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Quadro 1 - Uso do hífen na afirmativa e negativa
Vende-se em vez de Vendem-se
Uma dúvida bastante comum é a seguinte: “vende-se” ou “vendem-se”? Com o
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objeto no singular (máscara) o verbo deverá estar no singular (vende-se), mas se o objeto
estiver no plural (máscaras) também o verbo terá de ser no plural (vendem-se).
No painel deparamo-nos com dois erros. O primeiro reside no desconhecimento do
diferente emprego de “vendesse” e “vende-se”. É um erro grave e frequente na escrita de
muitos portugueses que, desprovidos de conhecimento da língua, o cometem cientes de
que estão a escrever bem. Esta ocorrência é ainda lamentável porque se verifica em jovens
estudantes, por vezes de grau avançado.
Para estes casos, mesmo que nos estejamos a repetir, bastará colocar a frase na
negativa e verificar se o ”se” passa para posição anterior ao verbo. Se isso acontecer, é
porque na afirmativa se escreve com hífen – vende-se. Caso continue fixo ao verbo, é
porque se escreve com dois “ss” –“vendesse”. Isto é válido para qualquer verbo, como
veremos no quadro seguinte:
Quadro 1
Uso do hífen na afirmativa e negativa
Afirmativa
Ele encontra-se doente
Se ele encontrasse o telemóvel, telefonarte-ia Negativa
Ele não se encontra doente
Se ele não encontrasse o telemóvel, não poderia telefonar-te
O segundo erro está na utilização do verbo na 3ª pessoa do singular, sendo o nome plural.
Vende-se flores (errado) em vez de Vendem-se flores (correto)
Poderíamos concluir que o erro assinalado no painel é fruto de insuficiente cultura
linguística sobretudo em indivíduos de idade, mas isso só seria possível se os nossos
estudantes não o cometessem com alguma frequência. Insistimos, por isso, na necessidade
de ações práticas de formação para todos, tentando, assim, colmatar estes e outros erros
básicos.
2. Considerações finais
Foi este trabalho muito proveitoso para todos nós, pois deu-nos conhecimento da
má execução escrita da Língua Portuguesa. Foi logo na pesquisa dos documentos que
começámos a perceber que o idioma que nos identifica estava em estado doentio no que
à escrita se refere. Na verdade, ao seguirmos as pistas apontadas pelo orientador na
procura das calinadas indispensáveis aos passos seguintes – correção do erro, suas causas,
camada social que mais facilmente os comete e indicação sugestiva de atividades que, a
nosso ver, poderão contribuir para colmatar conscientemente essas falhas – foi na
primeira fase que deparámos com uma escrita muito mais deficiente do que
imaginávamos.
Aquando do levantamento que nos levou, em certos momentos, ao contacto
pedagógico, e nunca crítico, com algumas das pessoas, - lembremos, por exemplo, a
questão formulada à feirante de frutos sobre o que era o “caligre” dos limões, tendo ela,
lisonjeada, explicado o significado da palavra “caligre” – assim repetia o que no cartaz
tinha escrito -, convicta de que estava a ensinar a uma jovem algo que esta desconhecia –
verificámos que muitos dos erros não são senão tradução escrita daquilo que no meio
frequentado se diz, ou, noutros casos, provocados pelos diferentes valores que algumas
letras do alfabeto, vogais e consoantes, possuem em Português. Por exemplo, se dizemos
“cerveja” e vemos frequentemente esta palavra escrita na televisão ou na própria garrafa
que compramos, qual será a razão por que não podemos escrever “cerviço” igualmente
com “c”? Quando escrevemos com “o” aquilo que deveria ser com “u”, como vimos na
anotação manuscrita da embalagem do medicamento, pergunta-se o senhor que cometeu
esta falta se “múscolo” e “músculo” não se leem de igual forma. E concluímos, assim,
que muitos dos erros são fruto desta equivalência na leitura da palavra e resultantes de
alfabetização muito incompleta, ausência de hábitos de leitura e de escrita, ou de
verdadeiro desconhecimento da gramática da língua (provas-te em vez de provaste;
passasse em vez de passa-se).
Foi na busca de explicação para os erros encontrados nos mais diversos lugares e
meios, alguns mais graves do que outros, se atendermos à fonte do documento – gerência
de instituição, placas de informação toponímica –, que tivemos de consultar dicionários,
prontuários, gramáticas e outros documentos, aprofundando e solidificando assim os
nossos conhecimentos a partir dos erros dos outros. Foi motivador vermos em cima da
nossa secretária três ou mais livros para uma explicação que procurávamos, o que tão
raramente acontece. Esta forma prática de, consciente e responsavelmente, trabalharmos
foi algo que precisávamos de sentir e que sentimos verdadeiramente.
Se o primeiro passo, o da pesquisa, foi interessantíssimo, o segundo, o da
explicação e correção do erro, não foi menos motivador, porque a ânsia de tentar explicar
através de documento fiável como se escreve em português deu-nos, como dissemos, a
possibilidade de relembrarmos, ou aprendermos, por exemplo, fenómenos de evolução da
palavra desde o seu étimo latino até à sua forma correta de escrita; deu-nos a sensação de
nos sentirmos no papel do futuro professor que necessita diariamente de lançar mão de
estratégias variadas para tornar explícito para todos o que por uma só explicação nem
todos entendem.
Não pudemos deixar de apontar pistas para que os responsáveis dediquem algum
tempo à reflexão, e para que não esqueçam que a nossa identidade deve e tem de ser
preservada, sendo a língua o verdadeiro caminho para a conseguir –“a minha pátria é a
Língua Portuguesa”.
Alunas e aluno de Oficina de Escrita, 1.º ano, Licenciatura em Educação Básica – ESEF
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