Antropologia dos ESTILOS DAS RUAS

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Antropologia dos estilos das ruas CULTURA CONTEMPORĂ‚NEA DE MODA para Instituto RioModa por Igor Fidalgo


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Z ties 1942 Se nas tribos de classe média o movimento de despir-se (“dressing down”) ajudou a personificar tribos rebeldes, como os punks e os hippies, a primeira delas vestiu-se (“dressing up”). E muito: com calças de cinturas altas e per-

CAB CALLOWAY, “BOOGIE”

nas afinadas, casacas de lapelas graúdas e acessórios luxuosos, os zooties inspiraram até os franceses zazous.


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Hip cats CHARLIE PARKER, “SESSIONS”

hipsters

1943

A música muda e as roupas acompanham: o terno zoot é reduzido para incorporar o requinte das noites de jazz que começavam a fazer a cabeça da galera que, há pouco tempo, era fã de boogie. Trench coats se tornam o uniforme dos neointelectuais.


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Caribbean

style 1947

PEREZ PANTALON PRADO, “MAMBO Nº 8”

Enquanto isso, os bares latinos recém-abertos em Nova York, que ofereciam bebida barata, tinham jogos de azar e eram frequentados por mulheres aventureiras, misturavam jazz com ritmos cubanos nas suas jukeboxes. Imigrantes que queriam ser respeitados se vestiam com zoot suits e o tempero étnico ficava por conta de chapéus Panamá e lenços coloridos. É um importante movimento que daria força, 40 anos à frente, aos raggamuffins.


A turma do jazz começou a falar de filosofia, ir a shows de Louis Armstrong, ler Joe Goldberg, ver filmes franceses, declarar devoção ao design da Escola de Bauhaus... A silhueta enxugou, só haviam dois botões presos no terno e passou a ser cool usar paletó sem gravata -- desde que você tivesse uma bela gola rolê.

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MODERN JAZZ QUARTET, “DJANGO”

1953

Modernists


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TRAILER DE “O SELVAGEM”

Bikers

1954

O lançamento de “The wild one” foi um marco. A jaqueta de couro que Marlon Brando usava -- e também as suas botas, a sua calça jeans surrada,

com a barra dobrada na altura da canela, e o gel no cabelo que nem a boina e o capacete desarrumavam -- tornou-se o uniforme dos motoqueiros,

que, desde 1947, já davam sinais de vida. Foi a primeira tribo que trouxe elementos de workwear (jeans, lona, zíperes) para o dia a dia.


Ton-up boys & ton-up girls

1955

São os bikers ingleses, que usavam perfecto de vinil (couro era caro e demorou para ser produzido em larga escala no continente), com encharpe de seda ou lã por dentro. Paravam em cafés para se esquentarem e exibirem suas motos.

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IMAGENS DE ÉPOCA


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De tão modernosa, aquela galera cool que ouvia jazz não quis mais se misturar e passou a fazer reuniões em casa. Discutiam obras de autores beat quando os próprios não estavam presentes experimentando drogas com eles.

Beats, beatiniks &

EDITH PIAF, “NO, JE NE REGRETTE RIEN”

existencialists 1956


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ELVIS PRESLEY, “JAILHOUSE ROCK”

Rockabillies 1957

Nasce com Elvis o estilo caracterizado pela mistura da cultura country com elementos do navy. As meninas usavam camisas xadrez com nó na cintura e saia de poás. Os homens iam de sapato de couro e jeans bruto. Todos de topetes, todos tatuados.


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EDDIE COLCHRAN, “C’MON EVERYBODY”

Teddy boys São os rockabillies britânicos, que buscaram na era eduardiana os ingredientes dramáticos para os seus looks (gravatinhas de laço, coletes, abotoaduras, botões e biqueiras trabalhadas). Os topetes são uma obra de arte e as meninas usam saia-lápis.

1958


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western JOHNNY CASH, “FOLSOM PRISON BLUES”

1959

É o epítome da história norteamericana de vestir. Pense em jaquetas de franjas, camisaria xadrez, calças de pele, botas de vaqueiro, vestidos de patchwork... Elementos como golas com ponteira de metal, cadarços nas lapelas e chapéus de cowboy são a essência.


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CHET BAKER, “TIME AFTER TIME”

La dolce vita 1961 Em 1955, um forte movimento cultural começou em Roma, mas foi só em 1961, com o lançamento do filme de Fellini, que o estilo de vida italiano ganhou o mundo. A Vezpa, as linhas minimalistas do vestuário masculino, a máquina de café espresso e o luxo feminino tornaram-se desejos urgentes de elegância.


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Mods

BEATLES, “I WANT TO HOLD YOUR HAND�

1962

Renegados pelos roqueiros de classe baixa, os viajados mods importaram o corte de cabelo dos franceses e as Vezpas dos milaneses. Eles injetaram personalidade nas suas motos, pois, afinal, eram muito ricos.


Começou com uma treta: centenas de mods no litoral de Brighton obrigaram dois tonup “solitary” boys a pularem das pedras. Vem daí o nome rockers (rochosos), e mods e roqueiros nunca foram parceiros. As jaquetas de couro repeletas de insígnias e as botinas com biqueiras de metal faziam o estilo durão reverberar -- atitude que até os remanescente ton-up criticavam. Afinal, rockers usavam couro, e nem eram bikers!

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VINCE TAYLOR, “SHAKIN’ ALL OVER”

Rockers

1963


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Surfers1964 JAN & DEAN, “SURF CITY”

Como os bikers, os surfistas transformaram o esporte em estilo de vida. Usavam listras e bloco de cores como nin-

guém e eram propositalmente casuais. Sempre bronzeados e com cabelos clareados pelo sol, nunca usavam saltos.


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BOB DYLAN, “SUB. HOMESICK BLUES”

Folkies 1965 Ídolo da geração folk, Bob Dylan criou as raízes do movimento misturando o jazz que já fazia a cabeça dos existencialistas com a música tradicional das comunidades rurais norte-americanas. É a apropriação genuína do conceito de Jack Kerouac no clássico “On the road”.


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1966

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Swinging London psychedelics Do outro lado do oceano, os mods se dividiam em dois: os mais hards começavam andar com os rockers e aqueles que não queriam ideologia iam fazer compras em Carnaby Street. É a representação do futurismo 60, popularizado pela modelo Twiggy.

THE CREATIONS, “MAKING TIME”


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Hippies 1968 GRATEFUL DEAD, “NEW SPEEDWAY BOOGIE”

Beats, folkies, surfistas e psychodelics se encontraram numa festa e experimentam, pela primeira vez, LSD. Criam as calças boca-de-sino, amarram lenços na cabeça, inventam o tie-dye, vestem caftãs tropicalistas, fazem passeatas em prol da paz e pregam a liberdade sexual.


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Greasers 1969

STEPPENWOLF, “BORN TO BE WILD”

Motoqueiros agora não andam em gangues, trocaram as botas de workwear por coturno e saem pelo interior de seus países em busca de algum sentido pela vida.


Se nos anos 40 os afro-americanos tinham que andar na beca de ternos zoot para serem respeitados, o movimento hippie os ajudou a levantar a

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bandeira da etnicidade. Viva ao blackpower, às calças de alfaiataria bocas-de-sino usadas com paletós coloridos, aos óculos degradê e aos shorts!

Funk1970

JAMES BROWN, “SEX MACHINE”


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db a n a g e Alguns hippies gostavam tanto de rock progressivo que decidiram se dedicar mais ao som. Já estavam com o cabelo longo e se jogaram nas tachas. Interessante: o metal abrigou hard rockers do bem, que não absorveram a ditadura skin.

BLACK SABBATH, “IRON MAN”

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DAVID BOWIE, “LIFE ON MARS”

A revolução sexual hippie deu abertura para que uma geração de roqueiros bissexuais/ assexuados/unissexes libertassem o glamour que vivia dentro deles. David Bowie é o pai do gênero e ajudou muitos colegas a sairem do armário.

Glam 1972


1973

Rastafarians

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BOB MARLEY, “GET UP, STAND UP”

A rastafarianismo data de 1930, quando Haile Selassie foi coroado imperador na Etiópia. Mas o movimento só ganhou força no mundo na década de 1970, aliando a prática do fumo de cannabis aos timbres do reggae.


Skaters

Foi por causa de Joe e Jane Public que o skate virou uma febre jovem: no começo dos anos 1970, foi proibido de ser praticado em locais públicos e o casal difundiu o esporte. É o começo do culto à grifes, quando OP (Ocean Pacific) e Quicksilver patrocinaram os primeiros atletas.

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1974

JAN & DEAN, “SIDEWALK SURFING”


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GLORIA JONES, “GO NOW”

Northern

soul 1975

Os ritmos negros saem dos guetos e chegam às grandes discotecas inglesas. É o início das performances de dança.


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SEX PISTOLS, “ANARCHY IN THE UK”

Punks 1976

Malcom McLaren e Vivienne Westwood criaram o slogan “Too fast to live, too young to die” dois anos antes, mas foi em 1976 que lançaram uma anárquica grife de roupas junto a uma banda: o Sex Pistols.


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Disco

BEE GEES, “YOU SHOULD BE DANCING”

1977

Os shows de funk norteamericanos e os bailes de northern soul britânicos se unificaram nas discotecas, em um formato que se popularizou no Canadá, na Itália e chegou ao Brasil (lembram

do hype da novela “Dancin’ Days”?). Por ser muito comercial, o estilo atraiu críticas das chamadas subculturas (punks, rastafáris, metaleiros...). O figurino disco era brilhante: calças boca-de-sino feitas de

cetim, vestidos de paetês e camisaria de seda com gola pontuda eram o uniforme para quem quisesse ver e ser visto na pista de dança. Com a mãozinha para cima, sem medo de ser feliz.


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Skinheads 1978 THE BUSINESS, “BLIND JUSTICE”

O hype da Swinging London fez a facção roqueira dos mods enrijecer. As meninas cortaram franjas e deixaram costeletas, os homens abusavam de indumentária militar. Ambos usavam Doc Martens.


A turma new wave herdou o gosto por geometrismo dos psicodélicos, o jeito de misturar cores dos surfistas, a inteligência cultural dos beats e a elegância dos mods. Hoje, diante de tantas interpretações vexatórias, pode até não parecer, mas eles eram total “dressing up”.

New wave 1979

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THE B-52’s, “LEGAL TENDER”


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Goths 1980 SIOUXSIE & THE BANSHEES, “SPELLBOUND”

É de Anna Goodman, propmoter da festa Symphony of Shadows, da boate inglesa Batcave, o primeiro registro do movimento gótico, em 1982. Mas o clube -- que era requentado por essa turma sombria, amante de cemitérios, e que vestia roupas de tule, meia-arrastão, muitas correntes e pintava os olhos de preto e tinha cabelos desfiados -- já funcionava desde 1981.


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O boom da aeróbica nos anos 1980 levou polainas e conjuntos de moletom para a rua. Leggings, munhequeiras, sweatpants, casacos-canguru e tops de efeito blusado existem graças à essa geração saúde.

OLIVIA NEWTON-JOHN, “PHYSICAL”

1981

Sporties


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New romantics

1982 CULTURE CLUB, “KARMA CHAMELEON”

Paralelos aos punks, que despiram-se para impor personalidade, estes dândis cheios de atitude abusavam de referências vitorianas e maquiagem na pista de danças.


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Pervs 1983 Música, que nada! Sexo une góticos e punks fanático por vinil, borracha, corseletes, over-the-knee boots e que não têm medo de sair de topless.

DURAN DURAN, “THE CHAUFFEUR”


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Psycobillies

THE METEORS, “RAWHIDE”

1984

Herdeiros dos rockabillies mas diretamente influenciados pelo inconformismo da geração punk, os cabelos dessa galera é a maior diversão. Topetes enormes, muitas vezes de cores diferentes do resto da cabeça, e piercings, muitos piercings.


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THE SMITHS, “BIG MOUTH STRIKES AGAIN”

Influenciados pelo futebol, os ingleses que viviam em East London valorizavam marcas esportivas como Fila e Lacoste -- que eles trabalhavam muito para pagar, já que, em sua maioria, os casuais eram de jovens de classe baixa.

Casuals 1986


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A MTV norte-americana ajudou a catalizar os primeiros rappers e estrelas de hip hop. Nas ruas de Nova York, dançarinos de break apareciam com boomboxes gigantescos. É o street wear em sua maior integralidade, influenciado pela cultura jamaicana. SALT-N-PEPA, “LET’S TALK ABOUT SEX”

B-boys & flygirls

1987


indie kids

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SONIC YOUTH, “100%”

grunges

das My Bloody Valentine e Joy Division. Nos EUA surgia o grunge e o Nirvana, com a famosa camisaria de flanela xadrez. Riot grrrrls eram como as garotas autodidatas dessa turma eram chamadas, sempre de saias jeans detonadas ou vestidos largões.

cuties

riot grrrrls

Universitários britânicos que descobriam bandas independentes deixavam claro, em tshirts, suas escolhas obscuras. Uma variação do visual dos indie kids era o dos cuties, que usavam cores pastéis e tinham uma melancólica introspecção como a das ban-

1991


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New

age

1993

travellers

OZRIC TENTACLES, “JURASSIC SHIFT”

Viajantes que saem pelo mundo em busca de festas de música eletrônica ou simplesmente seguindo seu povo. São filhos dos hippies, netos dos folks e pais dos trancers. Abrigam qualquer tribo.


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Começou quando o DJ Gilles Peterson incendiou a pista de dança -- já um pouco moribunda com a morna house music da época -- com um jazz eletrônico vitaminado pelo know how dos novos produtores que pipocavam. JAMIROQUAI, “SPACE COWBOY”

Acid jazz1994


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UNDERWORLD, “BORN SLIPPY”

Cabelos coloridos, óculos escuros (mesmo de noite), casacos de pele, colares e pulseiras flúor, chupetas, máscaras

cirúrgicas, lingeries, vinil, SM, sportwear, muita maquiagem e, infelizmente, novas drogas para experimentar.

Ravers 1996


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THE PRODIGY, “BREATHE”

Punks pós-modernos, que

Technos &

amanhecem em clubes noturnos sob efeito de metaanfetaminas, fazem implantes de cabelos de plásticos e usam plataformas altíssimas, roupas de aspecto anfíbio, lentes de ave, estampas radioativas... Junto disso tudo, uma atitude pós-apocalíptica.

cyberpunks 1997


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