Anarquismo e a Colonia Cecilia em Palmeira

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Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira Fundado em 13 de fevereiro de 1955 Registro nº 438, Liv A-02 Cartório de Títulos e Documentos CNPJ 07.217.980/0001-28 Declarado de utilidade pública pela Lei nº 310 de 22 de maio 1955.

RESUMO: Anarquismo e a Colônia Cecília. Vera Lúcia de Oliveira Mayer1

Pierre-Joseph Proudhon é considerado o primeiro anarquista auto-intitulado, uma classificação que ele adotou em sua primeira obra O que é a Propriedade?, publicada em 1840. Por essa razão alguns consideram Proudhon como o fundador da teoria anarquista moderna. Ele é o autor da teoria do ordenamento espontâneo na sociedade, onde a organização emerge sem um coordenador central para impor suas próprias idéias de ordem contra as vontades de indivíduos agindo em seus próprios interesses; seu famoso mote sobre esta questão é, "Liberdade é a mãe, não a filha, da ordem." Colônia Cecília: A única experiência Anarquista na América.

Era final do século XIX entre os anos de 1890 e 1894 para o sul do Brasil era estimulada a vinda de imigrantes principalmente europeus, a colonizarem as vastas terras aqui existentes e que precisavam ser desbravadas. Em Palmeira já haviam se estabelecidos os portugueses, seus colonizadores, os imigrantes alemães do Volga, alguns árabes e os poloneses. No município de Palmeira, precisamente na colônia de Santa Bárbara um dos locais demarcados para a colonização, lá já estavam assentados os poloneses e foram também enviados os italianos anarquistas, liderados por Giovanni Rossi, para fundarem uma colônia experimental dentro da filosofia anarquista2. Assim se efetivou a única experiência anarquista da América, sediada em terras palmeirenses: A Colônia Cecília.

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Presidente do Instituto Histórico e Diretora do Museu Histórico de Palmeira.

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Fundamentação nos princípios de liberdade: sem governo, sem patrão, sem religião.

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Giovanni Rossi: Um cientista, filósofo e sonhador, veterinário de profissão e agrônomo por vocação, o italiano Giovanni Rossi, resolveu criar no final do ano de1890, uma colônia onde seria posta a prova o socialismo anárquico3. Instalando-se em Palmeira, com um grupo de anarquistas, ele pôde viver não penas uma aventura ideológica4, mas um momento privilegiado da colonização do Paraná. Enfrentaram grandes dificuldades na sua vinda da Itália para o Brasil e quando aqui se estabeleceram as instalações não eram as melhores, porém esse grupo se destaca dos outros imigrantes italianos por estarem movidos por um sonho de igualdade, liberdade, sem religião e sem governo. A Colônia Cecília tornou-se um grande laboratório. Seu idealizador, Giovanni Rossi, passa a estudar o comportamento humano diante de um modelo de família comunitária onde os filhos seriam de ninguém, fariam parte da comunidade. O objetivo de Rossi não era a formação de um país socialista isolado, mas sim, de uma colônia onde suas idéias pudessem ser comprovadas, onde fosse possível se viver em comunidade, baseando-se num espírito de camaradagem. Tiveram grande decepção ao chegarem ao Brasil, pois encontraram terras pouco férteis, sem divisões, próximas a colônias de poloneses extremamente religiosos. Costumavam hastear uma bandeira, nas cores vermelha e preta, em tronco de palmeira, defronte ao barracão coletivo utilizado para assembléias. Haviam barracos individuais para os casais, construíram ruas-estradas, valos para divisão, moinhos e parreiras. Durante os quatro anos da existência da Colônia Cecília, Rossi foi anotando minuciosamente os resultados do comportamento humano, em uma forma de vida onde não deveria haver um poder constituído. (Todos seriam livres). Depois de concluída a tese de que uma vida comunitária é possível, desde que não se mantenha o modelo patriarcal de família. A colônia aos poucos foi se disseminando devido a grande miséria em que viviam seus membros e tantos outros problemas, concluiu: “Independente dos resultados concretos de seus sonhos, são os ideais que movem a máquina do mundo, empurrando a humanidade para frente” Giovanni Rossi. A Colônia Anarquista Experimental de Giovanni Rossi é tema estudado e analisado internacionalmente. No Brasil são inúmeras as obras já publicadas por escritores e historiadores renomados; e ainda tem sido constantemente sendo tese de mestres e doutores em 3

Os anarquistas acreditam que o maior patrimônio da humanidade é a liberdade do indivíduo para se expressar e atuar, sem ser impedido por nenhuma forma de poder. Por esta razão, seria fundamental derrubar todos os tipos de governo e lutar contra todas as religiões ou seitas organizadas, pois representam o desprezo pela autonomia dos homens e a escravidão econômica. Combater o Estado como entidade que reprime a autêntica liberdade econômica e pessoal de todos os cidadãos se converte, portanto, em uma necessidade imediata . 4

Pierre Joseph Proudhon é considerado o fundador do Anarquismo Filosófico, segundo o qual o Anarquismo excluiria a autoridade como critério governante da sociedade.

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história e áreas afins, que procuram informações em Palmeira sobre a experiência aqui transcorrida. Porém a utopia destes idealistas acabou fracassada e a experiência acabou não dando certo. Muitos voltaram para a Itália, outros se espalharam pelo Brasil a fora. Ficaram em Santa Bárbara apenas os Artusi, Mezzadri e Agottani, outros ainda se deslocaram para a zona urbana de Palmeira, aí construíram suas vidas como poloneses, portugueses, alemães, russos. Estes povos, no passado como no presente somam suas histórias de vida e trabalho, vivem hoje, harmoniosamente com as demais etnias e assim contribuem para a prosperidade e o engrandecimento do povo palmeirense. Embora a efêmera5 Colônia Cecília tenha deixado apenas um legado histórico nos anais palmeirenses, pois aqui apenas poucas famílias remanesceram. O que permaneceu foi a apologia6 de que um sistema anarquista aqui foi tentando implantar por Giovani e seus seguidores. E é por isso que certamente até hoje vasta pesquisa esta sempre em pauta: O Anarquismo e a Colônia Cecília. Para alguns, a Colônia Cecília foi uma sociedade anárquica instalada no Paraná que serviu para projetar suas fantasias erótico-românticas, vendo na Colônia um modelo de liberdade sexual. Para outros, ela serviu para defender o socialismo e, para outros ainda, para mostrar o grau de refinamento filosófico que o país conheceu naquele período. A Colônia Cecília era vista de duas formas totalmente antagônicas: aquela vista como um reduto de desocupados e preguiçosos, e aquela vista como um grande exemplo de socialismo. Este tema em nos leva a pontuar uma estatística que efetuamos no ano de 2012, oriundos dos mais diversos espaços geográficos, entre pesquisadores individuais, grupos de estudantes, visitantes em geral, consultas telefônicas, atendemos em nossa instituição museal mais de 94 abordagens sobre a temática: Colônia Cecília e Anarquismo. Sem dúvidas um dos assuntos mais pesquisados sobre a histórica cidade de Palmeira. Isto posto, talvez se justifique a criação da lei, com a intenção de materializar esta história, através de um memorial ou em outras formas que instiguem a memória coletiva do povo palmeirense, pois a história da experiência anarquista aqui realizada a mais de 120 anos, dada a sua importante contribuição para o sindicalismo no Brasil e seus descendentes no município de Palmeira. Embora não houvesse uma maior disposição de se proceder à divulgação do evento por parte dos poderes governamentais da época, nota-se que essa experiência anarquista merece

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Coisa passageira, transitória Discurso para justificar ou defender

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sempre o interesse dos pesquisadores, pois tem sido campo propício para ser abordado pelos estudiosos do assunto. A semente de organização de classes da Colônia Cecília se disseminou pelo Brasil e a primeira greve de ferroviários teve a participação de ex-integrantes daquela comunidade experimental. Eles também fundaram jornais que combateram as injustiças e apoiaram os trabalhadores. A semente dos adeptos do Anarquismo se multiplicou pelo país e fortaleceu as lutas políticas por justiça e igualdade. Hoje no Museu o Sitio Minguinho, no município de Palmeira, Paraná, reúne objetos fotos e uma maquete que nos mostram o que foi uma experiência anarquista no sul do Brasil, além de uma considerável coletânea de artigos e bibliografias existentes e disponíveis para pesquisa no Museu Histórico do município.

Referências. NETO. Cândido Mello "O Anarquismo Experimental de Giovanni Rossi".ed. UEPG, 1996. http://br.geocities.com/zineprofecia/textos_anarquistas/brasil_hist.htm – História do Movimento Anarquista no Brasil, por Edgar Rodrigues. – História completa do Anarquismo no Brasil. Acesso Jun.2013 http://www.arquivo.ael.ifch.unicamp.br/pesq-inst4.htm – Arquivo Edgard Bibliografia para Pesquisa sobre Anarquismo e Anarquistas. Acesso Jun.2013

Leuenroth

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