo de esticar e alargar, palavras muito comuns na nossa sociedade, que nos afectam. Ficamos com sintomas de antónimos - é verdade sim senhor - parece trocadilho mas é pura verdade. Uns estendem-se e nós diminuímos, uns estic… Bem, vamos deixar de conversas de tasca e arrota tremoços e vamos falar de coisas concretas. Para quem não sabe o dia 5 de Outubro é dia mundial do professor, e claro que não poderíamos deixar de falar do gran-

dioso vidente e astrólogo professor Mamadou, que nos deu uns relatos bastantes interessantes na adega do Tono na Rua da Madeira enquanto ouvíamos o seu papagaio assobiar. Mamadou diz que esta crise não é o sinal dos tempos nem algo que se pareça é tudo uma questão de timming. Saber dizer as coisas nos momentos certos, com sentido e eticamente correcto , onde o seu discurso não integrava nenhum destes requisitos, visto já ser a 12ª loira que bebia. A conversa era interrompida por um enorme restolho, por momentos pensamos que era arca frigorifica do Cai Cu “ Kai Kou - sushi bar” a rebentar, mas também colocamos a hipótese de ser um subwoofer do Gare clube a dar o peido! Mas não, como nunca ganhamos a lotaria já sabíamos que não tínhamos sorte, em adivinhar portanto o barulho foi devido a um barril de pólvora que o Nosso Mestre Magalhães guardava segundo ele desde sábado, mas à já muitos anos a pedido do capitão gancho, mas até a data, o barco ainda não dava sinais

na ribeira e ele livrou-se de males maiores. Magalhães contou-nos então a sua experiência da viagem ao mundo do hook: tudo começou numa noite de euforia onde a meio da festa alguém lhe ofereceu um saco com raspas de unhas e misturou no copo de maduro tinto, onde tal mistura o impulsionou a pegar numa casal de duas desde o cais de Gaia até ao Marquês, e entrou pelo montra do café Pereira a dentro de roda no ar. A partir dai começou a sua viagem… Hoje é dia de Armazém fala-se que os Freshkitos vão lá fazer um all night , e o grande ex mercantil Zé Augusto e ex capitão do barco gaivota 69 também vai picar agulha na área do bar. No nosso túnel favorito, não é o de Sº Bento é o do lado sim Gare Porto uma praga de pássaros vão tomar conta da cabine à noite: Birdy Nam Nam fazem uma visita relâmpago em mais uma “revenge” da Positiva Records. Pelo país as ruas enchiam-se de cartazes brancos com uma esfera pintada de preto, análise já sobre em investigação nos mais variados ramos desde do corpo cientifico da nossa tão conhecida amiga Dona Ermelinda Inspectora, com o seu sócio Euletério Mendez , desde do ramo do oculto que muitos falavam que era uma forma de chamar atenção forças sobrenaturais. Um dos principais suspeitos era o Pedo Bear que estava sobre termo de identidade e residência, o Pai Natal também já fazia parte dos cardápios criminais, e também a bandida canibal que morava no 1401 na avenida Fernão Magalhães. Raul Duro desmentia tudo ao Porto Canal, dizia que apenas tinha a ver com eventos desportivos. No meio disto tudo havia tantos idiotas na Avenida dos Aliados a fazer um flashmob de Apocalipse Zombies, Marisa Martins era a coordenadora de fitness no Virgin Active, enquanto Gaspar Granada, mendigo tarado sexual, batia palmas e soprava uma gaita. Não nos podemos exibir muito mais ,a caneta fedorenta está acabar-lhe a tinta e só nos resta desejar um óptimo e idiota fim de semana e um forte abraço a todos os que deram a dar gargalhadas. A muitos e prometemos que nas próximas edições tu que estás a ler também vais fazer parte deste idiotext, e a……cabouse a tinta! Yassine Peixoto CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 75


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